Apostila Do Curso Prevenção de Incendio Florestais

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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA


SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA

COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO
COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA

CONTEUDISTAS
Jefferson de Souza
Davi Lucas Soares

REVISÃO DE CONTEÚDO
Manoel Félix Neto

REVISÃO ORTOGRÁFICA
Andreia Olivo

REVISÃO PEDAGÓGICA
Daniele Rosendo dos Santos
Márcio Raphael Nascimento Maia

SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO
Lúcio André Amorim
Renato Antunes dos Santos

DESIGNER
Ozandia Castilho Martins
Renato Antunes dos Santos

DESIGNER INSTRUCIONAL
Ozandia Castilho Martins

2
Apresentação do Curso ..........................................................................................................7
Objetivos do Curso .................................................................................................................8
Estrutura do Curso .................................................................................................................8
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS ........................9
Apresentação do módulo ....................................................................................................9
Objetivos do módulo ...........................................................................................................9
Estrutura do módulo ...........................................................................................................9
Aula 1 - INCÊNDIOS FLORESTAIS NO BRASIL ..............................................................10
1.1 Histórico dos Incêndios Florestais no Brasil ............................................................10
Aula 2 - BIOMAS BRASILEIROS ......................................................................................12
Finalizando .......................................................................................................................15
MÓDULO 2 - TEORIA BÁSICA ............................................................................................16
Apresentação do módulo ..................................................................................................16
Objetivos do módulo .........................................................................................................16
Estrutura do módulo .........................................................................................................17
Aula 1 – CONCEITOS BÁSICOS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS ..................................18
1.1. Triângulo do fogo....................................................................................................18
1.2. Métodos de extinção ..............................................................................................19
1.3. Combustão do material florestal .............................................................................20
1.4. Partes de um incêndio florestal ..............................................................................21
1.5. Classificação ..........................................................................................................22
1.6. Causas ...................................................................................................................24
1.7. Consequências.......................................................................................................25
Aula 2 - COMPORTAMENTO DO FOGO .........................................................................27
2.1. Transferência de calor ............................................................................................27
2.2. Evolução de um incêndio florestal ..........................................................................29
2.3. Variação da propagação .........................................................................................30
2.4. Velocidade de propagação .....................................................................................30
2.5. Intensidade do fogo ................................................................................................30
2.6. Fatores que influenciam na propagação .................................................................31
2.6.1. Combustíveis .......................................................................................................................................... 31
2.6.2. Classificação dos combustíveis ....................................................................................................... 31
2.6.3. Umidade do combustível ................................................................................................................... 32
2.6.4. Continuidade horizontal e vertical ................................................................................................ 32
2.7. Condições meteorológicas .....................................................................................33
2.8. Topografia ..............................................................................................................33

3
Finalizando .......................................................................................................................35
MÓDULO 3 — COMBATE ...................................................................................................36
Apresentação do módulo ..................................................................................................36
Objetivos do módulo .........................................................................................................36
Estrutura do módulo .........................................................................................................37
Aula 1 - GRUPO DE COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS ........................................38
1.1. Guarnição de Combate a Incêndio Florestal ...........................................................38
1.1.1. Atribuições do comandante de uma GCIF .................................................................................. 39
1.1.2. Atribuições dos combatentes de uma GCIF ............................................................................... 39
1.1.3. Características físicas.......................................................................................................................... 39
Aula 2 - MATERIAIS, VIATURAS E AERONAVES ...........................................................40
2.1. Equipamento de Proteção Individual (EPI) .............................................................40
2.2. Kit de sobrevivência ...............................................................................................45
2.3. Ferramentas ...........................................................................................................45
2.4. Equipamentos ........................................................................................................50
2.5. Acessórios..............................................................................................................53
2.6. Veículos .................................................................................................................53
2.7. Meios Aéreos .........................................................................................................53
Aula 3 - MÉTODOS DE COMBATE TERRESTRES E AÉREO .........................................54
3.1. Método de combate direto ......................................................................................54
3.1.1. Uso de á gua no combate direto....................................................................................................... 55
3.1.2. Ângulo de ataque ............................................................................................................................. 55
3.1.3. Há algumas regras que, geralmente, se aplicam, como as seguintes: ........................ 56
3.1.4. Utilizaçã o de ferramentas ................................................................................................................. 57
3.1.5. Utilizaçã o de soprador/pulverizador........................................................................................... 58
3.2. Método de combate indireto, paralelo ou misto ......................................................59
3.3. Método de combate indireto ...................................................................................60
3.3.1. Contrafogo ............................................................................................................................................... 61
3.3.2. Linha de defesa/aceiro de combate .............................................................................................. 62
3.3.2.1. Como construir uma linha de defesa ................................................................................... 62
3.3.2.2. Como os incêndios podem ultrapassar as linhas de defesa........................................ 64
3.4. Operações Aéreas .................................................................................................64
3.4.1. Níveis de empenho dos Meios Aéreos ......................................................................................... 65
3.4.2. Classificação dos Meios Aéreos....................................................................................................... 66
Aula 4 - SEGURANÇA EM OPERAÇÕES DE COMBATE AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS
.........................................................................................................................................71

4
4.1. Aspectos gerais ......................................................................................................71
4.2. No combate ao incêndio .........................................................................................71
4.3. No deslocamento ...................................................................................................72
4.4. No transporte e uso de ferramentas .......................................................................73
4.5. No transporte e uso dos equipamentos ..................................................................73
4.6. Na operação de máquinas pesadas .......................................................................73
4.7. As 10 normas de segurança no combate a incêndio florestal .................................74
4.8. As 18 situações de perigo no combate a incêndio florestal.....................................74
4.9. Procedimento ao ser cercado pelas chamas ..........................................................75
4.10. Segurança em Operações Florestais com emprego de Meios Aéreos.................76
4.11. Enquanto os meios aéreos realizam o lançamento de água .................................77
4.12. Próximo às áreas de pouso e decolagem .............................................................77
4.13. Na aproximação ou afastamento de aeronaves ....................................................78
4.14 Enquanto estiver embarcado .................................................................................81
Aula 5 - FASES DE UMA OPERAÇÃO DE COMBATE AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS .83
5.1. Preparação .............................................................................................................83
5.2. Pré-operação..........................................................................................................84
5.3. Operações na zona de incêndio .............................................................................85
5.3.1. Estabelecimento da estrutura de comando ............................................................................... 85
5.3.2. Reconhecimento ................................................................................................................................... 85
5.3.3. Recursos disponíveis .......................................................................................................................... 87
5.3.4. Gerenciamento dos riscos ................................................................................................................. 87
5.3.5. Definição do método de combate .................................................................................................. 87
5.4. Rescaldo ................................................................................................................88
5.5. Desmobilização ......................................................................................................88
5.6. Perícia ....................................................................................................................88
Finalizando .......................................................................................................................89
MÓDULO 4 – PREVENÇÃO ................................................................................................90
Apresentação do módulo ..................................................................................................90
Objetivos do módulo .........................................................................................................90
Estrutura do Curso ............................................................................................................91
Aula 1 - SISTEMAS PREVENTIVOS CONTRA INCÊNDIOS FLORESTAIS .....................92
1.1. Prevenção das fontes do fogo ................................................................................92
1.2. Prevenção da propagação do fogo .........................................................................93
1.2.1. Sistema de compartimentação por talhão.................................................................................. 94
1.2.2. Sistemas de acessos ............................................................................................................................. 94

5
1.2.3. Sistema de manancial ......................................................................................................................... 95
1.2.4. Sistema de vigilância e detecção .................................................................................................... 95
1.2.5. Redução do material combustível ................................................................................................. 96
1.2.6. Sistema de apoio a operações de combate a incêndio .......................................................... 96
1.3. Silvicultura preventiva.............................................................................................96
1.4. Índices de perigo de incêndio .................................................................................97
Aula 2 - LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA ...........................................................98
2.1. Introdução ..............................................................................................................98
2.2. Direito ambiental ....................................................................................................99
2.3. O Brasil e o direito ambiental..................................................................................99
2.3. Incêndios, queimadas e desenvolvimento sustentável .........................................101
Aula 3 - SALVAMENTO DE ANIMAIS SILVESTRES ......................................................103
3.1. Fatores que influenciam no salvamento de animais silvestres ..............................103
3.2. Da contenção .......................................................................................................104
3.2.1. Contenção física ................................................................................................................................. 104
3.2.2. Contenção química............................................................................................................................ 105
3.3. Exemplos de materiais utilizados para a contenção de animais: ..........................105
3.4. Destinação dos animais salvos ............................................................................111
Finalizando .....................................................................................................................113
GLOSSÁRIO ..................................................................................................................114
Referências Bibliográficas ..................................................................................................116

6
Apresentação do Curso

Seja bem-vindo(a) ao Curso Prevenção e Combate a Incêndios Florestais.

Os incêndios florestais continuam a causar prejuízos não só ao meio ambiente,


mas também à economia e principalmente à coletividade. A observação dos efeitos
dos incêndios florestais e a intensidade destes danos refletem a importância de
aprofundar-se no estudo do tema. Entender como o incêndio ocorre e se comporta,
além de capacitar o aluno para atuar na prevenção e, quando essa não for suficiente,
no combate aos focos de incêndio são os principais objetivos deste curso.
Para que o aluno possa atingir os objetivos propostos, o curso estará
organizado de forma sistêmica: será primeiramente abordado, de forma breve, a
história dos incêndios florestais no Brasil e os principais biomas existentes no país e,
na sequência, os conceitos básicos de fogo, combustão e incêndio, permitindo ao
aluno uma melhor compreensão de como os incêndios se propagam e os fatores que
influenciam o seu comportamento. Posteriormente, será apresentada a estrutura dos
grupos de combate, bem como os materiais, veículos e aeronaves utilizados na
atividade e as regras de segurança necessárias para uma operação segura, além dos
métodos e fases do combate aos incêndios florestais. Para finalizar, será dado
destaque às ações de prevenção, a legislação ambiental e o salvamento de animais
silvestres.
Faz-se necessário e relevante destacar que o tema proposto exige muita
dedicação e treinamento, portanto, estudos complementares são importantes e
esperados, bem como a realização de exercícios operacionais para uma plena
capacitação do aluno. Este curso, por si só, não o capacitará necessariamente a
prevenir e combater um incêndio florestal, mas o deixará mais preparado para
enfrentar este desastre que inflige uma série de danos em todo o território nacional.

Bons estudos!

7
Objetivos do Curso

Proporcionar ao discente o desenvolvimento dos conhecimentos, das


habilidades e das atitudes necessárias para atuar, com segurança, em operações de
prevenção e combate a incêndio florestal.

Estrutura do Curso

O curso tem carga horária de 40 horas/aula e é totalmente ofertado na


modalidade a distância, por meio do Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem, em
que são disponibilizados os conteúdos do curso, sendo de responsabilidade do
discente acessar o Ambiente Virtual para realizar o estudo e as atividades obrigatórias.
Para um melhor aprendizado sobre os tópicos a serem abordados, o conteúdo
foi disponibilizado em 4 (quatro) módulos:

Módulo 1 - Introdução ao Estudo dos Incêndios Florestais.


Módulo 2 – Teoria Básica.
Módulo 3 – Combate.
Módulo 4 – Prevenção.

8
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS INCÊNDIOS
FLORESTAIS

Apresentação do módulo

Neste módulo você conseguirá apontar os marcos históricos dos principais


incêndios florestais que ocorreram no país, além de compreender os biomas
brasileiros e aprender a diferenciá-los.

Objetivos do módulo

Este módulo tem por objetivos:


● conhecer a história dos incêndios florestais no Brasil;
● descrever a evolução da prevenção e combate aos incêndios florestais no
Brasil;
● pontuar os marcos históricos das ações de prevenção e combate aos
incêndios florestais no Brasil.
● definir bioma;
● diferenciar os biomas brasileiros;
● reconhecer as riquezas naturais presentes em cada bioma no Brasil.

Estrutura do módulo

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - Incêndios Florestais no Brasil.


Aula 2 - Biomas Brasileiros.

9
Aula 1 - INCÊNDIOS FLORESTAIS NO BRASIL

1.1 Histórico dos Incêndios Florestais no Brasil

No Brasil, a preocupação com os grandes incêndios florestais foi desperta no


ano de 1963, quando um grande incêndio atingiu cerca de 10% da superfície territorial
do estado do Paraná. O fogo afetou 128 municípios e queimou cerca de 2 milhões de
hectares, destruindo cerca de 5.500 casas, galpões, silos e retirando a vida de 110
pessoas. O Brasil ainda presenciou outros grandes incêndios florestais: no estado de
Minas Gerais em 1967, ocasião em que 12 pessoas morreram durante o combate no
Parque Estadual do Rio Doce, na região do Vale do Aço; em 1998, entre os meses de
fevereiro e março, estima-se que 1,5 milhão de hectares do estado de Roraima foram
atingidos pelos incêndios florestais; em 2003, Roraima vivenciou novamente um
cenário catastrófico de incêndios florestais, com cerca de 500 mil hectares atingidos;
em 2005, o Acre registrou uma temporada severa de incêndios florestais, totalizando
cerca de 600.000 hectares queimados (Ministério do Meio Ambiente, 2021).

SAIBA MAIS!
Atualmente os incêndios florestais mais severos têm ocorrido na região
amazônica e no Pantanal. Em 2019 foram registrados mais de 160 mil focos de
incêndio, já em 2020, entre os meses de janeiro e outubro, foi registrado 45%
a mais do que no ano anterior, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE). Em agosto de 2019 foram registrados mais de 59 mil focos
de incêndio na região amazônica, o que representa quase 50% dos incêndios
florestais ocorridos em todo o território nacional no mês. Estima-se que 906 mil
hectares de florestas foram consumidos em 2019, apenas na região amazônica
que é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia,
Roraima, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins. Segundo a Agência
Espacial Norte-Americana (NASA), a quantidade de incêndios florestais
registrados no Brasil em 2019, assemelham-se aos registros de 2004 e 2010.
(Ministério do Meio Ambiente, 2021).

10
No Pantanal, os incêndios florestais consumiram mais de 2,3 milhões de
hectares, em 2020, nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, conforme os
dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA). Esse registro
representa a maior área consumida por incêndios florestais nos últimos 14 anos.
Nesse ano, todos os municípios do Pantanal registraram focos de incêndio, entre julho
e setembro, atingindo uma área superior a 1.654.000 hectares, dentre parques
nacionais e estaduais, área de proteção ambiental, reservas particulares, estações
ecológicas, além de terras indígenas (Ministério do Meio Ambiente, 2021).

11
Aula 2 - BIOMAS BRASILEIROS

Bioma constitui um conjunto de vida vegetal e animal, formado pelo


agrupamento de tipos distintos de vegetação que podem ser identificados em nível
regional, com condições de geologia e clima semelhantes, inseridos no mesmo
processo de formação da paisagem, constituindo uma diversidade própria de flora e
fauna. Um bioma pode ainda ser compreendido como um conjunto de ecossistemas
que funcionam de forma estável, abrigando diferentes tipos de vegetação e de fauna
(Ministério do Meio Ambiente, 2021).

O Brasil possui seis biomas (Figura 01), são eles: Amazônia, Mata Atlântica,
Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. A seguir serão apresentadas as principais
características de cada um.

Figura 1: Mapa dos biomas brasileiros


Fonte: Educa Mais Brasil.

