Direito Processual Penal - INFORMATIVOS 2021
Direito Processual Penal - INFORMATIVOS 2021
Direito Processual Penal - INFORMATIVOS 2021
607-37
ANPP 1
AÇÃO PENAL 1
COMPETÊNCIA 2
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 3
CITAÇÃO 4
PROVAS 4
BUSCA E APREENSÃO 9
TRIBUNAL DO JÚRI 12
NULIDADES 14
RECURSOS 16
HABEAS CORPUS 17
TEMAS DIVERSOS 18
COLABORAÇÃO PREMIADA 19
ANPP
O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo de não persecução
penal (ANPP).
Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara investigatória,
impor ao MP a celebração de acordos.
Não se tratando de hipótese de manifesta inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o reexame de
sua negativa, nos termos do art. 28-A, § 14, do CPP, não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle
o ato de recusa, quanto ao mérito, a fim de impedir a remessa ao órgão superior no MP. Isso porque a
redação do art. 28-A, § 14, do CPP determina a iniciativa da defesa para requerer a sua aplicação.
STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2021 (Info 1017)
AÇÃO PENAL
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O eventual trancamento de inquérito policial por excesso de prazo não impede, sempre e de forma
automática, o oferecimento da denúncia
STF. 2ª Turma. HC 194023 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/09/2021.
COMPETÊNCIA
Não compete à Justiça Federal processar e julgar o desvio de valores do auxílio emergencial pagos durante a
pandemia da covid-19, por meio de violação do sistema de segurança de instituição privada, sem que haja
fraude direcionada à instituição financeira federal.
Caso concreto: Regina era beneficiária do auxílio emergencial. O dinheiro do benefício foi transferido da Caixa
para a conta de Regina no Mercado Pago. Foi então que Regina combinou de transferir a parcela do auxílio
emergencial (R$ 600,00) para a conta de Pedro, um conhecido. O objetivo da transferência seria possibilitar o
recebimento antecipado do auxílio emergencial. O combinado seria Pedro sacar o dinheiro e repassá-lo para
Regina. Ocorre que Pedro não cumpriu e ficou com o dinheiro. Foi instaurado inquérito policial para apurar o
crime de furto mediante fraude que teria sido praticado por Pedro. A Justiça Estadual é competente para julgar
esse delito.
STJ. 3ª Seção. CC 182940-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/10/2021 (Info 716).
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de esbulho possessório de imóvel vinculado ao Programa
Minha Casa Minha Vida.
O art. 161, § 1º, inciso II, do Código Penal, incrimina a conduta de invadir terreno ou edifício alheio, para o fim de
esbulho possessório, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas.
A vítima do crime de esbulho possessório, tipificado no art. 161, § 1º, II, do Código Penal é o possuidor direto,
pois é quem exercia o direito de uso e fruição do bem. Na hipótese de imóvel alienado fiduciariamente, é o
devedor fiduciário que ostenta essa condição, pois o credor fiduciário possui tão-somente a posse indireta.
A Caixa Econômica Federal, enquanto credora fiduciária e, portanto, possuidora indireta, não é a vítima do
referido delito. Contudo, no âmbito cível, a empresa pública federal possui legitimidade concorrente para propor
eventual ação de reintegração de posse, diante do esbulho ocorrido. A sua legitimação ativa para a ação
possessória demonstra a existência de interesse jurídico na apuração do crime, o que é suficiente para fixar a
competência penal federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88. Os imóveis que integram o Programa Minha
Casa Minha Vida são adquiridos, em parte, com recursos orçamentários federais. Tal fato evidencia o
interesse jurídico da União na apuração do crime de esbulho possessório em relação a esse bem, ao
menos enquanto for ele vinculado ao mencionado Programa, ou seja, quando ainda em vigência o
contrato por meio do qual houve a compra do bem e no qual houve o subsídio federal, o que é a situação
dos autos. STJ. 3ª Seção. CC 179.467-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/06/2021 (Info 700).
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A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar crime comum conexo com crime eleitoral, ainda
que haja o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva do delito eleitoral.
Caso concreto: o ex-Governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, com colaboração de outros agentes
políticos, teria desviado recursos públicos e utilizado esse dinheiro para financiar sua campanha de reeleição no
ano de 1998. Vale ressaltar que esse dinheiro utilizado na campanha não teria sido contabilizado na prestação
de contas, caracterizando aquilo que se chama, na linguagem popular, de “caixa dois”. Em tese, o agente teria
praticado os seguintes crimes: a) corrupção passiva (art. 317 do CP); b) falsidade ideológica (art. 350 do Código
Eleitoral); c) lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98). Dois crimes são de competência da Justiça estadual
comum e um deles da Justiça Eleitoral. Como ficará a competência para julgar estes delitos? Serão julgados
separadamente ou juntos? Qual será a Justiça competente? Justiça ELEITORAL. Competirá à Justiça Eleitoral julgar
todos os delitos. Segundo entende o STF: Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que
lhes forem conexos (Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019). Ocorre que,
no caso concreto, há uma peculiaridade: ainda durante o inquérito, ficou reconhecida a prescrição da pretensão
punitiva em relação ao crime eleitoral. Logo, houve arquivamento do inquérito no que tange ao crime eleitoral.
Diante disso, indaga-se: mesmo assim, a Justiça Eleitoral continuará sendo competente para julgar os demais
delitos? SIM. Mesmo operada a prescrição quanto ao crime eleitoral, subsiste a competência da Justiça Eleitoral.
Trata-se de aplicação lógica do disposto no art. 81 do CPP. STF. 2ª Turma. RHC 177243/MG, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 29/6/2021 (Info 1024).
Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou estadual) e crime
eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral. A Justiça Eleitoral é competente
para processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos. STF. Plenário. Inq 4435
AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933). STJ. 5ª Turma. HC 612.636-RS, Rel.
Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/10/2021
(Info 713).
Extrapola a autonomia do estado previsão, em constituição estadual, que confere foro privilegiado a
Delegado Geral da Polícia Civil.
A autonomia dos estados para dispor sobre autoridades submetidas a foro privilegiado não é ilimitada, não
pode ficar ao arbítrio político do constituinte estadual e deve seguir, por simetria, o modelo federal.
STF. Plenário. ADI 5591/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/3/2021 (Info 1010)
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As constituições estaduais não podem instituir novas hipóteses de foro por prerrogativa de função além
daquelas previstas na Constituição Federal. É inconstitucional norma de constituição estadual que estende o
foro por prerrogativa de função a autoridades não contempladas pela Constituição Federal de forma expressa
ou por simetria. STF. Plenário. ADI 6501/PA, ADI 6508/RO, ADI 6515/AM e ADI 6516/AL, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgados em 20/8/2021 (Info 1026).
Compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns, não relacionados com o
cargo, em tese praticados por Promotores de Justiça.
