Sociologia Das Organizações Educativas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 146

Módulo de

Sociologia das
Organizações
Educativas
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação

Ensino à Distância
Universidade Pedagógica
Departamento de Matemática
Direitos do autor (copyright)
Este módulo não pode ser reproduzido para fins comerciais. Caso haja necessidade de reprodução,

deverá ser mantida a referência à Universidade Pedagógica e aos seus Autores.

Universidade Pedagógica

Rua Comandante Augusto Cardoso, nº 135

Telefone: 21-320860/2

Telefone: 21 – 306720

Fax: +258 21-322113

Site: www.up.ac.mz
Agradecimentos
À COMMONWEALTH of LEARNING (COL) pela disponibilização do Template usado na
produção dos Módulos.

Ao Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) pela orientação e apoio prestados.

Ao Magnífico Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento pelo apoio prestado


em todo o processo.
Ficha Técnica
Autor: Arcanjo Tinara Nharucué

Desenho instrucional: Rasmi Laxmane

Revisão Linguística: Alice Sengo

Maquetização : Valdinácio Florêncio Paulo

Ilustração: Valdinácio Florêncio Paulo


Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação i

Índice

Visão geral 1
Bem-vindo ao módulo da Sociologia das Organizações Educativas ............................... 1
Objectivos do Módulo ................................................................................................... 2
Quem deve estudar este Módulo .................................................................................... 2
Como está estruturado este Módulo ............................................................................... 3
Ícones de actividade ...................................................................................................... 4
Acerca dos ícones ........................................................................................ 4
Habilidades de estudo .................................................................................................... 5
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5
Avaliação ...................................................................................................................... 6

Unidade 1 7
Génese e evolução do pensamento social ....................................................................... 7
Introdução ............................................................................................................ 7

Lição no 1 9
Evolução do pensamento social ..................................................................................... 9
Introdução ............................................................................................................ 9
Resumo ....................................................................................................................... 10
Auto-avaliação ............................................................................................................ 11

Lição no 2 13
A idade antiga ............................................................................................................. 13
Introdução .......................................................................................................... 13
Aristóteles Nicômaco ................................................................................ 13
Platão De Aristão ...................................................................................... 14
Sumario ....................................................................................................................... 15
Auto-avaliação ............................................................................................................ 16

Lição no 3 17
Idade Média (Idade das Trevas): Santo Agostinho e São Thomas de Aquino ............... 17
Introdução .......................................................................................................... 17
Santo Agostinho ........................................................................................ 17
Thomas de Aquino .................................................................................... 18
Resumo ....................................................................................................................... 19
Auto-avaliação ............................................................................................................ 19

Lição no 4 22
Idade Moderna: Maquiavel, e Jean Jacques Rousseau .................................................. 22
Introdução .......................................................................................................... 22
ii Índice

Nicolau Maquiavel .................................................................................... 22


Jean-Jacques Rosseau ................................................................................ 23
Resumo ....................................................................................................................... 24
Auto-avaliação ............................................................................................................ 24
Actividade final da unidade ......................................................................................... 25

Unidade 2 27
História da teoria atómica, Fundadores e representantes da Sociologia (Objecto e
Método)....................................................................................................................... 27
Introdução .......................................................................................................... 27

Lição no 1 29
Os fundadores da sociologia ........................................................................................ 29
Introdução .......................................................................................................... 29
Auguste Comte (1798-1857) ..................................................................... 30
Charles de Montesquieu ............................................................................ 31
Herbert Spencer......................................................................................... 32
Resumo ....................................................................................................................... 33
Auto-avaliação ............................................................................................................ 34

Lição no 2 36
Representantes da Sociologia ...................................................................................... 36
Introdução .......................................................................................................... 36
Karl Marx ................................................................................................. 37
Émile Durkheim ........................................................................................ 37
Max Weber ............................................................................................... 38
Resumo ....................................................................................................................... 39
Auto-avaliação ............................................................................................................ 40

Lição no 3 42
Objecto de estudo da sociologia e o método sociológico .............................................. 42
Introdução .......................................................................................................... 42
O método sociológico ................................................................................ 44
Resumo ....................................................................................................................... 46
Auto-avaliação ............................................................................................................ 47

Lição no 4 48
O problema do método sociológico.............................................................................. 48
Introdução .......................................................................................................... 48
Resumo ....................................................................................................................... 49
Auto-avaliação ............................................................................................................ 49
Actividade final da unidade ......................................................................................... 50

Unidade 3 51
A educação como objecto de estudo da sociologia ....................................................... 51
Introdução .......................................................................................................... 51
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação iii

Lição no 1 53
A educação como objecto sociológico ......................................................................... 53
Introdução .......................................................................................................... 53
Resumo ....................................................................................................................... 55
Auto-avaliação ............................................................................................................ 56

Lição no 2 58
O objecto de pesquisa da Sociologia das Organizações Educativas .............................. 58
Introdução .......................................................................................................... 58
Resumo ....................................................................................................................... 60
Auto-avaliação ............................................................................................................ 60
Actividade final da unidade ......................................................................................... 62

Unidade 4 64
Formas de Educação .................................................................................................... 64
Introdução .......................................................................................................... 64

Lição no 1 66
Educação e moral: a Sociologia das Organizações Educativas de Émile Durkheim ...... 66
Introdução .......................................................................................................... 66
Resumo ....................................................................................................................... 67
Auto-avaliação ............................................................................................................ 68

Lição no 2 69
Educação e capitalismo: a Sociologia das Organizações Educativas de Karl Marx ....... 69
Introdução .......................................................................................................... 69
Auto-avaliação ............................................................................................................ 71

Lição no 3 73
Reprodução e Desigualdade: A Sociologia das Organizações Educativas de Pierre
Bourdieu ..................................................................................................................... 73
Introdução .......................................................................................................... 73
Resumo ....................................................................................................................... 77
Auto-avaliação ............................................................................................................ 77

Lição no 4 79
Educação Como Socialização ...................................................................................... 79
Introdução .......................................................................................................... 79
iv Índice

Resumo ....................................................................................................................... 82
Auto-avaliação ............................................................................................................ 83
Actividade final da unidade ......................................................................................... 84

Unidade 5 87
As instituições escolares .............................................................................................. 87
Introdução .......................................................................................................... 87

Lição no 1 89
Características organizacionais da cultura de escola ..................................................... 89
Introdução .......................................................................................................... 89
Aspectos do clima escolar ......................................................................... 92
Resumo ....................................................................................................................... 94
Auto-avaliação ............................................................................................................ 95

Lição no 2 97
A cultura organizacional da escola ............................................................................... 97
Introdução .......................................................................................................... 97
Resumo ..................................................................................................................... 102
Auto-avaliação .......................................................................................................... 103

Lição no 3 105
Funções sociais da educação ...................................................................................... 105
Introdução ........................................................................................................ 105
A educação e sua função social ............................................................... 108
Resumo ..................................................................................................................... 110
Auto-avaliação .......................................................................................................... 111
Actividade Final da Unidade ..................................................................................... 113

Unidade 6 114
A educação e estrutura social nas sociedades tradicionais e modernas........................ 114
Introdução ........................................................................................................ 114

Lição no 1 116
As sociedades tradicionais e modernas ...................................................................... 116
Introdução ........................................................................................................ 116
Resumo ..................................................................................................................... 119
Auto-avaliação .......................................................................................................... 120

Lição no 2 123
Os paradigmas das reformas de educação em África pós - independente .................... 123
Introdução ........................................................................................................ 123
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação v

Resumo ..................................................................................................................... 127


Auto-avaliação .......................................................................................................... 127
Actividade Final da Unidade ..................................................................................... 130
Respostas das Actividades Finais ............................................................................... 131
Notas Finais .............................................................................................................. 134
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 1

Visão geral

Bem-vindo ao módulo da Sociologia


das Organizações Educativas

Caro estudante, você vai iniciar o estudo do módulo da Sociologia


das Organizações Educativas A Sociologia das Organizações
Educativas que é o ramo aplicado da Sociologia, que se ocupa de
analisar os aspectos sociológicos de organizações educativas, isto é,
escolas, centros de educação, órgãos públicos ligados a educação.

O objectivo da Sociologia das Organizações Educativas, é tanto o


estudo dos aspectos de uma sociedade que influem na organização
e no desenvolvimento das organizações educativas, para melhor
compreensão dos fenómenos que ocorrem dentro de uma
organização sob um ponto de vista sociológico.

Com este módulo, você vai aprender a olhar para a Educação do


ponto de vista sociológico das organizações educativas e,
compreender que a Pedagogia é o fundamento das práticas
educacionais (as crenças, os valores e as normas sociais)
constituem os fundamentos da Sociologia.

Assim você vai aprender reconstruir sistematicamente as relações,


que existem na prática quotidiana, entre as acções que objectivam
educar e as estruturas da vida social.

O presente módulo está dividido em 6 unidades e 19 lições.


2 Sociologia das Organizações Educativas

Objectivos do Módulo
Quando terminar o estudo deste modulo, você será capaz de:

• Explicar o que é Sociologia das Organizações Educativas;

• Conhecer os pressupostos da emergência da Sociologia das


Organizações Educativas e Sociologia no geral e seus
Objectivos fundadores;

• Explicar o fenómeno educação como objecto de estudo da


sociologia;

• Explicar o papel da escola como instituição sociológica;

• Conhecer a função da educação e estrutura social nas


sociedades tradicionais e modernas;

• Identificar o papel dos paradigmas das reformas de


educação em África pós – independente.

Quem deve estudar este Módulo


Este módulo destina-se aos estudantes do curso de Administração e
Gestão de Educação em exercício e inscritos no Curso a Distancia,
fornecido pela Universidade Pedagógica.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 3

Como está estruturado este


Módulo
Todos os módulos dos cursos à Distância produzidos pela Universidade
Pedagógica, encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

Um índice completo.

Uma visão geral detalhada do módulo, resumindo os aspectos chave


que precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos
vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu
estudo.

Conteúdo módulo

O módulo está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma


introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um sumário da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista


de recursos adicionais para explorar. Estes recursos podem incluir livros,
artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação

Tarefas de avaliação para este Módulo encontram-se no final de cada


unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do Módulo.
4 Sociologia das Organizações Educativas

Comentários e sugestões

Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários


sobre a estrutura e o conteúdo do curso Módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este Módulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Neste Módulo encontrará ícones que identificam as actividades, dicas,
sumárias e actividades de auto-avaliação.

Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir. Cada


um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste Módulo.

Comprometimento/ Resistência, “Qualidade do “Aprender através


perseverança perseverança trabalho” da experiência”

(excelência/
autenticidade)

Actividade Auto-avaliação Avaliação / Exemplo /


Teste Estudo de caso
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 5

Confirmação / Horas / Vigilância / “Eu mudo ou


Correcção programação preocupação transformo a minha
vida”
Resultados Tempo Tome Nota!
Objectivos

“[Ajuda-me] deixa- “Pronto a enfrentar “Nó da sabedoria” Apoio /


me ajudar-te” as vicissitudes da encorajamento
vida”

(fortitude /
Leitura preparação) Terminologia Dica
Resumo

Habilidades de estudo
Este Módulo foi concebido tendo em consideração que você vai estudar
sozinho. É por isso que no fim de cada unidade/lição apresentamos
actividades que o auxiliarão a verificar tudo o que nela aprendeu.

Fazem parte deste conjunto de actividades, consulta e interpretação de


tabelas, desenho e interpretação de gráficos e diagramas, etc., pois eles
são preciosos para você conhecer o nível da sua aprendizagem.

Precisa de apoio?
Se tiver dificuldades, tem o Centro de Recursos à sua espera, perto
do local da sua residência. Não hesite em recorrer a esse centro,
pois ele foi criado para si. Lá encontrará literatura e outros
materiais de consulta. Também poderá consultar ao seu tutor,
usando vários meios que serão definidos no início do curso.
6 Sociologia das Organizações Educativas

Avaliação

O módulo da Sociologia das Organizações Educativas terá dois


testes e um exame que deverá ser feito no centro dos recursos da
Universidade Pedagógica, ou em local a ser indicado pela
administração do curso. O calendário das avaliações será também
apresentado oportunamente.

A avaliação visa não só informar-nos sobre o seu desempenho nas


lições, mas também estimular-lhe a rever alguns aspectos e a seguir
em frente. Durante o estudo deste módulo o estudante será avaliado
com base na realização de actividades e tarefas de auto-avaliação
previstas em cada unidade, dois testes escritos e um exame.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 7

Unidade 1

Génese e evolução do
pensamento social

Introdução
Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as noções
fundamentais da Sociologia das Organizações Educativas. Estas
noções vão ajudá-lo a compreender a peculiaridade do seu objecto
de estudo, os seus métodos fundamentais e a relação com as outras
ciências (interdisciplinaridade).

Estrutura

O estudo que você inicia agora tem 4 lições. Devem ser

Tempo dispensadas duas (2) horas de tempo para cada lição. Eis as
matérias a serem estudadas nesta unidade:

Tópicos da unidade

Lição 1. Evolução do pensamento social

Lição 2. A idade Antiga

Lição 3. A idade Media

Lição 4. A idade Moderna

Meios

Para alem das referências bibliográficas presentes no fim da


unidades, poderá usar textos de apoio, filmes dos séculos passados
sempre que existirem, bem como as fontes orais da sua
8 Sociologia das Organizações Educativas

comunidade, ao faze-lo, estará em contacto directo com o seu


objecto de estudo.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Geral:
• Conhecer as origens e os propósitos da sociologia no geral.

Objectivos da unidade Específicos:


• Caracterizar o processo da evolução da sociologia;

• Identificar as etapas da evolução do pensamento social;

• Indicar os aspectos importantes da evolução do pensamento


social.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 9

Lição no 1

Evolução do pensamento social

Introdução
Nesta lição, terá a ocasião de conhecer as etapas evolutivas do
pensamento social, são pressupostos básicos da origem e evolução
desta ciência do social, desde a idade antiga, média e
contemporânea. Para este estudo, você deve dispensar duas (2)
horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Indicar as origens e os propósitos da sociologia no geral;


• Caracterizar o processo da evolução do pensamento Social;

Objectivos da lição • Enumerar as etapas da evolução do pensamento social.

As primeiras tentativas de compreender como as forças sociais


funcionam baseavam-se na imaginação, na fantasia, na
especulação. Assim, certos fenómenos sociais eram explicados a
partir da acção de seres mitológicos, como deuses e heróis
(Foracchi, 1985:11).

Entretanto, politólogos, moralistas, filósofos e juristas, foram


descrevendo a sociedade através do pensamento então em vigor, da
maneira como eles pensaram que deveria ser a sociedade e não a
partir de uma observação metódica da mesma.

Aproximações sucessivas para a situar no espaço e no tempo


levaram à construção de um objecto teórico para uma nova ciência
e à invenção das metodologias e técnicas convenientes, o que levou
à definição inicial da sociologia como sendo a ciência de
10 Sociologia das Organizações Educativas

observação das relações entre os fenómenos sociais, isto é, ciência


de observação, por oposição à ciência especulativa; ciência
objectiva, por oposição à subjectiva; ciência positiva, por oposição
à normativa. Entende-se por Ciência um conjunto ordenado e
sistematizado de conhecimentos metodologicamente adquiridos.

Segundo Fernandes (1987:24) esta ciência (sociologia) das relações


entre os fenómenos sociais, não se interessa pelo indivíduo como
tal, isto é, pelo que ele partilha com os outros. Ou seja, quem
estuda a sociedade interessa-se pelo modo como as pessoas estão
em relação umas às outras, às colectividades que formam, aos
comportamentos por estes adoptados no seu quotidiano. A
sociologia aparece onde há ideias, comportamentos, atitudes,
crenças, valores partilhados pela colectividade.

Resumo
O homem é um ser que está em constante transformação. Nas
sociedades primitivas, o pensamento mítico representou a
oportunidade de acesso ao conhecimento e revelação da verdade.
Para tudo aquilo que o homem não conseguia explicar, era criado
um mito. Assim, certos fenómenos sociais eram explicados a partir
da acção de seres mitológicos.

Chegado ao fim dessa lição pense naquilo que já aprendeu e


responda as questões seguintes:
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 11

Auto-avaliação
1. Indique as origens e propósitos da Sociologia?

2. Caracterize o processo da evolução do pensamento social?

3. Enumere as etapas da evolução do pensamento social?


Exercícios

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

1. As origens e pressupostos da sociologia surgem após as


revoluções burguesas (Inglesa/ industrial e Francesa) por
volta de 1930. O século XVII constitui um marco
importante para a história do pensamento ocidental e para o
surgimento da Sociologia. As profundas transformações
políticas, económicas e culturais levam ao surgimento da
Sociologia (ciência social ou ciência da sociedade).

2. O homem sempre indagou sobre dois tipos de fenómenos: o


físico e o social. O físico, primeiramente, daí o surgimento
inicial das ciências da natureza (ciência = comprovação da
investigação; antes desta havia o senso comum). Depois, a
ciência dos fenómenos sociais, do comportamento, dá-se
então o surgimento das ciências sociais; é neste contexto
que surge a Sociologia que é fruto de várias formas de
conhecer e pensar sobre a natureza humana.

O pensamento social interessa-se das relações entre os


fenómenos sociais estabelecidos pelos indivíduos no dia-a-
dia; não se interessa pelo indivíduo como tal, isto é, pelo
que ele partilha com os outros; ou seja, quem estuda a
sociedade interessa-se pelo modo como as pessoas estão em
12 Sociologia das Organizações Educativas

relação umas às outras, às colectividades que formam, aos


comportamentos por estes adoptados no seu quotidiano.

3. A sociologia aparece de facto como a ciência da luta de


classes, mas os psicólogos sociais, sobretudo franceses
(como Gustave Le Bon), procuram corrigir essa visão pela
análise dos comportamentos humanos e das formas de
sociabilidade. A fusão desses diferentes ramos das ciências
sociais, inclusive o da história e o da economia, iria resultar
numa das mais importantes obras já efectuada sobre o
pensamento e o método da sociologia: a do pensador
alemão Max Weber. Vindo da tradição da escola histórica
alemã, mas também influenciado pelo marxismo (que ele
procurará contestar), Weber deixa um importante legado
que será recuperado por praticamente todos os sociólogos
do século XX, a começar pelos funcionalistas e pelos
comparatistas. Com Weber, a sociologia emerge, realmente,
como disciplina completa e dotada de métodos rigorosos
para servir, não mais uma causa política – reformista ou
revolucionária, como tinha sido o caso até então – mas um
objectivo de análise científica da sociedade.

Ø De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas.


Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a
dificuldade persistir consulte o seu tutor.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 13

Lição no 2

A idade antiga

Introdução
O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos
sobre as etapas da evolução do pensamento social. É fundamental
esse conhecimento, para situar-se na complexidade que esta
disciplina encerra em perceber as razões do estudo da Sociologia
das Organizações Educativas. Esta lição tem a duração de duas (2)
horas de estudo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar a base do pensamento sociológico na idade


antiga;

Objectivos da lição • Identificar os pensadores da idade antiga.

Esta temporada é caracterizada por dois pensadores


nomeadamente:

Aristóteles Nicômaco
Aristóteles fundamenta a tese que “o homem é um animal social”.
A união entre os homens é natural, porque o homem é um ser
naturalmente carente, que necessita de coisas e de outras pessoas
para alcançar a sua plenitude. Aristóteles afirma:

“As primeiras uniões entre pessoas, oriundas


de uma necessidade natural, são aquelas entre
seres incapazes de existir um sem o outro, ou
14 Sociologia das Organizações Educativas

seja, a união da mulher e do homem para


perpetuação da espécie (isto não é resultado de
uma escolha, mas nas criaturas humanas, tal
como no outros animais e nas plantas, há um
impulso natural no sentido de querer deixar
depois de individuo um outro ser da mesma
espécie).” (Fernandes, 1985:12).

Para Cândido (1994) Aristóteles faz a diferenciação entre dois tipos


de espécies, as gregárias (koinonia), e as solitárias (monadika),
sendo que o homem faz parte das duas espécies. Pois, as duas são
propensas há uma vida sociável, na qual o homem vive de maneira
esparsa, ou seja, a sociabilidade faz parte da natureza humana.

Assim, “a natureza social do homem se manifesta na linguagem, no


dizer ou no logos [...] O homem é o único animal que fala, e o falar
é função social” (Marías, 2004: 91). Assim em sociedade, o homem
poderá realizar a sua potência mais elevada – vida política
(politikon).

Platão De Aristão
Para os gregos, era impossível conceber o homem em estado de
isolamento. Eles consideravam a sociedade como algo que brota
necessariamente da mesma condição da natureza humana. Para
Platão não poderia ser diferente. Platão afirma que para o ser
humano viver humanamente e de forma digna, necessita da ajuda e
da cooperação de seus semelhantes. Platão conceitua o ser humano
como "um animal essencialmente social".