12
Amazônia:
É o maior bioma brasileiro, presente nos estados do Acre, Amapá, Amazonas,
Pará, Roraima, parte de Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins. O bioma
amazônico estende-se por cerca de 4.196.943 de km² (IBGE, 2004), ocupando 49%
do território nacional. A Amazônia representa a maior floresta tropical do mundo,
contendo ainda a maior quantidade de espécies da flora e da fauna. A fauna, no bioma
amazônico, corresponde a cerca de 20% de todas as espécies do planeta Terra. A
região representa 20% do estoque mundial de água doce, possuindo também grandes
reservas minerais. Devido às condições do solo, a floresta amazônica se mantém a
partir do material orgânico depositado nas camadas superficiais, muito sensível aos
danos causados pelos incêndios florestais (Ministério do Meio Ambiente, 2021).
Mata Atlântica:
Esse bioma ocupa cerca de 13% do território nacional, abrangendo 17 estados
brasileiros, desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Devido à presença
costeira, numa faixa do território ocupada por mais de 50% da população brasileira, a
Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado no Brasil. Apenas cerca de 29% da sua
cobertura florestal original ainda está preservada. A Mata Atlântica está inserida num
contexto de estações climáticas bem definidas, com períodos de seca e chuva, além
da alta pluviosidade e umidade. O bioma da Mata Atlântica possui uma flora com cerca
de 20 mil espécies vegetais, ou seja, cerca de 35% das espécies existentes no Brasil.
A fauna reúne cerca de 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de
mamíferos e 350 de peixes. Ele é composto por formações florestais nativas, tais
como a Floresta Ombrófila Densa e a Floresta Ombrófila Mista, também denominada
Mata de Araucárias, a Floresta Ombrófila Aberta, a Floresta Estacional Semidecidual
e a Floresta Estacional Decidual, além de ecossistemas associados: Manguezais,
Restingas, Campos de Altitude, Brejos e encraves florestais do Nordeste (Ministério
do Meio Ambiente, 2021).
Cerrado:
Cerca de 24% do território brasileiro registra a presença desse bioma,
tornando-o o segundo maior do país. Ele está presente nos estados da Bahia, Goiás,
Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão, Piauí,
Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Reconhecido também como a
Savana brasileira, o Cerrado é o bioma com a maior concentração de biodiversidade
no planeta Terra, com mais de 11.600 espécies de plantas e 137 espécies de animais

13
listados, muitos sob risco de extinção. Até a década de 1950, o Cerrado manteve-se
bastante preservado, contudo, com a construção da nova capital federal, a partir da
construção de Brasília-DF, e a abertura de uma nova rede rodoviária para o interior
do país, a partir da década de 60 a cobertura vegetal natural deu lugar à pecuária e à
agricultura intensiva. O Cerrado é segundo bioma brasileiro que mais sofreu
alterações com a ocupação humana, restando a indesejável liderança para a Mata
Atlântica. A partir da expansão das atividades agrícolas para a produção de carne e
grãos e da exploração de madeira e mineração, o Cerrado tem evoluído para o
escasseamento dos recursos naturais da região (Ministério do Meio Ambiente, 2021).
Caatinga:
Esse bioma ocupa uma área aproximada de 11% do território nacional e se
estende pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. Embora esteja
localizado em área de clima semiárido, com temperaturas médias anuais entre 25°C
e 30°C, apresenta grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e
espécies só encontradas nesse bioma. Os tipos de vegetação da Caatinga encontram-
se bastante alterados, com a substituição de espécies vegetais nativas por pastagens
e agricultura. O desmatamento e as queimadas são práticas comuns no preparo da
terra para a agropecuária, potencializando a destruição da cobertura vegetal natural e
a manutenção de animais silvestres, além da qualidade da água e o equilíbrio do clima
e do solo. Da área original ocupada por esse bioma, cerca de 36% já foram alterados
pelo homem. A fauna é bastante diversificada, com 178 espécies de mamíferos, 591
de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 abelhas. A
vegetação é composta principalmente por plantas xerófitas, que se adaptaram ao
ambiente com poucas chuvas e baixa umidade (Ministério do Meio Ambiente, 2021).
Pampa:
Esse bioma ocupa cerca de 2% do território nacional, mais da metade do
território do Rio Grande do Sul, cerca de 63% da extensão territorial daquele Estado.
É caracterizado por clima chuvoso, sem período seco, mas com temperaturas
negativas no inverno, que influenciam a vegetação, com temperatura entre 10°C e
14°C e no verão entre 20°C e 23°C. O bioma apresenta paisagens naturais de campos
nativos, matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, afloramentos rochosos,
formações arbustivas, entre outros. A fauna é composta por 500 espécies de aves,

14
100 espécies de mamíferos e grande variedade de insetos e a flora por 3.000 espécies
de plantas. (Ministério do Meio Ambiente, 2021).
Pantanal:
Esse bioma ocupa cerca de 2% do território brasileiro, e se estende pelos
estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. É reconhecido como a maior planície
de inundação contínua no mundo, fator que o diferencia dos demais biomas. O Bioma
Pantanal é o mais preservado no Brasil. A criação de gado e o turismo destacam-se
nessa região. O clima é tropical, com temperatura média de 17°C, com chuvas
concentradas no verão e estiagem no inverno. A vegetação do Pantanal é bastante
variada, pois se localiza na faixa de transição entre o cerrado, floresta amazônica e a
floresta tropical. A fauna é composta por aproximadamente 260 espécies de peixes,
41 de anfíbios, 113 de répteis, 463 de aves e 132 de mamíferos. A flora apresenta
quase duas mil espécies de plantas já identificadas, algumas com potencial medicinal.
O bioma vem sendo muito impactado pela ação humana, principalmente pela
atividade agropecuária, contudo mantêm 83,07% de sua cobertura vegetal nativa
(Ministério do Meio Ambiente, 2021).

Finalizando

Neste módulo, você aprendeu que:

• Os principais incêndios florestais ocorridos no país, a partir da década de


60.
• Os biomas brasileiros e suas características.
• Tipo de vegetação existente em cada bioma e sua influência no
comportamento do incêndio.

15
MÓDULO 2 - TEORIA BÁSICA

Apresentação do módulo

Aqui iniciaremos o estudo propriamente dito dos incêndios florestais. Você


aprenderá o que é um incêndio florestal e as suas características, dentre elas, as fases
da combustão, as partes de um incêndio florestal, sua classificação, causas e
consequências. Neste módulo você compreenderá como o incêndio inicia e os fatores
que irão influenciar na sua propagação, sendo este conhecimento fundamental para
definição das estratégias de combate.

Objetivos do módulo

Este módulo tem por objetivos:

● conceituar incêndio florestal;


● citar e explicar os elementos que compõem o triângulo do fogo;
● diferenciar as fases da combustão do material florestal;
● citar e explicar as partes do incêndio florestal;
● citar e explicar os métodos de extinção;
● citar e explicar a classificação dos incêndios florestais;
● citar as principais causas dos incêndios florestais;
● compreender as consequências dos incêndios florestais.
● conceituar transferência de calor e suas variações nos incêndios florestais;
● conceituar velocidade de propagação;
● conceituar intensidade e citar sua importância nos incêndios florestais;
● citar e explicar os fatores que influenciam na propagação dos incêndios
florestais.

16
Estrutura do módulo

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - Conceitos Básicos.


Aula 2 - Comportamento do fogo.

17
Aula 1 – CONCEITOS BÁSICOS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS

O estudo do tema proposto é precedido pela compreensão de certos conceitos


básicos, dentre eles: combustão, fogo, floresta, incêndio e incêndio florestal. Você
pode observar a definição de cada um deles, como segue:
Combustão:
É uma reação química exotérmica entre um combustível e um comburente, em
que os gases resultantes da mistura desses, se inflamam, resultando na liberação de
energia, que se manifesta sob a forma de luz e calor.
Fogo:
É o resultado da rápida combinação entre combustível, comburente (oxigênio)
e uma fonte de calor.
Floresta:
Espaço natural com área superior a 0,5 hectare, com árvores cuja altura seja
maior que 05 metros e cobertura de copa superior a 10%, ou que tenha árvores
capazes de alcançar estes parâmetros in situ.
Incêndio:
É o fogo fora de controle.
Incêndio florestal:
O fogo sem controle em florestas e demais formas de vegetação.

1.1. Triângulo do fogo

O fogo somente ocorre quando, no ambiente, quando temos a presença de três


elementos, o calor, o comburente e o combustível, os quais são chamados triângulo
do fogo. Veja abaixo a definição de cada um deles:
Calor: é tecnicamente denominado energia de ativação.
Combustível: é todo e qualquer material suscetível à combustão.

18
Comburente: é a substância capaz de reagir com os produtos combustíveis
para transformar em energia.

Figura 2: Triângulo do fogo


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Além dos três elementos que formam o triângulo do fogo, é importante destacar
que, para que o fogo se sustente, a energia liberada deve ser suficiente para
desencadear a sequência de outras reações. Esta ação é chamada reação em
cadeia. Alguns estudos apontam que seria um quarto elemento, portanto, um
tetraedro do fogo. Para extinguir o fogo, é necessário realizar uma intervenção em
qualquer um dos elementos do triângulo do fogo, ou mesmo na quebra da reação em
cadeia.

1.2. Métodos de extinção

Os principais métodos de extinção de um incêndio florestal são: resfriamento,


abafamento, quebra da reação em cadeia e a retirada do material combustível. Segue,
abaixo, a definição de cada um deles:
Resfriamento: consiste em reduzir a temperatura do material em combustão,
inibindo a transferência do calor. Ex.: água aplicada sobre o fogo.

19
Abafamento: consiste em cessar/inibir a oferta do comburente. Ex.: utilização
de abafadores e/ou batedores.
Quebra da reação química em cadeia: interferência direta na combinação
dos gases quentes e inflamáveis com o comburente. Ex.: utilização de produtos
químicos aplicados no combustível.
Retirada do material combustível: objetiva retirar/afastar o material
combustível que se encontra próximo ao incêndio ou em direção a este. Ex.:
construção de aceiros/linhas de defesa.

1.3. Combustão do material florestal

Entender o fenômeno da combustão nos incêndios florestais é importante para


poder manejá-lo com maior eficiência. A combustão do material florestal compreende
três fases distintas:
Pré-aquecimento: o combustível sob a influência de uma fonte de calor,
parcialmente se destila, mas não há existência de chamas. O vapor d’água começa a
ser eliminado do combustível, que permanece a aquecer até a temperatura de ignição,
que fica entre 260°C e 400°C para a maioria do material florestal.
Destilação ou combustão dos gases: os gases são liberados, acendem e
queimam (pirólise), produzindo chamas e temperaturas que podem atingir 1250 °C.
Incandescência ou consumo do carvão: ocorre uma intensa produção de
fumaça, o calor gerado é intenso, mas já não existem chamas e o combustível é
consumido restando apenas cinzas.
Nos incêndios florestais é importante saber que as três fases ocorrem
simultaneamente.

Figura 3: Fases da combustão de material florestal


Fonte: CBMSC (2019

20
1.4. Partes de um incêndio florestal

Para melhor compreender o desenvolvimento dos incêndios florestais, as


partes são divididas na forma que segue:
Cabeça (frente ou linha de fogo): é a parte que avança mais rapidamente e
segue a direção do vento.
Cauda (base ou retaguarda): é a parte que se propaga em direção oposta de
forma mais lenta.
Flancos: é a parte que se propaga perpendicularmente à cabeça do incêndio,
ligando esse a cauda.
Dedos: caracterizados por trechos que se adiantam nos flancos.
Bolsas: se localizam entre os dedos.
Ilhas: são áreas que não foram atingidas pelo fogo dentro da área queimada.
Ponto de origem: é o local em que se iniciou o fogo.

A figura 4 representa cada uma dessas partes do incêndio para melhor


compreensão do desenvolvimento do fogo.

Figura 4: Partes de um incêndio florestal


Fonte: ENB (2006).

21
1.5. Classificação

Os incêndios florestais podem ser classificados sob vários aspectos. A tabela


abaixo apresenta a classificação quanto às proporções, quanto à origem da causa,
quanto à propagação e quanto aos locais:

Figura 5 - Classificação dos incêndios


Fonte: SCD/EaD/Segen.

A classificação acima divide os Incêndios em superficiais, de copa e


subterrâneos.

22
Incêndios superficiais:
Propagam-se na superfície do piso da floresta, queimando os restos vegetais
não decompostos, tais como folhas e galhos caídos, gramíneas, arbustos, enfim todo
o material combustível (figura 6). Características: propagação relativamente rápida,
abundância de chamas, muito calor e normalmente o combate é mais fácil, mas dão
origem aos outros tipos de incêndios.

Figura 6: Ocorrência de incêndio superficial


Fonte: CBMSC (2019).

Incêndios de copa:
Propagam-se nas copas das árvores, em que a velocidade e a intensidade do
fogo são maiores e mais rápidas, devido à grande circulação do vento (figura 6). São
assim classificados independentemente do fogo ser superficial. Características: toda
a folhagem do estrato arbóreo é consumida pelo fogo; libera excesso de calor; em sua
grande maioria são originados por incêndios de superfície (com exceção as descargas
elétricas); favorecido pela continuidade vertical do material combustível e em locais
de grande inclinação por meio das correntes de convecção.

Figura 7: Ocorrência de incêndio de copa


Fonte: CBMSC (2019).

23
Incêndios subterrâneos:
Propagam-se pelas camadas de húmus ou turfa existentes sobre o solo mineral
e abaixo do piso da floresta. Esses combustíveis são de textura fina, relativamente
compactados e isolados da atmosfera (figura 7). Características: devido ao seu
isolamento com a camada atmosférica (pouco oxigênio disponível) o fogo nesse tipo
de incêndio se propaga com maior lentidão; sem presença de chamas; geralmente
com pouca fumaça; difícil detecção; intensidade de calor elevada e causam a morte
das raízes.

Figura 8: Ocorrência de incêndio subterrâneo


Fonte: CBMSC (2019).

1.6. Causas
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, aponta que
na América do Sul cerca de 85% dos incêndios florestais são causados pela ação
humana. A lista destas ações inclui desde a limpeza para cultivo e agricultura,
desenvolvimento industrial, extração de produtos diversos da madeira, até negligência
e ações criminosas. Conhecer as causas é importante para atuar na prevenção, ou
seja, combater diretamente o porquê de os incêndios florestais estarem a ocorrer.
Sugere-se, para fins estatísticos e de parametrização, a adoção de uma lista de
causas para a ocorrência dos incêndios florestais, dentre elas:
● acampamento ou atividade recreativa;
● apicultura;
● atividade ferroviária;
● balão de festa junina;

24
● caça de animais;
● combustão espontânea;
● crianças;
● fogos de artifício;
● foguete sinalizador;
● fumantes;
● incendiário;
● linha de transmissão de energia elétrica de alta tensão;
● munição incendiária;
● queima de lixo;
● queima de resíduos agrícolas;
● queima em trabalhos rurais;
● raio;
● rituais religiosos;

1.7. Consequências

É preciso compreender os efeitos decorrentes dos incêndios florestais para que


se possa dimensionar a importância da prevenção — objetivando que os incêndios
não ocorram, bem como atuar na resposta a esse desastre, por um combate eficiente.
Os danos mais comuns são causados em: florestas, parques, unidades de
conservação, solo, patrimônio (casas, empresas, prédios públicos, etc.), ar
atmosférico, economia e, principalmente, as vidas humanas.
Se os danos são tão expressivos, por que motivos os incêndios ocorrem? A
resposta nem sempre é tão simples, mas como estudado anteriormente, cerca de 85%
dos incêndios, na América do Sul, têm origem na ação do ser humano, portanto,
algumas práticas de origem antiga podem responder os motivos do homem atear fogo
no meio rural, dentre elas: limpeza de terreno, destruição de animais nocivos, melhorar
a composição química do solo, reduzir o combustível da floresta, melhorar a condição
de penetração (sementes e pessoas), entre outras. Infelizmente os incêndios
criminosos também ocorrem. Os danos indiretos, como o assoreamento dos rios,
redução do fluxo de água, inundações, erosões, perdas em turismo e recreação,

25
desemprego, extinção de espécies e outros, podem resultar em prejuízos financeiros
e ambientais relevantes, dependendo da severidade do incêndio florestal.

26
Aula 2 - COMPORTAMENTO DO FOGO

O comportamento do fogo durante os incêndios florestais será definido por um


conjunto de variáveis, de forma que é correto afirmar que os incêndios se
comportarão, quase que na sua totalidade, de maneira distinta entre si. O estudo do
comportamento do fogo, permitirá prever o provável caminho que o incêndio tomará,
a partir de uma análise das variáveis que influenciarão nesta trajetória.

2.1. Transferência de calor

Dado que se inicia o fogo, o calor deve ser transferido da zona de combustão
para os combustíveis próximos para que o incêndio tenha continuidade. O calor pode
ser propagado nos ambientes a partir de três diferentes meios:
Condução:
É a transferência do calor em corpos sólidos, de molécula a molécula, sem que
haja a transferência de matéria durante o processo (Figura 9). Pode ser facilmente
entendido observando a ponta de barra de ferro ficar quente quando a outra
extremidade é exposta a uma fonte de calor.

Figura 9: Exemplo de transferência de calor por condução


Fonte: CBMSC (2019).

Radiação:
É a transferência de calor por ondas eletromagnéticas sem que haja a
necessidade da presença de matéria (sólida, líquida ou gasosa).

27
Figura 10: Exemplo de transferência de calor por radiação
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Convecção:
É a transferência de calor por meio do movimento circular ascendente de
massas de ar aquecida (figura 11).

Figura 11: Exemplo de transferência de calor por convecção


Fonte: CBMSC (2019).

