Diretrizes de Segurança - Divaldo Franco E Raul Teixeira

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J.

Raul Teixeira
Divaldo P. Franco

Diretrizes de Segurança
Um diálogo em torno das
múltiplas questões da mediunidade

Sociedade Espírita Fraternidade


Site: www.sef.org.br – Email: [email protected]

Editora Fráter Livros Espíritas Ltda.


Site: www.editorafrater.com.br
Email: [email protected]

Conteúdo resumido

Esta obra traduz a longa experiência desses dois grandes


tarefeiros espíritas, Divaldo Franco e Raul Teixeira, no sagrado
exercício da mediunidade.

1
Reúne 104 perguntas, respondidas pelos autores, enfocando
questões essenciais em torno do tema central, que é a atividade
mediúnica. Destacam-se os cuidados básicos a serem observados
pelos médiuns e pelos grupos mediúnicos, especialmente com
relação à vivência evangélica que deve nortear a vida do
tarefeiro mediúnico.

Divaldo P. Franco
Nascido em Feira de Santana, no Estado da Bahia,
no dia 5 de maio de 1927, filho de Francisco Franco e
de Ana Pereira Franco, desde muito jovem adotou a
Doutrina Espírita como roteiro para sua vida, assumindo
a tarefa mediúnica e associando-a aos relevantes labores
da pregação da mensagem espírita, para os corações
sequiosos de conhecimento e de consolação, em toda
parte.
Fundou, em 7 de setembro de 1947, com um grupo
de companheiros, o Centro Espírita “Caminho da
Redenção”, em Salvador, e logo depois criou a Mansão
do Caminho, obra modelar de educação de crianças
socialmente órfãs, sob a égide do pensamento espírita.
Tendo viajado e levado a sua palavra, firme e
empolgante, por todo o Brasil e a cerca de 45 países,
avança Divaldo para mais notáveis realizações na Seara
Espírita.

J. Raul Teixeira
Nascido em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, no
dia 7 de outubro de 1949, filho de Raul dos Santos
Teixeira e de Benedicta Maria da Conceição, a partir
dos tenros anos da mocidade, ao travar contato com a
Doutrina Espírita, entusiasmou-se com ela e iniciou seu
caminho de pregação doutrinária, ao mesmo tempo em

2
que a dedicação à mediunidade foi-lhe abrindo veredas
e visão novas nos arraiais do Movimento Espírita.
Junto de alguns companheiros, fundou, em 4 de
setembro de 1980, a Sociedade Espírita Fraternidade,
em Niterói, desenvolvendo, a seguir, um trabalho de
assistência a crianças faveladas e seus familiares,
atividade hoje transferida para os labores do Remanso
Fraterno, em fase de estruturação.
Conhecido por sua vibrante pregação em todo o
Brasil e em diversos países estrangeiros, prossegue
Raul, buscando atender aos objetivos do Espiritismo.

Sumário
Nota dos Autores ........................................................... 4
Diretrizes de Segurança ................................................ 4
Segura Diretriz .............................................................. 7
I – Mediunidade .................................................................. 9
II – Grupo Mediúnico......................................................... 34
III – Desenvolvimento Mediúnico ....................................... 52
IV – Comunicações .............................................................. 55
V – Doutrinação .................................................................. 59
VI – Mentores ....................................................................... 63
VII – Passes ............................................................................ 67
VIII – Alimentação ................................................................. 76
IX – Estudos, Participação, Receituário ............................ 79
X – Escolhos da Mediunidade ........................................... 83
XI – Usos e Costumes ........................................................... 88

3
Nota dos Autores

Ao lançarmos o presente volume à atenção dos


nossos irmãos, é válido assinalemos que das questões
nele propostas, muitas não haviam sido publicadas
antes, enquanto outras já eram do domínio público, por
sua divulgação pelas imprensas espírita e leiga.
Na abertura de cada Unidade, a fim de permitir uma
visão geral dos tópicos abordados nas perguntas e nas
respostas, apresentamos um índice remissivo dos vários
enfoques.
Neste volume estão as questões contidas no opúsculo
Mediunidade, publicado pela AME - Belo Horizonte,
em 1986, cujos diretores, gentilmente, nos concederam
direito documental de utilização, aos quais
agradecemos.

Diretrizes de Segurança

O homem moderno vive massificado por expressiva


soma de informações que não consegue digerir
emocionalmente.
Têm preferência as notícias que o agridem, atingindo-lhe
o sentimento e perturbando-lhe a razão, graças à violência
em alucinação e ao sexo em desgoverno, exibindo os mitos
do prazer e do triunfo, como se a criatura fosse apenas um
ser fisiológico, dirigido pela sensação.
Esmaecem a cultura e a ética no universo da atualidade
comportamental, enquanto o despautério propõe modelos
psicológicos alienados que passam a conduzir a mole que os
alimenta e os atende com paixão.
As filosofias imediatistas surgem pela madrugada e
desaparecem ao entardecer das emoções, deixando os vazios
4
perturbadores na mente e no sentimento dos seus
aficionados.
As doutrinas religiosas, esquecidas do homem e
preocupadas com os grupos, associam Dionísio e Paulo,
Cristo e Baco, realizando banquetes em favor dos seus
deuses, enquanto os atiram às masmorras dos vícios e das
degradações.
As conquistas científicas beneficiam as elites, enquanto o
indivíduo, esquecido, encharca-se de rebeldia, contaminado
pela desesperação que campeia.
Há também, inegavelmente, homens que são
extraordinários exemplos de amor e de abnegação, como
Instituições de beneficência e dignificação humana, de
solidariedade e de progresso, quais florações de bênçãos nas
terras áridas dos sentimentos individuais e coletivos.
Assim considerando, saudamos, neste pequeno livro, o
esforço conjugado de dois obreiros do Cristo, interessados
em esclarecer os companheiros da marcha evolutiva, em
torno da vida e da sua finalidade, dos fenômenos
existenciais e da morte física, da paranormalidade e da
sobrevivência do Espírito, da obsessão e do serviço ao bem,
nos encontros fraternos de estudos espíritas, nos quais foram
sabatinados pelo desejo honesto e saudável, por parte dos
seus interrogadores, ansiosos por aprenderem mais.
Não são conceitos novos, nem trazem nada de original,
porquanto a Doutrina Espírita os explicita com admirável
claridade, mas constituem uma contribuição louvável e
prática para quem deseja uma vida pautada nas diretrizes da
sadia moral e do bom tom.
Esperamos que estas páginas logrem oferecer segurança
comportamental e discernimento mental a todos aqueles que,
desconhecendo os temas abordados ou tendo deles uma
informação apenas superficial, resolvam-se por meditá-los,
incorporando-os ao seu cotidiano.

5
Exorando ao Senhor que a todos nos abençoe,
formulamos votos de paz e plenitude para os nossos caros
leitores.
Joanna de Ângelis

Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco,


em 30/08/1989, na sessão mediúnica do Centro Espírita
“Caminho da Redenção”, em Salvador-Bahia.

6
Segura Diretriz

Meditando sobre as páginas fulgurantes da Boa Nova,


identificaremos o questionamento, a pergunta, como
elemento de capital importância, no relacionamento do
Divino Amigo com os diversos indivíduos que o rodeavam,
nos instantes mais variados dos caminhos.
“Senhor, que farei para conseguir a vida eterna?”, 1
perguntou-lhe o intérprete da lei, desejando obter a preciosa
orientação.
“Por que dizem os escribas ser necessário que Elias
venha primeiro?”, 2 indagaram os discípulos, que com Ele
desciam do Tabor, após expressiva demonstração da
imortalidade gloriosa.
“Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus
Altíssimo?”,3 interrogou Legião, identificando a autoridade
do Bem sobre a ilusão maléfica e perturbadora.
Essas e muitas outras questões foram respondidas pelo
Mestre, buscando atender cada qual, de acordo com a
necessidade e o entendimento dos questionadores.
Entretanto, Jesus, por sua vez, indagou aos que o
cercavam, procurando fazê-los meditar, considerando-se que
Ele sabia o que lhes ia nas almas, nos pensamentos, na
condição de Celeste Zagal do rebanho humano.
“Quem dizem os homens que eu sou?”. 4 E fez ressaltar,
junto aos discípulos, a crença popular no fenômeno da
reencarnação.
“Mas, se falei bem, por que me feres?”. 5 Deu ocasião,
assim, para que a exibição vaidosa e a cobardia fossem
denunciadas e abatidas pela coragem e grandeza de espírito.
“Que queres que eu te faça?”. 6 E ensinou a importância
de que tenhamos superiores e claros objetivos, em nossa fé,
quando nos dirijamos às Supremas Fontes da Vida.
*

7
Perguntas, profundas ou simples, compuseram a pauta de
formidáveis ocasiões de aprendizado feliz, ao longo de todo
o Evangelho de Jesus Cristo.
Desse modo, quando, no Movimento Espírita, vemos os
irmãos das lides terrenas se encontrarem para o estudo e,
dentro dele, dedicarem algum tempo para dissiparem
dúvidas, de modo honesto e salutar, vibramos com a
possibilidade de que tais questões e suas respectivas
respostas apareçam documentadas para a elucidação de
muitos, em torno de diversos pontos da doutrina veneranda
do Espiritismo.
Louvamos ao Senhor, frente a esse pequeno trabalho,
que, com certeza, se não representa novidade no contexto
espírita, será segura diretriz, para tantos que anseiam por
entender melhor ou ampliar reflexões e conhecimentos sobre
a prática espiritista.
Certo da bênção do Excelente Mestre para este singelo
livro, anelamos por prosseguir estudando e avançando a
serviço da Seara do Bem, na qual nos encontramos
engajados, pela misericórdia de nosso Pai.
Camilo

Página psicografada pelo médium Raul Teixeira, em


04/09/1989, na sessão mediúnica da Sociedade Espírita
Fraternidade, em Niterói-RJ. (Notas do médium)

8
Primeira parte
Mediunidade

1. finalidade da mediunidade na Terra;


2. informes e diretrizes no contato com os desencarnados;
3. superioridade de alguns médiuns sobre outros;
4. mediunidades mais importantes;
5. os “dons” e a mediunidade;
6. anseio de ser médium como os médiuns de destaque;
7. sobre os médiuns inconscientes;
8. responsabilidade dos médiuns inconscientes;
9. vida moral e intercâmbios;
10. defesas magnéticas do Centro Espírita;
11. dificuldade de concentrar-se no bem durante a prece;
12. recursos para médiuns conscientes;
13. controle do médium sobre as comunicações;
14. cacoetes e viciações dos médiuns;
15. bocejo e eliminação de toxinas;
16. requisitos necessários aos médiuns para as lides
mediúnicas;
17. necessidade do estudo para os médiuns;
18. transferência da responsabilidade dos médiuns para os
desencarnados comunicantes;
19. relação entre os fenômenos anímicos e mediúnicos;
20. sobre influências espirituais sobre os médiuns fora da
reunião mediúnica;
21. importância da educação mediúnica;
22. necessidade de o médium estudar-se para conhecer-se;
23. assimilação ambiental por parte dos médiuns;
24. prática mediúnica e afinidades espirituais;
25. utilidade da vidência;
26. colaboração do médium vidente durante a sessão
mediúnica;
27. precariedade da faculdade mediúnica;
9
28. diferentes percepções dos videntes;
29. descrições diferentes sobre a mesma visão mediúnica;
30. finalidade dos médiuns curadores;
31. o que representa o médium curador;
32. sobre o uso de instrumentos cirúrgicos e indumentárias
entre médiuns curadores;
33. médiuns curadores e o Código Penal;
34. curandeirismo, superstição e exploração da ingenuidade
popular;
35. perigo do endeusamento de médiuns;
36. perante o elogio danoso e o incentivo indispensável;
37. expressão mediúnica atual e sua vinculação com o pretérito
reencarnatório;
38. troca da tarefa mediúnica por outra atividade doutrinária;
39. referência a Henrique Kemper Borges;
40. danos decorrentes da interrupção da tarefa mediúnica;
41. mediunidade e predisposição orgânica;
42. mediunidade é compromisso para toda a vida;
43. sobre sintonia, ressonância e vibrações compensadas;
44. compensação vibratória defluente da oração;
45. centros vitais e intercâmbio mediúnico;
46. centros: coronário, cerebral, laríngeo, cardíaco, gástrico,
esplênico e básico;
47. correspondência entre veias e artérias do corpo físico e
linhas de força do perispírito;
48. correspondência entre os plexos somáticos e centros de
força perispirituais;
49. livro Painéis da Obsessão e a convivência do médium com
cenas e episódios;
50. doença física e obsessão.

10
1. Qual a finalidade da mediunidade na Terra?
Divaldo – A mediunidade é, antes de tudo, uma oportunidade
de servir, bênção de Deus, que faculta manter o contato com a
vida espiritual. Graças ao intercâmbio, podemos ter aqui, não
apenas a certeza da sobrevivência da vida após a morte, mas
também o equilíbrio para resgatarmos com proficiência os
débitos adquiridos nas encarnações anteriores. É graças à
mediunidade que o homem tem a antevisão do seu futuro
espiritual e, ao mesmo tempo, o relato daqueles que o
precederam na viagem de volta à erraticidade, trazendo-lhe
informes de segurança, diretrizes de equilíbrio e a oportunidade
de refazer o caminho pelas lições que ele absorve do contato
mantido com os desencarnados.
Assim, a mediunidade tem uma finalidade de alta
importância, porque é graças a ela que o homem se conscientiza
das suas responsabilidades de Espírito imortal. Conforme
afirmava o Apóstolo Paulo, se não houvesse a ressurreição do
Cristo, para nos trazer a certeza da vida espiritual, de nada
valeria a mensagem que Ele nos deu.

2. Há mediunidades mais importantes que outras? E


médiuns mais fortes que outros?
Raul – Verdadeiramente não pode haver mediunidades mais
importantes que outras, nem médiuns mais fortes do que outros.
Existem médiuns e mediunidades. Segundo Paulo de Tarso,
existem os "dons" e ele se refere à visão, à audição, à cura, à
palavra, ao ensino, mas disse que um só é o Senhor. 7 Eles
provêm da mesma fonte. Os indivíduos que psicografam, que
psicofonizam, que materializam, poderão todos realizar um
trabalho apostolar, na realidade em que se encontram.
Não é o número de possibilidades que dá importância ao
médium. O que engrandece espiritualmente o médium é aquilo
que ele faz com os dons que possua. Verificamos que a
importância do médium se localiza na honra que tem de poder
servir.

11
Não existem, na Doutrina Espírita, médiuns mais fortes que
outros, mas, sim, os que são mais dedicados que outros, mais
afervorados que outros, que estão renunciando à matéria e
efetuando o esforço do auto-aprimoramento mais que outros.
Isso ocorre. E é esse esforço para algo mais alto que confere ao
médium, ou a outro servidor qualquer, melhores condições de
estar à frente na lide. Mas isso não significa que o que venha na
retaguarda não poderá alcançá-lo, realizando os mesmos
esforços.
Conversando, oportunamente, com um grupo de amigos, o
nosso venerável Chico Xavier dizia para os companheiros que o
questionavam que o dia em que não chora, não viveu.
Depreendemos disso que quanto mais se alteia a mediunidade,
colocando aquele que dela é portador numa posição de destaque,
numa posição de claridade, naturalmente, os que não desejam a
luz mais atirarão pedras à “lâmpada”, tentando quebrá-la, quando
não desejam derrubar o “poste” que a sustenta.
Daí, o médium mais importante ser aquele que mais disposto
esteja para enfrentar essas lutas em nome do Cristo, Médium de
Deus por excelência, e o mais importante Senhor da
mediunidade que conhecemos.
Não caberá nenhum desânimo a nenhum de nós outros que
ainda nos localizamos numa faixa singela de mediunidade,
galgando os primeiros passos. Isto porque já ouvimos
companheiros que gostariam de receber mensagens como o
Chico recebe, desejariam receber obras daquele talante,
desejariam ser médiuns da envergadura desse ou daquele
companheiro que se projeta na sociedade, mas desconhecem a
cota de sacrifícios diários, de lutas, de lágrimas, de renúncias a
que eles têm de se predispor e se dispor. Por isso, em
Espiritismo, não há médiuns superiores a outros, nem
mediunidades mais importantes que outras; existem
oportunidades para que todos nós tomemos a charrua da
evolução sem olharmos para trás, crescendo sempre.

12
3. Existe mediunidade inconsciente?
Divaldo – Sem dúvida. Kardec classificava os médiuns,
genericamente, em dois tipos: seguros e inseguros. Dentro dessa
classificação, os seguros são aqueles que filtram com fidelidade
a mensagem, aqueles que são automáticos, sonambúlicos,
inconscientes portanto, por meio dos quais o fenômeno ocorre
dentro de um clima de profundidade, sem que a consciência atual
tome conhecimento.
Podem ser os médiuns conscientes, semiconscientes e
inconscientes. Quanto às suas aptidões e qualidades morais, eles
têm vasta classificação.

4. Tem o médium inconsciente responsabilidade pelo que


ocorra durante as comunicações?
Divaldo – O fenômeno é sonambúlico, mas a comunicação
está relacionada com a conduta moral do médium. Este é sempre
responsável pelas ocorrências, assim como em muitas obsessões,
quando o indivíduo entra numa faixa de subjugação e perde a
consciência, ele parece não ser responsável pelo que se passa; no
entanto, o é por haver sintonizado com aquele espírito que o
dominou temporariamente. Está no Evangelho de Jesus o assunto
colocado de uma maneira brilhante pelo Mestre quando diz aos
recém-liberados: “Vai e não tornes a pecar, para que te não
aconteça algo pior”. 8 Porque o indivíduo que não se modifica
permanece numa faixa vibratória negativa e sintoniza com as
entidades mais inditosas, portanto, semelhantes.
Colocando-nos no plano da mediunidade, a nossa vivência
moral digna interdita o intercâmbio com as entidades frívolas.
As entidades malévolas dificilmente se adentram na Casa
Espírita que tem um padrão vibratório nobre, porque as defesas
impedem que tais espíritos rompam as barreiras magnéticas.
Mas, a pessoa que se adentra sem o perseguidor deverá reformar-
se enquanto está no ambiente espiritual. O que ocorre então? Tal
indivíduo, ao invés de acompanhar o doutrinador, de observar e
meditar a respeito das lições que lhe são ministradas, por uma
viciação mental continua com os mesmos clichês que trouxe lá

13
de fora, ficando dentro do Centro, porém ligado aos espíritos
com os quais se afina, mantendo vinculação hipnótica, telepática.
Há pessoas que não conseguem orar, e, quando vão orar,
ocorrem-lhes pensamentos de teor vibratório muito baixo. Na
hora da prece são assistidas essas pessoas por lembranças de
coisas desagradáveis vulgares, sensuais, e não sabem
compreender como isso lhes sucede. É resultado de hábito
mental.
Se nós, a vida inteira, jogamos para o inconsciente idéias
depressivas, vulgaridades, criamos ideoplastias perniciosas. A
nossa memória anterior ou subconsciente fica encharcada
daquelas fixações. Na hora em que vamos exercitar um
pensamento ao qual não estamos habituados, é lógico que,
primeiro, aflorem os que são freqüentes. Ilustraremos melhor:
Imaginemos aqui um vaso comunicante em forma de letra
“U” De repente vamos orar ou sintonizar com os espíritos
nobres. Pelo superconsciente vem a idéia, passa pelo consciente
e desce ao inconsciente. Ao passar por ali recebe o enxerto das
idéias arquivadas e chega novamente à razão, influenciada pela
mescla do que está em depósito. Se pegamos um vaso que está
com fuligem, com poeira e colocamos água limpa, ela entra
cristalina, porém sai suja, até que, se perseverarmos e
continuarmos colocando água limpa, ela irá assear aquele
depósito e sairá, por fim, como entrou. É necessário, então,
porfiar na idéia, insistir nos planos positivos, permanecer nos
pensamentos superiores.
Somos sempre responsáveis por quaisquer comunicações,
desde que somos o fator que atrai a entidade que se vai
apresentar, graças às nossas vibrações e conduta intelecto-moral.

