5 Forças de Porter Case

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UM ESTUDO DE CASO SOBRE A INFLUNCIA DAS CINCO FORAS COMPETITIVAS NO MERCADO DE SORVETERIAS A BALCO COM FABRICAO PRPRIA EM SALVADOR
Cleide Silva de Jesus1 Hirlane Silva da Cruz1

Carolina Spnola2

Resumo
O presente artigo tem o intuito de entender quais so os fatores que influenciam a competitividade das sorveterias a balco com fabricao prpria, em Salvador. A anlise desenvolvida atravs da compreenso do mercado de sorvetes, entendendo o negcio de sorveterias a balco com fabricao prpria, identificando os fatores que influenciam a competitividade dentro da cadeia soteropolitana. Atravs da abordagem terica proposta pelo Modelo das Cinco Foras Competitivas de Michael E. Porter, possvel analisar os impactos que cada fora implica dentro do negcio, destacando qual destas foras tem maior influncia na formao da competitividade do negcio e, dentro deste cenrio qual a empresa mais competitiva. O estudo contribui para o entendimento da competio no mercado soteropolitano de sorveterias a balco com fabricao prpria e oferece subsdios importantes para a compreenso de como as empresas podem obter melhor desempenho neste mercado.

INTRODUO

Muitas informaes indicam que o sorvete foi criado pelos chineses, h cerca de trs mil anos atrs. Naquela poca, o sorvete comeou a ser feito atravs de uma mistura
Alunas do 4 ano do curso de Administrao de Empresas. Orientadora Prof Dr Carolina Spnola (UNIFACS), doutora em Anlise Geogrfica Regional pela Universidade de Barcelona.
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de frutas, mel e neve (GIORDANI, 2006). Com o passar do tempo, sofreu diversas modificaes at chegar consistncia e o sabor conhecidos atualmente. Antes um alimento exclusivo entre os nobres, hoje consumido em todo o mundo, sendo acessvel a diversas camadas sociais. Foi nos Estados Unidos que o sorvete comeou a ser feito de formas diferentes, criando-se novas receitas. Hoje, o pas ocupa o primeiro lugar no ranking da produo mundial de sorvetes (ABIS, 2007). Segundo Giordani (2006), o sorvete chegou ao conhecimento dos brasileiros por volta de 1835, trazido por um navio americano que desembarcou no Rio de Janeiro. A carga foi comprada por dois comerciantes brasileiros que revenderam a sobremesa, na poca conhecida como gelado. Este alimento j enfrentou diversas dificuldades de armazenamento em sua histria e j foi smbolo da juventude. Hoje, necessita enfrentar outros desafios, como a sazonalidade apresentada no mercado brasileiro de sorvete, a baixa profissionalizao do setor, a carncia de tecnicidade e a desunio de seus membros. O mercado de sorvetes composto por: indstrias fabricantes que distribuem seus produtos para estabelecimentos varejistas; sorveterias a balco com fabricao prpria; sorveterias a balco sem fabricao prpria e sorveterias que trabalham com sistemas de franquia. O objeto de estudo deste artigo so as sorveterias a balco com fabricao prpria atuantes em Salvador/Bahia, e seu objetivo geral analisar os fatores que influenciam a competitividade destas no mercado soteropolitano. Antes de identificar os fatores influenciadores da competitividade das sorveterias a balco com fabricao prpria, procura-se compreender o mercado de sorvetes e estudar a competitividade das empresas atuantes, com base no modelo das cinco foras competitivas proposto por Michael E. Porter. A partir desse estudo, identifica-se qual a fora mais presente na formao da competitividade deste negcio. Vale acrescentar que esse estudo foi desenvolvido com base em pesquisas bibliogrficas e pesquisa em campo. Esse artigo est estruturado em seis tpicos: Introduo; A sazonalidade do mercado brasileiro; Indstria do sorvete; Metodologia; Estudo de caso: anlise das cinco foras competitivas dentro do mercado de sorveterias a balco com fabricao prpria em Salvador/Ba e Consideraes finais.