Você sabia que os três métodos de propagação de calor geralmente atuam


simultaneamente nos incêndios florestais (figura 12)?

Figura 12: Exemplo de propagação combinada


Fonte: CBMSC (2019).

28
Apesar de não ser considerada uma forma de transferência de calor, as
projeções de partículas incandescentes possuem grande incidência nos incêndios
florestais. Incêndios de grande intensidade produzem um alto número de fagulhas que
podem se deslocar por longas distâncias, produzindo novos focos de incêndio (Figura
13).

Figura 13: Projeção de partículas


Fonte: CBMSC (2019).

2.2. Evolução de um incêndio florestal

Você sabia que um incêndio superficial sempre tem início por um pequeno
foco? Sim, essa afirmativa é verdadeira. Inicialmente, o incêndio tende a se propagar
para todos os lados de formando uma cerca com característica circular (Figura 14). O
vento é considerado o principal elemento que dá forma e direção de propagação da
maioria dos incêndios, outros elementos também influenciam, dentre eles os
combustíveis e a topografia.

Figura 14: Forma inicial de propagação


Fonte: CBMSC (2019).

29
2.3. Variação da propagação
Os incêndios possuem variações diferentes no decorrer do dia, pois a
intensidade do fogo e a velocidade de propagação reage às variações meteorológicas
diurnas ou noturnas, conforme figura 15. Por meio da variação da propagação, pode-
se observar que existem horas do dia mais propícias para o combate. Os incêndios
são mais facilmente combatidos nas madrugadas.

Figura 15: Variação do incêndio ao longo do dia


Fonte: CBMSC (2019).

2.4. Velocidade de propagação


A propagação é o termo usado para descrever a taxa segundo a qual o fogo
aumenta, tanto em área quanto linearmente. Em estudos de comportamento do fogo,
um dos mais importantes parâmetros é a velocidade de propagação. Em termos
práticos, a velocidade de propagação do fogo pode também ser medida diretamente
em qualquer incêndio. Basta ter um cronômetro e marcar no terreno distâncias
preestabelecidas, cronometrando-se o tempo que o fogo leva para percorrer essas
distâncias, estima-se facilmente a velocidade de propagação em qualquer unidade
desejada. Apesar de ser um dos parâmetros mais fácil de medir em um incêndio, a
velocidade de propagação é muito importante na previsão do comportamento do fogo.

2.5. Intensidade do fogo


Um dos parâmetros mais importantes do comportamento do fogo é a
intensidade: quanto maior, mais difícil se torna a aproximação do combatente às
chamas. Apenas incêndios de baixa intensidade permitem o combate direto. A

30
intensidade pode também ser associada ao comprimento médio das chamas. Dada a
dificuldade na obtenção desta, sugere-se identificá-la por meio da carbonização na
casca das árvores.

2.6. Fatores que influenciam na propagação


Os fatores que influenciam na propagação dos incêndios florestais são:
combustíveis, condições meteorológicas e topografia.

2.6.1. Combustíveis
O combustível é o principal elemento dos incêndios florestais, porque sobre ele
é que se tem maior facilidade de se auferir modificações.

2.6.2. Classificação dos combustíveis

Perigoso:
É aquele de combustão rápida, constitui-se principalmente de materiais leves e
finos como folhas, pequenos galhos, acículas mortas, capim seco e pequenos
arbustos. Por serem finos, perdem umidade mais facilmente e absorvem calor com
mais facilidade, o que implica em ignição rápida e a combustão também ocorre de
forma rápida acelerando a propagação.
Semi perigoso:
Constitui-se de materiais mais espessos que os perigosos. São materiais
lenhosos, húmus e turfa. Possuem a característica de queima lenta. Apresentam risco
de reignição do incêndio, dado que desenvolvem intenso calor.
Verde:
É todo o material vivo, que apresenta um alto teor de água. Nota-se que, uma
vez submetido a intensas fontes de calor, se tornam inflamáveis e de difícil extinção.
Por vezes são responsáveis pela reignição dos focos de incêndio, quando o rescaldo
não é realizado na forma adequada.

31
2.6.3. Umidade do combustível
A umidade no combustível é determinada em razão do porcentual de água em
relação ao peso seco. A presença ou não de água e a quantidade disponível no
material combustível é o fator decisivo do processo de combustão. Caso o material
combustível esteja úmido a combustão só irá ocorrer após a evaporação da água.
Para isso é preciso que haja uma fonte de calor suficiente e de forma contínua agindo
sobre o material combustível, com isso parte de energia que seria utilizada para
desencadear o processo de combustão e interagir no processo de pré-aquecimento
acaba sendo consumida para o processo de evaporação de umidade.

2.6.4. Continuidade horizontal e vertical


Define-se continuidade pela disposição de material combustível na linha do
solo, ou seja, horizontalmente ou em direção a copa das árvores, neste caso, vertical.
Não há necessidade do contato direto entre os combustíveis, bastando estar próximo,
na área de combustão do material contíguo (figura 16).

Figura 16: Continuidade horizontal e vertical


Fonte: CBMSC (2019).

A combinação da disposição contínua horizontal com a disposição contínua


vertical, tem relevante influência na propagação dos incêndios. Ocorrendo
descontinuidade vertical os incêndios de copa serão dispersos. Ocorrendo
descontinuidade horizontal os incêndios não deverão se propagar.

32
2.7. Condições meteorológicas
São importantes na propagação dos incêndios, sendo elas:
Temperatura do ar: influencia diretamente na combustão e propagação dos
incêndios, porque a temperatura de ignição depende da própria temperatura inicial do
combustível e da temperatura do ar em volta dele. A temperatura age também sobre
os outros fatores que atuam na propagação do fogo, como os ventos e a estabilidade
atmosférica.
Umidade relativa do ar:
Teor da umidade do material combustível em floresta é controlado, em grande
parte, pela umidade atmosférica. A umidade relativa do ar é também um elemento
importante na avaliação do grau de dificuldade de combate aos incêndios, quando a
umidade relativa do ar desce ao nível de 30% ou menos se torna extremamente difícil
combater um incêndio.
Vento:
Influência na propagação dos incêndios de várias maneiras, ele desloca o ar
úmido do interior da floresta, aumentando a evaporação e favorecendo a secagem do
material combustível. Ventos suaves certamente ajudam na ignição do material
combustível. Constitui-se num dos principais fatores de direcionamento do incêndio,
dado que inclina as chamas influenciando na fase de pré-aquecimento, além de
projetar fagulhas a longas distâncias.
Precipitação:
As condições de inflamabilidade podem ser revertidas pelas chuvas e o
contrário, pois em longos períodos de estiagem aumentam o potencial de propagação,
dado que ocorre a secagem progressiva do material morto o que afeta o teor de
umidade da vegetação verde, com isso aumenta a probabilidade de ignição e a
facilidade de propagação do incêndio.

2.8. Topografia
Exerce grande influência sobre o clima e vegetação. A influência da topografia
nos incêndios pode ser mais bem compreendida por meio da análise de três fatores
básicos: elevação, exposição e inclinação.

Elevação:

33
Altas elevações na superfície da terra apresentam ar mais rarefeito e
temperaturas mais baixas. Baixas elevações possuem a tendência de apresentar
estações de risco de incêndio mais longas do que altas elevações.

Exposição:
É a direção do lado da montanha em relação aos pontos cardeais, ao sul do
Equador, os raios solares incidem mais diretamente sobre as faces voltadas para o
norte e consequentemente transmitem mais calor para essa exposição que para
qualquer outra. A face oeste é a segunda a receber a maior quantidade de energia
seguida depois da face leste.
Inclinação:
O fogo se propaga mais rapidamente nos aclives e lentamente nos declives,
uma vez que a vegetação que será queimada está mais perto das chamas, sendo
afetada pelo contato direto com o fogo e também pelo pré-aquecimento, que ocorre a
partir das nuvens de convecção.

34
Finalizando

Neste módulo, você aprendeu que:

• Como conceituar corretamente incêndio florestal.


• Os elementos que formam o triângulo do fogo.
• As fases da combustão no material florestal, a classificação dos
incêndios, a nominar as partes de um incêndio florestal, a apontar as
causas e conhecer as consequências dos incêndios.
• Os fatores que influenciam na propagação do incêndio.

35
MÓDULO 3 — COMBATE

Apresentação do módulo

Agora você aprenderá como formar um grupo de combate aos incêndios


florestais e as características que seus integrantes devem possuir. Conhecerá os
equipamentos, veículos e aeronaves que são utilizados no combate a incêndio
florestal. Terá acesso aos métodos de combate por via terrestre e aérea, aos
procedimentos necessários para atuar com eficiência no combate aos incêndios
florestais. Toda operação de prevenção e combate a incêndio florestal apresenta risco
elevado, seja para as vítimas, para os combatentes e mesmo para a fauna, de forma
que, ter pleno conhecimento dos aspectos de segurança em momentos diferentes da
operação tende a diminuir os acidentes, que, por vezes, são fatais para os envolvidos.
Neste sentido, você verá ações importantes de segurança que deverão ser adotadas
por todos os combatentes em uma operação de combate a incêndio florestal. Por fim,
estudará as fases de uma operação de combate a incêndio florestal.

Objetivos do módulo

Este módulo tem por objetivos:


● Conhecer a composição de uma Guarnição de Combate a Incêndio
Florestal - GCIF;
● conceituar e diferenciar ferramentas, equipamentos e acessórios;
● Conhecer os itens que compõem o Equipamento de Proteção Individual -
EPI e o kit sobrevivência no combate a incêndio florestal;
● Definir o que são os meios aéreos;
● Conhecer os aspectos gerais de segurança;
● Conhecer as 10 normas de segurança numa operação de combate aos
incêndios florestais;
● Conhecer as 18 situações de perigo numa operação de combate aos
incêndios florestais;

36
● Identificar os fatores de risco em operações helitransportadas;
● Conhecer as fases de uma operação de combate aos incêndios florestais.

Estrutura do módulo

Este módulo compreende as seguintes aulas:


Aula 1 - Grupo de combate a incêndios florestais.
Aula 2 - Materiais, viaturas e aeronaves.
Aula 3 - Métodos de combate terrestres e aéreo.
Aula 4 - Segurança em operações de combate aos incêndios florestais.
Aula 5 - Fases de uma operação de combate aos incêndios florestais.

37
Aula 1 - GRUPO DE COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS

No decorrer dos trabalhos de combate a um incêndio florestal, é


essencial manter um bom nível de organização entre as entidades
envolvidas direta e indiretamente nos incêndios florestais. A disciplina é
também base fundamental para atingir os objetivos previstos.

1.1. Guarnição de Combate a Incêndio Florestal

Podemos afirmar que não existe número ideal de combatentes para compor
uma Guarnição de Combate a Incêndio Florestal (GCIF). O padrão mínimo sugerido
é de 6 a 10 combatentes, divididos nas seguintes funções:
● 01 comandante;
● 04 a 08 combatentes.

NA PRÁTICA!
É admitido o trabalho com a equipe de primeira resposta para pequenos
incêndios ou quando o incêndio ainda está no início, porém são admitidas e
esperadas alterações quando há evolução nos incêndios florestais, sobretudo
quando tomam proporções maiores do que a capacidade de resposta inicial, caso
isso ocorra, o grupo deverá organizar a cena, prestar o primeiro atendimento e
solicitar reforço.

Grandes incêndios exigem a atuação de equipes multitarefas e diversas


instituições são, usualmente, inseridas no cenário, desde aquelas com foco no
combate propriamente dito, como as envolvidas no salvamento de animais silvestres,
na evacuação de moradores e turistas, equipes de trânsito, segurança, abastecimento
de água, energia e muitas outras. Sugere-se, neste cenário, a adoção de um sistema
de gerenciamento de ocorrência, como o “Sistema de Comando de Incidentes” (SCI)
ou “Sistema de Comando de Operações” (SCO) . Para incêndios florestais que
consomem uma grande área ou mesmo várias áreas em territórios próximos,
recomenda-se a existência de um protocolo de ajuda mútua entre diferentes

38
instituições, de forma que a capacidade de resposta seja adequada ao(s) incêndio(s)
existente(s), contudo, essas equipes devem possuir estrutura de enfrentamento aos
incêndios, dentre elas: contingente capacitado e treinado, equipamentos, veículos e
aeronaves, específicos para missão, equipamentos de proteção individual, de
sobrevivência e comunicação.

1.1.1. Atribuições do comandante de uma GCIF


● conduzir a atuação da GCIF durante toda operação;
● zelar pela segurança de todo o grupo, executando ou delegando a função;
● realizar o reconhecimento antes de iniciar o combate;
● decidir sobre o método de combate e adotar medidas para implementá-lo;
● ser o elo com o comando da operação ou central de emergência;
● ser o elo com outras GCIFs dispostos no terreno; e
● definir o melhor local para estacionamento das viaturas de combate.

1.1.2. Atribuições dos combatentes de uma GCIF


● manter nível de treinamento adequado;
● conhecer e executar as técnicas de prevenção e combate a incêndios
florestais;
● conhecer e cumprir as regras de segurança; e
● executar adequadamente as tarefas emanadas pelo comandante da GCIF.

1.1.3. Características físicas


● idade compatível com a atividade;
● gozar de boa saúde;
● boa capacidade aeróbica (resistência à fadiga);
● força muscular; e
● resistência muscular.

39
Aula 2 - MATERIAIS, VIATURAS E AERONAVES

No combate aos incêndios florestais é necessário a utilização de materiais


específicos, de modo que possam abranger as particularidades do incêndio e do
terreno. Os materiais utilizados em uma operação são divididos em:
Ferramenta:
Objeto manual que serve para realizar uma tarefa, com a energia que provém
diretamente do operador. Exemplos: Batedor, Abafador, Mcload.
Equipamento:
Máquina ou aparelho de certa complexidade que serve para realizar uma tarefa
e cujo princípio de ação consiste na transformação da energia para aumentar a
capacidade de trabalho. Exemplos: motosserra, kit picape, roçadeira.
Acessórios:
Objetos que individualmente e em conjunto com outros, podem formar um
equipamento ou ferramenta, permitindo ampliar ou melhorar as capacidades
operacionais, ou realizar uma tarefa. Exemplos: rádio comunicador, combustíveis,
lima para afiar motosserra.
A eficiência do combate estará relacionada ao tipo, quantidade e qualidade das
ferramentas, equipamentos e acessórios utilizados na operação. Além disso, o
condicionamento físico, a habilidade e o uso adequado desses materiais também
influenciam no resultado do combate. A importância desse conhecimento e dessas
habilidades fica evidente, por exemplo, ao se utilizar um rastelo em um terreno
pedregoso, levar menos ferramentas do que homens, utilizar foices e enxadas sem
fio, ou fazer parte de um grupo que não possui condições físicas para chegar ao local
de incêndio a tempo. Abaixo estão dispostos os materiais considerados essenciais.

2.1. Equipamento de Proteção Individual (EPI)

Uma operação de combate a incêndio florestal apresenta riscos para a saúde


dos profissionais da área, por isso o uso dos equipamentos de proteção individual
sempre se faz necessário. Além dos gases resultantes da queima do material florestal
(em sua maioria CO²), os incêndios florestais expõem o combatente a altas
temperaturas, além das dificuldades que o terreno possa apresentar. Os EPI’s

40
utilizados em CIF, são semelhantes aos utilizados em qualquer outro tipo de combate
a incêndio, porém, com algumas diferenças de modo que abranjam as especificidades
de um incêndio florestal, que necessitam de uma roupa mais leve que o incêndio
estrutural, permitindo um deslocamento mais rápido e um desgaste muito menor.
Vestimenta de Proteção:
Equipamento destinado a proteção do corpo contra impactos perfurocortantes,
descargas elétricas, calor e contato direto com o fogo. Proporciona maior sensação
de segurança durante o combate, favorecendo maior aproximação das chamas para
o combate direto, composta de calça comprida e camisa de manga comprida ou
jaqueta de proteção ou macacão com manga comprida. Determinadas cores podem
favorecer a visualização aérea ou terrestre dos combatentes, para isso é
recomendado cores como amarelas, verde limão, laranja, ou vermelho e faixas
refletivas (conforme a ABNT NBR 15292). Deve ser adequado e ajustado ao tamanho
do combatente, possibilitando a execução de todos os movimentos, deve ser usado
sempre com a manga estendida e em conjunto com os demais EPI’s.

