A Ditadura Militar No Brasil Golpe Repressão e Tortura

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RMC Fregonezi. AA Priori. VIII CIH.

2467 - 2474

A DITADURA MILITAR NO BRASIL: GOLPE, REPRESSÃO E


TORTURA
Doi: 10.4025/8cih.pphuem.3897

Rute Maria Cham Fregonezi, UEM


Ângelo Priori, UEM

Resumo

Este artigo tem por objetivo expor o transcurso do Golpe Militar,


que ocorreu no Brasil no ano de 1964 e seguiu até 1985. Além de tratar a
respeito dos órgãos desenvolvidos pelo governo militar, como por exemplo,
a Doutrina de Segurança Nacional, o DOPS e o DOI-CODI, que levam a
repressão da população civil e, também, dos indivíduos subversivos, que
lutam contra o governo militar por não concordar com suas ideologias. E
também, da tortura que ocorreu nos porões da ditadura.

Palavras Chave:
Ditadura Militar.
Doutrina de Segurança
Nacional. Repressão.
Subversão. Tortura.
RMC Fregonezi. AA Priori. VIII CIH. 2467 - 2474

Introdução ao governo de João Goulart, porém, com


as mudanças propostas há uma
O golpe instituído pelos militares discordância de setores vinculados ao
em abril de 1964 (ou março como os pensamento conservador, que consideram
militares preferem) foi ocasionado por esses projetos uma abertura para a entrada
acontecimentos que já vinham se do comunismo no país.
desenvolvendo no passado. Como o
Então o Regime militar
discurso militar de que a sociedade
instaurado pelo golpe ocorreu com apoio
brasileira corria perigo, por conta de um
de civis, dando mais tarde o nome de
inimigo interno, as crises institucionais
Golpe Civil-Militar aos acontecimentos do
após o fim do Estado Novo e os
dia 1 de abril de 1964. Essa intervenção
movimentos comunistas que traziam um
dos militares no setor político, econômico
temor de instauração do mesmo no Brasil.
e social ocorreu, pois eles estavam
Após aplicar o regime, houve o período de
insatisfeitos com o governo, e assim como
consolidação de um Estado autoritário,
eles a sociedade clamava por mudanças.
nacionalista e desenvolvimentista, que
sempre temia a presença do comunismo. Quando o presidente Jânio
Quadros renuncia ao seu mandato, e o
A intervenção dos militares no
vice-presidente João Goulart que está na
setor político está presente em nossa
China comunista volta para o Brasil, os
história desde a Proclamação da
militares tentam impedir que este
República, deixando uma imagem de um
assumisse o mais alto cargo político, por
“brasileiro conformado, acomodado,
ser de esquerda e pelo desagrado deles
submisso, que sempre se procurou
com a situação do país naquele momento.
vender...” (MELLO, 1985, pg. 53). Em
contraposição a essa imagem, o povo É evidente que com sua política
brasileiro sempre lutou contra a opressão de esquerda, e suas claras intenções de
como fica evidente nas várias revoltas reforma agrária e reformas de base, Jango
populares ao longo de nossa jornada. provoca mais desagrado aos militares.
Neste momento, temos a instalação de um
É neste cenário político em que
Parlamentarismo no Brasil, em que o
esta pesquisa desenvolve-se, tendo por
presidente não governa de forma efetiva.
objetivo esclarecer o golpe militar, as
Ainda assim, há uma insatisfação da direita
“armas” desenvolvidas e utilizadas pela
conservadora que se intensifica com o
ditadura, o temor sempre constante de um
discurso de Jango em 13 de março de
inimigo interno e do comunismo, que
1964, gerando o estopim para os militares.
levam a repressão desse inimigo, muitas
Estes então se organizam, e o golpe ocorre
vezes por meio da tortura. As fontes
na madrugada de 1 de abril deste ano.
utilizadas nessa pesquisa são dos autores
Maria Helena Moreira Alves, Claudia Instrumentos da ditadura
Heynemann, Valdecir Mello, Maria José
de Resende e Luís Reznik. Esta pesquisa Com o início do governo militar,
faz parte de um projeto mais abrangente, estes necessitam de meios para tal, então
uma iniciação científica, que irá investigar desenvolvem mecanismos que facilitem o
“O IPM Zona Norte do Paraná”, que é controle da população. Como a Lei de
constituído por processos jurídicos a Segurança Nacional (LSN) que foi
respeito de ocorridos durante a ditadura, desenvolvida com o objetivo de manter a
com o intuito de denunciar e deter ordem e proteger o Estado contra a
militantes políticos e sindicais. subversão de leis. Sua elaboração vem de
antes da Ditadura Militar, que aqui foi
O Golpe estabelecida, mas é necessário ressaltar
que ao longo de nossa história, várias delas
É notório o forte apoio popular
foram estabelecidas, duas delas, durante o

