Acevedosanchez Oa DR Ift
Acevedosanchez Oa DR Ift
Acevedosanchez Oa DR Ift
003/22
Orientador
Julho de 2022
Acevedo Sánchez, Oscar Adán.
A174t Teoria de perturbação causal no plano nulo / Oscar Adán Acevedo
Sánchez. – São Paulo, 2022
244 f.
«Gratidão», do latim gratitūdo, é o «sentimento que obriga uma pessoa a estimar o benefício
ou favor que outra lhe tem feito ou tem querido fazer, e a lhe corresponder de alguma maneira».
Há, como não?, muitas pessoas por quem sinto gratidão. Esta pagina tem a missão –é claro que
incumprível– de lhes «corresponder de alguma maneira».
As primeiras dessas pessoas se encontram em minha família. Meus pais, Diego e Erika, que
orientaram minha vida para o bem, me inculcaram a disciplina ademais de valores cruciais como
a responsabilidade e o respeito, e me apoiaram sempre. Jamais poderei lhes agradecer o suficiente.
Meu irmão, Diego, e a bela família que começou formar durante este tempo. Meu avô, Alberto, que
partiu no decorrer destes meus estudos.
Gostaria de agradecer muito especialmente a meu orientador, o professor Dr. Bruto Pimentel,
quem me deu a oportunidade de fazer pesquisa, me ensinou bastante de física, e se tornou um muito
apreciado amigo.
Estes anos, sem dúvida, não teriam sido tão felizes e inspirados sem a presença de quem agora é
minha amada esposa, Evelyn, cuja luz, paciência e carinho foram essenciais para meu crescimento
espiritual.
Ainda desejo fazer menção a essas pessoas que, sem conhecê-las pessoalmente, tiveram um
grande impacto em minha vida. Entre eles se destacam Aristocles, chamado Platão, Leibniz e
Kierkegaard. Muito obrigado por falar conosco, através dos séculos, por meio de suas grandes obras.
Finalmente, agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento, e ao
Instituto de Física Teórica pelo acolhimento.
i
«Fazer contabilidade com uma grandeza infinita é impossível,
pois calcular é exatamente tornar finito.»
ii
Resumo
iii
Abstract
The theory of quantized fields on the null-plane is a commonly used tool for the study of
hadron physics, as it allows the application of techniques and approximations whose usage in
instant dynamics is almost impracticable. Nonetheless, it is not free of difficulties: Questions
about the regularization and renormalization of the amplitudes involving the instantaneous
terms that typically appear in this dynamical form stay without a definitive answer, which is
already manifest at the perturbative regime. The thesis now being submitted to consideration
intends to shed light on these points from the perspective of causal perturbation theory. It is
a perturbation theory for the construction of the scattering operator, understood as a map
between Fock’s spaces of the asymptotically free states, and which, as a consequence, uses
the well-defined free fields only. It was originally formulated in instant form dynamics and
rests on distribution theory, because of which it leads to finite results free of ultra-violet
divergences, requiring no regularization procedure.
In this thesis, causal perturbation theory is formulated in light-front dynamics, keeping
in mind the above points and allowing, as erstwhile in instant dynamics, to clarify the
ambiguities that come from the diversity of regularization procedures, frequently pointed out
in the null-plane literature. The theory so obtained is applied to Yukawa’s model and, after a
study around the implementation of quantum gauge invariance, to the fermion quantum
electrodynamics. We study these models at the second order in the coupling constant,
establishing their interaction Lagrangian densities and calculating their radiative corrections;
we also prove the normalizability of their corresponding physical scattering operators. At
last, for the electrodynamics we show that it is possible to satisfy Ward-Takahashi’s identities
at all orders of perturbation theory.
iv
Índice
1 Introdução 1
1.1 Forma dinâmica da frente de luz (do plano nulo) . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Teoria de perturbação causal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
v
6 Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa 149
6.1 Extensão do espaço de Fock . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
6.2 Prova da invariância de Poincaré do subespaço físico . . . . . . . . . . . . . . 152
6.3 Pseudo-unitariedade da transformação de Poincaré
no espaço de Fock estendido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
6.4 Definição da transformação de gauge quântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
6.5 Invariância de gauge quântica do operador de espalhamento . . . . . . . . . . 166
6.6 Unitariedade do operador de espalhamento no subespaço físico . . . . . . . . 173
8 Epílogo 211
Referências 232
vi
Capítulo 1
Introdução
A teoria quântica do campo –doravante QFT por suas siglas em inglês– é uma das teo-
rias mais precisas já criadas para a descrição dos fenômenos que têm lugar nas microescalas:
Desde seu início, os cientistas descrevem com ela o espalhamento das partículas fundamen-
tais como das compostas, calculam a razão giromagnética dos léptons, reproduzem os desdo-
bramentos no espectro de energia do átomo, et cetera. Muitos desses problemas são soluciona-
dos com o uso da denominada «forma instantânea» da QFT, na qual o parâmetro de evolução
dinâmica é a coordenada x0 . Alguns outros, como o estudo do laser e da estrutura interna dos
hádrons, têm se mostrado mais simples na chamada «forma da frente de luz» ou do «plano
nulo», na qual o parâmetro de evolução é a coordenada x + ∼ x0 + x3 . Por outro lado, a for-
mulação mais conhecida e utilizada da QFT, aquela devida a Tomonaga, Schwinger, Feynman
e Dyson, entre outros, exibe divergências ultra-violetas nas amplitudes correspondentes aos
diagramas em que estão presentes loops; embora essas divergências possam ser removidas
com o uso das técnicas de regularização e de renormalização, resulta insatisfatório desenvol-
ver uma teoria que está mal definida desde o início, e que, por isso, leva ao aparecimento de
determinadas ambiguidades. Uma alternativa a essa formulação é a «teoria de perturbação
causal» –doravante TPC–, cuja forma quase-final na dinâmica instantânea é devida a Epstein
e Glaser. A tese que agora iniciamos tem como primeiríssimo objetivo reformular essa teoria
axiomática do operador de espalhamento na dinâmica do plano nulo. Com o intuito de sali-
entar a importância de semelhante tarefa, oferecemos nesta Introdução um breve resumo da
história e do trabalho que tem sido desenvolvido, tanto na QFT no plano nulo quanto na TPC.
1
2 Capítulo 1. Introdução
recentemente feita [8, 9, 10, 11], que essas cinco formas dinâmicas são as únicas possíveis uma
vez que seja imposta a transitividade do grupo de estabilidade das superfícies isocrônicas1 ,
e nenhuma outra pode existir. Impera fazer notar que no limite newtoniano em que a
velocidade da luz adota o valor infinito, c → +∞, as cinco formas dinâmicas relativísticas
degeneram na dinâmica instantânea, motivo pelo qual o limite newtoniano não é motivo de
preferência da forma instantânea na teoria relativísitica: A finitude da velocidade da luz não
faz aparecer novas formas dinâmicas, mas levanta sua degenerescência.
É justo dizer que as cinco formas dinâmicas merecem atenção, pois é bem possível que
sejam adequadas para a resolução de determinados problemas específicos. Quanto à forma
do plano nulo, ela é especial: Dirac [1] mostrou que nela o número de geradores do grupo de
Poincaré independentes da interação é máximo; também, os planos nulos são as superfícies
características da equação de Klein-Gordon-Fock [12, 13]. Há ainda uma vantagem prática
na quantização do campo no plano nulo, que foi apontada por Brodsky, Pauli e Pinsky [14]:
Especificar a função de onda inicial de um átomo composto por n elétrons na dinâmica
instantânea requer a medição simultânea das posições de todos os elétrons; para determinar
tal função de onda inicial a tempo x + constante, por outro lado, requer-se apenas um
experimento de espalhamento de uma onda plana de laser. Quer dizer, a especificação
experimental das condições iniciais se simplifica na adoção da forma dinâmica do plano nulo.
Após o referido artigo de Dirac, muito pouco trabalho foi feito em relação às recém
descobertas formas dinâmicas. A dinâmica da frente de luz, nada obstante, re-apareceu
independentemente na física como uma ferramenta útil para o estudo de dois problemas.
Primeiro, em 1965 nos trabalhos de Fubini e Furlan [15] na área da álgebra de correntes, como
o limite de um sistema inercial de referência movendo-se com velocidade próxima à da luz;
eles chamaram tal referencial «sistema de referência de momento infinito»; nessa linha de
pesquisa se encontram, por exemplo, os trabalhos de Weinberg [16] e de Bebié e Leutwyler
[17]. Mais tarde, porém independentemente, a dinâmica do plano nulo se mostrou vantajosa
no estudo dos campos de laser em 1967 durante os estudos de doutorado de Neville sob
a orientação de Rohrlich –essa história é relatada nas Refs. [13, 18, 19]–. Como vemos, a
dinâmica do plano nulo, sem referência alguma ao trabalho de Dirac, renasceu na física
como uma ferramenta fenomenológica. Mas a relação com o estudo de Dirac não tardou em
ser reconhecido: Chang e Ma [20], em 1969, publicaram um artigo devotado ao estudo do
modelo com interação φ3 e ao da eletrodinâmica quântica –doravante QED por suas siglas
em inglês– nas novas variáveis da frente de luz. Além de mostrar que a utilização dessas
variáveis facilita o cálculo das auto-energias em segunda ordem e do momento magnético
do elétron, estabeleceram pela primeira vez, se bem que de forma um tanto imprecisa, a
relação entre o sistema de referência de momento infinito e a forma da frente de luz de Dirac.
Em 1970, também, Kogut e Soper [21] estabeleceram que o limite de momento infinito pode
ser reinterpretado como uma mudança de variáveis, identificando essa abordagem com a
quantização no plano nulo de Rohrlich e Neville. É interessante notar que Kogut e Soper, o
1 Isto é, que todo ponto da superfície possa ser mapeado em qualquer outro pela aplicação de algum elemento
do grupo de estabilidade.
Capítulo 1. Introdução 3
mesmo que muitos dos artigos que vieram à luz nos anos seguintes, não citaram o artigo
de Dirac, mas o de Chang e Ma, de forma que é bem possível que já estivessem cientes do
trabalho de Dirac. Concluindo, podemos dizer com justiça que a dinâmica do plano nulo foi
independentemente descoberta três vezes: Em 1949 por Dirac, em 1965 por Fubini e Furlan,
e em 1967 por Neville e Rohrlich, e que as diversas abordagens foram identificadas como
correspondentes a uma e a mesma teoria por Chang e Ma e por Kogut e Soper. Semelhante
situação não é incomum na história intelectual.
Com o renascimento do estudo das formas dinâmicas impulsionado pela física no plano
nulo e a correspondente re-descoberta das idéias de Dirac, advieram igualmente trabalhos de
pesquisa na forma dinâmica da forma-ponto –uma revisão relativamente recente pode ser en-
contrada na Ref. [22]–. Desde então o trabalho na forma dinâmica do plano nulo intensificou-
se. O problema dos valores iniciais sobre o plano nulo, para os campos escalar, de Dirac e
eletromagnético foi estudado por Rohrlich e Neville [13, 23], que estabeleceram teoremas de
existência e unicidade das soluções; em particular, para o campo eletromagnético introduzi-
ram a condição de gauge do plano nulo, A+ = 0, que então tornou-se a escolha natural nessa
forma dinâmica. Uma contribuição importante para a quantização do campo no plano nulo
foi dada por Leutwyler, Klauder e Streit [24]; entre os diversos resultados teóricos que estes
pesquisadores obtiveram, foi estabelecido de forma precisa o significado da independência
da massa nessa forma dinâmica: Dois espaços de Fock correspondentes a partículas com mas-
sas diferentes são unitariamente equivalentes. A propósito de equivalências, Ten Eyck e Rohr-
lich [25, 26], por um lado, e Chang, Root e Yan [27, 28, 29, 30] pelo outro, estudaram a equi-
valência entre a QFT no plano nulo e a QFT na forma instantânea comumente usada. Na Ref.
[31], Brodsky, Roskies e Suaya consideraram a renormalização da QED no plano nulo. Na
área fenomenológica, Drell, Levy e Yan [32, 33, 34, 35] usaram a QFT na frente de luz como a
linguagem natural para formular o modelo a pártons. Uma ferramenta importante para o cál-
culo das funções de onda e o espectro dos hádrons é a «quantização discreta no cone de luz»,
inventada por Maskawa e Yamawaki2 [39] e explorada na prática por Pauli e Brodsky [40, 41].
No regime não-perturbativo, um método muito relevante é a «abordagem hamiltoniana no
cone de luz» (light-cone Hamiltonian approach) [14], amplamente usado nos estudos da física ha-
drônica e que explora as propriedades únicas da dinâmica da frente de luz, as quais permitem
usar técnicas computacionais cuja implementação prática na dinâmica instantânea é inviável,
exempli gratia, basis light-front quantization [42, 43], a aproximação de Tamm-Dancoff [44], et
cetera. Um compêndio das importantes contribuições e perspectivas da cromodinâmica quân-
tica –doravante QCD por suas siglas em inglês– no plano nulo pode ser lido na Ref. [45].
Voltando à área teórica, a formulação das teorias de gauge não-abelianas no plano
nulo foi feita pela primeira vez por Tomboulis [46] na ausência de matéria, e por Casher
[47] na presença de férmions. Contudo, as amplitudes de Feynman a um loop exibiam
2 Estes autores introduziram a mencionada técnica para solucionar o assim chamado «problema dos modos
zero». Uma importante revisão do problema e sua solução mediante a discretização do momento encontra-se
na Ref. [36]. O problema, contudo, pode também ser solucionado na formulação contínua; quando o caráter
distribucional dos campos é levado em consideração, os modos zero podem ser removidos por simples restrição
do espaço das funções de teste [37, 38].
4 Capítulo 1. Introdução
A história da QFT é bem conhecida. Ela foi inventada por Born e Jordan em 1925 [56] sob
o nome «eletrodinâmica matricial» no espírito da mecânica matricial de Heisenberg. Nesse
trabalho foi feita a quantização do campo eletromagnético como um conjunto de osciladores
desacoplados. Artigos muito importantes foram publicados naqueles anos, mostrando, além
de promissores resultados, os primeiros grandes problemas da teoria; por exemplo, em 1928
Jordan e Pauli [57] reconsideraram a quantização do campo eletromagnético, introduzindo a
agora chamada «distribuição de Jordan-Pauli», e colocando pela primeira vez o problema
da energia infinita do ponto zero. No mesmo ano, Jordan e Wigner [58] mostraram que
o princípio de exclusão de Pauli requer a quantização com anti-comutadores. Também, o
método geral de quantização canônica foi desenvolvido por Heinseberg e Pauli em 1929 [59].
Todos esses resultados –e muitos outros, concernentes, por exemplo, à teoria do campo de
Dirac e sua quantização, história que pode ser encontrada, por exemplo, na Ref. [60]– deram
origem às duas famosas contribuições de Pauli: Seu artigo de 1940 sobre a relação entre spin
e estatística [61] e sua excelente revisão, publicada em 1941, da quantização dos campos [62].
O seguinte tópico na história da QFT foi a construção da teoria em interação. A tentativa
mais difundida foi aquela devida a Tomonaga, Koba, Tati e Kanesawa [63, 64, 65, 66, 67], que
publicaram uma série de artigos entre 1946 e 1948, Schwinger [68, 69, 70] entre os anos 1948 e
1949, e Feynman [71] em 1949; a equivalência entre estes trabalhos foi provada por Dyson [72]
em 1949. Foi o mesmo Dyson, e no mesmo ano, o primeiro a regularizar as integrais da QED
e a renormalizar a teoria mediante a absorção dos infinitos nos termos de carga e massa [73].
Por esses anos, a noção de campo quantizado como um operador agindo sobre um es-
Capítulo 1. Introdução 5
e não sua representação explícita, o principal objeto matemático da teoria quântica –uma
importante referência para esta proposta axiomática é o já clássico livro de Haag [95]–.
A abordagem que seguir-se-á nessa tese, chamada «programa da matriz S», foi iniciada
por Heisenberg [96] em 1943 como uma tentativa de ir além da teoria lagrangiana, e em boa
medida motivou as abordagens axiomáticas que antes comentamos, as quais consideraram
a proposta de Heisenberg de uma forma não tão radical. Heisenberg compreendeu que
o objeto observável básico na física das partículas é a matriz S, propondo por isso que
a teoria seja diretamente construída em função de seus elementos. A ideia foi adotada
por Stückelberg, cujo desenvolvimento é exposto em detalhe no capítulo 7 da Ref. [97].
Particularmente, foi em 1946 que Stückelberg anunciou que uma condição de causalidade
é necessária para determinar univocamente a matriz S perturbativamente, para o qual a
unitariedade e a invariância relativística não são suficientes. Ele trabalhou nessa ideia com
seu estudante Rivier [98] e obteve uma teoria em que as integrais infinitas são substituídas
por termos finitos indeterminados. Adicionalmente, estes pesquisadores argumentaram que,
como a matriz de espalhamento é um mapa entre espaços de estados livres, ela só deveria
ser construída utilizando os operadores de campo livre.
Estes resultados foram o ponto de partida no esquema axiomático de Bogoliubov, Med-
vedev e Polivanov [99, 100, 101]. Usando da linguagem da teoria das distribuições, simplifi-
caram a condição de causalidade de Stückelberg e Rivier pela introdução de uma «função de
comutação» g (switching function), da qual o operador de espalhamento torna-se um funcio-
nal, S = S( g), que pode então ser construído só com os bem definidos campos livres.
Sobre esta base axiomática trabalhou Stepanov3 [102], que em 1965 estabeleceu um mé-
todo indutivo para construir a matriz S perturbativamente, baseado principalmente no axi-
oma da causalidade. Ele levou em consideração o caráter distribucional do campo ao estudar
cuidadosamente o espaço das funções de teste em que estão definidas as diversas distribui-
ções numéricas que aparecem nos termos perturbativos da matriz S, usando posteriormente
o teorema de Hahn-Banach para estender as ditas distribuições a um espaço de funções mais
geral. Contudo, Stepanov utilizou uma formulação do axioma da causalidade em que a fun-
ção de comutação de Bogoliubov não aparece, do qual é possível inferir que seu trabalho
ainda teria problemas de divergências infra-vermelhas. O trabalho de Stepanov, finalmente,
não encontrou resposta da comunidade.
A solução perturbativa completa dos axiomas de Bogoliubov, Medvedev e Polivanov foi
detalhadamente desenvolvida em 1973 por Epstein e Glaser [103], que evitaram o uso dos
mal definidos produtos cronológicos, e assim o aparecimento das divergências ultra-violetas,
substituindo os produtos mencionados por um processo indutivo baseado na causalidade
semelhante ao utilizado por Stepanov, e que, diferentemente deste, fazia uso tanto da função
de comutação de Bogoliubov, permitindo controlar adequadamente as divergências infra-
vermelhas, como de uma cuidadosa divisão da distribuição causal em suas partes retardada
e avançada, este último possível graças à teoria de divisão de distribuições desenvolvida por
Łojasiewicz e Malgrange [104, 105, 106]. Nessa teoria é extremamente importante determinar
Há, contudo, diferenças importantes entre o enfoque que aqui seguiremos e aquele adotado
nos trabalhos recém citados4 : Na filosofia da forma dinâmica da frente de luz, escreveremos
o axioma da causalidade de forma mais fraca, envolvendo apenas à coordenada temporal
x + ; nos trabalhos prévios dito axioma era referido ainda à coordenada x0 , levando a uma
teoria diferente daquela na dinâmica instantânea apenas por uma mudança de coordenadas,
sem haver uma verdadeira mudança da forma dinâmica. A escolha que aqui fizemos é a que
comumente se adota na QFT no plano nulo, em que os produtos cronológicos são escritos
com o uso da função de Heaviside da coordenada x + ; desejamos obter um ordenamento
cronológico matematicamente bem definido segundo essa variável5 . Uma consequência
notável dessa escolha é o aparecimento dos «termos instantâneos» dos propagadores de
Feynman do campo de Dirac e do eletromagnético, cuja regularização é motivo de frequentes
esforços na comunidade de pesquisadores na área da QFT no plano nulo [145, 146].
A tese que agora se lê organiza-se da forma seguinte. No Cap. 2 –que deu origem ao
artigo da Ref. [147]– apresentamos a teoria do campo clássico na forma dinâmica do plano
nulo, cuja quantização é objeto de estudo do Cap. 3. O marco teórico em que se assentam os
seguintes capítulos, isto é, o desenvolvimento da TPC no plano nulo, é exposto no Cap. 4
[148, 149]. A primeira aplicação dessa formulação é mostrada no Cap. 5, em que estudamos
o modelo de Yukawa neutro [150]. Com a finalidade de continuar o estudo das teorias de
gauge, formulamos no Cap. 6 a teoria invariante de gauge quântica [151], que permite a
construção das teorias de gauge com ajuda dos assim chamados «campos fantasma». Em
seguida aplicamos estes resultados à QED fermiônica no Cap. 7 [152, 151]. Nossas conclusões
e perspectivas são finalmente apresentadas no Cap. 8.
4 Há diferença também quanto ao método de quantização do campo: Nas Refs. [141, 142] ela é substituída
pela representação analítica dos propagadores, que no caso eletromagnético usa do formalismo lagrangiano com
a introdução de fatores indeterminados (multiplicadores de Lagrange). Isto leva a algumas diferenças entre a
distribuição de comutação desse campo obtida na referência anterior e a que obtivemos nessa tese. Contudo, tal
diferença não é essencial, devido à invariância de gauge quântica que desenvolvemos no Cap. 6.
5A construção indutiva da TPC pode ser considerada uma definição rigorosa do ordenamento cronológico
de Wick, conceito este introduzido por Sukhanov nas Refs. [143, 144].
Capítulo 2
Neste capítulo será introduzida a dinâmica da frente de luz, as ferramentas que serão
necessárias para nela trabalhar e será estudada a teoria lagrangiana do campo clássico nessa
forma dinâmica. Dirac a introduziu em 1949 [1] a partir do formalismo hamiltoniano, mas
como estamos interessados em definir a teoria do campo nela para logo prosseguir a sua
quantização –o que será feito no seguinte capítulo–, necessitaremos apenas as equações do
movimento dos campos e a definição algébrica de Dirac não aparecerá; contudo, oferece-
mos uma breve revisão das idéias de Dirac, acrescentadas com as duas formas dinâmicas
descobertas por Leutwyler e Stern, no Ap. A.
É bem sabido que a imposição dos princípios da relatividade1 leva ao resultado de que
todos os campos, e ainda mais explicitamente, todas as componentes de todos os campos,
que denotaremos por u A , devem satisfazer à equação de Klein-Gordon-Fock:
□ + m2 u A = 0 ,
(2.1)
com algum valor do parâmetro m2 , associado à massa da partícula cujo movimento é descrito
ondulatoriamente pelo campo. Lembramos que a obtenção dessa equação obedece ao fato
de que os campos se transformam segundo determinadas representações irredutíveis do
grupo de Poincaré, sendo que um dos operadores de Casimir é o quadrado do operador de
momento, P2 , que é então proporcional à identidade (com fator de proporcionalidade que
tem-se denotado por m2 ), como o garante o lema de Schur.
Porém, a teoria da relatividade é uma teoria causal no seguinte sentido: Como a veloci-
dade da propagação da informação não pode nunca superar à da luz no vazio, o valor que o
campo adota num dado ponto P do espaço-tempo é determinado por um certo conjunto de
dados dele e, possivelmente, de suas derivadas, contidos no cone de luz passado em relação
ao ponto P e em seu interior. Vê-se claramente, assim, que a impossibilidade de superar à
1 Usar-se-á a palavra «relatividade» no sentido em que usualmente se diz «relatividade restrita» ou «especial»,
atendendo ao fato de que, como tem sido devidamente elucidado por Fock, uma «relatividade geral» não pode
ser definida no espaço-tempo tetradimensional, visto que um espaço dessa dimensionalidade já é máximamente
uniforme quando é invariante sob um grupo de dez parâmetros, como o é o grupo de Poincaré: A uniformidade
–e então tampouco a relatividade– desse espaço podem ser «generalizados». A este respeito, consultar a
Introdução da Ref. [154].
9
10 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
Determinar quais dados precisa-se conhecer para poder antecipar o valor do campo em
um ponto futuro é o problema dos valores iniciais, que para as equações diferenciais da se-
gunda ordem pode ser precisamente formulado da seguinte forma [155]:
∂u ∂2 u ∂2 u
ϕ u; xi ; ; ; = 0 (i = 1, · · · , m) (2.2)
∂xi ∂xi2 ∂xi ∂xk
uma equação diferencial parcial da segunda ordem, linear em u e em suas derivadas com coeficientes
que são funções quaisquer das variáveis xi . Quer-se encontrar uma solução tal que na «superfície
inicial» xm = 0:
∂u
u ( x 1 ; · · · ; x m −1 ; 0 ) = u 0 ( x 1 ; · · · ; x m −1 ) e ( x 1 ; · · · ; x m −1 ; 0 ) = u 1 ( x 1 ; · · · ; x m −1 ) .
∂xm
(2.3)
Esse é o problema dos valores iniciais (de Cauchy) com respeito à superficie inicial xm = 0 e com «da-
dos de Cauchy» ou «condições iniciais» u0 e u1 .
Sabe-se que toda equação diferencial, quer ordinária, quer parcial, admite um número
infinito de soluções, que são escritas como uma «integral geral» contendo um determinado
número de parâmetros ou funções desconhecidas. O problema dos valores iniciais inclui em
seu enunciado um conjunto de condições adicionais –os dados de Cauchy– que visam deter-
minar os elementos arbitrários da integral geral, mas não é, em princípio, claro que seja possí-
vel com elas encontrar uma, e só uma, solução, pois pode acontecer que os dados de Cauchy
sejam incompatíveis com a integral geral ou que não sejam suficientes para fixar todos os ele-
mentos arbitrários. Assim, dir-se-á que o problema dos valores iniciais está bem definido se
ele (i) tem solução, e (ii) dita solução é única. As condições sob as quais isto acontece são esta-
belecidas no seguinte teorema, que apresenta-se aqui para o caso de duas variáveis indepen-
dentes x e y –o que é suficiente para ilustrar o procedimento de solução e suas dificuldades–:
Teorema 2.1 (de Cauchy-Kovalevskaya): Seja o problema de Cauchy para a equação diferencial
parcial da segunda ordem e de duas variáveis
∂u ∂u ∂2 u ∂2 u ∂2 u
ϕ u; x; y; ; ; 2 ; 2 ; =0 , (2.4)
∂x ∂y ∂x ∂y ∂x∂y
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 11
∂ϕ
̸= 0 , (2.6)
∂ (∂2 u/∂x2 )
∂2 u ∂u ∂u ∂2 u ∂2 u
= f u; x; y; ; ; 2 ; , (2.7)
∂x2 ∂x ∂y ∂y ∂x∂y
Caso haja interesse nos detalhes técnicos desse teorema, pode-se consultar as Refs.
[155, 156]. O que aqui exporemos é a construção da solução, que tem como consequência
direta a unicidade da mesma. Escrevamos a função incógnita u( x; y) como série de potências
na variável x, ao redor do ponto x = 0 em que são definidos os dados de Cauchy:
∂h u
u
u = u0 + u1 x + · · · + h x h + · · · ; uh = uh (y) ≡ . (2.8)
h! ∂x h x=0
∂h+k u ∂k uh
= , (2.9)
∂x h ∂yk x=0
∂yk
∂u0 ∂2 u0 ∂u1
u2 = f u0 ; 0; y; u1 ; ; ; , (2.10)
∂y ∂y2 ∂y
∂f ∂f ∂f ∂f ∂u1 ∂f ∂u2
u3 = u1 + + u2 + +···+ 2
. (2.11)
∂u ∂x ∂ (∂u/∂x ) ∂ (∂u/∂y) ∂y ∂ (∂ u/∂x∂y) ∂y
Todas as derivadas nessa equação estão avaliadas nos argumentos de f na Eq. (2.10). A
Eq. (2.11) indica que a função u3 está determinada pelos dados de Cauchy e a função u2
previamente obtida. Também, a condição de f ser holomórfica na vizinhança de x = 0 tem
sido usada para tomar sua derivada e avaliá-la nesse ponto. E é da mesma forma que os
12 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
seguintes termos na seqüência da Eq. (2.8) são obtidos por derivação sucessiva da Eq. (2.7) e
posterior avaliação em x = 0: o resultado será sempre que a função uh é um polinômio de u0 ,
u1 , ..., uh−1 e suas derivadas, assim como de f e suas derivadas avaliadas nos argumentos da
Eq. (2.10).
Uma vez que se conhece as funções uh , pode-se expressá-las como séries de potências na
variável y ao redor do ponto y0 fixo:
uhk
uh (y) = ∑ k!
( y − y0 ) k , (2.12)
k
u
u( x; y) = ∑ h!k!
hk h
x ( y − y0 ) k , (2.13)
h,k
com todos os coeficientes uhk determinados pelos dados de Cauchy. Como aqueles são
únicos, o problema dos valores iniciais não admite mais de uma solução holomórfica,
representada pela série da Eq. (2.13). Essa é a unicidade da solução. Sua existência depende
do fato da série da Eq. (2.13) ser convergente para | x | e |y − y0 | limitados por certos valores
apropriados. Mas, em síntese, o que temos aprendido é que uma equação diferencial parcial
da segunda ordem tem problema dos valores iniciais bem definido se se especifica a função e
sua primeira derivada em relação a uma de suas variáveis numa superfície em que a mesma
adota um valor fixo e que, além disso, se a solução existe, então ela é única.
Apliquemos então este conhecimento à equação de Klein-Gordon-Fock [Eq. (2.1)]. Como
estamos interessados na evolução temporal da solução, escolheremos a variável t para
enunciar o problema dos valores iniciais: Seja u( x ) = u(t; x) uma função que satisfaz à
equação da segunda ordem:
∂2 u
( x ) = (∇2 − m2 )u( x ) , (2.14)
∂t2
Logo se vê que a Eq. (2.14) tem a forma da Eq. (2.7) e, portanto, a tese do teorema de
Cauchy-Kovalevskaya lhe é aplicável. Para solucionar tal equação, passamos ao espaço dos
momentos por meio da transformação de Fourier aplicada à função u. Exigindo que satisfaça
à Eq. (2.14), passa a ter a forma:
Z
−2
u( x ) = (2π ) d4 pδ( p2 − m2 )u( p)e−ipx (2.16)
d4 p
Z
= (2π )−2 δ( p0 − ω p ) + δ( p0 + ω p ) u( p)e−ipx
, (2.17)
|2p0 |
p
com: ω p ≡ p2 + m2 . Integrando na variável p0 com o uso das distribuições delta de Dirac,
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 13
d3 p
Z
u( x ) = (2π )−2 u+ ( p) e−ipx + u− ( p) e−ipx . (2.18)
2ω p p0 = ω p p0 =−ω p
d3 p
Z
u0 ( x) = u(0; x) = (2π )−2 [u+ ( p) + u− ( p)]eip · x . (2.19)
2ω p
obtendo-se, via uma comparação das Eqs. (2.19) e (2.20) e a independência linear das funções
exponenciais eip · x , que:
Z
u+ ( p) + u− ( p) = 2ω p (2π )−1 d3 yu0 (y)e−ip · y . (2.21)
d3 p
Z
u1 ( x) = ∂t u(0; x) = (2π )−2 (−iω p )[u+ ( p) − u− ( p)]eip · x , (2.22)
2ω p
d3 p
Z Z
−3
u( x ) = (2π ) 3
d y (ω p u0 (y) + iu1 (y)) e−ip(x−y)
2ω p p0 = ω p
y0 =0
−ip( x −y)
+(ω p u0 (y) − iu1 (y)) e
p0 =−ω p
Z Z
= (2π )−3 d4 pδ( p2 − m2 ) d3 y ω p u0 (y) + isgn( p0 )u1 (y) e−ip(x−y)
. (2.25)
y0 =0
14 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
com o qual: Z
u( x ) = d3 y [u0 (y)∂0x D ( x − y) + D ( x − y)u1 (y)] . (2.27)
y0 =0
Essa distribuição tem duas propriedades imediatas: Por causa da distribuição delta de Dirac
que aparece em seu integrando, ela satisfaz à equação de Klein-Gordon-Fock com massa m,
isto é, à mesma equação diferencial que rege a evolução do campo u:
(□ + m2 ) D ( x ) = 0 . (2.29)
Também, de sua forma integral explícita dada na Eq. (2.28) segue a propriedade de antissi-
metria:
D ( x ) = − D (− x ) . (2.30)
Fazendo uso, precisamente, desta última propriedade, pode-se escrever a Eq. (2.27) com a
derivada que age sobre D ( x − y) não sendo já em relação à variável x0 , mas em relação à y0 :
Z
y
d3 y u0 ( y ) ∂0 D ( y − x ) − D ( y − x ) u1 ( y )
u( x ) = . (2.31)
y0 =0
y
Essa mudança é útil porque, lembremos: u1 (y) = ∂0 u(0; y); mas o fato de ser y0 = 0 já está
y
indicado na integral. Daí que é possível escrever, dentro dela, u1 (y) = ∂0 u(y) e u0 (y) = u(y).
Assim, usando mais uma vez a Eq. (2.30), obtém-se finalmente:
←→y
Z
u( x ) = d3 yD ( x − y) ∂ 0 u(y) . (2.32)
y0 =0
1
m √
D(x) = sgn( x0 ) δ( x2 ) − Θ( x2 ) √ J1 (m x2 ) , (2.33)
2π 2 x2
com:
V + ( x ) : = y ∈ M | ( y − x )2 ≥ 0 ∧ y0 ≥ x 0
(2.35)
V − ( x ) : = y ∈ M | ( y − x )2 ≥ 0 ∧ y0 ≤ x 0
(2.36)
o «cone de luz passado em relação ao ponto x». Para finalizar a introdução da nomenclatura,
a união V + ( x ) ∪ V − ( x ) é o «cone de luz com vértice no ponto x». Isto é: D ( x ) tem suporte
causal em relação à origem do sistema de coordenadas. À luz da Eq. (2.32), a Eq. (2.34)
implica que, transladando a origem até o ponto x em que se quer conhecer o valor do campo
u, como D ( x − y) tem suporte no cone de luz com vértice em x, u( x ) não é afetado pelos
valores que no passado o campo adotou fora do cone de luz de x, nem afetará aos valores
que adotará fora dele no futuro.
Consideremos agora o assunto que segue. A solução obtida, embora satisfatória, não é
geral como gostaríamos, pois precisa do conhecimento dos dados de Cauchy numa superfície
de tempo constante. Mas, o que aconteceria se os dados nos fossem conhecidos numa
superfície diferente? Voltando ao problema dos valores iniciais como enunciado na Eq. (2.2),
suponhamos que o espaço m-dimensional é submetido à transformação de coordenadas:
X1 = G1 ( x1 ; · · · ; xm ) , ··· , Xm = Gm ( x1 ; · · · ; xm ) , (2.37)
∂U ∂2 U ∂2 U
Φ U; Xi ; ; ; =0 . (2.38)
∂Xi ∂Xi2 ∂Xi ∂Xk
Esta simples transformação de coordenadas, poderia parecer, não tem maiores implicações
na teoria, pois, aparentemente, poder-se-ia aplicar o teorema de Cauchy-Kovalevskaya à
nova equação diferencial. Suponhamos, contudo, que a Eq. (2.4) é linear, isto é, que tem a
seguinte forma geral:
∂2 u ∂u
∑ Aik ∂xi ∂xk
+ ∑ Bi
∂xi
+ Cu = f , (2.39)
i,k i
com Aik = Aki , Bi , C e f funções das variáveis xi . Uma vez que as transformações da Eq.
(2.37) sejam feitas, usando a regra de derivação em cadeia obtém-se que a Eq. (2.39) é, em
relação às variáveis Xi :
! !
∂Gj ∂G ∂2 U ∂G ∂U
∑ ∑ Aik ∂xi ∂xkl ∂X j ∂Xl ∑
+ ∑ Bi ∂xil ∂Xl
+ CU = f . (2.40)
j,l i,k l i
Este é o único caso em que a generalização para superfícies iniciais quaisquer não pode
ser feita trivialmente. As superfícies Gm ( x1 ; · · · ; xm ) = 0 para as que isto acontece são
nomeadas «superfícies características» da equação diferencial. O estudo do problema dos
valores iniciais com superfície inicial uma superfície característica, chamado «problema de
Goursat» [157], é tema de consideração da seguinte subseção.
m −1
∂2 u ∂2 u ∂u
∑ Aik ∂xi ∂xk
+ ∑ Aii 2 + ∑ Bi
∂xi ∂xi
+ cu = f ; Amm = 0 . (2.43)
i ̸=k i =1 i
O primeiro propósito desta discussão será ver se os dados de Cauchy que são suficientes
no problema fora de superfícies características o são também nesse caso. Suponhamos, pois,
que sejam conhecidos:
∂u
u ( x 1 ; · · · ; x m −1 ; 0 ) = u 0 ( x 1 ; · · · ; x m −1 ) ; ( x 1 ; · · · ; x m −1 ; 0 ) = u 1 ( x 1 ; · · · ; x m −1 ) .
∂xm
(2.44)
Façamos, como anteriormente, a expansão ao redor do ponto xm = 0:
∂h u
uh h
u = u0 + u1 x m + · · · + x +··· ; u h = u h ( x1 ; · · · ; x m ) ≡ . (2.45)
h! m ∂xmh
x m =0
Colocando essa expansão na Eq. (2.43), então pondo xm = 0, obtém-se já não uma expressão
2 Recordemos, en passant, que a forma característica define o tipo da equação diferencial parcial [157]: (i) Se
ela contém m autovalores diferentes não nulos do mesmo sinal, como acontece, por exemplo, com a equação de
Laplace ∇2 φ = 0, se denomina «elíptica»; (ii) se tem menos de m autovalores não nulos, como acontece com a
equação de Schrödinger ∂t ψ + ∇2 ψ = 0, «parabólica»; (iii) se ela tem m autovalores não nulos, não todos do
mesmo sinal, como acontece com a equação de Klein-Gordon-Fock [Eq. (2.14)], então a equação diferencial
recebe o nome de «hiperbólica». Particularmente, se na equação hiperbólica a forma característica tem todos os
autovalores do mesmo sinal, exceto um, então ela é denominada «hiperbólica normal»; é a esse tipo que pertence
a equação de Klein-Gordon-Fock.
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 17
∂u1
2 ∑ Aim ∂xi + Bm u1 + H1 = 0 , (2.46)
i ̸=m
∂2 u0 ∂2 u0 ∂u0
H1 = ∑ Aik + ∑ Aii 2 + ∑ Bi
∂xi ∂xk i̸=m ∂xi ∂xi
+ Cu0 − f . (2.47)
i ̸=m,k ̸=m,i ̸=k i ̸=m
Vê-se, dessarte, que se u1 não fosse dado de forma a satisfazer a essa equação diferencial,
então o problema dos valores iniciais com os dados iniciais da Eq. (2.44) não teria solução.
Isto já é diferente do que ocorre quando os dados iniciais são dados fora das superfícies
características: naquele caso o problema com valores iniciais da função e sua primeira
derivada tem solução quaisquer que sejam estes. Portanto, é preciso oferecer outros dados
iniciais, a saber, os necessários para que as equações diferenciais que se obtém para as
funções uh possam ser univocamente solucionadas.
A Eq. (2.46) é uma equação diferencial parcial da primeira ordem para u1 . Que as
equações para os outros uh são também desse tipo o demonstra a seguinte análise. Derivando
a Eq. (2.43) em relação a xm e colocando depois xm = 0, encontra-se a seguinte equação
diferencial para u2 :
∂u2
2 ∑ Aim ∂xi + Bm u2 + H2 = 0 , (2.48)
i ̸=m
com:
∂2 u1 ∂2 u ∂u ∂f
H2 = ∑ Aik + ∑ Aii 21 + ∑ Bi 1 + Cu1 −
∂xi ∂xk i̸=m ∂xi ∂xi ∂xm
. (2.49)
i ̸=m,k ̸=m,i ̸=k i ̸=m
∂u
2 ∑ Aim ∂xhi + Bm uh + Hh = 0 , (2.50)
i ̸=m
com:
∂ 2 u h −1 ∂ 2 u h −1 ∂uh−1 ∂ h −1 f
Hh = ∑ Aik + ∑ Aii
∂xi ∂xk i̸=m ∂xi2
+ ∑ Bi
∂xi
+ Cu h − 1 −
∂xm h −1
. (2.51)
i ̸=m,k ̸=m,i ̸=k i ̸=m
Assim, todas as equações diferenciais que regem o comportamento das funções uh são da
primeira ordem. Para solucioná-las, estudaremos o método das características para esse
tipo de equações, e com o intuito de simplificar a exposição, consideremos o problema de
resolver a equação diferencial de duas variáveis:
∂u ∂u
A( x; y) + B( x; y) − C ( x; y; u) = 0 . (2.52)
∂x ∂y
18 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
As Eqs. (2.50) são todas desse tipo, com a particularidade de ser A( x; y) = 0; colocaremos
ao final essa condição para examinar suas consequências. Solucionar a Eq. (2.52) significa,
geométricamente falando, encontrar uma superfície solução u = z( x; y), a qual tem vetor
normal n = (∂z/∂x; ∂z/∂y; −1); portanto, definindo o campo vetorial F = ( A; B; C ), a Eq.
(2.52) pode ser escrita como:
F·n = 0 . (2.53)
Isto é, F é tangente à superfície solução u = z( x; y), o que tem como consequência que essa é
constituída por curvas integrais daquela; ditas curvas integrais são denominadas «curvas
características». Isto leva imediatamente à seguinte estratégia de solução: Sejam dados os
valores de u( x; y) numa curva γ no plano x − y; o uso deles permite estabelecer a curva Γ
sobre a superfície z( x; y) que lhe corresponde. Então a partir de cada ponto de Γ pode ser
gerada uma curva integral de F, construindo assim a superfície z( x; y). Levando a ideia à
prática, pode-se parametrizar, para a em algum domínio de variação:
Encontrar para cada valor de a uma curva integral de F que passe por Γ( a) significa resolver,
para cada valor de a, o sistema de equações diferenciais de Lagrange-Charpit: Para um
parâmetro s:
dx
= A( x; y) ; x (0) = x0 ( a) , (2.55)
ds
dy
= B( x; y) ; y(0) = y0 ( a) , (2.56)
ds
dz
= C ( x; y; z) ; z(0) = z0 ( a) . (2.57)
ds
x = X ( a; s) , y = Y ( a; s) , z = Z ( a; s) , (2.58)
a = Λ( x; y) e s = S( x; y) , (2.59)
Um comentário é imprescindível: Para que possa ser gerada a superfície solução a partir
da curva Γ por ação do campo vetorial F, é necessário que a curva Γ não seja já uma curva
característica (uma curva integral de F), pois então ela seria invariante pela ação de F. No
caso em estudo, as Eqs. (2.50) dão lugar a equações de Lagrange-Charpit com o lado direito
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 19
Zy
dy
s= . (2.63)
B ( x0 ( a ); y )
y0
dz
= C ( x0 ( a); y( a; s); z) ; z (0) = z0 ( a ) , (2.64)
ds
que é uma equação bem definida e com condições iniciais, portanto solúvel e com solução
única.
A análise recém feita demonstra que as Eqs. (2.50) que determinam as funções uh poderão
ser resolvidas univocamente se são fornecidos dados iniciais para u numa superfície, por
exemplo, com xk =constante, k ̸= m. Em conclusão, quando o problema dos valores iniciais
está definido sobre uma superfície característica da equação diferencial, os dados iniciais não
podem ser os valores da função e de sua primeira derivada normal à superfície característica,
pois em tal caso o problema pode, ou não ter solução, ou ter infinitas soluções; em seu lugar,
devem ser fornecidos os valores da função na superfície característica e numa superfície
diferente.
Uma vez que temos visto que o problema dos valores iniciais pode ser bem definido sobre
superfícies características, apliquemos o conhecimento adquirido ao estudo da equação de
Klein-Gordon-Fock com que iniciamos essa discussão [Eq. (2.1)]:
∂2 u ∂2 u ∂2 u ∂2 u
− 2 − 2 − 2 + m2 u = 0 . (2.65)
∂t2 ∂x ∂y ∂z
20 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
Comparando com a Eq. (2.39), reconhece-se que para essa equação são3 :
( γ0 )2 = γ2 . (2.67)
1 1
x + := √ ( x0 + x3 ) , x − := √ ( x0 − x3 ) , (2.71)
2 2
d4 x = dx + dx − d2 x ⊥ . (2.72)
Também, chamando ηab a métrica nas coordenadas do plano nulo, ela tem a seguinte repre-
sentação matricial:
0 0 0 1
0 −1 0 0
[ηab ] =
= [η ab ] . (2.73)
0 0 −1 0
1 0 0 0
Estabelecer-se-á agora a solução ao problema dos valores iniciais no plano nulo. Para
isso, lembremos a Eq. (2.32): Em coordenadas instantâneas:
←→y
Z
u( x ) = d3 yD ( x − y) ∂ 0 u(y) . (2.74)
y0 =0
y
∂µ N µ ( x; y) = D ( x − y)□y u(y) − □y D ( x − y)u(y) = 0 , (2.76)
pois tanto u como D satisfazem à equação de Klein-Gordon-Fock com massa m [vide a Eq.
