Recuperação 2ºa Português

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COLÉGIO ESTADUAL EUCLIDES DA CUNHA – EFMN

Aluno (a): Nº: Série/turma:


Professor: ELIANA GAVA Disciplina: LÍNGUA PORTUGUESA Data: /_/ _
RECUPERAÇÃO- 2ºA – 3ºTRIMESTRE – VALOR: 5,0

(A) às brigas por amor.


(B) às mentiras inocentes.
D1 ––––––––– QUESTÃO 01 ––––––––––– (C) às reconciliações felizes.
Namoro (D) aos apelidos carinhosos.
O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Vocês (E) aos telefonemas intermináveis.
dois no telefone:
— Desliga você.
— Não, desliga você. D3 ––––––––– QUESTÃO 02 –––––––––––
— Você. Todo ponto de vista é a vista de um ponto
— Você.
— Então vamos desligar juntos.
Ler significa reler e compreender,
— Tá. Conta até três.
interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E
— Um... Dois... Dois e meio...
interpreta a partir de onde os pés pisam.
Ridículo agora, porque na hora não era não.
Todo ponto de vista é um ponto. Para
Na hora nem os apelidos secretos que vocês
entender como alguém lê, é necessário saber
tinham um para o outro, lembra? Eram ridículos.
como são seus olhos e qual é sua visão de
Ronron.
mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. Gongonha
A cabeça pensa a partir de onde os pés
(Gongonhal) Mamosa. Purupupuca...
pisam. Para compreender, é essencial conhecer
Não havia coisa melhor do que passar tardes
o lugar social de quem olha. Vale dizer: como
inteiras num sofá, olho no olho, dizendo:
alguém vive, com quem convive, que
— As dondozeira ama os dondozeiro?
experiências tem, em que trabalha, que desejos
— Ama.
alimenta, como assume os dramas da vida e da
— Mas os dondozeiro ama as dondozeira
morte e que esperanças o animam. Isso faz da
mais do que as dondozeira ama os dondozeiro.
compreensão sempre uma interpretação.
Na-na-não. As dondozeira ama os
Boff, Leonardo. A águia e a galinha. 4ª ed. RJ: Sextante, 1999.
dondozeiro mais do que, etc.
E, entremeando o diálogo, longos beijos, A expressão “com os olhos que tem” (ℓ.2), no
profundos beijos, beijos mais do que de línguas, texto, tem o sentido de
beijos de amígdalas, beijos catetéricos. Tardes (A) enfatizar a leitura.
inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca (B) incentivar a leitura.
mais. (C) individualizar a leitura.
Depois de ridículo, o melhor do namoro são (D) priorizar a leitura.
as brigas. Quem diz que nunca, como quem não (E) valorizar a leitura.
quer nada, arquitetou um encontro casual com a
ex ou o ex só para ver se ela ou ele está com
alguém, ou para fingir que não vê, ou para ver e
ignorar, ou para dar um abano amistoso D4 ––––––––– QUESTÃO 03 –––––––––––
querendo dizer que ela ou ele agora significa tão Motoristas de batom conquistam a Urca
pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Moradores aprovam adoção de mulheres
Ah, está mentindo. na linha 107 Batom, lápis nos olhos, brincos. Foi
E melhor do que as brigas são as a essa mistura que a empresa Amigos Unidos
reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelou para contornar as constantes
apelidos ainda mais lamentáveis, vistos de longe. reclamações dos moradores da Urca contra os
A gente brigava mesmo era para se reconciliar motoristas da linha 107 (Central-Urca). Há um
depois, lembra? Oito entre dez namorados mês, a empresa removeu sete mulheres de
transam pela primeira vez fazendo as pazes. outros trajetos para formar um time de primeira
Não estou inventando. O IBGE tem as linha. “O público da Urca é muito exigente.” Os
estatísticas. passageiros reclamavam que os motoristas
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999. homens não paravam no ponto e dirigiam de
forma perigosa. “Agora só recebemos elogios”,
No texto, considera-se que o melhor do namoro contou o gerente de Recursos Humanos da
é o ridículo associado: empresa, Mario Mattos.
Elogios que, às vezes, não se limitam ao combater doenças de fazer inveja à própria
