Limites À Eficácia Da Lei No Espaço

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Direito Internacional Privado I

Clive J. Fache
Licenciatura em Direito – 4º ano.

1. Limites à eficácia da lei no espaço

As normas jurídicas, como normas de conduta que são, vêem o sem âmbito de eficácia
limitado pelos factores tempo e espaço: elas não podem ter a pretensão de regular factos que
se passaram antes da sua entrada em vigor nem os factos que se passaram ou passam sem
qualquer “contacto” com o Estado que as edita; elas não podem, por outras palavras, chamar
a si a orientação daquelas condutas dos indivíduos que se passaram para além da sua possível
esfera de influência.

A base do direito intemporal, constrói-se, por um lado, sobre o princípio da não


retroactividade das leis, e por outro lado, sobre o respeito das situações jurídicas preexistentes
criadas sob o império da lei antiga, assim o ponto de partida radical do Direito Internacional
Privado assenta, por um lado, sobre a regra da não transactividade das leis e, por outro lado,
sobre o princípio do reconhecimento das situações jurídicas constituídas no âmbito de
eficácia de uma lei estrangeira.

O direito de conflitos de leis assume como critério básico o da “localização” dos factos:
a“localização” no tempo para o direito intemporal e a “localização” no espaço para o Direito
Internacional Privado. Essa a razão por que se afirma que estes dois critério são direitos “de
conexão”: a conexão dos factos com os sistemas jurídicos é que constitui o dado determinante
básico da aplicabilidade dos mesmos sistemas jurídicos. Por isso, pode-se enunciar como
regra básica de todo o direito de conflitos a seguinte: a quaisquer actos aplicam-se as leis – e
só se aplicam as leis – que com eles se achem, em contacto.

No Direito Internacional Privado nem sequer basta o recurso a um princípio paralelo ao da


teoria do facto passado e o recurso ao princípio do reconhecimento dos direitos adquiridos.
Pelo que respeita às situações absolutamente internacionais, importa ainda, num segundo
momento fazer intervir uma regra de conflitos capaz de dirimir o concurso entre as leis em
contacto com os factos.

2. Noção de Direito Internacional Privado

O Direito Internacional Privado tem por objecto as situações da vida privada internacional,
isto é, os factos susceptíveis de relevância jurídico-privada que têm contacto com mais de um
sistema jurídico ou que se processam adentro do âmbito de eficácia de uma lei estrangeira.
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Clive J. Fache
Licenciatura em Direito – 4º ano.

Direito Internacional Privado: internacional, porque é um direito que regula questões


internacionais; privado, porque estas questões são relações entre particulares.

O Direito Internacional Privado tem como objecto as relações jurídico-privadas


internacionais, os factos susceptíveis de relevância jurídico-privada. A Prof. Magalhães
Collaço diz que o Direito Internacional Privado “é o direito que regula as relações jurídico-
privadas atravessadas por fronteiras”.

Para se estar perante um caso de Direito Internacional Privado é necessário que haja:

a) Uma pluralidade de ordenamentos;


b) Uma diversidade de relações vitais que derivem das diferentes ordens públicas.

No Direito Internacional Privado tem-se normas formais, não dão a solução; são normas de
remissão para outros ordenamentos, ou para o português, só indicam o ordenamento jurídico
em referência que irá ser chamado para resolver a questão.

O Direito Internacional Privado tem uma justiça formal, porque de acordo ou em resultado
das respectivas normas de conflito, não nos dá soluções, aponta meramente os ordenamentos
jurídicos que são chamados a resolver a questão.

3. Modos possíveis de regular as relações do comércio privado internacional

O processo mais geral de solução dos problemas de Direito Internacional Privado é o


processo próprio do Direito de Conflitos: em vez de resolver directamente tais problemas
mediante disposições legislativas próprias (de carácter material), trata-se de designar a lei
interna por aplicação da qual eles hão-de ser resolvidos. As disposições de Direito de
Conflitos são, pois, constituídas por regras de carácter formal, regras de “remissão” ou “de
reconhecimento”, e não por regras de regulamentação material.

O Direito Internacional Privado representa afinal uma disciplina jurídica especial dos factos e
relações que o legislador entende serem estranhos ao seu ordenamento: as normas materiais
estrangeiras chamadas através das regras de conflito seriam recebidas na ordem jurídica do
Estado do foro, ficando a constituir aí, ao lado das normas materiais deste Estado, o direito
especial das relações jurídico-privadas externas. O legislador, em vez de criar directamente
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todo um sistema particular de direito material, recorre a normas indirectas para chegar à
mesma solução.

