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ESTUDO DA HIDRODINÂMICA E RENOVAÇÃO DA ÁGUA NO ESTUÁRIO DOS


BONS SINAIS

Thesis · September 2020

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Teofilo Ferraz Joao


Eduardo Mondlane University
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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS MARINHAS E COSTEIRAS

ESTUDO DA HIDRODINÂMICA E RENOVAÇÃO DA ÁGUA NO ESTUÁRIO DOS BONS SINAIS

Teófilo Mateus Pio Ferraz João

Quelimane, Dezembro de 2014


ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS MARINHAS E COSTEIRAS

ESTUDO DA HIDRODINÂMICA E RENOVAÇÃO DA ÁGUA NO ESTUÁRIO DOS BONS SINAIS

Teófilo Mateus Pio Ferraz João

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Oceanografia Aplicada, na


Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras da Universidade Eduardo Mondlane, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Oceanografia Aplicada.

Quelimane, Dezembro de 2014


Resumo

Esta pesquisa apresenta uma análise hidrodinâmica do estuário dos Bons Sinais e a capacidade de
renovação das suas águas. Por meio do ELCOM (Estuary and Lake Computer Model), foram
apresentadas a influência dos parâmetros que controlam a hidrodinâmica no Estuário, através duma
simulação de 40 dias. A configuração do modelo no estuário foi baseada com dados constantes,
idealizados de descarga dos rios Licuar e Cuacua para valores de 750, 1500 e 3000 m3/s e ventos de 5,
10 e 15 m/s. Os dados de temperatura, e salinidade utilizados na inicialização do modelo foram colectados
na boca do estuário, zona de confluência e no porto, durante dois ciclos semi-diurnos de marés de 1 a 14
de Janeiro de 2011.
Os resultados mostraram que o tempo mínimo de renovação da água foi de 2h na confluência e máximo
de 3.4 dias na boca. Sob diferentes condições de ventos, os resultados do modelo mostram que a acção
dos ventos não influencia na capacidade de renovação das águas no estuário, visto que a diferença entre
os tempos de renovação para os diferentes ventos é bastante insignificante. A descarga do rio contribui
significativamente para renovação da água no estuário, onde maior descarga do rio aumenta a capacidade
de renovação e menor descarga diminui a renovação da água. Durante as marés vivas registou-se uma
capacidade rápida de renovação das águas e durante as marés mortas o tempo de renovação é
relativamente maior.

Palavras chaves: Modelo hidrodinâmico, tempo de renovação, Bons Sinais.

i
Índice
Conteúdo Pag

1.1Introdução................................................................................................................... 1
1.2 Objectivos .................................................................................................................. 2
1.2.1 Geral ...................................................................................................................... 2
1.2.2 Específicos .............................................................................................................. 2
II. METODOLOGIA ............................................................................................................... 3
2.1 Localização da Área de Estudo ....................................................................................... 3
2.3 Batimetria .................................................................................................................. 4
2.4 Determinação de Tempo de Renovação da Água ................................................................ 4
2.5 O Modelo ELCOM ........................................................................................................ 8
2.6 Equações Governantes no modelo................................................................................... 9
2.7 Configuração do Modelo hidrodinâmico ELCOM ao estuário dos Bons Sinais........................... 11
2.8 Medição e análise de marés ......................................................................................... 12
III.RESULTADOS ............................................................................................................... 14
3.1.Marés do Modelo ELCOM e TMD .................................................................................. 14
3.2 Tempo de renovação da Água no Estuário dos Bons Sinais ................................................. 15
3.3 Contribuição dos ventos, marés, e descargas do rio no tempo de Renovação da água ............... 16
3.3.1Influência da Descarga do rio ...................................................................................... 16
3.3.2 Influência da Maré ................................................................................................... 17
3.3.3 Influência dos ventos ................................................................................................ 18
V. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 23
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................................... 24

ii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estuário dos Bons Sinais (Fonte: Nataniel, 2010) .......................................................................... 3

Figura. 2 Batimetria do Estuário dos Bons Sinais digitalizada com MIKE21 (A barra da escala a direita
representa as profundidades em metros) ...................................................................................................... 4

Figura 3: Fluxograma dos módulos do ELCOM (Hodges, 2003) ................................................................... 9

Figura 4:Marés Modeladas pelo TMD e simuladas pelo Modelo ELCOM. .................................................. 14

Figura 5: Serie temporal de tempo de renovação da agua simulado no ELCOM antes e depois de o modelo
estabilizar .................................................................................................................................................... 15

Figura 6: Influência da Descarga do rio no Tempo de Renovação da água para vento constante de 15m/s
(A), 10m/s (B) e 5 m/s (C)............................................................................................................................ 17

Figura 7: Influência da maré no Tempo de renovação da Agua .................................................................. 18

Figura 8: Influência dos ventos no Tempo de Renovação da água com uma descarga constante de 3000
m3/s (A), 1500 m3/s (B) e 750 m3/s (C). ....................................................................................................... 20

iii
I.INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS

1.1Introdução

Os estuários são ecossistemas de transição entre o ambiente terrestre (continente) e aquático (oceano),
regiões de encontro dos rios com o mar, visto como um ambiente dinâmico e com mudanças constantes
devido as variações das forçantes naturais.