Platão assinala como principal factor que origina a sociabilidade do


indivíduo e, consequentemente, a organização da sociedade, o
factor económico (facto que posteriormente foi combatido pelo seu
discípulo Aristóteles). Segundo Platão, o agrupamento de pessoas
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 15

dá-se em razão de necessidades económicas. É assim que as


cidades vão sendo constituídas (Fernandes, 1985).

A sociedade, ou melhor, a organização social, brota de maneira


espontânea. As diversas necessidades materiais, como por exemplo,
alimentação, vestuário e moradia dão origem a várias outras
necessidades. Nesse contexto, cada ofício criado para suprir uma
necessidade específica produz a necessidade de outro ofício, e
assim sucessivamente. Para Platão, a divisão do trabalho origina a
divisão das classes sociais. A cada uma dessas classes deve
corresponder uma função distinta, de acordo com sua a aptidão.
Tudo isso deve contribuir para o bem comum (Giddens, 2005).

Sumario
Na Idade Antiga, como vimos, surgiram explicações mitológicas
para alguns fenómenos sociais. Insatisfeitos com essas explicações,
os filósofos gregos foram os primeiros a empreender o estudo
sistemático da sociedade humana. De entre eles destacam-se Platão
(427-347 a.C), autor de A República, e Aristóteles (384-322 a.C),
que escreveu Política. É de Aristóteles a afirmação segundo a qual
“o homem nasce para viver em sociedade”.

Depois desta leitura procure as respostas aconselháveis para as


actividades seguintes:
16 Sociologia das Organizações Educativas

Auto-avaliação
1. Identifique a base do pensamento sociológico na idade
antiga?
2. Identifique os pensadores da idade antiga?
Exercícios

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. A base do pensamento na idade antiga, rompia-se com as


explicações mitológicas dos fenómenos sociais,
empreendendo o estudo sistemático dos mesmos.

2. Os pensadores da idade antiga foram: Platão e Aristóteles

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade
persistir consulte o seu tutor.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 17

Lição no 3

Idade Média (Idade das Trevas):


Santo Agostinho e São Thomas
de Aquino

Introdução
O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos
sobre as etapas da evolução do pensamento social na Idade Média
ou idade das trevas. Esse conhecimento é fundamental para se
situar na complexidade que esta disciplina encerra em perceber as
razões do estudo da Sociologia das Organizações Educativas. Esta
lição tem a duração de duas (2) horas de estudo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


• Descrever as características do pensamento social na Idade
Média;
• Caracterizar os pensadores da Idade Média;
Objectivos da lição
• Indicar as diferenças da construção do pensamento entre a
idade Média e Antiga.

A Idade Média também conhecida como idade das trevas, está


associada a dois (2) pensadores Santo Agostinho e São Thomas
de Aquino.

Santo Agostinho
Concebe o homem como um ser único, dotado de uma
personalidade exclusiva, que necessita de afecto, compreensão,
aceitação, auto-estima e auto-respeito. Além de nutrir diferentes
sentimentos pelos demais indivíduos e pelas coisas que fazem parte
18 Sociologia das Organizações Educativas

do seu “estar no mundo”. E, na medida em que procura ultrapassar


os limites impostos pelo meio físico e cultural em que vive e, em
certo sentido, ultrapassar-se e lançar-se em busca de outras
realidades a que aspira, é movido por uma gama imensa e variada
de desejos e necessidades sensíveis, morais, racionais e espirituais
que o impulsionam na direcção de sua plenitude.

O homem, ser social e político, não vive sozinho. Ele necessita de


um meio social onde possa compartilhar a sua existência com os
demais, movido pela necessidade de encontrar um bem comum.

Pereira (1985) afirma que a sociabilidade é inerente ao ser humano


e garante a perpetuação de sua história. A convivência social
permite-lhe compartilhar experiências e vivências passadas e
presentes, bem como projectar realizações futuras mediadas pelo
uso contínuo da linguagem. E para possibilitar uma convivência
harmoniosa, resultado da associação permanente entre indivíduos
diferentes, o homem estabelece normas e padrões de conduta,
promulga leis que regulam a vida em sociedade. E a partir deste
ponto de vista, percebemos que o homem além de ser um ser social,
é um ser político.

Thomas de Aquino
Segundo Thomas de Aquino, por ser racional, o homem conhece a
lei natural, ou seja, está plenamente capacitado para saber que
“deve fazer o bem e evitar o mal”. Trata-se da participação da lei
eterna pelo homem dotado de inteligência. A lei eterna é o plano
racional de Deus, isto é, a ordem existente em todo o universo. Esta
lei dirige tudo para o seu fim específico.

Além desta lei eterna e da lei natural, Aquino fala da lei humana,
ou seja, jurídica. São normas feitas pelos homens para impedir que
se pratique o mal. É a ordem promulgada por quem tem a
responsabilidade pela comunidade.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 19

Aquino considera o Estado como uma necessidade natural. É que o


homem é um ser social e precisa de orientações para viver em
sociedade. Entretanto, Aquino deixa claro que as leis humanas não
podem contradizer a lei natural (Giddens, 2005).

Aliás, no pensamento de Aquino as normas do direito positivo


existem para que os que são propensos aos vícios e neles se
obstinam sejam persuadidos, a bem da ordem pública, a evitar tais
desvios. Insiste Aquino na função pedagógica das leis humanas e
nas sanções que podem e devem incluir. O objectivo é a
convivência pacífica entre os homens.

Resumo
Na Idade Média, os pensadores estavam preocupados com a
sociabilidade do homem, daí que o pensamento central consistia em
arranjar soluções de vivência do memo no contexto em que se
encontra.

Depois desta leitura procure as respostas aconselháveis para as


actividades seguintes:

Auto-avaliação
Descreva as características do pensamento social na idade média;

Caracterize os pensadores da idade média;

Exercícios Indique as diferenças da construção do pensamento social na idade


média e na idade antiga.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos


20 Sociologia das Organizações Educativas

Respostas
1. É o período da história do Ocidente, situado entre a História
Antiga e a História Moderna. Representa uma quebra nos
padrões existentes em seu período anterior, a História Antiga.
Esta fase chegou ao fim através de variações em factores
políticos.

É preciso lembrar que as mudanças nos períodos históricos não


são variações que ocorrem em datas estabelecidas, as pessoas
em suas épocas não tinham consciência de que passaram a
viver um período diferente da história da humanidade. Essas
divisões e determinações dos períodos são elaboradas pelos
historiadores, depois que tudo já ocorreu, para estabelecer
recortes cronológicos que favorecem didacticamente nas
pesquisas.

2. Santo Agostinho preocupava-se no homem como um ser


único, dotado de uma personalidade exclusiva, que necessita
de afecto, compreensão, aceitação, auto-estima e auto-respeito.
Segundo Santo Agostinho o homem é um ser social, porque
este não vive sozinho, necessita de um meio social, na busca
de poder compartilhar sua existência com os demais, movido
pela necessidade de buscar o bem comum. É político porque
estabelece normas e padrões de conduta, promulga leis que
regulam a vida em sociedade. Por sua vez, Aquino concebe o
homem como sendo um ser racional que conhece a lei natural,
ou seja, está plenamente capacitado para saber o que se deve
fazer para o bem e evitar o mal. O Estado apresenta-se como
uma necessidade natural e o homem, como um ser social,
precisa de orientações para viver em sociedade.

3. Idade Antiga: na periodização das épocas históricas da


humanidade, Idade Antiga, ou Antiguidade é o período que se
estende desde a invenção da escrita (de 4000 a.C. a 3500 a.C.)
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 21

até à queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.).


Embora o critério da invenção da escrita como balizador entre
o fim da Pré-História e o começo da História propriamente dita
seja o mais comum, os estudiosos que dão mais ênfase à
importância da cultura material das sociedades recentemente
têm procurado repensar essa divisão.

A Idade Média, a Idade Medieval, a Era Medieval ou o


Medievo foi o período intermédio numa divisão esquemática
da História da Europa, convencionada pelos historiadores, em
quatro "eras", a saber: a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade
Moderna e a Idade Contemporânea.

Este período caracteriza-se pela influência da Igreja sobre toda


a sociedade. Esta encontra-se dividida em três classes: clero,
nobreza e povo. Ao clero pertence a função religiosa, é a classe
culta e possui propriedades, muitas recebidas por doações de
reis ou nobres a conventos. Os elementos do clero são oriundos
da nobreza e do povo. A nobreza é a classe guerreira,
proprietária de terras, cujos títulos e propriedades são
hereditários. O povo é a maioria da população que trabalha
para as outras classes e esta é constituída em grande parte por
servos.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade
persistir consulte o seu tutor.
22 Sociologia das Organizações Educativas

Lição no 4

Idade Moderna: Maquiavel, e Jean


Jacques Rousseau

Introdução
O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos
sobre as etapas da evolução do pensamento social na Idade
Moderna. É fundamental esse conhecimento, para se situar na
complexidade que esta disciplina encerra em perceber as razões do
estudo da Sociologia das Organizações Educativas. Esta lição tem a
duração de duas (2) horas de estudo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Caracterizar a base do pensamento social na idade moderna;

• Identificar os pensadores da idade moderna.


Objectivos da lição

A idade moderna é marcada por dois nomes sonantes Maquiavel e


Rousseau.

Nicolau Maquiavel
Segundo Fernandes (1986) Maquiavel é o precursor da ciência
política. Ele elaborou a primeira teoria de surgimento do Estado
moderno, mostrando que a política também era uma disciplina
autónoma e que o Estado possuía seus próprios caracteres, fazendo
política e seguindo sua técnica e suas próprias leis. Consoante o
nobre autor italiano, a política deveria preocupar-se com a vida
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 23

concreta de como as coisas estão e não como as coisas deveriam


estar, pois esta é a ocupação da moral.

Nicolau Maquiavel forma uma nova moral, que é a do cidadão que


edifica o Estado e que vive no relacionamento entre os homens. Ele
afirma ainda que o poder do Estado moderno deve ter como
sustentáculo o terror porque os homens são maus e só obedecem
por medo de alguma sanção ou castigo.

Assegura que os seres humanos são maus por natureza, vivendo


constantemente em guerra e destruição mútua, tornando-se famosa
a sua frase de que "o homem é o lobo do próprio homem".

Jean-Jacques Rosseau
Este pensador e filósofo francês, foi capaz de exibir uma percepção
democrático-burguesa. Para Rousseau, os seres humanos acabam
vivendo em "fortuna" pelo facto de serem bons e virtuosos. Uma
vez que, a sua mentalidade é altamente comercial aliando ao alto
grau de individualismo tipicamente burguês.

Rousseau diz ainda que os homens constituem a sociedade (e não o


Estado) através de um contrato social também, que deve servir à
plena expansão da personalidade do indivíduo. O povo não pode
perder sua soberania e por causa disso não deve gerar um Estado
deslocado de si próprio (Foracchi, 1985).

Foracchi (1985) menciona também a igualdade jurídica e chega a


perceber que existe um problema de igualdade sócio-económica.
Para Rousseau, o homem só poderia ser livre se fosse igual si
mesmo, ou seja, sem o estabelecimento do contracto social. Caso
surgisse alguma desigualdade entre os homens, findar-se-ia a
liberdade.
24 Sociologia das Organizações Educativas

Resumo
Na Idade Moderna, a concepção de uma imaginação da evolução
do pensamento social, ganha uma outra dinâmica. De um lado
Maquiavel ao trazer o poder do Estado moderno como aquele que
deveria ter como sustentáculo o terror, porque os homens são maus
e só obedecem por medo de alguma sanção ou castigo, e por outro
Rousseau salienta os seres humanos acabam vivendo em "fortuna"
pelo facto de serem bons, virtuosos e que os mesmos constituem a
sociedade e não o Estado através de um contrato Social que, deve
servir à plena expansão da personalidade do indivíduo.

Depois desta leitura procure as respostas aconselháveis para as


actividades seguintes:

Auto-avaliação

1. Caracterize a base de pensamento social na Idade Moderna;


2. Identifique e diferencie os pensadores da Idade Moderna.
Exercícios
Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos.

1. A idade moderna é caracterizada pelas concepções de Nicolau


Maquiavel, que elaborou a primeira teoria de surgimento do
Estado moderno, mostrando que a política também era uma
disciplina autónoma e que o Estado possuía seus próprios
caracteres, fazendo política e seguindo sua técnica e suas
próprias leis. E pela concepção de Jean-Jacques Rosseau, que
mostrou uma percepção democrático-burguesa do homem.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 25

2. Os pensadores da idade moderna são: Nicolau de Maquiavel e


Jean-Jacques Rosseau. Mas onde reside a diferença entre eles?
Maquiavel é o precursor da ciência política. Ele elaborou a
primeira teoria de surgimento do Estado moderno, mostrando
que a política também era uma disciplina autónoma e que o
Estado possuía seus próprios caracteres, fazendo política e
seguindo sua técnica e suas próprias leis, Maquiavel forma
uma nova moral, que é a do cidadão que edifica o Estado e que
vive no relacionamento entre os homens. Ele afirma ainda que
o poder do Estado moderno deve ter como sustentáculo o terror
porque os homens são maus e só obedecem por medo de
alguma sanção ou castigo.

Por sua vez, Jean-Jacques Rosseau, exibiu uma percepção


democrático-burguesa. Para Rousseau, os seres humanos
acabam vivendo em "fortuna" pelo facto de serem bons,
virtuosos, salienta ainda que, os homens é que constituem a
sociedade (e não o Estado) através de um contrato social que
deve servir à plena expansão da personalidade do indivíduo.

Ø De certeza que conseguiu responder a pergunta colocada. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a
dificuldade persistir consulte o seu tutor.

Actividade final da unidade

Depois de fazer uma reflexão à volta da génese e evolução do


pensamento social, procure esboçar a utilidade da construção do
pensamento social no homem nas três idades de pensamento
Actividade (Antiga, Média e Moderna).
26 Sociologia das Organizações Educativas

Leituras aconselhadas para unidade 1

CÂNDIDO, António. Tendências no desenvolvimento da sociologia da


educação. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e
Leitura
Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: Ed.
Nacional, 1985, p. 07-18.

FERNANDES, Florestan. Sociologia da Educação como Sociologia


Especial. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e
Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: Ed.
Nacional, 1985, p. 06.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6 Ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Introdução: a educação


como objecto de estudo sociológico. Educação e Sociedade: leituras de
sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, p. 03-05.

Pesquisas na Internet

www.scielo.org.br

www.usp.org.br

www.ufrgs.br/ensinosociologia

www.espacoacademico.com.br

www.unifesp.br
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 27

Unidade 2

História da teoria atómica,


Fundadores e representantes da
Sociologia (Objecto e Método)

Introdução
Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as bases
fundamentais da Sociologia geral. Bem-vindo a esta unidade de
estudo, onde terá a ocasião de estudar a historia da sociologia e as
suas teorias, bem como, o método e objecto de estudo da
sociologia.

Estrutura

O estudo que você inicia agora tem 4 lições. Devem ser


dispensadas duas (2) horas de tempo para cada lição. Eis as
matérias a serem estudadas nesta unidade:

Lição 1. Os fundadores da sociologia

Lição 2. Os representantes da sociologia

Lição 3. Objecto e métodos de estudo da sociologia

Lição 4. O problema do método sociológico


28 Sociologia das Organizações Educativas

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Geral:

• Conhecer os fundadores, representantes e as bases


Objectivos da unidade fundamentais (objecto e método) da sociologia.

Específicos:

• Identificar os fundadores e representantes da sociologia;

• Indicar as abordagens dos fundadores e representantes da


sociologia;

• Caracterizar o objecto e método de estudo da sociologia.

Meios

Para o estudo dessa unidade você terá como material de apoio as


referências bibliográficas nela presentes e textos de apoio.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 29

Lição no 1

Os fundadores da sociologia

Introdução
Trazemos nesta lição a história do surgimento da Sociologia. A
discussão vai centrar-se nas diferentes contribuições dos
pensadores desta ciência do social. Para este estudo, você deve
dispensar duas (2) horas

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar os fundadores da sociologia;


• Descrever as concepções de cada precursor sobre a
sociologia.
Objectivos da lição

De acordo com Pereira (1985) a emergência da Sociologia coincide


com as primeiras reflexões do homem sobre si e sobre a natureza.
Assim, a Sociologia e as demais ciências sociais têm sido
consideradas produtos da Revolução Industrial e da Revolução
Intelectual.

O progresso industrial capitalista demandou um notável


desenvolvimento da ciência e da técnica. Inúmeras pessoas
dedicaram longos anos a estudar a vida em sociedade, procurando
descobrir seus segredos e tornar mais claras as relações que existem
entre os homens. São fundadores da sociologia os seguintes:
30 Sociologia das Organizações Educativas

Auguste Comte (1798-1857)


Comte, desenvolveu o Positivismo, corrente que acredita a
evolução das sociedades em etapas de progressão (teológico,
metafísico e positivo), é um dos fundadores da sociologia. Comte, é
considerado como o pai da sociologia por ter se dedicado ao estudo
científico das sociedades, deu suporte ao homem a trilhar o
caminho para o encontro da organização social e política.

Comte divide a Sociologia em duas grandes partes: estática social


ou estudo fundamental das condições de existência da sociedade; e
a dinâmica social, ou o estudo das leis do seu movimento contínuo.
A primeira constitui uma “teoria de ordem”; a segunda uma “teoria
do progresso”, sendo este tomado no sentido de desenvolvimento
“sem nenhuma apreciação moral”. (GIddens, 2005:81).

Ao criar a Sociologia, Augusto Comte cria uma ciência


fundamental, mais concreta complexa cujo alvo foi à humanidade.
Segundo Augusto Comte, as ciências classificam-se de acordo com
a maior ou menor simplicidade de seus objectos respectivos. Foi de
grande louvor a contribuição desse francês para o mundo da ciência
para a evolução da humanidade, como consta em algumas obras em
sua homenagem (Aron, 2005).

Comte é considerado o pai da Sociologia pelo facto de:

• Procurou determinar o lugar preciso da Sociologia entre as


outras ciências;

• Não confinou à Sociologia á simples descrição dos factos


ou a seu agrupamento, mas atribui-lhe o papel de explicar e
elucidar as relações entre esses factos;

• Afirmou que a Sociologia se deve enriquecer com todos os


conhecimentos abordados pelos historiadores e etnógrafos;
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 31

• Sublinhou que, tanto as actividades políticas como as


instituições devem ser estudadas no contexto social mais
vasto (sociedade global).

Charles de Montesquieu
É por vezes chamado pai da Sociologia. Distingue claramente a
observação e especulação. Afirma: dizemos o que é, e não o que
deveria ser, distanciando-se assim de todo o ponto de vista
normativo.

Para Raymond Aron (2006) sociólogo francês autor do Ópio dos


Intelectuais, se a sociologia se define pela intenção de conhecer
cientificamente o social enquanto tal, então Montesquieu é tão
sociólogo como Augusto Comte, o criador do termo. Para este
sociólogo, Montesquieu no seu Espírito das Leis, chega a ser mais
«moderno» do que Comte, o que serve para provar que
Montesquieu não deve ser considerado somente como precursor,
mas sim como um dos doutrinadores da sociologia.

Principais questões a serem respondidas pela obra “O Espírito das


Leis”:

-Por que em tal país e em um dado momento, sobre um


determinado assunto, uma lei e não outra?

-Por que, em igualdade das demais condições, é eficaz determinada


lei e não outra?

Existe precisamente um espírito das leis, pois o legislador obedece


a princípios, a motivos, a tendências examináveis pela razão:
“primeiro examinei os homens, e acreditei que, na infinita
diversidade de leis e de costumes, não se deixaram levar
exclusivamente pelas suas fantasias” (Montesquieu, 1963:62).

Toda lei é relativa a um elemento da realidade física, moral ou


social; toda lei pressupõe uma relação. O Espírito das Leis consiste
nas diversas relações que podem ter as leis com diversos objectos.
32 Sociologia das Organizações Educativas

Diferentemente de Maquiavel, que sustenta a ideia segundo a qual


a vida política é conduzida pelo interesse e pela ideia que o homem
faz do seu interesse a fortuna, Montesquieu o recusa esse interesse
que o homem tem sobre a fortuna, pois verifica que,
historicamente, os romanos foram constantemente felizes ao se
governarem de acordo com determinado plano, e constantemente
infelizes ao seguirem outro. Ou seja, existem causas gerais que
agem em cada Monarquia, elevando-a, conservando-a ou
precipitando-a, as quais devem explicar racionalmente a história.

Diferente de Hobbes ou Locke, não busca encontrar um sistema


político armado dos pés à cabeça, uma doutrina rigorosamente
dedutiva: busca suas ideias na investigação científica e análise dos
governos de diversos países, à medida que vai desenvolvendo sua
obra.

Herbert Spencer
Foi dos primeiros investigadores a defender a teoria evolucionista.
Tentou aplicar o conceito de evolução não só à biologia mas
também à psicologia, à sociologia, à ética e à política. Defendeu
que o processo de selecção natural se aplicava à sociedade - o
chamado darwinismo social, levando à eliminação dos socialmente
mais fracos. A sua obra mais conceituada é de synthetic Philosophy
(1896).