desempenho profissional. “Hoje (ontem), um indústria de material bélico nacional. Cerca de
homem falou que queria ser o meu volante”, 40% das vendas realizadas pelas farmácias nas
contou a motorista Ana Paula da Silva, 24 anos. metrópoles brasileiras destinam-se a pessoas
Na empresa há três meses, Ana Paula da Silva que se automedicam. A indústria farmacêutica de
faz da profissão uma forma de dar carinho a menor porte e importância retira 80% de seu
idosos e deficientes – os que mais têm difi- faturamento da venda “livre” de seus produtos –
culdades para entrar nos ônibus. “Às vezes, isto é, das vendas realizadas sem receita
levanto para ajudar alguém a descer. Já parei o médica.
carro para atravessar a rua com um deficiente Diante desse quadro, o médico tem o dever
visual”, contou. de alertar a população para os perigos ocultos
Casada com um motorista de ônibus, em cada remédio, sem que, necessariamente,
Márcia Cristina Pereira, 38 anos, diz que não faça junto com essas advertências uma sugestão
enfrenta dificuldades com os colegas de para que os entusiastas da automedicação
profissão, ainda que reconheça que, no começo, passem a gastar mais em consultas médicas.
a desconfiança não foi pequena. “Eles me dão Acredito que a maioria das pessoas se auto-
força. Recebo muitos elogios”, disse. Ao medicam por sugestão de amigos, leitura,
contrário de Márcia, a motorista Janaína de fascinação pelo mundo maravilhoso das drogas
Lima, 32 anos, diz que se relaciona bem com “novas” ou simplesmente para tentar manter a
todos os colegas, mas acha que já há juventude. Qualquer que seja a causa, os
competição. “Falta muito para os homens se resultados podem ser danosos.
relacionarem bem com os idosos e deficientes”, MEDEIROS, Geraldo. – Revista Veja, 18 de dezembro, 1985.
comparou. Morador da Urca há 25 anos, Ednei
Bernardes aprovou a adoção de motoristas O tema abordado no texto é
mulheres no bairro. “Elas respeitam mais as (A) os riscos constantes da automedicação.
pessoas e as leis de trânsito”, resumiu. (B) o crescimento da indústria farmacêutica.
JB, 23/07/02 – Cidade. C1. (C) a venda ilegal de medicamentos.
(D) a luta pela manutenção da juventude.
Um dos usuários do ônibus concluiu: (E) o faturamento das consultas médicas.
“Elas respeitam muito mais as pessoas e as leis
do trânsito.”Tal afirmativa, no contexto, permite
concluir que D14 ––––––––– QUESTÃO 05 –––––––––––
(A) as empresas de ônibus preferem os Não se perca na rede
serviços da mulher.
(B) os homens são grosseiros e A Internet é o maior arquivo público do
desrespeitam as lei de trânsito. mundo. De futebol a física nuclear, de cinema a
(C) os idosos e deficientes passam a biologia, de religião a sexo, sempre há centenas
receber um tratamento melhor. de sites sobre qualquer assunto. Mas essa
(D) os homens criam mais problemas com avalanche de informações pode atrapalhar.
colegas de profissão. Como chegar ao que se quer sem perder
(E) a população da Urca tornou-se exigente tempo? É para isso que foram criados os
no transporte urbano. sistemas de busca. Porta de entrada na rede
para boa parte dos usuários, eles são um filão
tão bom que já existem às centenas também.
D6 ––––––––– QUESTÃO 04 ––––––––––– Qual deles escolher? Depende do seu objetivo
Um arriscado esporte nacional de busca.
Há vários tipos. Alguns são genéricos,
Os leigos sempre se medicaram por conta feitos para uso no mundo todo (Google, por
própria, já que de médicos e de loucos todos exemplo). Use esse site para pesquisar temas
temos um pouco, mas esse problema jamais universais. Outros são nacionais ou estrangeiros
adquiriu contornos tão preocupantes no Brasil com versões específicas para o Brasil (Cadê,
como atualmente. Qualquer farmácia conta hoje Yahoo e Altavista). São ideais para achar
com um arsenal de armas de guerra para páginas “com.br”.

