Comunicação Não Violenta v2

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Comunicação

não-violenta em
Sala de aula
Introdução
Na sociedade em que vivemos, a violência é evidente. Ela pode interferir nos nossos
relacionamentos, pode ocorrer em nosso meio de trabalho, pode ser disseminada nas
redes sociais ou mesmo pode acabar causando divisões inexistentes. No entanto, nós realmente
precisamos conviver com ela?

Os criadores do método da Comunicação Não-Violenta afirmam que não. Para eles, a


forma violenta que muitas vezes afeta os relacionamentos humanos é apenas uma das
formas possíveis que existem para nos relacionarmos. E a forma não-violenta deve ser
uma decisão consciente, uma prática contínua, que tem métodos preestabelecidos.
A proposta deste e-book, portanto, é destrinchar os principais pontos da Comunicação
Não-Violenta, de forma que seja possível a sua aplicação em conjunto com as crianças no
contexto escolar.

Mas, afinal, o que


é comunicação
não-violenta?
A Comunicação Não-Violenta, comumente
abreviada para CNV, é um método
comunicativo desenvolvido pelo psicólogo
norte-americano Marshall Rosenberg. Ele
substitui nossos velhos padrões de defesa,
recuo ou ataque diante de julgamentos e
críticas. A partir de uma longa experiência
prática como mediador de conflitos, ele
chegou a quatro componentes básicos que
guiam a CNV: Observação, Sentimento,
Necessidade e Pedido.
Observação
As observações são isentas de qualquer tipo de julgamento e devem ser as mais precisas
possíveis. Ou seja: deve-se evitar generalizações estáticas, transformando algo momentâneo
em uma característica fixa. E como é isso na prática? Vamos a um exemplo: “Thiago é um aluno
problemático”, neste caso, deveria ser substituído por “Thiago às vezes tem um comportamento
agressivo e isso pode causar problemas”.

Sentimento
Precisamos falar como nos sentimos, e isso pode ser mais complicado do que parece. Na
verdade, nós não estamos acostumados a expressar nossos sentimentos de maneira clara por
diversos motivos. Seja por medo da exposição ou por qualquer outro.

Para entendermos melhor a afirmação acima, vamos a um exemplo prático:


Joãozinho diz que não quer participar da aula de Educação Física porque sente que é um mau
jogador. Mas qual é o sentimento nessa frase? “Mau jogador” certamente não é um sentimento.
O que ele sente, na verdade? Ele se sente triste? Ele se sente desapontado, frustrado, excluído?
Distinguir com clareza o que sentimos é essencial para a Comunicação Não-Violenta.

Necessidade
Devemos ter a consciência de que o que os outros fazem ou dizem pode ser um estímulo, mas
nunca a causa de nossos sentimentos. Os nossos sentimentos são resultado de como recebemos
as ações alheias.

Para isso, a CNV propõe que escutemos os nossos próprios sentimentos e necessidades ou
os sentimentos e necessidades dos outros. Quais são os desejos, expectativas, esperanças e
necessidades que não foram atendidos, mas a pessoa necessita que sejam?

A partir do momento em que as pessoas começam a identificar e conversar sobre o que de fato
precisam, de forma clara e desassociada de culpa e julgamento, é mais provável que comecem
a trabalhar em maneiras de solucionar problemas e atender suas necessidades.

Pedido
Após identificarmos uma necessidade, nós podemos realizar um pedido que enriqueça nossas
vidas. Um pedido não pode ser confundido com uma exigência. Por exemplo:
Quando dizemos “nós ficamos tristes porque você tira notas ruins na escola”, como seria possível
transformar essa necessidade em um pedido claro? Que tal “Nós reparamos que as suas notas
na escola não estão muito boas. Você poderia nos dizer se existe algum problema que está
afetando o seu desempenho escolar?”
Comunicação não-violenta x permissividade
Por mais que o uso da CNV nos leve a compreender os outros, é importante não confundi-la
com a permissividade. É importante intervirmos em situações de conflito ou de comportamento
perturbador. Em um ambiente escolar, com práticas como o bullying e, por vezes, até mesmo
onde agressões físicas ocorrem, a intervenção é ainda mais importante.