A obra do filósofo inglês Herbert Spencer é inseparável da


ideologia do progresso da ideia de um desenvolvimento
progressivo da Humanidade e do evolucionismo cultural e social
que marcou o século XIX. Spencer introduz as hipóteses
evolucionistas em 1854, em Social statics, que serão igualmente
defendidas por Darwin, em 1859, na sua obra A origem das
espécies. Com uma importância decisiva nos Estados Unidos,
Spencer não marcará de igual modo a Sociologia francesa, graças
aos ataques que lhe foram dirigidos por Durkheim.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 33

Spencer, nos Primeiros Princípios (que introduzem o Tratado do


qual os Princípios de Sociologia são uma parte), procurou explicar
mecanicamente o Universo, concebido como um conjunto de
relações dinâmicas, como um organismo vivo, no seio do qual se
verifica uma crescente diferenciação e especialização (dos
organismos e das sociedades). O seu evolucionismo defende que,
por diferenciação e por agregação (integração), as sociedades
evoluem de formas simples para formas complexas.

As noções de função social, de regulação social, de analogia


orgânica, assim como as teorias da diferenciação e da divisão do
trabalho, que reaparecem em Durkheim, são empregues por
Spencer. Ele admite que a Lei da evolução respeita também o
domínio orgânico ou biológico, donde as analogias entre os
fenómenos biológicos e os fenómenos sociológicos, e a utilização
das noções de função, de estrutura, de equilíbrio, de diferenciação,
de órgão, que se aplicam aos dois domínios. É assim que os seus
Princípios de Sociologia são precedidos dos Princípios de Biologia
(Foracchi, 1985).

Resumo
A emergência da sociologia contou com as importantes
contribuições dos cientistas sociais do século XVII (Comte,
Montesquieu e Spencer), marcadas por reflexões e condições da
existência da Sociologia baseadas no tempo em que viveram.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:
34 Sociologia das Organizações Educativas

Auto-avaliação

1. Identifique os principais fundadores da Sociologia;

2. Indique as concepções de cada fundador da Sociologia.

Exercícios
Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. Os principais fundadores da Sociologia são: August Comte,


Herbert Spencer e Montesquieu.

2. Para August Comte, a Sociologia está relacionada com o


desenvolvimento do Positivismo, corrente que acredita na
evolução das sociedades em etapas de progressão teológico,
metafísico e positivo. Comte caracterizou as sociedades como
constantes evoluções sociais e que só a física social, então
Sociologia, é que estaria ao alcance do estudo dessa evolução.
Por sua vez, a contribuição de Herbert Spencer centra-se na
explicação mecânica do Universo, concebido como um
conjunto de relações dinâmicas, como um organismo vivo no
seio do qual se verifica uma crescente diferenciação e
especialização dos organismos e das sociedades. E, finalmente,
em Montesquieu vamos encontrar a sua contribuição para a
Sociologia no seu tratado sobre o ′Espírito das Leis′ onde
advoga que, toda a lei é relativa a um elemento da realidade
física, moral ou social; toda a lei pressupõe uma relação. O
′Espírito das Leis′ consiste nas diversas relações que as leis
podem ter com diversos objectos.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 35

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade
persistir consulte as obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.
36 Sociologia das Organizações Educativas

Lição no 2

Representantes da Sociologia

Introdução
Depois da fundação da Sociologia enquanto ciência, várias
discussões apareceram quanto à sua natureza, no âmbito das demais
ciências sociais. Contudo, um primeiro momento foi caracterizado
por um pensamento clássico (representantes) que então dominava
no século XIX. É esse período de representantes clássicos da
Sociologia que vai conhecer na presente lição. Como sempre, no
fim desta lição, você tem um exercício que vai aferir o grau de
compreensão desta matéria. Para este estudo, você deve dispensar
duas (2) horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar os representantes (clássicos) da Sociologia;


• Mencionar os aspectos ligados ao conceito de Sociologia de
cada autor;
Objectivos da lição • Indicar as causas do surgimento da Sociologia no Século XIX.

Os três principais pensadores clássicos da Sociologia são Karl


Marx, Émile Durkheim e Max Weber.

Embora a Sociologia, tenha surgido a partir da tentativa intelectual


de Comte, foi só no século XIX com o aparecimento dos problemas
sociais decorrentes da Revolução Industrial, que a sociologia
tomou proporção, surgindo como a ciência dedicada a compreensão
desses problemas.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 37

Karl Marx
Karl Marx foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da
doutrina comunista moderna, actuou como economista, filósofo,
historiador, teórico político e jornalista - foi o mais revolucionário
pensador sociológico.

Marx concebe a sociedade dividida em duas classes: a dos


capitalistas, que detêm a posse dos meios de produção; e o
proletariado (ou operariado), cuja única posse é sua força de
trabalho a qual vendem ao capital. Para Marx, os interesses entre o
capital e o trabalho são irreconciliáveis, sendo este debate a
essência do seu pensamento, resultando na concepção de uma
sociedade dividida em classes. Assim, os meios de produção
resultam nas relações de produção, nas formas como os homens se
organizam para executar a actividade produtiva. Tudo isso acarreta
desigualdades, dando origem à luta de classes.

Marx foi um defensor do comunismo, pois para ele essa seria a fase
final da sociedade humana, alcançada somente a partir de uma
revolução proletária, acreditando assim na ideia utópica de uma
sociedade igualitária ou socialista (Giddens, 2005).

Émile Durkheim
Émile Durkheim foi o fundador da escola francesa de Sociologia,
ao combinar a pesquisa empírica com a teoria sociológica. Ainda
sob influência positivista, lutou para fazer das Ciências Sociais uma
disciplina rigorosamente científica. Durkheim entendia que a
sociedade era um organismo que funcionava como um corpo, onde
cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver.
Ao seu olhar, o que importa é o indivíduo se sentir parte do todo,
pois caso contrário ocorrerão anomalias sociais, deteriorando o
tecido social.
38 Sociologia das Organizações Educativas

A diferença entre Comte e Durkheim é que o primeiro crê que se


tudo estiver em ordem, isto é, organizado, a sociedade viverá bem;
enquanto Durkheim entende que não se pode receitar os mesmos
“remédios” que servem a uma sociedade para resolver os “males”
sociais de outras sociedades.

Para Durkheim (1990) a Sociologia deve estudar os factos sociais,


os quais possuem três características: 1) coerção social; 2)
exterioridade; 3) poder de generalização. Os factos sociais
apresentam vida própria, sendo exteriores aos indivíduos e
introjectados neles a ponto de virarem hábitos.

Pela sua perspectiva, o cientista social deve estudar a sociedade a


partir de um distanciamento dela, sendo neutro, não se deixando
influenciar por seus próprios preconceitos, valores, sentimentos etc.

A diferença básica entre Marx, Comte e Durkheim consiste


basicamente em que os dois últimos entendem a sociedade como
um organismo em funcionamento e cujas partes se complementam.
Marx, por seu turno, afirma que a ordem constituída só é possível
porque a classe dos trabalhadores é dominada pela classe dos
capitalistas e propõe que a classe proletária (trabalhadores) deve se
organizar, unir-se e inverter a ordem, ou seja, passar de dominada a
dominante, e assim superar a exploração e as desigualdades sociais.

Max Weber
Intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos
fundadores da Sociologia, Max Weber é o pensador mais recente
de entre os três, conhecedor tanto do pensamento de Comte e
Durkheim quanto de Marx. Assim, ele entende que a sociedade não
funciona de forma tão simples e nem pode ser harmoniosa como
pensam Comte e Durkheim, mas também não propõe uma
revolução como faz Marx, mas afirma que o papel da Sociologia é
observar e analisar os fenómenos que ocorrem na sociedade,
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 39

buscando extrair desses fenómenos os ensinamentos e sistematizá-


los para uma melhor compreensão. É por isso que sua Sociologia é
considerada Sociologia Compreensiva (Martins, 2003).

Weber valorizava as particularidades, ou seja, a formação


específica da sociedade; entende a sociedade sob uma perspectiva
histórica, diferente dos positivistas.

Segundo Martins (2003) um dos conceitos chaves da obra e da


teoria sociológica de Weber é a acção social. A acção é um
comportamento humano no qual os indivíduos se relacionam de
maneira subjectiva, cujo sentido é determinado pelo
comportamento alheio. Esse comportamento só é acção social
quando o actor atribui à sua conduta um significado ou sentido
próprio, e esse sentido se relaciona com o comportamento de outras
pessoas.

Weber também se preocupou com certos instrumentos


metodológicos que possibilitassem ao cientista uma investigação
dos fenómenos particulares sem se perder na infinidade disforme
dos seus aspectos concretos, sendo que o principal instrumento é o
tipo ideal, o qual cumpre duas funções principais: primeiro a de
seleccionar explicitamente a dimensão do objecto a ser analisado e,
posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura,
sem suas subtilezas concretas.

Resumo
À medida que os clássicos da Sociologia, independentemente de
suas preferências ideológicas, procuravam explicar as grandes
transformações vivenciadas pelas nações europeias em decorrência
da formação e do desenvolvimento do capitalismo, eles
contribuíram para uma melhor compreensão da própria
humanidade. A multiplicidade de visões sociológicas sobre a
40 Sociologia das Organizações Educativas

sociedade persiste até hoje. Acima disso, deve-se priorizar sempre


a tentativa da Sociologia em compreender o homem e o seu mundo
social. Afinal os tempos mudam, mas a Sociologia acompanha o
homem ao longo do tempo. Em suma: a Sociologia de Durkheim é
positivista; a de Marx é revolucionária e a de Max Weber é
compreensiva. E nisto talvez esteja a principal diferença entre esses
três grandes pensadores da Sociologia.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:

Auto-avaliação
1. Identifique os representantes da Sociologia;

2. Descreva as causas do surgimento da Sociologia no Século

Exercícios XIX;

3. Indique os aspectos ligados ao conceito de Sociologia de cada


representante da Sociologia.

Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos

Resposta

1. Os representantes da Sociologia: Karl Marx, Emile Durkheim


e Max Weber.

2. Na lição passada, referenciamos que a Sociologia surgiu a


partir da tentativa intelectual de Comte. Entretanto, foi só no
século XIX, com o aparecimento dos problemas sociais
decorrentes da Revolução Industrial, que a sociologia tomou
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 41

proporção, surgindo como a ciência responsável para


compreensão desses problemas.

3. A Sociologia de Karl Marx assenta-se nos meios de produção


resultam nas relações de produção, formas como os homens se
organizam para executar a actividade produtiva. Tudo isso
acarreta desigualdades, dando origem à luta de classes. Para
Durkheim a Sociologia deve estudar os fatos sociais, os quais
possuem três características: 1) coerção social; 2)
exterioridade; 3) poder de generalização. Os fatos sociais
apresentam vida própria, sendo exteriores aos indivíduos e
incutidos neles a ponto de virarem hábitos. Finalmente para
Max Weber, a Sociologia é o estudo da acção social. A acção é
um comportamento humano no qual os indivíduos se
relacionam de maneira subjectiva, cujo sentido é determinado
pelo comportamento alheio. Esse comportamento só é acção
social quando o actor atribui à sua conduta um significado ou
sentido próprio, e esse sentido se relaciona com o
comportamento de outras pessoas.

Ø Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se o


dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo.

Leituras aconselhadas

DURKHEIM, Émile. De la division du travail social. Paris : Librairie


Felix Alcan, 1926.
Leitura

MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. 38. ed. São Paulo :


Brasiliense, 1994.
42 Sociologia das Organizações Educativas

Lição no 3

Objecto de estudo da sociologia e


o método sociológico

Introdução
A sociologia é o estudo, que pretende ser científico, do social
enquanto social, seja no nível elementar das relações interpessoais,
seja no nível macroscópico de vastos conjuntos, como as classes, as
nações, as civilizações ou, para empregar a expressão corrente, as
sociedades globais. Esta definição permite mesmo compreender
como é difícil escrever uma história da sociologia, saber onde ela
começa e termina (Aron, 2000). Nesta lição terá a ocasião de
conhecer o objecto e método da sociologia. Para este estudo, você
deve dispensar duas (2) horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Caracterizar o objecto de estudo da Sociologia;

• Descrever o método sociológico.


Objectivos da lição

A Sociologia estuda a vida social humana, os grupos sociais, as


sociedades, abrangendo uma vasta área de pesquisa que inclui
desde aspectos simples do quotidiano até processos sociais globais.

Para Durkheim (1999), os factos sociais constituem o objecto da


Sociologia. Os factos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir
exteriores ao indivíduo, e dotadas de poder coercivo, e que exercem
influências sobre o indivíduo. Os factos sociais possuem três
características:
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 43

A exterioridade: os factos sociais existem antes do nascimento do


indivíduo e actuam sobre ele independente de sua vontade.

A coercividade: os factos sociais exercem força social e força sobe


os indivíduos, levando-os a agirem de acordo com as regras
estabelecidas pela sociedade. Ex: a língua.

A generalidade: os factos sociais são tomados colectivamente, pelo


conjunto da sociedade. As crenças, os costumes, os valores.

Os factos sociais existem fora dos indivíduos, mas são


interiorizados e passam a existir em suas consciências. São
externos porque foram transmitidos socialmente aos indivíduos.

A educação é um facto social, imposto aos indivíduos e pressiona-


os a girem de acordo com leis, normas, valores, costumes e
tradições de uma sociedade. O comportamento dos indivíduos é
socialmente determinado e a educação é uma força essencial na
conformação do indivíduo aos padrões morais e sociais de uma
sociedade. São factos sociais: o direito (as regras jurídicas e
morais), os dogmas religiosos, os sistemas financeiros, a educação,
entre outros.

A sociedade e os grupos sociais exercem coerção sobre os


indivíduos, fazendo-os assumirem papéis relacionados com um
fenómeno em particular.

Por seu turno, Max Weber (2006), afirma que o objecto de estudo
da Sociologia é a Acção Social.

Para este teórico, acção é social quando um determinado


comportamento implica uma relação de sentido para quem age.
Nem todo comportamento humano é social. É preciso que tenha
sentido para o indivíduo que age. A acção social orienta-se pelo
comportamento de outros. Os “outros” podem ser indivíduos e
conhecidos ou uma multiplicidade de desconhecidos.
44 Sociologia das Organizações Educativas

Weber definiu quatro tipos de acção social:

a) Acção tradicional: tradições, costume. Ex: dar presente de Natal

b) Acção afectiva: baseada em sentimentos e afectividade, não


racional. Ex: Adepto de uma equipa de futebol.

c) Acção racional orientada para valores: racional, a acção é


importante e não os fins. Ex: trabalho voluntário ou de um capitão
de navio vendo a inevitabilidade do navio afundar não o abandona,
onde o retorno não é o dinheiro ou prestígio final, mas a missão.

d) Acção racional orientada para fins: racional, o importante é o


resultado. Ex: empresa capitalista.

Esses tipos de acção existem de formas diferentes nas sociedades


humanas.

Nas sociedades antigas e feudais, prevaleciam os tipos tradicionais


e afectivos, daí a família e a igreja terem papel fundamental nessas
sociedades.

Na sociedade capitalista, predomina a acção racional, com uma


planificação eficiente e com metas orientadas para fins. A empresa
do século XVIII para a actual sofreu várias modificações, mas seus
fins e objectivos continuam os mesmos: lucro, acumulação
económica e optimização produtiva.

O método sociológico
Podemos dizer que o método sociológico de Durkheim apresenta
algumas ideias centrais, que percorrem toda a extensão de sua visão
sociológica. São elas:

1) Contraposição ao conhecimento filosófico da sociedade: A


filosofia possui um método dedutivo de conhecimento, que parte da
tentativa de explicar a sociedade a partir do conhecimento da
natureza humana. Ou seja, para os filósofos o conhecimento da
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 45

sociedade pode ser feito a partir de dentro, do conhecimento da


natureza do indivíduo. Como a sociedade é formada pelos
indivíduos, a filosofia tem a prática de explicar a sociedade (e os
fatos sociais) como uma expressão comum destes indivíduos. De
outro lado, se existe uma natureza individual que se expressa
colectivamente na organização social, então pode-se dizer que a
história da humanidade tem um sentido, que deve ser a contínua
busca de expressão desta natureza humana. Para Adam Smith, por
exemplo, dado que o homem é, por natureza, egoísta, motivado por
factores económicos e propenso às trocas, a sociedade de livre
mercado seria a plena realização desta natureza. Para Hegel, a
história da humanidade tendia a crescentemente afirmar o espírito
humano da individuação e da liberdade. Para Marx, a história da
sociedade era a história da dominação e da luta de classes, e a
tendência seria a afirmação histórica, por meio de sucessivas
revoluções, da liberdade humana e da igualdade, por meio do
socialismo.

Para Durkheim, estas concepções eram insuportáveis, pois eram


deduções e não tinham validade científica, eram crenças
fundamentadas em concepções a respeito da natureza humana.
Durkheim acreditava que o conhecimento dos factos sociológicos
deve vir de fora, da observação empírica dos mesmos.

2) Os fenómenos sociais são exteriores aos indivíduos: a


sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana,
mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana é, na
verdade, produto da própria sociedade. Os fenómenos sociais são
considerados por Durkheim como exteriores aos indivíduos, e
devem ser conhecidos não por meio psicológico, pela busca das
razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na
própria sociedade e na interacção dos factos sociais. Fazendo uma
analogia com a biologia, a vida, para Durkheim, seria uma síntese,
um todo maior do que a soma das partes, da mesma forma que a
sociedade é uma síntese de indivíduos que produz fenómenos
46 Sociologia das Organizações Educativas

diferentes dos que ocorrem nas consciências individuais (isto


justificaria a diferença entre a sociologia e a psicologia).

3) Os factos sociais são uma realidade objectiva: ou seja, para


Durkheim, os factos sociais possuem uma realidade objectiva e,
portanto, são passíveis de observação externa. Devem, desta forma,
ser tratados como "coisas".

4) O grupo (e a consciência do grupo) exerce pressão (coerção)


sobre o indivíduo: Durkheim inverte a visão filosófica de que a
sociedade é a realização de consciências individuais. Para ele, as
consciências individuais são formadas pela sociedade por meio da
coerção. A formação do ser social, feita em boa parte pela
educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas,
princípios morais, religiosos, éticos, de comportamento, etc. que
balizam a conduta do indivíduo na sociedade. Portanto, o homem,
mais do que formador da sociedade, é um produto dela.

Resumo
O objecto de estudo da sociologia é ainda uma linha sem fim, pois,
não existe consenso único sobre o seu objecto. Por exemplo para
Durkheim, o objecto da Sociologia são os factos sociais e para
Weber, o objecto da Sociologia é a acção Social. Por sua vez, o
método sociológico vai consistir na análise dos fenómenos sociais
como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por
meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos,
mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interacção
dos factos sociais.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 47

Auto-avaliação

1. Caracterize o objecto de estudo da Sociologia;

2. Descreve o método sociológico.


Exercícios

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Segundo Durkheim, o objecto de estudo da sociologia são os


factos sociais. Os factos sociais são maneiras de agir, pensar e
sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de poder coercivo, e
que exercem influências sobre o indivíduo. Por sua vez, Weber
olha para a acção social como sendo o objecto de estudo da
Sociologia. Por acção Social entende-se a um determinando
comportamento que implica uma relação de sentido para quem
age. Nem todo comportamento humano é social. É preciso que
tenha sentido para o indivíduo que age. A acção social orienta-
se pelo comportamento de outros.

2. O método sociológico consiste em analisar os fenómenos


sociais como exteriores aos indivíduos, e devem ser
conhecidos não apenas por meio psicológico, pela busca das
razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na
própria sociedade e na interacção dos factos sociais. Os factos
sociais possuem uma realidade objectiva e, portanto, são
passíveis de observação externa. Dai que Devem, desta forma,
ser tratados como "coisas".

Ø Se teve dificuldades, não desista, volte a realizar a actividade.


Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo,
caso a dificuldade persistir consulte o seu tutor.
48 Sociologia das Organizações Educativas

Lição no 4

O problema do método
sociológico

Introdução
Nesta lição você vai poder conhecer o problema do Método
Sociológico. No fim, têm uma actividade de auto-avaliação que
servirá para testar o seu grau de aprendizagem. Procure resolver,
antes de consultar as possíveis respostas. Para este estudo, você
deve dispensar duas (2) horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar o problema do método sociológico.

Objectivos da lição

No pensamento Durkheimiano, a sociedade prevalece sobre o


indivíduo, pois quando este nasce tem de se adaptar às normas já
criadas como leis, costumes, línguas, etc.
O indivíduo, por exemplo, obedece a uma série de leis impostas
pela sociedade e não tem o direito de modificá-las.

Para Durkheim (2006), o objecto de estudo da Sociologia são os


factos sociais. Esses factos sociais são as regras impostas pela
sociedade (as leis, os costumes, etc. que são passados de geração a
geração).
É a sociedade, como colectividade, que organiza, condiciona e
controla as acções individuais. O indivíduo aprende a seguir
normas e regras que não foram criadas por ele, essas regras limitam
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 49

a sua acção e prescrevem punições para quem não obedecer aos


limites sociais.

