Tarefa 4

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TAREFA 4 (UNIDADE 8)

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

João Nélio Câmara Coelho

O art. 59 da Constituição Federal estipula as espécies normativas objeto do processo


legislativo. Indique cada uma das espécies e, por meio da demonstração do texto
constitucional correspondente, indique o objetivo e o processo legislativo específico
de cada uma (iniciativa, tramitação e quórum de votação).

O artigo 59 da Constituição da República prevê as seguintes espécies legislativas no


Brasil:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e
consolidação das leis.
(BRASIL, 1988)

1. Emendas à Constituição (Emendas Constitucionais)

Reguladas constitucionalmente por meio do art. 60 da CR-1988, as Emendas


Constitucionais (EC), única espécie legislativa com capacidade de mudar, dentro das regras
democráticas, o texto constitucional, decorrem do Poder Constituinte Derivado (ou “instituído,
constituído, secundário, de segundo grau, remanescente”) (LENZA, 2018, p. 136).

Proposição
De acordo com os incisos I, a III do art. 60 da CR-1988, a proposta de ECs pode ser
feita: a) por “um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal”; b) pelo “Presidente da República”; c) por “mais da metade das Assembleias
Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria
relativa de seus membros” (BRASIL, 1988).
Limitação formal
Segundo o § 1º do art. 60 da CR-1988: “A Constituição não poderá ser emendada na
vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio” (BRASIL, 1988).
E, segundo o § 5º do mesmo artigo: “A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou
havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”
(BRASIL, 1988).

Limitação material
As ECs possuem uma limitação material ou substancial, que diz respeito a matérias
sobre as quais não podem versar, conforme se depreende do § 4º, incisos I a IV do mesmo art.
60 da CR-1988, no que se acostumou chamar de cláusulas pétreas:

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:


I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
(BRASIL, 1988)

Destaque para o inciso IV do §4º do art. 60 da CR-1988, acima, no tocante à proibição


de deliberação para EC que tente abolir “direitos e garantias individuais”, que, segundo
entendimento consolidado na doutrina e jurisprudência, não dizem respeito apenas àqueles
direitos elencados no Capítulo I, do Título II, art. 5º da CR-1988, mas a todos os que,
materialmente considerados, representem tais direitos e garantias dos indivíduos.
Por se tratar do único inciso ‘aberto’, passível, portanto, de interpretação, tem servido
de base para a discussão da constitucionalidade de diversas ECs e leis infraconstitucionais.

Processo legislativo
Justamente por representar a possibilidade de alteração do corpo constitucional, as ECs
possuem um processo legislativo bem mais rígido, demandando, para sua aprovação, da
apreciação e votação positiva de três quintos dos membros de todo o Congresso Nacional
(Câmara dos Deputados e Senado Federal), por duas vezes.
Nesse sentido, conforme o § 2º do art. 60 da CR-1988, a proposta de EC “será
discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se
aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros” (BRASIL,
1988).

2. Leis Complementares
As demais leis infraconstitucionais não possuem hierarquia entre si1.
Contudo, em termos de processo legislativo, haverá diferença para sua aprovação, que
será determinada em razão da matéria sobre a qual a lei versar.
Se se tratar de matéria mais complexa ou abrangente, provavelmente ganhará a rubrica
de lei complementar, enquanto assuntos menos impactantes normalmente serão legislados por
meio de lei ordinária.
Todavia, uma vez promulgadas, ambas passam a vigorar com a mesma força
normativa.

Objeto
Segundo o Parágrafo Único do art. 59 da CR-1988, as Leis Complementares disporão
sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis (BRASIL, 1988).

Processo Legislativo - iniciativa


Segundo o caput do art. 61 da CR-1988, a iniciativa para a criação de lei complementar
será de: a) qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados; b) qualquer membro ou
Comissão do Senado Federal; c) qualquer membro ou Comissão ou do Congresso Nacional”;
do Presidente da República; d) do Supremo Tribunal Federal e) dos Tribunais Superiores; e) do
Procurador-Geral da República; e f) dos cidadãos, na forma e nos casos previstos na
Constituição, mais especificamente por meio da iniciativa popular, de acordo com o § 2º do
art. 61 da CR-1988 e art. 13 da Lei 9.709/1998 (BRASIL, 1988).
Já o § 1º do art. 61 delimita certas matérias de lei (seja complementar, ordinária ou
delegada) que estão restritas à competência da Presidência da República, a saber, leis que:

I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;


II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e
autárquica ou aumento de sua remuneração;
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços
públicos e pessoal da administração dos Territórios;

1
Por óbvio, os decretos legislativos e as resoluções estarão mais limitadas ao âmbito interno da Administração
Pública, podendo gerar efeito para o público em geral, mas representando, em sua maioria, regulamentações
internas de seus órgãos e departamentos.
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria de civis, reforma e transferência de militares para
a inatividade;
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria;
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como
normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da administração
pública;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI;
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos,
promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.
(BRASIL, 1988)

Processo Legislativo – quórum para aprovação


Segundo determinação do art. 69 da CR-1988, a Lei Complementar exige a aprovação
da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado
Federal), ou seja, a metade mais um da totalidade dos seus membros (art. 69, CR-1988).