Situação hipotética: João estava de passagem por Aracaju (SE) e ali praticou um crime. Vale ressaltar que João é
Promotor de Justiça no Estado do Ceará. Importante também registrar que o delito por ele praticado não tem
nenhuma relação com o cargo ocupado. O feito foi inicialmente distribuído ao Juízo de Direito da Vara Criminal
de Aracaju (1ª instância da Justiça estadual de Sergipe). O juiz, contudo, reconheceu sua incompetência sob o
fundamento de que, nos termos do art. 96, III, da CF/88, compete ao Tribunal de Justiça julgar os crimes
praticados por Promotores de Justiça. O TJ/CE, entretanto, disse o seguinte: no julgamento da AP 937 QO/RJ, o
STF conferiu nova interpretação (restritiva) ao art. 102, I, alíneas “b” e “c”, da CF/88, fixando a competência
daquela Corte para julgar os membros do Congresso Nacional exclusivamente quanto aos crimes praticados no
exercício e em razão da função pública exercida. Pelo princípio da simetria, esta interpretação restritiva do foro
por prerrogativa de função deveria ser aplicada também pelo Tribunal de Justiça. Logo, como o crime praticado
pelo Promotor de Justiça não foi cometido em razão da função pública por ele exercida, a competência seria do
juiz de 1ª instância. O STJ afirmou que a competência é, de fato, do Tribunal de Justiça. A Corte Especial do STJ, no
julgamento da QO na APN 878/DF reconheceu sua competência para julgar Desembargadores acusados da
prática de crimes com ou sem relação ao cargo, não identificando simetria com o precedente do STF. Naquela
oportunidade, firmou-se a compreensão de que se Desembargadores fossem julgados por Juízo de Primeiro
Grau vinculado ao Tribunal ao qual ambos pertencem, criar-se-ia, em alguma medida, um embaraço ao Juiz de
carreira responsável pelo julgamento do feito. Em resumo, o STJ apontou discrímen relativamente aos
magistrados para manter interpretação ampla quanto ao foro por prerrogativa de função, aplicável para crimes
com ou sem relação com o cargo, com fundamento na necessidade de o julgador desempenhar suas atividades
judicantes de forma imparcial. Nesse contexto, considerando que a previsão da prerrogativa de foro da
Magistratura e do Ministério Público encontra-se descrita no mesmo dispositivo constitucional (art. 96, III, da
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CF/88), seria desarrazoado conferir-lhes tratamento diferenciado. STJ. 3ª Seção. CC 177.100-CE, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 08/09/2021 (Info 708)
CITAÇÃO
É possível a utilização de WhatsApp para a citação de acusado, desde que sejam adotadas medidas suficientes
para atestar a autenticidade do número telefônico, bem como a identidade do indivíduo destinatário do
ato processual.
STJ. 5ª Turma. HC 641.877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/03/2021 (Info 688).
O CPP afirma que, se for expedida uma carta rogatória para citar um acusado no exterior, o prazo prescricional
ficará suspenso até que ela seja cumprida:
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória,
suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
Até quando o prazo prescricional fica suspenso? Até o cumprimento da carta ou até a sua juntada aos autos?
O termo final da suspensão do prazo prescricional pela expedição de carta rogatória para citação do acusado
no exterior é a data da efetivação da comunicação processual no estrangeiro, ainda que haja demora para
a juntada da carta rogatória cumprida aos autos.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.882.330/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/04/2021 (Info 691)
O art. 366 do CPP estabelece que se o acusado for citado por edital e não comparecer ao processo nem
constituir advogado o processo e o curso da prescrição ficarão suspensos. Enquanto o réu não for localizado,
o curso processual não pode ser retomado.
STJ. 6ª Turma. RHC 135.970/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 20/04/2021 (Info 693).
PROVAS
Não podem ser usadas como prova as mensagens obtidas por meio do print screen da tela da ferramenta
WhatsApp Web.
Determinada pessoa entregou à Polícia prints de conversas registradas no WhatsApp Web. Tais conversas
demonstravam a ocorrência de crimes contra a Administração Pública. Vale ressaltar que esses prints foram
feitos por um dos integrantes do grupo do aplicativo, ou seja, os prints foram tirados por um dos interlocutores
da conversa.
Mesmo assim, o STJ considerou ilícita essa prova. Isso porque, para o STJ, é inválida a prova obtida pelo
WhatsApp Web, tendo em vista que nessa ferramenta “é possível, com total liberdade, o envio de novas
mensagens e a exclusão de mensagens antigas (registradas antes do emparelhamento) ou recentes (registradas
após), tenham elas sido enviadas pelo usuário, tenham elas sido recebidas de algum contato. Eventual exclusão
de mensagem enviada (na opção "Apagar somente para Mim") ou de mensagem recebida (em qualquer caso)
não deixa absolutamente nenhum vestígio, seja no aplicativo, seja no computador emparelhado, e, por
conseguinte, não pode jamais ser recuperada para efeitos de prova em processo penal, tendo em vista que a
própria empresa disponibilizadora do serviço, em razão da tecnologia de encriptação ponta-a-ponta, não
armazena em nenhum servidor o conteúdo das conversas dos usuários” (STJ. 6ª Turma. RHC 99.735/SC, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 27/11/2018). Assim, a pessoa que tirou os prints poderia, em tese, ter manipulado as
conversas, de maneira não há segurança para se utilizar como prova.
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Diante disso, o STJ declarou nulas as mensagens obtidas por meio do print screen da tela da ferramenta
WhatsApp Web, determinando-se o desentranhamento delas dos autos, mantendo-se as demais provas
produzidas após as diligências prévias da polícia realizadas em razão da notícia anônima dos crimes.
STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 133.430/PE, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/02/2021.
É permitido o acesso ao whatsapp, mesmo sem autorização judicial, em caso de telefone celular
encontrado no interior de estabelecimento prisional.
Caso concreto: a Polícia Penal, durante procedimento de revista em uma das galerias do presídio, encontrou
dois aparelhos celulares, “um escondido embaixo da escadaria próxima a porta do solário e outro em um vão
aberto devido a corrosão no batente da ducha”. Como não foi localizado, naquele momento, o segregado, que
usava e tinha a posse de um desses objetos, os agentes acessaram o conteúdo ali existente, ocasião em que
foram encontrados dados do preso WhatsApp e no Facebook instalados no referido aparelho. Identificado o
preso, o Juízo das Execuções Penais, na audiência de justificação, homologou a falta disciplinar de natureza grave
e revogou parte dos dias remidos. A atuação da Polícia Penal e do Poder Judiciário foi legítima, não havendo
ilicitude da prova obtida por meio do acesso ao aparelho celular.
Em regra, é ilícita a prova obtida diretamente dos dados constantes de aparelho celular, sem prévia autorização
judicial. O mencionado entendimento, todavia, deve ser distinguido da situação apresentada no caso concreto.
Os julgados do STJ que afirmam a nulidade tratam de aparelhos celulares apreendidos fora de estabelecimentos
prisionais. O caso concreto se refere à hipótese em que o aparelho é encontrado dentro do presídio, em
situação de explícita violação às normas jurídicas que regem a execução penal.
Os direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto, sendo possível a existência de limitações de ordem
jurídica. Os arts. 3º, 38 e 46, todos da LEP, representam hipóteses de restrição legal aos direitos individuais dos
presos. Nesse cenário, uma das consequências da imposição da prisão - penal ou processual - é a proibição da
comunicação do recluso com o ambiente externo por meios diversos daqueles permitidos pela lei. Para garantir
a observância dessa restrição foram editadas diversas normas que têm por objetivo coibir o acesso do
segregado a aparelhos telefônicos, de rádio ou similares.
Conforme previsto no art. 41, inciso XV, da LEP, o contato do preso com o mundo exterior é autorizado por meio
de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os
bons costumes. Mesmo no caso de comunicação por intermédio de correspondência escrita, permitida
legalmente, o STF firmou jurisprudência no sentido de que, diante da inexistência de liberdades individuais
absolutas, é possível que a Administração Penitenciária, sem prévia autorização judicial, acesse o seu conteúdo
quando houver inequívoca suspeita de sua utilização como meio para a preparação ou a prática de ilícitos. A
necessidade de se resguardar a segurança, a ordem pública e a disciplina prisional, segundo a Corte Suprema,
prevalece sobre a reserva constitucional de jurisdição.
