Contrato, O - DM Pager
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CONTRATO
DM PAGER
1
Que?
°°°
14h30 horas
°°°
Eu sabia que tudo isso uma hora ia vir à tona – e veio bem
rápido. Enquanto encarava a mulher a minha frente imaginava a
hora em que a polícia romperia pelo café me levando dali. Eu devia
ter escutado, Santana.
– Eu...
Ela sorriu.
– Não precisa se assustar. – Sorriu.
– Não? Eu me passei por uma pessoa... – Falei nervosa. –
Mas a culpa não foi minha.
– O erro foi meu. Como foi com Marcus? – Sua voz calma me
dava nos nervos. Eu gostaria que ela estivesse no mesmo nível que
eu.
Encarei meu café quando o garçom nos serviu. Eu não
conseguia pensar, não conseguia parecer calma diante disso tudo.
Ela poderia me usar, extorquir o que não tenho. Minhas mãos
estavam suando, cada parte do meu corpo estava suando agora.
– Bem. – Sussurrei. – Vai contar a ele?
– Não. – Respondeu ofendida.
– Por que não? Olha, se você acha que vou fazer isso com
você, não somos uma dupla. Eu vou dizer a ele que a culpa foi sua
e uma parte minha e...
Bebericou seu café.
– Marcus não está cem por cento bem. – Calma. – Mas está
melhor e me surpreendeu por ter ficado até o prazo final da viagem,
ele geralmente não fica. Nos últimos dias ele me mandou tentar
contato com você.
– Eu não vou mais trabalhar para ele. – Falei. – Nem para
você.
– Já soube sobre a Maggie? – O semblante em seu rosto
mudou.
– O suficiente para não alimentar esse modo de escape que
ele usa. Marcus é arrogante e idiota a maior parte do tempo.
Ela sorriu.
– Ele precisava de alguém como você.
– Eu não sou um alguém legal nem sinônimo de ajuda. Nem
psicóloga, tá legal, eu preciso de um. O que me levou a aceitar isso
tudo foi minha situação financeira. Eu estou devendo até meus
órgãos no mercado negro se duvidar. Marcus e eu não nos damos
bem, ele não quer ser ajudado.
– Não é tão fácil quanto parece. – Ela me encarava com
autoridade.
– Já estou encrencada demais quando ele descobrir.
– Quando ele pediu para arranjar alguém eu não queria.
Conheci muitas mulheres mesquinhas nessa seleção. A maioria só
queria o dinheiro, outras até se interessaram por ele e por esse
motivo ele voltava para casa frustrado, não queria se envolver com
ninguém. Ele tenta mostrar para a família que tem controle sobre
sua vida, mas não precisa de muito para saber que ele está errado.
– Está!
– Quando entrei em contato com Sara ela não foi diferente
das demais. Ela exagerou em tudo o que pediu. Marcus só queria
que ela aparecesse e cumprisse com tudo. Eu já tentei fazê-lo parar
com isso, sabe? Mas ele não me ouve. Pedi para minha auxiliar
depositar o dinheiro, mas perdemos o número de Sara. E achamos
tê-la encontrado na nossa central de dados. Entramos em contato
com o banco e fizemos tudo o que tinha que fazer, algumas coisas
batiam com seus dados. Nossa primeira conversa pareceu diferente
da que eu realmente tive e nosso encontro revelou isso.
– Por que não me entregou? – Perguntei tentando fazer
minhas mãos pararem de suar.
– Você era diferente, não havia poder e superioridade e
estava assustada. Eu não havia gostado de Sara então arrisquei. Já
estava feito e não havia tempo de voltar atrás. Passei todo esse
tempo as cegas, Marcus não ligou e não reclamou. Sabe quando foi
a última vez que ele fez isso? Nunca. Ele sempre ligava. E me
surpreendi agora quando ele quis vê-la de novo. Claro que
investiguei sobre sua vida, seu onde mora, seus antigos trabalhos,
precisei me atentar a tudo para que desse certo.
– Como acharam meus dados em sua central?
– Alguns meses atrás você se inscreveu em nossa central de
vagas.