Durkheim (2006) propôs um método para a Sociologia que consiste


no conjunto de regras que o pesquisador deve seguir para realizar,
de maneira correcta, as suas pesquisas. Este método enfatiza a
posição de neutralidade e objectividade que o pesquisador deve ter
em relação à sociedade: ele deve descrever a realidade social, sem
deixar que as suas ideias e opiniões interfiram na observação dos
fatos sociais.

Resumo
Para Durkheim, o método da Sociologia é a neutralidade e
objectividade do pesquisador. O problema desse método reside na
relação que o pesquisador estabelece com a sociedade, em que este
deve descrever a realidade social, sem deixar que as suas ideias e
opiniões interfiram na análise ou estudo.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:

Auto-avaliação

1. Identifique o problema do método sociológico.

Exercícios
Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos
50 Sociologia das Organizações Educativas

Respostas
1. O problema do método sociológico reside na relação que o
pesquisador estabelece com a sociedade, em que este deve
descrever a realidade social, sem deixar que as suas ideias e
opiniões interfiram na análise ou estudo.

Actividade final da unidade

Depois de você reavaliar as noções preliminares dos fundadores e


representantes da Sociologia (Objecto e Método) procure fazer um
resumo onde deverá constar os passos dados pelos representantes e
Actividade fundadores da Sociologia para o alcance do método e objecto dessa
ciência da sociedade, sem deixar do lado a questão biográfica dos
mesmos.

Leituras aconselhadas da unidade

DURKHEIM, Émile. De la division du travail social. Paris : Librairie


Felix Alcan, 1926.
Leitura
MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. 38. ed. São Paulo :
Brasiliense, 1994.

Pesquisas na Internet

www.scielo.org.br

www.usp.org.br
www.forumpaulofreire.com.br
www.ufrgs.br/ensinosociologia
www.filosofiavirtual.pro.br
www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim
www.espacoacademico.com.br
www.unifesp.br
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 51

Unidade 3

A educação como objecto de


estudo da sociologia

Introdução
Bem-vindo à unidade III de estudo, na sua disciplina da Sociologia
das Organizações Educativas. Nesta unidade você vai aprender
aspectos relacionados com a educação como objecto de estudo da
Sociologia. Alias, esta unidade é de capital importância em virtude
de ser aqui onde pode ser entendida toda a natureza da educação
como objecto de estudo da Sociologia, a ser estudada nos capítulos
subsequentes.

Estrutura

Esta unidade temática comporta duas (2) lições. Para cada uma
delas, você vai disponibilizar duas (2) horas para o estudo.

Tópicos da lição

Lição 1. A Educação como Objecto Sociológico

Lição 2. O que trata a Sociologia das organizações Educativas

Ao completar esta unidadevocê será capaz de:


Geral:
• Explicar o que é Sociologia das Organizações Educativas.

Específicos:
Objectivos da unidade
• Caracterizar o objecto de estudo da Sociologia das
Organizações Educativas;

• Identificar as áreas de pesquisa em Sociologia das


Organizações Educativas.
52 Sociologia das Organizações Educativas

Meios

Para além das referências bibliográficas presentes no fim da


unidade, poderá usar textos de apoio. No contacto com a realidade
local na sua comunidade, melhorará a sua compreensão. Procure
explorar o máximo essa situação, saiba aproveitar as informações
que a comunidade lhe oferece.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 53

Lição no 1

A educação como objecto


sociológico

Introdução
Nesta lição você vai poder conhecer o conceito de educação na
vertente sociológica de modo a compreender que a educação é
objecto de estudo da Sociologia das Organizações Educativas. No
fim, você tem umas actividades de auto-avaliação, que servem para
testar o grau de aprendizagem. Procure resolver, antes de consultar
as possíveis respostas. Para este estudo, você deve dispensar duas
(2) horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Caracterizar a Sociologia das Organizações Educativas;


• Mencionar o objecto de estudo da Sociologia das Organizações
Objectivos da lição Educativas.

O sociólogo é uma pessoa que se ocupa em compreender a


sociedade de uma maneira disciplinada. Essa actividade tem uma
natureza científica. Isto significa que aquilo que o sociólogo
descobre e afirma a respeito dos fenómenos sociais que estuda,
ocorre dentro de certo quadro de referência de limites rigorosos. O
sociólogo não pretende que o seu quadro de referência seja o único
dentro do qual a sociedade pode ser examinada (Berger, 1977).

Partindo desta afirmação de Berger (1977), podemos dizer que a


Sociologia das Organizações Educativas é um ramo da Sociologia
54 Sociologia das Organizações Educativas

que adopta tais princípios ao estudo do fenómeno educacional.


Iniciada a partir da obra de Émile Durkheim e seus continuadores,
expandindo-se como especialidade autónoma nos EUA e na Europa
após a I Guerra Mundial, tornou-se, ao lado da psicologia
educacional e da pedagogia, indispensável à formação do educador.

Mais precisamente, a Sociologia das Organizações Educativas


apresenta-se como análise científica dos processos e regularidades
sociais inerentes ao sistema educacional. Isto significa que a
educação consiste numa combinação de acções sociais e que a
Sociologia consiste na análise da interacção humana.

Tal análise da interacção, na área da educação, pode abranger tanto


a formal que se realiza em grupos sociais como a escola, assim
como a multiplicidade de processos de comunicação informal que
desempenhem funções educativas, como a apreensão da linguagem
(Brookover, 1985).

Classicamente existem três visões da Sociologia das Organizações


Educativas em seus significados educacionais: concepção da
sociedade como vínculo moral entre os homens; concepção da
sociedade como espaço de exploração e da educação como
possibilidade de emancipação; concepção da educação como
veículo da racionalização da vida (Rodrigues, 2002).

Para António Cândido (1974) existem três tendências no


desenvolvimento da Sociologia das Organizações Educativas.
Primeiramente a linha filosófico-sociológica, que se centra numa
reflexão do carácter social do processo educativo, seu significado
como sistema de valores sociais, sua relação com as concepções e
teorias do homem. É o ponto de partida da sociologia educacional,
na obra de educadores e sociólogos preocupados com uma teoria
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 55

geral da educação, como pode ser constatado em autores como


Emilé Durkheim e Jonh Dewey. Tal modelo não esgota a temática
específica da Sociologia das Organizações Educativas e,
considerado como exclusividade dos outros, transforma-a numa
filosofia sociológica dos fatos educacionais. A segunda é a linha
pedagógico-sociológica, que se desenvolveu principalmente nos
Estados Unidos, onde se procurou efectuar os estudos dos aspectos
sociais da Educação a fim de obter bom funcionamento da escola.
Sua principal contribuição é a análise das relações entre escola e
sociedade com que mantém contacto directo, tomando como ponto
de partida os princípios gerais formulados segundo a primeira
tendência indicada. Aqui a Sociologia transformou-se numa espécie
de componente da pedagogia e da administração escolar, daí a
relativa debilidade teórica dos seus produtos, a ausência da
pesquisa realmente científica. Por fim, a terceira tendência,
formada por sociólogos ou educadores de orientação sociológica
mais definida, que vêem na Sociologia das Organizações
Educativas um ramo da Sociologia, não da ciência da Educação.
Essa linha procurou definir um sistema coerente de teorias
elaboradas segundo as exigências do espírito sociológico.

Resumo
Sociologia das Organizações Educativas rompe com a teoria
educacional. Seus estudos centram-se nos aspectos sociais do
processo educacional, nas conexões entre escola e sociedade, além
das situações pedagógicas (grupos de ensino, papéis definidos em
função do ensino, sociabilidade específica decorrente do processo
pedagógico).

Chegado ao fim dessa lição pense naquilo que já aprendeu e


responda as questões seguintes:
56 Sociologia das Organizações Educativas

Auto-avaliação

1. Caracterize a Sociologia das Organizações Educativas;


2. Identifique o objecto de estudo da Sociologia das
Organizações Educativas.
Exercícios

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

1. A Sociologia das Organizações Educativas é o ramo da


Sociologia que se ocupa da compreensão do fenómeno
educacional. Segundo Rodrigues (2002) são três visões da
Sociologia das Organizações Educativas em seus significados
educacionais, a saber: concepção da sociedade como vínculo
moral entre os homens; concepção da sociedade como espaço
de exploração e da educação como possibilidade de
emancipação; concepção da educação como veículo da
racionalização da vida.

2. O objecto de estudo da Sociologia das Organizações


Educativas é a organização e gestão educacional. Segundo
António Cândido (2004) existem três tendências no
desenvolvimento da Sociologia das Organizações Educativas
que consistem em:
v Primeiramente, a linha filosófico-sociológica, que se centra
numa reflexão do carácter social do processo educativo;
v A segunda é a linha pedagógico-sociológica, que se
desenvolveu principalmente nos Estados Unidos, onde se
procurou efectuar os estudos dos aspectos sociais da Educação
a fim de obter bom funcionamento da escola e;
v A terceira tendência, formada por sociólogos ou educadores de
orientação sociológica mais definida, que vêem na Sociologia
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 57

das Organizações Educativas um ramo da Sociologia, não da


ciência da Educação.

Ø De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a
dificuldade persistir consulte o seu tutor.
58 Sociologia das Organizações Educativas

Lição no 2

O objecto de pesquisa da
Sociologia das Organizações
Educativas

Introdução
O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos
sobre o objecto de pesquisa da Sociologia das Organizações
Educativas. Esse conhecimento é fundamental para melhor se situar
na complexidade que esta disciplina encerra em perceber as razões
do seu estudo. Esta lição tem a duração de duas (2) horas de estudo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar as áreas de pesquisa em Sociologia das


Organizações Educativas.
Objectivos da lição

A disciplina de Sociologia das Organizações Educativas preocupa-


se em reconstruir sistematicamente as relações que existem na
prática quotidiana entre as acções que objectivam educar e as
estruturas da vida social, quer dizer: a economia, a cultura, o
arcabouço jurídico, as concepções do mundo, os conflitos políticos
etc. (Rodrigues, 2002).

Mas, quais seriam os temas predominantes? Podemos classificar as


análises sociológicas da educação a partir de quatro matrizes
temáticas.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 59

Primeiramente, a relação do sistema educacional com outros


aspectos da sociedade. Nesta relação algumas questões desafiam os
pesquisadores: 1) a função da Educação na cultura; 2) a relação do
sistema educacional com o processo de controle social e com o
sistema de poder; 3) a função do sistema educacional do processo
de mudança social e cultural ou manutenção do status quo; 4) a
relação entre educação e classe social ou sistema de status; 5) o
funcionamento do sistema de Educação formal em suas vinculações
com os grupos raciais, culturais e outros.

A segunda área trata das relações humanas na escola a partir da


compreensão da estrutura interna. Neste sentido as análises
sociológicas abordam a natureza da cultura da escola,
particularmente como cultura diversa da cultura externa à escola,
dos padrões de interacção social ou da estrutura do grupo social
escolar.

A terceira área se constitui na pesquisa sobre a influência da escola


no comportamento e na personalidade dos seus membros. A partir
da psicologia social do processo educacional os pesquisadores
abordam a personalidade ou o comportamento que resulta da
participação de professores, alunos e outros membros no sistema
educacional total. Aqui os enfoques abrangem: 1) os papéis sociais
do professor; 2) a natureza ou características da personalidade do
docente; 3) influências da sua personalidade no comportamento dos
alunos; 4) a função da escola na socialização das crianças.

Por fim, a Sociologia das Organizações Educativas investiga a


escola na comunidade, analisando os padrões de interacção entre a
mesma e outros grupos sociais.

Nesta temática faz-se: 1) caracterização da comunidade, naquilo


que repercute na organização escolar; 2) análise do processo
60 Sociologia das Organizações Educativas

educacional que se desenvolve em sistemas sociais não escolares


da comunidade; 3) relação entre escola e comunidade no
desempenho da função educacional; 4) investigação dos factores
demográficos e ecológicos, em suas relações com a organização
escolar.

Resumo
A Sociologia é uma actividade que compreende a sociedade de
forma disciplinada, adoptando regras científicas. Especificamente
em relação à Educação, esta ciência social analisa seus processos a
partir de perspectiva macro e micro-sociais. A Sociologia das
Organizações Educativas ambiciona descortinar os processos
inerentes aos fenómenos educacionais. Esta disciplina possibilitará
aos seus iniciados uma nova perspectiva educacional, que não se
contenta com respostas prontas e superficiais.

Chegado ao fim dessa lição pense naquilo que já aprendeu e


responda as questões seguintes:

Auto-avaliação

1. Identifique as áreas de pesquisa em Sociologia das


Organizações Educativas.
Exercícios

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos


Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 61

1. A Sociologia das organizações Educativas preocupa-se em


investigar as relações, que existem na prática quotidiana,
entre as acções que objectivam educar e as estruturas da
vida social. São várias as áreas de investigação da
Sociologia das organizações Educativas, mas podemos
destacar as seguintes:

v Investiga a relação do sistema educacional com outros


aspectos da sociedade;

v Investiga as relações humanas na escola a partir da


compreensão da estrutura interna;

v Investiga a influência da escola no comportamento e na


personalidade dos seus membros;

v Investiga a escola na comunidade, analisando os padrões de


interacção entre a mesma e outros grupos sociais.

Ø De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas.


Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a
dificuldade persistir consulte o seu tutor.
62 Sociologia das Organizações Educativas

Actividade final da unidade

Para terminar a unidade, faça um trabalho de pesquisa com o


seguinte tema: “A influência da escola no comportamento dos
alunos”.
Actividade
Escolha 5 alunos na sua comunidade e questione-os sobre as
mudanças comportamentais operadas por estes desde o dia do seu
ingresso na escola. Não se esquecendo de argumentar os dados das
entrevistas com base nos pensadores ou representantes da
sociologia, isto é, deverá fazer uma discussão teórica usando os
conceitos, objectos e métodos sociológicos.

Com o máximo de 10 páginas, este trabalho deve ser apresentado a


tutória no centro de recursos.

Leituras aconselhadas da unidade

ALMEIDA, Ana Maria F. MARTINS, Heloísa Helena T. de Souza.


Sociologia da Educação. Tempo Social: revista de Sociologia da USP, v.
Leitura
20, n. 1, p. 09-12.

BERGER, Peter Berger. Perspectivas Sociológicas. Petrópolis: Vozes,


1977.

BROOKOVER, Wilbur B. “Áreas da Sociologia da Educação”. In:


PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade:
leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: 1985, p. 19-21.

CÂNDIDO, António. Tendências no desenvolvimento da sociologia da


educação. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 63

Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: Ed.


Nacional, 1985, p. 07-18.

FERNANDES, Florestan. “Sociologia da Educação como ‘Sociologia


Especial”. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e
Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: Ed.
Nacional, 1985, p. 06.

PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade:


leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985,
p. 06.

FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia


da educação. 12 ed. São Paulo: 1985, p. 19-21.

Pesquisas na Internet

www.scielo.org.br

www.usp.org.br
www.forumpaulofreire.com.br
www.ufrgs.br/ensinosociologia
www.filosofiavirtual.pro.br
www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim
www.espacoacademico.com.br
www.unifesp.br
64 Sociologia das Organizações Educativas

Unidade 4

Formas de Educação

Introdução
Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as noções
fundamentais das diferentes formas de educação. Para uma óptima
concretização, você não precisa de ir longe. A sua comunidade dá
exemplos concretos de tudo o que vai estudar nesta unidade. Tenha
óptimas lições.

Estrutura

O estudo que você inicia hoje tem 4 lições. Para cada lição devem
ser dispensadas 2 horas de tempo.

Tópicos da Unidade

Lição n°1. Educação e moral: a Sociologia das Organizações


Educativas de Émile Durkheim

Lição n° 2. Educação e capitalismo: a Sociologia das Organizações


Educativas de Karl Marx

Lição n°3. Reprodução e desigualdade: a Sociologia das


Organizações Educativas de Pierre Bourdieu

Lição n°4. Educação como socialização

Meios

Para além das referências bibliográficas presentes nesta unidade,


você poderá usar textos de apoio, visitas as escolas e eventos
educativos ou, se tiver possibilidade para o efeito, outro “meio”
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 65

importante que faz parte do “arsenal” material da sua própria


comunidade.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Geral
§ Conhecer as diferentes formas de educação

Objectivos da lição

Específicos
§ Caracterizar as diferentes formas de educação;

§ Identificar as formas eficazes de educação para uma dada


comunidade;

§ Nomear as características de cada forma de educação.


66 Sociologia das Organizações Educativas

Lição no 1

Educação e moral: a Sociologia


das Organizações Educativas de
Émile Durkheim

Introdução
Na perspectiva de Émile Durkheim, a educação tem por objectivo
suscitar e desenvolver no indivíduo certo número de estados
físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política,
no seu conjunto, e pelo meio especial no qual ele está inserido.
Nesta lição terá a ocasião de conhecer a educação como moral. O
estudo que começa terá a duração de 2 horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Indicar as principais contribuições de Durkheim ao


entendimento da educação como valor moral;
Objectivos da lição

Na perspectiva durkheiminiana a educação é a acção exercida


pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram
ainda preparadas para a vida social e tem por objecto suscitar e
desenvolver, na criança, certo número de estados físicos,
intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu
conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se
destine (Durkheim, 1975: 41).

Para Durkheim (1975) educação é o processo pelo qual


aprendemos a ser membros da sociedade. Não existe uma única
para que todos aprendam a ser membros da sociedade. Você
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 67

aprende a ser um membro da sua classe, de seu grupo, de sua casta,


de sua profissão, enfim, de seu meio moral. Socializar-se é
aprender a ser membro da sociedade, e aprender a ser membro da
sociedade é aprender o seu devido lugar nela.

Existem certos costumes, certas regras, que devem ser


obrigatoriamente transmitidos no processo educacional, gostemos
deles ou não. Se não fizermos isso, a sociedade se vingará nos
nossos filhos, pois não estarão em condições de viver em meio aos
outros quando adultos. Ideias educacionais muito ultrapassadas ou
muito à frente de seu tempo, não são boas porque não permitem
que o indivíduo educado tenha uma boa vida normal, harmónica
com seus contemporâneos.

A educação adequada é aquela própria ao meio moral que cada um


compartilha. Os sistemas educacionais contemporâneos não são
homogéneos. Aliás, estes seriam só se voltássemos à pré-história,
em sociedades sem diferenciação. É fundamental, porém, que haja
certa homogeneidade e a educação deve perpetuá-la e reforçá-la na
alma da criança que é educada. Sermos iguais e diferentes ao
mesmo tempo. Só a Educação pela qual passamos é capaz de nos
fazer assim. E é por isso que a ela é um processo social.

Resumo
Na Sociologia das Organizações Educativas de Durkheim, a
educação assume uma função moralizadora, a partir do
entendimento da sociedade como uma grande entidade moral. Ela
possui doze papéis: 1) suscita e desenvolve nos indivíduos estados
físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade; 2)
soluciona o problema da fragilidade moral contemporânea; 3)
organiza e constitui o ser social em cada um de nós; 4) integra cada
nova geração à sociedade; 5) agrega o ser egoísta e anti-social; 6)
reforça a cooperação entre indivíduos; 7) institui valores morais aos
68 Sociologia das Organizações Educativas

indivíduos; 8) socializa a jovem geração pela geração adulta; 9)


assimila no indivíduo normas e princípios morais (bem social); 10)
está ligada as causas históricas; 11) funciona de forma normativa;
12) a sociedade e cada meio social particular determinam o ideal
que a educação realiza.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:

Auto-avaliação

1. Mencione as principais contribuições de Durkheim no


entendimento da educação como valor moral.
Exercícios
Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

1. Segundo Durkheim (1975), educação é o processo pelo qual


aprendemos a ser membros da sociedade, é a acção exercida
pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram
ainda preparadas para a vida social e tem por objecto suscitar e
desenvolver, na criança, certo número de estados físicos,
intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu
conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente,
se destine (Durkheim, 1975: 41). O sentido da moral que
Durkheim atribui a educação reside em certos costumes, regras,
que devem ser obrigatoriamente transmitidos no processo
educacional, gostemos deles ou não. Para Durkheim, a educação
adequada é aquela própria ao meio moral que cada um
compartilha. Os sistemas educacionais contemporâneos não são
homogéneos.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade
persistir consulte o seu tutor.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 69

Lição no 2

Educação e capitalismo: a
Sociologia das Organizações
Educativas de Karl Marx

Introdução
Vale ressaltar que a educação não foi o tema central de Marx e
Engels. Eles dedicaram-se pouco à questão educacional em seus
escritos filosóficos, sociais e económicos. Entretanto, as suas
denúncias ao carácter classista da educação representaram um
marco, um ponto de partida para a reformulação de teorias
educacionais baseadas no princípio democrático de igualdade. A
educação aparece nas suas preocupações sobre a construção do
homem plenamente desenvolvido em suas potencialidades físicas e
espirituais, não subjugado ao domínio do capital. Nesta lição terá a
ocasião de conhecer a educação e capitalismo na Sociologia das
Organizações Educativas de Karl Marx. O estudo que começa terá
a duração de 2 horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar o papel da educação na sociedade segundo Marx;


• Caracterizar a Educação ideal para Marx.
Objectivos da lição

Karl Marx via a educação da mesma forma que via o capitalismo.