Nessa conjuntura, se é prescindível decisão judicial para a análise do conteúdo de correspondência a fim de
preservar interesses sociais e garantir a disciplina prisional, com mais razão se revela legítimo, para a mesma
finalidade, o acesso dos dados e comunicações constantes em aparelhos celulares encontrados ilicitamente
dentro do estabelecimento penal, pois a posse, o uso e o fornecimento do citado objeto são expressamente
proibidos pelo ordenamento jurídico.
Tratando-se de ilicitude manifesta e incontestável, não há direito ao sigilo e, por consequência, inexiste a
possibilidade de invocar a proteção constitucional prevista no art. 5º, inciso XII, da Carta da República. Por certo,
os direitos fundamentais não podem ser utilizados para a salvaguarda de práticas ilícitas, não sendo razoável
pretender proteger aquele que age em notória desconformidade com as normas de regência.
STJ. 6ª Turma. HC 546.830/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/03/2021.
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É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do hóspede, em quarto de
hotel não utilizado como morada permanente, desde que presentes as fundadas razões que sinalizem a
ocorrência de crime e hipótese de flagrante delito.
O quarto de hotel constitui espaço privado que, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, é
qualificado juridicamente como “casa” (desde que ocupado) para fins de tutela constitucional da inviolabilidade
domiciliar. No entanto, o STJ fez uma interessante ressalva. O STJ afirmou que, embora o quarto de hotel
regularmente ocupado seja, juridicamente, qualificado como “casa” para fins de tutela constitucional da
inviolabilidade domiciliar (art. 5º, XI), a exigência, em termos de standard probatório, para que policiais
ingressem em um quarto de hotel sem mandado judicial não pode ser igual às fundadas razões exigidas para o
ingresso em uma residência propriamente dita, a não ser que se trate (o quarto de hotel) de um local de
moradia permanente do suspeito. Isso porque é diferente invadir uma casa habitada permanentemente pelo
suspeito e até por várias pessoas (crianças e idosos, inclusive) e um quarto de hotel que, como no caso, é
aparentemente utilizado não como uma morada permanente, mas para outros fins, inclusive, ao que tudo
indica, o comércio de drogas.
No caso concreto, o STJ afirmou que, antes do ingresso no quarto, os policiais realizaram diligências
investigativas para apurar a veracidade da informação recebida no sentido de que havia entorpecentes no local.
STJ. 6ª Turma. HC 659527-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/10/2021 (Info 715)
Não é possível aplicar multa contra o WhatsApp pelo fato de a empresa não conseguir interceptar as
mensagens trocadas pelo aplicativo e que são protegidas por criptografia de ponta a ponta.
Caso concreto: o juiz expediu ordem para que o WhatsApp interceptasse as mensagens trocadas por
determinados investigados, suspeitos de integrarem uma organização criminosa que estariam ainda praticando
crimes. O WhatsApp respondeu que não consegue cumprir a determinação judicial por impedimentos de ordem
técnica. Isso porque as mensagens trocadas via aplicativo são criptografadas de ponta a ponta. O magistrado
não concordou com o argumento e aplicou multa contra a empresa.
Segundo a opinião dos especialistas, realmente não é possível a interceptação de mensagens criptografadas do
WhatsApp devido à adoção de criptografia forte pelo aplicativo.
Ao utilizar a criptografia de ponta a ponta, a empresa está criando um mecanismo de proteção à liberdade de
expressão e de comunicação privada, garantia reconhecida expressamente na Constituição Federal (art. 5º, IX).
A criptografia é, portanto, um meio de se assegurar a proteção de direitos que, em uma sociedade democrática,
são essenciais para a vida pública.
A criptografia protege os direitos dos usuários da internet, garantindo a privacidade de suas comunicações.
Logo, é do interesse do Estado brasileiro encorajar as empresas e as pessoas a utilizarem a criptografia e manter
o ambiente digital com a maior segurança possível para os usuários.
Existe, contudo, uma ponderação a ser feita: em alguns casos a criptografia é utilizada para acobertar a prática
de crimes, como, por exemplo, os casos de pornografia infantil e de condutas antidemocráticas, como
manifestações xenófobas, racistas e intolerantes, que ameaçam o Estado de Direito.
A partir daí, indaga-se: o risco à segurança pública representado pelo uso da criptografia justifica restringir ou
proibir a sua adoção pelas empresas? O tema está sendo apreciado pelo STF na ADPF 403 e na ADI 5527, que foi
iniciado com os votos dos Ministros Edson Fachin e Rosa Weber, tendo sido suspenso em razão de pedido de
vista.
Apesar de o julgamento dessas ações constitucionais ainda não ter sido concluído, a 3ª Seção do STJ, em
harmonia com os votos já proferidos pelos Ministros do STF, chegou à conclusão de que:
O ordenamento jurídico brasileiro não autoriza, em detrimento da proteção gerada pela criptografia de
ponta a ponta, em benefício da liberdade de expressão e do direito à intimidade, sejam os
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Não configura cerceamento de defesa o fato de não se permitir que o réu que está preso
preventivamente tenha acesso a um notebook na unidade prisional a fim de examinar as provas que
estão nos autos.
Se a defesa técnica teve pleno acesso aos autos da ação penal, anexos e mídias eletrônicas, a negativa de
ingresso de notebook na unidade prisional para que o custodiado visualize as peças eletrônicas não configura
violação do princípio da ampla defesa.
A garantia constitucional à ampla defesa, prevista no art. 5º, LV, da CF/88, envolve a defesa em sentido técnico
(defesa técnica), realizada pelo advogado, e a defesa em sentido material (autodefesa), por meio de qualquer
atividade defensiva desenvolvida pelo próprio acusado, em especial durante seu interrogatório. Contudo, no
caso, a restrição ao ingresso de notebook na unidade prisional justificava-se pelo risco de ofensa à segregação
prisional.
Essa restrição não representou obstáculo à ampla defesa, pois as peças processuais mais relevantes poderiam
ter sido impressas e levadas ao preso. No caso concreto, embora o custodiado tenha formação jurídica, sua
defesa técnica está sendo patrocinada por advogados habilitados nos autos, os quais tiveram pleno acesso aos
autos da ação penal, anexos e mídias eletrônicas.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 631960-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/11/2021 (Info 720)
Não cabe ao juiz, na audiência de instrução e julgamento de processo penal, iniciar a inquirição de
testemunha, cabendo-lhe, apenas, complementar a inquirição sobre os pontos não esclarecidos.
STF. 1ª Turma. HC 187035/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/4/2021 (Info 1012).
As irregularidades constantes da cadeia de custódia devem ser sopesadas pelo magistrado com todos os
elementos produzidos na instrução, a fim de aferir se a prova é confiável.
STJ. 6ª Turma. HC 653515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021
(Info 720).
O art. 226 do CPP estabelece formalidades para o reconhecimento de pessoas (reconhecimento pessoal). O
descumprimento dessas formalidades enseja a nulidade do reconhecimento?
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3) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido
procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do exame de outras
provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de reconhecimento;
4) O reconhecimento do suspeito por simples exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever
seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa antecedente a
eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda que
confirmado em juízo.