(2.29)]. Portanto, sendo de divergência nula, pode-se usar o teorema de Gauss no volume Ω
limitado pelo sólido A − B − C − D na Fig. 2.1, em que o ponto P, vértice do cone de luz,
representa ao ponto x em que se deseja conhecer o valor do campo u. Então ter-se-á que:
Z Z
y
0= ∂µ N µ ( x; y) = dσµ (y) Nµ ( x; y)
Ω ∂Ω
←→
Z Z Z Z
= + + + D ( x − y) ∂ µy u(y)dσµ (y) . (2.77)
A− B B−C C−D D− A
Porém, B − C está fora do cone de luz do ponto P, e a integral nessa superfície se anula,
pois D ( x − y) tem suporte causal. Assim sendo e identificando a integral sobre A − B como
a solução da Eq. (2.74), bem como que os vetores normais às superfícies C − D e D − A são,
respectivamente, nas coordenadas do plano nulo, (0; 0; 0; −1) e (−1; 0; 0; 0), obter-se-á que:
←→y ←→y
Z Z
u( x ) = D ( x − y) ∂ − u(y)d2 y⊥ dy− + D ( x − y) ∂ + u(y)d2 y⊥ dy+ , (2.78)
D− A C−D
concorda com nossos estudos prévios: A solução ao problema dos valores iniciais é única
e bem definida se os dados iniciais são os valores do campo na superfície característica e
numa superfície diferente dela. Em outras palavras, tem-se substituído o valor de u e ∂0 u
em um plano do tipo-espaço pelo conhecimento de u em dois planos nulos. Em particular,
podemos tomar o limite em que a superfície C − D encontra-se em x − → −∞, e os dados
iniciais nessa superfície são substituídos pela «condição assintótica»:
lim u( x ) = 0 . (2.79)
x − →−∞
←→y
Z
u( x ) = D ( x − y) ∂ − u(y)d2 y⊥ dy− , (2.80)
y+ =y0+
No regime relativístico não aparece o problema das velocidades infinitas que limitava
as possíveis descrições no caso não-relativístico. Com efeito, agora a linha de mundo das
partículas está restrita pela causalidade a se encontrar sempre dentro do cone de luz, em cada
ponto dela; ou seja, num diagrama t − x, o coeficiente angular da linha de mundo, em cada
ponto, não pode ser menor do que a unidade –ou menor do que 1/c, onde c é a velocidade
da luz no espaço vazio–. O problema de determinar as possíveis formas dinâmicas no regime
relativístico foi estudado pela primeira vez por Dirac em 1949 [1], que colocou o problema do
ponto de vista da compatibilidade da formulação hamiltoniana da mecânica quântica com o
axioma de relatividade; este enfoque tem sido detalhadamente estudado nas Refs. [5, 6] –
vide também o Ap. A–, e pode se resumir no problema de encontrar soluções inequivalentes
para os generadores das transformações infinitesimais, que obedecem à algebra do grupo de
Poincaré. Dirac conseguiu encontrar três formas dinâmicas relativísticas, a saber:
dinâmica que a do regime não-relativístico, e é aquela na qual a física tem sido mais
estudada. Ela se mostra na Fig. 2.3-(a).
(b) Dinâmica forma-ponto: Nessa forma dinâmica, cujo nome lhe é dado por apresentar
superfícies isocrônicas invariantes sob transformações de rotação em torno a um ponto
fixo (a origem, por exemplo), ditas superfícies são os ramos superiores do hiperbolóide
a2 = x2 , o parâmetro a2 sendo então o tempo da teoria, que se mostra na Fig. 2.3-(b).
A dificuldade especial nessa forma dinâmica se apresenta quando quer-se descrever
uma partícula cuja linha de mundo se encontra precisamente sobre o cone de luz,
então não atravessando nunca os hiperbolóides isocrônicos. Esta dificuldade pode ser
parcialmente superada tomando, por exemplo, a2 = 0, caso no qual os hiperbolóides
degeneram no cone de luz.
(c) Dinâmica da frente de luz: Aqui as superfícies isocrônicas são planos nulos de coordenada
x + constante, essa coordenada sendo o tempo da teoria, como se mostra na Fig. 2.3-
(c). A dificuldade nessa teoria acontece na descrição de linhas de mundo ao longo
de, exatamente, o eixo x − , pois tal linha de mundo encontra-se sobre a superfície
isocrônica, «atravessándo-a» em todos os pontos.
Figura 2.3: (a) Dinâmica instantânea. (b) Dinâmica forma-ponto. (c) Dinâmica da frente de
luz.
Retornando ao estudo feito na Sec. 2.1, vimos que a dinâmica dos campos, atendendo
pelo menos ao fato de obedecerem à equação de Klein-Gordon-Fock, apresenta verdadeira
dificuldade –no sentido de que a equivalência com a dinâmica instantânea não é trivial–
somente no caso em que as superfícies onde são fornecidos os dados iniciais são superfícies
características. Com a definição dada das coordenadas no plano nulo, identifica-se o que se
corresponde ao problema de se definir uma física na dinâmica da frente de luz.
Alguns comentários são requeridos. Em primeiro lugar, além das três formas dinâmicas
encontradas por Dirac, encontrou-se posteriormente mais duas formas dinâmicas possíveis
[7], que têm superfícies isocrônicas: (d) os ramos superiores do hiperbolóide ( x0 )2 − ( x1 )2 −
( x2 )2 = a2 , e (e) os do hiperbolóide ( x0 )2 − ( x3 )2 = a2 ; nos dois casos, sendo o parâmetro a2
o tempo. Em segundo lugar, a discussão recém feita a respeito da possibilidade de definir
novas formas dinâmicas baseia-se na descrição unívoca da linha de mundo da partícula.
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 25
No entanto, na teoria do campo isto não é suficiente, pois é necessário também estabelecer
a unicidade da descrição da evolução do campo, isto é, do problema dos valores iniciais
para as diferentes equações de campo. Em terceiro lugar, o limite não-relativístico das
novas formas dinâmicas é a dinâmica instantânea, pois as superfícies isocrônicas, quer os
hiperbolóides, quer as frentes de luz, se aproximam às superficies de x0 constante no limite
c → +∞, visto que o próprio cone de luz se abre infinitamente, fazendo os hiperbolóides
perderem sua curvatura na dinâmica forma-ponto e os planos nulos perderem sua inclinação
na dinâmica da frente de luz; por isso, o limite não-relativístico não constitui um motivo
de preferência da dinâmica instantânea sobre as outras formas dinâmicas: No regime não-
relativístico é impossível diferenciar uma da outra; a finitude de c não «faz aparecer» novas
formas dinâmicas, mas levanta a degenerescência entre elas.
Como temos estabelecido, a relação entre uma forma dinâmica e outra vai além de uma
simples transformação de coordenadas4 : A verdadeira diferença fundamental é que com
essa mudança tem-se um novo conjunto de dados iniciais, que evoluem causalmente de uma
superfície para outra segundo os geradores dinâmicos da forma particular.
Assim, é possível usar, em qualquer forma dinâmica, qualquer conjunto de coordenadas.
Por exemplo, é perfeitamente possível usar coordenadas no plano nulo e ainda assim estar
na dinâmica instantânea, caso os dados iniciais fossem dados numa superfície de x0 cons-
tante. Isto porque uma transformação das coordenadas não implica uma transformação da
superfície inicial. Por isso, para recuperar a covariância da teoria e assim explicitar que o
sistema de coordenadas nada tem a ver com a forma dinâmica, Rohrlich [12, 13] introduziu
um conjunto de campos vetoriais tais que seja sempre possível levar as quantidades covari-
antes à forma «própria» do plano nulo. Consideremos um sistema inercial de referência, o
qual define sua origem O e seus eixos cartesianos instantâneos segundo a escolha de quatro
campos vetoriais ee (0) , e
e (1) , e
e (2) e e
e(3) , de modo que as coordenadas cartesianas instantâneas
de um ponto P qualquer são obtidas por projeção5 :
ZP
( a) ( a) µ
x ( P) =: e
e µ dx ; ( a ) = (0), (1), (2), (3) , (2.81)
O
expressão esta que é invariante frente a qualquer substituição das coordenadas. Portanto,
( a)
uma transformação de coordenadas muda a x µ , e, claro, às componentes e
e µ , mas o campo
e(a) , assim como as coordenadas x (a) , se mantêm as mesmas. Uma transformação de
vetorial e
4 Uma
transformação de coordenadas não oferece nenhuma diferença importante, pois as equações do
movimento na teoria da relatividade tem caráter tensorial e são, portanto, covariantes frente a toda e qualquer
substituição.
5A forma integral aqui é devida a que, no caso geral de se utilizar coordenadas curvas, o simples produto
( a)
e µ x µ pode não fornecer a informação desejada. Tal produto será suficiente, por outro lado, se as coordenadas
e
x µ estão definidas ao longo de eixos retos.
26 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
µ
gµν ( x )e e(b)ν ( x ) = ηe(a)(b)
e( a) ( x )e , (2.82)
ou, inversamente:
( a) (b)
ηe(a)(b) ( x )e
e µ ( x )e
e ν (x) = gµν . (2.83)
Agora, como mencionado (vide a Ref. [161]): «[...] a eleição da base de tétradas depende das
simetrias subjacentes do espaço-tempo e é, em boa medida, parte do problema». É claro, quando
o autor se refere às «simetrias do espaço-tempo», deve-se entender que entre elas estão
também as simetrias do problema a se resolver. E como temos insistido em que alguns
problemas se simplificam com o uso da forma dinâmica do plano nulo, algumas vezes será
vantajoso escolher a base de tétradas exigindo que a métrica invariante dessa dinâmica seja
igual à métrica nesse conjunto de coordenadas [vide a Eq. (2.73)]:
0 0 0 1
0 −1 0 0
[η(a)(b) ] =
. (2.84)
0 0 − 1 0
1 0 0 0
1 (0) 1 (0)
e(+) = √ ee +e e(3) , e(−) = √ ee −e e (3) , e (1) = e
e (1) , e (2) = e
e (2) . (2.86)
2 2
E, correspondentemente:
1 1
e(+) = √ e e(3) , e(−) = √ e
e (0) + e e (0) − e
e (3) , e (1) = e
e (1) , e (2) = e
e (2) . (2.87)
2 2
6A
solução escolhida reflete a eleição feita das coordenadas no plano nulo dada na Eq. (2.71), com a qual é
compatível.
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 27
Particularmente, é fácil verificar que quando as tétradas assumem seus valores canônicos,
isto é, com componentes e(+) = (1; 0; 0; 0), e(1) = (0; 1; 0; 0), e(2) = (0; 0; 1; 0) e e(−) =
(0; 0; 0; 1), a métrica gµν se iguala com a métrica invariante dada na Eq. (2.84), [ gµν ] = [η(a)(b) ],
o que significa que as coordenadas invariantes coincidem com as coordenadas no plano nulo,
como deve ser por consistência.
n o
Sendo o conjunto e(a) , a ∈ {+; 1; 2; −}, uma base do espaço-tempo de Minkowski,
pode-se decompor qualquer vetor A como combinação linear de seus elementos. Escrevamos:
A = ∑ A(a) e(a) . Multiplicando por um elemento da base dual –base de co-tétradas– e(b) :
( a)
∑ A( a) e (b) · e( a) = ∑ A( a) δ
(b)
e(b) · A = ( a)
= A(b) .
( a) ( a)
2
A = A(+) e(+) + A(⊥) e(⊥) + A(−) e(−) , A(⊥) e(⊥) ≡ ∑ A(α) e(α) . (2.90)
α =1
O produto escalar de dois vetores A e B pode agora ser escrito em função de suas componen-
tes invariantes no plano nulo:
Em particular, o vetor posição7 , x, tem decomposição: x = x (+) e(+) + x (−) e(−) + x (⊥) e(⊥) ,
e também o operador derivada: ∂ = e(+) ∂(−) + e(−) ∂(+) − e(⊥) ∂(⊥) , cujas componentes
invariantes são dadas pela definição de derivadas direcionais:
∂ ∂ ∂
∂(+) = e(+) · ∂ = , ∂(−) = e(−) · ∂ = , ∂(⊥) = e(⊥) · ∂ = . (2.92)
∂x (+) ∂x (−) ∂x (⊥)
Finalmente, como escolhemos a coordenada x (+) como sendo o tempo, ∂(+) será a derivada
temporal. Cada plano nulo de x (+) constante é gerado pelos vetores e(⊥) e e(−) , e tem
elemento de volume que denotar-se-á por d3 x := dx (1) dx (2) dx (−) ≡ d2 x (⊥) dx (−) .
7 Este
é um vetor no espaço-tempo de Minkowski uma vez que a origem –por exemplo, a posição do
observador ou um evento particularmente escolhido– tem sido fixado. Isso é devido a seu caráter afim e não
simplesmente linear. A respeito deste ponto, consultar a Ref. [158].
28 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
com L a densidade lagrangiana da primeira ordem –isto é, que depende da derivada dos
campos de até primeira ordem–. Aplicando uma transformação cujos efeitos nas coordenadas
e campos são dados, infinitesimalmente, pelas equações:
x ′µ = x µ + δx µ , u′ A ( x ′ ) = u A ( x ) + δu A ( x ) , (2.94)
Essa expressão pode ser escrita em forma conveniente definindo a derivada de Euler da
densidade lagrangiana,
δL ∂L ∂L
:= − ∂µ , (2.96)
δu A ∂u A ∂(∂µ u A )
e a quantidade:
∂L
Θ ∂ν u A − δ ν L
µ µ
ν := . (2.97)
∂(∂µ u A )
Então a Eq. (2.95) é equivalente a:
Z
δL A ∂L
4
δu − ∂µ u δx − ∂µ Θ ν δx −
A A
µ µ ν
δA [u] = d x δu . (2.98)
δu A ∂(∂µ u A )
Ω
Escrita nessa forma, é possível a aplicação direta de princípios variacionais à integral de ação.
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 29
Princípio de ação estacionária de Ostrogradskii-Hamilton: Campo físico é aquele cuja forma fun-
cional (δx µ = 0) é de tal sorte que, entre duas configurações fixas do sistema ( δu A ( x ) = 0), a
∂Ω
integral de ação adota um valor estacionário (δA [u] = 0) qualquer que seja a região Ω.
δL
=0 ; A = 1, · · · , N . (2.99)
δu A
Teorema 2.2 (Primeiro teorema de Nöther): Se a integral de ação de um dado sistema físico é in-
variante, módulo termos de superfície, em relação a um determinado grupo de Lie Gr de r parâmetros,
então r combinações linearmente independentes de certas derivadas de Euler da densidade lagrangi-
ana são iguais a divergências.
Por hipótese do teorema, a ação é invariante, módulo termos de superfície, frente às transfor-
mações da Eq. (2.100): d4 x∂µ (ϵ a δa Ωµ ). Portanto, na Eq. (2.98):
R
∂Ω
Z
δL
4
[ Ia u ] − ∂ µ u [ X a x ] − ∂ µ J a ϵ a = 0
A A µ µ
d x , (2.101)
δu A
Ω
com:
∂L
:= Θ ν [ Xa x ]ν − [ Ia u] A − δa Ωµ
µ µ
J a . (2.102)
∂(∂µ u A )
Logo, a independência linear dos parâmetros do grupo Gr , ϵ a , permite escrever a tese do
teorema:
δL A A
µ
[ I a u ] − ∂ µ u [ X a x ] µ
= ∂µ J a ; a = 1, · · · , r , (2.103)
δu A
quod erat demonstrandum. ■
(+)
Na dinâmica da frente de luz a superfície Σ é o plano nulo x (+) = x0 constante, com vetor
30 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
dQ a
Z Z
(+)
d3 xe(−)µ J a ( x ) = d3 xJ
µ
Qa = a (x) ; =0 . (2.105)
dx (+)
(+) (+)
x (+) = x0 x (+) = x0
Típicamente, as densidades de corrente são formas bilineares dos campos, então as cargas de
Nöther existirão (a integral que as define converge) se os campos, assim como suas derivadas
transversais e longitudinal, são de quadrado integrável no plano nulo. Essas condições
incluem naturalmente à condição assintótica da Eq. (2.79) que substitui aos dados iniciais na
superfície de x (−) constante.
Consideremos, particularmente, o gerador das translações temporais no plano nulo, isto
é, o hamiltoniano. Para a translação por um vetor constante ϵµ , ou seja, para a transformação
x ′µ = x µ + ϵµ , u′ A ( x ′ ) = u A ( x ), ter-se-á que:
[ Iν u] A = 0 .
µ
[ Xν x ] µ = δ ν , (2.106)
= Θ σ [ Xν x ] σ = Θ
µ µ µ
J ν ν , (2.107)
As componentes invariantes desse vetor são obtidas projetando seu índice ν com o campo
de tétradas da dinâmica da frente de luz:
Z Z
(+) (+)
ν
P(a) = e(a) Pν = d xe(a) Θ
3 ν
ν = d3 xΘ ( a)
. (2.109)
8 Note-seque o vetor e(+) , que poder-se-ia pensar inicialmente que seja o vetor normal, falha, pois não é
ortogonal a e(−) , localizado sobre o plano nulo, segundo a Eq. (2.88).
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 31
E sobre a teoria lagrangiana geral do campo clássico basta o que foi dito. A partir desse
ponto, estudar-se-á os diversos campos particulares usados na modelagem da matéria. E
uma vez clara a ideia subjacente às coordenadas invariantes, não escreveremos mais os
índices entre parênteses.
Como não há outras equações além dessas, o problema de Goursat para o campo escalar é
simplesmente aquele que já estudou-se na seção 2.1. A densidade lagrangiana que deriva
nessas equações é:
L φ = ∂ µ φ ∗ ∂ µ φ − m2 φ ∗ φ . (2.113)
∂L φ ∂L φ
Θ ∂ν φ∗ − δ ν L φ
µ µ
ν = ∂ν φ + ∗
∂(∂µ φ) ∂(∂µ φ )
= ∂ µ φ ∗ ∂ ν φ + ∂ ν φ ∗ ∂ µ φ − δ ν ∂ σ φ ∗ ∂ σ φ + m2 δ ν φ ∗ φ .
µ µ
(2.114)
do qual:
Z
(□ + m2 ) φ( x ) = −(2π )−3/2 dp+ dp− d2 p⊥ 2p+ p− − ω 2p φ̂( p)e−ipx = 0 , (2.118)
!
1 ω 2p
φ̂( p) = δ 2p+ p− − ω 2p φ( p) = δ p+ − φ( p) , (2.119)
|2p− | 2p−
32 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
+∞
Z0 dp
!
Z Z
+ ω 2p
φ( x ) = (2π )−3/2 d2 p ⊥ dp− δ p+ − φ( p)e−ipx
|2p− | 2p−
−∞ −∞
+∞ !
Z
dp+ ω 2p
+ δ p+ − φ( p)e−ipx . (2.120)
|2p− | 2p−
0
+∞ +∞ !
−3/2
Z Z Z
dp+ ω 2p h i
φ( x ) =(2π ) 2
d p⊥ dp− δ p+ − φ(− p)eipx + φ( p)e−ipx .
|2p− | 2p−
−∞ 0
(2.121)
Como é indicado pelos limites de integração, aqui é p+ > 0. Mas o suporte da distribuição
delta de Dirac exige que seja p+ = ω 2p /2p− , e como ω 2p > 0, é forçoso que seja p− > 0.
Assim é que deve-se introduzir a função de Heaviside Θ ( p− ), e então escrever:
+∞ !
−3/2
Z Z Z
dp+ ω 2p h
−ipx
i
φ( x ) =(2π ) d p⊥2
dp− Θ ( p− ) δ p+ − φ(− p)e ipx
+ φ( p)e .
|2p− | |2p− |
0
(2.122)
−3/2
Z
d3 p h i
−ipx
ω 2p
φ( x ) =(2π ) Θ ( p− ) φ(− p)e + φ( p)e
ipx
, E := > 0 , (2.123)
|2p− | |2p− |
p+ = E
d2 p⊥ dp− d4 p
Z Z
Θ ( p− ) = Θ ( p− ) δ ( p+ − E)
|2p− | |2p− |
Z
= d4 pΘ ( p− ) δ( p2 − m2 ) . (2.124)
φ( p) φ(− p)
φ ( p) := p , φ (− p) := p , (2.125)
|2p− | |2p− |
9O motivo é a simplificação dos geradores do grupo de Poincaré quando escritos em função das amplitudes
φ( p); tal normalização se torna importante na teoria ondulatória, pois determina as relações de comutação dos
operadores de emissão e absorção, como se verá no seguinte capítulo.
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 33
com a qual:
d3 p
Z h i
φ( x ) =(2π )−3/2 Θ ( p− ) φ ( p) e−ipx + φ (− p) eipx . (2.126)
p
|2p− | p+ = E
d3 p
Z h i
φ( x ) =(2π )−3/2 Θ ( p− ) φ ( p) e−ipx + φ ( p)∗ eipx . (2.128)
p
|2p− | p+ = E
i←→
Lψ = ψ ∂ −m ψ.
/ (2.130)
2
i←→
i
Θ
µ µ
ν = ψγµ ∂ν ψ − ∂ν ψγµ ψ − δ ν ψ ∂ −m ψ,
/ (2.131)
2 2
i −←
→ ⊥←
→
Z
3
P+ = d x − ψ γ ∂ − + γ ∂ ⊥ ψ + mψψ . (2.132)
2
10A definição do adjunto de Dirac ψ é obtida da forma que segue: A equação de Dirac nas coordenadas do
plano nulo é:
[i ( γ+ ∂+ + γ− ∂− + γ⊥ ∂⊥ ) − m ] ψ ( x ) = 0 .
Tomando o adjunto no espaço das matrizes (isto é, tomando o complexo conjugado seguido pela transposição),
as derivadas, sendo reais as coordenadas, não mudam, enquanto que: (γ a )† = γ0 γ a γ0 , de forma que a equação
muda para (fatorando o sinal negativo, então removendo-o):
ψ ( x ) † [ i ( γ0 γ + γ0 ∂ + + γ0 γ − γ0 ∂ − + γ0 γ ⊥ γ0 ∂ ⊥ ) + m ] = 0 .
ψ ( x ) † γ0 [ i ( γ + ∂ + + γ − ∂ − + γ ⊥ ∂ ⊥ ) + m ] = 0 ,
do qual concluímos que o espinor adjunto de Dirac na dinâmica da frente de luz continúa a ser ψ( x ) := ψ( x )† γ0 .
34 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
A matriz γ+ não pode ser invertida11 , pois ela tem determinante nulo –o qual pode ser visto
diretamente pelo fato de que seu quadrado é nulo devido à relação de anti-comutação a que
as matrizes de Dirac satisfazem (o que indica também que a matriz γ− é não invertível)–.
Portanto, poder-se-á isolar a derivada temporal, com a finalidade de escrever a Eq. (2.133)
na forma da equação de Schrödinger, somente pela definição dos projetores:
1 1
Λ± := 1 ± γ0 γ3 = √ γ0 γ ±
, (2.134)
2 2
Λ2± = Λ± ; Λ± Λ∓ = 0 ; Λ+ + Λ− = 1 , (2.135)
como é possível provar por cálculo direto. Da mesma forma podem ser mostradas as
igualdades que seguem:
Λ ± γ0 = γ0 Λ ∓ , Λ + γ0 γ − = 0 , Λ − γ0 γ − = γ0 γ − Λ − , Λ ± γ0 γ ⊥ = γ0 γ ⊥ Λ ∓ .
(2.136)
Finalmente, definimos as duas projeções do campo de Dirac segundo:
ψ± := Λ± ψ ; ψ = ψ+ + ψ− . (2.137)
Com isto, multiplicando a Eq. (2.133) por γ0 pela esquerda e usando a definição de Λ+ ,
obtém-se:
√
i 2∂+ ψ+ = γ0 m − iγ− ∂− − i∂⊥ ∂⊥ ψ . (2.138)
Analogamente, multiplicando a Eq. (2.138) por Λ− pela esquerda e usando a Eq. (2.136):
√
i 2∂− ψ− = γ0 m − iγ⊥ ∂⊥ ψ+ . (2.140)
A Eq. (2.139) é uma equação dinâmica para a componente ψ+ , a qual é, portanto, chamada
«componente dinâmica» do campo de Dirac. A Eq. (2.140), por outro lado, não é uma equação
dinâmica para ψ− , visto que nenhuma derivada temporal aparece nela; ψ− é chamada, por
11A expressão das matrizes de Dirac no plano nulo e na representação de Weyl é mostrada no Ap. B.
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 35
esse motivo, «componente não-dinâmica», e a Eq. (2.140) é uma equação de vínculo, a qual
pode ser invertida da seguinte forma, explicitando o fato de que ψ− é automaticamente
conhecida uma vez que o é ψ+ :
1
ψ− = √ γ0 m − iγ⊥ ∂⊥ ψ+ . (2.141)
i 2∂−
Este vínculo pode ser usado para eliminar ψ− na Eq. (2.139). Encontra-se que a equação do
movimento da componente dinâmica do campo de Dirac não é outra senão a equação de
Klein-Gordon-Fock:
□ + m2 ψ+ = 0 .
(2.142)
O problema de Goursat para o campo de Dirac pode ser abordado da mesma forma
que na Seç. 2.1: Solucionando primeiro o problema de Cauchy (na dinâmica instantânea) e
passando depois à dinâmica do plano nulo por aplicação do teorema de Gauss num volume
convenientemente escolhido. Como, no entanto, este caminho já foi percorrido anteriormente
–e não há dificuldades em percorrê-lo para o caso presente se assim for desejado–, é mais
instrutivo oferecer uma outra forma de obter a desejada solução. Tal será feito explorando
a divisão recém feita entre as componentes dinâmicas e as não-dinâmicas. Devido a que
as componentes dinâmicas satisfazem à equação de Klein-Gordon-Fock [Eq. (2.142)], o
problema de Goursat tem a solução dada na Eq. (2.80), que por uma integração por partes
pode ser escrita da seguinte forma:
Z
x
ψ+ ( x ) = d3 y2∂− D ( x − y)ψ+ (y) . (2.143)
y+ =y0+
2
Usando então as Eqs. (2.134)-(2.136), assim como o fato já mencionado de ser (γ+ ) = 0,
vê-se que é possível escrever a Eq. (2.145) na forma sucinta:
Z
ψ ( x ) = −i d3 yS( x − y)γ+ ψ(y) , (2.146)
y+ =y0+
36 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
S ( x ) : = (i /
∂ + m) D ( x ) . (2.147)
Tendo encontrado a solução, o que implica que ela é única, pode-se afirmar que o problema
de Goursat para o campo de Dirac está bem definido. Por outro lado, no problema de Cauchy
é necessário conhecer o campo ψ(0; x), ou seja, quatro funções –suas derivadas não são
necessárias porque a equação de Dirac é da primeira ordem–; o mesmo número de dados é
indispensável na solução apresentada: a Eq. (2.143) requer o conhecimento de ψ+ em x + = 0
e x − = x0− , fazendo igualmente um total de quatro funções –ter substituído essa última por
uma condição assintótica não muda o número de dados iniciais–.
Como cada uma das componentes do campo de Dirac, ψa ( x ), satisfaz à equação de Klein-
Gordon-Fock,
(□ + m2 )ψa ( x ) = 0 , (2.148)
cada uma dessas componentes irá ter uma expressão semelhante àquela da Eq. (2.126):
d3 p
Z h i
ψa ( x ) =(2π )−3/2 Θ( p− ) ψa ( p) e−ipx + ψa (− p) eipx . (2.149)
p
|2p− | p+ = E
As amplitudes espinoriais ψa ( p) que aqui aparecem devem ser tais que ψa ( x ) satisfaçam
à equação de Dirac [Eq. (2.129)]: Elas carregam a informação «adicional» não contida na
equação de Klein-Gordon-Fock, isto é, a informação dos vínculos, definindo os possíveis
estados de polarização do campo de Dirac. Substituindo a Eq. (2.149) na (2.129):
d3 p
Z h i
0 = (2π )−3/2 p − m)ψ ( p) e−ipx − (/
Θ( p− ) (/ p + m)ψ (− p) eipx , (2.150)
p
|2p− | p+ = E
do qual conclui-se que, uma vez que a solução de frequência positiva e a de frequência
negativa são linearmente independentes, deverão ser verificadas as equações:
p − m)ψ ( p) = 0 ;
(/ p + m)ψ (− p) = 0 .
(/ (2.151)
p − m)u ( p) = 0 .
(/ (2.152)
De forma semelhante a como foram obtidas as Eqs. (2.139) e (2.140), encontra-se que:
√
2p+ u+ = γ0 m − γ⊥ p⊥ u− , (2.153)
√
2p− u− = γ0 m − γ⊥ p⊥ u+ , (2.154)
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 37
lembrando que é p+ = E [vide a Eq. (2.150)]. A estratégia para solucionar essas equações
será escrever uma base para uma das projeções do espinor e usar então a Eq. (2.153) ou a
Eq. (2.154) para encontrar a outra. No Ap. B se mostra a forma explícita dos projetores [Eq.
(B.5)]; dela observa-se que uma base para u− será:
0 0
(1) 1 (−1) 0
u− =
0
, u− =
1
. (2.155)
0 0
Ora a Eq. (2.137) revela que a solução completa é obtida somando as componentes u− e u+ ,
o que leva a obter:
− p1 + ip2 m
√
a0 2E a0
√ 0
u1 = √ , u −1 =√ . (2.157)
2E
0
2E
2E
m p1 + ip2
Com isto:
− p1 + ip2 m
√
1 2E 1
√ 0
u1 = √ q √ , u −1 = √ q√ . (2.159)
2E
2 | p− | 0
2E
2 | p− | 2E
m p1 + ip2
12 O mesmo que na normalização das amplitudes do campo escalar na Eq. (2.125), essa escolha é livre. Seu
valor se refletirá, por exemplo, nas regras de soma que estamos prestes a obter [vide as Eqs. (2.161) e (2.166)].
38 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
Daí que, lembrando da representação de Weyl das matrizes de Dirac –vide o Ap. B–,
reconhece-se que a equação anterior se iguala a:
Eγ+ + | p− | γ− + p⊥ γ⊥ + m
∑ us us =
|2p− |
. (2.161)
s=±1
Dar-se-á agora, por método análogo, solução à segunda das Eqs. (2.151), quer dizer:
(/
p + m)v = 0 , (2.162)
da qual se segue, após projeção com Λ± , que as componentes do espinor v se relacionam por:
γ0 m + p ⊥ γ ⊥
v+ = − √ v− . (2.163)
2E
Usando a mesma base apresentada na Eq. (2.155) e usando a relação da Eq. (2.163), obtém-se:
p1 − ip2 m
(1) 1 0 (−1) 1 0
v+ = −√ , v+ = −√ . (2.164)
2E
0
2E
0
m − p1 − ip2
O cálculo direto mostra também que a seguinte regra de soma rege para os espinores de
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 39
polarização vs :
Eγ+ + | p− | γ− + p⊥ γ⊥ − m
∑ vs vs =
|2p− |
. (2.166)
s=±1
∂B ∂E
∇·E = 0 ; ∇·B = 0 ; ∇×E+ =0 ; ∇×B− =0. (2.167)
∂t ∂t
essa última conhecida como «identidade de Bianchi». Essas equações permitem a introdução
do «potencial eletromagnético», Aµ ( x ), segundo:
Fµν =: ∂µ Aν − ∂ν Aµ . (2.170)
1
L A = − Fµν F µν . (2.172)
4
que dizer ∂µ Aµ = constante; impondo então que o campo se anula no infinito, a anterior
constante deve por força ser nula e, assim, a equação de Klein-Gordon-Fock é satisfeita sob a
«condição de gauge de Lorenz»14 :
∂µ Aµ ( x ) = ∂+ A+ + ∂⊥ A⊥ + ∂− A− = 0 . (2.173)
Essa condição de gauge elimina um grau de liberdade da teoria, mas não elimina por
completo a liberdade de gauge, pois a equação de Klein-Gordon-Fock e a condição de gauge
de Lorenz ainda são satisfeitas se se opera uma transformação de gauge adicional com
uma função harmônica15 , □ f = 0. Essa última liberdade pode ser suprimida impondo
uma condição adicional; a simplificação máxima na dinâmica da frente de luz consiste em
tornar a condição de gauge de Lorenz numa relação puramente cinemática, eliminando nela
toda dependência temporal; para o que é suficiente exigir que seja ∂+ A+ = 0, mas então
a equação □ A+ = 0 será igual a ∂2⊥ A+ = 0, cuja solução, sob as condições assintóticas de
desvanecimento no infinito, é a nula. A essa se chama a «condição de gauge do plano nulo»16 :
A+ ( x ) = 0 . (2.174)
Isto elimina toda a liberdade de gauge, mostrando, além do mais, que o campo eletromag-
nético possui dois graus de liberdade. Efetivamente, toda a informação está contida nas
equações dinâmicas para as componentes transversais:
□ Aα ( x ) = 0 , (2.175)
e nas equações de vínculo que provêm das condições de gauge [Eqs. (2.173) e (2.174)]:
1
A+ = 0 , A− = − ∂α Aα . (2.176)
∂−
É útil mencionar, adicionalmente, que, como afirmado nas Refs. [12, 13, 23], a análise
feita do problema de Goursat [vide a Seç. 2.1] pode ser fácilmente estendida para um campo
13 Mais detalhes podem ser encontrados, por exemplo, na Seç. 18 da Ref. [160].
14 Essa condição de gauge é sempre atingível: Seja g( x ) = ∂µ Aµ ( x ). O campo A′µ = Aµ + ∂µ f satisfará à
condição de gauge de Lorenz se a função f ( x ) é escolhida de forma a satisfazer a equação: □ f ( x ) = − g( x ).
15 Na nota de rodapé anterior, a função f ( x ) está determinada módulo soluções à equação homogênea
□ f ( x ) = 0.
16 É mister mencionar também que ela é sempre atingível: Se o campo A a ( x ) não a satisfaz, operamos a
∂+ ∂− Φ( x ) = LΦ( x ) + Ψ( x ) , (2.177)
1 2 1 2
L A =∂+ A⊥ ∂− A⊥ + ∂− A⊥ ∂⊥ A− − ∂1 A2 − ∂2 A1 + ∂− A− . (2.178)
2 2
O tensor de energia-momento é:
∂L A 1 µ
Θ ∂ν Aσ − δν L A = Fσ ∂ν Aσ + δ ν Fστ F στ
µ µ µ
ν = . (2.180)
∂(∂µ A )
σ 4
←→y
Z
Aα ( x ) = d3 yD0 ( x − y) ∂ − Aα (y) , (2.182)
y+ =y0+
com o subíndice «0» sob a distribuição de Jordan-Pauli indicando que nela a massa é nula:
m = 0. Escrevamos a solução completa da forma:
←→y
Z
a
A (x) = d3 yD ab ( x − y) ∂ − Ab (y) . (2.183)
y+ =y0+
42 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
D αβ = δβα D0 , D α− = 0 , (2.184)
enquanto que as condições de vínculo da Eq. (2.176) são satisfeitas, uma vez impostas no
plano nulo y+ = y0+ , se:
1
D +α = 0 , D +− = 0 , D −− = 0 , D −α = − ∂α D0 . (2.185)
∂−
Nota-se que não é preciso exigirmos valores particulares de D a+ , uma vez que impor-se-á
que seja A+ = 0 no plano nulo inicial. Todas essas condições são satisfeitas com a escolha:
η a ∂ b + ηb ∂ a
⊥
D ab = δba − D0 ( x ) , a
(η ) = 0; 0 ; 1 . (2.186)
∂−
Assim, se no plano y+ = y0+ são exigidas as condições de gauge de Lorenz e do plano nulo,
então elas se manterão vigentes na evolução dinâmica do campo.
□ Aa (x) = 0 . (2.187)
Conseqüentemente, cada uma dessas componentes poderá ser expandida como uma integral
de Fourier como na Eq. (2.123):
d3 p
Z
A a ( x ) =(2π )−3/2 p Θ ( p− ) ∑ ε λ ( p) a∗ A (λ; p) e−ipx
|2p− | λ
a ∗ ipx
+ε λ ( p) A (λ; p) e , (2.188)
p+ = E
Z d3 p
A a ( x ) =(2π )−3/2 Θ ( p− ) ∑ ε λ ( p) a A (λ; p) e−ipx + A (λ; p)∗ eipx .
p
|2p− | λ
p+ = E
(2.189)
O caráter vetorial do campo eletromagnético está então contido nos vetores de polarização
e, portanto, da mesma forma que acontecia com os espinores de polarização do campo de
Dirac, eles devem carregar também a informação relativa aos vínculos impostos. Ora, como
somente dois graus de liberdade possui este campo, também serão só dois os vetores de
polarização dinâmicos; diremos que estes são aqueles com λ = 1, 2. As duas condições de
Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica 43
gauge explicitadas na Eq. (2.176) são obtidas pelo uso dos vetores de polarização:
a p1 a p2
ε 1 ( p) = 0; 1; 0; − , ε 2 ( p) = 0; 0; 1; − , (2.190)
p− p−
cuja norma é:
ηab ε α ( p) a ε β ( p)b = −δβα , (2.191)
o que indica que eles estão normalizados e são do tipo-espaço. O cálculo direto mostra que
estes vetores de polarização físicos seguem a regra de soma:
p a η b + η a pb p2
∑ ε λ ( p) a ε λ ( p)b = −η ab +
p−
− 2 ηa ηb .
p−
(2.192)
λ=1,2
Isto estabelece uma relação importante com o problema de Goursat: Devido à igualdade
p2 δ( p2 ) = 0 [159], as Eqs. (2.192) e (2.186) implicam que, no espaço dos momentos:
b ab ( p) = −
D ∑ ε λ ( p) a ε λ ( p)b D
b 0 ( p) . (2.193)
λ=1,2
Devemos finalmente nos ocupar da definição dos outros dois vetores de polarização,
embora eles não se manifestem fisicamente. Como os quatro vetores hão de formar uma
base para o espaço-tempo de Minkowski, requereremos sua ortonormalidade –que é uma
extensão da Eq. (2.191)–:
ηab ε λ ( p) a ε λ′ ( p)b = ηλλ′ , (2.194)
ε + ( p) a = ( a; b; c; d) , ε − ( p) a = (e; f ; g; h) . (2.196)
ou a = 0 e
ε + ( p) a = (0; 0; 0; d) . (2.198)
Analogamente, as condições ε − ( p) a ε − ( p) a = 0, ε 1 ( p) a ε − ( p) a = 0 e ε 2 ( p) a ε − ( p) a = 0
implicam que, ou e ̸= 0 e
!
a p1 p2 p2
ε − ( p) = e 1; − ; − ; ⊥2 , (2.199)
p− p− 2p−
44 Capítulo 2. Dinâmica da frente de luz na teoria clássica
ou e = 0 e
ε − ( p) a = (0; 0; 0; h) . (2.200)
ε − ( p) a = (0; 0; 0; 1) . (2.202)
Capítulo 3
Uma vez que temos estabelecido detalhadamente a teoria clássica do campo no plano
nulo, é preciso lidar com as modificações que a teoria quântica apresenta nessa forma
dinâmica. O primeiro passo nesse estudo será o próprio procedimento da quantização
do campo, focando nossa atenção nos campos escalar, fermiônico e vetorial sem massa.
Ademais, a quantização do campo pode ser inicialmente definida somente quando ele é
livre, pois o próprio conceito da partícula, no qual se baseia a construção do espaço dos
estados assintóticos, existe somente quando ela é livre, como se evidencia do fato de que,
num processo de interação, as partículas podem mudar sua identidade e número de uma
forma a que não temos acesso. Outro ponto: Geralmente, quando se trabalha na mecânica
quântica com partículas em interação, usa-se a descrição de interação; mas isto não é possível
de se fazer agora, pois um teorema devido a Haag, que pode ser consultado, por exemplo,
na Seç. 4-5 da Ref. [88], estabelece que a descrição de interação na teoria do campo quântico
relativístico existe somente quando o campo é livre, caso em que a dita descrição se equivale
com a de Heisenberg. Assim sendo, todos os campos considerados nesse capítulo –e também
nos seguintes– serão campos livres.
45
46 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
n
z }| {
Hn := H1⊗n ≡ H1 ⊗ · · · ⊗ H1 . (3.1)
φ n ( x1 ; · · · ; x n ) ; x ≡ (x⊥ ; x− ) , (3.2)
e são combinações lineares gerais de produtos tensoriais de estados de uma partícula. Mas,
como as partículas são idênticas, uma permutação de duas quaisquer delas não se manifesta
no significado físico do estado; logo, a aplicação de um operador de permutação de duas
partículas só pode mudar a fase do estado, a qual apenas pode tomar um dos valores 0 ou π
para que uma nova aplicação da permutação leve o estado de volta a sua expressão original.
Dessa asseveração decorre que a troca de duas partículas só pode mudar um estado físico
pela multiplicação de um fator que pode ser, ou +1, ou −1. Denotando por π jk o operador
de permutação das partículas j e k, suponhamos que o estado φn satisfaz, simultâneamente:
π jk φn = φn e πrs φn = − φn , (3.3)
Logo, as funções de onda dos estados físicos podem ser, ou completamente simétricas, ou
completamente antissimétricas2 . Este tipo de estados pode ser obtido a partir de estados
gerais φn , não necessariamente físicos, por meio dos operadores de simetrização e antissime-
trização de n partículas:
1
Sn± φn ( x1 ; · · · ; xn ) := ∑
(± 1 ) π
φ n x π (1) ; · · · ; x π (n) . (3.5)
n! π
1 Mais propriamente [163, 166, 164], o completamento (topológico) do mencionado produto, em relação
à norma induzida pelo produto interno. De outro modo, o espaço não será completo, e então não será um
espaço de Hilbert, como exigido pelos axiomas da teoria quântica. Algumas vezes, o produto tensorial cuja
completamento não tem sido realizado chama-se «produto tensorial algébrico» para diferenciá-lo do «produto
tensorial de Hilbert», em que o completamento é efetuado [163].
2 Sublinhamos o fato de que esse resultado é consequência de estarmos considerando um único tipo de
partícula, isto é, que todas as partículas do estado φn são idênticas. No caso mais geral, é claro, a completa
simetrização ou a completa antissimetrização é imposta às coordenadas que descrevem os conjuntos de partículas
idênticas.
Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo 47
(2) Nilpotência: Outra vez usa-se o fato de que o grupo é igual a suas classes laterais, assim
como que o número total de permutações de n pontos é n! Disto decorre a nilpotência
dos operadores Sn± :
(Sn± )2 = Sn± . (3.7)
(3) Auto-adjuntez: Como as permutações de dois elementos têm autovalores reais (±1),
elas são auto-adjuntas, e têm quadrado a identidade; disto pode-se provar que uma
permutação geral π de n pontos é um operador unitário: π † = π −1 , assim como que
−1
(−1)π = (−1)π . Com este conhecimento é possível estabelecer a auto-adjuntez dos
operadores de simetrização e antissimetrização:
Sn± φn ; ψn = φn ; Sn± ψn
n n
. (3.8)
[O ; π ] = 0 . (3.9)
Por definição dos operadores Sn± dada na Eq. (3.5), a Eq. (3.9) implica que:
O ; Sn± = 0 .
(3.10)
Assim sendo, usando a Eq. (3.9) e depois a (3.7), pode-se observar que os elementos de
matriz dos operadores O entre estados simétricos e antissimétricos são nulos:
Disso conclui-se que os espaços de Hilbert de n partículas são redutíveis aos espaços Hn+ e
Hn− de estados simétricos e antissimétricos, respectivamente: Eles descrevem sistemas físicos
3 Este axioma tem sido relacionado com o princípio da identidade dos indiscerníveis enunciado por Leibniz
em seu Discurso de metafísica, e que estabelece que duas coisas diferentes não podem ter todas suas propriedades
iguais, ou equivalentemente, que duas coisas com todas suas propriedades iguais devem ser idênticas. Uma
discussão interessante a este respeito pode ser encontrada na Ref. [167].
48 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
H0 : = C , (3.12)
Definição: O espaço de Fock F ± dos bósons e férmions, respectivamente, é a soma direta dos
espaços de Hilbert Hn± estendida a todos os valores não negativos de n:
+∞
F ± := Hn±
M
. (3.13)
n =0
Ω := (1; 0; · · · ) . (3.15)
+∞
(Φ; Ψ) := ∑ ( φn ; ψn )n , (3.16)
n =0
+∞ +∞
∥ Φ ∥2 : = ∑ ∥ φn ∥2n = ∑ ( φn ; φn )n , (3.17)
n =0 n =0
4 Introduzido pela primeira vez por Fock em 1932 na Ref. [79] e desenvolvido em todo detalhe matemático
por Cook [78].
Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo 49
Também, mencionaremos sem provar5 que a∗ ( f ) é ilimitado em F + , então seu domínio não
cobre todo o espaço de Fock dos bósons; porém, ele é limitado em F − , então o operador de
emissão é definido na totalidade do espaço de Fock dos férmions. Analogamente:
a∗ ( f ) = a( f )† ≡ a† ( f ) , (3.25)
h i
a ( f ); a † ( g ) Φ = ( f ; g )1 Φ . (3.26)
∓
Vê-se que nestas relações deve-se usar o comutador em F + (espaço dos bósons) e o anti-
comutador em F − (espaço dos férmions). O teorema que à continuação apresentaremos
prova que as relações das Eqs. (3.26) e (3.27) são as que permitem a construção do espaço de
Fock de forma única.
Teorema 3.1: Todas as representações irredutíveis das relações de (anti-)comutação das Eqs.
(3.26) e (3.27), com estado de vazio Ω, são equivalentes à representação de Fock.
Prova: Seja f ∈ H1 . Das relações de (anti-)comutação que são hipóteses do teorema tem-
se que:
a† ( f )Ω; a† ( g)Ω = Ω; a( f ) a† ( g)Ω = ( f ; g)1 ± Ω; a† ( g) a( f )Ω = ( f ; g)1 , (3.28)
1 †
a ( f 1 ) a† ( f 2 )Ω; a† ( g1 ) a† ( g2 )Ω = S2± ( f 1 ⊗ f 2 ); S2± ( g1 ⊗ g2 ) 2 ,
(3.29)
2!
