John Owen - Apostasia Do Evangelho
John Owen - Apostasia Do Evangelho
John Owen - Apostasia Do Evangelho
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SINTETIZADO E TORNADO MAIS FÁCIL DE LER POR
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EDITORA
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1 OS PURITINOS
Publicado originalmente em ingMs sob o titulo:
APOSTASY FROM THE GOSPEL
THE BANNER OF TRUTH TRUST, 3 Murrayfield Road, Edinburgh EH I2 6EL
PO Box 621, Carlísle, Pensylvania I70I3, USA
Copyright © R]K Law I992
First Published I992
ISBN 085I5I6092
APOSTASIA DO EVANGELHO
A Natureza e as Causas
da Apostasia do Evangelho
JOHN ÜWEN
SINTETIZADO E TORNADO MAIS FÁCIL DE LER POR
R. F. K. LAW
Edição em Português:
Manoel Sales Canuto
[email protected]
Tradução:
Hope Gordon Silva
Revisão:
David C. Gomes e Claudete Água de
Melo Diagramação, Editoração e Capa:
Heraldo R de Almeida
[email protected]
Editora:
Os Puritanos
Telefax: (11) 6957-8566/(11) 6957-3148
[email protected]
www.puritanos.com.br
Impressão:
Facioli Grdfica e Editora Ltda
Rua Canguaretama, 181 - Vila Esperança
CEP 03651-050- São Paulo - SP
A Natureza e as Causas da Apostasia do Evangelho......................9
M.postasia Parcial do Evangelho............................................47
M.postasia da Verdade do Evangelho.......................................57
As Razões e Causas da Apostasia............................................67
Trevas e Ignorância: Uma Causa de Apostasia...........................81
Orgulho, Negligência, e Amar ao Mundo: Causas de Apostasia......99
A Apostasia das Doutrinas do Evangelho................................113
A Apostasia dos Mandamentos do Evangelho...........................127
A Apostasia e o Ministério Ordenado.....................................145
Mais Causas deApostasia....................................................153
A Apostasia do Culto Evangélico...........................................173
Os Perigos da Apostasia Generalizada....................................179
Defesas Contra a Apostasia.................................................193
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Uma das primeiras palavras do texto é "pois" ["assim" NTIH;
"por tanto" NVI], a qual nos manda olhar atrás e ver o motivo pelo
qual essas palavras foram escritas. Logo antes temos as palavras: "se
Deus permitir". Mais à frente, no v. 9, os crentes são descritos
como sen do aqueles de quem o autor confiava ver coisas melhores,
coisas que acompanham a salvação, o que sugere que esse texto (v.
4-6) não se refere a crentes. Não obstante, ele os adverte dessa
maneira para que não se tornem assim. Acusa-os de serem
preguiçosos e negligentes. Em vez de crescerem e progredirem no
conhecimento de sua fé e práticas cristãs, eles estavam parados,
quando não retrocedendo. Então ele os avisa do perigo que
enfrentam se não se arrependerem de seu comportamento atual.
Não crescer no conhecimento do evan gelho e na obediência às
obrigações compreendidas é estar em peri go de retroceder àquela
posição de descrença e ignorância da qual haviam sido resgatados e
é rejeitar o evangelho completamente. Para adverti-los, o autor lhes
dá uma descrição do estado infeliz e miserá vel daqueles que
pareciam ter começado bem quando reconhece ram publicamente
sua aceitação do evangelho, e que depois, por
m APOSTASIA Do EVANGEIJIO - JonN OWEN
move todo o velho culto mosaico. Faz isso ao revelar que havia
che gado tudo que o culto mosaico significava e para o qual
apontava. Agora o Espírito Santo estabelece o novo culto santo do
evangelho, que deveria substituir o antigo culto do templo.
O Espírito de Deus, portanto, dado especificamente para in
troduzir um novo estado de verdade e culto, é o "dom celestial"·
mencionado. Assim os hebreus são avisados de que não devem
"recusar ao que fala... dos céus" (Hb 12.25). Aquele que fala do
céu é Jesus Cristo, falando agora nos tempos evangélicos por meio
do "Espírito Santo enviado do céu".
Chegamos agora à interpretação do que é "provar esse dom
celestial': A expressão "provar" é uma metáfora que não significa
nada mais que testar ou experimentar alguma coisa. É "experi
mentar" algo. É o que acontece quando provamos comida. Prova
mos antes de decidir se vamos ou não comê-la. Provar, portanto,
não inclui engolir e digerir. Quando provamos algo de que não
gostamos, nós o cuspimos e recusamos comer ou beber aquilo. Na
cruz, Cristo provou o vinho amargo, e "provando-o, não o quis
beber" (Mt 27.34).
Em algumas passagens da Escritura, "provar" parece mesmo
incluir o comer. Davi fez um juramento dizendo: ''Assim me
faça Deus... se eu provar pão antes do sol posto" (2 Sm 3.35).
Mas o sentido ali é "Não provarei pão, muito menos o comerei,
antes que o sol se ponhà'. Então, sob seu juramento, era
impossível Davi comer naquela hora. E quando Jônatas disse
que só provou o mel (/ Sm 14.29), ele estava se desculpando e
querendo fazer parecer que não tinha realmente comido o mel e,
portanto, agido contra a ordem de Saul.
Mas esse termo é usado, indiscutivelmente, para descrever
al guém que está experimentando algo. A mulher virtuosa
"prova e vê que sua mercadoria é boà' (Pv 31.18 - versão revista e
corrigida). Em outras palavras, ela testou sua mercadoria e
descobriu que era boa. Então essas pessoas de nosso texto são
as que provaram o trabalho do Espírito Santo e verificaram que
era bom.
A NATUREZA E AS CAUSAS DA APOSTASIA DO EVANGELIIO m
"Provar" muitas vezes é usado no sentido de "experimentar"
algo: "Oh! Provai e vede que o Senhor é bom" (SI 34.8). Pedro
diz mais ou menos nesse sentido: "se é que já tendes a experiên
cia de que o Senhor é bondoso" (1 Pe 2.3). Portanto, "provar"
significa simplesmente "experimentar" algo de primeira mão.