Como componente da super estrutura, ela pode ser para alienação
ou para a emancipação. A partir da análise da situação educacional
dos filhos dos operários do nascente sistema fabril, este sociólogo
identificou na educação como uma das mais importantes formas de
perpetuação da exploração de uma classe sobre a outra, utilizada
70 Sociologia das Organizações Educativas

pela classe dominante para disseminar sua ideologia, inculcando no


trabalhador o modo burguês de ver o mundo.

Nas suas investigações Marx conclui que o tipo de Educação dado


às crianças operárias era tão precário que só poderia servir para
perpetuar as relações de opressão às quais essas crianças e seus pais
operários estavam sujeitos.

Marx e Engels observaram alguns aspectos relativos à educação


formal, ou à sua ausência, que merecem destaque. Uma de suas
primeiras e principais críticas dirige-se ao embrutecimento e à
deformação na manufactura, onde a divisão do trabalho reprime um
mundo de instintos e capacidades produtivas. O indivíduo é
mutilado e transformado no aparelho automático de um trabalho
parcial.

Diante deste quadro, a partir de uma perspectiva revolucionária,


Marx identificava na Educação uma arma valiosa a ser empregada
a favor da emancipação do ser humano, da sua libertação da
exploração e do jugo do capital. Através de uma conjugação entre o
trabalho e a escola seria possível romper na formação das futuras
gerações com a separação entre trabalho manual e intelectual,
assim como com a parcialização das tarefas impostas pela divisão
do trabalho na fábrica moderna.

Como um homem do século XIX, Marx considerava o trabalho


infantil desejável, desde que o Estado garantisse aos filhos dos
operários uma escola de meio período que não fosse um mero
depósito de crianças e desde que a super exploração do trabalho
infantil fosse controlada pela legislação. Este sociólogo considera o
trabalho como educativo. É através dele que o homem produz para
viver, colocando a natureza a seu serviço e relacionando-se com
seu semelhante. O “homem novo” não pode ser forjado apenas com
uma Educação escolar formal, mais também com o trabalho
exercido no chão da fábrica.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 71

Em suma, Marx considera que não se deve permitir o emprego do


trabalho das crianças e jovens se este emprego não estiver
conjugado com a educação.

Ainda sobre o recrutamento de crianças e adolescentes para o


trabalho na indústria, Marx é taxativo: “qualquer que seja a forma
em que se realize sob o reino do capital é simplesmente
abominável”. A sociedade não pode permitir que crianças e
adolescentes sejam empregados na produção, a menos que se
combine este trabalho produtivo com a educação. Propõe que a
jornada de trabalho de crianças de 9 a 12 anos seja reduzida para
duas horas diárias; dos 13 aos 15 anos, para quatro horas; e dos 16
a 17 anos, para seis, com uma hora para comida e descanso.

As escolas elementares deverão iniciar a instrução das crianças


antes dos 9 anos. Caberá à sociedade a responsabilidade de
defender os interesses das crianças proletárias, pois os pais são
impossibilitados de fazê-lo pelo sistema social de acumulação
capitalista que os transforma em “mercadores de escravos de seus
próprios filhos”. Para livrar estes dos efeitos nocivos do sistema, é
necessário transformar a “razão social” em “força social”, por meio
de leis gerais.

Auto-avaliação

1. Identifique o papel da educação para a sociedade segundo


Marx;
Exercícios 2. Caracterize a Educação ideal de Marx.
72 Sociologia das Organizações Educativas

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Na perspectiva de Marx, o papel da educação consiste numa


das formas ideológicas de domínio de uma classe com domínio
de capital sobre a outra proletária.

2. A educação ideal para Marx, é aquela virada a favor da


emancipação do ser humano, da sua libertação da exploração e
do jugo do capital.

Ø De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas.


Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a
dificuldade persistir consulte o seu tutor.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 73

Lição no 3

Reprodução e Desigualdade: A
Sociologia das Organizações
Educativas de Pierre Bourdieu

Introdução
Nesta lição terá a ocasião de conhecer a reprodução e
desigualdades no acesso a educação. Para este estudo, você vai
precisar de duas horas. No fim tem uma actividade individual
(exercício de auto-avaliação) que deve ser resolvida com vista a
testar o que você percebeu desta lição. Procure resolver, antes de
consultar as respostas que constam no fim.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar o papel da educação segundo Bordieu;

• Indicar as principais contribuições de Bourdieu à compreensão


Objectivos da lição das desigualdades escolares.

Ao longo das últimas quatro décadas Pierre Bourdieu construiu, de


forma consistente, paciente e acumulativa, um dos corpos de teoria
e de pesquisa sociológica mais férteis do pós-guerra. Obras como
Les héretiers, Le métier du sociologie, La reproduction, Le sens
pratique, Homo academicus e La noblesse d’Etat, produzidas entre
as décadas de 1960 e 80, marcaram as etapas de um sólido projecto
de conhecimento científico do mundo social.
74 Sociologia das Organizações Educativas

Nessa trajectória, Bourdieu sempre concebeu a sociologia como um


projecto científico rigoroso, uma construção intelectual em
constante oposição ao saber espontâneo, dando continuidade à
tradição durkeiminiana de erigir uma ciência do mundo social e
também incorporando o princípio elaborado por Bachelard de um
corte epistemológico entre as representações do senso comum e a
elaboração do discurso científico (Martins, 2002: 164-165).

Ao longo de sua obra, Bourdieu procurou superar determinadas


oposições canónicas que na sua óptica minam a ciência social por
dentro, dualismos que comprometem uma adequada compreensão
da prática humana, tais como: separação entre análise do simbólico
e do material, indivíduo e sociedade, métodos quantitativos e
qualitativos.

Na sua concepção, tais oposições não derivam de operações lógicas


ou epistemológicas constitutivas da prática científica, mas de dois
factores: disputas entre escolas e tradições de pensamento no
interior da sociologia, que buscam erigir suas concepções
particulares como verdade científica total, ou seja, constituem a
expressão sociológica de espaços sociais estruturados em torno de
divisões dualistas que acabam por produzir profissões de fé e
emblemas totémicos, dilacerando as explicações fornecidas pelas
ciências sociais; as lutas de concorrência entre seus adeptos,
visando à conquista de posições de legitimação no campo
científico.

Como Pierre Bourdieu nos auxiliaria na abordagem dos fenómenos


educacionais? Este sociólogo teve o mérito de formular, a partir da
década de 1960, uma resposta original e abrangente para o
problema das desigualdades escolares. Até meados do século
passado predominava nas Ciências Sociais e no senso comum uma
visão extremamente optimista que atribuía à escolarização um
papel central no duplo processo de superação do atraso económico,
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 75

do autoritarismo e dos privilégios. Havia uma crença de que por


meio da escola pública e gratuita seria resolvido o problema do
acesso à Educação, o que garantiria a igualdade de oportunidades
entre todos os cidadãos.

Nesta perspectiva, ainda vigente em alguns espaços sociais,


acredita-se que os indivíduos competem dentro do sistema de
ensino em condições iguais e aqueles que se destacam conseguem
êxito por seus dons individuais. Deste modo, por uma questão de
justiça, os vencedores nas disputas educacionais deveriam,
naturalmente, ocupar as posições sociais superiores na hierarquia
social.

Num artigo intitulado “A Escola conservadora: as desigualdades


frente à escola e à cultura”, Bourdieu questiona o mito da “escola
libertadora”. Demonstra que, ao contrário do que se propaga, se
observa no sistema escolar francês, um dos factores mais eficazes
de conservação social, pois este fornece a aparência de legitimidade
às desigualdades sociais e sanciona a herança cultural e o dom
social tratando como natural (Bourdieu, 1998).

É perceptível que na leitura de Bourdieu a educação perde o papel


que lhe fora atribuído de instância transformadora e
democratizadora da sociedade e passa a ser vista como uma das
principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam
os privilégios sociais.

Na perspectiva educacional bourdieusiana podemos identificar


algumas teses. Como é constatado, os alunos não são indivíduos
abstractos que competem em condições relativamente igualitárias
na escola. Ao contrário, estes se constituem em atores socialmente
constituídos que trazem uma bagagem social e cultural
76 Sociologia das Organizações Educativas

diferenciada. Os gostos mais íntimos, as preferências, as aptidões,


as posturas corporais, a entonação de voz, as aspirações relativas ao
futuro profissional, tudo seria socialmente constituído. Constata-se
que o agente da Educação é caracterizado por uma bagagem
socialmente herdada. Podemos constatar a partir desta óptica que a
escola não seria uma instituição neutra na transmissão da cultura e
na avaliação dos alunos.

Pelo contrário, ela reproduz e legitima a dominação exercida pelas


classes dominantes.

Ela ignora, no âmbito dos conteúdos de ensino que transmite, dos


métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as
desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes
sociais. Ao tratar formalmente de modo igual em direitos e deveres
quem é diferente, a escola privilegiaria quem, por sua bagagem
familiar, já é privilegiado. As críticas de Bourdieu apontam que se
a igualdade educativa alardeada pelas decisões oficiais não
progride porque os discursos são mistificadores e tanto a sociedade
como o Estado não querem realmente a democratização.

A Sociologia das Organizações Educativas faz um esforço para


demonstrar que o desempenho escolar também está associado à
origem social dos alunos. É perceptível que na sua leitura a
Educação perde o papel que lhe fora atribuído de instância
transformadora e democratizadora da sociedade e passa a ser vista
como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e
se legitimam os privilégios sociais (Bourdieu, 1998).

Podemos apontar quatro contribuições à análise da educação de


Bourdieu (1998). Primeiramente, sua sociologia permite a
compreensão do problema das desigualdades escolares. Em
segundo lugar, fornece um novo modo de interpretação da escola e
da educação que relaciona desempenho escolar e origem social. Em
terceiro, onde se via igualdade de oportunidades, meritocracia,
justiça social, passa-se a ver reprodução e legitimação das
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 77

desigualdades sociais. Por fim, a Educação é vista como uma das


principais instituições por meio da qual se mantêm e se
legitimavam os privilégios sociais.

Resumo
Bourdieu, faz um esforço para demonstrar que o desempenho
escolar também está associado à origem social dos alunos. É
perceptível que na sua leitura, a educação perde o papel que lhe
fora atribuído de instância transformadora e democratizadora da
sociedade e passa a ser vista como uma das principais instituições
por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda as questões seguintes:

Auto-avaliação

1. Identifique o papel da educação segundo Bordieu;

2. Indique as principais contribuições de Bourdieu à compreensão


das desigualdades escolares.
Exercícios

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.


78 Sociologia das Organizações Educativas

Respostas

1. Para Bourdieu, educação é processo de superação do atraso


económico, do autoritarismo e dos privilégios.

2. Bourdieu traz quatro contribuições à análise da educação.


Primeiramente, sua sociologia permite a compreensão do
problema das desigualdades escolares. Em segundo lugar,
fornece um novo modo de interpretação da escola e da
educação que relaciona desempenho escolar e origem social.
Em terceiro, onde se via igualdade de oportunidades,
meritocracia, justiça social, passa-se a ver reprodução e
legitimação das desigualdades sociais. Por fim, a Educação é
vista como uma das principais instituições por meio da qual se
mantêm e se legitimavam os privilégios sociais.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade
persistir consulte as obras indicadas abaixo e tente resolver de
novo.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 79

Lição no 4

Educação Como Socialização

Introdução
Os indivíduos, em vida, estabelecem relações sociais diversificadas
e fortificadas com a coesão social dos mesmos. Relações que
emergem desde a nascença do indivíduo e como pertencente a um
grupo social de inteiração passando pela socialização primária (a
família) e a socialização secundária (a escola).

É partindo dessas socializações que os indivíduos se formam na


vida. Nesta lição, vai poder familiarizar-se com a complexidade
que este termo “socialização” carrega. Para o efeito tem duas horas
para o seu estudo, no fim das quais tem actividades para testar o
grau da apreensão da matéria.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar a relação entre educação e socialização;

• Caracterizar a socialização como transmissor de valores


Objectivos da lição
culturais dos indivíduos.

Socialização é o processo por meio do qual o indivíduo aprende a


ser membro da sociedade. Consiste na imposição de padrões sociais
à conduta individual. Através dela o organismo individual é
moldado pela sociedade. O mundo exterior passa a ser visto como
seu mundo. É o processo pelo qual as pessoas aprendem a sua
cultura.

Elas o fazem (1) adoptando e abandonando uma série de papéis e


(2) tornando-se conscientes de si próprias enquanto interagem com
80 Sociologia das Organizações Educativas

outros. Um papel é o comportamento esperado de uma pessoa que


ocupa uma determinada posição na sociedade. Nossa capacidade de
aprender cultura e de nos tornarmos humanos é apenas potencial.
Para que ocorra, a socialização deve liberar esse potencial humano.

A parte socializada da individualidade costuma ser designada como


a identidade. A identidade é atribuída e confirmada pelos outros:
são os outros que nos dizem quem somos, confirmam nossa
identidade. Do processo de socialização decorre a identidade
cultural de um povo, de uma sociedade. Este processo não ocorre
de forma linear.

Entretanto, psicólogos e sociólogos dividem a socialização em duas


fases: 1) Socialização primária: processo por meio do qual a
criança se transforma num membro participante da sociedade. 2)
Socialização secundária: processos posteriores por meio dos quais
o indivíduo é introduzido num mundo específico.

Pela socialização se estabelece uma ligação entre o microcosmo


individual e o macrocosmo social.

A família é o mais importante agente de socialização primária. Ela


é adequada para fornecer o tipo de atenção íntima e cuidadosa
necessária para a socialização primária; é um grupo pequeno e seus
membros estão em contacto face a face. Negligência e maus-tratos
de crianças existem, mas a maioria dos pais ama os filhos e são,
portanto, motivados a cuidar deles. Essas características fazem da
maioria das famílias agentes da socialização ideais para ensinar às
crianças pequenas coisas que vão desde a linguagem até seus
lugares no mundo. A família em que a pessoa nasce também exerce
uma influência relativamente duradoura ao longo da vida.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 81

A função socializadora da família era mais pronunciada há um


século, em parte porque os membros adultos da família estavam
mais disponíveis para cuidar das crianças de hoje.

Os demais agentes fazem parte da socialização secundária. Por


exemplo, os grupos de colegas têm um papel considerável na
socialização secundária. Esses consistem em indivíduos que não
são necessariamente amigos, mas têm mais ou menos idade e um
status semelhante.

Esses ajudam crianças e adolescentes a desligar-se de suas famílias


e a desenvolver fontes independentes de identidade. São influentes
em relação a questões de estilo de vida como aparência, actividades
sociais e namoros. Por meio destes grupos os jovens começam a
desenvolver sua própria identidade, rejeitando os valores dos pais,
experimentando novos elementos da cultura e envolvendo-se com
várias formas de comportamentos rebeldes.

A socialização do adulto acontece ao longo da vida. Por que isso


ocorre? Quatro razões podem ser apontadas. Primeiramente, os
papéis adultos são frequentemente descontínuos. Isto é,
expectativas contraditórias estão associadas aos primeiros papéis
que assumimos em nossas vidas e aos que assumimos mais tarde.
Em segundo lugar, muitos papéis adultos são, em grande medida,
invisíveis. Papéis adultos são muitas vezes invisíveis para as
pessoas que são muito jovens para desempenhá-los.

Em terceiro, alguns papéis adultos são imprevisíveis. As pessoas


sabem das mudanças dos papéis previamente mencionadas antes
que elas ocorram.

Por fim, estes papéis mudam à medida que amadurecemos. Forças


externas ao indivíduo moldam os três tipos de mudança de papel
mencionados.
82 Sociologia das Organizações Educativas

Esta última mudança de papel resulta principalmente de processos


de desenvolvimentos interiores.

É a partir da educação e socialização que adquirimos um capital


cultural que compreende o conhecimento, as habilidades, as
informações sociais. Através dos processos socializadores
vivenciados na Educação adquirimos o que Pierre Bourdieu
conceitua como hábitos, que, em linhas gerais, seria a
internalização ou incorporação da estrutura social. É um produto da
história produzido por práticas individuais e colectivas acordadas
com esquemas criados. O hábito é tão forte que é capaz de
“naturalizar” as práticas sociais. A partir da socialização vivenciada
desde os primeiros anos na escola incorporamos os valores sociais
como “naturais”. Deste modo, consideramos que o mundo só pode
ser compreendido a partir de valores enraizados como óbvios.

Resumo
A socialização é o processo por meio do qual o indivíduo aprende a
ser membro da sociedade. Consiste na imposição de padrões sociais
à conduta individual. Através da socialização o organismo
individual é moldado pela sociedade. O mundo exterior passa a ser
visto como seu mundo pelo indivíduo. É o processo pelo qual as
pessoas aprendem a sua cultura. Elas o fazem (1) adoptando e
abandonando uma série de papéis e (2) tornando-se conscientes de
si próprias enquanto interagem com outros. Um papel é o
comportamento esperado de uma pessoa que ocupa uma
determinada posição na sociedade. Nossa capacidade de aprender
cultura e de nos tornarmos humanos é apenas potencial. Para que
ocorra, a socialização deve liberar esse potencial humano.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 83

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda as questões seguintes:

Auto-avaliação

1. Identifique a relação entre educação e socialização;

Exercícios 2. Caracterize a socialização como elemento transmissor de


valores culturais dos indivíduos.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. É através do processo de socialização que os indivíduos são


preparados para participar dos sistemas sociais a partir da
compreensão dos símbolos, dos sistemas de ideias, da
linguagem e das relações que constituem os referidos
sistemas. Esses elementos são aceitos pelos indivíduos como
sendo naturais (Johnson, 1997). A socialização é um processo
permanente na vida dos indivíduos tanto no momento em que
esses adquirem novos papéis na vida social como quando eles
se ajustam à perda de papéis sociais antigos. É por meio do
processo de socialização que os sistemas sociais se
perpetuam e funcionam eficazmente, na medida em que os
indivíduos desempenham os seus papéis sociais mediante a
incorporação de valores e padrões sociais vigentes numa
determinada sociedade.

2. Émile Durkheim (1975) define a socialização como o


conjunto de processos de integração do indivíduo aos grupos
84 Sociologia das Organizações Educativas

sociais. Originalmente parte da concepção dual do indivíduo


como um ser individual e um ser social Segundo Durkheim a
vida em sociedade supõe uma consciência colectiva, que os
enquadra compulsoriamente na forma de regras e normas. O
indivíduo seria um executor das estruturas de reprodução e
manutenção da ordem social.

A educação é um dos vastos campos dos processos de


socialização, mas, na teoria sociológica de Weber, há uma
confluência dos dois termos, porque o autor não a restringe à
instrução, à instituição escolar. Com essa abordagem, Weber
conseguiu compreender a especificidade dos diferentes
sistemas educacionais. Contribuiu, também, para incrementar
as abordagens dos sociólogos da educação ao focalizar os
diferentes sistemas que desenvolvem a socialização dos
indivíduos.

Ø De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas.


Se as dificuldades persistirem, consulte o seu tutor.

Actividade final da unidade

Depois de fazer uma reflexão a volta das Formas de Educação,


procure esboçar a utilidade das formas de educação na sua área
residencial. Onde, deverás caracterizar as formas de educação e
Actividade Identificar formas eficazes de educação para a sua comunidade.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 85

Leituras aconselhadas da unidade

ARON, Raymond. Émile Durkheim. As Etapas do Pensamento


Leitura Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 295-376.

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 4 ed. São Paulo:


Melhoramentos, 1975.

DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo:


Martins Fontes, 1999.

DURKHEIM, Émile. O Suicídio. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

IANNI, Octávio. “Introdução”. MARX. Sociologia. São Paulo: Editora


Ática, 1979, p. 07-42. (Colecção Grandes Cientistas Sociais)

MARX, Karl. “Prefácio”. Para a Crítica da Economia Política. In:


Manuscritos Económico-Filosóficos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Crítica da Educação e do Ensino.


Lisboa: Morais,

BOURDIEU, Pierre. A Escola conservadora: as desigualdades frente à


escola e à cultura. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio.
Escritos de Educação: Pierre Bourdieu. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

ORTIZ, Renato (org.) “Introdução”. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática,


1994.

PINTO, Louis. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. Rio de


Janeiro: Editora FGV, 2000.

BERGER, Peter Berger. Perspectivas Sociológicas. Petrópolis: Vozes,


1977.
86 Sociologia das Organizações Educativas

BERGER, Brigitte. “O que é uma instituição social?”. In: PEREIRA,


Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de
sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: 1985, p. 19-21.

MARTINS, José de Souza. Sociologia e Sociedade: leitura de introdução


à Sociologia. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1980, pp. 193-199.