√
e o espaço de vetores a† ( f 1 ) a† ( f 2 )Ω/ 2! é unitariamente equivalente ao setor de duas partí-
culas da representação de Fock, que contém aos estados da forma 0; 0; S2± ( f 1 ⊗ f 2 ); 0; · · · .
Claramente, o argumento pode ser generalizado, então o espaço de vetores gerados pela
√
aplicação de n operadores de emissão no estado de vazio, a† ( f 1 ) · · · a† ( f n )Ω/ n!, é unitari-
amente equivalente ao setor de n partículas da representação de Fock. Como isto é válido
para todo n ∈ N, a equivalência das representações está provada.
Demonstraremos agora a irredutibilidade das representações construídas. Do exposto se
deriva que, se f j é base6 de H1 , então o conjunto:
( )
n
1
F0± = {Ω} ∪ √ ∏ a†j Ω n ∈ N (3.30)
n! j =1
é uma base de F ± . A introdução desta base é possível devido a que o espaço de Fock é
separável7 , o que se deve ao fato de que o espaço de Hilbert de uma partícula o é –vide a
Eq. (3.60) embaixo, e lembre que, como foi provado por von Neumann, o espaço L2 (Rn ) é
um espaço de Hilbert separável [168] (a prova pode ser encontrada também na Ref. [163]),
enquanto que a construção subseqüente do espaço de Fock não muda essa característica,
como já o dissemos8 –. Provaremos, para começar, que todo estado Φ ∈ F ± tal que, para
todo f ∈ H1 : a( f )Φ = 0, é proporcional ao estado de vazio. Com efeito, a( f )Φ = 0 significa
6 Certamente, estamos nos referindo a uma base no sentido de Schauder, pois a base no sentido de Hamel de
da Ref. [166]–.
8 Por outro lado, se, como comumente se faz, fosse feita a quantização do campo como uma infinitude de
osciladores harmônicos, então o espaço de Hilbert de uma partícula seria um produto tensorial infinito dos
espaços de Hilbert do oscilador em cada ponto, e, como consequência, seria não-separável, segundo argumentado
na Seç. 2-6 da Ref. [88]. Entretando, uma recente revisão das possibilidades e dificuldades de trabalhar em
espaços de Hilbert não-separáveis pode ser encontrada na Ref. [169].
52 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
mas como isto é válido para todo f ∈ H1 , só pode ser: φn = 0 para n ∈ N. Assim, só φ0
poderia ser não nulo, e então: Φ = cΩ, c ∈ C. Como irredutibilidade significa que não existe
subespaço de F ± que seja invariante sob a( f ) e a† ( f ) para todo f ∈ H1 , suponhamos que
existe um operador A, fechado em F ± –que seria o projetor sobre o subespaço invariante,
caso ele existisse–, tal que:
Como corolário do Teorema 3.1 tem-se o seguinte resultado, cuja importância é evidente:
Corolário 3.1-1: Todo operador limitado no espaço de Fock F ± pode ser expresso em função dos
operadores de emissão e absorção a† ( f ) e a( f ).
Prova: Na prova do Teorema 3.1 vimos que um operador fechado em F ± que satisfaz à
Eq. (3.32) é proporcional à identidade. Portanto, o comutante A′ da álgebra A gerada por
a( f ) e a† ( f ) é trivial: A′ = α1. O duplo comutante A′′ , então, é a álgebra de todos os opera-
dores limitados que agem em F ± . Mas [95] A′′ = A, do qual segue a tese do corolário. ■
Vejamos como levar à prática a tese do Corolário 3.1-1, para o qual precisamos introduzir
uma base numerável e ortonormal de funções f j para o espaço de Hilbert, H1 , novamente na
hipótese, já justificada, de que ele é separável:
( f j ; f k )1 = δjk , (3.33)
f ( x) = ∑ ( f j ; f )1 f j ( x ) . (3.34)
j
a†j := a† ( f j ) , a j := a( f j ) , (3.35)
Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo 53
obter-se-á que a j e a†k satisfazem às seguintes relações de (anti-)comutação [vide as Eqs. (3.26),
(3.27) e (3.33)]: h i
[ a j ; a†k ]∓ = δjk , [ a j ; ak ]∓ = 0 = a†j ; a†k . (3.36)
∓
(NΦ)n = nSn± { φn ( x1 ; · · · ; xn )}
√ n √ o
= ∑ nSn± f j ( x1 ) n f j ( x); φn ( x; x2 ; · · · ; xn ) 1,x
j
!
= ∑ a†j a j Φ , (3.37)
j n
N= ∑ a†j a j . (3.38)
j
Definição: Seja A = A( x) um operador aditivo que atúa no espaço de Hilbert de uma partícula,
H1 . A elevação ao espaço de Fock, A, é definida tal que, para Φ ∈ F ± :
n
(AΦ)0 := 0 , (AΦ)n := ∑ A ( x m ) φ n ( x1 ; · · · ; x n ) ( n ∈ N) , (3.39)
m =1
Por um procedimento idêntico ao da Eq. (3.37) é possível provar que a definição da Eq.
(3.39) é equivalente a escrever:
A= ∑( f k ; A f j )1 a†k a j , (3.40)
j,k
então todo operador que provém da elevação de um operador que age em H1 é expressível
em função dos operadores de emissão e absorção, como clamado pelo Corolário 3.1-1. Mais
em geral:
54 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
1
A=
s! ∑′ ( f j ⊗ · · · ⊗ f k ; A f j′ ⊗ · · · ⊗ f k′ )s a†j · · · a†k ak′ · · · a j′ . (3.42)
j,··· ,k,j ,··· ,k′
Como pode-se ver, o ordenamento normal dos operadores que agem no espaço de Fock
decorre naturalmente das definições dadas, o que implica, em particular, que o valor de
qualquer observável físico no estado de vazio é nulo.
Finalmente, uma palavra a respeito do domínio de aplicação dos operadores elevados
ao espaço de Fock. Suponhamos que A é um operador limitado em Hs ; isto significa que
existe ∥ A∥s tal que, para todo φs ∈ Hs : ∥ Aφs ∥s ≤ ∥ A∥s . Então sua elevação ao espaço de
Fock está limitado por:
2
n
∥AΦ∥ ≤ 2
∥ A∥2s ∑ s ∥ φn ∥2n ∼ ∥ A∥2s ∑ n2s ∥ φn ∥2n , (3.43)
n n
donde decorre que Dom(A) é tanto mais restrito quando maior for o valor de s. Em particular,
quando s = 1, o lado direito da Eq. (3.43) é igual a: ∥ A∥21 ∥NΦ∥2 , então:
Entre os operadores da mecânica quântica que não são aditivos encontram-se aqueles
que correspondem a «transformações», verbi gratia, as transformações de Poincaré, transfor-
mações discretas, conformes, et cetera. Elas têm de ser aplicadas a todas as funções de onda
que compõem φn simultaneamente. Sua elevação ao espaço de Fock, portanto, tem de ser
feita da seguinte forma.
i∂+ f ( x ) = P+ f ( x ) . (3.46)
Como as partículas são livres –elas constituem, cada uma, um sistema isolado–, considera-se
P+ independente do tempo x + . Digamos, ainda, que existe a possibilidade de que seja P+
dependente da posição x = ( x ⊥ ; x − ) se considerarmos a quantização do campo em presença
de um campo clássico exterior estático; isto não altera de forma alguma os resultados que
seguem caso o campo externo seja um «campo regular»10 , pois só tem relevância na escolha
da base de funções do espaço de Hilbert de uma partícula; quando o campo externo é
dependente do tempo, por outro lado, a elevação ao espaço de Fock do operador de evolução
temporal em geral não existe [170, 107] –no caso dos campos quantizados em interação isto
último se relaciona com o teorema de Haag: Não é possível usar o espaço de Fock como o
espaço de Hilbert da teoria em interação (o que constitui uma outra forma de expressar a
afirmação mais comum de que a descrição de interação não existe)–. A Eq. (3.46) tem solução:
com
+ − x+ )
U ( x + ; x0+ ) := e−iP+ (x 0 , U ( x + ; x0+ )−1 = U ( x + ; x0+ )† = U ( x0+ ; x + ) (3.48)
externo é regular se a quantização do campo de Dirac em sua presença pode ser feita no espaço de Fock. É
notável o resultado, obtido por estes autores, de que um campo magnético estático não pode ser regular, mas
somente um campo elétrico estático.
56 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
cuja solução é:
A( x + ) = U( x + )−1 AU( x + ) , (3.52)
+P
U( x + ) := e−ix +
. (3.53)
Esse resultado pareceria contradizer à Eq. (3.47), porém a justifica: Como f evolui com
U ( x + ), a criação do estado com função de onda f no tempo x + se equivale com a criação da
função de onda U ( x + )−1 f em x + = 0. Também esse resultado concorda com a Eq. (3.55),
pois U ( x + ) é unitário.
Consideremos agora a seguinte questão: Como poder-se-á saber se a evolução temporal
é concordante com a covariância relativística? Responderemos a essa pergunta em duas
etapas. (1) De volta ao Teorema 3.1, já que a representação de Fock dos estados quânticos é
construído a partir das regras de (anti-)comutação das Eqs. (3.26) e (3.27), ela terá caráter
relativístico se o produto interno do qual elas dependem é invariante relativístico, uma vez
que a dependência temporal das funções de onda é introduzida. Pareceria que esta operação
é irrelevante, pois já vimos que a representação de Fock independe do produto interno: Com
efeito, mas especificar o produto interno significa especificar a forma explícita da ação dos
operadores de emissão e absorção, a† ( f ) e a( f ), e portanto especificar a forma dos estados
emitidos na aplicação de a† ( f ) ao estado de vazio.
Como já conhecemos, da análise clássica feita no Cap. 2, a medida invariante no espaço
dos momentos, definiremos o produto interno do espaço de Hilbert de uma partícula nesse
espaço:
Definição: Seja H1 o espaço de Hilbert de uma partícula de funções de onda dependentes do tempo,
como na Eq. (3.47). Sejam f , g ∈ H1 , e sejam fˆ e ĝ suas transformadas de Fourier tetradimensionais.
O produto interno delas é definido por:
Z
( f ; g )1 : = dµm ( p) fˆ( p)∗ ĝ( p) , (3.57)
d3 p ω 2p p2⊥ + m2
dµm ( p) := δ( p − m )Θ( p− )d p = Θ( p− )
2 2 4
; E : = = . (3.58)
2p− p+ =E |2p− | |2p− |
então identifica-se o espaço de Hilbert H1 com o espaço de (classes de equivalência das) funções (iguais
quase-em-todas-partes) de quadrado integrável11 em M+ segundo a medida µm :
H1 := L2 (M+ ; µm ) . (3.60)
11 Claramente,a integração é no sentido de Lebesgue [163, 166], o que explica as precisões feitas interparenté-
ticamente no texto principal.
58 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
O espaço de Hilbert assim definido é separável porque o espaço R4 , que contém à camada
de massa superior, M+ , é σ-finito segundo a medida µm , condição que é suficiente [163].
Vejamos mais de perto o produto interno da Eq. (3.57). Integrando na variável p+ e
denotando fˆ( E; p) ≡ fˆ( p), tem-se que:
d3 p
Z
( f ; g )1 = Θ( p− ) fˆ( p)∗ ĝ( p) . (3.61)
2p−
Teorema 3.2: Sejam Fν± (ν = 1, 2) dois espaços de Fock correspondentes a partículas de massas
mν , com m1 ̸= m2 . Os espaços de Fock F1± e F2± são unitariamente equivalentes.
Prova: A tese do Teorema 3.2 equivale a dizer que existe um operador unitário V : F1± →
F2± . Com efeito, como o produto interno da Eq. (3.63) independe da massa [vide a medida
na Eq. (3.62)], então:
a1† ( f )Ω; a1† ( g)Ω = ( f ; g)1 = a2† ( f )Ω; a2† ( g)Ω , (3.64)
Isto é suficiente, pois os estados de maior número de partículas são gerados por aplicação
sucessiva dos operadores de emissão, como o afirma o Teorema 3.1. ■
ção de Duncan na Seç. 10.5 da Ref. [171])–. Este ponto tem sido devidamente esclarecido por
Schlieder e Seiler na Ref. [172]. Como estes autores mostraram, também na dinâmica instan-
tânea seria possível construir um operador unitário relacionando os espaços de Hilbert de
partículas de massas diferentes se o espaço das funções de teste for restringido o suficiente;
contudo, semelhante restrição impede a caracterização completa das propriedades locais
dos operadores de campo quântico12 , a menos que as equações do movimento sejam utiliza-
das para estender o espaço ao S R4 . Semelhantemente, não há dificuldade em reconhecer
que a medida da Eq. (3.62) não está bem definida sobre o espaço S (R3 ) completo, senão
somente sobre o subconjunto deste caracterizado pelo anulamento da função para p− = 0
[159]. Desta forma, a restrição do campo ao plano nulo tampouco permite a caracterização
completa das propriedades locais dos operadores de campo quantizado, mas somente sua
extensão, via as equações do movimento, ao espaço S R4 , em que a medida é a da Eq.
1
f p (x) = Θ( p− )eipx . (3.66)
(2π )3/2
Contudo, se as ondas planas da Eq. (3.66) fossem tomadas como baseZ–a qual seria, além
do mais, não numerável–, então chegar-se-ia à relação de completeza: f p ( x ) f p∗ ( x1 )d4 p =
δ( x − x1 ). Porém, esta não seria uma boa base, pois não satisfaz à condição assintótica da Eq.
(2.79); o espaço gerado pelas ondas planas é grande demais para os fins presentes. Veremos
que uma eleição adequada da base leva a uma relação de completeza diferente. Lembre-
mos agora das soluções que obtivemos para o problema de Goursat dos campos clássicos,
pois essas soluções serão, sim, boas funções de onda. Obtiveram-se, nos diferentes casos,
distribuições –por exemplo, a de Jordan-Pauli D ( x ), ou a S( x ) para os campos fermiônicos,
et cetera– descrevendo a propagação causal do campo; denotaremos genéricamente essas
distribuições por ∆( x ). E como em H1 estão somente as partes de frequência positiva, elas
são propagadas pela parte de frequência positiva de ∆: ∆+ , pois sendo P+ auto-adjunto, os
subespaços de frequência positiva e de frequência negativa são ortogonais. Vimos que toda
12 Com efeito, a possibilidade de se usar o espaço de Schwartz como espaço das funções de teste, sendo que
os argumentos das distribuições de emissão e absorção pertencem ao espaço H1 = L2 , é devida a que S é denso
em L2 [163]. Mas se o espaço de Schwartz for restringido com alguma condição adicional, nem toda função em
H1 poderá ser aproximada por uma sucessão de funções do espaço restrito, o que se identifica com a perda de
informação sobre as propriedades do campo.
60 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
função de onda (campo clássico de frequência positiva) satisfaz [vide o Cap. 2]:
com ⟨•; •⟩ significando que a distribuição é aplicada à função segundo a regra formal dada
pelo produto interno (•; •)1 , diferenciando a notação para explicitar que ⟨•; •⟩ não é um
produto interno, mas a aplicação de uma distribuição a uma função13 . A expansão da função
f na base f j –semelhante àquela da Eq. (3.34), mas agora dependente do tempo– implica
então a relação de completeza:
pode ser estendida de forma única a um operador unitário e limitado agindo no espaço
L2 R3 –algumas vezes chamada «transformação de Fourier-Plancherel» para indicar que,
E destas relações, junto com as expansões da Eq. (3.36) e a relação de completeza da base
f j mostrada na Eq. (3.68):
h i h i
a ( x ); a † ( y ) = −i∆+ (0; x − y) , [ a( x); a(y)]∓ = 0 = a† ( x); a† (y) . (3.72)
∓ ∓
A parte correspondente ao operador de campo de absorção se denomina sua «parte de frequência ne-
gativa», denotada u− ; a correspondente ao operador de campo de emissão, sua «parte de frequência
positiva», denotada u+ .
A definição recém dada pode parecer arbitrária, mas existe uma razão de fundo de
absoluta importância para a natureza manifestar suas leis por meio da peculiar combinação
da Eq. (3.73). Essa é a causalidade –o digamos já, protagonista dessa tese–. Com efeito,
as relações de (anti-)comutação das partes de frequência positiva e de frequência negativa
do operador de campo quantizado levam sempre ao aparecimento da parte de frequência
positiva, ou a de frequência negativa, da distribuição ∆ –vide a Eq. (3.78) embaixo–. Mas
estas não podem, por si só, descrever leis causais, pois seu suporte não é causal. Somente a
combinação u( x ) = a( x ) + a† ( x ) leva a relações de (anti-)comutação cujo suporte é causal;
por isso, uma das partes não pode ter predominância sobre a outra, mas devem sempre
62 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
Aqui, a dependência com as coordenadas está contida nas funções f j ( x ). Logo, como { f k }
é base do espaço de Hilbert de uma partícula, H1 , a Eq. (3.74) implica que o operador de
campo quantizado satisfaz à equação do movimento do campo clássico.
Também, escrevendo as funções f j ( x ) que aparecem na Eq. (3.74) em função de suas
transformadas de Fourier,
Z
−3/2
f j ( x ) = (2π ) dµ( p) fˆj ( p)e−ipx , (3.75)
Este (anti-)comutador aparecerá em uma função central na teoria de perturbação causal com
o nome de «contração de Wick». O que tem sido provado aqui é que ele provém, qualquer
que seja o campo de que se trate, da solução do problema de Goursat na teoria do campo
Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo 63
Finalmente, mencionaremos que o operador de campo quantizado pode ser testado bem
por integração sobre o plano nulo, caso em que usa-se a notação:
Z
+
u( x ; f ) := u ( x ) f ( x ) ∗ d3 x , (3.80)
x + =const.
Cada uma dessas formas tem uma utilidade. A primeira delas permite a construção de
operadores de emissão e absorção de pacotes de onda modulados pela função fˆ( p) evoluindo
no tempo:
Z
+ +
+
u( x ; f ) = dµ( p) a( p) fˆ( p)∗ e−iEp x + a† ( p) fˆ(− p)∗ eiEp x . (3.82)
P+ = ∑( f j ; P+ f k )1 a†j ak . (3.83)
j,k
dos procedimentos aqui descritos é conceitualmente óbvia, mas não o é assim sua aplica-
ção explícita. Veremos portanto em detalhe a construção dos campos quantizados escalar,
fermiônico e vetorial sem massa.
Façamos primeiro o estudo do campo escalar neutro; esse é o único caso em que existe
na teoria um único tipo de partícula, e é, portanto, aquele em que a teoria desenvolvida é
mais facilmente implementável; ainda mais, todos os outros campos podem ser quantizados
a partir do caso presente, como veremos nas próximas subseções.
Um único tipo de partícula significa que deve introduzir-se apenas um par de operadores
de emissão e absorção, a† ( f ) e a( f ). O operador de campo quantizado será então:
Z
φ( x ) = (2π )−3/2 dµ( p) a( p)e−ipx + a† ( p)eipx . (3.86)
Ele terá distribuição de comutação igual à distribuição de Jordan-Pauli, pois é ela que
soluciona o problema de Goursat na teoria clássica, suficiente, portanto, para a relação de
completeza da base de funções de onda de uma partícula. Assim:
Esta escolha implica, segundo as Eqs. (2.80) e (3.67), que o produto interno no espaço real seja:
←→
Z
( f ; g )1 = i d3 x f ( x ) ∗ ∂ − g ( x ) , (3.88)
x+
de forma que:
[ φ( x ); φ(y)] = −iD ( x − y) . (3.91)
Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo 65
+∞
1 sin( p− x − ) 1
Z
D (0; x) = δ( x⊥ ) dp− = sgn( x − )δ( x ⊥ ) , (3.94)
2π p− 4
0
portanto:
i
φ( x + ; x); φ( x + ; y) = − sgn( x − − y− )δ( x ⊥ − y⊥ )
. (3.95)
4
Esta é uma expressão evidente da não comutatividade do campo na direção do eixo x − que
haviamos antecipado. Adicionalmente, tomando a derivada em relação à coordenada y− na
Eq. (3.95), obtém-se:
i
φ ( x + ; x ); ∂ − φ ( x + ; y ) = − δ ( x − y )
. (3.96)
2
Numa análise hamiltoniana, o momento conjugado ao campo φ é π = ∂− φ, o que significa
que a Eq. (3.96) é a relação de comutação canônica a tempos iguais. Mas ela não é a relação
de comutação canônica a tempos iguais usual, senão que está multiplicada por um fator de
1/2. O aparecimento deste fator deve-se a que φ e π não são dinamicamente independentes
no plano nulo, pois π independe de ∂+ φ. A relação aqui obtida é a mesma que a que se
encontra numa análise canônica por meio do procedimento de Dirac-Bergmann para os
sistemas vinculados, como pode ser verificado, por exemplo, na Ref. [198]. O procedimento
desenvolvido reproduz este resultado porque o espaço de Fock tem sido construído a partir
de uma base apropriada de funções de onda de uma partícula: Ela já respeita aos vínculos da
teoria, o que se reflete na relação de completeza da base do espaço H1 . Da mesma equação
pode-se notar que as relações de comutação a tempos iguais estão definidas apenas com
o conhecimento do campo no plano nulo, tal como acontecia no problema de Goursat na
teoria clássica; isto, outra vez, é diferente do que acontece na dinâmica instantânea, em que
as relações canônicas de comutação requerem o conhecimento não só de φ mas também de
∂0 φ no plano x0 = constante, este último não podendo ser deduzido do primeiro.
com o hamiltoniano14 :
i −1 2 i
Z
P+ = ∂ ( ∂ − m2 ) = dvsgn( x − − v)(∂2⊥ − m2 ) , (3.98)
2 − ⊥ 4
que é não local na variável x − . Em qualquer caso, a mera existência deste operador já torna
válida a Eq. (3.85): Z
P+ = dµ( p) p+ a† ( p) a( p) . (3.99)
Com a relação de comutação da Eq. (3.93), o operador de campo quantizado da Eq. (3.86)
satisfaz à equação do movimento de Heisenberg [Eq. (3.51)].
+∞
F + = F a+ ⊗ Fb+ = Hna+ ⊗ Hnb+
M
1 2
. (3.102)
n1 ,n2 =0
E o hamiltoniano, a soma dos hamiltonianos dos dois tipos de partículas. No caso em que a
massa dos dois campos é a mesma –caso ao qual essa discussão será restringida–:
Z
P+ = dµ( p) p+ a† ( p) a( p) + b† ( p)b( p) . (3.103)
1 1
φ := √ ( φ a + iφb ) , φ† := √ φ†a − iφ†b . (3.104)
2 2
14A definição do hamiltoniano P da Eq. (3.98) não é válida no caso bi-dimensional –em que não existem
+
coordenadas x ⊥ – para campos sem massa, pois a mencionada equação levaria ao resultado de ser P+ = 0. O
referido caso deve ser tratado separadamente; nele, o hamiltoniano é P+ = i∂− 1
− . O caso bidimensional, contudo,
não será abordado nessa tese.
15 Lembremos que a combinação aqui apresentada é obtida na teoria clássica ao exigir que o conjunto de
campos escalares φ a e φb se transforme por uma representação diagonal do grupo de gauge U (1), isto para que
as combinações lineares obtidas representem campos associados a partículas de cargas elétricas opostas.
Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo 67
Z
−3/2
†
φ ( x ) = (2π ) dµ( p) d( p)e−ipx + c† ( p)eipx , (3.106)
com:
1 1
c( p) := √ ( a( p) + ib( p)) , d( p) := √ ( a( p) − ib( p)) . (3.107)
2 2
Com as relações de comutação dadas na Eq. (3.93) para a( p) e b( p) e as definições da Eq.
(3.107), encontra-se que os novos operadores de campo seguem às mesmas relações que os
anteriores:
h i h i
c( p); c† (q) = 2p− δ( p − q) e d( p); d† (q) = 2p− δ( p − q) . (3.108)
E também, da Eq. (3.91), válida para os campos φ a e φb , assim como da Eq. (3.104), obtém-se
que o campo carregado satisfaz:
h i
†
φ( x ); φ (y) = −iD ( x − y) . (3.109)
Consideremos, por último, a possibilidade de que um campo escalar tenha caráter fermi-
ônico. Este ponto terá importância imediata na seção seguinte, e também a terá no Cap. 6. É
mister examinar o seguinte teorema, enunciado, por exemplo, na Ref. [88]:
para todos os intervalos tipo-espaço –isto é: ( x − y)2 < 0–, então u( x ) é idênticamente nulo.
Como o spin do campo escalar é zero (inteiro), segundo o teorema, este só poderá ter
caráter fermiônico se seu anti-comutador com o campo adjunto for diferente de zero para
alguns intervalos do tipo-espaço. Suponhamos, então, que um campo escalar neutro, com
expressão Z
u( x ) = (2π )−3/2 dµ( p) c( p)e−ipx + c† ( p)eipx , (3.112)
apresenta caráter fermiônico, de forma que seus operadores de campo de emissão e absorção
verificam às relações de anti-comutação:
n o
c( p); c† (q) = 2p− δ( p − q) . (3.113)
= −iD+ ( x − y) + iD− ( x − y)
= −iD ( x − y) + 2iD− ( x − y) .
A distribuição de Jordan-Pauli, D ( x − y), tem suporte causal, e é nulo para todo intervalo
espacial ( x − y)2 < 0; mas não o é sua parte de frequência negativa, D− ( x − y), que pode
ser não nulo para os mesmos intervalos. Assim, a hipótese do teorema de spin-estatística
não se satisfaz, e sua tese não se aplica. O teorema não impede a existência de campos
escalares fermiônicos, senão o uso do adjunto «†», pois ao usá-lo se perde a causalidade das
relações de anti-comutação –ou, melhor dizendo, os campos escalares fermiônicos precisam
de uma modificação da definição da Eq. (3.73) para a obtenção de leis causais–. Qual seja a
combinação dos operadores de campo de emissão e absorção que deve-se definir como o
campo quantizado adjunto, para recuperar a causalidade das relações de anti-comutação, é
sugerido pela Eq. (3.114); a distribuição de Jordan-Pauli é obtida trocando o sinal de c( p) no
campo adjunto, então definimos:
Z
ue( x ) := (2π )−3/2 dµ( p) −c( p)e−ipx + c† ( p)eipx . (3.115)
Com ele:
{u( x ); ue(y)} = −iD ( x − y) . (3.116)
A partir desse ponto é fácil escrever também o operador de campo do campo escalar
carregado fermiônico:
Z
−3/2
u( x ) = (2π ) dµ( p) c2 ( p)e−ipx + c1† ( p)eipx , (3.119)
e seu adjunto:
Z
ue( x ) = (2π )−3/2 dµ( p) −c1 ( p)e−ipx + c2† ( p)eipx . (3.120)
1
ψ( x ) = ψ(+) ( x ) + ψ(−) ( x ) ; ψ(±) := Λ(±) ψ , Λ(±) := √ γ0 γ± . (3.122)
2
i i 2
P+ = −(m + iγ⊥ ∂⊥ ) (m − iγ⊥ ∂⊥ ) = ∂ ⊥ − m2 ∂ −
1
− , (3.124)
2∂− 2
16 O campo fermiônico de uma só partícula é o campo fermiônico de Majorana. Em tal caso, precisar-se-ia
apenas introduzir dois conjuntos de operadores de emissão e absorção, um conjunto para cada polarização da
partícula.
17 Não se confunda a estes índices com os que denotam às partes de frequência positiva e de frequência
negativa, denotadas por subíndices sem parênteses: ψ± ( x ). Por exemplo, a parte de frequências negativa da
parte Λ(+) ψ é denotada por ψ(+)− .
18 Também aqui se apresentam as dificuldades que antes se apresentaram para o campo escalar não massivo
no espaço-tempo bidimensional –vide a nota de rodapé 14–; esse caso deve ser tratado separadamente.
70 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
1
ψ(−) = √ γ0 (m − iγ⊥ ∂⊥ )ψ(+) . (3.125)
i 2∂−
com as funções u, u e v, v normalizadas como no caso clássico, isto é, tais que satisfaçam às
regras de soma:
Eγ+ + | p− |γ− + p⊥ γ⊥ + m
∑ us ( p)us ( p) = |2p− |
, (3.134)
s
Eγ+ + | p− |γ− + p⊥ γ⊥ − m
∑ vs ( p)vs ( p) = |2p− |
. (3.135)
s
Com as expressões das Eqs. (3.132) e (3.133) e usando as regras de anti-comutação da Eq.
(3.130), encontra-se que o anti-comutador da parte de frequência negativa do campo de
Dirac, ψ− ( x ), com a parte de frequência positiva de seu adjunto de Dirac, ψ+ (y), é:
Z
−3
dµ( p)2| p− | ∑ us ( p) a us ( p)b e−ip(x−y)
ψ− ( x ) a ; ψ+ (y)b = (2π )
s
Z
= (2π )−3 p + m)e−ip(x−y)
d4 pΘ( p− )δ( p2 − m2 )(/ , (3.136)
e, analogamente:
Z
ψ+ ( x ) a ; ψ− (y)b = (2π )−3 dµ( p)2| p− | ∑ vs ( p) a vs ( p)b eip(x−y)
s
Z
−3
= −(2π ) p + m)e−ip(x−y)
d pΘ(− p− )δ( p2 − m2 )(/
4
. (3.137)
escrever-se-á, finalmente:
ψ( x ); ψ(y) = −iS( x − y) . (3.140)
72 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
Estudaremos por último ao campo vetorial sem massa, A a . Como estabelecido no estudo
clássico efetuado no Cap. 2, este campo só tem dois graus de liberdade, correspondentes às
componentes transversais Aα (α = 1, 2), que estão sujeitas à equação de Klein-Gordon-Fock:
□ Aα = 0 . (3.141)
A componente A+ é nula –essa é a condição de gauge do plano nulo, imposta para que o
problema de Goursat esteja bem definido–, enquanto que a componente A− pode ser obtida
da condição de gauge de Lorenz, implicada pela condição de gauge do plano nulo no caso
livre:
A+ = 0 , A− = −∂− 1
− ∂α A
α
. (3.142)
Por construção, o espaço de Fock inclui somente aos estados físicos, de forma que só os
potenciais A a que satisfaçam às Eqs. (3.141) e (3.142) poderão ser funções de onda de uma
partícula. Sem embargo, uma vez que a condição de gauge do plano nulo não é invariante
de Poincaré, poder-se-ia pôr em dúvida a invariância do procedimento de quantização
perante essas transformações. Este problema pode ser colocado na seguinte forma: Será
que o espaço de Fock dos estados físicos é o mesmo para todos os sistemas inerciais de
referência? Nesta seção responderemos a essa pergunta só de forma qualitativa: Quando
é aplicada uma transformação de sistema de referência, a condição de gauge de Lorenz
se mantém válida, pois ela é covariante, mas a condição de gauge do plano nulo já não
é satisfeita. Contudo, ainda é possível fazer uma transformação de gauge de forma que
dita condição seja recuperada. Este procedimento implica que o vetor inicial tem um vetor
correspondente no novo sistema de referência, mas ainda é possível que ele não seja único.
Acontece que esse não é o caso e a correspondência entre estados nos diferentes sistemas de
referência é biunívoca, pois o gauge do plano nulo é único. Com efeito, a condição de gauge
do plano nulo e a de Lorenz, respectivamente, são mantidas na transformação de gauge
A′a = A a + ∂ a f se, e só se, a função f satisfaz às equações:
∂− f = 0 e □f = 0 . (3.143)
Z
−3/2
A2 ( x ) = (2π ) dµ( p) a2 ( p)e−ipx + a2† ( p)eipx . (3.145)
Aqui tem-se usado regras de comutação, e não de anti-comutação, porque estamos interessa-
dos em descrever partículas bosônicas, por exemplo, o fóton. Da Eq. (3.146) decorrem as
relações de comutação dos operadores de campo completos:
Finalmente, o hamiltoniano do campo vetorial não massivo será a soma dos hamiltonianos
associados a estas componentes dinâmicas:
Z
P+ = dµ( p) p+ a1† ( p) a1 ( p) + a2† ( p) a2 ( p) . (3.149)
dµ( p) h
Z i
A− ( x ) = − (2π )−3/2 ( p1 a1 ( p) + p2 a2 ( p)) e−ipx + p1 a1† ( p) + p2 a2† ( p) eipx ,
p−
(3.150)
na qual identifica-se a componente longitudinal dos vetores de polarização, ε 1,2 ( p)− . Desta
sorte, pode-se escrever o operador de campo quantizado em forma compacta como:
Z
a
A ( x ) = (2π ) −3/2
∑ dµ( p)ε λ ( p) a aλ ( p)e−ipx + a†λ ( p)eipx . (3.151)
λ=1,2
Mediante o uso das relações de comutação da Eq. (3.148) e a soma dos vetores de
polarização transversais encontrada na análise clássica, já é uma tarefa fácil calcular a relação
74 Capítulo 3. Quantização do campo no plano nulo
pa η b + η a p b
Z
= (2π )−3 d4 pδ( p2 )Θ ( p− ) − g ab + e−ip(x−y) − eip(x−y)
p−
p a η b + η a pb
Z
= −(2π )−3 d4 psgn ( p− ) δ( p2 ) g ab − e−ip(x−y) . (3.152)
p−
p a η b + η a pb
Z
−3
ab
D ( x ) = i (2π ) 4 2
d psgn ( p− ) δ( p ) g − ab
e−ipx . (3.153)
p−
75
76 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
Definição: Seja g ∈ S (R4 ) : R4 → R uma função com valores no intervalo [0; 1]. A operação
de comutação adiabática da interação consiste em multiplicar a constante de acoplamento1 da teoria
de interação pela função g, então chamada função de comutação.
Definição: Seja uma teoria de interação na qual se opera a comutação adiabática com a função de
comutação g. O operador de espalhamento S( g) é a forma quadrática cujo elemento de matriz entre
os estados Φ, Ψ ∈ F ,
⟨Ψ; S( g)Φ⟩ , (4.1)
1 Na
concepção de Epstein e Glaser (Ref. [103]), de fato, a função de comutação «é» a constante de acopla-
mento da teoria.
2Vide, por exemplo, a Sec. 3.11 da Ref. [107], em que se utiliza a imposição de existência do limite adiabático
S (0) = 1 . (4.2)
Axioma (da invariância sob translações): Seja U( a; 1) o operador unitário que realiza as transla-
ções x → x + a, a ∈ R4 , no espaço de Fock F . O operador de espalhamento se transforma segundo:
3O trabalho original é a Ref. [99]; sem embargo, os axiomas também são expostos no capítulo 10 da Ref.
[100] e no capítulo 14 da Ref. [101], de mais fácil acesso. Eles são recopilados também na Ref. [173].
78 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
O significado dos simbolos «<» e «∼» é claro: X < Y significa que os conjuntos X e Y po-
dem ser separados por um plano nulo de tempo constante, com os pontos de X no passado
dos pontos de Y; X ∼ Y quer dizer que os pontos de X estão espacialmente separados da-
queles de Y. A causalidade é implementada por meio do seguinte enunciado.
Axioma (da causalidade): Sejam g1 , g2 ∈ S (R4 ) duas funções de comutação cujos suportes
satisfazem: supp( g1 ) < supp( g2 ). Cumpre-se a igualdade:
S ( g1 + g2 ) = S ( g2 ) S ( g1 ) . (4.7)
Se, por outro lado, se satisfaz a relação: supp( g1 ) ∼ supp( g2 ), então a decomposição da Eq. (4.7)
ainda é válida, e os operadores S( g1 ) e S( g2 ) comutam.
Axioma (da unitariedade): Para toda função de comutação g ∈ S (R4 ) o operador de espalha-
mento é unitário:
S( g)† S( g) = 1 = S( g)S( g)† . (4.8)
Este axioma está claramente ligado à interpretação probabilística dos elementos de ma-
triz do operador de espalhamento. É útil mencionar, ademais, que ele se refere ao espaço de
Fock construído com os estados físicos, como até agora temos feito. No Cap. 6 estenderemos
o espaço de Fock para conter estados não-físicos; naquela circunstância, o axioma da unitari-
edade se satisfaz somente no subespaço físico, e tem de ser substituído por uma condição de
pseudo-unitariedade no espaço de Fock completo.
Axioma (da invariância de Lorentz): Seja U(0; Λ) o operador unitário que realiza as transform-
ções de Lorentz x → Λx, Λ ∈ L↑+ , no espaço de Fock F . O operador de espalhamento se transforma
segundo:
U(0; Λ)S( g)U(0; Λ)−1 = S( gΛ ) ; g Λ ( x ) : = g Λ −1 x . (4.9)
Este axioma não é necessário para a construção da TPC, embora seu uso simplificaria a
prova dos teoremas de causalidade que apresentaremos mais adiante neste capítulo4 . Nós
não o utilizaremos, precisamente, para mostrar explicitamente que também na dinâmica da
frente de luz tal axioma não é requerido pela TPC.
Axioma (da estabilidade do vazio e do setor de uma partícula): Para toda função de comutação
adiabática g ∈ S (R4 ), o operador de espalhamento deixa invariantes aos estados de vazio e de uma
partícula:
Φ = Ω ∨ Φ = (0; φ; 0; · · · ) ⇒ S( g)Φ = Φ . (4.10)
Embora este seja um requisito razoável, não constitui um elemento fundamental para
a TPC. Ademais, a análise da estabilidade do setor de uma partícula no limite adiabático
permite extrair resultados em relação a se, em uma dada teoria, os campos fundamentais
podem também ser os estados assintóticos reais.
1
Z
S( g) =: 1 + ∑ d4 x1 · · · d4 xn Tn ( x1 ; · · · ; xn ) g( x1 ) · · · g( xn ) . (4.11)
n ∈N
n!
Tn ( X ) ≡ Tn ( x1 ; · · · ; xn ) , g ( X ) ≡ g ( x1 ) · · · g ( x n ) , dX ≡ d4 x1 · · · d4 xn , (4.12)
1
Z
S( g) = 1 + ∑ n! dXTn ( X ) g( X ) . (4.13)
n ∈N
1
Z
S ( g ) −1 = 1 + ∑ n! en ( X ) g( X )
dX T . (4.14)
n ∈N
As distribuições T
en estão relacionadas com as distribuições de transição; tal relação se obtém
comparando a série da Eq. (4.14) que define a S( g)−1 com a inversa formal da série da Eq.
(4.13), que é:
Z
S ( g ) −1 = 1 + ∑ ∑ (−1)r ∑ dXTn1 ( X1 ) · · · Tnr ( Xr ) g( X ) . (4.15)
n∈N r ∈ In X1 ,··· ,Xr ̸=∅
X1 ∪···∪ Xr = X
X j ∩ Xk =∅,∀ j̸=k
Introduzimos aqui a notação In := {k ∈ N|k ≤ n}. Da comparação das Eqs. (4.14) e (4.15)
decorre a desejada expressão:
en ( X ) =
T ∑ (−1)r ∑ Tn1 ( X1 ) · · · Tnr ( Xr ) . (4.16)
r ∈ In X1 ,··· ,Xr ̸=∅
X1 ∪···∪ Xr = X
X j ∩ Xk =∅,∀ j̸=k
T0 (∅) = 1 = T
e0 (∅) , (4.17)
ter-se-á que:
1
Z
1 = S ( g ) S ( g ) −1 = 1 + ∑ n! ∑ dZTn1 ( X ) T
en−n (Y ) g( Z )
1
. (4.18)
n ∈N X ∪Y = Z
X ∩Y = ∅
Como a Eq. (4.18) é satisfeita qualquer que seja a função de comutação g, dela se segue que:
∀ Z ̸= ∅ : ∑ Tn1 ( X ) T
en−n (Y ) = 0
1
. (4.19)
X ∪Y = Z
X ∩Y = ∅
(1) Invariância sob translações: Inserindo a série perturbativa da Eq. (4.13) em ambos os
lados da Eq. (4.3), chega-se à relação:
1
Z
S ( g1 + g2 ) = 1 + ∑ dXTn ( X )( g1 + g2 )( X ) , (4.22)
n ∈N
n!
| X2 | = m , X = X1 ∪ X2 , X1 ∩ X2 = ∅ , g j (∅) := 1 .
1
Z
S ( g1 + g2 ) = 1 + ∑ ∑ m!(n − m)!
dXTn ( X ) g2 ( X2 ) g1 ( X1 ) . (4.24)
n∈N m∈ In,0
Por outro lado, o lado direito da Eq. (4.7) possui a seguinte expressão perturbativa:
1
Z
S ( g2 ) S ( g1 ) = 1 + ∑ ∑ m!(n − m)!
dXTm ( X2 ) Tn−m ( X1 ) g2 ( X2 ) g1 ( X1 ) . (4.25)
n∈N m∈ In,0
Da comparação das Eqs. (4.24) e (4.25), e lembrando que supp( g1 ) < supp( g2 ), deduz-se
que o axioma da causalidade do operador S( g) se traduz na condição de que as distribuições
de transição sejam «cronologicamente ordenadas»:
Aplicando repetidamente a mesma fórmula encontra-se que, quando todos os pontos podem
ser temporalmente ordenados –ou seja, quando não existam pontos com iguais coordenadas
temporais x + –, pode-se escrever a distribuição de n pontos como o «produto temporalmente
ordenado» ou «produto cronológico» de n distribuições de um ponto:
Tn ( x1 ; · · · ; xn ) = T+ { T1 ( x1 ) · · · T1 ( xn )} . (4.27)
Este já é um primeiro indício de que a série perturbativa completa poderia ser gerada
com o mero conhecimento do termo da primeira ordem, T1 ( x ), se um procedimento de
ordenamento cronológico adequado pudesse ser definido.
82 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
[ Tn ( X ); Tm (Y )] = 0 ; X∼Y . (4.29)
A Eq. (4.28) estende a validade da Eq. (4.27) para pontos isocrônicos sempre que eles não
estejam causalmente conectados. Assim, se houver alguma indeterminação na construção
de Tn à partir de T1 , ela estará restrita à região instantânea mas causalmente conectada do
eixo x − . Tais indeterminações não podem ser fixadas pela condição de causalidade, como
daqui decorre. Outrossim, a Eq. (4.29) aponta para um fato crucial: A distribuição de um
ponto, T1 , deve ser construída de forma a respeitar à mencionada equação. Ora, ela poderia
ser, em princípio, um polinômio de Wick geral dos operadores de campo de emissão e
absorção; porém, como os (anti-)comutadores destes são as partes de frequência positiva
ou de frequência negativa das distribuições de (anti-)comutação dos operadores de campo
quantizado, e como essas não têm suporte no cone de luz, eles não podem aparecer em T1
em combinações arbitrárias, mas em combinações muito específicas. As combinações que,
já o sabemos, levam a (anti-)comutadores com suporte no cone de luz são os operadores
de campo quantizado. Donde a distribuição de um ponto, T1 , e assim também, como
consequência da Eq. (4.27), as de maior número de pontos, serão geralmente funções dos
operadores de campo quantizado.
Finalmente, extraíndo a inversa da Eq. (4.7) obtém-se uma condição de causalidade para
o operador S( g)−1 : Se supp( g1 ) < supp( g2 ), então:
S ( g1 + g2 ) − 1 = S ( g1 ) − 1 S ( g2 ) − 1 , (4.30)
donde, por um procedimento idêntico ao mostrado para o operador S( g), conclui-se que as
distribuições T
en são «anti-cronológicamente ordenadas»:
en ( X ) = T
T em ( X1 ) T
en−m ( X2 ) ; X1 < X2 . (4.31)
(3) Unitariedade: Como a função de comutação é real, a substituição das Eqs. (4.13) e
(4.14) na Eq. (4.8) leva diretamente à condição:
en ( X ) = Tn ( X )†
T . (4.32)
Repetimos que este axioma não será utilizado na construção da TPC, mas como uma condição
para o estabelecimento da forma explícita do primeiro termo da série perturbativa em cada
teoria de interação particular, propriedade que poderá então ser mantida na construção das
seguintes ordens da série perturbativa, como mostraremos na Seç. 4.8.
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 83
(4) Invariância de Lorentz: Introduzindo a série da Eq. (4.13) nos dois membros da Eq. (4.9)
chega-se à relação:
(5) Estabilidade do vazio e do setor de uma partícula: Colocando a Eq. (4.13) na Eq. (4.10)
obtém-se que:
Z
Φ = Ω ∨ Φ = (0; φ; 0; · · · ) ⇒ dXTn ( X ) g( X )Φ = 0 . (4.34)
Tn1 ( X1 ∪ X2 ) − Tm ( X2 ) Tn1 −m ( X1 )
T ( X3 ∪ X2 ∪ X1 ) − T ( X3 ∪ X2 ) T ( X1 ) + T ( X3 ) T ( X2 ) T ( X1 )
− T ( X3 ) T ( X2 ∪ X1 ) + T ( X2 ) T ( X3 ) T ( X1 ) − T ( X2 ) T ( X3 ∪ X1 )
é avançada em relação a X1 , qualquer que seja a relação entre X2 e X3 , e assim por diante
pode-se escrever uma vasta coleção de distribuições avançadas em relação a um determinado
conjunto. Vê-se que a regra para essas construções é que o conjunto ou ponto a respeito do
qual se quer construir a distribuição avançada esteja na distribuição à direita, e que o sinal na
frente de cada produto de distribuições seja alternado toda vez que uma partição segundo a
Eq. (4.26) seja feita; este último, em particular, significa que o sinal de cada termo pode ser
relacionado com o número de fatores contidos nele. Daqui é claro que a distribuição mais
geral, módulo um fator global, que pode ser construída com as distribuições de transição até
de ordem n, tal que seja avançada em relação ao ponto xn , é –usamos Y = { x1 ; · · · ; xn−1 }–:
Essa distribuição é denominada «distribuição avançada da ordem n». A essa definição pode
ser dada uma forma mais simples usando a Eq. (4.16): Fixando o conjunto Xr , o resto da
84 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
An (Y; xn ) = ∑′ em ( X ) Tn−m ( X ′ ∪ { xn })
T . (4.36)
X ∪ X =Y
X ∩ X ′ =∅
Desta vez, fixando o conjunto X1 , identifica-se o resto da soma como uma distribuição de
transição inversa:
Rn (Y; xn ) = ∑′ Tn−m ( X ′ ∪ { xn }) T
em ( X ) . (4.38)
X ∪ X =Y
X ∩ X ′ =∅
Nas somas das Eqs. (4.36) e (4.38) a distribuição de n pontos aparece uma única vez.