O privilégio espiritual, portanto, que esses hebreus tiveram
foi experimentar o Espírito Santo como dádiva de Deus
ofertada no evangelho. Eles viveram a experiência dele como
revelador da verdade e como sendo quem introduziu o novo
culto espiri tual evangélico. Eles provaram e experimentaram a
glória e a excelência desse novo estado produzido pelo Espírito
Santo, um privilégio que muitos não tinham tido. E com essa
prova fica ram convencidos de que era muito mais excelente do
que aquele culto ao qual estavam acostumados no passado.
Eles experimentaram a glória do evangelho que o Espírito
Santo enviado do céu lhes trouxera, e ficaram grandemente im
pressionados. Mas agora estavam em perigo de negligenciar e
desprezar esse privilégio. Estavam tentados a abandonar o trigo
mais fino pelas velhas bolotas deles.
Destarte, de nossa compreensão desse grande privilégio espi-
ritual nós tiramos quatro grandes lições:
Aprendemos que todas as dddivas de Deus sob o Novo Testa
mento são presentes celestiais (/o 3.12; Ef 1.3). Cuidado, por
tanto, para não negligenciá-las nem desprezá-las (Hb 2.3).
Aprendemos que o Espírito Santo é a grande dddiva de
Deus sob o Novo Testamento, dado para revelar os mistérios do
evan gelho e introduzir a instituição e as ordenanças do culto
espiri tual.
Aprendemos que hd uma bondade e uma glória nessa
dddiva celestial que podem ser "provadas" ou experimentadas
em certa medida por pessoas que nunca as recebem na vida e no
poder que possuem para a salvação. Eles provam a palavra
em sua verda de, mas não em seu poder vivificador.
Experimentam o culto da igreja em sua forma externa, mas
nada vêem ou sentem de
m APOSTASIA Do EVANGELIIO - JOHN ÜWEN
são feitos participantes dele em seus dons espirituais que nunca são
feitos participantes dele em suas graças salvadoras (Mt 7.22, 23).
(4) O quarto privilégio que havia sido dado a esses apóstatas foi o
privilégi,o de "provar a boa palavra de Deus" (Hb 6.5a).
A palavra grega empregada aqui significando "palavra" tem o
sentido de uma palavra falada. É usada em outro sentido, somente
nessa epístola, para denotar o poder ativo de Deus (Hb 1.3; 11.3).
Mas o principal uso dessa palavra na Bíblia é no sentido de "pala
vra falada''. Quando aplicada a Deus, significa sua palavra confor
me pregada e declarada (Rm 10.17; ]o 6.68). Então, o que esses
apóstatas haviam provado foi o evangelho conforme pregado.
Mas será que eles não apreciavam a Palavra de Deus no seu
estado de judaísmo? Sim, realmente, porque a eles "foram confia
dos os oráculos de Deus" (Rm 3.2). Mas aqui o sentido é a Palavra
de Deus conforme pregada nos tempos do evangelho e com res
peito à qual tão excelentes coisas são ditas (Rm 1.16; At 20.32;
Tg 1.21).
É dito que esta Palavra é "boa'', mais desejável do que mel ou o
favo de mel (SI 19.1O). A promessa de Deus em particular é cha
mada de sua "boa palavra'' (Ir 29.10). Ela é a "boa coisa'' que foi
prometida (Ir33.14). E o evangelho, a própria declaração do cum
primento da promessa de Deus de remir seu povo de seus pecados
por Jesus Cristo, é a "boa-nova" de paz e salvação por Jesus Cristo
(Is 52.7).
É dito que "provaram" a Palavra, do mesmo modo como "pro
varam" o dom celestial. O escritor dessa epístola insiste nessa pa
lavra de propósito para mostrar que esses apóstatas não eram da
queles que realmente recebem, se alimentam e vivem de Jesus
Cristo conforme ele lhes é oferecido no evangelho (lo 6.35, 49-
51, 54- 56). É como se tivesse dito: "Não falo daqueles que
receberam e digeriram o alimento espiritual de suas almas, e assim
o tornaram
em nutrimento espiritual, mas falo daqueles que provaram a Pala
vra de Deus de tal modo que deveriam tê-la desejado como leite
sincero para seu crescimento e saúde espiritual. Mas em vez disso
A NATUREZA B AS CAUSAS DA APOSTASIA DO EVANGELIIO m
eles negligenciaram aquela boa Palavra e recusaram-na como cri
anças que desprezam o alimento que lhes é oferecido".
Aprendemos, então, que hd uma bondade e glória na Palavra
de Deus que é capaz de atrair e afetar a mente de pessoas
que ainda assim nunca chegam a se submeter a ela
obedientemente.
Aprendemos também que hd um bem especial na Palavra
da promessa a respeito de Jesus Cristo e na pregação do
cumprimento dela.
A bondade e glória da Palavra de Deus se acha em sua
verdade espiritual, celestial. Toda verdade é desejável e bela.
Quando a mente do homem recebe a verdade, essa verdade leva
sua mente à perfeição, conformando-a a sua própria imagem.
O que é verdadeiro é também bom. Assim Paulo coloca
juntas a verdade e a bondade (Fp 4.8). E assim como a verdade
em si é boa, assim também é bom o efeito dela sobre a mente.
Dá paz à mente, dá satisfação e contentamento. Trevas, erros,
mentira são males em si e enchem a mente dos homens com a
soberba, a in
certeza, a superstição, o medo e a servidão. É a verdade que liberta
a alma Uo 8.32). Ora, a Palavra de Deus é a única verdade pura,
sem mistura e sólida Uo 17.17). Sem a Palavra de Deus, a mente
do homem vagueia em conjecturas infindas. Somente a verdade
da Palavra de Deus é estável, firme, infalível. Isso oferece descanso
à alma. Por ser verdade infalível, que dá luz aos olhos e descanso à
alma, ela é a "boa palavra de Deus".
