Descritores D8,9,17,21,22,23
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Área interna
Morava no terceiro andar [...]: não havia vizinho, do quarto andar para cima, que não jogasse lixo na sua área.
Sua mulher era uma dessas conformadas que só existem duas no mundo, sendo que a outra ninguém viu: –
Deixa isso pra lá, Antônio, pior seria se a gente morasse no térreo. Antônio não se controlava, ficava uma fera
quando via cair cascas de banana, de laranja, restos de comida. Em época de melancia ficava quase louco,
tinha vontade de se mudar. A mulher procurava contornar: – Tenha calma, Antônio, daqui a pouco as melancias
acabam e você esquece tudo. Mas ele não esquecia: – Acabam as melancias, vêm as jacas, acabam as jacas,
vêm os abacates. Já pensou, Marieta? Caroço de abacate é fogo! Um dia chegou na área, tinha até lata de
sardinha. Procurou pra ver se tinha alguma sardinha, mas a lata tinha sido raspada. Se queimou. Falou com o
síndico, ele disse que era impossível fiscalizar todos os quarenta e oito apartamentos pra ver quem é que atirava
as coisas. Pensou em fechar a área com vidro, pediram uma nota firme e se não decidisse dentro de sete dias,
ia ter um acréscimo de trinta por cento. Foi à polícia dar queixa dos vizinhos, o delegado achou muita graça,
disse que não podia dar educação aos vizinhos e, se pudesse daria aos seus, pois ele morava no térreo e era
muito pior. [...] ELIACHAR, Leon. O homem ao zero. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980. Fragmento.
Esse Eça!
Talvez por ter nascido sem pai, talvez por ter sido um menino solitário, talvez porque ainda não havia televisão
nem videogame, ou talvez porque fosse mesmo tímido, logo que pude decifrar as “formiguinhas pretas”, meu
lazer passou a ser a leitura. Nada de “estudo”, nada de “busca do saber”. Ler para sonhar, para sentir-me na
pele dos protagonistas, para me divertir mesmo. Quanto dessas leituras habita ainda em mim! Mas, pulando
Lobato e os queridos autores de literatura juvenil, lembro-me de O suave milagre, do escritor português Eça de
Queirós. Que impacto! Eu lia e relia o conto, lágrimas, frissons, emoções que acredito nunca mais ter
conseguido sentir ao ler um texto. [...] O suave milagre continua como uma das minhas narrativas favoritas. Que
conto! Esse Eça! BANDEIRA, Pedro. Carta Fundamental, fev. 2011. Fragmento.
No trecho “... logo que pude decifrar as ‘formiguinhas pretas’”, a expressão destacada estabelece uma relação
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A) modal. B) consecutiva. C) final. D) temporal. E) condicional.
A tristeza permitida
Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro
sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu
psiquiatra. A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo
normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão
legitimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio
e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. Depressão é coisa muito séria, continua e complexa. Estar triste é
estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco
cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente - as razões têm
essa mania de serem discretas. [...]
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas
para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos
deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente
sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que somos. MEDEIROS,
Martha. Disponível em Acesso em 12 maio 2011.
O trecho "Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop,..." sugere:
A) irritação. B) agitação. C) confusão. D) diversidade. E) abatimento.
Se você me conheceu há cinco anos atrás, talvez você não saiba mais quem sou
Sabe o que rola? É que mudei demais. Cortei partes de mim que me faziam mal; deixei para trás os velhos
hábitos, mudei o corte de cabelo, [...] levantei a cabeça pra vida, saca? Não sou mais aquela pessoa que
cometia erros sem se importar com as consequências. A vida me bateu forte, e eu aprendi que apanhar não vale
a pena. Se hoje erro, logo me desculpo. Percebi com as perdas que a vida é muito breve para guardar qualquer
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coisa que não seja lembranças. Por isso, talvez você não me reconheça mais, pois cheguei à minha melhor
versão; ainda cheia de problemas, mas bem mais estável e madura do que todas as outras que tentei ser até
aqui. Então, se você me conheceu no momento errado, a gente se conhece de novo, afinal, eu também não
posso garantir que daqui a cinco anos você irá saber quem sou.
Nesse texto, no trecho “... pois cheguei à minha melhor versão;...” (ℓ. 6-7), o termo destacado estabelece uma
relação de A) adição. B) adversidade. C) alternância. D) conclusão. E) explicação.
Nesse texto, no trecho “Os árcades buscavam uma vida simples, bucólica, longe do burburinho citadino.”, a
palavra destacada tem o sentido de A) agitação. B) buzina. C) cansaço. D) sussurro
Graças à tecnologia, as cirurgias de catarata têm hoje resultados altamente satisfatórios. Pacientes que já
passaram pela operação e ficaram com grau residual na visão podem “zerar” o problema com uma nova técnica,
que consiste na implantação de lentes especiais. Elas são inseridas sobre as previamente existentes, que fazem
o papel do cristalino danificado. Trata-se de upgrade, eliminando a necessidade de óculos. “A medicina foi em
busca de uma solução apropriada para aqueles que implantaram originalmente lentes monofocais e que agora
gostariam de obter mais qualidade de vida e independência do uso de óculos”, observa o oftalmologista Celso
Boianovsky, especialista em catarata. Pacientes com lentes multifocais dispensam a correção. Revista do
Correio. Correio Braziliense. 22 ago. 2010, p. 20.