5. De que dispõe o médium psicofônico consciente para


distinguir seu pensamento do pensamento da entidade
comunicante?
Divaldo – O médium consciente dispõe do bom senso. Eis
porque, antes de exercitar a mediunidade deve estudá-la; antes de
entregar-se ao ministério da vivência mediúnica é-lhe lícito
entender o próprio mecanismo do fenômeno mediúnico. Allan
14
Kardec, aliás, sábio por excelência, teve a inspiração ditosa de
primeiro oferecer à Humanidade O Livro dos Espíritos, que é um
tratado de filosofia moral. Logo depois, O Livro dos Médiuns,
que é um compêndio de metodologia do exercício da faculdade
mediúnica. Há de ver-se, no capítulo 3º, que é dedicado ao
método, sobre a necessidade de o indivíduo conhecer a função
que vai disciplinar. Então o médium tem conhecimento de suas
próprias aptidões e de sua capacidade de exercitá-las.
Na mediunidade consciente ou lúcida o fenômeno é, a
princípio, “inspirativo”.
Naturalmente os espíritos se utilizam do nível cultural do
médium, o mesmo ocorrendo nas demais expressões mediúnicas:
na semiconsciente e na inconsciente ou sonambúlica. O médium,
no começo, terá que vencer o constrangimento da dúvida, em
cujo período ele não tem maior certeza se a ocorrência parte do
seu inconsciente, dos arquivos da memória anterior, ou se
provém da indução de natureza extrínseca. Através do exercício,
ele adquirirá um conhecimento de tal maneira equilibrado que
poderá identificar quando se trata de si próprio – animismo ou de
interferência espiritual – mediunismo. Através da lei dos fluidos,
pelas sensações que o médium registra, durante a influência que
o envolve, passa a identificar qual a entidade que dele se acerca.
A partir daí, se oferece numa entrega tranqüila, e o espírito que o
conduz inspira-o além da sua própria capacidade dando leveza às
suas idéias habituais, oferecendo-lhe a possibilidade de síntese
que não lhe é comum, canalizando idéias às quais não está
acostumado e que ocorrem somente naquele instante da
concentração mediúnica. Só o tempo, porém, pelo exercício
continuado, oferecerá a lucidez, a segurança para discernir
quando se trata de informação dos seus próprios arquivos ou da
interferência dos bons Espíritos.

6. Pode o médium, em algumas comunicações, não conseguir


evitar, totalmente, as atitudes desequilibradas dos
espíritos comunicantes?
Divaldo – À medida que o médium educa a força nervosa,
logra diminuir o impacto do desequilíbrio do comunicante. É
15
compreensível que, em se comunicando um suicida, não
venhamos a esperar harmonia por parte da entidade em
sofrimento; alguém que foi vítima de uma tragédia sendo
arrebatado do corpo sem o preparo para a vida espiritual
apresentará no médium o estertor do momento final, na própria
comunicação, algumas convulsões em virtude do quadro
emocional em que o espírito se encontra.
Há, porém, certos cacoetes e viciações que nos cumpre
disciplinar. Há médiuns que só incorporam (termo incorreto),
isto é, somente dão comunicação psicofônica, se bocejarem
bastante. Para dar um toque de humor: quando eu comecei a
freqüentar a Casa Espírita, na minha terra natal, a primeira parte
era um Deus-nos-acuda! Porque as pessoas bocejavam e
choravam, demasiadamente. Eu, como era médium principiante,
cria que também deveria bocejar de quebrar o queixo. A
“médium principal”, que era uma senhora muito católica,
iniciava as comunicações sempre depois de intermináveis
bocejos e tosses que a levavam às lágrimas. Hoje não bocejo,
nem no meu estado normal. Quando eles vêm eu cerro os dentes
e os evito.
É lógico que uma entidade sofredora nos impregna de energia
perniciosa, advindo o desejo de exteriorizar pelo bocejo. É uma
forma de eliminar toxinas. Mas nós podemos eliminá-las pela
sudorese, por outros processos orgânicos, não necessariamente o
bocejo. Há outros médiuns que têm a dependência, em todas as
vezes que vão comunicar-se os espíritos, de bater na mesa ou
bater os pés, porque se não baterem não se comunicam. Lembro
de uma vez em que tivemos uma mesa redonda. O presidente da
mesa era um homem muito bom, muito evangelizado, mas não
havia entendido bem a Doutrina, tendo idéias doutrinárias muito
pessoais. Ele me perguntou quando é que o espírito incorpora no
médium. Mas logo respondeu: “A gente chupa... chupa... até
engolir! Não é verdade?“. São cacoetes, destituídos de sentido e
lógica.
Os médiuns têm o dever de coibir o excesso de distúrbios da
entidade comunicante.

16
Na minha terra, vi senhoras que se jogavam no chão, e
vinham os cavalheiros prestimosos ajudá-las... Graças a Deus
eram todas magrinhas...
O médium deve controlar o espírito que se comunica, para
que este lhe respeite a instrumentalidade, mesmo porque o
espírito não entra no médium.
A comunicação é sempre através do perispírito, que vai
oferecer campo ao desencarnado. Todavia, a diretriz é do
encarnado.

7. Quais são os requisitos necessários aos médiuns que


militam na tarefa mediúnica?
Raul – Percebendo que a mediunidade é uma faculdade
mental, ela independe de o indivíduo ser nobre ou devasso.
Sendo a mediunidade essa luz do espírito que se projeta através
da carne, admitiremos também poder encontrá-la representando a
treva do espírito que escorre através do soma. E exatamente por
isso, percebemos que o médium deverá ajustar-se, quando deseje
servir com o Cristo. Atrelado às forças do bem, ajustar-se-á ao
esforço de vivenciar as lições evangélicas, renovando,
gradativamente, os panoramas da própria existência, domando as
inclinações infelizes, inferiores, elevando o padrão mental para
que sua mentalização se dirija para o sentido nobre, fazendo-o
cada vez mais vibrátil nas mãos das Entidades felizes. Logo, os
requisitos para o exercício da mediunidade no enfoque espírita
serão o exercício da humildade, da humildade que não se
converte em subserviência, mas que é a atitude de
reconhecimento da grandeza da vida em face da nossa pequenez
pessoal; o espírito de estudo, de apercebimento continuado das
leis que nos regem, que nos governam. O médium espírita deverá
estar sempre voltado para aumentar o seu patrimônio de
conhecimento das coisas, dando-nos conta de que o Espírito da
Verdade nos disse ser necessário o amor que assiste, que guarda,
que renuncia, que serve, e, ao mesmo tempo, a instrução que de
maneira alguma representará apenas o diploma acadêmico, mas
que é esse engrandecimento do caráter, da inteligência, esse
amadurecimento que, muitas vezes, o diploma não confere.
17
Exatamente aí o médium deverá ater-se ao estudo, ao trabalho, à
abnegação ao semelhante, e nesse esforço estará logrando
também subir a ladeira para conquistar a humildade.
Numa colocação feita pelo espírito Albino Teixeira, através
de Chico Xavier, no livro Paz e Renovação,9 diz ele que o
melhor médium para o mundo espiritual não é o que seja
portador de múltiplas faculdades, mas é aquele que esteja sempre
disposto a aprender e sempre pronto a servir.

8. O médium é responsável por toda e qualquer


comunicação mediúnica?
Divaldo – Deve sê-lo, porque não é um autômato. Quaisquer
comunicações que lhe ocorram são através do seu psicossoma ou
perispírito. A conduta do médium é de sua responsabilidade e,
graças a essa conduta, ele responde pela aplicação de suas forças
mediúnicas.
É muito comum a pessoa assumir comportamentos contrários
ao bom-tom e depois dizer que foram as entidades perniciosas
que agiram dessa forma. Isso é uma evasão da responsabilidade,
porque os espíritos somente atuam pelo médium, nele
encontrando receptividade para as suas induções. É importante
saber que o médium é responsável pela manifestação que ocorra
através dele. Para que se torne um médium seguro, um
instrumento confiável, é necessário que evolua moral e
intelectualmente, na razão em que exercita a faculdade.
Gostaria de dar uma informação que nos transmitem os
Amigos Espirituais: referem-se à seriedade com que as entidades
que aqui trabalham estão encarando este encontro. 10 Um dos
fatores mais importantes para a divulgação da Doutrina Espírita,
além do estudo sério, é a mediunidade na vivência, no
comportamento dos médiuns. Porque os neófitos atraídos para a
Doutrina vêm, invariavelmente, ansiosos pelos fenômenos e por
soluções para problemas que eles não querem equacionar. A
invigilância de alguns aprendizes do Espiritismo, trabalhando na
mediunidade, responde pela deserção dos inseguros, pelos
desequilíbrios na comunidade mediúnica. Esses Mentores estão

18
empenhados em nos ajudar para o bom discernimento das nossas
realizações.
Registro, outrossim, a presença de vários desses amigos que
prosseguem colaborando, vivamente empenhados no trabalho de
educação e de iluminação das almas. Eles hoje aqui capitaneados
pelo espírito Dr. Camilo Chaves, que também convidou um
número muito grande de antigos colaboradores da Doutrina
Espírita nesta cidade, tais como Pascoal Comanducci, Henriot,
Bady Elias Guri, Dolores Abreu, professor Cícero Pereira,
Virgílio Almeida, Célia Xavier, Schembri e outros trabalhadores
afeiçoados ao bem, que se encontram empenhados em promover
o Consolador em nossas vidas para que as mesmas sigam, por
acréscimo de misericórdia, na direção de Jesus.

9. Há médiuns inconscientes que, após a manifestação do


espírito, não se recordam do que o comunicante disse ou
fez por seu intermédio?
Divaldo – Sim. Há e ocorre com uma boa parcela dos
sensitivos. À medida que a faculdade se torna maleável, que os
filtros se fazem mais fiéis, o médium não se recorda através da
consciência plena, mas ele sabe algo, porque todo fenômeno
mediúnico se dá mediante uma co-participação do espírito
encarnado.

10. Essa co-participação seria um controle remoto do


subconsciente?
Divaldo – Exatamente. O espírito encarnado é quem côa a
mensagem da entidade desencarnada. Então, ao mesmo tempo,
exerce a fiscalização, o controle, e coíbe, quando devidamente
educado, quaisquer abusos, preservando o instrumento de sua
reencarnação, que é o corpo.

11. Quer dizer que, no fundo, é sempre o médium o


responsável, mesmo que tenha faculdade inconsciente,
por aquilo que vem através dele?
Divaldo – Daí dizer-se que “em todo fenômeno mediúnico há
um efeito anímico, assim como em todo fenômeno anímico há
19
uma expressão mediúnica”. Por melhor que seja o pianista, o
som é sempre do piano.

12. O que deve fazer o médium quando influenciado por


entidades da reunião, no trabalho, no lar? Quais as
causas dessas influências?
Divaldo – No capítulo 23º de O Livro dos Médiuns, Da
Obsessão, o Codificador reporta-se à invigilância das criaturas. É
natural que o indivíduo seja médium onde quer que se encontre.
A mediunidade não é uma faculdade que só funcione nas
reuniões especializadas. Onde quer que se encontre o indivíduo,
aí estão os seus problemas. É perfeitamente compreensível que
não apenas na oficina de trabalho, mas também na rua, na vida
social, ele experimente a presença dos espíritos; não somente
presenças positivas, como também perniciosas, entidades
infelizes, espíritos levianos, ou aqueles que se comprazem em
perturbar e aturdir. Cumpre ao médium manter o equilíbrio que
lhe é proposto pela educação mediúnica.
Mediante a educação mediúnica pode-se evitar a interferência
desses espíritos perturbadores em nossa vida de relação normal,
para que não venhamos a cair na obsessão simples, que é o
primeiro passo para a subjugação – etapa terminal de um
processo de três fases.
Quando estivermos em lugar não apropriado ao exercício da
mediunidade ou à exteriorização do fenômeno, disciplinemo-nos,
oremos, volvamos a nossa mente para idéias otimistas,
agradáveis, porque mudando o nosso clichê mental, transferimo-
nos de atividade espiritual.
É necessário que os médiuns estejam vigilantes, porque é
muito comum, graças àquele atavismo a que já nos reportamos, a
pessoa se caracterizar como médium por meio de pantomimas,
de manifestações exteriores.
Como querendo provar ser médium, a pessoa insensata faz
caretas, toma choques, caracterizando-se com patologias
nervosas. A mediunidade não tem nada a ver com essas
extravagâncias muito ao gosto dos exibicionistas. O mesmo
acontece com pessoas que, quando escrevem com a mão,
20
também escrevem com a boca, retorcendo-se, virando-se. Não
tem nada a ver uma coisa com outra. A pessoa para escrever
assume uma postura correta, que aprendeu na escola.
De forma análoga, o médium deve também aprender a
escrever e a “incorporar” sem esses transtornos nervosos. No
exercício da mediunidade é preciso educar a postura do médium,
para que ele seja intermediário equilibrado, não dando ensejo a
distonias na área mediúnica.

13. É possível ao médium distinguir as alterações psíquicas e


orgânicas que lhe são próprias das que estão procedendo
dos espíritos desencarnados?
Divaldo – Um dos comportamentos iniciais do médium deve
ser o de estudar-se. Daí ser necessário estudar a mediunidade.
Eu, por exemplo, quando comecei o exercício da mediunidade, ia
a uma festa e assimilava de tal forma o psiquismo do ambiente,
que me tornava a pessoa mais contente dali. Se ia a um
casamento eu ficava mais feliz que o noivo. Se ia a um enterro
ficava mais choroso que a viúva, porque me contaminava
psiquicamente, e ficava muito difícil saber como era a minha
personalidade. Pois, de acordo com o local, havia como que um
mimetismo, isto é, eu assimilava o efeito do ambiente.
Lentamente, estudando a minha personalidade, as minhas
dificuldades e comportamentos, logrei traçar o meu perfil
pessoal, e estabelecer uma conduta medial para que aqueles que
vivem comigo saibam como eu sou, e daí possam avaliar os
meus estados mediúnicos.
De início, o médium terá algumas dificuldades, porque o
fenômeno produz uma interposição de personalidades estranhas à
sua própria personalidade. Somando-se velhas dificuldades à
sensibilidade mediúnica, o sensitivo passa a ter muito aguçadas
as reminiscências das vidas pretéritas, não o caráter da
consciência, mas o somatório das experiências.
Recordo-me que, em determinada época da minha vida,
terminada uma palestra ou reunião mediúnica, eu tinha uma
necessidade imperiosa de caminhar. Caminhar até a exaustão
física. Naquele período claro-escuro da mediunidade, sem saber
21
exatamente como encontrar a paz, os espíritos me receitaram
trabalho físico, para que, cansado, fosse obrigado ao repouso
físico, porque tinha dificuldades de dormir. A vida física era-me
muito ativa e, mesmo quando o corpo caía no colapso, a mente
continuava excitada, e eu me levantava no dia seguinte pior do
que havia deitado. Então, às vezes, eu preferia não deitar.
Com o tempo fui formando meu perfil de comportamento, de
personalidade, aprendendo a assumir a responsabilidade dos
insucessos e a transferir para os Mentores os resultados das ações
positivas que são sempre de Deus, enquanto os erros são sempre
nossos. Estaremos sempre em sintonia com espíritos de
comportamento idêntico ao nosso. Daí, o médium vai medindo
as suas reações, suas mágoas, ciúmes, invejas, e irá identificando
as reações positivas, a beleza, o desejo de servir. Por fim,
aprende a selecionar quando é ele e quando são os espíritos que
estão agindo por seu intermédio.

14. O que determinará a qualidade dos espíritos que, pela lei


das afinidades, serão impelidos a se afinarem conosco nas
práticas mediúnicas?
Raul – Compreendemos que todos nós renascemos com
determinadas tarefas a realizar, e para esse entendimento, há
aqueles que renascem com a tarefa da mediunidade. O
chamamento da mediunidade na hora correta mostra ao seu
portador o compromisso ajustado. Normalmente, as entidades
que deverão trabalhar, que deverão atuar no campo mediúnico,
dirigindo as lides entre os companheiros da Terra, já vêm
ajustadas desde os seus contatos no mundo espiritual. Elas se
posicionam como verdadeiros guardiães para que, em momento
oportuno, o indivíduo se apresente diante do chamado.
Há outros espíritos que estão associados a essa programática
reencarnatória e que se afinam com o encarnado fora do labor da
mediunidade; e, à semelhança de alguém que se transfira de uma
casa para outra, de um bairro para outro, vai surgindo a
vizinhança nova e vão se mostrando os espíritos que se unem por
afinidades, por sintonia de gosto com aqueles que são os
médiuns.
22
O médium, desejoso de que a sua vizinhança espiritual seja
do melhor naipe, deverá preparar-se para ser também de bom
teor a sua vida.
Como nos ensina Emmanuel, deverá o médium ligar-se aos
que estão na faixa do Cristo.11 E, mesmo quando se manifestem
entidades enfermas, o médium estará servindo à enfermagem
espiritual, da mesma forma que um enfermeiro num hospital da
comunidade. Embora atenda a diversos doentes, a vários
pacientes de múltiplas características, nem por isso assimilará as
mazelas do doente. Um médico que trabalhe com doenças
contagiosas, nem por isso contrairá as moléstias das quais trata.
Então, esses médiuns que estão laborando com os diversificados
tipos espirituais procurarão ajustar-se aos Espíritos Benfeitores,
unir-se pela vivência, pela prática do amor e da caridade, em
suas várias dimensões.
Entendemos, com a Doutrina Espírita, que para nos
ajustarmos aos Espíritos nobres será necessário enquadrar nossa
romagem, pensamentos e hábitos ao bem e ao trabalho da
caridade.

15. Que utilidade tem a mediunidade de vidência?


Divaldo – A utilidade é a de desvelar os painéis do mundo
espiritual, sabendo observá-los, e, melhor ainda, mantendo
discrição no traduzi-los, para não a transformar num informativo
de leviandades.

16. Qual a colaboração que um médium vidente pode dar no


transcurso de uma sessão mediúnica?
Divaldo – Fazendo observações, anotando pontos capitais e
colaborando com o médium doutrinador, para que ele esteja
informado da qualidade dos espíritos que ali se comunicam.

17. É sempre segura e permanente essa faculdade?


Divaldo – Como toda faculdade mediúnica, ela é transitória e
oscilante, dependendo muito do estado moral do médium.

23
18. Por que dois médiuns enxergam, ao mesmo tempo,
quadros diferentes?
Divaldo – Porque as percepções visuais são em faixas
vibratórias, que oscilam de acordo com o grau de adiantamento
do espírito do médium.
Um registra uma faixa, na qual se manifestam os espíritos, e
outro registra um tipo de faixa diversa.
Ocorre, também, que a maioria dos médiuns videntes é
clarividente e, nesse caso, a imaginação, quando indisciplinada,
elabora construções e imagens que ele não sabe traduzir,
perturbando-se com aquilo que capta.