A Palavra de Deus é boa por causa das boas doutrinas que estão
nela. A natureza e as características de Deus são declaradas nesta
Palavra. Deus sendo o único bem, a única fonte e causa de tudo
que é bom, e no gozo de quem estão toda a paz e bem-aventurança,
a revelação que é feita dele, de sua natureza e atributos, tqrnam
a Palavra de Deus boa de fato Uo 17.3). Se é
incomparavelmente melhor conhecer Deus do que gozar o
mundo inteiro e tudo que
nele há, a Palavra que o revela a nós com certeza será boa Ur 9.23,
24). A Palavra de Deus é muitíssimo boa também na revelação
do mistério glorioso da Trindade. É o mistério que é preciso
conhe-
m APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWllN
de. Nem esse texto impede qualquer pessoa - que depois de ter
caído em algum grande pecado ou retornado a práticas pecami
nosas e continuado nelas, esteja agora convencido em sua consci
ência, desejando arrepender-se em toda sinceridade - de ser aceita
de volta à comunhão da igreja.
Portanto, esse texto encoraja muito tais pecadores e lhes asse
gura que eles não são aqueles que o texto descreve. Mas também
proclama uma advertência a todos os que possam ser tentados a
voltar ao judaísmo ou à velha situação em que viviam antes de
serem batizados na fé cristã.
Na pregação do evangelho, então, é necessdrio esclarecer às pessoas
e insistir na severidade de Deus no trato com os pecadores
apóstatas. Nós devemos apresentar ante os homens não só a
bondade de Deus, como também sua severidade (Rm 11:22),
pois o escritor dessa Epístola aos Hebreus nos ensina que Deus "é
fogo consumi dor" (Hb 12.28-29). Ele quer que saibamos que
Deus é infinita mente puro, santo e justo e que pode, portanto,
repentina e ines peradamente, tratar-nos com a maior severidade
se negligenciar mos buscar "graça, para servir a Deus de modo
agradável, com
reverência e santo temor".
Essa severidade de Deus em seu tratamento de apóstatas rebel
des, segundo sua santidade e sabedoria, nos é dada como exemplo
de como ele bem pode tratar de nós se o provocarmos da mesma
forma. Existem alguns pecados, ou graus de pecado, que nem a
santidade, nem a majestade, nem a sabedoria de Deus pode deixar
passar sem punição, como exemplo a outros que são tentados a ir
pelo mesmo caminho. Em tais casos, é dito que Deus exercita sua
severidade.
A severidade de Deus é vista em condenações exteriores sobre
pecadores temerários, notórios, especialmente os inimigos de sua
igreja e glória (Na 1.2).
Para fazer o mundo acordar e prestar atenção a sua severidade,
as condenações de Deus precisam ser incomuns (Nm 16.29, 30).
Seus juízos também precisam ser evidentes e claros para todos:
"Dá o pago diretamente aos que o odeiam" (Dt 7.10). Quando
A NATUREZA E AS CAUSAS DA APOSTASIA DO EVANGELHO m
Deus diz que dará o pago diretamente, quer dizer que ele o fará
abertamente e à vista de todos. Então: "Quando andarem dizen
do 'Paz e segurança!', eis que lhes sobrevirá repentina
destruição" (I Ts5.3). Isso é o que acontecerá um dia com a
Babilônia romanista e todos os que a apóiam (Ap 18.7-10). Mas
não são esses os juízos visados primordialmente nessa
passagem da Escritura.
A severidade de Deus é vista também em condenações
espiri tuais, pelas quais ele deixa os apóstatas sob a sentença de
nunca poderem ser renovados ao arrependimento. Nesse
julgamento há uma sentença da condenação eterna (1 Tm 5.24).
Deus dá a sen tença sobre eles de tal modo neste mundo que
nunca poderão escapar de sua ira eterna no vindouro.
Deus deixa de ter qualquer interesse neles e não espera qual
quer fruto espiritual deles. Quando Deus providencia graciosa
mente os meios de conversão e arrependimento, ele é descrito
como procurando fruto, assim como acontece quando uma pessoa
planta um vinhedo e espera obter fruto dele (Is 5.2, 4). Assim,
quando Deus não mais dá os meios para que uma pessoa possa
arrepen der-se, ele não mais espera os frutos do arrependimento,
e assim como ninguém trata e cuida de um deserto, assim Deus
deixa de tratar e cuidar deles da maneira que trata de seu
próprio povo.
Deus aflige os apóstatas com dureza de coração e cegueira de men
te de modo que eles nunca irão se arrepender nem crer (Jo 12.39,
40). Deus poderá, em sua severidade, entregá-los a paixões
infames (Rm 1.26, 28, 29). Nessas paixões carnais eles são
amarrados como se fosse com· cordas e correntes, o que torna
completamente im
possível eles se erguerem e se arrependerem.
Deus envia sobre eles uma ilusão forte para que acreditem
numa mentira, para que aqueles que não creram na verdade sejam
con denados (2 Ts 2.10-12). A verdade do evangelho foi-lhes
pregada, e por algum tempo foi por eles professa. Receberam a
verdade, mas não amaram a verdade para que se submetessem e
obedeces sem a ela. Portanto, eram estéreis e infrutíferos. Mas isso
não foi tudo. Tiveram prazer em seus pecados, deleites
pecaminosos e in-
m Af>()l,'TASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
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unicamente em seu evangelho e em sua igreja que
Cristo pode sofrer agora nas mãos dos homens. Quando
qual quer princípio importante da verdade evangélica é
aban
donado e rejeitado; quando a obediência à Escritura é persistente
mente negligenciada; quando os homens começam a crer em
ou tra coisa que não aquilo que ela ensina, e não vivem como
ela requer, é então que temos uma apostasia parcial.