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Regime Militar. A lei de segurança é por natureza,


também antidemocrática. Não há
Essas leis tinham por objetivo, quem possa retirar de uma lei de
complementar a Doutrina de Segurança segurança o caráter
Nacional (DSN), que foi um instrumento antidemocrático, e por uma razão
desenvolvido durante a guerra fria com o muito simples: o governo
objetivo de manter um funcionamento democrático é aquele que permite
harmônico da sociedade. que o povo se possa pacificamente
incorporar ao estabelecido. (LIMA
A Lei de Segurança Nacional de apud REZNIK, 2004, pg. 33).
1935, que definia crimes contra a ordem
política e social, fazia parte da luta contra É evidente, que com o
o comunismo, de militares conservadores estabelecimento do governo ditatorial,
e autoritários. Ao analisar a LSN com a este vai buscar ferramentas que o torne
DSN, é possível visualizar uma de suas legítimo e que o defenda, por isso, a LSN
linhagens, que é a de guerra subversiva ou é instituída como uma de suas maiores
revolucionária, que será utilizada como ferramentas.
justificativa pelos militares ao assumir o Com um pensamento
governo do país, pois temem a conservador, que foi desenvolvido pelos
implantação de um governo comunista. militares desde o século XX, há o início
Esse temor, também afetava o governo de uma ideologia de segurança nacional,
dos Estados Unidos, que influencia de onde os militares vão tirar seu discurso
diretamente no golpe militar e fornece de segurança e combate ao inimigo
apoio para a instauração desse regime. interno. Eles vão, então, desenvolver a
(ALVES, 1984, pg. 36). Doutrina de Segurança Nacional (DSN),
No ano de 1947, é apresentado que também justifica suas ações, como um
ao presidente, Eurico Gaspar Dutra, o meio de proteger os interesses nacionais, a
anteprojeto da LSN, que “expunha os mesma é descrita da seguinte maneira por
motivos pelos quais aquela era necessária” Maria Helena Moreira Alves (1984):
(REZNIK, 2004, pg. 54). O anteprojeto “Trata-se de abrangente corpo teórico
tinha por objetivo remodelar a lei anterior, constituído de elementos ideológicos e de
que foi promulgada no Estado Novo. E diretrizes para infiltração, coleta de
defendia e expunha motivos pela qual essa informações e planejamento político-
lei era necessária. econômico de
programas governamentais.” (ALVES,
O governo formula e promulga a 1984, pg. 35).
Lei de Segurança Nacional em 1953, que
se remete ao anteprojeto de 1947. E de A DSN foi elaborada pela Escola
acordo com Luís Reznik, em sua obra Superior de Guerra (ESG) – que foi
“Democracia e Segurança Nacional: A estabelecida em 1949, de acordo com
Polícia Política no pós-guerra”, apesar de ALVES (1984, pg. 69), pelo Marechal
ter influência dos militares na presunção César Obino, no cenário da Guerra Fria, e
da lei, o anteprojeto não foi elaborado tinha por objetivo controle dos setores
pelo Ministério da Guerra. políticos, econômicos, diplomáticos e
militares. (ALVES, 1984, pg. 24) – com
O comunismo rondava e causava propósito de eliminar os inimigos internos
temor nas civilizações capitalistas, por isso com várias teorias de guerra, um exemplo
a LSN vinha como uma ferramenta em delas é a guerra revolucionária.
defesa do Estado, apesar de também ser
adjetivada como “lei monstro”, pois é uma Este propósito de legitimação do
lei antidemocrática, Luís Reznik cita regime e eliminar os inimigos da Nação
Hermes de Lima (15-9-1949): estão fortificados nas doutrinas da ESG,
que possui métodos e ideal para solucionar

