Manual Da Musculação 1. Ed. - João Franken

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2018
Autor: João Marcelo Franken Teixeira

______________________________________________________________

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parcial desta obra por qualquer forma ou meio, sem prévia autorização expressa do
autor, João Marcelo Franken Teixeira, inscrito no CPF sob o nº 061.233.104-02. A
punição para violação dos Direitos Autorais é crime previsto no Artigo 184 do
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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À JOÃO


MARCELO FRANKEN TEIXEIRA

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PREFÁCIO
Lembro-me muito bem desse dia, eu era estagiário numa academia em 2014 e fui
abordado por um companheiro de trabalho (também estagiário), que me apontou um aluno
executando flexão de quadril na paralela e me lançou a pergunta: “para qual músculo é
aquele exercício?”. Aí já sabe né, bateu aquela incerteza, por que no meu “conhecimento”
empírico aquele exercício sempre foi para trabalhar a musculatura abdominal, pois o
mesmo “queimava” de tal forma que era risível negar que não fosse um exercício para
abdominal.
Estufei o peito e afirmei: “para abdômen, ora, para que seria?!”. Lembro-me do
sorriso debochado do companheiro, seguido de uma outra pergunta retórica: “Mas aquilo
é flexão de quadril, o abdômen não faz flexão de quadril. Aquele exercício é para o
Iliopsoas”. E foi assim que todo o meu “conhecimento” empírico de um típico
marombeiro foi colocado a prova e logo em seguida vários pensamentos (negativos)
tomaram conta do meu sistema nervoso. “Meu Deus, eu não sei de nada, o que é flexão
de quadril? O que diabos é iliopsoas? Por que o abdômen “queima” se o exercício não é
para ele?”
Após esse acontecimento, minha vida começou a tomar um rumo diferente. Eu fui
atrás de quem eu sabia que poderia responder as minhas perguntas e me dar um norte
quanto ao que seria a Educação Física, pois, ao meu ver, a profissão nada mais era do que
me formar e começar a prescrever exercícios para todos e ser remunerado por isso. Ledo
engano. Foi aí que conheci (melhor) o meu atual “sócio” por assim dizer, Leandro
Ribeiro. Eu já o conhecia por ter sido também um estagiário nessa academia, e pasmem,
foi demitido por que era um exímio professor e incomodava os demais profissionais
(assim como eu fui demitido pelo mesmo motivo) que não faziam idéia do que ele falava
e mostrava para os alunos.
Durante aproximadamente 2 anos e meio eu tive a mentoria de Leandro, que não
me respondia nada de mão beijada, muito melhor do que isso, me fazia pensar na própria
pergunta e me dava apenas um vislumbre do que seria a resposta correta. Nada era me
dado de mão beijada, eu era forçado a pensar e quebrar a cabeça até saber profundamente
qual era a resposta e por que aquela era a resposta correta, e não outra. Esse foi o grande
divisor de águas em minha vida, e acredito que foi devido a essa motivação provinda de
Leandro que eu alcancei tudo que tenho hoje (que não é lá essas coisas, mas é alguma
coisa). Não confundam humildade com coitadismo, são coisas diferentes.
Minha busca constante por conhecimento, minha sede de saber teve início e não
tem mais fim. Há pouco mais de 4 anos eu venho estudando a fundo a educação física no
que tange a cinesiologia, biomecânica e postura. Uma coisa eu posso lhes garantir, uma
graduação em educação física não vale de nada se você não se aprofundar nos estudos,
cair de cara nos livros, acordar, comer e dormir com os livros. Ame o livro, idolatre,
pratique o coito com o livro se for preciso. Um curso de final de semana não lhe dará as
respostas que você procura, um certificado de 8-12 horas não fará a menor diferença em
sua vida profissional e pessoal se você não procurar entender sobre o movimento humano

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e suas minúcias. E é pra isso que esta obra foi escrita, para lhe mostrar o que é
treinamento.
O que eu quero dizer com tudo isso é simplesmente que todos nós, vez ou outra
na vida, precisamos de um guia, uma direção, um mentor! E esse é o grande objetivo
desta obra, poder guiá-lo pela beleza do que é a real educação física, com assuntos
complexos que eu pude sintetizar e discorrer aqui da maneira mais didática possível para
que a partir da compreensão desses você possa se destacar em sua cidade e ser referência
na prestação de serviço. Aproveite esta chance e faça diferente, destaque-se!

CONTEÚDO
Nesta obra você irá encontrar tópicos dos mais diversos temas, mas que possuem
íntima ligação com o movimento. Tudo se trata de movimento relacionado ao treinamento
de força (musculação) da maneira mais didática e clara possível. Os assuntos abordados
são um “resumo”, se é que pode ser chamado de resumo, de todo o conhecimento que
adquiri durante mais de 4 anos de estudos nas áreas de cinesiologia, biomecânica e
postura, tudo aplicado ao treinamento de força. Não pensem que tudo surgiu da minha
cabeça, não, tudo que aqui está escrito pode ser encontrado em diversas obras, entretanto,
o que não será encontrado em nenhuma obra (apenas nesta) é a aplicação de toda a teoria
dentro dos exercíciosna musculação.
Afinal, é fácil saber os movimentos da escápula e ombro, que ambos devem
ocorrer em sincronia etc, mas e como funciona isso na prática? Como deve ser o
alinhamento do corpo durante os exercícios? Quais músculos serão ativados e porque?
Por que deve ser feito dessa maneira e não de outra? Eu garanto que todas essas perguntas
serão respondidas nesta obra, mas não em outra. Se acha que existe, eu lhe desafio a
procurar e trazer até mim. O movimento é imprescindível para um bom funcionamento
do organismo, entretanto, o movimento deva ser realizado dentro de uma perfeita técnica
que só será possível de ser executada dentro de um padrão ideal de alinhamento articular.
Referências bibliográficas não serão utilizadas em grande escala pois não é o
intuito dessa obra se assimilar as demais, afinal, o sucesso parte daquele que não segue o
senso comum e forma sua própria opinião (fundamentada) sobre qualquer assunto. Com
o passar das páginas e a leitura atenta, você verá que as analogias aqui apresentadas fazem
total sentido, e se fazem sentido, qual o intuito de ter uma referência ao final? Deixo isso
para os doutores do instagram e profissionais metidos a pesquisadores de pubmed (nada
contra). Não haverão rodeios e enchimento de linguiça, apenas a boa e velha teoria na
prática. Esse e-book não foi escrito para ser igual aos demais, não, longe disso, aqui o
pensamento em manada não existe. É um novo conceito de como abordar tópicos
complexos da maneira mais simples sem que se torne algo tedioso para o leitor. É algo
como você nunca viu antes na educação física. Bons estudos!

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SUMÁRIO

1. ALINHAMENTO E POSTURA IDEAL...................................... 7

2. BENEFÍCIOS DO ALONGAMENTO NA MUSCULAÇÃO.... 11

3. INSUFICIÊNCIAS MUSCULARES.............................................13

4. A MANOBRA DE BRACING – ativação do núcleo corporal


(core)............................................................................................... 16

5. AS MINÚCIAS SOBRE ABDÔMEN E O ABDOMINAL........ 18

6. RESPIRAÇÃO DIAFRAGMÁTICA........................................... 21

7. TIPOS DE PEGADAS E SUA INFLUÊNCIA NO


MOVIMENTO............................................................................... 22

8. CABEÇA NO TREINAMENTO.................................................. 24

9. ESCÁPULAS.................................................................................. 27

10. PROTRAÇÃO ou ABDUÇÃO..................................................... 30

11. RETRAÇÃO ou “FECHAMENTO”........................................... 31

12. ELEVAÇÃO ou “ENCOLHIMENTO”...................................... 32

13. DEPRESSÃO ou “ABAIXAMENTO”........................................ 33

13. ROTAÇÃO SUPERIOR.............................................................. 34

14. OMBRO......................................................................................... 35

15. SISTEMA ATIVO........................................................................ 38

16. ARTROCINEMÁTICA DO OMBRO........................................ 39

17. PLANO DA ESCÁPULA............................................................. 42

18. RÍTMO ESCÁPULO UMERAL................................................. 45

19. COLUNA....................................................................................... 47

20. COLUNA NO TREINAMENTO................................................ 48

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21. MECANISMO DE REAÇÃO EM CADEIA................................................ 52

22. INFLUÊNCIA DO POSICIONAMENTO SENTADO NA


RESPIRAÇÃO.................................................................................................53

23. PELVE..............................................................................................................55

24. EQUILÍBRIO PÉLVICO............................................................................... 59

25. MEMBROS SUPERIORES.......................................................................... 62

25.1 BREVE INTRODUÇÃO.................................................................... 63

25.2 DORSAIS............................................................................................ 64

25.3 PUXADAS – independente das pegadas e variações....................... 69

25.4 PEITORAIS – independente das variações...................................... 78

25.5 DELTÓIDES....................................................................................... 86

25.6 BÍCEPS – independente das variações............................................. 96

25.7 TRÍCEPS – independente das variações........................................ 109

25.8 TRÍCEPS “MERGULHO” ............................................................. 114

26. MEMBROS INFERIORES...........................................................................115

26.1 QUADRIL e JOELHO..................................................................... 116

26.2 EIXO MECÂNICO DOS MEMBROS INFERIORES................. 121

26.3 A IMPORTÂNCIA E INFLUÊNCIA DOS PÉS EM TODO O


MECANISMO DO MEMBRO INFERIOR................................... 125

26.4 A INFLUÊNCIA DO CALÇADO NO MECANISMO


PROPRIOCEPTOR E NA ATIVAÇÃO MUSCULAR................ 127

26.5 EXERCÍCIOS QUE ENVOLVEM FLEXÃO-EXTENSÃO DE


QUADRIL E JOELHO.....................................................................129

26.6 AMPLITUDE DO AGACHAMENTO........................................... 137

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26.7 AMNÉSIA GLÚTEA: se não o acordar, não tem santo que o faça
crescer................................................................................................ 141

26.8 DESNIVELAMENTO PÉLVICO DURANTE O AGACHAMENTO


.............................................................................................................143

26.9 DICA PARA OS ATIVAR OS GLÚTEOS E DE QUEBRA


MELHORAR DISFUNÇÕES NO QUADRIL!............................. 145

26.10 CAMA FLEXORA........................................................................... 147

26.11 EXERCÍCIOS ISOLADOS PARA GLÚTEOS – não tão simples


quanto parece.................................................................................... 150
26.12 LEVANTAMENTO TERRA........................................................... 152

27. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................156

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1. ALINHAMENTO E POSTURA IDEAL
A coluna deve estar alinhada, estando as 3 principais curvaturas preservadas. Para
que isso seja possível, a pelve deve estar em neutro, com a espinha ilíaca anterossuperior
(EIAS) alinha verticalmente a sínfise púbica e em vista frontal as mesmas devem estar
horizontalmente niveladas (ambas as EIAS).
Os joelhos devem estar apontados para frente e alinhados com o 2º dedo do pé.
Os pés devem estar distribuindo toda a carga do corpo entre o 1º e o 5º metatarso (osso
do dedão e osso do dedo mínimo) e o calcanhar. É imprescindível que o peso corporal
seja distribuído dessa maneira, do contrário ocorrerão compensações ascendentes para
equilibrar essa força vinda de baixo e consequentemente ocorrerão compensações
descendentes, dessa forma um loop de disfunção tomará conta do seu corpo e será
arraigado em seu sistema nervoso central, no córtex motor e cerebelo.
Visto de frente, o fio de prumo deve “cortar” o corpo em duas metades iguais, ou
seja, o mesmo deve passar entre o esterno e a sínfise púbica. Qualquer desequilíbrio
muscular irá afetar tal alinhamento. Em vista posterior, o prumo deve passar por entre os
processos espinhosos das vértebras, e da mesma forma, cortando o corpo em dois. Para
que essa análise seja feita com máxima eficiência, se faz necessário o uso de um tripé
para apoiar a câmera fotográfica, e, além disso, é preciso que haja um correto
enquadramento e nivelamento da foto. Qualquer inclinação na imagem irá alterar o
diagnóstico, comprometendo a avaliação e principalmente a prescrição dos exercícios.
Esse alinhamento ideal será mantido mediante o equilíbrio de forças entre os pares
de músculos agonistas e antagonistas. Tais músculos trabalham para sustentar toda essa
estrutura contra a força gravitacional. Portanto, qualquer desequilíbrio de força entre
esses pares acarretará em compensações para que o centro de gravidade do corpo seja
mantido em posição ideal e os olhos apontarem para o horizonte, mesmo que isso custe a
integridade da cintura escapular e coluna cervical.
Já nos exercícios, deverá ser mantido o peito “estufado” posicionando as escápulas
em neutro (ligeiramente fechadas – vide ESCÁPULAS), queixo para dentro como se
estivesse apertando a parte interna do pescoço (vide CABEÇA), olhar no horizonte caso
esteja em pé ou sentado ereto, caso esteja com o tronco inclinado ou deitado, o olhar deve
ser ajustado e orientado no sentido da cabeça e do resto da coluna, ou seja, tronco
inclinado com peito para baixo o olhar deve ser direcionado para baixo e o inverso é
verdadeiro (isso tudo com o queixo para dentro e escápulas em neutro), para ter uma
melhor noção disso, analise o tópico sobre coluna no treinamento. A regra geral é, repitam
comigo:

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“TODAS AS CURVATURAS FISIOLÓGICAS DA COLUNA DEVEM
SER PRESERVADAS ANTES, DURANTE E APÓS QUALQUER ATIVIDADE
E/OU EXERCÍCIO FÍSICO”.
Vide imagens abaixo para um melhor esclarecimento do alinhamento

Durante os exercícios é fundamental que se realize a manutenção da postura. Caso


ela não esteja sólida e da maneira equilibrada, os exercícios irão ocasionar uma série de
compensações nas articulações e consequentemente nos músculos, o que não queremos
em hipótese alguma, é claro. Além de tudo isto, a musculação é potencialmente lesiva
quando realizada fora dos padrões corretos, onde devemos aliar a perfeita postura com
uma técnica correta nas execuções dos exercícios. Mas calma, não há motivo para ter
medo, é melhor ser realista e sincero!
Nossa postura atual é muito influenciada pelo estilo de vida que levamos, pelos
avanços tecnológicos e pela comodidade, afinal, é mais “gostoso” sentar errado por
parecer menos desgastante do que sentar de maneira adequada (a mesma lógica se
aplicapara ações dinâmicas – exercícios). Além do fato do corpo ser assimétrico e possuir

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muitos músculos grandes (superficiais) que atuam diretamente contra músculos pequenos
(profundos), um outro fator acaba com a nossa integridade, caso não nos movimentemos
de maneira correta. A gravidade.
Esta atua de cima para baixo, devendo estar atuando sobre as articulações,
passando sempre por entre ou bem próxima aos eixos articulares (centro de rotação da
articulação). Dessa forma é possível manter o equilíbrio sem o dispêndio de energia para
tal. A partir do momento em que a gravidade começa a atuar mais à frente ou mais atrás
dos eixos articulares, desequilíbrios de força começam a ser gerados (de fato, alguns
músculos serão posicionados mais em encurtamento e outros mais em alongamento). Esse
papel da gravidade pode ser visto em prática e agora se você quiser.
Levante-se, junte os pés e deixe os braços ao lado do corpo. Então lentamente vá
inclinando seu corpo à frente sem dobrar a coluna, à medida que você inclinar para frente,
os seus músculos posteriores da coxa e da panturrilha (perna) irão se contrair
excentricamente para lhe sustentar, está sentindo?
Isso ocorre justamente pelo fato de a linha de gravidade passar à frente da
articulação do quadril, do joelho e do tornozelo. Sempre que a linha de gravidade passar
a frente de uma articulação, os músculos que atuam nos movimentos de extensão irão se
contrair de maneira excêntrica para impedir que você caia. Da mesma maneira ocorre
com a musculatura que flexiona a articulação. Fique novamente em pé com os pés unidos
e lentamente incline-se para trás... sentiu a parede abdominal, a parte da frente das coxas
e das pernas se contraindo para lhe segurar?
Agora já dá para ter uma noção de como deve ser uma postura ideal. É aquele
onde a linha de gravidade deve passar entre ou muito próximo ao eixo de rotação, sem
causar assim discrepâncias de braços de momento entre os músculos flexores e
extensores. Se pararmos para pensar, tais músculos atuam com um cabo de guerra, uns
puxam para trás enquanto outros puxam para frente, entretanto, para manter o equilíbrio
postural e a postura alinhada anatomicamente, essa guerra deve ser estável, sem
vencedores, ou seja, a corda não pode se mover mais para um lado do que para outro.
Entretanto, como Janda (1967) mesmo descreveu, os músculos que tendem ao
encurtamento (vide próxima página) são 1/3 mais fortes que os músculos que tendem à
fraqueza. Dessa forma, o cabo de guerra caba sendo injusto, pois além dos músculos
tônicos serem mais fortes, os mesmos são maiores e quando encurtados apresentam baixo
limiar de ativação, ou seja, são ativados rapidamente em qualquer movimento, mesmo
antes de ocorre a estabilização.

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Como dito anteriormente, abaixo você verá uma lista de músculos que trabalham
em antagonismo para sustentar a postura em alinhamento padrão. Os músculos ditos
como tônicos, pela sua filogenética (esse termo a grosso modo dizendo explica para qual
propósito/finalidade aquele órgão foi desenvolvido), possuem a tendência ao
encurtamento quando utilizado excessivamente ou quando mal utilizado, e, os mesmos
tem a tendência à hiperativação quando o músculo agonista não trabalha de maneira
eficiente. Já a musculatura dita fásica atua para contrabalancear a força da musculatura
tônica (o cabo de guerra), entretanto, essa musculatura, pela sua filogenética, possui a
tendência à inibição e excesso de alongamento quando não utilizada ou quando seu
antagonista se encontra encurtado.

MÚSCULOS TÔNICOS MÚSCULOS FÁSICOS


Suboccipitais Trapézio feixes médios e inferiores
Peitoral Maior e Menor Rombóides
Trapézio feixes superiores Serrátil anterior
Longuíssimo da cabeça e do pescoço
Levantador da escápula
(flexores cervicais profundos)
Esternocleidomastóideo Escalenos*
Escalenos* Extensores e supinadores do braço
Latíssimo do dorso Digástrico
Flexores e pronadores do braço Reto abdominal
Mastigadores Transverso do abdômen
Quadrado lombar Glúteo máximo
Paravertebrais toracolombares Glúteo médio e mínimo
Piriforme Vasto medial e lateral
Iliopsoas Tibial anterior
Reto femoral Perónio
Tensor da fáscia lata e banda iliotibial
Isquiotibiais
Adutores curtos
Tríceps Sural
Tibial Posterior
*Os Escalenos podem estar fracos ou encurtados

Vale ressaltar que isso não é regra geral. Os músculos não são exclusivamente
tônicos ou exclusivamente fásicos, alguns podem apresentar características tônicas e
fásicas. Entretanto, os músculos possuem sim a tendência de estarem fracos ou encurtados
em uma disfunção. Além disso, ambos apresentaram a capacidade de produção de força
reduzida, principalmente a musculatura fásica quando inibida e a tônica quando
excessivamente encurtada. Os músculos tônicos são até 1/3 mais fortes do que a
musculatura fásica, o que remete ao que já citei, é um cabo de guerra um tanto quanto
desleal. Por isso a grande maioria dos seres humanos sofrem com dores e disfunções.

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2. BENEFÍCIOS DO ALONGAMENTO NA
MUSCULAÇÃO
Por Leandro S. Ribeiro - @leandroribeiro._
Antes de tudo precisamos entender que da mesma forma que a musculação pode
causar diversas adaptações como resistência, força e potência a flexibilidade também têm
vários estímulos como relaxamento, alongamento, flexionamento e que cada uma gera
uma adaptação diferente a musculatura.
RELAXAMENTO: como o próprio nome diz, tem a finalidade de causar apenas
uma sensação de relaxamento, por este motivo se encaixa muito bem ao final do treino
de musculação sem o risco de lesões.
ALONGAMENTO: este é executado até um ponto que gere um desconforto. Mas
com a possibilidade de ser sustentado por um tempo relativamente longo, tem a finalidade
de manutenção e/ou pequeno aumento da flexibilidade por ter um grau de intensidade
média.
FLEXIONAMENTO: este tem característica de intensidade alta e por isso torna-
se impossível suportá-lo por uma média de 30 segundos devido ao desconforto gerado.
Possui um risco aumentado de lesão devido a sua intensidade alta. Porém, o
flexionamento torna-se mais próximo do ideal para o aumento da flexibilidade em um
período relativamente menor, para isso o executante precisa ter um feeling apurado afim
de preservar a integridade osteomioarticular.
Já a musculação ou treino de força como é comumente denominada, também
possui três divisões, sendo elas:
FORÇA DE RESISTÊNCIA. Essa com características mais próximas da
oxidativa, cuja fonte principal de energia são os ácidos graxos metabolizados nas fibras
do tipo 1a. esse tipo de fibra consegue realizar esforço por um determinado período de
tempo maior em intensidade menor.
FORÇA MÁXIMA. Utilizada normalmente por powerliffter’s por possuir
características tensionais, as quais utilizam fontes energéticas quase 100% por via da
ATPase, não sendo possível por tanto um estimulo com duração média de 30 segundos.
FORÇA DE POTENCIA: esta encontra-se no meio dos dois estímulos de força
supracitados, com característica energética de fonte predominantemente glicolítica,
permite um tempo de estimulo maior que a força máxima, porém, menor que a força de
resistência em uma intensidade média devido ao meio termo dos estímulos. Se encontram
mais próximas para a adaptação hipertrófica (a lógica da hipertrofia é variar entre
estímulos tensionais e metabólicos para adaptações mais amplas);
Dadas as informações podemos perceber algumas falhas na interpretação de
informações, como por exemplo: alongar antes do treino de força (musculação) prejudica
o desempenho e/ou o alongamento antes do treino evita lesões.
As perguntas a serem feitas a respeito desse assunto são: Qual o estímulo utilizado
antes do treino de alongamento, relaxamento ou flexionamento? Qual a predominância

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de estimulo do treino de força máxima, força de resistência ou força de potência? Alongar
antes, durante ou depois?
O que precisamos pensar é simples, o flexionamento reduz o desempenho no
treino de força máxima, mas olhando em uma visão ampla, quantas pessoas que você
conhece treinam flexionamento de verdade antes de um treino de força máxima de
verdade?
Eu pelo menos nunca vi ninguém treinar flexionamento na intensidade ideal ou
próxima dela, quiçá treinar flexionamento de verdade junto a um treino de força máxima
intenso. Ao olhar do ponto de vista cinesiológico e biomecânico entendemos que um
músculo que contenha suas valências físicas ideais sofre menos lesão se comparado a
músculos com tensão excessiva e/ou hipeartivos. Podemos observar nos músculos os
quais são diagnosticadas lesões que os mesmos se encaixam em um desses quesitos.
Sendo assim, adequar os estímulos de alongamentos ideais ao estímulo do treino
favorece na melhora do movimento por evitar esforço compensatório por parte de seus
sinergistas durante a fase concêntrica ou esforço excessivo de seus antagonistas durante
a fase excêntrica (principal gerador de lesões como estiramento na musculação).
Ligando os pontos podemos entender que ALONGAMENTOS adequados e
planejados à musculatura correta, antes da musculação (treino de força convencional),
favorece a hipertrofia e auxilia na prevenção de lesões. Que o treino de flexionamento se
encaixa muito bem a indivíduos de meia idade sem o diagnóstico de osteoporose para o
ganho de flexibilidade quando planejado para a musculatura correta e que é pouco
eficiente antes do treino de força máxima. Que relaxamento é ótimo após o treino para
reduzir a tensão momentânea causada pelo treino.

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3. INSUFICIÊNCIA ATIVA E PASSIVA DOS MÚSCULOS
BIARTICULARES E MULTICARTICULARES (POLIARTICULARES)
Por: Marcio Pirani - @sw_marciopirani
Músculos biarticulares são aqueles que atravessam duas articulações diferentes e que tem
ação direta sobre elas, ao se contrair pode gerar, controlar e/ou evitar movimentos de uma
ou das duas articulações na qual se fixa. São exemplos o reto femoral, isquiotibiais e
bíceps braquial.
Músculos multiarticulares (poliarticulares) são os que atravessam, atuando em três ou
mais articulações, como por exemplo os flexores dos dedos da mão.

Além da forma de atuar sobre as articulações na qual são fixados, já citada acima, de
gerar, controlar e/ou impedir movimentos indesejados, músculos “bi” e multiarticulares,
por possuírem características similares, apresentam outra vantagem. São capazes de
manter um comprimento relativo e constante em razão de encurtamento em uma
articulação e alongamento em outra. Porém, o que de fato acontece, não é encurtamento
em uma e alongamento noutra articulação, pois, ao se contrair concentricamente movendo
uma junta articular, seu comprimento é compensado pelo movimento na outra, como no
caso do músculo Reto Femoral num agachamento. Este produz concentricamente
extensão do joelho (“encurtamento”), mas, mantém seu comprimento relativo pela
extensão do quadril. Esta resultante do comprimento relativamente constante faz com que
o músculo Reto Femoral mantenha sua competência em produzir força.

INSUFICIÊNCIA ATIVA

Caracterizada pela incapacidade de um músculo biarticular ou multiarticular em gerar ou


manter tensão ativa simultaneamente nas articulações na qual cruza, a fim de produzir
amplitude total articular em todas elas. Ainda tendo como exemplo o Reto Femoral, este
é incapaz de produzir suas ações concomitantemente nas articulações do quadril e joelho,
já que é flexor do primeiro e extensor do segundo.

INSUFICIÊNCIA PASSIVA

Caracterizada pela incapacidade de um músculo biarticular ou multiarticular se alongar


de forma antagonista simultaneamente nas articulações na qual cruza, também com o
objetivo de buscar amplitude total nelas. Como é o caso dos Isquiotibiais que geralmente
limitam a extensão total do joelho, estando o quadril em flexão ao mesmo tempo.

Segundo Hall, 2000., músculos biarticulares podem não conseguir produzir forças quando
relaxados (insuficiência ativa) e podem restringir a amplitude de movimento quando
plenamente estendidos (insuficiência passiva).

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Na figura acima, vemos no quadro A que o Reto Femoral é capaz de
flexionar o quadril ativamente pela respectiva amplitude de movimento
(assim como também estende o joelho), sem que haja a completa extensão dos
Isquiotibiais. No quadro B, ao se tentar ativamente a flexão de quadril com
o joelho estendido, alcança-se a insuficiência ativa do Reto Femoral e a
insuficiência passiva dos Isquiotibiais, resultando na incapacidade de gerar
movimento em total amplitude articular. (Floyd,2011)

CURVA DE RELAÇÃO COMPRIMENTO-TENSÃO

Muitos autores citam apenas os músculos biarticulares e multiarticulares como


passíveis de tais fenômenos, porém, alguns, também relatam que músculos
monoarticulares podem “entrar” em insuficiência ativa.

Segundo Norkin & Levangie, 2011., devido ao encurtamento extremo pode-se


perder tensão ativa, aproximando a inserção das suas fibras à origem, assim gerando
sobreposição excessiva dos filamentos de actina e miosina.

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Sabe-se que o músculo é capaz de gerar sua máxima capacidade tênsil num grau
de sobreposição ótimo dos filamentos supracitados. Isto corresponde entre 80% e 120%
do comprimento de repouso. Estirar um músculo além de 120% do seu comprimento
original em repouso gera uma diminuição da sobreposição dos filamentos de actina e
miosina caracterizando INSUFICIENCIA PASSIVA. Da mesma forma, ao encurtar um
músculo em menos 80% do seu tamanho em repouso, aumenta-se muito a sobreposição
dos filamentos dentro do sarcômero, caracterizando INSUFICIENCIA ATIVA. A isto,
podemos classificar como a CURVA DE RELAÇÃO COMPRIMENTO-TENSÃO, onde
o desvio para a esquerda diminui-se a capacidade contrátil pelo encurtamento e para a
direita, pelo alongamento excessivo.

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4. A MANOBRA DE BRACING – ativação do núcleo
corporal (core)
O mesmo deve ser ativado juntamente com o alinhamento, antes do início de
qualquer exercício. Para ter uma visão melhor do que se trata, vá até minha página do
instagram e procure pela postagem sobre bracing.
Deitado de barriga para cima e joelhos flexionados, coloque as mãos ao lado do
corpo, coloque o queixo para dentro (apertando profundamente a frente do pescoço –
ficando com a famosa “papada”.). Feito isso, devem ser realizados os seguintes passos:
1º: máxima inspiração, abrindo a caixa torácica e as costelas (sem elevar os
ombros) numa expansão 3D;
2º: Em seguida faça a máxima expiração seguida de um fechamento e depressão
das costelas;
3º: Em conjunção com o fechamento e depressão das costelas, você deve cada vez
mais fazer uma sucção das vísceras, tentando comprimir a camada superficial do abdômen
para dentro da camada mais profunda, como se quisesse puxar a cicatriz umbilical para
dentro do estômago.
Essa ação deve ser treinada sempre que puder, em casa, no trabalho, na rua
andando, sentado, dirigindo etc. Além de garantir estabilidade a coluna (principalmente
lombar), será um passo a frente para afinar a cintura e garantir uma bela linha
É essa ação que deve acontecer antes do início de qualquer exercício e deve ser
mantida durante todo o exercício. A respiração enquanto se mantém o bracing, deve
ocorrer no abdômen, ou seja, uma respiração diafragmática enquanto se mantém as
costelas fechadas e apertadas e o umbigo em sucção. É necessária muita atenção pra este
tópico, pois, de fato, o entendimento se faz imprescindível par garantir a estabilidade da
coluna vertebral.
É comprovado cientificamente que os músculos profundos (estabilizadores), nos
atendo aqui a falar do multífidos, transverso do abdômen e assoalho pélvico, apresentam
atividade eletromiográfica antes mesmo do indivíduo realizar um movimento com os
membros (braços e/ou pernas). Essa pré-ativação é natural desse tipo de musculatura
(tônica/postural), servindo como uma base estável do núcleo para que os membros
possam movimentar-se sem que hajam quaisquer compensações com a coluna, como o
balanço anteroposterior (inclinar para frente e para trás num balanço, para auxiliar em
algum movimento durante o treino de musculação).
Se faz imprescindível que os indivíduos tomem conhecimento deste tipo de
funcionalidade, pois, de fato, a grande parte dos praticantes da musculação e demais
modalidades que fazem uso de resistência externa acabam não utilizando a musculatura
alvo de maneira eficiente, além de perder toda a segurança no que se refere a região
lombar, ombro e joelho. A ativação da camada profunda do nosso centro garantirá que
além de proteger nossas estruturas que sofrem constantemente com a ação da gravidade
e movimentos alterados, irá tornar o recrutamento da musculatura mobilizadora

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(superficial) mais eficiente, gerando a melhor hipertrofia e sem riscos de compensações
sinergísticas. Veja na próxima página o início e o final da manobra.

Recapitulando, para iniciar a manobra, inspire ao máximo permitindo


a expansão da caixa torácica para os lados e para cima (expansão em 3D)
juntamente com a abertura das costelas (e do ângulo esternocostal) e então
dê início a contração da musculatura que irá de fato ativar o núcleo do corpo.
Expirando forçadamente (perceba a região do pescoço do indivíduo na
imagem acima a direita), direcione as costelas para baixo e para dentro num
sentido oblíquo de fora para dentro, fechando-as ao máximo enquanto tenta
tracionar a cicatriz umbilical para dentro do estômago como se quisesse fazer
com que encosta no solo, ao passo que contrai toda a parede abdominal
superficial e profunda ânterolateralmente (veja o tônus da musculatura na
imagem acima a direita).

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5. AS MINÚCIAS SOBRE ABDÔMEN E O
ABDOMINAL
Por: Júlio Santa Rosa - @juliosantarosas
Em essência, os músculos do abdômen são o reto abdominal, oblíquo externo,
obliquo interno e transverso do abdômen, mas isso em essência, já que essas musculaturas
podem sofrer ação direta ou indireta de outros grupamentos musculares como os
paravertebrais ou os flexores de quadril por exemplo.
Diferente da maioria dos livros de cinesiologia ou biomecânica, iniciarei falando
sobre o transverso do abdômen por considerar que o entendimento das musculaturas
profundas do corpo deveria ser de preocupação primária de qualquer professor. O
transverso do abdômen é uma musculatura profunda que se origina nas superfícies
internas das cartilagens das seis últimas costelas e se insere na linha alba, crista púbica e
linha pectínea do púbis. A ação dessa musculatura tem relação primária com a
estabilização da sessão média do tronco e funciona como uma cinta protetora achatando
a parede abdominal e diminuindo o ângulo esterno-costal durante a fase de expiração
máxima.
É bastante comum escutarmos de nossos alunos a respeito do desconforto e da
sensação de abdômen dilatado ao fim do dia. No caso das mulheres isso se torna mais
incomodo quando pensamos em dores lombares e a percepção negativa em relação ao
abdômen. Conversar com o cliente a respeito de como o mesmo percebe a dilatação
abdominal ao fim do dia parece ser interessante para avaliar o nível de fortalecimento do
transverso abdominal. Sua fraqueza se relaciona então com o aumento da protusão
abdominal (gerando um possível aumento da lordose lombar) e isso se mostra bastante
claro em movimentos em decúbito dorsal ou ventral.
O treino da musculatura do transverso acontece basicamente através de
movimentos expiratórios sustentados e podemos obter isso com exercícios de respiração
como o bracing por exemplo, citado anteriormente pelo João. E a musculatura abdominal
jamais poderá reproduzir um gesto motor e consequente recrutamento muscular se a
musculatura profunda não estiver perfeitamente estabilizada, sendo assim, o treinamento
da musculatura de transverso se faz prioritária, pois, com a contração das fibras superiores
do transverso, a linha alba é então estabilizada, fornecendo uma base estável para que o
reto do abdômen possa trabalhar de maneira eficiente gerando a máxima contração.
E pensando em músculos com ações profundas, chegamos então ao obliquo
interno que pode atuar uni ou bilateralmente. Suas fibras inferiores possuem origem nos
2/3 laterais do ligamento inguinal e fixação curta sobre a crista ilíaca, próximo da espinha
ântero-superior e se inserem na crista do púbis, parte medial da linha pectínea, e na linha
alba por meio de uma aponeurose. Por estarem mais próximas da pelve e se inserirem
junto com o transverso do abdômen, atuam comprimindo a dando suporte as vísceras do
abdômen inferior.

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As fibras superiores têm origem no terço anterior da linha intermediária da crista
ilíaca e se inserem na linha alba por meio de uma aponeurose. Atuam bilateralmente
dando suporte na flexão da coluna vertebral, suporte e compressão as vísceras
abdominais, deprimem o tórax e auxiliam na respiração. Quando agem unilateralmente
são auxiliados pelas fibras anteriores do obliquo externo, rodando a coluna vertebral pelo
tórax ou pela pelve.
Suas fibras laterais têm origem em 1/3 da linha intermediária da crista ilíaca e
fáscia toracolombar e se inserem nas bordas inferiores da 10° a 12° costela e linha alba
por intermédio de uma aponeurose. Tem ação similar as fibras superiores na ação de
deprimir o tórax e flexionando a coluna vertebral. Atuando unilateralmente, realizam a
flexão lateral da coluna em ação conjunta com o musculo obliquo externo do mesmo lado.
A complexidade de direções e particularidades de cada porção das fibras do
obliquo interno pode levar a uma confusão na hora do treinamento e somado a isso, a
incapacidade do aluno em estabilizar a pelve pode levar a um treinamento desequilibrado
dessa musculatura. Sugere-se que essa musculatura seja treinada somente dando suporte
ao trabalho principal e que seu treino de forma unilateral aconteça somente mediante a
uma avaliação profunda da condição do aluno.
Chegamos então ao musculo obliquo externo dividido em fibras anteriores e
laterais. As fibras anteriores se originam nas superfícies externas da quinta à oitava
costela e se inserem em uma aponeurose larga e chata que termina na linha alba. Agindo
bilateralmente tem a mesma função da musculatura de obliquo interno e unilateralmente
atuam com as fibras do obliquo interno do lado oposto fazendo a rotação da coluna
vertebral pelo tórax ou pela pelve.
As fibras laterais têm origem na superfície externa da nona costela e superfícies
externas da 10° à 12° costela e se insere com o ligamento inguinal, na espinha ilíaca
ântero-superior e tubérculo púbico e no lábio externo da metade anterior da crista ilíaca.
Exercem uma ação aumentada na flexão lombar (inclinação posterior da pelve) em sua
ação bilateral e agem de forma similar ao obliquo interno do ponto de vista unilateral.
A fraqueza das musculaturas oblíquas interna e externa tendem a diminuir a
capacidade de flexão da coluna vertebral, diminuição do potencial respiratório e o suporte
abdominal. O enfraquecimento unilateral tende a produzir um desvio lateral e rotação da
coluna vertebral e seu encurtamento tende a deprimir o tórax gerando uma condição
cifótica no indivíduo e unilateralmente tende a produzir o mesmo perfil de escoliótico
(desvio lateral da coluna vertebral).
Os oblíquos interno ou externo devem ser treinados como musculaturas de
suporte, tendo em vista que sua ação é de fundamental importância para o suporte da
coluna e da manutenção da boa postura. Qualquer trabalho mal realizado e que aconteça
dentro de um adequado suporte da pelve e da musculatura de transverso abdominal, irá
colocar os oblíquos em desequilíbrio.

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A participação dos oblíquos é de fundamental importância para o ser humano, já
que o movimento de giro ou o gesto unilateral de rotação do tronco tende a acontecer
naturalmente durante o cotidiano. O movimento de giro tende a ser de profunda
importância no esporte de alto rendimento, mas somente naqueles que exigem máxima
performance motora. Quando pensamos em estética a situação muda, já que o perfil de
tronco de atletas (lutadores, ginastas ou jogadores de basquete por exemplo)
essencialmente achatado não apresenta uma harmonia desejada (principalmente para o
público feminino), sendo assim, movimentos de giro ou torção devem ser desencorajados
na maioria dos casos.
E finalmente chegamos na musculatura do reto abdominal que sendo a mais
superficial do ponto de vista geral, tende a ser considerada um “musculo estético”. Tem
a sua origem na crista e sínfise púbica e inserção nas cartilagens costais da quinta à sétima
costela e processo xifoide do esterno. Sua função é basicamente a de flexionar a coluna
vertebral e isso pode acontecer tanto da pelve para o tórax, quando do tórax para a pelve,
dependendo apenas das estruturas que se encontrem fixas e das que se encontrem móveis.
Na busca por produzir um abdômen realmente invejável, a maioria das pessoas e
treinadores utilizam-se das estratégias mais esdrúxulas possíveis para atingir níveis
significativos de hipertrofia muscular, mas não se engane, não existe nenhuma ação
muscular que produza tanto efeito quanto a lapidação do gesto básico e no caso do reto
do abdômen estamos falando da pura e simples flexão de tronco. Seja ela em decúbito
dorsal com ou sem inclinação, tudo que é necessário para produzir um bom nível de
recrutamento é aproximar origem e inserção ou vice-versa de forma segura e eficiente,
sem que hajam compensações e/ou sinergiais dominantes.
Sendo assim, se o aluno não é capaz de estabilizar a pelve de forma eficiente, tudo
que ele precisa é de aprendizado motor em decúbito dorsal e as escolhas de direção de
movimento dependerão da necessidade do aluno. A fraqueza do reto do abdômen está
relacionada a incapacidade de flexionar a coluna vertebral e isso pode ser facilmente
identificado a se realizar uma flexão de tronco em decúbito dorsal quando o aluno ao
tentar elevar o tronco tende a anteriorizar a cabeça ou retroverter a pelve. Na posição em
pé é possível observar esse enfraquecimento através da visualização da pelve em
anteversão e de uma consequente postura lordótica.
Exercícios que envolvem a flexão de quadril devem ser desencorajados já que
além de não terem relação com a flexão do tronco, tendem a produzir o efeito oposto
desejado fazendo com que a origem se afaste da inserção gerando uma hiperextensão
lombar e consequentemente diminuindo a eficácia de trabalho do reto do abdômen, além
de estar diretamente ligado a lombalgias.
Assim como qualquer outra musculatura deve ser treinado com frequência e
volume adequado, não havendo então necessidade de ser treinado todos os dias como é
descrito por muitos gurus do treinamento esportivo. Não existe nada superior a
consistência, controle dietético e competência do treinador para produzir no aluno a
estrutura abdominal desejada.