Os homens têm a tendência de agradar a si e a terem boa opi
nião de si. As igrejas ficam felizes se suas cerimônias exteriores e
ordens de culto são mantidas, especialmente se isso lhes traz van
tagens seculares. A avaliação dos cristãos de sua igreja é freqüente
mente bem diferente da avaliação de Cristo.
A igreja de Laodicéia era julgada "rica, abastada, em nada
necessitada". Mas Cristo declarou que eles ignoravam a con
dição verdadeira em que ela se achava. Aos olhos dele ela era
"infeliz, miserável, pobre, cega e nua". Era esse o julgamento
daquele que era "o Amém, a Testemunha Fiel e Verdadeira"
(Ap 3.14-17).
Cristo bem poderá dizer das igrejas de hoje, como Deus
disse da igreja sob o Antigo Testamento: "Eu mesmo te plan
tei como vide excelente, da semente mais pura. Como, pois,
te tornaste para mim uma planta degenerada, como de vide
brava?" (Jr 2.21). "Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela,
que estava cheia de justiça! Nela habitava a retidão, mas ago-
m
m APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
cSA, 9Zomtv
Mas a Igreja de Roma afirma para si um privilégio especial.
Não reivindica o privilégio interior de ter a graça operando na
mente e na vontade de todos aqueles que pertencem a sua comu
nhão, guardando-os de cair no erro e de abandonar a verdadeira
fé salvadora; mas reivindica o privilégio externo da
índefectibílidade. Esse dom da indefectibilidade que Roma
reclama para si con serva-a infalivelmente naquela condição que
o evangelho requer. Ela não sabe como funciona o dom da
indefectibilidade, mas fun
ciona, quer ela goste disso ou não, quer ela o queira ou não!
Essa reivindicação ao dom da indefectibilidade foi feita
pelos judeus sob o Antigo Testamento: "Templo do Senhor,
templo do Senhor, templo do Senhor é este!" (Jr 7.4).
Confiavam que porque tinham o templo do Senhor, Deus in
falivelmente os guardaria da apostasia, por maiores que fossem
seus pecados. Mas Jeremias declara que estavam confiando em
palavras falsas: "Eis que vós confiais em palavras falsas, que para
nada vos aproveitam. Que é isso? Furtais e matais, cometeis adul
tério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após
outros deuses que não conheceis, e depois vindes, e vos pondes
diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome e dizeis:
'Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abomi
nações?"' (Jr 7.8-10).
A APOSTASIA PARCIAL DO EVANGELHO m
Pedro, sozinho dentre todos os apóstolos, afirmava inde
fectibilidade. Só ele não negaria Cristo quando a situação
apertasse. Mas veja até que ponto ele foi indefectível! Embora
todos os após tolos abandonassem a Cristo, só Pedro o abandonou
e também o negou!
Mas essa asseveração de indefectibilidade feita por Roma se faz
acompanhar de uma apostasia especial que supera a todas as ou
tras igrejas do mundo..
Nada pode ser mais espúrio em si mesmo, nem mais
pernicio so para a alma dos homens, do que essa alegação,
quando não há provas que a sustentem, mas muitas que a
negam.
Em quantas guerras sangrentas e infundadas as nações católi cas
já se empenharam. Isso prova que foram dirigidas pelo Prínci pe da
paz? Que enormes maldades foram perpetradas pela Igreja
romana, como a História mostra claramente.
Roma nunca, em toda sua história, foi exemplo de amor e
paz, mas sim de guerras e terríveis perseguições. De que forma
seu comportamento concorda com Isaías 2.2-4? Como seu
modo de agir combina com os ensinos de Cristo sobre a
unidade, o amor e a paz?
Mas se Roma é verdadeiramente indefectível, então devería
mos esperar algo melhor do que as desolações que ela trouxe ao
mundo por inten édio da avidez e ira daqueles que afirmam ser
guiados pelo Espírito Santo de Deus e dirigidos por Cristo, o
Prín cipe da paz e do amor.
Roma de forma nenhuma representa o reino da justiça, do amor
e da paz que Cristo veio estabelecer na terra.
Em lugar de ser um reino de luz, verdade e santidade; um
exem plo de separação do mundo, nos princípios, desejos e
comporta mento; um exemplo de comunhão com Deus e de
amor compas sivo entre os homens; um exemplo de retidão,
alegria e paz no Espírito Santo, a História tem mostrado que é
um reino de trevas, orgulho, ignorância, ambição, perseguição,
sangue, superstição e idolatria.
m APosTASIA Do EVANGELHO - ]OIIN ÜWEN
m
m APOSTASIA Do EVANGELl!O - JOHN ÜWEN
Não havia sido fácil para Paulo "guardar a fé". Exigiu duras
lutas e muito conflito. Quanta diferença existe entre Paulo e tan tos
hoje que acham que seja matéria fácil "guardar a fé".
Verificar que Timóteo também estivesse "guardando a fé" era
uma grande preocupação de Paulo (1 Tm 6.20, 21; 2 Tm 1.13,
14).
Tito foi exortado por Paulo a repreender aqueles que
mostras sem a tendência de negligenciar ou abandonar a
verdade do evan gelho em favor de fábulas judaicas e
mandamentos dos homens (Tt 1.13, 14).
Judas convida todo cristão a "batalhar diligentemente pela
fé" porque muitos estão por demais dispostos a corrompê-la e a
deixá la (/d 3).
Seria fácil pensar que as primeiras igrejas, plantadas pelos após
tolos e ensinadas por eles, tivessem desfrutado de maior vanta
gem quanto a conhecer o mistério e a verdade do evangelho. Os
apóstolos lhes anunciavam "todo o desígnio de Deus", nada re
tendo que fosse proveitoso para eles (At 20.18-21, 26, 27). Sua
autoridade vinha diretamente de Cristo e eles eram absoluta
mente infalíveis em tudo que ensinavam. Seria de crer, então,
que as igrejas primitivas teriam conservado a fé pura e não se
desviado dela.