Figura 17: Vestimenta de proteção


Fonte: CBMDF 2021

Perneiras:
Equipamento destinado a garantir a proteção dos membros inferiores contra-
ataques de animais peçonhentos. As talas ou outro material resistente em sua parte
frontal, garante proteção contra agentes abrasivos, escoriantes, e impactos
perfurocortantes. Deve ser ajustável e vestida para não se desprender. Deve ser
utilizada sobre o cano do calçado de segurança (o calçado não substitui o uso da
perneira).

41
Figura 18: Perneiras
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Óculos de proteção:
Equipamento destinado a proteção da visão contra impactos, luminosidade
intensa, radiação solar, poeira, galhos, vidros, calor, fagulhas e brasas. Os óculos de
proteção de ampla visão possibilitam uma visão panorâmica e oferece vedação e
proteção multidirecional contra agentes externos. usuários que usam óculos de grau
devem utilizar óculos de proteção adaptados. O EPI deve permitir ajuste para atender
o usuário.

Figura 19: Óculos de proteção


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Botas de combate:
Equipamento destinado a garantir a proteção dos pés contra impactos, perfuro
cortantes, descargas elétricas, calor e contato direto com o fogo. O seu solado deve

42
ser adequado para a superfície do terreno, evitando quedas ao caminhar e
queimaduras. Proporciona ergonomia, evita torções e o seu cano oferece certo nível
de proteção contra animais peçonhentos. Deve ser leve e sempre ajustado ao usuário.
Deve proporcionar o fechamento na perna a fim de evitar a entrada de material
incandescente na parte interna do calçado.
O calçado deve ser fechado de cano alto, confeccionado em material resistente
ao calor e com sola antiderrapante.

Figura 20: Botas de combate


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Máscara de proteção respiratória:


Adaptador facial formado com material flexível, inodoro, antialérgico e de fácil
adaptação, 100% em algodão, com fator de proteção para pós irritantes e fumaça,
com estrutura ajustável sobre o nariz e cordel regulável, permitindo assim uma melhor
fixação na face do operador. Lavável e com durabilidade média de 06 meses.

Figura 21: Máscara de proteção respiratória


Fonte: SCD/EaD/Segen.

43
Capacete:
Equipamento destinado a garantir a proteção da cabeça contra impactos
mecânicos e radiação solar. Recomenda-se a utilização de determinadas cores que
podem favorecer a visualização aérea ou terrestre dos combatentes, sugere-se cores
como amarelo, verde limão, laranja, ou vermelho e faixas refletivas. Faz-se necessário
a adição de acessórios, como óculos e protetor de nuca. O capacete deve ser leve e
sempre ajustado ao usuário. Com fixação de três pontos.

Figura 22: Capacete


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Luvas de proteção:
Equipamento destinado a proteger as mãos do combatente, principalmente
contra acidentes relacionadas ao calor e abrasão. Preferencialmente feita de materiais
ignífugos, podendo ser utilizada as de couro ou vaqueta, ou outros materiais
comprovadamente apropriados. A manga deve ser comprida além do punho,
protegendo-o, sendo o fechamento em tirante de velcro e se possível com reforço da
palma da mão.

Figura 23: Luvas de proteção


Fonte: SCD/EaD/Segen.

44
2.2. Kit de sobrevivência

Como vimos anteriormente, além dos EPIs, outros equipamentos são


importantes para a sobrevivência do bombeiro durante o combate ao incêndio
florestal, são eles:
Apito: equipamento sonoro, cujo objetivo é orientar e transmitir ordens às
equipes de combate. O som do apito pode ser audível mesmo com o som do incêndio.
Deve estar preso por um cordão junto a roupa de proteção. Extremamente útil quando
surgir situação de risco e as equipes necessitarem evacuar o local.
Cantil: Equipamento destinado a armazenar água para o combatente florestal
se hidratar, podendo ser um recipiente de alumínio, plástico ou outro material
resistente, se possível com fechamento hermético, que pode acomodar um volume de
água que permita seu transporte em campo na cintura ou nas costas do combatente.
Lanterna: fundamental nas operações noturnas, proverão suporte no combate
às chamas, bem como quando houver necessidade de pernoitar em meio a vegetação.
Pode ser utilizada a lanterna de capacete ou manual.

2.3. Ferramentas

Além do EPI, o bombeiro precisa estar com equipamentos e ferramentas


adequadas à atividade a ser realizada. Uma guarnição com EPI completo, mas sem
as ferramentas adequadas, de nada adiantará num cenário de incêndio florestal, por
isso, segue abaixo uma lista das ferramentas mais utilizadas no CIF:
Abafador: ferramenta usada para o combate direto ao fogo, apagando-o por
abafamento. É construído de lâmina (flap) de borracha com furos.

Figura 24: Abafador


Fonte: SCD/EaD/Segen.

45
Ancinho: utilizado para remover vegetação leve já cortada. Em alguns estados
é conhecido por Rastelo e/ou ciscador.

Figura 25: Ancinho


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Batedor: ferramenta usada para o combate direto ao fogo, apagando-o por


abafamento.

Figura 26: Batedor


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Bomba e mochila costal: depósito rígido ou flexível, com capacidade de


armazenar cerca de 20 L. Utilizado para lançar água ou solução de agente extintor
diretamente ao fogo (ataque direto) e/ou na vegetação não atingida pelo fogo (ataque
indireto).

Figura 27: Bomba e mochila costal


Fonte: SCD/EaD/Segen.

46
Enxada: utilizada para construir aceiros, raspar solo, cavar e cortar vegetação
leve.

Figura 28: Enxada


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Gorgui: Ferramenta combinada que associa as funções de enxada, restelo,


pulaski e enxada-ancinho.

Figura 29: Gorgui


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Mcleod: ferramenta versátil combinando, em uma só peça, enxada e rastelo


de alta resistência, utilizada para limpar linhas de defesa, abrindo pequenas faixas ou
aceiros, para cavar pequenas valas, dentre outros.

47
Figura 30: Mcleod
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Pulaski: ferramenta versátil, que combina machado e picareta em uma só


peça. Sua finalidade é cortar e picar materiais em brasa, além de cavar pequenas
linhas, impedindo o avanço do fogo.

Figura 31: Pulaski


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Pás de corte: material utilizado para a limpeza dos aceiros e para jogar terra
ou areia nos pequenos focos de incêndio. Deve ser composta de material resistente
ao calor e à quebra.

48
Figura 32: Pás de corte
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Queimador (Pinga-fogo): Utilizado nas práticas de contrafogo e queimas


prescritas. Pode possuir 2 dois sistemas de regulagem (combustível e comburente),
sendo possível dosar a quantidade de combustível a ser lançado na vegetação, bem
como a abertura para entrada de comburente. Opera com uma relação de 4:1 (80 %
de óleo Diesel e 20 % de gasolina). Em caso de uso com querosene a relação será
de 3,5:1,5 (70 % de óleo Diesel e 30 % de querosene).

Figura 33: Queimador


Fonte: SCD/EaD/Segen.

49
2.4. Equipamentos

Felizmente a tecnologia evoluiu a tal ponto, que facilitou também o combate


aos incêndios florestais, de modo que além das ferramentas citadas acima, o
combatente deverá ter a disposição os seguintes equipamentos:
Motosserra: equipamento utilizado para cortar árvores e troncos. Pode ser
elétrica ou a combustão.

Figura 34: Motosserra


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Roçadeira: equipamento utilizado para corte de gramínea e materiais finos.


Pode ser elétrica ou a combustão.

Figura 35: Roçadeira


Fonte: SCD/EaD/Segen.

50
Soprador: equipamento utilizado na limpeza de aceiro após uso da roçadeira.
Pode ser utilizado no combate a incêndio direto ou paralelo, caso a vegetação seja
rasteira e o incêndio de baixa intensidade. Pode ser elétrico ou a combustão.

Figura 36: Soprador


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Kit moto-bomba-espumógeno portátil (Kit pick-up): conjunto de combate


para caminhonetes de 400 e 700 litros, composto por um tanque flexível de PVC, um
conjunto motobomba, mangueiras de sucção e de descarga, e lança para descarga
de água com jato sólido ou neblina.

Figura 37: Kit moto-bomba-espumógeno portátil


Fonte: SCD/EaD/Segen.

51
Moto-bomba flutuante: moto-bomba flutuante, com descarga de 1 1⁄2” e com
vazão mínima de 220 litros/minuto, operando a 50 PSI.

Figura 38: Moto-bomba flutuante


Fonte: SCD/EaD/Segen

Moto-bomba portátil: moto-bomba portátil, centrífuga.

Figura 39: Moto-bomba portátil


Fonte: SCD/EaD/Segen

52
2.5. Acessórios

Os acessórios, diferentemente dos equipamentos e ferramentas, não são itens


que irão impedir o combate devido sua falta, mas que podem fazer a diferença no
combate, e até mesmo em uma situação de perigo ao combatente. São acessórios
utilizados no CIF:
Retardantes químicos: têm por finalidade retardar a ação do fogo. São
produtos químicos adicionados à água, podendo ser em forma de espuma ou na forma
aquosa, quando utilizado no combate direto deve ser aplicado na base do fogo, e
quando utilizado no combate indireto deve ser aplicado em toda a vegetação formando
uma linha de proteção.
Sinalizadores visuais: lançador e sinalizadores visuais e sonoros.
Binóculos: equipamento utilizado para que as equipes possam visualizar a
distância, o ambiente, as equipes que se encontram trabalhando e, principalmente, a
propagação do incêndio.

2.6. Veículos
Os veículos utilizados em CIF variam de acordo com sua função no combate,
transporte de água, de tropa ou equipamentos. Normalmente são empregadas
camionetes com tração nas 4 rodas e que permitem o transporte de 5 combatentes e
seus materiais.

2.7. Meios Aéreos


Aviões: utilizados para o transporte de tropa, coordenação aérea ou equipados
com tanques para transporte e lançamento de água.
Helicópteros: utilizados para o transporte de tropa e lançamento de água com
o helibalde (Bambi Bucket).
Drones ou RPA: utilizados na identificação do incêndio, reconhecimento da
área por queimar, apoio na definição da área queimada e da realização da perícia.

53
Aula 3 - MÉTODOS DE COMBATE TERRESTRES E AÉREO

Conforme você estudou no módulo anterior, para a extinção de um incêndio


florestal é necessário atuar, ao menos, sobre um dos elementos que compõem o
triângulo do fogo (combustível, calor e comburente), para tanto, existem três métodos:
direto, paralelo ou misto e indireto.

3.1. Método de combate direto


O método direto consiste em atacar o fogo diretamente com abafadores, água,
terra ou ainda outro agente extintor. Somente incêndios de baixa intensidade pode ser
combatidos por meio deste método (figura 40).

Figura 40: Método de combate direto


Fonte: CBMSC (2019).

Recomenda-se utilizar uma ou duas bombas costais em conjunto com três, ou


quatro abafadores. Na frente, reduzindo a intensidade das chamas, são utilizadas as
bombas/mochilas costais por meio da aplicação de água, seguidas pelos abafadores
que, em movimento sincronizados, apagam as chamas e, adicionalmente, podemos
utilizar ferramentas raspantes, jogando as brasas para o interior da área queimada. A
vantagem desse método consiste em cessar de imediato a propagação do incêndio,

54
evitando o controle por linha de defesa/aceiro de combate ou mesmo o uso do
contrafogo, minimizando os danos. A desvantagem está na impossibilidade de aplicar
o método quando a intensidade do incêndio é muito alta ou quando a fumaça torna o
trabalho muito difícil.

3.1.2. Uso de água no combate direto


A utilização de água no combate direto apresenta bons resultados se for
utilizada adequadamente. Ela deve ser pulverizada, objetivando garantir a extinção
das chamas. A aplicação da água sob a forma de jato só deve ser usada se for
estritamente necessário para vencer distâncias. Os caminhões de combate a incêndio,
reservatórios portáteis com o uso de motobombas e mochilas/bombas costais são
auxiliares preciosos no combate aos incêndios florestais.

3.1.2.1. Ângulo de ataque


O ângulo de ataque tem muita influência. São exemplos do correto uso:
a) Ao combater um incêndio em vegetação com até 01 (um) metro de altura,
o esguicho deve trabalhar quase na horizontal, com uma pulverização intermediária
(cone de água um pouco alargado), para cobrir mais combustível.
b) Se for vegetação de pequeno porte, o esguicho deve ser levemente
inclinado para baixo, visando a extinção das chamas, bem como umedecer o
combustível que ainda não foi queimado (figura 41).

Figura 41: Combate em vegetação de pequeno porte (ex.: herbáceas)


Fonte: CBMSC (2019).

55
c) Quando a queima for em serrapilheiras, a água deve ser aplicada de modo
a penetrar na vegetação (figura 42).

Figura 42: Combate em vegetação rasteira (ex.: serapilheiras)


Fonte: CBMSC (2019).

d) Se a queima for numa árvore ou tronco, a água deve ser aplicada


inicialmente na base e, depois, deve subir ao longo do tronco.

3.1.2.2. Há algumas regras que, geralmente, se aplicam, como as seguintes:


a. Se não for possível a aproximação, porque o incêndio é intenso, deve-se
utilizar o jato, direcionando-o para a base das chamas. Ao manter o jato baixo e
oscilando lateralmente será possível umedecer o combustível por queimar.
b. Os deslocamentos entre um foco e outro devem ser efetuados com o
esguicho fechado.
c. A frente de chamas deve ser bem molhada, mas não em demasia. As
chamas devem ser extintas garantidamente antes de se progredir, pois, uma extinção
incompleta é prejudicial.
d. Se a água acabar antes da extinção do incêndio, o que deve ser evitado a
todo o custo, deve-se continuar o combate recorrendo às ferramentas.

56
e. Quando em operação junto da frente do fogo ou tendo necessidade de
passar mangueiras sobre a área já́ queimada, deve ter-se sempre pessoal distribuído
ao longo da linha de mangueiras. É importante não abandonar essa linha para evitar
que as mangueiras permaneçam sobre pontos quentes, queimando-as e danificando-
as (figura 43).

Figura 43: Evitar o contato da mangueira com o combustível quente


Fonte: CBMSC (2019).

3.1.3. Utilização de ferramentas


A aplicação de terra ou areia, cobrindo a frente do fogo em pequenos focos de
incêndio ou em incêndios de pequenas proporções por meio da utilização da pá e do
enxadão (Pulaski) é muito eficiente. Ressalta-se que a terra pode ser muito eficaz no
combate, pois permite trabalhar a uma distância a que se suporta o calor e não é
necessário transportar outro equipamento além das ferramentas manuais.
O batimento das chamas em incêndios de pequenas proporções, por meio dos
abafadores ou batedores, é muito eficiente na extinção destes. O movimento deve ser
efetuado de modo a bater as chamas na direção da área que está queimando e não
da que ainda não queimou (figura 44).

57
Figura 44: Combate direto com abafadores
Fonte: CBMSC (2019).

3.1.4. Utilização de soprador/pulverizador


Importante destacar que os sopradores e pulverizadores comercializados não
foram desenvolvidos para o uso no combate a incêndio florestal, contudo, sua
aplicação em incêndios de pequena intensidade tem-se demonstrado eficientes,
sobretudo em terreno sem inclinação e vegetação rasteira ou arbustiva (figura 45).
Como desvantagem destaca-se o peso do equipamento e a necessidade de
combustível para o funcionamento, além da pequena capacidade de armazenamento
de água no caso do pulverizador. Como vantagem está́ a rapidez na extinção das
chamas, considerando características de terreno, vegetação e variáveis climáticas
adequados.

58
Figura 45: Combate direto com soprador
Fonte: CBMSC (2019).

3.2. Método de combate indireto, paralelo ou misto


Consiste em se fazer, rapidamente, uma pequena linha de defesa/aceiro de
combate de 0,5 a 1,0 metro de largura, paralelo à linha de fogo. Chegando ao aceiro
o fogo diminui de intensidade e pode ser atacado diretamente. É utilizado quando o
calor produzido permite certa aproximação, mas não o suficiente para o ataque direto.
Este método por ser especialmente utilizado nos flancos, de maneira a ir reduzindo o
comprimento da cabeça em forma de cunha. A construção da linha pode ser
acompanhada com a aplicação de fogo para eliminar o material que fica intercalado
com a frente do incêndio, aumentando a faixa desprovida de combustível.
Para a correta localização da linha, é primordial que a velocidade do incêndio
seja relacionada com a capacidade de trabalho em executar a abertura da linha em
toda a extensão planejada. A melhor forma de atingir isso é por treinamentos e de
simulações de combate de forma que esses dois fatores sejam calibrados

59
conjuntamente. Não esquecer de trabalhar sempre com alguma margem de
segurança temporal.