STJ. 6ª Turma. HC 598.886-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info 684)
É lícito o compartilhamento de dados bancários feito por órgão de investigação do país estrangeiro para
a polícia brasileira, mesmo que, no Estado de origem, essas informações não tenham sido obtidas com
autorização judicial, já que isso não é exigido naquele país
Caso concreto: a Procuradoria de Nova Iorque (EUA) compartilhou com a Polícia Federal do Brasil uma relação
de brasileiros que mantinham contas bancárias nos EUA. A partir dessa informação, a Polícia Federal instaurou
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inquérito para apurar os fatos e representou pela quebra do sigilo bancário dos investigados. O juiz federal
deferiu o pedido e expediu um MLAT aos EUA solicitando todos os detalhes das contas bancárias mantidas
naquele país. Esses dados foram enviados. O compartilhamento de dados feito pela Procuradoria de Nova
Iorque com a Polícia Federal foi realizado sem autorização judicial. Mesmo assim, não há nulidade e tais
elementos informativos podem ser utilizados no Brasil, já que, no Estado de origem, não era necessária
autorização judicial. Assim, não viola a ordem pública brasileira o compartilhamento direto de dados bancários
pelos órgãos investigativos, mesmo que, no Estado de origem, sejam obtidos sem prévia autorização judicial, se
a reserva de jurisdição não é exigida pela legislação daquele local. Ainda neste mesmo caso concreto, o STJ
decidiu que a cooperação internacional feita pelo MLAT não será nula, ainda que não tenha sido concretizada
com a intermediação das autoridades centrais do Brasil e dos EUA.
Respeitadas as garantias processuais do investigado, não há prejuízo na cooperação direta entre as
agências investigativas, sem a participação das autoridades centrais. A ilicitude da prova ou do meio de
sua obtenção somente poderia ser pronunciada se o réu demonstrasse alguma violação de suas
garantias ou das específicas regras de produção probatória.
STJ. 5ª Turma. AREsp 701.833/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 04/05/2021 (Info 695).
A Lei nº 9.296/96 não autoriza a suspensão do serviço telefônico ou do fluxo da comunicação telemática
mantida pelo usuário, tampouco a substituição do investigado e titular da linha por agente indicado pela
autoridade policial.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.806.792-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/05/2021 (Info 696).
A CF/88 determina que as autoridades estatais informem os presos que eles possuem o direito de permanecer
em silêncio (art. 5º, LXIII). Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não apenas pelo Delegado, durante
o interrogatório formal, mas também pelos policiais responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque a
todos os órgãos estatais impõe-se o dever de zelar pelos direitos fundamentais. A falta da advertência quanto
ao direito ao silêncio torna ilícita a prova obtida a partir dessa confissão. STF. 2ª Turma. RHC 170843
AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/5/2021 (Info 1016).
É possível a juntada de documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois
dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos. Viola o princípio constitucional
da ampla defesa o indeferimento de prova nova sem a demonstração de seu caráter manifestamente
protelatório ou meramente tumultuário, especialmente quando esta teve como causa situação processual
superveniente. É possível a aplicação ao processo penal, por analogia, do art. 435 do CPC. STJ. 6ª Turma. HC
545.097-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/09/2021 (Info 711).
A busca e apreensão de bens em interior de veículo é legal e inerente ao dever de fiscalização regular da
PRF, em se tratando do flagrante de transporte de vultosa quantia em dinheiro e não tendo o investigado
logrado justificar o motivo de tal conduta. Caso concreto: Pedro parou seu veículo no acostamento da
rodovia para trocar um pneu furado. Em seguida, estacionou logo atrás uma viatura da Polícia Rodoviária
Federal. Questionado pelos policiais sobre o que havia no interior do veículo, Pedro respondeu que tinha
dinheiro pertencente à sua empresa. Os agentes da PRF fizeram uma busca e apreensão no automóvel e
constaram a presença de R$ 1.215.000,00 (um milhão e duzentos e quinze mil reais) na mala. Pedro não
conseguiu demonstrar minimamente a origem lícita do numerário, razão pela qual o dinheiro foi apreendido,
tendo sido instaurado inquérito policial para apurar a eventual prática do crime de lavagem de dinheiro (art. 1º
da Lei nº 9.613/98). O STJ considerou correta a conduta dos agentes. O próprio investigado informou aos policiais
que dispunha de uma quantia em dinheiro no interior do veículo, tendo os agentes rodoviários federais agido
dentro do dever de fiscalização regular, inerente às funções legais. Em se tratando do flagrante de transporte de
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vultosa quantia em dinheiro e não tendo o investigado conseguido justificar o motivo de tal conduta, não há que
se falar em ausência de justa causa para as investigações. STJ. 6ª Turma. RHC 142.250-RS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 28/09/2021 (Info 711)
BUSCA E APREENSÃO
É válida, com base na teoria da aparência, a autorização expressa para que os policiais fizessem a busca e
apreensão na sede de empresa investigada, autorização essa dada por pessoa que, embora tenha
deixado de ser sócia formal, continuou assinando documentos como representante da empresa.
Caso concreto: policiais chegaram até a sede da empresa e, enquanto aguardavam decisão judicial para entrar
no local, foram autorizados a fazer a busca e apreensão no imóvel. Essa autorização foi concedida por uma
mulher que se apresentou como representante da empresa.
A mulher que concedeu a autorização, embora tenha deixado de ser formalmente sócia, continuou assinando
documentos como representante da empresa.
A evidência de que ela ainda agia como representante da empresa é reforçada pelo fato de que tinha a chave do
escritório sede da empresa e livre acesso a ele, não tendo sido barrada por nenhum dos empregados que
estavam no local, nem mesmo pelo advogado da empresa que acompanhou toda a diligência.
Diante disso, o STJ afirmou que deveria ser aplicada, no caso concreto, a teoria da aparência.
Embora tal teoria tenha encontrado maior amplitude de aplicação jurisprudencial na seara civil, processual civil e
no CDC, nada há que impeça sua aplicação também na seara penal.
STJ. 5ª Turma. RMS 57.740-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/03/2021 (Info 690)
Realizada a busca e apreensão, apesar de o relatório sobre o resultado da diligência ficar adstrito aos elementos
relacionados com os fatos sob apuração, deve ser assegurado à defesa acesso à integra dos dados obtidos
no cumprimento do mandado judicial.
STJ. 6ª Turma. RHC 114.683/RJ, Rel. Rogério Schietti Cruz, julgado em 13/04/2021 (Info 692).
Não existe exigência legal de que o mandado de busca e apreensão detalhe o tipo de documento a ser
apreendido, ainda que de natureza sigilosa. Situação hipotética: João, médico, estava sendo investigado por,
supostamente, ter adulterado prontuários de pacientes internados em clínica psiquiátrica, com o objetivo de
camuflar ilicitudes que ocorriam no local. A autoridade policial formulou representação ao juiz pedindo a busca e
apreensão na clínica psiquiátrica e na residência do investigado. O magistrado deferiu a medida e a polícia
apreendeu diversos prontuários médicos que haviam sido assinados pelo investigado. João impetrou habeas
corpus alegando que a apreensão foi ilícita, considerando que na decisão que autorizou a medida não existia
autorização específica para a apreensão de prontuários médicos. Segundo a defesa, os prontuários são
documentos sigilosos e, portanto, só poderiam ter sido recolhidos com autorização judicial específica. Embora os
prontuários possam conter dados sigilosos, foram apreendidos a partir da imprescindível autorização judicial
prévia.
O fato de o mandado de busca não ter feito uma discriminação específica é irrelevante, até porque os
prontuários médicos encontram-se inseridos na categoria de documentos em geral. Ademais, vale frisar que o
sigilo do qual se revestem os prontuários médicos pertence única e exclusivamente aos pacientes, não ao
médico. Assim, caso houvesse a violação do direito à intimidade, essa ofensa teria que ser arguida pelos seus
titulares (pacientes) e não pelo investigado. STJ. 6ª Turma. RHC 141.737/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Junior,
julgado em 27/04/2021 (Info 694).
PRISÃO
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Concessão de liberdade provisória sem fiança a flagranteado assistido pela Defensoria Pública.