A igreja de Corinto foi plantada por Paulo e regada pelo gran
de evangelista Apolo. No entanto, dentro de cinco ou seis anos,
muitos daquela igreja já haviam negado a ressurreição dos mortos
(1 Co 15.12-18).
As igrejas dos gálatas também foram fundadas por Paulo.
Ele as instruiu em todo o desígnio de Deus. Trataram-no como
um anjo de Deus, receberam-no como se fosse o próprio Jesus
Cristo e estimaram-no mais que seus próprios olhos (Gl 4.14,
15). Con tudo, dentro de pouco tempo caíam da doutrina da
graça e justi ficação somente pela fé, buscando justiça, como se
fora, pelas obras da lei. Isso espantou Paulo de tal maneira que
ele achou que tives sem sido enfeitiçados (Gl 3.1). Não
obstante a demonstração ela-
A APOSTASIA DA VERDADE DO EVANGELHO m
ra da verdade que já tinham recebido, e do poder da palavra que
tinham experimentado, de repente apostataram dela.
Então não devemos achar estranho se acontece de cristãos de
hoje caírem tão facilmente, afastando-se do evangelho depois de
tê-lo recebido.
As cartas de Paulo a Timóteo e Tito estavam repletas de
avisos sobre como os diversos tipos de pessoas estão dispostos a
apostatar da verdade. João também, em suas cartas, conta de
apostasias do evangelho e avisa os cristãos do perigo de cair,
como faz também Judas, em sua epístola. Quase todas as sete
igrejas mencionadas no Livro de Apocalipse foram acusadas de
apostasia pelo próprio Jesus Cristo.
Sendo assim, se as igrejas apostólicas caíram em apostasia facil
mente mesmo quando os apóstolos ainda estavam vivos, será que
nós, que não temos as mesmas vantagens, podemos deixar de ser
vigilantes? Podemos negligenciar todos os meios possíveis que te
mos para cuidarmos de não cair?
E quanto às igrejas que se seguiram, quando os registros sagra
dos já estavam completos e os apóstolos haviam morrido?
Enquánto ainda vivo, Paulo preveniu os anciãos da igreja em
Éfeso: "Sei que, depois de minha partida, penetrarão lobos vora
zes, que não pouparão o rebanho". Avisou-os também que dentre
eles, iriam "se levantar homens falando coisas pervertidas, para
arrastar os discípulos atrás deles" (At 20.29, 30).
Pedro também os advertiu sobre falsos mestres que se introdu
ziriam entre eles, secretamente introduzindo heresias destruidoras
e até negando o Senhor que os comprou; e que trariam sobre si
mesmos repentina destruição. Além disso, Pedro avisou que mui
tos seguiriam esses caminhos destrutivos, e que por causa deles o
caminho da verdade seria blasfemado (2 Pe 2.1, 2).
Que foi necessário o aviso aos presbíteros de Éfeso é visto pela
acusação feita àquela igreja mais tarde (Ap 2.4, 5). Paulo também
faz a Timóteo advertências salutares sobre apostasia futura (2 Tm
4.1-4; 1 Tm 4.1, 2).
m APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
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m APOS1ASL\ Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
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TREVAS E IGNORÂNCIA: UMA CAUSA DE &OSTASIA m
espiritual, supera em excelência a qualquer que nos poderia ser
dada pelo entendimento e razão natural. Portanto, na Escritura é
muitas vezes mais preferida.
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Como foi que os homens sob a apostasia papal abandonaram
pouco a pouco as verdades principais do evangelho e toda a glória
espiritual de seu culto? Aconteceu porque lhes faltou
discernimento espiritual da glória e beleza divinas das verdades
evangélicas e qual quer experiência de seu poder sobre a mente
deles. Por isso escolhe ram aquelas coisas cuja beleza externa,
maquiada, podiam enxergar. Muitas pessoas doutas e habilitadas
nas doutrinas do evange lho, tidas corno colunas da verdade,
ainda assim apostataram, ca
indo no arianismo, pelagianismo, socinianisrno e papismo.
Duas verdades para o consolo dos crentes.
Alguns crentes verdadeiros, vendo grandes homens do evange
lho caindo na apostasia, temem que eles possam fazer o mesmo.
Então para seu consolo as duas verdades seguintes precisam ser
mantidas:
(1) Deus escolheu um povo em Cristo desde antes da fundação
do mundo. Estes ele deu a Cristo, confiando-lhe a completa e per
feita salvação deles. Portanto, o propósito de Deus é conservar seus
eleitos e guardar estes de abandoná-lo. Jesus disse: "E a vontade de
quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me
deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a
vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer
tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dià' (Jo 6.39,
40).
(2) Deus pretende preservar em santidade seus eleitos. "O
Se nhor conhece os que lhe pertencem" e "Aparte-se da injustiça
todo aquele que professa o nome do Senhor" (2 Tm 2.19).
m APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
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11:!J APOSTASIA Do EVANGELHO - jOIIN OWEN
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$aiaJuís; CWUlSÚJ_; à,
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Deus não fica sentado sem fazer nada. Ele "não pode ser
tenta do pelo mal, e ele mesmo a ninguém tentà' (Tg 1.13). Mas
ele governa tudo e prevalece em todos os eventos para sua
própria glória.
Ele não permitirá que os homens subestimem e desprezem, e
depois rejeitem e abandonem, a maior de suas misericórdias, sua
Palavra e sua verdade, sem submeter os apóstatas iníquos ao
mais severo dos julgamentos. Então, quando os homens
apostatam per versamente de sua verdade, Deus em seu juízo
santo e reto lhes entrega a ainda mais ilusões, para que entrem
em apostasia plena e final e endureçam nela para sua eterna
destruição.
Todo cristão e toda igreja cristã precisa atentar para 2 Crônicas
15.2. Deus judicialmente abandona aqueles por quem ele é vo
luntariamente abandonado.