Separando-a do resto de termos:
que é conhecida uma vez que o são as distribuições subsidiárias [a segunda igualdade da
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 85
Eq. (4.43) decorre da Eq. (4.39)]. Logo, como An é avançada enquanto que Rn , retardada, a
obtenção delas pode ser feita pelo método de divisão da distribuição causal, método cuja
formulação geral foi desenvolvida por Łojasiewicz e Malgrange [104, 105, 106]5 .
Prova: Apresentaremos aqui a prova de (i), então assumindo que se satisfaz: P < Q ∪ { x };
a prova do ponto (ii) segue com modificações óbvias. Por definição [vide a Eq. (4.41)]:
Portanto, usando a causalidade –como expressa nas Eqs. (4.26) e (4.31)– na Eq. (4.46):
R′n1 +1 (Y; x ) = ∑′ T ( X ′ ∩ Q) ∪ { x } T ( X ′ ∩ P) T
e( X ∩ P) T
e( X ∩ Q) . (4.47)
X ∪ X =Y
X ∩ X ′ =∅
X ̸=∅
5 Contudo, o nosso problema não é exatamente do tipo estudado por Łojasiewicz e Malgrange. Com efeito,
estes autores estudaram o problema da divisão de distribuições com suportes «regularmente separáveis», com a
definição seguinte: Os conjuntos fechados A e B são regularmente separáveis pelo conjunto compacto Λ se: (1) Λ = ∅ e
A ∩ B = ∅, ou (2) ∃C > 0, ρ > 0: ∀ x ∈ A: d( x; B) ≥ Cd( x; Λ)ρ . Segundo essa definição, o suporte da distribuição
avançada e o da retardada, na dinâmica da frente de luz, não são regularmente separáveis –como o são, sim, na
dinâmica instantânea–, uma vez que eles são separados pela reta do eixo x − , que não é um conjunto compacto;
este é o único motivo pelo qual a definição dada não se aplica, pois todos os outros requerimentos são satisfeitos.
Veremos, porém, que isto não impede fazer a divisão da distribuição causal e implementar o procedimento
indutivo da TPC, embora será formalmente necessário, para tal fim, restringir o suporte da distribuição causal
de forma a fazê-lo compacto na variável x − ; isto o veremos na Seç. 4.5.
86 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
Isto pode também ser escrito em função de partições dos conjuntos P e Q, como:
R′n1 +1 (Y; x ) = ∑ T (K ′ ∪ { x }) T ( J ′ ) T
e( J ) T
e(K ) . (4.48)
K ∪K ′ = Q, K ∩K ′ =∅
J ∪ J ′ = P, J ∩ J ′ =∅
J ∪K ̸=∅
Nos adendos em que K ̸= ∅, J poderá ser o conjunto vazío e a Eq. (4.19) é aplicável, levando
a que esses adendos tenham uma contribuição nula a R′n1 +1 (Y; x ). Por isto, é suficiente
manter, na Eq. (4.48), aqueles adendos com K = ∅, J ̸= ∅, e em consequência K ′ = Q. Desta
forma, usando a Eq. (4.17):
R′n1 +1 (Y; x ) = T ( Q ∪ { x }) ∑′ T ( J ′ )T
e( J ) . (4.49)
J ∪ J =P
J ∩ J ′ =∅
J ̸=∅
∑′ T ( J ′ )T
e( J ) = ∑′ T ( J ′ )T e(∅) = − T ( P)
e( J ) − T ( P) T . (4.50)
J ∪ J =P J ∪ J =P
J ∩ J ′ =∅ J ∩ J ′ =∅
J ̸=∅
n o
e − ( x ) := y ∈ M (y − x )2 ≥ 0 ∧ y+ ≤ x +
V . (4.52)
e ± ( x ) = V ± ( x ) ∪ x + Re−
V . (4.53)
e + ( xn ), quer no
Esse é conjunto de n pontos, cada um dos quais se encontra, quer em V
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 87
Analogamente definimos:
n
Γ−
n : = ( x 1 ; · · · ; x n ) ∈ M n
∀ j = 1, · · · , n − 1 :
o
−
x+j ≤ x +
n ∧ ∃ x k ∈ V − ( x )( k ̸ = j ) : x ∈ V
n j
e ( x k ) . (4.55)
supp ( Rn1 +1 ) ⊆ Γ+
n1 +1 , supp ( An1 +1 ) ⊆ Γ−
n1 +1 . (4.56)
(I) Suponhamos que haja em Y pelo menos um ponto no passado de x. Y pode então ser
particionado como Y = P ∪ Q, com P ∩ Q = ∅, P < Q ∪ { x } e P ̸= ∅. Pelo Teorema 4.1:
Substituindo as Eqs. (4.57) e (4.58) na Eq. (4.39), isto é, na relação: Rn1 +1 = R′n1 +1 +
Tn1 +1 , chega-se à conclusão de que: Rn1 +1 (Y; x ) = 0. Ora, o suporte de Rn1 +1 (Y; x )
somente pode conter pontos no futuro de x ou simultâneos com ele.
Como estes quatro conjuntos esgotam todas as possibilidades, eles constituem uma
partição de Y. Note-se, em particular, que, já que se está assumindo a existência de pelo
menos um ponto espacialmente separado de x, necessáriamente ter-se-á que P ̸= ∅.
Com essas definições, as seguintes relações cronológicas são satisfeitas:
Elas são necessárias para poder aplicar o axioma da causalidade. Por definição:
R′n1 +1 (Y; x ) = ∑′ T ( X ′ ∪ { x }) T
e( X ) . (4.60)
X ∪ X =Y
X ∩ X ′ =∅
X ̸=∅
T ( X ′ ∪ { x }) = T ( X ′ ∩ Q) T ( X ′ ∩ P) T ( X ′ ∩ O′ ) T (( X ′ ∩ O) ∪ { x }) , (4.61)
e também:
e( X ) = T
T e( X ∩ O′ ) T
e( X ∩ O) T e( X ∩ P) T
e( X ∩ Q) . (4.62)
R′n1 +1 (Y; x ) = ∑′ T ( X ′ ∩ Q) T ( X ′ ∩ O′ ) T (( X ′ ∩ O) ∪ { x })
X ∪ X =Y
X ∩ X ′ =∅
X ̸=∅
× T ( X ′ ∩ P) T
e( X ∩ P) T e( X ∩ O′ ) T
e( X ∩ O) T e( X ∩ Q) . (4.63)
Essas partições são todas independentes, uma vez que todos os subconjuntos são dis-
juntos por definição. Assim sendo, a expressão entre chaves na Eq. (4.64) remete de
volta à Eq. (4.19) e força a considerar somente aqueles termos nos quais, necessaria-
mente, F ̸= ∅, pois os termos em que seja possível adotar F = ∅ são nulos, como o in-
dica a citada equação. Daí deve-se escrever E = K = J = ∅, ou seja: E′ = O, K ′ = O′ e
J ′ = Q. A Eq. (4.64) é assim igual a:
= − T ( Q) T (O′ ) T (O ∪ { x }) T ( P)
= − T ( Q) T (O′ ) T ( P) T (O ∪ { x }) . (4.65)
Aqui, a passagem da primeira à segunda linha é feita em virtude da Eq. (4.19); para ir
da segunda à terceira usa-se a comutatividade das distribuições de transição avaliadas
em conjuntos de pontos espacialmente separados.
(III) A última possibilidade é aquela na qual Y contém pelo menos um ponto espacialmente
separado de x e simultâneo com ele, constituindo tais pontos o conjunto P. Neste
caso o argumento é semelhante àquele utilizado na parte (II), com O = ∅; também,
P ∼ { x }, de forma que a decomposição por causalidade continua a ser válida, e deve-
se reter O′ ∪ { x } da mesma forma em que outrora se tinha O ∪ { x }.
Nas partes (I) a (III) tem-se considerado todos os casos em que (Y; x ) está fora de Γ+
n1 +1 .
Conclui-se, portanto, que supp( Rn1 +1 ) ⊆ Γ+
n1 +1 . ■
poderia ser colocado no passado de x por alguma transformação de Lorentz. E não só, mas
também qualquer ponto no semi-eixo x − negativo poderia ser colocado no passado de x e
então removido do suporte da distribuição retardada. Essa é a base sobre a qual se assenta a
normalização pela covariância de Lorentz, como será discutido na Sec. 4.7.
Do Teorema 4.2 decorre imediatamente o seguinte resultado.
−
supp ( Dn1 +1 ) ⊆ Γ+
n1 +1 ∪ Γ n1 +1 . (4.68)
−
supp ( Dn ) ⊆ Γ+
n ∪ Γn . (4.69)
Prova: Como na prova do teorema anterior, para considerar todos os casos proceder-se-á
por partes.
(II) Suponhamos agora que nenhum dos pontos contidos em X está no passado de xn .
Existem duas formas em que isto pode acontecer; nessa parte suporemos que X contém
pontos espacialmente separados de xn e no futuro dele –a outra possibilidade será
examinada na parte (III)–. Então, como foi provado na parte (II) da prova do Teorema
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 91
A′n ( x1 ; · · · ; xn ) = − T ( Q ∪ P ∪ O′ ) T (O ∪ { xn }) . (4.73)
(III) Nesta parte far-se-á a suposição de que X contém alguns pontos simultâneos com xn ,
mas espacialmente separados dele. Como foi encontrado na parte (III) da prova do
Teorema 4.2 [vide a Eq. (4.65) sob a igualdade O = ∅]:
Por outro lado, a definição da distribuição subsidiária avançada dada na Eq. (4.40)
permite escrever:
A′n ( x1 ; · · · ; xn ) = ∑ e( X1 ) T ( X2 ∪ { xn })
T . (4.75)
X1 ∪ X2 = X \{ xn }
X1 ∩ X2 = ∅
X1 ̸ = ∅
Mais uma vez, o fato de ser X1 ̸= ∅ significa que as distribuições de transição que aqui
aparecem são de menos de n pontos, e a condição de causalidade pode usar-se por
hipótese. Fazendo-o:
A′n ( x1 ; · · · ; xn ) = ∑ e ( X1 ∩ O ′ ) T
T e ( X1 ∩ P ) T
e ( X1 ∩ Q ) T ( X2 ∩ Q )
X1 ∪ X2 = X \{ xn }
X1 ∩ X2 = ∅
X1 ̸ = ∅
× T ( X2 ∩ P) T ( X2 ∩ O′ ) T ({ xn }) . (4.76)
A parte entre chaves na Eq. (4.77) leva à Eq. (4.20), da qual observa-se que os termos
no somatório da Eq. (4.77) não nulos são aqueles em que L ̸= ∅; isto é garantido se
K = J = ∅, ou seja, se K ′ = P e L′ = Q. Comutando então T (O′ ) com T ( P), o que é
92 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
Comparando as Eqs. (4.74) e (4.78) observa-se que também nesse caso se cumpre a
igualdade: R′n ( x1 ; · · · ; xn ) = A′n ( x1 ; · · · ; xn ), e a distribuição causal é nula.
Em suma, provamos que se o conjunto X não tem pontos no passado de xn , então Dn pode ser
não nula somente se X ∈ Γ+
n . A prova para X contendo pontos no futuro de xn é análoga, e
tem por resultado que Dn pode ser não nula somente se X ∈ Γ−
n . Isto prova o Teorema 4.3. ■
A importância do Teorema 4.3 não pode ser subestimada, pois é ele o que diz que a
distribuição causal Dn pode ser dividida em sua parte retardada, Rn , e sua parte avançada,
An , com supp( Rn ) ⊆ Γ+
n e supp( An ) ⊆ Γn , sempre que seja n ≥ 3. Quando n = 2, no
−
Teorema 4.4: Seja Dn ( x1 ; · · · ; xn ) uma distribuição causal com suporte causal, então divisível
em suas partes retardada, Rn ( x1 ; · · · ; xn ), e avançada, An ( x1 ; · · · ; xn ), com suportes em Γ+
n e Γn ,
−
Prova: Em primeiro lugar, note-se que estabelecemos como hipótese do teorema que
a distribuição Dn ( x1 ; · · · ; xn ) tem suporte causal. Isto é asegurado pelo Teorema 4.3 para
n ≥ 3; está-se assumindo aqui, adicionalmente, que tal asseveração foi provada válida
também para n = 2. A estratégia para a prova do Teorema 4.4 será usar os suportes das
distribuições Rn ( x1 ; · · · ; xn ) e An ( x1 ; · · · ; xn ), assim como as seguintes expressões para a
distribuição de transição Tn ( x1 ; · · · ; xn ) –vide a Eq. (4.42)–:
Tn ( x1 ; · · · ; xn ) = Rn ( x1 ; · · · ; xn ) − R′n ( x1 ; · · · ; xn )
= An ( x1 ; · · · ; xn ) − A′n ( x1 ; · · · ; xn ) . (4.79)
(I) Seja que o conjunto X pode ser particionado segundo X = P ∪ Q, com P < Q e
xn ∈ Q. Nesse caso, An ( x1 ; · · · ; xn ) = 0, pois ele tem suporte avançado; daí que:
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 93
R′n ( x1 ; · · · ; xn ) = ∑ T ( X2 ∪ { xn }) T
e ( X1 )
X1 ∪ X2 = X \{ xn }
X1 ∩ X2 = ∅
X1 ̸ = ∅
n o
= ∑ e ( X1 ∩ P ) T
T ( X2 ∩ Q ) T ( X2 ∩ P ) T e ( X2 ∩ P ) . (4.80)
X1 ∪ X2 = X \{ xn }
X1 ∩ X2 = ∅
X1 ̸ = ∅
Devido ao termo entre chaves, a única contribuição na soma anterior provém do termo
em que X2 ∩ P = ∅, o que implica que X2 ∩ Q = Q, e, portanto:
R′n ( x1 ; · · · ; xn ) = − T ( Q) T ( P) = − T ( P) T ( Q) . (4.81)
Tn ( x1 ; · · · ; xn ) Tm (Y ) = T ( Q) T ( P) T ( Q′ ) T ( P′ )
= T ( Q′ ) T ( P′ ) T ( Q) T ( P)
= Tm (Y ) Tn ( x1 ; · · · ; xn ) . (4.82)
1
Tn ( X ) := Sn+ Tn′ ( x1 ; · · · ; xn ) =
n! ∑ Tn′ (xπ(1) ; · · · ; xπ(n) ) . (4.83)
π
É essa distribuição simetrizada a que deve ser usada na construção dos seguintes termos
perturbativos.
Os teoremas apresentados estabelecem a possibilidade real da construção indutiva do
operador de espalhamento S( g), se for possível efetuar a divisão da distribuição causal
em sua parte retardada e sua parte avançada. Na seção que segue passaremos a fixar a
consideração no desenvolvimento prático desse ponto crucial. Finalmente, pode-se ver que
nenhuma transformação de Lorentz foi realizada nas provas dos teoremas de causalidade;
isto constitui, por si mesmo, uma prova explícita de que a invariância de Lorentz não é
necessária na construção da TPC, e que poderá, portanto, ser usada a posteriori como uma
condição adicional para a fixação das distribuições de transição na região instantânea –vide
o comentário que segue à Eq. (4.29)–.
s!
F0 ( x ) =
r
∑ cr : u ( x )r : , Fr ( x ) =
s
∑ :
(s − r )!
c s u ( x ) s −r : . (4.86)
|r |≤ M s ≥r
|s|≤ M
O teorema de Wick então implica a seguinte fórmula para os produtos gerais desses termos:
: u ( x 1 ) s1 · · · u ( x n ) s n :
F r1 ( x 1 ) · · · F r n ( x n ) = ∑ Ω; Fr1 +s1 ( x1 ) · · · Frn +sn ( xn )Ω
. (4.87)
s1 ,··· ,sn s1 ! · · · s n !
com akn e rnk as partes avançada e retardada, respectivamente, da distribuição numérica dkn :
6 Osmulti-índices de Schwartz são definidos, por exemplo, na Ref. [159]: Um multi-índice k ∈ R N é uma
sequência de números inteiros não-negativos, k = (k1 ; · · · ; k N ), k j ≥ 0, sobre as quais regem as seguintes
notações:
N N N N
kj kj
|k| ≡ ∑ kj , xk ≡ ∏ xj , k! ≡ ∏ kj! , Dk f (x) ≡ ∏ ∂x j
f (x) .
j =1 j =1 j =1 j =1
7 Ele deve ser construído fenomenologicamente da mesma forma que o é a densidade lagrangiana da teoria
convencional: Pela imposição das simetrias da teoria; porém, devemos nos restringir nela aos termos lineares na
constante de acoplamento só. Por exemplo, a construção baseada na invariância de gauge quântica abordar-se-á
no Cap. 6.
96 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
supp(rnk ) ⊆ Γ+
n , supp( akn ) ⊆ Γ−
n . (4.91)
−
d( x ) := dkn ( x1 − xn ; · · · ; xn−1 − xn ; 0) ; supp(d) ⊆ Γ+
n −1 (0 ) ∪ Γ n −1 (0 ) , (4.92)
d =r−a ; supp(r ) ⊆ Γ+
n −1 (0 ) , supp( a) ⊆ Γ−
n −1 (0 ) . (4.93)
e analogamente para Γ−
n (0). Na Eq. (4.92) escrevemos d ( x ); x significa: ( x1 − xn ; · · · ; xn−1 −
xn ), em que está em uso a notação de Schwartz dos multi-índices. Usaremos também a
notação: x a ≡ ( x1a − xna ; · · · ; xna −1 − xna ).
n −1
r ( x ) = χ( x )d( x ) , com χ( x ) := ∏Θ x+ +
j − xn ≡ Θ( x+ ) . (4.94)
j =1
Duas observações a respeito dessa proposta: (1) Ela pode garantir a igualdade de r ( x ) e d( x )
somente para x + > 0, mas os valores que r adota no eixo x − não são especificados; (2) a fun-
ção χ( x ), como definida na Eq. (4.94), é descontínua em x + = 0, motivo esse pelo qual, por
regra geral, a distribuição r ( x ) obtida da maneira proposta não seria uma distribuição bem
definida. Em ambos os casos (1) e (2), vê-se, as dificuldades surgem no eixo x − , que é a in-
tersecção entre a superfície de descontinuidade de χ( x ) e supp(d). Logo, o comportamento
da distribuição d( x ) na vizinhança do eixo x − é essencial para o procedimento de divisão.
Tal comportamento será estudado à luz da seguinte definição, que é um caso particular da
«quase-assíntota por variável selecionada» de Vladimirov, Drozzinov e Zavialov [109]:
Definição: Seja d ∈ S ′ (Rm ) uma distribuição, e seja ρ uma função contínua definida positiva.
Se o limite
lim ρ(s)s3m/4 d sx + ; sx ⊥ ; x − = d− ( x ) (4.95)
s → 0+
É claro, o limite na Eq. (4.95) deve ser entendido no sentido distribucional. Com essa
definição, a função ρ(s), pode ser provado, é uma «função regularmente variável na origem»,
também chamada «função de auto-modelo» (auto-model function) [109, 107], o que significa
que para todo a > 0:
ρ( as)
lim = aα , (4.96)
s → 0+ ρ(s)
para algum número α ∈ R, chamado «ordem de auto-modelamento» da função ρ. Em parti-
cular, é possível usar ρ(s) = sα ρ0 (s), com ρ0 uma função lentamente variável em zero –ou
seja, que tem ordem de auto-modelamento nula–, na definição de quase-assíntota, então o
auto-modelamento de ρ serve como um parâmetro característico da distribuição. Comu-
mente, ademais, será possível usar simplesmente a função de auto-modelo ρ(s) = sω− . Isto
posto, sob as mesmas hipóteses da definição anterior:
(i) Devido ao Teorema 4.3, d( x ) é não nulo somente se os pontos de x estão quer todos
−
em Γ+
n−1 (0), quer todos em Γn−1 (0). Consideremos, portanto, a (n − 1)-upla de vetores
tipo-luz: v := (e+ ; · · · ; e+ ) e definamos o plano v · x = 0, x ∈ Mn−1 . Explicitamente, a
equação do plano é:
Como v · x > 0 para x tais que x j − xn ∈ V + (0), enquanto que v · x < 0 para x tais que
x j − xn ∈ V − (0), o plano recém definido pode ser usado para dividir a distribuição
causal em suas partes avançada e retardada, deixando sem especificar seus valores no
eixo x − 8 .
(ii) O produto v · x definido na parte (i) usar-se-á como argumento de uma função contínua
8A respeito disto, na dinâmica instantânea o plano pode ser qualquer plano tipo-espaço. Aqui tal ambigüi-
dade não é possível: O plano deve ser o definido na Eq. (4.98); um outro plano, cuja interseção com o cone de
luz não fosse o eixo x − , não respeitaria o fato de que, na dinâmica da frente de luz, as distribuições retardada e
avançada estão definidas em relação à coordenada x + , e por isso podem assumir valores também no eixo x − .
98 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
(iii) Introduzimos uma função b ∈ D Rm/4 tal que ∀ x − ∈ Rm/4 : b( x − ) ∈ [0; 1], e
db ( x ) : = d ( x )b( x − ) . (4.100)
Incontestável que as definições dadas na Eq. (4.101) somente podem ser consideradas
satisfatórias se tais limites de fato existem. Para examinar a mesma usar-se-á a condição
de Cauchy para a convergência de uma família de distribuições, que pode ser consultada,
por exemplo, nas Refs. [159, 174]: A família de distribuições { f λ } ⊂ S ′ é convergente no limite
λ → 0 se e somente se:
limite:
∀k ≥ 1 : lim ( f λ/k − f λ ) = 0 . (4.105)
λ →0
Aplicando esse critério aos limites de nosso interesse [Eq. (4.101)], o que devemos
examinar é a validade do enunciado:
v · x
∀k ≥ 1 : lim ψ db ( x ) = 0 ; ψ (t) := χ (kt) − χ (t) , (4.106)
s → 0+ s
no sentido distribucional. Por sua definição, a função ψ é suave e tem suporte compacto
na variável x + . Consideremos agora uma função ψ1 ∈ C +∞ (Rm ) tal que é igual a 1 numa
−
vizinhança de Γ+ n−1 (0) ∪ Γn−1 (0), e igual a 0 fora dela. Pelas propriedades geométricas
−
de Γ+n−1 (0) ∪ Γn−1 (0), e como b ∈ D R
m/4 , o produto ψψ b terá suporte compacto, e
1
pertencerá então ao espaço D (Rm ), isto é, será uma função de teste num sub-espaço denso
de S (Rm ) –este é o motivo fundamental pelo qual é imprescindível incluir a função b–. Seja
φ ∈ S (Rm ) uma função de teste; tem-se que:
D v · x E D v · x x E
ψ db ( x ); φ ( x ) = ψ db ( x ); ψ1 φ( x )
s D v · x s x Es
−
= φ ( x ) d ( x ); ψ ψ1 b( x )
D s s E
= s3m/4 φ sx + ; sx ⊥ ; x − d sx + ; sx ⊥ ; x − ; ψ (v · x ) ψ1 ( x )b( x − ) . (4.107)
Então se observa com claridade que essa condição é sempre satisfeita quando ω− < 0, mas
que poderia não sê-lo quando ω− ≥ 0; logo, é mister estudar essas duas possibilidades
separadamente.
Antes de passar aos ditos casos, desejamos reforçar a necessidade de introduzir a função
b, que fica clara ao considerarmos a Eq. (4.109). Como mostrado na Fig. 4.1, se a função b
não tivesse sido introduzida, então o segundo argumento do «produto interno» que aparece
na mencionada equação não seria uma função de teste, pois não se anularia no infinito.
Quando a função auxiliar é introduzida, em câmbio, o suporte do segundo argumento
torna-se compacto e a expressão é bem definida; isto corresponde à segunda imagem na Fig.
4.1. Por comparação, mostramos, na terceira imagem, o caso da dinâmica instantânea, em
que as características geométricas do cone de luz fazem com que o produto ψ1 ψ já tenha
100 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
suporte compacto e nenhuma função auxiliar seja requerida. Finalmente, a função b não
leva a mudança alguma caso se considere apenas funções de teste com suporte compacto na
variável x − : Efetivamente, se restringirmos a classe de funções de teste àquelas com suporte
em determinado intervalo I finito na variável x − , sempre podemos escrevê-la como φ = φb,
com b = 1 numa vizinhança de I e b = 0 fora dela. Há modifição, sem embargo, quando
não restringimos a classe de funções de teste permitidas, modificação essa que é removida
no final ao tomar o limite b → 1. Consideramos esta segunda opção porque desejaremos
utilizar a transformação de Fourier posteriormente, cujo tratamento é simples ao se utilizar
o espaço de Schwartz completo.
Como vimos na Eq. (4.109), neste caso a divisão é «trivial», pois os limites da Eq. (4.101)
existem, então dita definição é admissível:
v · x
rb ( x ) = lim χ db ( x ) ≡ Θ ( v · x ) db ( x ) ; (4.110)
s →0 s
v· x
ab ( x ) = − lim χ − db ( x ) ≡ −Θ (−v · x ) db ( x ) = (Θ (v · x ) − 1) db ( x ) . (4.111)
s →0 s
Portanto, a aplicação dessas distribuições à função de teste φ ∈ S (Rm ) tem resultado:
No caso de ser ω− ≥ 0, o limite da Eq. (4.109) em geral não existe, então em princípio
a definição dada na Eq. (4.101) não é apropriada para tratar com esse tipo de distribuições
causais. Entretanto, ele existe, sim, sob determinadas condições impostas à função de teste
b b
φ ∈ S (Rm ): Suponhamos que ela é do tipo φ( x ) = ( x + ) 1 x ⊥ 2 φ e( x ) ∈ S (Rm )
e( x ), com φ
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 101
e b1 + b2 = |b|:
v· x ⊥ b2
+ b1
ψ db ( x ); x x e( x )
φ
s
3m/4+|b| + ⊥ −
+ ⊥ −
⊥ b2
+ b1 −
=s e sx ; sx ; x d sx ; sx ; x ; x
φ x ψ (v · x ) ψ1 ( x )b( x ) .
(4.113)
E esse limite é nulo, como o requer a Eq. (4.109), quando |b| > ω− , caso no qual, então, a
definição da Eq. (4.101) ainda é aplicável. O maior espaço de funções de teste no qual a
divisão da distribuição causal é trivial é assim aquele constituído pelas funções da forma:
b
φ ( x ) = x +,⊥ φ e ∈ S (Rm )
e( x ) ; |b| = ⌊ω− ⌋ + 1 , φ . (4.115)
Nessa equação, o símbolo «⌊•⌋» significa «o maior número inteiro menor ou igual a •». Uma
função de teste é da forma definida na Eq. (4.115) se e somente se ela satisfizer à condição de
anulamento de suas primeiras ⌊ω− ⌋ derivadas em relação às variáves x + e x ⊥ , no eixo x − :
b ⊥ −
D+ ,⊥ φ 0; 0 ; x =0 para | b | ≤ ⌊ ω− ⌋ . (4.116)
Esse resultado aponta o caminho que deve ser seguido para estender a definição da distri-
buição retardada e a da avançada a todo o espaço S (Rm ) –possibilidade esta que existe em
virtude to teorema de Hahn-Banach9 –: Deve-se subtrair às funções de teste gerais seus pri-
meiros ⌊ω− ⌋ termos da série de Taylor nas variáveis x + e x ⊥ ao redor do ponto (0; 0⊥ ; x − ).
Porém, devemos ser cuidadosos ao fazer tal subtração, pois o polinômio diverge no infinito,
donde a simples subtração de um polinômio faria a função sair do espaço S (Rm ). Antes,
devemos multiplicar o polinômio a ser subtraído por uma função auxiliar w ∈ S R3m/4 ,
de forma que este produto seja ainda uma função de teste. A subtração é portanto feita por
meio do operador de projeção W definido segundo:
⌊ω− ⌋ ( x +,α )b
(W φ)( x ) := φ( x ) − w x + ; x ⊥ ∑ b
D+ ,α φ 0; 0 ⊥ −
; x . (4.117)
|b|=0
b!
9Oteorema de Hahn-Banach afirma que [199] toda funcional linear contínua f definida num subespaço m de
um espaço linear normado M pode ser estendida por uma funcional linear contínua F em M tal que, para toda função
φ ∈ m: ⟨ F; φ⟩ = ⟨ f ; φ⟩, e ∥ F ∥ M = ∥ f ∥m . Este teorema pode ser aplicado no caso em estudo porque as funções
que satifazem à Eq. (4.116) constituem um subespaço do espaço de Schwartz, que é um espaço linear normado.
A este respeito, lembre-se que a norma no espaço de Schwartz pode ser definida, entre outras possibilidades, por
∥ φ∥n := supx,|α|≤n (1 + | x |)n | D α φ( x )|, com n ∈ N0 .
102 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
A função auxiliar não é qualquer uma, mas está restrita de forma que W φ satisfaça à Eq.
(4.116); calculando as primeiras ⌊ω− ⌋ derivadas de W φ:
c ⊥ − c ⊥ −
D+ ,α ( W φ ) 0; 0 ; x = D +,α φ 0; 0 ; x
c
c!
−∑ D+c− a
,α w 0; 0 ⊥
D a
+,α φ 0; 0 ⊥ −
; x ; | c | ≤ ⌊ ω− ⌋ , (4.118)
a=0 a! ( c − a ) !
Evidentemente, a segunda condição deve ser imposta apenas quando ⌊ω− ⌋ ≥ 1; se ⌊ω− ⌋ = 0,
então a primeira condição é suficiente.
Com essas considerações, a distribuição retardada é (bem) definida pela fórmula:
v · x
⟨rb ; φ ⟩ : = lim χ db ( x ); (W φ)( x ) ≡ ⟨db ; ΘW φ⟩ . (4.120)
s → 0+ s
b1 , b2 , e as correções introduzidas pelo projetor W são todas nulas [vide a Eq. (4.117)]:
Os termos adicionais permitem a aplicação da distribuição retardada a funções de teste
arbitrárias, sem por isso modificar o resultado que se obteria com o uso de uma função
de teste apropriadamente escolhida. Um argumento semelhante rege para a distribuição
avançada.
Definição: Seja dˆ ∈ S ′ (Rm ) uma distribuição, e seja ρ uma função contínua definida positiva.
Se o limite D p p E D E
; ⊥ ; p− ; φ̌( p) = dˆ− ; φ̌
+
lim ρ(s) dˆ (4.122)
s → 0+ s s
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 103
existe para toda função de teste φ̌ ∈ S (Rm ), então dˆ− é a quase-assíntota da distribuição dˆ em
p+ , p⊥ → +∞, em relação à função ρ.
Como a definição recém escrita obtém-se daquela oferecida no espaço real, a função ρ(s)
em ambas as definições pode ser considerada a mesma, donde decorre que a ordem singular
da distribuição, ω− , bem pode ser calculada no espaço dos momentos como no espaço real,
obtendo-se sempre o mesmo valor.
+∞ +∞
i
Z Z
lim dwe i ( p+iϵ)w
Θ(w) = lim dwe(ip−ϵ)w = . (4.127)
ϵ → 0+ ϵ → 0+ p + i0+
−∞ 0
b (q) = (2π )m/2−1 δ(q1 )δ(q2+ − q1+ )δ(q2 ) · · · δ(qn−1+ − q1+ )δ(qn−1 ) i
Θ . (4.128)
q1+ + i0+
104 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
Integrando nas variáveis qia , exceto em q1+ , e renomeando essa variável como k, obtém-se a
fórmula de divisão:
+∞
i dˆb (( p1+ − k; p1 ); · · · ; ( pn−1+ − k; pn−1 ))
Z
r̂b ( p) = dk
2π k + i0+
−∞
+∞
i dˆb ( p+ − k; p)
Z
≡ dk . (4.130)
2π k + i0+
−∞
Passemos a considerar o caso não trivial da distribuição causal com ordem singular não-
negativa. Da Eq. (4.120) tem-se que:
D dE
⟨rb ; φ⟩ = ⟨r̂b ; φ̌⟩ = (2π )−m/2 Θ
b ∗ dˆb ; W φ . (4.132)
b ∗ dˆb , é a mesma
O primeiro argumento dentro do «produto interno» da última igualdade, Θ
que já calculou-se no caso de ordem singular negativa. Precisa-se agora calcular o segundo
argumento:
d ⌊ ω− ⌋
1 n + ⊥ +,α b b o b
W φ( p) = φ̌( p) − ∑ b! w x ; x x D +,α φ 0; 0 ⊥ −
; x ( p) . (4.133)
|b|=0
Mas essa quantidade será integrada na variável q [vide a Eq. (4.134)], de forma que pode-
se usar o suporte da distribuição δ(q+,⊥ ). Particularmente, quando algumas das derivadas
b
contidas em D+ −iqy , aparecerá sempre pelo menos um fator
,α afetam à função exponencial e
q+,⊥ , que será nulo por causa do referido suporte. Assim, será suficiente considerar a ação
b +,⊥ ):
de D+ ,α sobre δ ( y
n ob Z
⊥ −
b
D+ ,α φ (0; 0 ; x ) δ(q+,⊥ ) dm ye−iqy D+
(q) = (−1) (2π ) b m/4 b
,α δ ( y
+,⊥
) φ(y)
Z h ib
= (−1)b (2π )m/4 δ(q+,⊥ ) dm p′ D+ b
,α δ ( y +,⊥
) (q − p′ ) φ̌( p′ ) . (4.137)
+∞ (
⌊ ω− ⌋
i dˆb ( p+ − k; p) 1
Z Z
⟨r̂b ; φ̌⟩ = dm p
2π
dk
k + i0+ b!
(2π )−3m/4
φ̌( p) − ∑
−∞ |b|=0
Z b b
m ′ ′ b ′ b ′
× d p (− p )+,α δ( p− − p− )( D p )+,α w( p+ ; p⊥ ) φ( p )
( +∞ ⌊ ω− ⌋
i dˆb ( p+ − k; p) 1
Z Z
= d p m
2π
dk
k + i0 +
− ( 2π ) −3m/4
∑ b!
(− p)b+,α
−∞ |b|=0
+∞ )
i dˆb ( p′+ − k; p′ )
Z Z b
× dm p′ dk δ( p′− − p− )( D p′ )b+,α w( p′+ ; p′⊥ ) φ̌( p) . (4.141)
2π k + i0+
−∞
+∞ ⌊ ω− ⌋
i dˆb ( p+ − k; p) 1
Z
r̂b ( p) =
2π
dk
k + i0 +
− ( 2π ) −3m/4
∑ b!
(− p)b+,α
−∞ |b|=0
+∞
i dˆb ( p′+ − k; p′ )
Z Z b
m ′
× d p dk ′
δ( p− − p− )( D p′ )+,α w( p′+ ; p′⊥ )
b
. (4.142)
2π k + i0+
−∞
+∞ ⌊ ω− ⌋
i dˆb ( p+ − k; p) 1 b
Z
r̂b ( p) =
2π
dk
k + i0 +
− ( 2π ) −3m/4
∑ p
b! +,α
−∞ |b|=0
+∞
Z
m ′ i
Z
( D p′ )b+,α dˆb ( p′+ − k; p′ ) b
× d p dk ′
δ( p− − p− )w( p′+ ; p′⊥ ) . (4.143)
2π k + i0+
−∞
+∞ (
⌊ ω− ⌋
i dk 1 b
Z
r̂b ( p) =
2π k + i0+
dˆb ( p+ − k; p) − (2π )−3m/4 p
b! +,α∑
−∞ |b|=0
Z b
3m/4 ′ b ˆ ′ ′ ′ ′
× d p+,⊥ ( D p′ )+,α db ( p+ − k; p⊥ ; p− )w( p+ ; p⊥ ) . (4.144)
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 107
Essa é uma solução ao problema da divisão, e é finita porb construção. Inobstante ela ainda
exibir uma dependência explícita com a função auxliar w, note-se que a segunda linha na
Eq. (4.144) é uma distribuição da variável p− só, e está multiplicada por fatores p+,α ; isto
significa que os termos de subtração, que são aqueles que dependem da função w, são
termos instantâneos. Como por enquanto somente é possível afirmar a igualdade de rb e db
no cone de luz futuro, exceto, precisamente, no eixo x − , estes termos instantâneos podem
modificar-se sem isto trazer implicações físicas, pois em qualquer caso os termos instantâneos
fixar-se-ão por condições diferentes da causalidade. Porém, os termos instantâneos na Eq.
(4.144) não podem ser simplesmente desconsiderados, pois sua função, já o dissemos, é
remover as divergências que aparecem quando a ordem singular é não-negativa. Isto nos
leva à seguinte conclusão: Com a finalidade de evitar precisar definir sempre uma função w
apropriada para cada ordem singular da distribuição causal e efetuar os cálculos explícitos
com ela, tentaremos eliminar a dependência com ela da Eq. (4.144), sem destruir a finitude
do resultado, adicionando para isso somente termos instantâneos finitos.
+∞ c dˆ ( q − k; q ) ⌊ ω− ⌋
i D+ 1 c b
Z
,α b +
c
D+ ,α r̂b ( q ) =
2π
dk
k + i0 +
− ( 2π ) −3m/4
∑ D q
b! +,α +,α
−∞ |b|=0
+∞
Z
i
Z
( D p′ )b+,α dˆb ( p′+ − k; p′⊥ ; q− ) b ′ ′
× d3m/4 p′+,⊥ dk w( p+ ; p⊥ ) . (4.145)
2π k + i0+
−∞
Mas:
b!
c
D+ b
,α q+,α = qb−c (c ≤ b) ; c
D+ b
,α q+,α = 0 (c > b) , (4.146)
(b − c)! +,α
em que as relações de ordem «≤» e «>» entre multi-índices são definidas como:
⌊ ω− ⌋ +∞ ⌊ ω− ⌋ c dˆ ( q − k; q )
( p+,α − q+,α )c c i ( p+,α − q+,α )c D+
Z
,α b +
∑ c!
D+,α r̂b (q) =
2π
dk ∑ c! k + i0+
|c|=0 −∞ |c|=0
+∞
⌊ ω− ⌋
1
Z
i
Z
( D p′ )b+,α dˆb ( p′+ − k; p′⊥ ; q− ) b ′ ′
− (2π ) −3m/4
∑ b! pb+,α d3m/4 p′+,⊥
2π
dk
k + i0+
w( p+ ; p⊥ ) .
|b|=0 −∞
(4.149)
108 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
A comparação das Eqs. (4.144) e (4.149) revela que os termos nelas contendo a dependência
explícita com a função auxiliar w são os mesmos se q− = p− . Ademais, a Eq. (4.149)
somente contém termos instantâneos, pelo qual a «distribuição retardada auxiliar com linha
de normalização (q+ ; q⊥ ; p− )», definida como:
⌊ ω− ⌋
( p+,α − q+,α )c c
r̂b,q ( p) := r̂b ( p) − ∑ c!
D+,α r̂b (q+ ; q⊥ ; p− ) , (4.150)
|c|=0
é também uma solução ao problema da divisão. Ela é muito conveniente porque a dependên-
cia com a função w tem desaparecido explicitamente, como é possível ver pela substituição
das Eqs. (4.144) e (4.149) na Eq. (4.150):
+∞ (
⌊ ω− ⌋
)
i dk 1
Z
r̂b,q ( p) =
2π k + i0+
dˆb ( p+ − k; p) − ∑ c!
( p+,α − q+,α )c D+
c ˆ
,α db ( q+ − k; q⊥ ; p− ) .
−∞ |c|=0
(4.151)
+∞ (
⌊ ω− ⌋
)
i dk 1 c
Z
r̂b,0 ( p) =
2π k + i0+
dˆb ( p+ − k; p) − ∑ p D c dˆb (−k; 0⊥ ; p− )
c! +,α +,α
. (4.153)
−∞ |c|=0
A solução central, contudo, nem sempre existe, e em alguns casos somos forçados a utilizar
de uma linha de normalização diferente.
Finalmente, como no caso da ordem singular negativa, nessas equações deve-se colocar a
Eq. (4.131), e no final dos cálculos o limite b̂( p− ) → (2π )m/8 δ( p− ) deve ser considerado.
retardada e avançada sejam iguais à causal. Suponhamos agora que (r1 ; a1 ) e (r2 ; a2 ) são
duas soluções ao problema da divisão, i.e., são verificadas: r1 − a1 = d = r2 − a2 . Dessas
igualdades tem-se que:
r1 − r2 = a1 − a2 . (4.154)
− −
×(n−1)
supp(r1 − r2 ) , supp( a1 − a2 ) ⊆ Γ+
n−1 (0) ∩ Γn−1 (0) = Re . (4.155)
Isto é evidente: Se r1 e r2 são iguais a d em todo seu suporte, exceto pelo eixo x − , então eles
podem ser diferentes somente no mencionado eixo; e outro tanto vale para a distribuição
avançada. Destarte, as distribuições retardadas r1 e r2 podem diferir por «termos de norma-
lização» que são distribuições com suporte no eixo x − :
M
∑ Cb x − D+ +,⊥
b
r1 ( x ) − r2 ( x ) = ,⊥ δ x , (4.156)
|b|=0
M
r̂1 ( p) − r̂2 ( p) = ∑ bb ( p− ) pb
C +,⊥ . (4.157)
|b|=0
Quanto ao limite superior, M, nas somas das Eqs. (4.156) e (4.157), pode-se apenas dizer o
seguinte: Que o processo indutivo causal não o determina, pois, como dissemos alhures,
estes termos não modificam o fato das distribuições retardada e avançada serem uma (outra)
solução ao problema da divisão. Os termos de normalização devem ser fixados pela imposi-
ção de condições físicas adicionais, como a covariância de Lorentz, as propriedades da teoria
em relação às transformações discretas, a invariância de calibre, et cetera, e pela imposição de
que a ordem singular da distribuição retardada seja menor ou igual à da distribuição causal:
ω− [r ] ≤ ω− [d]. A este respeito enunciamos o seguinte:
Teorema 4.5: Se a distribuição causal é covariante de Lorentz e sua ordem singular no eixo x − é
maior ou igual a sua ordem singular na origem10 , ω− [d] ≥ ω0 [d], então as condições de normaliza-
ção de covariância de Lorentz da distribuição retardada e de preservação da ordem singular podem ser
caso são as quatro variáveis que são escaladas. No espaço dos momentos [107]: Seja dˆ ∈ S ′ (Rm ) uma distribuição,
110 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
atingidas simultâneamente.
×(n−1)
Prova: Desde que r = d em Γ+
n−1 (0) \ (Re )
− , para qualquer função de teste φ ∈
S( Rm Γ+ − ×(n−1)
) com supp( φ) ⊆ n−1 (0) \ (Re ) ter-se-á que:
(o projector W, é claro, é igual à unidade se ω− [d] < 0). Daí que, como, por hipótese, d é
covariante de Lorentz, qualquer possível não-covariância de r deve estar contida em termos
×(n−1)
instantâneos, isto é, com suporte em (Re− ) . Adicionalmente, efetuando o escalamento
da Eq. (4.158) vê-se que a ordem singular no eixo x − de r e de d são as mesmas para as
funções de teste consideradas; logo ω− [r ] = ω− [d] exceto, outra vez, pelo possível apare-
×(n−1)
cimento de termos com suporte em (Re− ) . Dessa forma, a covariância de Lorentz e
a preservação da ordem singular são, verdadeiramente, condições de normalização, pois
afetam à escolha dos termos de normalização apenas. Que estas duas condições podem
ser simultâneamente atingidas pode ver-se da seguinte forma: Desde que d é covariante
de Lorentz, ele não pode conter termos instantâneos; eis que todos os termos instantâneos
contidos em r têm origem no procedimento de divisão da distribuição causal; porém, eles
não podem ser covariantes de Lorentz a menos que seu suporte esteja na origem das coorde-
nadas. Aplique-se então a seguinte prescrição: Remova-se da distribuição r obtida todos
os termos instantâneos não-covariantes –isto pode ser facilmente realizado no espaço dos
momentos: Remova-se [porque a normalização o permite, vide a Eq. (4.157)] todos os ter-
mos em r̂ da forma P( p+ ; p⊥ ) R( p− ), com P um polinômio e R uma distribuição qualquer,
de forma que a distribuição retardada remanescente não possua termos que possam ser es-
critos daquela forma–. Agora a distribuição retardada não contém termos instantâneos e sua
ordem singular é a mesma que a da distribuição causal: ω− [r ] = ω− [d]. Para obter a covari-
ância de Lorentz de r, resta apenas realizar uma normalização na origem, x = 0. Semelhante
normalização é feita com as derivadas de δ( x ) de ordem até a ordem singular na origem
da distribuição causal, ω0 , como é mostrado, por exemplo, na Seç. 4.5 da Ref. [107] –vide
também a Ref. [176]–. Conclui-se que, se ω− [d] ≥ ω0 [d], então a covariância de Lorentz e a
preservação da ordem singular no eixo x − podem ser simultâneamente atingidas. ■
A desigualdade ω− [d] ≥ ω0 [d] requerida para a aplicação do Teorema 4.5 rege como
uma igualdade para qualquer distribuição causal covariante de Lorentz. Com efeito, pelo
procedimento indutivo se constrói a distribuição causal como o produto das partes de
frequência positiva ou de frequência negativa das distribuições de comutação dos campos.
No espaço dos momentos, tal produto (tensorial) vira uma convolução, de forma que, como
existe qualquer que seja a função de teste φ̌ ∈ S (Rm ), então dˆ0 é a quasi-assíntota da distribuição dˆ em p → +∞, em
relação à função ρ. A ordem de auto-modelamento da função ρ é então a ordem singular da distribuição d na origem.