2
(Paulo D’Amaro) Disponível em:
<http://galileu.globo.com/edic/116/rep_intern D12 ––––––––– QUESTÃO 07 –––––––––––
et.htm>. Acesso em Julho /2008. Qual a origem do doce brigadeiro?
O artigo foi escrito por Paulo D’Amaro. Ele Em 1946, seriam realizadas as primeiras
misturou informações e análises do fato. eleições diretas para presidente após os anos do
O período que apresenta uma opinião do autor “Estado Novo”, de Getúlio Vargas. O candidato
é da aliança PTB/PSD, Eurico Gaspar Dutra,
(A) “foram criados sistemas de busca.” venceu com relativa folga. Mas o título de maior
(B) “essa avalanche de informações pode originalidade na campanha ficou para as
atrapalhar.” correligionárias do candidato derrotado, Eduardo
(C) “sempre há centenas de sites sobre Gomes (da UDN).
qualquer assunto.” Brigadeiro da Aeronáutica, com pinta de
(D) “A internet é o maior arquivo público do galã, Eduardo Gomes tinha um apoio, digamos,
mundo.” entusiasmado. Para fazer o “corpo-a-corpo” com
(E) “Há vários tipos.” o eleitorado, senhoras da sociedade saiam às
ruas convocando as mulheres a votar em
Gomes, com o slogan: “Vote no brigadeiro. Ele é
D5 ––––––––– QUESTÃO 06 ––––––––––– bonito e solteiro”. Não satisfeitas ainda
promoviam almoços e chás, nos quais serviam
um irresistível docinho coberto com chocolate
granulado. Ao qual deram o nome, claro, de
brigadeiro.
Almanaque das curiosidades, p. 89.

A finalidade desse gênero de texto é


(A) propor mudanças.
(B) refutar um argumento.
(C) advertir as pessoas.
(D) trazer uma informação.
(E) orientar procedimentos.

D20 ––––––––– QUESTÃO 08 –––––––––––


Texto I

“Sou completamente a favor da flexibilização das


relações trabalhistas, pois a velhíssima
legislação brasileira, além de anacrônica, vem
A respeito da tirinha da Mafalda, é correto comprometendo seriamente a nossa
afirmar que ela: competitividade em nível global.”

(A) gosta do Natal pelo mesmo motivo de sua Texto II


amiga.
(B) pensa em resposta à pergunta da amiga. “É uma falácia dizer que com a eliminação dos
(C) concorda com a forma de pensar de sua direitos trabalhistas se criarão mais empregos. O
amiga. trabalhador brasileiro já é por demais castigado
(D) e a amiga têm as mesmas opiniões. para suportar mais essa provocação.”
(E) percebe que a amiga não compreendeu O Povo, 17 abr. 1997.
sua fala.
Os textos acima tratam do mesmo assunto, ou
seja, da relação entre patrão e empregado. Os
3
dois se diferenciam, porém, pela abordagem Sobre o “casamento arranjado”, o texto I e o
temática. O texto II em relação ao texto I texto II apresentam opiniões:
apresenta uma: (A) complementares.
(A) ironia. (B) duvidosas.
(B) semelhança. (C) opostas.
(C) oposição. (D) preconceituosas.
(D) aceitação. (E) semelhantes.
(E) confirmação. D ––––––––– QUESTÃO 10 –––––––––––
Anedotinhas

