Texto 3 Atkinson (2018) - Atenção
Texto 3 Atkinson (2018) - Atenção
Texto 3 Atkinson (2018) - Atenção
momento, para ilustrar, pense que está vendo um pinhei- manter determinadas características inerentes aos objetos
ro a distância. Uma árvore de 2 metros de altura vista a (por exemplo, a forma retangular inerente à porta) , mes-
uma distância de 100 metros produzirá a mesma imagem mo quando o ângulo da porta com relação à sua pessoa
na retina que uma árvore de 4 metros vista a uma distância crie uma forma trapezoidal na sua retina.
de 200 metros (como seria um número infinito de outras
combinações de altura-distância). O problema "muitos-
-para-um" vincula a decisão , com base em uma imagem RESUMO DA SEÇÃO
retinal, que seriam as infinitas combinações possíveis en-
• O estudo da percepção lida com a questão sobre como
tre tamanho e distância que dão origem à imagem retinal.
os organismos processam e organizam informações sen-
O sistema visual deve resolver esse problema usando ou-
soriais novas a fim de (1) formar uma representação coe-
tras informações - ambas as informações já armazenadas rente ou modelo do mundo dentro do qual o organismo
no cérebro (por exemplo, essas árvores são aquelas de Na- vive; e (2) usar essa representação para resolver natu-
tal que geralmente têm 2 metros de altura , e não 4 metros) ralmente os problemas que ocorram, tais como navegar,
e dicas visuais adicionais (por exemplo, a pessoa ao lado pegar e planejar.
da árvore tem quase a mesma altura da árvore). • As cinco principais funções do sistema perceptivo são:
De forma mais genérica, fazer inferências dos dados (1) determinar de que parte do ambiente sensorial parti-
sensoriais para o estado do ambiente que dá origem aos cipar; (2) localizar ou determinar onde estão os objetos;
dados requer suposições sobre como o mundo se jun- (3) reconhecer ou determinar o que são os objetos; (4)
ta - pássaros devem ser vistos sobre cavalos, fornos ge- abstrair as informações críticas dos objetos; e (5) man-
ralmente estão perto de geladeiras, a cena geralmente é ter a aparência dos objetos constante, mesmo que suas
iluminada por uma única fonte de luz , e assim por dian- imagens retinais mudem. Outra área de estudo é como
te. Portanto, a percepção é o uso de tais suposições para se desenvolvem as capacidades perceptivas.
integrar informações sensoriais recebidas ao modelo do
mundo , com base no qual tomamos decisões e agimos.
Geralmente, esse processo funciona bastante bem e, por
exemplo , uma barraca amarela no ambiente produz um
ATENÇÃO
modelo - uma percepção - de uma barraca amarela em
nossa mente. Algumas vezes não dá tão certo: uma barra- Enquanto isso , o humano bombardeado geralmen-
ca amarela no ambiente gera uma percepção de um urso te está envolvido em tentar realizar alguma tarefa. Essa
em nossa mente, e nós atiramos nele. tarefa pode ser simplesmente beber uma xícara de café
ou uma tarefa tão complexa como fazer uma cirurgia de
Cinco funções da percepção
cérebro, ou algo no meio-termo, como tentar digerir as
A percepção é suficientemente complexa para que informações deste livro. Seja qual for a tarefa , contudo,
toda forma de classificação deve ser, de alguma maneira, somente uma pequena porção de fluxo de informações
arbitrária. Para fins organizacionais, contudo, é útil divi- recebidas é relevante; a grande maioria é irrelevante.
dir as questões perceptivas em cinco categorias. A primei- Esse estado de coisas implica que os sistemas sensoriais
ra categoria é o processo de atenção: uma decisão deve ser e o cérebro devem ter algum meio de triar as informa-
tomada sobre quais informações recebidas serão processa- ções recebidas - permitindo que as pessoas selecionem
das mais adiante e quais serão descartadas. (Eu tenho de somente as informações relevantes à tarefa presente para
escutar a conversa à minha esquerda que parece se referir o processamento perceptivo e ignorar as informações ir-
à minha esposa ou a conversa à minha direita que pa- relevantes. Se esse processo de triagem não existir, as in-
rece envolver o resultado do jogo de cricket?) Segunda formações irrelevantes esmagarão as relevantes e nunca
categoria: o sistema deve poder determinar onde estão os conseguiremos fazer nada.