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6. RESPIRAÇÃO DIAFRAGMÁTICA
Deitado de barriga para cima e joelhos flexionados, o indivíduo deve colocar as
mãos ao lado do corpo, coloque o queixo para dentro (apertando profundamente a frente
do pescoço – ficando com a famosa “papada”.). Então, deve colocar uma mão à frente do
umbigo em contato com a barriga e uma em seu peito. Feito isso, deve realizar os
seguintes passos:
1º - Inspirar lentamente e deixar que o ar infle sua barriga, sua mão deve ser empurrada
para cima (ficando com o famoso “bucho”). Deve se atentar para que a mão posicionada
no peito não se mova, ou seja, ele deve inspirar sem que eleve seu tórax ou as clavículas.
Toda a inspiração deve ser direcionada para o abdômen afim de que a mão posicionada á
frente dele seja empurrada para cima quando a cavidade estiver cm bastante ar.
2º - Expirar lentamente, “murchando” a barriga, deixando a mão “descer” para a posição
inicial. Então deve repetir o processo.
Essa respiração ajudará a recuperar a função do Diafrágma, este que ajuda a
estabilizar a coluna e garante maior fluxo de oxigênio para o corpo, de fato, ele é o
principal músculo da respiração. Indivíduos com desordens na coluna (principalmente os
hiperlodóticos e/ou hipercifóticos) tendem a possuir esse músculo fraco, pois o mesmo é
colocado em posição encurtada, além do fato de ser muito mal utilizado pela população
em geral, como será visto no decorrer desta obra.
Estando fraco, outros músculos ocupam o papel dele na função respiratória (os
músculos acessórios da respiração), então esses músculos auxiliares acabam se tornando
muito ativos e por fim causam desordens posturais na coluna, caixa torácica e cabeça,
além de tornarem o diafragma cada vez mais fraco. É preciso restaurar a função
respiratória para que se consigam resultados quanto a correção postural.

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7. TIPOS DE PEGADAS E SUA INFLUÊNCIA NO
MOVIMENTO
Este é um tópico muito interessante, pois de fato a maioria dos profissionais de
educação física utilizam as pegadas sem critério. É preciso deixar claro que a mudança
da pegada influencia na posição do ombro, a depender do nível de prono-supinação do
indivíduo. Sacaram o que eu quis dizer?
Sim! A pegada deve ser escolhida para os exercícios apenas após uma avaliação
da prono-supinação e também do padrão de alinhamento do ombro, pois dependendo de
como esteja o alinhamento do ombro no plano longitudinal (rotação
interna/externa/neutro) o tipo de pegada nos exercícios de peito e principalmente de costa
irá influenciar positiva ou negativamente para a correção de um mal alinhamento (se esse
for o objetivo principal com a prática da musculação, é claro). Abaixo estão os tipos de
pegadas a influencia no membro superior.
Pegada PRONADA: é aquela em que a palma da mão estará virada para frente
quando os braços estiverem flexionados (elevados), virada para baixo com os cotovelos
estiverem flexionados (“dobrados) em qualquer grau que seja, e virada para trás quando
em posição anatômica (com os braços ao lado do corpo).
Pegada SUPINADA: é aquela em que a palma da mão está virada para trás
quando os braços estiverem flexionados (elevados), virada para quando o cotovelo estiver
flexionado a 90º e para você quando passar dos 90º, e, virada para frente quando estiver
em posição anatômica (com os braços ao lado do corpo).
Pegada NEUTRA: é aquela em que o polegar estará virado para cima quando o
cotovelo estiver flexionado a 90º e para você quando passar dos 90º, virado para trás
quando os braços estiverem flexionados (elevados) e para frente quando estiver em
posição anatômica (com os braços ao lado do corpo)

Em ordem da esquerda para direita: pronada, neutra e supinada.

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Agora que já vimos os tipos de pegada e que sabemos que elas influenciam na posição do
ombro (a depender do nível da prono-supinação), vamos olhar mais de perto como isso
realmente funciona.
Por exemplo, supondo que o indivíduo tenha realizado o teste e o resultado foi
pronação incompleta, como escolher então o tipo de pegada que esse indivíduo vai
utilizar? Existe uma tendência de que quando se prona o antebraço de forma incompleta
e sem que haja mobilidade suficiente no ombro (este estando posturalmente em rotação
interna/palma da mão voltada para trás), este seja posicionado em excessiva rotação
interna, em todo os exercícios, sendo no caso uma falta de mobilidade para realizar a
rotação externa e falta de força no manguito para manter o ombro nessa posição (aí
também entra o papel das escápulas na estabilização do ombro).
Esse fato fica bem visível nos exercícios de tríceps na polia com barra reta, além
do sujeito não manter as escápulas aduzidas, o mesmo já apresenta rotação interna de
ombros e utiliza a pegada pronada, dessa maneira o exercício torna-se menos eficiente do
que se fosse realizado de maneira mais eficiente (será mostrado no tópico TRÍCEPS).
Dessa forma, seria inviável utilizar a pegada pronada neste indivíduo, pois, dessa
maneira o profissional corre o risco de perpetuar essa posição alterada do ombro (ombros
em rotação interna) além de que corre um maior risco de entrar em slide anterior
(deslizamento da cabeça do úmero para frente da cavidade glenóide) precocemente (em
poucos graus de extensão ou adução do ombro). A respeito desse termo “slide anterior”
ele fica mais bem explícito nas próximas páginas, no tópico de DORSAIS.
Uma boa estratégia para um indivíduo com esse caso, seria utilizar a pegada
supinada, o que automaticamente posicionaria os ombros em rotação externa (cotovelos
apontados estritamente para trás) além de pedir para o mesmo aduzir as escápulas, dessa
forma o ombro terá uma base estável para se movimentar, além de que irá manter o ombro
numa posição de melhor encaixe e mais neutro. Além disso, é interessante lembrar que o
tríceps cabeça longa tem uma inserção na articulação do ombro, portanto, se mudar a
pegada mas não movimentar o ombro, não mudará a ativação do músculo, entretanto, se
mudar a pegada e mudar a posição do ombro, aí sim ocorrerá mudança na ativação dessa
musculatura.

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8. CABEÇA NO TREINAMENTO
É muito comum de vermos nas salas de musculação indivíduos com o tique
nervoso de ficar se olhando no espelho enquanto executa um exercício, isso é normal caso
se esteja em pé ou sentado de frente para o espelho e a coluna esteja ereta, entretanto,
caso a coluna esteja inclinada, seja com o tórax voltado para cima ou para baixo, a cabeça
deve acompanhar a posição da coluna inteira para garantir uma ótima dissipação de carga
sem que hajam quaisquer compensações e compressões indevidas na região posterior do
pescoço.
A posição da cabeça é influenciada pela posição da coluna cervical, que é
influenciada pela posição da coluna torácica, que é influenciada pela posição da lombar
e que por fim é influenciada pela posição da pelve. Como será visto no tópico sobre
PELVE e COLUNA, estas estruturas chave (mais especificamente a pelve) coordenam
todas as estruturas acima e abaixo do nosso corpo. Portanto, para que o alinhamento ideal
da cabeça possa ser alcançado, se faz necessário o devido posicionamento da pelve,
entretanto, de nada adianta posicionar a pelve em neutro se a cabeça não for devidamente
alinhada, com os olhos voltados para o horizonte.
Em sujeitos hipercifóticos (vide COLUNA), há a tendência de apresentarem
também uma hiperlordose cervical e consequente anteriorização da cabeça. De fato, isso
é meio que previsto, pois, na presença de uma curvatura torácica excessiva, o tronco é
ligeiramente inclinado para frente e para baixo, o que consequentemente direciona a
coluna cervical para a mesma posição e os olhos acabam voltados para baixo. Entretanto,
existe um ditado que diz que “os olhos buscam os níveis dos olhos”, portanto, apesar de
toda a coluna estar direcionada para baixo e para frente, o sistema vestibular e visual
levantam a coluna cervical (hiperestendem a mesma) para que os olhos tornem a enxergar
o horizonte. O corpo sempre acha uma saída para tentar manter-se em equilíbrio contra a
gravidade, entretanto, nenhuma compensação organizada pelo Sistema sensoriomotor é
benéfica para nós seres humanos. Abaixo, na imagem a esquerda temos uma cabeça
alinhada e neutra e a direita uma cabeça anteriorizada com hiperlordose cervical.

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Na imagem abaixo da próxima página é possível notar que o padrão de
hiperlordose cervical está sendo perpetuado. Analisando a posição da coluna torácica até
o sacro, temos tudo alinhado e direcionado para baixo (setas amarelas), entretanto, como
podem ver, a cabeça está direcionada para frente (seta vermelha). Apesar de todos os
outros elos da coluna estarem alinhados, a sobrecarga na região cervical é iminente. De
fato, as curvaturas servem para a correta dissipação de carga, seja ela interna (força
muscular transferida para o tendão e então para os discos intervertebrais) ou seja ela
externa (qualquer carga externa aplicada contra a estrutura – halter, cabos e
PRINCIPALMENTE a gravidade).
Muitos podem pensar que esse “pequeno” desvio não irá afetar no exercício em
questão ou em qualquer outro exercício. Porém, parando um momento para raciocinar,
será que a prática de exercícios físicos é voltada apenas para o ato de puxar e/ou empurrar
pesos? Assim como será mais bem-visto no tópico sobre coluna e coluna no treinamento,
reitero que é imprescindível que os profissionais do movimento (fisioterapia e educação
física) tenham em mente que o corpo humano não funciona como um sistema isolado,
onde uma articulação funciona sozinha em um determinado movimento, assim como os
músculos adjacentes à essa articulação. Essa visão está ultrapassada e pode ser mais bem
compreendida em outras literaturas pertinentes ao assunto TENSEGRIDADE
(recomendo a leitura do livro de Thomas Myers – Trilhos anatômicos: meridianos
miofasciaias para terapeutas manuais e do movimento). Qualquer carga imposta sobre
uma região que não esteja devidamente pronta (alinhada e estabilizada) para receber essa
carga, terá de ser “ajudada” (compensada) por uma região distante, daí surge a velha
máxima: “a dor pode ser no ombro, mas o problema pode ser no quadril”. Tenha isso em
mente e nunca mais irá enxergar um corpo de maneira isolada, ou melhor dizendo, o
bíceps flexionando o cotovelo e o tríceps estendendo.
A partir do momento em que a cervical é desalinhada, no intuito de querer observar
a execução do movimento no espelho, seja virando para frente ou para o lado, acarretará
numa num desequilíbrio tensional geral de toda a coluna até o sacro. Os músculos
suboccipitais são conhecidos como o centro de comando da camada fascial superficial
posterior do corpo (analisando do sacro até a fáscia epicranial). São músculos ditos como
pré-históricos, sendo também músculos profundos (estabilizadores). Tais músculos
atuam para estabilizar a base de nossa cabeça (basta olhar para o posicionamento dos
mesmos na região cervical e occipital). A partir do momento que ocorre um
desalinhamento da cabeça, ocorre também um desequilíbrio de tensão nesses músculos,
basta um mínimo movimento para que eles sejam ativados, e você pode comprovar isso
na prática.
Fechem os olhos e coloque o dedo indicador e médio sob a base do osso occipital
(sem aplicar demasiada força, apenas apalpe). Com a cabeça alinhada com o horizonte,
vire os olhos para a direita e para esquerda (se atente para não movimentar a cabeça,
apenas os olhos). Sentiram uma movimentação nos dedos? Se sim, você acaba de ter a

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prova dos 30. Toda vez que a musculatura suboccipital é posicionada de maneira que
fique encurtada ou extremamente alongada, toda a musculatura superficial e também
profunda de nossa coluna terá de compensar essa mudança tensão (novamente,
tensegridade) para trazer novamente o equilíbrio à tona, e isso demanda energia e trabalho
do sistema nervoso central, além de que torna o exercício menos seguro, pois, de fato, a
coluna não estará completamente alinhada e pronta para receber cargas interna e externas
sem sofrer qualquer dano. Portanto, reitero, coluna ereta? Cabeça e olhos no horizonte.
Coluna inclinada para baixo? Cabeça e olhar direcionados para baixo. Coluna inclinada
para trás e para cima? Cabeça e olhar direcionado para trás e para cima. Aplique essa
lógica a todos os exercícios e os resultados quanto a correção de uma cabeça anteriorizada
e uma hiperlordose cervical estarão 75% garantidos (o resto fica a cargo dos exercícios
de alongamento e do bom senso do aluno durante o dia a dia).

Referência da imagem: MYERS, Thomas. Trilhos Anatômicos: meridianos miofasciais para


terapeutas manuais e do movimento. 2016

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9. ESCÁPULAS
As escápulas são esses dois ossos que temos na região superior das costas. Tais
estruturas possuem um alinhamento ideal no tórax, entretanto, devido a desequilíbrios
musculares causados por posturas sustentadas no dia-a-dia, treinamento de maneira
equivocada e/ou uso indevido da musculatura adjacente (vide também a tabela de
músculos tônicos e fásicos), elas geralmente apresentam diversas alterações (leia-se
Discineses).
A articulação escápulotorácica compreende a “junção” das escápulas com a
coluna torácica, entretanto, diferentemente das demais articulações em nosso corpo, esta
é qualificada como uma falsa articulação, de fato, as escápulas não se articulam com as
vértebras torácicas, essas estruturas unem-se por músculos, como os romboides e
trapézio.
Além disso, as escápulas unem-se ao úmero, dessa vez numa articulação
verdadeira (onde dois ossos unem-se por meio de ligamentos e faces
articulares/cartilagens etc), chamada glenoumeral (gleno = avidade glenóide da escápula
e umeral = cabeça do úmero). É importante entender qual a funcionalidade dessas duas
articulações, entretanto, neste tópico iremos nos ater a “articulação” escápulotorácica.
Elas servem como uma base de sustentação para que a articulação do ombro possa
se movimentar de maneira segura, e os músculos que atuam em tal articulação trabalhem
com sua máxima produção de força, sem que hajam compensações com a coluna e/ou
cabeça. Entretanto, para que as escápulas possam se manter estabilizadas, e assim
estabilizem tanto a coluna torácica quanto o ombro, os músculos escapulotorácicos
precisam estar em equilíbrio de força e flexibilidade, para que dessa maneira essa
estrutura adquira um posicionamento anatômico ideal contra o tórax, garantindo então
máxima estabilidade para coluna e ombro.
São 17 músculos que coordenam a estabilização e movimentação das escápulas, e
os mesmos DEVEM trabalhar em perfeita sincronia de ativação para que o ritmo
escápuloumeral seja mantido, e o ombro possa ser movimentado mantendo sua
congruência contra a cavidade glenoide, sem que hajam impactos, como por exemplo o
impacto da cabeça do úmero contra a cavidade glenóide (síndrome de impacto
subacromial), esamagando os tecidos moles que passam pelo espaço subacromial (tendão
do supraespinhal, cabeça longa do bíceps e Bursa subacromial).

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Antes iremos analisar o alinhamento dessa estrutura, como pode ser visto na
imagem abaixo:

Referência da imagem 1: KAPANDJI, A. Fisiologia articular: volume 1. 2011


Referência da imagem 2: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:
fundamentos para reabilitação. 2011
O ângulo superior da escápula (círculo preto) alinha-se com a 2ª vértebra torácica
enquanto que o ângulo inferior (círculo vermelho) se alinha entre a 7ª e 8ª vértebra
torácica. Qualquer alinhamento fora desse padrão é considerado alterado (obviamente).
É interessante notar a segunda imagem. Veja que a escápula não se posiciona se
maneira horizontal contra a caixa torácica (como muito se pensa), ela de fato se posiciona
digamos que na “diagonal”, mais especificamente 35º em relação ao plano frontal. Dessa
forma sabemos então que a cavidade glenóide é anatomicamente direcionada para frente,
para o lado e ligeiramente para cima. Kapandji (2000) chama esse posicionamento de
Plano da Escápula. Os movimentos de abdução do ombro ocorrem fisiologicamente nesse
plano, e não no planto frontal (como se pensa).
Os indivíduos costumam apresentar escápulas Abduzidas/PROTRAÍDAS, ou
DEPRIMIDAS, ou ELEVADAS, e, em alguns casos possui todas juntas. Raros são os
casos que alguém apresente um padrão de escápula RETRAÍDA, sendo esta alteração
mais comum nos militares devido ao vício postural que essa profissão exige (peito
estufado, barriga para dentro e ombros para trás).

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Assim sendo, as próximas imagens mostram os movimentos que essa estrutura
realiza. Memorize-os para que possa associar tais movimentos com o treinamento na
musculação.
Antes de iniciar qualquer ação do membro superior (isto vale também para os
membros inferiores) as escápulas devem ser posicionadas em NEUTRO (leia-se
ligeiramente próximas da coluna), entretanto, um erro muito comum ao se realizar a
retração das escápulas, é elevá-las em excesso, aproximando o coto do ombro da orelha.
Portanto, há de se atentar ao correto “fechamento” das mesmas em uma direção horizontal
(veja a direção da seta vermelha na imagem abaixo), dessa forma há uma correta ativação
de todos os feixes do trapézio (superior, médio e inferior) e dos romboides (maior e
menor).
Caso haja qualquer movimento para cima ou para baixo, o equilíbrio desses
músculos será alterado, e, portanto, a estabilização da cintura escapular não irá ocorrer da
melhor maneira possível, ocasionado uma diminuição do espaço subacromial, além de
ser um potencial fator de risco para perpetuar uma disfunção nessa região.
Assim sendo, lembrem-se sempre do primeiro passo para a estabilização da
cintura escapular (retração das escápulas até a posição NEUTRA), o que
consequentemente refletirá na correta posição da coluna torácica (que automaticamente
posiciona a lombar em neutro), tendo então um perfeito ambiente para a função do
diafragma e do transverso do abdômen, garantindo também a ativação de uma camada
fascial superficial e profunda do nosso dorso, protegendo a lombar contra possíveis e
prováveis compressões e forças de cisalhamento.

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10. PROTRAÇÃO ou ABDUÇÃO
Quando as escápulas se afastam da coluna em direção lateral e para frente. Evite
manter as escápulas dessa maneira quando estiver andando, parado e/ou sentado. Essa é
também uma disfunção muito comum na sociedade, causando o arredondamento dos
ombros. Isso causa uma diminuição do espaço subacromial, portanto há grande chance
desse indivíduo apresentar impacto em movimentos acima da cabeça e até antes do ombro
ultrapassar os 80º de flexão.
Portanto, analise com cuidado antes de prescrever os exercícios para membro
superior, evitado a excessiva abdução da escápula na fase excêntrica dos exercícios para
dorsais e limitando a abdução da escápula durante exercícios para peitorais (vide
PEITORAIS). Por exemplo, pela teoria de La Pierre, o indivíduo que apresenta excessivo
alongamento dos músculos escapulotorácicos (escápula posturalmente abduzida como na
imagem abaixo) devem limitar a abdução das escápulas na fase excêntrica para que não
haja uma perpetuação do alongamento excessivo da musculatura adutora da escápula
(romboides e trapézio médio e inferior).
A dica para segurar as escápulas em adução enquanto o ombro volta em flexão na
fase excêntrica, garantirá que os romboides e trapézio médio e inferior reduzam os
sarcômeros em séries além de gerar uma força isométrica no mesmo, o que garantirá o
constante disparo neural para essa musculação que se encontra fraca, sendo então uma
ótima maneira de retomar a correta ativação dessa musculatura, além de criar uma nova
consciência corporal para o sujeito, à respeito dessa musculatura tão esquecido dentro do
treinamento resistido.
Entretanto, na fase concêntrica, as escápulas devem iniciar o movimento fazendo
uma retração máxima, e logo em seguida deve ocorrer o movimento dos ombros,
atentando-se claro para o limite de movimento. Estes pontos estão mais bem explicados
nas páginas que se seguem (vide DORSAIS). É interessante realizar alongamentos para
peitoral maior, grande dorsal e trapézio superior (este último apenas se a escápula
apresentar elevação postural estática).

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11. RETRAÇÃO ou “FECHAMENTO”
Quando as escápulas se aproximam uma da altura, porém sem se elevar ou
deprimir. A retração ocorre em um movimento horizontal. Esse é o movimento primordial
no treinamento, em todos os exercícios para todos os grupamentos musculares (vide
tópico PEITORAIS, DORSAIS, BRAÇOS E COXAS). Essa ação garante o
posicionamento correto do ombro e da coluna torácica. É imprescindível que o indivíduo,
caso apresente a postura de ombros arredondados, durante o seu dia-a-dia ande e/ou se
sente com as escápulas em posição de ligeira adução para garantir que o padrão
disfuncional comece a ser revertido. Já no treinamento, é importante que o sujeito se
atente a ação das escápulas nos exercícios para dorsais, peitorais e bíceps.
De fato, os exercícios para os grupos supracitados têm a tendência de fazer com
que a escápulas se solte do tórax e fique literalmente “sambando” no gradil costal
(costelas). Como já citado, a articulação escapulo torácica é de característica
estabilizadora, garantindo a melhor ação possível para os músculos que atuam no ombro.
Portanto, a manutenção dessa posição “fechada” nos traz muitos benefícios além de
aumentar a eficiência do treinamento.
Os músculos que se ativam para realizar esta ação são os rombóides e trapézio
(todos os feixes). A partir dessa informação já nos é possível identificar o que acontece
quando um indivíduo apresenta uma postura de ombros arredondados (escápulas
abduzidas e ombros em rotação interna).

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12. ELEVAÇÃO ou “ENCOLHIMENTO”
É o movimento que ocorre nas escápulas fazendo-as se aproximarem das orelhas.
Este movimento não é muito interessante devido ao fato de que o trapézio superior e o
levantador da escápula serem músculos com tendência ao encurtamento e hiperatividade.
O que ocorre na maioria dos casos de sujeitos com elevação escapular postural, é um
excesso de atividade do trapézio, este por sua vez rouba a ação do serrátil anterior, dessa
maneira a escápula acaba sendo ainda mais elevada em movimentos que ultrapassem os
60º de abdução/flexão, quando na verdade a mesma deveria apenas girar em torno de um
eixo anteroposterior sem sair do lugar (imagina um volante de carro prezo a uma haste
em seu centro).
Muitas vezes o músculo levantador da escápula e trapézio feixes superiores se
encurtam e hiperativam para tentar estabilizar a coluna cervical quando na presença de
uma fraqueza acentuada de multífidos cervicais, longo da cabeça e longo do pescoço,
como ocorre numa posição de hiperlordose cervical e cabeça anteriorizada.
É fato que os praticantes do treinamento resistido tem uma queda pelo treinamento
do trapézio. Vemos diariamente os marombeiros realizando dezenas de encolhimento
com halter, barra, garrafa d’água, lápis, pneu... numa tentativa incessante de melhor a
estética desse grupo muscular. Porém, acabam se esquecendo e em 99% dos casos não
sabem que o corpo trabalha de maneira equilibrada, onde todos os grupos devem ter o
mesmo potencial de força (relativo claro) e flexibilidade, do contrário, disfunções
aparecerão. Ninguém se lembra que o trapézio possui 3 feixes, e que dois deles tem a
característica de se tornarem fracos e inibidos na falta de exercícios específicos e no mau
uso do grupo em geral, são eles o trapézio médio e inferior.

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13. DEPRESSÃO ou “ABAIXAMENTO”
Quando as escápulas se afastam das orelhas. É o movimento primordial nas
PUXADAS (vide DORSAIS), é claro, se o indivíduo já não apresentar depressão
escapular postural. Caso sim, o movimento de depressão deve ser incompleto, ou seja,
parcial, para que a disfunção não seja perpetuada.
É fato que em indivíduos que apresentam ombros arredondados e/ou escápulas
elevadas apresentam fraqueza na musculatura que realiza a ação abaixo. Os feixes
inferiores do trapézio superior são de suma importância para a estabilização da escápula
quanto para segura do complexo do ombro. O mesmo é um dos rotadores superiores da
escápula, juntamente com trapézio superior e serrátil anterior.
Entretanto, como já foi citado em páginas anteriores, serrátil anterior e trapézio
inferior tornam-se fracos na presença de um trapézio superior forte, o que, por
conseguinte acaba “roubando” a ação desses dois músculos. É por isso que se deve ter
muita atenção na escolha dos exercícios na musculação. Isolar o trapézio (99,9% das
vezes o superior) não é algo muito inteligente a se fazer, ainda mais quando se rejeita o
trapézio inferior.
A depressão da escápula de forma direta é realizada pelo trapézio inferior e
peitoral menor (de forma indireta temos dorsal e redondo maior como principais). A
fraqueza do trapézio inferior (juntamente com os feixes médio) permite que a escápula
abduza e o sujeito fique em posição de ombros arredondados, além de prejudica o
movimento de rotação para cima da escápula, o qual se faz imprescindível para
movimentos acima da cabeça e para preservar a integridade do complexo da cintura
escapular. Veja na próxima página do que se trata.

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14. ROTAÇÃO SUPERIOR
Assim como os demais movimentos da escápula, a rotação superior tem a sua
devida e fundamental importância para a perfeita cinemática do complexo da cintura
escapular. Sempre que o braço for elevado (abduzido) a partir de um certo grau
(aproximadamente 60º) a escápula deverá rodar para cima para garantir que a cavidade
glenoide seja posicionada de modo a acomodar a estabilizar a cabeça do úmero. Caso não
haja o correto sincronismo entre articulação escapulotorácica e glenoumeral durante a
elevação do braço, há o iminente risco de impacto e compressão das estruturas
subacromiais.
Além disso, essa rotação irá garantir que o braço de momento do deltóide
permanece ideal para a contínua produção de força (princípio do comprimento-tensão).
De fato, caso a escápula permaneça em posição aduzida (retraída) enquanto o ombro é
abduzido/flexionado, o deltóide irá entrar mais rápido em máxima contração (entrando
então em insuficiência ativa de maneira precoce). Cabe aqui salientar que essa é uma
estratégia para quem deseja focar o estímulo máximo do deltóide, sem que haja
participação DINÂMICA dos músculos que rodam a escápula para cima (serrátil anterior,
trapézio superior e trapézio inferior).
Entretanto, devo informar que para esse movimento fundamental ocorrer de
maneira sincrônica com o a articulação do ombro, se faz necessário o perfeito equilíbrio
de força entre trapézio superior, serrátil anterior e trapézio inferior. De fato, os três são o
par de força rotadora para cima da escápula. Porém, o trapézio superior é um músculo um
tanto quanto “teimoso” e tem a tendência ao encurtamento e hiperatividade (a
hiperatividade pode ser acompanhada do encurtamento ou do alongamento excessivo).
Esse fato é comum, trapézio superior dominar sobre serrátil anterior e trapézio
inferior, para isso se faz necessária uma avaliação postural estática e dinâmica para
verificar a presença de disfunção nos músculos da cintura escapular. A fraqueza do
serrátil anterior foi confirmada em indivíduos com atraso de rotação da escápula, além de
que os mesmos relataram dores na região anterolateral do ombro durante a elevação braço
(síndrome de impacto).

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15. OMBRO
Antes de mais nada, quero deixar claro que o objetivo deste tópico não é trazer
todo o contexto cinesiológico e biomecânico que envolve o complexo de ombro. Será
exposto apenas o que é de vital importância, como cinemática, artrocinemática,
ligamentos e músculos.
O ombro é um dos campeões de relato de dores, e com razão, especialmente se
não utilizado da maneira que foi feito para ser utilizado. De fato, a instabilidade é inerente
a essa articulação, pois, como muitos autores citam, a congruência (conformidade) da
mesma é bem representada como sendo uma bola de golf sob uma moeda inclinada (a
moeda é a cavidade glenóide e a bola de golf a cabeça do úmero).
É fato que a articulação glenoumeral é a mais móvel do nosso corpo, sendo
caracterizada como uma articulação tipo bola e soquete, entretanto, alguns autores não a
vêem dessa forma devido a arquitetura das superfícies articulares. Como previamente
mencionado, é como uma bola de golf comprimida a uma moeda. E para tornar tudo ainda
mais instável, a moeda é 1/3 o tamanho da bola de golf, ou seja, nem por milagre essa
articulação seria estável. O motivo dessa articulação atuar nos 3 planos e ser a mais móvel,
deve-se ao fato de sua arquitetura, pois, já que a cavidade glenoide não é funda, portanto
não há encaixe profundo como no quadril (fêmur no acetábulo), a cabeça do úmero pode
se movimentar a vontade sem que haja risco de impacto ósseo (entretanto há um fator
limitante que será discutido mais à frente).
O posicionamento do ombro consiste em uma torção do corpo do úmero da metade
para cima (essa torção é anatômica), o que posiciona a cabeça do úmero para trás e para
cima (num sentido diagonal) de aproximadamente 30º (ângulo de retroversão) para que o
centro da cabeça do úmero se alinhe ao centro da cavidade glenóide. Para identificar se o
ombro está em posição neutra (anatômica), basta olhar para a fossa cubital (a dobra do
cotovelo) e verificar se a mesma se encontra “apontada” para frente. Caso contrário, o
ombro não está anatomicamente alinhado, como ocorre numa fossa cubital apontada mais
para dentro (cotovelos apontados para fora) representando aí uma rotação interna de
ombros, o inverso é conhecido como rotação externa, porém, o padrão mais comum
(principalmente em homens) é o de rotação interna acompanhada de escápulas abduzidas.
A estabilização do ombro é garantida por dois sistemas, conhecidos como
PASSIVO e ATIVO. O sistema passivo de estabilização se refere aos ligamentos e
cápsula articular. Já o sistema ativo é representado pela musculatura que atua ao redor
dessa articulação, mais especificamente o famoso Manguito Rotador. Confira na próxima
página o sistema passivo da glenoumeral.

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Referência da imagem: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:
fundamentos para reabilitação. 2011

Esse é o complexo capsuloligamentar do ombro, composto pela cápsula articular


que envolve toda a cabeça do úmero e a cavidade glenóide e pelos ligamentos
glenoumerais (superior, médio e inferior – anteriores e posteriores).
Como previamente citado, sua função é estabilizar o ombro, e eles fazem isso
criando uma força de compressão (apertando a cabeça do úmero contra a cavidade),
impedindo que a cabeça do úmero seja deslocada para baixo pela força da gravidade e de
alguma resistência externa aplicada aos membros superiores, bem como seja deslocado
para cima em movimentos acima da cabeça (esta última ação é função principal do
manguito rotador). Para saber em qual direção atua a resistência de cada ligamento, basta
olhar a direção que correm os feixes do ligamento que se quer analisar. Mas para resumir,
a bolsa axilar permite que o braço seja elevado, a mesma alonga-se, sendo então de vital
importância para esse complexo. Já os ligamentos gleonoumerais anteriores limitam o
deslizamento da cabeça do úmero para frente e para baixo, onde o mesmo ocorre nos
ligamentos posteriores.
A lassidão (leia-se frouxidão) da região anterior é muito comum, principalmente
nas mulheres (as mesmas possuem os ligamentos mais frouxos). A postura mais comum
presente na sociedade (ombros arredondados) somada a excessos de movimentos
alterados com aplicação de resistência, acarreta numa disfunção muito comum nesse
complexo, evidenciada pela Drª. Shirley Sahrmann (SAHRMANN, Shirley. 2002) como
Slide Anterior da cabeça do úmero (slide = deslizamento). Veja na imagem abaixo do que
se trata.

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É nítido como a cabeça do úmero está apontada para frente, como se quisesse
“fura” a pele e fugir. É de fato um deslizamento, como se estivesse escorregando para
fora da cavidade glenóide, tensionando demasiadamente a cápsula articular do ombro,
especialmente os ligamentos gloumerais superior e médio, que como vimos, possuem
uma função de segurar a cabeça do úmero.
Tal disfunção é ocasionada tanto pela postura ocupacional sustentada de quem
trabalha durante muito tempo sentado de fronte a um computador quanto pelo mau uso
da articulação em questão bem como do péssimo uso das escápulas para estabilizar o
ombro nos exercícios de membro superior. De fato, essa disfunção pode ser gerada por
movimentos excessivos de remada (extensão do ombro) sem a prévia estabilização das
escápulas, bem como pode ser perpetuada pelo mesmo motivo. Tudo isso somada a falta
de exercícios de alongamento e mobilidade.
Os músculos que posicionam dessa forma, quando encurtados e dominantes sobre
os músculos estabilizadores, são: peitoral maior, grande dorsal, redondo maior; deltóide
posterior e também a cápsula posterior do ombro (esta última tornando-se rígida e
impedindo a excursão posterior da cabeça do úmero). O que ocorre de fato é que o
músculo principal que impede a cabeça do úmero de deslizar à frente, o subescapular,
encontra-se fraco e inibido devido ao excesso de ativação e encurtamento de outros
rotadores internos maiores e mais fortes (grande dorsal, peitoral maior e redondo maior).
Um músculo estabilizador fraco precisa ser substituído por um sinergista, e isso ocorre
em todas as articulações do corpo.
Nos exercícios essa disfunção é perpetuada quando o indivíduo excede o limite
de amplitude de extensão e/ou abdução horizontal do ombro. No tópico de DORSAIS
isso será mais bem explicado. Mas para adiantar, quem possui tal disfunção deve ter a
amplitude de extensão do ombro limitada até o ponto em que o cotovelo não ultrapasse a

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linha vertical dos ombros, tendo de parar o movimento até um pouco antes, caso seja um
nível severo de slide.

16. SISTEMA ATIVO


O sistema ativo de estabilização do ombro, como já citado, é o manguito rotador,
este composto pelos músculos supraespinhal, infraespinhal, redondo menor e
subescapular (grupo S.I.R.S). Como dito em páginas anteriores, o sistema passivo é
composto pelos ligamentos adjencentes, que atuam de maneira independente e precisam
do suporte ativo forte, flexível e com ótima sincronia de ativação para que não sejam
sobrecarregados. Pense da seguinte maneira, se o sistema ativo (isso em todas as
articulações) apresenta-se fraco, encurtado ou alongado excessivamente, com “delay”
(atraso) de ativação por parte do SNC, todo o trabalho de estabilização e função
artrocinemática (próximo tópico) será descarregado sobre eles. Culminando numa
possível lesão (não sejam extremistas).

Referência da imagem: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:


fundamentos para reabilitação. 2011
Analisando a imagem acima, podemos ver com clareza 3 dos 4 músculos (o
subescapular fica localizado na fossa subescapular, na face costal da escápula) que
compõem esse sistema de estabilização ativo. De maneira resumida, a função destes
músculos como o próprio nome já diz, é de rodar a cabeça do úmero (subescapular roda
internamente o ombro, os demais rodam externamente). Entretanto, além dessa ação,
todos os quatro atuam de maneira a puxar e comprimir a cabeça do úmero contra a
cavidade glenóide, para assim garantir uma melhor congruência da articulação.
Pela direção das fibras desses músculos, correndo de fora para dentro e de cima
para baixo, podemos deduzir então que a função do complexo SIRS é puxar o úmero para
baixo e para dentro (como supracitado). Em ações de elevação do braço (abdução ou
flexão), esse conjunto atua de maneira a manter a tração para baixo e para dentro
constante, impedindo que a cabeça do úmero seja tracionada excessivamente para cima
de encontro ao teto da articulação. Esse detalhe será mais bem explicado na próxima
página.

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Entretanto, apesar da função do complexo ser perfeita, em teoria, na prática não
acontece tão bem assim. Isso é devido ao fato de que para o conjunto SIRS atuar de
maneira sincronizada com os movimentos do ombro, a escápula precisa estar estabilizada
e a mesma não pode apresentar qualquer disfunção (alteração de sua posição em vista
estática), pois, dessa forma, a funcionalidade desse grupo será prejudicada. De fato, se
mexermos na posição de uma articulação, retirando-a de uma posição anatômica
estabilizada e funcional, a ação dos músculos adjacentes será também alterada, onde
alguns músculos serão favorecidos e outros serão desfavorecidos. No caso do nosso
manguito rotador, qualquer posição alterada da escápula irá influenciar negativamente a
sua funcionalidade, acarretando em instabilidade do ombro e deixando-o passivo de sofrer
lesões (a mais comum é a síndrome de impacto). No próximo tópico você verá como a
falta de estabilização ativa afeta negativamente a articulação glenoumeral.