Afigura-se irrazoável manter o réu preso cautelarmente apenas em razão do não pagamento de fiança,
mormente porque já reconhecida a possibilidade de concessão da liberdade provisória. Paciente assistido pela
Defensoria Pública, portanto presumidamente pobre, sem condições de custear o pagamento.
STJ. 6ª Turma. HC 582.581, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 09/02/2021
É cabível prisão preventiva no crime de embriaguez ao volante quando se tratar de réu reincidente com
risco de reiteração delitiva.
A teor do disposto no art. 313 do CPP, na redação dada pela Lei n. 12.403/11, observados os termos do art. 312
do mesmo Estatuto Processual Penal, será admitida a prisão preventiva: I- nos crimes dolosos punidos com pena
privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
II- se tiver sido condenado por outro crime doloso em sentença transitada em julgado;
III- se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução de medidas protetivas de urgência;
Muito embora o crime "embriaguez ao volante" seja punido com detenção e ter a pena máxima inferior a 4
(quatro) anos, o art. 313, inciso II, do Código de Processo Penal – prevê a possibilidade de decretação de prisão
preventiva em caso de condenação anterior, com sentença transitada em julgado, por outro crime doloso.
Assim, é possível a conversão da prisão em flagrante por prisão preventiva ao usuário que comete o crime do
art. 306 do CTB (embriaguez ao volante) quando se tratar de réu reincidente com risco de reiteração delitiva.
STJ. 6ª Turma. RHC 132.611/GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 02/02/2021.
Após o advento da Lei nº 13.964/2019, não é mais possível a conversão da prisão em flagrante em
preventiva sem provocação por parte ou da autoridade policial, do querelante, do assistente, ou do
Ministério Público, mesmo nas situações em que não ocorre audiência de custódia.
A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, § 2º, e do art. 311, ambos do
CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das partes ou
representação da autoridade policial.
Logo, não é mais possível, com base no ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo
processante em tema de privação cautelar da liberdade.
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que se
tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de
qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal
provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou do assistente
do MP.
Vale ressaltar que a prisão preventiva não é uma consequência natural da prisão flagrante, logo é uma
situação nova que deve respeitar o disposto, em especial, nos arts. 311 e 312 do CPP.
STJ. 3ª Seção. RHC 131.263, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/02/2021 (Info 686). STF. 2ª Turma. HC
192532 AgR, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 24/02/2021.
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STJ. 5ª Turma. AgRg RHC 136.708/MS, Rel. Min. Felix Fisher, julgado em 11/03/2021 (Info 691)
As condições favoráveis do agente, por si sós, não impedem a manutenção da prisão cautelar quando
devidamente fundamentada.
STJ. 5ª Turma. RHC 135.320/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 23/03/2021.
A complexidade da causa penal e o caráter multitudinário do feito (dezoito réus, no caso), justificam uma
maior duração do processo, salvo quando eventual retardamento se dê em virtude da inércia do Poder
Judiciário, fato já afastado no presente caso.
Ausência, no caso, de irrazoabilidade evidente na duração do processo apta a autorizar o reconhecimento de
constrangimento ilegal decorrente de excesso de prazo da prisão preventiva.
STF. 2ª Turma. AgRg no HC 199.238, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 14/06/2021.
A falta de audiência de custódia constitui irregularidade, não afastando a prisão preventiva, uma vez
atendidos os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal e observados direitos e garantias
versados na Constituição Federal
STF. 1ª Turma. HC 198.784, Rel. Min. Marco Aurélio , Dje em 16/06/2021.
Para concessão do indulto previsto no Decreto Presidencial nº 9.246/2017, pode ser computado o tempo
de prisão cautelar cumprido anteriormente à sua publicação, cuja condenação transitou em julgado
também antes do referido Decreto.
STJ. 6ª Turma. REsp 1953596-GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/12/2021 (Info 721).
A ausência de realização de audiência de custódia é irregularidade que não conduz à automática revogação da
prisão preventiva, cabendo ao juízo da causa promover análise acerca da presença dos requisitos autorizadores
da medida extrema.
STF. 2ª Turma. HC 198896 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/06/2021.
A conversão do flagrante em prisão preventiva torna superada a alegação de nulidade relativamente à falta de
audiência de custódia.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 669.316/PR, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em 08/06/2021.
A questão da nulidade decorrente da não realização da audiência de custódia encontra-se superada pela
conversão da prisão em flagrante em preventiva. Assim, eventuais irregularidades do flagrante ficam superadas
pelo Decreto de prisão preventiva.
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STJ. 5ª Turma. HC 708.905- MG. Rel. Min. Jesuíno Rissato, julgado em 14/12/2021.
A não realização de audiência de custódia no prazo de 24 horas não acarreta a automática nulidade do processo
criminal, assim como que a conversão do flagrante em prisão preventiva constitui novo título a justificar a
privação da liberdade, ficando superada a alegação de nulidade decorrente da ausência de apresentação do
preso ao Juízo de origem.
STJ. 6ª Turma. RHC 154.274/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/12/2021.
Não se mostra razoável, para a realização da audiência de custódia, determinar o retorno de investigado
à localidade em que ocorreu a prisão quando este já tenha sido transferido para a comarca em que se
realizou a busca e apreensão.
Caso concreto: na comarca de São Lourenço do Oeste (SC) tramita um inquérito policial que investiga João e
outras pessoas. João mora em outro Município, qual seja, Pato Branco (PR). O juiz da comarca de São Lourenço
do Oeste decretou a busca e apreensão na casa de João. Durante o cumprimento do mandado na residência de
João, em Pato Branco (PR), a Polícia Civil encontrou grande quantidade de drogas. Os policiais prenderam João e
o transportaram até São Lourenço do Oeste, onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante. João está preso na
cadeia pública de São Lourenço do Oeste.
Em regra, a audiência de custódia deve ser realizada na localidade em que ocorreu a prisão. No caso, porém, o
Investigado já foi conduzido à Comarca do Juízo que determinou a busca e apreensão, há aparente conexão
probatória com outros casos e prevenção daquele Juízo, de forma que não se mostra razoável determinar o
retorno do Investigado para análise do auto de prisão em flagrante, notadamente em razão da celeridade que
deve ser empregada em casos de análise da legalidade da custódia.
STJ. 3ª Seção. CC 182728-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/10/2021 (Info 714).
Nas hipóteses envolvendo crimes praticados com especial violência ou grave ameaça a pessoa, o ônus
argumentativo em relação à periculosidade concreta do agente é menor.
A gravidade em concreto do crime e a periculosidade do agente constituem fundamentação idônea para a
decretação da custódia preventiva.
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TRIBUNAL DO JÚRI
- NÃO. Haverá violação ao art. 155 do CPP. Além disso, muito embora a análise aprofundada seja feita
somente pelo Júri, não se pode admitir, em um Estado Democrático de Direito, a pronúncia sem qualquer
lastro probatório colhido sob o contraditório judicial, fundada exclusivamente em elementos
informativos obtidos na fase inquisitorial.
STJ. 5ª Turma. HC 560.552/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/02/2021. STJ. 6ª Turma. HC 589.270, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/02/2021
Cabe apelação com fundamento no art. 593, III, “d”, do CPP (decisão manifestamente contrária à prova dos
autos) se o júri absolver o réu?
STJ: SIM (posição pacífica).
STF: NÃO (posição majoritária).