A maneira em que Deus pune e vinga a apostasia intencional
do evangelho é entregando os homens totalmente a ela e
endure cendo-as nela para a eterna destruição deles.
Ele faz isso primeiro removendo seu candeeiro de entre eles
(Ap 2.5). Cristo advertiu os efésios apóstatas de que, se não se
arrependessem, ele iria remover seu candeeiro do meio deles. Deus
tirará dos apóstatas tanto a luz como os meios de conhecer a
ver dade, para que trevas e ignorância lhes sobrevenham.
ÜRGUUIO, NEGLIGIBNCIA, E AMAR AO MUNDO: CAUSAS DE APOSTASIA 11D
Depois Deus envia fortes ilusões para que possam crer numa
mentira porque não amaram a verdade (2Ts2.11). Ele os
entrega irrecuperavelmente a terem fé em mentiras.
Mandar uma ilusão forte envolve três coisas:
(1) Primeiro, Deus entrega apóstatas obstinados ao poder de
Satanás. Não limita Satanás; ao contrário, permite que ele os diri
ja nas maiores ilusões que possa projetar. Era essa a situação sob a
apostasia papal à qual Satanás tinha com sucesso levado a maior
parte da igreja. E para mostrar seu sucesso, o tentador divertiu-se
com a alma iludida dos homens. Nada havia de tolo e estúpido
que ele não impusesse sobre sua credulidade infantil.
(2) Segundo, Deus entrega apóstatas obstinados a falsos
mestres e enganadores. Estes, enganados e ensinados por Sa
tanás, são usados por Deus para desempenhar seu justo desa
grado sobre os apóstatas iníquos que Deus entrega ao poder
deles. As pessoas enganadas exaltam esses falsos mestres e
en ganadores a posições elevadas na igreja e então se
submetem implicitamente a eles. Estando no "templo de
Deus", eles se chegam ao povo em lugar de Deus, alegando
estar falando as próprias palavras de Deus. Com tanto poder
concedido a eles na igreja, dominam a consciência dos
homens, mantendo-os em temor pela própria posição de
autoridade que ganharam e que reivindicam para si.
(3) Terceiro, Deus entrega apóstatas obstinados à cegueira de
mente e dureza de coração (Is 6.10; ]o 12.39-41; At 28.25-27;
explicado em Rm 11.7, 8).
Sob essas sentenças - Satanás, falsos mestres, cegueira de
mente e dureza de coração - o estado dos apóstatas é miserável
e irrecuperável.
Vamos, então, cuidar de não negligenciarmos as advertências
do Espírito.
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1113 APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
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Sabedoria e fé espirituais são necessárias para se procurar a aju
da do Espírito e a graça de Cristo para mortificar o pecado em
virtude de sua morte. O raciocínio não-iluminado não consegue
ver nem entender nada do assunto. Na verdade, aos olhos da ra
zão, esse e todos os outros mistérios do evangelho são tolice.
A mortificação do pecado é uma obrigação cristã contra a qual a
natureza corrompida se opõe. (Rm 8.13): ''Se pelo Espírito
mortifi camos os feitos do corpo, viveremos" - mas caso
contrário, não.
Quando os homens estão apercebidos da grande força do pe
cado dentro deles, eles se rendem como "servos do pecado" e "to
mam providências para a carne satisfazer suas paixões carnais" ou
tentarão de uma forma ou outra mortificar e reprimir o pecado
dentro deles.
Muitos começam confiando no auxílio e na força do Espírito
Santo, mas terminam confiando em si e no seu esforço próprio.
Depois, não mais lutando contra o pecado com a ajuda e a força
do Espírito, acham o pecado poderoso demais para eles, e assim
terminam entregando-se como servos do pecado.
Por que tanta -gente da Igreja Católica Romana se submete a
penitências, disciplinas severas, autoflagelo? Fazem isso porque ig
noram o verdadeiro e único meio de mortificar o pecado. Esse
caminho verdadeiro e único é por meio do Espírito de Cristo que
reside nos crentes verdadeiros.
Aqueles que desconhecem a maneira de Deus mortificar o pe
cado estão em perigo de não fazê-lo de maneira nenhuma, e assim
acabar sendo servos do pecado.
IB!J APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
1111
Mande-os nesse estado apelar para sua própria justiça e pensa
rão que você está zombando deles ao aumentar seu sentimento de
terrível infelicidade e desespero.
Todos os crentes santos e humildes reconhecem que tal é a
santidade e justiça de Deus que ninguém pode permanecer
diante dele em sua própria justiça (ló 4.17, 19; 9.2; Si 130.3;
143.2).
Foi a falta de devida meditação sobre essa verdade que levou a
tantas idéias presunçosas no mundo com respeito à justificação de
pecadores.
A escritura, ao falar de justificação, nos ensina a não tentar
entendê-la enquanto não nos vemos como Deus nos vê (Si
143.2; Rm 3.20). Só então poderemos considerar em que base
podemos nos colocar diante dele.
Mas os homens, ignorantes da natureza justa de Deus,
pensam que Deus é como eles, isto é, alguém que ou não é tão
santo em si, ou não exige tão alto padrão de santidade da nossa
parte. Vêem Deus como sendo alguém que não está preocupado
com nossos deveres e muito menos com nossos pecados. Então,
é de se estra nhar que os homens pensem poder se colocar
diante dele em sua justiça própria?
Alguns ensinam que não existe tal severidade em Deus
con tra o pecado, nem tanta santidade nele que o suscite à ira
con tra o pecado.
Portanto todas as idéias de justiça própria ou justificação por
obras têm sempre produzido vidas de baixo padrão moral.
Quando, antes da Reforma, a justiça por obras foi entronizada
no papado, a vida das pessoas era especialmente brutal e cruel em
sua maldade, e a maioria de suas boas obras nada mais era que
barganhas com Deus e com a consciência pelo perdão de vícios e
imoralidades terríveis.
