José Albasini
José Albasini
José Albasini
Biografia
José Francisco Albasini, o Bandana, era neto do português (de nascimento)
João Albasini [[1]] (1812-1888), que em Moçambique ficaria conhecido
como Juwawa. Este, por sua vez, era filho de Antonio Albasini, um italiano
que havia emigrado para Portugal, onde se casou com Maria da Purificação
e com quem teve o filho em 1812. Mais tarde, João acompanharia o pai em
viagem a Moçambique, onde permaneceria mesmo depois de seu pai,
Antonio, ter retornado à Europa, em 1834.
Seu pai, Francisco João, casou-se com Kocuene Mpfumo, cujo nome
português era Joaquina Correia de Oliveira, neta do régulo do clã Mpfumo
(na Maxaquene, zona alta da que viria a ser a cidade de Lourenço
Marques) e sobrinha da rainha Sibe, de etnia ronga ou tsonga, tendo assim
um elevado estatuto social, além de propriedades.
O nome da mãe aparece às vezes como Kocuene Mpfumo ou Kássine e, às
vezes, com o nome português Joaquina Correia de Oliveira.
José Albasini tinha três irmãos conhecidos: Maria Isabel, António Paulino (o
mais novo) e João dos Santos Albasini.
Estudou na Escola Paroquial com o padre Simões.
Segundo o historiador brasileiro Zamparoni, José Albasini trabalhou como
caixeiro comercial e estabeleceu-se como despachante em Lourenço
Marques.
Entre 1906 e 1908, trabalhou com o irmão João na fundação do Grémio
Africano de Lourenço Marques.
Em 1920, quando João vai a Portugal, José assume a liderança da
comissão organizadora do Grémio, reescreve os seus estatutos e
finalmente faz aprová-los.
Uma nota publicada na secção landim em 1-12-1911, com o título “A Ku
Lelela” (Despedida), anuncia que o Bandana se despedia da família e dos
amigos para ir viver no Xai-Xai (ou Vila João Belo, capital do então distrito
de Gaza), sem prazo definido para a volta: a partir de então publica
regularmente artigos em língua ronga, com data e local (Xai-Xai). Consta
que ainda lá vivia, com sua esposa Mafindla Halari, em 1915.
Com a morte do irmão, em 1922, José assume a direção do Brado Africano,
na qual se mantém, com interrupções, até à morte.
Em 1935 José mostra sinais de tuberculose, doença que já tinha matado
seu irmão João dez anos antes e, aparentemente, também Jorge, um dos
seus três filhos (em 15 de abril de 1933). José atribui esta série de
infortúnios a “uma superstição nativa a meu respeito e da minha família”, a
qual promete revelar nas páginas do Notícias] Também sua filha morrera
pouco antes, mas não é certo se vítima de tuberculose.
Segundo Karel Pott, (João) Albasini era “neto da bondosa rainha da
Machaquene” por parte da mãe (O Brado Africano, 20 de agosto de 1932).
A história é de facto rodeada de mistério. Curioso como a biografista
Jeanne Panvenne, com certa razão, chama a atenção para o caráter
androcêntrico da genealogia sem, por outro lado, cuidar de saber o que
aconteceu ao pai Albasini. ----[1] Entre Narros e Mulungos, op. cit., p. 400.
Obras
À Procura de Saúde: crônicas de um doente/ In Search of Health: Cronicles
of a Sick Man.Texto a negrito Org. César Braga-Pinto. English translation:
Clelia Donovan. Maputo: Alcance Editores, 2016.
Temas e legado
Em contraste com o ilustrado, retórico, prolífico e extrovertido irmão, José
era discreto e pragmático, tendo assinado poucos dos seus artigos, muitos
deles escritos em língua ronga para a secção “landim” do jornal.
Além de leitor dos semanários republicanos portugueses Povo de
Aveiro, de Francisco Manuel Homem Christo, e O Mundo, de António
França Borges, José era um grande admirador de Camilo Castelo Branco.
[1]
Alguns críticos e historiadores referem-se muitas vezes a esse grupo de
jornalistas-escritores como “protonacionalistas”, seguindo a sugestão de
Mário Pinto de Andrade. [1]
Segundo Zamparoni, José Albasini é também o autor da série de textos
numerados sob o título “Cartas de um indígena”, publicados entre 1909 e
1911 e assinados com o pseudónimo Faftin, de Inhambane, onde, ainda
segundo o historiador, José Albasini exercia atividade profissional[1].
Nos seus textos em língua ronga, o Bandana assume uma postura
deliberadamente pedagógica: promove o aprendizado do português; critica
a igreja católica que, ao contrário da missão suíça, era frequentada
somente por homens e não ensinava o português; dá lições de economia,
comércio e agricultura; clama os conterrâneos a se organizarem
politicamente para melhor exigirem os seus direitos.
Admirador de Camilo Castelo Branco.
José raramente assinava os seus artigos em português, mas, desde o
número inaugural, passou a assinar vários textos na seção landim.
José Albasini é personagem do romance de João Paulo Borges Coelho O
olho de Herzog (2008)
Fontes
1. Braga-Pinto, César: "José Albasini e a saúde do corpus moçambicano",
Passagens para o Índico – Encontros Brasileiros com a Literatura
Moçambicana. Ed. Rita Chaves e Tânia Macedo. Maputo, Moçambique:
Ed. Marimbique, 2012. p. 95-112.
2. ____________."João Albasini e o olhar estrábico de O Africano."
Introduction to #4: João Albasini e as luzes de Nwandzenguele:
literatura e política em Moçambique 1908-1922. Ed. César Braga Pinto
and Fátima Mendonça. Lisbon and Maputo: Alcance Editores, 2014. p.
41-64
3. ____________. "José Francisco Albasini e a saúde do corpus
moçambicano." Introduction to #3: À Procura de Saúde: crônicas de um
doente/ In Search of Health: Cronicles of a Sick Man. Org. César Braga-
Pinto. English translation: Clelia Donovan. Maputo: Alcance Editores,
2016. p. 9-26.
4. Moreira, José. Os Assimilados, João Albasini e as Eleições, 1900-1922.
5. Penvenne, Jeanne . "João dos Santos Albasini (1876-1922): The
Contradictions of Politics and Identity in Colonial Mozambique," Journal
of African History, Vol. 37, No. 3 (1996): 417-464;
6. “ ____________. 'We are all Portuguese!' – Challenging the political
economy of assimilation, Lourenço Marques, 1870-1933", in Leroy Vail
(ed.), The Creation of Tribalism in Southern Africa. Berkeley, 1989. pp.
255-8;
7. Zamparoni, Valdemir .Entre narros e mulungos – colonialismo e
paisagem social em Lourenço Marques. c. 1890-1940. Tese de
Doutoramento em História Social. São Paulo: Universidade de São
Paulo, 1998;
8. ____________Imprensa Negra em Moçambique: a trajetória de O
AFRICANO (1908- 1920)". África - Revista do Centro de Estudos
Africanos. São Paulo: Centro de Estudos Africanos da Univ. de São
Paulo, v.1, n.11, pp. 68-82, 1988
Referências
1. ↑ César 1. "José Albasini e a saúde do corpus moçambicano." Passagens para o Índico –
Encontros Brasileiros com a Literatura Moçambicana. Ed. Rita Chaves e Tania Macêdo.
Maputo, Mozambique: Ed. Marimbique, 2012. p. 95-112.