A SAZONALIDADE DO MERCADO BRASILEIRO

A sazonalidade do mercado brasileiro geralmente vem acompanhada de prconcepes equivocadas referentes composio do produto e quais seus efeitos para sade humana. Apesar do Brasil, especificamente Salvador, possuir um clima tropical, que favorece o consumo deste alimento, diferentemente de pases mais distantes dos trpicos, o ato de consumir sorvete ainda est muito ligado ao vero e refrescncia. Isto faz com que as vendas deste produto estejam concentradas no perodo de setembro a fevereiro (ABIS, 2006). Os impactos desta cultura acabam desencadeando um consumo mdio anual abaixo dos ndices apresentados por pases que no possuem caractersticas to tropicais quanto o Brasil. Apesar de ocupar a 12 posio no ranking de consumo mundial, importante que o Brasil busque sadas criativas que viabilizem uma reao a estes ndices. Conforme observado na figura 01, a China ocupa a 13 posio no ranking mundial de consumo de sorvete, porm ocupa o 2 lugar no ranking dos pases que mais produzem sorvete, inclusive ultrapassando pases como o Canad, terceiro maior consumidor de sorvetes mundial, concluindo que a taxa de exportao do produto chins deve ser muito elevada.

CONSUMO DE SORVETE - MUNDIAL


30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 Estados Unidos Nova Zelandia Dinamarca Alemanha Austrlia BRASIL Sucia Canad Frana China Suia Itlia 0,00 Finlandia Nova Zelandia Estados Unidos Canad Austrlia Suia Sucia Finlandia Dinamarca Itlia Frana Alemanha BRASIL China

Fonte: Elaborao Prpria, com base em dados da ABIS (Associao Brasileira das Indstrias de Sorvetes), 24/05/2007.

Figura 01 Representao Grfica do Consumo Mundial

Para tentar modificar esta percepo, o setor tem investido na formao de parcerias com nutricionistas e na criao de novas tecnologias de fabricao com o objetivo de vincular a imagem do produto a um alimento saudvel, nutritivo, que pode ser consumido durante todo o ano e incentivando o consumo de sorvetes a base de frutas, livres de gordura trans.3, a base de soja, diet, light, alm da verso cremosa, que fonte vitaminas A, D, E e K e algumas do complexo B, todas indispensveis para o perfeito funcionamento do organismo. (PASOLD, 2007).

INDSTRIA DO SORVETE

Embora o Brasil possua oito mil fabricantes de sorvetes, apenas trs respondem por cerca de 80% do mercado (ABIA, 2006). Ampliando a anlise para o ambiente nacional, possvel observar que o setor oferece vantagens. Isto refletido na evoluo continuada do faturamento e das perspectivas de atendimento de uma demanda ainda inferior s potencialidades do produto, haja vista o aumento significativo das vendas de sorvetes no Brasil durante a alta temporada (setembro a fevereiro). Somente neste perodo, consumida cerca de 70% da produo total (ABIS, 2006), ou seja, se o setor conseguir encontrar solues adequadas, objetivando aumentar o consumo durante o perodo de baixa estao, possvel atingir ndices mais expressivos com relao a produo e consumo anual. A indstria brasileira de sorvete est concentrada nas regies sudeste e sul, que respondem juntas por cerca de 80% da produo de sorvetes. S o estado de So Paulo produz aproximadamente 30% do total do Brasil (ABIS, 2003). A regio Nordeste produz apenas 13% deste total. Desprender a imagem do sorvete a simplesmente uma guloseima que refresca aliado a profissionalizao do segmento a nvel nacional , sem dvida, o maior desafio dos empresrios e atores da rea.
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Segundo a Duas Rodas (2006), um dos maiores fornecedores de ingredientes para sorvetes do Brasil, gorduras transgnicas so tipos especficos de gorduras formados por um processo qumico natural ou industrial. Esto presentes principalmente em produtos manufaturados e so utilizadas para melhorar a consistncia dos alimentos e para prolongar a vida til de alguns produtos.