D21 ––––––––– QUESTÃO 09 ––––––––––– De manhã, o pai bate na porta do quarto do


filho:
Texto I
— Acorda, meu filho. Acorda, que está na
Tio Pádua
hora de você ir para o colégio.
Tio Pádua e tia Marina moravam em
Lá de dentro, estremunhando, o filho
Brasília. Foram um dos primeiros. Mudaram-se
respondeu:
para lá no final dos anos 50. Quando Dirani, a
— Ai, eu hoje não vou ao colégio. E não
filha mais velha, fez dezoito anos, ele saiu pelo
vou por três razões: primeiro, porque eu estou
Brasil afora atrás de um primo pra casar com ela.
morto de sono; segundo, porque eu detesto
Encontrou Jairo, que morava em Marília. Estão
aquele colégio; terceiro, porque eu não agüento
juntos e felizes até hoje. Jairo e Dirani casaram-
mais aqueles meninos.
se em 1961. Fico pensando se os casamentos
E o pai responde lá de fora:
arranjados não têm mais chances de dar certo
— Você tem que ir. E tem que ir,
do que os desarranjados.
Ivana Arruda Leite. Tio Pádua. Internet: exatamente, por três razões: primeiro, porque
http://www.doidivana.zip net. Acesso em você tem um dever a cumprir; segundo, porque
07/01/2007. você já tem 45 anos; terceiro, porque você é o
diretor do colégio.
Anedotinhas do Pasquim. Rio de Janeiro: Codecri, 1981, p. 8.
Texto II
O casamento e o amor na Idade Média No trecho “Acorda, que está na hora de você ir
para o colégio” (ℓ. 2), a palavra sublinhada
(fragmento) estabelece relação de
(A) adição.
Nos séculos IX e X, as uniões matrimoniais (B) alternância.
eram constantemente combinadas sem o (C) conclusão.
consentimento da mulher, que, na maioria das (D) explicação.
vezes, era muito jovem. Sua pouca idade era um (E) oposição.
dos motivos da falta de importância que os pais
davam a sua opinião. Diziam que estavam
conseguindo o melhor para ela. Essa total falta
de importância dada à opinião da mulher D2 ––––––––– QUESTÃO 11 –––––––––––
resultava muitas vezes em raptos. Como o Sermão do Mandato
consentimento da mulher não era exigido, o
raptor garantia o casamento e ela deveria O primeiro remédio que dizíamos, é o
permanecer ligada a ele, o que era bastante tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer,
difícil, pois os homens não davam importância à tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o
fidelidade. Isso acontecia talvez principalmente tempo a colunas de mármore, quanto mais a
pelo fato de a mulher não poder exigir nada do corações de cera? São as afeições como as
homem e de não haver uma conduta moral que vidas, que não há mais certo de haverem de
proibisse tal ato. durar pouco, que terem durado muito. São como
Ingo Muniz Sabage. O casamento e o amor na Idade Média. as linhas, que partem do centro para a
Internet:http://www.milenio.com.br/ingo/ideias/hist/casament
.htm>. Acesso em 07/01/2007 (com adaptações). circunferência, que tanto mais continuadas, tanto
menos unidas. Por isso os Antigos sabiamente
pintaram o amor menino; porque não há amor