Esperava-se que a justificação pelas obras produzisse santidade
e justiça entre os homens, mas ela só conseguiu produzir vidas
nada santas e nada justas. A razão foi que as mesmas idéias a res
peito de Deus que permitiam aos homens supor que pudessem ser
1m APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWllN
justificados aos olhos dele por suas próprias boas obras, permiti am
também que eles satisfizessem seus desejos carnais, porque acre
ditavam que Deus não seria tão sem amor a ponto de tratar seus
pecados com grande severidade.
A justiça própria e a vida desregrada sempre andaram juntas.
Só a graça e a justificação unicamente pela fé na justiça imputada
de Cristo darão fim ao pecado.
Aquele que induz os homens a entrarem em autojustificação
por uma porta abre outra para seus pecados.
A justiça que a lei de Deus requer de nós.
Fossem as pessoas conhecedoras da pureza, espiritualidade, se
veridade e implacabilidade da lei, não sonhariam que sua
própria justiça pudesse em qualquer tempo satisfazer as
exigências delas. Mas quando os homens pensam que a lei só
trata de comporta mento externo e só de grandes pecados, então
eles facilmente se desculpam com muitas distinções farisaicas e
exposições da lei. Quando não reconhecemos que o verdadeiro
propósito da lei é examinar-nos para ver se chegamos ao padrão
da imagem de Deus em nosso coração, alma, mente e
comportamento exterior, essa imagem segundo a qual fomos
criados, e que ela punirá o menor desvio dessa imagem,
poderíamos até ficar satisfeitos com nossa
própria justiça.
A justiça que Deus providenciou para nós no evangelho (Rm 10.3, 4).
Esta é "a justiça que decorre da fé" (Rm 9.30). A justiça de
Deus é aquela justiça que Cristo propiciou para nós pela sua vida
de perfeita obediência à lei, juntamente com a perfeita satisfação
das exigências da lei que ele operou por meio de seus sofrimentos
e morte na cruz. Aqueles que desconhecem essa justiça estarão
andando por aí estabelecendo sua própria justiça e confiando so
mente nela.
Mas quando alguém está convencido do pecado, sua boca
fica muda e ele chega culpado diante de Deus. Então o evange
lho da justiça de Deus lhe é pregado (Rm 3.21-26; com Rm
5.18, 19).
A APoSTASIA DAS DourRJNAS DO EVANGELHO Em
A pessoa que verdadeiramente confiou em Cristo como sen
do aquele que cumpriu, em seu favor, toda a lei e libertou-a de
todas as exigências dela de justificação perante Deus, não tratará
a justiça de Cristo imputada a ela como coisa a desprezar ou
tratar com escárnio. Quando os homens desprezam, negligenci
am ou rejeitam a justiça que Cristo levou a efeito por nós, eles
assim "crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem a uma
humilhação públicà'.
Quando as pessoas dizem que já experimentaram a justiça
de Cristo e nada acharam nela, e agora estão, portanto, confi
ando em sua própria justiça, elas o desonram cabalmente e
tra zem sob e si a plena condenação e ira de Deus pela sua vil
apostasia.
em; -S,€1
à, d,e; e,U,&I
milúsiéJuo;
vam ser cristãos e que eram mais santos e justos, mas que apenas
discordavam de alguns pontos da fé cristã. O que pode fazer os
homens se sentirem mais seguros em seus pecados do que
assegurá los de que estão justificados e são mais excelentes aos
olhos do evangelho do que aqueles que os excedem grandemente
em moralidade e santidade? Homens perjuras e bêbados, profanos
e imundos, ao perseguirem cruelmente aqueles que são realmente
santos e conhecidos pelos homens como sendo sóbrios, controla
dos, pessoas de oração e dadas a boas obras, não põe o Cristianis
mo em luz favorável!
Mas se houve pessoas que sentiram as setas da convicção e da
culpa ferindo sua mente e sua consciência e perturbando-as, en
tão as confissões, penitências e boas obras pacificaram esses senti
mentos. E se esses atos não fossem suficientes para aliviá-las de
sentimento de culpa, então o purgatório faria isso com certeza. E
com essas vis doutrinas, a maioria da humanidade cristã foi levada
a desprezar o evangelho e a desrespeitar a verdadeira santidade do
evangelho. Não a entendiam nem a desejavam. Em lugar disso,
uma devoção cega, deformada por múltiplas superstições, substi
tuiu a santidade evangélica. Por isso, sob o nome da igreja e seus
privilégios, o evangelho de Cristo foi totalmente perdido entre os
homens.
Os mandamentos do evangelho são santíssimos, suas
promes sas são mui gloriosas e suas ameaças muito severas.
Contudo, pro fessando submissão a esse evangelho, os homens
levam uma vida pior do que a de qualquer pagão que nunca
conheceu o evange lho. Supor que o evangelho incentiva à vida
má é tratar o evange lho com o maior desdém e oposição
possível.
Toda essa apostasia surge de se crer que enquanto eu for um
membro da Igreja de Roma e permanecer assim, não importa o
quanto minha vida é vil, estou na arca e nunca serei levado pela
enchente do julgamento eterno.
O único caminho de retorno de tal apostasia é ordenar as coi
sas na igreja de tal maneira que ninguém possa se gabar de ser
1m APOSTASIA Do EVANGELHO - JOHN ÜWEN
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A presente apostasia, largamente difundida, traz junto um gran
de perigo.
mi APOSTASJA Do EVANGm,tto - JO!JN OWEN
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Considere a maneira insidiosa e enganosa pela qual essa
apostasia penetra na vida das pessoas, desencaminhando-as do
evangelho.