Diagrama da Cadeia Produtiva

Conforme possvel observar na Figura 02, os fornecedores de matrias-primas e equipamentos fornecem seus produtos a fabricantes de porte industrial, como a Nestl, Kibon, Feitio Gelado (BA) e Doce Doura (BA), que para fazer chegar seus produtos ao consumidor final, utilizam os distribuidores para fornecimento aos varejistas ou repassam diretamente seus produtos para grandes varejistas como Wall-Mart, que distribuem diretamente ao consumidor final. Os fornecedores de insumos e equipamentos tambm podero abastecer diretamente as sorveterias. Estas sorveterias podem trabalhar em sistemas de franquias ou no. Os empresrios no franqueados podem optar pela produo industrial, pela venda a balco sem fabricao prpria ou pela venda a balco com fabricao prpria. O estudo em questo est concentrado na anlise deste mercado especfico: sorveterias que so responsveis pela fabricao e venda do produto ao consumidor final. Todo esse ambiente influenciado por normas e leis, e o papel da ANVISA (Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria) fundamental para o desenvolvimento de um negcio saudvel, pois a mesma influencia o setor atravs da divulgao da legislao e das resolues que regem o segmento. As instituies credenciadoras, como a ABIS (Associao Brasileira das Indstrias de Sorvetes), tambm influenciam no desenvolvimento do setor, bem como as instituies de crdito que podem colaborar na viabilizao do projeto e os rgos de governo.

Figura 02 Diagrama da Cadeia Produtiva do Sorvete


Fonte: Elaborao Prpria, 2007.

METODOLOGIA

A competitividade tem sido um dos assuntos mais preocupantes no ambiente organizacional porque, em muitos casos, est associada sobrevivncia das empresas no mercado. A definio de competitividade engloba diversos conceitos. Sharples e Milham (1990) apud Jank (1996) citados por Giordano (1999, p. 88) definiram a competitividade como:
Competitividade a habilidade de exportar bens e servios dentro do tempo, local e forma desejados pelos consumidores, a preos to bons ou melhores que outros potenciais fornecedores, sendo estes preos suficientes para ao menos remunerar o custo de oportunidade dos recursos empregados.

Para o autor Michael E. Porter (2006), a competitividade de uma empresa est relacionada com a indstria em que atua, e o nvel de competitividade em um mercado determinado por cinco foras. Entrantes potenciais: Esta fora refere-se s empresas entrantes no mercado que realizam investimentos considerveis com o objetivo de estabilizar-se neste e atingir um market share elevado, ameaando o desempenho das empresas existentes. A fora desses novos entrantes depende da possvel retaliao que sofrero dos concorrentes e das barreiras de entrada presentes no mercado, que incluem economias de escala, diferenciao do produto, necessidades de capital, custos de mudana, acesso aos canais de distribuio, desvantagem de custos independente de escala e poltica governamental. Rivalidade entre os concorrentes: A concorrncia entre indstrias de diversos segmentos tem aumentado em um ritmo acelerado nos ltimos anos. Segundo Porter (2004), existem alguns fatores estruturais que podem estimular a rivalidade no mercado, como por exemplo: a existncia de concorrentes numerosos ou bem equilibrados, um mercado que apresenta um baixo crescimento, custos fixos de armazenamento altos, ausncia de diferenciao, capacidade aumentada em grandes incrementos, concorrentes divergentes, existncia de grandes interesses estratgicos e de barreiras de sadas elevadas.