17. ARTROCINEMÁTICA DO OMBRO

Referência da imagem: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:


fundamentos para reabilitação. 2011
Agora vamos abordar um tópico de crucial entendimento para os profissionais do
movimento, a artrocinemática do ombro. A artrocinemática refere-se ao movimento que
ocorre entre as superfícies articulares (no caso em questão, do ombro), ou seja, dos
movimentos que ocorrem entre a face articular da cabeça do úmero e face articular da
cavidade glenóide. Ela é dividida em três movimentos básicos, sendo eles: rolamento,
deslizamento e rotação.
Essa se faz imprescindível para garantir a integridade de todo o complexo
osteomioarticular (ossos, músculos, ligamentos e elementos articulares). Cabe relembrar
que a congruência da glenoumeral não é das melhores, sendo a cabeça do úmero 2/3 maior
que a cavidade glenóide. Além disso, vale lembrar novamente que a articulação possui
um teto, o acrômio. Esse teto é a área demarcada pelo círculo em amarelo. O espaço que
está entre a cabeça do úmero e o acrômio chama-se a grosso modo dizendo, espaço
subacromial, que possui uma estreita passagem, de aproximadamente 3 milímetros em
indivíduos normais (e até menor de 1 milímetro em indivíduos que apresentam disfunção

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na escápula. Assim, a artrocinemática entra como peça chave para a manutenção da
congruência durante o movimento de elevação e abaixamento do braço, para evitar que
haja um encontro não planejado entre úmero e acrômio.
Durante o movimento de abdução, há a tendência da cabeça do úmero de rolar
para cima e ter um fim um tanto quanto lesivo, que é o impacto da mesma contra o arco
coracoacromial (teto da articulação glenoumeral). De fato, o músculo deltóide vai fazer
com que a cabeça do úmero seja constantemente elevada até que por fim ela impacte no
acrômio. Entretanto, a função do manguito rotador é justamente impedir que haja esse
impacto. E ele faz isso abaixando a cabeça do úmero, deslizando-a para baixo para a
região da bolsa axilar (vide imagem do sistema passivo nas páginas anteriores) enquanto
o deltóide continua a rodá-la para cima. Para ver melhor como isso corre, veja a imagem
A, mais especificamente a seta em cor vermelha mostrando como atua a força para baixo
e para dentro do supraespinhal, da mesma forma ocorre com os músculos da face torácica
da escápula, redondo menor e infraespinhal também atuam abaixando e puxando para
dentro a cabeça do úmero.
Caso não haja essa sincronia entre deltóide e conjunto SIRS, haverá então um
excessivo rolamento do úmero para cima até que por fim ele encontre o seu teto, como
pode ser visto na imagem B. A síndrome de impacto do ombro é uma das causas mais
comuns de lesão nesse complexo. É caracterizada pela compressão constante do tendão
do supraespinhal, da Bursa subacromial e da cabeça longa do bíceps braquial, durante os
movimentos de elevação do braço.
Indivíduos que apresentam disfunção na cintura escapular, relataram dores ao
movimentar o braço (levantá-lo), mesmo em baixas amplitudes de movimento, e
principalmente quando movimentam o ombro estritamente no plano frontal (para o lado)
e com o ombro em rotação interna (cotovelo apontado para o lado na posição inicial e
para trás durante a elevação). Para esse problema, há uma solução, e se chama Plano da
Escápula (próximo tópico).
Resumindo, o sistema passivo atua para garantir uma parte da baixa congruência
inerente ao ombro. Da mesma forma trabalha o grupo SIRS, conhecido como manguito
rotador, atuando de maneira mais dinâmica para garantir a congruência durante elevações
do braço e impedir que haja o impacto subacromial e consequente esmagamentos dos
tecidos moles que passam pelo estreito espaço. Para garantir a correta sincroniza de
ativação e colaboração entre deltóide e manguito rotador, é preciso que a escápula esteja
estabilizada e em posição anatômica, qualquer desvio da normalidade (disfunção) da
escápula irá afetar de forma negativa essa ação conjunta.
A partir das informações mencionadas anteriormente, já podemos notar uma coisa:
a uma grande tendência dos indivíduos de apresentarem uma alteração postural muito
comum, o ombro em rotação interna (a fossa cubital apresenta anormalidade no
alinhamento em posição ortostática), ou seja, os cotovelos apontados para a diagonal ao
invés de estarem direcionados estritamente para trás, como manda o figurino. De fato, há

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uma grande desvantagem inerente ao complexo do ombro, além das já previamente
discutidas, que influenciam em seu posicionamento e ação, neste caso o “problema” está
na injusta força que uma parte do manguito rotador deve contrapor para equilibrar o
ombro e mantê-lo estável dentro da glenóide.
Analisando com calma, pode-se perceber que os músculos infraespinhal e redondo
menor atuam praticamente sozinhos para rodar o ombro externamente e mantê-lo em um
encaixe ideal, contra as forças dos rotadores internos, os quais se mostram como sendo
músculos muito maiores, mais fortes e maior quantidade do que os rotadores externos.
Grande dorsal, peitoral maior e redondo maior parecem sempre vencer essa “briga” pelo
controle estático e dinâmico do ombro, de fato, a rotação interna postural aparece
predominantemente no grupo masculino em relação ao feminino (pelo menos foi o que
notei durante esses anos avaliando).
Essa predominância do grupo masculino de apresentar a rotação interna postural
vem do fato desse gênero exagerar nos exercícios que envolvam esses grupos musculares
sem dar a devida atenção ao posicionamento e influência da escápula nas ações do
complexo do ombro. O que mais vemos nas salas de academia são os sujeitos executarem
exercícios de remadas e puxadas com excessiva rotação interna sem que antes de
movimentarem o ombro (seja em extensão ou adução) ativem a escápula para estabilizar
o mesmo. Como já discutido em páginas anteriores, a escápula é uma estrutura chave,
fornecendo uma base estável em um primeiro momento, para que o ombro possa então
exercer seu papel mobilizador recrutando com mais eficiência a musculatura inerente a
ele sem que hajam danos às estruturas moles circundantes.

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18. PLANO DA ESCÁPULA
É sabido que a abdução de ombros, a partir dos planos cardinais, ocorre como
sendo chamada de abdução “pura”, estritamente no plano frontal (KAPANDJI, 2000).
Entretanto, tal ação não se mostra como sendo fisiologicamente anatômica, pois, de fato,
os movimentos de elevação do braço tal como conhecemos (como o ato de escovar os
dentes, pentear o cabelo, levar um copo d’àgua á boca) ocorrem na “diagonal”. Esse
movimento na diagonal ocorre no que se chama de Plano da Escápula, onde a abdução
pura passa a ser chamado de abdução fisiológica, pois, de fato, a elevação dos braços
ocorre estritamente nesse plano.

Não apenas é fisiologicamente natural, mas, a elevação nesse plano torna-se mais
segura para o complexo do ombro, o qual a instabilidade e risco de lesão são inerentes.
Como já discutido em páginas anteriores, não cabe aqui relembrar as minúcias, mas, a
articulação glenoumeral possui um teto, conhecido como arco coracoacromial. Abaixo
dele está localizado um minúsculo espaço conhecido como espaço subacromial (imagem
abaixo), por onde “caminham” algumas estruturas moles que estão em constante risco de
serem comprimidas pela cabeça do úmero contra esse teto.

Referência da imagem: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho


musculoesquelético: fundamentos para reabilitação. 2011

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Indivíduos com instabilidade no ombro decorrente a desequilíbrios de força entre
as musculaturas da cintura escapular, relataram dores no ombro durante movimentos de
elevação no plano frontal (abdução pura). De fato, como já mencionado, discineses nas
escápulas costumam reduzir o espaço subacromial, o qual já se apresenta como sendo
estreito, dessa forma há um risco aumentado de lesões nos tecidos adjacentes. Disfunções
na cintura escapular costumam posicionar o tubérculo maior do úmero imediatamente
abaixo do ponto mais baixo do arco coracoacromial, e, além disso, executar o movimento
no plano frontal (abdução pura) favorece ainda mais esse posicionamento inadequado.
Portanto, o mínimo grau de elevação do membro superior já irá acarretar num impacto
dessas estruturas e consequente compressão do tecido mole circundante. Veja a imagem
primeira imagem na próxima página e note o posicionamento do tubérculo maior do
úmero em relação ao arco coracoacromial.

Referência da imagem: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:


fundamentos para reabilitação. 2011
Já na elevação do membro superior ocorrendo no plano da escápula, há um
adequado posicionamento do tubérculo maior do úmero em relação ao arco
coracoacromial, onde o mesmo estará alinhado com o ponto mais alto desse “teto”, ou
seja, ganhando alguns milímetros a mais de liberdade para se movimentar sem que haja
compressão no tecido mole adjacente. Além disso, uma dica muito importante deve ser
mencionada, principalmente para aqueles que apresentam redução do espaço subacromial
e/ou aqueles que relatam dores precoce durante a elevação (relatam dor antes mesmo de
se atingir 60º de abdução/flexão), que é acionar os rotadores externos do ombro para girar
o ombro externamente, dessa forma posicionando o tubérculo maior ainda mais longe do
ponto mais baixo do “teto”, dessa forma garantindo ainda mais segurança para o
indivíduo. A dica em suma é: rode o cotovelo ligeiramente para dentro antes de inicar a
elevação do membro superior, e eleve-o na diagonal.

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Veja a imagem abaixo e note como se dá essa relação de distância entre o
tubérculo maior do úmero e o espaço mais alto do arco coracoacromial no plano da
escápula.

Referência da imagem: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:


fundamentos para reabilitação. 2011
Preciso lembrar de algo que é comumente esquecido pelos avaliadores na área da
fisioterapia e da educação física, no que tange a avaliação do ombro. Requerer um exame
de raio-x para indivíduos que relatem dores no ombro durante movimentos de elevação
do membro superior. De fato, mesmo que não hajam desequilíbrios severos que afetem a
mecânica do ombro, que no caso se enquadraria como um problema de função do ombro
(visão funcional), o problema pode estar na estrutura em si (visão estrutural), essa última
só pode ser confirmada mediante tais exames (RM e Raio-X). No caso em questão,
estamos falando do tipo de acrômio presente no sujeito, este podendo ser de 3 tipos
distintos: chato (tipo I - A), curvo (tipo II - B) ou ganchoso (tipo III - C) (Bigliani et al.
1986). No tipo II e III a chance de ocorrer impacto entre a cabeça do úmero e a acrômio
é maior do que se o tipo fosse I. De fato, os tipos II e III reduzem o espaço subacromial,
predispondo a articulação a lesão precoce. Isso deve ser analisado caso um diagnóstico
por desequilíbrios musculares não tenha resultado positivo que confirmem uma
disfunção.

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19. RÍTMO ESCÁPULO UMERAL

Este é compreendido pela movimentação em sincronia entre a escápula e o úmero


durante a abdução do ombro, inicialmente proposto por Inman e colaboradores em 1944.
Em indivíduos normais, com ombro saudável (leia-se sem disfunções associadas), existe
um ritmo de movimento entre a escápula e o ombro. A partir de 30º de abdução do ombro,
existe uma proporção de 2:1, ou seja, a cada 3º de elevação do braço, 2º serão do ombro
e 1º será da rotação para cima da escápula. Assim, dos 180º totais de abdução do ombro,
120º pertencem à articulação glenoumeral e 60º pertencem à articulação escápulotorácica.
É imprescindível que esta sincronia entre escápula e úmero esteja em perfeita
condições para o bom funcionamento do ombro. Para que isso ocorra, os músculos que
participam desse movimento conjunto deverão estar em igual equilíbrio de força e
comprimento, bem como com um “input” (entrada) neural adequado (leia-se disparo
neural correto). É comum encontrar-mos indivíduos com disfunções dos mais diversos
tipos na cintura escapular, o que representa o desequilíbrio entre a musculatura que
circunda e age sobre essa região. Dessa forma, tais sujeitos serão incapazes de manter um
bom ritmo escapuloumeral devido a esses desequilíbrios, pois, a sincronia de ativação e
estabilização muscular não se dará por igual entre os músculos que executam essa ação.
Uma consequência dessa falta de sincronia é o possível impacto ósseo (a cabeça
do úmero contra o acrômio – teto da articulação) e o consequente esmagamento das
estruturas moles que cruzam o espaço subacromial (tendão da cabeça longa do bíceps,
tendão do supraespinhal e Bursa subacromial). De fato, como vimos em páginas
anteriores, o movimento de rotação para cima da escápula tem como objetivo garantir que
a cabeça do úmero esteja sempre bem posicionada dentro da cavidade glenóide,
garantindo que não haja diminuição do espaço subacromial. Dessa forma, o “delay”

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(atraso) de movimento de rotação da escápula enquanto o úmero é elevado irá permitir
que impacto ocorra.
Em indivíduos que apresentam discinese escapular, este ritmo está prejudicado,
e é muito comum os mesmos relataram dor na região anterior do ombro durante a elevação
do membro superior, alguns relatam dor antes mesmo do membro alcançar 90º de
abdução. O músculo serrátil anterior é o principal abdutor e rotador para cima da escápula,
e como vimos, o mesmo costuma apresentar fraqueza devido ao desuso ao passo que o
trapézio superior (outro rotador para cima da escápula) se apresenta mais forte e
dominando sobre o serrátil anterior, devido ao uso constante e incorreto do mesmo.
O par de força par rotação superior da escápula (imagem abaixo) consiste na
junção das ações do serrátil anterior, trapézio superior e trapézio inferior. Ambos atuam
para rodar a escápula para cima enquanto a mesma permanece estática em seu eixo de
rotação anteroposterior. Na presença de fraqueza do serrátil anterior e do trapézio inferior,
identificado em indivíduos com alterações do posicionamento da escápula, o músculo
trapézio superior tende a realizar tanto a rotação superior da escápula com dominância
sobre os dois rotadores, além de elevar a escápula enquanto a mesma roda para cima,
dessa forma, quebrando o eixo de rotação, assim, alterando o ritmo escápuloumeral a
funcionalidade da cintura escapular, predispondo o indivíduo a lesões.

Referência da imagem: HOUGLUM, Peggy. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 2014.

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19. COLUNA
É de suma importância que você tenha em mente o alinhamento das curvaturas da
coluna, essa sendo composta da curvatura Cervical (em rosa), Torácica (em amarelo) e
lombar (em roxo). Qualquer desvio desse padrão irá acarretar uma compensação acima e
abaixo do local onde se foi acentuada ou reduzida a curvatura.
A coluna funciona como uma corrente de Elos. Caso algum elo esteja fora do seu
posicionamento natural, todos os demais elos terão de se mover para outra posição (fora
da normalidade) para compensar essa mudança. Isso chama-se REAÇÃO EM CADEIA.
Essa corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco.
Quem controla essas curvaturas, assim como um prédio possui suas colunas
subterrâneas de sustentação, nossa coluna funciona da mesma maneira, sendo a PELVE
a base dessa corrente superior. Imagine que caso uma coluna do prédio desmorone, toda
a estrutura acima começará a ruir aos poucos, até que por fim as demais colunas sedam a
pressão e todo o prédio desabe. Da mesma maneira é a nossa pelve, caso a mesma não
esteja equilibrada e alinhada em NEUTRO (vide PELVE), toda a estrutura que ela
sustenta e fornece apoio, começará a ruir lentamente.
Portanto, qualquer movimento que ocorra na pelve irá movimentar toda a coluna
em uma sequência ascendente de compensação caso a mesma não esteja estabilizada,
sendo tal estabilização consequência de ações musculares como o BRACING e a
ROTAÇÃO EXTERNA DOS QUADRIS, esta última sendo responsável por ativar a
musculatura lateral profunda do quadril (uma parte do assoalho pélvico) dessa forma
estabilizando a pelve no plano frontal. Já a manobra de bracing entra para estabilizar a
pelve no plano sagital a partir da contração isométrica dos músculos superficiais e
profundos da região anterior, lateral e posterior do tronco.
Assim, é necessário que o indivíduo preste muita atenção no alinhamento e na
PRESERVAÇÃO das curvaturas da coluna durante o treinamento, seja em pé, sentado,
deitado, inclinado e/ou andando. Se o exercício é inclinado, a coluna permanece alinhada,
e não flexionada, como é de costume vivenciar nas academias de musculação (vide
imagem a direita), principalmente nos exercícios de stiff, levantamento terra, remadas
curvadas e similares

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20.COLUNA NO TREINAMENTO
É muito comum de vermos nas salas de musculação, os indivíduos realizando
movimentos com a coluna que deveriam estar sendo realizados com o quadril, como é o
caso dos exercícios stiff, levantamento terra, extensões de quadril c/ caneleiras, polias e
similares.
Os maiores perigos encontram-se no famoso stiff e terra, de fato, o que vemos
hoje em dia são pessoas realizando o movimento com excessiva flexão e extensão da
coluna, deixando a pelve entrar em retroversão (vide PELVE e MEMBROS
INFERIORES) e de quebra olhando para a frente para ver se está fazendo certo e deixando
as escápulas abduziram quase como se fossem sair da caixa torácica (vide ESCÁPULAS).
Tenho que bater numa tecla que não se pode deixar passar batido e aceitar como
“normal”, que é a flexão excessiva da coluna torácica, a qual acarreta na inversão da
curvatura da coluna lombar (de extensão para flexão), dessa maneira causando uma
compressão na face anterior dos discos intervertebrais que de alguma maneira devem
dispersar essa carga imposta anteriormente. E essa dispersão de carga é direcionada para
a face posterior do disco, causando uma tensão excessiva nessa região pelo fato do núcleo
pulposo (líquido presente no centro dos discos) estar sendo direcionado à ela, como se
quisesse “furá-lo” para sair (herniamento discal).
Pegue um balão de sopro e encha-o com ar, logo em seguida aperte uma das
extremidades do mesmo e veja para onde será direcionada a tensão que você aplicou.
Entendeu o que acontece com o líquido presente no centro do disco e a deformação que
é causada nos mesmos quando não se têm uma perfeita distribuição de carga (coluna
alinhada em posição ereta e/ou em inclinação – vide COLUNA).
Agora pense comigo da seguinte maneira, se esse fato supracitado ocorre mesmo
sem a presença de carga (apenas da gravidade agindo constantemente), imagine uma
pessoa com 40kg, 60kg, 100kg totais numa barra realizando um exercício que deve ter
apenas movimento no quadril, mas que na verdade estão movimentando a coluna a cada
repetição, cada série, toda semana, todo mês, durante anos. Como será que está a
integridade dessas estruturas?
Reitero, coluna é algo sério, não é brincadeira. Como você será visto se de repente
aparece uma hérnia de disco em seu aluno ou até em você mesmo? O melhor marketing
que existe é boca a boca, e também é pior, pelo mesmo motivo. Cabe a você zelar ao
máximo pela integridade física de seu aluno em cada repetição que ele realize. Na
próxima página você encontrará imagens que refletem tudo que acabou de ser dito, bem
como a maneira correta de se utilizar a coluna no treinamento.

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Você deve aplicar a lógica que será apresentada a seguir em todos
os exercícios que exijam uma INCLINAÇÃO DO TRONCO, que
de fato é causada por uma flexão de quadril (direcionamento da
pelve para trás enquanto a coluna mantém-se rígida e firma, com
todas as curvaturas anatômicas preservadas), onde a pelve irá
deslizar sobre o fêmur estacionário (flexão de quadril da pelve
sobre o fêmur).
É muito comum vermos nas salas de musculação indivíduos que
confundem a flexão de quadril (com consequente inclinação do
tronco), com flexão da coluna (“dobrar” a coluna com a pelve
estacionária) nos exercícios de stiff, remada curvada,
levantamento terra (deadlift), crucifixo inverso com halter e
similares. Deixo claro que “dobrar” a coluna para apanhar algo no
chão por exemplo (contanto que seja leve) é um movimento
anatômico e completamente NORMAL, entretanto cabe salientar
que isso deve ser feito com muita cautela pois causa a inversão da
curvatura lombar e consequente compressão discal nessa região, a
qual é agravada na presença de altas cargas (como na musculação
por exemplo, ou para apanhar uma caixa ou objeto pesado no solo).
Deixando isso claro, seguiremos com o raciocínio.
Veja que na posição inicial, a seta amarela representa o fio de
prumo de alinhamento em vista lateral, a qual deve passar por trás
da orelha, entre as vértebras cervicais, à frente das vértebras
torácicas e por entre as vértebras lombares. Conseguem perceber
tudo isso pela imagem? Reitero o que disse nas páginas anteriores,
é preciso ter uma visão em 3D da estrutura Osteomioarticular
(osso, músculo e articulação)
Para que esse alinhamento seja possível e a flexão de quadril possa ocorrer com a
coluna rígida (estável), com todas as curvaturas alinhadas e sem compensações, são
necessárias algumas ações antes do início do movimento, são elas: Ativação do Bracing
(vide BRACING), Retração das escápulas (note com o ombro está atrás da orelha - vide
ESCÁPULAS), queixo para dentro e olhar direcionado no mesmo sentido da cabeça e da
coluna, quadris em rotação externa com ativação dos rotadores laterais (vide QUADRIL)
e pés em afastamento PARALELO (vide POSICIONAMENTO DOS PÉS).

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Abaixo você pode ver como é a posição FINAL do exercício stiff, deadlift,
crucifixo inverso e remadas (dependendo do nível de flexibilidade do indivíduo, podendo
esta inclinação ser reduzida, ficando um pouco mais inclinada e não paralela ao solo),
sendo esta flexibilidade mais relacionada aos posteriores de coxa e panturrilha (não é
regra geral).

Note que se girarmos a foto para uma posição vertical, o alinhamento dos
seguimentos marcados com as setas amarelas estará igual aos da imagem na posição
inicial (página anterior), e esse fato só é possível com todo o procedimento pré-exercício
supracitado. Caso o indivíduo executa a flexão do quadril sem a ativação do bracing, o
queixo para dentro e as escápulas em constante retração, o que acontecerá será uma flexão
do tronco e a perda de todas as curvaturas naturais da coluna e consequente sobrecarga
discal na região da lombar, desencadeando uma possível lombalgia, além da perda da
eficiência do exercício, seja ele stiff, remada, deadlift e similares!
É interessante notar o grau de flexão de joelho na imagem acima, sendo esta uma
ótima estratégia caso o sujeito apresente encurtamento da cadeia posterior. Dessa maneira
é possível colocar os isquiotibiais em insuficiência ativa, podendo assim ganhar uns graus
mais de flexão de quadril sem que ocorra o apagamento da lordose lombar, podendo então
o sujeito inclinar o um pouco mais como na imagem acima. Veja que a barra fica
VERTICALMENTE alinhada aos ombros, não devendo ficar à frente ou atrás.\

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Esse é um exemplo clássico do que se vê nas salas de musculação, a eterna troca
de movimento, onde um exercício deveria ser feito com flexão de quadril, porém é
realizado com uma flexão da coluna (note o arredondamento das curvaturas e o aumento
da curvatura cervical. Este último é muito comum de acontecer, a “mania” de querer olhar
para frente nos exercícios em que a cabeça deveria estar alinhada ao resto da coluna para
garantir que a dissipação de carga e o equilíbrio fascial de toda cadeia posterior do corpo
ocorram de maneira natural e sem compensações.
Porque olhar para frente é um ato um tanto quanto perigoso? Além do fato de que
isso gera uma compressão no disco intervertebral, podendo também ocorrer uma
espondilolistese (muito comum em curvaturas lordóticas acentuadas) e/ou bico de
papagaio, olhar para frente resulta no desequilíbrio de tensão fascial da fáscia que cobre
essa região que compreende da cabeça ao sacro.
Para que a tensão ideal seja mantida, todas as curvatura da coluna devem ser
preservadas, além de que a posição da pelve deve ser mantida em neutro, dessa forma a
fáscia adjacente sustenta a coluna juntamente ao bracing, transferindo assim a força para
a musculatura alvo que estará sendo alongando para então se contrair (os glúteos e
isquiotibias no caso do stiff e agachamentos, e no caso de remadas e similares, para os
músculos alvos). Á partir do momento que a cabeça é desalinhada, ocorre um aumento
do tônus nos músculos suboccipitais (“centro de comando” da fáscia da cadeia da
posterior) e então toda a estrutura miofascial posterior deverá alterar seu tônus para
compensar à dos suboccipitais, dessa forma perdendo energia que poderia estar sendo
utilizada no músculo e desestabilizando o núcleo do corpo (famoso core) e a coluna.

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21. MECANISMO DE REAÇÃO EM CADEIA
Todos sabemos o quão difícil é manter a postura alinhada durante todo o dia,
principalmente durante as horas de trabalho (ainda mais quando se trabalha sentado). É
humanamente impossível manter-se equilibrado durante as 24h do dia, 7 dias por
semanas, entretanto, há maneiras de se evitar as consequências a longo prazo dessa
postura sustentada ocupacional (leia-se postura alterada).
Para que o treinamento que o indivíduo está realizando possa surtir o efeito
esperado e apresentar os melhores resultados possíveis, o mesmo deve evitar a seguinte
postura durante seu dia e usar a mesma lógica para quando estiver em pé, andando e/ou
parado, bem como executando atividades de vida diária.
Brugger (2000) propôs um modelo de reação em cadeia intitulada Postura sentada
de Brugger. Essa consiste na observação das reações ascendentes e descendentes que
ocorrem em nosso sistema musculoesquelético quando a postura sentada se apresente fora
de normalidade como na imagem abaixo à esquerda. Tal maneira de sentar posiciona a
pelve no que se chama de Tilt posterior (retroversão pélvica), que gera uma retificação
ou inversão da curvatura lordótica da lombar, que por consequência acentua a cifose
torácica, que por fim acentua a lordose cervical e anterioriza a cabeça para que os olhos
permanecem alinhados com o horizonte.
Assim como será visto nas próximas páginas, a pelve se apresenta como a
engrenagem principal de nosso corpo, de fato, a mesma está localizado em nosso centro,
à meio caminho do tronco e dos membros inferiores. Além disso, a pelve é o local de
origem e inserção de muitos músculos, que partem dela para baixo, para cima, para os
lados e obliquamente. Uma mínima anormalidade em sua posição anatômica irá causar
uma série de desequilíbrios ascendentes e descendentes, como vimos no parágrafo
anterior, um exemplo de reação em cadeia ascendente, partindo da pelve até a cabeça. De
maneira descendente, a manutenção errada de se sentar ocasiona num encurtamento
prolongado da musculatura posterior da coxa, que desce e posiciona o joelho e tornozelo
de tal forma que a musculatura do compartimento posterior da perna fica em posição de
encurtamento. A consequência final dessa posição geral é o que se conhece como postura
Sway Back.
A estratégia básica de correção para esse padrão, assim como proposto por
Brugger, é colocar a pelve em posição neutra, dessa forma neutralizando a curvatura
lombar, que automaticamente traz de volta a cifose torácica natural, assim reposicionado
a coluna cervical em sua posição natural e trazendo a cabeça para trás. Reitero que essa é
uma das maneiras de ensinar os indivíduos a sentarem sem que hajam quaisquer
compensações ascendentes e/ou descendentes. De nada adiantará tal estratégia se o
treinamento resistido e de flexibilidade não forem correspondentes.

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Referência da imagem: BRUGGER, A. Lehbruch der Funktionellen Stbrungen des
Bewegungssystems. 2000

22. INFLUÊNCIA DO POSICIONAMENTO SENTADO NA


RESPIRAÇÃO
A caixa torácica é de fundamental importância a ser considerada no que tange a
avaliação da postura devido a sua forte influência no posicionamento toracolombar.
Indivíduos que apresentam fraqueza do músculo diafragma ou dos estabilizadores
profundos da coluna apresentam uma elevação das costelas inferiores durante a
inspiração, causando assim um posicionamento adaptativo da junção toracolombar, onde
as costelas inferiores se posicionam para frente e para cima enquanto as costelas
superiores são direcionadas para baixo e para trás (postura padrão cifótica lordótica). O
que vemos então são individuo com hiperlordose lombar e rigidez na fáscia toracolombar
juntamente com uma depressão da caixa torácica superior, dessa forma limitando a
excursão do diafragma que junto com a hiperextensão toracolombar, posiciona esse
músculo em estado de encurtamento, prejudicando assim a sua função como principal
músculo da respiração. Além de que causa instabilidade nessa região, ocasionando uma
consequente disfunção, a qual em longo prazo pode vir a causar uma lesão.
Assim como mencionado em páginas anteriores, os músculos agonistas que se
mostrarem fracos e incapazes de realizar sua função como motor primário, necessitarão
de um auxílio por parte da musculatura sinergista desse motor primário. No caso do
diafragma não seria diferente. A fraqueza do mesmo força a musculatura acessória da
inspiração a se hiperativar (acentuar sua função) para suprir a demanda do agonista, no
caso para elevar as costelas e expandir a caixa torácica para permitir a expansão dos
pulmões para a máxima entrada de ar. Porém, o excesso de ativação da musculatura

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acessória não é benéfico, assim como nenhuma compensação no corpo humanao seja. Os
músculos Esternocleidomastóideo, Escalenos e Intercostais Externos acabam se
fadigando pelo “oversuse” (excesso de uso) e tendem a entrar em encurtamento
adaatativo, o que enrijece toda a camada fascial que circunda o esterno e as costelas.
A repetitiva elevação das costelas inferiores durante a inspiração causa uma
rotação posterior adaptativa na articulação costovertebral e uma rotação anterior das
vértebras. Muitas vezes essa situação torna-se complicada quando há perda segmentar a
da extensão torácica e hipercifose. O tecido mole (fáscia) que circunda a região
esternocostal torna-se rígido, o que limita ainda mais a expansão da caixa torácica e
promove a patológica, mas necessária, postura. A postura ideal é então sacrificada para
que a respiração possa manter sua integridade, mesmo que de maneira limitada.
Para que esse quadro seja normalizado, é preciso acessar a pelve e o tecido mole
fascial da região esternocostal (especialmente do tecido intercostal), bem como trabalhar
a mobilidade torácica em geral e estabilidade da região toracolombar. A única maneira
de restaurar uma respiração, é normalizando o posicionamento das estruturas previamente
citadas bem como integrando algumas dicas ao indivíduo sobre o uso da musculatura
respiratória, principalmente do diafragma (respiração diafragmática).
O encurtamento e uso excessivo de esternocleidomastóideo e escalenos
ocasionam uma anteriorização da cabeça e consequente hiperlodose cervical, que também
pode ser uma consequência secundária da hipercifose torácica, causada pela elevação das
costelas inferiores e depressão das costelas superiores.
Para finalizar, é sabido que o sistema nervoso simpático (SNS) tem seu tônus
elevado na presença de uma respiração curta, devido ao aumento da frequência cardíaca
por conta da baixa quantidade de oxigênio circulante. Além disso, o SNS é responsável
pelo estado de alerta, o que consequentemente é responsável pelo enrijecimento da
musculatura superficial, sendo isto uma ação pré-histórica e de caráter protetor. De fato,
indivíduos altamente rígidos (leia-se com elevado tônus muscular de repouso),
apresentam uma disfunção respiratória, bem como sintomas de ansiedade. A falta de uma
respiração profunda e completa causa o aumento do tônus desse sistema, ocasionando
assim uma bola de neve de alterações. A respiração diafragmática profunda é uma das
estratégias para redução do tônus simpático com concomitante elevação e dominância do
tônus parassimpático, este responsável pela redução da frequência cardíaca e tônus
muscular de repouso. Então, a melhor estratégia deve visar a uma elevação do tônus
parassimpático, bem como o relaxamento da musculatura tônica (que tende a rigidez)
além do correto uso do diafragma.

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23. PELVE
A pelve é o centro de estabilização do nosso corpo, é a engrenagem principal que
se funcionando de maneira correta (em movimento ou parado) teremos uma coluna
estável e alinhada. Como mencionado anteriormente, nossa coluna funciona como uma
corrente de elos, e, caso a base dessa corrente (nossa pelve) não esteja firme e alinhada,
todos os elos irão se mover para uma posição anormal para compensar essa falta de
alinhamento da base.
Portanto, é imprescindível que você se atente para essa região quando estiver
treinando e/ou supervisionando um aluno, alongando, sentado e/ou andando, pois, de
nada adiantará o melhor planejamento possível se deixar a desejar nas horas anteriores
e/ou subsequentes à musculação e aos alongamentos.
Observe as imagens e legendas abaixo quanto ao posicionamento deitado. Use a
mesma lógica para quando estiver em pé, sentado, andando e/ou treinando (determinadas
posições que se mostrarem erradas nas imagens a seguir podem ser utilizadas em
determinados exercícios, portanto, leia e lembre-se que NÃO existe regra geral, mas sim
lógicas que devem ser respeitadas).

Imagem 1: pelve em RETROVERSÃO, a coluna lombar está com sua curvatura


invertida, gerando um alongamento na musculatura paravertebral lombar e do músculo
iliopsoas. Veja que a extremidade esquerda da linha está mais alta que sua extremidade
direita.
Caso seja um indivíduo com uma Postura Sway Back, ou seja, que naturalmente
apresente uma curvatura lombar reta e ou invertida (flexionada, perdendo a lordose
anatômica), deve EVITAR esse posicionamento durante o dia-a-dia e
PRINCIPALMENTE durante o treinamento na musculação para que não perpetue sua
disfunção. A pelve em retroversão postural é um fator de risco para a hérnia de disco,
devido a compressão na face anterior do disco com consequente extravasamento posterior
do núcleo pulposo, o qual tende a causar um “pinçamento” nos ligamentos e nervos que
caminham por entre as vértebras.

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Então, de maneira resumida, não é aconselhável que um sujeito com esse padrão
postural, encoste a lombar nos apoios, a mesma deve estar ligeiramente distante do apoio
(caso esteja sentado ou deitado). Quando estiver em pé, se faz necessário um ligeiro
arqueamento da lombar, ou seja, ficar com o “bumbum” levemente empinado (anteversão
pélvica) para garantir que a mesma posicione-se de maneira mais natural, sendo então
uma estratégia para correção de maneira mais rápida (imagem 3).

Imagem 2: Esse posicionamento é comum nas MENINAS, o “bumbum”


excessivamente empinado (dando a FALSA aparência de possuir glúteos bem
tonificados) com a pelve inclinada para frente e para baixo (veja a linha amarela) e a
lombar com curvatura acentuada. Isso é comum devido ao fato das mulheres apresentarem
uma pelve mais larga com a tendência de um ângulo de inclinação do colo do fêmur maior
e maior valgo dos joelhos, inclinando dessa forma a pelve para frente. Além do uso
constante de as.to alto e da maneira como param ortostaticamente.
Caso seja um indivíduo Hiperlordótico, ou seja, que em pé e/ou deitado apresente
um excesso de curvatura lombar (bem distante do apoio como na imagem acima), deve
então começar à se educar para que quando se deitar em um banco permitir que a coluna
lombar encoste no apoio. Nesse padrão postural os glúteos apresentam-se fracos junto
com o reto abdômen, que juntos trabalham para manter a pelve neutra, dessa forma, a
anteversão da pelve (inclinação para frente e para baixo) está associada com lombalgias
devido aos principais estabilizadores lombares estarem fracos, ao passo que os músculo
lombares se encontram rígidos e dominam sobre o glúteo na extensão do quadril, dessa
forma, arqueando a lombar durante o movimento de extensão (comum em exercícios
como glúteos com caneleira).
Lembre que eu disse que haveriam exceções para o posicionamento da pelve, que
não existe regra geral? Pois bem, esse é um caso específico em que você deverá manter a
pelve como na imagem 1, quando estiver deitado em um apoio para executar um exercício

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e/ou sentado para o mesmo, porém, quando a sobrecarga for baixa e não cause risco de
compressão na lombar, como por exemplo um agachamento com uma barra nas costas.
Quando estiver em pé, é aceitável que você gire levemente o ‘bumbum” para dentro,
como se fosse “escondê-lo”, dessa forma a pelve será posicionada de maneira mais neutra,
reduzindo um pouco a tensão dos músculos lombares. Esse movimento deve ser feito com
o abdômen (os feixes mais inferiores), fazendo com que os mesmos “puxem” a sínfise
púbica para cima
.

Imagem 3: essa é a posição CORRETA da pelve, estando ela NEUTRA,


independente de estar deitado, sentado, em pé, andando e/ou treinando. É aceitável uma
ligeira anteversão da pelve, contanto que não hajam desequilíbrios decorrentes de tal
padrão.
O posicionamento NEUTRO da pelve é aquele em que a lombar está
LIGEIRAMENTE afastada de qualquer apoio/banco (deitado ou sentado), algo entre um
ou dois dedos de distância do apoio. Reitero que, um ligeiro grau de anteversão é aceitável
para que se evite a retroversão da pelve dinamicamente (como por exemplo durante a fase
excêntrica (descida) nos agachamentos).
Para que isso seja possível se faz necessário um ótimo equilíbrio muscular (leia-
se força e flexibilidade) nos músculos que circundam essa estrutura. O equilíbrio de força
entre os pares musculares se dará com o treinamento na musculação visando o
fortalecimento do que se encontra fraco e a inibição do que se encontra extremamente
forte. Esses pares são Reto do Abdômen e Glúteo máximo trabalhando juntos para puxar
a retroversão, ao passo que Músculos lombares e Flexores de quadril trabalham juntos
para puxar a pelve a anteversão. Os pares necessitam estar em equilíbrio de força e
flexibilidade para que a pelve não perca sua posição natural e gere consequências
ascendentes e descendentes.

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A flexibilidade dessa musculatura se dará com os exercícios de alongamento e os
exercícios de mobilidade, visando melhorar a mobilidade da articulação para que o
indivíduo esteja apto a se movimentar na amplitude de movimento adequada sem que
ocorram quaisquer compensações, melhorar a elasticidade muscular e a coordenação
entre músculos antagônicos e sinergistas. Além disso, o trabalho de flexibilidade e
mobilidade aliado ao treinamento da musculação é que fará o aluno retornar de uma
postura hiperlordótica ou sway back, para uma postura com a pelve neutra, além de seu
total comprometimento na preservação da boa postura nas horas que sucedem o
treinamento.
É importante que as mulheres tomem consciência do uso indevido e constante do
salto alto, além do terrível hábito de sentarem com as pernas cruzadas por um tempo
prolongado. É viável que a perna seja trocada constantemente, e junto a isso seja realizado
um bom trabalho de flexibilidade da musculatura adutora da coxa (músculos da parte de
dentro da coxa), junto com os músculos flexores de quadril, principalmente o Iliopsoas e
o Tensor da Fáscia Lata. Estes quando tensionados tendem a puxar a pelve para baixo e
para frente, aumentando a lordose lombar como caso B da imagem abaixo.
Da mesma forma, para os homens se faz necessário um trabalho de flexibilidade
para os isquiotibiais (músculos posteriores da coxa), que tendem ao encurtamento e a
puxar a pelve para trás e para baixo, causando uma retroversão pélvica com consequente
apagamento e/ou inversão da curvatura lombar natural, como no caso C da imagem
abaixo. Reitero que no parágrafo anterior e neste, não quero dizer que as mulheres sempre
irão possuir os músculos citados, encurtados, e o mesmo serve para o que mencionei dos
homens. É apenas um exemplo, que pela minha experiência clínica, é o que mais ocorre
em ambos os sexos. Lembre-se, não há regra geral.

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24. EQUILÍBRIO PÉLVICO
Como visto anteriormente, a posição estratégica que a pelve ocupa em nosso corpo
é o que determina em grande parte como é a postura do indivíduo. Nesse tópico iremos
abordar como se dá o equilíbrio pélvico no plano frontal e no plano sagital, analisando as
musculaturas dessa região e como elas atuam como pares de forças nessa estrutura.
Antes de mais nada, para deixar claro, estabilização no plano frontal significa
estabilização vista de frente e de costas a partir das espinhas ilíacas anterossuperiores
(EIAS) e posterosuperiores (EIPS), além de que para confirmação de uma possível
instabilidade pélvica (desnivelamento) podemos olhar para a curvatura da coluna lombar
(convexidade para um lado e concavidade para o outro).
Abaixo você verá que a ambas as EIAS estão horizontalmente niveladas (veja
como a linha amarela cruza de um lado ao outro em linha reta), e o mesmo pode ser visto
nas EIPS. Para que esse nivelamento seja possível alguns músculos atuantes da região do
quadril, pelve e lombar devem estar igualmente fortes e flexíveis, caso um desses
músculos esteja mais forte ou mais fraco (encurtado ou inibido/alongado) a estabilidade
da região não será possível.
Para que o nivelamento pélvico seja conquistado e mantido em posição
ortoestática (leia-se posição de pé) os músculos Adutores e Abdutores do quadril, e
flexores laterais do tronco devem trabalhar em harmonia. Entretanto, os músculos
adutores do quadril possuem um braço de momento maior do que o braço de momento
dos abdutores, em relação ao quadril, dessa forma a tendência natural é dos adutores
“dominarem” sobre os abdutores no controle da pelve (literaturas mais pertinentes podem
lhes trazer essa informação com dados eletromiográficos).
Além disso, os adutores do quadril trabalham tanto na adução do quadril, quanto
na flexão, rotação medial e extensão do quadril (este último a partir dos 70º de flexão de
quadril). Dessa forma, analisando o contexto do ser humano em relação a postura, ao
movimento e prática de exercícios físicos, os adutores trabalham em tudo quanto é
movimento, desde a marcha até um leg press.
Assim, juntando ao fato das mulheres terem o hábito (péssimo) de se sentarem
com as pernas cruzadas, utilizaram salto alto, inclinarem mais um lado do quadril para
tirar uma foto de perfil lateral e usarem a abusarem da cadeira adutora nos treinos de
musculação, o que ocorre é um excesso de ativação de adutores, uma dominância no que
se refere a estabilização pélvica e de quebra glúteos mortos e hiperalongados. Reitero que
não estou demonizando a cadeira adutora, ela tem sua função assim como qualquer outra
máquina, porém, deve-se ter bom senso no momento da prescrição e analisar todos os
fatos possíveis no que tange o indivíduo (avaliação funcional).