3.3. Método de combate indireto


Utiliza-se quando a intensidade do fogo é muito grande e torna a aproximação
impossível. Consiste em abrir uma linha de defesa ou aceiro de combate largo na
frente do fogo e, dependendo das condições existentes, usar o método contrafogo
(figura 46).

Figura 46: Combate indireto a partir de uma linha de defesa


Fonte: CBMSC (2019).

O ataque indireto, ao contrário do paralelo, não é rígido na localização, no


tamanho da linha e permite uma escolha mais ampla dos lugares em que se pode
instalar ou utilizar, evitando os inconvenientes que, normalmente, apresentam-se nas
seguintes situações:
a) quando o incêndio libera uma alta quantidade de calor e apresenta uma
coluna de convecção de grande dinamismo;
b) quando a propagação do fogo é violenta ou muito rápida, não permitindo
contar com tempo suficiente para construir linhas e aplicar alguns dos outros métodos
estabelecidos anteriormente;

60
c) quando se requer construir uma linha excessivamente larga pela
intensidade e força da emissão de fagulhas desde a frente de avanço.

3.3.1. Contrafogo
O método do contrafogo é uma ação agressiva que se traduz no ato de provocar
fogo, aplicando-o a partir de uma linha de defesa (natural ou construída) antes da
frente do fogo, para que ele se propague contra o vento. O fogo que lentamente se
propagará na direção contrária ao incêndio irá consumir o material combustível
existente, abrindo um espaço entre a linha de defesa impedindo a propagação do
incêndio florestal (figura 47).

Figura 47: Contrafogo a partir de uma linha de defesa


Fonte: CBMSC (2019).

A técnica é arriscada e recomendável somente para emergências ou situações


muito críticas, sempre que se disponha de pessoal devidamente capacitado e dos
equipamentos necessários para apoiar a operação. Uma das desvantagens que
apresenta o contrafogo é que sua aplicação pode significar o sacrifício de uma
superfície importante da vegetação. Isto deve ser considerado um mal necessário
sempre que exista margem apropriada de que sua aplicação seja efetivamente
necessária. O contrafogo em faixas amplas de terreno pode colocar em risco de vida
pessoas e animais que estejam na área. Portanto, a recomendação geral para
combates em unidades de conservação é que ele seja usado somente quando a
equipe estiver em risco, por exemplo, cercada pelo fogo sem rota de fuga, caso
contrário utilizem apenas com ordem expressa do comandante da operação.

61
3.3.2. Linha de defesa/aceiro de combate
A linha de defesa ou aceiro de combate pode ser definida como uma faixa limpa
de material combustível, construída a uma distância calculada da frente do incêndio.
Para isso se corta e extrai o combustível até o solo, em seguida o combustível extraído
é separado ao lado oposto de onde avança o fogo. A construção é realizada
manualmente, com ferramentas apropriadas ao tipo de combustível e terreno ou com
tratores se o terreno permitir tal utilização (figura 48).

Figura 48: Linha de defesa


Fonte: CBMSC (2019).

Os objetivos principais consistem em poder atacar a frente do incêndio


diminuindo sua intensidade até́ um ponto que permita o uso de ferramentas manuais,
controlar a linha de fogo por meio da quebra da continuidade do combustível, apoio
necessário para aplicar o contrafogo, além de servir como rota de fuga.

3.3.2.1. Como construir uma linha de defesa


O trabalho apresenta diferentes tarefas e ferramentas. Não existe uma regra
rígida a respeito dos tipos de ferramentas a utilizar na construção da linha, visto que
depende das características do terreno e da vegetação, da quantidade de
combatentes e dos meios disponíveis, mas, geralmente, a sequência de funções é a
seguinte:
• definir a localização da linha utilizando ferramentas cortantes, marcando
seu início e fim;

62
• roçar o combustível aéreo e superficial com ferramentas cortantes;
• cortar e raspar o combustível, superficial e subterrâneo utilizando
ferramentas raspantes e mistas;
• derrubar árvores próximas à linha, utilizando motosserra e/ou machado;
• realizar queima de alargamento, dependendo do método de combate;
• vigiar a construção da linha e sempre que possível ter a disposição bombas
costais e abafadores;
• construí-la no tempo adequado, de modo que a frente do fogo não a
alcance antes de terminada, porém o mais próximo possível da frente do fogo,
minimizando os seus efeitos;
• escolher o caminho mais fácil;
• evitar linhas sinuosas;
• utilizar barreiras naturais;
• usar máquina onde é possível;
• observar a segurança do pessoal;
• isolar a área de fogos secundários;
• assegurar rota de fuga e zonas de segurança;
• utilizar a largura ideal, não mais do que o necessário;
• limpar a área até o solo;
• não espalhar materiais que queimam na área de incêndio;
• aumentar a largura utilizando terra e água;
• baixar a altura do combustível logo a frente da linha;
• reforçar a proteção aplicando ao combustível próximo à linha, produtos
químicos retardantes.

A linha de defesa poderá ser construída por meio da aplicação de produtos


químicos retardantes e deve, sempre que possível, obedecer às características de
uma linha de defesa tradicional. A vantagem está na rapidez da construção, contudo,
uma aplicação mal realizada poderá permitir que o incêndio ultrapasse essa barreira.
Dessa forma, para incêndios em que a intensidade não é extremamente alta, é
orientado manter equipes de vigilância ao longo da linha.

63
3.3.2.2. Como os incêndios podem ultrapassar as linhas de defesa
As chamas ou o calor alcançam o lado oposto da linha, por isso, devemos estar
atentos e verificar se a intensidade liberada pela convecção e radiação são suficientes
para gerar a ignição na vegetação a ser protegida.
Fagulhas e brasas: ao longo de todo o combate devemos estar sempre
atentos ao vento, principalmente ao dinamismo da coluna de convecção e à presença
de redemoinhos de fogo, de forma que sejam aplicadas técnicas adicionais para
eliminação dos focos secundários.
Por meio do solo: o incêndio subterrâneo, que ocorre em solos de turfa ou
áreas com grande acúmulo de material vegetal morto, pode ultrapassar a linha de
defesa, de forma que a construção da linha deve ser realizada até o solo mineral e,
adicionalmente, inundá-las com o uso de moto bombas. Similarmente, quando temos
a presença de árvores mortas, próximas as linhas de defesa, devemos escavar o solo
à procura de raízes podres, pois servem de combustível e permitirão a propagação do
incêndio.

3.4. Operações Aéreas

As operações aéreas consistem na atuação coordenada de meios aéreos


(aviões e helicópteros) no desenvolvimento de operações de monitoramento, ataque,
suporte logístico, transporte de tropa e coordenação de recursos em missões de
prevenção e combate aos incêndios florestais. É muito importante que você reconheça
que as aeronaves são meios que fazem muita diferença em operações, mas que não
se trata de uma solução isolada para a extinção do incêndio, visto que não são
eficazes quando atuam sozinhas, sem apoio em solo, visto que o sucesso da missão
de combate depende da intervenção conjunta com as equipes terrestres, portanto, é
importante que você esteja motivado para atuar no combate integradamente aos
meios aéreos, somando forças e contribuindo para o sucesso das operações! Em
operações de combate aos incêndios florestais com a participação de meios aéreos,
é muito importante a ativação da função de Comandante das Operações Aéreas
(COPAR), na estrutura de comando.
O COPAR deve atuar como interlocutor entre os pilotos e o Posto de Comando
(PC), buscando sempre:

64
• sugerir quais aeronaves são necessárias na operação de combate;
• indicar locais seguros para embarque/desembarque de materiais e pessoal;
• instruir onde e como será o abastecimento e lançamento de material
extintor (água ou mistura retardante);
• definir e sustentar o reabastecimento de combustível;
• analisar a necessidade de permanência dos meios aéreos no combate,
encarregado de propor a desmobilização ou reforço;
• garantir a melhor articulação de ordens e informações entre o PC e o(s)
piloto(s).

3.4.1. Níveis de empenho dos Meios Aéreos


Os meios aéreos, quando empregados em operações de prevenção e combate
aos incêndios florestais, são classificados em três categorias distintas:
I - Meios de primeira intervenção:
Aeronaves empregadas prioritariamente na fase inicial do combate, enquanto
o incêndio ainda está em menores proporções, por exemplo, área do incêndio até um
hectar (10 000 m²), prestando-se à rápida alocação de equipes no terreno e
lançamento de água para ataque direto às chamas;
II - Meios de segunda intervenção:
Aeronaves empenhadas em incêndios florestais abrangendo áreas maiores
que um hectar, prestando-se a reforçar as ações de ataque às chamas, distribuição
de recursos, bem como o transporte de reforços e redistribuição ou recolhimento de
equipes;
III - Meios de suporte:
Aeronaves que atuam em situações especiais, desempenhando fiscalização
aérea, suporte a queimas prescritas, deslocamento rápido de equipes e materiais ou
como meio de monitoramento de operações.

Não se esqueça que, quando houver meio aéreo dedicado à coordenação,


deverá ser ativada a função de Coordenador Aéreo (CA) na estrutura do SCO, com o
objetivo de garantir a segurança de voo e organizar todas as missões atribuídas às
aeronaves na operação. O comandante da aeronave de coordenação ou o COPAR
(se embarcado) assumirão a função de CA.

65
3.4.2. Classificação dos Meios Aéreos
Os meios aéreos podem ser classificados em 07 grupos:
Helicópteros leves: são aeronaves do tipo asas rotativas com capacidade de
embarcar até seis passageiros e dois pilotos e de lançar uma carga de água ou
solução, limitada a 1 200 L, desde que esteja equipada com acessório para acoplar o
helibalde, conhecido como “Bambi Bucket” (nome comercial) (figura 49).

Figura 49: Helicópteros leves ou rápidos


Fonte: Pixabay.

Helicópteros pesados: são aeronaves do tipo asas rotativas com capacidade


de embarcar mais de seis passageiros e dois pilotos ou transportar e lançar uma carga
de água ou solução superior a 1 200 L, desde que esteja equipada com acessório
para acoplar o helibalde, conhecido como “Bambi Bucket” (nome comercial). Em
território nacional os helicópteros pesados são majoritariamente empregados no
transporte de equipes e equipamentos em operações de combate a incêndios
florestais (figura 50).

66
Figura 50: Helicópteros pesados
Fonte: Pixabay.

Aviões leves: são aeronaves do tipo asa fixa, empregadas em operações de


prevenção e combate, monitoramento aéreo, transporte de pessoas ou lançamento
de água ou solução, com armazenamento limitado até 1 500 L ou embarque máximo
de quatro passageiros e dois pilotos. Nesta categoria os aviões de ataque dependem
de pista para pouso e decolagem com suprimento de água ou solução, fornecidos por
meio de reservatórios elevados ou caminhão cisterna, por exemplo, AT, ATB ou Pipa,
para o reabastecimento (figura 51).

67
Figura 51: Aviões leves ou rápidos
Fonte: Pixabay

Aviões médios: São aeronaves do tipo asa fixa, empregadas em operações


de combate, transporte de pessoal ou lançamento de água ou solução, com a
capacidade de embarcar até 16 passageiros e dois pilotos ou armazenar pelo menos
1 500 L até 7 000 L. Nesta categoria existem aeronaves de ataque com configuração
anfíbia, possuindo a capacidade de reabastecer a carga de água por sobrevoo em
contato direto com a superfície de corpos hídricos que comportem a segurança e
operação da aeronave (figura 52).

68
Figura 52: Aviões médios ou intermediários.
Fonte: Pixabay.

Aviões pesados: são aeronaves do tipo asa fixa, empregadas em grandes


incêndios florestais, para o transporte de pessoal ou lançamento de água ou solução,
com a capacidade de embarcar pelo menos 16 passageiros e dois pilotos ou
armazenar pelo menos 7 000 L.. Em outros países, especialmente nos EUA, Canadá,
Austrália e Europa, a operação de aviões pesados é muito comum, inclusive em
versões anfíbias (figura 53).

69
Figura 53: Aviões pesados.
Fonte: Pixabay.

Aeronave de coordenação e comando: meio aéreo de reforço empenhado


exclusivamente na coordenação das operações terrestres, bem como na coordenação
dos meios aéreos presentes no teatro de operações (TO).
DRONE ou RPA - Remoted Piloted Aircraft: meio aéreo capaz de sustentar-
se na atmosfera de modo autônomo, operado a distância, dispensando o piloto
embarcado. Os RPAs ou drones figuram nas operações de prevenção e combate aos
incêndios florestais como uma alternativa barata e segura, quando comparada aos
meios aéreos tradicionais, para a fiscalização de áreas a serem preservadas ou para
fornecer imagens do Teatro de Operações (TO) ao Posto de Comando (PC). O
emprego de drones e RPAs tem sido largamente implementado em todo o mundo,
sendo necessário observar a legislação que disciplina sua operação, em especial a
Lei Federal nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, Código Brasileiro de Aeronáutica,
a Instrução do Comando da Aeronáutica (ICA) nº 100-40, Sistemas de Aeronaves
Remotamente Pilotadas e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro, bem como o
Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) nº “E 94”, Requisitos Gerais para
Aeronaves não tripuladas de uso civil.

70
Aula 4 - SEGURANÇA EM OPERAÇÕES DE COMBATE AOS
INCÊNDIOS FLORESTAIS

4.1. Aspectos gerais


Realizar o trabalho necessário, eficientemente e seguro, deve nortear as ações
dos grupos de combate a incêndios florestais. Nem sempre é uma tarefa fácil, visto
que exige preparação adequada, equipes capacitadas, ferramentas, equipamentos e
veículos apropriados e, não menos importante, coordenação entre as equipes de
socorro. A segurança de cada membro da GCIF tem relação direta com 03 (três)
importantes fatores, sendo eles: ter bom condicionamento físico, utilização de EPI
adequado, além de conhecer as situações de riscos e cumprir com as regras de
segurança. Além do EPI adequado, os integrantes do grupo deverão utilizar um
conjunto de equipamento de sobrevivência individual constituído, no mínimo, por
cantil, lanterna, apito e, quando for possível, abrigo de incêndio florestal.
É imprescindível que a GCIF possua equipamentos de comunicação. Por vezes
não será possível que todos os membros do grupo possam portar rádio, no entanto, o
comandante deverá sempre possuir tal equipamento. Algumas alternativas para a
comunicação entre a equipe podem ser: foguetes, sinalizadores, apitos etc. É
importante que sejam convencionados sinais de apitos com todos os elementos
envolvidos na operação.
Abaixo destaca-se regras de segurança específicas para diferentes atividades
numa operação de combate a incêndio florestal, sendo elas:

4.2. No combate ao incêndio


● o comandante deverá apontar as rotas de fuga e as zonas seguras,
certificando que todos os combatentes assimilaram as informações;
● prever local para descanso e realização das refeições, afastada do
incêndio, de veículos em movimento e das áreas de operações aéreas;
● as horas de trabalho no incêndio não devem superar às 12 horas;
● o combatente deverá estar atento à presença de linhas elétricas na área do
incêndio, evitando o contato da água com os cabos e prestar atenção com os postes
de madeira que podem queimar e cair;

71
● manter a distância mínima de segurança entre combatentes, quando se
trabalha na linha ou quando se deslocam. Não deve haver uma distância menor do
que três metros em terrenos acidentados ou com vegetação alta, além de sempre
manter contato visual com quem vai à frente ou atrás;
● se há risco de rolamento de pedras ou troncos, buscar lugares de proteção,
tais como árvores ou rochas grandes;
● ao passar junto a uma árvore em pé queimando ou debilitada pelo fogo,
passar pela parte de cima e com atenção;
● prestar atenção quando estão queimando tocos, raízes em solos com muita
capa orgânica já que se podem formar poças de brasas;
● não se deve fugir do fogo ladeira acima, procurar atravessar por meio dos
flancos, se não for possível, tentar passar para a zona queimada ou buscar uma
clareira e cobrir-se com terra se for possível;
● se as táticas de trabalho estipulam que se faça um contrafogo ou queima
de expansão nada deve estar localizado entre a borda do incêndio e a linha de defesa
onde se iniciará o fogo.

4.3. No deslocamento

● seguir caminhos conhecidos ou sinalizados para evitar se perder; no caso


de não os conhecer e certificar que seja o correto;
● manter contato visual ou por rádios entre os combatentes;
● não escalar por rochas ou terreno escarpado sem estar familiarizado com
tais deslocamentos;
● atenção aos troncos e rochas que rolam do incêndio;
● manter a distância mínima de três metros entre combatentes;
● caminhar a passo não excessivamente rápido para evitar a fadiga antes do
tempo;
● ao deslocar em veículos terrestres, o combatente deverá colocar os cintos
de segurança e respeitar as recomendações do pessoal responsável pelo transporte;
● ao ser transportado em carrocerias de caminhões ou caminhonetes, deve-
se ir sentado no chão sem se apoiar em portas ou elementos perigosos;
● não se deve transportar ferramentas soltas no mesmo compartimento em
que se transporta o pessoal;

72
● ao se deslocar em lanchas ou botes utilizar o colete salva-vidas e respeitar
as recomendações do pessoal capacitado, habilitado e experimentado, para navegar.