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 111
(i) Não-normalizãvel: Se um número infinito de condições físicas é requerido para fixar por
completo o operador de espalhamento. Isto ocorre se a ordem singular da distribuição
causal se incrementa sem limite com a ordem perturbativa n.
(ii) Normalizável: Se um número finito de condições físicas basta para fixar todos os termos
de normalização, isto é, se a ordem singular da distribuição causal é uma função
limitada da ordem n do termo perturbativo. Isto pode acontecer de duas formas:
112 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
(ii-1) Se ω− [d] não depende da ordem perturbativa n, então a teoria se chama simples-
mente normalizável.
(ii-2) Se somente um número finito de distribuições causais de baixa ordem têm ordem
singular não-negativa, id est, se ω− [dn ] é uma função decrescente de n, então a
teoria se denomina super-normalizável.
Prova: A prova desse teorema será dada pelo método da indução matemática completa.
Como o primeiro passo do procedimento indutivo é hipótese, suponhamos agora que, para
todo m ≤ n − 1:
em = Tm†
T . (4.160)
An (Y; xn ) = ∑ e( I ) T ( J )
T
I ∪ J =X
I ∩ J =∅
xn ∈ J
= ∑ e( I ) T ( J ) −
T ∑ e( I ) T ( J )
T
I ∪ J =X I ∪ J =X
I ∩ J =∅ I ∩ J =∅
xn ∈ I
=− ∑ e( I ) T ( J )
T
I ∪ J =X
I ∩ J =∅
= −T
en ( X ) − ∑ e( I ) T ( J )
T . (4.161)
I ∪ J =X
I ∩ J =∅
xn ∈ I
J ̸=∅
Aqui, para passar da segunda igualdade à terceira tem-se usado a Eq. (4.20), e na separação
do termo Ten ( X ) para passar da terceira à quarta linha, a Eq. (4.17). No último termo da Eq.
(4.161) somente aparecem distribuições de menos de n pontos, nas quais a hipótese da Eq.
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 113
(4.160) é válida; aplicando-a e comparando com a Eq. (4.40), vê-se que a citada soma é igual
ao adjunto da distribuição avançada subsidiária, A′n (Y; xn )† . Portanto, obteve-se que:
en ( X ) − A′n (Y; xn )†
An (Y; xn ) = − T . (4.162)
en ( X ) − R′n (Y; xn )†
Rn (Y; xn ) = − T . (4.163)
Essas duas equações são completadas com as Eqs. (4.39), repetidas aqui por claridade:
Dn (Y; xn ) = R′n (Y; xn ) − A′n (Y; xn ) = − R′n (Y; xn )† + A′n (Y; xn )† = − Dn (Y; xn )† , (4.165)
e a distribuição causal é antissimétrica. Essa propriedade pode ser mantida após o procedi-
mento de divisão. Com efeito, seja ( Rn,1 ; An,1 ) uma solução qualquer ao problema da divi-
são, suas partes antissimétricas,
1 1
Rn,2 := ( Rn,1 − R†n,1 ) = − R†n,2 e An,2 := ( An,1 − A†n,1 ) = − A†n,2 , (4.166)
2 2
1 1 1 1
Rn,2 − An,2 = ( Rn,1 − An,1 ) − ( R†n,1 − A†n,1 ) = Dn − Dn† = Dn . (4.167)
2 2 2 2
Mais ainda, pela construção mostrada na prova do Teorema 4.6, a unitariedade é compa-
114 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
Teorema 4.7: Para qualquer polinômio P( p), se r̂1 ( p) é uma distribuição retardada correspon-
dente à distribuição causal dˆ1 ( p), então P( p)r̂1 ( p) o é em relação à distribuição dˆ( p) = P( p)dˆ1 ( p).
Mas no processo de divisão a variável p− não intervém, então para essa operação pode
considerar-se o fator pn− como uma constante; como consequência, não leva a nenhuma
perda de generalidade considerar distribuições causais da forma:
em que usa-se a notação dˆ( p+ ) ≡ dˆ( p+ ; 0⊥ ; p− ). Suponhamos agora que a ordem singular
de dˆ1 ( p+ ) é ω 1 , então a ordem singular da distribuição completa dˆ( p+ ) é:
−
1
ω− = ω− +n . (4.172)
Tem de ser distinguidos três casos, pois as fórmulas de divisão para ordem singular negativa
e não-negativa são diferentes.
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 115
i dk
Z
r̂ ( p+ ) = ( p+ − k)n dˆ1 ( p+ − k)
2π k + i0+
n
1 dk n!(−1)l n−l l ˆ
Z
=
2π ∑ p k d1 ( p + − k )
k + i0+ l =0 l!(n − l )! +
. (4.173)
n
i dk ˆ n!(−1)l n−l i
Z Z
r̂ ( p+ ) = pn+
2π k + i0+
d 1 ( p + − k ) + ∑ l!(n − l )! p+ 2π dkkl −1 dˆ1 ( p+ − k ) . (4.174)
l =1
O primeiro termo nessa equação é pn+ r̂1 ( p+ ). Efetuando, nas integrais dentro da soma, a
mudança de variável p+ − k = −q:
l −1
( l − 1) !
k l −1 = ∑ u! ( l − 1 − u ) !
l −1− u u
p+ q , (4.175)
u =0
n l −1
n!(l − 1)!(−1)l i
Z
r̂ ( p+ ) = pn+ r̂1 ( p+ ) + ∑ ∑ l!(n − l )!u!(l − 1 − u)! p+n−1−u 2π dqqu dˆ1 (−q) . (4.176)
l =1 u =0
Agora todas as integrais dentro da soma são independentes de p+ –elas são, ao máximo,
distribuições da variável p− –. Portanto, todos os termos na soma têm a forma de termos de
normalização, os quais, então, podem ser escolhidos de forma a cancelá-los, do qual segue
que pn r̂1 ( p+ ) é uma solução ao problema da divisão de dˆ( p+ ).
+
n
n!
( p+ − k )n = ∑ u! ( n − u ) !
pu+ (−k )n−u , (4.178)
u =0
enquanto que a fórmula de Leibniz pode ser usada para calcular a derivada requerida:
l
h i l!(−1)n
Dkl (−k )n dˆ1 (−k ) = ∑ ( D u n
k ) D l −u ˆ
k d 1 (− k ) . (4.179)
u=0 u! ( l − u ) !
Entretanto:
n!
Du kn = k a−u para u≤n ; Du kn = 0 para u>n . (4.180)
( a − u)!
116 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
i dk ˆ
Z
r̂ ( p+ ) = pn+ d1 ( p + − k )
2π k + i0+
(
n −1
i dk n!
Z
+
2π k + i0 + ∑ u! ( n − u ) !
pu+ (−k )n−u dˆ1 ( p+ − k )
u =0
1 ⌋+ n
⌊ ω−
)
l
n!
− ∑ (−1)n+l pl+ ∑
u! ( l − u ) ! ( n − u ) !
kn−u Dkl −u dˆ1 (−k) . (4.182)
l =0 u =0
somas entre as chaves todos os termos contêm potências não nulas de k, pois nessas somas é
u < n; assim, o denominador k + i0+ é cancelado na integral da segunda linha:
(
n −1
i n!(−1)n−u u n−u−1 ˆ
Z
r̂ ( p+ ) = pn+ r̂1 ( p+ ) + dk ∑ p+ k d1 ( p + − k )
2π u=0 u! ( n − u ) !
1 ⌋+ n
⌊ ω−
)
l
n!
− ∑ (−1)n+l pl+ ∑
u! ( l − u ) ! ( n − u ) !
kn−u−1 Dkl −u dˆ1 (−k ) . (4.183)
l =0 u =0
n − u −1
( n − u − 1) !
k n − u −1 = ∑ p n − u −1− l q l
l!(n − u − 1 − l )! +
, (4.184)
l =0
n −1 n − u −1
n!(n − u − 1)!(−1)n−u n −1− l i
Z
r̂ ( p+ ) = pn+ r̂1 ( p+ ) + ∑ ∑ u!(n − u)!l!(n − u − 1 − l )!
p+
2π
dqql dˆ1 (−q)
u =0 l =0
1 ⌋+ n
⌊ ω− l
n! i
Z
− ∑ (−1)n+l pl+ ∑ u!(l − u)!(n − u)! 2π dkkn−u−1 Dkl −u dˆ1 (−k ) . (4.185)
l =0 u =0
Como no caso (1), todas as integrais nas somas são distribuições da variável p− só, e têm,
como consequência, a forma de termos de normalização: A distribuição pn+ r̂1 ( p+ ) é uma
distribuição retardada para dˆ( p+ ).
1 ⌋ + n ≥ n, de forma que pode-se separar a soma sobre l em duas partes, a uma desde
⌊ ω−
l = 0 até l = n − 1, em que min {l; n} = l, e a outra desde l = n até l = ⌊ω−1 ⌋ + n, em que
min {l; n} = n; nessa última parte, além disso, é útil redefinir o índice da soma segundo:
l → l − n. Se adicionalmente separa-se o termo com u = n na primeira soma da Eq. (4.181),
chegar-se-á à seguinte expressão:
(
n −1
i dk n!(−1)n−u u n−u ˆ
Z
r̂ ( p+ ) =
k + i0+
pn+ dˆ1 ( p+ − k ) + ∑ p+ k d1 ( p + − k )
2π u=0 u! ( n − u ) !
1 ⌋
⌊ ω− n
n!
− ∑ (−1)l pl++n ∑
u! ( l + n − u ) ! ( n − u ) !
kn−u Dkl +n−u dˆ1 (−k )
l =0 u =0
)
n −1 l
n!
− ∑ (−1)n−l pl+ ∑ kn−u Dkl −u dˆ1 (−k ) . (4.186)
l =0 u =0 u! ( l − u ) ! ( n − u ) !
Na primeira linha da Eq. (4.187) reconhece-se a fórmula de divisão de dˆ1 ( p+ ), a qual tem
1 ≥ 0, então dita linha é exatamente pn r̂ ( p ). As outras linhas contêm so-
ordem singular ω− + 1 +
mente termos de normalização. Sendo este o último caso, concluímos que uma distribuição re-
tardada de dˆ( p+ ) pode sempre ser obtida por divisão de dˆ1 ( p+ ), quod erat demonstrandum. ■
O Teorema 4.7 é conveniente para propósitos práticos porque, sendo suficiente efetuar a
divisão de dˆ1 ( p+ ) –menos singular que dˆ( p+ ), segundo a Eq. (4.172)–, um menor número
de subtrações precisa ser calculado.
Finalizamos este capítulo com a aplicação das fórmulas de divisão obtidas para a ob-
tenção da parte retardada das distribuições de (anti-)comutação dos operadores de campo
118 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
dkdq
Z
b bret ( p) = −(2π )−5/2
D b̂ ( p − − q ) sgn ( q ) δ 2p + q − 2kq − ω 2
p . (4.189)
k + i0+
b̂( p− − q)
Z
b bret ( p) = (2π )−5/2
D δ(s + 2p+ q − ω 2p )dsdq
s − iq0+
b̂( p− − q)dq
Z
= −(2π )−5/2
2p+ q − p2⊥ − m2 + iq0+
b→1 1
−−−→ −(2π )−2 2 . (4.190)
p − m + ip− 0+
2
b − ( p) = − i Θ (− p− ) δ( p2 − m2 )
D , (4.191)
2π
dkdq
Z h i
Sbbret ( p) = − (2π )−5/2 b̂ ( p − − q ) ( p + − k ) γ +
+ p ⊥ γ ⊥
+ qγ −
+ m
k + i0+
× sgn(q)δ(2p+ q − 2kq − ω 2p ) . (4.195)
Como outrora, usar-se-á a variável s = −2kq, em função da qual a integral anterior é igual a:
dsdq
Z
Sbbret ( p) = (2π )−5/2 b̂( p− − q)δ(s + 2p+ q − ω 2p )
s − iq0+
+ ⊥ − s +
× p+ γ + p⊥ γ + qγ + m + γ
2q
2p+ q − ω 2p
p − ( p−
/ − q)γ− +m− γ+
2q
Z
−5/2
= −(2π ) dqb̂( p− − q)
2p+ q − ω 2p + iq0+
p − ( p− − q)γ− + m γ+
Z
−5/2 /
= −(2π ) dqb̂( p− − q) −
p2 − m2 − 2p+ ( p− − q) + iq0+ 2q
p+m +
b→1 / γ
−−−→ −(2π )−2 2 2 +
− . (4.196)
p − m + ip− 0 2p−
i
Sb− ( p) = − Θ (− p− ) (/
p + m ) δ ( p2 − m2 ) , (4.197)
2π
γ+
bF bret −2 p+m
/
S ( p) := Sb− ( p) − S ( p) = (2π ) − . (4.198)
p2 − m2 + i0+ 2p−
Algumas de suas componentes têm ordem singular ω− = −2, enquanto que outras, ω− =
−1. Em qualquer caso, a ordem singular é negativa, e a distribuição retardada deve ser obtida
pelo uso da Eq. (4.130). Para fazer a divisão é conveniente definir as seguintes distribuições:
i i pa
dˆ1 ( p) := sgn ( p− ) δ( p2 ) , dˆ2a ( p) := sgn ( p− ) δ( p2 ) ; (4.200)
2π 2π p−
120 Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo
em função das quais a distribuição de comutação do campo vetorial sem massa se escreve:
h i
b ab ( p) = gab dˆ1 ( p) − dˆ2a ( p)ηb + ηa dˆ2b ( p)
D . (4.201)
dkdq
Z
−5/2
r̂1,b ( p) = −(2π ) b̂( p− − q)sgn(q)δ(2p+ q − 2kq − p2⊥ )
k + i0+
dsdq
Z
= (2π )−5/2 b̂( p− − q)δ(s + 2p+ q − p2⊥ )
s − iq0+
dqb̂( p− − q)
Z
= −(2π )−5/2
2p+ q − p2⊥ + iq0+
b→1 1
−−−→ −(2π )−2 2 . (4.202)
p + ip− 0+
Analogamente:
dkdq 1
Z
r̂2{+;α;−},b ( p) = −(2π )−5/2 b̂( p− − q)sgn(q)δ(2p+ q − 2kq − p2⊥ ) { p+ − k; pα ; q}
k + i0+ q
dsdq 2 1 s
Z
−5/2
= (2π ) b̂( p− − q)δ(s + 2p+ q − p⊥ ) p+ + ; pα ; q
s − iq0+ q 2q
( )
2
dqb̂( p− − q) p+ 2p+ q − p⊥ pα
Z
−5/2
= −(2π ) − ; ;1
2p+ q − p2⊥ + iq0+ q 2q2 q
p2 p α
b→1 1 p+
−−−→ −(2π )−2 2 − ; ;1 . (4.203)
p + ip− 0+ p− 2p2− p−
(2π )−2 p2
b ret ( p) = − p a ηb + η a p b
D ab gab − + 2 [δa+ ηb + ηa δb+ ] . (4.204)
p2 + ip− 0+ p− 2p−
(2π )−2 p2
b ret ( p) = − p a ηb + η a p b
D ab gab − + 2 η a ηb . (4.205)
p2 + ip− 0+ p− p−
−2
p2
b F ( p) = − (2π )
D gab −
p a ηb + η a p b
+ 2 η a ηb . (4.207)
ab
p2 + i0+ p− p−
Capítulo 4. Teoria de perturbação causal no plano nulo 121
Outra vez, obtivemos uma parte instantânea no processo da divisão da distribuição causal.
O resultado encontrado é conhecido na literatura como o «propagador de gauge duplamente
transversal», nome esse dado porque Db F ( p) é transversal tanto a p a como a η a [25, 26, 182],
ab
e ao que chegamos aqui de forma natural.
Observamos, finalmente, que as ordens singulares das distribuições retardadas obtidas
são as mesmas que as correspondentes às distribuições causais das quais elas provêm, exceto
pelos termos instantâneos obtidos nos casos fermiônico e vetorial, que em ambos casos têm
ordem singular nula. Presentemente, não existem argumentos para modificar esses termos
instantâneos, pois as condições físicas do processo de normalização devem ser impostas às
distribuições de transição T; os propagadores não são observáveis físicos. É mister então
voltar-nos ao estudo de processos reais.
Capítulo 5
Modelo de Yukawa
O primeiro modelo a que aplicaremos nossas conclusões no que se refere à TPC no plano
nulo será o modelo de Yukawa. Este foi inicialmente proposto para descrever a interação
entre mésons (partículas bosônicas, quer escalares, quer pseudo-escalares) e núcleons (férmi-
ons considerados «elementais» para os fins dessa teoria), os quais experimentam as forças
nucleares de curto alcance que mantêm os prótons e néutrons juntos no núcleo do átomo. A
história do seu desenvolvimento é narrada nas Refs. [183, 184, 185, 186]. O primeiro passo
foi dado por Heisenberg, que propôs considerar prótons e néutrons como dois estados de
uma mesma e só partícula, chamada «núcleon»; tais estados se diferenciavam em sua teoria
por uma propriedade interna a que se deu o nome de «iso-spin». Clássicamente, em 1935
Yukawa [189] observou que um potencial de curto alcance, da forma
e−κ r
φ∼ , (5.1)
r
Assumindo este como válido, a conservação do momento angular implica que o spin do
U-quantum deve ser inteiro, e a partícula, portanto, bosônica, mas não estava claro se o spin
seria zero ou um. O seguinte passo no desenvolvimento do modelo foi dado por Kemmer
em 1938 [190], que estabeleceu a independência da carga das interações nucleares, isto é, que
o potencial nuclear é independente dos tipos de núcleon considerados: Vpp = Vnn = Vnp . O
argumento de Wick [191] para estimar o alcance dessa interação usando as desigualdades de
Heisenberg implica que não há somente mésons carregados –necessários para a explicação
da desintegração nuclear–, mas também há um méson neutro, pois sem ele o alcance do
122
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 123
potencial entre dois núcleons iguais seria por volta da metade daquele existente entre
núcleons diferentes, violando a independência da carga. Semelhante teoria com três mésons
recebeu o nome de «teoria simétrica». Foi também Kemmer [192] que apontou para a
possibilidade dos mésons de Yukawa serem pseudo-escalares; a teoria assim construída se
mostrava mais simples para o tratamento do momento magnético anômalo dos núcleons
[183]. Experimentalmente, as partículas de Yukawa foram primeiro procuradas nos raios
cósmicos. Após uma confusão com o assim chamado «méson µ» –que posteriormente
identificou-se como sendo um férmion–, foi finalmente descoberto que os U-quanta são as
partículas às que hoje se denomina píons: π + , π − e π 0 .
O modelo de Yukawa assim completado pode já ser matematicamente inscrito no forma-
lismo do iso-spin [100, 183]: Os núcleons constituem um dubleto de espinores sob rotações
no espaço de iso-spin, Ψ, enquanto que os píons formam um tripleto no mesmo, π. As rota-
ções no espaço de iso-spin no caso bi-dimensional são geradas pelas matrizes de Pauli τ1 , τ2
e τ3 . Portanto, a densidade lagrangiana de interação, invariante sob rotações no espaço de
iso-spin, é1
L = ig : Ψγ5 τΨ · π : . (5.3)
L = ig : ψγ5 ψφ : , (5.4)
e o «ângulo de mistura efetivo» ϕlτ lτ = tan−1 (κelτ /κlτ ) é medido, com resultado ao redor
de 4 ± 17◦ . Adicionalmente, acoplamentos de Yukawa tri-dimensionais não-massivos a
temperatura finita têm sido estudados recentemente por Benghi [194]; particularmente, os
com:
A2′ ( x1 ; x2 ) = T
e1 ( x1 ) T1 ( x2 ) e R2′ ( x1 ; x2 ) = T1 ( x2 ) T
e1 ( x1 ) . (5.10)
U P ψ ( x ′ )U− 1 0 ′ −1 † ′ −1
P = iγ ψ ( x ) , U P ψ ( x )U P = −iψ ( x ) , U P φ ( x )U P = ϵφ ( x ) . (5.6)
Estas distribuições são levadas a sua forma normalmente ordenada por aplicação do teorema
de Wick, com as seguintes contrações de Wick:
R2′ ( x1 ; x2 ) = g2
: ψ( x1 )Γψ( x1 )ψ( x2 )Γψ( x2 ) : +i : ψ( x1 )ΓS− (y)Γψ( x2 ) :
Portanto, substituindo na Eq. (5.9), agrupando termos e usando que D+ (−y) = − D− (y),
obtém-se a distribuição causal da segunda ordem:
( NN ) ( MN ) ( M) (N) (V )
D2 ( x1 ; x2 ) = D2 + D2 + D2 + D2 + D2 ( x1 ; x2 ) , (5.16)
com
( NN )
D2 ( x1 ; x2 ) = ig2 : ψ( x1 )Γψ( x1 )ψ( x2 )Γψ( x2 ) : D (y) (5.17)
( MN )
( x1 ; x2 ) =ig2 : ψ( x1 )ΓS(y)Γψ( x2 ) : − : ψ( x2 )ΓS(−y)Γψ( x1 ) :
D2 : φ ( x1 ) φ ( x2 ) :
(5.18)
( M)
D2 ( x1 ; x2 ) = −g2 : φ( x1 ) φ( x2 ) : Tr [S− (y)ΓS+ (−y)Γ − S− (−y)ΓS+ (y)Γ] , (5.19)
(N)
D2 ( x1 ; x2 ) =g2 : ψ( x1 )Γ (S+ (y) D+ (y) − S− (y) D− (y)) Γψ( x2 ) :
− g2 : ψ( x2 )Γ (S+ (−y) D+ (−y) − S− (−y) D− (−y)) Γψ( x1 ) : (5.20)
(V )
D2 ( x1 ; x2 ) = −ig2 Tr [S− (y)ΓS+ (−y)ΓD− (y) + S− (−y)ΓS+ (y)ΓD+ (y)] (5.21)
não representa processo físico nenhum, pois não contém em sua expressão operadores de
campo assintoticamente livres.
126 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
( MN )
( x1 ; x2 ) =ig2 : ψ( x1 )ΓS(y)Γψ( x2 ) : − : ψ( x2 )ΓS(−y)Γψ( x1 ) :
D2 : φ ( x1 ) φ ( x2 ) : .
(5.22)
com Sb( p) dado na Eq. (4.193). Essa distribuição tem a ordem singular ω− = −1 < 0, a qual
não é alterada pela multiplicação pela matriz constante Γ. Em consequência, a distribuição
retardada é simplesmente Sbret ( p), e a distribuição numérica da segunda ordem é:
γ+
p+m
/
SbF ( p) = (2π )−2 − . (5.26)
p2 − m2 + i0+ 2p−
Introduzindo a Eq. (5.26) na Eq. (5.25) e usando que Γγ+ = ϵγ+ Γ, com ϵ = 1 se Γ = 1 (φ
escalar) e ϵ = −1 se Γ = γ5 (φ pseudo-escalar), assim como que Γ2 = ϵ:
p+m +
/ −2 2 γ
t̂( p) = −i (2π )−2 g2 Γ Γ + i ( 2π ) g + Cb ( p− ) , (5.27)
p2 − m2 + i0+ 2p−
+
b ( p− ) = −i (2π )−2 g2 γ
C , (5.28)
2p−
1 γ+
Z
d 4 x 1 d 4 x 2 : φ ( x 1 ) ψ ( x 1 ) g2 δ ( y ) φ ( x2 ) ψ ( x2 ) :
2 2∂−
γ+
Z
= d 4 x 1 : φ ( x 1 ) ψ ( x 1 ) g2 φ ( x1 ) ψ ( x1 ) : , (5.29)
4∂−
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 127
1 1
Z
f ( x− ) := dy− sgn( x − − y− ) f (y− ) .
∂− 2
γ+
Z
d 4 x 1 : φ ( x 1 ) ψ ( x 1 ) g2 φ ( x1 ) ψ ( x1 ) : . (5.30)
2∂−
Substituindo a Eq. (5.28) na (5.27), também, observa-se que a parte numérica da distribuição
( MN )
de dois pontos T2 é a mesma que a da dinâmica instantânea [132], o que estabelece a
equivalência das duas formas dinâmicas para este processo.
T1 ( x ) = g : ψ( x )γ5 ψ( x ) : φ( x ) . (5.31)
A distribuição causal da segunda ordem correspondente pode-se escrever como –vide a Eq.
(5.19)–:
( M)
D2 ( x1 ; x2 ) = : φ ( x1 ) d ( y ) φ ( x2 ) : , (5.32)
p + m1 ) γ5 ( / q + m1 )γ5 = 4 m21 − p2 + pq
Tr (/ p−/ , (5.35)
b ± ( p) = ±i (2π )−1 Θ (± p− ) δ( p2 − m2 ):
de forma que, lembrando que D 1
−4g 2 Z
d4 p m21 − p2 + pq Θ ( p− ) Θ (q− − p− ) δ( p2 − m21 )δ ( p − q)2 − m21 .
Pb(q) =
(2π )4
128 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
Os suportes das distribuições delta de Dirac que aparecem no integrando da equação anterior
implicam as igualdades:
p2 = m21 e q2 = 2pq . (5.36)
com: Z
I (q) = d4 pΘ ( p− ) Θ (q− − p− ) δ( p2 − m21 )δ(q2 − 2pq) . (5.38)
com: s
q2− q− ω 2p
A := − . (5.40)
4 2q+
Realizando a integração:
Θ ( p− ) Θ (q− − p− ) n hq hq
Z i io
− −
I (q) = dp− d2 p⊥ δ p− − − A + δ p− − +A
|4q+ ||2A| 2 2
q+Zq− /2
π d(ω 2p )
= Θ(q− )Θ(2q+ q− − 4m21 )
|4q+ |
s
q2− q− ω 2p
m21 −
4 2q+
s
π 4m21
= Θ(q− )Θ(2q+ q− − 4m21 ) 1− . (5.41)
2 2q+ q−
i dk n ˆ
Z o
r̂1 (q) = d 1 ( q + − k; 0 ;
⊥ −q ) − dˆ1 (− k; 0 ;
⊥ −q ) . (5.47)
2π k + i0+
Aplicando a fórmula de Sokhotskiy [199] na primeira integral e então fazendo nela a substi-
tuição s + 2q+ q− → s, o que permite juntá-la com o segundo termo da Eq. (5.48), obtém-se:
+∞
s
i ds 4m21
Z
r̂1 (q) = − 2q+ q− V.p. 1−
2π s(s − 2q+ q− ) s
4m21
s
1 4m21
+ sgn (q− ) Θ(2q+ q− − 4m21 ) 1− , (5.49)
2 2q+ q−
em que «V.p.» denota ao «valor principal de Cauchy» da integral escrita à sua direita. Logo,
re-inserindo o termo imaginário pelo uso da fórmula de Sokhotskiy e escrevendo já em
forma covariante de Lorentz –a qual é obtida pela troca de 2q+ q− por q2 –:
+∞
s
i 2 ds 4m21
Z
r̂1 (q) = − q 1− . (5.50)
2π s(s − q + iq− 0+ )
2 s
4m21
130 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
Como é provado no Ap. C, esta distribuição retardada pode obter-se como o valor limite
da função analítica definida pela substituição do impulso q pela variável complexa q̃ =
q + iεη ∈ R4 + iR0+ e− , com ε > 0 e η o vetor definido na Eq. (2.186). Isto é:
+∞
s
i ds 4m21
Z
r̂1 (q̃) = − q̃2 1− . (5.51)
2π s(s − q̃2 ) s
4m21
Portanto:
+∞
s
Z1
ds 4m21 1 dx (1 − x )2
Z
1− = 2 . (5.55)
s(s − q̃2 ) s m1 (1 + x )2 ( x + ξ̃ )( x + 1/ξ̃ )
4m21 0
Como ξ̃ é um número complexo, o integrando não apresenta pólos sobre o eixo real. Ademais,
ele é racional, de maneira que pode ser calculada pela técnica de decomposição em frações
parciais. Com tal técnica encontra-se que a Eq. (5.55) é igual a:
1 1
− 2 3
ξ̃ (1 + ξ̃ ) log(ξ̃ ) + 2ξ̃ (1 − ξ̃ ) , (5.56)
m1 (1 − ξ̃ )
ig2
2 1 + ξ̃
r̂ (q̃) = q̃ log(ξ̃ ) + 2 . (5.57)
2(2π )4 1 − ξ̃
A partir deste ponto, tomar-se-á o valor limite de r̂ (q̃) para ε → 0+ (isto é, para q̃ = q + iεη →
q) de forma a obter a distribuição retardada. Como tal limite depende do valor assumido
pelo quadrado do momento, q2 , é mister considerarmos as seguintes três regiões de variação
dele separadamente:
(I) q2 < 0: Para q do tipo-espaço, a variável ξ := lim ξ̃ é real e positiva, de forma que o
ε →0
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 131
ig2
2 1+ξ
r̂ (q) = q log ( ξ ) + 2 . (5.58)
2(2π )4 1−ξ
(II) 0 < q2 < 4m21 : Neste caso, o parâmetro ξ é um número complexo com módulo unidade,
e pode então ser representado na forma:
2
θ
ξ = eiθ , q2 = 4m21 sin . (5.59)
2
Portanto: s s
1+ξ 4m21 4m 2
log(ξ ) = 2 − 1 cot−1 1
− 1 , (5.60)
1−ξ q2 q2
(III) q2 > 4m21 : Agora ξ ∈ R, mas ξ < 0. Por isto, nesta região aparece um termo imaginário
que provém do logaritmo. Para conhecer sua fase, é preciso ver que, para ε ≪ 1:
ξ̃ ≈ ξ + iεsgn(q− ). Assim:
s q s
ig2 4m21 1 − 1 − 4m21 /q2 2
4m1
r̂ (q) = q2 1− log q + 2 + iπsgn(q− ) 1 − .
2(2π )4 q2 1 − 4m21 /q2 + 1 q2
(5.62)
A distribuição de transição obtém-se da subtração r̂ (q) − r̂ ′ (q), com r̂ ′ (q) a parte numérica
da distribuição subsidiária retardada no espaço dos momentos. Das Eqs. (5.15) e (5.33) vê-se
que esta última é:
( M)
R′ 2 ( x1 ; x2 ) = − P(−y) : φ( x1 ) φ( x2 ) : . (5.63)
Logo, ela somente modifica à distribuição retardada quando q2 > 4m21 . Seu efeito, o vemos
das Eqs. (5.62) e (5.64), é o de modificar a parte imaginária da distribuição retardada,
trocando o sgn(q− ) pela unidade, pois sgn(q− ) + 2Θ(−q− ) = Θ(q− ) + Θ(−q− ) = 1. Desta
forma, definindo a «auto-energia do méson» como a distribuição Π tal que:
( M)
r̂ (q) − r̂ ′ (q) := −i Π
b (q) , T2 ( x1 ; x2 ) = − i : φ ( x1 ) Π ( x1 − x2 ) φ ( x2 ) : , (5.65)
132 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
obtém-se:
(5.68)
Mas a distribuição Π
b (q) tem a ordem singular ω− = +2, o que significa que sua forma
mais geral é:
Π
e (q) = Π
b (q) + C0 + c a q a + C2 q2 ; C0 , c a , C2 ∈ R . (5.69)
Π
e (q) = Π
b (q) + C0 + C2 q2 ≡ Π̂(q) + b + C2 (q2 − m22 ) . (5.70)
( NN ) ( NN )
T2 ( x1 ; x2 ) = ig2 : j( x1 )t2 ( x1 − x2 ) j ( x2 ) : ; j( x ) = ψ( x )iγ5 ψ( x ) . (5.71)
( NN ) ( NN ) ( NN ) ( NN ) ( NN )
D4 ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) = T2 ( x1 ; x3 ) T2 ( x4 ; x2 ) − T2 ( x2 ; x4 ) T2 ( x1 ; x3 )
( NN ) ( NN )
= g2 : j ( x 1 ) t 2 ( x1 − x3 ) d ( x3 − x4 ) t2 ( x4 − x2 ) j ( x2 ) : , (5.72)
com d(y) a distribuição causal da auto-energia do méson dada na Eq. (5.33). Desde que
( NN )
t2 tem ordem singular negativa, será suficiente efetuar a divisão de d(y) e não por isso
surgirão divergências. Assim:
( NN ) ( NN ) ( NN )
T4 ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) = −ig2 : j( x1 )t2 ( x1 − x3 ) Π ( x3 − x4 ) t2 ( x4 − x2 ) j( x2 ) : . (5.73)
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 133
( NN ) 1
t̂2 ( p) = −(2π )−2 b F ( p)
=D , (5.76)
p2 − m22 + i0+
As condições físicas que se requererá são as seguintes: (1) A massa física do méson é m2 , o
b tot (q) tem um pólo nesse valor de q2 . Isto acontece se:
que significa que D
lim Π
e (q) = 0 ; (5.78)
q2 →m22
(2) o valor físico da constante de acoplamento é g. Como D b tot (q) aparece multiplicando à
corrente gψiγ5 ψ, o coeficiente de q2 em D
b tot (q) dividirá efetivamente o valor de g; a segunda
condição de normalização é destarte:
dΠ
e (q)
lim =0 . (5.79)
q2 →m22 dq2
( s s ! )
g2 m22 4m21 4m21
C2 = 1− − 1 cot−1 −1 +3 . (5.81)
2(2π )4 4m21 − m22 m22 m22
Com essa normalização, os resultados obtidos são idênticos àqueles encontrados na dinâmica
instantânea –compare-se com a Ref. [132]–.
(N)
D2 ( x1 ; x2 ) = −g2 : ψ( x1 )γ5 (S+ (y) D+ (y) − S− (y) D− (y)) γ5 ψ( x2 ) :
+ g2 : ψ( x2 )γ5 (S+ (−y) D+ (−y) − S− (−y) D− (−y)) γ5 ψ( x1 ) : . (5.82)
Definindo as distribuições:
(N)
D2 ( x1 ; x2 ) = : ψ( x1 )d(y)ψ( x2 ) : − : ψ( x2 )d(−y)ψ( x1 ) : . (5.84)
Como pode-se ver, o segundo termo obtém-se do primeiro pela troca de x1 e x2 . Porém, no
operador de espalhamento aparece a soma das distribuições de transição correspondentes
aos dois termos da Eq. (5.84) integradas nas variáveis x1 e x2 em conjunto com o produto
g( x1 ) g( x2 ); desde que dentro da integral é sempre possível renomear as variáveis x1 e x2 , um
com o nome do outro, sem isso trazer nenhuma consequência, a contribuição ao operador
de espalhamento dos dois termos é idêntico. Por isto, apenas nos ocuparemos em estudar o
primeiro termo.
A passagem ao espaço dos momentos é efetuada por meio da transformação de Fourier.
Começando com d− :
Z
dˆ− ( p) = −(2π )−2 d4 yeipy S− (y) D− (y)
Z
= −(2π )−6 d4 yd4 qd4 kei( p−q−k)y Sb− (q) D
b − (k) . (5.85)
Mas:
Sb− (q) = (/
q + m1 ) D
b −,m (q) , b −,m (q) = − i Θ (−q− ) δ(q2 − m2 )
D , (5.87)
1
2π
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 135
com as integrais:
Z
d4 qΘ (−q− ) Θ (q− − p− ) δ(q2 − m21 )δ ( p − q)2 − m22
I1 ( p) := , (5.89)
Z
d4 qq a Θ (−q− ) Θ (q− − p− ) δ(q2 − m21 )δ ( p − q)2 − m22
I2a ( p) := . (5.90)
Particularmente, a Eq. (5.93) provém do fato de que o integrando na Eq. (5.90) é ímpar nas
variáveis q a = q⊥ no sistema de referência escolhido. Também, o produto das distribuições
delta de Dirac que aparecem nessas integrais pode ser colocado na seguinte forma:
! !
1 p+ ωq2 ωq2
Θ 2
A − δ q− − F (q+ ; q⊥ ) , (5.94)
|8p− | 2p− 2q+
1
F (q+ ; q⊥ ) := s
p+ ωq2
A2 −
2p−
s s
p+ ωq2 p+ ωq2
× δ q + − A + A2 − + δ q + − A − A2 − , (5.95)
2p− 2p−
π 2
I1 = Θ(− p− )Θ 2p+ p− − (m21 + m22 ) − 4m21 m22
8| p − |
2p−ZA2 /p+ Z0
× d(ωq2 ) dq+ F (q+ ; q⊥ ) , (5.98)
m21 ωq2 /2p−
π 2
I2+ = Θ(− p− )Θ 2p+ p− − (m21 + m22 ) − 4m21 m22
8| p − |
2p−ZA2 /p+ Z0
× d(ωq2 ) dq+ q+ F (q+ ; q⊥ ) , (5.99)
m21 ωq2 /2p−
π 2
I2− = Θ(− p− )Θ 2p+ p− − (m21 + m22 ) − 4m21 m22
8| p − |
2p−ZA2 /p+ Z0 ωq2
× d(ωq2 ) dq+ F (q+ ; q⊥ ) , (5.100)
2q+
m21 ωq2 /2p−
em que tem-se usado que d2 q⊥ = πd(ωq2 ). Para realizar a integração na variável q+ , precisa-
se ver sob quais condições as distribuições delta de Dirac têm suporte na região de integração.
Já que q+ < 0, tem de ser A < 0, o que significa que [vide a Eq. (5.96) e lembre que p− < 0]:
Adicionalmente, o argumento das funções de Heaviside nas Eqs. (5.98)-(5.100) pode escrever-
se como:
2
2p+ p− − (m21 − m22 ) − 8p+ p− m22 > 0 , (5.102)
que em conjunto com a Eq. (5.101) leva à desigualdade: 2p+ p− − 2m2 2p+ p− − (m21 −
p
m22 ) > 0, cujas raízes são 2p+ p− = m2 ± m1 . Sob a suposição de ser m1 > m2 –o que
p
se justifica, por exemplo, para os núcleons e píons, como antes dito–, observa-se que a
integração na variável q+ tem de ser proporcional a:
Θ 2p+ p− − (m1 + m2 )2
. (5.103)
2p−ZA2 /p+ s s
d(ωq2 ) p− p − A2 m2 2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2
r
=4 − 1 = 2| p − | 1− + .
(2p+ p− )2
s
p+ ωq2 p+ p+ 2 2p+ p−
m21 A2 −
2p−
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 137
g2
g2 γ5 dˆ− ( p)γ5 = (2π )−3 Θ (− p− ) Θ p2 − (m1 + m2 )2
s 4
2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2 m21 − m22
p
/
× 1− + m1 − 1+ . (5.106)
p2 p4 2 p2
O cálculo da distribuição d+ –vide a definição dada na Eq. (5.83)– leva-se a cabo per-
correndo os mesmos passos e realizando apenas modificações menores; o resultado de tal
procedimento é:
g2
g2 γ5 dˆ+ ( p)γ5 = − (2π )−3 Θ ( p− ) Θ p2 − (m1 + m2 )2
s 4
2(m1 + m22 ) (m21 − m22 )2
2 m21 − m22
p
/
× 1− + m1 − 1+ . (5.107)
p2 p4 2 p2
Daqui, a parte numérica da distribuição causal que descreve à auto-energia do núcleon será,
no espaço dos momentos –vide a Eq. (5.83)–:
g2
dˆ( p) = (2π )−3 sgn ( p− ) Θ p2 − (m1 + m2 )2
4 s
2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2 m21 − m22
p
/
× 1− + m1 − 1+ . (5.108)
p2 p4 2 p2
g2 n p 2
/ o
dˆ( p) = (2π )−3 m1 p2 − p + (m21 − m22 ) dˆ1 ( p) , (5.109)
4 2
com:
s
1 2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2
dˆ1 ( p) =sgn( p− )Θ p2 − (m1 + m2 )2 2
1− + . (5.110)
p p2 p4
Graças ao Teorema 4.7, será suficiente obter a parte retardada da distribuição dˆ1 ( p). Isto é
mais facilmente feito passando a um sistema de referência no qual ( p a ) = ( p+ ; 0⊥ ; p− ), o
que é possível desde que p ∈ V + , como se implica das distribuições delta de Dirac e funções
138 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
i dk
Z
sgn( p− )Θ −2kp− + 2p+ p− − (m1 + m2 )2
r̂1 ( p) = +
2π k + i0
s
1 2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2
× 1− + . (5.112)
−2kp− + 2p+ p− −2kp− + 2p+ p− (−2kp− + 2p+ p− )2
+∞
s
i ds 2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2
Z
r̂1 ( p) = V.p. 1− +
2π s(2p+ p− − s) s s2
( m1 + m2 )2
s
1 1 2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2
+ sgn ( p− ) Θ(2p+ p− − (m1 + m2 )2 ) 1− + .
2 2p+ p− 2p+ p− (2p+ p− )2
(5.113)
Esta distribuição retardada é o valor limite da função analítica definida no tubo R4 + iR0+ e−
–escrita em forma covariante de Lorentz–:
+∞
s
i ds 2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2
Z
r̂1 ( p̃) = − 1 − +
2π s(s − p̃2 ) s s2
( m1 + m2 )2
+∞
i ds
Z q
=− [s − (m1 + m2 )2 ][s − (m1 − m2 )2 ] . (5.114)
2π s (s − p̃2 )
2
( m1 + m2 )2
Como o pólo do integrando não se encontra mais no eixo real (para pe = p + iεη, ε > 0),
essa integral pode ser resolvida por meio da terceira substituição de Euler [196]: Efetua-se a
seguinte mudança de variável:
( m1 + m2 )2 − ( m1 − m2 )2 x 2
s= ; 0<x<1 , (5.115)
1 − x2
com a qual:
x 8m1 m2 xdx
q
[s − (m1 + m2 )2 ][s − (m1 − m2 )2 ] = 4m1 m2 2
, ds = . (5.116)
1−x (1 + x )2 (1 − x )2
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 139
Z1
i 32m21 m22 x2 dx
r̂1 ( p̃) = − , (5.118)
2π (m1 − m2 )4 [ p̃2 − (m1 − m2 )2 ] ( a + x )2 ( a − x )2 ( x − b̃)( x + b̃)
0
a qual já pode ser avaliada pela técnica de decomposição em frações parciais. O resultado de
semelhante operação é:
Com a finalidade de se obter o valor limite desta função, é preciso dividir a análise em
três regiões que determinam o comportamento da quantidade b := lim b̃. Elas são:
ε →0
(I) p2 < (m1 − m2 Neste caso, b ∈ R e b > 1, de forma que o limite para ε → 0 da Eq.