As características hidrodinâmicas dos estuários podem proporcionar condições ideais de alta


produtividade e torná-los verdadeiros berçários para diversas espécies marinhas e costeiras, o que acaba
por servir de atractivo para o desenvolvimento de actividades socioeconómicas como a pesca, a
aquacultura, e outras, que, por sua vez, podem ser desenvolvidas de forma inadequada comprometendo
estas importantes características dos estuários (Rosman, 2010)

A renovação e purificação das águas dos estuários estão intrinsecamente vinculadas a interacção de
processos físicos, químicos, geológicos e biológicos, sendo que a actuação do homem pode afectar
significativamente a cada um destes processos. Considerados biologicamente mais produtivos devido a
alta concentração de nutrientes, esses ambientes de transição propiciam a produção primária.

O tempo de renovação, definido como o tempo necessário para que uma partícula entre e saia de um
volume de controle, é um parâmetro de grande importância para avaliar a capacidade de renovação de
ambientes costeiros. Na maior parte dos casos, este tempo é estimado basicamente pela entrada da
componente fluvial, enquanto a salinidade actua como parâmetro indicador de massa de água (Dyer,
1973).

O estuário dos Bons Sinais está vinculado à economia da região através dos sectores primários e
secundários, por esse motivo o estudo de suas características hidrodinâmicas é de suma importância. Os
resultados deste trabalho contribuirão no aumento de conhecimentos bibliográficos como os trabalhos
anteriores que aplicaram modelos hidrodinâmicos na região de estudo, como por exemplo: Ferraz (2009),
António (2012) e Machaieie (2014).

1
1.2 Objectivos

1.2.1 Geral
Investigar a influência dos parâmetros que controlam a circulação no Estuário dos Bons Sinais, usando o
tempo de renovação da água simulado numericamente como um indicador da circulação.

1.2.2 Específicos

Com o presente trabalho pretende-se de forma específica:


 Determinar o tempo de renovação de água.
 Analisar o efeito das marés, ventos e descargas do rio no tempo de renovação da água.

2
II. METODOLOGIA

2.1 Localização da Área de Estudo

O Estuário dos Bons Sinais, possui um clima tropical húmido com uma estação chuvosa entre Novembro –
Abril, a temperatura mais elevada é observada em Junho e Fevereiro (28º C) e a baixa ocorre em Julho
(21º C), (www.mozpescas.gov.mz) Este estuário possui uma área cerca de 29 km2e está sujeito a um
grande stress ambiental.

O estuário situa-se numa região tropical entre distrito de Inhassunge e Quelimane, é limitado pela
confluência dos rios Cúa-Cúa e Licuar e conectado ao Oceano indico. Apresenta uma profundidade
considerável, sendo profundidade média cerca de 14 m e com um comprimento de 30 km (Ferraz, 2009).
Assume-se que a largura e a área de secção transversal decrescem exponencialmente desde a boca até à
montante (Figura 1).

Figura 1. Estuário dos Bons Sinais (Fonte: Nataniel, 2010)

3
2.3 Batimetria

As informações referentes à batimetria do estuário foram extraídas da Carta náutica do INAHINA (Instituto
Nacional de Hidrografia e Navegação) do ano de 1986. O estuário possui cerca de 30 km da boca ate a
montante. A batimetria foi actualizada com dados medidos em campo a partir de uma sonda Garmin90,
numa expedição realizada em Janeiro de 2011. A grelha do estuário foi definida e digitalizada em MIKE21
no pacote MIKEZero, com espaçamento de 100mx100m cada célula. A malha no modelo foi definida com
140 células horizontais e 300 células na vertical, com um total de 14000x30000 pontos interpolados em
linhas poligonais extensivas em toda malha. Os dados foram gravados de 60 em 60 Segundos durante 14
dias.