19. Podem, simultaneamente, dois médiuns, em se referindo à


mesma entidade, fazer descrições diferentes e serem
verídicas, ambas?
Divaldo – Seria o mesmo que duas pessoas de graus de
cultura diversos descrevendo uma tela. Cada uma informará os
detalhes que lhe chamem a atenção, com as possibilidades da sua
capacidade descritiva. Mas o conjunto geral será o mesmo.

20. Deverá ser?


Divaldo – Deve ser.

21. Qual a finalidade de médiuns curadores ?


Divaldo – A prática do bem, do auxílio aos doentes. O
Apóstolo Paulo já dizia: “Uns falam línguas estrangeiras, outros
profetizam, outros impõem as mãos...”
Como o Espiritismo é o Consolador, a mediunidade, sendo o
campo, a porta por meio da qual os Espíritos Superiores
semeiam e agem, a faculdade curadora é o veículo da
Misericórdia para atender a quem padece, despertando-o para as
realidades da Vida Maior, a Vida Verdadeira. Após a
recuperação da saúde, o paciente já não tem o direito de manter
dúvidas nem suposições negativas ante a realidade do que
experimentou.

24
O médium curador é o intermediário para o chamamento aos
que sofrem, para que mudem a direção do pensamento e do
comportamento, integrando-se na esfera do bem.

22. É normal que médiuns dessa natureza se utilizem de


instrumental cirúrgico, de indumentária, que os
caracterizem como médicos?
Divaldo – Na minha forma de ver, trata-se de ignorância do
espírito comunicante, que deve ser devidamente esclarecido, e de
presunção do médium, que deve ter alguma frustração e se
realiza dessa forma, ou de uma exibição, ou, ainda, para gerar
maior aceitação do consulente que, condicionado pela aparência,
fica mais receptivo. Já que os espíritos se podem utilizar dos
médiuns que normalmente não os usam, não vejo porque recorrer
à técnica humana quando eles a possuem superior.

23. Quais os cuidados que se deve tomar para que o médium


curador não se apresente como um curandeiro e não
esteja enquadrado no Código Penal, pela prática ilegal da
medicina?
Divaldo – Primeiro, que ele estude a Doutrina Espírita,
porque todo e qualquer médium que ignora o Espiritismo é
alguém que caminha em perigo.
Por que é alguém que caminha em perigo? Porque aquele que
ignora os recursos que possui, que se desconhece a si mesmo, é
incapaz de realizar um trabalho em profundidade e com
equilíbrio. Se estuda a Doutrina, fica sabendo que a faculdade de
que se encontra revestido é temporária, é o acréscimo de
responsabilidade, também uma provação, na qual ele estará
sendo testado constantemente e deve sempre, em cada exame,
lograr um resultado positivo.
Depois de se dedicar ao estudo da Doutrina, deve se vincular
a um Centro Espírita, porque um dos fatores básicos do nosso
comportamento é a solidariedade, em trabalho de equipe.
Estando a trabalhar num Centro Espírita, ele estará menos
vulnerável às agressões das pessoas frívolas, irresponsáveis, dos
interesseiros; terá um programa de ação, em dias e horas adrede
25
estabelecidos. Então, não ficará à mercê da mediunidade, em
função dela, mas será um cidadão normal, que tem seus
momentos de atender, trabalhando para viver com dignidade e
renunciando às suas horas de descanso em favor do ministério
mediúnico.
Para que ele se poupe de ficar incurso no Código Penal, deve
fazer o exercício da mediunidade sem prometer, sem anunciar
curas retumbantes, porque estas não podem ser antecedidas, e a
Deus pertencem, e não retire da mediunidade nenhum proveito
imediato, porque o curandeirismo implica em exploração da
ingenuidade do povo, da superstição e da má-fé. Se ele é dotado
de uma faculdade mediúnica, seja qual seja, dentro de uma vida
regular e equilibrada, preservar-se-á a si mesmo. Se,
eventualmente, for colhido nas artimanhas e nas malhas da Lei,
isto será conseqüência da Lei Divina.
Que ele saiba pagar o preço do ministério que executa, que
lhe foi confiado pelo Senhor.

24. O endeusamento do médium constitui perigo para a


mediunidade? Por quê?
Raul – Evidentemente que tudo aquilo que constitui motivo
de tropeço na estrada de qualquer criatura naturalmente poderá
levá-la à queda. Em se tratando de médium e de mediunidade,
todo e qualquer endeusamento é plenamente dispensável, mesmo
porque entendemos que o médium não fala por si próprio. O que
ele apresenta de positivo, de nobre, de engrandecedor, deve-se à
assistência e à misericórdia dos Espíritos do Senhor, não
havendo motivo, portanto, para que se vanglorie de uma virtude,
de uma grandeza que ainda não lhe pertencem.
Por outro lado, se o fenômeno ao qual ele serve de
intermediário não constitui essa grandiosidade, se são fenômenos
modestos, ou se houve algum equívoco ou alguma fragilidade
nas colocações que alguma entidade apresentou, também não é
motivo para que o médium se atormente, se entristeça, porque
terá sido apenas o filtro. Necessita, sim, a partir de então, de ter o
cuidado de estar cada dia mais vigilante, para que esse
empobrecimento não se amplie, para que não seja co-participante
26
dessa deficiência e para que ele, cada vez mais, se dê conta de
que a vaidade poderá ser-lhe prejudicial.
Por isso, qualquer endeusamento é desnecessário, é
improfícuo. Isso não dispensa que os companheiros, que estejam
lidando com o médium, o possam incentivar para que ele cresça,
para que ele se desenvolva cada vez mais e melhor, para que
estude, para que sirva, para que trabalhe. Assim afirmamos
porque temos visto oculta por trás desse broquel do não-
endeusamento uma parte muito considerável de um personalismo
infeliz, de um despeito torturante.
Muitas vezes, diz-se que não se deve elogiar o médium,
porque não haveria necessidade para tanto. Porém, não se lhe diz
nenhuma palavra que o impulsione para a frente, determinando
uma posição de despeito, ou de indiferença. Se não precisamos
dizer à criatura que ela é um médium melhor que Chico Xavier, e
todos saberão que é uma inverdade, poderemos dizer: prossiga,
meu irmão ou minha irmã, vá adiante... O Chico também
começou nas lutas das suas experiências iniciais, claro que
estamos deixando de lado aquela continuidade de tarefas que ele
vem fazendo desde reencarnações anteriores, mas, de qualquer
maneira, mesmo em encarnações anteriores ele iniciou pelo
simples, pelas coisas mais modestas, e se hoje ele é esse filão de
grandiosa mediunidade, é porque esforçou-se, devotou-se nesse
anelo da perfeição espiritual.
O endeusamento, então, será sempre dispensável, mormente
para aqueles médiuns que estejam começando, mas não
deveremos deixar de incentivá-los, doutrinariamente, para que
não sejam desanimados pela onda terrível que agride médiuns e
mediunidades, nesses dias, que lança descrédito e tenta jogar
desdouro por sobre a tarefa mediúnica.

25. O médium pode trocar a tarefa mediúnica por outra


atividade doutrinária?
Divaldo – A tarefa mediúnica estará presente na vida do
instrumento, onde quer que ele se localize. É óbvio que a tarefa
mediúnica foi por ele elegida e não seria lícito que a
abandonasse a meio do caminho, num mecanismo de fuga à
27
responsabilidade, para a realização de outra que, certamente, não
levará adiante. O indivíduo, por exercer a mediunidade, pode e
deve assumir outras tarefas que dizem respeito ao labor da Casa
Espírita, mesmo porque a mediunidade não irá tomar-lhe o
tempo integral, de modo que o impeça de vivenciar a
programática da Doutrina Espírita em outros níveis.
Neste momento, eu vejo aqui um médium desencarnado, que
viveu em Belo Horizonte. Era militar e se chama Henrique
Kemper Borges. Entregou-se à mediunidade, trabalhando por
longos anos a fio, sem que isso lhe perturbasse o labor da vida
militar, social e doutrinária abraçado, porque a educação da
mediunidade, diz ele, “faz parte do Evangelho de Jesus e, à luz
da Codificação Espírita, é uma diretriz de equilíbrio no culto do
dever que o espírito encarnado assume, para liberar-se do
passado comprometido com aqueles a quem prejudicou e que
ainda se encontram na erraticidade inferior, necessitando de sua
ajuda e de seu apoio. Qualquer motivo que objetive desviá-lo da
tarefa abraçada é mecanismo de fuga para acumpliciamento com
a ociosidade”.

26. Se o médium interrompe sua tarefa mediúnica, pode isto


lhe causar danos? Por quê?
Divaldo – O êxito de qualquer atividade depende do exercício
da aptidão de que se é objeto. A mediunidade, segundo Allan
Kardec, “é uma certa predisposição orgânica” 12 de que as
pessoas são investidas. A faculdade mediúnica é do espírito. A
mediunidade é-lhe uma resposta celular do organismo.
Apresenta-se como sendo uma aptidão. Se a prática não é
convenientemente educada, canalizada para a finalidade a que se
destina, os resultados não são, naturalmente, os desejados. A
pessoa, não conduzindo corretamente as suas forças mediúnicas,
não logra os objetivos que persegue. Abandonando a tarefa a
meio termo, é natural que a mesma lhe traga os efeitos que são
conseqüentes do desprezo a que está relegada. Qualquer
instrumento ao abandono é vítima da ferrugem ou do desajuste.
Emmanuel, através da abençoada mediunidade de Chico Xavier,
afirmou com lógica: “Quanto mais trabalha a enxada, mais a
28
lâmina se aprimora. A enxada relegada ao abandono vai
carcomida pela ferrugem.”
Quando educamos a mediunidade, ampliando a nossa
percepção parafísica, desatrelamos faculdades que jaziam
embrionárias.
Se, de um momento para outro, mudamos a direção que seria
de esperar-se, é óbvio que a mediunidade não desaparece e o
intercâmbio que se dá muda de condutor. O indivíduo continua
médium, mas já que ele não dirige a faculdade para as
finalidades nobres vai conduzido pelas entidades invigilantes, no
rumo do desequilíbrio.
Daí dizer-se, em linguagem popular, que a mediunidade
abandonada traz muitos danos àquele que dela é portador. Isso
ocorre porque o indivíduo muda de mãos. Enquanto está no
exercício correto de suas funções, encontra-se sob o amparo de
entidades responsáveis. Na hora que inclina a mente e o
comportamento para outras atividades, transfere-se de sintonia, e
aqueles com os quais vai manter o contato psíquico são,
invariavelmente, de teor vibratório inferior, produzindo-lhe
danos.
Também seria o caso de perguntarmos ao pianista o que
acontece com aquele que deixa de exercitar a arte a que se dedica
no campo da música. Ele dirá que perde o controle motor, que as
articulações perderam a flexibilidade, a concentração
desapareceu e ele vai, naturalmente, prejudicado por uma série
de temores que o assaltam, impedindo-lhe o sucesso. A
mediunidade é um compromisso para toda “a vida” e não apenas
para toda a reencarnação. Porque, abandonando os despojos
materiais, o médium prossegue exercitando a sua percepção
parafísica em estágios mais avançados e procurando chegar às
faixas superiores da Vida.

27. Em mediunidade, o que seriam sintonia, ressonância e


vibrações compensadas?
Divaldo – A sintonia, como o próprio nome diz, é a
identificação. Estamos sempre acompanhados daqueles que nos
são afins. A emissão de uma onda encontra ressonância num
29
campo vibratório equivalente. Aí temos a sintonia, como numa
rádio que emite uma onda e é captada por um receptor na mesma
faixa vibratória. A sintonia de Chico Xavier com o Espírito
Emmanuel dá essa ressonância maravilhosa, que é a obra
abençoada que o Instrutor mandou à Terra. A ressonância seria o
efeito que decorre do mecanismo de sintonia. E as vibrações
compensadas são aquelas que oferecem, como o próprio nome
coloca, a resposta dentro do padrão de reciprocidade. Quando
Chico sintoniza com Emmanuel recebe a compensação do
benefício que decorre daquela onda provinda do Benfeitor, que
lhe responde ao apelo através do bem-estar que lhe proporciona.
Essa compensação pode ser positiva ou negativa. Se elaboramos
idéias infelizes somos compensados pelas respostas das
entidades afins, que se comprazem em nos utilizar na viciação
toxicômana, alcoólica, tabagista ou no exagero em qualquer
função ou hábito.
Quando oramos ao Cristo, ou oramos a Deus, recebemos
imediatamente a compensação do bem-estar que decorre de
estarmos sintonizados com o Alto.

28. Qual o papel dos centros vitais no intercâmbio


mediúnico?
Raul – Encontramos os centros vitais como sendo
representações do corpo psicossomático ou perispírito,
correspondendo aos plexos no corpo físico.
São verdadeiras subestações energéticas.
À proporção que encontramos no mapa fisiológico do
indivíduo os diversos entroncamentos nervosos, de vasos, de
veias, temos aí um foco de expansão de energia.
O nosso centro coronário, que é a porta que se abre para o
cosmo, é a “esponja” que absorve o influxo de energia e o
distribui para o centro cerebral, para o centro laríngeo, e,
respectivamente, para outros centros que se distribuem com
maior ou menor intensidade, através do corpo. Sabemos que tais
energias, antes de atingir o corpo físico, abrigam-se no corpo
espiritual. Do mesmo modo como se tivéssemos uma grande
cisterna de água abastecendo uma cidade, tendo em cada
30
residência a nossa particular, verificamos no organismo a grande
“cisterna” que absorve as energias de maior vulto, que é o citado
centro coronário, e as pequenas “cisternas” que vão atendendo às
outras regiões: o centro cerebral, atendendo às funções
intelectivas do homem, acionando as funções da mente; o centro
laríngeo, responsável pela respiração, pela fala e todas as
funções importantes do aparelho fonador; temos o centro
cardíaco, que ativa as emoções, as emissões do sentimento do
homem, atuando sobre o músculo cardíaco. Conhecemos o
centro gástrico, responsável pela digestão energética e
naturalmente achamos aí, no campo da mediunidade, uma
contribuição muito grande, porque os médiuns invigilantes, ou
que estão nas lides sem o devido policiamento, sem as devidas
defesas, quando entram em contato com atormentados, sentem as
tradicionais náuseas, absorvendo energias que os alimentam de
maneira negativa e provocam mal-estares de repercussão no
soma, no corpo físico; a dor de cabeça, tão comum aos médiuns,
são energias atingindo o centro cerebral. Lembramos, ainda, o
centro esplênico, responsável pela filtragem de energia, atuando
sobre o baço, do mesmo modo que este é responsável pelo
armazenamento do sangue, pela filtragem; e, achamos o centro
básico ou genésico, por onde absorvemos a energia provinda dos
minerais, do solo, o chamado pelos jogues de “kundalini” ou
“fogo serpentino”.
Esses centros espalhados são tidos como os mais importantes,
mas, ao longo do corpo, temos vários outros centros por onde as
energias penetram ou por onde elas são emitidas. Dessa forma,
os centros de força são distribuidores de energia ao longo do
corpo psicossomático que têm a função de atender ao corpo
somático. Identificamos a correspondência das veias, das artérias
e dos vasos no corpo físico com as “linhas de força” do corpo
perispiritual. Eis porque, quando recebemos o passe,
imediatamente, sentimos bem-estar, nos sentimos envolvidos
numa onda de leveza que normalmente provoca-nos emoção.
Porque as energias penetram o centro coronário e são
distribuídas por essas “linhas de força”, à semelhança de
qualquer medicamento, elas vão atingir as áreas carentes. Se
31
estivermos com uma problemática cardíaca, por exemplo, não
haverá necessidade de aplicarmos as energias sobre o músculo
cardíaco, porque em penetrando nossa intimidade energética,
aquele centro lesado vai absorver a quantidade, a parcela de
recursos fluídicos de que necessita. Do mesmo modo, se temos
uma dor na ponta do pé e tomamos um analgésico, que vai para o
estômago, a dor na ponta do pé logo passa. Então, o nosso cosmo
energético está, como diz a Doutrina Espírita, ligado célula por
célula ao nosso corpo somático. Por isso, os centros de força do
perispírito têm seus correspondentes materiais nos plexos do
corpo carnal, ou, diríamos de melhor maneira, os plexos do
corpo carnal são representantes materiais, são a expressão
materializada dos fulcros energéticos ou dos centros de força, ou,
ainda, dos centros vitais do nosso perispírito.

29. Considerando os vários casos mediúnicos abordados no


livro Painéis da Obsessão, perguntamos: durante a
recepção do livro o irmão desdobrou-se e conviveu com o
ambiente espiritual?
Divaldo – Durante o trabalho de psicografar o livro
romanceado, os espíritos permitiram-me acompanhar o que
grafavam. Como são psicografias feitas em horas específicas,
adrede reservadas para esse mister, registramos cenas, à medida
que os espíritos iam escrevendo, através dos clichês mentais que
me projetavam. Certa vez, quando psicografava o Párias em
Redenção,13 que foi o nosso primeiro romance mediúnico ditado
por Victor Hugo, observamos toda a paisagem que ele mostrava
enquanto meu braço escrevia.
Para minha surpresa, notei, quando li as páginas, que havia
visto muito mais do que ali estava escrito. Ocorreu-me a idéia de
explicar aos confrades de nossa Casa, que era o mesmo que ir ao
cinema acompanhado por um cego e estar explicando-lhe as
cenas que se projetam na tela. A capacidade visual é muito maior
do que a palavra ou a grafia.
Assim, quando Manoel Philomeno escreveu a obra Painéis da
Obsessão,14 eu acompanhei o que estava anotando, havendo sido
levado à Colônia onde se realizavam as duas intervenções
32
cirúrgicas na personagem central de nome Argos, que havia
contraído a enfermidade física, graças a um processo obsessivo
que, atuando por meio de vibrações viciosas nos centros vitais, a
que se referiu Raul, terminou por matar as defesas imunológicas
do organismo, dando margem a que o bacilo de Koch, que se
encontrava no organismo, viesse a formar colônias em seus
pulmões.