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tão robusto que chegue a ser velho. De todos os desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros,
instrumentos com que o armou a natureza, o nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades,
desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já na procura de amor e de importância, na caça ao
não atira; embota-lhe as setas, com que já não dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas
fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não as grandes cidades do mundo o rio é a única a
via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele
foge. A razão natural de toda esta diferença, é estava ali num desses limites entre a cidade dos
porque o tempo tira a novidade às cousas, homens e a natureza pura; ainda pensava em
descobre-lhe defeitos, enfastia-lhe o gosto, e seus pro-blemas urbanos - mas um camaleão
basta que sejam usadas para não serem as correu de súbito, um passarinho piou triste em
mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto algum ramo, e o homem ficou atento àquela
mais amor? O mesmo amor é a causa de não humilde vida animal e também à vida silenciosa e
amar, e o de ter amado muito, de amar menos. úmida das árvores, e à pedra escura, com sua
VIEIRA, Antônio. Sermão do Mandato. In: Sermões. 8. ed. Rio de pele de musgo e seu misterioso coração mineral.
Janeiro: Agir, 1980.
ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga.
São Paulo: Editora Global Ltda, 1985.
Em “... para não serem as mesmas...” (ℓ.12), a
expressão destacada refere-se a
No texto, o elemento que gera a história
(A) afeições.
narrada é
(B) asas.
(A) a preocupação do homem com os
(C) cousas.
problemas alheios.
(D) linhas.
(B) a proximidade entre a casa do homem e o
(E) setas.
morro com mato viçoso.
D10 ––––––––– QUESTÃO 12 ––––––––––– (C) o desejo do homem de buscar alento
próximo da natureza.
O Mato (D) o toque insistente do telefone em uma
Veio o vento frio, e depois o temporal casa fechada e silenciosa.
noturno, e depois da lenta chuva que passou toda (E) os ruídos vespertinos da cidade, com seus
a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes murmúrios constantes.
durante o dia, a cidade entardeceu em brumas.
Então o homem esqueceu o trabalho e as D11 –––––––– QUESTÃO 13 –––––––––––
promissórias, esqueceu a condução e o telefone
e o asfalto, e saiu andando lentamente por O Quiromante
aquele morro coberto de um mato viçoso, perto
de sua casa. O capim cheio de água molhava seu Há muitos anos atrás, havia um rapaz
sapato e as pernas da calça; o mato escurecia cigano que, nas horas vagas, ficava lendo as
sem vaga-lumes nem grilos. linhas das mãos das pessoas.
Pôs a mão no tronco de uma árvore O pai dele, que era muito austero no que
pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos dizia respeito à tradição cigana de somente as
cabelos e na cara as gotas de água como se mulheres lerem as mãos, dizia sempre para ele
fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade não fazer isso, que não era ofício de homem,
murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, que fosse fazer tachos, tocar música, comerciar
ranger de bondes, buzinar impaciente de carros, cavalos.
vozes indistintas; mas ele via apenas algumas E o jovem cigano teimava em ser
árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali quiromante. Até que um dia ele foi ler a sorte de
perto, dentro de uma casa fechada, um telefone uma pessoa e, quando ela se virou de frente, ele
batia, silenciava, batia outra vez, interminável, viu, assustado, que ela não tinha mãos.
paciente, melancólico. Alguém, com certeza já A partir daí, abandonou a quiromancia.
sem esperança, insistia em querer falar com PEREIRA, Cristina da Costa. Lendas e
alguém. histórias ciganas. Rio de Janeiro: Imago,
Por um instante o homem voltou seu 1991.