Presso dos produtos substitutos: Segundo Porter (2004), produtos substitutos so aqueles similares aos fabricados por uma determinada indstria que possam desempenhar a mesma funo. Os fabricantes desses produtos podem oferecer uma melhor alternativa de preo-desempenho aos consumidores e, consequentemente, podem afetar a rentabilidade de uma indstria. Poder de negociao dos compradores: Na relao entre vendedor e cliente, o comprador pode obter um maior poder de barganha na negociao com seu fornecedor. O autor Michael Porter (2004) cita alguns fatores que do vantagens ao comprador na comercializao de um produto, como por exemplo, quando seu percentual de compras expressivo nas vendas de uma empresa, quando o valor dos produtos adquiridos significativo na determinao dos seus custos totais e quando o produto adquirido padronizado, existindo no mercado uma grande quantidade de fornecedores. Poder de negociao dos fornecedores: Os fornecedores da Indstria so agentes importantes para a formao da competitividade de um negcio. De acordo com Porter (2004), seu poder de negociao pode afetar os preos que os seus clientes praticam no mercado e tambm comprometer a sua rentabilidade. Dentre as situaes que do maior poder de barganha ao fornecedor, destaca-se: quando este no compete com muitas empresas e ou com produtos substitutos, quando a compra de seu cliente no representativa nas suas vendas totais e quando o seu produto de extrema importncia para o processo de fabricao e ou para a qualidade do produto do comprador. Para o autor, a anlise da intensidade dessas foras no mercado importante para a elaborao de estratgias competitivas, visando obteno de um posicionamento da empresa no mercado favorvel a essas foras.

ESTUDO DE CASO: Anlise das cinco foras competitivas dentro do mercado de sorveterias a balco com fabricao prpria em Salvador/Ba.

Nesse artigo, estudamos 04(quatro) sorveterias a balco com fabricao prpria atuantes na regio de Salvador/Bahia, e pretendemos identificar a dinmica da competitividade das sorveterias estudadas com base no modelo proposto pelo autor Michael E. Porter. As empresas pesquisadas sero identificadas pelas letras A, B, C e D. A Sorveteria A est h dcadas no mercado e foi um dos responsveis pela introduo do modelo de negcio(sorveteria a balco) em Salvador. J foi o point da cidade, onde se reuniam expoentes da sociedade baiana. Anos depois de sua fundao e aps a sua venda ao atual proprietrio, abriu mais uma unidade no centro da cidade (BOUZAS, 2007). A empresa conseguiu criar uma marca de prestgio no mercado soteropolitano, divulgada principalmente pelo marketing chamado boca a boca, vinculado a qualidade e variedade dos produtos ofertados. A Sorveteria B considerada tambm como uma das mais tradicionais sorveterias de Salvador. Tambm h dcadas no mercado soteropolitano. Trata-se de uma empresa bem referenciada no mercado que conseguiu solidificar a sua marca, beneficiando-se tambm do marketing boca a boca devido a qualidade e diversidade dos sabores ofertados, destacando-se nos sabores de frutas naturais. A Sorveteria C entrou no mercado mais recentemente e, segundo descreve em entrevista, a atual proprietria e gerente geral Mnica Amoedo (2007), surgiu de uma antiga sociedade entre o atual proprietrio e outros scios. Fundada h aproximadamente duas dcadas, com o emblema qualidade faz a diferena, atualmente a empresa possui duas filiais que atendem a pblicos bem distintos, um mais sensvel a preo, e outro mais exigente por uma qualidade diferenciada em um bairro de classe mdia e alta. A Sorveteria D est localizada no Campo Grande h 16 anos. Recentemente, a atual proprietria, preocupada com o aspecto visual do estabelecimento, investiu em uma reforma, que estimulasse o apetite do consumidor e que influenciasse na deciso de compra, formatando um ambiente mais agradvel e bem estruturado para recepo dos clientes. 1. Ameaa de Entrada No ramo das sorveterias que no operam com o sistema de franquia, no foi identificada nenhuma nova entrante no mercado soteropolitano. As principais barreiras de entrada identificadas para os novos entrantes neste segmento foram:

Diferenciao do Produto: Na anlise das sorveterias mais competitivas de Salvador, observou-se que a diferenciao do produto um fator extremamente presente no desenvolvimento do seu negcio. As Sorveterias A e B foram as primeiras empresas instaladas na cidade, atuando no mercado h mais de setenta anos. Com isso, conseguiram fortalecer suas marcas no mercado, conseqncia da qualidade do produto ofertado e do marketing denominado de boca a boca feito por seus clientes. A marca das empresas um forte influenciador no momento do consumidor decidir deslocar-se at uma sorveteria para um tomar um sorvete.
A Fundao Localizao Conhecimento do mercado Critrio de diferenciao 1930 Centro da Cidade Conhecimento tcito Qualidade, preo, marca, variedade e inovao de sabores. Produtos ofertados Sorvete (normal), shakes e taas B 1931 Ribeira Conhecimento tcito Qualidade, marca, variedade dos sabores de frutas. Sorvete (normal e diet), picol, shakes Variedade de sabores Quadro 01 Sntese das empresas visitadas (Salvador/BA)
Fonte: Elaborao prpria com base em dados coletados em entrevistas pessoais, maio / 2007.

C 1981 Campo Grande Conhecimento tcito Qualidade, estrutura, Visual Sorvete (normal e diet), picol, shakes 30 sabores

D 1988 Pituba e Brotas Conhecimento tcito Qualidade

Sorvete (normal e diet), picol (normal e diet), shakes e taas. 45 sabores

35 sabores

58 sabores

Alm disso, outras formas de diferenciao utilizadas pelas empresas atuantes neste mercado tm sido por meio da oferta diversificada de sabores de sorvetes, da criao de novos produtos como shakes e taas e da diversificao do portflio de produtos ofertados como tortas e doces. A Sorveteria B oferece aos seus clientes 58 tipos de sabores de sorvete, concentrando na oferta de sabores de frutas, enquanto a Sorveteria A concentra-se na oferta de sabores cremosos, tendo em seu cardpio 35 opes de sabores de sorvete. Dentre as sorveterias estudas, a sorveteria A a que mais

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se destaca na oferta de produtos considerados como substitutos do sorvete, a exemplo de doces e tortas. Outro fator importante e que gera diferencial entre as empresas a sua localizao. Estar situada em um local estratgico, com um alto fluxo de pessoas tambm um fator determinante da competitividade das empresas atuantes neste segmento. A diferenciao do produto configura-se como uma barreira aos novos entrantes, pois as empresas que pretendem atuar neste mercado tero que efetuar fortes investimentos para superar os vnculos que as empresas j existentes constituram com seus clientes, principalmente no que se refere a constituio da marca. E de acordo com Porter (2004, p. 9) investimentos na formao de uma marca so particularmente arriscados, pois no tm nenhum valor residual se a tentativa de entrada falhar. Desvantagens de Custo Independentes de Escala: Dentre as desvantagens de custo abordadas por Porter, observou-se que as sorveterias a balco, fabricantes do seu prprio produto, que j atuam no mercado h bastante tempo, a exemplo das sorveterias analisadas, conseguiram adquirir uma experincia considervel durante esse perodo de atuao, e com isso conseguem fabricar seus sorvetes com custos unitrios menores e com uma qualidade diferenciada. A reduo desses custos provm do aprimoramento das tcnicas de fabricao adquirido pelos proprietrios e sorveteiros. Foi observado em pesquisa de campo que as pessoas responsveis pela fabricao do sorvete dessas empresas, os chamados sorveteiros, j trabalham com as sorveterias h bastante tempo. Segundo Jaciene Alves (2007), encarregada da administrao de uma das sorveterias analisadas, os funcionrios responsveis pela produo dos seus sorvetes j trabalham na empresa h mais de trinta anos. O custo da matria-prima bastante significativo no custo total do sorvete. Como a fabricao de sorvetes uma integrao complexa que envolve vrios processos industriais, como o aquecimento de massas, transporte de fluidos viscosos e agitao e congelamento com incorporao de ar, nessas inmeras etapas de processamento h muitas possibilidades de desperdcio (SORVETERIA E CONFEITARIA BRASILEIRA, 2006). A experincia adquirida na fabricao de sorvete, com o