A apostasia tem muitas maneiras sutis e insidiosas de
enganar almas instáveis. Pode nos pegar em nosso trabalho, em
casa por meio da família, em nossos prazeres ou por meio de
nossas posses. A descrença, o engano do pecado, os apetites e os
desejos cor ruptos, a preguiça espiritual, o amor ao dinheiro e
suas preocupa ções concomitantes, tudo está pronto a nos
seduzir do evangelho para a apostasia. Portanto devemos
"desembaraçar-nos de todo peso e do pecado que tenazmente
nos assedià' (Hb 12.1). Deve mos "cuidar que não haja em
nenhum de nós um perverso cora ção de incredulidade que nos
afaste do Deus vivo". Devemos "exor tar-nos cada dia, a fim de
que nenhum de nós seja endurecido pelo engano do pecado"
(Hb 3. 12, 13). Temos de "seguir a paz com todos os homens,
sem a qual ninguém verá o Senhor: aten tando diligentemente
para que ninguém seja faltoso, separando se da graça de Deus;
nem haja alguma raiz de amargura que, bro-
ll!D APo 'TASIA Do EVANGELHO - JonN OWEN
nenhuma para agradá-lo ou viver para ele. Seus deuses agora são
suas próprias paixões e seus próprios desejos. Ele vive unicamente
para os prazeres terrenos, preferindo-os a Cristo e suas promessas e
desprezando todas as suas ameaças com desdém (Fp 3.18, 19).
Sinal cinco. Rejeitando Cristo e sua religião pura, o apóstata
também despreza e rejeita o povo fiel de Cristo. Os grandes
apóstatas sempre foram grandes perseguidores, tanto na palavra
como na ação, segundo o potencial e a capacidade deles.
Todos aqueles que amam a Cristo amam também seu povo.
Aqueles que odeiam a Cristo também odeiam todos os que lhe
pertencem. Estes são desprezados como sendo fracos e tolos por
continuarem a crer no evangelho. Por isso o apóstata deixa a co
munhão dos cristãos (J ]o 2.19).
Sinal seis. Finalmente, eles desprezam o Espírito de Deus e toda
sua obra na dispensação do evangelho (Hb 10.29).
O Espírito Santo é aquele que foi especialmente prometido
para a era do evangelho. A promessa do Espírito Santo é o privilé
gio e a glória especial do evangelho. Foi enviado pelo Cristo
ressurreto e exaltado (At 2.33). Sua obra inteira é glorificar e exal
tar Cristo e tornar sua obra de mediação eficaz no coração dos
homens. O Espírito Santo é a vida e a alma do evangelho.
Portanto, a apostasia do evangelho demonstra inimizade
espe cial contra ele e sua obra.
Quando os apóstatas "calcam aos pés o Filho de Deus" e "pro
fanam o sangue da aliança com o qual foi santificado" avaliando
º como coisa comum, então eles estarão e já estão "insultando o
Espírito da graça" (Hb 10.29).
Sinal sete. A total apostasia se mostra na confissão e
declaração de odiar o evangelho até onde isso é coerente com os
interesses terrenos. Interesses seculares poderão fazer com que
não seja pru dente ou viável revelar abertamente que se tem
renunciado a Cris to e seu evangelho. Mas quando a apostasia é
difundida e é a coisa popular para se fazer, então o apóstata revela
desavergonhadamente sua verdadeira natureza traiçoeira.
Os PERIGOS DA APOSTASIA GENERALIZADA a
Esses, então, são os sete sinais da apostasia total aos quais fare
mos bem atentar.
A apostasia total faz com que seja inconsistente com a
santida de, a justiça e a fidelidade de Deus renovar para o
arrependimento pessoas assim, plena e abertamente culpadas deste
pecado. Alguns homens que experimentaram as verdades do
evangelho e tiveram algumas convicções de sua verdade e
excelência, obstinadamente rejeitam o único caminho da
salvação que Deus proveu para peca dores - e assim já
desprezaram toda a bendita Trindade, cada pes soa divina em
sua acepção na obra da salvação. Deus em sua fide lidade não
quer, nem pode em sua santidade, rer qualquer miseri córdia em
relação a tais pecadores presunçosos. Deus poderá su portar e
realmente suporta os vis apóstatas por um tempo neste mundo, e
isso sem quaisquer sinais visíveis de seu desprazer, satis fazendo
sua justiça nos juízos espirituais que estão sobre eles. Mas Deus
apenas os tolera "como vasos de ira preparados para a des
truição" e cuja "destruição não dorme" (Rm 9.22; 2 Pe 2.3). E
essas coisas poderão ser suficientes para advertir os homens do
perigo da apostasia. Serão advertências a todos quantos os
consideram, que não estão ainda endurecidos "pelo engano do
pecado".
Para aqueles que temem que talvez tenham caído no estado
de apostasia irrecuperável porque se sentem mortos e
improdutivos espiritualmente, e têm negligenciado deveres
espirituais por causa dos prazeres pecaminosos, e que estão em
estado de desespero, ofereço o seguinte.
Todos os retrocessos são perigosos. Enquanto está nesse esta do,
ninguém poderá ter a segurança da paz e nem o consolo de Deus e
suas promessas. Portanto, arrependa-se e "busque o Se nhor
enquanto se pode achar, invoque-o enquanto está perto. Deixe o
ímpio o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta se
ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso
Deus, porque é rico em perdoar" (Is 55.6, 7).
Se você está espiritualmente apercebido do mal de seu retro
cesso, então você ainda pode se recuperar. Ninguém perdeu toda
1m AfOSTASIA Do EVANGEI.HO - JOHN ÜWEN
ll
o
motivou a escrever detalhadamente e com grande profundidade de análise espiritual .
. ... sobre o tema. Sua exposição éuma obra-prima de acuidade e discernimento.
·
Agora, ensino
. · poderoso neste resumo atualizado
facilmente accessíveldaaos
obra de O1ven,
leitores Dr. RJK.
modernos. Alguns Lau; torna
acharão o seu
as suas
p4ginas profundamente penetrantes para a alma; outros serão impactados
pela clareza do entendimento do autor; todos perceberão tratar-se de uma obra
que fere para depois curar.
John Owen (1616-1683).foi um destacado pastore teólogo Puritano que serviu
como capelão de Oliver Cromwell e mais tarde como Deão da Christ
Church, na Universidade de Oxford.
1.