pensamento para a cidade e sua vida. Aquele


telefone tocando em vão era um dos milhões de
atos falhados da vida urbana. Pensou no
5
O trecho “A partir daí, abandonou a quiromancia” O teatro da etiqueta
(ℓ. 14) apresenta, com relação ao que foi dito no
parágrafo anterior, o sentido de No século XV, quando se instalavam os
(A) comparação. Estados nacionais e a monarquia absoluta na
(B) condição. Europa, não havia sequer garfos e colheres nas
(C) conseqüência. mesas de refeição: cada comensal trazia sua
(D) finalidade. faca para cortar um naco da carne – e, em caso
(E) oposição. de briga, para cortar o vizinho. Nessa Europa
bárbara, que começava a sair da Idade Média,
em que nem os nobres sabiam escrever, o poder
D15 ––––––––– QUESTÃO 14 –––––––––––
do rei devia se afirmar de todas as maneiras aos
Câncer olhos de seus súditos como uma espécie de
teatro. Nesse contexto surge a etiqueta,
As novas frentes de ataque marcando momento a momento o espetáculo da
realeza: só para servir o vinho ao monarca havia
A ciência chega finalmente à fase de atacar um ritual que durava até dez minutos.
o mal pela raiz sem efeito colateral. Quando Luís XV, que reinou na França de
1715 a 1774, passou a usar lenço não como
A luta contra o câncer teve grandes vitórias simples peça de vestuário, mas para limpar o
nas últimas décadas do século 20, mas deve-se nariz, ninguém mais na corte de Versalhes ousou
admitir que houve também muitas esperanças de assoar-se com os dedos, como era costume. Mas
cura não concretizadas. Após sucessivas todas essas regras, embora servissem para
promessas de terapias revolucionárias, o século diferenciar a nobreza dos demais, não tinham a
21 começou com a notícia de uma droga petulância que a etiqueta adquiriu depois. Os
comprovadamente capaz de bloquear pela raiz a nobres usavam as boas maneiras com naturali-
gênese de células tumorais. Ela foi anunciada em dade, para marcar uma diferença política que já
maio deste ano, na cidade de San Francisco, no existia. E representavam esse teatro da mesma
EUA, em uma reunião com a presença de cerca forma para todos. Depois da Revolução
de 26 mil médicos e pesquisadores. A genética, Francesa, as pessoas começam a aprender
que já vinha sendo usada contra o câncer em etiqueta para ascender socialmente. Daí por que
diagnósticos e avaliações de risco, conseguiu, ela passou a ser usada de forma desigual – só na
pela primeira vez, realizar o sonho das drogas hora de lidar com os poderosos.
“inteligentes”: impedir a formação de tumores. Revista Superinteressante, junho 1988, nº 6 ano 2.
Com essas drogas, será possível combater a
doença sem debilitar o organismo, como ocorre Nesse texto, o autor defende a tese de que
na radioterapia e na quimioterapia convencional. (A) a etiqueta mudou, mas continua associada
O próximo passo é assegurar que as aos interesses do poder.
células cancerosas não se tornem resistentes à (B) a etiqueta sempre foi um teatro
medicação. São, portanto, várias frentes de apresentado pela realeza.
ataque. Além das mais de 400 drogas em testes, (C) a etiqueta tinha uma finalidade
aposta-se no que já vinha dando certo, como a democrática antigamente.
prevenção e o diagnóstico precoce. (D) as classes sociais se utilizam da etiqueta
Revista Galileu. Julho de 2001, p. 41. desde o século XV.
(E) as pessoas evoluíram a etiqueta para
O conectivo “portanto”, (ℓ. 21), estabelece com as descomplicá-la.
idéias que o antecedem uma relação de:
(A) adversidade. D8 ––––––––– QUESTÃO 16 –––––––––––
(B) conclusão.
(C) causa. A língua está viva
(D) comparação.
(E) finalidade. Ivana Traversim
Na gramática, como muitos sabem e outros
D7 ––––––––– QUESTÃO 15 ––––––––––– nem tanto, existe a exceção da exceção. Isso