Santana! Ela fez isso por semanas para que eu conseguisse
algo melhor. Ah claro.
– O natal está chegando. – Ela foi direta. – Eu sei que não
quer, mas ele está desesperado. Marcus não é ruim, ele está se
abrindo de novo.
– Eu não posso. Vou devolver tudo o que ele depositou, nem
tive tempo de gasta-lo.
– Talvez não pudesse, mas ele acha que pode. Ele quer sua
ajuda de novo. E você não precisa devolver nada, posso me
resolver quanto a isso.
– Mas eu não posso! E isso é roubo.
Me fitou.
– Talvez eu seja como elas como algumas delas. – Encarei
meu copo. – Talvez eu goste um pouco dele, e do dinheiro também.
–Levantei meu olhar.
Sorriu.
– Pense e acredite eu nunca o vi assim. Querer tanto a
companhia de alguém. Eu não vou dizer que me encontrei com
você, só queria que soubesse que ele vai se comportar.
– Isso é se torturar. Ele gosta de me torturar
psicologicamente.
– Às vezes não, foi um prazer revê-la, Sara.
Passei o resto da semana pensando e pensando. Estava
sentindo falta de Marcus, não havia um motivo para isso ser levando
em consideração o educado que ele era, mas eu estava. Desejei
bater nele, ao mesmo tempo dizer que tudo estaria bem. E a parte
egoísta de mim não queria que ele tivesse um amor tão grande por
Maggie – porque talvez isso o colocasse novamente no centro da
terra.
Agora estava com ciúmes de uma pessoa morta? Por Deus,
Sara, desde quando começou a idealizar Marcus Foster na sua
cabeça?! Pare agora. Me esquivei das perguntas de Santana e da
curiosidade de Carol. Os planos para o Natal começaram e tentei
não os fazer importantes para mim, mas acabei cedendo e os fiz.
– Sara. – Caroline me chamou. Estava terminando de fazer
minha mala. – Telefone para você.
– Quem é? – Perguntei.
– Não sei, particular.
Peguei o telefone.
– Não fique ouvindo atrás da porta. – Avisei.
– Eu não ia. – Resmungou com um sorriso divertido.
– Alô?
– Sara?
Respirei fundo. Marcus.
– Não desliga. – Pediu.
– O que você quer, Marcus? – Tentei soar rude.
– Conversar.
– Estou ocupada. Não dá.
– Eu sei que não está. – Falou presunçoso.
– Colocou câmeras em mim e eu não sei? – Zombei.
– Posso busca-la? – Fingiu não escutar.
– Qual a parte do "estou ocupada" você não entendeu? Eu
não quero vê-lo. A única coisa que quero de você é o número da
sua conta. Vou devolver seu dinheiro.
– Seu drama não me comove.
Eu quase desliguei, mas...
– O que você quer? – Fechei os olhos com força. – Estou
ocupada agora, de verdade, não estou a fim de jogar conversa fora.
– Apenas conversar. Eu preciso conversar com você...
infelizmente.
– Infelizmente? Que ótimo saber disso, Foster. – Diga não e
desligue. – Vou estar no café em vinte minutos. – Avisei.
– Chego em dez.
Desliguei.
Não acreditava que estava saindo para reencontrá-lo. Era
muita falta de amor próprio ir se torturar, porque não havia
explicação para isso e ele em algum momento perceberia que tem
algo de errado... comigo. Nunca consegui esconder meus
sentimentos seja ele, positivo ou não.
– Vai sair? – Caroline entrou na minha frente.
– Vou, não vou demorar. – A abracei.
Sem mais perguntas deixei o prédio. Consegui um táxi
mesmo sabendo que não devia me gabar indo em um. Minhas mãos
estavam suando e meu coração batendo nos ouvidos. Vamos lá
Sara, é só Marcus Foster que você fez o papel ridículo de namorada
por algumas semanas e ele simplesmente te deixou no fim sem nem
ao menos dizer “até logo”. Desci uma quadra antes, andar me faria
pensar. Quando entrei notei que ele segurava duas sacolas e estava
próximo ao balcão, assim que ele me notou agradeceu a atendente
e veio em minha direção segurando meu braço e me levando para
fora, ele realmente chegou em dez minutos.