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A imagem acima (KENDALL & KENDALL, 2007) é a representação da
musculatura envolvida no equilíbrio da pelve no plano frontal (na imagem, em vista
posterior). Esse equilíbrio ocorre de maneira cruzada, ou seja, adutores direitos trabalham
com os flexores laterais direitos do tronco e os abdutores esquerdos do quadril, o inverso
é verdadeiro. Caso os adutores direitos do quadril venham a se tornar encurtados/rígidos,
a pelve tende a ser inclinada para o lado esquerdo, ou seja, a espinha ilíaca direita sobe e
a espinha ilíaca esquerda “cai” causando assim um desnivelamento da pelve.
A próxima imagem, abaixo na esquerda (KENDALL & KENDALL, 2007) retrata
exatamente o que foi expresso no parágrafo anterior, o desnivelamento da pelve, que pode
ter causas tanto ascendentes quanto descendentes, entretanto, este não é o foco dessa obra
(literaturas pertinentes abordam essa questão postural e de disfunção do movimento).
A musculatura vermelha escura representam os músculos que se
apresentam encurtados, ao passo que a musculatura mais
clareada representa a musculatura alongada/fraca.
Perceba como o mecanismo de estabilização cruzada trabalha, e
como supracitado, caso os adutores esquerdos estejam
excessivamente encurtados, toda uma cascata de desequilíbrio é
gerada. Note como os adutores esquerdos e flexores laterais
esquerdos do tronco quando encurtados juntamente com os
abdutores direitos, tendem a inclinar a pelve para a direita (veja
como o ílio esquerdo é direcionado para cima e para direita).
Tais fatos podem ser nitidamente vistos em uma avaliação
postural, e aconselho o uso de alongamentos específicos para as
regiões que apresentem encurtamentos, como sendo uma das
estratégias voltadas para correção de um desnivelamento.

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Partindo agora para a estabilização pélvica no plano sagital (análise vista em perfil
esquerdo e direito), vamos ver quem trabalha com quem para que a pelve seja mantida
em NEUTRO (vide PELVE) tanto ortostaticamente quanto dinamicamente. Assim como
foi explanado na página anterior, onde adutores, abdutores e flexores laterais do tronco
trabalham em harmonia para estabilizar a pelve, aqui não seria diferente. Reitero que
qualquer desequilíbrio de força e/ou flexibilidade entre esses pares antagônicos irá refletir
numa disfunção pélvica (leia-se desequilíbrio/mudança da posição anatômica).
Os músculos responsáveis por manter a EIAS alinhada VERTICALMENTE à
sínfise púbica (alinhamento padrão/pelve neutra) são os músculos abdominais (reto do
abdômen, oblíquo externo e interno), eretores lombares, iliopsoas, sartório, reto femoral,
isquiotibiais e glúteo máximo (pegando também médio e mínimo em menor grau).
Como citei em páginas anteriores, os músculos trabalham como pares de forças,
ou seja, músculos que possuem mais de uma ação, entretanto possuem também uma ação
em comum. Isso ocorre da seguinte forma:
1) Retroversores Pélvicos (inclinação posterior da pelve): isquiotibiais, glúteo
máximo, reto do abdômen, oblíquo intero e oblíquo externo. O encurtamento
dessa musculatura gira a pelve para trás e inverte a coluna lombar de lordose
para cifose.
2) Anteversores Pélvicos (inclinação anterior da pelve): iliopsoas, reto
vemoral, sartório e paravertebrais. O encurtamento dessa musculatura gira a
pelve para baixo e para frente, acentuando a curvatura da lombar.
Veja as imagens abaixo para ter uma melhor ideia de como ocorrem esses pares
de forças e analise no indivíduo o padrão que ele apresenta, por meio de uma avaliação
funcional, e dessa forma será possível traçar o planejamento correto para correção
(alongamentos, mobilidade e treinamento resistido).

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MEMBROS
SUPERIORES
Nesta parte iremos entender um pouco do funcionamento da
articulação do ombro e da articulação escapulotorácica durante os exercícios,
também daremos uma pincelada em como deve ser o alinhamento corporal
geral durante os exercícios.
Serão revisadas apenas os exercícios mais básicos e mais utilizados
dentro das academias. Entretanto, a lógica que será apresentada nesses
exercícios deverá ser aplicada aos demais exercícios do grupo muscular,
pois, de fato, o que difere um exercício de outro é a posição articular do
ombro e/ou da coluna.
As musculaturas abordadas a seguir serão Peito, Dorsais, Deltóides,
Bíceps e Tríceps.
Obs: o que será abordado são lógicas que foram criadas por mim a partir
do conhecimento sobre Cinesiologia, Biomecânica e Anatomia. Você, leitor,
tem todo o direito de questionar as informações aqui mencionadas,
contatando-me pelo [email protected]. Estarei à
disposição para esclarecer qualquer dúvida, e estou disposto a ouvir todas
as críticas.

BONS ESTUDOS!

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25.1 BREVE INTRODUÇÃO
É de conhecimento de todos que a musculatura da parte superior e superficial do
corpo ganham uma atenção extra no que se refere ao treinamento, mais especialmente por
parte do gruo masculino. A atenção especial a essa musculatura tem como objetivo na
maioria dos casos, de se desenvolver para fins estéticos, não desconsiderando sua
importância para determinado esporte, prevenção e/ou reabilitação de alguma
lesão/trauma (entrando aí no princípio da Especificidade – literaturas pertinentes ao
assunto podem ser consultadas, que não essa).
A busca pelo “tronco” perfeito pode até ser compreendida, de fato, vivemos numa
sociedade que atualmente prega o exterior mais do que interior. Entretanto, assim como
em qualquer outra modalidade esportiva, tudo tem suas minúcias, e aqui não seria
diferente. A falta de conhecimento das áreas da cinesiologia, biomecânica e anatomia, no
que tange o treinamento resistido pode por em risco a integridade do seu praticante, e isso
não é algo novo.
O movimento deve ser realizado de tal forma que as estruturas envolvidas na ação
não sofrem quaisquer injúrias e/ou não apresentam a correta ativação. É sabido que tudo
em nosso corpo funciona de maneira sincronizada, quando este se encontra equilibrado
(leia-se sem encurtamentos e/ou alongamentos excessivos dos músculos, bem como sem
alterações do sistema somatosensorial). Entretanto, o que se vê hoje em dia são indivíduos
extremamente disfuncionas e leigos, almejando um rápido e ilusório resultado com a
prática da musculação. Além disso, esse mesmo público tem a crença de que o
treinamento deve ser intenso desde o princípio (o intenso para esse grupo é entendido
como o uso de altas quilagens), além de um número exorbitante de séries e repetições,
uma frequência de treino (quantidade de vezes por semana) exorbitante, além de uma
velocidade de execução altamente incompatível com a estabilidade do corpo.
Atenção além do comum para a musculatura superficial e mobilizadora, como
peitoral e dorsal sendo os mais requisitados, e a negligência da função da musculatura
profunda e estabilizadora, geram consequências que vão além apenas do encurtamento
dessas musculaturas. Além disso, negligenciar a estabilidade é o mesmo que pedir para
não ter um treino intenso e efetivo para a musculatura superficial. De fato, a ação dos
músculos profundos proximais (estabilizadores das estruturas chave – escápulas, coluna
e pelve) antes de iniciar a mobilização do segmento distal (mover os membros) garantirá
o correto posicionamento da articulação, que consequentemente garante um correto
posicionamento da musculatura adjacente, tendo assim a sua relação comprimento-tensão
ideal para que produza a máxima contração, ou seja, garante que a musculatura agonista
trabalha de maneira mais eficiente sem que a musculatura sinergista domine.
Portanto, o treinamento dos membros superiores só será eficiente se o indivíduo
entender como funcionam as articulações do membro superior, bem como a mecânica dos
exercícios.

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25.2 DORSAIS
Sem dúvida os músculos das costas são uns dos mais visados pelos praticantes de
musculação. Entretanto, para desenvolve-los ao máximo, extraindo todo seu
potencialmente, se fazem necessários alguns pequenos detalhes, os quais tornam
QUALQUER exercício para essa região mais eficiente e mais seguro.
Antes de haver quaisquer movimentos nos braços, a primeira ação DEVE ocorrer
nas escápulas (essa sim é uma REGRA GERAL), portanto, elas devem “fechar”
lentamente e serem colocadas numa posição estável contra a caixa torácica (imagem em
preto e branco – vide ESCÁPULAS – retração), apenas após sentir que as escápulas estão
bem firmes e apertadas contra o meio das costas, e estando a “cabeça” do ombro atrás da
projeção vertical da orelha, você pode então mover os braços, e, continuar “esmagando”
o meio das costas enquanto o ombro se move em extensão, flexão, adução, abdução,
abdução e adução horizontal.
Na fase retorno do peso a posição inicial, a primeira ação DEVE ocorrer nos
braços. Portanto o indivíduo deve manter as escápulas FECHADAS enquanto os braços
voltam lentamente a posição inicial (“esticados”), e então só após os braços chegarem na
metade do caminho de retorno a posição inicial, é que se deve deixar que as escápulas
abram lentamente enquanto o braço continua retornando à posição inicial juntamente com
ela. Então a sequência fica a seguinte (vide ESCÁPULAS):
1) FASE CONCÊNTRICA
1ª AÇÃO: retração das escápulas
2ª AÇÃO: movimento do ombro (puxando com o cotovelo)
2) FASE EXCÊNTRICA
1ª AÇÃO: movimento de retorno do ombro
2ª AÇÃO: abdução das escápulas
Os grandes erros durante a execução dos exercícios para as costas são:
negligenciar a função das escápulas; puxar o cabo/halter/barra primeiro com os braços ou
unicamente com os braços; movimentar o peso numa amplitude excessiva; movimentar a
cabeça para frente no momento de puxar; usar muito da força do bíceps (músculo da
frente do braço) ao invés de usar a força dos músculos das escápulas e do ombro etc.
Veja na imagem da próxima página os ERROS nos exercícios de costas. Note que
o exercício em questão é uma REMADA, portanto, a lógica apresentada acima se aplica
a TODAS as variações de remadas existentes, e as mesmas regras se aplicam a TODOS
os outros exercícios para costas (havendo apenas algumas alterações quanto ao limite do
movimento e a ação das escápulas, sendo tais alterações informadas em sua planilha de
treinamento individualizada).

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A imagem acima representa o que mais vemos nos exercícios de costas. Vamos
aos detalhes de cada seta, círculo e linha desenhado na imagem.
Seta amarela em frente ao queixo: esta mostra que o queixo da praticante está
muito para frente, o que consequentemente reflete numa cabeça para frente, ou
cientificamente falando, cabeça protrusa (anteriorizada). Para que isso seja evitado e a
cabeça esteja numa posição neutra, aperte o queixo contra a região anterior do pescoço
logo abaixo a ele. Para saber com mais clareza o que isso significa, retorne algumas
páginas do manual até o tópico CABEÇA, e veja a imagem com a devida explicação.
Seta vermelha apontando para o pescoço e linha preta no pescoço: está seta
está direcionada para o músculo da região anterolateral do pescoço, a linha preta está
cobrindo o mesmo para que você saiba o que estou tentando lhe dizer. Esse músculo
apresenta uma direção um pouco mais oblíquo, inclinada para trás. Portanto, como você
pode ver na imagem, ele está quase vertical, e nessa posição ele encontra-se encurtado,
ou seja, indicando que sua cabeça realmente está anteriorizada (é uma ação desse músculo
quando o mesmo se apresenta encurtado).

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Seta amarela apontada para o ombro: se você olhar atentamente, vai notar que
a “cabeça” do ombro está bem protuberante e “pontuda” apontada para frente. Essa
posição em que se encontra o ombro chama-se SLIDE ANTERIOR UMERAL, e deve
ser EVITADA em TODOS os exercícios para costas (exercícios para peitoral, bíceps e
tríceps também não podem apresentar tal posicionamento).
Essa posição apontada para frente é consequência do excesso de movimento do
ombro, ou seja, moveu o braço em uma excursão além do permitido, o que nos leva à
próxima seta.
Linha tracejada branca e bolinhas amarela e vermelha: é visível que o
cotovelo (bola vermelha) ultrapassou e muito a “cabeça” do ombro (bola amarela), não é
mesmo? É justamente esse excesso de movimento do ombro (extensão – puxar muito para
trás) que acarreta no slide anterior umeral (supracitado). Para que os músculos das costas
em geral tenham mais eficiência nos exercícios, você deve LIMITAR amplitude até o
ponto em que o cotovelo fique posicionado LIGEIRAMENTE mais à frente que a
projeção vertical da cabeça do ombro, como veremos na imagem a seguir.
Seta amarela apontada para a lombar: pegando o embalo da estrutura citada
anteriormente (PELVE), você pode notar que na imagem da moça a pelve dela encontra-
se em RETROVERSÃO, ou seja, girada para dentro como se estivesse se “escondendo”.
Veja que a curvatura da lombar (vide COLUNA) está apagada, ou seja, reta, indicando
mais uma vez que a pelve se encontra em retroversão. Portanto, muita atenção no
momento em que sentar em qualquer apoio, procure sempre manter a pelve em neutro,
nem para dentro nem muito empinada.
Seta amarela apontada para o tórax: esta se trata da posição em que se encontra
a caixa torácica. Como podem ver, o tórax se encontra direcionado para frente e para
baixo, ou seja, estando em depressão, dessa forma influenciando em muitos outros
fatores, como na acentuação da cifose torácica e redução da lordose lombar, como mostra
a seta apontada para a lombar. Além disso temos uma perda da eficiência respiratória,
pois, os tecidos moles adjacentes as costelas estão em estado de rigidez, dessa forma
limitando a excursão das mesmas para que o tórax possa expandir em sua máxima
capacidade.

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Como vimos anteriormente, os exercícios de costas EM GERAL necessitam da
aplicação de uma técnica que de começo parece ser complicada, porém no terceiro, quarto
treino ela já fica “arraigada” no sistema nervoso central (SNC). É preciso muita atenção
nos detalhes que serão expostos a seguir, portanto leia com calma e se possível execute o
movimento enquanto lê, sem peso mesmo, apenas o movimento das estruturas que serão
citadas a seguir, usando como base as informações citadas na primeira página dessa
estrutura (no caso as COSTAS).
Seta amarela em frente ao queixo: essa seta indica que o queixo está
posicionado para “dentro”, ou seja, assim como citado na sessão CABEÇA, o indivíduo
deve tentar apertar o queixo contra a região anterior do pescoço, dessa forma conseguirá
reverter mais rapidamente uma disfunção que talvez apresente, como a cabeça “protrusa”.
Portanto, muita atenção nos exercícios (em todos de membro superior, melhor dizendo)
para evitar que uma disfunção na cintura escapular, cabeça e/ou coluna seja perpetuada.
Seta vermelha apontando para o pescoço e linha vermelha oblíqua no
pescoço: essa indicação serve para que você possa comparar com a linha do pescoço da
primeira imagem deste tópico (da moça). Perceba que na imagem do indivíduo ela está
bem inclinada para trás, ou seja, o músculo está bem oblíquo. É dessa maneira que esse
músculo em questão deve se apresentar, alongado, e isso só será possível evitando

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deslocar a cabeça para frente no momento da contração muscular. Portanto, nada de
movimentar a cabeça enquanto executa o exercício, afinal não é cabeçada, então
mantenha a cabeça neutra e o queixo para dentro (vide CABEÇA para maiores
esclarecimentos).
Seta amarela em frente ao tórax: essa seta indica que a caixa torácica está
elevada, as costelas posicionadas mais corretamente garantindo melhor excursão do
oxigênio e do Diafrágma, além de lhe colocar numa postura padrão aceitável.
De fato, se você notar, o indivíduo está bem ereto, com uma postura mais do que
aceitável, permitindo que o movimento flua com mais precisão, eficiência e segurança.
Além disso, essa dica de postura é uma ótima maneira de começar a corrigir um padrão
postural de ombros caídos a frente, peitos encolhidos e caixa torácica deprimida.
Linha tracejada verde e bolinhas amarela e vermelha: por último e não menos
importante, na verdade é o mais importante, quero que você olhe atentamente para a
posição que se encontra a “cabeça” do ombro e o cotovelo. Notou alguma diferença da
primeira imagem (moça) para esta segunda (homem)? Pois é, existe uma grande diferença
entre as posições que essas estruturas ocupam no final do movimento.
É exatamente o que você está vendo, os cotovelos NÃO devem passar da projeção
vertical do ombro, ou seja, o cotovelo deve ficar ligeiramente à frente do ombro, para que
dessa forma seja garantido que seu ombro não entre em slide anterior e a ação dos
músculos das costas, principalmente do grande dorsal, seja máxima.

Na próxima página você encontrará detalhes sobre as costas, porém, desta vez será
abordado o exercício conhecido como PUXADA (qualquer exercício que você puxe
uma resistência de cima para baixo independentemente da pegada). Utilize a mesma
lógica do exercício que será usado como exemplo a seguir, para as demais variações
da puxada.

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25.3 PUXADAS – independente das pegadas e variações

Na posição inicial note que os braços estão bem elevados, cotovelos estendidos
e escápulas abduzidas e elevadas (vide ESCÁPULAS), e veja como o ombro está próximo
da orelha (linha amarela entre ombro e orelha na imagem esquerda acima).
É interessante notar que a cabeça está alinhada com a coluna o tempo todo
(linha amarela cortando o corpo partindo da orelha), de fato, a coluna está ligeiramente
inclinada para trás e a cabeça da mesma maneira.
Portanto, nada de ficar olhando para o teto ou estritamente para o horizonte. A
cabeça acompanha a coluna e os olhos apontam para a mesma direção em que se encontra
a cabeça (veja a linha pontilhada vermelha na imagem acima à esquerda).
Analisando agora a 1ª AÇÃO, é possível notar que houve um afastamento entre
ombro e orelha (linha amarela entre ombro e orelha na imagem direita acima). Isso se
deve ao fato de que na primeira ação o que ocorre é a DEPRESSÃO das escápulas com
RETRAÇÃO das mesmas (setas amarelas na imagem acima à direita - vide
ESCÁPULAS), ocasionando assim esse abaixamento da “cabeça” do ombro ao mesmo
tempo em que há um deslocamento posterior do mesmo, de fato, a “cabeça” do ombro é
movido para trás da orelha (linha amarela representando a projeção oblíquo da orelha até
a pelve). Veja que a linha corta o ombro em 2/3 dele.

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Ficou claro como ocorre a primeira ação nos exercícios de puxada e variações?
É a mesma lógica utilizada nos exercícios de remada, não há muito segredo. Agora iremos
analisar a 2ª AÇÃO (imagem abaixo).

Após todo o processo de estabilização supracitado, depressão e retração das


escápulas, coluna alinha, queixo para dentro, olhar na direção em que a cabeça se encontra
etc., é hora de movimentar o ombro (entenda ombro como sendo o braço todo, para ficar
mais fácil de entender).
Veja que os cotovelos são direcionados para baixo e ficam constantemente
alinhados VERTICALMENTE com os punhos (linha tracejada preta), e, além disso é
necessário que você entenda que não se deve colocar a força da puxada nos bíceps, pois
assim você irá fadigar o braço mais rápido e não sentirá nada nos músculos das costas,
justamente por ter utilizado um músculo que não deveria. Portanto, a dica é: “force a
ponta dos cotovelos para baixo e esqueça o músculo do braço.”
Outro importante detalhe é a posição que se encontra o ombro e o cotovelo.
Usando como exemplo a remada executada de maneira correta (esse mesmo rapaz nas
páginas anteriores), perceba que os cotovelos NÃO passam da projeção dos ombros (linha
amarela partindo da orelha até a pelve), ou seja, ficam sempre LIGEIRAMENTE à frente
da “cabeça” do ombro. O movimento ocorre até que a barra fique à frente do nariz ou
boca, NÃO mais do que isso (linhas azuis).

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Vamos olhar como seria esse exercício sendo executado de maneira insegura e
ineficiente aos olhos da cinesiologia e biomecânica? Confira nas imagens abaixo o que
você deve evitar fazer.

Nessas duas imagens aparentemente semelhantes, a não ser pelo fato de a imagem
à esquerda ser uma puxada com pegada supinada e a imagem direita uma puxada pela
frente pronada, entretanto, ambos apresentam um fato em comum: excesso de amplitude
de movimento do ombro. Note na esquerda como a barra está baixa, quase um exercício
para tríceps, se houvessem poucos graus a mais de ADM onde haveria então maior
extensão do cotovelo. Em ambas as imagens é notável como os cotovelos ultrapassam a
linha vertical dos ombros (ocasionando um deslizamento anterior da cabeça do úmero,
como já vimos) devido ao excesso de movimento da articulação ombro em extensão.
Além de não ser seguro devido a tensão imposta nos elementos moles anteriores da
cápsula do ombro, bem como ser um movimento que reduz a congruência da
gleonoumeral, a hiperextensão que ocorre não é efetiva para o grande dorsal, pois, os
músculos que fazem esse movimento de arrastar o cotovelo para trás da projeção vertical
dos ombros são deltóide posterior e tríceps (principais hiperextensores do ombro).

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Agora iremos analisar como deve ser realizada a remada curvada, entretanto,
sugiro que volte algumas páginas (mais especificamente no tópico sobre COLUNA NO
TREINAMENTO) para que você possa entender como deve atuar a coluna nesse tipo de
exercício, pois assim poderemos nos ater aqui a explicação dos membros superiores.
O que costumamos ver nas salas de musculação são indivíduos que confundem
inclinação do tronco com flexão de quadril, como flexão da coluna, nesses “exercícios
curvados”. De fato, a culpa desse erro não é em grande parte do aluno, mas sim do
profissional de educação que tem o dever de corrigir essas falhas para que a integridade
física do aluno seja preservada ao máximo, e claro, para que os resultados almejados com
a prática de exercícios físicos sejam alcançados de maneira segura e eficiente.
Como supracitei, a confusão de movimentos. Perceba o arqueamento da coluna
do sujeito ao lado, e de quebra ainda com o queixo levantado e o olhar direcionado para
frente, gerando assim uma hiperlordose cervical (vide COLUNA para saber as
consequências de curvaturas hiperlordóticas e da alteração do tônus fascial da cadeia
posterior).Visivelmente esta posição não é nada “bonita”, diferentemente do caso de um
perfeito alinhamento da coluna, como citado nas páginas anteriores. Sempre que um
exercício aparentar algo “estranho” ou “engraçado” é porque muito provavelmente está
sendo executado de maneira ineficiente e insegura. E isso é bem verdade, basta olhar para
a imagem abaixo.

Analisando de uma maneira cinesiológica e biomecânica, a maneira como o


exercício acima está sendo executado irá gerar uma maior ativação dos paravertebrais
lombares do que dos músculos alvos. A força maior deverá ser gerada pelos
paravertebrais para impedir que a coluna colapse ainda mais. Dessa forma, o SNC irá
optar por uma das opções, ativar os paravertebrais para impedir um colapso ainda maior
da coluna ou ativar os músculos alvo do exercício, os dois ao mesmo tempo é impraticável

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para este sistema. Além de ser energeticamente desgastante executar os dois
simultaneamente, é extremamente perigoso para a integridade osteomioarticular.
Portanto, o correto SEMPRE será mais eficiente e menos desgastante.
Os exercícios que envolvem uma inclinação do tronco devem ter uma atenção
extra quanto a ativação do núcleo, amplitude de inclinação e movimento das escápulas.
É de senso comum que quanto mais o tronco se inclina, maior é o braço de resistência
que age contra a lombar, portanto, maiores as chances de desenvolver lombalgias por
fadiga dos músculos paravertebrais para sustentar toda a carga imposta longe do eixo
articular (centro de rotação das articulações lombares). Tal grupamento muscular não
pode e não deve trabalhar sozinho para estabilizar a base de nossa coluna, o mesmo deve
atuar em sinergismo com outros músculos que formam nosso núcleo, os quais criam um
“cinturão” de tecido muscular que envolve 3 camadas fasciais, circulando nossa cintura
até a lombar e subindo através dos multífidos até o atlas.
Como já citado, a manobra de bracing deve ser ativada antes mesmo da inclinação
do tronco ser iniciada. A manobra irá garantir uma co-ativação reflexa da musculatura
superficial anterior e profunda, lateral e posterior, mais especificamente dos músculos
reto do abdômen, oblíquo externo, oblíquo interno, transverso do abdômen, fascia
toracolombar e multífidos (ativam também os músculos intertransversos, músculos
profundos segmentados que atuam para comprimir verticalmente e horizontalmente todas
as vértebras de nossa coluna, dessa maneira estabilizando-a contra forças de
cisalhamento).
Garantindo a ativação do nosso núcleo, então podemos dar sequência a ação da
musculatura alvo, que envolve os adutores da escápula (rombóides e trapézio), grande
dorsal, deltoide posterior, redondo maior, redondo menor e infraespinhal. Porém, para
que a musculatura supracitada tenha ativação dentro da ordem correta, sincronizada e
eficiente, vocês devem se lembrar da ordem de ação das escápulas e do ombro...
lembraram? Vamos recordar!
Após a ativação do core e a correta flexão do quadril (dirigir o quadril para trás
enquanto ligeiramente inclina o tronco perfeitamente alinhado à frente), alinhe a cabeça
de acordo com a posição da coluna e então deixa as escápulas em posição de ligeira
abdução (apenas o suficiente para que não cause uma hipercifose torácica). Então dê
início a fase concêntrica, primeiro fazendo a máxima retração das escápulas, trazendo o
coto de ombro para trás das orelhas. Após sentir que as escápulas estão bem fixas contra
o tórax, é que o aluno deve então dar início a ação de extensão do ombro. Porém, um
grande erro é achar que por que fez uma leve movimentação das escápulas, já está
autorizado a movimentar o ombro.
É nesse ponto que muitos pecam, as escápulas mal se aproximaram da linha média
(leia-se coluna) e o sujeito já movimenta o ombro como se não houvesse amanhã. A
cinestesia é essa capacidade de saber/sentir onde está cada membro do seu corpo no
espaço sem que você precisa olhar para o mesmo. Isso é garantido pelos proprioceptores
osteomioarticulares. Para aguçar os sentidos cinestésicos, uma boa dica é posicionar-se

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de lado a um espelho, posicionar o corpo como se fosse executar uma remada e então
realizar a ação das escápulas, olhando bem para o coto do ombro para verificar o quanto
de movimento deve ser feito para trazê-lo para trás das orelhas, então grave essa
amplitude e execute algumas repetições sem olhar. Durante aproximadamente 10
repetições, olhe novamente para o espelho e verifique se o ombro está na posição correta
(atrás das orelhas), caso não, deve continuar praticando! É importante se concentrar na
máxima contração dos músculos retratores das escápulas (profundamente) para que não
haja risco de toda a ação ser guiada sem o mínimo de foco nessa musculatura, que se faz
muito importante para o equilíbrio da cintura escapular.
Outro ponto de muito equivoco é a amplitude da extensão do ombro (já citada). É
muito verdade que a amplitude de movimento é um fato chave na hipertrofia, entretanto,
como será citado no tópico PEITORAIS, há de se ter bom senso quanto a essa variável
do treinamento. Nem sempre mais é melhor, sendo menos, MAIS! Isso vale para o
exercício que estamos discutindo e para os demais exercícios. Primeiro que a extensão do
ombro ocorre a partir da flexão do ombro, ou seja, para estender o ombro, o mesmo é
preciso pelo menos sair da posição neutra para uma posição flexionada. Além disso, o
ponto onde ocorre a máxima contração do grande dorsal (músculo alvo, teoricamente) é
até onde o ombro encontra-se em posição anatômica, ou seja, ao lado do corpo.
Para que haja máxima ativação do grande dorsal, o ombro deve estar em 180º de
flexão, dessa forma, a musculatura irá trabalhar em um arco de movimento de 180º de
extensão. Caso essa amplitude seja excedida (os cotovelos passam para trás do plano da
orelha) o grande dorsal não mais será o músculo alvo. De fato, os músculos que
hiperestendem o ombro são: deltoide posterior e tríceps. Além disso, a medida que ocorre
a hiperextensão, o movimento passa a seguir uma direção contrária à das fibras do grande
dorsal (o ombro vai para trás e para cima, enquanto que os feixes do dorsal tem direção
oblíquo para dentro e para baixo), de tal forma que o músculo em questão para de ser
ativado, perdendo então toda a energia da contração (ou seja, perda de eficiência/perda
do pico de contração). Veja na próxima página a fase inicial e a fase final da remada
(aplique a mesma lógica paras outras remadas e com diferentes pegadas).

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INÍCIO FIM

Fase inicial e fase final


Com o núcleo ativado, a coluna alinhada, a cabeça neutra e os membros inferiores
encaixados em afastamento neutro (vide AFASTAMENTO DOS PÉS), perceba que as
escápulas estão ligeiramente abduzidas (vide ESCÁPULAS), basta olhar para bolinha
amarela representando o ombro e observar a distância entre ela e alinha amarela que
representa a projeção da orelha. Um equívoco aqui é iniciar com as escápulas
excessivamente abduzidas, o que consequentemente reflete numa hipercifose torácica
(arredondamento excessivo da coluna torácica – corcunda).
Vamos mudar um pouco o foco de ativação muscular e entrar no mérito postural.
Suponhamos que o sujeito seja um hiperficótico, que de praxe apresenta uma abdução
escapular excessiva (afastamento maior do que 5-7cm da linha média – coluna), tendo de
brinde um slide anterior umeral (vide OMBROS). Essa abdução escapular traz consigo
um aumento dos sarcômeros em série dos rombóides e também do trapézio
(principalmente feixes médios e inferiores), ou seja, o músculo torna-se mais alongado,
prejudicando então a capacidade de contração devido ao afastamento excessivo das
proteínas contráteis (actina e miosina). Além disso, músculos excessivamente alongados
apresentam um “delay” de ativação (leia-se atraso de ativação pelo SNC).
Então vamos pensar juntos, afinal duas cabeças funcionam melhor do que apenas
uma. Se um sujeito apresenta tal disfunção, não há lógica em permitir que na fase
excêntrica do movimento (volta do peso a posição inicial) as escápulas abram
excessivamente, pois, dessa forma o músculo perpetuará esse alongamento postural
mesmo que haja a contração dessa musculatura na fase concêntrica. Portanto, é
interessante utilizar a estratégia de La Pierre para este tipo de estrutura miotendínea, a
qual consiste na fase concêntrica completa, ou seja, com máxima retração das escápulas
e pico de contração e uma fase excêntrica incompleta, ou seja, as escápulas vão sair de
uma posição de máxima retração para uma posição neutra (vide ESCÁPULAS), não
permitindo que os ombros avancem e ultrapassem demasiadamente a projeção vertical da
orelha. Captaram a lógica?

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Evitando a uma fase excêntrica abusiva, onde as escápulas abrem excessivamente,
fazendo com a coluna torácica arqueie muito mais do que o natural, apenas irá garantir
que o indivíduo continue com esse padrão postural. Para que os sarcômeros extras
presentes nos rombóides sejam reduzidos, a fase excêntrica deve ser limitada ao ponto
que o músculo fique em comprimento normal. Da mesma forma, a fase concêntrica deve
fazer com que os sarcômeros sejam “esmagados”, por isso o pico de contração. Assim,
os sarcômeros adicionados pela sustentação do músculo em posição alongada começarão
a desaparecer, fazendo com que o músculo antes excessivamente alongado retorne ao
estado de comprimento ideal, favorecendo então o seu comprimento-tensão (músculo
encurtado tem capacidade de produzir força reduzida pela diminuição dos sarcômeros
disponíveis para contração, estando em comprimento de repouso menor que 100%, da
mesma forma, um músculo excessivamente alongado, que ultrapasse 120% de seu
comprimento de repouso, terá sua capacidade de força igualmente reduzida devido ao
afastamento excessivo das pontes cruzadas)
Falando agora do movimento do ombro, é possível notar na segunda imagem que
o cotovelo não fica alinhado horizontalmente com os ombros, estando os mesmos um
nível mais abaixo (veja o sentido da seta verde). Garantindo essa amplitude, não há risco
de o indivíduo acabar com um deslizamento da cabeça do úmero, principalmente se o
mesmo já apresentar essa disfunção. É o mesmo princípio utilizado acima, a limitação da
fase excêntrica as escápulas no caso de um sujeito hipercifótico. Vamos pensar juntos
novamente!
Posturalmente, alguém com uma protuberância aparente da cabeça do úmero é
qualificado como um indivíduo portador e slide anterior da cabeça do úmero (vide
OMBROS). O que ocorre em um movimento de ombros realizado por esse sujeito é uma
perpetuação desse “problema” devido ao excesso de amplitude, principalmente de
extensão do ombro. De fato, antes mesmo de chegar ao ponto de contração máxima do
movimento de remada, o ombro do sujeito já se apresenta anteriorizado, e caso o
movimento seja continuado, a tendência é um deslizamente ainda maior. Veja a imagem
abaixo para notar a cabeça do ombro bem rotuberante e inclinada para frente, quando na
verdade deveria estar neutra (sem inclinações).

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Recordem do que mencionei em páginas anteriores, onde citei que a amplitude
máxima para remada seria até o braço ficar alinhado ao lado corpo, onde caso houvesse
um excesso de movimento (cotovelos passando para trás e para cima) ocorreria um
movimento na direção contrária das fibras do grande dorsal. Pois bem, em indivíduos que
já apresentem esse quadro no ombro, a amplitude deve ser limitada até que o cotovelo
fica ligeiramente à frente do ombro (como na imagem da posição final da remada), para
que não ocorra um deslizamento ainda maior e esse quadro seja perpetuado.
Para finalizar esse tópico, lembrem-se sempre dos seguintes passos: ativar o
bracing; colocar o queixo para dentro, neutralizar as escápulas; direcionar a pelve para
trás e o tronco para frente sem perder as curvaturas e o bracing; afastar os pés em neutro;
rodar os joelhos para fora; deixar as escápulas ligeiramente abduzidas; iniciar o
movimento pela retração máxima das escápulas sem movimento o braço; logo em seguida
fazer o movimento do ombro até a amplitude máxima segura e ideal (reitero que nem
todos podem ter a mesma amplitude); dar início a fase excêntrica pela volta dos braços
enquanto as escápulas permanecem retraídas, até mais ou menos a metade do caminho;
então as escápulas devem ser liberadas a abduzirem ligeiramente (reitero que isso também
deve ser avaliado de indivíduo para indivíduo); então por fim o ciclo deve se repetir. É
importante ter em mente que nenhum outro seguimento do corpo deve se mover enquanto
o exercício estiver sendo executado. Apenas as escápulas e os braços devem estar sendo
utilizados, do contrário ocorrerão compensações sinergísticas e disfunções
musculoesqueléticos poderão ser perpetuadas e até mesmo novas disfunções poderão ser
criadas.

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25.4 PEITORAIS – independente das variações
Este músculo é de fato um dos, se não o mais preferível para se treinar por parte
do público masculino, entretanto, muitos caem na armadilha e no mito de que para se
desenvolver esse músculo em específico, é preciso altas amplitudes de movimento, como
por exemplo no exercício crucifixo com halteres, onde a maioria dos praticantes tem em
mente que é preciso encostar as mãos no chão na fase excêntrica para desenvolver ainda
mais esse músculo tão visado e tão mal treinado pela maioria.
A amplitude de movimento em geral deve ser muito bem pensada, pois nem todos
os indivíduos estão aptos a se movimentar em altas ADM’s, justamente pelo fato de a
maioria dos praticantes de musculação apresentarem encurtamentos e disfunções variadas
que refletem na incapacidade da articulação de se mover com segurança, eficiência e
máxima amplitude dentro dos padrões de normalidade. Portanto, tenha sempre em mente
as seguintes perguntas: Para quem? Quando? Porque?
É importante deixar claro que o Peitoral Maior atua na articulação do ombro e
somente nela, tendo esse fato anatômico em mente, podemos então questionar o motivo
de 99,9% dos praticantes de musculação utilizarem as escápulas no treinamento desse
grupo muscular. O que isso quer dizer? Nas imagens à seguir você irá notar como o
excesso de amplitude e a falta de técnica podem prejudicar o recrutamento do músculo
em pauta.
Até agora vimos como se deve executar os movimentos (iniciais e finais) nos
exercícios de costas (vide páginas anteriores), agora iremos começar abordando as falhas
nos exercícios para os peitorais e em seguida a maneira correta de se treinar os mesmos,
e como de costume, lembre-se que não existe regra geral, entretanto variações na posição
articular e o feixe muscular que se almeja priorizar podem fazer com que de fato regra
seja geral. Lembre-se que a lógica que será apresentada para se treinar o peitoral com
máxima eficiência e segurança deve ser aplicada a todos os exercícios que tangem o
desenvolvimento do mesmo.

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É notável o excesso de amplitude nesse exercício em questão, o famoso crucifixo.
Note como os cotovelos estão demasiadamente abaixo da linha dos ombros (linha
tracejada vermelha), ou seja, uma abdução horizontal excessiva (além dos 90º -
amplitude máxima para indivíduos normais e/ou indivíduos com disfunção motora – linha
tracejada verde). Para este último grupo citado eu me arrisco a dizer que 80º seriam o
suficiente, suficiente para que não corressem o perigo de entrarem em slide anterior (leia-
se ocorrer o deslizamento excessivamente para frente da cabeça do úmero, indo de
encontro a cápsula anterior e ligamentos glenoumerais, dessa maneira afrouxando-os com
o passar das repetições e séries diárias, semanais, mensais etc.)

Outro detalhe que podemos notar é a redução da alavanca do movimento, ou seja,


redução da distância entre a resistência e a articulação em movimento (distância entre a
bola vermelha e a amarela). Veja como o halter está mais próximo do ombro em
comparação com a imagem abaixo, onde se tem uma grande distância entre o halter e o
ombro, representando assim uma grande alavanca, significando então em maior trabalho
para o peitoral para vencer essa resistência. Um ponto que deve ser levado em
consideração é a tendência a rotação interna do ombro durante a fase excêntrica, onde
muitos permitem que o cotovelo gire para fora, favorecendo maior chance de impacto da
cabeça do úmero contra o processo coracóide, além de deixar o peitoral maior em
insuficiência ativa, prejudicando seu recrutamento e piorando uma disfunção associada
ao encurtamento desse músculo, como rotação interna de ombros e protrusão de ombros.

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Outro erro muito comum, dessa vez nos exercícios de supino (seja lá qual for a
variação a ser utilizada) é a posição do ombro que pode ser visualizada na imagem acima.
Com um pouco de atenção e da capacidade de visualização em 3D da posição das
articulações você será capaz de perceber que o ombro está mais à frente do que os
cotovelos, ou seja, os ombros estão excessivamente abduzidos, arrisco dizer que na
imagem encontram-se um pouco acima de 90º.
Desta forma, com essa excessiva abdução dos ombros, ou seja, os cotovelos
estando mais atrás do que a “cabeça” do ombro, há uma grande chance de compressão
dos tecidos moles adjacentes, mais especificamente do tendão da cabeça longa do bíceps,
tendão do supraespinhoso e Bursa subacromial. Essa constante compressão, a cada
repetição, tem a denominação de Síndrome de Impacto do Ombro, a qual pode gerar uma
macro lesão, como por exemplo rompimento do Manguito rotador, tendinite da cabeça
longa do bíceps e/ou bursite subacromial.
Entretanto, lembre-se do que citei previamente, nem tudo é uma regra geral, e aqui
cabe salientar que as chances dessas situações supracitadas aconteceram é maior em
indivíduos que apresentem disfunções na cintura escapular (o que é comprovado por
estudos com ressonância magnética e raio-x). Mesmo indivíduos altamente treinados
correm o mesmo risco de pessoas normais, entretanto, pelo fato de serem altamente
treinados a lesão pode demorar um pouco mais a dar “sinal de vida” o que também não é
nada bom, pois essa lesão quando der o “ar das graças” pode ser até 10 vezes pior do que
se fosse em uma pessoa comum.
Assim, reitero que todo cuidado é pouco quando se fala em treinamento resistido,
lembrando que estamos lidando com pessoas altamente DISFUNCIONAIS, com vários
desequilíbrios musculares, péssimo centramento articular, péssima propriocepção,
péssima ativação neural (essa ocorrendo de maneira rápida em músculos sinergistas
dominantes e extremamente lenta em músculos agonista e estabilizadores), com uma
rotina estressante e carregando altas cargas na musculação sem a devida orientação.