33
Segunda parte
Grupo Mediúnico

1. conceito de grupo mediúnico;


2. tipos de participantes;
3. sobre o número de participantes;
4. objetivo da sessão mediúnica;
5. ajuda recíproca entre médiuns e desencarnados;
6. prontidão dos médiuns;
7. estado geral do médium à hora da reunião;
8. ação dos integrantes da sessão mediúnica, após seu término,
no mundo espiritual;
9. avaliação da reunião mediúnica;
10. comportamento dos integrantes do grupo, antes e depois da
sessão;
11. preparo íntimo dos integrantes da sessão mediúnica;
12. hábitos mentais e comportamentos morais;
13. ação dos perturbadores desencarnados nos dias das tarefas;
14. sobre prece e leitura antes da sessão mediúnica;
15. sobre a exigência da manifestação do Mentor para a
abertura da sessão;
16. condicionamentos prejudiciais no início das sessões;
17. uso de fórmulas faladas para a abertura das sessões
mediúnicas;
18. ausência de comunicações nas sessões mediúnicas;
19. conseqüências da queda do padrão vibratório das sessões;
20. atitude do dirigente das sessões quando não ocorram
manifestações;
21. procedimento dos dirigentes para que alcancem seus
objetivos doutrinários;
22. alvitre para os dirigentes e candidatos à direção de sessões;
23. identificação de fenômenos anímicos e mistificadores;
24. função do grupo mediúnico;
25. necessidade do fluido animal;
34
26. reunião mediúnica pública;
27. êxito da reunião depende da equipe;
28. privacidade da reunião mediúnica;
29. influência da equipe sobre o médium em transe;
30. grupos fechados em torno de si mesmos;
31. sobre o encaminhamento de pessoas com perturbações
mediúnicas para as sessões;
32. importância e necessidade do estudo para os médiuns;
33. atendimento a quem chegue com problemas mediúnicos;
34. perturbação mediúnica como chamamento moral;
35. freqüência do médium a reuniões e solução de problemas;
36. ansiedade de muitos médiuns e o trabalho por fazer;
37. reuniões mediúnicas domiciliares;
38. evangelho no lar com atividade mediúnica;
39. lugar ideal para as sessões mediúnicas;
40. programação dos benfeitores desencarnados para as
sessões;
41. sessões mediúnicas fora do Centro Espírita;
42. para identificar a natureza dos espíritos nas sessões
mediúnicas;
43. idade mínima para o serviço mediúnico;
44. importância da maturidade espiritual;
45. não é suficiente o conhecimento teórico para a participação
mediúnica;
46. sobre psicofonias múltiplas, uma atrás da outra, por um
mesmo médium;
47. número de manifestações por médium;
48. problema do sono nas sessões mediúnicas;
49. sugestões para os tarefeiros cansados da lide diária, contra o
sono;
50. sono como adversário terrível do aprendizado.

35
30. O que é um grupo mediúnico e qual o número adequado
de pessoas que deve constituí-lo?
Divaldo – Entendemos por grupo mediúnico a associação de
pessoas que têm conhecimento da Doutrina Espírita e que
pretendem dedicar-se ao estudo da fenomenologia medianímica
e, simultaneamente, praticar a excelente lição do próprio
Espiritismo, que é a caridade.
O número de pessoas oscila de acordo com as possibilidades
dos que dirigem o grupo. Ideal é que este seja constituído de
elementos, como diz Allan Kardec,15 simpáticos entre si, que
persigam objetivos superiores, que desejem instruir-se e que
estejam dispostos ao ministério do serviço contínuo; entretanto,
merece considerar que todo grupo de experiências mediúnicas
fundamentado num número excessivo de membros está
relativamente fadado ao fracasso. Os espíritos prescrevem um
número em torno de 15 (quinze), no máximo 20 (vinte), ou não
inferior a 6 (seis), para que haja a equipe dos que trabalharão na
mediunidade propriamente chamada, bem como a equipe dos que
atenderão no socorro dos passes e através da mediunidade de
doutrinação, e, ao mesmo tempo, o grupo dos que poderão
atender como assessores para qualquer outra cooperação
necessária.

31. Qual o objetivo de uma sessão mediúnica?


Divaldo – É acima de tudo uma oportunidade de o indivíduo
auto-reformar-se; de fazer silêncio para escutar as lições dos
espíritos que vêm a nós, depois da morte, chorando e sofrendo,
sendo este um meio de evitarmos cair em seus erros. É também
para fazer-nos esquecer a ilusão de que nós estejamos ajudando
os espíritos, uma vez que eles podem passar sem nós. No mundo
dos espíritos, as Entidades Superiores promovem trabalhos de
esclarecimento e de socorro em seu favor; nós, entretanto,
necessitamos deles, mesmo dos sofredores, porque estes são a
lição de advertência em nosso caminho, convidando-nos ao
equilíbrio e à serenidade. Assim, vemos que a ajuda é recíproca.
O médium é alguém que se situa entre os dois hemisférios da
vida. O membro de um labor de socorro medianímico é alguém
36
que deve estar sempre às ordens dos Espíritos Superiores para os
misteres elevados.
À hora da reunião, devem-se manter, além das atitudes
sociais do equilíbrio, a serenidade, um estado de paz interior
compatível com as necessidades do processo de sintonia, sem o
que, quaisquer tentames nesse campo redundarão inócuos, senão
negativos.
Depois da reunião é necessário manter-se o mesmo ambiente
agradável, porque, à hora em que cessam os labores da
incorporação, ou da psicografia, o fenômeno objetivo externo,
em si, não cessam os trabalhos mediúnicos no mundo espiritual.
Quando um paciente sai da sala cirúrgica, o pós-operatório é tão
importante quanto a própria cirurgia. Por isso, o paciente fica
carinhosamente assistido por enfermeiros vigilantes que estão a
postos para atendê-lo em qualquer necessidade que venha a
ocorrer.
Quando termina a lide mediúnica, encerra-se,
momentaneamente, a tarefa dos encarnados, a fim de estes
recomecem-na, logo mais, no instante em que penetrem a esfera
do sono, para prosseguir sob outro aspecto, ajudando os que
ficaram de ser atendidos e não puderam, por uma ou outra razão.
Então, convém que, ao terminar a reunião mediúnica seja
mantida a psicosfera agradável, em que as conversas sejam
edificantes. Pode-se e deve-se fazer uma análise do trabalho
realizado, um estudo, um cotejo no campo das comunicações e
depois uma verificação da produtividade; tudo isto em clima
salutar de fraternidade, objetivando dirimir futuras inquietações e
problemas outros.

32. Como se devem portar os médiuns e os demais membros


de um grupo, antes e depois do trabalho mediúnico?
Divaldo – Como verdadeiros cristãos.
Devem manter a probidade, o respeito a si mesmos e ao seu
próximo; ter uma vida, quanto possível, sadia, sabendo que o
exercício mediúnico não deve ser emparedado nas dimensões de
apenas uma hora de relógio, reservada a tal mister.

37
33. Os participantes de uma sessão mediúnica devem fazer
algum tipo de preparo íntimo durante o dia, antes mesmo
do início da reunião?
Divaldo – O espírita deve fazer um preparo normal, porque é
um dever que lhe compete, uma vez que nunca sabe a hora em
que será convocado ao retorno à consciência livre.
O espírita que freqüenta o labor mediúnico, além de espírita,
é peça importante no mecanismo de ação dos espíritos na direção
da Terra. Ele deve fazer uma preparação, não somente nos dias
da reunião, mas sempre, porque tal preparação seria insuficiente
e ineficaz, já que ninguém muda de hábitos, apenas por alterar
sua atitude momentânea.
Nos trabalhos mediúnicos, são exigíveis hábitos mentais de
comportamento moral enobrecido, e estes não podem ser
improvisados. Então, os membros de uma sessão mediúnica são
pessoas que devem estar normalmente vigilantes todos os dias e,
em especial, nos reservados ao labor, para que se poupem às
incursões dos espíritos levianos e adversários do bem, que, nesse
dia, tentarão prejudicar a colaboração e perturbar-lhes o estado
interior, levando distúrbios ao trabalho geral, que é o que eles
objetivam destruir. Então, nesse dia, a vigilância deve ser maior:
orar, ler uma página salutar, meditar nela, reflexionar, evitar
atitudes da chamada reação e cultivar as da ação, pensar antes de
agir, espairecer e se, eventualmente, for colhido pela tempestade
da ira, pela tentação do revide, que às vezes nos chega, manter a
atitude recomendada pelo Evangelho de Jesus.

34. Uma sessão mediúnica espírita deve ser sempre iniciada


com uma prece, e logo passar-se à leitura de O Evangelho
Segundo o Espiritismo? Agindo sempre assim, não se
estará criando um ritualismo?
Divaldo – Pode-se estar criando um hábito, não um ritual,
porque aí não chega a ser um dever inadiável.
Nós, por nossa vez, fazemos ao revés. Lemos uma boa página
de esclarecimento, comentamo-la e fazemos a prece
posteriormente, depois do que a reunião tem início.

38
35. Alguns grupos mediúnicos exigem a manifestação dos
Mentores Espirituais para declararem iniciados os
trabalhos. É isto necessário?
Divaldo – Exigir a manifestação do Mentor é inverter a
ordem do trabalho. Quem somos nós para exigir alguma coisa
dos Mentores? Quando o trabalho está realmente dirigido, são os
Mentores que, espontaneamente, quando convém, se apressam
em dar instruções iniciais, objetivando maior aproveitamento da
própria experiência mediúnica.
Ocorre que, se o início do trabalho for condicionado a
incorporações dos chamados Espíritos guias, criar-se-á um
estado de animismo nos médiuns que, enquanto não ouçam as
palavras sacramentais, não se sentirão inclinados a uma boa
receptividade. Isso é criação nossa, não é da Doutrina Espírita.

36. Há necessidade de se abrir um trabalho mediúnico


usando expressões como: aberto com a chave de paz e
amor, aberto com a proteção da corrente do Himalaia ou
outras do gênero?
Divaldo – Pessoalmente, não utilizamos nenhuma fórmula,
porque, na Doutrina Espírita, não existem chavões, rituais,
palavras cabalísticas.
Normalmente, dizemos que os trabalhos estão iniciados como
sendo uma advertência para as pessoas saberem que já estamos
em condições de entrar em sintonia. Penso mesmo que seja
desnecessário dizer que a sessão está aberta ou iniciada. Feita a
prece, evocada a proteção divina, automaticamente está iniciado
o labor. Desse modo, acrescentar quaisquer palavras que façam
relembrar mantras, condicionamentos, é conspirar contra a
pureza doutrinária, criando certas manifestações circunstanciais,
que somente cultivam a ignorância e a superstição.

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37. Por que acontece, às vezes, nas sessões mediúnicas, não
haver nenhuma manifestação? O que determina ou
impede as manifestações?
Divaldo – O baixo padrão vibratório reinante no ambiente. A
sintonia psíquica dos membros da reunião responde pelos
resultados da mesma.

38. E a justificativa que é dada, às vezes, de que durante esses


trabalhos a movimentação dos Espíritos utiliza os fluidos
dos encarnados presentes para realização de tarefas
somente no campo espiritual?
Divaldo – Para que eles realizem as tarefas no campo
espiritual, não necessitam da nossa presença. Retiram os fluidos
em outras circunstâncias.
É que quando ocorre a queda do padrão vibratório, e como
os Espíritos são trabalhadores, eles aproveitam o tempo da nossa
ociosidade para produzirem.
Então, diante de um possível dano que poderia ser grave, eles
diminuem as conseqüências realizando trabalhos espirituais,
conquanto os homens não sintonizem-se com eles.

39. Seria justo, então, se encerrasse a reunião depois de


alguns minutos, desde que não se obtenha comunicação
nenhuma?
Divaldo – Não, porque esta é uma forma de disciplinar os
membros da sessão a terem responsabilidade e prepararem-se
para o trabalho, que assumem espontaneamente.

40. Como deve proceder o dirigente das sessões mediúnicas


para alcançar os objetivos superiores do trabalho?
Raul – A fim de atingir a meta proposta pelos Dirigentes
Espirituais das sessões, será de bom alvitre que o dirigente
encarnado atenda a tarefa com a máxima seriedade,
considerando-a como o seu encontro mais íntimo com a
Espiritualidade.

40
Na condição de condutor encarnado do cometimento
mediúnico, deverá preparar-se para filtrar as inspirações do
Invisível Superior, por meio das indispensáveis disciplinas do
caráter, de uma vida enobrecida pelo cumprimento do dever, pela
renúncia aos vícios de todos os tipos, que enodoam tanto seu
psiquismo quanto seu organismo físico.
Será de grande valia, tanto para o dirigente quanto para
aqueles que se candidatam a tal direção de trabalhos mediúnicos,
o gosto por estudar as obras literárias do Espiritismo, assim
como o hábito das meditações em redor do que haja lido,
facilitando a identificação das diversas ocorrências que poderão
se dar nas sessões, como permitindo interferências
indispensáveis nessas ocasiões, com conhecimento de causa.
O fenômeno do animismo, assim como o das mistificações,
somente às custas de muita reflexão em torno de muito estudo e
amadurecimento, com o conseqüente conhecimento do ser
humano, poderão ser identificados satisfatoriamente.

41. Qual a função da mesa mediúnica em uma reunião?


Raul – Entendemos que o agrupamento de companheiros de
uma reunião mediúnica se destina a fomentar maior vinculação
entre as mentes.
Disse Nosso Senhor Jesus Cristo que onde estivessem duas
ou mais criaturas trabalhando em Seu nome, entre elas ou com
elas estaria. A dita mesa mediúnica permite maior envolvimento
dos encarnados médiuns com os Benfeitores da Vida Mais
Ampla, que terão uma vibração mental de boa qualidade, quando
os médiuns estão sintonizados na atividade do bem, para que eles
possam dela se utilizar.
As entidades que se comunicam em estado de necessidade
carecem do chamado fluido animal, ou fluido magnético animal,
como afirma Allan Kardec em O Livro dos Médiuns,16 e essa
sintonia faz com que se aprimore a assistência, facilita o serviço
do bem na mediunidade, e é essa a oportunidade que os Céus
concederam a nós outros, os homens da Terra, para que, ao
mesmo tempo em que estejamos crescendo, cooperemos também
para o crescimento dos outros, enxugando as nossas lágrimas
41
com o mesmo lenço que enxugamos as lágrimas alheias. Então, a
mesa mediúnica, ou grupo mediúnico, se destina a fomentar a
formação de um corpo vibratório.
A reunião mediúnica é uma reunião energética por
excelência, em que as energias dos dois campos, encarnado e
desencarnado, se fundem para que se elevem as criaturas da
Terra na conquista da felicidade interior.

42. As reuniões mediúnicas devem ser públicas? Por quê?


Divaldo – O Codificador recomenda pequenos grupos, graças
às dificuldades que há nos grandes grupos, em relação à sintonia
vibratória e harmonia de pensamentos.
Uma reunião mediúnica de caráter público é um risco
desnecessário, porque vêm pessoas portadoras de sentimentos os
mais diversos, que irão perturbar, invariavelmente, a operação da
mediunidade. Afirmam os Benfeitores que uma reunião
mediúnica é um grave labor, que se desenvolve no campo
perispirítico, e se a equipe não tem um conhecimento
especializado, é compreensível que muitos problemas sucedam
por negligência da mesma. A reunião mediúnica não deve ser de
caráter público, porque teria feição especulativa, exibicionista,
destituída de finalidade superior, atitudes tais que vão de
encontro negativamente aos postulados morais da Doutrina.
Mesmo nas reuniões mediúnicas privativas deve-se manter
um número ideal de membros, não excedente a 20 pessoas, para
que se evitem essas perturbações naturais nos grupamentos
massivos.
Onde haja um grupo mediúnico com grande número, que seja
dividido em dois trabalhos separados (porque, em Movimento
Espírita, na ordem do bem, dividir é multiplicar o benefício
daqueles que se repartem). Igualmente é necessário que as
pessoas sejam afins entre si no grupo. Por motivos óbvios, se
estamos numa reunião mediúnica e não somos simpáticos a um
indivíduo, toda a comunicação que por ele venha, os nossos
recalques e conflitos põem-nos carapuças, acreditando serem
indiretas a nós dirigidas. Se, por acaso, alguém não nos é
simpático, quando ele entra em transe ficamos bombardeando:
42
“Imagine o fingido; vê se eu vou acreditar nele!” Formamos
assim, uma antena emissora de dificuldades para o companheiro
que está sendo agredido pela nossa mente, porque desde que o
indivíduo é médium, ele não o é exclusivamente dos espíritos
desencarnados, mas também dos encarnados.
O êxito de uma reunião mediúnica depende da equipe que ali
comparece e não apenas do médium.
Os Mentores programam, mas aquela equipe em
funcionamento responderá pelos resultados.
Nunca é demais recomendar que as sessões mediúnicas sejam
de caráter privado.

43. Recebe o médium, em transe, a influência mental do


grupo de que participa?
Raul – Aprendemos em O Livro dos Médiuns,17 com Allan
Kardec, que a reunião é um ser coletivo.
Todos aqueles que dela participam, com qualquer função que
seja, estão automaticamente vinculados às suas ocorrências, de
maneira que, muitas vezes, o grupo não estando bem sintonizado
e realizando um trabalho de alta envergadura, os médiuns que
são filtros dos espíritos encarnados e desencarnados estarão
filtrando, encharcando-se daquelas nuances vibratórias que o
ambiente lhes permite fruir. Dessa maneira é que se justifica a
desnecessidade de reuniões mediúnicas com público que não
esteja sintonizado com a realidade do estudo doutrinário, porque
os médiuns ficam à mercê desses influxos de dardos mentais de
indiferença, de descrença e de petitórios e, muitas vezes, a
mensagem que eles veiculam sairá com o sabor dessas
insinuações, desses desejos e perturbações.
O grupo participa, também, das comunicações com esse
suporte energético apoiando ou desequilibrando o médium,
porque a reunião é um corpo coletivo.

43
44. E aqueles grupos que se fecham em torno deles mesmos e
seus membros não freqüentam palestras, reuniões
doutrinárias e se dedicam tão somente ao fenômeno em si,
ao intercâmbio mediúnico? Estarão procedendo
corretamente?
Divaldo – O mandamento é este: que vos ameis uns aos
outros como eu vos amei e que façais ao próximo quanto
desejardes que o próximo vos faça, equivalendo a dizer que todo
aquele que se isola perde a oportunidade de evoluir, porque todo
enquistamento degenera em enfermidade.

45. Uma pessoa com problemas mediúnicos deve ser


encaminhada, sem risco, para uma reunião mediúnica?
Divaldo – A pergunta já demonstra que a pessoa, tendo
problemas, deve primeiro equacioná-los, para depois estudar e
aprimorar a faculdade que gera aqueles problemas. Como na
mediunidade os problemas são do espírito e não da faculdade
mediúnica, é necessário que primeiro se moralize o médium.
Abandonando as paixões, mudando a direção mental, criando
hábitos salutares para sua vivência, reflexionando no Evangelho
de Jesus, aprendendo a orar, ele equaciona na base, os problemas
que inquietam o efeito, que é a faculdade mediúnica. Somente
após o quê, lhe é lícito educar a mediunidade.
No capítulo 1 de O Livro dos Médiuns o Codificador examina
o assunto na epígrafe: Há Espíritos?. Explica Allan Kardec que
ninguém deve levar a uma sala de química por exemplo, alguém
que não entenda das fórmulas e das composições químicas.
Explico-me: um leigo chega numa sala e vê vários vidros, com
água branca e uma anotação que lhe parece cabalística: HNO 3 +
3HCI.18 Para ele a anotação não diz nada. Mas, se misturar
aqueles líquidos corre perigo. Assim, também é necessário
primeiro que o indivíduo conheça no laboratório do mundo
invisível as soluções que vai manipular, para depois partir para as
experiências.
É de bom alvitre, portanto, que alguém que tenha problemas
de mediunidade seja encaminhado às sessões doutrinárias de

44
estudos, para primeiro evangelizar-se, conhecendo a doutrina, a
fim de que, mais tarde, canalize as suas forças mediúnicas num
bom direcionamento.
Há uma praxe entre as pessoas pouco esclarecidas a respeito
da Codificação Espírita, que induz se leve o indivíduo a uma sala
mediúnica para poder equacionar problemas, como quem tira
uma coisa incômoda de cima da pessoa.
O problema de que a criatura se vê objeto pode ser o
chamamento para mudança de rota moral. A mediunidade que
aturde é um apelo para retificação das falhas. E é necessário ir-se
às bases para modificar aqueles efeitos perniciosos.
Daí, diante de uma pessoa com problemas mediúnicos, a
primeira atitude nossa será encaminhar o necessitado à
aprendizagem da Doutrina Espírita, que é a terapêutica para seus
problemas. A mediunidade será educada a posteriori como
instrumento de exercício para o bem, mediante o qual granjeará
títulos para curar o mal de que se é portador.