– O que está fazendo? – Perguntei.
– Não vamos conversar aqui. – Falou ainda sem soltar meu
braço ou me olhar.
Paramos ao lado de um Jeta prata. Ele abriu a porta
esperando que eu entrasse.
– Quer que eu vá a algum lugar com você? Primeiro, seja
educado usando palavras como: por favor e fazendo perguntas para
eu ter certeza se eu quero ir. – Falei o encarando e ele olhava para
o nada além da minha cabeça. Maldita altura. – Segundo, destrave
esse maxilar. – Mexi em seu queixo sentindo um choque em meus
dedos. E ele o relaxou. – E pare de ser infantil. – Cruzei os braços. –
É você que precisa de mim aqui.
Marcus soltou o ar lentamente. Eu não estava trabalhando
dessa vez.
– Certo. – Fechou os lutando para pelo que viria a seguir. –
Sara, você pode me acompanhar? – Ele parecia preferir a morte
como primeira opção.
– Para onde?
Me encarou.
– Meu apartamento.
Não!
– Marcus...
– Por favor? – Pediu.
– Eu acho...
– Eu usei a droga da educação. O que quer mais, porcaria!?
– Encarou o céu.
– Abaixe o tom e olhe para mim que estou à sua frente, não
há um raio de dez quilômetros ou voando. – Cutuquei seu peito. –
Não posso demorar. – Segurei a porta de seu carro.
– Outro compromisso? – Voltou a mim.
– Sim. Vou viajar. – Entrei, carro cheiroso e confortável.
Marcus ficou tenso depois que disse que iria viajar. A viagem
foi rápida até o prédio de classe média alta, eu sabia que ele estava
sendo humilde morando ali, ele poderia morar em um lugar muito
melhor.
Abriu a porta para mim e me chamou. Pegamos um elevador
até o seu andar.
Ele estava tão silencioso que isso estava começando a incomodar.
Quando abriu a porta do seu apartamento me deixou entrar
primeiro. Não era grande, era acoplado cozinha, sala e um corredor
que talvez daria para o quarto e banheiro. Me assustei com o
barulho das chaves sendo postas na mesa. Marcus deixou as
sacolas ali também e me fitou.
– Comprei um lanche. – Falou.
– Gentil da sua parte.
– Obrigado. – Fez uma careta.
Semicerrei os olhos para ele, o estudando.
– O que vamos conversar? – Perguntei.
– Pode se sentar.
Me sentei no sofá e ele fez o mesmo a meu lado. Marcus
voltou a ficar tenso, percebi pela força que usava em seu maxilar.
Ou como respirava, me fazia querer explodir também.
– Vai viajar para onde? Com quem? – Havia autoridade em
sua voz.
– Não foi para falar sobre mim que vim.
Cruzou os dedos. Não mesmo, mas a forma como me olhava
e falava me faria despejar tudo a sua frente e me tornaria uma
submissa bizarra em dois tempos.
– Por que sumiu? Mudou o número?
– Porque sim. E sim, mudei.
– Porque sim, não é resposta. – Me encarou. Aqueles olhos,
eu me lembrava de como me sentia idiota.
– É tudo o que terá.
Sorriu de lado.
– Não queria mais me ver? – Umedeceu os lábios rosados.
– Não é assim com todas? Não sei lidar com seu humor. –
Abri a sacola pegando um café. Marcus fez o mesmo pouco depois.
– Passamos quatro semanas juntos, eu estar aqui tendo essa
conversar depois de tudo não faz sentindo algum na minha cabeça.
Eu mal sabia se você ainda se lembrava do meu nome, ou sua
secretaria conseguiu lembra-lo?
– Sara...
– Não fomos amigos, Marcus. Não tivemos um longo tempo
de diálogos para isso. Soaria normal, se fosse profissional, mas não
é... estou em seu apartamento como... pessoa comum?
O silêncio se arrastou quando ele não me respondeu. Ele
sabia que eu tinha razão, de todas as pessoas a qual tive um
convívio, Marcus era o que mais sabia que esse momento não era
normal.