Pesquisas na Internet

www.scielo.org.br

www.usp.org.br

www.forumpaulofreire.com.br

www.ufrgs.br/ensinosociologia

www.filosofiavirtual.pro.br

www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim

www.espacoacademico.com.br

www.unifesp.br
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 87

Unidade 5

As instituições escolares

Introdução
Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as noções
fundamentais das instituições escolares na abordagem da
Sociologia das Organizações Educativas. Estas vão ajuda-lo a
compreender a acção e função das instituições escolares.

Estrutura

O estudo que você inicia tem 3 lições. Devem ser dispensadas duas
(2) horas de tempo para cada lição. Eis as matérias a serem
estudadas nesta unidade.

Tópicos da unidade

Lição 1. Características organizacionais e cultura de escola.

Lição 2. A cultura organizacional da escola.

Lição 3. Funções sociais da educação

Meios

Para além das referências bibliográficas presentes no fim da


unidade, você poderá usar textos de apoio, efectuar visitas nas
diferentes escolas da sua comunidade e arredores. Com está ultima
prática, estará a iniciar o método do Sociólogo, cuja especificidade
na sua intervenção é sempre estar em contacto com o grupo alvo.
88 Sociologia das Organizações Educativas

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

Geral
Objectivos da lição Ø Conhecer a origem e os propósitos das instituições escolares

Específicos
Ø Indicar os princípios organizacionais de cultura da escola;
Ø Identificar os elementos da cultura organizacional;
Ø Indicar as funções sociais da educação.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 89

Lição no 1

Características organizacionais da
cultura de escola

Introdução
As instituições escolares são marcadas pelas características
organizações das escolas, que ajudam o funcionamento pleno das
mesmas bem como, a articulação eficaz com o meio em que estão
inseridas. E nestes moldes, encontra-se também associado os
modelos políticos e simbólicos da gestão das instituições escolares.
Nesta lição, você terá a ocasião de conhecer as características
organizacionais da cultura de escola. Para este estudo, você deve
dispensar duas (2) horas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


• Nomear os modelos políticos e simbólicos das escolas;
• Indicar as características organizacionais das escolas;
• Identificar os principais aspectos que retratam uma escola
Objectivos da lição
eficaz.

A sociologia das organizações educativas tem-se aberto


crescentemente aos modelos políticos e simbólicos, onde: os
estudos que durante os anos 60 usavam o modelo input-output
(entrada e saída), investigavam em que medida as características
dos alunos, os recursos humanos, materiais e financeiros (os inputs)
poderiam determinar modificações no seu desempenho (os
outputs). Bressoux (2003), esclarece que estas pesquisas
integravam as correntes sobre o efeito-escola, com seus métodos
próprios de investigação e desenvolveram-se separadamente das
pesquisas sobre o efeito-professor. Iniciaram-se nos Estados
90 Sociologia das Organizações Educativas

Unidos e são caracterizadas pelos estudos quantitativos em grande


escala.
O autor aponta ainda que o conjunto dos factores controlados
explicava, frequentemente, menos que 20% da variância de sucesso
dos alunos; a escola como lugar de aprendizagem e de destinação
de recursos não teria potência para modificar as condições
académicas dos estudantes que eram delimitadas pela herança
familiar.

Novos estudos contestarão as variáveis utilizadas nas pesquisas


anteriores que estudavam a instituição escolar como unidade de
produção. Intentando examinar o que se passava no interior das
escolas e que podia gerar diferença de eficácia entre elas, as
pesquisas sobre os processos vão investigá-las como organizações
sociais, recorrendo a tabelas de observação, questionários,
entrevistas, etc.

Nóvoa (1995) demarca a emergência recente de uma sociologia das


organizações educativas, posicionada entre uma perspectiva focada
na sala de aula e as perspectivas sócio-institucionais centradas no
sistema educativo. Destacam-se assim, as instituições escolares,
como espaços organizacionais que devem ser compreendidos na
sua complexidade técnica, científica e humana, considerando-se a
organização escolar como um nível essencial para a abordagem dos
fenómenos educativos.

O surgimento da sociologia das Organizações Educativas como


campo de estudo se deveu a necessidade de se aprofundar a
compreensão das relações entre as desigualdades na sociedade e os
processos de ensino-aprendizagem que ocorriam dentro das escolas
(Mafra, 2003).

Com sua argumentação, Nóvoa (1995) nos insta a não reduzir o


pensamento e a acção educativa a perspectivas técnicas, de gestão
ou de eficácia. Nossa análise deve arregimentar todas as dimensões
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 91

pessoais, simbólicas e políticas da vida, porque as escolas


representam uma territorialidade espacial e cultural, onde se revela
o jogo dos atores educativos internos e externos.

Deste modo, ao empenhar-se em compreender o papel dos


estabelecimentos de ensino como organizações, a sociologia das
organizações educativas reporta-se, agora, ao modelo político
(recorrendo a conceitos como poder, interesses, controle...) e
simbólico (significado que os atores dão aos acontecimentos,
carácter contingente dos processos educacionais...). Restitui aos
actores educativos o papel de protagonistas e modifica a descrição
das características organizacionais e da cultura de escola.

O funcionamento das escolas enquanto organização social define a


diferença fundamental entre elas, para pôr em evidência esta
diferença apresentou-se o termo ethos escolar – “um conjunto de
valores, atitudes e comportamentos que dão identidade particular à
escola” (Mafra, 2003).

A noção de estabelecimento foi introduzida para se compreender os


factores que agem nas escolas, parte-se da premissa de que a
política dos estabelecimentos - a natureza das relações sociais entre
os atores e o projecto pedagógico e educativo, é responsável em
parte pelo desempenho dos estudantes (Cousin, 1993).

Segundo Canário (1996) esta articulação entre os conceitos de actor


e de sistema possibilita o acesso a um entendimento novo destes
sistemas de acção colectiva que são as escolas; estas surgem então,
não como um “dado natural”, mas “como um “construído” social,
marcado por uma intrínseca contingência” (id: 132) que as torna
refractárias a previsões deterministas. São marcadas pela relação
entre os constrangimentos sistémicos (o funcionamento colectivo e
global do sistema humano) e os comportamentos estratégicos dos
atores (efeitos de imprevisibilidade); não se transformam, porém,
92 Sociologia das Organizações Educativas

em realidades incompreensíveis, são realidades inteligíveis, a partir


de uma inteligibilidade construída a posterior.

Canário (1996) identifica no conjunto das investigações que fazem


da escola um objecto de estudo, uma outra perspectiva que se
contrapõe a perspectiva da inteligibilidade a posterior. Seria uma
perspectiva do funcionamento da escola inspirada na tradição
positivista, que pressupõe ser possível aplicar princípios de
previsibilidade às escolas a partir de um acúmulo de muita
informação (um conhecimento exaustivo das condições iniciais).

Canário (1996) avalia que esta divisão de perspectivas pode ser


posta em relação com duas grandes correntes que demarcam o
campo das pesquisas que têm a escola como objecto de estudo:
(a) Uma se refere aos estudos que exploram o conceito de eficácia
dos estabelecimentos de ensino; (b) outra se reporta ao conjunto de
estudos que apontam para a elucidação dos processos de construção
da identidade dos estabelecimentos de ensino.

Aspectos do clima escolar


A segunda corrente citada no item anterior é identificada por Mafra
(2003), como os estudos mais actuais voltados para o que se
nomeia cultura organizacional; estes estudos reúnem a perspectiva
de sistema e a perspectiva de actor, que eram examinadas
separadamente. Agora, são estudadas de forma articulada de modo
a se perceberem as escolas como um sistema de acção colectiva.
Segundo a autora, pesquisadores como Vala, Monteiro e Lima
(“Culturas organizacionais: uma metáfora à procura de teorias”.

Análise Social realizada em 1988, entendem que o clima escolar é


um elemento integrante da cultura organizacional. Mafra (2003)
esclarece que os estudos mais actuais sobre cultura organizacional
e cultura organizacional da escola têm tendência a se confundir
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 93

com as investigações tradicionalmente balizadas como “clima da


escola”. Estes estudos visavam os aspectos interpessoais e
subjectivos das experiências escolares vividas numa organização,
onde o “clima da escola” caracteriza-se por um “sentimento geral
afinado” com o estabelecimento, proporcionando o bom
relacionamento e a identificação institucional oportuna ao
funcionamento adequado das instituições.

Bressoux (2003) privilegiou a noção de clima em relação a outros


factores de desempenho (vistos como mais ou menos decorrentes
deste) ao abordar as pesquisas empíricas sobre as variações de
aquisição dos alunos em função da escola ou da classe em que eles
são escolarizados. O autor considera que a noção de clima
permitiria dar conta da escola concebida como uma organização
social que desenvolve um sistema particular de relações entre os
atores. O “clima” da escola é destacado como “um conceito que
permite juntar as características isoladas para integrá-las num
conjunto que lhes confere sentido” (Bressoux, 2003: 51).

Reconhecia que se tratava, no entanto, de um conceito


problemático porque necessitava de uma definição operatória que o
objectivasse e designasse os elementos que o constituíam.
Assinala ainda com a possibilidade de existir não um único clima
na escola, mas vários. Duru-Bellat e Van Zanten (1999) afirmam
que o clima escolar advém de uma configuração particular de
factores que podem variar e que muitas estratégias metodológicas
são utilizadas para elaborar variáveis indicadoras do clima escolar,
mas a complexidade desta configuração ultrapassa a agregação de
factores.

De qualquer forma a facultação de uma maior importância à escola


como organização, representa na análise de Nóvoa (1995) uma das
evoluções mais significativas dos sistemas educativos nos anos 80
94 Sociologia das Organizações Educativas

do século passado. Dentro dos estudos que tomam como referência


as escolas e seu funcionamento, Brunet (1995) contribui com uma
exposição geral das reflexões originadas no âmbito do clima;
discorre sobre suas causas, dimensões, características, categorias e
efeitos, relacionando estas reflexões com a problemática da eficácia
da escola. Demarca que este conceito popularizou-se após ter sido
utilizado por Gellerman, em 1964, na área da psicologia do
trabalho e que a sua definição tem sido imprecisa.

Todavia, defende que para se especificar as causas do


comportamento de indivíduos em situação de trabalho não se pode
recorrer a uma análise apoiada exclusivamente em aspectos
pessoais. Há que se ampliar a pesquisa porque “são os atores no
interior de um sistema que fazem da organização aquilo que ela é”
(p. 125).

A compreensão da percepção que eles possuem da sua atmosfera de


trabalho possibilita conhecer os aspectos que influenciam o seu
rendimento. Onde, os modelos políticos introduziram novos
conceitos (poder, disputa ideológica, conflito, interesses, controlo,
regulação) que enriqueceram a análise das organizações escolares
e; os modelos simbólicos colocaram a tónica no significado que os
diversos actores dão aos acontecimentos e no carácter incerto e
imprevisível dos processos organizacionais mais decisivos.

De modos diversos, estes dois tipos de modelos devolveram aos


actores educativos o papel de protagonistas que os modelos
anteriores (racionais, recursos humanos, sistémicos, etc.) lhes
tinham procurado retirar.

Resumo
A sociologia das Organizações Educativas emergiu recentemente
posicionada entre duas perspectivas: a primeira perspectiva focada
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 95

na sala de aula e a segunda perspectiva de carácter sócio-


institucional centrada no sistema educativo, destacam-se as
instituições escolares, como espaços organizacionais que devem ser
compreendidos na sua complexidade técnica, científica e humana
(Nóvoa, 1995). Sendo assim, ao empenhar-se em compreender os
estabelecimentos de ensino como organizações, a sociologia das
organizações educativas restitui aos actores educativos o papel de
protagonistas e modifica a descrição das características
organizacionais e da cultura de escola. Bressoux (2003) considera
que a noção de clima permitiria dar conta da escola concebida
como uma organização social que desenvolve um sistema particular
de relações entre os actores.

Chegado ao fim desta lição, pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes.

Auto-avaliação

1. Nomeie os modelos políticos e simbólicos das escolas?


2. Descreva as características organizacionais das escolas?
3. Identifique os principais aspectos que retratam uma escola
Exercícios
eficaz?
96 Sociologia das Organizações Educativas

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

1. Os modelos políticos e simbólicos, na Sociologia das


Organizações Educativas, devolveram aos actores educativos o
papel de protagonistas que os modelos anteriores (racionais,
recursos humanos, sistémicos, etc.) lhes tinham procurado
retirar.

2. As características organizacionais são:


I. A estrutura física da escola, que compreende a dimensão da
escola, recursos materiais, número de turmas, edifício escolar e
a organização dos espaços;
II. A estrutura administrativa da escola onde encontramos a
gestão, direcção, controlo, inspecção, tomada de decisão,
pessoal docente, pessoal auxiliar, participação das
comunidades, relação com as autoridades centrais e locais e;
III. A estrutura social da escola que é a relação entre alunos,
professores e funcionários, responsabilização e participação
dos pais, democracia interna, cultura organizacional da escola,
clima social, etc.

3. Os principais aspectos que retratam uma escola eficaz


consistem em: autonomia da escola, liderança organizacional,
articulação curricular. Optimização do tempo, estabilidade
profissional, formação do pessoal, participação dos pais,
reconhecimento público e apoio das autoridades.

Ø De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a
dificuldade persistir consulte o seu tutor.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 97

Lição no 2

A cultura organizacional da escola

Introdução
Trazemos nesta lição a cultura organizacional da escola. A
discussão vai centrar-se nas diferentes formas de organização da
escola. Devera dispensar duas horas para o seu estudo. Como
sempre, no fim desta lição você tem um exercício que vai aferir o
grau de compreensão desta matéria.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


• Caracterizar a natureza das organizações escolares;

• Indicar o papel dos actores educativos na avaliação


institucional;
Objectivos da lição
• Descrever as características da cultura escolar.

O conceito de cultura organizacional foi transposto para a área da


educação na década de 70.

A Cultura é um sistema de integração, de diferenciação e de


referência que organiza e dá um sentido à actividade dos seus
membros (Burke, 1987).

As organizações escolares, ainda que estejam integradas num


contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que
lhes é própria e que exprime os valores e as crenças que os
membros da organização partilham (Brunet, 1988).

A consideração da noção de “experiência social” como construção


histórica, ou como “tipos históricos” que resultam da combinação
98 Sociologia das Organizações Educativas

de “tipos puros” utilizando a conceptualização weberiana, parece-


nos cientificamente relevante, na medida em que propicia uma
compreensão das diferentes lógicas coexistentes na organização
escolar, “[...] mediante a forma como os actores as sintetizam e as
catalizam tanto no plano individual como no plano colectivo”
(DUBET, 1996:112). Apesar de o actor social se encontrar “[...]
numa espécie de intervalo, num espaço misto, intermediário a
várias lógicas”, é possível identificar, na perspectiva deste autor
três registos de acção necessariamente adoptados pelos actores
individuais ou colectivos: a lógica da “integração”, a lógica da
“estratégia” e a lógica da “subjectivação”.

De acordo com a lógica da “integração”, o actor tende a manter e a


fortalecer a sua pertença à organização, interagindo de uma forma
convergente e confirmativa, isto é, pautando as suas condutas com
vista à manutenção de uma identidade integradora. Num registo
mais “estratégico”, o actor procura agir em função dos seus
interesses para que o que pertença ao grupo passe a constituir uma
condição necessária à prossecução dos seus objectivos ou fins
“concorrenciais”. A estrutura normativa e os valores que esta
incorpora adquirem assim um sentido utilitário, transformado em
recurso a mobilizar na acção, sobretudo se for favorável aos
interesses do grupo e se reforçar as suas relações de poder no
‘mercado escolar’, onde as leis da concorrência e da rivalidade
imperam.

Por último, à luz de uma lógica de subjectivação, o actor


representado como um sujeito crítico, age em função da sua
identidade subjectiva, construída culturalmente a partir da tensão
constante entre a acção integradora e a acção estratégica. Deste
ponto de vista, o sujeito encontra-se sempre numa relação de
distanciação e de reserva que impede uma adesão total ao ego
(identidade subjectiva), ao nós (identidade integradora) e aos
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 99

interesses (identidade recurso). Consequentemente, a cultura deixa


de representar somente o conjunto de valores e normas
historicamente sedimentadas na organização, tampouco apenas
uma reserva de meios simbólicos da acção grupal; ela resulta
igualmente da definição subjectiva do sujeito.

De acordo com esta proposta, igualmente inspirada na obra de


Touraine (1978) qualquer formação social é definida pela co-
presença de uma lógica de integração comunitária, por um sistema
de concorrência regulada e pela lógica da capacidade crítica e
voluntária do sujeito. Se do ponto de vista analítico, é possível
acentuar a autonomia de cada uma daquelas lógicas a partir de um
ponto central, na óptica do funcionamento da organização, convém
esclarecer que a circulação alternada das diferentes lógicas
assemelha-se mais a ‘arranjos’, a produtos das experiências sociais.
E as experiências sociais, ao se construírem a partir de diversas
lógicas de acção que lhes não pertencem (e que são dadas pelas
diversas dimensões da organização), resultam de combinações
subjectivas de elementos objectivos.

A pertinência analítica destas três lógicas de acção, no que


concerne à compreensão da cultura organizacional em contexto
escolar, reside na capacidade de aprofundamento do conhecimento
das condições de produção das manifestações culturais.

Quase que poderíamos traçar um paralelismo, ainda que grosseiro,


entre a prevalência de determinadas lógicas de acção e o tipo de
manifestação cultural a ela associada: à lógica da “integração”
corresponderia uma manifestação “integradora” da cultura; a lógica
da “estratégia” suscitaria uma cultura predominantemente
“diferenciadora”; e a lógica da subjectivação estaria por detrás de
manifestações tendencialmente

“fragmentadoras” da cultura.
100 Sociologia das Organizações Educativas

Despojada do pendor determinista e funcionalista que,


aparentemente, apenas, parece sustentar, esta associação faz sentido
quando perspectivada a partir de um enfoque que privilegie o seu
carácter dialéctico e interdependente, ou nas palavras de Friedberg
(1995b), que explore o “jogo social” da cooperação e do conflito.
E, como já o afirmámos repetidas vezes, as “regras
organizacionais” (exógenas e endógenas) constituem uma
ferramenta insubstituível ao desenrolar do “jogo”.

Seguindo este raciocínio, importa perceber, no contexto da escola


como organização, em que se manifesta a cultura, tendo como
antecâmara teórica a pressuposição de que para além das estruturas
e regulações englobantes, que impõem uma ordem cultural
hegemónica, se processa todo um trabalho de bricolage
organizacional, que combina, numa disposição original, elementos
reproduzidos dessa ordem estrutural e elementos resultantes do
jogo inerentes às lógicas de acção. Do ajustamento e da articulação
entre a ordem estrutural hegemónica e a ordem local podem
resultar, pelo menos, dois cenários culturais teoricamente
diferenciados: o cenário da “cultura escolar” e o cenário da “cultura
organizacional escolar”, cujas balizas foram já sinalizadas num
nosso anterior trabalho (Torres, 1997).

A “cultura escolar” pretende recobrir um cenário marcado pela


hegemonia de uma lógica da “integração” e, como tal,
desencadeadora de configurações culturais “integradoras”,
directamente redutíveis às grandes estruturações englobantes.
Sobressaem, desta imagem, comportamentos convergentes e
reprodutivos da ordem prescritiva, condutas fiéis às estruturas e
“regras formais”, enfim, um quadro de valores, de crenças, de
ideologias estabilizadas e colectivamente partilhadas pelos actores
escolares. Tal cenário, tem o condão de fazer sobressair as
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 101

dimensões culturais historicamente institucionalizadas nas


organizações escolares, sob a forma de ritos, rituais, cerimónias
legitimadoras da acção educativa, e, por isso, relativamente
comuns, generalizáveis ou ainda observáveis na regulação do
funcionamento de todas as escolas.

Esta relação de isomorfismo entre a “estrutura formal” ou “oficial”


e as dimensões simbólicas que incorpora e a “estrutura informal”
reproduzida nas escolas concretas, sustenta a ideia de uma “cultura
escolar” institucionalmente imposta e localmente reproduzida nas
periferias escolares, sem que dê lugar ao conflito ou à emergência
de ordens (de acção) contraditórias.

Actores educativos e avaliação institucional

Num certo sentido, o aparelho escolar edificou-se contra as famílias


e as comunidades, que foram marginalizadas, ora com o argumento
político (a legitimidade do Estado para decidir em matéria
educativa), ora com o argumento profissional (a competência
especializada dos professores em matéria educativa).

A intervenção dos pais e das comunidades na esfera educativa


sempre foi encarada como uma espécie de intromissão.

Ora é fundamental que as famílias tenham capacidade de decisão (e


poder) no seio das escolas.

Devido ao funcionamento burocrático e centralizado do sistema


educativo nunca se sentiu, de facto, a necessidade de criar
dispositivos de avaliação das escolas. A acção das autoridades
limitava-se a um controlo administrativo, baseado no cumprimento
das directivas estatais.