4. Como Solucionar casos de Direito Internacional Privado?

Com direito interno material comum: o facto de solucionar problemas de Direito


Internacional Privado recorrendo às normas materiais não é uma solução viável por levar a
soluções antagónicas e criar incerteza jurídica. Há quem entenda que levaria a um “fórum
shopping”.

A aplicabilidade do direito português material interno poderia conduzir a soluções


desvantajosas ou injustas embora fossem escolhidas pelas partes; por essas razões não foi esta
a solução escolhida pelo legislador.

Com direito uniforme adoptado por convenções internacionais: em determinadas matérias e


por via da consagração de convenções internacionais alguns ordenamentos jurídicos
encontram uma solução uniforme. No entanto nem todos os Estados aderem a convenções e
existem algumas lacunas, além de certas matérias estarem desactualizadas.

O legislador português entendeu que a melhor maneira de solucionar casos de Direito


Internacional Privado seria o método de regulamentação material através do qual procura-se
encontrar a regulamentação para a questão privada internacional, ou seja, saber qual o
ordenamento jurídico material com a qual ou quais esta mesma questão é conexa para dela se
extraírem as normas aplicáveis ao caso concreto – normas de conflito.

5. Primeira noção de regras de conflitos

O processo normalmente adoptado pelo Direito Internacional Privado para regular as relações
de comércio privado internacional é o processo próprio do direito de conflitos: em vez de
regular directa ou materialmente a relação, adopta o processo indirecto consistente em
determinar a lei ou leis que a hão-de reger. A determinação desta lei, decorre por vezes logo
directa e indirectamente daquela regra ou princípio básico do direito de conflitos segundo o
qual a quaisquer factos só deve aplicar-se uma lei que com eles esteja em contacto.

6. A “lex fori” como lei do processo


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O processo seguido perante os tribunais portugueses é regulado pela lei portuguesa, ainda que
ao fundo da causa se aplique uma lei estrangeira. Vale dizer que as leis relativas ao
formalismo ou rito processual não levantam um problema de conflitos de leis, visto não
afectarem os direitos substanciais das partes. São, pois, de aplicação imediata e de aplicação
territorial.

Há, que distinguir duas espécies de leis relativas às provas: as leis de direito probatório
formal, que se referem propriamente à actividade do juiz, dos peritos ou das partes no
decurso do processo, e as leis de direito probatório material, a esta segunda categoria
pertencem as leis que decidem sobre a admissibilidade deste ou daquele meio de prova, sobre
o ónus da prova e sobre as presunções legais. Aos pontos ou questões do direito regulados
por estes tipos de normas já não se aplica a lex fori enquanto lex fori, mas a lei ou leis
competentes para regular o fundo da causa: a lei reguladora da forma dos actos, a lei
reguladora da relação jurídica em litígio ou a lei que regula os actos ou factos aos quais vai
ligada a presunção legal.

7. O Direito Internacional Privado e o “direito dos estrangeiros”

Entende-se por “direitos dos estrangeiros” o conjunto de regras materiais que reservam para
os estrangeiros um tratamento diferente daquele que o direito local confere aos nacionais. De
resto, como regra, os estrangeiros são equiparados aos nacionais quanto ao gozo de direitos
privados (art. 14º/1 CC). Só assim não será quando exista disposição em contrário, ou quando
se verifique o pressuposto a que se refere o art. 14º/2 CC.

São portanto, dois os princípios que regem a matéria de capacidade de gozo de direitos dos
estrangeiros em Portugal, no domínio do direito privado: o princípio da equiparação e o
princípio da reciprocidade. Por força do primeiro princípio, os estrangeiros, pelo facto de o
serem, não vêem a sua capacidade de gozo de direitos restringida em Portugal. Diz o art.
14º/1 CC que eles são equiparados aos nacionais.

O princípio da reciprocidade, por seu turno, só funciona quando o estrangeiro pretende


exercer em Portugal um direito que o respectivo Estado nacional reconhece aos seus súbitos,
ou a estes e aos súbitos de outros Estados com os quais mantenha relações particulares, mas
recusa aos portugueses em igualdade de circunstâncias, só porque estes são estrangeiros ou
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porque são portugueses. Tem que haver, pois, um tratamento discriminatório dos português
fundado na simples circunstância de estes serem portugueses ou serem estrangeiros.

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