– Por que não quer o dinheiro?
– Apenas não quero. – Desviei meu olhar.
– Não precisa? – Questionou.
– Eu só não quero...isso tudo foi um erro. – Admiti. – Um erro
que fiz sem pensar.
Se encolheu.
– Eu sei que não sou legal.
– Que bom.
– Mas isso não quer dizer que eu nunca tenha sido. – Me
fitou. – Ou que não posso mudar as vezes.
Marcus não estava ajudando as coisas dentro da minha
cabeça. Não era possível um homem mexer tanto comigo como ele
estava fazendo, depois de me dar tantas coisas negativas a seu
respeito. Acho que era possível ouvir meu coração do outro lado da
rua só com a forma como ele me deixou.
– Quer me dizer o que o tornou esse ser desprezível? –Me
defendi das suas ações.
Deixando seu copo de lado, Marcus se levantou indo em
direção ao corredor, voltou com seu livro. Aquele livro que me
assustou. Se sentou e o abriu, pegou uma foto e me entregou. Eu
sabia quem era. A loira era Maggie, ela era linda. Seu sorriso e seus
olhos expressivos me confirmava o porque ele era completamente
apaixonado por ela, Maggie era vida.
– Maggie. – Sussurrou. – Minha esposa. –Eu queria filtrar a
dor em sua voz. Mas ela estava ali. – Ela morreu em um acidente de
carro. Eu a amava. – Falou segundo o queixo com uma mão
enquanto observava a foto.
Você a ama.
– Tínhamos planos, éramos felizes. Maggie era tudo o que
tinha de mais importante, tudo o que eu fazia era bom para ela. Ela
estava sempre ali...para tudo. E tudo o que tenho como lembrança é
um sorriso e um volto logo. E, ela não voltou.
Soltei o ar.
– Esse livro estava no carro. Dei a ela de aniversário. Ela
parou aqui. – Abriu a página. – Estava aberto...quando o acharam.
Ela o adorava. – Sorriu – Tentei de todas as maneiras, mas eu não
consigo esquecer. Eu vivo uma farsa. – Seu tom perdeu o humor. –
Me sinto uma bagunça ambulante, tentando ser o mais teatral
possível para todos.
– Você precisa aceitar.
– É tão fácil falar. – Riu sem humor. – Parece fácil para mim,
Malvin? – Meu nome brincou em seus lábios.
O silêncio voltou.
– Você foi diferente...você se importou.
– Sou apenas curiosa.
Fechou o livro o deixando na mesa. Ele estava chorando em
silêncio, as bordas de seus olhos vermelhas. Ele as secou e
suspirou. Eu não devia mostrar o quanto me importava, mas eu me
importava, estava me importando nas últimas semanas quando ele
se tornou mais do que uma curiosidade para mim.
– Você só precisa se abrir mais. – Sussurrei. – Procurar
ajuda... também ajuda.
– Não sou do tipo falante. – Deu de ombros. – Terapias são
inúteis, ninguém cura a dor da alma. Nem algumas horas de
conversas com alguém que as vezes nem está realmente se
importando.
– Que seja, apenas tente. Há pessoas que realmente querem
te escutar.
– Você quer? – Perguntou me encarando. Deus, o manda
parar de me olhar desse jeito. Assenti. – Eu não durmo. –
Sussurrou. – Sempre tento, mas acabo acordando no meio da noite.
– Por que?
– Eu sinto falta...um vazio. E revivo tudo e isso me perturba.
Eu nunca sei se é bom ou ruim. Então bebo e relaxo.
– A quanto tempo não dorme?
– Dois dias. As porcarias dos remédios queimam em meu
sistema antes de fazer efeito.
Era possível ver o cansaço em sua fisionomia, as olheiras
escuras, o olhar parado, a pele. A irritação.
– Remédios?
– Sim, as porcarias que causam dependência. Eu parei. –
Respirou fundo. – E acho que já tenho problemas demais para mais
um.
– Consciente pelo menos.
Mais silêncio.
– Vai viajar a trabalho? – Perguntou baixinho, sua perna
tocando a minha mesmo sob panos, conseguia sentir o calor de sua
pele.