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aprimoramento dos mtodos, muito significativa no processo de reduo de perdas e, conseqentemente, dos custos unitrios do sorvete. Alm desta desvantagem de custo, outra dificuldade a ser enfrentada pelos novos entrantes ser a baixa oferta de mo de obra qualificada para a produo de sorvetes. 2. Intensidade de Rivalidade entre os Concorrentes Na anlise da intensidade de rivalidade entre as sorveterias atuantes em Salvador, foram identificados alguns fatores que, conforme citado por Porter, so determinantes para a existncia de uma rivalidade forte no mercado. Crescimento lento: O crescimento do setor tem ocorrido de forma lenta, sendo os fatores como a sazonalidade do produto e a percepo do consumidor de que o sorvete apenas uma sobremesa refrescante para ser tomada em dias quentes os causadores principais deste baixo crescimento. Conforme apresentado no quadro 02, a regio Nordeste, apesar de possuir um clima mais quente, uma regio com baixo consumo de sorvete em comparao a mdia nacional. Barreiras de Sadas Elevadas: Dentre as barreiras de sada citadas por Porter, observou-se neste mercado a existncia de vnculos emocionais ligados a histria dos empreendimentos. Como pode ser observado no quadro 01, as sorveterias mais competitivas da cidade j atuam no mercado h muitos anos e sua fundao est ligada com a histria de vida de seus proprietrios e a momentos marcantes no histrico da cidade. A Sorveteria A, por exemplo, uma das primeiras instaladas na cidade, durante muito tempo foi o centro cultural da comunidade baiana, palco de encontro entre artistas, escritores e poetas, alm de ser o lugar mais freqentado pela alta sociedade soteropolitana daquele perodo. Essa herana cultural continua sendo disseminada at hoje, e tudo isso acaba contribuindo para a divulgao da marca e para a captao de novos clientes. Inclusive alguns entrevistados pontuaram que j pensaram em desistir do negcio em momentos de dificuldades financeiras, e o que impulsionou a permanncia das atividades foi justamente este vnculo emocional dos proprietrios com a empresa. Apesar do mercado apresentar um crescimento lento e uma barreira de sada emocional elevada, que de acordo com Porter, so fatores impulsionadores de uma competitividade acirrada no mercado, isso no ocorre com as sorveterias atuantes em Salvador. Essas empresas desconhecem o desempenho dos seus concorrentes e esto mais focadas em outros fatores referentes ao desenvolvimento do seu negcio, como a

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oferta de um produto de qualidade e seu processo de fabricao. No existem entre os concorrentes, guerras de preo, marketing agressivo e no so utilizadas tticas agressivas para aumento da participao de mercado. 3. Presso dos Produtos Substitutos No segmento de sorveterias que fabricam seu prprio sorvete foram identificados como produtos substitutos aqueles sorvetes fabricados por grandes indstrias do mesmo ramo, como a Kibon e a Nestl. No momento da deciso do cliente em tomar um sorvete, ele pode optar por, ao invs de deslocar-se at uma sorveteria, ir at um estabelecimento varejista e comprar um sorvete embalado para tomar em sua residncia. Segundo a ABIS (2003, p. 8) individualmente, a Kibon, controlada pela anglo-holandesa Unilever, lder na produo de sorvetes no Pas e representa cerca de 55% de participao de mercado. Outros produtos considerados similares ao sorvete que tm influenciado nas vendas das sorveterias so os doces e produtos de confeitaria. Como pode ser observado no quadro 02, existe uma diferena significativa entre a aquisio alimentar per capita anual de doces e produtos de confeitaria em relao ao sorvete. Isso ocorre tanto em nvel nacional quanto na regio Nordeste. Isto tem afetado a rentabilidade das sorveterias de Salvador, aliado ao problema da sazonalidade. Algumas empresas, como as sorveterias A, C e D, incluram esses produtos em seu portflio como estratgia para superar esta barreira e diferenciar-se no mercado. Atualmente, eles representam cerca de 10% do seu faturamento mensal. Produtos Doces e produtos de confeitaria Sorvete Brasil 2,108 0,524 1,561 0,141 Nordeste