Os projectos educativos, sem esquecer os interesses e valores de


que os diversos grupos são portadores, são uma forma de “obrigar”
a um esforço de produção de consensos dinâmicos em torno de
objectivos partilhados.
102 Sociologia das Organizações Educativas

A escola tem de ser encarada como uma comunidade educativa,


permitindo mobilizar o conjunto dos actores sociais e dos grupos
profissionais em torno de um projecto comum. Para tal é preciso
realizar um esforço de demarcação dos espaços próprios de acção,
pois só na clarificação destes limites se pode alicerçar uma
colaboração efectiva. Na verdade, se é inadmissível defender a
exclusão das comunidades da vida escolar, é igualmente
inadmissível sustentar ambiguidades que ponham em causa a
autonomia científica e a dignidade profissional do corpo docente.

A participação dos pais e das comunidades na vida escolar encontra


toda a sua legitimidade numa dimensão social e política. A
actividade dos professores e dos outros profissionais deve basear-se
numa legitimidade técnica e científica.

Os professores são crescentemente chamados a desempenhar um


conjunto alargado de papéis, numa dinâmica de re-invenção da
profissão de professor.

Resumo
As discussões feitas no decorrer do texto giraram em torno da
administração/gestão escolar. A gestão aqui foi entendida no
sentido amplo, não apenas como gestão de processos
administrativos, mas como gestão de processos político-
pedagógicos, envolvendo os diversos momentos de participação e
de estruturação da unidade escolar.

Nessa concepção de gestão, a função do dirigente escolar não se


restringe ao desenvolvimento das actividades burocráticas e à
organização do trabalho na escola.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 103

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:

Auto-avaliação

1. Caracterize a natureza das organizações escolares.

2. Indique o papel dos actores educativos na avaliação institucional.

3. Descreva as características da cultura escolar.


Exercícios

Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos

Respostas
1. A natureza das organizações escolares elevam-se na integração
dum contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura
interna que lhes é própria e que exprime os valores e as crenças
que os membros da organização partilham entre si.

2. O papel dos actores educativos na avaliação institucional


consiste na intervenção destes na esfera educativa pois, é
fundamental que actores educativos tenham capacidade de
decisão (e poder) no seio das escolas. Devido ao
funcionamento burocrático e centralizado do sistema educativo
nunca se sentiu, de facto, a necessidade de criar dispositivos de
avaliação das escolas. A acção das autoridades limitava-se a
um controlo administrativo, baseado no cumprimento das
directivas estatais.

Cultura escolar segundo Burke (1987) é um sistema de


integração, de diferenciação e de referência que organiza e dá
um sentido à actividade dos seus membros. A “cultura escolar”
pretende recobrir um cenário marcado pela hegemonia de uma
104 Sociologia das Organizações Educativas

lógica da “integração” e, como tal, desencadeadora de


configurações culturais “integradoras”, directamente redutíveis
às grandes estruturações englobantes. Sobre saem, desta
imagem, comportamentos convergentes e reprodutivos da
ordem prescritiva, condutas fiéis às estruturas e “regras
formais”, enfim, um quadro de valores, de crenças, de
ideologias estabilizadas e colectivamente partilhadas pelos
actores escolares.

Ø Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a


dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo.

Leituras aconselhadas da unidade

BERGER, Peter Berger. Perspectivas Sociológicas. Petrópolis:Vozes,


Leitura 1977.

BERGER, Brigitte. “O que é uma instituição social?”. In: FORACCHI,


Marialice Mencarini e MARTINS, José de Souza. Sociologia e
Sociedade: leitura de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: Editora
LTC, 1980, pp. 193-199.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 105

Lição no 3

Funções sociais da educação

Introdução
Nos tópicos anteriores, discutimos as concepções de gestão escolar,
destacando a especificidade da instituição escolar, a administração
como mediação, o conceito de trabalho e a organização do trabalho
escolar.

Nesta lição, você vai conhecer e discutir a função social da


educação e da escola no processo de formação dos homens como
sujeitos históricos, enfatizando o papel da organização escolar
como instituição criada por esses sujeitos e seus desdobramentos na
organização da sociedade. Para isso, você dispõe de duas horas
para este estudo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Indicar as funções sociais da educação;


• Identificar as abordagens modernas da funcionalidade da

Objectivos da lição educação;

Nas comunidades primitivas, os fins da educação derivam da


estrutura homogénea do ambiente social, identificam-se como os
interesses comuns do grupo, e se realizam igualitariamente em
todos os seus membros, de modo espontâneo e integral: espontâneo
na medida em que não existe nenhuma instituição destinada a
inculcá-los; integral no sentido que cada membro da tribo
incorporava mais ou menos bem tudo o que na referida comunidade
era possível receber e elaborar (Ponce, 1994:21).
106 Sociologia das Organizações Educativas

Com as mudanças da vida em sociedade, do próprio homem e com


a transição da comunidade primitiva para a antiguidade, novas
formas de organização vão surgindo, sobretudo com a substituição
da propriedade comum pela propriedade privada.

A relação entre os homens, que na sociedade primitiva se


fundamentava na propriedade colectiva, passa a ser privada e o que
rege as relações é o poder do homem, que se impõe aos demais.
Assim, com o desaparecimento dos interesses comuns a todos os
membros iguais de um grupo e a sua substituição por interesses
distintos, pouco a pouco antagónicos, o processo educativo, que até
então era único, sofreu uma partição: a desigualdade económica
entre os organizadores e os executores trouxe, necessariamente, a
desigualdade das educações respectivas (Ponce, 1994:27).

Nesse sentido, os ideais educacionais nessa nova forma de


organização da sociedade não são mais os mesmos para todos,
tendo em vista que não só a classe dominante tem ideais
substancialmente distintos dos da classe dominada, como também
tenta fazer com que a classe trabalhadora aceite essa desigualdade
educacional como desigualdade natural, sendo, assim, inútil lutar
contra ela.

Com o advento da sociedade capitalista e com o aperfeiçoamento


da maquinaria, muda não só a forma de organização da sociedade,
mas também as relações sociais de produção, a concepção de
homem, de trabalho e de educação.

Na sociedade organizada sob o modo de produção capitalista, o


homem não é aquele ser histórico que se humaniza nas relações que
estabelece com outros homens, mas resume-se ao indivíduo que
vende a sua força de trabalho e, ao vendê-la, transforma-se em
factor de produção.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 107

A educação, segundo a óptica dominante, tem como finalidade


habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de
trabalhadores, para servir ao mundo do trabalho. Segundo Frigotto
(1999:26), “trata-se de subordinar a função social da educação de
forma controlada para responder às demandas do capital”.

Diferentemente da perspectiva dominante, para a classe


trabalhadora a "educação é, antes de mais nada, desenvolvimento
de potencialidades e apropriação de ‘saber social’ (conjunto de
conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos
pelas classes, em uma situação histórica dada de relações, para dar
conta de seus interesses e necessidades) " (GryzybowskI apud
Frigotto, 1998:26), objectivando a formação integral do homem, ou
seja, o desenvolvimento físico, político, social, cultural, filosófico,
profissional, afectivo, entre outros.

Nessa óptica, a concepção de educação que estamos preconizando


fundamenta-se numa perspectiva crítica que conceba o homem na
sua totalidade, enquanto ser constituído pelo biológico, material,
afectivo, estético e lúdico. Portanto, no desenvolvimento das
práticas educacionais, precisamos ter em mente que os sujeitos dos
processos educativos são os homens e suas múltiplas e históricas
necessidades.

Considerando os sujeitos históricos, o projecto de educação a ser


desenvolvido nas nossas escolas tem que estar pautado na
realidade, visando a sua transformação, pois se compreende que a
realidade não é algo pronto e acabado. Não se trata, no entanto, de
atribuir à escola nenhuma função salvacionista, mas reconhecer seu
incontestável papel social no desenvolvimento de processos
108 Sociologia das Organizações Educativas

educativos, na sistematização e socialização da cultura


historicamente produzida pelos homens.

A educação e sua função social


Ao discutirmos a função social da educação e da escola, estamos
entendendo a educação no seu sentido ampliado, ou seja, enquanto
prática social que se dá nas relações sociais que os homens
estabelecem entre si, nas diversas instituições e movimentos
sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas relações.

O homem, no processo de transformação da natureza, instaura leis


que regem a sua convivência com os demais grupos, cria estruturas
sociais básicas que se estabelecem e se solidificam à medida que se
vai constituindo em locus de formação humana.

Nesse sentido, a escola, enquanto criação do homem, só se justifica


e se legitima diante da sociedade, ao cumprir a finalidade para a
qual foi criada.

Assim, a escola, no desempenho de sua função social de formadora


de sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabilidade que
possibilite a construção e a socialização do conhecimento
produzido, tendo em vista que esse conhecimento não é dado a
priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza como
processo em construção.

A educação, como prática social que se desenvolve nas relações


estabelecidas entre os grupos, seja na escola ou em outras esferas
da vida social, se caracteriza como campo social de disputa
hegemónica, disputa essa que se dá "na perspectiva de articular as
concepções, a organização dos processos e dos conteúdos
educativos na escola e, mais amplamente, nas diferentes esferas da
vida social, aos interesses de classes" (Frigotto, 1999:25). Assim, a
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 109

educação se constitui numa actividade humana e histórica que se


define na totalidade das relações sociais.

Nessa óptica, as relações sociais desenvolvidas nas diferentes


esferas da vida social, inclusive no trabalho, constituem-se em
processos educativos, assim como os processos educativos
desenvolvidos na escola consistem em processos de trabalho, desde
que este seja entendido como acção e criação humanas.

Contudo, na forma como se opera o modo de produção capitalista,


a sociedade não se apresenta enquanto totalidade, mas é
compreendida a partir de diversos factores que interagem entre si e
se sobrepõem de forma isolada.

Nessa perspectiva, "a educação e a formação humana terão como


sujeito definidor as necessidades, as demandas do processo de
acumulação de capital sob as diferentes formas históricas de
sociabilidade que assumem" (Frigotto, 1999:30), e não o
desenvolvimento de potencialidades e a apropriação dos
conhecimentos culturais, políticos, filosóficos, historicamente
produzidos pelos homens.

Frigotto (1999) afirma ainda que a escola é uma instituição social


que, mediante sua prática no campo do conhecimento, dos valores,
atitudes e, mesmo por sua desqualificação, articula determinados
interesses e desarticula outros. Nessa contradição existente no seu
interior, está a possibilidade da mudança, haja vista as lutas que aí
são travadas.

Portanto, pensar a função social da escola implica repensar o seu


próprio papel, sua organização e os atores que a compõem.

Para Petitat (1994) a escola contribui para a reprodução da ordem


social. No entanto, ela também participa da sua transformação, às
110 Sociologia das Organizações Educativas

vezes intencionalmente; outras vezes, as mudanças dão-se apesar


da escola.

Nesse contexto, o dirigente escolar, o professor, os pais de alunos e


a comunidade em geral precisam de entender que a escola é um
espaço contraditório e, portanto, torna-se fundamental que ela
construa o seu Projecto Político-Pedagógico. Cabe ressaltar, nessa
direcção, que qualquer acto pedagógico é um ato dotado de sentido
e se vincula a determinadas concepções (autoritárias ou
democráticas) que podem estar explícitas ou não.

Assim, pensar a função social da educação e da escola implica


problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos a
escola que queremos. Nesse processo, a articulação entre os
diversos segmentos que compõem a escola e a criação de espaços e
mecanismos de participação são prerrogativas fundamentais para o
exercício do jogo democrático, na construção de um processo de
gestão democrática.

Resumo
A escola, no desempenho da sua função social de formadora de
sujeitos históricos, precisa de ser um espaço de sociabilidade que
possibilita a construção e a socialização do conhecimento
produzido, tendo em vista que esse conhecimento não é dado à
priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza como
processo em construção. Pensar a função social da educação e da
escola implica problematizar a escola que temos na tentativa de
construirmos a escola que queremos.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 111

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:

Auto-avaliação

1. Indique as funções sociais da educação?


2. Identifique as abordagens modernas da funcionalidade da
Exercícios educação?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. A educação na perspectiva da Sociologia das Organizações


Educativas, é concebida em diversas abordagens, segundo a
óptica dominante, tem como finalidade habilitar técnica, social
e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores, para
servir ao mundo do trabalho. Segundo Frigotto (1999:26),
“trata-se de subordinar a função social da educação de forma
controlada para responder às demandas do capital”.
Diferentemente da perspectiva dominante, para a classe
trabalhadora a "educação é, antes de mais nada,
desenvolvimento de potencialidades e apropriação de ‘saber
social’ (conjunto de conhecimentos e habilidades, atitudes e
valores que são produzidos pelas classes, em uma situação
histórica dada de relações, para dar conta de seus interesses e
necessidades) " (Gryzybowski apud Frigotto, 1998:26),
objectivando a formação integral do homem, ou seja, o
desenvolvimento físico, político, social, cultural, filosófico,
profissional, afectivo, entre outros.
112 Sociologia das Organizações Educativas

2. A educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre


aquelas que ainda não se encontram preparadas para a vida
social; tem por objecto suscitar e desenvolver na criança um
certo número de estados físicos, intelectuais e morais
reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo
meio especial a que a criança, particularmente, se destina. (...)
No homem [diferentemente do que acontece entre os animais],
as aptidões de todo o género que a vida social pressupõe são
muito complexas para (...) materializarem-se sob a forma de
predisposições orgânicas. Disso se depreende que elas não
podem ser transmitidas de uma geração a outra por meio da
hereditariedade. É pela educação que se faz a transmissão.
(Durkheim [1922], 1978, p. 41)

Falar da função social da educação, é falar da educação


enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os
homens estabelecem entre si, nas diversas instituições e
movimentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva
dessas relações. O homem, no processo de transformação da
natureza, instaura leis que regem a sua convivência com os
demais grupos, cria estruturas sociais básicas que se
estabelecem e se solidificam à medida que se vai constituindo
em locus de formação humana.

Ø Se teve dificuldades, não desista, volte a realizar a actividade.


Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo ou
o seu tutor.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 113

Leituras aconselhadas da lição

FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

Leitura FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo:


Cortez, 2003.

MEKSENAS, P. O ensino de sociologia na escola secundária. Revista


Leituras e Imagens, Grupo de Pesquisa em Sociologia da Educação,
Florianópolis, UDESC, 1995.
ZITKOSKI, J. J. Educação e Emancipação Social: um olhar a partir da
cidade educadora. Revista Espaço Pedagógico, Passo Fundo, v. 13, n. 1,
jan/jun 2006.

Pesquisas na Internet

www.scielo.org.br

www.usp.org.br
www.forumpaulofreire.com.br
www.ufrgs.br/ensinosociologia
www.filosofiavirtual.pro.br
www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim
www.espacoacademico.com.br
www.unifesp.br

Actividade Final da Unidade


Partindo da noção das instituições sociais, trace as relações sociais
possíveis que podem existir numa unidade educacional existente na
sua comunidade. Por exemplo, procure uma escola dentro da sua
Actividade
comunidade e olhe como a mesma tem estabelecido as relações
sociais com a comunidade no geral.
114 Sociologia das Organizações Educativas

Unidade 6

A educação e estrutura social nas


sociedades tradicionais e
modernas

Introdução
Bem-vindo à última unidade do presente módulo de Sociologia das
Organizações Educativas. Depois de ter tido contacto com aspectos
relacionados com os pressupostos da emergência da Sociologia e
das teorias subsequentes, com as características das organizações
educativas, é chegada a vez de ver a educação e a estrutura social
que reside nas sociedades africanas tradicionais.

Nesta unidade, você vai apreender o que existe do lado estruturante


nas sociedades tradicionais africanas e como estas estruturam
socialmente a educação, ou seja, todo o conjunto de pensamentos,
ideias, símbolos, crenças, etc.

Este módulo procura discutir as características de sociedades


tradicionais e modernas, procurando apresentar e contrastar as
peculiaridades de cada uma delas.

Estrutura

O estudo que você inicia agora tem 2 lições. Devem ser


dispensadas duas (2) horas de tempo para cada lição.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 115

Tópicos da Unidade

Lição 1. As sociedades tradicionais e modernas

Lição 2. Os paradigmas das reformas de educação em África pós -


independente

Meios

Para além das referências bibliográficas presentes no fim de cada


lição, você poderá usar textos de apoio, visitas aos museus, sempre
que eles existirem, mas também a sua própria comunidade. Os
aspectos ligados com o sagrado e o profano, os tipos de cultos,
crenças, hábitos e costumes, só podem ser cedidos pelo meio
envolvente.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos

Geral
Objectivos da lição • Conhecer a natureza da educação na estrutura social das
sociedades tradicionais africanas

Específicos
• Indicar as principais diferenças entre sociedade tradicional e
moderna;
• Indicar os paradigmas das reformas de educação em África;
116 Sociologia das Organizações Educativas

Lição no 1

As sociedades tradicionais e
modernas

Introdução
Certamente que você já ouviu falar das sociedades tradicionais e
modernas africanas. Terá também presenciado alguma cerimónia
religiosa ou comunitária da sua residência. Tais aspectos fazem
parte de um universo imaginário dos ritos, crenças e dos mitos.

Nesta lição poderá aprofundar melhor sobre essas duas sociedades.


Para o estudo destas matérias, você dispõe de duas horas.

No fim desta lição, você deve ser capaz de:

• Caracterizar as sociedades tradicionais e modernas;

• Indicar as finalidades de cada sociedade.


Objectivos da lição

Segundo Shapin (2008) modernidade é o predomínio da


objectividade sobre a subjectividade, do individual sobre o
institucional, da regra sobre o espontâneo.

Numa visão weberiana, o conceito envolveria a predominância do


espírito calculista, a ideia de desencantamento do mundo (isto é, a
perda do poder da magia e da religião como fontes explicativas da
realidade), a racionalidade instrumental, a dominação burocrática,
elementos frequentemente associados ao desenvolvimento do
capitalismo.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 117

O aparecimento da modernidade, ou das chamadas “sociedades


modernas”, iniciou-se no século XVI na Europa, intensificando-se
nos séculos XVII e XVIII e consolidando-se no final dos séculos
XVIII e XIX. Trata-se de uma época de muitas mudanças nas
esferas política, económica, social e cultural, com impacto
expressivo sobre a forma como as pessoas viviam, trabalhavam e se
relacionavam. Estamos falando da época do Renascimento, da
Reforma Protestante, da Revolução Industrial e da Revolução
Francesa. Essas mudanças intensificaram-se e espalharam-se pelo
mundo, mantendo-se em diferentes países, em graus diferenciados.

O Renascimento diz respeito à revalorização dos ideais humanistas


e naturalistas, que provocaram grandes efeitos nos campos da arte,
dos valores e, principalmente, da ciência. Como um dos valores
centrais do Renascimento, o humanismo atribuía importância
crucial à capacidade do ser humano, em especial ao poder da razão.
Ele estava ligado à introdução de um método de compreensão da
natureza a partir da razão e da imaginação criativa dos seres
humanos, buscando evidências empíricas e experiências concretas.

Com a expansão do humanismo, a matemática tornou-se um


instrumento importante para o tratamento dos problemas naturais e
para a solução de questões tecnológicas práticas. Ela permitiu o
avanço da astronomia que, por sua vez, contribuiu para o
desenvolvimento da navegação. Colaborou também para o
desenvolvimento da artilharia, da balística e da mecânica, que
foram aproveitadas pelos artesãos nos seus ofícios (Randall Jr.,
1976).

A reforma protestante foi importante para o fortalecimento da


priorização do indivíduo na sociedade moderna, por questionar a
autoridade suprema dos representantes da Igreja na interpretação
dos textos sagrados e na absolvição dos pecados. A reforma passou
118 Sociologia das Organizações Educativas

essas responsabilidades aos fiéis, dando-lhes autoridade e


autonomia. Desde então, o indivíduo passou a não precisar mais de
intermediários, tais como o padre ou o pastor, para ler e entender o
livro sagrado (a Bíblia) e para obter perdão dos seus pecados.

As Revoluções Industrial e Francesa foram dois eventos de longa


duração e de grande amplitude nos âmbitos político, económico e
sociocultural das sociedades que as vivenciaram. No campo da
política, elas representaram a crise do sistema
absolutista/monárquico, fundamentado na origem divina da
autoridade dos reis. A partir delas, ampliou-se o sistema
representativo de governo, fundamentado numa maior participação
política dos cidadãos e na separação entre a Igreja e o Estado.

No âmbito económico, representaram a superação do sistema


feudal de produção e o desenvolvimento do sistema capitalista. O
modo de produção passou de agrário e artesanal para industrial e
em larga escala. As relações de produção passaram de uma
dicotomia senhor-servo para outra do tipo patrão-empregado, isto é,
foram transferidas de uma situação servil/escravista, para uma
situação de trabalho livre assalariado. Com isso, os vínculos do
processo produtivo passaram a ser feitas através de uma relação
contratual, isto é, por meio do contrato de trabalho.

Nesse período, ocorreram também transformações expressivas na


área sócio-cultural, a saber: a) as autoridades eclesiásticas
perderam seu status de fonte de verdade, dado o desenvolvimento
da ciência; b) cresceram as reivindicações dos cidadãos por
igualdade e liberdade; c) as alterações na instituição familiar foram
significativas, tanto no que se refere aos direitos de cada um de
seus membros, quanto nas relações pessoais entre eles; d) o
desenvolvimento da tecnologia possibilitou que os meios de
comunicação, os meios de transportes e os instrumentos de
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 119

produção fossem melhorados; e) houve um significativo


crescimento das cidades, em função da urbanização e do êxodo
rural.