objetos de interesse. (O objeto potencialmente perigoso A capacidade de perceber seletivamente um pequeno
está a uma distância de um braço, a centenas de metros ou subconjunto de todas as informações no ambiente é o
onde?) Terceira categoria: o sistema perceptivo deve po- tópico desta seção. Agora, acredita-se que essa aparente-
der determinar quais objetos estão por aí. (Estou olhando mente simples capacidade de envolver três conjuntos se-
para uma barraca ou para um urso?) Quarta categoria: o parados de processos é automaticamente diferenciada no
sistema deve poder abstrair as características críticas do cérebro (por exemplo, Fan et al., 2002). Uma é responsá-
objeto reconhecido . (Um sofá, mesmo que com dobras e vel por nos manter alerta. Por exemplo, uma controladora
quebras, será razoavelmente percebido e descrito como de tráfego aéreo precisa se manter alerta para saber por
"retangular" ainda que sua forma não seja um retângulo quantos aviões é responsável ; se esse sistema falhar, isso
perfeito.) Essa capacidade de abstração está fortemente pode levar a um lapso desastroso de atenção . O segundo
relacionada à quinta categoria das questões de percep- sistema é responsável por orientar os recursos de proces-
ções, a constância perceptiva: o sistema perceptivo deve samento com relação a informações relevantes às tarefas
118 • Introdução à psicologia de Atkinson & Hilgard
(por exemplo, focar uma voz para entender o que está gem contendo um objeto que era raro ou não raro dentro
sendo dito); e o terceiro, que muitas vezes é chamado de de um contexto de fundo. Por exemplo, é possível mos-
"executivo", decide se queremos continuar a participar trar a um observador uma imagem do pátio de uma fazen-
das informações ou, ao contrário, mudar nossa atenção da com um trator no meio , enquanto um observador verá
para outras informações (por exemplo , "Essa pessoa está a mesma imagem do pátio, porém com um polvo, e não
falando de cloroplastos - Eu não estou interessado(a) em com um trator. As fixações dos olhos foram direcionadas
cloroplastos") . O ponto é que, em vez de ser um processo antes e mais frequentemente ao objeto raro (o polvo) que
único , a atenção é mais bem-vista como algo que envolve ao objeto normal (o trator). (Para fins de controle, ou-
uma série de processos que interagem. A seguir, descreve- tros dois observadores verão as imagens, respectivamen-
mos esses processos de forma mais detalhada. te, com um polvo em uma imagem sob a água e com um
trator na mesma imagem sob a água; nesse caso, o trator
Atenção seletiva será o objeto raro , e o polvo o objeto normal. )
Como, exatamente, dirigimos nossa atenção a objetos Foco da arma
de interesse? O meio mais simples é reorientar fisicamen-
te nossos receptores sensoriais. No caso da visão , isso sig- Uma aplicação prática e útil deste tipo de pesquisa
nifica mover nossos olhos até que o objeto de interesse de movimento ocular envolve o que é chamado foco da
arma: vítimas de crimes que envolvem armas geralmente
caia na fóvea, que, como você deve se lembrar, é a região
são capazes de descrever com precisão como era a arma, e
mais sensível da retina - a região cuja finalidade é proces-
parecem saber relativamente pouco sobre os outros aspec-
sar os detalhes visuais.
tos da cena, tais como a aparência da pessoa que a estava
Movimentos dos olhos apontando , sugerindo que a atenção estava, em princípio,
Os estudos de atenção visual muitas vezes envolvem focada na arma. Estudos de laboratório geralmente con-
fixar os olhos em um observador olhando para uma ima- firmaram essa evidência anedótica (veja Steblay, 1992).
gem ou cena. Se olharmos para os olhos da pessoa, é Loftus, Loftus e Messo (1987) registraram saltos enquan-
evidente que eles não ficam estáticos. Ao contrário , a var- to observadores olhavam uma sequência de slides , um dos
redura visual demora curtos períodos de tempo durante quais mostrava uma pessoa carregando um objeto crítico
os quais os olhos permanecem relativamente estacioná- que podia ser tanto benigno (um talão de cheques) como
rios, chamados fixação dos olhos, separados por rápi- ameaçador (uma faca). Eles observaram que o maior nú-
dos pulos do olho, chamados saltos. Cada fixação dura mero de fixações dos olhos se deu com o objeto crítico,
aproximadamente 300 milissegundos (aproximadamente comparadas à cena com o objeto benigno; em consequên-
um terço de um segundo) , enquanto os pulos são muito cia, os observadores foram menos capazes de reconhecer
rápidos (na casa dos 20 milissegundos). É durante os pe- outros aspectos da cena, como o rosto da pessoa que esta-
ríodos de fixação que as informações visuais são obtidas va segurando o objeto, depois de ver o objeto ameaçador,
do meio ambiente; a visão é essencialmente eliminada du- comparado ao benigno.
rante os pulos.
Monitorando o modelo de fixação do olho da pessoa
na cena, podemos obter um insight considerável sobre
a definição da sequência da atenção visual dessa pes-
soa. Existem inúmeras técnicas para registrar os saltos,
mas todas elas, no fim das contas, produzem um registro
computadorizado de milissegundo em milissegundo de
onde a cena é fixada. Esse registro pode ser usado , entre
outras coisas, para reproduzir a própria cena com a se-
quência de fixações sobre ela, como mostrado na Figura
3.31. Em geral, os pontos sobre os quais os olhos se fi-
xam não são aleatórios; são as áreas da cena que contêm
mais informações. A definição exata de "informação" vai
além do escopo deste livro, mas neste contexto refere-se,
aproximadamente, a essas áreas que mais provavelmente
diferenciarão a cena que está sendo vista de outra cena si-
milar. Por exemplo, como mostrado na Figura 3.31 , uma
pessoa que olha para um rosto faz muitas fixações nos
Figura 3.31 Movimentos dos olhos quando veem uma imagem. A
olhos, nariz e boca - essas características se diferenciam direita da imagem da menina há um registro dos movimentos oculares
mais eficientemente em um rosto que em outro. Loftus e feitos por um indivíduo inspecionando a imagem. (D. L. Yarbuss (1967). Eye
Mackworth (1978) demonstraram a relação entre as fixa- Movements and Vision, Plenum Publishing Corporation. Reproduzida com
ções e as informações pictóricas apresentando uma ima- autorização do editor.)
Capítulo 3 Processos sensoriais, percepção e consciência • 119