4.4. No transporte e uso de ferramentas


● quando não utilizar a ferramenta, deverá colocá-la em uma área segura, à
vista e com os fios voltados para baixo;
● cada ferramenta deve ser empregada em sua função específica;
● ao transportar a ferramenta se assegurar de caminhar sobre solo seguro e
não correr ladeira abaixo;
● transportar como é devido, tomando-a com a mão à altura da coxa e com
a parte do fio voltado para baixo e para frente; nunca sobre os ombros;
● trabalhar em posição natural, com espaço suficiente para movimentar-se,
sem ter que cruzar os braços ou trabalhar com ferramentas de sapa próximo aos pés;
● atenção às lascas produzidas pelo corte.

4.5. No transporte e uso dos equipamentos


● quando se transportam se deve fazê-lo com o motor parado, elemento de
corte com proteção e no caso do motosserra o sabre voltado para trás;
● ter presente que durante a derrubada de árvores, a distância mínima é duas
vezes a altura da árvore em questão;
● ao trabalhar com roçadeira ficar atentos com os objetos que o equipamento
de corte pode projetar;
● atenção ao abater árvores secas ou podres que podem romper-se
bruscamente, surpreendendo o operador do motosserra e o combatente que estiver
de ajudante.

4.6. Na operação de máquinas pesadas


● o combatente deverá manter uma distância prudente das operações que
realiza o maquinário;

73
● só deve ir sobre o trator o operário, e no caso de que seja necessário
designar um combatente para auxiliar o maquinista, só será permitido se este puder ir
à cabine;
● não deslocar em estribos, escadas ou na pá enquanto as máquinas se
deslocam ou estejam trabalhando;
● em terrenos com pendentes, o pessoal não deve se posicionar justamente
debaixo ou por sobre a máquina, para evitar escorregar e cair diante da máquina ou
que caiam pedras, troncos etc., que possa fazer rolar.

4.7. As 10 normas de segurança no combate a incêndio florestal


Elaboradas pelo serviço florestal dos Estados Unidos da América (EUA) e
adaptado para diversos países, dentre eles Portugal e Espanha, são largamente
adotados como padrão as seguintes normas de segurança:
1. manter-se informado das condições e previsões meteorológicas que podem
afetar a propagação do fogo;
2. manter-se sempre informado do comportamento do incêndio;
3. basear qualquer ação de combate ao incêndio conforme o seu
comportamento atual e futuro;
4. estabelecer áreas de segurança e rotas de fuga, assegurando que toda
guarnição as conheça concretamente;
5. utilizar vigias (segurança) quando exista a possibilidade de perigo;
6. manter-se atento e calmo, pensar com clareza e atuar com decisão;
7. manter comunicação com toda guarnição, com o comandante e guarnições
de reforço;
8. dar instruções claras e assegurar-se de que são corretamente entendidas;
9. manter o controle do seu pessoal em qualquer momento;
10. preservada a segurança do pessoal, combater o fogo com agressividade.

4.8. As 18 situações de perigo no combate a incêndio florestal


Elaborado na década de 1960 nos EUA com 13 situações de perigo, e
posteriormente, em 1987, adicionados mais cinco itens à lista, totalizando 18

74
situações, devem ser encaradas como situações que demandam cuidado. Em
determinados casos requerem de imediato que o perigo seja reduzido ou eliminado.
São elas:
1. o incêndio não é conhecido, nem foi avaliado;
2. combate feito a noite em terreno que não foi visto à luz do dia;
3. áreas de segurança e rotas de fuga não definidas e/ou identificadas;
4. não estar informado acerca da meteorologia e dos fatores locais que
influenciam o comportamento do fogo;
5. não estar informado acerca dos fatores que influenciam o comportamento
do fogo;
6. não estar informado acerca da estratégia, métodos e perigos;
7. as instruções e tarefas atribuídas não foram claras;
8. não existe comunicação com a guarnição e/ou comandante;
9. construção de aceiro incompleto ou mal realizado;
10. construção de aceiro em aclive, onde o fogo desloca morro acima;
11. combater o incêndio pela cabeça;
12. não consegue observar o incêndio principal e não está em contato com
quem possa ver;
13. combater incêndio em encosta que materiais incandescentes podem rolar
e iniciar novos focos abaixo do local de serviço da guarnição;
14. o ar torna-se mais quente e seco;
15. o vento aumenta ou muda de direção;
16. ignição frequente de focos secundários à frente da linha de fogo;
17. o terreno e os combustíveis dificultam a fuga para as áreas de segurança;
18. descansar em áreas por queimar e próximo ao incêndio.

4.9. Procedimento ao ser cercado pelas chamas


No caso de ficar cercado pelas chamas, não se deve esquecer que o lugar mais
seguro do incêndio é a área queimada. Avaliar a situação e ter o autocontrole
suficiente para conseguir passar para a área queimada é essencial. Deve ainda:
● cumprir as instruções do comandante;
● manter-se sempre junto a guarnição;

75
● antes de passar para a área queimada, certificar-se de que não há outro
caminho seguro de fuga;
● entrar para a área queimada por onde o calor e as chamas forem menores
e a vegetação estiver menos densa;
● manter a face e a boca protegidas;
● não respirar o ar quente junto às chamas;
● proteger-se o melhor possível e passar rapidamente;
● procurar, na área queimada, o local em que o ambiente for mais fresco e
respirável;
● primeiro, deve manter sempre a calma e tentar transmiti-la aos outros.

Em caso de emergência, se não conseguir passar para a área queimada, deve


utilizar o abrigo de incêndio florestal.

4.10. Segurança em Operações Florestais com emprego de Meios


Aéreos
A segurança das guarnições em solo e das tripulações embarcadas nos meios
aéreos dependerá do comprometimento pessoal de cada combatente, em todos os
postos e funções, em cumprir e fazer que sejam cumpridas as regras de segurança.
A atuação sob regras de segurança, cria uma atmosfera de trabalho “leve e confiável”
que, além de colaborar para a integridade do pessoal envolvido, contribui para a
harmonia das operações entre os meios aéreos e terrestres, bem como entre as
próprias aeronaves.
Todo combatente deve, portanto, se reconhecer como um “elo” indispensável
para a integridade da “corrente” que constitui a segurança operacional. Assim, as
guarnições em solo devem se sentir responsáveis também em reportar situações de
perigo que sejam de difícil percepção para as tripulações embarcadas ou ao posto de
comando, tais como a presença de cabos de transmissão, torres, mastros, antenas,
ventos fortes e outros aspectos inseguros para os meios aéreos, mas que estejam ao
alcance visual da tropa em solo. Eles, portanto, para além dos procedimentos
habituais de segurança operacional, deverão cumprir procedimentos particulares de
segurança em operações com a presença de meios aéreos, agrupadas em 04
contextos distintos:

76
4.11. Enquanto os meios aéreos realizam o lançamento de água
Os combatentes devem ter muita atenção quando houver a presença de meios
aéreos na operação, pois os lançamentos de água (ou mistura retardante), em
especial os provenientes dos aviões, podem ser muito perigosos para as guarnições
em solo, pois esta é uma condição como um “bombardeio”, com os seguintes riscos:
a) o(s) combatente(s) pode(m) ser lançado(s) contra pedras, árvores ou
outros objetos (senão o contrário);
b) o impacto direto da massa de água poderá causar traumas importantes ou
até mesmo a morte do(s) combatente(s) atingido(s).
O combatente “sob bombardeio” deverá deitar-se em decúbito ventral, no
sentido oposto ao deslocamento da aeronave, conforme ilustra a figura 54:

Figura 54: Posição a adotar sob lançamento aéreo


Fonte: ENB (2006).

4.12. Próximo às áreas de pouso e decolagem


Com o objetivo de difundir práticas seguras em zonas destinadas ao pouso e
decolagem, sugere-se a utilização de painéis que alertem aos combatentes e ao
público (apoio logístico, integrantes do PC, imprensa etc.) sobre os perigos de estarem

77
dentro ou nas proximidades desse tipo de instalação, bem como as condutas
obrigatórias ou as proibidas (figura 55).

Figura 55: Exemplo de painel de segurança para áreas de pouso e decolagem de meios
aéreos
Fonte: ENB, 2006.

Todo o efetivo destacado para as operações deve estar equipado com óculos
de proteção e protetor auricular, quando empregado em missões que envolvam o
embarque em aeronaves, bem como a permanência em áreas próximas a Zonas de
Pouso de Helicópteros (ZPH) ou a pista para pouso e decolagem de aviões. A
turbulência do ar próximo à superfície, provocada pela presença de meios aéreos em
baixa altura, especialmente quando houver helicópteros em voo pairado ou em
passagens baixas de aviões, conseguem provocar mudanças bruscas no
comportamento do fogo, alterando a direção, intensidade e velocidade de propagação:
estejam atentos ao comportamento do fogo!

4.13. Na aproximação ou afastamento de aeronaves


Os helicópteros e os aviões possuem zonas de aproximação e afastamento
definidos, generalizadamente, como áreas seguras ou proibidas, a imagem abaixo

78
(figura 56), deve ser lembrada e respeitada por todos os combatentes que estejam
participando de missões com o emprego de meios aéreos.

Figura 56: Áreas seguras (verde), restritas (amarelo) e proibidas (vermelho)


Fonte: Pixabay.

Os combatentes em solo devem estar conscientes que, durante a aproximação


ou afastamento de um meio aéreo, com destaque aos helicópteros, eles estarão
expostos a várias situações de risco, mas que é possível atuar com segurança, desde
que sejam observadas as seguintes recomendações:
a) não menosprezar que uma aeronave acionada sempre oferece perigo de
lesão grave ou morte, em especial basicamente porque os rotores (também chamadas
hélices ou pás) movimentam-se em alta rotação, o que os deixa praticamente invisível.

Figura 57: Rotores parados (detalhes A e B) e acionados (imagem principal). Rotor


principal (A) e rotor traseiro (B) visíveis apenas quando parados

79
Fonte: ENB (2006).

b) aproximar-se ou afastar-se da aeronave com a “silhueta” abaixada, pela


área de visão dos pilotos e somente após receber ordem verbal ou gestual (a partir do
tripulante na porta da aeronave ou do tripulante em solo) e jamais em direção aos
rotores de cauda dos helicópteros, ou para a região dos motores dos aviões;

Figura 58: Aproximação correta para embarque


Fonte: ENB (2006).

c) não se aproximar de uma aeronave em manobra de pouso ou decolagem,


mantendo-se sempre parcialmente agachado, o mais afastado possível e no campo
visual do piloto, sempre com óculos de proteção, sem cobertura (boné, boina, chapéu
etc.) e com as ferramentas (abafadores, enxada etc.) paralelas ao solo (figura 59).

Figura 59: Ilustração da zona de segurança em helicópteros

80
Fonte: Pixabay.

d) não permanecer em pontos que estejam sob a rota de voo dos meios
aéreos, evitando manter-se em posição vulnerável aos lançamentos de água (ou
mistura retardante) ou objetos que inadvertidamente venham a se desprender das
aeronaves, além de manter distância da área sujeita a pouso de emergência.

4.14 Enquanto estiver embarcado

Em operações de prevenção e combate a incêndios florestais, o embarque em


helicópteros ou aviões deve ser precedido por briefing de segurança entre integrantes
da tripulação e os combatentes, que estão, muitas vezes, em sua primeira missão ou
que não têm convivência/experiência em operações aerotransportadas. Ao briefing
deve ser dispensada a maior atenção possível, pois é a melhor oportunidade (e talvez
a única) para se evitar um acidente ou incidente numa operação com meios aéreos.
Assim, em missões que você for embarcar em aeronaves, lembre-se:
a) guarde sua cobertura (boné ou boina) antes de se aproximar da aeronave
e somente volte a usá-la quando afastado;
b) ao embarcar, não toque no banco dos pilotos, coloque o cinto de
segurança, somente coloque o fone de ouvido se estiver previamente orientado a fazê-
lo e mantenha suas pernas recolhidas (figura 60).

Figura 60: Conduta incorreta - brigadista puxa o cinto de segurança e segura o banco do
piloto
Fonte: Instituto Estadual de Florestas aos Brigadistas Minas Gerais.

81
c) em caso de mal-estar durante o voo, avise ao observador aéreo e, na
ausência deste, fale ao piloto. Se for vomitar, faça-o num saco plástico, luva
descartável ou na própria camiseta: jamais no piso da aeronave;
d) mantenha as pernas recolhidas, jamais as estendendo entre ou ao lado dos
bancos dos pilotos, evitando tocar os pés inadvertidamente nos comandos da
aeronave (figura 61).

Figura 61: Conduta incorreta — brigadista coloca o pé nos comandos centrais do


helicóptero
Fonte: Minas Gerais, 2013; Pixbay.

e) nunca manuseie as ferramentas de combate (enxada, abafador etc.) ou


bombas costais durante o voo, mantendo-os no assoalho da aeronave;
f) caso algum combatente entre em pânico a bordo, ajude a conter a crise e
defenda, a todo custo, o acesso inadvertido desta pessoa aos comandos da aeronave
ou aos pilotos;
g) nunca lançar objetos a partir da aeronave, exceto se determinado pelo
comandante;
h) se estiver na fonia, fale apenas o indispensável, especialmente durante os
pousos e decolagens.
Se houver emergência de voo, mantenha a calma e lembre-se que é possível
manter uma aeronave (aviões e helicópteros) em voo, mesmo com os motores
desligados.

82
Aula 5 - FASES DE UMA OPERAÇÃO DE COMBATE AOS
INCÊNDIOS FLORESTAIS

Uma operação de combate a incêndio florestal compreende fases distintas,


dentre as quais temos: preparação, pré-operação, operação da zona de incêndio,
rescaldo, desmobilização e perícia. A seguir estudaremos cada uma delas.

5.1. Preparação
Uma operação de combate a incêndio florestal inicia muito antes do incêndio
começar. É preciso formar pessoas e instrumentalizá-las para então, confiar a missão
de salvar vidas, patrimônio e minimizar os efeitos do incêndio na floresta. Para haver
uma preparação adequada, destacamos quatro momentos:
Capacitação:
Não rara às vezes em que os incêndios florestais oferecem riscos à vida dos
bombeiros envolvidos na operação, por isso é fundamental a capacitação prévia para
esse tipo de operação. Qualquer ação voltada para um programa de combate aos
incêndios florestais passa pela formação das equipes envolvidas e nos conhecimentos
mínimos que devem ser analisados cuidadosamente para a formação de pessoal
especializado.
Treinamento:
Uma vez adquirida a técnica, é fundamental que ocorram treinamentos
constantes. Os incêndios florestais têm seu comportamento alterado em função de
uma série de fatores, por isso é preciso acostumar-se com o comportamento do fogo,
com as variações sofridas pelos efeitos da atmosfera e do meio e isso só se obtém
com muito treinamento. O condicionamento físico é variável importante neste quesito.
Aquisição e manutenção de ferramentas, equipamento e acessórios:
Deverá ser priorizada a aquisição de ferramentas, equipamento e acessórios
próprios de combate aos incêndios florestais. De igual forma, a manutenção correta é
de suma importância. O sucesso do combate de um incêndio florestal depende da
combinação de pessoal preparado com os equipamentos corretos.
Procedimentos operacionais padronizados:
A padronização das condutas é um fator importante para o sucesso no
combate aos incêndios florestais.