46. Basta ao médium freqüentar as reuniões para resolver


seus problemas?
Raul – A questão de resolver problema se torna relativa.
Os problemas que o médium resolve no trabalho dedicado à
Doutrina Espírita são de ordem moral, porque ele passa a
entender porque sofre, passa a compreender porque enfrenta
dificuldades na família, na saúde, mas isto não quer dizer que a
mediunidade seria o suporte, o apoio para que ele possa vencer,
vitoriar a etapa de lutas. Aí percebemos que, se estivermos
pensando nestes tipos de problemas físicos, a mediunidade não
vai conseguir alijá-los do médium. Mas, não somente aí vamos
achar a necessidade do médium, pois deverá ser levado ao
trabalho de assistência aos que precisam, à renovação através dos
estudos continuados, à participação efetiva, ao ato da caridade,
que, conforme nos diz um Espírito Benfeitor, terá que iniciar-se
pelo dever, tornando-se um hábito, até que isso se lhe penetre na
alma em nome do amor, para que se torne um médium sério,
sensível, e não um médium que apenas freqüenta a reunião,
recebe seu guia, seu espiritozinho e depois volta para casa, sem
45
ligar para o sofrimento da humanidade (não é da humanidade do
Vietnã, do Camboja) a humanidade da sua rua, do seu bairro,
dessa gente que sofre e que geme à volta de todos nós.
Vemos tantos médiuns preocupados em ouvir o gemido dos
espíritos desencarnados e não ouvem os gemidos dos
encarnados. Temos outros ansiosos por ver espíritos, sem
notarem os que sofrem à sua volta; vários desejosos de
materializar entidades, sem a preocupação de espiritualizar-se.
Então, para o médium será importante que ele se ajuste à
dinâmica da Doutrina Espírita, no trabalho da caridade, no
esforço da renovação, sua e daqueles que o cercam.

47. Seria desaconselhável o desempenho mediúnico isolado,


bem como em reuniões domiciliares ou recintos estranhos
aos Centros ou locais similares?
Divaldo – É desaconselhável esse comportamento como
hábito, o que não impede que, excepcionalmente, ocorra o
fenômeno com a anuência do médium sob a inspiração dos bons
Espíritos.
Não chegaremos ao absurdo de supor que, no lar,
periodicamente, não venham os Benfeitores Espirituais para o
diálogo de emergência, para uma palavra fraternal, para um
encontro de estímulo entre aqueles que se reúnem para orar.
É desaconselhável que se transforme o estudo espírita e
evangélico realizado em família em reunião mediúnica, porque,
como o nome diz, trata-se de uma oportunidade para estudar e
meditar e não para o exercício da mediunidade. Mas, vez que
outra, dependendo dos Instrutores Espirituais, pode ocorrer
comunicação de Entidade Benfeitora para trazer um conteúdo
que, no entendimento desse Benfeitor, pareça relevante. Não se
deve permitir, entretanto, que tal se transforme num hábito.
É desaconselhável que, em lugares não preparados para o
mister mediúnico, venha a ocorrer fenômeno com anuência do
sensitivo. Perguntar-se-á por quê? Responderemos: pelos danos
que poderão advir. Se o meio for hostil, leviano e de recursos
psíquicos negativos, podem ocorrer mistificações, distonias,
aberturas vibratórias para espíritos que não tenham propósitos
46
superiores. Seria o mesmo que requisitar determinada cirurgia
num consultório médico onde não haja requisitos da assepsia, do
instrumental, etc.
Portanto, a Casa Espírita é o lugar ideal, porque ali os
Benfeitores instalam equipamentos de socorro de emergência;
nesse local encontram-se entidades zelosas que se postam para
defender o recinto, além de trabalhadores especializados que
vêm para o ministério previamente programado. Porque se na
Terra, que é o mundo dos efeitos, são tomados cuidados antes
das realizações, é compreensível que no mundo espiritual as
realizações mereçam um tratamento muito especializado, no que
tange ao progresso da criatura e da humanidade.
Os Benfeitores programam as tarefas mediúnicas e aqueles
que se vão comunicar, para que tudo ocorra em clima de ordem e
de paz. O médium que se submete a fenômenos de ocasião está
sujeito a graves perigos, porque seria o mesmo que colocar
instrumentos de alta sensibilidade nas mãos de pessoas
inescrupulosas ou desconhecedoras de seu mecanismo.
Concluindo, é desaconselhável.

48. O que pensar do costume de fazer-se sessões mediúnicas


fora dos Centros Espíritas?
Divaldo – É um hábito muito perigoso. Seria o mesmo que se
levar pacientes para serem operados em qualquer lugar, só
porque há boa vontade, mas não se dispondo de conveniente
assepsia nem dos requisitos necessários que se encontram nos
hospitais. Nesse caso, os êxitos seriam raros. Além disso, ocorre
que, realizada a sessão em qualquer lugar, este fica marcado
pelos Espíritos sofredores, que vão sendo informados uns pelos
outros, e começam a freqüentá-lo. Se for um lar, como aí não
existem as defesas necessárias para as incursões de tais Espíritos,
transforma-se em um pandemônio.
Indagar-se-á: e antes de haver os Centros Espíritas? Enquanto
ignoramos, temos uma responsabilidade menor. Mesmo quando
não se entendia de assepsia, faziam-se operações, mas o número
de óbitos era muito maior.

47
Já que temos o Centro, por que desrespeitá-lo, fazendo
sessões mediúnicas noutro lugar, se ele é o determinado para tal?
Se o problema é ir-se a um lugar, por que não ao ideal?

49. De que recursos dispõe o participante de uma reunião


mediúnica para identificar a natureza dos Espíritos?
Divaldo – Pelos frutos conhecem-se as árvores, pelas ações o
caráter dos homens, pela qualidade das comunicações aqueles
que as trazem. Em O Livro dos Médiuns,19 o Codificador
estabelece um critério quase infalível.
Em primeiro lugar, examinemos o que dizem os Espíritos.
Depois, reflexionemos em torno do instrumento do qual eles se
utilizam. E, por fim, vejamos quem assina o conteúdo do que
eles apresentam.
Os participantes observarão a qualidade da mensagem, o
caráter do médium e, depois, o mensageiro que se apresenta.

50. A partir de que idade o jovem espírita pode participar de


trabalhos mediúnicos?
Divaldo – Desde quando esteja disposto a assumir
responsabilidades. As jovens médiuns que colaboraram com
Kardec oscilavam entre 12 e 15 anos de idade, mas há muita
gente de 40 anos que não sabe manter perseverança nem
responsabilidade. O problema não é de idade cronológica e sim
de maturidade espiritual.

51. Não basta que o jovem espírita tenha conhecimento


teórico da Doutrina?
Divaldo – Tudo aquilo que fica reduzido a palavras carece de
fundamentos, de atos. Se ele tem conhecimento teórico da
Doutrina, necessita pôr à prova esses conhecimentos através da
boa prática do Espiritismo.

48
52. Que pensar dos médiuns psicofônicos que recebem
Espíritos durante a sessão, um atrás do outro? Será
indício de grande mediunidade?
Raul – A mediunidade amadurecida não é identificada pelo
número de desencarnados que se comuniquem por um único
médium, numa mesma sessão, mas será identificada pelo teor das
comunicações, pela qualidade do fenômeno, que demonstrará a
maior ou menor afinação do médium com as responsabilidades
da tarefa.
Cada médium, quando devidamente esclarecido e maduro
para o desempenho dos seus compromissos, saberá que o número
avultado de comunicações por sessão poderá indicar descontrole
do instrumento encarnado e não a sua pujança mediúnica. Há
médiuns que prosseguem dando passividade a entidades durante
a prece de encerramento, sem qualquer disciplina, quando não
justificam que tais entidades estavam programadas, como se os
Emissários do Além, responsáveis por lides tão graves, tivessem
menor grau de bom senso do que nós, os encarnados.
Um número de até duas comunicações, ou até três, em caso
de grande necessidade e carência de outros médiuns, parece
bastante coerente.
Todos os médiuns, assim, terão chance de atender aos irmãos
desencarnados, sem desgastes desnecessários.

53. Quais as causas do sono de que muitos companheiros se


queixam quando participam de uma reunião mediúnica?
Como evitá-lo?
Raul – As causas podem ser várias. Desde o cansaço físico,
quando o indivíduo vem de atividades muito intensas e, ao
sentar-se, ao relaxar-se, naturalmente é tomado pelo torpor da
sonolência. Também, pode ser causado pela indiferença, pelo
desligamento, quando alguém está num lugar, fisicamente,
entretanto pensando em outro, desejando não estar onde se acha.
Compelido por uma circunstância qualquer, a pessoa se desloca
mentalmente.

49
O sono pode, ainda, ser provocado por entidades espirituais
que nos espreitam e que não têm nenhum interesse em nosso
aprendizado para o nosso equilíbrio e crescimento.
Muitas vezes, os companheiros questionam: “– Mas nós
estamos no Centro Espírita, estamos num campo protegido.
Como o sono nos perturba?” Temos que entender que tais
entidades hipnotizadoras podem não penetrar o circuito de forças
vibratórias da Instituição, ficam do lado de fora. Mas, a pessoa
que entrou no Centro, na reunião, não sintonizou-se com o
ambiente, continua vinculada aos que se conservam fora, e
através dessa porta, desse plug aberto, ou dessa tomada, as
entidades que ficaram lá de fora lançam seus tentáculos mentais,
formando uma ponte. Então, estabelecida a ligação, atuam na
intimidade dos centros neuroniais desses incautos, que dormem,
que se dizem desdobrar: “– Eu não estava dormindo... apenas
desdobrei, eu ouvi tudo...” Eles viram e ouviram tudo o que não
fazia parte da reunião. Foram fazer a viagem com as entidades
que os narcotizaram.
Deparamos aí com distúrbios graves, porque quando termina
a reunião o indivíduo está fagueiro, ótimo e sem sono, e vai
assistir à televisão até altas horas, depois de se haver submetido
aos fluidos enfermiços. Por isso recomendamos àqueles que
estão cansados fisicamente, que façam um ligeiro repouso antes
da reunião, ainda que seja por poucos minutos, para que o
organismo possa beneficiar-se do encontro, para que fiquem
mais atentos durante o trabalho doutrinário. Levantar-se, borrifar
o rosto com água fria, colocar-se em uma posição discreta,
sempre que possível ao fundo do salão, em pé, sem encostar-se, a
fim de lutar contra o sono.
Apelar para a prece, porque sempre que estamos desejosos de
participar do trabalho do bem, contamos com a eficiente
colaboração dos Espíritos Bondosos. Faze a tua parte que o céu
te ajudará.
Temos, então, o sono como esse terrível adversário de nossa
participação, de nosso aprendizado, de nosso crescimento
espiritual. Não permitamos que ele se apodere de nós. Lutemos o

50
quanto conseguirmos, e deveremos conseguir sempre, para
combatê-lo, para termos bons frutos no bom aprendizado.

51
Terceira parte
Desenvolvimento Mediúnico

1. etapas da educação mediúnica;


2. necessidade do estudo espírita;
3. atendimento ao médium atormentado;
4. aplicação de passes para facilitar o transe mediúnico;
5. efeitos dos passes sobre os médiuns na realização
mediúnica;
6. sensações psíquicas e orgânicas durante o transe mediúnico;
7. desenvolvimento de médiuns principiantes;
8. tempo médio para o estabelecimento e para o desfazimento
do transe mediúnico;
9. número máximo de manifestações para médiuns
principiantes.

52
54. Quais seriam as etapas a serem percorridas pelo médium
na sua educação mediúnica?
Raul – Segundo Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns,20 a
mediunidade não deverá ser explorada antes que venha a eclodir.
Dever-se-ia esperar que ela brotasse e, a partir de então, se lhe
daria o devido trato. Sendo assim, embora encontremos muitos
companheiros que se candidatam ao exercício da mediunidade,
sem que jamais hajam sentido coisa alguma que lhes demonstre
serem portadores desse grau ostensivo de mediunidade, as nossas
Instituições Espíritas devem estar sempre em guarda cuidadosa,
para que não inaugurem o sistema de fabricação mediúnica
destituída de qualquer valor doutrinário, uma vez que há
companheiros que se aproximam das Instituições Espíritas,
portando tais peculiaridades mediúnicas já em processo de
desabrochamento.
A Instituição orientada pela Doutrina deverá aproximá-los
dos estudos doutrinários, das reuniões doutrinárias, do trabalho
assistencial em favor de necessitados, daqueles labores que
possam gradativamente disciplinar a criatura. Não é oportuno
que ela chegue ao Centro e seja, de imediato, encaminhada à
mesa de trabalhos mediúnicos, mas, sim, introduzida no campo
de estudo, de conhecimento doutrinário espírita.
Se a pessoa estiver com a mediunidade atormentada será
encaminhada para tratamento através de passes, explicações
doutrinárias e da participação nas reuniões de estudos, para que
possa, gradualmente, ir assentando essas energias revoltas,
equilibrando-se até que possa chegar à atividade propriamente
mediúnica. Isto porque, se aproximarmos a criatura, sem nenhum
conhecimento espírita da mediunidade, aquilo não lhe sendo
compreensível poderá afastá-la ou perturbá-la ainda mais. Não
sabendo o que ocorre consigo mesma, a pessoa, ao invés de
entregar-se ao labor, procura fugir, procura criar empecilhos de
maneira consciente ou inconsciente. E é exatamente por isso que,
não oferecendo a mediunidade nenhum espetáculo, sendo um
fenômeno natural, exigirá que o companheiro tenha, pelo menos,
as primeiras noções basilares do que a Doutrina Espírita nos fala
a respeito desse tentame. Por isso, aqueles que se aproximam da
53
mediunidade deverão encontrar, nas Instituições Espíritas, a
orientação para o tratamento, para o trabalho e para o estudo,
conforme Allan Kardec nos preceitua.

55. No desenvolvimento da faculdade em médiuns


principiantes, há alguma utilidade em se lhes aplicar
passes para facilitar, por exemplo, a psicofonia?
Divaldo – Este exercício é, às vezes, positivo, porque estando
o médium com os centros psíquicos ainda não disciplinados
durante a hora da concentração, entra em conflito, por não saber
distinguir as suas próprias sensações e emoções daquelas que ele
registra e que pertencem ao espírito desencarnado. Experimenta
taquicardia, há o resfriamento corporal, colapso periférico, a
ansiedade, que são típicos da presença dos espíritos que
padecem, mas que muitas vezes são devidas à sua própria
expectativa. No caso da aplicação do passe objetivando ajudar,
aumenta no médium a carga vibratória e isso facilita-lhe o
fenômeno. Mas, por outro lado, não deve ser habitual, para não
lhe criar condicionamentos. Por isto, deve-se aplicar passes só
esporadicamente.

56. Em trabalhos de desenvolvimento mediúnico com


médiuns principiantes, haverá necessidade de mais de
uma comunicação ou uma seria suficiente?
Divaldo – Para exercitar a mediunidade, o que importa não é
o número de comunicações, mas a qualidade delas. O médium
deve esperar sentir-se dominado pela vontade do hóspede, que o
vai controlando, a fim de que consiga registrar, em plenitude, a
mensagem. Esse processo demora uns cinco minutos, antes do
ato de falar, e perdura por uns dez a quinze minutos, depois do
silêncio, quando as energias vão retornando ao estado primitivo e
reequilibrando o psiquismo do médium. No caso de
desenvolvimento de um médium principiante num grupo
expressivo, recomenda-se no máximo duas comunicações de
sofredores por sessão.

54
Quarta parte
Comunicações

1. número de comunicações por sessão;


2. manifestação do espírito-mentor, após a do espírito
sofredor;
3. comunicações de pretos-velhos e de outras entidades;
4. linguagem dos comunicantes;
5. reflexos condicionados e manifestações;
6. importância da educação mediúnica;
7. interferência anímica nociva.

55
57. Quantas comunicações um mesmo médium pode receber
durante a sessão mediúnica de atendimento a espíritos
sofredores?
Divaldo – Um médium seguro, num trabalho bem organizado,
deve receber de duas a três comunicações, quando muito, para
que dê oportunidade a outros companheiros de tarefas, e para
que não tenha um desgaste exagerado.
Tenho tido o hábito de observar, em médiuns seguros,
conhecidos nossos, que eles incorporam, em média, três
entidades sofredoras ou perturbadoras e o mentor espiritual;
raramente ocorrem cinco manifestações pelo mesmo
instrumento, principalmente num grupo.

58. Há necessidade, após uma comunicação de um espírito


infeliz, sofredor, de imediata incorporação do espírito
mentor ou guia, para que haja a limpeza psíquica do
médium?
Divaldo – Absolutamente, não há.

59. Por que é que, comumente, não vemos comunicações de


pretos-velhos ou de caboclos, nas sessões mediúnicas
espíritas? Isso se deve a algum tipo de procedimento?
Raul – A expressão da pergunta está bem a calhar.
Realmente, a maioria dos participantes não vê os espíritos que se
comunicam, mas eles se comunicam.
O Espiritismo não tem compromisso de destacar essa ou
aquela entidade, em particular. Se as sessões mediúnicas
espíritas são abertas para o atendimento de todos os tipos de
espíritos, por que não viriam os que ainda se apresentam como
pretos-velhos ou novos, brancos, amarelos, vermelhos, índios, ou
caboclos, e esquimós?
O que ocorre é que tais espíritos devem ajustar-se às
disciplinas sugeridas pelo Espiritismo e só não as atendem
quando seus médiuns, igualmente, não as acatam.
Muitos espíritos que se mostram no Além como antigos
escravos africanos, ou como indígenas, falam normalmente, sem
56
trejeitos, embora as formas externas dos perispíritos possam
manter as características que eles desejam ou as quais não
lograram desfazer.
Talvez muitos esperassem que esses desencarnados se
expressassem de forma confusa, misturando a língua portuguesa
com outros sons, expressando-se num dialeto impenetrável,
carecendo de intérpretes especiais, que, na maior parte das vezes,
fazem de conta que estão entendendo tal mescla. Se o espírito
fala em nagô, que seja nagô de verdade. Se se apresenta falando
guarani, que seja o verdadeiro guarani. Entretanto, não sendo o
idioma exato do seu passado reencarnatório, por que não falar o
médium em português, pois que capta o pensamento da entidade
e reveste-o com palavras?
Não há, portanto, preconceito nas sessões espíritas.
Entretanto, procura-se manter o respeito às entidades, à
mediunidade e à Doutrina Espírita, buscando a coerência com a
verdade que já identificamos.