Figura. 2 Batimetria do Estuário dos Bons Sinais digitalizada com MIKE21 (A barra da escala a direita
representa as profundidades em metros)

2.4 Determinação de Tempo de Renovação da Água

Uma variável importante para a compreensão da dinâmica dos processos ocorridos em um sistema
estuarino é a estimativa do tempo de renovação, que se trata do tempo médio que a água reside em um
estuário antes de ser escorrida para o mar (WANG et al., 2004). Gómez-Gesteira (2003) caracteriza o
tempo de renovação como uma importante variável física em estuários e uma ferramenta útil para o estudo

4
da qualidade de suas águas. Esse parâmetro é conveniente para representar a escala de tempo de
processos físicos, e frequentemente é usado para comparação com a escala de tempo de processos
biogeoquímicos.

Essa escala de tempo tem implicações para o destino de substâncias introduzidas no estuário e para a
produção primária. Um poluente exercerá mais efeitos dentro do estuário se sua escala de tempo
bioquímico é comparável ou mais curta do que o tempo de renovação; e a produção primária mais lenta se
sua escala de tempo de desenvolvimento for maior do que o de renovação (WANG et al., 2004).

Trabalhos como o de Gómez-Gesteira et al. (2003) têm relacionado a influência do tempo de renovação
hídrico à qualidade da água. Logo, quando o tempo de renovação da água de um estuário receptor de
efluentes for elevado, existem implicações sérias tanto do ponto de vista biológico como para o efeito de
poluentes.

Estudos na Lagoa de Araruama, no Rio de Janeiro, realizados por Souza et al. (2003), indicaram que o
longo tempo de renovação hídrico permitiu a retenção de altas concentrações de fósforo antropogênico
nos sedimentos. A combinação de um grande volume de água, longo tempo de renovação, microfitobentos
como produtores primários significativos removendo o fósforo resultaram numa coluna de água oligotrófica
pela maior parte do tempo.

Para o cálculo do tempo de renovação hídrico, Souza (2005) aplicou o modelo de um compartimento para
todo o estuário, considerando-o do tipo bem misturado. O sistema estuarino apresentou tempo de
renovação hídrico variando de 1 dia em Agosto de 2001 a 8 dias em Maio de 2001.

Enquanto Ferraz (2009) aplicou o modelo de fracção de água doce e apresentou o tempo de renovação
para estuário dos Bons Sinais a variar de 1,7 dias a 4,7. No mesmo estudo foi aplicado o modelo de
prisma de marés onde o tempo de renovação mínimo observado foi de cerca de 12 horas e máximo de 2
dias.

Um método clássico para determinação do tempo de renovação no estuário é dado por Dyer (1973), como:

5
Onde, T é o período da maré, P é o prisma de maré, V é o volume do corpo de água (ao nível médio do
mar). O prisma de maré equivale ao volume de água que pode entrar ou sair do corpo de água durante um
período de maré enchente ou vazante, respectivamente.

Uma forma prática de se calcular o prisma de maré é através da integração das descargas monitoradas
na embocadura do corpo de água em um período de maré enchente ou vazante. Outra maneira de se
calcular o prisma é multiplicando o nível de água médio pela área do espelho de água.

O factor de retorno de fluxo b (variando de 0 a 1) relacionado à fracção de água que, após ser expelida
pelas correntes de vazante, pode retornar ao corpo de água com a maré de enchente. A variável b é um
valor empírico resultante do fato de que não é possível calcular esse volume de retorno baseado apenas
na geometria do corpo de água.

Várias limitações devem ser consideradas nesse método, como: i) o sistema precisa ser bem misturado,
oi) deve haver pouco aporte de água doce comparado com o fluxo de maré, e, ih) o corpo de água externo
(receptor) deve ser capaz de assimilar toda água ejectada, de forma que a água que entra seja mais limpa
que a água que sai (SANFORD et al., 1992).

Este modelo tende a subestimar o tempo de renovação das águas, justamente por considerar o sistema
bem misturado e não levar em conta as armadilhas de fluxo resultantes de morfologias irregulares (DYER,
1973; SANFORD et al., 1992).

A distribuição do tempo de renovação (adiante designado DTR) é uma aproximação empírica que pode
descrever o escoamento em um equipamento (Danckwerts, 1953). Os elementos do fluido seguem rotas
de extensões diferentes através do equipamento. A distribuição desses tempos na saída é chamada de
função da densidade (de probabilidade) de tempos de renovação E(t), que caracteriza a DTR do processo.

A maneira mais simples de se obter esta função é pelo método do pulso, onde uma pequena quantidade
de um traçador inerte é instantaneamente injectada na entrada do equipamento e sua concentração, C(t),

6
é continuamente registada na saída. A função de densidade de tempo de renovação é então obtida pela
Equação 2, onde C0 é a concentração de fundo do traçador (Levenspiel, 1999).