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Na imagem acima é possível notar uma ligeira diferença da imagem da página
anterior. Perceba como o cotovelo está verticalmente alinhado com o punho (seta preta
interligando a bola vermelha com a amarela), ou seja, dessa forma há uma segura
distribuição e dissipação da carga gravitacional e carga externa (halter) no antebraço.
Caso este alinhamento mecânico não fosse mantido, ocorreria o risco de desenvolver uma
lesão no cotovelo, mais comumente conhecida como epicondilite (podendo ser medial ou
lateral). Esta caracteriza-se como sendo uma inflamação nos ligamentos colaterais medias
ou laterais ou nos tendões dos músculos flexores do cotovelo, por compressão
(esmagamento) e/ou cisalhamento dos epicôndilos do úmero contra essas estruturas.
A seta amarela horizontalmente exposta, representa o alinhamento ideal da
cabeça, ombros/escápulas e coluna. Caso a imagem seja invertida, passando para uma
posição vertical, é possível notar que essa projeção vertical da orelha cruza o ombro bem
à frente do acrômio, o que significa que o ombro está em uma posição de retração (neutro),
indicando também que as escápulas estão aduzidas (assim estabilizadas). Note que a
projeção passa a frente da bolinha amarela, confirmando o que foi supracitado.
Agora analisemos e comparemos juntos a diferença de posicionamento dos
cotovelos em relação ao ombro, da imagem da página anterior e da imagem acima. É
nítido que os cotovelos estão à frente do ombro (olhe as bolinhas amarelas), o que
significa dizer que os ombros estão em uma abdução menor do que 90º. Em 90º de
abdução os cotovelos alinhan-se com os ombros, e acima de noventa graus os cotovelos
passam da linha do ombro, como no caso da imagem da mulher. Estando o ombro como
na imagem acima, em aproximadamente 70º de abdução, ocorre um melhor encaixe da
cabeça do úmero na glenóide, além de ocorre uma ativação maior do manguito rotador
para estabilizar ainda mais o ombro durante a cinemática do exercício, garantindo assim
a artrocinemática correta para que não ocorra impacto subacromial.

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A flexão de braço é muito utilizada nas salas de musculação e em exercícios
calistênicos (com o peso corporal), além de que era o exercício mais utilizado nas décadas
passadas visando o fortalecimento do peitoral. Entretanto, assim como mencionado nas
páginas anteriores (nos exercícios de supino), a imagem acima representa um padrão
laterado de movimento muito comum durante aa flexão de braço.
Analisando a imagem acima na qual o sujeito se encontra na posição inicial
(também é a posição final da fase excêntrica – descida), é possível notar um
desalinhamento de toda a cintura escapular bem como da coluna vertebral. Antes de
analisarmos os braços, veja que a cabeça se encontra apontada para frente e a coluna
cervical apresenta-se com sua curvatura acentuada (hiperlordose cervical), o que traz
inúmeras consequências, como já discutido em tópicos mais específicos., volte algumas
páginas e leia novamente para relembrar.
Outro detalhe da coluna é a acentuação da curvatura lombar (hiperlordose lombar
– seta acima da lombar)), isso devido a ação da gravidade sobre o indivíduo, fazendo com
que as vísceras sejam empurradas contra a parede abdominal, puxando as vértebras para
baixo. Isso pode ser evitado se o sujeito ativar a manobra de bracing e mantiver a mesma
ativa durante todo o decorrer do exercício, pois, de fato, a ativação do transverso do
abdômen em situações como essa, comprimem as vísceras num sentido antero posterior,
ativando a cama fascial mais profunda de nosso “cinturão”, dessa forma estabilizando o
centro do corpo e protegendo a lombar.
Por último, mas não menos importante, é nítida a distância entre a cabeça do
úmero e a projeção vertical que parte da orelha. Como já mencionado, a posição natural
do ombro é de 2/3 posterior à essa projeção, o que não está sendo respeitado na imagem
acima. Essa distância é caracterizada como sendo um slide anterior do úmero, algo
também já mencionado previamente. Para saber mais detalhes sobre essa disfunção, volte
algumas páginas e refresque a memória.

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Mudando nosso foco, agora vamos analisar a imagem abaixo, que represente o
final da fase concêntrica (subida). De fato, o posicionamento final não está dos melhores,
pois há ali uma abdução excessiva das escápulas, o que pode ser confirmado pela posição
da cabeça do úmero (círculo amarelo). Perceba que há uma grande distância entre a
cabeça do úmero e projeção que parte da orelha (linha pontilhada preta). Isso é muito
comum de se observar na execução do exercício em questão, principalmente para quem
não apresenta domínio sobre a cintura escapular no que tange a estabilização em posição
neutra ou aduzida da mesma (ação dos músculos adutores da escápula em isometria). A
abdução da escápula como apresentada na imagem traz outra consequência, que é o
aumento da curvatura normal da coluna torácica, de fato, as costas se apresentam bem
arredondadas (hipercifose torácica), algo nítido (veja a seta acima da coluna torácica)
Veja abaixo.

Imagem 1

É sabido que o principal abdutor da escápula é o músculo serrátil anterior,


obviamente que não é o único, entretanto, o mesmo se qualifica como sendo o motor
primário de tal ação devido a sua localização tamanho e sentido das fibras. Portanto, não
há lógica em se querer trabalhar o músculo peitoral maior (motor primário na flexão de
braço) fazendo o uso de uma musculatura que não deveria estar entrando de maneira
dinâmica na “jogada” (serrátil anterior na abdução). O que ocorre é que não mantendo a
escápula em posição de retração/adução durante todo o movimento, haverá então uma
perda de eficiência para tal musculatura devido a entrada de outros músculos acessórios
para executar a tarefa, justamente por que não se têm uma estabilização da escápula,
portanto, todos os músculos que participam da ação de abduzir a escápula participarão de
maneira dominante, como o peitoral menor por exemplo. A longo prazo, o que pode
ocorrer é a perpetuação de uma postura hipercifótica com escápulas abduzidas,
deprimidas e em “tilt” anterior (leia-se inclinação anterior). Na próxima imagem veja o
posicionamento correto ao final da fase concêntrica.

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Imagem 2

Escápulas encaixadas em retração para garantir o bom alinhamento da coluna e da


cabeça, além de permitir que haja eficiência máxima para a contração do peitoral maior.
Perceba também como a glenoumeral encontra-se bem posicionada com o prumo de
alinhamento, assim como as demais curvaturas da coluna. A seta apontada para o
abdômen refere-se a contração dessa região, vulgo bracing, durante a execução do
exercício para que a gravidade não empurre as vértebras para baixo e para frente, fazendo
com que todo o alinhamento seja perdido e predispondo o sujeito a lombalgias.
De volta a imagem 1... além disso, a excessiva abdução da escápula com ombros
em rotação interna, como pode ser visto na imagem anterior, contribui para a diminuição
do espaço subacromial, o que por consequência põe em risco a integridade das estruturas
moles que caminham por entre este estreito espaço. Dessa forma, a falta da atenção para
a execução dos exercícios para peitorais que envolvem adução horizontal e/ou flexão
pode comprometer a integridade da articulação glenoumeral bem como perpetuar alguma
disfunção presente na cintura escapular. De fato, a presença de fraqueza de serrátil
anterior e trapézio médio e inferior permite que o trapézio superior tome a ação principal
de estabilizar a escápula na fase excêntrica dos exercício de peitorais, e isso pode ser bem
visto na flexão de braço, onde a escápula tende a elevar-se e aproximar-se das orelhas,
isso devido a insuficiência de trapézio inferior e feixes inferiores do serrátil anterior que
tem como função segurar a escápula em posição mais baixa e neutralizar a força de
elevação do trapézio superior.
Por fim, cabe aqui salientar que a abdução da escápula no exercício exposto pode
ser utilizada para fins de reabilitação, como no caso de instabilidade do ombro, algo
inerente a essa articulação e/ou uma síndrome de impacto de ombro. De fato, executar
ativamente a abdução da escápula com foco em ativar o serrátil anterior pode ser benéfico
para a reativação dessa musculatura que se apresenta fraca em indivíduos com discinese
da escápula (principalmente na presença de alamento escapular/escápula de anjo), como
mostram muitos estudos na área da fisioterapia. Porém, é necessária muita precaução na
escolha de executar a flexão de braço com protração da escápula, principalmente em

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indivíduos iniciantes onde a falta de consciência corporal é inerente, podendo ocasionar
uma perpetuação da disfunção. É interessante evitar o uso da protração da escápula em
indivíduos que apresentam hipercifose torácica, que está diretamente ligada a uma
abdução escapular postural, podendo dessa forma agravar a situação, a qual traz inúmeros
malefícios tanto para a coluna quanto para a mecânica da cintura escapular. Abaixo veja
qual a lógica que deve ser aplicada no treinamento para os peitorais na fase concêntrica
(tendo em vista que a fase excêntrica foi detalhada em páginas anteriores). Escápulas em
constante contato com o banco (seta amarela). Dica: no momento de subida (adução do
ombro) execute concomitantemente uma adução das escápulas.

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25.5 DELTÓIDES
O deltóide é dividido em três “cabeças”, anterior, medial e posterior. Entretanto,
Kapandji (2000) nos mostra que na verdade o ombro é dividido em 7 fascículos, como
pode ser visto na imagem abaixo. O posicionamento do ombro vai influenciar diretamente
no recrutamento do fascículo no qual ele estiver direcionado durante o movimento. É
necessário ter em mente que o deltóide é um músculo que sofre com a desvantagem
mecânica, ou seja, a distância de sua inserção até o centro de rotação (eixo da articulação)
é muito curta em relação a distância da aplicação da resistência ao mesmo eixo. De modo
geral, mesmo pouca carga é suficiente para fadigar rapidamente esse músculo,
principalmente quando o membro superior está estendido, ou seja, com uma grande
alavanca. Este músculo pode ser mais bem trabalhado quando se aplica uma elevada
amplitude de movimento com máxima alavancagem (leia-se cotovelos estendidos do
começo ao fim) e a carga reduzida.

Referência da imagem: KAPANDJI, A. Fisiologia Articular: volume 1. 2000

Atuando no plano sagital, os fascículos I, II e III atuam na flexão do ombro


juntamente com peitoral maior, bíceps braquial e coracóide, e, o V, VI e VII atuam na
extensão do ombro juntamente com grande dorsal, redondo maior e menor e
infraespinhal. Já no plano frontal, o III e IV atuam predominantemente para exercer a
abdução da articulação do ombro. No plano transverso, no movimento de rotação interna,
o fascículo I apresenta-se como agonista mais favorável, claro, com participação dos
demais rotadores internos, sendo eles principalmente o grande dorsal e peitoral maior, e,
redondo maior (este de maneira mais atenuada, mas sem deixar de levar em conta, claro).
Na rotação externa, além dos principais rotadores externos do ombro, sendo infraespinhal
e redondo menor, o IV ao VII fascículo participam como agonistas nesse movimento (em
menor grau que infraespinhal e redondo menor justamente por não terem seus feixes
orientados de maneira mais favorável, como eles).

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Um grande equívoco ao se treinar os deltoides visando o seu desenvolvimento, é
aplicar uma alta quilagem e executar movimentos rápidos e parciais (incompletos). Como
já mencionado, o deltóide estará sempre em desvantagem mecânica e a resistência sempre
em vantagem. Tendo em vista que a articulação do ombro possui a filogenética de caráter
mobilizador, não há lógica em se utilizar tal articulação de maneira parcial, além disso,
tendo em vista a vantagem mecânica da resistência, não há sentido em empregar altas
cargas pois dessa forma o deltóide terá de contar com a ajuda de um sinergista para poder
erguer o membro.
Durante a elevação do membro superior (o termo elevação será usado sempre para
descrever o movimento de abdução e/ou flexão), o deltóide cria uma força que tende a
direcionar a cabeça do úmero para cima, contando, portanto, com a ajuda do sistema ativo
de estabilização para poder erguer o membro sem prejudicar a integridade articular. A
estabilização da cintura escapular se faz de extrema importância para que o deltóide atue
de maneira eficiente e possa ter o máximo recrutamento de suas fibras.
Ao se aplicar uma quilagem elevada, o sistema nervoso não será capaz de garantir
a estabilização da escápula para que o ombro seja mobilizado, dessa forma, o mesmo irá
prezar pelo que o sujeito almeja realizar, que é o mover. Mover e estabilizar cria uma
demanda no sistema nervoso de tal forma que altas quilagens tornam isso impraticável.
Mas, já que o intuito é mover, o SNC opta por esse desejo, e, dessa forma, ativa
determinadas musculaturas para atuarem em conjunto com o agonista do movimento. Isso
não é algo inteligente de se realizar, pois haverão compensações, e como já vimos em
páginas anteriores, nenhuma compensação é benéfica para o ser humano.
A ativação de musculaturas indesejadas poderá perpetuar um padrão de
movimento e recrutamento muscular alterado já existente, assim, agravando o caso até o
ponto de ocorrer uma possível lesão, sendo a mais comum a síndrome de impacto do
ombro. Em especial, existe uma musculatura que é muito recrutada pelo snc para auxiliar
o deltóide na presença de instabilidade da escápula e desequilíbrios musculares da cintura
escapular, o trapézio superior. É sabido que o ritmo escapuloumeral precisa estar bem
sincronizado para garantir a integridade física do ombro, entretanto, na presença de
desequilíbrios o mesmo se torna alterado, prejudicando tanto a integridade articular como
a utilização do deltóide, ponto em questão. Permitindo que a escápula esteja livre para se
movimentar no tórax na presença de discinese, a mesma não irá acompanhar com perfeita
sincronia o movimento do ombro
Não garantindo a prévia estabilização da escápula em posição neutra, o trapézio
superior será utilizado para substituir o serrátil anterior na rotação para cima da escápula
(fato inerente a discinese escapular), entretanto, ao invés de rodar para cima o trapézio irá
elevar a escápula, dessa forma, “quebrando” o eixo de rotação anteroposterior. A elevação
do membro superior então irá ocorrer concomitantemente com o encolhimento dos
ombros, devido ao trapézio superior auxiliar a elevação do úmero puxando o acrômio
para cima e para dentro (na direção dos feixes do trapézio superior).

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Assim, uma hiperatividade dessa musculatura será agravada, criando um efeito bola de
neve nos desequilíbrios da cintura escapular, inibindo ainda mais os estabilizadores fracos
e tornando a musculatura sinergista hiperativa, ainda mais hiperativa.
Se o desejo for realizar uma elevação lateral, elevação frontal, desenvolvimento e
similares, a dica é que em um primeiro momento seja realizada a estabilização da escápula
através da ativação de romboides e trapézio médio e inferior, posicionando-a em neutro
e mantendo-a dessa forma durante o decorrer do exercício. Dessa forma haverá então uma
base estável para que o ombro possa ser mobilizado sem que hajam movimentos
compensatórios da escápula, ou seja, não haverão sinergismos dominantes auxiliando o
deltóide, assim, o mesmo será maximamente ativado. Veja a imagem abaixo e percebe a
posição das escápulas durante uma elevação lateral com estabilização e sem
compensações, e note a tensão distribuída entre os três feixes do músculo trapézio.

A elevação lateral, se realizada no plano da escápula (abdução fisiológica), terá


como objetivo o recrutamento do II e principalmente do III fascículo do deltóide. No
plano frontal (abdução pura) novamente o III será recrutado, entretanto entrará no jogo
também o IV fascículo. Porém, tendo em vista a redução do espaço subacromial e o
posicionamento do tubérculo maior do úmero em na direção do ponto mais baixo do arco
coracoacromial, o uso do plano da escápula para os movimentos de elevação do membro
superior em indivíduos iniciantes e intermediários que apresentem relatos de dor no
ombro durante elevações e/ou que apresentem discinese escapular torna-se uma estratégia
mais inteligente, visando a preservação da integridade física do aluno além de seguir uma
recomendação geral da literatura pertinente ao assunto.

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Na imagem abaixo veja a diferença de uma elevação lateral sem estabilização das
escápulas e com dominância do trapézio superior, sendo então um movimento
compensado que perpetuará uma disfunção na cintura escapular além de ser um fator de
risco para o impacto subacromial. Note a tensão excessiva imposta no músculo trapézio
superior (seta mais acima) e a perda da contração isométrica do trapézio médio (seta do
meio) e do trapézio inferior (seta mais abaixo).

Acionar o manguito rotador antes do início do movimento (rodando o ombro


externamente) é uma outra estratégia valida relatos de dor no ombro por impacto precoce
(antes de se chegar aos 60º). De fato, indivíduos que se aventurem em iniciar e
permanecer no exercício com o ombro em rotação interna, apresentando discinese na
escápula, correrão grande risco de compressão do tecido mole adjacente. Portanto, para
máxima eficiência, ratifico: estabilizar as escápulas acionando romboides, trapézio médio
e inferior, rodar o ombro externamente (apontar o cotovelo ligeiramente para dentro) e
elevar o membro superior no plano da escápula (a grosso modo dizendo, na diagonal).
Veja abaixo a melhor estratégia para ser usada em quem relata dores no ombro durante a
elevação do membro superior. Dica: aponte os cotovelos para baixo e o polegar para cima.

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Falando em ombros, analisemos agora o exercício desenvolvimento (flexão de
ombros). Um grande equívoco nesse exercício, que pode ter fins lesivos e/ou de
desconforto na região anterior do ombro, é realiza-lo com os ombros em rotação interna
excessiva (mesmo em menor grau essa posição pode causar desconforto em quem tenha
relatado dores no ombro), desde o início da fase concêntrica até seu ápice, bem como
durante toda a fase excêntrica. Como bem vimos, a rotação interna associada a uma
abdução do ombro pode ocasionar o impacto precoce dos elementos moles do espaço
subacromial, principalmente em indivíduos que apresentam disfunção na cintura
escapular e já tenham relatado dores no ombro durante elevações do braço
(principalmente quando ocorre estritamente no plano frontal). Ratifico que não se deve
condenar a rotação interna em movimentos acima da cabeça e no plano frontal, entretanto,
há de se ter bom senso na escolha do exercício para quem irá realiza-lo, além de claro,
realizar uma prévia avaliação postural estática e dinâmica para verificar se o sujeito pode
realmente executar movimentos no plano frontal sem que hajam quaisquer danos a sua
integridade física.

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Na imagem abaixo você pode verificar como deve ser realizado o exercício
de desenvolvimento de ombros (flexão de ombros) de maneira mais segura para a
articulação do ombro. De fato, com o alinhamento vertical entre punho e cotovelos (seta
amarela), ou seja, com os ombros em rotação externa, o encaixe glenoumeral é melhor,
havendo maior congruência articular além de posicionar o tubérculo maior do úmero logo
abaixo do ponto mais alto do arco coracoacromial. Devido ao posicionamento da
resistência (barra) estritamente acima dos cotovelos não há carga sendo exercida nessa
articulação que possa vir a causar um ligeiro desconforto com o passar do tempo
(epicondilite medial). Caso a barra seja direcionada à frente dos cotovelos, e estes tornem
a apontar para trás, ou seja, o ombro entrar em rotação interna, toda a carga será
direcionada para a região medial do cotovelo criando uma força de tensão nos elementos
mediais do mesmo que tentarão resistir a força externa (é o que ocorre na imagem
anterior).

Outro ponto que deve ser levado em conta é o posicionamento dos ombros no
plano da escápula. Lembra do que foi mencionado em relação a esse plano? Sim, se parar
para analisar, verás que esse exercício nada mais é do que uma elevação do membro
superior no plano da escápula, apenas que no caso em questão os cotovelos encontram-se
flexionados, dessa forma reduzindo a alavanca do movimento e o braço de resistência, e
é por isso que nesse exercício a carga pode ser aumentada, já em contrapartida, na
elevação com cotovelo estendido a carga deve ser reduzida pelo aumento de quase o
dobro do tamanho da alavanca e do braço de resistência. Resumidamente, o
desenvolvimento nada mais é do que uma elevação lateral no plano da escápula com os
cotovelos flexionados. Para olhos mais afiados é possível notar que o úmero se encontra
direcionado para diagonal, ou seja, plano da escápula (seta branca). Na próxima página
você encontrará a imagem em perfil do desenvolvimento, mostrando tudo o que foi
descrito neste último parágrafo. Analise os ombros, cotovelos, punhos e coluna.

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Então, temos acima um posicionamento ideal para execução do
desenvolvimento, a qual deve ser utilizada mesmo que o exercício seja executado de
maneira livre (com barras ou halteres) e em maquinários específicos. Via de regra, ombros
no plano da escápula, ou seja, na diagonal (seta branca) e os punhos sempre acima dos
cotovelos e o inverso é verdadeiro, para que dessa forma não haja estresse medial nos
elementos moles da articulação do cotovelo, podendo desencadear numa possível
epicondilite medial. Como mencionado em páginas iniciais, a coluna deve estar alinhada
com suas curvaturas naturais preservadas, assim como mostra a projeção vertical da
orelha (seta amarela maior), passando por entre as vértebras cervicais, a frente das
vértebras torácicas e por entre as vértebras lombares, atentando-se para não acentuar a
lordose lombar ou invertê-la (posicionando a pelve em inclinação posterior). O perfeito
alinhamento da coluna será garantido pela manobra de bracing e pela prévia estabilização
das escápulas, por parte dos músculos trapézio e romboides.

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Muito usado nos treinos de deltoides, o exercício crucifixo inverso (abdução
horizontal cinesiologicamente falando) é muito mal compreendido e executado nas salas
de musculação. Antes de mais nada é preciso compreender que um músculo está preso a
duas extremidades ósseas, e que ao se contrair, o mesmo irá movimentar ambas estruturas
nas quais se insere em direção ao ventre muscular (centro do músculo). Portanto, para
que um músculo seja maximamente trabalhado, de maneira dinâmica, é sabido que o
mesmo precisa se alongar ao máximo (dentro dos limites anatômicos sem que prejudique
a curva de comprimento-tensão) e contrair-se ao máximo, dessa forma gerando um maior
potencial para hipertrofia.
Para que isso ocorra de maneira ideal, como descrito acima, uma das estruturas
nas quais o músculo se insere deve permanecer fixa (imóvel/estabilizada) enquanto a
outra estrutura se movimenta em direção a estrutura estática. Sabendo que a escápula é
uma estrutura chave de estabilidade onde fornece a base para origens e inserções
musculares (foi “desenhada” par ser utilizada como base fixa para os movimentos do
ombro) e que o ombro é uma articulação mobilizadora, além de que o deltóide posterior
se insere tanto na escápula quanto no úmero, podemos imaginar então como deve ocorrer
o movimento.
Primeiro entram as escápulas, estabilizado a origem do deltóide e servindo de
base estável para que então o ombro possa realizar a abdução horizontal, trazendo a
inserção distal do deltóide para próximo de sua origem na escápula, dessa forma tendo
máxima contração. Porém, o equívoco ocorre na fase excêntrica, onde o músculo é
comumento impedindo de se alongar ao máximo. Caso o indivíduo não mantenha as
escápulas fixadas contra o tórax enquanto o ombro volta a posição inicial, afastando a
inserção distal móvel de sua origem proximal fixa, o mesmo estará sempre em posição
encurtada, dessa forma prejudicando a curva de comprimento-tensão do músculo. De fato,
se o músculo é impedido de se alongar ao máximo, o mesmo também não irá se contrair
ao máximo devido a sobreposição de algumas pontes cruzadas (estado de insuficiência
ativa).
Então, para que tudo ocorra como foi “desenhado” pra ocorrer, é preciso ter em
mente que uma das estruturas nas quais um músculo se insere, deve estar fixa enquanto a
outra estrutura deve estar móvel, para garantir o máximo aproveitamento muscular
durante o arco de movimento, sem que o músculo entre em estado de insuficiência ativa
e perca sârcomeros que poderiam estar sendo utilizados em uma contração efetiva. Na
próxima página você encontrará tanto a maneira mais eficiente de se executar o crucifixo
inverso, quanto a maneira mais ineficiente. Obs: desconsidere o fato de a cobaia
apresentar uma escoliose, visualize apenas o que estamos conversando agora, as
escápulas!

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Note a contração isométrica que ocorre no músculo trapézio (todos os feixes)
com auxílio de romboides, para manter a escápula fixa (origem proximal do músculo
deltóide) representadas pelas setas amarelas. Estando a escápula estabilizada, então é
movido o ombro em abdução horizontal, contraindo ao máximo o deltóide posterior sem
que os músculos adutores da escápula entrem na jogada. Perceba que as escápulas se
mantiveram na mesma posição durante as fases do movimento, ou seja, apenas o ombro
se movimentou, o que reflete na ação única dos abdutores horizontais, sendo o principal
o deltoide posterior.

A perda de eficiência ocorre justamente no momento em que a escápula perda a


estabilidade, ou seja, abduz na fase excêntrica juntamente com o retorno do ombro para
a posição inicial. Nesse momento quem estará alongando serão os adutores da escápula
(trapézio e romboides) enquanto o deltóide estará em constante estado de pré-
encurtamento. Já na fase concêntrica o sujeito então fecha as escápulas
concomitantemente com o movimento de abdução do ombro, dessa forma trabalhando
mais os adutores das escápulas (que se alongaram ao máximo na fase excêntrica - perceba
o nível de abdução das escápulas na imagem à esquerda) do que o deltóide posterior que
deveria ser o alvo principal. Note como as escápulas permanecem ligeiramente abduzidas
no final da fase concêntrica, permitindo que o deltoide permaneça em posição de

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encurtamento em ambas as fases. Além disso, há o slide anterior do ombro no final do
movimento, outra consequência da maneira incorreta de se executar esse exercício.
A mesma lógica deve então ser aplicada aos demais exercícios para deltoides,
afinal, o que existem são variações dos mesmos exercícios citados nesta obra, alternando
apenas o ângulo inicial da articulação envolvida bem como o posicionamento do corpo
em relação a gravidade ou as máquinas, entretanto, os princípios citados aqui se encaixam
adequadamente às demais variações, afinal, as estruturas humanas não se alteram de um
para o outro. Portanto, não existe a velha estória de que pra uns isso pode ser diferente e
para outros não. O corpo humano é o mesmo, um integrado sistema miofascial regido por
alavancas.
Cabe aqui contar um ocorrido que aconteceu comigo nas redes sociais
(instagram). Eu patrocinei uma postagem na rede que se referia a maneira correta de se
executar abdominal infra, e as consequências de se executar a flexão de quadril ao invés
da flexão lombar (verdadeiro abdominal infra). Um certo rapaz, fisiculturista e
profissional de educação física (infelizmente) teve a bondade de comentar na publicação
que aquilo não existia, que realizar a flexão de quadril trabalhava sim o reto do abdômen.
E, de fato, trabalha, porém, de maneira isométrica, tanto é que mencionei isso na
postagem. Entretanto, contração dinâmica é mais benéfica a hipertrofia do que a
isométrica. Após eu explicar por A+B que o reto do abdômen não trabalhava
dinamicamente na flexão de quadril, o rapaz ainda sim se debatia no teclado do celular e
utiliza o “argumento” de que eu precisava sair os livros (triste fala) e ir mais para a prática,
que eu não tinha um “gominho” do abdômen aparecendo e portanto não poderia falar
sobre abdominal (não entendi o que uma coisa tem a ver com outra). Mas de qualquer
forma, eu continuei argumentando que o reto do abdômen só trabalharia com eficiência
se houvesse flexão da lombar ou da coluna torácica. Ainda assim o rapaz disse que aquilo
não se aplicava a todos, que algumas pessoas tinham sim ativação dinâmica do reto do
abdômen durante a flexão de quadril. Ou seja, ele disse que haviam pessoas que tinham
inserção do reto abdômen no fêmur, e não na sínfise púbica haha. Ser humano peculiar
esse, não? O que quero dizer com tudo isso é que não existe o fato de que em algumas
pessoas a mecânica dos movimentos pode ser diferente, com diferentes ações musculares,
pois todos somos iguais numa visão estrutural e de movimento. O que pode modificar o
movimento são as disfunções motoras, entretanto, a ativação muscular quando o
movimento ocorre numa articulação é a mesma em todos.

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25.6 BÍCEPS – independente das variações
O bíceps é um músculo bi articular, de fato, o mesmo possui um tendão em
comum das duas cabeças inserido no rádio, e tendões separados que possuem ligações em
distintos pontos na escápula. A cabeça longa do bíceps percorre o sulco intertubercular e
passa por dentro do espaço subacromial, similar ao músculo supraespinhal, para se
conectar ao lábio glenoidal e tubérculo supraglenoidal (lábio fibrocartilagonoso que
recobre a glenóide para garantir maior profundidade da mesma e dessa forma aumentar a
congruência da articulação glenoumeral). A cabeça curta possui fixação no processo
coracóide.
É interessante saber que na contração do bíceps, quando flexionamos o cotovelo,
a cabeça longa cria um vetor de “puxão” da cabeça do úmero, deprimindo-a, dessa forma
não há risco de que o ombro se eleve e haja impacto. Entretanto, devido à direção das
fibras da cabeça curta a partir de sua fixação no processo coracóide, durante uma forte
contração sem uma prévia estabilização das escápulas para sustentar o ombro, a mesma
puxa a escápula para baixo e para frente ao passo em que flexiona o cotovelo. De fato,
por ser bi-articular, uma musculatura que trabalha em duas articulações deve estar com
uma de suas fixações estabilizada, no caso em questão, a escápula como sendo uma
estrutura chave de estabilização tanto do ombro quanto da coluna deve estar em posição
neutra ou aduzida para fornecer uma base rígida e segura para a contração do bíceps.
O bíceps braquial apresenta características tônicas (não é regra geral), ou seja,
possui a tendência ao encurtamento assim como a grande parte dos músculos flexores
(lembram da tabela de Vladimir Janda?), e quando encurtado é um fator causal para a
inclinação anterior da escápula (tilt escapular), disfunção está caracterizada pela
inclinação da escápula para frente e para baixo, onde o ângulo inferior da mesma afasta-
se do gradil costal, se tornado protuberante e passivo de palpação sem dificuldades. É
claro que o bíceps não é o único fator desencadeador do tilt escapular, o peitoral menor
apresenta maiores chances para tal.
A maioria dos praticantes de musculação não conseguem treinar o bíceps (e
demais musculaturas) com mais eficiência pois negligenciam a função estabilizadora da
escápula e a posição angular do ombro. De fato, como essa musculatura atua tanto no
cotovelo quanto no ombro, realizando a flexão de ambos, qualquer mudança na posição
articular do cotovelo e/ou do ombro irá influenciar positiva ou negativamente na ativação
do bíceps braquial. Assim, para que o treino focado nessa musculatura seja mais eficiente,
além de seguro, leia com atenção as próximas páginas e aplique a lógica dos exercícios
que serão apresentados, nos demais para esse grupo muscular. Lembre-se que as variações
mudam apenas a posição articular do ombro, cotovelo e vetor resistência, mas a ativação
da musculatura será garantida por ações simples e diretas.

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É muito comum encontrarmos nos vastos salões de
musculação o seguinte “padrão geral de início de exercício”,
caracterizado pela postura cifótica lordótica, ou seja, escápulas
abduzidas e em tilt (inclinação anterior – note o círculo amarelo
em torno do ângulo inferior da escápula), cabeça anteriorizada
(seta vermelha no queixo), ombros deprimidos (note o
distanciamento do ápice do ombro à orelha), tórax deprimido
(seta amarela no peito), abdômen protruso (ptose abdominal
devido a hiperlodose – seta vermelha na barriga), hiperlordose
lombar (acentuação da curvatura lombar – seta amarela na
lombar) e por fim os ombros em rotação interna (fossa cubital
apontada para os lados ao invés de estarem estritamente
direcionadas para frente). De maneira resumida (acima), esse
padrão é encontrado tanto no grupo masculino quanto no
feminino, representado a perda de estabilização do cilindro
toracopélvico, pois, de fato, tão padrão é antagônico à eficiência
das musculaturas profundas estabilizadoras (transverso do
abdômen, multífidos, diafrágma e assoalho pélvico).
Tal posicionamento oferece grande risco para a
integridade do ombro, pois, de fato, a inclinação anterior da
escápula, em conjunto com a rotação interna de ombros e a
depressão das escápulas reduzem o espaço subacromial, o qual
já é estreito por natureza, especialmente em sujeitos com
disfunções na cintura escapular.
Além disso, como mencionado na página anterior, uma musculatura bi-articular
tende a puxar ambas fixações em direção ao seu ventre (centro do músculo), o que não é
algo interessante quando se pensa em eficiência do treinamento para o bíceps. A partir do
momento em que o exercício é iniciado sem a prévia estabilização das escápulas para
centralizar o ombro e dessa forma pré-estirar o bíceps, o mesmo tende a continuar
puxando os ombros para frente e para baixo enquanto concomitantemente flexiona o
cotovelo. O resultado final desse movimento é a perpetuação da postura cifótica lordótica,
além da perda da eficiência do bíceps, pois o mesmo não pode se contrair ao máximo,
fazendo uso de todas as unidades motoras disponíveis. O resultado final pode ser visto na
imagem da próxima página.

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É possível verificar o que foi exposto na página anterior, em relação a depressão
do ombro com inclinação para frente e para baixo das escápulas (vide linha vermelha na
escápula) e a perpetuação da postura cifótica-lordótica, de fato, a hiperlordose cervical
com anteriorização da cabeça, a depressão do tórax, a hipercifose torácica e a hiperlordose
lombar são evidentes. Dessa forma, a eficiência do exercício torna-se comprometida,
assim como a integridade dos tecidos moles circurdantes na região anterior do ombro. Na
imagem abaixo é possível visualizar a depressão torácica (setas amarelas no tórax),
juntamente com a rotação interna de ombros (seta ao redor do braço) e a depressão das
escápulas causando alongamento excessivo do trapézio (seta apontando para tal).
O “grande segredo” para a ativação do bíceps na verdade não é um segredo, é algo
que existe desde os primórdios, mais especificamente, desde o primeiro homo sapiens. E
esse segredo é a adução da escápulas e ativação do núcleo para estabilizar todo o cilindro
toracopélvico e evitar quaisquer compensações que possam auxiliar o cotovelo a se
mover. Não é mágica, não é terrorismo, não é invencionismo e nem charlatanismo, é a
pura e sincera aplicação dos conceitos da cinesiologia e biomecânica, como será visto nas
próximas páginas.

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Kapandji (2000) nos mostra de modo prático como o posicionamento dos ombros
(diretamente influenciado pelas escápulas) afeta de modo positivo ou negativo a ativação
do bíceps. Sabendo que a cabeça longa passa pelo sulco intertubercular e percorre um
longo caminho até o tubérculo supraglenoide, é fato que o posicionamento da glenóide e
do úmero irão influenciar em sua ativação.
Na imagem abaixo, a esquerda temos a escápula em vista superior e a cavidade
glenóide direcionada para a diagonal (plano da escápula). À direita temos a cabeça do
úmero em vista superior, bem como a visão superior do tubérculo maior (a direita) e
tubérculo menor (a esquerda), e entre eles podemos observar uma depressão (um sulco),
por isso chamado de sulco intertubercular, pois, de fato, situa-se entre ambos os
tubérculos do úmero. Caminhando pelo sulco podemos observar uma faixa, como uma
corda, esta representa a cabeça longa do bíceps braquial, passando pelo sulco
intertubercular até chegar a sua inserção na escápula.
Essa imagem representa o comprimento do tendão do bíceps quando o ombro está
posicionado em rotação interna, tal posicionamento em rotação está possivelmente
associado a uma abdução das escápulas. De qualquer forma, estando o tendão reduzido
em comprimento, é perdida a máxima eficácia da cabeça longa do bíceps (KAPANDJI,
2000), o que nos confirma o que foi citado em páginas anteriores. Iniciar o exercício com
ombros em rotação interna irá prejudicar a ativação do bíceps.

Referência da imagem: KAPANDJI, A. Fisiologia Articular: volume 1. 2000

Já com o ombro em posição neutra, como ilustrado abaixo, o tendão da cabeça


longa do bíceps apresenta um maior comprimento, dessa forma favorecendo a sua
máxima ativação, claro, se todo o restante do corpo estiver alinhado e pronto para fornecer
uma base sólida para tal. Perceba que de fato há um alongamento do tendão.

Referência da imagem: KAPANDJI, A. Fisiologia Articular: volume 1. 2000

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Nesta última imagem temos um posicionamento ainda melhor do tendão. Note que
os tubérculos estão voltados ainda mais para o lado, quase no plano frontal, esse
posicionamento está relacionado a uma rotação externa do ombro (cotovelos rodados para
trás e até ligeiramente para dentro). Esta ação não apenas garante um maior comprimento
do tendão, como também o pré-estira, permitindo que a sua eficiência na contração seja
supra máxima. O pré-estiramento de um músculo é uma técnica de intensificação de
treinamento que aumenta a eficiência da contração por deixar o músculo em torno de 120
a 130% do comprimento de repouso, havendo então um afastamento ideal das cabeças de
miosina com os filamentos de actina.

Referência da imagem: KAPANDJI, A. Fisiologia Articular: volume 1. 2000

Além disso, como mencionando em páginas anteriores, o ombro é uma articulação


extremamente móvel e altamente instável, havendo uma baixa congruência da
articulação, a qual é prejudica se não houver o ideal equilíbrio entre pares antagônicos e
o ideal posicionamento do úmero e das escápulas. Pois bem, vimos que a rotação interna
de ombros prejudica a contração do músculo por estreitar o tendão (primeira imagem
dessa trilogia apresentada). Além de estreitar o tendão, reduz a congruência da articulação
e favorece a perpetuação de uma postura cifótica com escápulas abduzidas e em
inclinação anterior. A rotação externa, além de aumentar o comprimento, pré-estirando o
bíceps e favorecendo uma maior contração, aumenta a congruência da articulação por
ativar os músculos do manguito rotador, os quais sabemos que são a estabilização passiva
da articulação do ombro. Portanto, é muito mais do que apenas retrair as escápulas e rodar
os ombros para fora, é garantir a integridade do executante e o melhor resultado possível.
Veja na próxima página o posicionamento ideal para iniciar uma contração do bíceps.

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Excelente posicionamento, diga-se de passagem. Brincadeiras a parte, o fio de
prumo (linha amarela) não deixa mentir. É nítido ótimo alinhamento, onde temos uma
cabeça neutra (queixo ligeiramente para dentro), preservando a lordose natural da
cervical; uma cifose torácica ideal, garantida pela estabilização das escápulas; uma
lordose lombar natural. Analisando em vista anatômica, o prumo passa por entre as
vértebras cervicais, pela frente das vértebras torácicas e por entre as vértebras lombares,
dessa forma, evitando que a gravidade atue de maneira desigual entre os eixos de rotação
da cabeça, tórax, lombar e quadril, assim, não havendo compensações musculares para
estabilizar o corpo.
O tórax está bem levantado, com o osso esterno apontado para frente e para cima
(note o volume dos peitorais), dessa forma as costelas superiores se encontram em posição
ideal, a frente das costelas inferiores, as quais estão atrás das superiores, permitindo uma
melhor função do diafragma. Outro detalhe importante pode ser visto na região da parede
abdominal. Perceba como a mesma se apresentada “achatada” como se estivesse pronto
para receber um soco. Essa é a confirmação da ativação do nosso núcleo, por meio da
manobra de bracing (ativação do transverso do abdômen, multífidos, assoalho pélvico e
diafragma). O ombro também está idealmente posicionado, de maneira neutra, bem
encaixado dentro da cavidade glenóide, garantindo dessa forma uma ideal ativação do
bíceps (como mencionado em páginas anteriores).