– Não. Vou para casa dos meus pais até o Natal. –
Confessei.
Voltou a encarar o nada e ficamos assim. Seus olhos se
fecharam e lhe dei um tempo. Se eu fosse embora eu não voltaria
mais.
– Marcus? – Se assustou. – Está dormindo sentado. – Avisei.
– Me desculpe.
– Pedindo desculpas? Gosto disso. – Brinquei.
Sorriu.
– Está com muito sono?
– Não.
– Está mentindo. – Passou as mãos no rosto. – Quer que eu
te faça companhia?
Cala a droga da boca Sara!
– Você precisa dormir. – Sussurrei – Ou podemos só...ficar
em silêncio.
Sorriu, era inocente e doce.
– Me desculpe por isso. –Se levantou. – Não é sempre que
acontece.
– Tudo bem, eu entendo.
– Já que ofereceu sua ajuda, não vou nega-la. – Falou
levemente. – Acho que você estava certa. – Falou.
– Sobre?
Me encarou.
– Eu preciso de você.
O segui para o corredor onde uma porta estava aberta. No
quarto de Marcus tinha uma estante repleta de livros, uma cama
enorme e uma poltrona. Encarei tudo isso por um tempo antes de
me mexer. As paredes eram de um tom claro, seu jogo de cama
combinava entre tons escuros e leves.
Marcus tirou o sapato e se sentou na beirada da cama. Fiz o
mesmo, esperando que se deitasse o que aconteceu longos
segundos depois. Fiquei encostada apenas encarando a parede
branca a minha frente.
Quando o fitei, seus olhos encaravam o teto, as mãos sobre a
barriga.
Então tomei a liberdade de me deitar a seu lado. Uma lágrima
dolorosa e silenciosa descia no canto de seu olho. Me virei de lado e
sequei com a ponta do dedo e isso o pegou de surpresa, ele fechou
os olhos. Era tudo tão estranho, que estava tentando me lembrar se
bebi antes de sair de casa.
Levei a mão em seu cabelo, como desejei isso novamente.
Seus olhos se abriram e fecharam mais uma vez e continuei a
acaricia-los lentamente. Ele se aproximou mais seu corpo de lado,
sua respiração em meu pescoço, quente. Encostei o queixo em sua
cabeça.
– Me desculpe por antes. – Pediu. – Quando a levei comigo
para conhecer minha família... eu não esperava que você fosse
assim... eu só... Você não me pareceu assim.
Meu corpo ficou tenso.
– Seu julgamento foi apenas adiantado.
– Eu costumo fazer isso... e não me arrepender. Mas agora...
abrindo uma exceção eu me arrependi.
Contive um sorriso.
– Tudo bem, Marcus. Pode dormir agora. – Sussurrei – Eu
não vou a lugar algum. – Ainda.
Acordei sozinha e não era sonho, dormi na mesma cama que
Marcus. Pior, dormi de um jeito íntimo para duas pessoas que até
então não pareciam dividir o mesmo santo. Passei as mãos no
cabelo o ajeitando – ou tentando desatar os nós. Calcei meu sapato
e saí do quarto entrando no banheiro ao lado. Lavei o rosto e usei
sua pasta de dente, eu não precisava mostrar a versão fera em
plena manhã. Mesmo ele já tendo visto, eu acho. O encontrei na
cozinha, as manhãs sempre serão as partes constrangedoras do
dia. Pigarreei e ele me viu. Ótimo.
– Bom dia. – Sussurrei.
– Bom dia.... eu...fiz o café. – Falou tímido. Encarei suas
roupas de flanela e seu cabelo fora do lugar antes de me voltar à
mesa para dois.
– Obrigada. – Sorri, meu estomago dando sinal de vida. –
Como dormiu?
– Ótimo. – Encarou a mesa.
Sorri. Ele dormiu bem.
– Podemos conversar? – Perguntou afastando uma cadeira
na mesa para me sentar.
Assenti em dúvida. Marcus deu a volta e se sentou. Me serviu
antes de se voltar a ele.
– Pode falar.