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os problemas causados pelos inimigos “o conceito de guerra revolucionária


internos e externos. Na obra da autora não envolve necessariamente o
Maria José de Resende, “A Ditadura emprego da força armada. Abrange
Militar no Brasil: Repressão e Pretensão de toda a iniciativa de oposição
legitimidade” é possível analisar, que organizada com força suficiente
para desafiar as políticas de
desde a fundação da ESG, já estabeleciam Estado”. Relacionada à implantação
que os problemas: do comunismo, esta guerra está
vinculada também ao conceito de
“em aparência os mais materiais: –
“fronteiras ideológicas”, que difere
trabalho mecânico, produção,
economia – não serão bem do que se sabe a respeito da guerra
resolvidos senão por meio de convencional. (ALVES, 1984, pg.
valores ideais. Toda força temporal 37, grifos da autora).
se tem de apoiar em força espiritual. Em 1947, o temor contra a
Não nos olvidemos porém: cada expansão do socialismo permanece, e há
momento histórico possuí seus também a guerra contra a União Soviética,
grupos sociais, com características
próprias, jungidos aos elementos
o que dá fundamentos para reelaboração
que os cercam e os conduzem, às desta lei como um anteprojeto, que define
forças espirituais que os crimes contra a segurança externa ou
singularizam e definem. Se ficarmos interna do Estado e a ordem política e
atentos às qualidades típicas que nos social. (REZNIK, 2004, pg. 56)
caracterizam e procurarmos agir,
Após a Segunda Guerra Mundial,
guiados por elas, teremos dado o
passo mais acertado para nos há um temor de implantação do
realizarmos vitoriosamente. Não socialismo, por isso durante o mandato do
nos esqueçamos, pois, de que os presidente Harry Truman nos EUA, este
fundamentos psicossociais das desenvolve uma política que busca
nações diversificam-se de acordo impedir a expansão do socialismo de
com o meio natural, as tradições, as forma direta, que ficou conhecida por
aspirações, o tipo de cultura. Doutrina Truman. Na década de 1950, a
(RESENDE, pg. 41) política anticomunista desenvolve-se por
Desta forma, a Escola Superior todo o país norte-americano, de forma que
de Guerra diz que a maior preocupação, o Joseph McCarthy também desenvolve
no que se refere a este cenário, é a guerra oposição ao comunismo com uma política
subversiva ou revolucionária, pois é a que que recebeu o nome de macarthismo.
fornece maior ameaça ao modelo Com o crescente apoio da classe
capitalista nos países de Terceiro Mundo, média às manifestações contra o governo
que possuem maior instabilidade. O foco militar, este desenvolve o Ato
dos governantes deve ser então, a Institucional Nº 5 em 1968, que dá
segurança interna destes países, poderes quase absolutos ao regime sendo
combatendo os antagonismos e pressões. assim considerado um golpe na
(ALVES, 1984, pg. 38 e 39) E de acordo democracia, pois é a mais arbitrária e
com Valdecir Mello: “A Doutrina de violenta arma da ditadura. A suspensão ao
Segurança Nacional (DSN) projetou leis e habeas corpus e ao direito político são
regras sobre todos os setores da vida da exemplos da crueldade que este ato trouxe
Nação” (MELLO, 1985, pg. 74) Porém é para nosso país, foi o momento de maior
equivocado, acreditar que ela se une repressão do governo ditatorial. Nas
apenas à Lei de Segurança Nacional, que é palavras de Maria Moreira Alves (1984, pg.
sua obra-prima. Pois, ao contrário disso, a 135-136):
DSN se propagou pelas instituições
estatais. Para Maria Moreira Helena Alves: O Ato Institucional Nº 5 marca o
fim da primeira fase de