Além da utilidade de se conhecer a probabilidade de um tempo de renovação estar compreendido em um


intervalo de tempo definido, também é igualmente importante conhecer a probabilidade de um tempo de
renovação ser inferior a um dado valor. A função de distribuição cumulativa de tempos de renovação F(t)
permite obter esta informação, sendo calculada através da integral de E(t), pela Equação 2
(Levenspiel,1999).

No estudo de tempos de renovação, o tempo médio de renovação é um parâmetro muito importante, pois
indica o tempo médio que as moléculas permaneceram no sistema. Este pode ser calculado pela Equação
4 (Levenspiel, 1999).

Para o presente estudo foi determina do analiticamente média do tempo de renovação da água para cada
estacão (Boca do Estuário, Confluência e no Porto) usando a (Equação 4) e posteriormente determinou-se
a média.
Onde:
é a média do tempo de renovação da água
é o tempo de renovação extraído do ELCOM
é a concentração da Salinidade a variar
Diferença de tempo em cada intervalo de medição

7
2.5 O Modelo ELCOM

ELCOM é o acrónimo para Modelo computacional para estuários e lagos (em inglês, Estuary and Lake
Computer Model), e é um modelo hidrodinâmico tridimensional para a previsão da distribuição de
velocidades, temperaturas e salinidades em lagoas e reservatórios estratificados sujeitos a factores
ambientais externos, tais como cisalhamento dos ventos, aquecimento e resfriamento da superfície
(HODGES 2001a, 2001b). Foi desenvolvido no Centre for Water Research da Universidade de Western
Australia.

O modelo resolve as equações dinâmicas de Navier-Stokes, com as aproximações de Boussinesq e


hidrostática (Reynolds-averaged Navier Stoques-RANS), e as equações de transporte para escalares
(temperatura, salinidade e traçadores). Por exemplo, o modelo pode ser configurado para auxiliar a
compreensão da influência dos parâmetros que controlam a hidrodinâmica no Estuário ou configurado
para a realização de pesquisas mais complexas a partir de uma selecção detalhada de variáveis.

Este modelo tem como finalidade viabilizar os estudos de sistemas aquáticos em escalas temporais que
compreendem desde horas até meses, embora o limite de aplicabilidade dependa do tamanho da malha e
dos recursos computacionais disponíveis. É adequado para estudos comparativos de padrões de
circulação de verão e de inverno, eventos de cheia e seca ou dispersão de poluentes.

O ELCOM funciona com dados processados no formato Fortran 90, onde são introduzidos segundo a
(Figura 3), ilustrando as etapas organizacionais dos dados de entrada no modelo ELCOM, onde o pré-
processamento inicia com a preparação da batimetria representada por ficheiros em formato *.dat,
condições de fronteira, e locais necessários para actualizar as condições de fronteira se necessário. Os
dados meteorológicos são igualmente introduzidos ao modelo em ficheiros específicos e comandos
estruturados para o seu uso.

Os dados definidos no ELCOM são processados para a produção de ficheiros NetCDF em três tipos: perfis
verticais, horizontais em cortina e em malha. A fase do pós-processamento corresponde aos resultados
em formato NetCDF que podem posteriormente ser convertidos e lidos para sua visualização e seu
consumo pelos usuários através de comandos estruturados no Maltas, OceanDataview, ELCOM, no molde
CWRModeller, entre outros.

8
ELCOM
bathymetry.dat Temporal boundary conditions files
bc.dat - meteorological data
- inflow / outflow data
run_pre.dat Pre-
Initial condition files processing
pre_elcom datablock.db

sparsedata.unf run_elcom.dat

usedata.unf

ELCOM
Model
unffiles

dbconv
Post-
run_dbconv.dat processing,
visualisation
NetCDF (*.nc) files

Figura 3: Fluxograma dos módulos do ELCOM (Hodges, 2003)

2.6 Equações Governantes no modelo

A formulação matemática do modelo é baseada nas equações da Continuidade e de conservação da


quantidade de movimento, ROSMAN (2008).

O modelo ELCOM resolve equações diferenciais de Navier Stocks que representam escoamentos
hidrodinâmicos de fluxo de água nas três dimensões, nomeadamente:
F u u u u p 
ax   u v  w    2usen  2.w cos   y 5
m t x y z x z

F v v v v p  y
ay    u  v  w    2usen  6
m t x y z x z

F w w w w p  y
az   u v w    g  2usen  7
m t x y z z z
Onde :

9
1
 
o
 n
ax é aceleração em x, ay é aceleração em y, az é aceleração em z, são as forças devido ao vento,
z
com n= x,y e z. P é a força de pressão,  é densidade da água,  é a latitude local.