60. Qual a interferência dos reflexos condicionados na


manifestação mediúnica?
Raul – Carregando múltiplas experiências de um passado
remoto ou próximo, é natural que num momento de exacerbação
da mente, quando temos o inconsciente mais à tona, coisas e
fatos nele repousantes tendam a se apresentar.
Os nossos reflexos incondicionados, cuja região de
localização é a área do subcórtice, abaixo da parte cinzenta,
quando são acionados pela interferência da mediunidade, que
atua sobre o sistema nervoso central, deixam-nos a facilidade de
reexperimentar uma série de situações psíquicas condicionadas
nos dias passados em outras reencarnações. É na educação
mediúnica, na educação doutrinária espírita, que vamos nos
apercebendo de como somos, do modo como agimos e daquilo
que é necessário ao desempenho feliz da mediunidade.
Começaremos por dar menos vazão aos aspectos do reflexo
negativo do passado, dos que possam empanar a expressão
mediúnica; quanto aos reflexos positivos, pois que fazem parte
do conjunto de experiências nobres, deixaremos que se
57
intensifiquem em nossa vida, porque o nosso aprendizado atual é
feito por sobre registros de passagens próximas ou distantes,
permitindo que as conquistas se incorporem ao nosso patrimônio
espiritual.
Com a prática da auto-análise, do autoconhecimento,
evitaremos que se insurja a apavorante sombra da
desproporcional interferência anímica que nada mais é do que a
exacerbação de certos reflexos que permitem a eclosão da
própria personalidade ou de personalidades vividas no passado.
Valorizemos, então, a influência dos reflexos passados em
nossa atuação mediúnica, quando os mesmos forem positivos e
expressivos, capazes de nos conduzir para o enobrecimento
espiritual.

58
Quinta parte
Doutrinação

1. processamento da doutrinação de desencarnados;


2. lógica da doutrinação;
3. sobre o anúncio da desencarnação ao comunicante;
4. habilidade e carinho do doutrinador;
5. doutrinação e empatia;
6. doutrinação como diálogo fraternal;
7. sobre a responsabilidade dos médiuns e doutrinadores;
8. o “ser coletivo” de Allan Kardec.

59
61. Como deve processar-se a doutrinação dos desencarnados
nas reuniões mediúnicas?
Raul – A doutrinação, ou esclarecimento, dirigida aos
companheiros desencarnados que se apresentam nas reuniões de
intercâmbio mediúnico, deve ser processada dentro de um clima
de entendimento e respeito, estando certo o doutrinador, ou
esclarecedor, de estar dialogando com um ser humano, cuja
diferença mais notável é a de estar o espírito despojado do corpo
físico.
Refletindo sobre tal verdade, o doutrinador não ignorará que
o desencarnado continua com possibilidades de sentir simpatia
ou antipatia, de nutrir amor ou ódio, alegria ou tristeza, euforia
ou depressão.
Que ele pode ainda ser lúcido ou embotado, zombeteiro,
leviano, emotivo ou frio de sentimentos.
A doutrinação, a partir dessa reflexão, se desenvolverá como
um diálogo com outro ser humano, quando pelo menos um dos
conversadores é nobre e atencioso. Assim, evitar-se-ão, por parte
do doutrinador, ameaças, chantagens, irritação ou desdém.
Em tudo, o bom senso. O doutrinador deixa a entidade falar,
dizer a que veio, o que deseja, e, daí, vai conversando,
perguntando sem agressão, chamando o desencarnado à
meditação, à compreensão, admitindo, contudo, que nem sempre
será tarefa muito fácil ou imediata, como entre pessoas
encarnadas que têm dificuldade de entender as coisas, por
múltiplas razões, e passam longos meses ou mesmo anos, às
vezes, para reformar uma opinião ou abrir mão de determinados
costumes ou procedimentos.

62. No atendimento a espíritos sofredores, o doutrinador


deve, antes de tudo, fazer o comunicante conhecer a sua
condição espiritual?
Divaldo – Há que perguntar-se: quem de nós está em
condições de receber uma notícia, a mais importante da vida,
como é a da morte, com a serenidade que seria de se esperar?

60
Não podemos ter a presunção de fazer o que a Divindade tem
paciência em realizar. Essa questão de esclarecer o espírito no
primeiro encontro é um ato de invigilância e, às vezes, de
leviandade, porque é muito fácil dizer a alguém que está em
perturbação: Você já morreu! É muito difícil escutar-se esta frase
e recebê-la serenamente.
Dizer-se a alguém que deixou a família na Terra e foi colhido
numa circunstância trágica, que aquilo é a morte, necessita de
habilidade e carinho, preparando primeiro o ouvinte, a fim de
evitar-lhe choques, ulcerações da alma.
Considerando-se que a terapêutica moderna, principalmente
no capítulo das psicoterapias, objetiva sempre libertar o homem
de quaisquer traumas e não lhe criar novos, por que, na Vida
Espiritual, se deverá usar uma metodologia diferente ?
A nossa tarefa não é a de dizer verdades, mas, a de consolar,
porque, dizer simplesmente que o comunicante já desencarnou,
os Guias também poderiam fazê-lo. Deve-se entrar em contato
com a entidade, participar da sua dor, consolá-la e, na
oportunidade que se faça lógica e própria, esclarecer-lhe que já
ocorreu o fenômeno da morte, mas somente quando o espírito
possa receber a notícia com a necessária serenidade, a fim de que
disso retire o proveito indispensável à sua paz. Do contrário, será
perturbá-lo, prejudicá-lo gravemente, criando embaraços para os
Mentores Espirituais.

63. Será plausível que se desenrole a doutrinação de


desencarnados por meio de uma pequena palestra, em
que o doutrinador possa expressar-se como quem faz uma
conclamação?
Raul – O doutrinador dispensará sempre os discursos durante
a doutrinação, entendendo-se aqui discurso não como a linha
ideológica utilizada, mas, sim, a falação interminável, que não dá
ensejo à outra parte de se exprimir, de se explicar.
Muitas vezes, na ânsia de ver as entidades esclarecidas e
renovadas, o doutrinador se perde numa excessiva e cansativa
cantilena, de todo improdutiva e enervante.

61
O diálogo com os desencarnados deverá ser sóbrio e
consistente, ponderado e clarificador, permitindo boa
assimilação por parte do espírito e excelente treino lógico para o
doutrinador.

64. Pode-se dizer que a responsabilidade do doutrinador é do


mesmo nível da dos demais médiuns participantes da
sessão?
Raul – É quase o mesmo que se indagar se a responsabilidade
do timoneiro é a mesma da tripulação de um navio.
O Livro dos Médiuns, no seu item 331 (capítulo 29º), na
palavra esclarecida de Allan Kardec, assevera que “a reunião é
um ser coletivo”. Em sendo assim, não poremos dúvida de que
todos são grandemente importantes no desenrolar da sessão.
Sem laivos de dúvida, as responsabilidades se equiparam,
sendo que cada qual estará atendendo às suas funções, mas todas
são do mesmo modo importantes.
Se o timão estiver bem conduzido e a casa de máquinas mal
cuidada ou relaxada, poderão decorrer graves acidentes. O
contrário também ensejaria sérias conseqüências. Assim,
médiuns, doutrinadores, aplicadores de passes precisarão estudar
e renovar-se, para melhor atender aos seus deveres.

62
Sexta parte
Mentores

1. comunicações dos mentores dos médiuns no início das


sessões;
2. médiuns dependentes dos mentores;
3. mentores superprotetores;
4. expressão fisiopsicológica da mediunidade;
5. cada qual deve cumprir seu dever;
6. lutas e sofrimentos como condecorações cristãs;
7. sobre comunicações exclusivas de mentores em detrimento
do atendimento a sofredores;
8. objetivo das comunicações dos mentores;
9. sobre a possibilidade de se fazer interpelações ou dirigir
perguntas aos mentores;
10. interesse que têm os mentores de ajudar;
11. características dos Espíritos Superiores.

63
65. Haverá necessidade de que, no início das sessões
mediúnicas, todos os médiuns recebam seus mentores
particulares, para garantirem suas presenças ou para
deixar cada qual sua mensagem?
Raul – Não há, evidentemente, essa necessidade. As leituras e
meditações feitas na abertura da sessão, seguidas pela oração
contrita e objetiva, assim como a predisposição positiva dos
participantes, dão-nos a garantia da presença e da conseqüente
assistência dos Espíritos-Guias, sem necessidade de que cada
médium receba o seu mentor em particular.
Há circunstâncias em que o espírito responsável pelo labor a
desenrolar-se comunica-se, após a abertura da sessão, para
alguma mensagem orientadora, comumente versando sobre as
lides a se processarem, concitando à atenção, ao aproveitamento,
etc. Doutras vezes, vem ao final das tarefas para alguma
explicação, conclamação ao encorajamento e à perseverança,
desfazendo quaisquer temores em função de alguma
comunicação mais preocupante. Contudo, a comunicação de
todos os guias, no mínimo, é desnecessária e sem propósito.

66. O que pensar do médium que espera tudo do seu guia e


do guia que faz tudo para o seu médium?
Divaldo – Deve-se concluir que esse médium está
desinformado a respeito da Doutrina Espírita. A mediunidade
não é uma faculdade de que o Espiritismo se fez proprietário. A
mediunidade, sendo uma faculdade do espírito, expressa na
organização somática do homem, é uma função fisiopsicológica.
O Espiritismo possui a metodologia da boa condução da
mediunidade. Por isso, há médiuns não-espíritas e espíritas não-
médiuns.
O fato de alguém dizer-se médium não significa que esse
alguém seja espírita. Quando se espera que os guias assumam as
nossas responsabilidades, nós nos omitimos do processo de
crescimento, de evolução. Porque se os Espíritos Superiores
devessem equacionar os nossos problemas, seria desnecessária a
nossa reencarnação. Isto facultaria a esses espíritos o progresso e

64
não a nós. Se o professor solucionar todos os problemas dos
alunos, estes não adquirirão experiência nem conhecimento para
um dia serem livres e lúcidos. A tarefa dos Benfeitores é a de
inspirar, guiar, de apontar os caminhos. E a do homem é a de
reconquistar a Terra, vencer os empeços, discernir e aprimorar-se
cada vez mais.
Quando alguém diz que o seu Guia lhe resolve os problemas,
esses são Guias que necessitam ser guiados. São entidades terra-
a-terra, mais preocupadas com as soluções materiais, em
detrimento das questões relevantes, que são as questões do
espírito.
Referiu-se Raul às lágrimas diárias de Chico Xavier, 21
demonstrando que os Benfeitores não lhe resolvem os
problemas. Ensinam-no a solucioná-los mediante sua
autodoação, que lhe exige o patrimônio das lágrimas.
O médium que não haja chorado por amor, por solidariedade,
que não haja padecido o escárnio da incompreensão e ainda não
tenha sido crucificado no madeiro da infâmia é apenas candidato,
ainda não tem as condecorações do Cristo, isto sem qualquer
masoquismo de nossa parte, mas fruto de observações e
experiências.

67. O que dizer dos médiuns que só recebem Espíritos


mentores e jamais sofredores? Seria uma mediunidade
mais aprimorada?
Raul – Pautando-nos no pensamento de Jesus, que afirma não
serem os sãos que carecem de médicos, e sim os doentes,
podemos ver grande incoerência nesse fenômeno questionado.
Há que desconfiar-se sempre desses médiuns que só recebem
guias ou mentores. Na Terra, a mediunidade deverá ser
socorrista para que tenha utilidade de fato.
Médiuns espíritas destacados por suas vivências e realizações
doutrinárias, como a saudosa Yvonne Pereira, Chico Xavier,
Divaldo Franco e outros tantos, sempre afirmaram e afirmam que
o que lhes garantiu sempre a assistência dos nobres mentores foi

65
o atendimento aos sofredores, aos infelizes dos dois hemisférios
da vida, ou seja, encarnados e desencarnados.
Os guias se comunicam sim, sem que, contudo, impeçam-nos
de atender os caídos como nós ou mais do que nós. Comunicam-
se justamente para nos fortalecer a fé e nos impulsionar à
perseverança no bem. É pelos caminhos da caridade, do serviço
do amor prestado aos espíritos sofredores que a mediunidade e
os médiuns se aprimoram. Fora dessa diretriz, os fenômenos, por
mais impressionantes, deixam no ar um odor de impostura, de
presunção, de exibição vaidosa, alimentado por tormentosa e
disfarçada fascinação.

68. A comunicação de um mentor é indiscutível? Se houver


dúvida, o espírito pode ser interpelado? Pode-se pedir
esclarecimentos ao Guia em relação às suas palavras? Isso
não demonstraria falta de respeito?
Divaldo – Pelo contrário, não é o que se pergunta ao Espírito-
Guia que traduz desrespeito, mas, como se pergunta. Os
Espíritos Superiores funcionam como pedagogos, como mestres,
com o objetivo de ensinar-nos, de iluminar-nos, de esclarecer-
nos. O que fica nebuloso eles têm o maior prazer em elucidar,
porque, às vezes, na filtragem mediúnica ocorrem registros
falsos, deturpando a tese. Se não voltarmos ao esclarecimento,
ficaremos com idéias equivocadas, por terem ocorrido num
momento em que o médium não estava com a recepção melhor.
O pedido de esclarecimento é sempre bem recebido pelos
bons Espíritos, e se eles notam que não lhes estamos acreditando,
não se sentem magoados com isso, nem pretendem impor-se,
mas têm interesse de ajudar.
O que caracteriza um Espírito bom, um Espírito Superior, são
a sabedoria, a bondade, a paciência, a forma com que estão
sempre dispostos a ajudar-nos, em quaisquer circunstâncias.

66
Sétima parte
Passes

1. conceito de passe;
2. aplicação de passes e mediunização;
3. passe magnético;
4. passe espiritual;
5. necessidade de fluido material;
6. diminuição da claridade dos ambientes para os passes;
7. conselhos, estalidos de dedos, gemidos e sopros ruidosos
durante os passes;
8. lavar as mãos após os passes;
9. toques corporais durante os passes;
10. médiuns ofegantes na aplicação de passes;
11. sobre adornos, pulseiras, relógios e anéis durante os passes;
12. aplicação de passes em pacientes de costas;
13. recebimento de passes após tê-los oferecido para evitar
desgastes;
14. passes a domicílio;
15. valor terapêutico da água fluidificada;
16. manifestação psicofônica durante o passe;
17. magnetismo;
18. fluidos espirituais-materiais;
19. fluidos espirituais;
20. fluidos dos passes circulam em torno da cabeça do seu
aplicador;
21. desnecessidade de incorporação mediúnica na tarefa dos
passes;
22. cacoetes psicológicos e gestos bruscos;

67
69. O que é o passe? Para ministrar um passe a pessoa deve
estar mediunizada? Que você pensa do passe magnético?
Divaldo – O passe significa, no capítulo da troca de energias,
o que a transfusão de sangue representa para a permuta das
hemácias, ajudando o aparelho circulatório. O passe é essa
doação de energias que nós colocamos ao alcance dos que se
encontram com deficiências, de modo que eles possam ter seus
centros vitais reestimulados e, em conseqüência disso, recobrem
o equilíbrio ou a saúde, se for o caso.
O passe magnético tem uma técnica especial, conhecida por
todos aqueles que leram alguma coisa sobre o mesmerismo. É
transfusão da energia do doador, do agente.
O passe que nós aplicamos, nos Centros Espíritas, decorre da
sintonia com os Espíritos Superiores, o que convém considerar
sintonia mental, não uma vinculação para a incorporação.
O passe deve ser sempre dado em estado de lucidez e
absoluta tranqüilidade, no qual o passista se encontre com saúde
e com perfeito tirocínio, a fim de que possa atuar na condição de
agente, não como paciente. Então, acreditamos que os passes
praticados sob a ação de uma incorporação propiciam resultados
menos valiosos, porque, enquanto o médium está em transe, ele
sofre um desgaste. Aplicando passe, ele sofre outro desgaste,
então experimenta uma despesa dupla.
Os espíritos, para ajudarem, principalmente no socorro pelo
passe, não necessitam, compulsoriamente, de retirar o fluido do
médium, nele incorporando. Podem manipular, extrair energia,
sem o desgastar, não sendo, pois, necessário o transe.

70. Como definir o passe espiritual? Em que oportunidade ele


se verifica?
Divaldo – O passe espiritual se verifica toda vez que vamos
atuar junto a alguém que apresenta distúrbios de ordem
mediúnica, perturbações espirituais. Quando utilizamos a técnica
da aplicação longitudinal, há um intercâmbio magnético e,
simultaneamente, medianímico, porque estamos sob a ação dos
bons Espíritos.
68
Se sintonizamos convenientemente com os mentores, são eles
que distribuem as nossas energias, eliminando o fluido deletério
que reveste o enfermo e conseguindo envolvê-lo com energia
salutar, a fim de que, nesse ínterim, o seu organismo realize o
trabalho de defendê-lo do mal, e o espírito encarnado do
médium, em equilíbrio, se encarregue de manter esse estado de
saúde. Caso o paciente não se resolva sintonizar com os
Benfeitores, ser-lhe-á inócua toda e qualquer interferência de
outrem.

71. Os Espíritos poderão aplicar diretamente um passe e,


neste caso, não poderíamos chamar essa intervenção de
passe espiritual?
Divaldo – Comumente eles assim o fazem. Algumas vezes
eles necessitam de maior dosagem de fluidos extraídos do
organismo material das criaturas encarnadas e aplicam o passe
misto, do espírito propriamente dito e das forças magnéticas do
intermediário.22

72. Por que se costuma diminuir a claridade dos ambientes,


onde se processam serviços de aplicação de passes?
Raul – A princípio, não há nenhuma necessidade essencial, da
diminuição da luminosidade, para a aplicação dos recursos dos
passes. Poderemos operá-los tanto à noite, quanto com o dia
claro.
A providência de diminuir-se a claridade tem por objetivo
evitar a dispersão da atenção das pessoas, além de facilitar a
concentração, ao mesmo tempo em que temos que levar em
conta que certos elementos constitutivos dos ectoplasmas, que
costumam ser liberados pelos médiuns em quantidades as mais
diversas, sofrem um processo de desagregação com a incidência
da luz branca.

69
73. Para a aplicação do passe, o médium deve resfolegar,
gemer, estalar os dedos, soprar ruidosamente, dar
conselhos?
Divaldo – Todo e qualquer passe, como toda técnica espírita,
se caracteriza pela elevação, pelo equilíbrio. Se uma pessoa
cortês se esforça para ser gentil, na vida normal, por que, na hora
das questões transcendentais, deverá permitir-se desequilíbrios?
Se é um labor de paz, não há razão para que ocorram
desarmonias ou se dêem conselhos mediúnicos.
Se se trata, porém, de aconselhamento, não se justificará que
haja o passe. É necessário situar as coisas nos seus devidos
lugares. A hora do passe é especial. Se se pretende adentrar em
conselhos e orientações, tome-se de um bom livro e leia-se,
porque não pode haver melhores diretrizes do que as que estão
exaradas em O Evangelho Segundo o Espiritismo e nas obras
subsidiárias da Doutrina Espírita.

74. É necessário lavar as mãos, após a aplicação de passes?


Raul – Não. Não há qualquer necessidade de que se lave as
mãos depois da prática dos passes. Pelos passes não há.
Entretanto, os médiuns aplicadores de passes podem ter vontade
de lavar as mãos pelo simples hábito e, neste caso, nada há que
os impeça.

75. Há necessidade do médium tocar ou encostar as mãos na


pessoa que recebe o passe?
Divaldo – Desde que se trata de permuta de energias, deve-se
mesmo, por medida de cautela e de zelo ao próprio bom nome e
ao do Espiritismo, evitar tudo aquilo que possa comprometer,
como toques físicos, abraços, etc.