3. Leis Ordinárias
São iguais às Leis Complementares em praticamente tudo, diferenciando-se, porém,
no quesito “quórum de aprovação”, o qual se dará por maioria simples, isto é, metade mais um
dos Deputados e Senadores presentes na sessão legislativa respectiva a cada casa em que for
apreciada.

4. Medidas Provisórias
Segundo caput do art. 62 da CR-1988, as Medidas Provisórias – prerrogativa
legislativa especial conferida ao chefe do Poder Executivo – serão utilizadas sempre que se
apresentar “caso de relevância e urgência”.
As medidas provisórias, como o nome diz, são provisórias, mas possuem, ainda
segundo o mesmo dispositivo constitucional citado acima, “força de lei”.
A provisoriedade de tais medidas também é explicada no caput do art. 62 da CR-1988,
que determina que elas deverão ser submetidas de imediato ao Congresso Nacional.

Objeto
O objeto das medidas provisórias é negativo; isto é, não há um elenco de matérias que
podem ser objeto de tais medidas legislativas, mas há a limitação daquilo que não poderá
representar seu objeto, conforme §§ 1º, 2º e 10º do art. 62 da CR-1988:
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de
seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e
suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro
ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente
de sanção ou veto do Presidente da República.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício
financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que
foi editada.
[...]
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que
tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.
(BRASIL, 1988)

Iniciativa
Conforme exposto, a iniciativa é exclusiva ao Presidente da República.

Processo Legislativo
Uma vez editadas, as medidas provisórias devem, conforme o já mencionado caput do
art. 62 (parte final) da CR-1988, ser submetidas de imediato ao Congresso Nacional.
O § 3º do art. 62 da CR-1988 estabelece que – à exceção dos casos descritos nos §§ 11
e 12 do mesmo artigo2 – as medidas provisórias, após a submissão imediata ao Congresso
mencionada acima – que se conta a partir da data de sua publicação (§ 4º)3 – precisam ser
convertidas em lei no prazo de 60 dias (prorrogáveis por mais 60, em observância do § 7º)4, sob
pena de perda de eficácia desde a edição.
Ainda no § 3º do art. 62 da CR-1988, uma vez que as medidas provisórias sejam
convertidas em lei, o disciplinamento das relações jurídicas dela decorrentes serão objeto de

2
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de
eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua
vigência conservar-se-ão por ela regidas. § 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto
original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o
projeto. (BRASIL, 1988).
3
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante
os períodos de recesso do Congresso Nacional. (BRASIL, 1988).
4
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de
sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso
Nacional. (BRASIL, 1988).
decreto legislativo elaborado pelo próprio Congresso Nacional.
Conforme § 5º do art. 62 da CR-1988, a deliberação bicameral das medidas provisórias
depende de prévio juízo (controle) de constitucionalidade (normalmente exercido pela
Comissão de Constituição e Justiça, e por “comissão mista de Deputados e Senadores” (§ 9º)5.
Ao término desse juízo prévio, a votação se inicia na Câmara dos Deputados (§ 8º)6.
Se a apreciação da medida provisória não se iniciar em até 45 dias, contados de sua
publicação, o seu trâmite legislativo entrará em regime de urgência (§ 6º)7.

5. Leis Delegadas
Reguladas pelo art. 68 da CR-1988, as leis delegadas são leis elaboradas pela
Presidência da República após solicitação de delegação que esta faça ao Congresso Nacional.

Iniciativa
Por óbvio, a iniciativa das leis delegadas é exclusiva ao Presidente da República.

Objeto
Novamente, o objeto das leis delegas se dá de forma negativa, com relação daquelas
matérias vedadas, conforme § 1º do art. 62 da CR-1988:

§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso


Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de
seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
(BRASIL, 1988).

Processo Legislativo
A Presidência faz solicitação de delegação ao Congresso.
Congresso emite resolução com especificação do conteúdo e termos do exercício da

5
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir
parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso
Nacional. (BRASIL, 1988).
6
§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados. (BRASIL, 1988).
7
§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação,
entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando
sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver
tramitando. (BRASIL, 1988).
delegação à Presidência (§ 2º, art. 68, CR-1988), além da previsão se o projeto de lei elaborado
por delegação pela Presidência deverá ou não ser apreciada pelo Congresso.
Em caso de apreciação pelo Congresso do projeto de lei respectivo, a votação será
única, sem qualquer emenda (§ 3º, art. 68, CR-1988).

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Diário


Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 2 mar. 2020.

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 22ª ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018.

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