Respirou fundo.
– Sei que não vai passar o natal comigo. – Havia um toque
decepcionado em sua voz. – Queria fazer uma proposta.
– Qual?
Girou a xícara em sua mão.
– Quer ser minha amiga?
Deixei a risada escapar.
– Me desculpe. Essa é a proposta?
– Mais ou menos. – Fez uma careta.
– Qual é a proposta? – Matei meu humor.
Fechou os olhos e os abriu.
– Eu não contei a minha família que “terminamos” – Fez
aspas – Pela primeira vez quero estar com eles de alguma forma,
sem pressão, sem dor de cabeça e sem farsa. – Falou – Me dei um
tempo livre.
– Isso é bom. – Bebi meu café.
–Estava pensando em ir para o norte. Voltaria dois dias antes
do natal. Você poderia remarcar sua viagem, o plano não mudaria. –
Divagou.
– Marcus. – Me encarou – Está me propondo outra viagem? –
Soltei minha xícara.
Assentiu.
– Da primeira...
– Vai ser diferente. – Se apressou. – Eu não quero Nora ou
meus pais. Ou outra pessoa. Eles já me conhecem e me sondam.
Eu só preciso de um pouco de tempo. Estou pagando pela minha
língua, mas a única pessoa que conseguiu me manter de uma forma
aceitável por um tempo foi você. Não estaria aqui se não soubesse
disso. Só preciso da sua companhia, de alguém que realmente
tenha aceitado a mim.
– Pensei que odiasse minha companhia.
– Eu também. – Fez uma careta.
Você vai se arrepender disso.
– Quando?
– Amanhã, voltamos em oito dias, te deixo no aeroporto e
você...viaja. Isso não é um segundo contrato, mas podemos fazer
outro caso queira – Estendeu a mão. – Fechado?
– Fechado, sem brigas, sem surtos, sem se isolar e não. Eu
não quero um novo contrato, Marcus. Isso me limita um pouco eu
ser quem eu sou. Sem estragar as coisas e sem me arrepender.
– Esse é o plano. – Sorriu. Isso era o que eu desejava.
11
100...
108...
213...
256...
358...
372...
218...
246...
300...
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°°°
°°°
– Aqui está, tudo o que conseguimos com a venda das
roupas.
– Tirou o seu, mãe?
Ela me encarou.
– É seu, querida. Não quero nada.
– Mãe...
– Está tudo bem. Já decidiu se vai ficar? Você trabalha para o
Tom, Victor te conseguiu um trabalho extra na cafeteria, isso não
está bom?
– Eu não sei mãe. Talvez, Washington. Eu gosto de Seattle.
– Não se esqueça que sua família está aqui.
– Não vou.
08/01/2014
De: Marcus
Para: Sara
20/01/2014
Faz dias que não a vejo, que passo as horas na porta do seu
prédio esperando que você apareça. Eu não consigo dormir e me
sinto um completo idiota por tudo o que fiz. Simplesmente posso
esquecer todas as mentiras que nos envolve, todos os erros se você
me deixar tentar de novo. Queria poder ter dito naquele momento
em que me pediu para ficar que eu também a amo, isso não é um
blefe, não é posse. Eu simplesmente sei que a amo, de um jeito que
estou tentando colocá-lo como certo. Já tentei outras vezes, fiz
estragos irreparáveis e prefiro me machucar a te machucar. Antes
eu chamava por ela, hoje minhas noites em claro é falando com ela,
pedindo ajuda para tê-la de volta. Para te ter de volta.
Ps: quero que leia isso... um dia.
De: Marcus
Para: Sara
28/01/2014
Onde você se enfiou? Por que não volta? Você não sente a
minha falta como sinto a sua? Você não me ama mais? Esperou
realmente eu descobrir isso para sumir? Tenho tantas perguntas
para fazer, coisas para dizer. Mas não sei como, porque sinto que
você me odeia agora.
De: Marcus
Para: Sara
04/02/2014
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Marcus.
Fim
AGRADECIMENTOS
Onde me encontrar:
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Outras obras:
Na estrada
Vidas Cruzadas
Esposa de Mentirinha