As equações 2 e 3 podem ser escritas da seguinte maneira:


u u u u p  2u  2u  2u
u v w    2usen  2.w cos    ( 2  2  2 ) 5.1
t x y z x x y z

v v v  2 v p  2v  2v  2v
 u  v  2    2vsen  ( 2  2  2 ) 6.1
t x y z y x y z

 vis cos idade(dinamica )


Onde   =  vis cos idade(turbulenta )
 densidade

Considerando-se que aceleração local não varia com o tempo, a velocidade vertical ao longo do canal não
varia significativamente e, pelo princípio de continuidade:
u u u u
 u  v  w  Qprecipita cao  Qevaporacao  Qafluentes  Qefluentes , 8
t x y z

Porém, no modelo não foram considerados os termos de precipitação e evaporação, enquanto os


afluentes e efluentes foram tidos como contínuos. Assim, a equação de continuidade resume-se em:
u u u
u v w 0
x y z 8.1

Sendo a aceleração da água constante ou seja um movimento inercial, a equação de Continuidade


integrada na vertical escreve-se:
 
  
 
t x  h
udz 
y h
vdz  0
9
Onde:  a elevação do nível do mar e –h representa o fundo do canal. H=   h

Para cada intervalo de tempo corrido no ELCOM, são produzidas duas componentes de velocidade
medias, U(x,y,t) e V(x,y,t), que são definidas em:

10
 
1  1 
H x h H x h
U ( x, y, t )  u ( x , y , t ) dz V ( x, y , t )  v( x, y, t )dz
e

2.7 Configuração do Modelo hidrodinâmico ELCOM ao estuário dos Bons Sinais.

Para configuração do modelo no estuário dos Bons Sinais foram usados dados constantes, idealizados e
realísticos de descarga dos rios Licuar e Cua-cua, dados de ventos a 10 m de altura e mares (Tabela 1). A
experiencia Exp1 foi usada para controlar o modelo.

Os dados de Temperatura [T=T(z,t)], e salinidade [S=S(z,t)], utilizados na inicialização do modelo foram


colectados em estacões fixas ilustradas na Figura 2 (Boca do Estuário, confluência e no Porto), com o
intervalo de amostragem de 7 minutos, durante dois ciclos semi-diurnos de marés de 1 a 14 de Janeiro de
2011.
No início de cada simulação foi usado temperatura uniforme e constante de 24 oC, e uma salinidade
constante de 25 psu.

Tabela 1. Parâmetros usados nas simulações durante 40 dias. Em todas as simulações as marés foram
realísticas
Experimento Descargas Ventos
Exp1 1500 m/s Constante 15 m/s constante
Exp2 3000 m/s Constante 15 m/s constante
Exp3 750 m/s Constante 15m/s constante
Exp4 1500 m/s Constante 10m/s constante
Exp5 3000 m/s Constante 10m/s constante
Exp6 750 m/s Constante 10m/s constante
Exp7 1500 m/s Constante 5m/s constante
Exp8 3000 m/s Constante 5m/s constante
Exp9 750 m/s Constante 5m/s constante

11
2.8 Medição e análise de marés

As marés são ondas longas causadas pelos efeitos de atracção das forcas de gravidade entre a Terra, Lua
e o Sol, com uma duração de 12h a 24horas por dia. Essas ondas diferenciam-se das restantes ondas
pelo seu grande comprimento de cerca de 20.000km (Nehama, 2004). Essas oscilações rítmicas que
ocorrem diariamente podem ser diurnas (uma enchente e uma vazante), Semi-diurnas (duas vazantes e
duas enchentes) ou mistas com a ocorrência das duas marés.

As oscilações definem os calados necessários para a navegação dos canais onde os barcos e navios
seguem o ritmo das enchentes para atracarem nos portos ou em direcção ao mar aberto. Por outro lado,
as enchentes possibilitam a entrada de água muito densa ou seja a cunha salina que facilita a
flutuabilidade dos barcos mas também diversifica a dinâmica ecológica que se distribui em função das
propriedades físicas e químicas da água. As vazantes são períodos onde drenam-se grandes quantidades
de água provenientes do rio com densidade menor e servem de um diluidor das concentrações da água
salgada

Os dados de maré foram medidos na boca do estuário, na região próxima ao Porto de Quelimane e na
confluência dos rios Cua-cua e Licuar, como indica a (Figura 2), através do marégrafo RBR (Medidor de
Pressão no fundo).