não quer dizer que vale tudo na hora de falar ou
6
escrever. Há normas sobre as quais não quais problemas podem acontecer com as
podemos passar, mas existem também as pessoas.
preferências de determinado autor – regras que A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o
não são regras, apenas opções. De vez em primeiro ser vivo a ir ao espaço, em novembro de
quando aparece alguém querendo fazer dessas 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o
escolhas uma regra. Geralmente são os que não astronauta Gagarin.
estão bem inteirados da língua e buscam Os norte-americanos gostam de fazer
soluções rápidas nos guias práticos de redação. experiências científicas espaciais com macacos,
Nada contra. O problema é julgar inquestionáveis pois o corpo deles se parece com o humano. O
as informações que esses manuais contêm, chimpanzé é o preferido porque é inteligente e
esquecendo-se de que eles estão, na maioria convive melhor com o homem do que as outras
dos casos, sendo práticos – deixando para as espécies de macacos. Ele aprende a comer
gramáticas a explicação dos fundamentos da alimentos sintéticos e não se incomoda com a
língua portuguesa. roupa espacial.
(...) Além disso, os macacos são treinados e
Com informação, vocabulário e o auxílio da podem fazer tarefas a bordo, como acionar os
gramática, você tem plenas condições de comandos das naves, quando as luzes coloridas
escrever um bom texto. Mas, antes de se acendem no painel, por exemplo.
aventurar, considere quem vai ler o que você Enos foi o mais famoso macaco a viajar
escreveu. A galera da faculdade, o pessoal da para o espaço, em novembro de 1961, a bordo
empresa ou a turma da balada? As linguagens da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve
são diferentes. problemas, mas ele voltou são e salvo, depois de
Afinal, a língua está viva, renovando-se ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter
sem parar, circulando em todos os lugares, em comido muito depressa as pastilhas de banana
todos os momentos do seu dia. Estar antenado, durante as refeições.
ir no embalo, baixar um arquivo, clicar no ícone – (Folha de São Paulo, 26 de janeiro de 1996)
mais que expressões – são maneiras de se
inserir num grupo, de socializar-se. Entre as informações do texto acima, uma das
(Você S/A, jun. 2003.) principais é que
(A) o chimpanzé mais famoso viajou para o
A tese da dinamicidade da língua comprova-se espaço a bordo da Mercury-Atlas 5.
pelo fato de que: (B) os cientistas descobrem problemas que
(A) as regras gramaticais podem transformar- podem acontecer com as pessoas.
se em exceção. (C) a cadela Laika viajou ao espaço quatro
(B) a gramática permite que as regras se anos depois de Gagarin.
tornem opções. (D) a viagem do mais famoso macaco para o
(C) a língua se manifesta em variados espaço aconteceu em 1961.
contextos e situações. (E) na nave espacial serviam pastilhas de
(D) os manuais de redação são práticos para banana durante as refeições.
criar idéias.
(E) é possível buscar soluções praticas na D16 ––––––––– QUESTÃO 18 –––––––––––
hora de escrever.
Prova falsa
D9 ––––––––– QUESTÃO 17 ––––––––––– Quem teve a idéia foi o padrinho da caçula
Animais no espaço — ele me conta. Trouxe o cachorro de presente
e logo a família inteira se apaixonou pelo bicho.
Vários animais viajaram pelo espaço como Ele até que não é contra isso de se ter um
astronautas. animalzinho em casa, desde que seja obediente
e com um mínimo de educação.
Os russos já usaram cachorros em suas — Mas o cachorro era um chato —
experiências. Eles têm o sistema cardíaco desabafou.
parecido com o dos seres humanos. Estudando o Desses cachorrinhos de caça, cheios de
que acontece com eles, os cientistas descobrem nhenhenhém, que comem comidinha especial,