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institucionalização do Estado de a uma espécie de liberdade perversa que


Segurança Nacional, do estágio de conduziria a sociedade brasileira à ruína,
lançamento de suas bases. O caráter tais como: o desmantelamento da família,
permanente dos controles a ele do direito de religião e de propriedade,
incorporados deu origem a um etc.. [...]” (RESENDE, s/d, pg. 72).
novo período em que o modelo de
desenvolvimento econômico podia Aparelho repressivo e tortura
ser plenamente aplicado, enquanto
o Aparato Repressivo buscava a Após o golpe civil-militar, os
Segurança Interna absoluta, militares buscam por mais apoio da
impedindo a dissensão organizada população de forma a justificar suas
contra as políticas econômicas e ações. O discurso de luta contra um
sociais do governo. O Ato
inimigo interno vai cada vez mais
Institucional Nº 5 forneceria assim
o quadro legal para profundas se solidificando, porém ao mesmo
transformações estruturais. tempo elimina a
(ALVES, 1984, pg. 135-136) democracia progressivamente.
A primeira mudança introduzida O aparelho repressivo utilizava
na LSN ocorre em 1969, onde se instrumentos de exceção para combater a
acentuam as penas seguindo a repressão oposição política, além da censura dos
causada pelo AI-5. E a segunda, em 1978, aparelhos de comunicação. Desenvolve-se
quando se amenizam alguns aspectos por a institucionalização da tortura, fazendo
conta de organizações democráticas com que essa pratica se torne comum e
internacionais. (MELLO, 1985, pg. 75). A passe a ser utilizada como um meio de
promulgação do AI-5 aumenta os poderes intimidar. Como diz Valdecir Mello na
do Executivo, e propicia algumas revista Brasil Nunca Mais: “(...) Embora a
mudanças, como é possível observar na tortura seja uma instituição muito antiga
obra “Os Presidentes e a Ditadura no país e no mundo todo, ela ocupou, no
Militar”: Brasil, a condição de instrumento
rotineiro nos interrogatórios sobre
[...] o fechamento do Legislativo atividades de oposição ao regime,
pelo presidente da República, a especialmente a partir de 1964.”
suspensão dos direitos políticos e (MELLO, 1985, pg. 53).
garantias constitucionais, a
intervenção federal em estados e A população passa a temer o
municípios, a demissão e regime, pois a ditadura vai ganhando
aposentadoria de funcionários espaço e com ela seu aparelho repressivo,
públicos, entre outras medidas. O que dá início as prisões de forma
fechamento do Congresso foi totalmente desrespeitosa, e muitas vezes,
acompanhado pela cassação de podemos dizer que, ocorriam sequestros.
diversos parlamentares. (BRASIL, A Revista Brasil Nunca Mais (BNM), um
2001, pg. 24). projeto elaborado para manter viva a
Os Atos Institucionais quebram memória referente a este período, de
com qualquer ideal de liberdade no forma que não ocorra novamente. Possui
Regime Militar, apesar deste ainda tentar o objetivo de denunciar as torturas
passar para a população uma falsa imagem ocorridas nos porões da ditadura, além de
de democracia. De acordo com a autora outras violências.
Maria José de Resende os militares se Nesta Revista, montada por
autodenominavam os únicos capazes de estudiosos com base em processos da
defender o país contra a ameaça ditadura, há vários relatos de torturas,
comunista, e mostram os atos de exceções prisões, espancamentos e ocorridos que
como: “[...] a única maneira possível de levam o leitor a sofrer junto com o
proteção de uma liberdade que se opunha torturado e sentir diversas emoções. Para