83
5.2. Pré-operação

Esta fase compreende o momento em que se recebe a informação do incêndio


até a chegada dos grupos de combate a incêndio na cena. É uma fase vital no sucesso
da operação. Esta fase compreende as seguintes etapas:
Detecção do incêndio: é o tempo decorrido entre o início do fogo e o momento
em que alguém o vê. Assim como a maioria dos sinistros, o incêndio é mais fácil de
ser combatido em sua fase inicial. Um eficiente sistema de detecção pode ser
fundamental no controle dos incêndios florestais. Atualmente, satélites são utilizados
na detecção dos incêndios florestais.
Comunicação do incêndio: tão importante quanto detectar um incêndio em
sua fase inicial, é comunicar da ocorrência deste incêndio aos grupos de combate, por
isso a comunicação deve ser realizada rapidamente. Grandes incêndios, como o de
Roraima, que queimou quase 25% daquele Estado, levou dias para ser detectado e
outros tantos para mobilizar as equipes de combate. Ao receber a informação de um
incêndio florestal, deve ser solicitado as seguintes informações: local exato; melhor
meio de acesso; tipo de vegetação que está queimando; topografia; existência de
zonas prioritárias próximas ao incêndio. Com essas informações o comandante da
operação poderá previamente estabelecer algumas estratégias, mobilizando pessoal
e equipamentos adequados para o combate.
Mobilização: a mobilização das equipes de combate deve ser rápida. Muitas
vezes um combate aos incêndios florestais requer o empenho de várias equipes,
sejam brigadistas ou bombeiros. Assim sendo, os meios devem estar pré mobilizados
para haver sucesso na operação. Veículos, equipamentos e pessoal em regime de
prontidão são vitais nessas operações. Enquanto as equipes se preparam para o
deslocamento, o fogo rapidamente se propaga e consome o material combustível
existente na floresta, bem como ganhando cada vez mais intensidade, dessa forma,
todos os meios devem estar prontamente preparados para serem mobilizados o mais
rápido possível, dado que existe uma distância a ser percorrida entre a base e o
incêndio;
Deslocamento para o incêndio: conhecer a melhor rota é fundamental para
as equipes que atuam na área rural. Diferentemente das cidades, o meio rural não
possui indicativo claro, assim, é preciso previamente conhecer a melhor rota para se
chegar ao local do incêndio;

84
Chegada ao incêndio: os incêndios tendem a atingir grandes áreas e não rara
às vezes a frente do fogo atinge vários quilômetros de extensão, dessa forma, ao se
chegar no incêndio é fundamental que as viaturas e os equipamentos sejam
posicionados em local de fácil acesso para combatê-lo, estabelecer a estrutura de
comunicação, definir as regras de descanso e revezamento das equipes,
reabastecimento dos reservatórios de água, acesso aos primeiros socorros, realizar a
alimentação e hidratação. O local deverá ser seguro e sem vegetação por queimar.

5.3. Operações na zona de incêndio


Após a chegada das equipes na zona de incêndio, inicia-se a preparação para
o combate. É necessário vencer algumas etapas antes de atacar a linha de fogo. Esta
fase compreende as seguintes etapas: estabelecer a estrutura de comando,
realizar o reconhecimento do local e do incêndio, avaliar os recursos
disponíveis, gerenciar os riscos e definir o método a ser utilizado.

5.3.1. Estabelecimento da estrutura de comando


A primeira função do comandante de uma operação consiste na assunção
formal do comando da operação por rede de rádio, ou de maneira direta a todos os
que se encontram na cena da operação. Uma efetiva operação de combate a incêndio
deverá estar centrada na figura do comandante de operações. Este, utilizando-se de
um sistema de comando, organizará de acordo com suas necessidades, as atividades
necessárias para controlar a situação emergencial de combate ao fogo. A magnitude
da ocorrência determinará o tamanho e a complexidade do sistema de comando.

5.3.2. Reconhecimento
Para uma acertada tomada de decisão em relação à estratégia de combate,
diversos aspectos deverão ser analisados. Esse reconhecimento deve ser realizado
desde o recebimento da comunicação do incêndio, durante o deslocamento e,
principalmente, na chegada ao incêndio. Utilizar-se de drone ou helicópteros são
importantes ferramentas. Deverá ser observado:

85
Direção, velocidade e intensidade do incêndio: normalmente determinam os
métodos possíveis para o seu ataque são fatores fundamentais para dimensionar que
riscos ela apresentará.
Zonas prioritárias: após verificar a velocidade do fogo, intensidade do incêndio
e para onde avança, o comandante da GCIF verificará o que está no caminho do fogo
ou paralelo a ele. Nesse caminho poderão ser encontradas: residências;
aglomerações urbanas; redes de transmissão de energia; estradas; etc. Um fator
importante a ser definido é que nem sempre a zona prioritária está na linha de frente
do fogo, mas pode ser atingido por ele, dessa forma ao se estabelecer a zona
prioritária, protegê-la deve ser prioridade das equipes de combate.
Fatores climáticos (vento, temperatura, umidade relativa do ar,
precipitação): os fatores climáticos, como já estudado, podem modificar a qualquer
momento as condições de propagação do incêndio. É preciso sempre acompanhar
essas condições, principalmente do vento, pois ele é fundamental e determinante para
dar forma, direção e velocidade aos incêndios.
Topografia: o fogo se propaga mais rapidamente nos aclives e lentamente nos
declives, pois os combustíveis estão mais perto das chamas são secados pelas
nuvens de convecção e dependendo do acidente do terreno, o método de combate
precisará ser alterado.
Combustíveis: o tipo e a disposição dos combustíveis são fundamentais para
definir a velocidade de propagação e intensidade do fogo.
Acesso: deve-se realizar o levantamento da área visando identificar acessos
(estradas, picadas etc.), que permitirão a aproximação das equipes de combate, bem
como funcionarão como rotas de fuga.
Horário: os melhores horários para o combate ao incêndio florestal são no
início da manhã e no fim da tarde, momento em que as condições meteorológicas são
favoráveis ao combatente e a visibilidade é maior. Combates noturnos devem ser
evitados pelo perigo que representa a falta de visibilidade, mesmo sendo o período
em que as condições meteorológicas melhor se apresentam, contudo, se houver
segurança para o combate o mesmo deve ser realizado.

86
5.3.3. Recursos disponíveis
A definição da estratégia a ser utilizada para combater um incêndio deve
considerar a situação e os meios disponíveis. Caso os recursos disponíveis não sejam
suficientes, os meios adicionais devem ser solicitados imediatamente após
identificada a necessidade.

5.3.4. Gerenciamento dos riscos

Para incêndio de grandes proporções, o comandante da operação deverá


designar uma pessoa que fique responsável pela segurança de toda operação,
devendo observar todos os aspectos que podem resultar em riscos para os
combatentes. Cada GCIF envolvida na operação deverá possuir um componente
responsável pela segurança de seu grupo, geralmente recaindo essa
responsabilidade sobre o comandante ou alguém por ele designado, no entanto,
destaca-se que todos os integrantes são responsáveis por sua própria segurança e
dos demais. Enquanto os grupos recebem a missão, deverão ser instruídos sobre as
regras de segurança antes de entrarem na zona quente. Recomenda-se ter um
checklist com as 10 regras de segurança e 18 situações de perigo.

5.3.5. Definição do método de combate

Um combate iniciado sem planejamento pode dificultar ou retardar a extinção


do incêndio. Por isso, ao chegar no incêndio o comandante deve estudar a situação
antes de definir a estratégia de combate. Para tomada da decisão requer
conhecimento do comportamento do fogo, tamanho da área, velocidade de
propagação, intensidade, condições climáticas, tipo de vegetação, locais para
captação de água, meios disponíveis, entre outros. Sempre que possível, o combate
ao fogo deve ser iniciado pelos focos que apresentem maior potencial de propagação,
bem como maior risco de danos a vidas humanas, silvestre e florestas.
O comandante da operação deverá decidir sobre o método de combate mais
adequado, considerando o reconhecimento realizado e os meios disponíveis. Sempre
que necessário, o plano de combate deve ser revisto e, caso necessário, alterar a
estratégia de combate, até que todos os focos de incêndio estejam extintos.

87
5.4. Rescaldo
As ações fundamentais de rescaldo compreendem principalmente:
● realizar acompanhamento no perímetro para descobrir e suprimir incêndio
de manchas (fagulhas que foram lançadas para fora da área queimada e que poderão
posteriormente iniciar novos focos);
● ampliar o aceiro em torno da área queimada visando melhorar o
isolamento, principalmente se houver vento. Uma boa medida é pulverizar o perímetro
com algum produto retardante à propagação do fogo;
● derrubar árvores e/ou arbustos que estejam queimando;
● eliminar, por meio da aplicação de água e/ou terra os resíduos de fogo na
área queimada, que estejam acesos ou em brasas.

5.5. Desmobilização
A fase de desmobilização não marca apenas o término de uma operação, mas
sim os preparativos para o início de uma nova operação. Assim, é fundamental a
conferência dos bombeiros, veículos e materiais, a manutenção dos equipamentos
danificados, a limpeza e reabastecimento (veículos e equipamentos a combustão ou
recipientes com água) e recolocar tudo em estado de pronto emprego.

5.6. Perícia
Na perícia é que serão apontadas as causas do incêndio. Sobre as causas
repousarão as ações preventivas. Desta forma, é de vital importância que sejam
realizadas as perícias em todos os incêndios florestais.
É recomendado que após uma operação de combate a incêndio florestal,
sobretudo naquelas que reúnam diferentes instituições ou grandes áreas atingidas, se
apontem as ações que precisem ser melhoradas e as ações que obtiveram êxito:
procedimentos inadequados deverão ser evitados e boas práticas fortalecidas. É
nesse momento que a operação evolui.

88
Finalizando

Neste módulo, você aprendeu que:

• Como formar uma Guarnição de Combate a Incêndio Florestal (GCIF).


• Quais as atribuições e características físicas de um combatente.
• Quais as ferramentas, equipamentos, acessórios, veículos e aeronaves
utilizadas no combate aos incêndios florestais.
• Os métodos de combate terrestres e com aeronaves.
• Que a disponibilidade dos materiais, veículos e aeronaves, deverão ser
observados quando da definição do método de combate.
• Que as regras de segurança são fundamentais para o sucesso da
operação.
• As fases de uma operação de combate a incêndio florestal.

89
MÓDULO 4 – PREVENÇÃO

Apresentação do módulo

Neste módulo você estudará diversos sistemas preventivos contra os incêndios


florestais. Sistemas preventivos implantados em áreas de conservação, privada ou
mesmo florestas plantadas. Será estudado também o meio jurídico que abarca os
incêndios florestais no Brasil. Diferenciar incêndio de queimadas autorizadas, a
previsão, e condicionantes para realização desta última, em nossa legislação. A
importância de entender o comportamento dos animais, o habitat em que estão
inseridos, como salvá-los e para onde levá-los.

Objetivos do módulo

Este módulo tem por objetivos:

● definir prevenção dos incêndios florestais;


● discorrer sobre a prevenção das fontes do fogo;
● discorrer sobre prevenção da propagação do fogo;
● conceituar “direito ambiental”;
● citar os requisitos legais para a realização de uma queimada;
● citar as principais legislações brasileiras que tratam do tema “incêndio
florestal”.
● citar os fatores que influenciam nos salvamentos de animais silvestres;
● explanar sobre contenção física e contenção química;
citar pelo menos 03 locais de destinação de animais salvos.

90
Estrutura do Curso

Este módulo compreende as seguintes aulas:


Aula 1 - Sistemas preventivos contra incêndios florestais.
Aula 2 - Legislação Ambiental Brasileira.
Aula 3 - Salvamento de animais silvestres.

91
Aula 1 - SISTEMAS PREVENTIVOS CONTRA INCÊNDIOS
FLORESTAIS

A prevenção dos incêndios florestais pode ser definida como um conjunto de


ações que objetiva evitar que o incêndio ocorra ou minimizar os seus efeitos, assim,
evitar o início ou dificultar a propagação. A proteção das florestas será efetiva quando
a prevenção resultar em números positivos, pois não existe maneira melhor de se
combater um incêndio, evitando-o. As medidas que visam evitar que o incêndio ocorra,
podem ser definidas como: prevenção das fontes do fogo. Já as que visam diminuir
as consequências danosas de um incêndio já iniciado, são definidas como: prevenção
da propagação do fogo. Logo abaixo, abordaremos cada uma delas:

1.1. Prevenção das fontes do fogo

A prevenção das fontes do fogo é o conjunto de medidas que, por si só ou


combinadamente, têm por objetivo evitar que o incêndio ocorra. Geralmente o
incêndio resulta de uma combinação de circunstâncias que poderiam ser evitadas,
visto que a maior parte dos incêndios possuem origem antrópica. As ações
preventivas das fontes do fogo abordam, principalmente, três segmentos distintos:
● regulamentação do uso do fogo: trata-se de imputar regramento à utilização
das florestas, parques florestais e congêneres. Alguns desses locais são abertos à
visitação e exploração turística, sendo que durante períodos em que o risco da
ocorrência de incêndios é alto devem ser adotadas medidas que proíbam o uso do
fogo ou até o fechamento total do espaço florestal para o acesso público;
● conscientização das pessoas: o homem é o principal causador dos
incêndios florestais, assim investir em educação e conscientização pode trazer
resultados positivos. Em períodos de maior risco da ocorrência de incêndios, as
campanhas educativas, utilizando os meios de comunicação existentes (rádio,
televisão, internet etc.) podem trazer excelentes resultados na diminuição da
ocorrência dos incêndios florestais. As campanhas preventivas devem ser realizadas
considerando a realidade local ou regional. O Brasil é um país de dimensões
continentais, com culturas e práticas distintas, tornando-se esperada e necessária

92
diferentes ações de prevenção com base no clima local, tipo de floresta, festas
regionais, estações climatológicas e outros;
● aplicação da legislação sobre incêndios: são definidos como medidas
legais, de caráter punitivo, visando evitar que o incêndio florestal ocorra. São
exemplos: tipificação para quem causa incêndio como crime e as respectivas sanções,
aplicação das penas de multa pecuniária, sanções administrativas, entre outros.
Embora existam no Brasil leis rigorosas contra infrações dessa natureza, é necessário
que o ciclo judicial se complete, ou seja, é preciso que ao se constatar um incêndio se
aponte sua causa, se encontre o responsável e ele ser conduzido, com a instrução
das provas, para os tribunais para seja julgado.

1.2. Prevenção da propagação do fogo


Pode ser definido pelo conjunto de sistemas preventivos contra os incêndios
florestais previamente dispostos no terreno, cujo objetivo visa diminuir os danos
decorrentes do incêndio. Os sistemas preventivos por si só poderão extinguir os focos
de incêndio ou permitir a aproximação e combate pelas GCIF’s. São sistemas
preventivos aos incêndios florestais:

Figura 62: Sistemas preventivos aos incêndios florestais


Fonte: SCD/EaD/Segen.

93
Discorreremos um pouco sobre cada sistema.

1.2.1. Sistema de compartimentação por talhão

É a divisão de uma área florestal, natural ou plantada, em talhões. Os talhões


constituem-se em menores glebas de terras, divididas por faixas limpas de
combustíveis (aceiros), naturais ou construídos, com o objetivo de proteger aqueles
não atingidos por um eventual incêndio. A declividade do terreno deve ser levada em
conta, quando for dimensionada a largura do aceiro que irá separar os talhões. Os
aceiros podem ser definidos como barreiras naturais, ou faixas livres de vegetação,
construídos para impedir a propagação do fogo e distribuídos por meio da área
florestal. Os aceiros preventivos também devem ter suas larguras mínimas definidas
em função da declividade do terreno. Na tabela 01 é possível observar a largura
mínima recomendada, em função da declividade do terreno.

Tabela 01: Relação da largura mínima dos aceiros em função da declividade do terreno
Fonte: CBMSC, 2019.

1.2.2. Sistemas de acessos

94
Consiste em acessos viários que facilitarão as ações dos GCIF’s, realização de
patrulha móvel de vigilância, além de poder ser utilizado como linha de defesa.
Recomenda-se a adoção de um acesso principal e um secundário de modo a permitir
o tráfego dos veículos de combate. Os acessos principais devem ser largos o
suficiente para que veículos de grande porte, como caminhões e tratores possam
transitar, em ambos os sentidos, por eles. É fundamental que todos os acessos,
principalmente estradas e cruzamentos, possuam sinalização indicando a posição
(distância e sentido) de pontos considerados de interesse ou de risco, tais como
saídas e acessos alternativos, mananciais, torres ou pontos de observação, centrais
de controle e operação, habitações, linhas de transmissão, refúgios naturais ou outros
específicos de cada zona de proteção. O ideal é que sejam introduzidos antes da
implantação das florestas comerciais (quando for o caso), de modo a se constituírem
em dispositivos preventivos desde a primeira idade das árvores.