7
precisam de muitos cuidados, enfim, um chato PONTE PRETA, Stanislaw. Para gostar de ler. Gol de padre e
outras crônicas. São Paulo: Ática, 1998. v. 23. p. 24-25.
de galocha. E, como se isto não bastasse,
implicava com o dono da casa.
O que gera humor no texto é o fato de:
— Vivia de rabo abanando para todo
(A) a família se apaixonar pelo cachorro.
mundo, mas quando eu entrava em casa vinha
(B) a mulher dizer que nunca houve cachorro
logo com aquele latido fininho e antipático, de
fingido.
cachorro de francesa.
(C) o cachorro fazer pipi onde não devia.
Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava
(D) o dono da casa achar o cachorro um
certos políticos da oposição, que espinafram o
chato.
ministro, mas quando estão com o ministro,
(E) o pipi feito no vestido novo não ser do
ficam mais por baixo que tapete de porão.
cachorro.
Quando cruzavam num corredor ou qualquer
outra dependência da casa, o desgraçado
rosnava ameaçador, mas quando a patroa D17 ––––––––– QUESTÃO 19 –––––––––––
estava perto, abanava o rabinho, fingindo-se seu
A culpa é do dono?
amigo.
— Quando eu reclamava, dizendo que o A reportagem “Eles estão soltos” (17 de
cachorro era um cínico, minha mulher brigava janeiro), sobre os cães da raça pit bull que
comigo, dizendo que nunca houve cachorro passeiam livremente pelas praias cariocas,
fingido e eu é que implicava com o “pobrezinho”. deixou leitores indignados com a defesa que seus
Num rápido balanço poderia assinalar: o criadores fazem de seus animais. Um deles dizia
cachorro comeu oito meias suas, roeu a manga que os cães só se tornam agressivos quando
de um paletó de casemira inglesa, rasgara algum movimento os assusta. Sandro Megale
diversos livros, não podia ver um pé de sapato Pizzo, de São Carlos, retruca que é difícil saber
que arrastava para locais incríveis. A vida lá em quais de nossos movimentos “assustariam” um
sua casa estava se tornando insuportável. pit bull. De Siegen, na Alemanha, a leitora Regina
Estava vendo a hora em que se desquitava por Castro Schaefer diz que pergunta a si mesma
causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo que tipo de gente pode ter como animal de
embora umas vinte vezes e era uma choradeira estimação um cachorro que é capaz de matar e
das crianças e uma espinafração da mulher. desfigurar pessoas.
— Você é um desalmado — disse ela, uma Veja, Abril. 28/2/2001.
vez.
Venceu a guerra fria com o cachorro O que sugere o uso de aspas na palavra
graças à má educação do adversário. O “assustariam”?
cãozinho começou a fazer pipi onde não devia. (A) raiva.
Várias vezes exemplado, prosseguiu no feio (B) ironia.
vício. Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez (C) medo.
duas na boneca da filha maior. Quatro ou cinco (D) insegurança.
vezes fez nos brinquedos da caçula. E tudo (E) ignorância.
culminou com o pipi que fez em cima do vestido
novo de sua mulher.
— Aí mandaram o cachorro embora? — D16 ––––––––– QUESTÃO 20 –––––––––––
perguntei.
— Mandaram. Mas eu fiz questão de dá-lo Leite
de presente a um amigo que adora cachorros.
Ele está levando um vidão em sua nova Vocês que têm mais de 15 anos, se
residência. lembram quando a gente comprava leite em
— Ué... mas você não o detestava? Como garrafa, na leiteria da esquina? (...)
é que ainda arranjou essa sopa pra ele? Mas vocês não se lembram de nada, pô!
— Problema de consciência — explicou: O Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem o que é
pipi não era dele. leite. Estou falando isso porque agora mesmo
E suspirou cheio de remorso. peguei um pacote de leite − leite em pacote,
imagina, Tereza! − na porta dos fundos e estava
escrito que é pasterizado ou pasteurizado, sei lá,
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tem vitamina, é garantido pela embromatologia,
foi enriquecido e o escambau.
Será que isso é mesmo leite? No dicionário
diz que leite é outra coisa: “líquido branco,
contendo água, proteína, açúcar e sais minerais”.
Um alimento pra ninguém botar defeito. O ser
humano o usa há mais de 5.000 mil anos. É o
único alimento só alimento. A carne serve pro
animal andar, a fruta serve para fazer outra fruta,
o ovo serve pra fazer outra galinha (...) O leite é
só leite. Ou toma ou bota fora.
Esse aqui examinando bem, é só pra botar
fora. Tem chumbo, tem benzina, tem mais água
do que leite, tem serragem, sou capaz de jurar
que nem vaca tem por trás desse negócio.
Depois o pessoal ainda acha estranho que
os meninos não gostem de leite. Mas, como não
gostam? Não gostam como? Nunca tomaram!
Múúúúúúú!
Millôr Fernandes. O Estado de São Paulo. 22/08/1999.

Ao criar a palavra “embromatologia” (ℓ. 6), o


autor pretendeu ser:
(A) conciso.
(B) sério.
(C) formal.
(D) cordial.
(E) irônico.

1 A B C D E
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