Quadro 02 Aquisio alimentar per capita anual, comparativo Brasil X Nordeste, 2002-2003 Fonte: Elaborao prpria com base em dados colhidos no IBGE.

4. Poder de Negociao dos Compradores As sorveterias objeto deste estudo atendem a clientes de diversas classes sociais, no focando em um pblico especfico. Na pesquisa de campo realizada com algumas sorveterias mais competitivas da cidade, observou-se que seus clientes no exercem poder de barganha na compra dos produtos, por adquirirem quantidades relativamente

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pequenas. Porm, como o cliente pode escolher entre os concorrentes disponveis e, principalmente, pela fora dos produtos considerados como substitutos do sorvete, h certa presso para que as sorveterias produzam cada vez mais, pela oferta de um produto de qualidade a um preo competitivo neste mercado. Segundo entrevistas concedidas pelos proprietrios de algumas sorveterias, como o cliente est cada vez mais exigente, a qualidade dos produtos tem sido fator chave para o sucesso do seu negcio e, alm disso, deve haver certa cautela na determinao dos preos dos produtos. Apesar disso, o poder de negociao dos compradores uma fora pouco atuante neste mercado. 5. Poder de Negociao dos Fornecedores Observou-se que as sorveterias contam com fornecedores atuantes em diversas regies do pas. Segundo avaliao de Weisberg (2006, p. 3) sobre fornecimento de ingredientes para o setor o mercado fornecedor conta com tecnologia de ponta, muita criatividade, preos compatveis ao mercado mundial e bons profissionais de marketing. As indstrias fornecedoras de equipamentos esto concentradas em grande parte nas regies sul e sudeste do pas, sendo que o estado de So Paulo abriga uma maior quantidade destas empresas. A Bahia ainda um estado carente destes fornecedores. Alm disso, na Bahia, h tambm uma carncia de indstrias fabricantes de produtos especficos para a fabricao de sorvetes como os emulsificantes, saborizantes e estabilizantes. Conforme relato dos donos de sorveteria, na regio existem apenas representantes e revendedores destes produtos, sendo que as indstrias tambm esto concentradas nas regies sul e sudeste do pas. Os fabricantes Duas Rodas (situado em Santa Catarina) e Kerry Brasil (situado em So Paulo) foram citados como os principais fornecedores dessas empresas, por serem uma referncia na fabricao de produtos com qualidade. As demais matrias-primas como frutas, acares, casquinhas e alguns produtos lcteos so adquiridos em empresas varejistas atuantes em Salvador. Apesar das especificidades que o setor apresenta quanto ao fornecimento de alguns produtos, as sorveterias tm opo de escolha entre diversos fornecedores mais adequados a sua necessidade de negcio (ex: qualidade e/ou menor preo). Mesmo que empresas como a Kerry e a Duas Rodas sejam referncia em qualidade, segundo relato dos proprietrios de sorveterias, se os preos praticados por estas empresas aumentarem

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significativamente elas podem livremente mudar de fornecedor, pois o leque de opes bastante diversificado, sem que isso cause algum dano para a competitividade do seu negcio. Podemos concluir que no existe nenhuma relao de poder dos fornecedores para com estas sorveterias ou vice-versa. Sendo assim, esta fora no configura-se como um fator definitivo na competitividades das sorveterias.