76. Por que muitos médiuns ficam ofegantes, enquanto


aplicam passes?
Raul – Isso se deve à deficiente orientação recebida pelo
médium. Não sabe ele que a respiração nada tem a ver com a
aplicação dos passes. São companheiros que imaginam sejam os

70
exageros e invencionices os elementos capazes de assegurar
grandeza e autenticidade do fenômeno.
Nos momentos dos passes, todo o recolhimento é importante.
O silêncio para a oração profunda, silêncio do aplicador e
silêncio por parte de quem recebe, facilitando a penetração nas
ondas de harmonia que o passe propicia.
Evitando os gestos bruscos, totalmente desnecessários, e
exercendo um controle sobre si mesmos, os aplicadores de
passes observarão a necessidade do relax e da sintonia positiva e
boa com os Espíritos que supervisionam tais atividades.

77. Os estalidos dos dedos ajudam, de algum modo, na


aplicação dos passes?
Raul – Não. Tudo isso faz parte dos hábitos incorporados
pelas pessoas que passam a admitir que seus trejeitos e tiques são
parte da tarefa dos passes ou da mediunidade. Os estalidos e
outros maneirismos com as mãos, indicando força ou energia,
são perfeitamente dispensáveis, devendo o médium educar-se,
procurando aperfeiçoar suas possibilidades de trabalho. Nenhum
estalo, nenhuma fungação, nenhum toque corporal ou puxadas
de dedos, de braços, de cabelos, têm quaisquer utilidades na
prática dos passes. Deveremos, assim, evitá-los.

78. Na aplicação dos passes, há necessidade de que os


médiuns passistas retirem de seus braços, de suas mãos os
adornos, como pulseiras, relógios, anéis? Isso tem alguma
implicação magnética ou é apenas para evitar ruídos e
dar-lhes maior liberdade de ação?
Divaldo – Em nossa forma de ver, a eliminação dos adornos
não tem uma implicação direta no efeito positivo ou negativo do
passe. Devem ser retirados porque é mais cômodo e o seu
chocalhar produz dispersão, comprometendo a concentração nos
benefícios do momento.

71
79. Decorrerá algum problema do fato de se aplicar passes
em alguém que esteja de costas?
Raul – Absolutamente. Se a circunstância obrigar a que se
apliquem passes em alguém que esteja de costas, aplicá-los-emos
com a mesma disposição, a mesma fé no auxílio que vem do
Mais Alto, vibrando o melhor para o paciente.

80. Muitos que aplicam passes, logo após, sentam-se para


recebê-los de outros a fim de se reabastecerem. Que
pensar de tal prática?
Raul – Tal prática apenas indica o pouco entendimento que
têm as pessoas com relação ao que fazem.
Quando aplicamos passes, antes de atirarmos as energias
sobre o paciente, nos movimentos ritmados das mãos, ficamos
envolvidos por essas energias, por essas vibrações que nos
chegam dos Amigos Espirituais envolvidos nessa atividade, o
que indica que, antes de atendermos aos outros, somos nós, a
princípio, beneficiados e auxiliados para que possamos auxiliar,
por nossa vez.
Tal prática incorre numa situação no mínimo estranha: o fato
de que aquele que aplicar o passe por último estaria desfalcado,
sem condições de ser atendido por outra pessoa.

81. Quando é admissível fazerem-se passes fora do Centro


Espírita, isto é, fazerem-se passes a domicílio? Quais as
conseqüências dessa prática para o médium?
Divaldo – Somente se devem aplicar passes a domicílio
quando o paciente, de maneira nenhuma, pode ir aos locais
reservados para o mister, que são o hospital espírita, a escola
espírita ou o próprio Centro Espírita.
As conseqüências de um médium andar daqui para ali
aplicando passes são muito graves, porque ele não pode
pretender estar armado de defesas para se acautelar das
influências que o aguardam em lugares onde a palavra superior
não é ventilada, onde as regras de moral não são preservadas, e
onde o bom comportamento não é mantido. Devemos, sim,

72
atender a uma solicitação, vez que outra. Mas, se um paciente
tem um problema orgânico muito grave, chama o médico e este
faz o exame local, encaminhando-o ao hospital para os exames
complementares, tais como as radiografias, os
eletrocardiogramas, eletroencefalogramas e outros, o paciente
vai, e por quê? Porque acredita no médico. Se, porém, não vai ao
Centro Espírita é porque não acredita, por desprezo ou
preconceito. Crê mais na falsa pudicícia do que na necessidade
legítima.

82. A água fluidificada tem valor terapêutico?


Divaldo – A magnetização da água é uma providência tão
antiga quanto a própria cultura humana. A chamada hidroterapia
era conhecida dos povos mais esclarecidos. Sendo considerada
uma substância simples, acredita-se que a água facilmente recebe
energias magnéticas, fluídicas, e pode operar, no metabolismo
desajustado, o seu reequilíbrio. Então, a água fluidificada ou
magnetizada tem valor terapêutico.

83. Quando é necessária ou desaconselhável, durante o passe,


a manifestação psicofônica?
Raul – Reconhecendo que o passe é a contribuição vibratória
que nós poderemos doar em nome da caridade, desconhecemos a
necessidade de comunicações psicofônicas durante o seu
transcurso.
Encontramos em Allan Kardec, no livro A Gênese,23 a
informação de que nós poderemos estar submetidos a três tipos
ou condições energéticas ou de ações fluídicas.
Existe fluidificação eminentemente magnética, que são as
energias do próprio sensitivo, nesse caso, tido como
magnetizador. Ele se desgasta porque doa do seu próprio plasma,
e a partir dessa doação sente-se cansado, esgotado. Um outro
nível é o das energias espirituais-materiais ou psicofísicas,
quando se dá a conjugação dos recursos do mundo espiritual com
os elementos do médium; o indivíduo se coloca na posição de
um vaso de cujos recursos os Benfeitores se utilizam. Eis quando
caracterizamos o médium aplicador de passes ou passista: aquele
73
em quem, segundo a instrução do Espírito André Luiz, 24 as
energias circulam em torno da cabeça, como que assimilando os
valores da sua mentalização, escoando-se através das mãos, para
beneficiar o assistido.
Vemos que quanto mais o trabalhador se aprimora, se
aperfeiçoa, mais se integra e se entrega ao ministério dos passes,
sem cansaço; vai melhorando a si mesmo, pois, ao aplicar as
energias socorristas, será primeiramente beneficiado com os
fluidos dos Servidores do Além, que dele se utilizam.
Kardec ainda aponta o terceiro nível de energia que é o
espiritual por excelência. Neste caso, não haverá nenhuma
necessidade de um instrumento físico. Os espíritos projetam
diretamente as energias sobre os necessitados.
Assim, vemos que mesmo no segundo nível, em que
encontramos o médium aplicador de passes, sobre o qual agem
as entidades para atender a terceiros, não há nenhuma
necessidade de incorporação desses espíritos. Os Benfeitores,
comumente, não incorporam para aplicar passes, o que não
impede que, uma vez incorporados, os Benfeitores apliquem
passes. São situações diferentes. Uma é o indivíduo receber
espíritos para aplicar passes, o que muitas vezes esconde a sua
insegurança, o seu atavismo não-espírita, os seus hábitos
deseducados. Ele não crê que os espíritos dele possam se utilizar
sem a necessidade da incorporação. Então, muitas vezes, por um
processo de indução psicológica, o espírito projeta os seus
fluidos e o médium age como se o estivesse incorporando. Não
se dá conta de que não se trata de uma incorporação, mas de um
envolvimento vibratório, que lhe faz arrepiar. Com isso, vamos
perceber que, embora haja a atuação dos Benfeitores Espirituais
no trabalho dos passes, não há nenhuma necessidade de que
incorporemos espíritos para aplicá-los.
Há companheiros que ainda não foram educados para o
trabalho do passe e apresentam uma atuação mais característica
de distúrbio do que de ascendência mediúnica: os cacoetes
psicológicos, a respiração ofegante, o retorcimento dos lábios, os
gestos bruscos, estalidos de dedos, etc.; mas nada disso tem a

74
ver, evidentemente, com a realidade dos fluidos, da sua natureza,
do seu contato com os espíritos que se faz em nível mental.

75
Oitava parte
Alimentação

1. sobre a dieta alimentar dos médiuns;


2. sobre o uso de alcoólicos;
3. embriaguez e alcoolemia;
4. dieta vegetariana;
5. alimentação e moralidade;
6. alimentação e bom senso;
7. alimentação e caráter.

76
84. Como deve ser a dieta alimentar dos médiuns nos dias de
trabalho mediúnico?
Raul – A dieta alimentar dos médiuns deverá constituir-se
daquilo que lhes possa atender às necessidades sem descambar
para os excessos ou tipos de alimentos que, por suas
características, poderão provocar implicações digestivas,
perturbando o trabalhador e, conseguintemente, os labores dos
quais participe. Desse modo, torna-se viável uma alimentação
normal, evitando-se os excessivos condimentos e gorduras que,
independente das atividades mediúnicas, prejudicam bastante o
funcionamento orgânico.

85. O uso de alguma bebida alcoólica costuma trazer


inconvenientes para os médiuns?
Raul – Todo indivíduo que se encontra engajado nos labores
mediúnicos, seja qual for a ocupação, deveria abdicar do uso dos
alcoólicos em seu regime alimentar. Isto porque o álcool traz
múltiplos inconvenientes para a estrutura da mente equilibrada,
considerando-se sua toxidez e a rápida digestão de que é alvo,
facilitando grandemente que o álcool entre na corrente sangüínea
do indivíduo, de modo fácil, fazendo seu efeito característico.
Mesmo os inocentes aperitivos devem ser evitados, tendo-se
em mente que o médium é médium as vinte e quatro horas do
dia, todos os dias, desconhecendo o momento em que o Mundo
Espiritual necessitará da sua cooperação. Além do mais, quando
se ingere uma porção alcoólica, cerca de 30% são rapidamente
eliminados pela sudorese e pela dejeção, mas cerca de 70%
persistem por muito tempo no organismo, fazendo com que
alguém que, por exemplo, haja-se utilizado de um aperitivo na
hora do almoço, à hora da atividade doutrinária noturna não
esteja embriagado, no sentido comum do termo, entretanto,
estará alcoolizado por aquela porcentagem do produto que não
foi liberada do seu organismo.

77
86. A alimentação vegetariana será a mais aconselhável para
os médiuns em geral?
Raul – A questão da dieta alimentar é fundamentalmente de
foro íntimo ou acatará a alguma necessidade de saúde,
devidamente prescrita. Afora isto, para o médium verdadeiro não
há a chamada alimentação ideal, embora recomende o bom senso
que se utilize de uma alimentação que lhe não sobrecarregue o
organismo, principalmente nos dias da reunião mediúnica, a fim
de que não seja perturbado por qualquer processo de conturbada
digestão que, com certeza, lhe traria diversos inconvenientes.
A alimentação não define, por si só, o potencial mediúnico
dos médiuns, que deverão dar muito maior validade à sua vida
moral do que à comida, obviamente.
Algumas pessoas recomendam que não se comam carnes, nos
dias de tarefa mediúnica, enquanto outras recomendam que não
se deve tomar café ou chocolate, alegando problemas das
toxinas, da cafeína, etc., esquecendo-se que deveremos manter
uma alimentação mais frugal, a partir do período em que já não
tenha tempo o organismo para uma digestão eficiente.
É mais compreensível, e me parece mais lógico, que a pessoa
coma no almoço o seu bife, se for o caso, ou tome seu cafezinho
pela manhã, do que passar todo o dia atormentada pela vontade
desses alimentos, sem conseguir retirar da cabeça o seu uso,
deixando de concentrar-se na tarefa, em razão da ansiedade para
chegar em casa, após a reunião, e comer ou beber aquilo de que
tem vontade.
Por outro lado, a resposta dos espíritos à questão 723 de O
Livro dos Espíritos é bastante nítida a esse respeito, deixando o
espírita bem à vontade para a necessária compreensão, até
porque a alimentação vegetariana não indica nada sobre o caráter
do vegetariano. Lembremo-nos que o “médium” Hitler era
vegetariano e que o médium Francisco Cândido Xavier se
alimenta com carne.

78
Nona parte
Estudos, Participação, Receituário

1. sobre a leitura espírita por parte dos espíritas;


2. desinteresse quase geral dos espíritas por leituras
doutrinárias;
3. hipnose por indução de entidades inimigas;
4. sono durante a leitura de livros espíritas;
5. benefícios dos estudos para os médiuns;
6. elementos que atuam em vários Centros Espíritas a um só
tempo;
7. participação em sessões mediúnicas espíritas e de umbanda;
8. resultados umbandistas e espíritas no afastamento de
espíritos perturbadores;
9. sobre denominação de “receita homeopática” ou
“orientação espiritual homeopática”;
10. sobre a melhor orientação a seguir entre a homeopática e a
alopática;
11. não confundir sessão mediúnica com consultório médico.

79
87. O espírita, médium ou não, deve ler livros espíritas?
Divaldo – Seria o mesmo que perguntar-se se o médico deve
parar de estudar ou de ler livros sobre Medicina.

88. Apesar de necessário, por que notamos na maioria dos


espíritas o desinteresse pela leitura de livros espíritas?
Uns alegam que dá sono, outros que lhes dá dor de
cabeça, etc. Por que acontece isso?
Divaldo – Porque o fato de alguém tornar-se espírita não quer
dizer que haja melhorado de imediato. A pessoa que não tem o
hábito de ler pode tornar-se o que quiser, porém, continuará sem
interesse pela cultura.
O sono normalmente decorre da falta de hábito da leitura,
excepcionalmente quando a pessoa está em processo obsessivo,
durante o qual as entidades inimigas operam por meio de
hipnose, para impedirem àquele que está sob o seu guante que se
esclareça, que se ilumine, e, conseqüentemente, se liberte. Mas,
não em todos os casos. Na grande maioria, as pessoas cochilam
na hora da leitura porque não se interessam e não fazem o
esforço necessário para se manterem lúcidas, como também
cochilam durante a sessão, por não estarem achando-a
interessante; mas permanecem na maior atividade, quando vão
ao cinema, ou ficam diante da televisão até altas horas, quando
os programas lhes agradam. Assim, não respeitam a Doutrina
que abraçaram.

89. Que benefícios trazem os estudos evangélico-doutrinários


para o médium?
Raul – O benefício de, dando-lhe a instrução-conhecimento,
propiciar-lhe a instrução-educação. É através do estudo,
mormente do Evangelho e das obras basilares da Doutrina
Espírita, que o médium se irá apercebendo de quem ele é, por
que ele é médium, quais as suas responsabilidades diante da
mediunidade, por que o indivíduo chega à Terra com a tarefa da
paranormalidade para exercitar. Quando adentra O Evangelho
Segundo o Espiritismo, vai estudar “Dai de graça o que de graça
recebeis”; se pergunta aos espíritos por que Deus concede a
80
mediunidade a indivíduos que ele sabe que poderão falhar, as
Entidades Benfeitoras da Terra redargúem que “pelo mesmo
motivo que ele dá bons olhos a gatunos”. Exatamente por isso o
estudo espírita para o médium vai lhe dando os porquês, vai
elucidando-o, a fim de que não aja porque os outros agem, não
faça simplesmente porque o dirigente mandou que fizesse, mas
para que tenha aquela fé raciocinada, a fé-convicção, aquela fé-
certeza, na coerência de quem faz porque sabe o que deve fazer.

90. O que podemos pensar da atitude de muitos que, à guisa


de cooperarem com vários Centros Espíritas, na segunda-
feira, freqüentam um trabalho num determinado Centro;
na terça estão num trabalho mediúnico, noutro Centro;
na quarta-feira num terceiro, e assim sucessivamente?
Divaldo – Há um ditado que diz: “quem muito abarca, pouco
aperta”. Quem pretende fazer tudo, faz sempre mal todas as
coisas. Por que essa pretensão de ajudar a todos?
Se cada um cumprir com seu dever, com dedicação, no local
em que o Senhor o colocou, estará realizando um trabalho
nobilitante. A presunção de atender a todos é, de certo modo,
uma forma de auto-suficiência, pois quem assim age acredita que
não estando em algum lugar, as coisas ali não irão bem. E,
quando desencarnar? Então é melhor vincular-se a um grupo de
pessoas que lhe sejam simpáticas, para que as reuniões sérias, de
que trata O Livro dos Médiuns de Allan kardec, possam produzir
os frutos necessários e desejados.

91. Há inconveniente em que um médium que participe de


sessão mediúnica espírita e que se afirme espírita
freqüente trabalhos mediúnicos de Umbanda?
Divaldo – Seria o mesmo que a pessoa atuar num campo de
luta e, imediatamente, tomar posição noutro, sem o
esclarecimento correspondente.
Jesus foi muito claro ao afirmar que a casa dividida rui e que
ninguém serve bem a dois senhores. Já é tempo de a pessoa saber
o que deseja, dedicando-se àquilo que acha conveniente. O
Apocalipse 25 fala a respeito das pessoas mornas; assim, é
81
melhor ser frio ou ardente. O morno é alguém que não está com
ninguém, mas, sim, com as suas conveniências.

92. No afastamento dos espíritos perturbadores, a Umbanda


consegue melhor resultado do que uma sessão mediúnica
espírita?
Divaldo – Só se for pelo pavor. Mas não remove a causa,
porque o espírito que foge apavorado não liberta a sua vítima da
dívida, que a ambos vincula.

93. Qual a denominação correta: receita homeopática ou


orientação espiritual homeopática?
Divaldo – Não devemos trazer para o Espiritismo o que
pertence aos outros ramos do conhecimento. Não deveremos
pretender transformar a sessão mediúnica em novo consultório
médico. Digamos, então, orientação espiritual; se veio o nome de
um remédio, que o bom senso recomenda seja aplicado, é uma
exceção, mas não deveremos ter um compromisso especial para
constranger um espírito a dar homeopatia ou alopatia.
Certa feita, em uma das nossas orientações espirituais, veio o
seguinte: “O meu irmão necessita de ler O Evangelho Segundo o
Espiritismo, no capítulo número 15”. Eu tive a curiosidade de
saber o que era, e fui olhar. “Fora da Caridade não há Salvação”.
O paciente era um sovina; a doença dele era desamor. Então, a
“homeopatia” que ele precisava era uma séria advertência, e não
remédio comum.

94. Qual a orientação adequada a seguir, a homeopatia ou a


alopatia?
Divaldo – A melhor orientação a seguir é convocar o paciente
a melhorar-se de dentro para fora e levar ao médico o problema
da sua saúde orgânica.

82
Décima parte
Escolhos da Mediunidade

1. distinção entre animismo e mistificação;


2. processos regressivos;
3. mistificação do desencarnado;
4. mistificação do encarnado;
5. associação dos fraudadores encarnados com os
desencarnados;
6. mistificação sofrida por Chico Xavier e suas razões;
7. problemas psiquiátricos e obsessões;
8. epilepsias e aproximações espirituais obsessoras;
9. necessidade de orientações doutrinárias seguras;
10. estudo e experiência auxiliam a distinguir o que seja
mediunidade e o que seja expressão psicopatológica;
11. sobre a freqüência de obsidiados nos trabalhos mediúnicos;
12. necessidade da presença dos obsidiados, em tratamento, nas
sessões de estudos e aclaramento espíritas.