O método mais usual e satisfatório para a previsão de alturas de maré, é o método harmónico. Este
método se baseia no conhecimento de que a maré observada é a soma de N componentes ou marés
parciais, e de que cada uma delas apresenta um período que corresponde exactamente ao período de um
dos movimentos astronómicos relativos entre a Terra, o Sol e a Lua. Cada uma dessas marés parciais tem
uma amplitude e uma fase única para um determinado local.

O TMD foi o modelo de previsão de marés usado para extrair as constituintes. Com o ELCOM foram
simuladas as marés tidas no modelo TMD durante um ano. A análise harmónica foi feita pelo t_tide
(modelo especifico de análise complexa de marés) e comparadas com as observadas.

O programa TMD é específico para prever as marés e correntes de marés através de constituintes lunares
e solares, que foram extraídas para a obtenção de uma onda de marés e sua respectiva análise harmónica
clássica com correcções nodais e inferências das constituintes. A modelagem da dinâmica estuarina foi

12
feita através de 11 constituintes obtidas do modelo TMD e introduzidas no modelo hidrodinâmico ELCOM
para a sua simulação.

13
III.RESULTADOS
3.1.Marés do Modelo ELCOM e TMD
A Figura 4 apresenta as marés observadas e simuladas depois de subtraído nível médio do mar, ou zero
hidrográfico. As marés simuladas pelo modelo ELCOM estão em concordância com as marés do modelo
TMD nos seus períodos oscilatórios de tempo, frequências e com ligeira diferença na amplitude, como
ilustra a Essa concordância mostra a credibilidade dos dois modelos usados para obter as marés
introduzidas no modelo para a obtenção dos resultados analisados neste trabalho.

Nas marés simuladas pelo modelo TMD, nota-se períodos de marés vivas caracterizado por alturas
máximas de 1.5 a 1.9 metros que são baixas comparativamente ao ELCOM que atingiu a alturas máximas
de 2.2 a 2.5 metros. Seguidas de um período de transição logo após a maré viva. Observa-se também que
a maré morta é caracterizada por alturas de cerca 1.0 metro. Observa-se ainda que a onda da maré do
TMD tem alturas menores que as simuladas pelo modelo ELCOM, com uma diferença média de
0.38metros de desfasamento.

2.5
TMD
2 ELCOM

1.5
Altura da mare (m)

0.5

-0.5

-1

-1.5

-2
26/12 02/01 09/01 16/01 23/01 30/01 06/02 13/02
Tempo em dias

Figura 4: Marés Modeladas pelo TMD e simuladas pelo Modelo ELCOM.

14
3.2 Tempo de renovação da Água no Estuário dos Bons Sinais

A Figura 5 ilustra a variação temporal da renovação da água antes e depois do modelo estabilizar-se
para as Experiencias Exp1 a Exp9, para a região do Port, cathment e mouth. É possivel observar pelo
gráfico que o modelo começou a estabilizar-se a partir de 2 dias de simulação. A partir deste intervalo
foram feitas outras análises, podendo simular os resultados desejados.

Miguel (2013) citando Hodges et al. (2013) diz que o modelo ELCOM é incondicionalmente estável para
fluxos puramente baroclínicos, isto é, que produz resultados numéricos estáveis para qualquer intervalo
simulado de cada vez. Nas três zonas apresentadas na Figura 5, na confluência (ou Cathment) o tempo de
renovação não superou 0.4 Dias, e no Porto o tempo de residência não superou 0.5 Dias e finalmente em
Boca (ou Mouth) o tempo de renovação foi oscilatório com máximo registado de 3.4 Dias.

3.5
Cathment
Port
3
Mouth
Tempo de Renovação (dias)

2.5

1.5

0.5

0
26/12 02/01 09/01 16/01 23/01 30/01 06/02 13/02
Tempo em dias

Figura 5: Serie temporal de tempo de renovação da agua simulado no ELCOM antes e depois de o modelo
estabilizar

15
3.3 Contribuição dos ventos, marés, e descargas do rio no tempo de Renovação da água
3.3.1Influência da Descarga do rio

Para cada simulação da renovação das águas pela descarga fluvial foi fornecida ao modelo uma condição
onde admitiu-se um valor constante de 3000 m3/s, 1500 m3/s e 750 m3/s (Exp1 a Exp9) para as águas
nos pontos de interesse, boca do estuário, porto e na confluência entre os rios Cua-cua e Licuar.