A 3ª Seção do STJ firmou o entendimento de que a anulação da decisão absolutória do Conselho de Sentença
(ainda que por clemência), manifestamente contrária à prova dos autos, segundo o Tribunal de Justiça, por
ocasião do exame do recurso de apelação interposto pelo Ministério Público (art. 593, III, “d”, do CPP), NÃO
VIOLA A SOBERANIA DOS VEREDICTOS. STJ. 5ª Turma. HC 560.668/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 18/08/2020
O art. 155 do CPP, ao proibir que a condenação se fundamente apenas em elementos colhidos durante a
fase inquisitorial, tem aplicação também para as sentenças proferidas no Júri.
Os jurados não precisam motivar sua decisão (sistema da íntima convicção), no entanto, o Tribunal de 2ª
instância precisa fazê-lo. Por isso, ao julgar a apelação da defesa, cabe ao Tribunal de Justiça (ou TRF) a tarefa de
identificar quais foram as provas produzidas nos autos que demonstram a autoridade e a materialidade
delitivas, bem como eventuais qualificadoras, sob pena de, não o fazendo, incorrer em negativa de prestação
jurisdicional.
Se o Tribunal encontrar prova judicializada idônea, deverá manter a condenação e/ou a qualificadora.
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Por outro lado, se não houver provas produzidas na forma do art. 155 do CPP, o Tribunal deverá dar provimento
ao recurso, cassando a condenação.
Caso concreto: as qualificadoras foram baseadas apenas no depoimento prestado no inquérito policial por uma
testemunha que ouviu dizer. Diante disso, o STJ decidiu cassar a sentença e submeter o réu a novo júri. Isso
porque:
As qualificadoras de homicídio fundadas exclusivamente em depoimento indireto (Hearsay Testimony), violam o
art. 155 do CPP, que deve ser aplicado aos veredictos condenatórios do Tribunal do Júri.
STJ. 5ª Turma. REsp 1916733-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/11/2021 (Info 719).
A absolvição do réu, ante resposta a quesito genérico de absolvição previsto no art. 483, § 2º, do CPP, não
depende de elementos probatórios ou de teses veiculadas pela defesa. Isso porque vigora a livre
convicção dos jurados.
Em razão da norma constitucional que consagra a soberania dos veredictos, a sentença absolutória de Tribunal
do Júri, fundada no quesito genérico de absolvição, não implica nulidade da decisão a ensejar apelação da
acusação. Os jurados podem absolver o réu com base na livre convicção e independentemente das teses
veiculadas, considerados elementos não jurídicos e extraprocessuais. STF. 1ª Turma. HC 178777/MG, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 29/9/2020 (Info 993).
Em face da reforma introduzida no procedimento do Tribunal do Júri (Lei 11.689/2008), é incongruente o
controle judicial, em sede recursal (art. 593, III, “d”, do CPP), das decisões absolutórias proferidas com
fundamento no art. 483, III e § 2º, do CPP. STF. 2ª Turma. RHC 192431 Segundo AgR/SP e RHC 192432 Segundo
AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/2/2021 (Info 1007).
Na reforma legislativa de 2008, alterou-se substancialmente o procedimento do júri, inclusive a sistemática de
quesitação aos jurados. Inseriu-se um quesito genérico e obrigatório, em que se pergunta ao julgador leigo: “O
jurado absolve o acusado?” (art. 483, III e §2º, CPP). Ou seja, o Júri pode absolver o réu sem qualquer
especificação e sem necessidade de motivação. Considerando o quesito genérico e a desnecessidade de
motivação na decisão dos jurados, configura-se a possibilidade de absolvição por clemência, ou seja, mesmo em
contrariedade manifesta à prova dos autos. Se ao responder o quesito genérico o jurado pode absolver o réu
sem especificar os motivos, e, assim, por qualquer fundamento, não há absolvição com tal embasamento que
possa ser considerada “manifestamente contrária à prova dos autos”. Limitação ao recurso da acusação com
base no art. 593, III, “d”, CPP, se a absolvição tiver como fundamento o quesito genérico (art. 483, III e §2º, CPP).
Inexistência de violação à paridade de armas. Presunção de inocência como orientação da estrutura do processo
penal. Inexistência de violação ao direito ao recurso (art. 8.2.h, CADH). Possibilidade de restrição do recurso
acusatório. STF. 2ª Turma. HC 185068, Rel. Celso de Mello, Relator p/ Acórdão Gilmar Mendes, julgado em
20/10/2020.
Observação: legítima defesa da honra. Caso a defesa lance mão, direta ou indiretamente, da tese
inconstitucional de legítima defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese), seja na fase
pré-processual, processual ou no julgamento perante o tribunal do júri, estará caracterizada a nulidade da
prova, do ato processual ou até mesmo dos debates por ocasião da sessão do júri (caso não obstada pelo
Presidente do Júri), facultando-se ao titular da acusação recorrer de apelação na forma do art. 593, III, “a”, do
CPP. STF. Plenário. ADPF 779, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/03/2021.
Juiz não pode unilateralmente alterar os prazos dos debates orais no Júri previstos no CPP; no entanto,
isso pode ser feito mediante acordo entre as partes.
Considerado o rigor formal do procedimento do júri, não é possível que o juiz, unilateralmente,
estabeleça prazos diversos daqueles definidos pelo legislador (art. 477 do CPP) para os debates orais, seja
para mais ou para menos, sob pena de chancelar uma decisão contra legem.
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Por outro lado, é possível que, no início da sessão de julgamento, mediante acordo entre as partes, seja
estabelecida uma divisão de tempo que melhor se ajuste às peculiaridades do caso concreto.
STJ. 6ª Turma. HC 703912-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 719).
Não é cabível a pronúncia fundada exclusivamente em testemunhos indiretos de “ouvir dizer”. Muito
embora a análise aprofundada dos elementos probatórios seja feita somente pelo Tribunal do Júri, não se pode
admitir, em um Estado Democrático de Direito, a pronúncia baseada, exclusivamente, em testemunho
indireto (por ouvir dizer) como prova idônea, de per si, para submeter alguém a julgamento pelo Tribunal
Popular. STJ. 5ª Turma. HC 673.138-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/09/2021 (Info 709).
STJ. 6ª Turma. REsp 1649663/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/09/2021
Quando a apelação contra a sentença condenatória é interposta com fundamento no art. 593, III, "d", do
CPP, o Tribunal tem o dever de analisar se existem provas de cada um dos elementos essenciais do crime,
ainda que não concorde com o peso que lhes deu o júri. Quando a apelação contra a sentença condenatória
é interposta com fundamento no art. 593, III, "d", do CPP, o Tribunal tem o dever de analisar se existem provas
de cada um dos elementos essenciais do crime, ainda que não concorde com o peso que lhes deu o júri. Caso
falte no acórdão recorrido a indicação de prova de algum desses elementos, há duas situações possíveis:
1) ou o aresto é omisso, por deixar de enfrentar prova relevante, incorrendo em negativa de prestação
jurisdicional;
2) ou o veredito deve ser cassado, porque nem mesmo a análise percuciente da Corte local identificou a
existência de provas daquele específico elemento. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.803.562-CE, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 24/08/2021 (Info 707).
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Nos crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígios, depois que o ofendido tem ciência da
autoria do delito, ele possui o prazo decadencial de 6 meses para a propositura da ação penal, nos termos
do art. 38 do CPP.
Se, antes desses 6 meses, o laudo pericial for concluído, o ofendido terá 30 dias para oferecer a queixa
crime.
Assim, em se tratando de crimes contra a propriedade imaterial que deixem vestígio, a ciência da autoria do
fato delituoso dá ensejo ao início do prazo decadencial de 6 meses (art. 38 do CPP), sendo tal prazo
reduzido para 30 dias (art. 38) se homologado laudo pericial nesse ínterim.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.762.142/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 13/04/2021 (Info 692).
