My Broken Mariko - Resenha

MY BROKEN MARIKO: Uma história de amizade, luto e memória
My Broken Mariko conta a história de uma amizade, do peso de vivenciar o luto e o quão
forte pode ser o impacto desse sentimento. Antes de se aprofundar na leitura do texto é
importante destacar que a obra trata de temas delicados como abuso, depressão e suicídio
que podem servir de gatilhos para algumas pessoas.
Pode até não parecer, mas My Broken Mariko é o mangá de estreia da autora Waka Hirako.
A história possui cerca de 150 páginas sendo dividida em quatro capítulos e o que mais
chama atenção é a forma que cada elemento da obra é bem colocado em um espaço
relativamente pequeno, principalmente por abordar temas de grande sensibilidade.
Acompanhamos a trama a partir do momento em que a protagonista, Shiio Tomoyo, está em

um restaurante e ouve no noticiário sobre o suicídio de sua melhor amiga, Mariko. O
impacto é instantâneo e aterrorizante. Diante disso Tomoyo se vê sem acolhimento algum
em seu ambiente social, em determinado momento no início do mangá um colega de
trabalho age com desdém e indelicadeza sobre a tristeza que sentia em relação à sua
perda, como se não fosse algo difícil de encarar. Tomoyo estava completamente sozinha,
tendo que lidar subitamente com a dor da perda e do luto.
Inconformada com a sensação de impotência diante da morte de Mariko, Tomoyo decide

que precisa fazer algo pela amiga, qualquer coisa para se vingar de tudo que ela sofreu
injustamente e honrar sua memória. Ao lembrar de todo abuso causado pelo pai de Mariko
durante anos, Tomoyo considera injusto que ele fique com os restos mortais da filha e
arquiteta um plano para roubar as cinzas da amiga como um ato de último resgate.
Com as cinzas da amiga em sua posse, Tomoyo começa a resgatar diversas lembranças do
passado ao seu lado. Lembrando-se da proposta de uma viagem para a praia com Mariko
na adolescência que nunca ocorreu, ela resolve levar a amiga para realizar o antigo desejo
juntas. Daí em diante, os acontecimentos se revezam com os flashbacks do passado das
amigas, que algumas vezes se misturam resultando em memoráveis cenas, mostrando a
relação das duas e o passado aterrorizante de Mariko.
O último momento de Mariko e Tomoyo juntas em uma viagem impulsionada pelo laço de
amizade que as unem acaba saindo dos eixos quando a mochila de Tomoyo é levada com
todos os seus pertences, incluindo dinheiro e as cartas escritas à ela por Mariko durante
toda sua vida. Logo ela se vê perdida em um local estranho, devastada, sentindo que todo o
plano até ali foi inútil.
Conforme vemos Tomoyo enfrentar os desafios da jornada com as cinzas de sua melhor
amiga em seus braços, mais lembranças vão surgindo em sua mente, despertando
sentimentos intensos que a leva à beira da exaustão mental e emocional. Tomoyo por
diversas vezes chega a dialogar com o passado e são nesses momentos que descobrimos
que o histórico de violência sofrido por Mariko é de longa data, desde a infância, envolvendo
o próprio pai e quando adulta por seu namorado. Nesse momento da história é notável o
bom trabalho da autora ao evidenciar toda violência e abuso sofrido por Mariko sem haver
necessidade de cenas apelativas dos atos de crueldade em si, o que encontramos são
sinais físicos e vestígios psicológicos do que acontecia como ferimentos, machucados,
traços de desordem em cenários e elementos textuais como as cartas escritas por Mariko.
Além de todos os fatores citados anteriormente sobre a vida de abusos sofridos por Mariko,
a autora aborda o reflexo de tudo isso em Tomoyo, a pessoa mais próxima da vítima. Waka
Hirako consegue passar ao leitor o quão é perturbador e complicado para quem está
acompanhando tudo isso de fora, por uma perspectiva externa tentando compreender toda
a dor e ainda dar o apoio emocional necessário para a vítima. Tomoyo tem noção dos
acontecimentos e tenta ajudar, mas nem sempre tem sucesso. É doloroso e tocante notar
como ela carrega a frustração de se sentir incapaz de salvar quem ama e como toda essa
angústia é insuportável, deixando ela diversas vezes à beira do desespero. Ainda assim,
Tomoyo precisa aprender a conviver com a dor da perda, com a saudade e o luto.
Cabe aqui dizer que o ponto alto utilizado para intensificar as emoções de Tomoyo é a arte.
Os traços mais carregados evidenciam ainda mais o caos emocional que ela experimenta
durante toda a história e esse detalhe funciona muito bem para a narrativa. Em outros
momentos o mesmo estilo é utilizado na casa da família de Mariko para nos ajudar a
entender como aquele ambiente está carregado de dor e medo.
De maneira geral, podemos dizer que My Broken Mariko entrega com muito êxito o que se
propõe ao abordar a violência. O mangá consegue ser forte tanto visualmente quanto
textualmente, mostrando que entende sobre o tema abordado e suas dolorosas
consequências. A obra instiga o leitor constantemente a se sensibilizar e pensar sobre essa
situação terrível que é a realidade de várias pessoas. Um dos momentos de destaque é
quando, em certo ponto da história, Tomoyo se lembra de um discurso de Mariko que se
sentia culpada pelos abusos sofridos e tentava justificá-los. Então, Tomoyo responde aos
prantos para a amiga que cada abusador que passou em sua vida apenas despejou suas
próprias fraquezas nela e não há razão alguma para ela se culpar de nada daquilo.
My Broken Mariko é uma história sobre amizade, luto e memória muito bem conduzida para
um mangá de volume único. Consegue ser impactante e sensível de uma maneira singular.
Originalmente publicado pela Kadokawa Shoten no Japão em 2020, o mangá chegou ao
Brasil em fevereiro de 2022 pela editora JBC em uma bonita edição com o cuidado que a
obra merece. Caso não tenha lido o mangá, fica o convite e recomendação para
conhecê-lo.

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