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A imagem acima representa o final da fase concêntrica, onde muitos costumam
cometer equívocos, como por exemplo levar o cotovelo muito a frente do ombro,
realizando dessa forma uma flexão do ombro em concomitância a flexão do cotovelo. É
sabido que o bíceps também atua como flexor do ombro, entretanto, como a flexão do
cotovelo está ocorrendo, e assim o bíceps está encurtando, o mesmo não atuará de maneira
efetiva na flexão do ombro, entrando em insuficiência ativa. Ou seja, a desculpa de que
flexionar o ombro (levar o cotovelo muito a frente) enquanto flexiona o cotovelo, irá
ativar mais o bíceps por que é uma ação que ele também realiza, é pura história da
carochinha. Os princípios do treinamento devem ser muito bem estudados antes de se
pensar em afirmar algo dessa maneira.
O flexor do ombro é o deltóide anterior (motor primário), portanto, se o deltóide
está sendo ativado é porque o sistema nervoso está dispendendo energia para tal ação,
quando deveria estar concentrando toda a energia para mover o cotovelo e ativar apenas
o bíceps. Portanto, para máxima ativação do bíceps o ombro não pode flexionar em
demasia, caso contrário, causará insuficiência ativa do bíceps, dessa forma perdendo a
eficiência do exercício.
Veja na imagem que o alinhamento ideal é mantido (o fio de prumo se mantém
igual à imagem anterior), escápulas aduzidas, bíceps sendo maximamente alongando
(devido a ligeira rotação externa do ombro); cabeça neutra com o queixo para dentro;
coluna torácica neutra; coluna lombar neutra; pelve em neutro; e por fim, note como a
caixa torácica continua elevada, estando as costelas superiores ligeiramente à frente das
inferiores (como deve ser), enquanto o bracing está ativado (barriga “chapada”).

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Analisemos agora a posição inicial e vista anterior, do modo efetivo e seguro de
se iniciar uma flexão do cotovelo para máxima ativação do bíceps. De primeira podemos
notar a seta apontando para o músculo trapézio, onde o mesmo se encontra com um ligeiro
volume, representando uma contração isométrica do mesmo para sustentar a cintura
escapular em neutro, juntamente com trapézio médio e inferior e romboides. Essa
estabilização é de suma importância para que não ocorra uma compensação por parte do
trapézio superior e peitoral menor no momento da contração (início da fase concêntrica).
A grande maioria tem a tendência de utilizar a musculatura estabilizadora da
cintura escapular para realizar o trabalho em sinergia com a musculatura agonista do
movimento. A tendência nesses casos é de inclinar a escápula para frente e para baixo no
momento do início da flexão do cotovelo, dessa forma, a musculatura estabilizadora
deixará de exercer seu papel, para se tornar um sinergista dominante. Ratifico que isso
não fará com que o bíceps não seja ativado, afinal está ocorrendo um movimento em que
ele é agonista (flexão do cotovelo), entretanto, a contração do mesmo está sendo auxiliada
por musculaturas que não deveriam fazer parte como motores. Um padrão postural em
que a escápula apresente inclinação anterior e depressão, slide anterior do úmero,
hipercifose torácica e hiperlordose lombar será perpetuado. Volte algumas páginas e veja
a imagem do exercício em perfil lateral, quando executado de maneira incorreta.

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A seta que aponta para o cotovelo indica que a fossa cubital está direcionada para
o lado, o que por lógica significa que o ombro está em rotação externa. Como mencionado
anteriormente, a rotação externa do ombro garante a melhor congruência da articulação
do ombro, além de tornar mais eficiente a contração do bíceps. Sem mencionar que dessa
forma o manguito rotador estará atuando para estabilizar a cabeça do úmero,
principalmente na fase excêntrica onde há a tendência da cabeça do úmero de deprimir
devido as forças externas (um dos papéis do manguito é puxar a cabeça do úmero para
cima).
A seta na região da parede abdominal indica que o bracing está ativo, sendo
confirmado pelo “desenho” da musculatura, mostrando a contração dessa região, útil na
estabilização da coluna para que não haja movimento compensatório, como por exemplo
o pêndulo que é executado pela maioria das pessoas.
Abaixo, veja a imagem do final da fase concêntrica. Perceba que o alinhamento
ideal visto na imagem anterior permanece, significando máxima ativação do bíceps, sem
sinergia por parte da musculatura estabilizadora da cintura escapular. Note as mesmas
setas, nas mesmas estruturas que na imagem anterior. Um detalhe importante é a seta no
braço, indicando que movimento ocorre numa diagonal, ou seja, que o mesmo está
ocorrendo assim devido ao posicionamento em rotação externa do ombro. Faça o teste
você mesmo: posicione-se de frente ao espelho, rode o cotovelo para fora (rotação interna
do ombro) e executa a flexão do cotovelo e veja que a palma da mão será direcionada
para dentro. Agora rode o cotovelo para dentro (como na imagem abaixo – rotação externa
do ombro) e executa a flexão, e veja que o movimento ocorre como na imagem abaixo.

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Outro grande exercício que pode ser visto com muita frequência, inclusive em
suas variações (como rosca spider por exemplo) é a rosca no banco Scott. Há uma grande
divergência de opiniões sobre o intuito de se realizar a flexão do cotovelo no banco scott,
alguns dizem que é para pegar mais a “parte de dentro do bíceps”, outros dizem que é
para pegar mais em cima e assim por diante.
Um grande erro ao se analisar um exercício, é ter uma visão local do mesmo, ou
seja, se é bíceps, analisa-se apenas o cotovelo, entretanto, esquecem que o bíceps possui
ação no ombro, portanto a posição do ombro irá afetar diretamente a ativação do bíceps
(como já previamente destacado), como no caso do banco scott. Tendo em vista que no
banco scott o ombro está posicionado em flexão (passiva – devido ao apoio), a cabeça
longa do bíceps se encontra em pré-encurtamento, ou seja, em insuficiência ativa, pois,
de fato, há ali uma sobreposição das cabeças de actina sobre as de miosina, reduzindo a
quantidade de sarcômeros disponíveis para contração. Se o bíceps faz flexão de cotovelo
e ombro, e o ombro já se encontra em flexão, só sobra a flexão do cotovelo para o bíceps
realizar, e irá realizar apenas com os sarcômeros que estão “sobrando”, que no caso são
os da porção distal do bíceps (região próxima do cotovelo). Faça o teste, posicione seu
ombro em 30º de flexão, mais do que isso é desnecessário, só irá dificultar o
posicionamento ideal da cintura escapular e coluna, prejudicando de maneira geral a
eficiência e segurança do exercício, além de que não irá influenciar em mais ou menos
ativação do bíceps. Sentiu a região próxima do cotovelo?
Analisemos a imagem na próxima página, a qual representa a maneira mais
comum de se ver os praticantes executando o exercício de rosca no Banco Scott, com
perda de eficiência e risco a integridade física no modo geral.

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A imagem represente a posição inicial do exercício. Reparem bem no fio de prumo
(linha amarela de projeção da orelha) e perceba que não há um bom alinhamento da
coluna, pelo contrário, a coluna está em uma completa cifose de toda torácica até o sacro,
onde o indivíduo está sentado sobre o cóccix e não sobre as tuberosidades do ísquio. Além
disso, repare que o olhar está direcionado para frente, fazendo com que a cervical tenha
sua curvatura acentuada (hiperlordose cervical). Outro detalhe importante são as
escápulas, veja a distância que se encontra o centro de rotação do ombro até o fio de
prumo, indicando excessiva abdução das escápulas, o que acarreta numa rotação interna
de ombros, e como vimo em páginas anteriores, a rotação interna dos ombros faz com
que a cabeça longa do bíceps perca a eficiência na contração, prejudicando, dessa forma,
a eficiência do exercício.
Indivíduos que insistem e iniciar o exercício com esse posicionamento farão uso
da musculatura estabilizadora como sinergista, sendo trapézio superior o principal a entrar
na jogada. Além disso, um indivíduo com Síncrome Cruzada Superior (JANDA, 1967) e
postura do tipo Sway Back (relaxado para trás), irá perpetuar tais padrões se insistir em
fazer esse tipo de exercício com esse padrão inicial. De fato, se os músculos e estruturas
estão posicionados de maneira errônea, com aplicação de sobrecarga, não resta outra
consequência se não a perpetuação da disfunção.
Sabendo que a musculatura flexora tem a tendência ao encurtamento (veja a
planilha citada no início), não há lógica em se executar um exercício com sobrecarga
posicionando esse tipo de musculatura em situação de encurtamento (insuficiência ativa).
Pense comigo, se tal musculatura está encurtada, como o peitoral maior por exemplo, qual
o sentido em realizar um exercício que posicione esse músculo num estado ainda maior
de encurtamento, e ainda por cima colocando cargas excessivas? Não resta outra
consequência.

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As imagens acima representam o final da fase concêntrica. Como mencionado, as
escápulas quando excessivamente abduzidas (havendo perda de estabilidade tanto do
ombro quanto da cabeça e da coluna), os ombros tendem a rodar interna (cotovelos
rodados para fora), como pode ser confirmado na imagem da direita. Veja que o
movimento ocorra numa obliquidade de fora para dentro devido a rotação interna. Em
rotação interna de ombros o bíceps perda eficiência e o cíngulo superior perde
estabilidade, além de que predispõe a articulação do cotovelo a uma possível epicondilite
(inflamação dos tecidos moles circurdantes por esforço repetitivo fora do eixo mecânico
dessa articulação).
Como já mencionado em páginas anteriores, se um exercício posiciona suas
estruturas de tal modo que você fique em uma posição desconfortável e/ou “engraçada”,
podemos fielmente afirmar que o exercício pode ser melhorado, e muito, como veremos
a seguir no mesmo exemplo do exercício supracitado.

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Bem diferente da imagem anterior, não é mesmo? De fato, todos os exercícios
podem ser melhorados e tornados mais seguros e eficientes com pequenas mudanças no
posicionamento das estruturas corporais. Para sair do alinhamento alterado apresentado
em páginas anteriores e chegar no que você pode ver acima, basta subir mais os cotovelos,
colocando-os no início do apoio, levantar a caixa torácica, aduzir as escápulas para
posicioná-las em neutro (uma ligeira abdução é aceitável), anteverter a pelve ligeiramente
para tornar neutra a curvatura da lombar, colocar o queixo para e direcionar o a cabeça e
o olhar no sentido em que se encontra toda a coluna, dessa forma a curvatura da coluna
cervical será neutralizada.

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25.7 TRÍCEPS – independente das variações
O tríceps é um músculo composto por três cabeças (lateral, medial e longa),
localizado na região posterolateral do braço. Diferentemente do bíceps, o tríceps ao
contrair-se produz a extensão do cotovelo, mas, apenas a cabeça longa do tríceps é capaz
de estender o ombro, além de realizar a rotação externa do mesmo. É devido a essa
capacidade biarticular do tríceps que as variações de exercícios para esse grupamento
existem.
De fato, ao se modificar a posição do ombro modifica-se o recrutamento dessa
musculatura, para mais ou para menos, mas apenas da cabeça longa, o qual tem influência
no ombro. Portanto, a movimentação do ombro está diretamente ligada a eficiência da
contração do tríceps cabeça longa. Esse fato acontece em todas as demais articulações do
corpo que sofrem influência de músculos biaticulares, como no caso do bíceps braquial,
que atua tanto na flexão do cotovelo quanto do ombro.
Um ponto que deve ser levado em conta quanto a execução dos exercícios de
tríceps é o tipo de pegada que será utilizada, podendo ser neutra, pronada ou supinada.
Há um grande erro que se difunde nas salas de musculação referente ao recrutamento do
tríceps quando se executa com determinada pegada. Isso não existe. O tríceps possui sua
inserção distal no olécrano (osso do cotovelo), e não no rádio (osso do antebraço). É
sabido que o movimento de pronação e supinação ocorre devido a um deslizamento do
rádio sobre a ulna estacionária.
Já que a ulna, onde o tríceps possui inserção distal, não se movimenta durante a
pronação ou supinação, não haverá modificação no comprimento do tríceps, portanto não
haverá mudança em sua ativação (nem para mais nem para menos). Basta olhar um atlas
de anatomia ou algum bom livro de cinesiologia, que perceberá que não há hipótese de o
tríceps sofrer influência na pronação ou supinação. Assim, ratifico que usar uma corda
(pegada neutra), usar uma barra reta, uma barra “V” ou pegar numa barra com a antebraço
supinado, não irá alterar a funcionalidade do tríceps. O mesmo terá a mesma ativação em
ambas as pegadas.
A única maneira de se aumentar ou reduzir a eficiência do trabalho o tríceps é
alterando a posição do ombro. Caso o objetivo seja uma maior ativação da cabeça longa
do tríceps, flexionar o ombro é uma excelente estratégia para isso. Caso seja “reduzir” o
potencial de contração do tríceps, o interessante é manter o ombro neutro (braço ao lado
do corpo) ou posicionar o ombro em hiperextensão (de até no máximo ~40º). Uma outra
estratégia interessante para se recrutar ainda mais a cabeça lateral e curta do tríceps, é
realizar uma rotação externa do ombro durante a extensão do cotovelo. Sabendo que a
cabeça longa do tríceps também é um rotador externo do ombro (fraco mas é), iniciar a
extensão do cotovelo com o ombro em rotação interna e finalizar a extensão com o ombro
em rotação externa (colocará o tríceps em LIGEIRA insuficiência ativa), dessa forma

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favorecendo mais as outras duas cabeças desse músculo, que são apenas extensoras do
cotovelo.

A imagem acima representa um padrão de execução muito comum visto nas salas
de musculação. Aparentemente os sujeitos que praticam a musculação (a grande maioria)
acham que o corpo foi feito apenas para empurrar e/ou puxar (me atrevo a usar aqui uma
analogia com um boi arando a terra ou um guindaste movimentando os containers nos
portos). Se nosso corpo fosse simplesmente projetado para mobilizar cargas, não haveria
necessidade do estudo aprofundado da cinesiologia, que tem como papel otimizar o
movimento com segurança dentro dos padrões anatômicos exigidos.
Em primeira mão é visível a perda das curvaturas fisiológicas da coluna, dando
ênfase aqui no excesso de cifose torácica. Se você parar para pensar um momento,
refletirá que em indivíduos que já apresentam hipercifose torácica com rotação interna de
ombros, esse tipo de padrão de execução fará com que esse padrão postural seja
perpetuado, não concorda? O padrão postural alterado será mantido não só pela
manutenção dessa postura durante a execução do exercício, mas sim devido aos fatores
que serão expressos abaixo.
É sabido que a hipercifose torácica com ombros em rotação interna é causa
primariamente pelo encurtamento da musculatura anterior do tronco, mais
especificamente do peitoral maior e menor e da fáscia esternocostal, sem descartar o papel
do grande dorsal e redondo maior como rotadores internos dos ombros que indiretamente

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alteram o posicionamento da escápula por meio da alteração do posicionamento do ombro
dentro da fossa glenóide da escápula. Na deficiência de estabilização proximal (escápulas
e ombros) durante a execução da extensão do cotovelo (exercícios de tríceps), a tendência
natural do sistema nervoso é utilizar movimentos acessórios para auxiliar o tríceps a
executar o movimento. Isso é claramente visto nas salas de musculação, principalmente
por iniciantes que apresentam disfunção na cintura escapular.
O movimento acessório mais comum utilizado como artimanha pelo sistema
nervoso, na falta de estabilidade das escápulas e ombros, é a abdução e inclinação anterior
da escápula em concomitância a extensão de cotovelo. De fato, é possível perceber que o
sujeito encurva o tronco a frente a afasta excessivamente as escápulas durante e
principalmente ao final da fase concêntrica, visto na imagem anterior. Como supracitado,
peitoral maior e menor, grande dorsal e redondo maior serão as musculaturas utilizadas
de maneira acessória para auxiliar o tríceps, pois, de fato, ocorre uma abdução das
escápulas com rotação interna de ombros. Somado a isso haverá a maior tendência a
rigidez dos tecidos anterior do tronco devido a flexão anterior do tronco que também
ocorre como movimento acessório, piorando um quadro de depressão da caixa torácica,
fazendo com que as costelas superiores sejam direcionadas para baixo e para trás e as
costelas inferiores para cima e para frente, invertendo o posicionamento anatômico dessas
estruturas.
Portanto, se um sujeito altamente disfuncional executar um exercício de tríceps da
mesma forma que a imagem acima, com os movimentos acessórios também já
mencionados, o padrão cifótico com rotação de ombros e inclinação anterior da escápula
serão perpetuados. Além da perpetuação a disfunção, todo o trabalho do tríceps será
roubado por essas musculaturas que entram acessoriamente, fazendo com que a eficiência
do exercício seja completamente perdida... e depois reclama por que os músculos que
tanto treinam, não crescem.
Abaixo você pode visualizar a maneira mais eficaz de se executar grande parte
dos exercícios de tríceps na polia. Se você parar para pensar um instante, irá notar que
durante todo o decorrer desta obra as escápulas receberam grande atenção, e de fato são
uma peça chave na segurança e eficiência de todos os exercícios para membro superiores
(e inferiores também como verá a seguir). Uma simples reposicionamento das escápulas
gera uma reação em cadeia em todo o bloco superior de nosso corpo (leia-se coluna,
cintura escapular, ombros e cabeça), é o prova mais prática do conceito de tensegridade,
não há como ignorar que nosso corpo não funciona de maneira isolada mas sim de
maneira global, sendo interdependente (leia-se todas as estruturas dependem umas das
outras para garantir o melhor alinhamento e mecânica do movimento possível).

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É nítida a diferença de alinhamento entre a imagem acima e a primeira imagem
mostrada no início deste tópico. Como de praxe, o alinhamento da coluna só será possível
com o correto posicionamento da escápula no tórax, preferencialmente com esta em
retração se o executante possuir um padrão hipercifótico acentuado. É muito comum
ocorrer compensação nesse exercício, como previamente descrito, então o alinhamento
ideal antes de iniciar se faz imprescindível para amenizar essas compensações além de
facilitar a execução correta com algumas dicas que irei dar agora.
Após posicionar as escápulas em retração não adianta simplesmente estender o
cotovelo na esperança de que o movimento acessório do ombro não irá ocorrer, pois irá,
caso você não aplique força isométrica nos romboides e trapézio médio para estabilizar a
escápula e mantê-la colada no tórax durante a extensão do cotovelo. Ainda sim há a
possibilidade de ocorrer uma ligeira depressão dos ombros (o coto do ombro dá uma leve
deslocada para baixo quando o cotovelo é estendido). Para anular o efeito depressor
gerado pelo peitoral menor, o que posso sugerir é que tente retrair e elevar as escápulas
no momento da extensão do cotovelo, assim a fibras posteriores do trapézio superior irão
anular o vetor depressor do peitoral menor, mantendo a escápula estática. Com a escápula
estática e apenas o cotovelo flexionando e estendendo a eficácia do tríceps é acentuada e
a segurança do complexo do ombro é garantida, sem que a caixa torácica seja deprimida
pela abdução e depressão das escápulas na fase concêntrica.

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Com as dicas que foram dadas na página anterior, o posicionamento final o
exercício pode ser visto na imagem acima. Escápulas em posição neutra (a posição de
retração deve ocorrer em quem apresenta hipercifose acentuada). O posicionamento
neutro das escápulas só deve ser mantido por quem possui consciência corporal suficiente
para conseguir executar o exercício sem o uso de movimentos acessórios, além disso,
para garantir o posicionamento em neutro faz-se necessário consciência da ativação do
serrátil anterior para que o mesmo possa “colar” as escápulas contra o tórax. Abaixo você
pode ver o resultado do mal alinhamento articular e como consequência uma fase
concêntrica pouco eficiente na qual perpetuará um quadro a disfunção já instalado

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25.8 TRÍCEPS “MERGULHO”
Esse é outro grande campeão de erros, além de ser mal interpretado e periodizado
(encaixado na sessão) nos treinos. De fato, ocorre uma ativação do peitoral e do deltoide
anterior, devido a direção do movimento e dos feixes desses músculos, entretanto, é
majoritariamente um exercício para o tríceps. Vemos muitas pessoas inclinando
excessivamente o tronco a frente para executá-lo, sem necessidade, afinal, essas máquinas
geralmente vêm com um banco para que se apoie as costas, e é para isso que ele serve,
não é para ficar com o peito encostado nos joelhos. Bom senso.
A amplitude excessiva de extensão do ombro é uma causa dinâmica do slide
anterior, lembre-se que a extensão do ombro deve ocorrer até que o braço se alinhe com
o corpo, e em alguns sujeitos o slide ocorre até mesmo antes desse posicionamento limite
devido a gravidade da disfunção. O tríceps mergulho exige um ligeiro grau de
hiperextensão do ombro, este que não deve ultrapassar os seus 30-50º (Kapandji, 2002) a
depender do indivíduo executante. Porém, vemos que a grande maioria ultrapassa essa
amplitude fisiológica. Se há sujeitos que mesmo com a adução da escápula não
conseguem evitar o slide do ombro antes da posição anatômico do braço ao lado do corpo
durante a extensão do ombro, imagina se esse mesmo sujeito executar o tríceps mergulho,
onde se exige a hiperextensão do ombro? O mesmo já irá iniciar o exercício com a cabeça
do úmero praticamente deslocada da glenóide, quase furando a pele (brincadeiras a parte).
E para completar, esse mesmo sujeito leva o ombro numa hiperextensão acentuada (>30º),
achando que irá recrutar mais a musculatura, entretanto, o que se está recrutando
verdadeiramente é a cápsula anterior do ombro e os ligamentos glenoumerais.
Uma ardência na região anterior do ombro poderá ser sentida e relatada por esse
indivíduo, o qual irá pensar que está no caminho certo, associando a ardência com
recrutamento do peitoral maior e deltoide anterior. Ledo engano. O esforço parte
majoritariamente da cápsula e ligamentos que estão sendo perigosamente estirados
durante a fase excêntrica. O slide anterior será perpetuado nesse aluno além de poder
causar lesões a curto e longo prazo à nível de ombro.
O uso desse exercício deve ser pensado, pois nem todos estarão aptos a executar,
principalmente n presença de anormalidades no posicionamento do ombro. Uma maneira
de torna-lo eficiente é começar posicionando as escápulas em retração e mantendo o
tronco ereto apoiado no banco. Após isso é interessante que se oriente ao aluno para que
tente levar o punho cima enquanto abaixa os cotovelos, dessa forma a amplitude de flexão
de cotovelo será acentuada e hiperextensão do ombro será reduzida, tornando mais forte
a contração do tríceps devido ao estiramento na flexão do cotovelo. É regra que não se
permita ultrapassar 30º de hiperextensão para não ocorrer tudo o que foi supracitado. A
dica de levantar o punho e não o cotovelo irá auxiliar no controle dessa amplitude,
reduzindo os riscos de slide anterior e consequentemente de lesão no sistema passivo do
ombro (cápsula e ligamentos).

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MEMBROS
INFERIORES
Nesta parte iremos entender um pouco do funcionamento da
articulação do quadril e da articulação do joelho durante os exercícios,
também daremos uma pincelada em como deve ser o alinhamento da pelve
para baixo durante os exercícios.
Serão revisadas apenas os exercícios mais básicos e mais utilizados
dentro das academias. Entretanto, a lógica que será apresentada nesses
exercícios deverá ser aplicada aos demais exercícios do grupo muscular,
pois, de fato, o que difere um exercício de outro é a posição articular da
pelve, quadril, joelho etc.
As musculaturas abordadas a seguir serão quadríceps; isquiotibiais
e glúteos.
Obs: o que será abordado são lógicas que foram criadas por mim a partir do
conhecimento sobre Cinesiologia, Biomecânica e Anatomia. Você, leitor, tem todo o
direito de questionar as informações aqui mencionadas, contatando-me pelo
[email protected]. Estarei à disposição para esclarecer qualquer
dúvida, e estou disposto a ouvir todas as críticas.

BONS ESTUDOS!

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26.1 QUADRIL e JOELHO
Como vimos no tópico sobre o ombro, a articulação do quadril é similar ao mesmo
no que tange a arquitetura e funcionalidade. Sendo formado pelo fêmur e pelo acetábulo,
a articulação do quadril apresenta a característica de bola e soquete, sendo a cabeça do
fêmur a estrutura convexa que se conecta ao acetábulo côncavo. A diferença estrutural
entre a articulação do ombro e a do quadril é a congruência. De fato, a cabeça do fêmur
representa uma esfera quase completa (2/3) e o acetábulo é um tanto mais profundo do
que a cavidade glenóide, podendo dessa forma acomodar muito bem a cabeça do fêmur,
garantindo que haja uma maior área de contato entre essas duas estruturas.
Outro detalhe que garante a ótima congruência dessa estrutura é o suporte passivo,
ou seja, os ligamentos circudantes, que diferente dos encontrados no ombro, são maiores
e mais espessos. Além disso, o suporte ativo não poderia deixar de ser mencionado como
o outro fator determinante para a estabilidade dessa articulação, de fato, os músculos que
cincurdam o quadril e a pelve são grandes e espessos, além de possuírem grandes braços
de momento que junto ao sistema passivo (principalmente ligamento iliofemoral, este
sendo o maior e mais forte ligamento do quadril) fornecem uma ótima fonte de
estabilização.
Apesar de possuir uma estrutura de bola e soquete, essa articulação não oferece
tamanha mobilidade como o ombro, justamente pela profundida do acetábulo, o que
limite a excursão da cabeça do fêmur. Como visto no ombro, não há limitação para a
excursão da cabeça do úmero por não haver estruturas ósseas circurdantes, além do teto
da articulação (acrômio), porém este se encontra em uma posição que favorece uma ampla
amplitude de movimento do úmero até que se choquem. Já no quadril, o acetábulo
profundo acomoda a cabeça do fêmur de tal forma que ultrapassar determinada amplitude
de movimento predispõe o colo do fêmur a se se chocar com as bordas externas do
acetábulo, principalmente se houver uma anormalidade no posicionamento do acetábulo
ou dos ângulos do fêmur (ângulo de anteversão/retroversão e inclinação do fêmur; ângulo
centro-borda do acetábulo e ângulo de anteversão do acetábulo).
O joelho é uma articulação do tipo dobradiça, ou seja, movimenta-se apenas numa
direção, o chamado eixo mecânico do joelho (veremos a seguir). A estabilidade do joelho
é garantida localmente pelos ligamentos circundantes, sendo eles: ligamento colateral
medial e lateral, fibras do retináculo patelar medial e lateral, cápsula articular e tendão
patelar. Além disso, ele conta com o sistema ativo de estabilização (músculos), sendo
eles: músculo quadríceps (especificamente vasto medial e lateral) e pelos isquiotibiais,
ambos trabalhando em sinergia para centralizar a patela na tróclea do fêmur. Na presença
de encurtamento dos isquiotibiais o quadríceps apresenta-se inibido, dessa forma o joelho
perde a estabilidade, sendo suscetível a movimentos direcionais para o lado que apresente
maior torque. Normalmente o vasto medial oblíquo se apresenta inibido e atrofiado em
indivíduos com relato de dor anterior no joelho. De forma global (longe da articulação do
joelho), quem garante sua estabilidade é a musculatura abdutora do quadril,

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especificamente o grupo OOGGPQ e os glúteos (todos). Falta de força nessas
musculaturas foram encontradas em indivíduos com condromaláscia e instabilidade do
joelho. Qualquer anormalidade no padrão de movimento do joelho irá acarretar numa
lateralização da patela (principalmente em indivíduos com joelho em valgo), e
consequentemente desfaste da cartilagem articular da patela e do fêmur).
As musculaturas que tem o papel de estabilizar o quadril são os músculos
rotadores externos, abdutores e extensores do quadril, trabalhando com os rotadores
internos, adutores e flexores do quadril. Já nos joelhos, localmente o quadríceps e os
isquiotibias atuam para estabilizá-lo. É importante lembrar que o posicionamento do
quadril é diretamente influenciado pelo posicionamento da pelve. Além disso, foi
identificado excesso de mobilidade na região lombar na presença de perda de mobilidade
do quadril. Da mesma forma, a instabilidade no joelho está diretamente ligada a perda de
mobilidade de quadril. E, a perda de mobilidade no tornozelo está diretamente ligada a
falta de mobilidade no quadril. Como dito em páginas anteriores, tudo funciona como um
mecanismo de reação em cadeia, ou seja, perda estabilidade em um canto e ganhe
excessiva mobilidade em outro canto (tudo numa tentativa de manter o movimento do
corpo).
Além disso, o correto posicionamento e funcionalidade do quadril está
diretamente ligado a estabilidade e funcionalidade do joelho, como veremos a seguir.

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O posicionamento em rotação interna dos quadris (quando o fêmur roda para
dentro – seta amarela grande) os joelhos são automaticamente tirados de seu eixo de
atuação, onde a patela é então direcionada para dentro (joelho valgo – seta menor ao lado
do joelho) e os pés desabam para dentro, fazendo com que todo peso corporal e de reação
ao solo seja direcionado na parte de dentro do pé (seta curvada), como pode ser visto
acima. Além disso, é de praxe encontrarmos um ou ambos os pés pronados em sujeitos
com rotação interna dos quadris e joelhos em valgo.
No sexo feminino esse fato é tipo de padrão dos quadris e joelhos é mais comum
de ser encontrado, pois, de fato, a mulher apresenta a pelve mais larga que a do homem
(por conta dos bebês), isso faz com que o ângulo de inclinação do colo do fêmur seja
aumentado neste sexo, do contrário, as coxas das mulheres seriam muito afastadas uma
da outra (o que não seria algo bonito). Entretanto, não é regra geral, mas sim uma
tendência, muito confirmada por sinal. Além disso, tal largura da pelve, que influencia no
posicionamento do fêmur, influencia também um outro ângulo, denominado ângulo Q.
Este por sua vez é um parâmetro a ser utilizado para identificar as chances de se
desenvolver complicações nos joelhos, bem como para identificar a gravidade da
disfunção (quanto maior o ângulo maior a chance de lesão). Tal ângulo é formado por
uma projeção vertical traçada a partir da tuberosidade da tíbia e uma outra projeção
traçada pelo corpo do fêmur (em sentido oblíquo é claro).
Mas então, quem ou quais são os responsáveis por tal alinhamento defeituoso? É
elementar meu caro Watson. A fraqueza dos músculos abdutores do quadril e dos 6
rotadores externos profundos – OOGGPQ (obturador interno, obturador externo, gêmeo
superior, gêmeo inferior, piriforme e quadrado femoral), combinado a tendência das
mulheres de apresentarem maior ângulo de inclinação do colo fêmur, além dos músculos
adutores do quadril apresentarem um braço de momento maior que dos abdutores,
permitem que o fêmur seja puxado para dentro. Somado a tudo isso, as moças têm o
péssimo hábito de sentarem constantemente com as pernas cruzadas e de usarem salto
alto. Sim, o hábito de sentar com as pernas cruzadas por períodos prolongados traz essa
consequência. Mas você pode até discordar disso num primeiro momento, mas te convido
a pensar da seguinte forma: quantos minutos/horas por dia as meninas ficam com as
pernas cruzadas? Agora some quantas vezes na semana isso ocorre, agora acrescente
quantas semanas fazem, agora some os meses e por último os anos. Será que 45
minutinhos safados na musculação (e de maneira errônea ainda por cima) serão capazes
de apagar todo um histórico de disfunção? E ainda insistem que alongamento não serve
para nada. Você também pode pensar que esse padrão não tenha “conserto”, pois como
dito, a pelve naturalmente nasce mais larga nas mulheres, portanto, é algo estrutural, e
algo estrutural não é possível de ser alterado se não por procedimento cirúrgico.
O uso do salto alto encurta de maneira crônico a região da panturrilha, dessa forma
posicionando o tornozelo em flexão plantar, o que ascendentemente desloca o centro de
gravidade para frente, fazendo que a pelve assuma uma posição de anteversão
(empinada), criando aí um encurtamento/rigidez crônica da musculatura paravertebral.
Em anteversão os músculos adutores e flexores curtos são posicionados em estado de

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encurtamento, o que favorece ainda mais o aumento do ângulo Q e a inibição recíproca
dos glúteos e OOGGPPQ, perpetuando, dessa forma, a postura lordótica com joelhos
valgo e pés pronados.
O joelho em VARO é a consequência dos fatos inversos do que foi citado
anteriormente, literalmente. O ângulo Q reduzido, ângulo de inclinação do colo do fêmur
reduzido, ridigez da cápsula posterior do quadril e dos rotadores laterais, pelve estreita
etc, todos são fatores contribuintes para uma postura com joelhos varos, pés supinados e
postura em retroversão pélvica. Na maioria de meus alunos que possuem joelho varo o
seguinte quadro foi encontrado: relato de dor na região do piriforme, rigidez descomunal
na cápsula posterior do quadril, rigidez dos rotadores externos e abdutores do quadril,
pelve em retroversão com postura de dorso plano ou sway back. Alguns alunos relataram
dores na região medial do joelho devido ao impacto ósseo entre o côndilo femoral medial
e platô tíbial medial. É possível encontrarmos sujeitos com joelho varo e pés supinados,
porém com a pelve em anteversão. Veja abaixo o joelho varo.

Compare a imagem acima com a imagem da página anterior, e veja que o que foi
dito em relação ao sexo e sua influência na postura se confirma perfeitamente, entretanto,
lembre-se que não é regra geral. Na imagem acima é possível ver o arqueamento dos
membros inferiores, ou melhor, o afastamento entre as coxas. Isso é praxe em quem
apresenta a pelve em retroversão com a curvatura lombar retificado ou invertida. O
indivíduo em questão apresenta joelho varo com rotação externa dos quadris e pés
supinados, além de retificação lombar com postura de dorso plano. Veja que o fêmur está

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direcionado par fora e abduzido, com ângulo de inclinação do colo de fêmur reduzido,
compare a inclinação da seta na coxa com a da imagem anterior do joelho valgo.
posicionando a patela lateralmente (veja a direção das setas).
De maneira a resumir o que aqui foi expresso à respeito das anormalidades em
valgo ou varo dos joelhos, pode-se dizer que para identificar uma anormalidade no
posicionamento dos joelhos com mais clareza para quem não possua os olhos já
previamente treinados pra identificar a disfunção no momento em que visualiza o
paciente, deve-se traçar um ângulo entre o fêmur e tíbia, onde após quantificado tal ângulo
é possível afirmar se o joelho apresenta valgismo ou varismo. Ratifico aqui que nós (seres
humanos até onde sei) apresentamos um valgismo fisiológico, possuindo um ângulo entre
fêmur e tíbia de aproximadamente 170º a 175º (esta quantificação representa uma diretriz
a ser seguida). Uma angulação abaixa de 170º representa um joelho valgo, assim como
ângulo maior este representa um joelho varo.

Referência da imagem: NEUMANN, Donald. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:


fundamentos para reabilitação. 2011

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26.2 EIXO MECÂNICO DOS MEMBROS INFERIORES

Pode até parecer estranho, “eixo mecânico”, mas de fato o sistema mioarticular
do corpo humano funciona a base das leis da física, mais espeficicamente da mecânica.
No fêmur, entre os côndilos, existe uma “passagem” conhecida como tróclea, esta é uma
espécie de trilho por onde a patela se movimenta. Pense exatamente num trilho de trem e
como este se movimenta de maneira linear sobre os mesmos. Caso o trem saia do trilho,
o que ocorre é uma perda do eixo de movimento do vagão, e o que acontece todo sabem,
o vagão ou até o trem inteiro saem do trilho e caem no chão, causando um belo de um
estrago. A mesma analogia serve para o movimento do joelho no corpo humano durante
exercícios que exijam flexão de quadril e joelho na fase excêntrica e extensão de quadril
e joelho na fase concêntrica.
É muito comum vermos nas salas de musculação indivíduos realizaram a fase
descendente dos exercícios como leg press, agachamentos e similares permitindo que o
joelho desabe para dentro. Tal atitude é conhecida na ciência como valgo dinâmico.
Valgismo (referente a valgo) como já vamos é uma disfunção dos membros inferiores que
acomete a perda da estabilidade do joelho e suscetibilidade e lesão, com o mesmo sendo
direcionado para dentro.

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Estudos indicam que o valgo dinâmico é um dos, se não o maior causador de
rompimento do ligamento colateral medial e/ou do ligamento cruzado anterior (famoso
LCA). Se não houver rompimento, há pelo menos acentuação da lassidez dessas
estruturas moles em quem relata dores na região anteromedial do joelho, principalmente
em quem já apresenta um joelho valgo postural (sexo feminino principalmente).
Existem os que defendem veemente que o valgo dinâmico não é lesivo, que é algo
comum de se realizar nos exercícios e que o joelho foi feito para isso. Será mesmo? É
sabido que o joelho é uma articulação do tipo gínglimo (dobradiça), ou seja, é uniaxial,
movimentando-se em apenas um eixo e uma direção quando está em cadeia cinética
fechada (pés firmes no solo ou em alguma plataforma). O que isso quer dizer? Significa
que, se os pés estiverem firmes no solo, a tíbia que é presa ao tornozelo, que por fim é
preso ao pé, ficará imóvel, e na presença de uma rotação do fêmur o mesmo irá rodar
sobre a tíbia estacionária, causando um movimento de torça na região do joelho, e quem
sofre com a consequência dessa torção são os tecidos moles circundantes (o sistema
passivo de estabilização), mais especificamente o ligamento colateral medial e o LCA
(este último é o principal limitador da rotação interna do fêmur). Isso sem carga axial
imposta (barras nas costas).
Agora imagine o que ocorre quando esse movimento é realizado com a adição de
sobrecarga? Imagine num leg press ou um agachamento, o valgo dinâmico ocorrendo em
quem já apresenta um joelho valgo postural e/ou relata dores no joelho e apresenta
instabilidade do mesmo? A consequência não será outra, a curto ou longo prazo esse
mesmo sujeito relatará dores no joelho e deixará de treinar. Abaixo veja do que se trata o
valgo dinâmico.

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O valgo dinâmico ocorre devido a incapacidade dos músculos abdutores do
quadril e rotadores laterais profundos (OOGGPQ) de estabilizarem o quadril durante a
fase excêntrica dos movimentos. Além disso, a falta de mobilidade no tornozelo e de
flexibilidade na musculatura do compartimento lateral e posterior da perna (perna =
complexo abaixo do joelho) permitem que o arco longitudinal dos pés desabe, tornando
o pé plano e sem uma base estável para sustentar as estruturas acima (como pode ser visto
na imagem acima), repare bem no pé esquerdo do indivíduo. Na presença de joelho valgo
postural, com encurtamento severo da musculatura adutora e do compartimento lateral da
perna, esse movimento é muito comum de ocorrer, pondo em risco as estruturas moles
circundantes do joelho.
O correto posicionamento dos membros inferiores durante os exercícios da
musculação (leg, agachamento, hack e similares) pode ser visto na imagem a seguir. Note
que nessa imagem o eixo mecânico está bem preservado, o arco longitudinal está
aumentado, dessa forma garantindo uma base de sustentação para todas as estruturas
acima dele.