)2 :
(5.120) pode ser obtido diretamente:
(II) (m1 − m2 )2 < p2 < (m1 + m2 )2 : Nesta região de variação do impulso, b ∈ iR, de modo
que pode-se escrever:
s
( m1 + m2 )2 − p2
b = ic , c := ∈R . (5.122)
p2 − ( m1 − m2 )2
b+1 ic + 1
ξ := = , (5.123)
b−1 ic − 1
ocorre que ela tem, evidentemente, o módulo unidade: |ξ | = 1, e por isso este número
140 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
Assim, s
p2 − ( m1 − m2 )2
log(ξ ) = iθ = 2i sin−1 . (5.125)
4m1 m2
(III) p2 > (m1 + m2 )2 : Nesta região se cumpre que b ∈ R, mas 0 < b < 1, e por isso ξ < 0. É
preciso, pois, observar qual é a fase que irá adquirir log(ξ ). Da definição de b̃ dada na
Eq. (5.117) é possível ver que para ε ≪ 1: b̃ ≈ b + iεp− , e portanto ξ̃ ≈ ξ − iεp− ; daqui
decorre que log(ξ ) = log(|ξ |) − iπsgn( p− ). A distribuição retardada é neste caso:
(
ig2 m21 − m22 ( m1 − m2 )2
p
/
r̂ ( p) = m 1 − 1 + 1 −
4(2π )4 2 p2 p2
" # )
b2 + a2
1+b m1
× b log − log − iπsgn( p− )b − 1 . (5.127)
1−b 2a m2
Ainda precisamos da distribuição subsidiária retardada. Das Eqs. (5.15) e (5.83), vê-se que
ao termo da distribuição causal em consideração –primeiro termo da Eq. (5.84)– corresponde:
(N)
R ′ 2 ( x 1 ; x 2 ) = − g2 : ψ ( x 1 ) γ 5 d − ( y ) ψ ( x 2 ) : . (5.128)
g2 m21 − m22
′ p
/
Θ(− p− )Θ p − (m1 + m2 )
2 2
r̂ ( p) = − m1 − 1+
4(2π )3 2 p2
s
2(m21 + m22 ) (m21 − m22 )2
× 1− + , (5.129)
p2 p4
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 141
(N)
r̂ ( p) − r̂ ′ ( p) =: −i Σ̂( p) ; T2 ( x1 ; x2 ) = − i : ψ ( x1 ) Σ ( x1 − x2 ) ψ ( x2 ) : , (5.130)
2
p
m 2 − m2
g /
Σ
b ( p) = − m1 − 1+ 1 2 2
4(2π )4 2 p
( m1 − m2 ) 2 b2 + a2
b+1 m1
× 1− b log − log − 1 . (5.131)
p2 b−1 2a m2
Σ
e ( p) = Σ p≡Σ
b ( p) + C0 + C1 / p − m1 )
b ( p) + c + C1 (/ , c, C1 ∈ R . (5.134)
Para calcular a contribuição da quarta ordem à serie, começa-se, no processo indutivo, por
142 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
( MN ) ( MN ) ( MN ) ( MN ) ( MN )
D4 ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) = T2 ( x1 ; x3 ) T2 ( x4 ; x2 ) − T2 ( x2 ; x4 ) T2 ( x1 ; x3 ) . (5.136)
( MN ) ( MN )
T2 ( x1 ; x2 ) = −ig2 : ψ( x1 )γ5 t2 ( x1 − x2 ) γ5 ψ ( x2 ) : : φ ( x1 ) φ ( x2 ) : , (5.137)
( MN )
D4 ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 )
( MN ) ( MN )
= − g2 : ψ ( x 1 ) γ 5 t 2 ( x1 − x3 ) d ( x3 − x4 ) t2 ( x4 − x2 )ψ( x2 ) : : φ( x1 ) φ( x2 ) : , (5.138)
( MN )
T4 ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) = ig2 : φ( x1 ) φ( x2 ) :
( MN ) ( MN )
× : ψ ( x1 ) γ5 t1 ( x1 − x3 ) Σ ( x3 − x4 ) t2 ( x4 − x2 ) ψ ( x2 ) : , (5.139)
( MN ) ( MN ) e ( MN ) ( MN ) e ( MN ) e ( MN )
Sbtot = −t̂2 + (2π )4 t̂2 Σt̂2 − (2π )8 t̂2 Σt̂2 Σt̂2 +···
( MN )
= −t̂2 1 + (2π )4 Σe Sbtot . (5.140)
Na Seç. 5.2 foi mostrado que a distribuição de transição da segunda ordem para o espalha-
mento de um méson por um núcleon é:
( MN ) /p + m1 1
t̂2 ( p) = −(2π )−2 2
= −(2π )−2 . (5.141)
p2 − m1 + i0 + p − m1 + i0+
/
1
Sbtot ( p) = (2π )−2 . (5.142)
p − m + ( 2π ) 2Σ ( p ) + i0+
/ 1
e
As condições físicas que esse propagador completo tem de satisfazer são: (1) A massa física
do férmion é m1 , de modo que Sbtot ( p) deve ter um pólo em /
p = m1 ; (2) o valor físico da
p no denominador de Sbtot ( p) deve ser
constante de acoplamento é g, então o coeficiente de /
igual à unidade. Estas condições traduzem-se operacionalmente em:
dΣ
e ( p)
lim Σ
e ( p) = 0 e lim =0 , (5.143)
p → m1
/ p → m1
/ d/p
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 143
em que deve ser usada a expressão da auto-energia do núcleon apresentada na Eq. (5.132),
pois é na sua região de validade que se encontra a camada de massa p2 = m21 . Como no caso
mesônico, também a auto-energia do férmion na dinâmica da frente de luz se iguala àquela
obtida na dinâmica instantânea [132].
ls lf
d ( x 1 ; · · · ; x r ; y 1 ; · · · ; y s ) : = t 1 ( x 1 ; · · · ; x r ) ∏ D+ ( x r j − y s j ) ∏ S+ ( xr m − y sm ) t2 ( y1 ; · · · ; y s ) .
j =1 m =1
(5.145)
n o n o
Aqui, xr j ⊆ { x1 ; · · · ; xr } e y s j ⊆ {y1 ; · · · ; ys } são os pontos em que uma con-
j∈ Ils j∈ Ils
tração bosônica tem tido lugar, enquanto que { xrm }m∈ Il ⊆ { x1 ; · · · ; xr } e {ysm }m∈ Il ⊆
f f
{y1 ; · · · ; ys } são aqueles em que foi feita uma contração fermiônica. Em virtude da invariân-
cia translacional das distribuições numéricas t1,2 , definimos as coordenadas relativas:
ξ j := x j − xr ( j = 1, · · · , r − 1) , η j := y j − ys ( j = 1, · · · , s − 1) , η := xr − ys , (5.146)
ξ : = ( ξ 1 ; · · · ; ξ r −1 ) , η : = ( η1 ; · · · ; η s − 1 ) , (5.147)
ls lf
d(ξ; η; η ) = t1 (ξ ) ∏ D+ (ξ r j − ηs j + η ) ∏ S+ ( ξ r m − ηsm + η )t2 (η) . (5.148)
j =1 m =1
144 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
Numa análise ingênua pretender-se-ia usar a Eq. (4.95) para determinar a ordem singular
diretamente no espaço real. Para simplificar a notação, escrevamos, por exemplo:
s∗ ξ := sξ + ; sξ ⊥ ; ξ − , (5.149)
1 2
s 3(r −1) s ω − t 1 ( s ∗ ξ ) , s3(s−1) sω− t2 (s∗ η) ,
s f
s3 sω− D+ (s∗ [ξ r j − ηs j + η ]) , s3 sω− S+ (s∗ [ξ rm − ηsm + η ]) . (5.150)
na qual todas as expressões entre chaves são finitas quando s → 0, será finita e não nula em
tal limite se:
1 2 s f
ω− = ω− + ω− + (3 + ω − ) l s + (3 + ω − ) l f − 3 . (5.152)
Entretanto, esse resultado é o que esperaríamos numa teoria em três dimensões, o que deve
levar ao questionamento da existência do limite s → 0 na Eq. (5.151), isto é, se o produto das
quase-assíntotas das diferentes distribuições contidas nela, é uma distribuição bem definida.
Para responder a essa pergunta, volte-se à Eq. (5.148) e aplique-se a transformação de Fourier
para ir ao espaço dos momentos:
Z
dˆ( p; q; q) = (2π )−2(r+s−1) d4(r−1) ξd4(s−1) ηd4 ηt(ξ; η; η )eipξ +iqη+iqη . (5.153)
Z
−2(r −1) 4(r −1) ipξ −i ∑m k m ξ rm +∑ j h j ξ r j
× (2π ) d ξt1 (ξ )e
Z
−2( s −1) 4( s −1) iqη+i ∑m k m ηsm +∑ j h j ηs j
× (2π ) d ηt2 (η)e . (5.155)
p p p
; ⊥ ; p−
+
:= , (5.158)
s∗ s s
q − k̃
q k̃
Z Z
−3
dˆ(q) = d kD4
b + (k )Sb+ (q − k ) ; dˆ =s 4
d k̃ D
b+ Sb+ , (5.159)
s∗ s∗ s∗
com k̃ = s∗ k. Se assumirmos que o limite s → 0+ comuta com a integral, então teriamos que
a quase-assíntota de dˆ no eixo x − é:
Z
dˆ− (q) ∼ d4 k̃ (q+ − k̃ + )γ+ + (qα − k̃ α )γα Θ(k̃ − )Θ(q− − k̃ − )δ k̃2⊥ δ q2⊥ − k̃2⊥
.
Existe ainda uma outra possibilidade. Desde que k m e h j são somente variáveis de
integração, seu scaling não passa de uma simples mudança de variáveis. Assim, podemos
146 Capítulo 5. Modelo de Yukawa
p+ − k̃+ p⊥ − k̃⊥
p k̃ k̃−
t̂1 − = t̂1 ; ; p− − , (5.162)
s∗ s s s s
Lema 5.1: No modelo de Yukawa, a ordem singular no eixo x − de cada distribuição de transição é
igual a sua ordem singular na origem x = 0.
Prova: Procederemos por indução matemática completa. (i) A base indutiva é que para
n = 1: ω− [ T1 ] = 0 = ω0 [ T1 ], o que é trivial, pois a parte numérica de T1 é uma constante. (ii)
A hipótese indutiva é que para qualquer m ∈ In−1 : ω− [ Tm ] = ω0 [ Tm ]. (iii) O passo indutivo
é dado usando a Eq. (5.161) para a distribuição causal da n-ésima ordem: Como r, s ≤ n − 1,
pode-se rearranjar essa equação da seguinte forma:
p q q s f 1 2
dˆ ; ; = (2π )−2(ls +l f −1) s−4(ls +l f −1)−ω0 ls −ω0 l f −ω− −ω−
s∗ s∗ s∗
( !) " !#
Z
h̃ f k̃
× ∏ d4 k̃ m d4 h̃ j sω0 D δ q+,⊥ − ∑ h̃ j+,⊥ + ∑ k̃ m+,⊥
s j m
b+ sω0 Sb+
j,m
s s j m
" !#
p k̃r + h̃r q k̃s + h̃s
× δ sq− − ∑ h̃ j− + ∑ k̃ m−
1 s
sω− t̂1 − sω− t̂2 + .
j m s∗ s s∗ s
(5.163)
Capítulo 5. Modelo de Yukawa 147
f
1
ω− = ω− 2
+ ω− + (4 + ω0s )ls + (4 + ω0 )l f − 4 . (5.164)
f
Ou, colocando já os valores ω0s = −2 e ω0 = −1:
1 2
ω− = ω− + ω− + 2ls + 3l f − 4 . (5.165)
A Eq. (5.165) é a que permite determinar, começando com as duas distribuições Tr1 e Ts2 ,
a ordem singular de um dado termo resultante na distribuição de transição Tn , n = r + s.
Como ela tem dependência linear com o número de contrações, propõe-se que a ordem
singular da distribuição causal da ordem n tenha a forma:
ω− [d] = A + BM + CN + Fn , (5.166)
0 = A + B + 2C + F . (5.167)
(iii) Passo indutivo: O passo indutivo será dado impondo a Eq. (5.166) sobre a distribuição
Tn e procurando pelos valores das constantes A, B, C e F que sejam compatíveis com
a Eq. (5.165) e, a um tempo, satisfaçam à Eq. (5.167). Se tais constantes podem ser
identificadas, então a prova estará completa.
Suponhamos que estejamos interessados por um termo particular de Tn gerado por Tr1
(Mr , Nr ) e Ts2 (Ms , Ns ) por meio de ls contrações bosônicas e l f contrações fermiônicas.
Então a Eq. (5.166) implica que:
ω− = A + B( Mr + Ms − 2ls ) + C ( Nr + Ns − 2l f ) + F (r + s) . (5.168)
1 2
ω− = A + BMr + CNr + Fr , ω− = A + BMs + CNs + Fs ,
ω− = 2A + B( Mr + Ms ) + C ( Nr + Ns ) + F (r + s) + 2ls + 3l f − 4 . (5.169)
Essa equação deve ser válida para todos os valores de ls , le –compatíveis com a ordem
da distribuição, isto é, ls , l f ≤ n/2 para n par, e ls , l f ≤ (n − 1)/2 para n ímpar–.
Tomando ls = 0 = l f : A = 4. Se em câmbio é ls = 0, l f ̸= 0: C = −3/2. E finalmente,
se l f = 0, ls ̸= 0: B = −1. Com esses valores, a Eq. (5.167) implica que seja: F = 0. O
resultado final é portanto:
3
ω− = 4 − M − N . (5.171)
2
Como consequência, o modelo de Yukawa é normalizável na dinâmica da frente de luz, pois
a ordem singular das distribuições de transição independe da ordem perturbativa delas.
Também, para essa teoria, em que o méson é uma partícula pseudo-escalar, o único termo de
auto-interação que pode ser gerado em ordens superiores é o : φ4 : , para o qual é ω− = 0.
Termos de auto-interação com potências maiores do campo do méson, ou termos de auto-
interação para o núcleon, não são possíveis, pois para eles a ordem singular seria negativa.
Além disso, no modelo de Yukawa as condições de normalização de covariância de
Lorentz e de preservação da ordem singular no eixo x − podem, as duas, ser simultâneamente
atingidas em toda distribuição de transição de qualquer ordem. Isto pode ser provado
por indução matemática completa: Como a distribuição T1 é invariante de Lorentz e as
distribuições de (anti-)comutação dos campos fermiônico e escalar são covariantes de Lorentz,
a distribuição causal será sempre covariante de Lorentz e o Teorema 4.5 da Seç. 4.7 se lhe
aplica.
Capítulo 6
149
150 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
com a soma agora estendida a todas as polarizações, incluindo as não físicas λ ∈ {+; −}. No
entanto, o operador de campo da Eq. (6.2) não tem uma relação de comutação apropriada:
h i Z
ip( x −y)
A a ( x ); Ab (y) =(2π )−3 d4 pδ( p2 )Θ( p− ) e−ip(x−y)−e
p a η b + η a pb
ab a b b
× −g + + ε + ( p) ε + ( p) + ε − ( p)ε − ( p) .
p−
Para obter uma relação de comutação covariante, como nossos fins reclamam, dever-se-ia ter
somente o termo − g ab entre os parênteses da segunda linha dessa equação, o que é possível
de se conseguir com uma redefinição apropriada dos operadores de campo associados às
polarizações não físicas –isto, já o dissemos, é absolutamente admissível, pois tal modificação
não tem nenhuma influência nos resultados físicos–. Escrevamos o operador de campo
quantizado como: Z
a
A ( x ) = (2π ) −3/2
∑ dµ( p)ε λ ( p) a Aλ ( p) . (6.3)
λ
Para que este coincida com o campo quantizado real para os estados de polarização físicos:
O comutador é então:
h i Z
A a ( x ); Ab (y) = (2π )−3 dµ( p)dµ(q) ∑′ ε λ ( p)a ε λ′ (q)b [ Aλ ( p); Aλ′ (q)] . (6.5)
λ,λ
Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa 151
Essa relação é efetivamente a que se tem para λ ∈ {1; 2} com A1,2 ( p) da Eq. (6.4). As outras
componentes são também obtidas mediante a redefinição:
Assim sendo, definiremos o operador de campo do campo vetorial sem massa como:
Z
!
a
A ( x ) := (2π ) −3/2
∑ dµ( p)ε λ ( p) a
aλ ( p)e −ipx
−∑ gλτ a†τ ( p)eipx , (6.9)
λ τ
E, analogamente: h i
A a+ ( x ); Ab− (y) = ig ab D− ( x − y) . (6.12)
O espaço de Fock agora contém estados de partículas com as quatro polarizações, dentre
as quais somente as transversais podem manifestar-se na natureza. Nesse espaço estendido,
o operador hamiltoniano é:
Z
P+ = dµ( p) p+ ∑ a†λ ( p) aλ ( p) , (6.13)
λ
1O subíndice indicando o sinal das frequências escrever-se-á sempre à direita do índice da componente do
operador de campo. Por exemplo, a parte de frequência positiva da componente longitudinal do operador de
campo será: A−+ ( x ) = A++ ( x ), e assim por diante.
152 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
pois com ele o operador de campo quantizado da Eq. (6.9) satisfaz à equação do movimento
de Heisenberg:
Z
!
i∂+ A a ( x ) = (2π )−3 ∑ dµ( p) p+ ε λ ( p) a aλ ( p)e−ipx + ∑ gλτ a†τ ( p)eipx
λ τ
a
= [ A ( x ); P+ ] . (6.14)
Z
!
∂ a A a ( x ) = −i (2π )−3/2 ∑ dµ( p) p a ε λ ( p) a aλ ( p)e−ipx + ∑ gλτ a†τ ( p)eipx . (6.16)
λ τ
pα ε 1,2 ( p)α
ε 1,2 ( p)− = 0 e ε 1,2 ( p)+ = − , (6.17)
p−
o que implica que eles são vetores de polarização ortogonais ao momento p a : p a ε 1,2 ( p) a = 0.
Portanto, na soma da Eq. (6.16) somente os estados de polarização «+» e «−» entram:
Z
!
a
∂ a A ( x ) = −i (2π ) −3/2
∑ dµ( p) p a ε λ ( p) a
aλ ( p)e −ipx
+∑ gλτ a†τ ( p)eipx , (6.18)
λ=+,− τ
Seja f = ( f a ) uma função de onda no espaço de Hilbert estendido de uma partícula; ela
muda, quando submetida a uma transformação de Poincaré, segundo a lei de câmbio do
Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa 153
Usando as Eqs. (6.20) e (6.21), a definição recém dada leva à lei de transformação do
operador de campo quantizado. Como:
Z Z
d4 x f a ( x )U( a; Λ) A a ( x )U( a; Λ)−1 = d4 x (U ( a; Λ) f ) a A a ( x )
Z
= d4 xΛ ab f b Λ−1 ( x − a) A a ( x )
Z a
= d 4 x f a ( x ) Λ −1 Ab (Λx + a) ,
b
obtém-se que: a
U( a; Λ) A a ( x )U( a; Λ)−1 = Λ−1 Ab (Λx + a) . (6.23)
b
A aplicação da involução «†» a essa equação permite notar que o operador U( a; Λ) só poderia
ser unitário se o operador de campo quantizado fosse auto-adjunto; mas de sua expressão
dada na Eq. (6.9) é claro que somente as componentes A1,2 ( x ) o são, enquanto que as A+,− ( x ),
não. Donde as transformações de Poincaré não são unitárias no espaço de Fock estendido.
Isto não viola ao teorema de Wigner, pois as transformações de Poincaré não têm por que
ser uma simetria do espaço completo: a experiência pode apenas provar que elas o são do
subespaço físico. Que é possível, como de fato o assegura o teorema de Wigner, escrever uma
representação unitária dessas transformações no subespaço físico, o provaremos a seguir.
Denotemos por F L o supespaço do espaço de Fock dos estados que satisfazem à condição
de gauge de Lorenz. Como essa é compatível com a condição de gauge do plano nulo, a qual
é única, como foi provado no Cap. 3, pode-se afirmar:
O projetor sobre o subespaço físico, que age por meio da transformação de gauge apropriada
e única, denotar-se-á P; assim:
Φ = PΦ′ . (6.25)
154 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
∗←
→
Z Z
( f ; g )1 = ∑ i f a (x) ∂ − ga ( x )d
3
x= ∑ dµ( p) fˆa ( p)∗ ĝa ( p) . (6.26)
a a
Consideremos então dois estados de uma partícula, Φ, Ψ ∈ Ffís , com funções de onda Φ a e
Ψ a , respectivamente. Como estes estão no subespaço físico, satisfazem à condição de gauge
do plano nulo, Φ+ = 0 = Ψ+ , e então seu produto interno pode ser colocado de forma
invariante de Poincaré –abusando da notação, embora o significado seja claro–:
←→ ←→
Z Z
(Φ; Ψ) = ∑ i Φ α ( x ) ∗ ∂ − Ψ α ( x ) d3 x = − ∑ i Φα ( x )∗ ∂ − Ψα ( x )d3 x = −(Φ a ; Ψ a ) .
α α
(6.27)
Aplique-se agora uma transformação de Poincaré (de sistema de referência). Se a transfor-
mação é a identidade, ou se ela é uma rotação espacial ou uma promoção de Lorentz2 na
direção x3 , então o valor Φ+ = 0 não muda, e o vetor ainda se encontra no subespaço físico.
Porém, no caso geral o valor da componente temporal do potencial mudará de valor, e os
estados transformados Φ′ e Ψ′ já não se encontram em Ffís . Como a condição de gauge de
Lorenz é covariante, entretanto, ainda se terá que Φ′ , Ψ′ ∈ F L . Assim sendo, pode-se aplicar
o projetor P aos estados transformados para obter estados outra vez em Ffís :
Φ
e = PU( a; Λ)Φ =: U
e ( a; Λ)Φ , Ψ e ( a; Λ)Ψ
e =U . (6.28)
Portanto, o operador que realiza as transformações de Poincaré em Ffís , e que tem de ser
unitário neste subespaço, não é o U( a; Λ), mas o U
e ( a; Λ). Efetivamente, ele o é: Como Φ
ee
Φ′ estão relacionados por uma transformação de gauge, assim como Ψ
e e Ψ′ , escreveremos:
Φ′a = Φ
e a + ∂a χ , Ψ′a = Ψ
e a + ∂a Λ . (6.29)
Substituindo estes no produto interno, que na Eq. (6.27) foi escrito de forma covariante, e
que portanto não muda com a transformação de Poincaré aplicada, obtém-se a igualdade:
(Φ; Ψ) = −(Φ′a ; Ψ′a ) = Φ;
e Ψ
e − ∂ a χ; Ψ
ea − Φe a ; ∂ a Λ − (∂ a χ; ∂ a Λ) . (6.30)
É fácil verificar que os termos segundo e terceiro da última igualdade são nulos, devido a
que Φe eΨ e satisfazem às condições de gauge impostas e devido às condições assintóticas.
Usando também as condições assintóticas, o último termo adota a forma:
e estes dois adendos são ambos nulos devido à Eq. (6.24). Concluindo:
(Φ; Ψ) = Φ;
e Ψ
e = U e ( a; Λ)Φ; U
e ( a; Λ)Ψ , (6.31)
Essas equações já poderiam ser consideradas a definição da involução «K». Contudo, para
mostrar que esta operação está de fato bem definida –ou ainda, que ela existe e tem as pro-
priedades de uma involução–, fixaremos a atenção no seguinte teorema [163]:
Teorema: Seja (•; •)K uma forma bilinear no espaço de Hilbert H. Se ela é limitada, isto é:
∃ C ∈ R+ : ∀ f , g ∈ H : |( f ; g)K | ≤ C ∥ f ∥∥ g∥ , (6.35)
Φλa11··· an a1 an
···λn ( f 1 ; · · · ; f n ) : = aλ1 ( f 1 ) · · · aλn ( f n ) Ω
† †
. (6.38)
e a1 ···an ( f 1 ; · · · ; f n ) := a a1 ( f 1 )K · · · a an ( f n )K Ω
Φ . (6.40)
λ1 ···λn λ1 λn
e sobre estados mais gerais, por continuação linear da definição recém dada. Esta, oferecida
apenas sobre os estados de multi-partículas, é suficiente porque os estados Φλa11··· an
···λn ( f 1 ; · · · ; f n )
geram o espaço de Fock –uma vez escolhida uma base de funções no espaço de Schwartz–,
segundo se provou no Cap. 3 [vide em particular a Eq. (3.30)], e porque a forma bilinear
é definida em relação ao produto interno, o qual é contínuo. Além disso, será suficiente
limitar nossa atenção aos estados de uma partícula, pois os estados mais gerais podem ser
considerados combinações lineares de seus produtos tensoriais.
Z
!
Φλa ( f ); Φbσ ( g)
K
= − gλσ dµ( p) fˆ( p) ĝ( p)∗
∑ ε λ ( p) a
ε σ ( p) a
. (6.42)
a
Z
!
Φλa ( f ); Φbσ ( g) = δλσ dµ( p) fˆ( p) ĝ( p)∗
∑ ε λ ( p) a
ε σ ( p) a
. (6.43)
a
Para as polarizações físicas (transversais) a forma bilinear (•; •)K se reduz ao produto interno,
que satisfaz à Eq. (6.35) com C = 1 como consequência da desigualdade de Cauchy-Schwarz.
O outro caso em que a forma bilinear (•; •)K é não nula é –também Φ− a ( f ); Φ b ( g )
+ K
é não
nulo, mas este pode ser obtido por simetria do caso que estudaremos–:
Z
!
Φ+
a
( f ); Φb− ( g)
K
=− dµ( p) fˆ( p)∗ ĝ( p) ∑ ε + ( p)a ε − ( p)a
a
p2
Z
=− dµ( p) ⊥2 fˆ( p)∗ ĝ( p) , (6.44)
2p−
Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa 157
em que usamos a expressão explícita dos vetores de polarização envolvidos para obter o
resultado da segunda linha. Por outro lado, usando a Eq. (6.43) e a forma explícita dos
vetores de polarização, encontra-se que:
!2
p2 ˆ 2
2 Z
Z
2 2
∥Φ+
a
dµ( p) 1 + ⊥2
Φ− ( g)
= dµ( p) | ĝ( p)|
b
( f )∥ = f ( p) , . (6.45)
2p−
De forma que também para este caso a Eq. (6.35) se satisfaz com C = 1. Este estudo dos casos
particulares pode agora ser estendido para combinações lineares de diferentes polarizações.
Note-se, em primeiro lugar, que Φλa ( f 1 ) + Φλa ( f 2 ) = Φλa ( f 1 + f 2 ), de forma que só estaremos
interessados no caso em que a soma inclua estados de polarização diferentes. Assim sendo, e
como cada polarização só tem uma outra polarização correspondente tal que a forma bilinear
não se anula, segundo o indica a Eq. (6.42), ter-se-á, por exemplo:
Φλ1 + Φλa 2 ; Φbσ1 + Φbσ2 = Φλa 1 ; Φbσ1 + Φλa 2 ; Φbσ2
a
K
K K
≤ Φλ1 ; Φσ1 + Φλ2 ; Φσ2
a b a b
K K
≤
Φλa 1
Φσa1
+
Φλa 2
Φσa2
2
2 1/2
a
2
a
2 1/2
≤
Φ a
+
Φ a
λ1
Φσ
+
Φσ
λ2 1 2
.
E estas últimas quantidades são as normas dos estados Φλa 1 + Φλa 2 e Φbσ1 + Φbσ2 , pois os vetores
de polarização –e assim então os estados que lhes correspondem– são ortogonais entre si,
como o evidencia a Eq. (6.43). O mesmo raciocínio se aplica quando estejam presentes
mais outras polarizações, de forma que ainda na combinação linear mais geral possível se
cumprirá que:
|(Φ; Ψ)K | ≤ ∥Φ∥∥Ψ∥ . (6.47)
antes citado que existe um operador η definido sobre o espaço de Fock completo, tal que:
Ainda mais, da Eq. (6.42) é claro que a forma bilinear (•; •)K é hermitiana:
∗
Φλa ( f ); Φbσ ( g) = Φbσ ( g); Φλa ( f ) , (6.49)
K K
η† = η . (6.50)
η2 = 1 . (6.53)
Outras propriedades importantes são as seguintes: como a forma bilinear (•; •)K se reduz ao
produto interno para estados físicos –polarizações transversais–, ter-se-á que:
∀Φ ∈ Ffís : ηΦ = Φ . (6.54)
Isto é válido, em particular, para o estado de vazio: ηΩ = Ω. Também, das Eqs. (6.41) e (6.48):
Φ; ηa†λ1 ( f 1 ) · · · a†λn ( f n )Ω = Φ; aλK1 ( f 1 ) · · · aλKn ( f n )Ω . (6.55)
Mas do lado esquerdo dessa equação, entre cada par de operadores de emissão, podemos
introduzir a unidade 1 = η 2 . A comparação com o lado direito leva a estabelecer a definição
rigorosa da involução «K»: Seja B um operador:
BK := ηB† η . (6.56)
Podemos, pois, afirmar com total certeza a existência de uma involução «K» segundo a qual
o campo quantizado da radiação estendido é pseudo-auto-adjunto, e, desta maneira, que o
operador U( a; Λ) é pseudo-unitário segundo «K» no espaço de Fock completo (estendido).
Já repetimos várias vezes que o subespaço físico é aquele constituído por estados nos
quais regem as condições de gauge do plano nulo e de Lorenz, simultâneamente, e que es-
sas fixam completamente o gauge. Assim, já não são permitidas mais «transformações de
gauge clássicas», isto é, transformações de gauge das funções de onda. Por outro lado, te-
mos estendido o espaço de Fock do campo de gauge por meio da definição do operador de
campo quantizado da Eq. (6.9). Contudo, já dissemos que essa extensão não é um procedi-
mento físico, mas matemático, e, como tal, goza de certa liberdade: O operador de campo
quantizado que definimos anteriormente bem poderia não ser o único a satisfazer as con-
dições pelas quais foi introduzido, a saber, que as modificações deixem invariante a ação
do operador de campo sobre os vetores do subespaço físico e que satisfaça a uma relação
de comutação covariante. A possibilidade de uma tal simetria residual leva diretamente à
definição da transformação de gauge quântica.
forma essa que garante (1) que a distribuição de comutação do campo transformado seja igual àquela
do campo original (covariante), e (2) que o operador de campo transformado ainda satisfaça à equação
do movimento □ A′a ( x ) = 0. Ademais, impomos a condição de que eiλQ é um operador que deixa
invariantes os estados de Ffís . O operador Q, gerador das transformações de gauge quânticas, é cha-
mado operador de carga de gauge.
A consequência mais direta dessa definição é que os estados físicos são aniquilados pelo
operador de carga de gauge, donde decorre que:
Mas não sabemos ainda se se cumpre a igualdade entre os dois conjuntos. Para averiguá-lo,
comecemos por estabelecer o seguinte resultado:
160 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
Lema 6.1: O operador de carga de gauge Q é construído só com operadores de emissão e absorção
de partículas não físicas.
Prova: Em primeiro lugar, vejamos que os estados de partículas não físicas são ortogonais
† e a† operadores de emissão de partículas físicas e
aos estados físicos; com efeito, sejam afís nf
não físicas, respectivamente. Como eles comutam:
†
afís Ω; anf
†
Ω = Ω; afís anf
†
Ω = Ω; anf
†
afís Ω = 0 , (6.60)
De acordo com o Corolário 3.1-1 (vide a Seç. 3.1), todo operador que age no espaço de Fock
pode ser escrito em função dos operadores de emissão e absorção. Em particular, apliquemos
este resultado ao operador de carga de gauge, Q. Para que ele aniquile todos os estados
físicos, necessariamente todos seus termos devem ter um operador de absorção de partícula
não física à sua direita. Suponhamos agora que um dos seus termos tem um operador de
partícula física à esquerda:
†
Q ∼ afís anf + · · · (6.62)
Q† Φ ∼ anf
†
afís Φ + · · · , (6.63)
que em geral ainda contém partículas físicas, contradizendo o resultado da Eq. (6.61). Assim,
Q não pode conter operadores de emissão de partículas físicas. Um argumento semelhante
prova que o mesmo é válido para os operadores de absorção. ■
†
2
n o
2
Φ; Q; Q †
Φ = ∥ QΦ∥ +
Q Φ
= 0 ⇔ QΦ = 0 ∧ Q† Φ = 0 . (6.65)
obteremos que:
λ2
A′a ( x ) = A a ( x ) − iλ [ Q; A a ( x )] − [ Q; [ Q; A a ( x )]] + O (λ3 ) . (6.66)
2
Segundo o Lema 6.1, o operador Q contém apenas operadores associados a partículas não
físicas, donde decorre que os comutadores que aparecem na Eq. (6.66) são não nulos somente
para as partes não físicas do operador de campo quantizado A a ( x ); ou seja, a transformação
de gauge quântica não modifica a parte dinâmica –física– do operador de campo quantizado,
como era requerido, e todos os observáveis construídos a partir de A a ( x ) terão os mesmos
valores médios no subespaço físico: Essa é a invariância de gauge quântica.
†
Q ∼ anf · · · anf + · · · (6.67)
É claro, um termo tão geral assim originaria que o operador de campo A′a ( x ) tenha uma
expansão em operadores compostos. Por simplicidade, desejaremos mantê-lo como um
operador simples, e por isso exigiremos adicionalmente que Q seja quadrático nos operadores
de campo de emissão e absorção.
Para esses operadores gerais, a Eq. (6.64) se satisfaz com o símbolo «⊂»; a igualdade nela
será satisfeita se Q; Q† é um operador que tem todos os operadores de absorção de todas
as partículas não físicas à direita. Busquemos esse operador que permitirá a caracterização
unívoca do subespaço físico, examinando em primeiro lugar a forma geral que o operador
de carga de gauge tem. Para isso, notemos já que o operador Q é sempre quadrático nos
operadores de emissão e absorção –isto é, não pode ter um termo só com um operador–,
de forma que o comutador [ Q; A a ( x )] será sempre uma expressão linear nos operadores de
emissão e absorção de partículas não físicas. Assim sendo, fixemos nossa consideração na
Eq. (6.66). Definimos o operador de campo u( x ) mediante:
i∂ a u( x ) := [ Q; A a ( x )] . (6.68)
iλ2
A′a ( x ) = A a ( x ) + λ∂ a u( x ) − [ Q; ∂ a u( x )] + O (λ3 ) . (6.69)
2
□u ( x ) = 0 . (6.70)
162 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
←→y
Z
u( x ) = u ( y ) ∂ − D ( y − x ) d3 y . (6.71)
y+ =y0+
y+ =y0+
Z
y y
= ∂by (igab D (y − x )) ∂− u(y) − u(y)∂by ∂− (igab D (y − x )) d3 y , (6.72)
y+ =y0+
y+ =y0+
Reconhecemos assim, por comparação com a Eq. (6.68), que o operador de carga de gauge
tem a seguinte expressão:
←→
Z
Q= ∂ a A a ( x ) ∂ − u ( x ) d3 x . (6.74)
x + = x0+
Por outro lado, segundo a Eq. (6.70), o operador de campo u( x ) tem a seguinte solução:
Z
−3/2
u( x ) = (2π ) dµ( p) c2 ( p)e−ipx + c1† ( p)eipx . (6.75)
Z
!
Q= ∑ dµ( p) p a ε λ ( p) a aλ ( p)c1† ( p) − ∑ gλτ a†τ ( p)c2 ( p) . (6.76)
λ=+,− τ
Por construção, essa é a expressão quadrática mais geral que pode ter o operador de carga
de gauge. A fórmula recém obtida é crucial, pois nos revela o seguinte: Lembramos que Q
deve ter sempre operadores de absorção à direita. Como isto não acontece no primeiro termo
da Eq. (6.76), devemos comutar aλ ( p) com c1† ( p); mas, ao fazer isso, se c1 ( p) fosse algum
dos a+ ( p) ou a− ( p), então, ao aplicar o comutador, no operador de carga Q apareceria
um termo constante e o dito operador não aniquilaria os estados físicos. Isto é impossível.
Portanto, é preciso estender ainda mais o espaço de Fock para incluir novos operadores
Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa 163
c1 ( p) e c2 ( p) e seus adjuntos, associados a partículas não físicas e que são diferentes dos
operadores a+ ( p) e a− ( p). O operador de campo quantizado u( x ), por ser um novo campo
não físico, é chamado «campo fantasma». Como vemos, o campo fantasma é indispensável
para a simetria de gauge quântica.
Uma vez que c1† ( p) corresponde a uma nova partícula, este pode ser simplesmente
comutado com aλ ( p). Disto na Eq. (6.76) decorre que:
Z
!
Q= ∑ dµ( p) p a ε λ ( p) a c1† ( p) aλ ( p) − ∑ gλτ a†τ ( p)c2 ( p) . (6.77)
λ=+,− τ
Coloquemos agora a forma explícita, obtida no Cap. 2, dos vetores de polarização do campo
vetorial sem massa, que repetimos aqui:
!
p2 p2⊥
a p1 a p1
ε + ( p) = 1; − ; − ; 2 , ε 1 ( p) = 0; 1; 0; − , (6.78)
p− p− 2p− p−
p2
ε 2 ( p) a = 0; 0; 1; − , ε − ( p) a = (0; 0; 0; 1) . (6.79)
p−
Ter-se-á que:
p2⊥ p2
p a ε + ( p) a = p+ − = , p a ε − ( p) a = p− . (6.80)
2p− 2p−
Introduzindo isto na Eq. (6.77) e levando em conta que na expressão do operador de campo
quantizado do campo vetorial sem massa se satisfaz p2 = 0, obtemos a expressão final:
Z
Q= dµ( p) p− c1† ( p) a− ( p) − a†+ ( p)c2 ( p) . (6.81)
Os dois primeiros termos dessa expressão têm a forma desejada. Para os dois últimos, se
c1 ( p) e c2 ( p) fossem operadores bosónicos, então o anti-comutador Q; Q† apresentaria
164 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
termos do tipo a†− (q)c1† ( p)c1 (q) a− ( p), e então haveria estados não físicos aniquilados por
este anti-comutador –por exemplo, o estado de uma partícula de polarização ε − –. Em
princípio, então, não existe motivo para desconsiderar os campos fantasma bosónicos, pois
eles geram transformações de gauge quânticas perfeitamente admissíveis. Todavia, uma
transformação de gauge semelhante, por deixar invariantes alguns estados não físicos, não
exprime por completo a invariância da teoria. É assim que é mais conveniente que o campo
quantizado u seja um campo fermiônico, cujos operadores de campo de emissão e absorção
estão sujeitos às regras de anti-comutação:
n o n o
c1 ( p); c1† (q) = 2p− δ( p − q) , c2 ( p); c2† (q) = 2p− δ( p − q) . (6.84)
O campo ue( x ) é chamado campo «anti-fantasma». Assim sendo, a Eq. (6.83) adota a forma
final:
n o Z
Q; Q† = dµ( p) p2− a†− ( p) a− ( p) + a†+ ( p) a+ ( p) + c1† ( p)c1 ( p) + c2† ( p)c2 ( p) . (6.86)
Também, como resultado da Eq. (6.81), por cálculo direto, é imediato observar que o operador
de carga de gauge é nilpotente:
1
Q2 = { Q; Q} = 0 . (6.88)
2
4 Essanomenclatura, evidentemente, é inexata, pois é a operação de multiplicação que se define como não-
comutativa, e não os números em si mesmos. O nome «número de Grassmann», contudo, é usado para indicar
que seu produto segue tal regra.
Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa 165
dQ F ( x ) := [ Q; F ( x )](−1)nF +1 . (6.90)
F ′ ( x ) = F ( x ) − iλdQ F ( x ) . (6.91)
Em segundo lugar, como dQ muda a estatística do operador ao qual se aplica, seu quadrado
pode ter uma das seguintes formas:
dQ u = 0 . (6.96)
E, por último, com a ajuda das variações de gauge explícitas recém encontradas, estabelece-
remos o seguinte resultado [118]:
166 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
Lema 6.2: Seja G um monômio de Wick que contém campos de gauge, A, fantasmas, u, e anti-
fantasmas, ue. A variação de gauge do monômio G comuta com seu ordenamento normal:
dQ : G : = : dQ G : . (6.98)
Prova: A prova será por indução matemática. Para G contendo um único campo, o
resultado é trivial, pois, nesse caso, : G : = G. Suponhamos agora o resultado válido para
um monômio G constituído por n operadores de campo quantizado, e suponhamos que
para ele o lema é válido. Vejamos se ele ainda se satifaz quando é adicionado mais um
campo quantizado, que pode ser A a , u ou ue. Em qualquer caso, denotemos por F o campo
quantizado adicionado, e por n F seu número fantasma. Usando a definição de produto
normalmente ordenado:
: FG : = F+ : G : +(−1)nF nG : G : F− . (6.99)
E já que a variação de gauge dQ muda a estatística do operador sobre o qual age, reconhece-
mos que cada um dos parênteses acima é um dos seguintes termos:
5 Este tipo de simetrias aparece com frequência na física; exemplos disto são o princípio da covariância geral
e o princípio da invariância de gauge clássico. Em todas essas versões, o que prima é a independência da física
em relação aos métodos artificiais que o homem inventa para seu estudo –nos casos supracitados, os sistemas de
coordenadas no espaço-tempo, no espaço das variáveis internas, et cetera–.
Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa 167
Definição: Seja P o operador de projeção sobre o subespaço físico Ffís do espaço de Fock. Duas
funcionais operador-valuadas de espalhamento S( g) e S′ ( g) são chamadas fisicamente equivalentes se:
+∞
1
Z
S( g) = 1 + ∑ n! dXTn ( X ) g( X ) . (6.104)
n =1
+∞
1
Z
∑ n! w- glim dX PTn ( X ) P − PTn′ ( X ) P g( X ) = 0
. (6.105)
n =1
→1
6É justo mencionar aqui alguns resultados referentes à existência do limite adiabático. Epstein e Glaser
provaram que ele existe fracamente [103] e ainda fortemente [202] no caso de teorias em que todos os campos
possuem massa não nula (esse é o caso, por exemplo, do modelo de Yukawa antes estudado, em que o limite
adiabático é trivial), enquanto que Blanchard e Seneor provaram que ele existe fracamente para as funções de
Green para teorias em que alguns dos campos são não massivos (particularmente, para a QED e para teorias do
tipo λ : φ2n : ) [203]. Recentemente, Duch provou que o limite adiabático fraco existe para as funções de Green e
de Wightman para teorias gerais com termos de interação de dimensão canônica igual a quatro [204].
168 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
A Eq. (6.106) tem a solução geral PTn ( X ) P = PTn′ ( X ) P + ∂(· · · ), com ∂(· · · ) significando
«a divergência da quantidade (· · · )». Com efeito, a integração por partes implica que, em
tais circunstâncias, o lado esquerdo da Eq. (6.106) é igual a:
Z
w- lim dX (· · · )∂g( X ) , (6.107)
g →1
o qual é nulo no limite adiabático em que g se torna constante. Por outro lado, na construção
PTn ( X ) P, Tn ( X ) está definido módulo uma variação de gauge, pois devido à Eq. (6.87):
PQ = 0 = QP, e, como consequência: PdQ XP = PQX − XQP = 0. Como resultado, temos
que as distribuições Tn e Tn′ são fisicamente equivalentes se elas se diferenciam por termos
que são divergências ou variações de gauge. Isto o denotamos com o símbolo «∼»:
Definição: Uma teoria de interação com primeiro termo T1 ( x ) é uma teoria de gauge quântica
se ela é fisicamente equivalente à teoria com primeiro termo T1 ( x ) − iλdQ T1 ( x ), em todas as ordens
da série perturbativa.
R2 ( x1 ; x2 ) = R02 ( x1 ; x2 ) − iλdQ R02 ( x1 ; x2 ) + 2iλret T10 ( x1 )dQ T10 ( x2 ) − T10 ( x2 )dQ T10 ( x1 ) ,
(6.111)
Daqui decorre que T2 será fisicamente equivalente a T20 se e somente se a segunda linha da
Eq. (6.112) é igual a uma variação de gauge ou a uma divergência. A primeira possibilidade
se realiza se T10 ( x ) é uma variação de gauge, T10 ( x ) = dQ (· · · ), o que leva à anulação da
segunda linha; esse caso não tem interesse físico, pois então T10 se equivale fisicamente com
a distribuição nula. A segunda possibilidade ocorre quando a variação de gauge de T10 ( x ) é
igual a uma divergência:
a
dQ T10 ( x ) = i∂ a T1/1 (x) , (6.113)
a ( x ) será dado o nome «vértice-Q». Destarte, a teoria se mantém
em que à distribuição T1/1
invariante de gauge na segunda ordem: T2 ∼ T20 . Pelo exposto, a Eq. (6.113) é uma condição
necessária em toda teoria de gauge quântica. Ela implica, também, que T1 ( x ) é invariante de
gauge como forma bilinear não só no subespaço físico, senão em todo o espaço de Fock.
Para determinar se a Eq. (6.113) é também uma condição suficiente para que a teoria seja
invariante de gauge quântica, devemos examinar as seguintes ordens na série perturbativa,
o que será mais fácil se primeiro estudarmos suas consequências. Como foi provado no Cap.
4, as distribuições de n pontos são, sempre que as coordenadas x1 , · · · , xn correspondam
a tempos todos diferentes, produtos cronológicos –temporalmente ordenados segundo a
coordenada x + –:
Tn ( x1 ; · · · ; xn ) = T+ { T1 ( x1 ) · · · T1 ( xn )} . (6.114)
∑ ∂a Tn/l
a xl a
a
dQ Tn = i ( x1 ; · · · ; x n ) ; Tn/l := T+ T1 ( x1 ) · · · T1/1 ( xl ) · · · T1 ( xn ) . (6.116)
l ∈ In
p
T1 ( x ) = T10 ( x ) + T11 ( x ) + · · · + T1 ( x ) , (6.117)
170 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
j
com cada T1 ( x ) um monômio de Wick. Levando em consideração a Eq. (6.114), então, a
distribuição Tn ( x1 ; · · · ; xn ) tem em geral a seguinte forma:
i
com o superíndice i j indicando a distribuição de um ponto T1j que corresponde ao ponto x j ,
isto é:
i
n o
Tni1 ···in ( x1 ; · · · ; x n ) : = T+ T1i1 ( x1 ) · · · T1j ( x j ) · · · T1in ( xn ) . (6.119)
Sendo assim, já podemos estabelecer os seguintes resultados, dados em forma geral e que
conterão, como um caso particular, a desejada suficiência da Eq. (6.113) para que a teoria
seja invariante de gauge quântica. Estes resultados são uma generalização do nosso estudo à
segunda ordem para ordens superiores. Eles foram dados pela primeira vez por Dütsch na
Ref. [120], e podem também ser consultados na Ref. [118].
i ···in
A′ n1 ( x1 ; · · · ; x n ) = ∑ eni1 ···in1 ( I ) Tnin−1 +n1 ···in ( J; xn )
T , (6.124)
1 1
I ∪ J =X
I ∩ J =∅
I ̸=∅
Por hipótese indutiva, as distribuições Tm que aparecem nessas equações são da forma da
Eq. (6.123). E como as T
em são construídas com elas segundo a equação
em ( X ) =
T ∑ (−1)r ∑ Tm1 ( X1 ) · · · Tmr ( Xr ) , (6.126)
r ∈ Im X1 ∪···∪ Xr = X
Xi ∩ X j =∅, ∀i ̸= j
X j ̸=∅, ∀i
também possuirão essa forma. O fato de que as partições que aparecem nessas expressões
sejam disjuntas permite, ademais, extrair a divergência e colocar o sinal de derivada na
frente do produto inteiro. Daqui se obtém:
A divisão dessa distribuição causal pode ser feita assim: Seja R4n···40···0 a parte retardada de
Dn4···40···0 . Como a derivação não muda o suporte causal da distribuição –ou, se se prefere,
por virtude do Teorema 4.7–, então uma solução ao problema da divisão de Dn2···20···0 será:
Das Eqs. (6.127) e (6.129) segue que a distribuição de n pontos tem a forma desejada:
2···20···0
Tn2···20···0 = R2n···20···0 − R′ n
4···40···0
= ∂ ax11 · · · ∂ axrr R4n···40···0 − R′ n
= ∂ ax11 · · · ∂ axrr Tn4···40···0 . ■ (6.130)
O Teorema 6.3 diz que qualquer termo de divergência na distribuição inicial T1 ( x ) pode
ser desconsiderado, pois ao se fazer isso o resultado é fisicamente equivalente, em todas as
ordens da série perturbativa, àquele obtido ao considerar dita divergência7 . Em particular,
isto é válido para a divergência do vértice-Q, o que significa que a condição da Eq. (6.113) é
suficiente para a invariância de gauge quântica em todas as ordens.
7 Este resultado poder-se-ia considerar a contraparte quântica correspondente àquela observação na teoria
clássica segundo a qual os termos de superfície na densidade lagrangiana podem ser desconsiderados, sempre
que as condições assintóticas de desaparecimento dos campos no infinito estejam em vigor.