Os resultados das simulações são apresentados na Figura 6, onde os maiores valores de tempo médio de
renovação da água foram observados na boca do estuário cerca de 2.4 dias para uma descarga de 750
m3/s, 1.9 dias para uma descarga de 1500 m3/s e 0.6 dias para descarga de 3000 m3/s e mínimo
registado na confluência dos rios cerca de 7 horas para descarga de 750, 4 horas para descarga de 1500
m3/s e 2 horas para 3000 m3/s. (Figura 6B).

Tanto para as (Figuras 6A e 6B) simuladas a um vento constante de 15m/s e 5 m/s, respectivamente, o
Tempo de renovação da água obedece o mesmo critério, onde o maior é observado na boca do estuário
para valores de 2.5 dias a uma descarga mínima de 750m3/s, 1.9 dias para 1500 m3/s e 1.3 dias a
3000m3/s a seguir no Porto para valores de 0.6 dias a 750m3/s, 0.2 dias a 3000m3/s. Os mínimos valores
de Tempo de renovação da água foram encontrados na confluência cerca de 2 horas Figura 6 (A e C)

Este resultado mostra que a descarga do rio contribui significativamente para renovação da agua no
estuário, isto quer dizer que quanto maior for a descarga do rio maior é a capacidade de renovação do
estuário, isto é menor é o tempo de renovação da água.

16
B

Figura 6: Influência da Descarga do rio no Tempo de Renovação da água para vento constante de 15m/s
(A), 10m/s (B) e 5 m/s (C).

3.3.2 Influência da Maré

A partir da série temporal apresentada na (Figura 7) entre Tempo de renovação da água e marés,
observa-se uma rápida renovação com valor de 0.9 dias, alcançada entre 14 a 16 dias de simulação

17
durante a maré viva. Pelo efeito da maré a renovação oscila com maior amplitude provocada pela
intensidade das correntes de maré ocorrendo nas proximidades da boca do estuário.

Essa oscilação fica evidenciada pela curva azul que corresponde aos resultados do modelo simulado no
ELCOM. O período desta oscilação é equivalente ao período entre duas marés vivas e duas marés
mortas. Nota-se que a renovação pelo efeito da maré alcança valores máximos de 3.4 dias durante as
marés mortas isso mostra que durante as mares vivas a renovação da agua no estuário dos Bons Sinais é
rápida, de uma forma geral, quanto maior o tempo de renovação, mais produtivo, mas também mais
sensível deve ser o estuário à descarga de contaminantes (pois mais difícil é a sua descarga destes
produtos para o mar).

Figura 7: Influência da maré no Tempo de renovação da Agua

3.3.3 Influência dos ventos

Estão indicados na Figura 8 (A, B e C) os tempos de renovação das águas no estuário dos Bons Sinais
sob condições de ventos constantes do Sudeste no período do verão e Oeste no inverno segundo INAM

18
(2013) e Miguel (2013). Os ventos para cada experiencia foram tidos como 15m/s para Exp1 a Exp3,
10m/s para Exp4 a Exp6 e 5 m/s Exp7 a Exp9. Os resultados mostram que o tempo de renovação das
águas sofre uma pequena diminuição com a presença dos ventos.

19
C

Figura 8: Influência dos ventos no Tempo de Renovação da água com uma descarga constante de 3000
m3/s (A), 1500 m3/s (B) e 750 m3/s (C).

A diferença entre os tempos de renovação para os diferentes ventos é bastante pequena, sendo que, sob
efeito dos ventos, o tempo de renovação atingiu valores máximos na boca do estuário cerca de 2.5 dias
para ventos de 15m/s, e 2.4 dias para ventos de 10m/s e 5m/s (Figura 8C), em geral o tempo de
renovação da água foi mais curto na confluência entre os rios Cua-cua e Licuar e os valores não variam
tanto entre os diferentes valores de vento usados neste estudo, assim como para a zona do Porto.

20
IV. DISCUSSÃO

No estuário dos Bons Sinais foram identificados os principais factores que influenciam no tempo de renovação
da água são, as marés e descargas do rio associados a morfologia do estuário. Isto concorda com Xavier
(2002) que confirmou que a capacidade de renovação das águas em um determinado corpo aquático depende
directamente do campo de correntes, que resulta das oscilações das forçantes do fluxo (marés e ventos) e da
morfologia do corpo de água.

Em relação ao período de marés observa-se que durante as marés vivas o tempo de renovação da água é
mínimo na ordem de 1 dia, este comportamento acontece devido a maior intensidade das correntes
verificadas na boca do estuário durante as marés vivas, que fazem com que a renovação das águas seja
rápida neste período.