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que a ditadura nunca morra na memória e o governo militar e assim derrubá-lo,


na história, evitando assim que este fato entretanto, nem sempre se alcança o
venha a se repetir. sucesso e muitas vezes o que se passa nos
É possível verificar as porões da ditadura, lá permanece.
atrocidades cometidas pelos militares, a O governo militar vai responder
partir do Projeto BNM, pois ele nos traz à violência da esquerda com violência, na
evidencias de torturas, ameaças e sevícias tentativa de eliminar qualquer formação
cometidas a indivíduos, sem nenhum de novas ideologias. Porém, a esquerda se
objetivo, senão o de causar terror e buscar organiza numa luta ideológica e de
culpados pela subversão. Em uma das guerrilha contra a ditadura. De acordo
discrições, na revista, acerca de como eram com Valdecir Mello: “As Forças Armadas
efetuadas as prisões, uma funcionária se preparam seriamente para combater
pública faz um relato sobre sua detenção, qualquer espécie de revolta popular contra
que foi efetuada: “[...] altas horas da noite, o regime imposto pelo direito da força”
por três indivíduos de aspecto marginal, (MELLO, 1985, pg. 72)
sem nenhum mandato judicial, os quais
Esta guerra ocorre de maneira
intimaram a depoente a acompanha-los;
silenciosa, por meio de interrogatórios e
no veículo para onde fora conduzida, fora
torturas, sempre em busca daqueles que se
encapuzada e obrigada a deitar-se no chão opõem ao regime. O governo tem meios
do carro para não ser vista; [...]” (MELLO,
de manter todo este aparato de
1985, pg. 77). investigação, e possui uma: “máquina
Este depoimento faz parte de criada nacionalmente para a ‘produção e
vários relatos que complementam o operação de informações’ com nome de
projeto, e fica evidente que os militares Sistema Nacional de Informações (SNI),
estavam sempre em busca de suspeitos ou simplesmente ‘Sistema’. Que está
que eram levados a força, muitas vezes integrado dentro do Conselho de
mortos por se recusarem a irem. Há casos Segurança Nacional (CSN)” (MELLO,
também, de indivíduos que eram 1985, pg. 72).
torturados na frente de suas famílias, ou Criado em 1964, o SNI tinha por
tinham seus filhos e mulheres, muitas função controlar todas as atividades do
vezes grávidas, torturados na sua frente.
território nacional. Apesar de inicialmente
Tudo isso, ocorreu a partir da o SNI possuir objetivos menos
institucionalização da tortura durante o pretenciosos, isso muda a partir de 1967,
Regime Militar. quando Médici torna-se um dos líderes no
Subversão e o SNI setor de espionagem. Como afirma Carlos
Fico, em seu artigo “Versões e
Combater os subversivos é uma Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura
das funções da Ditadura, para que o Militar”, que não foi Couto e Silva quem
regime continue. Então começam as criou o “monstro”, antes este foi obra da
prisões, dos indivíduos suspeitos de linha-dura.
qualquer coisa que possa afetar o regime.
Com o AI-5 há a possibilidade de
Estas prisões muitas vezes ocorriam de
uma vitória para a espionagem, que vai
forma brusca e violenta, com alguns casos
operar com setores mais radicais no
de morte. Outras vezes, os indivíduos
auxílio à repressão. Ainda assim, a partir
simplesmente desapareciam e não havia
do governo de Médici, onde há uma maior
mais notícias a respeito.
dureza do SNI, não há um envolvimento
Porém, a oposição vai tomando direto com as chamadas “operações de
forma e retoma sua força, dando corpo as segurança” como diz Carlos Fico, pois as
movimentações que se opõem ao regime. prisões, extermínios, interrogatórios e
O objetivo dos subversivos é desmascarar torturas eram efetuadas pelo DOI-CODI

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e pelos departamentos de ordem política e tentava fugir’. (MELLO, 1985, pg.