172 Capítulo 6. Invariância de gauge quântica para campos de gauge sem massa
Prova: A prova do Teorema 6.4 segue o mesmo roteiro que a do 6.3. Com a distribuição
T1 ( x ) da Eq. (6.131), na Eq. (6.118) os índices i j só podem tomar os valores 0, 3. Provaremos
desta vez que todo termo de Tn contendo r distribuições T13 e n − r distribuições T10 é da
forma:
Tn3···30···0 = ∂(· · · ) + dQ (· · · ) . (6.134)
Usaremos para isto o método de indução matemática completa. O caso n = 1 está contido
na Eq. (6.131). Nossa hipótese indutiva é que a Eq. (6.134) é válida para todo m ≤ n − 1.
Comecemos por estudar as distribuições subsidiárias da ordem n quando está presente só
uma distribuição T13 no ponto x1 –denotamos X ′ = { x2 ; · · · ; xn−1 }–:
30···0
A′ n ( x1 ; · · · ; x n ) = ∑ en30···0 ( x1 ; I ) Tn0−
T 1
···0
n1 ( J; xn ) + ∑′ en0···0 ( I ′ ) Tn30−···n 0 ( x1 ; J ′ ; xn ) ,
T 1 1
I ∪ J =X′ I ′ ∪ J =X′
I ∩ J =∅ I ′ ∩ J ′ =∅
I ′ ̸=∅
(6.135)
30···0
R ′ n ( x1 ; · · · ; xn ) = ∑ ···0
Tn0− e30···0 ( x1 ;
n1 ( J; xn ) Tn1 I) + ∑ Tn30−···n10 ( x1 ; J ′ ; xn ) T
en0···0 ( I ′ )
1
.
I ∪ J =X′ I ′ ∪ J ′ =X′
I ∩ J =∅ I ′ ∩ J ′ =∅
I ′ ̸=∅
(6.136)
Por hipótese indutiva, as distribuições Tm30···0 e as em30···0
T [vide a Eq. (6.126)] que aparecem
nessas equações são da forma da Eq. (6.134). Novamente, como as partições que aparecem
nessas expressões são disjuntas, podemos extrair a divergência e colocá-la na frente da
expressão. Assim fazendo e usando a regra de variação de gauge de um produto dada na Eq.
(6.92):
h
30···0
A′ n = ∑ dQ Z en Tn0−···0 0···0
n1 + Zn1 d Q Tn−n1
e
1
i
+dQ Ten0···0 Zn−n − dQ T en0···0 Zn−n + ∂(· · · ) . (6.137)
1 1 1 1
Usando a Eq. (6.132) vemos que todos os termos são, quer divergências, quer variações de
gauge, então podemos escrever:
30···0
A′ n = dQ Z1 + ∂Z2 . (6.138)
30···0 30···0
Dn30···0 = R′ n − A′ n = dQ Z5 + ∂Z6 . (6.140)
Daqui se obtém que Tn30···0 tem a forma desejada, pois a divisão da distribuição causal pode
ser feita dividindo Z5 e Z6 . O mesmo processo é válido se se tem mais de uma distribuição
T13 . Por exemplo, consideremos o caso com duas distribuições; seguindo os mesmos passos
dados na análise anterior:
h i
330···0
A′ n =∑ T e330···0 T 0···0 + T
e30···0 T 30···0 + T
e0···0 T 330···0
h i
= ∑ dQ Z
e T 0···0 + dQ Z e (dQ Z ) + T e0···0 (dQ Z ) + ∂(· · · )
h i
= ∑ dQ ZT
e 0···0 + dQ ZZ e + dQ T e0···0 Z + Z e dQ T 0···0 − dQ T
e0···0 Z + ∂(· · · )
= dQ (· · · ) + ∂(· · · ) .
330···0
É patente que o mesmo acontece com a distribuição R′ n , e então com a correspondente
distribuição causal. Finalmente, outro tanto ocorre à distribuição Tn330···0 que se obtém com
as anteriores. É já evidente que este procedimento é válido em geral. ■
Note-se que a condição da Eq. (6.132) é sempre respeitada uma vez que T1 ( x ) seja
apropriadamente escolhida [vide a Eq. (6.116)], caso as coordenadas corresponderem a
tempos diferentes. Mas, o que acontecerá quando dois pontos ou mais corresponderem a
tempos iguais? Nesse caso a Eq. (6.116) já não é válida, o que nos obriga a estabelecer o
seguinte enunciado: Em uma teoria de gauge quântica, os termos de T1 ( x ) que são variações
de gauge podem ser desconsideradas, sem isso trazer consequências nos resultados físicos,
se e somente se os termos instantâneos que alteram o cumprimento da Eq. (6.116) a tempos
iguais podem ser compensados no processo de normalização. Eis que a invariância de gauge
quântica é uma condição física adicional para a normalização das soluções ao problema de
divisão da distribuição causal.
como na Eq. (6.69); isso é possível se o campo fantasma u( x ), cuja expressão é dada na Eq.
(6.75), é também pseudo-auto-adjunto segundo «K», o que é verdade se:
Adotando essas expressões, a Eq. (3.120) implica que o campo anti-fantasma é anti-pseudo-
auto-adjunto segundo «K»: ue( x )K = −ue( x ). Ademais, os campos em questão agora podem
ser escritos na seguinte forma:
Z
−3/2
u( x ) = (2π ) dµ( p) c2 ( p)e−ipx + c2K ( p)eipx ; (6.142)
Z
−3/2
ue( x ) = (2π ) dµ( p) −c1 ( p)e−ipx + c1K ( p)eipx . (6.143)
Ora, é possível imediatamente enunciar o teorema a seguir, pois sua prova é idêntica
àquela mostrada na Seç. 4.8.
e1 ( x ) = T1 ( x )K
T , (6.144)
então as distribuições de n pontos podem ser construídas, pelo procedimento indutivo da TPC, de
forma a satisfazer à mesma condição de pseudo-unitariedade.
Sendo que a constante de acoplamento e é real, a condição (3) implica que também os
1 Isto
pode também ser justificado no âmbito quântico sem recorrer ao clássico. Com efeito, as variáveis
dinâmicas locais podem ser construídas a partir do operador de espalhamento estendido [100]; em particular, o
hamiltoniano generalizado de interação, cujo primeiro termo é a distribuição T1 ( x ).
175
176 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
O último termo nessa equação é nulo, pois contém ao operador nulo ∂ a u∂ a u (lembrando que
o campo fantasma possui caráter fermiônico). Desconsiderando-o e agrupando termos:
n
dQ T1 = −e f 1 : ∂ a uAb ∂ a Ab : + f 1 : ∂ a uAb ∂b A a : + f 1 : ∂ a ∂b uA a Ab : + f 3 : ∂ a uu∂ a ue :
o
+ f 3 : uA a ∂ a ∂b Ab : +(2 f 2 + f 5 ) : ∂ a uA a ∂b Ab : + f 4 : u∂ a A a ∂b Ab : . (7.3)
Como foi estabelecido no Cap. 6, essa variação de gauge tem de ser igual à divergência do
vértice-Q [vide a Eq. (6.113)]. Como na Eq. (7.3) todos os termos são trilineares, contendo,
quer um campo fantasma e dois campos de radiação, quer dois campos fantasma e um anti-
fantasma, e sempre duas derivadas, o vértice-Q deve também estar constituído por esse
tipo de combinações dos campos e conter apenas uma derivada em cada um deles, então
oferecendo à vista a seguinte forma geral:
n
a
iT1/1 =e g1 : ∂ a uAb Ab : + g2 : uAb ∂ a Ab : + g3 : ∂b uAb A a : + g4 : u∂b Ab A a :
o
b a a
: :
+ g5 uA ∂b A + g6 ∂ uuu : e : . (7.4)
+ ( g3 + g5 ) : ∂ a uAb ∂b A a : +( g3 + g4 ) : ∂ a uA a ∂b Ab : +( g4 + g5 ) : uA a ∂ a ∂b Ab :
o
+ g4 : u∂ a A a ∂b Ab : + g5 : u∂ a Ab ∂b A a : + g6 : ∂ a uu∂ a ue : . (7.5)
Substituindo as Eqs. (7.3) e (7.5) na Eq. (6.113) encontra-se o seguinte conjunto de relações
entre os coeficientes f j e g j :
− f 1 = 2g1 + g2 , − f 1 = g3 + g5 , − f 1 = g3 , − 2 f 2 − f 5 = g3 + g4 ,
− f 3 = g6 , − f 3 = g4 + g5 , − f 4 = g4 , 0 = g2 , 0 = g5 . (7.6)
a
iT1/1 =0 . (7.11)
Sem embargo, essa forma particular de T1 ( x ) é uma variação de gauge exata, então física-
mente equivalente à distribuição nula:
T1 ( x ) = −ie f 2 dQ : A a A a ue : ∼ 0 . (7.13)
Conclui-se que a teoria de um só campo de gauge não tem termos de auto-interação. Sendo
assim, a distribuição de um ponto completa é aquela que contém o acoplamento do campo
de gauge com a matéria:
T1 ( x ) = iej a ( x ) A a ( x ) , (7.14)
com j a ( x ) a corrente dos campos de matéria. Em tal caso, a variação de gauge da distribuição
T1 é igual a
que se reduz a uma divergência sempre que a corrente de matéria seja conservada. Ora, na
TPC todos os operadores de campo quantizado são livres, do que se infere que o acoplamento
corrente-campo de gauge na TPC ocorre com a corrente conservada dos campos de matéria
livres2 . No caso do campo fermiônico, que estudaremos nesse capítulo, a corrente que se
2 Por isso, no caso da SQED, em que a corrente dos campos de matéria livres (campo escalar complexo) é
←→ ←→
−i : φ† ( x ) ∂ a φ( x ) : , a distribuição de transição da primeira ordem é T1 ( x ) = e : φ† ( x ) ∂ a φ( x ) : A a ( x ). Esta
distribuição, vemos, possue apenas a parte linear em e da densidade lagrangiana invariante de gauge usada na
teoria convencional. Do ponto de vista quântico, no entanto, a distribuição T1 é de fato invariante de gauge, pois
178 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
a
T1/1 ( x ) = iej a ( x )u( x ) = ie : ψ( x )γ a ψ( x ) : u( x ) . (7.17)
Tn ( x1 ; · · · ; xn ) = : Tla ( x1 ; · · · ; xn ) A a ( xl ) : + · · · , (7.18)
em que, nem Tla , nem os pontos suspensivos incluem um outro operador de campo de gauge
no ponto xl , A a ( xl ). Assim sendo, a variação de gauge da distribuição Tn será:
e dessa vez os pontos suspensivos não incluem um outro campo fantasma no ponto xl , u( xl ).
Segundo a Eq. (6.116), que é a condição geral da invariância de gauge da distribuição de
transição da ordem n, a variação de gauge dada na Eq. (7.19) tem de reduzir-se a uma
divergência. A regra de Leibniz das derivadas implica que isto será possível –note-se que o
procedimento segue o mesmo roteiro que na Eq. (7.15)–, e
sempre que sejam satisfeitas as «identidades-Cg» –do inglês C-number identities for gauge
invariance– da QED:
∂ axl : Tla ( x1 ; · · · ; xn ) : = 0 . (7.21)
Essas equações são válidas em todo ponto xl em que esteja presente um operador de campo
da radiação. Onde não o esteja, a variação de gauge será automaticamente nula, e o termo
correspondente, invariante de gauge. Um estudo detalhado das consequências que se
derivam das identidades-Cg será apresentado na Seç. 7.8, em que provaremos que elas se
equivalem às identidades de Ward-Takahashi.
a ( x ) = e : φ† ( x )←
sua variação de gauge se iguala à divergência do vértice-Q T1/1
→a
∂ φ( x ) : u( x ). A possibilidade
de se encontrar os termos adicionais da teoria lagrangiana como termos de normalização na segunda ordem da
série perturbativa pela invariância de gauge (clássica) foi apontada por Sukhanov na Ref. [143], no contexto da
teoria perturbativa da matriz de espalhamento de Bogoliubov e Shirkov. O tratamento deste problema na TPC
instantânea encontra-se na Ref. [110], e na TPC no plano nulo, na Ref. [148].
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 179
T1 ( x ) = ie : ψ( x )γ a ψ( x ) : A a ( x ) . (7.22)
A construção da distribuição causal da segunda ordem começa com a definição das distri-
buições subsidiárias:
A2′ ( x1 ; x2 ) = T
e1 ( x1 ) T1 ( x2 ) = − T1 ( x1 ) T1 ( x2 ) , (7.23)
R2′ ( x1 ; x2 ) = T1 ( x2 ) T
e1 ( x1 ) = − T1 ( x2 ) T1 ( x1 ) , (7.24)
com as quais:
1
ψ a ( x )ψb (y) = ψa− ( x ); ψb+ (y) = Sab+ ( x − y) , (7.26)
i
1
ψ a ( x )ψb (y) = ψ a− ( x ); ψb+ (y) = Sba− (y − x ) , (7.27)
i
A a ( x ) Ab (y) = [ A a− ( x ); Ab+ (y)] = iDab+ ( x − y) . (7.28)
Ter-se-á:
A2′ ( x1 ; x2 ) = e2 : ψ( x1 )γ a ψ( x1 ) : : ψ( x2 )γb ψ( x2 ) : A a ( x1 ) Ab ( x2 )
a b
= e2 γab γcd : ψ a ( x1 )ψb ( x1 ) : : ψc ( x2 )ψd ( x2 ) : A a ( x1 ) Ab ( x2 )
a b
= e2 γab γcd : ψ a ( x1 )ψb ( x1 )ψc ( x2 )ψd ( x2 ) : +ψ a ( x1 )ψd ( x2 ) : ψb ( x1 )ψc ( x2 ) :
+ψb ( x1 )ψc ( x2 ) : ψ a ( x1 )ψd ( x2 ) : +ψ a ( x1 )ψd ( x2 )ψb ( x1 )ψc ( x2 )
× : A a ( x1 ) A b ( x2 ) : + A a ( x1 ) A b ( x2 )
2 a b 1
= e γab γcd : ψ a ( x1 )ψb ( x1 )ψc ( x2 )ψd ( x2 ) : + Sda− ( x2 − x1 ) : ψb ( x1 )ψc ( x2 ) :
i
1
+ Sbc+ ( x1 − x2 ) ψ a ( x1 )ψd ( x2 ) −Sda− ( x2 − x1 )Sbc+ ( x1 − x2 )
: :
i
× [ : A a ( x1 ) Ab ( x2 ) : +iDab+ ( x1 − x2 )] . (7.29)
E, da Eq. (7.24), a distribuição R2′ é igual à A2′ com os pontos x1 e x2 trocados. Trocando
também os índices vetoriais a e b, e os espinoriais a e c e b e d por motivos de conveniência
180 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
–já que ambas distribuições serão subtraídas para obter a distribuição causal–, obtém-se:
1
R2′ ( x1 ; x2 ) = a b
e2 γab γcd: ψ a ( x1 )ψb ( x1 )ψc ( x2 )ψd ( x2 ) : − Sbc− ( x1 − x2 ) : ψ a ( x1 )ψd ( x2 ) :
i
1
− Sda+ ( x2 − x1 ) : ψb ( x1 )ψc ( x2 ) : −Sbc− ( x1 − x2 )Sda+ ( x2 − x1 )
i
× [ : A a ( x1 ) Ab ( x2 ) : +iDab+ ( x2 − x1 )] . (7.30)
Logo, substituindo as Eqs. (7.29) e (7.30) na Eq. (7.25), obtém-se a distribuição causal da
segunda ordem:
( M) (C ) (VP) (SE) (VG )
D2 ( x1 ; x2 ) = D2 + D2 + D2 + D2 + D2 ( x1 ; x2 ) , (7.31)
( M)
D2 ( x1 ; x2 ) = − ie2 : ψ( x1 )γ a ψ( x1 )ψ( x2 )γb ψ( x2 ) : Dab (y) ; (7.32)
(C )
D2 ( x1 ; x2 ) =ie2 : ψ( x1 )γ a S(y)γb ψ( x2 ) : : A a ( x1 ) Ab ( x2 ) :
− ie2 : ψ( x2 )γb S(−y)γ a ψ( x1 ) : : A a ( x1 ) Ab ( x2 ) : ; (7.33)
h i
(VP)
D2 ( x1 ; x2 ) = − e2 Tr γ a S− (y)γb S+ (−y) − γ a S+ (y)γb S− (−y)
× : A a ( x1 ) A b ( x2 ) : ; (7.34)
(SE)
D2 ( x1 ; x2 ) = − e2 : ψ( x1 )γ a [S− (y) Dab+ (−y) + S+ (y) Dab+ (y)] γb ψ( x2 ) :
+ e2 : ψ( x2 )γ a [S+ (−y) Dab+ (−y) + S− (−y) Dab+ (y)] γb ψ( x1 ) : ; (7.35)
h i
(V )
D2 ( x1 ; x2 ) = − ie2 Tr γ a S− (y)γb S+ (−y) Dab+ (−y)
h i
+ ie2 Tr γ a S− (−y)γb S+ (y) Dab+ (−y) . (7.36)
Esta equação, assim escrita, resulta ser conveniente para ver quais termos contribuem a cada
processo, pois isto depende dos operadores de campo não-contraídos que aparecem neles:
os operadores de campo que aparecem determinam quais estados iniciais e finais darão um
( M)
resultado não nulo à amplitude de probabilidade ⟨Ψ; S( g)Φ⟩. Assim, a distribuição D2 dá
conta do espalhamento de dois férmions, a D (C ) , do espalhamento de um férmion por um
(VP) (SE)
fóton; as distribuições D2 e D2 representam a polarização do vácuo e a auto-energia do
(V )
férmion, respectivamente; já a distribuição D2 não descreve processo físico nenhum, pois
não há nele operadores de campo sem contrair.
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 181
( M)
T2 ( x1 ; x2 ) = −ie2 : ψ( x1 )γ a ψ( x1 )ψ( x2 )γb ψ( x2 ) : Dab
F
(y) , (7.37)
com:
−2
k2
b F (k ) = − (2π )
D gab −
k a ηb + η a k b
+ 2 η a ηb . (7.38)
ab
k2 + i0+ k− k−
Note-se que estamos usando aqui a distribuição de comutação do campo da radiação
incluindo seus termos de gauge (não-covariantes); isto é feito para mostrar explicitamente
que eles não têm contribuição aos elementos de matriz do operador de espalhamento,
reforçando a análise feita no Cap. 6. Por outro lado, o assim proceder nos permitirá
estabelecer alguns resultados em relação com a abordagem lagrangiana (vide a Subseç.
F
7.3.3). Continuando, a distribuição da Eq. (7.38) tem a ordem singular ω− Dab = 0, e,
como consequência, permite a introdução de um termo de normalização da forma Cb ( k − ).
Escolhendo:
b (k − ) = (2π )−2 ηa ηb
C , (7.39)
k2−
o propagador de Feynman do campo da radiação se modifica segundo:
−2
dˆab (k ) ≡ D b (k − ) = − (2π )
b F (k) + C gab −
k a ηb + η a k b
. (7.40)
ab
k2 + i0+ k−
( M) 1
( M)
S12 = p Ω; br2 (q2 )bs2 ( p2 )S2 bs1 ( p1 )† br1 (q1 )† Ω
2p1− 2q1− 2p2− 2q2−
1 ie2
Z
= −p 2
d4 kd4 x1 d4 x2 e−iky dˆab (k )
2p1− 2q1− 2p2− 2q2− 2 ( 2π )
× Ω; br2 (q2 )bs2 ( p2 ) : ψ( x1 )γ a ψ( x1 )ψ( x2 )γb ψ( x2 ) : bs1 ( p1 )† br1 (q1 )† Ω . (7.42)
182 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
O produto de operadores que aparece dentro do produto interno é reduzido com o uso do
teorema de Wick com o uso das contrações seguintes:
Como os vetores a ambos os lados do produto interno são estados de vazio, são quatro as
contribuições não nulas, correspondentes às contrações completas. Assim:
ie2
Z
( M)
S12 = d4 kd4 x1 d4 x2 e−iky dˆab (k )Θ ( p1− ) Θ (q1− ) Θ ( p2− ) Θ (q2− )
2(2π )8
n
× u s2 ( p 2 ) γ a u r1 ( q 1 ) u r2 ( q 2 ) γ b u s1 ( p 1 ) e i ( p2 − q1 ) x1 + i ( q2 − p1 ) x2
− u s2 ( p 2 ) γ a u s1 ( p 1 ) u r2 ( q 2 ) γ b u r1 ( q 1 ) e i ( p2 − p1 ) x1 + i ( q2 − q1 ) x2
− u r2 ( q 2 ) γ a u r1 ( q 1 ) u s2 ( p 2 ) γ b u s1 ( p 1 ) e i ( q2 − q1 ) x1 + i ( p2 − p1 ) x2
o
+ u r2 ( q 2 ) γ a u s1 ( p 1 ) u s2 ( p 2 ) γ b u r1 ( q 1 ) e i ( q2 − p1 ) x1 + i ( p2 − q1 ) x2 . (7.44)
obtém-se finalmente:
( M)
S12 =ie2 δ( p2 + q2 − p1 − q1 )Θ ( p1− ) Θ (q1− ) Θ ( p2− ) Θ (q2− )
n
× us2 ( p2 )γ a ur1 (q1 )ur2 (q2 )γb us1 ( p1 )dˆab ( p2 − q1 )
o
a b ˆ
−us2 ( p2 )γ us1 ( p1 )ur2 (q2 )γ ur1 (q1 )d ab ( p2 − p1 ) . (7.47)
( M)
e os termos não covariantes da distribuição dˆab não têm contribuição alguma a S12 [vide as
Eqs. (7.40) e (7.47)]. Conclui-se que todos os termos não locais podem ser desconsiderados,
pois o resultado será sempre o mesmo a considerar simplesmente a parte covariante da
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 183
(2π )−2
− g , (7.50)
k2 + i0+ ab
ie2 a γ+
ab p+m
/
t̂ ( p) = γ − γb + C
b ( p− ) . (7.55)
(2π )2 p2 − m2 + i0+ 2p−
b ( p− ) = ie2 γ a γ+ γb
C , (7.56)
(2π )2 2p−
184 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
ie2 a p+m
/
t̂ ab ( p) = γ γb , (7.57)
(2π )2 p2 − m2 + i0+
provando isto, também para este processo, a equivalência com a dinâmica instantânea.
ie2 1 +
Z Z
ηa η
+ d x1 d x2 : j ( x1 )δ(y) 2 b jb ( x2 ) : = ie2
4 4 a
d4 x1 : j + ( x1 ) j ( x1 ) : . (7.58)
2 ∂− 2∂2−
γ+ b
1
Z
4 4
: ψ ( x1 ) γ a A a ( x1 ) δ ( y )
2
+ d x1 d x2 e γ A b ( x2 ) ψ ( x2 ) :
2 2∂−
γ +
b a
+ : ψ ( x2 ) γ A b ( x2 ) δ ( y ) (γ A a ( x1 )ψ( x1 )) :
2∂−
Z γ+ b
= d4 x1 e2 : ψ ( x1 ) γ a A a ( x1 ) γ A b ( x1 ) ψ ( x1 ) : . (7.59)
2∂−
e reintroduzidas nela. De modo que, o fato destes termos aparecerem na segunda ordem
na TPC no plano nulo está dentro da filosofia do método causal, que trabalha apenas com
campos livres.
Diremos de passagem que o cancelamento ou não dos termos instantâneos da densidade
lagrangiana pelos termos instantâneos dos propagadores de Feynman dos campos, a qual-
quer ordem, foi tema de debate na comunidade por alguns anos. A TPC no plano nulo oferece
uma resposta imediata: Como tais interações instantâneas correspondem aos termos de nor-
malização das distribuições de transição da segunda ordem, numa série perturbativa baseada
na densidade lagrangiana L , estes se cancelarão em todas as ordens, pois toda distribuição
causal em cada ordem se constrói com as distribuições de transição anteriores já normaliza-
das (já covariantes). Essa é uma das grandes vantagens de se trabalhar numa teoria indutiva.
com: h i
P ab (y) = e2 Tr γ a S+ (y)γb S− (−y) . (7.62)
Também, como:
b ± ( p) = ± i Θ (± p− ) δ( p2 − m2 )
D , (7.65)
2π
aparecerão no integrando da Eq. (7.63) as distribuições delta de Dirac δ( p2 − m2 ) e δ(( p −
k )2 − m2 ), que têm, em conjunto, suporte em p2 = m2 e k2 = 2pk. Portanto:
4e2
Z h i
Pbab (k ) = d4 p 2p a pb − p a kb − k a pb + g ab pk
(2π )4
× Θ ( p− ) δ( p2 − m2 )Θ (k − − p− ) δ(k2 − 2pk) . (7.66)
186 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
Pode-se observar da Eq. (7.66) que a distribuição Pbab (k ) é simétrica em seus dois índices. E,
além disso, ela é ortogonal ao vetor k, pois ao multiplicá-la por dito vetor, ter-se-á que:
que é nulo por causa do suporte da distribuição δ(k2 − 2pk). Sendo, como é, simétrico e
ortogonal ao vetor k, Pbab (k ) tem de ser proporcional ao projetor k a kb − k2 g ab :
Pbab (k ) = k a kb − k2 g ab B(k2 ) . (7.68)
Calculando o traço dessa equação e também o da Eq. (7.66), obtém-se a seguinte fórmula
para B(k2 ):
4e2 2m2
1
B(k ) = − 2 P̂ aa (k ) = −
2
1+ 2 I (k) , (7.69)
3k 3(2π )4 k
com I (k ) a integral da Eq. (5.38), e cujo valor é dado na Eq. (5.42). Da substituição dessas
equações na Eq. (7.69), e então na Eq. (7.68):
r
e2 k a kb 4m2
bab ab
(k + 2m )Θ (k − ) Θ k − 4m
2 2 2 2
P (k) = g − 2 1− . (7.70)
3(2π )3 k k2
Para extrair dela a parte retardada, fatoramos nela um polinômio do segundo grau:
e2 2 ab
dˆab (k ) = k g − k k dˆ1 (k )
a b
, (7.72)
3(2π )3
Pelo Teorema 4.7, será suficiente encontrar a parte retardada da distribuição dˆ1 (k ), cuja
ordem singular no eixo x − é: h i
ω− dˆ1 = 0 . (7.74)
Essa distribuição é o valor limite da seguinte função analítica, regular no tubo R4 + iR0+ e− ,
em que tem-se introduzido a variável complexa de momento k̃ = k + iεη:
r
+∞ ( s + 2m2 ) 4m2
i 2
Z 1−
r̂1 (k̃ ) = k̃ s ds , (7.77)
2π s2 (k̃2 − s)
4m2
Seu valor explícito pode ser obtido pela mesma substituição de Euler das Eqs. (5.53) e (5.54),
com a qual ela adota a forma seguinte:
Z1
im2 (1 − ξ̃ )4 (1 − x )2 ( x2 + 4x + 1)dx
r̂1 (k̃ ) = , (7.78)
(2π )k̃4 ξ̃ 2 ( x + ξ̃ )(− x − 1/ξ̃ )(1 + x )4
0
im2
1 + ξ̃ 1 5 1 22
r̂1 (k̃ ) = ξ̃ − 4 + log ( ξ̃ ) + ξ̃ + − . (7.79)
(2π )k̃4 1 − ξ̃ ξ̃ 3 ξ̃ 3
1 k2
ξ+ = 2− 2 , (7.80)
ξ m
e os termos além do logaritmo na primeira linha da Eq. (7.79) estão sujeitos a normalização.
Finalmente, colocando esse resultado na Eq. (7.72) para obter r̂ ab (k ), subtraindo a distribuição
subsidiária r̂ ′ab (k ) e definindo o «tensor de polarização do vácuo» Π ab segundo:
(VP)
t̂ ab (k ) =: −i Π
b ab (k) ; T2 ( x1 ; x2 ) = −i : A a ( x1 )Π ab ( x1 − x2 ) Ab ( x2 ) : (7.81)
obtém-se finalmente:
k a kb
b ab (k ) =: (2π )−4
Π −g ab
Π
b (k) , (7.82)
k2
(I) k2 < 0:
2 m2 1 + ξ
e 1 5 1 22
Π
b (k) = ξ −4+ log(ξ ) + ξ+ − . (7.83)
3 1−ξ ξ 3 ξ 3
2 2
b (k) = e m 1+ξ 1 5 1 22
Π ξ −4+ log(|ξ |) + ξ+ −
3 1−ξ ξ 3 ξ 3
r )
4m2
−iπ (k2 + 2m2 ) 1 − 2 . (7.85)
k
Mas Π
b ab (k ) tem a ordem singular ω− = 2, donde ainda existe uma indeterminação que
no espaço dos momentos é da forma:
É claro que o termo linear no momento deve ser nulo devido à invariância da interação
eletromagnética sob transformações de paridade. Quanto aos outros, a identidade-Cg [Eq.
(7.21)] indica que a distribuição completa deve ser transversal ao momento, o que implica
que o polinômio −C0 gab − C2 k2 gab − C3 k a k b a ser adicionado a Π
b ab (k ) deve ser ele mesmo
transversal ao momento, pois Π
b ab (k ) já o é [Eq. (7.82)]. Portanto, multiplicando o polinômio
de normalização por k a e igualando a zero, se deve cumprir que: C2 + C3 = −C0 /k2 , e o
polinômio mencionado se reduz a:
k a kb
− gab (C0 + C2 k2 ) .
k2
Isto significa que a normalização deve ser feita diretamente no escalar da polarização do
vácuo:
Π
e (k) = Π
b (k ) + C0 + C2 k2 , C0 , C2 ∈ R . (7.87)
D ab
b tot = dˆab + (2π )4 dˆac Π
e cd dˆdb + (2π )8 dˆac Π
e cd dˆde Π
e e f dˆf b + · · ·
= dˆac δcb + (2π )4 Π e cd D db
b tot , (7.88)
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 189
Usualmente [107] esta equação é solucionada por meio da inversão de dˆab . No entanto,
no caso particular que estamos estudando, tal distribuição não possui inversa devido aos
termos não covariantes contidos nela3 . Porém, com as Eqs. (7.40) e (7.82) podemos ainda
calcular a expressão inter-parentética da Eq. (7.89), que resulta ser:
k2 − (2π )−2 Π
e + i0+ (2π )−2 Π
L ad = π1 δda + π2 k a ηd
e
; π1 = , π2 = . (7.90)
k2 + i0+ k − (k2 + i0+ )
Acontece que este tensor tem, ele sim, uma inversa, que chamaremos Eca e que terá a seguinte
forma geral:
Eca = σ1 δac + σ2 kc k a + σ3 kc ηa + σ4 η c k a + σ5 η c ηa , (7.91)
1 σ1 π2
σ1 = , σ2 = 0 , σ3 = − , σ4 = 0 = σ5 . (7.92)
π1 π1 + k − π2
Substituindo a Eq. (7.92), com os valores de πi dados na Eq. (7.90), na Eq. (7.91) encontra-se
que: ( )
c 1 (2π )−2 Π
k2 δac
e c
E a = − k ηa . (7.93)
k2 − (2π )−2 Π
e + i0+ k−
Agora podemos solucionar a Eq. (7.89) multiplicando-a por Eca . Obtemos assim que o
propagador completo do fóton é:
(2π )−2 kc η b + η c kb
cb cb
D
b tot (k) = − g − . (7.94)
k2 − (2π )−2 Π
e (k ) + i0+ k−
pode ser provado da seguinte forma: Suponhamos que a distribuição inversa dˆ−1 existe. Escrevendo-a
3 Isto
como αgab + βk b k c + γ(ηb k c + ηc k b ) + δηb ηc , o conjunto de equações para os coeficientes α, · · · , δ obtidos por
meio da condição dˆ−1 dˆ = 1 é inconsistente.
190 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
dΠ
e (k)
lim Π
e (k) = 0 e lim =0 . (7.95)
k 2 →0 k 2 →0 d ( k 2 )
com:
d ( y ) : = − e2 γ a d + ( y ) + d − ( y ) γ a d± (y) := S± (y) D0+ (±y)
; . (7.97)
Z
d4 qΘ(−q− )Θ(q− − p− )δ(q2 )δ ( p − q)2 − m2 q a
I2a = . (7.100)
1
Θ(−q− )δ(q2 )δ ( p − q)2 − m2 = Θ(−q− )Θ(q− − A)Θ(2p+ p− − m2 )
|2p− |
!
q2⊥
2p+
× δ q+ − δ q2⊥ − ( A − q− )q− , (7.102)
2q− p−
com:
2p+ p− − m2
A= . (7.103)
2p+
Desde que p+ < 0, é trivial ver que A > p− , e a função de Heaviside Θ(q− − p− ) que
aparece nas integrais das Eqs. (7.99) e (7.100) é redundante. Além disso, é claro que, por
argumentos de simetria, no sistema de referência escolhido serão:
I2α = 0 (α ∈ I2 ) . (7.104)
Decorre disto que somente precisamos calcular as integrais I1 , I2+ e I2− . A integração nas
variáveis q+ e q2⊥ é imediata usando as propriedades das distribuições delta de Dirac contidas
na Eq. (7.102); obtém-se:
Z0
π
I1 = Θ(− p− )Θ(2p+ p− − m2 ) dq− , (7.105)
|2p− |
A
Z0
π p+
I2+ = Θ(− p− )Θ(2p+ p− − m2 ) dq− ( A − q− ) , (7.106)
|2p− | p−
A
Z0
π
I2− = Θ(− p− )Θ(2p+ p− − m2 ) dq− q− . (7.107)
|2p− |
A
m2
π
I1 = Θ(− p− )Θ(2p+ p− − m ) 1 −
2
, (7.108)
2 2p+ p−
m2
p±
I2± = 1− I1 . (7.109)
2 2p+ p−
Substituindo estes resultados na Eq. (7.98) e multiplicando-a por γ a pela esquerda e por γa
pela direita e realizando a soma no índice «a»:
m2 m2
a ˆ− −3 p
/
γ d ( p)γa =(2π ) Θ(− p− )Θ(2p+ p− − m ) 1 − 2
m− 1+ .
2p+ p− 4 2p+ p−
(7.110)
192 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
m2 m2
p
/
γ a dˆ+ ( p)γa = − (2π )−3 Θ( p− )Θ(2p+ p− − m2 ) 1 − m− 1+ .
2p+ p− 4 2p+ p−
(7.111)
Substituindo as Eqs. (7.110) e (7.111) na Eq. (7.97) obtemos finalmente a distribuição causal
no espaço dos momentos:
m2 m2
ˆ −3 p
/
d( p) =e (2π ) sgn( p− )Θ(2p+ p− − m ) 1 −
2 2
m− 1+ .
2p+ p− 4 2p+ p−
(7.112)
Para obter a parte retardada da distribuição recém encontrada, faremos uso do Teorema
4.7 e escreveremos, fatorando dela um polinômio:
n p
/
o
dˆ( p) = e2 (2π )−3 (2p+ p− − m2 ) 2p+ p− m − (2p+ p− + m2 ) dˆ1 ( p) , (7.113)
4
com:
1
dˆ1 ( p) = sgn( p− )Θ(2p+ p− − m2 ) , (7.114)
(2p+ p− )2
e só esta distribuição deverá ser dividida. Sua ordem singular no eixo x − é negativa:
h i
ω− dˆ1 = −1 . (7.115)
p s2 +∞
dq
Z Z
ρ(s)Θ ˆ
− a 2 f ( p)dp = sρ(s) fˆ(sq) 2 ,
s p q
a
que tende a fˆ(0)/a para s → 0 caso seja escolhida a função de auto-modelo ρ(s) = s−1 –
definindo assim ω− = −1–. Em tal caso, no limite s → 0:
p s2 δ( p)
ρ(s)Θ −a 2
→ .
s p a
4 Isto ocorre, por exemplo, no modelo de Schwinger, em que a ordem singular para a polarização do vácuo
é igual a zero, enquanto que, por contagem de potências, é −1; o termo de normalização admissível leva ao
aparecimento da massa do fóton [205].
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 193
dˆ1 , ela então será feita por aplicação da Eq. (4.130). Realizando a mudança de variável
s = −2kp− + 2p+ p− :
i dk 1
Z
r̂1 ( p) = +
sgn( p− )Θ(−2kp− + 2p+ p− − m2 )
2π k + i0 (−2kp− + 2p+ p− )2
+∞
i ds 1
Z
= V.p. − iπsgn ( p − ) Θ ( 2p p
+ − − m 2
)
2π s2 (2p+ p− − s) (2p+ p− )2
m 2
2p+ p− − m2
i 1 2p+ p−
+ m2 − iπsgn( p− )Θ(2p+ p− − m ) .
2
= log
2π (2p+ p− )2 m2
(7.116)
Nesta expressão, os últimos dois termos da segunda linha têm a forma de termos de nor-
malização e podem, portanto, ser substituídos por valores arbitrários, levando em consi-
−
h i que a ordem singular no eixo x da distribuição causal completa na Eq. (7.112) é
deração
ω− dˆ = +1. Além disso, a distribuição subsidiária retardada para a auto-energia do fér-
mion é r̂ ′ ( p) = −e2 γ a dˆ− ( p)γa , como pode ser visto na Eq. (7.30); seu valor é então dado na
Eq. (7.110). Destarte, se definirmos a auto-energia do férmion Σ de tal forma que a distribui-
ção de transição seja:
(SE)
T2 ( x1 ; x2 ) = i : ψ ( x1 ) Σ ( x1 − x2 ) ψ ( x2 ) : + i : ψ ( x2 ) Σ ( x2 − x1 ) ψ ( x1 ) : , (7.118)
b ( p) = −i r̂ ( p) − r̂ ′ ( p)
Σ
, (7.119)
(C )
com t̂2 o propagador de Feynman normalizado (sem termo instantâneo) do férmion, que é
o que aparece na distribuição de transição do espalhamento de Compton à segunda ordem
[Eq. (7.57)]:
(C ) 1
t̂2 ( p) = (2π )−2 . (7.122)
p − m + i0+
/
Obtém-se:
1
Sbtot ( p) = (2π )−2 . (7.123)
p − m + (2π )2 Σ
/ e ( p) + i0+
dΣ
e ( p)
lim Σ
e ( p) = 0 , lim =0 . (7.124)
p →m
/ p →m d /
/ p
A segunda condição de normalização, no entanto, não pode ser diretamente avaliada, pois a
derivada de Σ
e é singular na camada de massa5 . A solução deste problema são as identidades
de Ward-Takahashi: A normalização da auto-energia do férmion e a da função de vértice
não são independentes, mas se relacionam de tal forma que os valores particulares de suas
respectivas constantes de normalização não mudam o valor da carga elétrica; qualquer
mudança na constante de normalização C1 leva, pelas identidades de Ward-Takahashi, a uma
mudança na constante de normalização da função de vértice de modo que a carga elétrica
se mantém a mesma. Por este motivo, a constante C1 pode ser escolhida com o uso de uma
outra condição de normalização em que não se apresentem divergências infra-vermelhas,
por exemplo:
dΣ
e ( p) 1
lim =0 ⇒ C1 = . (7.126)
p →0 d /
/ p 8
A verificação do recém proferido requer uma análise mais profunda das identidades de
Ward-Takahashi, a qual será feita na Seç. 7.8.
5 Este problema de divergência infra-vermelha se apresenta em todo formalismo: a não analiticidade é uma
propriedade geral da auto-energia quando uma das distribuições que intervém na convolução tem massa nula
(quando uma das «linhas internas» corresponde a uma partícula sem massa) [100]. Uma «solução» comumente
usada é a de introduzir uma massa para o fóton [100, 206]. Semelhante regularização, no entanto, não pode ser
removida posteriormente. O mesmo ocorre quando é usada a regularização de Pauli-Villars [207].
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 195
D3 (1; 2; 3) =[ T (1); T (2; 3)] + [ T (2); T (1; 3)] + [ T (1); T (2; 3)]
+ { T (1); D2 (2; 3)} + { T (2); D2 (3; 1)} . (7.127)
D4 (1; 2; 3; 4) = −[ T (1; 2; 4); T (3)] − [ T (1; 3; 4); T (2)] − [ T (2; 3; 4); T (1)] − [ T (1; 4); T (2; 3)]
+ {[ T (1; 4); T (2)]; T (3)} + {[ T (1; 4); T (3)]; T (2)} + {[ T (2; 4); T (1)]; T (3)}
+ {[ T (2; 4); T (3)]; T (1)} + {[ T (3; 4); T (1)]; T (2)} + {[ T (3; 4); T (2)]; T (1)}
− [ T (2; 4); T (1; 3)] − [ T (3; 4); T (1; 2)] − [ T (4); T (1; 2; 3)] + {[ T (4); T (1)]; T (2; 3)}
+ { T (1); [ T (4); T (2; 3)]} + {[ T (4); T (2)]; T (1; 3)} + { T (2); [ T (4); T (1; 3)]}
+ {[ T (4); T (3)]; T (1; 2)} + { T (3); [ T (4); T (1; 2)]} + T (1){ T (2); T (3)} T (4)
+ T (2){ T (1); T (3)} T (4) + T (3){ T (1); T (2)} T (4) − T (4){ T (1); T (2)} T (3)
− T (4){ T (1); T (3)} T (2) − T (4){ T (2); T (3)} T (1) . (7.128)
T ( LL) (1; 2; 3; 4) = t̃( LL) (1; 2; 3; 4) abcd : A a (1) Ab (2) Ac (3) Ad (4) : , (7.129)
6 Para simplificar a notação, não estamos escrevendo o sub-índice indicando a ordem das distribuições de
transição; ele se evidencia pelo número de argumentos das distribuições mencionadas. Também, denotamos as
coordenadas x j fazendo referência apenas ao seu índice j.
196 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
com:
t̃( LL) (1; 2; 3; 4) abcd = t( LL) (1; 2; 3; 4) abcd + C abcd δ(1 − 4)δ(2 − 4)δ(3 − 4) . (7.130)
Além disso, como as distribuições de transição hão de ser simétricas em seus argumentos,
C abcd deve ser simétrico em seus índices, e ter portanto a estrutura:
A substituição dessa expressão na Eq. (7.131) leva, via as identidades-Cg mostradas na Eq.
(7.21), à condição:
p1a t̂( LL) ( p1 ; p2 ; p3 ) abcd + C ( p1b gcd + p1c gbd + p1d gbc ) = 0 . (7.133)
∂ ( LL)
t̂( LL) ( p1 ; p2 ; p3 )rbcd + p1a t̂ ( p1 ; p2 ; p3 ) abcd + C ( gbr gcd + gcr gbd + gdr gbc ) = 0 . (7.134)
∂p1r
Tomando então o limite p1 → 0 na Eq. (7.134), e supondo que t̂( LL) corresponda à solução
central, satisfazendo portanto à Eq. (4.152) com q+,⊥ = 0, ter-se-á que os dois primeiros
termos da referida equação se anulam, sendo forçoso concluir que seja C = 0. Decorre
disto que a constante de normalização na interação luz-luz é nula, ou seja, que o termo
de auto-interação dos fótons : A4 : é proibido pela invariância de gauge quântica. É
importante salientar que o limite considerado não é perigoso na quarta ordem, pois todas as
distribuições numéricas («linhas internas») correspondem ao férmion massivo, caso em que
não há divergências infra-vermelhas [202]. O argumento, contudo, é válido para qualquer
ordem se assumirmos que tal limite pode ser efetuado sem dificuldades.
7.7 Normalizabilidade
lp lf
d( x1 ; . . . ; xr ; y1 ; . . . ; ys ) ∼ t1 ( x1 ; . . . ; xr ) ∏ Dab+ ( xr j − ys j ) ∏ S+ ( xr m − y sm ) t2 ( y1 ; . . . ; y s ) .
j =1 m =1
(7.135)
A notação é a mesma que definimos na Seç. 5.5. O símbolo «∼», por outro lado, é colocado
em lugar do símbolo da igualdade devido a que desconsideraremos fatores numéricos
irrelevantes. Introduzindo as coordenadas relativas
ξ j : = x j − xr ( j = 1, . . . , r − 1) , λ j := y j − ys ( j = 1, . . . , s − 1) , λ : = xr − y s ,
(7.136)
e os vetores ξ = (ξ 1 ; . . . ; ξ r−1 ) e λ = (λ1 ; . . . ; λs−1 ), a Eq. (7.135) se reescreve:
lp lf
d(ξ; λ; λ) ∼ t1 (ξ ) ∏ Dab+ (ξ r j − λs j + λ) ∏ S+ ( ξ r m − λrm + λ ) t2 ( λ ) . (7.137)
j =1 m =1
obtém-se:
Z Z
ipξ −i ∑m k m ξ rm +∑ j h j ξ r j
dˆ( p; q; q) ∼ ∏ d km d h j Db ab+ (h j )Sb+ (km )
4 4
d 4(r −1)
ξt1 (ξ )e
j,m
Z Z
4( s −1) iqλ−i ∑m k m λsm +∑ j h j λs j 4 i (q−∑m k m −∑ j h j )
× d λt2 (λ)e d λe
Z
" !#
∼ ∏ d4 km d4 h j Db ab+ (h j )Sb+ (km )t̂1 ( p − kr − hr )t̂2 (q + ks + hs )δ q− ∑ hj + ∑ km ,
j,m j m
(7.140)
com:
(
p j − k r j − hr j se ξ r j é um ponto de contração
( p − kr − hr ) j = ,
pj se ξ r j não é um ponto de contração
! ! " !#
ker + her kes + hes 1
× t̂1 p−
s
t̂2 q+
s
δ 1−
s ∑ eh j + ∑ ekm . (7.141)
j m
Como já adiantamos, de acordo com o Cap. 5, para todos os propósitos físicos a distribuição
de comutação do campo de radiação na Eq. (7.141) pode ser tomada como sendo:
b ab ( p) = gab D
D b 0 ( p) , (7.142)
Para obter a ordem singular no eixo x − dessa distribuição causal, temos de avaliar o limite:
p q q p p p
; ⊥ ; p−
+
lim s ω−
dˆ0 ; ; ; ≡ . (7.144)
s →0 s∗ s∗ s∗ s∗ s s
Lema 7.1: A ordem singular no eixo x − de uma distribuição causal geral da QED, sem levar em
conta os termos de gauge da distribuição de comutação do campo da radiação, é:
3
ω− = 4 − N − M , (7.146)
2
de Lorentz e o Teorema 4.5 se aplica. Este fato se relaciona com o que encontramos na Seç.