83
95. Qual a diferença entre animismo e mistificação?
Raul – Encontramos em O Livro dos Médiuns, mais
exatamente no capítulo 19º, item 223 (1ª a 5ª, Allan Kardec
discutindo e apresentando uma questão muito importante e muito
grave, que é a circunstância em que o espírito do próprio
percipiente, do próprio médium, no estado de excitação de
variada ordem, transmite a sua mensagem.
Nos processos de regressões, de múltiplas procedências, a
alma do encarnado se expressa, chora suas angústias, deplora
suas mágoas guardadas na intimidade, ou apresenta suas virtudes
e conquistas, suas grandezas, também guardadas no íntimo. Esse
fenômeno em que o próprio espírito do médium se expressa, com
qualquer tipo de bagagem, nós o chamaremos de “anímico”,
conforme Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns. E aqueles
outros fenômenos através dos quais entidades espirituais se
manifestem por meio de médiuns, e dizem ser personalidades
que verdadeiramente não foram na Terra, esses denominaremos
de “mistificação”.
Allan Kardec teve a oportunidade de estudar em O Livro dos
Médiuns, na parte em que apresenta as dissertações mediúnicas
(capítulo 31º), diversas mensagens, das quais ele, depois de tê-
las analisado, anota que jamais poderiam proceder de Vicente de
Paula, de Maria de Nazaré e de outros tantos espíritos
respeitados e considerados pela Humanidade. É o caso em que
certas entidades banais dão nomes de vultos que gozam ou que
gozaram no mundo de respeitosa projeção.
Mas, temos ainda um outro tipo de mistificação, que é a
mistificação do indivíduo, do médium, quando, por motivos
diversos, não sendo portador de faculdades mediúnicas, ou ainda
que seja, mas não sendo dotado da capacidade de comunicar, de
permitir a comunicação de tal e qual espírito, ele a forja, com
interesses os mais estranhos. Aí encontramos a mistificação por
parte do suposto médium.
É importante, porém, que nos lembremos de que todas as
nossas ações, como se reporta O Livro dos Espíritos, são
conduzidas pelos espíritos. Normalmente são eles que nos

84
dirigem, conforme o item 459, da citada obra. Logo, quando se
começa a fraudar, a mistificar por quaisquer interesses, no início
é o próprio indivíduo com a sua mente doente, mas, a partir daí,
passa a atrelar-se a entidades mistificadoras, submetido, então, à
influência espiritual. A princípio, a criatura é mistificadora sem
ser propriamente médium. Depois advém a “sociedade” de
forças, surgindo o engodo. No primeiro impulso era fruto do
encarnado, depois os espíritos complementam.
Foi perguntado a Chico Xavier, e publicado no livro No
Mundo de Chico Xavier,26 se alguma vez ele teria sido alvo de
mistificação da parte de espíritos. Ele disse que sim. E quando
foi inquirido sobre qual a razão pela qual Emmanuel lhe
permitira essa vivência de algum espírito comunicar-se e dizer-se
quem não era, ele afirmou que aquilo se destinava a que ele visse
que não estava invulnerável à insuflação negativa.
Jesus Cristo teve ensejo de dizer que, se possível fosse, essas
entidades, os falsos profetas, enganariam aos próprios eleitos. De
nossa parte, costumamos nos indagar: “E nós que ainda somos
apenas candidatos?”

96. Dentro dos quadros da psiquiatria, como psicopatia,


esquizofrenia, etc., quais as características que poderiam
se enquadrar dentro das obsessões?
Raul – Reconhecemos, com os ensinamentos da Doutrina
Espírita, que todos aqueles portadores das esquizofrenias,
psicopatologias variadas, dentro de um processo cármico, são
entidades normalmente vinculadas a graves débitos, a dívidas de
delitos sociais, e, conforme nos achamos dentro desse quadro de
compromissos, essas psicopatologias de multiplicada
denominação assumem intensidade maior ou menor.
Conforme orienta o instrutor Calderaro ao Espírito André
Luiz, no livro No Mundo Maior,27 ao estudar a problemática do
cérebro, esses companheiros esquizofrênicos entram em “crises”
quando, no processo natural e inconsciente de rememoração, se
vinculam ao seu passado, quando delinqüiram, através de um
processo de associação, de assimilação fluídica.

85
Nos casos de epilepsias, tudo nos leva a crer que as entidades
credoras, em se aproximando do devedor, diretamente ou por
meio de seu pensamento, promovem como que um acordamento
da culpa, e ele mergulha, então, no chamado transe epiléptico.
Nesse particular do transe, por ação de espíritos, encontramos
correspondentes com o processo mediúnico, porque não deixam
de ser, esses indivíduos, médiuns enfermos, desequilibrados,
apresentando, por isso, uma expressão mediúnica atormentada,
doente. Convenhamos que o exame da Doutrina Espírita, com
relação a esses diversos casos, nos dará gradativamente as
dimensões para que saibamos avaliar, analisar os problemas de
enfermidades psicopatológicas, tais como as que acompanham a
esquizofrenia, que é esse conjunto de tormentos, de
perturbações, de doenças, que verdadeiramente não têm uma
etiologia definida.
Nos casos de patologia psicológica ou psiquiátrica,
deveremos nos valer dos conhecimentos específicos na área
médica, para que não coloquemos pessoas doentes nas atividades
mediúnicas, o que seria um desastre. Muitas pessoas se mostram
com diversas síndromes e sintomas de problemas psíquicos,
quando a invigilância e o desconhecimento espírita de alguns os
leva a afirmar que é mediunidade e levar a criatura para o
exercício mediúnico. Esses graves equívocos determinarão
graves ocorrências.
O nosso Divaldo, oportunamente, narrou-nos um episódio por
ele conhecido, a respeito de um cidadão que sofrendo de intensas
e continuadas cefaléias foi “orientado” por alguém irresponsável
a “desenvolver-se”, porque era médium, e que nisso encontraria
a cura esperada.
Buscados núcleos de mediunismo sem orientação cristã,
feitos os “trabalhos”, etc., o problema não cedeu, ao contrário,
agravou-se. Após frustradas tentativas lá e cá, o moço foi levado
a uma instituição séria, onde o servidor da mediunidade que o
atendeu constatou, pela informação dos Benfeitores Espirituais,
que a família deveria providenciar atendimento médico para o
rapaz. Feito o eletroencefalograma, verificou-se uma tumoração

86
cerebral já sem possibilidade de cura, devido ao estado adiantado
do problema.
Muitas vezes estamos atrelados a enfermidades espirituais
que oferecem respostas somáticas, que estão ligadas a dramas
profundos e graves, que não podem ser atendidos como se
fossem mediunidade, numa leviandade que não se permite, em se
tratando de Entidade Espírita. Noutros campos, registramos nos
hospitais psiquiátricos diversos médiuns em aturdimento,
obsidiados que poderiam ser devidamente tratados com a terapia
evangélico-espírita, para depois abraçarem a tarefa mediúnica.
Então, é necessário que estudemos e assimilemos os
conceitos e lições da Doutrina Espírita, conhecendo a prática do
bom senso, para que saibamos distinguir aquilo que é
mediunidade, precisando de educação, daquilo que seja
enfermidade psicopatológica, a exigir tratamento médico.

97. Na terapia da desobsessão, é bom que o obsidiado


freqüente trabalhos mediúnicos?
Divaldo – O ideal será que ele não participe dos trabalhos
mediúnicos. Se estiver no estado em que registra as idéias sadias
e as perturbadoras, o trabalho mediúnico pode ser-lhe seriamente
pernicioso. Porque, se o obsessor incorporar, poderá ameaçá-lo
diretamente, criando nele condicionamento que depois vai
explorar de espírito a espírito. Como a necessidade não é do
corpo físico do enfermo, ele pode estar em qualquer lugar e os
Mentores trarão as entidades perturbadoras.
Por outro lato, ele não deve faltar às sessões de
esclarecimento doutrinário, para que aprenda a libertar-se das
agressões dos espíritos maus e, ao mesmo tempo, crie condições
para agir com equilíbrio por si mesmo.

87
Décima primeira parte
Usos e Costumes

1. utilidade dos Cursos de formação de médiuns;


2. estudos mediúnicos como parte dos estudos do Espiritismo;
3. diplomas e carteiras na formação de médiuns;
4. sobre o uso de roupas especiais para a prática mediúnica;
5. cores das roupas e sua interferência na qualidade dos
fenômenos;
6. origens e inconvenientes do uso de velas, banhos, pontos
traçados e defumações no exercício mediúnico;
7. fatores atávicos e sociológico-antropológicos;
8. antropologia religiosa dos povos de Angola, Cabinda e
outros;
9. cultos animistas de antigos escravos na cultura religiosa do
catolicismo brasileiro;
10. pedidos de missas e velas por parte de desencarnados sob
velhos atavismos;
11. não validade das fórmulas exteriores;
12. pensamento de Michael Quoist sobre a busca de Deus;
13. sentido educativo do “amai-vos e instruí-vos”;
14. hábitos de estudo e do exercício do amor, para a libertação
de atavismos desnecessários;
15. distintivos materiais para classificação hierárquica de
médiuns;
16. oferendas materiais (comidas e objetos) para
desencarnados;
17. objetivos espíritas de espiritualização;
18. forma ideal de oferendas aos desencarnados.

88
98. Quanto aos variados cursos de formação de médiuns,
espalhados por toda parte, são úteis, de fato, para os
indivíduos?
Raul – Sempre que nos reunimos com o objetivo de estudar o
Espiritismo, encontramos razões para alegrias imensas.
O Espiritismo é um filão notável, aclarando a nossa visão,
desenvolvendo-nos o intelecto e ajustando-nos às experiências
amadurecedoras.
O que nos deve chamar a atenção, a fim de que nos
precatemos, é o fato de entendermos os cursos de formação de
médiuns como curso formal, com graduações e notas, provas e
formaturas. Isto porque o sentido do curso, se desenvolvido
nessas bases, fará entender ao cursando, ou aluno, que, quando
ele o concluir estará formado. Então, terá que ser médium a
qualquer custo, podendo surgir fortes predisposições à
mistificação ou excitações que levem o indivíduo às bordas dos
fenômenos anímicos, pela ansiedade de dar comunicações.
Os estudos espíritas devem ser descontraídos e agradáveis,
permitindo trocas de experiências, facultando o crescimento
geral. O estudo da mediunidade, por outro lado, não passa do
estudo de uma parte do conhecimento espírita, devendo ser feito,
por isto, associado aos demais temas da Doutrina Espírita.

99. E sobre os cursos de formação de médiuns que distribuem


carteiras e diplomas aos seus concluintes?
Raul – Embora respeitemos as intenções de qualquer pessoa,
dizemos que nessas atitudes nada existe do pensamento do
Espiritismo, cujas propostas são de trabalho e renovação, sem
atavios, sem ilusões, sem competições com os estabelecimentos
e concepções das instituições do mundo, ainda quando
respeitáveis na pauta dos valores terrenos.

89
100. Alguma necessidade particular existe para que se
recomende aos médiuns o uso de aventais, jalecos ou
outras roupas especiais, nos trabalhos mediúnicos do
Espiritismo?
Raul – À luz do pensamento espírita, nenhuma necessidade
existe para o uso de roupas especiais, ou vestes de quaisquer
naturezas, nos cometimentos mediúnicos espíritas, que possam
designar símbolos ou paramentação inadequada aos eventos
doutrinários. Até porque, perante a expressão de Jesus, trazendo-
nos a imagem do “túmulo caiado por fora escondendo putrefação
na intimidade”, notamos a importância de cada um alimpar-se
por dentro, tecendo, com os esforços da sua transformação
moral, a anelada “túnica nupcial”, a que Jesus se referiu na
parábola do festim de bodas.

101. As cores das roupas que os médiuns estejam usando


interferem na qualidade do fenômeno mediúnico?
Raul – Em nada interferem as cores de uso externo do
médium na qualidade dos fenômenos mediúnicos. Interagem,
isto sim, as “cores” de dentro, o caráter, o modo de ser e de viver
de cada um.

102. Observando-se, ainda, no exercício mediúnico, o uso de


velas, banhos, pontos traçados, defumadores, gostaríamos
de saber as causas e origens, bem como os inconvenientes
de tais práticas.
Divaldo – Há dois fatores atávicos. O fator ancestral
religioso, herança das doutrinas ortodoxas que estabeleceram no
culto a preservação de luzes para a adoração espiritual, e o fator
sociológico-antropológico, especialmente nas Américas, já que,
de certo modo, somos legatários das tradições africanas. A
própria antropologia religiosa dos povos de Angola, Cabinda e
de outros que vieram para cá desenvolveu em forma de
automatismo um animismo-mediúnico como meio de
intercâmbio com o mundo espiritual. No Brasil, em particular,
somos herdeiros inevitáveis dos cultos animistas, que os antigos
escravos das gerações passadas introduziram em nossa formação
90
religiosa, associando-se ao culto externo do catolicismo, que a
partir do século IV introduziu o uso de velas, incensos, flores,
vestuários das tradições pagãs. É inevitável que muitos espíritos,
“que são as almas dos homens”, e que estavam acostumados a
tais tradições desses cultos religiosos, retornem do além-túmulo
fazendo essas recomendações absurdas quanto a uma aparente
necessidade de manifestações externas, solicitando que se
mandem celebrar missas, que se acendam velas, que se queimem
defumadores, que se traga o turíbulo para o incenso, em razão da
crença fundada na eficiência dessas fórmulas.
A Allan Kardec não passou despercebida essa questão, tanto
assim que ele a introduziu em O Livro dos Espíritos, quando
abordou o tema “fetichismo”, demonstrando que os Espíritos
Superiores e os espíritos, na sua generalidade, desprezam e
ridiculizam as fórmulas externas de nenhuma validade para a
promoção moral do ser. Também há o atavismo religioso, que
mantém, na sua liturgia, a presença indispensável desse culto
exterior.
O Espiritismo é a doutrina da integração da criatura com o
Criador, através da sua liberdade com responsabilidade, da sua
conscientização de deveres, a fim de que possa fruir de paz, de
esperança e de felicidade. Qualquer manifestação de culto
externo, por desnecessária, é de segunda ordem, não merecendo
maior consideração, no que tange à educação mediúnica.
A educação mediúnica exige, em primeiro plano, o
conhecimento pelo estudo da mediunidade. A seguir, a educação
moral e, como conseqüência, o exercício e a vivência da conduta
cristã. Cristã, porque é o amor na sua expressão mais elevada,
quando o indivíduo se encontra consigo próprio.
Michael Quoist, sacerdote francês, tem um pensamento que
se adapta à questão. Diz ele, em outras palavras: “Eu Te procurei
e fugi do mundo para entrar em contato Contigo, abandonei-me a
mim e a meus irmãos, mas não Te encontrei; quando me voltei
para a ação da caridade ali me deparei Contigo, com o meu
próximo, comigo mesmo, assim encontrando-nos os três.” É
necessária a educação intelecto-moral que está implícita na
resposta do Espírito da Verdade: – “Espíritas! amai-vos.
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Espíritas! instruí-vos.” Instruir, no século XIX, tinha a
abrangência do moderno verbo educar, que é adquirir hábitos e
conhecimentos. Através dos hábitos salutares do estudo e do
exercício do amor, o médium se libera de quaisquer atavismos
para fazer-se ponte entre ele, a criatura, e o Criador, sob a
inspiração dos Espíritos Superiores.

103. Os distintivos são importantes para a classificação das


condições dos médiuns nas reuniões mediúnicas?
Raul – Conforme estamos asseverando, com base nos
ensinamentos do Espiritismo, quaisquer exterioridades ou
excentricidades, nos usos ou nas práticas, que tentem nivelar o
labor espírita com as escalas de valores mundanos, não
compartilham do posicionamento espírita.
Todo e qualquer distintivo material para médiuns colaborará
para a exaltação da personalidade, predispondo-o a vários
perigos.
O que deverá distinguir os lidadores do intercâmbio
mediúnico será a sua fidelidade aos compromissos abraçados e
sua luta por ser um instrumento mais útil às Falanges do Bem,
aperfeiçoando-se a cada dia, para alcançar a vitória sobre si
mesmo e sobre os tormentos do mundo.

104. É justo que, nas reuniões mediúnicas ou fora delas, se


façam oferendas materiais, objetos ou alimentos, no
intuito de atender aos caprichos ou aplacar as
necessidades que os espíritos denunciem?
Raul – A ação espírita junto aos irmãos desencarnados deverá
acatar sempre os objetivos espíritas, que são os da
espiritualização das criaturas.
Nossas oferendas aos espíritos serão, por isso mesmo, em
nível vibracional: nossas orações, que representam emissões de
energias da alma em alta freqüência; nossas boas ações diárias,
que a eles dedicamos como emissão de carinho e fraternidade,
que são, também, fluidos impregnados de nobres qualidades.

92
As entidades que solicitam ou exigem coisas ou comidas e
bebidas, reportando-se a seus gostos ou necessidades, são,
indubitavelmente, companheiros desencarnados ainda em grande
atraso moral e os indivíduos que os atendem nessas transações
mundanas passam a se lhes associar, num circuito de
interdependência de funestas conseqüências. A espíritos
ofertemos tão só as coisas do espírito.

FIM

Notas:

1
Lucas, 10: 25.
2
Marcos, 9: 11.
3
Marcos, 5: 7.
4
Marcos, 8: 27.
5
João, 18: 23.
6
Marcos, 10: 51.
7
Paulo (I Coríntios, 12: 1 a 11).
8
Jesus (João, 5: 14).
9
Francisco Cândido Xavier, Paz e Renovação, diversos
espíritos, capítulo 34, 4ª edição, CEC, Uberaba-MG, 1979.
10
Referência ao Simpósio sobre Mediunidade realizado pela
Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte – MG e pela
Associação Espírita Célia Xavier, da mesma cidade, nos dias
16 e 17 de junho de 1984, com a participação de Divaldo
Franco e Raul Teixeira.
11
Francisco Cândido Xavier, Seara dos Médiuns, Emmanuel,
capítulo 38, 2ª edição, FEB, Rio de Janeiro – RJ, 1973.
12
Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo
24º, item 12, 92ª edição, FEB, Brasília – DF, 1986.

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13
Divaldo P. Franco, Párias em Redenção, Victor Hugo, 2ª ed,
FEB, Rio de Janeiro – RJ, 1976
14
Divaldo P. Franco, Painéis da obsessão, Manoel Philomeno de
Miranda, 1º edição, LEAL, Salvador-BA, 1983.
15
Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, capítulo 29º, item 331,
53ª edição, FEB, Brasilia-DF, 1986.
16
Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, capítulo 4º, item 74 (5º e
14º), 53ª edição, FEB, Brasília – DF, 1986.
17
Allan Kardec, O Livro dos Médiuns capítulo 29º, itens 324 e
331, 53ª ed. FEB, Brasília – DF, 1986.
18
Água Régia, substância altamente corrosiva.
19
Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, capítulo 24º, item 267 (1º
a 26º), 53ª ed. FEB, Brasília – DF, 1986.
20
Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, capítulo 16º, item 198,
53ª edição, FEB, Brasília – DF, 1986.
21
Ver questão nº 2.
22
Allan Kardec, A Gênese, capítulo 14º, item 33, 29ª ed. FEB –
Brasília – DF, 1986.
23
Allan Kardec, A Gênese, capítulo 14º, item 33, 29ª edição,
FEB, Brasília – DF 1986.
24
Francisco Cândido Xavier, Nos Domínios da Mediunidade,
André Luiz, Capítulo 17º (página 165), 8ª edição, FEB, Rio de
Janeiro – RJ. 1976.
25
João (Apocalipse, 3: 15,16).
26
Francisco Cândido Xavier, No Mundo de Chico Xavier, Elias
Barbosa, itens 35, 36 e 37, 5ª edição, IDE, Araras – SP, 1983.
27
Francisco Cândido Xavier, No Mundo Maior, André Luiz, 12ª
edição, FEB, Brasília – DF, 1984.

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