Executando o movimento como manda o figurino, a ativação da musculatura da


região do quadril será extremamente eficiente sem que isso traga quaisquer malefícios
para a articulação do joelho. Mas a dúvida que fica é como melhorar esse posicionamento
durante os exercícios? Elementar, além de trabalhar a flexibilidade da musculatura
adutora do quadril, dos músculos do compartimento lateral da perna e da musculatura
flexora do quadril, o trabalho de fortalecimento dos músculos profundos do quadril
(OOGGPQ), bem como dos glúteos em geral e da musculatura intrínseca do pé (músculos
da camada profunda do pé que garantem a manutenção do arco longitudinal). Porém, a
grosso modo dizendo, basta rodar o quadril externamente (rodar o joelho para fora),
criando uma reação em cadeia que automaticamente eleva o arco dos pés e posiciona o
joelho de tal modo que o mesmo fique em pleno contato com a tróclea femoral e alinhado

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com o eixo de movimento. Porém, de nada adianta realizar tal ação no início do
movimento se durante a fase excêntrica e concêntrica isso não for mantido. Um erro muito
comum é iniciar a fase excêntrica mantendo o joelho aberto e a patela alinhada com o
segundo dedo do pé (eixo mecânico) e durante a subida ou fase concêntrica permitir que
os joelhos rodem medialmente, perdendo tudo que foi armado para garantir o sucesso do
exercício. Lembre-se, os mínimos detalhes contam. Portanto, manter o joelho (patela)
apontada para o segundo dedo do pé durante todas as fases se faz imprescindível para
manter a eficiência do exercício e evitar que a sobrecarga seja direcionada para o sistema
passivo do joelho (ligamentos), garantindo, dessa forma, a máxima segurança para o
praticante, principalmente os que relatam histórico de dor na região ântero-medial do
joelho (comum de Condromaláscia). E tudo está também relacionado ao tipo de calçado
que se utiliza na prática da musculação para membros inferiores, em corridas e similares.
Veja o próximo tópico e entenda a importância dos pés para a integridade ascendente do
nosso corpo.

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26.3 A IMPORTÂNCIA E INFLUÊNCIA DOS PÉS EM TODO O
MECANISMO DO MEMBRO INFERIOR
Por: Italo Sales - @italobsales
Por menores que possam parecer, pequenos e simples nossos pés são de grande
complexidade. Formados por cerca de 30 ossos, 19 músculos grandes, uma série
músculos menores intrínsecos e dezenas de ligamentos. Nossos pés são a base de uma
postura adequada, são peça essencial na nossa marcha e são o suporte da nossa posição
sustentada bípede. Nossa caminhada bípede exige que os pés estejam em plenas condições
funcionais para realizarmos plenamente ações diárias de andar ou correr durante uma
atividade física. A funcionalidade do pé depende de dois requisitos: a flexibilidade, que
vai permitir que o pé reaja de maneira adequada às forças de reação ao solo e seus
possíveis desníveis, absorvendo o stress na qual ele é imposto. Porém, os pés necessitam
de rigidez e força para que seja possível realizar a fase propulsora da marcha. O equilíbrio
entre força e flexibilidade dá ao pé a capacidade de absorver choques de maneira
adequada, força e mobilidade para realizar os seus movimentos.
Os pés por estarem ligados a articulação do tornozelo, participam com ele dos
movimentos de dorsiflexão e flexão plantar, mas também realizam movimentos ao redor
do eixo vertical das pernas, que são os movimentos de adução e abdução, e do seu eixo
longitudinal, que são a pronação e supinação do pé. A relação ideal entre os músculos e
ossos dos pés são muito importantes para a sua funcionalidade mecânica adequada e
também para a manutenção da base ideal para a sustentação. Nossos pés são a base para
todo nosso corpo durante a posição estática, quanto na realização dos movimentos.
O pé vai ser a base do nosso corpo dando um “feedback” ascendente a todas as
estruturas que ele sustenta. Na posição em pé, o apoio ao terreno exige que nossos pés se
adaptem a superfície e aos seus desníveis. Quando o pé está no solo, o sistema nervoso
recebe um estímulo para que o resto do corpo adote uma postura em resposta a superfície
em que ele se encontra. Se estivermos em uma superfície muito desnivelada, ou o pé não
está em sua posição natural, não será possível uma postura adequada do corpo. Todo esse
processo de feedback ascendente ocorre devido a presença de mecanorreceptores na base
dos nossos pés. Esses mecanorreceptores são receptores sensoriais do nosso sistema
sensorial somático, que são sensíveis aos estímulos mecânicos gerados pela relação do
seu pé com o solo em que pisa. Portanto, as deformações físicas causadas pelo solo
quando em contato com os pés, geram estímulos que vão reverberar de baixo para cima,
exigindo que o resto do seu corpo se adapte ao ambiente na qual ele está se sustentando.
O homem moderno, está acostumado a superfícies mais regulares e tem seu pé
protegido pelo calçado, o que com o decorrer do tempo o faz perder o seu poder de
adaptação dos pés ao terreno. Os calçados contemporâneos promovem proteção contra
choques físicos e se enquadram nos requisitos dos padrões da estética da sociedade,
porém nem sempre trabalham em prol da funcionalidade dos pés durante a rotina e prática
de atividades físicas. Assim, nosso pé acaba tendo de fazer menos esforços adaptativos e
gerando disfunções ao longo do tempo.

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Nos nossos pés existem dois arcos longitudinais: o arco longitudinal medial, que
é importante para absorção de choques e o arco longitudinal lateral, que é extremamente
importante para função de equilíbrio. Além também do arco transverso, que é importante
para a adaptação do pé ao solo. Entenda que qualquer alteração no comprimento desses
arcos. Levará a alterações nas respostas adaptativas dos pés em relação ao terreno que ele
pisa.
Vamos tomar como exemplo o agachamento. Na execução do agachamento,
precisamos manter as curvaturas fisiológicas da coluna para a segurança e eficiência
durante a sua execução. Disfunções no pé vão prejudicar a adaptação ao solo e equilíbrio
do pé. Assim, os estímulos de adaptação ao terreno que o sistema nervoso mandar de
feedback aos membros inferiores e demais estruturas não vai permitir que você execute o
movimento de maneira segura e eficiente. Faça um agachamento com um calçado
inadequado, como um salto alto, e perceba que se torna impossível manter todo seu eixo
postural de maneira adequada, que consequentemente vai levar a ações musculares
compensatórias indesejadas e ineficácia do exercício. Progressivamente sem um bom
apoio, seu agachamento vai sobrecarregar estruturas como joelho e coluna, não vai ter a
eficiência e estará propenso a gerar mais padrões alterados.
Entenda que esse processo não se aplica apenas ao agachamento ou exercícios de
membros inferiores. Na execução de diversos exercícios de membros superiores os pés a
base da posição sustentada em pé, portanto uma posição inadequada dos pés, gera uma
estabilização ineficiente do tronco durante a prática dos exercícios. A distância e posição
dos pés depender também de questões funcionais do praticante, como desalinhamentos
da pelve e joelhos adquiridos por má postura. Porém além das questões funcionais, temos
de levar em consideração alguns fatores estruturais, como o ângulo de torção do colo do
fêmur e o ângulo de inclinação do colo do fêmur. Essas variáveis estruturais são ligadas
a formações congênitas do indivíduo bem como o seu sexo.
Mulheres por exemplo tem tendência a terem um ângulo de inclinação do colo do
fêmur maior, devido a sua estrutura pélvica mais larga e assim tendo também maior
tendência a uma coxa valga. Então, a análise postural e funcional do praticante será
determinante na escolha da melhor posição dos pés durante a prática dos exercícios, afim
de preservar as estruturas articulares dos membros inferiores. Independente dessas
variáveis, deve-se manter a linha de força ideal dos membros inferiores, alinhando a coxa
sobre a tíbia e a tíbia sobre o pé.
Todas as informações serviram para que possamos entender a função e
importância dos pés durante a prática de exercícios de musculação e durante a nossa
rotina. Cruzando as informações dadas nesse capítulo, é possível enxergar que diversas
alterações mecânicas no nosso corpo podem ser geradas pela negligência de
desequilíbrios na nossa base. Portanto, para a manutenção e controle do eixo mecânico
dos membros inferiores, se faz necessário o equilíbrio tensional dos pés, para que os arcos
longitudinais sejam preservados e possam sustentar as cargas vindas do solo sem que haja
uma incorreta dissipação ascendente, prejudicando a articulação do tornozelo, joelho,
quadril e lombar. Pronações do pé durante a fase excêntrica dos exercícios de
agachamento e similares nos dão uma noção do quadro geral do cliente, comum de
apresentar joelho valgo e rotação interna do quadril quando esse movimento ocorre.

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26.4 A INFLUÊNCIA DO CALÇADO NO MECANISMO
PROPRIOCEPTOR E NA ATIVAÇÃO MUSCULAR
Diante do exposto nos tópicos acima, chegamos a um ponto crucial no que tange
a segurança do treinamento a nível da articulação do joelho bem como de ativação da
musculatura extensora do quadril (especificamente os glúteos).
Muito se vê nas salas de musculação, sujeitos utilizando calçados com
amortecimento na região do antepé e/ou retropé, o que a primeira vista parece algo
inofensivo, pois, de fato, o mecanismo de amortecimento nos fornece um conforto a mais
(assim como tudo hoje em dia, porém, veja como está a integridade física das pessoas de
hoje), e quem não gosta de se sentir “confortável”? Um grande perigo se esconde por
entre o amortecimento dos calçados, não diretamente, mas sim indiretamente.
Como mencionado pelo Italo Sales, acima, os pés são a estrutura-chave mais
importantes do corpo no que tange o mecanismo sensorial, pois, de fato, a sola do pé
apresenta a maior quantidade desses mecanorreceptores, que atuam de maneira constante
enviando feedback’s sensórias do que se passa em nossa base. Se a sola do pé é tão
importante assim para o bom funcionamento do nosso sistema neuromuscular, por que
diabos nós “afastamos” essa região do solo quando vamos treinar membros inferiores?
Além de fornecer sensações que modulam o modo como o SNC organiza nosso
equilíbrio, bem como de fornecer um feeling de onde estamos no espaço, a perfeita
integridade da sola do pé (arcos longitudinais preservados e flexibilidade e força ideal da
musculatura intrínseca) garante que a musculatura agonista/motora primária do
movimento de extensão de quadril seja ativada com mias “facilidade”. Mas porque temos
que obrigatoriamente ativar o glúteo na extensão de quadril? Elementar meu caro.
É sabido que indivíduos que relataram dores lombares (lombalgia) e/ou dores na
região anteromedial no joelho apresentaram fraqueza dos glúteos e rotadores externos do
quadril (que também são extensores do quadril) bem como um atraso de ativação dos
mesmos. Em concomitância a esse fato, foi identificado no teste de ativação na extensão
do quadril em decúbito ventral por meio de palpação, que os isquiotibiais ativaram
precocemente e com muita força, em contra partida aos glúteos que permaneceram
flácidos e só se ativaram muitos milésimos (o que nesse caso é muito tempo, tendo em
vista que a ativação muscular ocorre de maneira instantânea, claro, em indivíduos que
não apresentam desequilíbrios musculares).
A dominância dos isquiotibiais está associada a fraqueza dos glúteos,
principalmente no padrão postural lordótico, onde o sujeito apresenta anteversão pélvica
com hiperlordose lombar e quadris hiperestendidos com joelhos recurvatos. Somado a
isso, a maioria de nós apresenta disfunção também no pé, onde verifica-se rigidez/perda
de mobilidade no tornozelo com excesso de mobilidade nos pés (os quais deveriam ser
estáveis, devido a sua filogenética) o que consequentemente descoordena o mecanismo
proprioceptor, enviando e até não enviando o feedback ascendente correto, dessa forma
prejudicando o feedforward do SNC no que tange a ativação da musculatura agonista e
estabilizadora. A partir disso, o que você acha que pode acontecer se um indivíduo com
esse quadro utilizar um calçado que piore ainda mais o mecanismo sensorial?

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O amortecimento do calçado coloca o retropé a uma distância muito grande do
solo, ao passo que permite o antepé posicionar-se próximo do solo. Então, o que você que
fica mais fácil para o SNC e seu próprio consciente realizar, aplicar a força com a ponta
do pé que está mais próxima do solo/placa das máquinas, ou com o calcanhar que está 2/3
mais distante do solo/placa das máquinas? A resposta é tão óbvia que você nesse exato
momento está tentando se lembrar quando foi que sentiu a força sendo aplicada no
calcanhar enquanto fazia seus agachamentos na academia.
A dica mais valiosa que eu posso dar para você, é que deixe seus pés e dos seus
alunos, nús, quando for treinar membros inferiores. “Ah, mas a academia não permite”.
Ora, faça o favor ao seu aluno e a você mesmo e mostre esse capítulo de membros
inferiores ao responsável técnico da instituição. Saiba que os pés descalços não só
favorecem o mecanismo sensorial ascendente como também evita que o pé caia em
pronação descendente (durante a fase excêntrica os indivíduos que apresentam joelhos
valgos e pés pronados costumam deixar que o peso seja deslocado para a região de dentro
do pé, aumento o ângulo Q e consequentemente a força de reação ao solo é toda
direcionada para o tecido mole circundante à região medial do joelho, fator de risco para
condromaláscia).
Caso ainda assim não seja permitido treinar descalço, utiliza um calçado com
solado plano, como aqueles “All star” ou até as botas de treino que muitos atletas de
fisiculturismo utilizam. Menos mal, pois esses calçados não apresentam discrepância de
distância do solo entre antepé e retropé, dessa forma já se consegue um melhor equilíbrio
e ativação muscular. Claro que nada disso vai adiantar se antes o aluno não aprender a
ativar o glúteo na extensão do quadril ou até mesmo de maneira estática, com contração
isométrica. A última dica que posso fornecer, é que peça para o aluno sempre tentar
aplicar a força com o calcanhar, mais especificamente a região lateral do calcanhar, que
consequentemente ativará a linha lateral e a linha funcional posterior do corpo (que
compreendem a musculatura extensora do quadril). Abaixo você pode ver o que
chamamos de tripé do pé

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26.5. EXERCÍCIOS QUE ENVOLVEM FLEXÃO-EXTENSÃO DE QUADRIL E
JOELHO – Utilize a lógica apresentada a seguir, para todos os exercícios que
envolvam esses movimentos de membro inferior.

Completo desalinhamento dos segmentos inferiores

Anteriormente falamos sobre a importância da manutenção do complexo inferior


em perfeito alinhamento para a preservação dos tecidos moles circundantes, bem como
das cartilagens articulares, mais especificamente do LCA, LCM, menisco medial e
cartilagem patelar (que está em constante contato com a cartilagem da tróclea femoral.
É fato observar que a maioria dos praticantes de musculação executam o exercício
acima (leg press 45º) de maneira pouco eficiente, além de pouco segura como podem ver
acima. O valgo dinâmico nesse exercício é dominante em grande parte dos casos, seja por
falta de orientação ou por consequências a nível neuromuscular.
É visível a rotação interna dos quadris, onde o fêmur se encontra direcionada para
dentro, enquanto que a tíbia estacionária devido ao pé fixo na placa, encontra-se em
rotação externa, dessa forma, como previamente mencionado, ocorre uma torção á nível
de joelho onde o fêmur roda para dentro sobre a tíbia. É bem sabido que os ligamentos
(conectam osso à osso), atuam para evitar movimentos extremos enquanto estabilizam a
articulação. No caso da rotação interna do quadril em CCF (cadeia cinética fechada), o
ligamento que mais resistirá a essas forças de torção será o ligamento cruzado anterior. É
bem sabido que os ligamentos possuem um limite plástico, que caso ultrapassado
ocasionam as roturas. Imagine então um indivíduo que já tenha relatado dores na região
ânteromedial do joelho (local mais comum de dor em quem já apresenta problemas
relacionado a LCA, LCM e menisco medial), executando um exercício em CCF dessa

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maneira, seja ele o exercício acima ou qualquer outro similar. O resultado a longo prazo
não poderia ser diferente, lesão por rotura dos tecidos moles circundantes, ou no mínimo
uma ligeira inflamação por distensão. Além das consequências a nível articular, temos
também a consequência á nível muscular, havendo perda de ativação da musculatura
agonista bem como a perda de ativação da musculatura estabilizadora tanto do joelho
quanto do quadril.
Primeiro, vamos analisar o movimento em questão. Temos então na fase
excêntrica um movimento de dorsiflexão do tornozelo, flexão do joelho e flexão do
quadril. Portanto, a musculatura alongada com mais ênfase será apenas as que circurdam
a região ântero superior do joelho e posterior do quadril, ou seja, quadríceps (joelho),
isquiotibiais e glúteos (quadril). Portanto, na fase concêntrica teremos então a contração
dessas mesmas musculaturas. Há um grande debate sobre colocar ou não os pés mais
acima da plataforma para se recrutar mais a região posterior da coxa, ou seja, os
isquiotibiais. Eu lhes garanto, não irá haver mudança alguma no recrutamento, e se
houver, é insignificante.
Além de insignificante, o posicionamento dos pés na parte superior da plataforma,
coloca o quadril em maior flexão, ou seja, estirando ainda mais a região posterior da coxa,
o que em teoria forneceria maior torque para essa musculatura devido ao maior
alongamento das fibras. Entretanto, de nada adianta colocar os pés acima se a
flexibilidade dessa musculatura não estiver em dia, bem como a mobilidade do quadril.
A consequência nada mais será que a retroversão da pelve e o “descolamento” da pelve
do encosto para a mesma. Isso é o que chamamos de insuficiência passiva, explicada em
tópicos anteriores pelo professor Marcio Pirani. Mesmo que haja flexibilidade para
posicionar os pés acima, ainda sim há a chance de retroversão se a amplitude da fase
excêntrica for exacerbada.
Assim, sabendo que não há influência positiva no recrutamento muscular e há a
possibilidade da perda de estabilidade da região lombopélvica, não há a menor
necessidade de se realizar tal “variação”. Por falar em variação, há uma outra forma muito
utilizada nesse aparelho em questão, onde os sujeitos são instruídos, ou melhor dizendo
mal instruídos a colocar os pés juntos no meio da plataforma, com a justifica de maior
ativação de uma determinada porção do quadríceps.
Novamente, se houver alguma influência sobre a atividade muscular do
quadríceps, esta é insignificante, e novamente há uma consequência negativa a nível
articular, ou seja, não é seguro. Se não é nem seguro e nem eficiente, qual o intuito de se
utilizar? Ao posicionar os pés unidos no centro da placa, há um aumento do ângulo Q, do
ângulo arco-corda, e do grau do valgismo. A adução do quadril (unir os pés) faz com que
o fêmur rode internamente dentro do acetábulo, posicionando o colo do fêmur mais
próximo a borda do acetábulo. A partir do momento em que se iniciar a fase excêntrica,
ocorrerá de maneira precoce, o impacto do colo do fêmur sobre o acetábulo do quadril,
sendo este mecanismo conhecido como impacto fêmoro-acetabular. Com o tempo
ocorrerá o desgaste da cartilagem dessas estruturas.

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Independentemente da “variação” que se queira utilizar, os movimentos de joelho
e quadril permanecerão os mesmos, não havendo significância na atividade muscular,
apenas consequências a nível osteoligamentar. O que se pode variar, dependendo do nível
de mobilidade da articulação talocrural (tornozelo) bem como da flexibilidade do
compartimento posterior da perna (tríceps sural), é o posicionamento ligeiramente abaixo
do centro da plataforma. Teremos dessa forma uma maior flexão do joelho, estirando com
mais amplitude o quadríceps, favorecendo uma maior contração. Porém, o que acontece
na presença de mobilidade deficiente do tornozelo e baixa flexibilidade de panturrilha, é
a perda do contato do calcanhar com a plataforma, fazendo com que a ponta do pé (antepé)
seja o local de aplicação de força. Isso não é algo muito inteligente a se fazer, tendo em
vista que a aplicação de força com o calcanhar seja o fator chave para a ativação dos
extensores do quadril devido a linha funcional posterior e a linha lateral, que partem do
tornozelo até o quadril. Além disso, aplicar a força com o antepé criará uma elevada força
de compressão na articulação do joelho, algo não ideal para quem já relata dores na região.

Perfeito alinhamento dos segmentos inferiores

Na imagem acima podemos ver o alinhamento ideal a ser mantido durante toda a
excursão do exercício leg press, lógica esta que deve ser aplicada aos demais exercícios
em cadeia cinética fechada. É simples, basta imaginar que a placa da máquina é o mesmo
que o solo, portanto, agachamentos, hacks e similares seguem todos uma mesma lógica
de alinhamento dos membros inferiores no que tange a manutenção da patela em perfeito
contato e deslizamento na tróclea do fêmur. As variações no posicionamento dos
membros inferiores refletem na mudança de ativação muscular e também do conforto do
praticante.
É possível notar que a patela está diretamente apontada para o 2º dedo do pé, e
este está posicionado de tal forma em que o “tripé do pé” encontra-se preservado,
garantindo dessa forma a perfeita dissipação de carga sem que hajam compensações a
nível articular, além de garantir uma melhor ativação muscular e estabilização dos
segmentos inferiores.

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Como previamente mencionado, o alinhamento ideal consiste na lógica “fêmur
sobre tíbia, e tíbia sobre o pé”, e isso é bem verdade quando analisamos a imagem, é
possível notar o fêmur em uma posição acima da tíbia, ambos alinhados, e a tíbia
perfeitamente intacta sobre os pés, onde a tróclea femoral é mantida de tal forma que não
há desgaste da cartilagem articular da patela, prevenindo e/ou evitando o agravamento de
uma Condromaláscia. Em suma, para garantir o alinhamento ideal antes de se iniciar
qualquer exercício de membro inferior, se faz necessário entender pequenas, mas
importantes ações que devem ser “ativadas” antes de mais nada:
- Decidir o afastamento entre os pés, este podendo ser na largura da pelve, na largura
proximal dos ombros, na largura distal dos ombros ou até mais largo do que os ombros.
Tudo isso é estrutura-dependente de quem irá realizar, por exemplo, da largura da pelve
do sujeito, do estado postural dos joelhos e quadris etc;
- Abrir ligeiramente a ponta dos pés (ligeiramente);
- Acionar, a partir de uma rotação externa do quadril (rodar o joelho para fora, sem
movimentar os pés) a musculatura profunda do quadril, especificamente os seis rotadores
laterais do quadril, chamados de “OOGGPQ”, composto por obturador interno, obturador
externo, gêmeo inferior, gêmeo superior, piriforme e quadrado femoral;
- “Engatar” o quadril, direcionado os glúteos para trás, posicionado a pelve ligeiramente
mais posterior em relação ao tronco. Essa ação irá estirar os extensores de quadril,
estirando seus fusos musculares os mesmos irão “acordar” essa musculatura e fazê-la
entender que ela está se preparando para o trabalho. Além, é claro, de ser uma função de
garantir estabilizador.
- Ativa nosso núcleo a partir da execução da manobra de Bracing, que do que inglês
significa, mais ou menos, “reforço”. Nosso núcleo que é composto por diversos músculos,
mas aqui cabe mencionar os principais que serão ativados na manobra, os quais atuarão
de maneira isométrica para garantir a estabilidade da coluna (principalmente lombar) e
evitar que a dissipação de carga do solo e axial sejam direcionadas toda para a lombar.
São eles: transverso do abdômen (TrA), multífidos, diafragma, assoalho pélvico. Estas
são as musculaturas profundas, entretanto, não podemos esquecer da musculatura
superficial que também é ativada na manobra, sendo eles oblíquo interno, oblíquo externo
e reto do abdômen.
Diante do exposto, iremos analisar um grande causador de polêmicas (infundadas
na maioria das vezes), o agachamento. Como estamos falando de exercícios de flexão-
extensão de quadril e joelho, e o agachamento é um deles, utilize a mesma lógica para o
que será apresentado a seguir, nas demais variações desse exercício (no Smith, hack
angular, hack linear; unilateral, dinâmico (“passadas”), com halter/kettlebel etc.

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Imagem 1

Devido à falta de boa informação proveniente do quadro de profissionais de


educação física no Brasil e no mundo, aliado a “boa vontade” de nossas queridas
blogueiras e blogueiros fit, agachar tem sido motivo de muito medo e muita invenção
(leia-se muita variação sem fundamento), e, de muitos debates infundados por parte de
pseudoestudiosos da cinesiologia e biomecânica. Entretanto, não cabe aqui nesta obra
“comprar” briga ou tentar expor alguma verdade absoluta sobre o tema em questão, mas
sim disseminar informações cientificamente baseadas para a melhor compreensão de
todos, pensando sempre no engrandecimento da profissão.
Agachar é literalmente uma arte. É algo inerente ao ser humano, e que perdemos
com o passar dos anos devido à falta de prática, claro, qualquer coisa que não seja
reforçada pela repetição perder-se-á conforme o tempo. Lembrem-se que somos o que
fazemos repetidamente. Não seria diferente com o movimento humano. Nosso sistema
nervoso está impregnado de padrões motores que decorrem de nossos ancestrais, imagine
milhares de anos de padrões motores refletidos em nós. Observe como as crianças,
principalmente as mais novas, agachando para pegar algo no chão, ou como elas
simplesmente ficam minutos agachadas sem cansar, brincando na mesma posição, sem
desconforto etc. É inerente a nós o ato de agachar, melhor ainda, de se movimentar.

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Para que seja possível executar um agachamento de forma eficiente, pensando
antes de mais nada na integridade osteomioarticular (ossos, ligamentos, músculos e
cartilagens) é necessário ter em mente que não basta apenas “descer o corpo”. É preciso
possuir uma boa flexibilidade aliada a uma boa mobilidade articular. Entretanto, não se
deve generalizar a necessidade de mobilidade para todas as articulações, pois, de fato,
nosso corpo trabalhar de maneira equilibrada no que tange essa capacidade física. Devido
a filogenética, algumas articulações existem para fornecer estabilidade em detrimento da
mobilidade e vice-versa. Por exemplo, o tornozelo é uma articulação com característica
que a predispõem para ser móvel, enquanto que o joelho é uma articulação com função
de estabilidade. Isso é muito importante de se ter em mente ao analisar o agachamento de
um indivíduo, principalmente nos que apresentam um padrão alterado de movimento e
desvios posturais.
A falta de mobilidade no tornozelo, devido à falta de treinamento de flexibilidade
para a cadeia posterior da perna principalmente (leia-se panturrilha) e falta de treinamento
de mobilidade (trabalhar o deslizamento entre as superfícies articulares, ou seja, a
artrocinemática), ou por outros fatores (congênitos, traumas etc.) é o suficiente para
prejudicar toda a mecânica do corpo durante o ato de agachar, além de inverter a
funcionalidade das articulações acima (do joelho até a coluna). Durante a fase excêntrica
do agachamento, onde temos uma flexão dorsal do tornozelo (dorsiflexão) esta deve ser
de boa amplitude para que a carga axial não seja “sustentada” pela lombar por
consequência do aumento do braço de momento da resistência para a lombar, devido a
inclinação exacerbada do tronco a frente.

Imagem 2

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Essa última informação pode ser vista e interpretada na imagem 2. Perceba que
diferentemente da imagem 1, o tronco do sujeito está mais inclinado a frente, e, além
disso, há uma menor flexão de joelho e tornozelo. Essa diferença nada mais é do que uma
compensação criada pelo sistema motor do corpo para que o movimento que se está
querendo realizar, ocorra de qualquer forma, pois, de fato, o desejo do sujeito nada mais
é do que agachar, independentemente das limitações osteomioarticulares (é aqui que entra
o papel do profissional do movimento). Entretanto, vale ressaltar que nenhuma
compensação gerada pelo corpo é benéfica para ele mesmo. Toda e qualquer alteração no
padrão de alinhamento estático e na função articular e muscular natural, deverá e será
compensada pelas demais estruturas próximas e distantes da região com má função.
A má função do tornozelo no que tange sua mobilidade para dorsiflexão durante
a fase excêntrica do agachamento, limitará a flexão do joelho e deixará apenas a região
do quadril para compensar essa limitação. A única compensação capaz de fazer com que
o movimento continue, é inclinar o tronco a frente. Você pode realizar esse teste agora
mesmo. Fique em pé, afaste os pés na largura dos ombros, aduza as escápulas, ative o
bracing e então comece a descer, mas sem passar o joelho a frente (o que representa a
limitação da dorsiflexão do tornozelo). Continue a descer sem que os joelhos passem a
frente. Perceba que para continuar descendo você inclinou o tronco a frente, do contrário
não há continuação do movimento. Pare e olhe para o espelho. Sua posição final parecida
com a imagem 2 ou ainda mais inclinada?
O aumento da inclinação do tronco a frente consequentemente aumentará o braço
de momento da resistência para a lombar (veja a distância da linha pontilhada partindo da
projeção vertical de uma barra imaginária presa nos ombros, para o eixo da articulação
L5-S1 representada pela esfera amarela). Há uma significante disparidade entra a
distância mostrada na imagem 1, concorda? Pelo fato de gerar um maior torque na região
lombar, consequentemente essa região sofrerá sobrecarga, principalmente em indivíduos
com relatos de dores na lombar aguda e crônica e que apresentam “delay” de ativação do
transverso do abdômen.
Existem exercícios específicos que trabalham com a coluna nessa posição, que no
caso nada mais é do que uma flexão de quadril acentuada com limitação da flexão do
joelho, como por exemplo um levantamento terra, stiff e similares. Não que agachar e
permitir uma inclinação maior do que a recomendada seja proibida e demonizada, não.
Extremismos não funcionam em nenhum lugar do mundo, entretanto, há de se ter bom
senso no que tange a escolha da melhor e mais eficiente maneira de se executar para
determinado aluno, o que nos leva a pensar novamente no princípio da individualidade
biológica, ou seja, uma avaliação funcional minuciosa.
Voltando ao assunto, é comum alguns sujeitos não relatarem dor na lombar
durante e/ou após uma execução da maneira como na imagem 2, entretanto, em algum
momento essa dor irá aparecer, sempre aparece. É por isso que para prevenir alguns
alunos que já tem histórico de dor lombar, principalmente os que apresentam um padrão

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cifótico-lordótico, eu costumar prescrever agachamento com halter, sendo que
incrementando o detalhe de que o halter deve estar o mais próximo possível do corpo.
Mas há uma explicação lógica por trás desse detalhe, mas que muitos de vocês devem
estar pensando no fato trivial: “ah, mas é claro que com o halter próximo do corpo, onde
haverá diminuição do braço de resistência para a lombar.” Como eu disse, isso é algo
trivial, ou seja, que todos sabem ou pelo menos deveriam saber.
Porém, entretanto, todavia, não só há uma diminuição do braço de resistência, há
também, em concomitância, uma redução do nível de contração exercido pelos
paravertebrais lombares. Você deve estar pensando nesse exato momento: “mas os
paravertebrais não deveriam estar bem contraídos para estabilizar a lombar?” Eu vos digo
que não. Não é devido a contração exacerbada dos paravertebrais que a lombar será
estabilizada, ela será estabilizada por outros fatores que não só ativação da musculatura
adjacente. Muito pelo contrário, quanto maior e mais intensa for a ativação da
musculatura lombar, principalmente dos músculos intertransversários e interespinhais
(musculatura profunda localizada entre os processos das vértebras, orientados em
horizontal e vertical) maior será a força de compressão no disco adjacente.
Os músculos profundos das vértebras possuem vetores de compressão, ou seja,
exercendo força de cima para baixo, apertando uma vértebra contra a outra para
estabilizar o segmento. Entretanto, quanto mais intensa for essa contração, logicamente
ocorrerá uma maior força de compressão, esmagando o disco entre as vértebras, e não
apenas estabilizando. No esmagamento do disco ocorrerá um possível extravasamento do
núcleo pulposo em casos mais graves, ou em casos mais leves, algumas pequenas fissuras
do ânulo fibroso. Entretanto, ambos os casos serão relatados como dores na região lombar
não só pelo esmagamento do disco devido a compressão, mas também pela fadiga da
musculatura lombar, pois, de fato, quanto mais intensa a contração de um músculo, mais
propício a fadiga o mesmo estará.
O que quero dizer com tudo isso, nada mais é de que há a necessidade de se avaliar
todos os indivíduos individualmente para que se possa entender a mecânica do corpo do
mesmo. Apesar de sermos basicamente iguais, os padrões motores de cada um são únicos,
e para isso há de se escolher o exercício que melhor se encaixa para o sujeito naquele
devido momento.

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26.6 AMPLITUDE DO AGACHAMENTO
Recomendo que aplique toda a lógica que será apresentada, nos exercícios que se assemelham ao
agachamento.

Há um “ditado” que diz que quanto mais profundo (maior amplitude) for o
agachamento, mais os glúteos serão ativados. Em tese essa teoria está certa, pois,
pensando no princípio comprimento-tensão muscular, quanto maior for o alongamento de
um músculo (contanto que não ultrapasse 130-135% de seu comprimento de repouso)
maior será o potencial de contração do mesmo. Mas, e se antes do músculo ser estirado
(alongado) ao máximo, algo impedir que a amplitude do movimento ocorra dentro dos
limites naturais? Aí que entra o tópico citado lá no início dessa obra, onde o professor
Marcio Pirani escreveu sobre Insuficiências Musculares.
Para entender como funciona essa questão da amplitude da fase excêntrica dos
agachamentos e similares, é elementar entender que existem fatores que podem atrapalhar
essa fase do exercício, tornando-a lesiva e insegura a integridade das estruturas moles.
No caso do agachamento, como citado no início desse tópico, mencionei a falta de
mobilidade de tornozelo devido a rigidez do tendão do calcâneo e do encurtamento de
sóleo e gastrocnêmios, que impede a boa execução desse movimento, inclinado o tronco
a frente e aumentando o braço de torque resistente para a lombar. Esse já é um fator que
impede a amplitude do agachamento muito antes de se alcançar os famosos 90º.
Mas o que eu quero deixar claro, é que três músculos quando apenas
moderadamente encurtados, irão impedir que a fase excêntrica ocorra com a pelve
neutralizada, e eles são: isquiotibiais, iliopsoas e adutores. É preciso enfatizar o trabalho
de flexibilidade nessa musculatura, principalmente em indivíduos lordóticos, antes de
iniciar a prescrição desse tipo de exercício. Mas não vamos ser extremistas, a prescrição
deve ocorrer contanto que seja de maneira didática, respeitando os limites do sujeito e
progredindo do fácil ao complexo, e isso leva tempo, principalmente com aquele tipo de
sujeito que não gosta de alongar e quer encher a barra de peso (nesses o trabalho é
triplicado).
É comum vermos nas salas de musculação, indivíduos executando agachamentos
com extrapolação da amplitude excêntrica e permitindo que a pelve entre gire em
retroversão. Mas você deve pensar: “o que há de mal nisso?”. É trivial possuir um
conhecimento básico sobre anatomia humana, cinesiologia e biomecânica para entender
que determinados movimentos não são seguros para o corpo humano (especialmente para
os tecidos moles), principalmente quando realizados com sobrecarga constante (leia-se
treinamento resistido).
As curvaturas da coluna devem ser preservadas durante o decorrer de todos os
exercícios para garantir que nenhum tipo de compressão e/ou cisalhamento ocorra nas
vértebras e discos intervertebrais. Se você lembra do que foi dito no tópico sobre pelve,
sabe que a pelve é a base da coluna e o centro de inserção de vários músculos que atuam
na coluna, quadril, joelho etc. É trivial saber também que qualquer tensão imposta sobre

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uma estrutura de tensegridade deverá ser compensada em um algum ponto distante ao
qual foi aplicada essa tensão, e como nosso corpo é uma estrutura de tensegridade, não
seria diferente.
Quando a curvatura lombar é “perdida”, ou seja, muda de uma posição em lordose
fisiológica (curvatura natural) para uma posição em flexão (cifose) as faces anteriores das
vértebras lombares irão aproximar-se uma da outra e comprimir a região anterior do disco
entre elas. A partir do momento que essa compressão é gerada na região anterior do disco,
toda a tensão imposta nessa região será desviada para a região posterior do disco. É fácil
compreender esse mecanismo, vamos fazer o teste juntos: pegue uma bexiga de
festa/balão de sopro, encha e amarre-o. Esse é nosso disco intervertebral. Feito isso, com
as duas mãos (simulando as vértebras) comprima uma das bordas desse balão e veja para
onde será direcionada toda essa carga imposta. Viram? Então, da mesma forma que
aconteceu com o balão, ocorre com nossos discos intervertebrais.
Entretanto, há um outro detalhe por trás disso tudo. Dentro de cada disco existe o
que se chama de núcleo pulposo (um líquido) que serve para lubrificar as adjacências da
estrutura. O disco é cercado por vários anéis, chamados de ânulos fibrosos, que mantém
o núcleo pulposo no centro do disco. Quando a compressão é gerada na região anterior
do disco, todo esse núcleo interno seja empurrado para a região posterior do disco, e cada
vez que isso se repita, maior será a tensão imposta sobre os ânulos fibrosos e mais
suscetíveis a lassidão eles se tornarão. Quando mais vezes essa compressão for gerada,
maior o risco de o núcleo romper a barreira fibrosa que o “protege”.
Mas o pior não para por aqui, entendo a anatomia da coluna, é trivial saber que os
ligamentos e nervos motores e sensoriais “caminham” justamente pela região posterior
das vértebras e muito próximos aos discos intervertebrais. Quando a barreira fibrosa de
um sujeito já estiver muito desgastada, maior a chance dela se romper quando uma
sobrecarga compressiva for imposta ao disco. A hérnia de disco é justamente esse
extravasamento do núcleo do pulposo para fora do disco, podendo a partir desse
momento, o líquido comprimir e/ou tensionar ligamentos e nervos adjacentes, causando
desconfortos e/ou muita dor na região lombar, região do quadril e/ou da coxa
(principalmente quando comprimi o nervo ciático).
A partir dessas breves informações você a partir de agora tem o poder para decidir
se permite que o aluno agache profundamente realizando uma retroversão pélvica é viável
ou não. Em sujeitos com encurtamento moderado, alto ou severo dos isquiotibiais e
panturrilha (identificado no famoso teste de sentar e alcançar/banco ou no teste e flexão
de quadril unilateral c/ joelho estendido e dorflexão em decúbito dorsal) a retroversão
pélvica pode ocorrer até antes de se alcançar os famosos 90º, portanto, há de se ter bom
senso no momento da prescrição e principalmente atenção durante a execução. Uma dica
é pedir para que o sujeito execute o movimento voltado para um espelho, de lado
preferivelmente, para que possa acompanhar seu próprio movimento e consigo visualizar
seu limite de amplitude na fase excêntrica, ou seja, até onde a pelve se mantém em neutro
antes de girar em retroversão.

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Uma estratégia válida para melhorar cada vez mais o movimento, é durante o
intervalo de descanso utilizar um alongamento estático dos músculos posteriores de coxa,
iliopsoas e panturrilha, para que cada série posterior ao alongamento o movimento tenha
mais fluidez e o sujeito tenha menos dificuldade de realizar, tornando-se mais móvel e
consequentemente conseguindo aumentar cada vez mais a amplitude do movimento sem
perder o alinhamento da coluna e/ou da pelve, o que consequentemente contribuirá para
um maior recrutamento dos glúteos e quadríceps.
Além do risco de herniamento quando se permite a retroversão repetidas vezes e
com elevada sobrecarga, não é eficiente para o recrutamento dos glúteos. Quando a pelve
gira em retroversão a medida que ocorre a fase excêntrica, os feixes superiores do glúteo
são puxados junto com a pelve aproximando-se do ventre muscular (centro do músculo),
ou seja, não estará alongando em nada, apenas mantendo um comprimento comum, apesar
do quadril estar flexionado, o que em teoria pensasse que vai estar alongado.
De nada adianta alongar um músculo em uma ação e permitir que o mesmo encurte
em outra, pois, de fato, o glúteo alonga-se quando é realizada uma flexão de quadril do
fêmur sobre a pelve, bem como da pelve sobre o fêmur. Se o quadril for flexionado a
partir do fêmur girando sobre a pelve estática, mas a pelve girar em retroversão sobre o
fêmur ao mesmo tempo que o fêmur flexiona sobre a pelve, é o mesmo que trocar seis
por meia dúzia, não estará garantindo o máximo alongamento do músculo, apenas
deixando-o em insuficiência ativa no momento que a fase concêntrica ocorrer, e músculo
em insuficiência ativa perde sarcômeros que poderiam ser utilizados numa contração
máxima, se o músculo fosse maximamente alongado em ambas as estruturas ósseas que
tem ação.