No estuário dos Bons Sinais os ventos nas diferentes intensidades não influenciaram significativamente o
tempo de renovação, pelo facto de não se identificar como factor principal que concorre para a renovação
de água. Apesar dos estudos terem sido realizados em áreas diferentes, Fernandes (2001) observou que
os ventos elevam o nível do mar, arrastando a água do rio para o interior do estuário, que provavelmente
terá acontecido no estuário dos Bons Sinais, porém no presente estudo o vento não mostrou diferenças
significativas no tempo de renovação de agua.

Fernandes (2001) e Ferraz (2009) usando vários métodos verificaram que maiores descargas dos rios
diminuem o tempo de renovação da água, enquanto baixas descargas do rio aumentam o tempo de
renovação. Este comportamento também foi observado no estuário dos Bons Sinais onde as descargas de
750 m3/s indicaram maior tempo de renovação de água comparativamente as descargas de 1500 m 3/s e
3000 m3/s.

Xavier (2002) simulou com dados de maré e ventos reais numa baia, e verificou que o tempo de
renovação foi da ordem de 2 a 3 dias. Apesar das diferenças das suas características, os valores tendem
a ser similares aos encontrados por Ferraz (2009) que aplicou o modelo de fracção de água doce e
encontrou o tempo de renovação a variar de 1.7 a 4.7 dias. Ainda Ferraz (2009) aplicou o modelo de
prisma de marés onde o tempo de renovação mínimo foi de 12 horas e o máximo de 2 dias.

21
Os resultados obtidos no presente trabalho mostram que o tempo de renovação das águas da no estuário
dos Bons Sinais foi máximo na ordem de 3.4 dias e mínimo de 2 horas. O tempo máximo de renovação é
similar ao encontrado por Xavier (2002) e Ferraz (2009).

As pequenas diferenças observadas devem ser provavelmente na diversidade dos métodos e modelos
usados. Portanto, Xavier (2002) utilizou o método de simulação de deriva de partículas para simular o
Tempo de Residência clássico indicado por (TAKEOKA, 1984), Ferraz (2009) utilizou modelo de Fracção
de água doce e o de Prisma de maré, propostos por Ketchum (1951), usados por Taylor (1973), Dyer
(1997) e José (2004). Referenciar ainda que, o modelo de Fracção de água doce considera que todo
parâmetro físico que condiciona o processo de mistura em segmentos ao longo do estuário e o de Prisma
assume-se que toda água que entra no interior do estuário durante a maré enchente se mistura
completamente com a água do estuário.
Enquanto o presente trabalho se baseou no modelo ELCOM onde o Tempo de renovação da água
corresponde ao volume de água que pernanece numa certa malha do dominio e usou-se o método do
pulso, onde uma pequena quantidade de um traçador inerte é instantaneamente injectada na água e a sua
concentração, é continuamente registada na saída (Levenspiel, 1999).

Os resultados das simulações mostram que a capacidade de renovação das águas foi rápida da confluência
em direcção ao mar. De acordo com a lógica mostrada por Roversi (2012) a redução do volume de um corpo
de água, com consequente redução do prisma de maré, dificulta o processo de renovação das águas
(OLIVEIRA et al., 2006; GONG et al., 2008). No entanto, quando há uma redução grande no volume como é o
caso da Estuário dos Bons Sinais, a quantidade de água a ser renovada é muito menor acarretando em tempos
de renovação mais curtos.

22
V. CONCLUSÕES

Sob diferentes condições de ventos 15 m/s, 10m/s e 5 m/s, os resultados do modelo mostram que a acção
dos ventos constantes que sopram para SUDOESTE não influência na capacidade de renovação das
águas no estuário, visto que a diferença entre os tempos de renovação para os diferentes ventos é
bastante pequena.

Os maiores valores de tempo médio de renovação da água ocorrem na boca do estuário e é cerca de 2.4
dias para uma descarga de 750 m3/s, 1.9 dias para uma descarga de 1500 m3/s e 0.6 dias para descarga
de 3000 m3/s e mínimo registado na confluência dos rios cerca de 7 horas para descarga de 750, 4 horas
para descarga de 1500 m3/se 2 horas para 3000 m3/s. Quanto maior for a descarga do rio maior é a
capacidade de renovação do estuário, isto é menor é o tempo de renovação da água.

Durante as marés vivas registou-se uma capacidade rápida de renovação das águas no estuário, isso
mostra que durante as marés mortas o Tempo de renovação é maior.

O tempo de renovação da água máximo registado foi de 3.4 dias na boca do estuário e mínimo cerca de
2horas na confluência entre os rios Licuar e Cua-cua.

23
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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