A evidência
Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de
mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que
não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes
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bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o
garçom do restaurante.
Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O
garçom andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de
atender fregueses, mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça
um garçom, acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou, pois, o garçom e perguntou ao ratinho o
que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor:
– Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes dauphine.
Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit
Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934.
– Muito bem – disse o garçom. E, dirigindose ao tigre – E o senhor, que vai querer? – Ele não quer nada – disse
o ratinho. – Nada? – tornou o garçom – Não tem apetite? – Apetite? Que apetite? – rosnou o ratinho enraivecido
– [...] Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele? Moral: É necessário manter a
lógica mesmo na fantasia. FERNANDES, Millôr. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro, 1964, p. 89.
No verso “Ser adolescente é...” (v. 1), o uso das reticências sugere
A) continuidade de um pensamento.
B) hesitação ao que ia ser dito.
C) interrupção de uma fala.
D) omissão de um pensamento
“Tiro dúvidas de matemática e física. Grátis”. Com esta frase Silvério da Silva Moron, um engenheiro de 63 anos,
está seguindo a máxima de que conhecimento não é nada se não for compartilhado. Unindo o tempo livre da
aposentadoria e a paixão por ensinar, o engenheiro resolveu oferecer aulas gratuitas de física e matemática em
uma praça pública no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Convicto de que o investimento em
educação é a coisa mais importante de todas, ele auxilia estudantes, de diferentes faixas etárias, que estão com
dificuldades nas matérias exatas. As reuniões, que sempre acontecem na pacata pracinha, despertam nos
alunos a vontade de aprender um pouco mais sobre as matérias. Não é de hoje que o aposentado pensa em dar
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aulas de reforço em locais públicos, mas por causa das obrigações da vida profissional nunca sobrou tempo
para a concretização do sonho. Mas não pense que durante os 41 anos na engenharia ele deixou de lado o
amor pela educação. Há mais ou menos 14 anos Silvério descobriu sua vocação e desde então dá aulas
particulares para alunos do ensino fundamental, médio e superior. [...]
No trecho “Mas não pense que durante os 41 anos na engenharia ele deixou de lado o amor pela educação.” (ℓ.
12-13), o termo destacado estabelece uma relação de
A) adição. B) adversidade. C) conclusão. D) conformidade. E) proporção
Caro Felipão,
Nunca nos encontramos pessoalmente, mas permita que eu me apresente: me chamo Marcos Caetano, como
você pode ler aí no topo da coluna, e sou cronista esportivo. Mas isso não é importante, pois além de cronista
fui, sou e morrerei torcedor [...]. Também não sou hipócrita de imaginar que você tenha decidido fazer do esporte
o seu ganha-pão – primeiro como jogador e agora como técnico – se não fosse por amor. Somos, portanto, dois
apaixonados por futebol. E é puramente nessa condição, de um apaixonado que vê no velho esporte das
botinadas um ponto de referência e identidade cultural dos brasileiros, que te escrevo estas mal traçadas. Em
primeiro lugar, sei que eu e os colegas da crônica esportiva vivemos pegando no seu pé. Mas também sei que
você traz no caráter uma qualidade [...]: você é honesto. E é impossível deixar de notar o carinho e o respeito
que todos os jogadores que trabalharam contigo têm por você. Portanto, quando escrevo críticas sobre o seu
trabalho, o faço com a certeza de estar me dirigindo a um homem sincero, preocupado em aprender sempre – e
não a um arrogante cheio de empáfia. [...] Se os times finalistas, que representam o novo no futebol brasileiro,
não fazem retranca, por que a Seleção deveria fazer? Você apostou na retranca contra Bolívia, Uruguai e
Argentina. E ousou mais contra Chile, Paraguai e Venezuela. Perdemos as três partidas que jogamos para não
perder e ganhamos as três que jogamos para ganhar. A razão da carta, como você já percebeu, é uma só: te
pedir que ponha o Brasil para jogar como os finalistas – no ataque. Essa é a nossa maior tradição [...]. Não
sabemos jogar de outro jeito – e o partidaço da final provou-nos isso uma vez mais [...]. Vamos para cima deles,
Felipão! Os brasileiros confiam em você. Confie também na gente quando pedimos um time ofensivo.
(D___) Nesse texto, no trecho “A razão da carta, como você já percebeu, é uma só:...”, os dois-pontos foram
usados para
A) apontar uma enumeração.
B) apresentar uma justificativa.
C) inserir uma exemplificação.
D) introduzir uma citação.
E) mostrar uma dúvida
(D___) Nesse texto, no trecho “Somos, portanto, dois apaixonados por futebol.” , o termo destacado estabelece
uma relação de
A) adição. B) adversidade. C) alternância. D) conclusão. E) explicação