6.2: A invariância de gauge é uma propriedade crucial para que a invariância relativísitica
seja uma simetria no subespaço físico.
Mencionaremos finalmente que, em concordância com a Eq. (7.146), as únicas possibili-
dades para ter-se a ordem singular ω− ≥ 0 são as que se mostram na Tab. 7.1. Como pode-se
observar, qualquer termo de auto-interação fermiônica é impossível, enquanto que, como
vimos na Seç. 7.6, um termo de auto-interação para o fóton é igualmente inadmissível, pois
o termo de normalização no espalhamento luz-luz (última linha da tabela) deve ser tomado
nulo para obedecer à invariância de gauge quântica. Como isto esgota todas as possibili-
dades, não haverá outros termos de interação gerados a nenhuma ordem. Finalmente, na
terceira e sexta linha afirmamos que as correspondentes distribuições são nulas devido ao
teorema de Furry [208]; este teorema estabelece que todas as distribuições contendo um
número ímpar de campos fotônicos externos e nenhum fermiônico são nulas, e pode ser pro-
vado de forma simples como consequência da invariância da QED sob transformações de
conjugação da carga elétrica [107].
N M ω− Processo
0 0 4 Transição vazio-vazio
0 2 1 Auto-energia do elétron
1 0 3 = 0 por teorema de Furry
1 2 0 Função de vértice
2 0 2 Polarização do vácuo
3 0 1 = 0 por teorema de Furry
4 0 0 Espalhamento luz-luz
R′n (Y; xn ) = ∑′ T ( X ′ ; xn ) T
e( X ) , A′n (Y; xn ) = ∑′ e( X ) T ( X ′ ; xn )
T . (7.148)
X ∪ X =Y X ∪ X =Y
X ∩ X ′ =∅ X ∩ X ′ =∅
X ̸=∅ X ̸=∅
a
R′n ( x1 ; · · · ; xn ) = : R′ l ( x1 ; · · · ; xn ) A a ( xl ) : + · · · , (7.150)
a
em que, nem R′ l , nem os pontos suspensivos incluem um outro operador de campo de
gauge no ponto xl , A a ( xl ), a derivação só afetará a uma distribuição Tm por vez (àquela
que, na partição particular de (Y; xn ), contenha ao ponto xl ), e então a hipótese indutiva da
Eq. (7.147) implica imediatamente que –escrevemos já o resultado igualmente válido para a
distribuição subsidiária avançada–:
a a
∀l ∈ In : ∂ axl R′ l ( x1 ; · · · ; xn ) = 0 ∧ ∂ axl A′ l ( x1 ; · · · ; xn ) = 0 , (7.151)
donde decorre que o mesmo pode ser afirmado da distribuição causal da ordem n:
Assim, como Tn = Rn − R′n , devido à Eq. (7.151) ter-se-á que, como desejado, ∂ axl Tla = 0
se e somente se ∂ axl Rla = 0, isto é, se a propriedade da Eq. (7.152) é mantida na divisão da
distribuição causal. Ora, por sua própria definição, a distribuição retardada é Rla = Dla em
Γ+ −
n \ En , em que estamos denotando:
En− := ( x1 ; · · · ; xn−1 ; xn ) ∈ Γ+
n | ∀ j ∈ In−1 : x j ∈ xn + Re
−
, (7.153)
e Rla = 0 em R4n \ Γ+
n . Devido à Eq. (7.152), portanto:
E disto:
supp ∂ axl Rla ⊆ En− supp ∂ axl Tla ⊆ En−
⇒ . (7.155)
Este resultado ainda pode ser mais especializado escrevendo as distribuições Tla como a
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 201
Tla = ∑ a
∀ M ∈ {0; 2; · · · ; 2n} : supp ∂ axl Tl,M
a
⊆ En−
Tl,M ⇒ . (7.156)
M ∈ I2n,0
M par
derivada agindo sobre um operador de campo fermiônico. Em primeiro lugar, caso houvesse
um operador de campo fermiônico no ponto xl , quer ψ( xl ), quer ψ( xl ), necessariamente
deveria haver também uma distribuição S• ( xl − x j ), com • ∈ {ret; av; F }; efetivamente,
como o ponto xl é um ponto em que está presente um campo de fóton externo [vide a Eq.
(7.18)], se ao menos um dos campos fermiônicos não estivesse contraído, então a distribuição
seria desconectada. Mas o suporte do produto tensorial de duas distribuições é o produto
cartesiano dos seus suportes individuais, ou seja, os suportes das partes desconectadas
são independentes, contrariando ao Teorema 4.3, segundo o qual o suporte da distribuição
causal Dn está contido no cone de luz do ponto xn ; logo, se a distribuição causal não pode
ser desconectada, tampouco a distribuição retardada pode sê-lo, e então as distribuições
de transição que correspondem a tais casos se reduzem apenas a − R′n , que já satisfaz às
identidades de Ward-Takahashi [vide Eq. (7.151)]. Segue disso que os casos que requerem
atenção são aqueles que correspondem a distribuições conectadas. Como as distribuições
S• ( xl − x j ) podem conter termos instantâneos, dividimo-as da seguinte forma:
Dessa forma, as equações satisfeitas pelo operador de campo de Dirac e pelas distribuições
covariantes que lhe são associadas permitem sempre eliminar as derivadas que agem sobre
o campo de Dirac. Ademais, no processo indutivo da TPC, a distribuição causal da ordem n
é construída com as distribuições Tm com m ∈ In−1 , as quais já são normalizadas. Portanto, a
parte instantânea Si• ( xl − x j ) só pode estar presente se é gerada no procedimento de divisão
em relação ao novo ponto adicionado na ordem n, xn , ou seja, se o próprio ponto xl é xn ,
ou se está diretamente conectado a ele. Isto é verdade quer haja um operador de campo
fermiônico no ponto xn ou não; em qualquer caso, todos os termos instantâneos em Tn podem
ser gerados apenas na divisão da distribuição causal Dn em relação ao ponto xn . Temos
visto, no entanto, que os termos instantâneos que se geram em S• podem ser cancelados por
uma escolha adequada dos termos de normalização. O mesmo não ocorre com os termos de
gauge da distribuição de comutação do campo de radiação no gauge do plano nulo, mas
isso é irrelevante no presente caso, pois desde que as identidades-Cg se aplicam sempre
202 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
que haja um campo de fóton externo, A a ( xl ), é absolutamente impossível que haja alguma
distribuição associada ao fóton conetando o ponto xl com o resto da distribuição: Todas as
distribuições que conectam o ponto xl são associadas ao férmion.
Por esses motivos, uma vez considerados os termos de normalização que eliminam Si•
quando xl seja xn ou esteja conectado a ele, já não será possível o surgimento de nenhuma
derivada de campo fermiônico externo, de forma que, pela Eq. (7.156), a forma geral para a
a é, sem escrever os possíveis campos externos de fóton:
divergência de Tl,2 f
∂ axl Tl,2
a
f ( x1 ; · · · ; x n ) =
⌊ω− ( G )⌋+1
!
∑ : ψ ( x i1 ) · · · ψ ( x i f ) ∑ CbG ( x − ) D+
b
,⊥ δ ( x
+,⊥
) ψ( x j1 ) · · · ψ( x j f ) : , (7.159)
G |b|=0
G ( n −1)
com as distribuições numéricas CbG ( x − ) ≡ CbG1 ( x1− − xn− ) · · · Cb ( xn−−1 − xn− ) e δ( x +,⊥ ) ≡
δ( x1+,⊥ − xn+,⊥ ) · · · δ( xn+−,⊥1 − xn+,⊥ ), e b um multi-índice. A soma é estendida a todas as
distribuições G com M = 2 f férmions externos e N fótons, um deles no ponto xl . Porém,
exatamente pelo fato de já termos eliminado Si• ( x j − xn ) (l = j ou l = n), em Tl,2 a não pode
f
haver mais termos não covariantes provindo de distribuições fermiônicas, mas todos os
possíveis, já o dissemos, serão os termos de gauge caso seja usado o gauge do plano nulo –e
nenhum deles incluirá o ponto xl –.
Neste ponto, o comentário feito acima adota uma relevância capital: Como o ponto xl só
pode estar conectado com o resto da distribuição por distribuições associadas ao férmion, na
derivação em relação a xl não tem importância qual seja a distribuição considerada para o
fóton, pois o ponto xl nunca será seu argumento. É claro, ∂ axl Tl,2
a pode em geral ter diferente
f
expressão no gauge do plano nulo ou na construção covariante, mas se é igual a zero em
um caso, também o será no outro, pois a parte da distribuição que depende de xl é igual em
ambos os casos. Podemos, portanto, concluir que, embora as anomalias, caso existissem,
seriam diferentes, as identidades-Cg são satisfeitas no gauge do plano nulo se, e somente se,
também o são na construção covariante. Claro, não devemos entender isto senão literalmente:
Ainda com a equivalência da regência das identidades-Cg, não podemos afirmar por este
argumento a igualdade das diversas distribuições de transição da QED no plano nulo e as
da dinâmica instantânea.
Logo, bastará verificar a validade das identidades de Ward-Takahashi para a teoria com
distribuição de comutação covariante do campo da radiação. É mister lembrar que somente
elas sendo satisfeitas é que podemos afirmar com total certeza que a QED é uma teoria
de gauge quântica, e assim poderemos concluir que, caso desejássemos usar o campo de
radiação quantizado sob a condição de gauge do plano nulo, embora as distribuições de
transição possam ser não covariantes devido à possível presença de termos de gauge, os
elementos de matriz do operador de espalhamento no subespaço físico serão covariantes
pela construção feita no Cap. 6. Dessarte, na Eq. (7.159) devemos considerar apenas termos
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 203
⌊ω− ( G )⌋+1
!
∂ axl Tl,2
a
f ( x1 ; · · · ; xn ) = ∑ : ψ ( x i1 ) · · · ψ ( x i f ) ∑ CbG D b δ( x ) ψ( x j1 ) · · · ψ( x j f ) : .
G |b|=0
(7.160)
Por outro lado, vimos no Cap. 4 que os únicos termos na distribuição de transição cuja ordem
singular pode ser maior que a da distribuição causal têm suporte em En− , e são portanto
termos de normalização que podem ser imediatamente eliminados. Donde basta considerar
Ga , dada na Eq. (7.146). Daí
na Eq. (7.160) ω− ( G ) correspondente à distribuição causal Dl,2 f
vemos que os casos que precisam de análise, isto é, aqueles com ω− ≥ −1, são os mostrados
na Tabela 7.2.
N M ω− Processo
2 2 -1 Espalhamento de Compton
2 0 2 Polarização do vácuo
4 0 0 Espalhamento luz-luz
1 2 0 Função de vértice e auto-energia
A partir desse ponto o percurso da análise é o mesmo que o mostrado na Ref. [107]. Por
completeza, o comentamos brevemente.
pareceria não satisfazer à identidade-Cg, como de fato não o faz por si só, é necessário
lembrar que há um segundo termo, correspondente à corrente elétrica na direção oposta
[vide a Eq. (7.52)]; a soma das duas distribuições, invariante por conjugação de carga elétrica,
já satisfaz à identidade desejada.
Essa forma geral deve ser restrita pelas simetrias da distribuição Πba . Em primeiro lugar,
o fato de que, tomando a divergência da Eq. (7.162) em relação à coordenada x2 , o re-
sultado há de ser simétrico em relação às coordenadas x1 e x2 : ∂ x2 a ∂ x1 b Πba ( x1 ; x2 ; · · · ) =
∂ x2 a ∂ x1 b Π ab ( x2 ; x1 ; · · · ). Em segundo lugar, o fato de que, por se tratar de uma distribuição
de transição, deve ser simétrica em todos seus pontos internos x3 , . . . , xn . Mantendo na Eq.
(7.162) somente os termos que respeitam a essas simetrias, obtemos que a forma geral antes
dada deve ser reduzida a:
n n
∂ x1 b Πba ( x1 ; x2 ; · · · ) = C1 ∑ ∂cxi ∂ xi c ∂ ax1 + C2 ∑ ∂cxi ∂ x1 c ∂ axi + C3 ∂cx1 ∂ x2 c ∂ ax2 + C4 ∂cx2 ∂ x2 c ∂ ax1
i =3 i =3
!
+ (C3 + C4 )∂cx1 ∂ x1 c ∂ ax1 + C5 ∂cx1 ∂ x1 c ∂ ax2 + C6 ∂cx1 ∂ x2 c ∂ ax1 + C7 ∂ ax1 δ
n n
= ∂ x1 b g ab C1 ∑ ∂cxi ∂ xi c + C2 ∑ ∂bxi ∂ axi + C3 (∂bx1 ∂ ax1 + ∂bx2 ∂ ax2 ) + C4 g ab (□x1 + □x2 )
i =3 i =3
!
+ C5 ∂bx1 ∂ ax2 + C6 ∂bx2 ∂ ax1 + C7 g ab
δ . (7.163)
Dessa forma, vemos que ∂ x1 b Πba − (· · · ) = 0, em que «(· · · )» denota a expressão entre
parênteses na equação anterior. Como (· · · ) tem suporte na origem das coordenadas, este
tem a forma de um termo de normalização. Segue disto que os termos de normalização da
polarização do vácuo podem sempre ser escolhidos de forma a satisfazer à identidade-Cg,
que reconhecemos como sendo uma das identidades de Ward-Takahashi, a qual, no caso,
exprime a transversalidade dessa distribuição em relação ao impulso do fóton externo.
n
∂ x1 a t( LL) ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) abcd = ∑ Ck1 gcd ∂bxk + Ck2 gbd ∂cxk + Ck3 gbc ∂dxk δ . (7.164)
i =1
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 205
Dessa vez os termos do lado direito têm de ser restringidos pelo fato de que a distribuição
∂ x1 a ∂ x2 b ∂ x3 c ∂ x4 d t( LL) ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ; · · · ) abcd tem de ser simétrica em relação às coordenadas
x1 , x2 , x3 e x4 , assim como que t( LL) ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ; · · · ) abcd é simétrica em relação aos pontos
internos x5 , . . . , xn . Isto leva a reduzir a Eq. (7.164) à forma mais simples:
∂ x1 a t( LL) ( x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) abcd = C gcd ∂bx1 + gbd ∂ x1c + gbc ∂dx1 δ
= C∂ x1 a g ab gcd + g ac gbd + g ad gbc δ , (7.165)
do que ter-se-á que ∂ x1 a t( LL)abcd − (· · · ) abcd = 0, e como (· · · ) abcd tem suporte na origem,
concluímos que a identidade-Cg (de Ward-Takahashi) para o espalhamento luz-luz pode
sempre ser satisfeita. Como provamos na Seç. 7.6, essa identidade implica que não há termos
de auto-interação de fótons.
Função de vértice e auto-energia. A quarta linha da Tabela 7.2 inclui aquelas distribuições
de transição em que estão presentes dois operadores de campo fermiônico externos e um
do campo de radiação. Assumiremos convencionalmente –e, evidentemente, sem perda
de generalidade– que o campo de fóton se encontra no ponto xn . Há então três tipos de
distribuições que devem ser somadas no lado esquerdo da Eq. (7.160):
: ψ ( xi ) Λ a ( x n ; xi ; x j ; · · · ) ψ ( x j ) A a ( x n ) : . (7.166)
: ψ( xi )Π ac ( xn ; x j ; · · · ) Dcb
F
( x j − xi ) γ b ψ ( xi ) A a ( x n ) : . (7.167)
3) Aquelas em que um dos campos fermiônicos –quer ψ, quer ψ, e os dois casos devem
ser levados em conta– se encontra no ponto xn , enquanto que o outro em um ponto
diferente. Nesse tipo de distribuições aparece a auto-energia do férmion:
: ψ ( x n ) γ a S F ( x n − xi ) Σ ( xi ; x j ; · · · ) ψ ( x j ) A a ( x n ) :
+ : ψ ( xi ) Σ ( xi ; x j ; · · · ) S F ( x j − x n ) γ a ψ ( x n ) A a ( x n ) : . (7.168)
A expressão entre os parênteses do lado esquerdo da Eq. (7.160) é então constituída pela
soma sobre todos os i, j ∈ In−1 com i ̸= j das distribuições anteriores –sem o operador de
campo de radiação–. Porém, quando a derivação agir nas distribuições do tipo da Eq.(7.167),
como ela é feita em relação à variável xn , apenas o tensor de polarização do vácuo será
afetado. Assim, se assumirmos que ele já foi normalizado de forma a ser transversal ao
momento do fóton (como já mostramos possível), tal termo se anula. Note-se que essa
206 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
anulação nada tem a ver com que o gauge do plano nulo esteja ou não sendo usado: A
F na Eq. (7.167) pode conter termos de gauge ou não; como ela não tem ao
distribuição Dcb
ponto xn por argumento, sua forma explícita é completamente irrelevante nessa discussão.
Donde esta identidade-Cg se tornará a identidade de Ward-Takahashi que envolve à função
de vértice e a auto-energia do férmion. A Eq. (7.160) é, no caso em questão, e já levando em
conta a simetria em relação às variáveis xi , x j com i, j ∈ In−1 :
∑ ∂ xn a : ψ ( xi ) Λ a ( x n ; xi ; x j ; · · · ) ψ ( x j ) : + : ψ ( x n ) γ a S F ( x n − xi ) Σ ( xi ; x j ; · · · ) ψ ( x j ) :
i,j∈ In−1
i̸= j
+ ψ ( xi ) Σ ( xi ; x j ; · · · ) S ( x j − x n ) γ ψ ( x n )
: F a
:
= ∑ : ψ( xi ) C0 + C1 / ∂ xi + C2 / ∂ x j + Cn / ∂ xn δ ψ ( x j ) : . (7.169)
i,j∈ In−1
i̸= j
Vejamos com detalhes o lado direito dessa equação. Como tratamos com a derivada da
distribuição delta de Dirac, é conveniente estudar sua ação sobre uma função de teste f ,
que assumimos –e bem que não poderia ser de outra forma, pois a teoria causal tem tal
propriedade como axioma– invariante sob translações. Temos então que:
Z
∑ ∂ x i δ ψ ( x j ) : f ( x 1 − x n ; · · · ; x n −1 − x n ) d 4 x 1 · · · d 4 x n
: ψ ( xi ) /
i ∈ In−1
em que, para obter o segundo termo da segunda linha, usamos a equação de Dirac satisfeita
pelo operador de campo ψ quando a derivada age sobre ele. Adicionalmente, o primeiro
termo da segunda linha pode ser simplificado usando da invariância sob translações:
Por estes motivos, e como a soma estendida a i, j ∈ In−1 com i ̸= j que aparece no lado direito
da Eq. (7.169) pode ser escrito como a soma sobre i, j ∈ In−1 menos a soma sobre i, j ∈ In−1
com i = j, ter-se-á que o lado direito da equação mencionada é, no sentido distribucional,
igual a:
∑ : ψ( xi ) C0′ + C /
∂ xn δ ψ ( x j ) : , (7.171)
i,j∈ In−1
i̸= j
em que C0′ inclui todos os termos de massa como os da Eq. (7.170). Finalmente, como o
lado esquerdo da Eq. (7.169) é multiplicado por uma campo de radiação na distribuição de
transição, ele deve ser ímpar diante da conjugação de carga. Na Eq. (7.169) esta propriedade
é satisfeita pelo termo com constante C, mas não o é pelo termo com constante C0′ ; é preciso
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 207
então que seja C0′ = 0. Desta forma, a Eq. (7.171) pode ser escrita como:
∑ ∂ xn a : ψ( xi )Cδγ a ψ( x j ) :
, (7.172)
i,j∈ In−1
i̸= j
que tem a forma de um termo de normalização e pode, portanto, ser absorvida por uma
normalização da função de vértice na Eq. (7.169). Se além disto levamos em conta as Eqs.
(7.158) para simplificar o lado esquerdo da Eq. (7.169), concluímos que a seguinte identidade
pode sempre ser satisfeita:
h
∑ : ψ ( xi ) ∂ xn a Λ a ( x n ; xi ; x j ; · · · )
i,j∈ In−1
i̸= j
i
+ iδ( xi − xn )Σ( xi ; x j ; · · · ) − iδ( x j − xn )Σ( xi ; x j ; · · · ) ψ( x j ) : = 0 . (7.173)
Aplicando essa identidade distribucional a uma função de teste, então avaliando os elemen-
tos de matriz do operador obtido entre pacotes de onda do campo de Dirac, observamos
que, como estes últimos são arbitrários (dentro das óbvias restrições), é necessário que a
identidade seja satisfeita na forma: ∀i, j ∈ In−1 , i ̸= j:
∂ xn a Λ a ( x1 − x n ; x2 − x n ; · · · )
+ iδ( x1 − xn )Σ( x1 − x2 ; · · · ) − iδ( x2 − xn )Σ( x1 − x2 ; · · · ) = 0 . (7.175)
∑ p ja Λ̂ a ( p1 ; p2 ; · · · ; pn−1 )
j∈ In−1
h i
+ (2π )−2 Σb (− p2 − · · · − pn−1 ; p3 ; · · · ; pn−1 ) − Σ
b ( p 1 ; p 3 ; · · · ; p n −1 ) = 0 . (7.177)
208 Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica
Como a ordem singular da função de vértice é ω− = 0 [vide a Tabela 7.1], ela pode ser
normalizada segundo:
Λ̃ a ( p1 ; p2 ) = Λ̂ a ( p1 ; p2 ) + Cγ a , (7.179)
Σ
e ( p) = Σ
b ( p) + C0 + C1 /
p . (7.180)
7 Em linguagem convencional, diria-se que a QED é uma teoria «sem anomalias», porém o leitor concordará
em que, caso existissem anomalias, não haveria certamente motivo para dizer que a teoria é de gauge, como fica
implícito pela definição da teoria de gauge que oferecemos no Cap. 6.
Capítulo 7. Eletrodinâmica quântica fermiônica 209
Se, além do mais, avaliamos o operador assim obtido entre estados de impulso definido p e
q, obter-se-á, após a escrituração das diversas distribuições em função de suas transformadas
de Fourier e posterior integração nas variáveis x1 , x2 e x3 –desconsideramos fatores de 2π
por simplicidade–:
Z h
u( p) d4 k1 d4 k2 d4 k3 ĝ0 (k1 ) ĝ0 (k2 ) ĝ0 (k3 ) Λ̂ a ( p − ϵk1 ; −q − ϵk2 )
i
+ γ a SbF (q + ϵ(k1 + k2 ))Σ
b (q + ϵk2 ) + Σ
b ( p − ϵk1 )SbF ( p − ϵ(k1 + k2 ))γ a u(q)
× Âext
a ( p − q − ϵ ( k 1 + k 2 + k 3 )) . (7.185)
em que temos usado a Eq. (7.184) e tomado o limite adiabático ϵ → 0. Quanto à contribuição
dos termos contendo à auto-energia, nota-se que, devido à relação entre as constantes C0 e C1
mostrada na Eq. (7.125), uma re-normalização compatível com a condição de normalização
relativa à massa física é dada por:
Σ
e ( p) = Σ p − m)
b ( p) + C1 (/ . (7.187)
Usando as equações de Dirac satisfeitas por u( p) e u(q) para simplificar essa expressão, e
tomando o limite adiabático trivial em k3 , o que permite a integração nessa variável:
2ϵp(k1 + k2 )
Z
− C1 u( p) d4 k1 d4 k2 ĝ0 (k1 ) ĝ0 (k2 ) a ( p − q) + O (ϵ)
γ a u(q) Âext
2ϵp(k1 + k2 ) − i0+
= −(2π )4 C1 u( p)γ a u(q) Âext
a ( p − q) . (7.189)
Epílogo
211
212 Capítulo 8. Epílogo
campo vetorial sem massa, justificando cada passo dado, o apresentado permite modifica-
ções, exempli gratia, para a quantização invariante de gauge do campo vetorial massivo, do
campo tensorial, e outras possibilidades a serem exploradas.
Em nosso estudo da QED (Cap. 7), vimos que no processo de espalhamento de Møller
a liberdade de normalização permite cancelar o termo que surge no propagador do fóton
no processo de divisão. Contudo, isso não é suficiente, pois ainda permanecem os termos
de gauge que provêm da distribuição de comutação do campo, os quais não podem ser
eliminados por normalização. Mostramos de forma explícita que eles, sem embargo, não
contribuem para os elementos de matriz do operador de espalhamento como consequência
dos campos de Dirac serem físicos (satisfazerem à condição de camada de massa). Dessarte,
confirmamos mediante este exemplo o que havíamos adiantado anteriormente: Embora a
condição de covariância de Lorentz não possa ser exigida na normalização quando a distri-
buição causal não possua essa propriedade, no caso do campo vetorial sem massa os termos
não covariantes não contribuem aos elementos de matriz do operador de espalhamento no
subespaço físico devido à invariância de gauge quântica. Ainda nos mantendo no uso da
distribuição de comutação obtida sob a condição de gauge do plano nulo, estudamos a po-
larização do vácuo. A forma do tensor que a representa, é claro, independe de qual seja
a distribuição de comutação, mas não o propagador completo do fóton, o qual, o verifica-
mos, mantém a mesma estrutura tensorial que o propagador no caso livre: A polarização do
vácuo modifica tanto a parte covariante como os termos de gauge da mesma forma, e não
leva ao aparecimento de nenhum termo adicional. Este resultado só pode ser considerado
equivalente à formulação covariante uma vez que a conservação da corrente elétrica seja
considerada; em uma palavra, é novamente a invariância de gauge quântica a que estabelece
a equivalência física dos diversos resultados.
Nosso estudo da auto-energia do férmion foi substancialmente simplificado pelo uso dos
resultados do Cap. 6, considerando apenas a parte covariante da distribuição de comutação
do campo eletromagnético. O resultado foi, como também o foi o tensor de polarização
do vácuo, o mesmo que se obtém na dinâmica instantânea. A mesma simplificação foi
considerada em nosso estudo do problema da normalizabilidade da QED no plano nulo:
Estudamos a normalizabilidade do operador de espalhamento físico, isto é, a de aqueles
termos cujos elementos de matriz no subespaço físico não se anulam. Obtivemos que ele
é normalizável, e ainda concluímos, em base a nossos resultados prévios, que ele pode ser
normalizado de forma a ser invariante de Lorentz. Verificamos que nenhum termo de auto-
interação pode ser gerado em ordens superiores nessa teoria: Para os férmions, devido a que
a ordem singular das distribuições que lhes dariam origem é sempre negativa; para os fótons,
embora seria possível uma auto-interação do tipo : A4 : , a mesma é proibida pela invariância
de gauge quântica. Mostramos, para mais, que as identidades-Cg da QED se equivalem
com as identidades de Ward-Takahashi e que elas podem sempre ser satisfeitas por uma
escolha conveniente dos termos de normalização das diversas distribuições. Finalmente,
provamos que por virtude da identidade de Ward-Takahashi que relaciona a função de
vértice com a auto-energia do férmion, a normalização dessas duas distribuições se vincula
216 Capítulo 8. Epílogo
de tal forma que o valor físico da carga elétrica não muda se elas se modificam; logo o
problema de divergência infra-vermelha na camada de massa na primeira derivada da
distribuição de auto-energia pode ser evitado, sem consequências físicas, escolhendo um
ponto de normalização diferente.
Pelos resultados assim referidos, acreditamos que a presente tese proporciona um firme
primeiro passo para o estabelecimento da QFT perturbativa no plano nulo sobre sólidas bases,
pois mostra a inexistência de problemas que são, então, só aparentes em outras formulações.
Estas últimas, por outro lado, possuem a virtude da simplicidade, e, por isso mesmo,
continuam sendo os melhores caminhos para a obtenção de resultados fenomenológicos. A
TPC no plano nulo, finalizamos, lhes dá o suporte teórico necessário.
Perspectivas. É claro que muito trabalho deve ainda ser feito em relação à TPC no plano
nulo. A obtenção de resultados como a razão giromagnética do elétron, que consta como
uma das previsões mais importantes da QED, deve ser reproduzida. Igualmente, a técnica do
grupo de renormalização, como introduzido por Stückelberg e Petermann e desenvolvido por
Bogoliubov e Shirkov, precisa ser detalhadamente estudada e implementada no formalismo.
A dita técnica, junto com o cálculo das correções radiativas da QCD, permitirão estabelecer
firmemente a liberdade assintótica dessa teoria.
No âmbito mais teórico, ainda é preciso aprofundar o estudo da normalizabilidade dos
diversos modelos. Assim, o motivo da não existência das convoluções de quase-assíntotas
no eixo x − deve ser esclarecido, e suas consequências, estudadas. Por outro lado, como
mencionamos no estudo da auto-energia do elétron na QED, existem regras de soma que
podem modificar o valor da ordem singular de uma dada distribuição. Consideramos um
problema em aberto, embora pareça difícil, reconhecer de forma geral quando uma de tais
regras de soma aparecerá, ou ainda se elas são mais comuns na dinâmica da frente de luz
do que na instantânea, pois as consequências de tais aparecimentos podem ser importantes.
Nossas fórmulas para a ordem singular e a normalizabilidade dos modelos estudados não
as levam em consideração.
Por outro lado, na construção da teoria invariante de gauge quântica impusemos a
hipótese simplificadora de que o operador de carga de gauge seja quadrático nos operadores
de emissão e absorção. Uma formulação completa requer, evidentemente, examinar as
consequências de relaxar semelhante restrição.
Finalmente, o estudo da SQED e da QCD no plano nulo está em progresso, assim como
a construção geral das variáveis dinâmicas locais em interação [210, 100]. Esse último
tópico, em particular, abre as portas a uma variedade de possíveis direções de estudo, por
exemplo, à aplicação do método causal para o cálculo perturbativo finito de fatores de forma
hadrônicos [213] e ao estudo dos operadores de criação hadrônicos em interação. Também, os
campos em interação podem ser definidos como as variáveis dinâmicas locais cujo primeiro
termo da série perturbativa é igual ao correspondente operador de campo quantizado livre,
estabelecendo um vínculo direto com a teoria de Källén para a QFT perturbativa na descrição
de Heisenberg [82], e relacionando, também, o operador de espalhamento da TPC com o
Capítulo 8. Epílogo 217
de Källén-Yang-Feldman [211, 212]. Além disso, se espera obter equações para as funções
de Green dos campos em interação (análogas às de Schwinger-Dyson), por meio das quais
se estudaria estados ligados, como o átomo de hidrogênio e os hádrons. Finalmente, a
possibilidade de estabelecer outros resultados, como fórmulas de redução ou a decomposição
espectral de Källén-Lehmann, deve também ser estudada.
Apêndice A
ξ ′ = ξ + {ξ; F } , (A.5)
1 Naquela época, é mister dizê-lo, a formulação hamiltoniana era imprescindível para a transição da teoria
clássica para a quântica –assim o apontou Dirac explicitamente–; na atualidade tal restrição não rege mais, e
é perfeitamente possível formular a teoria ondulatória desde a abordagem lagrangiana ou ainda diretamente
desde as equações do movimento dos campos.
218
Apêndice A. Definição algébrica das formas dinâmicas 219
x ′µ = x µ + aµ + b ν x ν
µ
, (A.6)
1
F = − Pµ aµ + Mµν bµν ; Mµν = − Mνµ . (A.7)
2
Dessas equações, a identidade de Jacobi expressa na Eq. (A.4) leva a estabelecer que a
diferença entre a aplicação das transformações em uma ordem e em outra é igual a:
ξ ∗∗ − ξ ′′ = {ξ; { F1 ; F2 }} . (A.10)
De sorte que o comutador das pequenas variações da variável dinâmica se relaciona com
o colchete de Poisson dos geradores das transformações correspondentes. Assim é que
poder-se-á estabelecer a álgebra de colchetes de Poisson entre os geradores P e M das
transformações de Poincaré, uma vez que seja conhecida a ação deles nas coordenadas.
Inicialmente se observa que, segundo as Eqs. (A.5), (A.6) e (A.7):
1
aµ + bµν xν = − aρ { x µ ; Pρ } + bρσ { x µ ; Mρσ } , (A.11)
2
cuja solução é:
µ µ µ
{ x µ ; Pρ } = −δρ , { x µ ; Mρσ } = δρ xσ − δσ xρ . (A.12)
1 1
F1 = − Pµ aµ + Mµν bµν , F2 = − Pρ a′ρ + Mρσ b′ρσ ,
2 2
220 Apêndice A. Definição algébrica das formas dinâmicas
cujo comutador é:
1 1 1
{ F1 ; F2 } = aµ aρ { Pµ ; Pρ } − aµ b′ρσ { Pµ ; Mρσ } − a′ρ bµν { Mµν ; Pρ } + bµν b′ρσ { Mµν ; Mρσ } .
2 2 4
(A.13)
x ∗∗τ = x τ + aτ + a′τ + bτη a′η + b′τλ + bτλ + bτη b′ηλ xλ ,
do qual obtém-se:
x ∗∗τ − x ′′τ = bτη a′η − b′τη aη + bτη b′ηλ − b′ η bηλ xλ
τ
. (A.14)
Como o ditam as Eqs. (A.10) e (A.13), o lado direito dessa equação deverá igualarse a:
1 1
aµ aρ x τ ; { Pµ ; Pρ } − aµ b′ρσ x τ ; { Pµ ; Mρσ } − a′ρ bµν x τ ; { Mµν ; Pρ }
2 2
1 µν ′ρσ τ
+ b b x ; { Mµν ; Mρσ } . (A.15)
4
E dessa igualdade, por meio da Eq. (A.12), obtém-se a álgebra de colchetes de Poisson das
quantidades fundamentais, que não é outra senão a dos geradores das transformações de
Poincaré:
Neste ponto, Dirac introduziu a noção das formas dinâmicas: Elas são as soluções para as
relações algébricas recém escritas. Para entender o que isto quer dizer, lembremos que nem
todas as transformações do grupo de simetrias do espaço-tempo levam à evolução dinâmica
das superfícies isocrônicas; na teoria newtoniana, por exemplo, em que o grupo de simetrias
é o grupo de Galilei, uma translação espacial ou uma rotação não mudam a superfície de
tempo constante, apenas a transformam em si mesma, são «transformações cinemáticas» e
a superfície isocrônica é estável em relação a elas. O mesmo ocorre na teoria relativística:
Alguns dos geradores o serão de transformações cinemáticas e constituirão o «grupo de
estabilidade» das superfícies isocrônicas, mapeando essas em si mesmas; os outros geradores
mudam a superfície, a fazem evoluir, e assim devem ser identificados com as transformações
dinâmicas; a esses geradores Dirac dá o nome de «hamiltonianos».
simplificada em uma determinada forma dinâmica, pois os hamiltonianos podem ser mais
simples ou mais complicados segundo a escolha da superfície isocrônica. Se tais grupos
de estabilidade não são isomórficos, então as formas dinâmicas que lhes correspondem
não poderão ser deformadas uma na outra por uma simples transformação de Poincaré;
em tais situações, que são precisamente as que definem formas dinâmicas «diferentes», a
equivalência física da descrição não se deriva do axioma da relatividade: Esse é o problema
da equivalência.
Para relacionar as superfícies isocrônicas com seu grupo de estabilidade, se as descreverá
por meio de uma função Σ = Σ( x ) cujo valor é constante nas superfícies; ele é a expressão
do «tempo» da forma dinâmica. Os geradores do grupo de estabilidade serão aqueles que
satisfaçam:
{ Σ ( x ); F } = 0 , (A.18)
pois assim sendo, como o dita a Eq. (A.5), a transformação gerada por F deixa invariante
o valor do tempo Σ. Os geradores que não satisfazem à Eq. (A.18), por outro lado, serão
os geradores da dinâmica. O colchete da Eq. (A.18) pode ser calculado uma vez que seja
conhecida a função Σ( x ) pelo uso das Eqs. (A.12).
Forma instantânea. Nessa forma dinâmica, as superfícies isocrônicas são aquelas em que a
coordenada x0 se mantém constante:
Σ( x ) = x0 . (A.19)
Σ( x ) = x µ xµ . (A.21)
Calculando a ação dos geradores das transformações de Poincaré sobre ela, encontra-se que:
x µ xµ ; Pρ = −2xρ , x µ xµ ; Mρσ = 0 . (A.22)
222 Apêndice A. Definição algébrica das formas dinâmicas
2 2 2 2
Σ( x ) = x0 − x1 − x2 = x µ xµ + x3 . (A.25)
Com esses resultados pode-se estabelecer que o grupo de estabilidade dessa forma dinâmica
é aquele correspondente aos geradores P1 , P2 , M12 e M03 , e portanto tem dimensão quatro.
Os seis hamiltonianos dessa forma dinâmica serão os geradores P0 , P3 , M01 , M02 , M13 e M23 .
Isso esgota as possibilidades, pois não há outro subgrupo transitivo do grupo de Poincaré
para ser o grupo de estabilidade de uma outra forma dinâmica [8, 9, 10, 11, 7]. Os resultados
obtidos resumem-se na Tab. A.1. Como pode-se ver, a forma dinâmica da frente de luz ocupa
um lugar destacado por ser aquela com o maior grupo de estabilidade e, consequentemente,
com menor número de hamiltonianos.
Tabela A.1: Resumo das cinco formas dinâmicas da teoria relativística. D( GΣ ): Dimensão do grupo
de estabilidade GΣ ; N. de H’s: Número de hamiltonianos.
Pµ = pµ , Mµν = qµ pν − qν pµ , (A.29)
Para escrever expressões para os geradores sobre a superfície inicial em cada forma dinâmica,
introduzir-se-á as equações que as determinam como equações subsidiárias do tipo:
A≈0 . (A.31)
Mas as condições subsidiárias devem permanecer tais frente a qualquer mudança do sistema
de coordenadas, o que implica que devam também ser condições subsidiárias:
{ A; Pρ } ≈ 0 , { A; Mρσ } ≈ 0 . (A.32)
224 Apêndice A. Definição algébrica das formas dinâmicas
Para eliminar as variáveis cujo significado é perdido ao fixar a superfície inicial, usar-se-á
a condição de camada de massa, p2 − m2 = 0, mas essa introduzir-se-á nos geradores do
grupo de Poincaré usando de coeficientes indeterminados (multiplicadores de Lagrange); as
Eqs. (A.29) serão substituídas por:
com λµν = −λνµ . Tais coeficientes serão determinados pela imposição da Eq. (A.32).
q0 ≈ 0 . (A.34)
1 qr
λ0 = − , λr = 0 , λr0 = − , λrs = 0 , (A.37)
2p0 2p0
qµ qµ ≈ κ 2 = constante . (A.39)
Essa constante em geral será não nula; porém, ela pode também ser nula, caso em que o
hiperbolóide degenera no cone de luz. As condições da Eq. (A.32) são, assim:
qµ qµ ; Pρ = −2qρ − 4λρ q · p ≈ 0 , (A.40)
µ
q qµ ; Mρσ = −4λµν q · p ≈ 0 . (A.41)
qρ
λρ = − , λµν = 0 , (A.42)
2q · p
Apêndice A. Definição algébrica das formas dinâmicas 225
q µ ( p2 − m2 )
Pµ = pµ − , Mµν = qµ pν − qν pµ . (A.43)
2q · p
q+ ; Pρ = −δρ+ − 2λρ p− ≈ 0 ,
(A.45)
+
q ; Mρσ = δρ+ qσ − δσ+ qρ − 2λρσ p− ≈ 0
. (A.46)
1 qi
λ+ = − , λi = 0 = λ− , λ+− = 0 , λi+ = − , λij = 0 , λi− = 0 . (A.47)
2p− 2p−
p2⊥ + m2 p2 + m2
P+ = , P− = p− , Pi = pi , Mi+ = qi ⊥ − q + pi , (A.48)
2p− 2p−
M+− = q+ p− , M12 = q1 p2 − q2 p1 , Mi− = qi p− . (A.49)
q0,1,2
λ0,1,2 = − , λ3 = 0 ,
2 q µ p µ + q3 p3
q0,1,2 q3
λ01 = λ02 = λ12 = 0 , λ(0,1,2)3 = − .
2 q µ p µ + q3 p3
226 Apêndice A. Definição algébrica das formas dinâmicas
q0,1,2 ( p2 − m2 )
P0,1,2 = p0,1,2 − , P3 = p3 , (A.53)
2 q µ p µ + q3 p3
M01 = q0 p1 − q1 p0 , M02 = q0 p2 − q2 p0 , M12 = q1 p2 − q2 p1 ,
q0,1,2 q3 ( p2 − m2 )
M(0,1,2)3 = q0,1,2 p3 − q3 p0,1,2 − . (A.54)
2 q µ p µ + q3 p3
(A.57)
q0 q3
λ0 = − , λ 1,2 = 0 , λ 3 = ,
2 ( q0 p0 − q3 p3 ) 2 ( q0 p0 − q3 p3 )
q0 q1,2 q3 q1,2
λ0(1,2) = , λ 03 = 0 , λ 12 = 0 , λ ( 1,2 ) 3 = .
2 ( q0 p0 − q3 p3 ) 2 ( q0 p0 − q3 p3 )
q0 ( p2 − m2 ) q3 ( p2 − m2 )
P0 = p0 − 0 0 3 3
, P1,2 = p1,2 , P3 = p3 + , (A.58)
2 (q p − q p ) 2 ( q0 p0 − q3 p3 )
q0 q1,2 ( p2 − m2 )
M0(1,2) = q0 p1,2 − q1,2 p0 + , M03 = q0 p3 − q3 p0 ,
2 ( q0 p0 − q3 p3 )
q3 q1,2 ( p2 − m2 )
M12 = q1 p2 − q2 p1 , M(1,2)3 = q1,2 p3 − q3 p1,2 + . (A.59)
2 ( q0 p0 − q3 p3 )
1
γ ± : = √ γ0 ± γ3 ,
(B.3)
2
228
Apêndice C
supp ( Rn ) ⊆ Γ+
n . (C.1)
Acontece, no entanto, que, de forma geral, a obtenção da distribuição retardada pela aplicação
da fórmula de divisão da distribuição causal requer da integração de uma determinada
distribuição ao longo do eixo real –ou uma parte dele–, sobre o qual se localizam pólos para
determinados intervalos de variação do momento. Esta operação se simplifica notóriamente
se os tais pólos são deslocados do eixo real, o que se equivale com a complexificação do
momento. Se bem existem na literatura teoremas que garantem a existência da continuação
analítica das distribuições com suporte num cone –vide, por exemplo, as Refs. [179, 197]–,
é mister examinar sua validez no caso particular da dinâmica do plano nulo, visto que a
condição usual da causalidade há sido modificada. Isto se reflete, em primeiríssimo lugar,
no fato de que o conjunto Γ+ −
n (0) não é um cone, devido à presença nele do eixo x .
λx ≥ 0 . (C.4)
Em particular, o caso com λx = 0 se corresponde com a Eq. (C.2), existente por hipótese.
Como supp(r ) ⊆ Γ+
n−1 (0), é claro que λ ∈ Γn−1 (0), pois de outra forma seria λx < 0.
+
229
230 Apêndice C. Causalidade e valores limite de funções analíticas
f+ . Cumpre-se que:
Proposição C.1: Sejam x, λ ∈ V
∀ x ∈ Vf+ : λx ≥ 0 ⇔ λ ∈ R0+ e− . (C.5)
f+ , se satisfazem:
Prova: Como os dois vetores pertencem a V
λ2 ≥ 0 , λ+ ≥ 0 ; x2 ≥ 0 , x+ ≥ 0 . (C.6)
Portanto:
p 2
λx = λ+ x + + λ− x − + λα x α ≥
p
λ+ x + − λ− x − ≥0 , (C.8)
λx = λ+ x + ≥ 0 ⇔ λ+ ≥ 0 . (C.9)
λx = λ− x − . (C.10)
Em conclusão, o caso (III) impede a possibilidade de ser λ+ > 0, de forma que, por força,
será λ+ = 0. Logo o caso (I) não ocorrerá, o caso (IV) se satisfaz sempre, e o caso (II) impõe a
restrição de ser λ+ ≥ 0. Em suma, λ ∈ R0+ e− . ■
Desta sorte, a distribuição retardada numérica no espaço dos momentos pode ser conti-
×(n−1)
nuada analíticamente ao tubo R4(n−1) + i R0+ e− . Esta região é muito mais restrita
que na dinâmica instantânea, em que a parte complexa do momento é livre de variar em
todo o cone de luz futuro.
Apêndice C. Causalidade e valores limite de funções analíticas 231
Em particular, podemos utilizar λ = εη, com ε ∈ R0+ e η o vetor definido na Eq. (2.186).
Então a distribuição retardada obtém-se como o valor limite da função analítica da variável
p− , regular na região descrita:
Esta última é mais fácil de calcular que a distribuição retardada, pois o quadrado do mo-
mento, que por regra geral determina a existência de pólos ou sua inexistência no integrando
que dá lugar à dita distribuição, torna-se complexo: p̃2 = p2 + 2iεp− , de forma que os pólos
não se encontram mais no eixo real. O fato de que, quando p− = 0, seja p̃2 ∈ R, não é pro-
blema, pois em tal cenário p̃2 = p2 < 0 é do tipo-espaço, região em que não há pólos, como
se pode ver de forma geral mediante o estudo das relações de dispersão [100].
Referências
[1] P.A.M. Dirac. Forms of Relativistic Dynamics. Rev. Mod. Phys. 21, 3: 392-399 (1949).
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