NULIDADES
Havendo pedido expresso de sustentação oral, a ausência de intimação do advogado constituído torna
nula a sessão de julgamento.
Contudo, a nulidade deve ser arguída na primeira oportunidade em que a defesa tomar ciência do julgamento,
levando ao conhecimento por meio do recurso cabível, a ocorrência do vício e o efetivo prejuízo, sob pena de
preclusão.
STJ. 5 Turma. AgRg no HC 632.095/SP, Min. Ribeiro Dantas, julgado em 14/09/2021
O ajuizamento de duas ações penais referentes aos mesmos fatos, uma na Justiça Comum Estadual e
outra na Justiça Eleitoral, viola a garantia contra a dupla incriminação.
O réu foi absolvido pela Justiça Eleitoral. Ocorre que, logo em seguida, foi denunciado, pelos mesmos fatos, na
Justiça Estadual. Isso não é possível.
A sentença da Justiça Eleitoral foi proferida no exercício de verdadeira jurisdição criminal, de modo que o
prosseguimento da ação penal na Justiça Estadual pelos mesmos fatos encontra óbice no princípio da vedação à
dupla incriminação, também conhecido como double jeopardy clause ou, como é mais comum no direito
brasileiro, o postulado do ne bis in idem (proibição da dupla persecução penal).
Embora não tenha previsão expressa na Constituição Federal de 1988, a garantia do ne bis in idem é um limite
implícito ao poder estatal, derivada da própria coisa julgada e decorrente de compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil. A Convenção Americana de Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos, incorporados ao direito brasileiro com status supralegal, tratam da vedação à dupla incriminação.
STJ. 5ª Turma. REsp 1847488-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/04/2021 (Info 719).
O ex-Presidente Lula responde a quatro ações penais que se iniciaram na 13ª Vara Federal de Curitiba. Em duas
delas, já havia sentença penal condenatória, mas sem trânsito em julgado.
A defesa impetrou habeas corpus no STF alegando a incompetência da 13ª Vara porque os fatos apurados não
tinham qualquer relação com os crimes praticados contra a Petrobras (HC 193726). O Min. Relator Edson Fachin,
monocraticamente, concedeu a ordem de habeas corpus para reconhecer a incompetência da 13ª Vara Federal e
declarar a nulidade dos atos decisórios praticados.
Houve agravo regimental contra a decisão.
O Ministro Fachin decidiu afetar o julgamento desses recursos para o Plenário. Explicando melhor: em regra, a
competência para julgar o recurso seria da 2ª Turma do STF, mas o Relator decidiu remeter ao Pleno da Corte.
1) O Ministro Relator poderia ter afetado esse julgamento ao Plenário?
SIM. A afetação de feitos a julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal é atribuição discricionária do
relator. Essa afetação é autorizada pelo art. 6º, II, ‘c’ e pelo art. 22, do RISTF.
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2) O MPF estava atuando como custos legis no processo. Ele poderia ter recorrido?
SIM. O Ministério Público Federal, quando atua perante o STF, por intermédio da Procuradoria-Geral da
República, mesmo na qualidade de “custos legis”, detém legitimidade para a interposição de agravo regimental
contra decisões monocráticas proferidas pelos ministros relatores. Fundamento: art. 179, II e art. 996, do CPC c/c
art. 3º do CPP.
3) Foi correta a decisão que reconheceu a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgamento das
ações penais envolvendo Lula?
SIM. No âmbito da “Operação Lava Jato”, a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba é restrita aos crimes
praticados de forma direta em detrimento apenas da Petrobras S/A. Esse é o entendimento do STF desde o
julgamento da questão de ordem no Inq 4130 QO, em 23/09/2015. Para o STF, no caso concreto, não ficou
demonstrado que as condutas atribuídas ao ex-Presidente Lula tenham relação direta com os ilícitos praticados
em detrimento da Petrobras S/A.
4) O STF admite, em tese, a teoria do juízo aparente para convalidar os atos decisórios praticados por juízo
posteriormente declarado incompetente.
Prevalece o seguinte: A superveniência de circunstâncias fáticas aptas a alterar a competência da autoridade
judicial, até então desconhecidas, autoriza a preservação dos atos praticados por juízo aparentemente
competente em razão do quadro fático subjacente no momento em que requerida a prestação jurisdicional. No
entanto, no caso concreto, o STF afirmou que, tanto o MP como o juízo, desde o início do processo, já sabiam,
com base nas outras decisões da Corte, que a 13ª Vara Federal não seria competente para julgar a causa. Isso
porque a denúncia foi recebida em 14/09/2016 e, nessa época, já havia sido julgado o primeiro precedente que
reduziu a competência daquele juízo (Inq 4.130 QO). Logo, a “teoria do juízo aparente” não se aplica à hipótese.
A ausência de afirmação da autoridade policial de sua própria suspeição não eiva de nulidade o processo
judicial por si só, sendo necessária a demonstração do prejuízo suportado pelo réu.
Caso concreto: após a condenação, a defesa do réu descobriu que um dos Delegados que participou das
investigações – conduzidas pelo Ministério Público – seria suspeito já que seu pai também teria envolvimento
com a organização criminosa. Logo, o Delegado deveria ter se declarado suspeito, nos termos do art. 107 do
CPP: “Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se
suspeitas, quando ocorrer motivo legal.” Para o STJ, contudo, o descumprimento do art. 107 do CPP - quando a
autoridade policial deixa de afirmar sua própria suspeição - não gera, por si só, a nulidade do processo
judicial, sendo necessária a demonstração do prejuízo suportado pelo réu. O inquérito é uma peça de
informação, destinada a auxiliar a construção da opinio delicti do MP. Vale ressaltar, inclusive, que o
inquérito é uma peça facultativa. Logo, possíveis irregularidades ocorridas no inquérito policial não
afetam a ação penal. No caso concreto, dentre as provas que fundamentaram a condenação do réu, apenas a
interceptação telefônica foi realizada com a participação do Delegado suspeito. A defesa, contudo, não se
insurgiu contra o conteúdo material das conversas gravadas nem indicou que seriam falsas. Assim, como não foi
demonstrado qualquer prejuízo causado pela suspeição, é inviável decretação de nulidade da condenação. STJ.
5ª Turma. REsp 1.942.942-RO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 10/08/2021 (Info 704).
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RECURSOS
A admissão da tutela provisória de urgência, para conferir efeito suspensivo a recurso que não o tem, depende
da presença, concomitante, de elementos que evidenciem a probabilidade de êxito da insurgência e a
demonstração do risco de lesão grave ou difícil reparação.
STJ. 6 Turma. AgRg no HC 605.821/AM, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/05/2021.
A liminar em revisão criminal com base em violação a texto expresso de lei constitui medida excepcional,
somente se justificando quando a ofensa se mostre aberrante, cristalina, em respeito à segurança jurídica
decorrente da coisa julgada.
STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 5.560/DF, Rel. Felix Fischer, julgado em 24/02/2021
Interposição de apelação em vez de RESE contra decisão que desclassificou crime: erro grosseiro.
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A decisão que desclassifica a conduta, declinando da competência para o julgamento do feito, deve ser atacada
por recurso em sentido estrito, sendo a utilização de recurso de apelação descabida e não passível de aplicação
do princípio da fungibilidade recursal, por se tratar de erro grosseiro.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 618970/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/02/2021.
Os pedidos de reconsideração carecem de qualquer respaldo no regramento processual vigente. Eles não
constituem recursos, em sentido estrito, nem mesmo meios de impugnação atípicos. Por isso, não
suspendem prazos e tampouco impedem a preclusão.