social. 66)
Fica evidente, que com a Esta situação é só um exemplo
preocupação de manter a segurança do que o DOI-CODI e o DOPS
interna do país, a doutrina de segurança causavam, pois além de não ter que
vai contra os direitos humanos. A falta de responder a nenhuma autoridade, eles
estrutura, torna o Estado impune pelos tinham meios de encobrir seus rastros.
atos que comete, trazendo o triunfo na Ocorriam também, mortes durante os
luta subversiva. Esse sucesso leva a criação interrogatórios nos que ficaram
de organismos oficiais como o DOI- conhecidos como “porões da ditadura”,
CODI e o DOPS. (MELLO, 1985, pg. 73) que são as salas de interrogação dessas
A perseguição política era efetuada por instituições, onde na maioria das vezes o
esses órgãos criados pela ditadura. Estes que acontece ali, ali permanece.
tinham a função de vigiar e exercer Em alguns relatos de indivíduos
controle sobre a sociedade, além de que foram presos pelos militares, há
conseguir informações sobre as informações sobre aulas de tortura, onde
subversões, informações estas muitas eram passadas informações de como
vezes conseguidas a custo de vidas. proceder durante a tortura. De acordo
O Destacamento de Operações com Valdecir Mello, na Revista BNM,
de Informações – Centro de Operações de essas aulas eram efetuadas para cerca de
Defesa Interna, ou DOI-CODI, é uma cem militares, enquanto um sargento
ferramenta utilizada pelas Forças Armadas pegava algum indivíduo que fora preso, e
que foi desenvolvida em 1970, e exercia ensinava as técnicas na prática. Esses
controle sobre os organismos estaduais e acontecimentos e informações servem
federais. (ALVES, 1984, pg. 74) Era um para nos alertar de quão difícil foi o
órgão de repressão que possuía aval para período militar, e evitar que isso venha a
cometer as atrocidades necessárias para se repetir.
manter a ordem. Mas o DOPS –
Considerações finais
Departamento de Ordem Política e Social
– prosseguiu operando no âmbito O Golpe Civil-Militar imposto
estadual. no Brasil em 1964 trouxe consigo
Estas duas instituições inúmeras atrocidades que foram
governamentais, foram criadas para cometidas pelos militares nos 21 anos de
combater a subversão sem a necessidade governo. É evidente que esse período
de explicar suas ações, o que causava causou marcas na história deste país, e
grande pânico na sociedade. Em um assim, como Valdecir Mello pretende com
trecho da revista Brasil Nunca Mais, fica sua revista, espera-se que nada deste porte
evidente do que os agentes dessas ocorra novamente.
instituições são capazes: Com vários apontamentos sobre
(...) O DOI-CODI invade uma casa a ditadura e seus desenvolvimentos, esta
na Lapa, em São Paulo, onde se pesquisa analisou o golpe, que teve apoio
reuniam dirigentes de uma de civis, apesar de o governo que se
organização clandestina – o Partido desenvolveu posterior àquele ter sido
Comunista do Brasil – matando no totalmente composto por militares.
local Pedro Pomar e Angelo Houve também, uma investigação acerca
Arroyo. Outro dos que foram ali dos instrumentos utilizados pela ditadura
detidos, João Batista Franco para controlar a população e combater os
Drumond, teve sua morte subversivos. A partir de um parecer,
anunciada, pouco depois, como
também foi possível, retratar a questão da
tendo sido atropelado ‘quando
repressão e tortura que foram fortemente

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presentes neste período. Edusc, 2005.

Por fim, é necessário esclarecer BRASIL. Arquivo Nacional. Os Presidentes e a


Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Casa Civil,
que este artigo faz parte de uma pesquisa 2001.
de iniciação científica, onde será possível
analisar “O IPM Zona Norte do Paraná”, MELLO, Valdecir. Um relato para a história:
Brasil Nunca Mais. – 20ª Ed. – Petrópolis – RJ:
que é um composto de processos jurídicos Vozes, 1988.
que possuem o objetivo de condenar e
RESENDE, Maria José de. A Ditadura Militar
prender militantes políticos e sindicais no Brasil: Repressão e Pretensão de
desta região. Legitimidade (1964-1985). Londrina: Eduel,
2013.
Referências
REZNIK, Luís. Democracia e Segurança
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Nacional: A Polícia Política no pós-guerra.
oposição no Brasil: (1964-1985). 2ª. Ed. Bauru: Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. 188p.

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