E é justamente durante a intervenção que a Comunicação Não-Violenta entrará em ação.


Vamos imaginar o cenário: João pegou a bola do Victor e não quer devolvê-la. Victor está
zangado e ameaça agredir o colega, ou mesmo já o agrediu, pois João não está devolvendo
o objeto.
Mesmo que o primeiro passo da CNV seja a observação, nesses casos mais extremos, a ação
necessária é a intervenção para evitar algo mais grave. Quando tiver certeza de que a situação
está controlada, pode-se entender quais são os sentimentos e necessidades presentes naquele
contexto. João se sentia excluído da brincadeira? Victor estava sendo agressivo durante a
brincadeira? Qual seria o motivo de sua agressividade?

Comunicação não-violenta para crianças


Quando pensamos em uma comunicação entre pessoas, pensamos em algo dinâmico e de fácil
compreensão. Mas sabemos que, na prática, ela pode ser desafiadora. Como, então, passar
algo que pode ser difícil até mesmo para adultos para uma criança?
Basta termos em mente que a CNV deve ser entendida como mais do que apenas um método
comunicativo. Ela é uma maneira de enxergar a vida e as relações entre humanos, por meio da
empatia e da compaixão. É aprender a olhar para dentro de si e para o outro com novos olhos.
Isso pode ser feito reforçando valores como:

Aprender a ouvir o outro


Isso pode ser trabalhado com atividades em duplas ou em grupos. Ao propor temas ou
assuntos de interesse dos pequenos (pode ser jogos eletrônicos, desenhos, brincadeiras), é
provável que eles queiram falar.
Dentro dessa dinâmica, o professor ou professora pode fazer a mediação e conceder a
palavra para a criança, uma de cada vez. Os que estão ouvindo não podem interromper
até que o outro tenha terminado. Nesse momento, é importante que todos demonstrem que
realmente ouviram.
Perceber como os rótulos são prejudiciais
Rótulos e julgamentos podem gerar diversas repercussões negativas, como a exclusão e o
bullying. Existe uma atividade desenvolvida por uma professora britânica que ilustra bem
esses malefícios para as crianças de uma forma criativa e simples.

Ela pegou duas maçãs idênticas e, antes de entrar em sala, sem que as crianças vissem,
bateu com uma delas levemente no chão. Dentro de sala, falou mal da que foi batida no
chão, elogiando a outra. Em seguida, pediu para os alunos fazerem o mesmo.
Ao final, cortou as maçãs ao meio e mostrou como a que foi hostilizada estava machucada
e apodrecida, enquanto a outra estava intacta. A metáfora foi: “é assim que o seu colega se
sente quando você zomba dele”.

Entender que todos temos necessidades e, por isso,


devemos respeitar as dos outros como se fossem
nossas.
Muitas vezes as crianças ainda não desenvolveram um senso de coletividade. Elas podem
pensar de forma individual. Para demonstrar que todos temos necessidades, existe uma
outra atividade simples que é bastante conhecida, mas pode ter um novo significado.
É a experiência onde você coloca um grão de feijão em um algodão umedecido. Para que
o broto cresça saudável, é necessário que ele receba água e luz do sol. No entanto, para
o propósito almejado, é importante que se coloque simultaneamente dois brotos, um em
cada copo ou garrafa de plástico, para que as crianças percebam a diferença.

Um deles será cuidado com as dosagens necessárias de luz solar e água, e o outro ficará
esquecido em um lugar escuro. Mostre que o broto que teve suas necessidades atendidas
cresceu forte e saudável, mas o outro não conseguiu prosperar.

Explique que, assim como os brotos, todos nós temos necessidades e que elas são essenciais
para o nosso desenvolvimento. Entender as nossas necessidades e a dos outros é importante
para todos.

Conclusão
A Comunicação Não-Violenta é, em essência, uma forma de nos conectarmos com os outros
e de os respeitarmos independente de quem sejam. Ensinar esse entendimento ainda na
infância certamente fará com que as crianças se relacionem melhor no presente e também que
carreguem essa compreensão para o futuro. Vamos começar desde já? =)
A Comunicação
não-violenta tem tudo a ver
com inteligência emocional.
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