STF. 2ª Turma. Rcl 43007 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/2/2021 (Info 1005).
O Min. Ricardo Lewandowski proferiu decisão monocrática determinando ao Juízo da 13ª Vara Federal de
Curitiba/PR que liberasse à defesa do ex-Presidente Lula acesso às provas colhidas na “Operação Spoofing”. O
Ministro autorizou que a defesa tivesse acesso, inclusive, às mensagens que foram supostamente trocadas entre
o então Juiz Sergio Moro com integrantes da força-tarefa da Lava Jato e que estavam com hackers suspeitos de
invadir celulares.
Os Procuradores da República que integram a força-tarefa da “Operação Lava Jato” ingressaram com petição, em
nome próprio e de terceiros, pedindo a reconsideração da decisão do Ministro.
O pedido não foi conhecido. O colegiado entendeu que os membros do Ministério Público de primeiro grau não
possuem legitimidade para postular na causa. O art. 46 da LC 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União)
atribui competência exclusiva à Procuradoria-Geral da República para oficiar nos processos em curso perante o
STF.
Os trechos das mensagens trocadas e que vieram a público não veicularam quaisquer comunicações de
natureza pessoal ou familiar nem expuseram a vida privada ou a intimidade de nenhum dos interlocutores, mas
apenas supostos diálogos travados por membros do Ministério Público entre si e com Sérgio Moro acerca de
investigações e ações penais em pleno exercício das respectivas atribuições e em razão delas. Para o STF, essas
conversas não estão cobertas pelo sigilo.
A questão relativa à autenticidade ou ao valor probatório de elementos colhidos pela defesa é tema a ser
resolvido no bojo dos processos nos quais venham a ser juntados, mas não na reclamação, sabidamente de
estreitos limites.
STF. 2ª Turma. Rcl 43007 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/2/2021 (Info 1005).
Há nulidade no acórdão que julga apelação sem a observância da formalidade de colher os votos em separado
sobre questão preliminar e de mérito, em razão da diminuição do espectro da matéria possível de impugnação
na via dos infringentes. Aplica-se o art. 939 do CPC para o julgamento de apelação criminal.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.843.523/CE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/03/2021 (Info 688)
Caracteriza manifesta ilegalidade, por violação ao princípio da “non reformatio in pejus”, a majoração da
pena de multa por tribunal, na hipótese de recurso exclusivo da defesa.
Isso porque, na apreciação de recurso exclusivo da defesa, o tribunal não pode inovar na fundamentação da
dosimetria da pena, contra o condenado, ainda que a inovação não resulte em aumento da pena final.
STF. 2ª Turma. RHC 194952 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/4/2021 (Info 1013)
HABEAS CORPUS
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Não é cabível habeas corpus para impugnar ato normativo que fixa medidas restritivas para prevenir a
disseminação da covid-19, por não constituir via própria para o controle abstrato da validade de leis e
atos normativos em geral.
STJ. 5ª Turma. PET no HC 655.460, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/05/2021.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 657.184, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/05/2021.
A superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar habeas corpus que analisa
tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia da prova, ocorrida ainda na fase
inquisitorial e empregada como justa causa para a própria ação penal.
STJ. 6ª Turma. HC 653515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021
(Info 720).
Não cabe HC para questionar decisão fundamentada que fixou guarda unilateral no âmbito de ação de
divórcio.
A definição do regime de guarda, no âmbito de ação divórcio, não tem nenhuma repercussão, propriamente, no
direito de locomoção da criança, desde que preservado o direito de visita e, assim, a convivência com o genitor
com quem não resida.
Assim, o habeas corpus não se presta a imiscuir no modo como tais responsabilidades serão, a partir do
divórcio, partilhadas entre os pais.
Logo, o HC não é a via adequada para que um dos genitores discuta o específico propósito de manter ou não o
regime de guarda unilateral estabelecida em decisão judicial.
STJ. 3ª Turma. HC 636.744/SP, Rel. Min. Marco Aurelio Belizze, julgado em 15/06/2021.
Mesmo no caso de recebimento da denúncia antes das reformas ocorridas no ano de 2008 e antes de o réu ser
diplomado como deputado estadual, apresentada a defesa escrita, caberá ao Tribunal de origem apreciar a
possibilidade de absolvição sumária ou reconsideração da decisão do juiz de primeiro grau que recebeu a
denúncia, na forma do art. 6º da Lei nº 8.038/90. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.492.099-PA, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 15/06/2021 (Info 701)
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O réu, pronunciado por homicídio, foi diplomado Deputado Federal e os autos subiram ao STF; chegando lá, o
Ministro determinou nova oitiva das testemunhas conforme o rito da Lei 8.038/90; isso não significa que o STF
tenha reconhecido a nulidade da pronúncia. A reinquirição de testemunha de defesa, na fase de diligências
da ação penal originária, consoante o art. 10 da Lei nº 8.038/90, não implica a implícita declaração de
nulidade da pronúncia, proferida quando não havia prerrogativa de foro. STJ. 5ª Turma. RHC 133.694-RS, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 14/09/2021 (Info 709).
TEMAS DIVERSOS
O juiz tem poderes diante da omissão de alegações finais para oportunizar à parte a substituição do
causídico ou, na inércia, para requerer que a defensoria pública ofereça as alegações finais.
Se o advogado discordar de alguma decisão do juiz da causa na condução do procedimento ele não pode
simplesmente se recusar a oferecer as alegações finais. A ampla defesa não engloba essa possibilidade. Não há
dúvida da importância da ampla defesa como elemento central de um processo penal garantista. Todavia, esse
princípio não tem o condão de legitimar qualquer atuação por parte da defesa.
Se o advogado constituído, mesmo intimado para apresentar alegações finais, for omisso, o juiz tem poderes de
intimar o réu para que substituta o causídico. Se o réu, mesmo intimado, ficar inerte, o magistrado poderá
requerer que a Defensoria Pública ofereça as alegações finais.
STJ. 6ª Turma. RMS 47680-RR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/10/2021 (Info 715).
Súmula 644 (STJ): O núcleo de prática jurídica deve apresentar o instrumento de mandato quando constituído
pelo réu hipossuficiente, salvo nas hipóteses em que é nomeado pelo juízo.
COLABORAÇÃO PREMIADA
A homologação de acordo de colaboração, em regra, terá que se dar perante o juízo competente para
autorizar as medidas de produção de prova e para processar e julgar os fatos delituosos cometidos pelo
colaborador.
Caso a proposta de acordo aconteça entre a sentença e o julgamento pelo órgão recursal, a homologação
ocorrerá no julgamento pelo Tribunal e constará do acórdão.
STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info 1004)
Atualmente, não existe previsão legal de recurso cabível em face de não homologação ou de homologação
parcial de acordo. Logo, deve ser possível a impetração de habeas corpus.
A homologação do acordo de colaboração premiada é etapa fundamental da sistemática negocial regulada pela
Lei nº 12.850/2013, estando diretamente relacionada com o exercício do poder punitivo estatal, considerando
que nesse acordo estão regulados os benefícios concedidos ao imputado e os limites à persecução penal.
STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info 1004).
Obs: a 6ª Turma do STJ possui julgado afirmando que: a apelação criminal é o recurso adequado para
impugnar a decisão que recusa a homologação do acordo de colaboração premiada, mas ante a
existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio da fungibilidade (REsp 1834215-RS, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020. Info 683).
Material extraído dos informativos (versão resumida), disponibilizados pelo prof. Márcio Cavalcante no site
https://www.dizerodireito.com.br, e destacados nas partes mais importantes pela equipe da Legislação Destacada.
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