Essa nova sociedade, dita “moderna”, apresentava características


muito diferentes da que predominava até então: a “sociedade
tradicional”.

Quadro1: Principais diferenças entre as sociedade modernas e


tradicionais

Sociedade moderna Sociedade Tradicional

Estado Liberal Estado absolutista

Predomínio do individualismo e Predomínio do colectivismo e


da “destradicionalização” da tradição

Sociedade predominantemente Sociedade predominantemente


urbana rural

Predomínio da indústria Predomínio da agricultura

Predomínio da razão Predomínio do sagrado, da


(racionalização e secularização – magia e do mito (sacralização)
separação entre estado Igreja e nas esferas social e política
Estado)

Resumo
A sociedade moderna em muito se difere daquela de outrora, isso
ocorre tão simplesmente pela decorrência do tempo. Valores antes
arraigados à consciência colectiva passam a ser considerados
arcaicos e são substituídos por novas ideologias. Vale lembrar,
porém, que indivíduos pertencentes a gerações distintas vivem num
120 Sociologia das Organizações Educativas

mesmo espaço temporal, o que torna imprescindível a capacidade


de convivência. O contexto histórico e o espaço físico nos quais
uma pessoa está inserida, influenciará directamente na formação do
carácter e dos valores da mesma, ou seja, sua identidade é produto
do meio cultural o qual pertence.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responda às questões seguintes:

Auto-avaliação
1. Caracterize as sociedades tradicionais e modernas?

2. A partir da sua área de residência mencionar os hábitos

Exercícios costumeiros praticados pela respectiva comunidade e os grupos


praticantes.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. A sociedade moderna possui um estado liberal, predomínio do


individualismo e da “destradicionalização”, Sociedade
predominantemente urbana, Predomínio da indústria,
Predomínio da razão (racionalização e secularização –
separação entre estado Igreja e Estado). Por seu turno, na
sociedade tradicional encontramos um estado absolutista, onde
predomina o colectivismo e a tradição; trata-se de uma
sociedade predominantemente rural, onde predomina a
agricultura, o sagrado, a magia e o mito (sacralização) nas
esferas social e política.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 121

2. A partir da sua zona de residência, você deve procurar os


vários ritos praticados, hábitos costumeiros. Deve procurar
descreve-los em função dos aspectos que constam no texto.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade
persistir consulte as obras abaixo e tente resolver de novo.

Leituras aconselhadas da lição

BOBBIO, N. Liberalismo. Dicionário de política. 7 ed. Brasília: Editora


da UnB, 1995.
Leitura
BONELLI, R. Nível de actividade e mudança estrutural, em
estatísticas do século XX, Rio de Janeiro, 2003.

DAMATTA, R. O que faz o Brasil? Rio de Janeiro, Editora Rocco,


1986.

DAMATTA, R. A Casa e a rua, São Paulo, Editora Brasiliense, 1997.

DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social, São Paulo, Editora


Abril, 1973.

ENGELS, F. & MARX, K. Manifesto do partido comunista,


Petrópolis, Editora Vozes, 1990.

FAORO, R. Os Donos do poder: Formação do patronato político


brasileiro, São Paulo, Editora Globo, 2001.

GIDDENS, A. Sociologia, Porto Alegre, Artmed, 2008.

SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. O fenómeno urbano. Rio


de Janeiro: Zahar, 1973.

SOUZA, J. A Sociologia dual de Roberto da Matta: Descobrindo


nossos mistérios ou sistematizando nossos auto-enganos? Revista
Brasiliera de Ciências Sociais, 2001.16, 47-67.
122 Sociologia das Organizações Educativas

WEBER, M. Economia e sociedade: Fundamentos da sociologia


compreensiva, Brasília, UnB, 1999.

WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo, São


Paulo, Martin Claret, 2001.

Pesquisas na Internet

www.scielo.org.br

www.usp.org.br
www.forumpaulofreire.com.br
www.ufrgs.br/ensinosociologia
www.filosofiavirtual.pro.br
www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim
www.espacoacademico.com.br
www.unifesp.br
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 123

Lição no 2

Os paradigmas das reformas de


educação em África pós -
independente

Introdução
Depois da sistematização das sociedades tradicionais e modernas
africanas, é chegada a vez de conhecer os paradigmas das reformas
da educação em África pós-independência. Você dispõe de duas
horas de trabalho para absorver o que a seguir lhe é proposto.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar os paradigmas das reformas de educação em


África pós-independente;

Objectivos da lição • Descrever as acções desenvolvidas desde a independência


nacional na área da educação

Paradigma, em grego, significa exemplo, ou melhor, modelo ou


padrão. Quando falamos em paradigma, via de regra, referimo-nos
a um modelo, a um padrão, a uma descrição que nos oriente e nos
faça compreender algum facto explícito. Entende-se por paradigma
de qualidade um padrão a ser seguido com o intuito de melhoria de
nível, da qualidade em si do produto e do processo para a sua
obtenção.

Discutir e entender o paradigma da qualidade de ensino em


Moçambique, inexoravelmente, passa pelo resgate das acções
desenvolvidas no sector da educação desde a independência
nacional até hoje. No encalço da qualidade da educação, várias
124 Sociologia das Organizações Educativas

estratégias sucederam-se a nível nacional, com realce para as etapas


que a seguir descrevemos de forma resumida, numa ordem
cronológica.

Com a independência nacional de Moçambique em 1975, inaugura-


se um processo de rápidas e profundas transformações sócio-
económicas, políticas e culturais. Um dos efeitos principais dessas
transformações consistiu no alargar da oferta educacional aos
moçambicanos. As transformações no sector da educação
revestiram-se também de aspectos qualitativos. Em 1981, a taxa
bruta de admissão no ensino primário de primeiro grau alcançou os
110%. Nos anos seguintes, a crise económica e a guerra reduziram
drasticamente a taxa de admissão, tendo atingido 54% em 1994.

No âmbito da implementação do plano de desenvolvimento nacio-


nal, é introduzido no ano de 1983, o Sistema Nacional de Educação
(SNE) que se estrutura em ensino pré-escolar (Creches e Jardins de
infância para crianças com idade inferior a 6 anos); ensino escolar
(ensino geral, ensino técnico profissional, ensino superior para
além do ensino especial, ensino vocacional, ensino de adultos,
ensino à distância, formação de professores) e ensino extra-escolar
(actividades de alfabetização e de aperfeiçoamento, a actualização
cultural e científica), que preconizava a introdução, de forma
gradual, da escolaridade obrigatória e universal para as crianças em
idades escolares.

Na definição dos objectivos e principais linhas de acção do sector


de educação, após as eleições multipartidárias de 1994, o governo
moçambicano aprovou em 1995 a Política Nacional de Educação
que estabeleceu a visão do sector da educação assente em três
pilares: (a) aumento do acesso e equidade; (b) melhoria da
qualidade e relevância do ensino; (c) reforço da capacidade
institucional do Ministério da Educação nos diferentes níveis de
administração.

No período de 1999 a 2005, foi implementado o Plano Estratégico


de Educação que enfatizou a sua prioridade no ensino básico, sendo
substituído pelo Plano Estratégico de Educação e Cultura (2006 –
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 125

2010/2011), que versa essencialmente os mesmos objectivos-chave,


embora com maior ênfase na melhoria da qualidade da educação e
na retenção dos estudantes ate à sétima classe, para além de se
propor a aumentar os esforços para desenvolver a educação técnico
profissional e vocacional, e ensino secundário com características
profissionalizantes e ensino superior.

Das acções desenvolvidas desde a independência nacional em


1975, destaca-se um factor comum e consensual: a qualidade do
ensino. No entanto, subjacente a essa opinião comum e consensual,
permanecem algumas questões ainda poucos exploradas pelos
diversos intervenientes do sector da educação em Moçambique, a
começar pela própria concepção de qualidade de ensino no
contexto das principais políticas nacionais de educação. A
qualidade da educação esta sempre presente no centro do debate e é
uma aspiração constante dos sistemas educacionais de todos os
países (Damatta, 1997).

Segundo Souza (2001) a qualidade de ensino pressupõe um


julgamento de mérito que se atribui tanto para o processo quanto
aos produtos decorrentes das acções desenvolvidas que, de certa
maneira, implica, pois, um juízo de valor. A qualidade de ensino
tem que ser entendida como satisfazendo critérios bem definidos
que expressam: (1) definição de critérios pedagógicos e sociais; (2)
explicitação de indicadores; (3) planificação e execução de
estratégias de avaliação mais amplas para validação (ou não) da
qualidade de ensino desejada.

Actualmente, estudos mostram que a qualidade de ensino em


Moçambique está em decadência em razão de diversos factores.
Desse modo, a discussão da educação, hoje, encontra-se centrada
na qualidade, o que é um importante avanço. A discussão sobre a
qualidade de ensino em Moçambique poderá perder sentido se não
abordarmos a questão do acesso tendo como referência as
expectativas e direitos de todos os potenciais beneficiários directos
e indirectos. Julgamos que ao abordar a questão da qualidade de
ensino, devemos analisar as relações e determinantes entre as
126 Sociologia das Organizações Educativas

políticas públicas do sector da educação e qualidade de ensino, para


além de outros factores que poderão ser agregados para melhor
elucidar as razões e as relações entre as variáveis e factores
analisados.

Na impossibilidade de abarcar, na sua totalidade, todos os


determinantes entre as políticas públicas do sector da educação e
qualidade de ensino, somente vamos abarcar questões cujos
contextos se tornam actuais quando se pretende efectuar o debate
da qualidade de ensino, de acordo com António Figueiredo da
Universidade de Coimbra, citado por Bobbio (1995):

1. Debate da estratégia institucional (missão, visão, objectivos,


factores críticos de sucesso, forças, fraquezas,
oportunidades, ameaças, competências-chave, recursos);

2. Debate da qualidade pedagógica dos professores (formação


para docência, papel da actividade pedagógica no progresso
na carreira, critérios de avaliação – objectivos, preparação,
métodos, resultados, apresentação, auto - critica);

3. Debate dos conteúdos (fundamentação, profundidade,


relevância – para o saber fazer, para o saber ser e para o
saber viver, actualidade, coerência, operacionalidade);

4. Debate dos contextos (cultura institucional, actividades


extra-curriculares, adequação ao exterior, imagem);

5. Debate da mobilização dos estudantes (para a


intencionalidade estratégica, gosto de aprender e de intervir,
capacidade de luta, independência, iniciativa, criatividade,
sentido comunitário, cultura);

6. Debate da auto-avaliação (conteúdos: como se estruturam,


revêem e aperfeiçoam? Estratégias: como se estabelecem as
estratégias e os métodos de ensino e de aprendizagem?
Acção pedagógica: como se avalia o seu desempenho e se
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 127

incentiva a excelência pedagógica? Resultados: como é


avaliada a qualidade dos alunos?).

Resumo
Os paradigmas introduzidos no sistema educacional em África,
mais concretamente em Moçambique, trouxeram um impacto
significativo. Contudo, ainda há necessidade de mais reflexões no
sentido de garantir uma melhor educação às gerações vindouras.

Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e


responde às questões seguintes:

Auto-avaliação
1. Identifique os paradigmas das reformas de educação em
África pós-independente?

2. Descreva as acções desenvolvidas desde a independência


nacional na área da educação.
Exercícios

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Paradigma, em grego, significa exemplo ou, melhor, modelo


ou padrão. Quando falamos em paradigma, regra geral,
referimo-nos a um modelo, a um padrão, a uma descrição que
nos oriente e nos faça compreender algum facto explícito.
Entende-se por paradigma de qualidade um padrão a ser
128 Sociologia das Organizações Educativas

seguido, com o intuito de melhoria de nível, da qualidade em si


do produto e do processo para a sua obtenção. É o caso das
mudanças curriculares, alteração da organização das
instituições escolares etc,.

Na definição dos objectivos e principais linhas de acção do


sector da educação, após as eleições multipartidárias de 1994,
o governo moçambicano aprovou em 1995 a Política Nacional
de Educação que estabeleceu a visão do sector da educação
assente em três pilares: (a) aumento do acesso e equidade; (b)
melhoria da qualidade e relevância do ensino; (c) reforço da
capacidade institucional do Ministério da Educação nos
diferentes níveis de administração. No período de 1999 a 2005,
foi implementado o Plano Estratégico da Educação que
enfatizou a sua prioridade no ensino básico, sendo substituído
pelo Plano Estratégico de Educação e Cultura (2006 –
2010/2011), que versa essencialmente os mesmos objectivos-
chave, embora com maior ênfase na melhoria da qualidade da
educação e na retenção dos estudantes até à sétima classe, para
além de se propor a aumentar os esforços para desenvolver a
educação técnico profissional e vocacional, o ensino
secundário (com características profissionalizantes) e ensino
superior.

2. O Sistema Nacional de Educação (SNE) estava estruturado em


ensino pré-escolar (Creches e Jardins de infância para crianças
com idade inferior a 6 anos), ensino escolar (ensino geral,
ensino técnico profissional, e ensino superior para além do
ensino especial, ensino vocacional, ensino de adultos, ensino à
distância, formação de professores) e ensino extra-escolar
(actividades de alfabetização e de aperfeiçoamento, a
actualização cultural e científica), que preconizava a
introdução, de forma gradual, da escolaridade obrigatória e
universal para as crianças em idades escolares.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 129

Ø De certeza que conseguiu responder às perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto e consulte as
obras recomendadas. Se as dificuldades persistirem, consulte o
seu tutor.

Leituras aconselhadas

BOBBIO, N. Liberalismo. Dicionário de política. 7 Ed. Brasília:


Leitura Editora da UnB, 1995.

BONELLI, R. Nível de actividade e mudança estrutural, em


estatísticas do século XX, Rio de Janeiro, Editora Globo, 2003.

CHIRRIME, Eugénio Francisco. Relações escola/comunidade nos


aspectos de organização curricular e do sistema educativo em
Moçambique do PEBIMO. Folha, 1995.

DAMATTA, R. A Casa e a rua, São Paulo, Editora Brasiliense,


1997.

DAMATTA, R. O que faz o Brasil? Rio de Janeiro, Editora


Rocco, 1986.

DIAS, Hildizina Norberto. As desigualdades sociolinguísticas e o


fracasso escolar em direcção a uma prática linguístico-escolar
libertadora, Maputo: Promédia, 2002.

DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social, São Paulo,


Editora Abril, 1973.

ENGELS, F. & MARX, K. Manifesto do partido comunista,


Petrópolis, Editora Vozes, 1990.

FAORO, R. Os Donos do poder: Formação do patronato político


brasileiro, São Paulo, Editora Globo, 2001.

GIDDENS, A. Sociologia, Porto Alegre, Artmed, 2008.

INDE. Avaliação do ensino primário em Moçambique:


Analisando o passado, perspectivando o futuro: Maputo, 2002.
130 Sociologia das Organizações Educativas

JUNOD, Henrique A. Usos e Costumes dos Bantos (2ª edição ed.


Vol. Tomo I). Lourenço Marques: Imprensa Nacional de
Moçambique, 1974.

LAFON, Michel. Relatório da visita às escolas do ensino


bilingue nas províncias de Cabo Delgado e Niassa: Associação
Progresso, 2003.

MINED/UNICEF. Educação para todos em Moçambique - uma


estratégia que nasce. Maputo, MINED, 1992.

SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. O fenómeno urbano.


Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

SOUZA, J. A Sociologia dual de Roberto da Matta: Descobrindo


nossos mistérios ou sistematizando nossos auto-enganos? Revista
Brasiliera de Ciências Sociais, 2001.16, 47-67.

STROUD, Christopher. e António TUZINE (Coord.). Uso das


línguas africanas no ensino: Problemas e perspectivas (Vol.
Cadernos de Pesquisa 26), Maputo, Moçambique: INDE, 1998.

WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo, São


Paulo, Martin Claret, 2001.

WEBER, M. Economia e sociedade: Fundamentos da sociologia


compreensiva, Brasília, UnB, 1999.

Actividade Final da Unidade

Actualmente, tem se observado mudanças curriculares em África e


Moçambique em particular. Procure fazer uma abordagem deste
assunto, identificando os avanços, vantagens e desvantagens dessas
mudanças curriculares operadas no nosso Pais. Os resultados
devem ser discutidos nos centros de Recursos.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 131

Respostas das Actividades Finais

Unidade 1

Depois de fazer uma reflexão à volta da génese e evolução do


pensamento social, procure esboçar a utilidade da construção do
pensamento social no homem.

As primeiras tentativas de compreender como as forças sociais


funcionam baseavam-se na imaginação, na fantasia, na
especulação. Assim, certos fenómenos sociais eram explicados a
partir da acção de seres mitológicos, como deuses e heróis.

Unidade 2

Depois de você reavaliar as noções preliminares dos fundadores e


representantes da Sociologia (Objecto e Método) procure fazer um
resumo onde deverão constar os passos dados pelos representantes
e fundadores da Sociologia para o alcance do método e objecto
dessa ciência da sociedade, sem deixar de lado a questão biográfica
dos mesmos.

Os representantes e fundadores da Sociologia trouxeram as bases


do surgimento, método e objecto da Sociologia. Embora não
uniformes na sua análise sobre esta ciência, havia consenso de que
a Sociologia é ciência da Sociedade, isto é, usa métodos e objectos
próprios para o estudo/ análise da sociedade.

Unidade 3

Para a actividade desta unidade, faça um trabalho de pesquisa com


o seguinte tema: “A influência da escola no comportamento dos
alunos”. Escolha 5 alunos na sua comunidade e questione-os sobre
132 Sociologia das Organizações Educativas

as mudanças comportamentais operadas por estes desde o dia do


seu ingresso na escola. Não se esqueça de argumentar os dados das
entrevistas com base nos pensadores ou representantes da
Sociologia, isto é, deverá fazer uma discussão teórica, usando
conceitos, objectos e métodos sociológicos (Número de páginas:
máximo 10 ).

Unidade 4

Depois de fazer uma reflexão à volta das Formas de Educação,


procure esboçar a utilidade das formas de educação na sua área
residencial. Deverá caracterizar as formas de educação e identificar
formas eficazes de educação para a sua comunidade.

A sociedade é toda ela, uma situação educativa, dado que a


vivência entre os homens é condição de educação. Mas esse
processo educativo significa tirar o que há de humano dentro do
humano, em outras palavras, a educação ou processo educativo traz
ao homem a capacidade de actuar entre outros homens, aprendendo
e ensinando, pois não nascemos com nossas capacidades
desenvolvidas. Assim, a educação leva o homem a um processo
permanente de socialização que progressivamente passa a fazer
parte do conjunto de experiências, carácter social e as relações que
ele terá com a sociedade.

Unidade 5

Partindo da noção de instituições sociais, trace as relações sociais


possíveis que podem existir numa unidade educacional existente na
sua comunidade.

As possíveis relações sociais passam pelo envolvimento das


comunidades nos planos de gestão das instituições escolares. Estas
comunidades devem acompanhar um exercício pleno das unidades
escolares, um trabalho conjunto com os formadores e formandos.
Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 133

Unidade 6

Actualmente, têm se observado mudanças/reformas curriculares em


África e em Moçambique em particular. Procure fazer uma
abordagem deste assunto, identificando os avanços, vantagens e
desvantagens.

As mudanças/reformas curriculares acontecem numa época em que


há necessidade de reajustar a educação ao encontro da modernidade
vivida.

À semelhança do que acontece em muitos países do mundo,


Moçambique tem se preocupado, e muito, com a educação do seu
povo e das novas gerações em particular, como ilustram as várias
reformas educacionais que ocorreram e ocorrem desde o nível
primário até o universitário. Tais reformas educacionais
começaram logo após a independência política do país em 1975 e
privilegiam aspectos que vão desde o conteúdo até à estrutura.

Muitos especialistas em educação, sociólogos e não só, defendem


que uma das principais razões da reforma curricular, em qualquer
parte do mundo, é de adoptar o cidadão, em especial as novas
gerações, de um saber científico e tecnológico que o permite
coabitar em harmonia com o mundo que o rodeia.
134 Sociologia das Organizações Educativas

Notas Finais
Após esta longa caminhada, você acaba de ter alguns subsídios da
organização educacional, estudados no âmbito da Sociologia das
Organizações Educativas.

Você está de parabéns por ter chegado até aqui e esperamos que as
lições tenham sido do seu agrado. Importa realçar que este constitui
o início do estudo da Sociologia, em virtude de existir uma
multiplicidade de aspectos a aprofundar e a aprender.

Este trabalho pode/deve ser continuado através leituras de livros


das instituições educativas da sua comunidade e discussões com
outros colegas, tarefas que achamos ter vindo a desenvolver sempre
que estudava as diferentes lições. Para nós, resta-nos agradecer-lhe
por todo o esforço empreendido ao longo de todo este processo.
Bem-haja.

Você também pode gostar