4 Salto de Desenvolvimento

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MANUAL DO DESENVOLVIMENTO

Será salto de
desenvolvimento?
Dr. Odilo Queiroz
MÉDICO PEDIATRA
Nesta quarta aula do Manual do Sono, continuaremos enten-
dendo os motivos para o bebê não ter uma rotina estabeleci-
da de sono e, principalmente, de acordar várias vezes durante
a noite. Até agora, já aprendemos os ciclos do sono e a identi-
ficar se o despertar é resultado de imaturidade, fome ou dor.
O assunto a ser abordado agora é: salto do desenvolvimento.
Será que são os saltos que estão causando despertares no
bebê? Vamos lá!

Antes de tudo, devemos tomar muito cuidado com o fator


fome. Esse sempre deve ser questionado quando o bebê des-
perta, porque é muito comum e deve sempre ser considera-
do. Porém, excluídas as possibilidades de ser fome — que
aprendemos a avaliar na aula anterior — devemos avaliar,
ainda, a imaturidade e a dor, também já ensinadas. Se nenhu-
ma dessas causas foi identificada, podemos a passar a avaliar
os saltos do desenvolvimento, que também são motivos
frequentes dos despertares.
O desenvolvimento do bebê não acontece de forma contí-
nua e retilínea. Ele não passa todo o seu tempo de crescimen-
to crescendo. Parte desse tempo é usado para absorção de
informação, de estímulos visuais, sonoros e olfativos, por
exemplo. Na medida em que ele vive e é estimulado, sua
massa encefálica e crânio vão crescendo. Com a associação
desses acontecimentos, ele tem uma fase de desenvolvimen-
to de habilidades que vêm “abruptamente”, nos chamados
saltos do desenvolvimento.
Por conta das habilidades chegarem abruptamente e serem
uma grande novidade, é comum que o bebê não reaja bem a
essas novas aptidões. Por exemplo, o bebê que começa a
enxergar melhor, porém, começa a enxergar tudo de uma
forma diferente, pode se assustar com isso. Ele estava acostu-
mado a enxergar de um único jeito e, com a melhora da visão,
o que lhe era confortável “vai embora” e é substituído por
“outra coisa”.
Essas mudanças também pode acontecer com outras diver-
sas habilidades. Como as mudanças de musculatura com
novas habilidades de mobilidade ou mudanças de linguagem
com novos sons, enfim, as mudanças podem ser motoras,
cognitivas, sociais ou de linguagem. E todas podem assustar e
deixar o bebê em estado de alerta.

E COMO IDENTIFICAR UM SALTO?


Observe: se o bebê mudou seu temperamento, seu compor-
tamento, se agora ele chora mais ou tem mais necessidade de
sucção — seja do peito, da mãozinha ou da chupeta. Um
bebê que passa a querer colo o tempo todo ou que passa a
estranhar as pessoas. Enfim, todas essas intensificações do
temperamento podem ser indicativo de salto de desenvolvi-
mento.
Além disso, é muito importante associar os “três C’s” (bebê
chato, carente e chorão) à novidade trazida pelo salto. Por
exemplo, no salto do quarto mês, o bebê apresenta a mudan-
ça de temperamento, mas também começa a mudar a sua
postura e a conseguir pegar nos pés, porque começou o mo-
mento de desenvolvimento abrupto da habilidade de rolar.
Assim, pode-se ser identificado o salto.
Ou seja, é importante entender que se o bebê apenas tiver
mudança de temperamento, como acordar dez vezes por
noite, querer largar a mama, querer ficar demais na mama ou
chora o tempo todo, mas não mostrar nenhum desenvolvi-
mento perceptível, não é salto.
Portanto, deve haver a associação: mudança de tempera-
mento + mudança nas habilidades = salto.
Todo o bebê tem os “três C’s”? Não.
Há uma fase posterior nos saltos que é chamada de fase cita-
tória, que é a fase que acontece quando o bebê já se acostu-
mou com a chegada da nova habilidade. Neste momento, o
bebê já não fica medroso mais e, sim, treinando a habilidade
nova e o tempo todo. E é exatamente por ansiar treinar o
tempo todo que, durante os saltos de desenvolvimento, o
bebê acorda durante a noite. Por isso, é comum que o bebê
acorde e fique segurando os pés ou dando gritinhos que ele
aprendeu a dar.
No caso dos bebês mais calmos, os “três C’s” não se manifes-
tam e eles passarão a acordar somente para a fase citatória,
para treinar a habilidade que está surgindo no salto. Porém,
essa é a minoria dos casos.