CONSIDERAES FINAIS

Para anlise da competitividade da cadeia de sorvetes de Salvador, foram utilizadas como metodologia as cinco foras competitivas identificadas por Michael E. Porter, observando-se como estas foras externas tm afetado a atuao das empresas que competem neste mercado. Foi observado que a intensidade de rivalidade entre os concorrentes, o poder de negociao dos fornecedores e o poder de negociao dos compradores, apesar de apresentarem algumas caractersticas que influenciam a dinmica do setor, no configuram-se como foras muito importantes neste mercado. Referindo-se fora novos entrantes, vimos que o mercado apresenta barreiras de entradas significativas para as empresas que pretendem atuar neste segmento, como a diferenciao do produto e desvantagem de custos independentes de escala . A diferenciao do produto o que mais afeta a competitividade das sorveterias a balco com fabricao prpria. A marca fortalecida no mercado, conquistada pelo tempo de atuao da empresa e aliada qualidade do produto, alm de outros fatores, uma barreira que dificulta a entrada e permanncia de novas empresas. Os entrantes que ambicionam ser competitivos neste mercado tero que fazer fortes investimentos para superar esta barreira. Logo, esta fora no configura-se como sendo de grande importncia. Sendo assim, possvel concluir que a fora que mais afeta a competitividade das sorveterias de Salvador so os produtos considerados como substitutos. Vimos que as sorveterias a balco com fabricao prpria competem com dois tipos de substitutos, os sorvetes embalados, a exemplo dos fabricados pela Kibon Sorvane e pela Nestl, e com os doces e produtos de confeitaria. Foi observado que o consumo destes produtos

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relativamente maior do que o consumo do produto ofertado pelas empresas pesquisadas, diminuindo com isso a sua rentabilidade. Como estratgia para superar a fora dos substitutos, algumas sorveterias incluram estes produtos no seu portflio. Consideramos a Sorveteria A como sendo a mais competitiva do mercado. A oferta de produtos substitutos do sorvete, como doces e tortas, uma estratgia utilizada para superar a fora deste produto no mercado e diferenciar-se dos concorrentes. Alguns desses produtos tm tanta representatividade na mente do consumidor, que identifica a marca da empresa. Alm disso, a empresa mais preparada para a ameaa de novos entrantes por possuir todas as caractersticas identificadas como forma de diferenciao. A empresa tem duas unidades no centro da cidade, em locais tursticos e que possuem um alto fluxo de pessoas durante todos os perodos do ano. Foi a primeira sorveteria de Salvador e vivenciou perodos importantes da histria da cidade, conseguindo com isso fortalecer sua marca no mercado, alm de oferecer produtos de alta qualidade. Possui uma ampla variedade de sabores de sorvetes e, apesar da sorveteria B ofertar uma maior quantidade de sabores, a sorveteria A direciona sua produo a oferta de sabores cremosos, que, conforme relatado pela maioria das empresas entrevistadas, inclusive por representantes de algumas indstrias, so os mais procurados pelo consumidor soteropolitano. Logo, a concentrao neste tipo de produto torna-se um diferencial atrativo. Sendo assim, analisando as sorveterias a balco com fabricao prpria que no se beneficiam do sistema de franquias, a sorveteria A configura-se como a mais competitiva, haja vista que a empresa que melhor consegue posicionar-se neste mercado, diferenciando-se dos seus concorrentes, estando mais bem preparada para enfrentar a fora dos produtos substitutos.

REFERNCIAS

ALVES, Jaciene. Jaciene Alves: depoimento [abr. 2007]. Entrevistadores: H. Cruz e C. de Jesus. Salvador: Sorveteria da Ribeira, 2007. 1 CD(ca. 80 min). Remasterizado em digital.

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