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Na imagem abaixo é possível ver uma nítida retroversão pélvica no final da fase
excêntrica. Perceba que o fio de prumo de alinhamento não está passando por entre as
vértebras lombres, mas sim a frente da mesma, o que indica uma flexão da coluna lombar,
que é muito pior do que apenas uma retificação. Veja que na região lombar é possível ver
uma saliência, indicando a flexão das vértebras/inversão da curvatura natural, ao passo
que na região torácica é nítida a retificação das vértebras, apagando a cifose natural. A
retroversão pélvica desencadeou uma reação em cadeia que inverteu a curvatura da
lombar de lordose para cifose, e a cifose torácica para uma retificação torácica, tornando
a coluna sujeita a receber todas as forças impostas ao corpo, sem que haja a correta
dissipação dessas forças, como seria normal em uma coluna com todas as curvaturas
preservadas.

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26.7 AMNÉSIA GLÚTEA: se não o acordar, não tem santo que o faça
crescer.
Por: Gean Carlos - @geancarlos093
Não basta simplesmente agachar ou executar qualquer outro exercício, seja ele multiarticular ou
monoarticular, visando ativação e/ou hipertrofiou de glúteos. Para que qualquer músculo em nosso
corpo seja ativado com máxima eficiência, faz-se necessário um alimento ideal das articulações, o qual
só será possível mediante um ótimo equilíbrio de força e flexibilidade entre pares antagônisco (músculos
antagônicos).

A expressão amnésia glútea foi criada pelo médico canadense Stuart MC Gill e
nada mais é do que a fraqueza do principal músculo das funções diárias, que são os
glúteos. Mas não podemos falar de todo o contexto e esquecer um dos principais fatores
que nos levarão a possuir os problemas de fraqueza e atraso de ativação dos glúteos, que
nos dias de hoje com a grande facilidade tecnológica a população está cada vez mais
propícia a estar no mundo sedentário e não caminhar, ir da cadeira para cama e vice-versa,
não se preocupando com a postura durante o dia a dia e na realização dos exercícios de
TRP (treinamento resistido com peso), onde todos esses aspectos irão causar fraquezas e
encurtamentos musculares perpetuando as alterações posturais e desencadeando quadros
de dores e lesões. Se tratando de musculação quando os trabalhos de exercícios são
ineficiente e mal prescritos para o indivíduo, esses são um dos grandes malefícios para os
desequilíbrios musculares, pois estando o indivíduo com amnésia glútea este terá
dificuldade para realizar os exercícios e ter a real solicitação muscular do glúteo durante
os exercícios específicos, mas nada que não poderá ser corrigido, é o que veremos a
seguir.
Estando os glúteos inibidos, os mesmos podem gerar uma série de complicações
durante os movimentos, pois junto com os encurtamentos de seus antagonistas e
sinergistas, não irão funcionar de maneira harmoniosa. Já ouviram falar em dominância
sinergística? Este assunto vai ser abordado a segui. Com isso, não havendo a ativação
ideal dos glúteos durante os movimentos, o indivíduo estará predisposto a obter padrões
alterados de movimento, os quais durante o movimento, dependendo de como esteja
sendo realizado, poderá colocar os glúteos em um estudo de maior disfunção. Já parou
para pensar da grande importância dos nossos glúteos para o movimento? Se a resposta
foi não, é preciso mudar seus conceitos.
Para dar sequência, é preciso ter a compressão das ações dos glúteos, que são
divididos em: glúteo máximo, médio e mínimo. O glúteo máximo é o motor primário na
extensão do quadril, o glúteo médio e mínimo são abdutores do quadril, e contribuem
para a estabilização ideal da pelve no plano frontal (como já foi abordado) e importantes
na manutenção da postura ereta por estabilizarem a região lombosacra. A inibição dos
glúteos está associada com diversas disfunções no organismo, porém, algumas se
destacam por se mostrarem mais comuns nos seres humanos. Cunhado por Vladimir
Janda (1967), os termos síndrome cruzada inferior (SCI) e síndrome de abdução do
quadril (SAQ) representam essas principais disfunções.

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No caso da SCI, o indivíduo tende a apresentar o encurtamento de flexores de
quadril (iliopsoas e reto femoral) e de paravertebrais lombares, com inibição de seus pares
antagônicos (inibição recíproca), glúteo máximo, transverso e reto do abdômen
respectivamente. Nessa síndrome vai estar caracterizada a hiperlordose lombar, em que a
pelve se encontra em anteversão, gerando protusão abdominal e a impressão de “bunda
grande”, que na verdade nada mais é do que uma falsa bunda, estando os glúteos em
alongamento excessiva, causando delay de ativação dos mesmos (amnésia).

Já na SAQ, há a tendência do encurtamento do grupo dos adutores curtos, gerando


uma inibição nos seus antagonistas (glúteo médio e mínimo), que dependendo do padrão
de alteração postural, o indivíduo pode estar com aumento excessivo do ângulo Q,
obtendo joelhos valgos e quadril em rotação interna. Encontrar-se-á com os feixes
posteriores do glúteo médio em desvantagem mecânica, com isso estando mais fracos e
precisando de um substituto. Essa síndrome gera desequilíbrios laterais na pelve. Um
exemplo muito comum é a “queda” da pelve para o lado onde o glúteo médio encontra-
se mais fraco, durante a fase excêntrica dos agachamentos em geral.

Se tratando de movimento dentro da musculação enfim chegou a hora de tratar do


domínio sinergístico. Juntos os isquiotibiais e o glúteo máximo formam os dois grandes
músculos extensores de quadril, e é justamente aqui que podem começar os problemas de
ativação dos glúteos. Como os isquiotibiais são extensores do quadril, esses estando em
encurtamento e realizando os exercícios que ocorrem extensão do quadril, irão dominar
a ação de extensão do quadril sendo motores primários, com isso “roubando” a ativação
que deveria ser do glúteo máximo, pois ele (glúteo máximo) é o motor primário de
extensão do quadril

Com a ocorrência do domínio sinergístico, cada vez mais seu glúteo se tornará
fraco, podendo assim com a ocorrência de vários outros fatores, como principal sendo a
má postura, perpetuar a SCI como já foi descrita, com isso seu glúteo se tornará mais
fraco podendo chegar a amnésia glútea (delay de ativação por parte do SNC). Durante o
treinamento que não visa a real correção desse e de outros problemas, o indivíduo estará
predisposto a compensações durante os movimentos, como por exemplo: a extensão da
coluna lombar nos exercícios de extensão de quadril, como uma maneira de compensar a
fraqueza dos glúteos; desequilíbrios da pelve entre outros. A partir disso começarão a
surgir quadros de dores e possíveis lesões a curto e longo prazo.

Para finalizar é preciso que o profissional do movimento tenha o conhecimento e


saiba realizar uma correta avaliação funcional, onde nessa ele irá detectar todos os
problemas que estarão desencadeando as síndromes e diversas outras alterações no
organismo, e visar o trabalho para a mais rápida correção, sem esquecer do fator estético,
além da segurança e eficiência do treinamento.

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26.8 DESNIVELAMENTO PÉLVICO DURANTE O
AGACHAMENTO

Como já mencionado, a pelve é uma estrutura-chave que no meu ponto de vista


pode tanto ser a causa da maioria das disfunções como pode ser a solução devido a reação
em cadeia que a mesma ocasiona. É muito comum os indivíduos apresentarem
desequilíbrios musculares a nível pélvico, principalmente quando se têm o hábito de
sustentar o peso do corpo em uma perna só durante a posição em pé, como uma manobra
de economia de energia devido a “estabilidade” fornecida por essa compensação.
Entretanto, apesar de parecer mais confortável, essa manobra é uma compensação
do sistema nervoso e muitas vezes comandada pelo próprio subconsciente, ou seja, 99,9%
das pessoas não notem que estão sustentando o peso com uma perna só. A vida é feita de
hábitos, e nem todos trabalham em nosso benefício. Sustentar o peso do corpo numa perna
só traz uma série de desequilíbrios musculares que culminam em padrões de movimentos
alterados. Nenhuma compensação é benéfica para o corpo humano, sempre haverão
consequências.
Durante a fase excêntrica dos exercícios de agachamento pode ser visto uma certa
“queda” da pelve para um dos lados, como na imagem acima. Serei bem breve quanto a
essa explicação, afinal não há “muito” o que falar. Antes de mais nada, por uma avaliação
postural estática, á nível pélvico, se for identificado uma pelve mais alta do que a outra é
bem provável que esse sujeito apresente um desnivelamento durante a fase excêntrica do
agachamento. Um teste que pode ser usado é pedir para que o aluno agache e então você
irá visualizar (por trás) se a pelve do mesmo permanece nivelada ou cai para algum dos
lados.
O lado para o qual a pelve “despenca” é o lado no qual o principal estabilizador
no plano frontal encontra-se fraco e sofre uma desativação precoce durante a fase

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excêntrica, deixando a pelve a esmo. Esse estabilizador é o glúteo médio. Geralmente em
sujeitos com joelho valgo esse desnivelamento é mais comum devido a essa disfunção
estar diretamente ligado a insuficiência dos abdutores do quadril e rotadores externos
profundos (OOGGPQ).
Durante a fase excêntrica os glúteos se contraem excentricamente para manter a
pelve nivelada, o que consequentemente nivela a coluna e os joelhos. A partir do
momento que um dos glúteos se encontra fraco, a pelve não tem suporte excêntrica e
acaba despencando para o lado fraco. Se a pelve cai para a direita, e a pelve direita fica
mais alta que a esquerda, significa que esse lado do quadril está afetado por um glúteo
médio insuficiente. Ortostaticamente, em geral, esse indivíduo vai apresentar esse lado
da pelve mais alto. Eu citei no tópico sobre pelve como se dá o nivelamento dessa
estrutura, vale a pena relembrar, suba e leia novamente como se dá esse equilíbrio pélvico.
Se os adutores do mesmo lado da pelve que estiver alta estiverem encurtados, há
a grande chance de entrarem em insuficiência passiva na fase excêntrica e causarem junto
com o glúteo médio fraco desse lado, o desnivelamento da pelve. Uma estratégia que
funciona bem para reverter esse quadro é enfatizar o alongamento dos adutores desse lado
e o fortalecimento bilateral dos glúteos médios, pois, de fato, se forem utilizados
exercícios isolados para esse glúteo afetado, deixando o outro glúteo sem ação, ocorre um
mecanismo onde 70% da ativação também será do glúteo que não estará fazendo nada,
ou seja, o quadro não será facilmente revertido.
Os feixes do glúteo médio que apresentam fraqueza, evidenciado por vários
autores como Vladimir Janda, Thomas Myers, Shirley Sahrmann, Donald Neumann,
Peggy Houglum, são os feixes posteriores (justamente os fexies que são rotadores
externos e abdutores) que atuam na estabilização da pelve e do joelho. Uma excelente
estratégia para direcionar o estímulo da abdução do quadril para esses feixes em
específico, é executar uma abdução com caneleira em decúbito lateral com o quadril em
45º de flexão, ou, utilizar a cadeira abdutora posicionado o quadril também em 45º, ou
seja, apoiar a pelve no encosto para a coluna, fazendo meio que em pé. Mas cuidado, a
angulação deve estar correta, e pode variar entre 40 até 55º de flexão do quadril. Dessa
forma o tensor da fáscia lata é colocado em insuficiência ativa junto com os feixes
anteriores do glúteo médio, além de que por uma questão de vetoração o movimento de
abdução ocorre na mesma direção dos feixes posteriores do glúteo médio. Assim, essa
porção terá maior solicitação, de maneira bilateral, podendo então ser uma estratégia
válida para retomar a força ideal desse glúteo inibido.

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26.9 DICA PARA OS ATIVAR OS GLÚTEOS E DE QUEBRA
MELHORAR DISFUNÇÕES NO QUADRIL!
Se após uma avaliação criteriosa for diagnosticado uma amnésia glútea, além de
uma disfunção a nível de quadril conhecida como síndrome do deslizamento anterior da
cabeça do fêmur (S. Sahrmann, 2005) - que vem acompanhada geralmente de uma
anteversão pélvica + hiperlordose - eu recomendo que no início do treinamento, antes da
parte principal, sejam realizados exercícios que enfatizem a ativação do glúteo de maneira
isolada.
Para esclarecer, a síndrome supracitada ocorre quando a cabeça do fêmur desliza
para frente dentro do acetábulo devido ao encutamento principalmente do iliopsoas, o que
automaticamente inibe neurologicamente o glúteo máximo, que quando forte e ativo
consegue trabalhar em sinergia com o iliopsoas para estabilizar a cabeça do fêmur dentro
do acetábulo de maneira anatômica.
Existe um exercício em específico que a Drª. Sahrmann utilizou com frequência
em pacientes que foram diagnosticados com tal disfunção. É um exercício um tanto
quanto polêmico, pelo menos é o que se vê nas redes sociais do Brasil a fora. Antes de
explicar a execução do exercício e o porquê de ser eficiente, deixe-me opinar sobre esses
embates que ocorrem quase diariamente a respeito da funcionalidade de certos exercícios.
É claro que nem todos os exercícios considerados “bizarros” que vemos por aí,
tem uma finalidade. Muitos não levam em conta o custo benefícios do mesmo e acabam
trocando seis por meia dúzia, e até uma dúzia por seis. O conhecimento tem esse poder
de libertar nossa mente e nos dar a oportunidade de criar nossa própria opinião sobre
todos os aspectos da vida, o que não seria diferente na educação física. Se você não tem
o hábito de ler, irá adquirir o hábito de acreditar na primeira coisa que lhe cuspam à cara,
principalmente se esse ideal possuir algum viés com seus pensamentos.
Então, o exercício é o famoso e polêmico “SAPINHO”. Para executá-lo de
maneira correta, partindo de movimentos em sequência até se chegar na posição final para
execução, o indivíduo deve seguir a seguinte ordem:
1 – Deitar-se no solo em decúbito ventral com as pernas estendidas;
2 – Apoiar a testa nos braços cruzados a frente do corpo com cotovelos em 90º,
ou se preferir, segurar em alguma base firme para dar maior estabilidade ao tronco;
3 – Flexionar os joelhos em 90 a 100º;
4 – Abduzir o quadril em 15 a 20º;
5 – Rodar externamente o quadril;
6 – Encostar um calcanhar no outro;
7 – Armar o bracing e aduzir as escápulas;

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Após esses sete passos supracitados, o sujeito estará no posicionamento corporal
inicial para se executar o sapinho. Agora a única coisa que deve ser feita é uma extensão
do quadril, ou seja, a melhor dica é pedir para que o indivíduo tente levantar o joelho,
afastando-o do solo, apenas com o movimento do quadril, sem que hajam quaisquer
movimentos acessórios/compensatórios ocorrendo na região lombar (muito comum,
principalmente se o aluno não ativar o bracing e manter ativo durante a execução do
exercício, para estabilizar a pelve).
Com os joelhos flexionados, os isquiotibiais são tirados da “jogada”, o que é ideal
tendo em vista que a essa musculatura apresenta hiperatividade na presença de fraqueza
do glúteo máximo, e é um dos causadores da síndrome do deslizamento anterior da cabeça
do fêmur junto com o encurtamento severo do músculo iliopsoas. No padrão postural
lordótico (pelve em anteversão, somado a hiperlordose lombar com hiperextensão dos
quadris) essa disfunção está presente na maioria das vezes. E como já mencionado
previamente, esse padrão é mais encontrado em mulheres devido a diversos fatores
também já mencionados.
A partir da insuficiência ativa dos isquiotibiais, que estarão encurtados devido a
flexão dos joelhos, os glúteos deverão então assumir com mais afinco o objetivo do
exercício, que é executar uma extensão do quadril (tentar descolar os joelhos do solo).
Como a fraqueza e amnésia do glúteo estão presentes, em diferentes níveis, nos alunos
com padrão lordótico, este exercício torna-se peça chave na “reabilitação” dessa
musculatura. Uma boa estratégia a ser utilizada no sapinho é a isometria no pico de
contração muscular do exercício, quando o joelho for descolado uma certa altura do solo.
Exigindo a contração isométrica dos glúteos, cada vez mais reflexos sinápticos serão
enviados para que o iliopsoas seja alongado, além de que a contração isométrica se faz
imprescindível na reabilitação de músculos neurologicamente inibidos, pois, de fato,
quanto mais tempo a contração for sustentada maior a quantidade de impulsos nervosos
serão enviados ao músculo alvo, tornando-o cada vez mais predisposto a contração com
mais facilidade e mais eficiência no recrutamento das unidades motoras, sem que
necessite da dominância de algum sinergista. Em

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26.10 CAMA FLEXORA
Como previamente descrito, as mulheres têm a tendência a postura hiperlordótica
por razões multifatoriais, sendo esse padrão comumente causado por um certo grau de
rigidez nos flexores de quadril, principalmente iliopsoas e reto femoral. Um músculo
biarticular quando em estado de rigidez, tende a não permitir o máximo alongamento em
ambas as articulações que cruza. O reto femoral é um exemplo claro dessa afirmação
quando analisamos uma execução na máquina cama/mesa flexora por sujeitos com
postura hiperlordótica e inibição do núcleo consequentemente.
É muito comum observamos movimentos na pelve durante a flexão de joelho
nesse exercício, mais comum em mulheres. É trivial e algo puramente lógico, claro, se
houver a informação já pré-concebida na mente sobre insuficiências musculares bem
como de anatomia humana básica. É fato que a pelve, mais especificamente região
lombosacra, é uma estrutura filogeneticamente concebida para prestar um papel de
estabilidade quando há necessidade de movimento do quadril/joelho. Tendo esse fato
gravado em mente, você pode agora se perguntar se é correto ou no mínimo aceitável que
haja movimentação na pelve e coluna lombar durante a flexão do joelho na cama flexora.
Durante a flexão do joelho o agonista obviamente é o grupo dos isquiotibiais, junto
é claro com os gastrocnêmios (panturrilha) que também são flexores de joelho apesar de
em menor grau. O antagonista dos isquiotibias, por lógica, é o quadríceps (grupo extensor
do joelho). Mas dentre os músculos do quadríceps, apenas o reto femoral é bi-articular,
possuindo sua origem na espinha ilíaca anteroinferior, portanto é o que tem a maior
chance de entrar em insuficiência passiva durante movimento da flexão de joelho (caso o
mesmo não apresente uma boa flexibilidade).
O que ocorre na cama flexora é que durante a flexão do joelho, o quadríceps deve
alongar para permitir que o joelho possa ser movido com a força dos isquiotibiais, mas,
na maioria dos casos o que vemos é uma anteversão da pelve com acentuação da lordose
lombar durante a flexão do joelho. Em palavras mais simples, a pelve do sujeito se eleva
do banco e a bunda fica empinada quando se flexiona o joelho. O grande problema aí está
na incapacidade do reto femoral de se alongar ao máximo durante a flexão do joelho, e
por isso acaba puxando a espinha ilíaca para ânterioinferior para baixo, antevertendo a
pelve. Outro grande fator que permite que essa compensação ocorra é a fraqueza da
musculatura abdominal, que trabalha de maneira antagônica ao reto femoral no que tange
a manutenção da pelve em neutro.
O reto do abdômen é um retroversor da pelve, puxando a sínfise púbica para cima
enquanto o reto femoral é um anteversão da pelve, que puxa a espinha ilíaca
ânterioinferior para baixo. Quando em igualdade de força e flexibilidade, estes dois
trabalham em harmonia para garantir o equilíbrio da pelve, mas em sujeitos
hiperlordóticos não é o que acontece. O reto do abdômen fraco não conseguirá sustentar

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a pelve em neutro quando o reto femoral entrar em insuficiência passiva durante a flexão
do joelho, pois o grau de rigidez do reto femoral é maior do que o grau de rigidez do reto
do abdômen. Dessa forma o produto final é uma flexão de joelho com anteversão pélvica
e hiperlordose lombar. E essa compensação só irá perpetuar a disfunção já existente, além
de não ser nada eficiente para os isquiotibias, pois durante a anteversão da pelve o
músculo quadrado lombar irá também auxiliar nessa compensação. É por isso que muita
gente sente dores na lombar durante a execução desse exercício e não sentem a
musculatura alvo (isquiotibias) trabalharem.
Alguns treinadores utilizam a estratégia de comprimir as vértebras lombares dos
alunos contra o banco, com o argumento de que assim a pelve não irá se movimentar.
Ledo engano. Além da pelve se movimentar de maneira acessória, o mesmo estará
causando uma severa compressão discal no aluno podendo ocasionar breves e/ou futuras
lesões. É ilógica essa estratégia.

Na imagem acima você pode ver claramente o que foi apresentado até agora no
que tange a região lombopélvica. De fato, é nítida a anteversão da pelve, perceptível pela
distância que se encontra da espinha ilíaca ao banco e pela acentuação da concavidade
lombar (hiperlordose). Vários outros pontos podem ser destacados na imagem acima, e
inclusive é o que vemos constantemente dentro das academias, se não pior do que isso.
O irresistível hábito de querer olhar para frente o que consequentemente acentua
a lordose cervical gerando compressão nessas vértebras; deitar no banco como se fosse a
cama da própria casa e deixar os braços descansados ao lado do banco, o que gera ai uma
excessiva abdução das escápulas, perdendo a tensão ideal do dorso que garante parte da
estabilidade da coluna. As escápulas prestam um papel importante nesse exercício devido
a capacidade de alinhar a coluna quando em posição neutra ou retraída. É aquela velha
máxima que se diz: todas as curvaturas fisiológicas da coluna devem ser preservadas
durante a execução dos exercícios.

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O que realmente é valioso que você compreenda não são esses conceitos e
princípios simplistas sobre coluna e escápulas, mas sim a questão mais aprofundada sobre
o motivo dessas compensações durante o exercício em questão. É trivial saber sobre o
alinhamento ideal nos exercícios, mas mais importante do que isso é saber identificar e
corrigir um padrão de movimento deficiente em poucos segundos, batendo e olho e já
sabendo o que tem de errado, esse é o grande diferencial que você deve fazer na academia.

Acima você pode ver a inquestionável diferença que um bom alinhamento das
escápulas pode fazer para a integridade da coluna e eficiência do exercício. Claro, há
também a manipulação do posicionamento da cabeça para garantir a manutenção natural
da lordose cervical. É interessante notar que na imagem anterior pode ser vista uma
retificação da coluna torácica, provavelmente (certeza) por consequência da hiperlordose
lombar e a reação em cadeia que isso desencadeou até a cabeça. Agora com a pelve em
posição neutra e a curvatura lombar preservada, não há reação em cadeia, ainda mais que
agora as escápulas estão estabilizadas contra o tórax e fornecendo sustentação para a
coluna torácica e cervical. O bom alinhamento é um dos maiores responsáveis pela
eficiência e segurança do treinamento.
A espinha ilíaca agora está em contato com o apoio e esse contato não deverá ser
perdido quando o joelho for flexionado. Para garantir que esse alinhamento ideal seja
mantido a partir de agora durante a execução das repetições, uma dica verbal que pode
ser usada é pedir para que o aluno ative o bracing e contraia a musculatura inferior do
reto do abdômen simultaneamente a flexão do joelho, para que dessa forma a rigidez da
musculatura abdominal se equipare a do reto femoral e ambas as forças e movimentação
da pelve sejam anuladas, fazendo com que a mesma permanece estática e estabilizada.
Outra estratégia mais inteligente é utilizar alongamentos específicos para o reto
femoral imediatamente antes do início do treino de membros inferiores, ou até durante o
intervalo das séries do exercício em questão. Eu particularmente acho interessante
requisitar uma extensão do quadril durante a flexão do joelho, pedindo que o aluno exerça

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contração nos glúteos quando o movimento de flexão do joelho estiver na metade da
amplitude. O glúteo é um retroversor da pelve e trabalha em sinergia com o reto do
abdômen e antagonismo com reto femoral. Portanto, requisitar a extensão de quadril com
a contração dos glúteos e a ativação do bracing durante a flexão do joelho criará uma
força retroversora que anulará a capacidade do reto femoral de anteverter a pelve,
mantendo a mesma estático e permitindo que o isquiotibial cumpra seu papel e tenha
máxima eficiência. Não haverá carga compressiva na lombar, como muitos acham que
aconteça. Carga compressiva existirá quando se permite que a pelve se movimente em
anteversão, acentuando a lordose lombar a esmagando a face posterior dos discos
intervertebrais. Toda estratégia é válida quando esta tem o objetivo de tornar o movimento
mais seguro e eficiente.

26.11 EXERCÍCIOS ISOLADOS PARA GLÚTEOS – não tão simples


quanto parece
É de conhecimento geral que as mulheres têm uma preferência por treinamentos
voltados para a hipertrofia e tonificação dos glúteos. Até aí é válido pois os glúteos são
músculos tanto estéticos quanto funcionais, e quando digo funcionais quero dizer que
estão intimamente relacionados com lombalgias, disfunções no quadril, condromaláscias,
disfunções no tornozelo e no pé. Pensando no lado estético, não é nada agradável ter uma
bunda mole ou atrofiada, pelo menos no meu ponto de vista.
O glúteo máximo é o maior e mais forte músculo do nosso corpo, e por isso seu
limiar de ativação (facilidade para ativar quando requerido o estímulo) acaba sendo alto
na mesma proporção. Seu sinergista é o isquiotibial e seu antagonista principal é o
Iliopsoas. Relembrando a tabela do Janda, podemos notar aí que tanto o sinergista quanto
o antagonista são musculatura filogeneticamente tônicos, portanto, apresentam uma
tendência ao encurtamento e a hiperatividade fusal. E essa tendência é bem evidenciada
em mulheres e homens hiperlordóticas, principalmente.
Sendo motor primário na extensão do quadril, o glúteo é, por lógica, motor
primário nos diversos exercícios que envolvem extensão de quadril na fase concêntrica
(todos os multiarticulares para ser bem preciso). Até então isso é fato, não fosse pelo outro
fato de que os isquiotibias estão sempre roubando a ação desse grupo e pelo iliopsoas
estar sempre impedindo a ativação devido a inibição recíproca. Por isso que usar
alongamentos para os flexores de quadril e posteriores de coxa imediatamente antes do
treino é uma estratégia válida e eficaz, quando se pensa em ativação dos glúteos (que está
diretamente relacionada a estabilidade lombosacra).
Exercícios isolados para glúteos em quem apresenta alterações no posicionamento
da pelve, não é algo inteligente a se fazer até que esse sujeito adquira uma consciência do
núcleo de tal forma que consiga neutralizar a pelve durante movimentos de extensão e
flexão de quadril. É claro que esse papel não será fácil se o uso de exercícios de
alongamento não for estrategicamente utilizado na periodização. Os isquiotibiais quando
encurtados irão entrar em insuficiência passiva durante a flexão de quadril extrema (fase

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excêntrica em grande amplitude), daí limitando o uso dos glúteos na fase concêntrica
além de prejudica a integridade das articulações lombares. A mesma lógica acontece com
o iliopsoas na fase excêntrica.
É nítida a movimentação da pelve em anteversão durante a fase concêntrica de
exercícios como quatro apoios e similares, e a retroversão na fase excêntrica, tanto com
joelhos estendidos quanto com joelhos flexionados. A lógica por trás dessa movimentação
na pelve, eu deveria se manter estática pela ativação do núcleo, é de que o reto femoral e
iliopsoas acabam entrando em insuficiência passiva durante a fase concêntrica devido ao
encurtamento e diferença de rigidez entre reto femoral e reto do abdômen, assim como na
cama flexora. Na fase excêntrica ocorre o mesmo processo, sendo que com o isquiotibial.
Devido a rigidez excessiva em contrapartida a uma baixa rigidez dos paravertebrais os
iquiositibais acabam puxando a pelve em retroversão por não conseguir se alongar ao
máximo mantendo a pelve estática. Apenas com a ativação do nosso núcleo já seria
possível manter a pelve estática durante os movimentos de extensão e flexão, entretanto,
a maioria dos sujeitos que realizam este tipo de exercício são destreinadas e não possuem
capacidade de controle e ativação da musculatura profunda, arrisco até em dizer que nem
indivíduos treinados tem essa facilidade.
Antes de se pensar na musculatura superficial, a qual é fácil de ser sentida e
ativada, por isso é a mais visada e que ganha prioridade no treinamento, é preciso pensar
que a estabilidade do nosso corpo é garantida pelo pequenos músculos profundos, os quais
apresentam ativação mesmo antes de pensarmos em nos movimentar, isso confirmado
através de estudos com eletromiografia. Os glúteos quando estão em estado de inibição e
atrofia apresentam um atraso na ativação durante a extensão de quadril, em contrapartida
a ativação dos isquiotibiais se mostram antecipadas, ou seja, basta mover o quadril no
início da extensão para o mesmo apresentarem excesso de atividade. Outro fato
importante a se destacar no que tange esses exercícios isolados é que o quadrado lombar
quando está hiperativo, principalmente devido a insuficiência do glúteo médio em
estabilizar a pelve, acaba auxiliando os isquiotibias na extensão do quadril deficiente,
devido ao glúteo máximo fraco, e acabam antevertendo a pelve em concomitância a
insuficiência passiva do reto femoral, gerando fadiga e dor na lombar de maneira aguda,
e crônica. Tudo isso irá perpetuar o quadro disfuncional do indivíduo, onde o glúteo será
ainda mais inibido e a musculatura sinergista se tornará ainda mais ativa, transformando
os exercícios em movimento compensatórios, desencadeando uma bola de neve de
disfunção sem fim.

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26.12 LEVANTAMENTO TERRA
Por: Ricardo Farache - @rfarache

Sem sombra de dúvidas, o levantamento terra (LT) ou deadlift é um dos exercícios


mais completos e funcionais dentro do treinamento de força. Se bem executado e
devidamente encaixado em períodos específicos, pode beneficiar atletas das mais diversas
modalidades, assim como praticantes recreacionais de musculação e até pessoas em
processo recuperativo de algum tipo de lesão. Segundo Coutinho (2016), para qualquer
movimento de resultado final ou target, seja ele o desempenho na vida cotidiana ou a
performance esportiva, o melhor treinamento é aquele que é ou rigorosamente específico
ou o mais multiarticular, multimuscular, multiplano e estimulador de capacidades
cinestésicas possível. Pensemos aqui sobre a transferibilidade da adaptação neural
adquirida em movimento.
O LT é um dos 3 exercícios que compõe as competições de powerlifting (em
grande parte das federações), e que pode ser dividido em três fases: liftoff (quando o
praticante tira a barra do chão), knee pass (quando a barra passa pelos joelhos), e a fase
lockout (fase de finalização).
Além do Levantamento Terra convencional (LTC), outro extremamente difundido
em academias é o estilo Levantamento Terra Sumô (LTS), que também é competitivo e
apresenta benefícios semelhantes aos daquele. No estilo convencional, os pés devem ficar
a largura dos ombros ou quadris. Já no sumô, os pés devem ficar a partir da linha dos
deltoides médios (em competição essa medida vai bem além disso). Basicamente, a
distância bitrocantérica é a primeira grande mudança.

Técnica de execução
O passo a passo do levantamento, nas duas formas, é parecido. Deve-se, em
primeiro lugar, buscar a maior aproximação possível da barra. A entrada na barra pode
variar conforme a escola de referência e, normalmente, deixa-se livre para que o

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atleta/praticante escolha a qual melhor se adapte. Por exemplo: na escola argentina, a
barra é rolada até a frente e então é puxada em aceleração em direção à perna, iniciando
assim a tração.
Pode-se também entrar na barra sem olhar para a mesma, simplesmente sentindo-
a na canela, abaixando o quadril e fazendo a pegada, para daí então iniciar o movimento.
Outra maneira é já posicionada na barra, estender joelhos e elevar o quadril ao máximo
(aparentando um stiff), fazendo após isso um movimento de “sentar” gerando uma
alavanca pra iniciar a tração. Alguns praticantes conseguem ainda fazer esse início com
uma entrada profunda com flexão de quadril e joelhos, como se fosse um agachamento.
A tração deve começar com o preenchimento de todos os quesitos já conhecidos
para um bom exercício livre, evitando trancos. Um termo utilizado por atletas é o “selar”
as costas, consistindo em: retrair as escápulas, realizar a manobra respiratória e,
consequentemente, ativar todo o corpo, gerando máxima estabilidade, segurança e
eficiência no exercício. Uma sugestão é pressionar os calcanhares com força no chão pra
dar início ao percurso da barra.
A pegada varia conforme o grau de conforto do praticante. Pode ser invertida (uma
mão em pronação e a outra em supinação). A mão em supinacão pode ser a mais fraca,
podendo ser trocada ao longo das séries. Pode-se fazer a pegada olímpica, com as mãos
em posição pronada. Existe também a pegada Russa, com as mãos em pronacão, porém
com o polegar embaixo dos dedos indicador e médio. Além disso há a possibilidade de
fazer um tipo de pegada conhecida como pegada de risco, na qual a barra se apoia somente
nas falanges e, por fim, a pegada Hook, na qual prende-se o polegar entre a barra e os 2-
3 primeiros dedos
Dessa forma, entende-se que uma periodização bem montada para o alcance de
um desempenho superior contará com outros movimentos básicos e acessórios (ou
auxiliares).

Escolas internacionais – uma breve explicação


Existem várias escolas de levantadores mundo afora. Dentre elas, uma de grande
destaque vem da Europa Oriental: Boris Sheiko. Seu sistema (conhecido como o segredo
russo) inclui uma série de variáveis bastante particulares, como a quantificação precisa
do volume de treino. Para se ter uma ideia,, nesse método, um volume baixo corresponde
a 50 levantamentos, um volume médio entre 51 e 100, e um volume alto, acima de 100.
Ele utiliza pelo menos 6 exercícios para o aprimoramento do LT: Agachamento, Bom dia,
Bom dia sentado com as pernas afastadas (Seated Good Morning), Terra de Caixas e
Terra até o joelho. Existem outras variações e combinações, mas por aqui ficaremos com
as duas versões mais interessantes já citadas, e que beneficiam o publico em geral.

Cinesiologia
O composto dos músculos eretores da espinha participarão ativamente do LT
(função cinesiologica de estabilização da coluna vertebral). Uma contração isométrica
desse grupo muscular, que é composto por vários grupos isolados de músculos, tem a
função de manter a estrutura da coluna vertebral ereta com as suas curvaturas anatômicas
e fisiológicas normais. Sendo assim, componente importante para preservar os discos
intervertebrais. Das ações dos demais estabilizadores: o músculo transverso do abdome
comprime e gera forte pressão intravisceral forte, juntamente com o reto abdominal,
associando aos oblíquos também a manutenção da posição do tronco. Grande dorsal,

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trapézio e toda a linha Superficial Posterior são requisitados nesse exercício. Para o LTS,
há um aumento na requisição do quadríceps, como veremos a seguir.

Biomecânica
O movimento, em ambos, caracteriza-se por uma extensão de quadril, seguida de
tronco e joelhos (na fase concêntrica, de onde parte o equipamento), e de uma flexão
passiva das mesmas estruturas (na fase excêntrica).
Comparando os estilos, no sumô a trajetória da barra é menor do que no modelo
convencional, devido a abdução/rotação de quadril, o que produzirá um torque maior no
joelho (até 5 vezes maior em comparação ao outro). ESCAMILLA et al. (2002),
analisaram o movimento no intervalo de 0o a 90º na fase ascendente e descendente do
joelho em 12 repetições máximas (RM). Encontrou-se pequena, porém significativa
diferença quando observados os valores da média do estilo sumô em relação ao
convencional, além da maior atividade muscular do vasto lateral e vasto medial, apontado
por ESCAMILLA, FRANCISCO e FLEISIG (2000) o aumento do momento extensor no
LTS. Em função da amplitude, o glúteo máximo tem a mesma resposta nos dois tipos de
levantamento, tratando-se de atividade muscular, talvez em função do torque extensor do
quadril semelhante entre ambas situações. ESCAMILLA et al. (2002), analisaram
também a atividade dos adutores em uma amostra altamente treinada de jogadores de
Futebol Americano (NCAA I), não encontrando significados estatísticos na diferença de
ativação desta musculatura nas duas modalidades.
Outro cuidado que deve-se ter, é com o excesso de suposições a respeito do
posicionamento da curvatura cervical. Levantadores experientes (atletas de altíssimo
nível) se beneficiam da extensão cervical durante todas as fases do LT. A sobrecarga mais
acentuada é quase que totalmente nos discos lombares. Em um indivíduo jovem, essa
força é de 8000 a 10000N. Entretanto, na coluna cervical é praticamente nula. Segundo
Hall (2007), como os músculos espinais apresentam braços de momento pequenos, eles
precisam desenvolver grandes forças para contrabalançar os torques de flexão produzidos
pelo peso dos segmentos corporais e as cargas externas. Manter a barra sempre próxima
ao corpo é, além de tudo, mais seguro. Os músculos das costas, com um braço de
momento de aproximadamente 6 cm, precisam contrabalançar o torque produzido pelos
pesos dos segmentos corporais mais a carga externa.
Nesse sentindo, manter o alinhamento da coluna cervical aparece apenas como
mais um recurso para o controle postural e possível ganho de consciência corporal. Isso
demonstra que manter ou não essa condição não surtirá em nenhum efeito negativo, tendo
em vista que se a análise for voltada à performance, pode até ser benéfico. O interessante
e seguro é a manutenção da curvatura anatômica natural da coluna. Afinal, a carga
tensional sobre os discos, por exemplo entre L3 e L4, L4 e L5, desde que equilibrada,
passa a ser normal e aceita pelo corpo.
Ambos levantamentos são semelhantes em relação a atividade muscular.
Escamilla e colaboladores (2002), encontraram que o recrutamento foi de 58% para os
dois grupamentos musculares no sumô e 60% e 56% respectivamente para reto abdominal
e oblíquo externo no LT, sem diferença estatística entre as condições.

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Conclusão
O Levantamento Terra, em suas duas variações apresentadas, aparece como
ferramenta indispensável na prescrição de um bom programa de treinamento. Desde que
bem trabalhado e com todos requisitos da preparação geral devidamente alinhados,
apresenta-se como exercício seguro e eficiente para os ganhos de força e hipertrofia, bem
como recuperação de lesões ou padrões alterados osteomioarticulares.

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27. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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muscular. 3. e.d. Porto Alegre: Artmed, 2006.
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basic principles and practices. Rev. ed. 1950.
12. HALL, Susan J. Biomecânica básica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
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13. HORSCHIG, Aaron. The Squat Bible. 2016
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21. MARQUES, Amélia P. Cadeias musculares: um programa para ensinar avaliação
fisioterapêutica global. 2. ed. São Paulo: Manole, 2005.
22. MYERS, Thomas. Trilhos anatômicos: meridianos miofasciais para terapeutas
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23. NEUMANN, Donald a. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:
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25. OSAR, Evan. Exercícios corretivos para disfunções de quadril e ombro. Porto
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27. SAHRMANN, Shirley A. Diagnóstico e tratamento das síndromes de disfunção
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“Ninguém é tão pequeno que não possa ensinar, nem
tão grande que não possa aprender”

VERSÃO 2.0 EM
DESENVOLVIMENTO

MUITO OBRIGADO!

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