O QUE FAZER
Para a maioria dos bebês, os momentos de salto de desenvol-
vimento — que são vários e estão detalhados e especificados
na aula de saltos — são momentos difíceis, em que eles esta-
rão assustados.
Portanto, um bebê assustado precisa, primordialmente, se
sentir seguro. E para isso ele vai precisar, como necessidade
fundamental do organismo dele, de amparo, amor e carinho
da mãe. É necessário que a mãe faça o máximo para demons-
trar que está tudo bem e que tudo vai voltar ao normal. Con-
verse com o seu bebê, mesmo que ele ainda não entenda: “vai
ficar tudo bem, é só uma fase, você está crescendo”, com
muito carinho. Repetir tudo isso é ótimo para o bebê, mas
também para a mãe.
O mais difícil, quanto ao sono, é que o bebê vai precisar de
colo, de muita sucção, seja lá de qual sucção que ele solicitar
(peito, mão ou chupeta) e da presença de alguém, principal-
mente, da mãe. Ele vai ter seus níveis de cortisol aumentados
pelo estresse do susto e esse cortisol diminui o nível de mela-
tonina, geralmente, o que resulta na maior dificuldade em
pegar no sono e ampliação de despertares.
Então, esse bebê assustado e desperto precisará que a mãe
também desperte e vá até ele para acolhê-lo. E esses momentos
de amparo gerarão associação quanto ao sono, mas evitá-las
não é a prioridade nesse momento. E sim o conforto do bebê.

Normalmente, um bebê para dormir bem e/ou a noite toda


precisa estar bem alimentado, bem descansado e bem relaxa-
do. Entretanto, o bebê em salto, fica assustado, então, não fica
relaxado e é muito mais difícil de relaxá-lo.
É importante lembrar que, apesar do sono da mãe ser muito
importante e a privação de sono acarretar diversos danos,
nesta aula falamos de um período que a mãe terá que agir
mesmo cansada, pois o bebê, que também estará estressado
e cansado, precisa dela. A mãe tem uma vantagem em relação
ao bebê: ela entende o que está acontecendo e pode se acal-
mar, ele não. Então, esse é um momento em que a dedicação
terá de ser maior e o conforto do bebê deve ser a prioridade,
pois ele está sofrendo por estar assustado e estressado. Tendo
em mente sempre que esses momentos passam.
É só esperar passar? Sim e não.
Para muitas mães, é intuitivo pensar que deve-se deixar o
bebê se acostumar e entender a situação sozinho para parar
de chorar e dormir. Porém, o processo não acontece assim.
Pois o bebê em salto chorará o máximo que puder pedindo
por conforto, na negativa do conforto, o bebê irá chorar mais,
terá mais estresse, mais medo e seu nível de cortisol aumenta-
rá. Assim, estressado e não relaxado, ele não conseguirá
dormir e, se não for amparado, confortado e relaxado, ele vol-
tará a acordar e chorar quantas vezes e pelo tempo que con-
seguir. O que torna o processo ainda mais exaustivo.

Muito comum: a mãe não dá o amparo necessário ao bebê


durante o salto para evitar associações. A criança fica muito
estressada com o passar do tempo em salto, de tal forma que
a mãe não aguenta mais e acaba, por fim, sucumbindo às
associações e por um período estendido além do salto. Agora
o bebê é muito mais estressado e resolver a associação criada
será ainda mais difícil do que o normal, porque ele vai precisar
muito mais da associação (como a sucção) para ficar calmo.

Esse processo de acalmá-lo pode se iniciar já antes do sono,


aumentando a intensidade do ritual do sono e pode continu-
ar durante a noite, levantando, pegando-o, colocando-o para
mamar. E as associações? Essa preocupação deve ser deixada
para depois, caso você saiba que seu bebê está em salto. Não
são 10 a 15 dias de salto que colocarão “tudo a perder”. Se a
criança não tem associações até então, um período curto
como esse gera associações fáceis de serem desfeitas.
São 10 a 15 dias dormindo mamando ou “chamando” a mãe
durante a noite, não são 10 meses. Então, não há um porquê
de deixar a criança em sofrimento. Uma dica essencial é:
esteja atenta aos sinais que ele emite. Perceba o fim do salto,
porque ele acaba. Quando o salto acabar, capriche. Perceba o
que mudou no seu bebê e ajuste a rotina de acordo com isso,
porque o bebê muda socialmente, fisicamente, cognitiva-
mente e motoramente.
É normal que se ajuste a rotina depois de um salto de desen-
volvimento, se mude a alimentação, as sonecas e o ritual do
sono. Porém, se tudo for feito com menos estresse ao bebê,
apesar do reajuste de rotina, nem sempre será preciso ser rea-
lizada a “desassociação” em relação ao “consolo” dado durante
o salto ou, se for necessária, não vai ser tão difícil fazê-la.
Para a mãe que está estudando os despertares por salto de
desenvolvimento, é necessário que ela já saiba os que ocorrem
por outros motivos: por imaturidade do bebê, por fome e por dor.
Quanto aos momentos de salto, ressalto: amparo é fundamental.

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