Carlos Drummond de Andrade

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PERGUNTAS

ALEATÓRIAS

SE O NARRADOR É A VOZ DOS


TEXTOS NARRATIVOS, QUAL
É A VOZ DAS POESIAS?

FASES DE
DRUMMOND

1º eu maior que o mundo


2º Eu menor que o mundo - poesia social
3º Eu igual ao mundo - Desesperança
Em 2002, em comemoração ao centenário
do autor, foi instalada uma estátua em sua
homenagem em Copacabana.
No meio do caminho tinha uma
pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra

Revista Antropofagia (1928)


PERGUNTAS
ALEATÓRIAS

NOME DO ICÔNICO POETA


ROMÂNTICO EXTREMAMENTE
LEMBRADO POR SUA
POSTURA CONTRÁRIA À
ESCRAVIDÃO:

Sentimental

Ponho-me a escrever teu nome


com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,


uma letra somente
para acabar teu nome!

— Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!


Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências este cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."

Alguma pesia (1930)


Abraço pra

qualquer
Cidadezinha
Nicolau!

Casas entre bananeiras


mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens


que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:


pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

Mundo mundo vasto mundo,


se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte. Eu não devia te dizer


Quase não conversa. mas essa lua
Tem poucos, raros amigos mas esse conhaque
o homem atrás dos óculos e do -bigode, botam a gente comovido como o diabo.

Meu Deus, por que me abandonaste


se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
José

Está sem mulher,


está sem discurso,
E agora, José? está sem carinho,
A festa acabou, já não pode beber,
a luz apagou, já não pode fumar,
o povo sumiu, cuspir já não pode,
a noite esfriou, a noite esfriou,
e agora, José? o dia não veio,
e agora, você? o bonde não veio,
você que é sem nome, o riso não veio,
que zomba dos outros, não veio a utopia
você que faz versos, e tudo acabou
que ama protesta, e tudo fugiu
e agora, José? e tudo mofou,
e agora, José?

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.


Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,


vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

Confidência do Itabirano

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:


esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.


Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
[Sentimento do mundo]

PERGUNTAS
ALEATÓRIAS

"CLARO ENIGMA" É O NOME


DE UMA OBRA DA TERCEIRA
FASE DE DRUMMOND. QUAL É
A FIGURA DE LINGUAGEM
CONTIDA NO TÍTULO DA
OBRA?

Cantiga de enganar
O mundo não vale o mundo,
meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo,
meu bem,
não vale
a pena, e a face serena
vale a face torturada.
Há muito aprendi a rir,
de quê? de mim? ou de nada?
Tarde de maio

Como esses primitivos que carregam por toda


parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
A suposta existência
Como é o lugar quando ninguém passa por ele?
Existem as coisas sem ser vistas?
O interior do apartamento desabitado?
A pinça esquecida na gaveta?
Os eucaliptos à noite no caminho três vezes deserto?
A formiga sob a terra no domingo?
Os mortos, um minuto depois de sepultados?
E nós, sozinhos no quarto sem espelho.

– Carlos Drummond de Andrade

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