1.2.3. Sistema de manancial

A maior parte do combate aos incêndios florestais dependerá da utilização de


água, de forma que a reposição desta de forma rápida pode resultar no sucesso da
operação. Pode ser previsto em parques florestais, unidades de conservação e áreas
reflorestadas. Esses pontos de água poderão ser naturais (rios e lagos) ou cisternas
artificiais. Quanto mais próximo o fogo estiver da água, menores serão os custos de
transporte e mais fáceis serão as ações de combate. Para cada manancial é
fundamental ser assegurado no mínimo dois acessos, tão diametralmente opostos
quanto possível, em condições de permitir a aproximação dos meios de combate para
reabastecimento. A altura da lâmina d’água deverá possibilitar a captação segura por
mangotes, portanto deverá ter no mínimo 50 centímetros.

1.2.4. Sistema de vigilância e detecção

Quando um incêndio florestal se inicia, uma série de atividades precisam ser


desenvolvidas. O primeiro é a detecção, que se trata do tempo decorrido entre o início
do fogo e o momento em que alguém o vê. Podemos afirmar que um eficiente sistema

95
de detecção é fundamental para o gerenciamento de um combate a um incêndio. Os
sistemas podem ser automatizados (satélites fixos, torres ou pontos de observação)
ou ainda por patrulhamento móvel com aeronaves, veículos, motos etc.
Uma vez observado/identificado fumaça ou pontos de calor no terreno, devem
ser acionadas equipes de solo para confirmação do incêndio. As GCIF’s podem
cumprir essa função. Caso sejam utilizadas equipes próprias de detecção, essas
deverão iniciar o combate primário (quando possível) e acionar as GCIF’s com
homens, equipamentos e veículos especializados.

1.2.5. Redução do material combustível

A redução do material combustível, também conhecido como queima prescrita,


é um meio eficiente e objetiva evitar a propagação dos incêndios florestais. Esse
sistema consiste em eliminar o combustível por técnicas próprias, época e condições
climáticas adequadas e equipes especializadas. Caso o incêndio ocorra, não trará
maiores prejuízos, pois não encontrará material combustível para se propagar, dado
que foi eliminado preventivamente.

1.2.6. Sistema de apoio a operações de combate a incêndio

Trata-se de um grupo de socorro florestal com pessoal treinado e material


disponível. Poderá ser previsto em parques florestais, unidades de conservação,
empresas privadas etc. Quando o risco de ocorrer incêndio alcançar as classificações
mais elevadas o sistema deve ser ativado, entrando as equipes em regime de
sobreaviso e/ou prontidão conforme orientações específicas de cada responsável
técnico.

1.3. Silvicultura preventiva

Além dos sistemas preventivos, a silvicultura preventiva também se constitui de


um meio para evitar o início e a propagação dos incêndios. Trata-se de um conjunto
de regras que se incluem na silvicultura convencional com objetivo de se conseguir

96
estruturas menos vulneráveis ao fogo e mais resistentes à sua propagação. Os
princípios da silvicultura preventiva são: modificação da estrutura da floresta,
diversificação, criação de descontinuidade linear perimetral, conservação de espécies
menos inflamáveis, mistura de espécies, associação das ações humanas com o risco
florestal e criação de mecanismos que facilitem o combate.

1.4. Índices de perigo de incêndio

São indicadores que refletem a probabilidade de ocorrer um incêndio, assim


como a facilidade dele se propagar, com base nas condições atmosféricas do dia ou
de uma sequência de dias. Um índice de perigo, por razões práticas, se apresenta em
classes de perigo, definindo-se uma classe de perigo como uma porção da escala
numérica do perigo de incêndios florestais. Os índices de perigo de incêndios podem
ser divididos em dois grupos, índices de ocorrência: que indicam a probabilidade de
ocorrência de um incêndio, e índices de propagação: indicam o comportamento dos
incêndios florestais e que utilizam os fatores variáveis como a velocidade do vento e
alguns fatores de caráter permanente. São exemplos de índices de perigo de incêndio
florestal: Fire Weather Index (FWI), Índice de Telicyn, Índice de Nesterov, índices
acumulativos de precipitação menos evaporação (P-EVAP) e do produto evaporação
pela precipitação (EVAP/P), Fórmula de Monte Alegre (FMA) e Fórmula de Monte
Alegre Alterada (FMA+). Recomenda-se o estudo mais aprofundado de pelo menos
um desses índices, além de testá-los em sua região, com a finalidade de identificar o
índice com maior percentual de eficiência.

97
Aula 2 - LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

2.1. Introdução

Nos termos do art. 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988 - CF/88,


observa-se que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”. Partindo do disposto, a preservação das florestas torna-se cada
vez mais importante, não só do ponto de vista ambiental, mas também legal. No
contexto dos incêndios florestais, minimizar os danos ambientais decorrentes destes
torna-se fundamental, para existir um meio ambiente cada vez mais saudável. Torna-
se precípuo a necessidade de regulamentação legal, pois como já estudado, traduz-
se numa ação de prevenção. Nesse sentido, o artigo 38 da Lei Federal nº 12.651, de
25 de maio de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, assevera
conforme segue:
Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes
situações:
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo
em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão
estadual ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de
forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de monitoramento e
controle;
II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em
conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia
aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo
conservacionista da vegetação nativa, cujas características ecológicas
estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;
III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa
devidamente aprovado pelos órgãos competentes e realizada por instituição
de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão ambiental
competente do Sisnama.
§ 1.º Na situação prevista no inciso I, o órgão estadual ambiental competente
do Sisnama exigirá que os estudos demandados para o licenciamento da
atividade rural contenham planejamento específico sobre o emprego do fogo
e o controle dos incêndios.

98
§ 2.º Excetuam-se da proibição constante no caput as práticas de prevenção
e combate aos incêndios e as de agricultura de subsistência exercidas pelas
populações tradicionais e indígenas.

A queimada, entretanto, prática comum no Brasil, é permitida desde que


seguidos os requisitos legais e de segurança. Assim, a própria legislação estabelece
a diferença entre os dois institutos, sendo a queimada controlada permitida por cumprir
os requisitos de ser licenciada e previsível; enquanto o incêndio é descontrolado e
criminoso na maior parte das vezes, sendo por isso considerado um crime ambiental.
Os incêndios podem surgir de várias formas e, no Brasil, as principais são: por
queimadas não controladas para produção de carvão, para plantação agrícola ou para
retirada de árvores valiosas e fogo espontâneo.

2.2. Direito ambiental

É um dos mais modernos ramos do direito. É multidisciplinar, pois se utiliza de


institutos de direito penal, civil e administrativo para tornar efetivas suas normas,
visando regular a relação do homem e seus meios de produção com a natureza, para
permitir o equilíbrio dessa relação, dando sustentabilidade ao desenvolvimento e
minimizando os efeitos degradantes sobre o meio ambiente. Pode-se dizer ser um
direito indutor de um novo paradigma de relação entre o homem e o meio ambiente

2.3. O Brasil e o direito ambiental

Até o início dos anos oitenta, pode-se dizer que não havia uma legislação de
proteção do meio ambiente, pois o ordenamento jurídico, até então relativo às águas
e florestas, tinha o objetivo de proteção econômica e não ambiental, com o advento
da Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que criou a Política Nacional do
Meio Ambiente, inicia-se uma visão protecionista, instituindo as responsabilidades
àqueles que direta ou indiretamente causarem degradação ambiental, sejam estas
pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado. É o chamado princípio do
poluidor pagador, independentemente de culpa, em que se adota a teoria da

99
responsabilidade objetiva, em que o risco é que determina o dever de responder pelo
dano.
Esta lei foi recepcionada pela CF, cujo art. 225 fixou os princípios gerais em
relação ao meio ambiente, estabelecendo no parágrafo terceiro que as condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores às sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano causado. A
inovação, no entanto, é que a responsabilidade penal também é direcionada à pessoa
jurídica e não somente, como era até então, à pessoa física. Entretanto, somente em
1998 foi editada a Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que estabeleceu
estas sanções penais e administrativas, regulamentando, portanto, §3º o art. 225, da
Constituição Federal de 1988. A partir daí, com os poderes atribuídos ao Ministério
Público, pela própria Constituição e depois pelo Código de Defesa do Consumidor,
somado à atividade dos órgãos ambientais, começa a haver a efetividade desta lei.
Por conseguinte, as empresas, principalmente, começam a correr sérios riscos
quando não observadas as regras ambientais, podendo sofrer severas e pesadas
penas, tanto administrativas, civis e penais, que vão desde a interrupção das
atividades, suspensão de direitos (não participar de licitações, não receberem
incentivos fiscais, ou financiamentos oficiais, ou ainda, trabalhos comunitários), como
a prisão de todos que colaboraram para o delito (dirigentes ou não); mais multa,
independentemente do dever de reparar os danos.
Outras leis e normas importantes foram editadas no mesmo período,
ressaltando-se a Lei das Águas, que criou os comitês de gerenciamento de bacias, a
legislação de embalagens dos agrotóxicos e as resoluções do Conselho Nacional do
Meio Ambiente - CONAMA, editadas a partir de 1986. Esta legislação exige uma
mudança imediata nos paradigmas das atividades produtivas, buscando a
sustentabilidade, com a aplicação de processos de produção mais limpa e/ou
tecnologias limpas. Deve-se atentar, entretanto, para a necessidade de um tempo
para ajustamentos, um tempo para informação, um tempo para que exigências
desmesuradas ou fora de nossa realidade, impeçam o progresso, mas é importante
que nossos empresários comecem a se adequar ao novo modelo, para não serem
pegos de surpresa, até pelo mercado que também exige uma nova postura em relação
ao meio ambiente.

100
2.3. Incêndios, queimadas e desenvolvimento sustentável

O que diferencia um incêndio de uma queimada é a licença para realizar o ato


dessa realização em normas de segurança. É a aplicação controlada de fogo na
vegetação (natural ou artificial) sob determinadas condições ambientais que permitam
ao fogo manter-se confinado em uma determinada área e, ao mesmo tempo, produzir
uma intensidade de calor e velocidade de espalhamento desejáveis aos objetivos de
manejo.
Num país como o Brasil é complexo não admitir a queimada, por isso os órgãos
licenciadores a permitem, desde que realizada adequadamente e segura em espaço
que não comprometa áreas de interesse ambiental. Segundo o Decreto Federal nº
2.661, de 8 de julho de 1998:
Art. 2.º - É permitido o emprego do fogo em práticas agropastoris e florestais,
mediante Queima Controlada.
Parágrafo único. Considera-se Queima Controlada o emprego do fogo como
fator de produção e manejo em atividades agropastoris ou florestais, e para
fins de pesquisa científica e tecnológica, em áreas com limites físicos
previamente definidos.
Art. 3.º - O emprego do fogo mediante Queima Controlada depende de prévia
autorização, a ser obtida pelo interessado junto ao órgão do Sistema Nacional
do Meio Ambiente - SISNAMA, com atuação na área onde se realizará a
operação. […]
Art. 4.º - Previamente à operação de emprego do fogo, o interessado na
obtenção de autorização para Queima Controlada deverá:
I - definir as técnicas, os equipamentos e a mão-de-obra a serem utilizados;
II - fazer o reconhecimento da área e avaliar o material a ser queimado;
III - promover o enleiramento dos resíduos de vegetação, para limitar a ação
do fogo;
IV - preparar aceiros de no mínimo três metros de largura, ampliando esta
faixa quando as condições ambientais, topográficas, climáticas e o material
combustível a determinarem;
V - providenciar pessoal treinado para atuar no local da operação, com
equipamentos apropriados ao redor da área, e evitar propagação do fogo fora
dos limites estabelecidos;
VI - comunicar formalmente aos confrontantes a intenção de realizar a
Queima Controlada, com o esclarecimento de que, oportunamente, e com a
antecedência necessária, a operação será confirmada com a indicação da
data, hora do início e do local onde será realizada a queima;

101
VII - prever a realização da queima em dia e horário apropriados, evitando-se
os períodos de temperatura mais elevadas e respeitando-se as condições dos
ventos predominantes no momento da operação:
VIII - providenciar o oportuno acompanhamento de toda a operação de
queima, até sua extinção, com vistas à adoção de medidas adequadas de
contenção do fogo na área definida para o emprego do fogo.
§ 1.º - O aceiro de que trata o inciso IV deste artigo deverá ter sua largura
duplicada quando se destinar à proteção de áreas de florestas e de vegetação
natural, de preservação permanente, de reserva legal, aquelas especialmente
protegidas em ato do poder público e de imóveis confrontantes pertencentes
a terceiros.
§ 2.º - Os procedimentos de que tratam os incisos deste artigo devem ser
adequados às peculiaridades de cada queima a se realizar, sendo
imprescindíveis aqueles necessários à segurança da operação, sem prejuízo
da adoção de outras medidas de caráter preventivo.
Art. 5.º - Cumpridos os requisitos e as exigências previstas no artigo anterior,
o interessado no emprego de fogo deverá requerer, por meio da comunicação
de Queima Controlada, junto ao órgão competente do SISNAMA, a emissão
de Autorização de Queima Controlada.

E ainda:

Art. l6 - O emprego de fogo, como método despalhador e facilitador do corte


de cana-de-açúcar em áreas passíveis de mecanização da colheita, será
eliminado de forma gradativa, não podendo a redução ser inferior a um quarto
da área mecanizável de cada unidade agroindustrial, a cada período de cinco
anos, contados da data de publicação deste Decreto.
Art. 17 - A cada cinco anos, contados da data de publicação deste Decreto,
será realizada pelos órgãos competentes, avaliação das consequências
socioeconômicas decorrentes da proibição do emprego do fogo para
promover os ajustes necessários nas medidas impostas.

Isso busca também conscientizar os agricultores sobre a utilização do fogo e,


muitas vezes, acaba levando a utilização de outros métodos ecologicamente mais
adequados. O incêndio é considerado crime no Brasil segundo a lei 9.605/98 que
assevera:
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

102
Parágrafo único. Se é crime culposo, a pena é de detenção de seis meses a
um ano, e multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar
incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humano:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.

Aula 3 - SALVAMENTO DE ANIMAIS SILVESTRES

O salvamento de animais vítimas dos incêndios florestais, deve ser executado


com equipamentos apropriados para a captura e contenção. Após a contenção física,
o animal deve ser preferencialmente acondicionado em recipientes específicos para
cada espécie.

3.1. Fatores que influenciam no salvamento de animais silvestres

Você sabia que a diferença entre a veterinária de animais domésticos e de


animais selvagens, reside na metodologia de abordagem e contenção dos animais?
Nesta esteira, é vital estudar os fatores que podem causar o stress, que se caracteriza
por ser o processo pelo qual os fatores ambientais superam os sistemas de regulação
do indivíduo e alteram o comportamento do animal.
São fatores estressantes:
Somáticos: sonoros, visuais, olfativos e táteis;
Psicológicos: medo, agressão, ansiedade e frustração;
Comportamentais: ambiente estranho, superpopulação, isolamento social,
transtornos territoriais e hierárquicos;
Outros: toxinas, doenças infecciosas e parasitárias, traumas, deficiências
nutricionais, confinamento e contenção.

103
3.2. Da contenção

A contenção pode ser física, química ou uma associação das duas.


Independentemente do meio empregado para conter o animal, é importante que seja
observado:
● a distância de luta e fuga da espécie;
● grau de domesticação;
● sexo (fêmeas são geralmente mais agressivas);
● condições físicas e psicológicas do animal;
● conhecer da espécie (comportamento, reações esperadas, habilidades de
defesa);
● local da contenção;
● segurança para a equipe envolvida;
● segurança para o animal (monitorando durante a contenção e recuperação)
● cuidado médico após o salvamento do animal;
● treino das técnicas de contenção.

Cabe destacar que durante a contenção o animal pode apresentar algumas


respostas como: fuga, postura defensiva, vocalização ou ataque. É importante
observar mudanças de comportamento, como:
● penas e/ou pelos arrepiados;
● urro, guincho e pio (sonidos) diferentes;
● excitabilidade;
● salivação excessiva (medo);
● mostrar dentes;
● movimento de cavar o chão.

3.2.1. Contenção física

É a contenção realizada com equipamentos e materiais adequados. São eles:


● dardos e pistolas para imobilização;
● cambão com laço;
● laço para mamíferos;

104
● gancho para ofídios;
● puçá ou passaguá;
● saco de pano;
● luva de raspa;
● forca ou forquilha;
● rede;
● caixa de contenção ou prensa;
● cano de PVC ou mangueira transparente.

3.2.2. Contenção química

É a contenção realizada com agentes químicos (tranquilizantes, anestésicos)


utilizando equipamentos como:
● zarabatanas (curtas distâncias);
● bastão de aplicação (curtas distâncias);
● pistolas de ar comprimido (médias distâncias);
● Rifle de dardos (longas distâncias ou para animais de grande porte).

3.3. Exemplos de materiais utilizados para a contenção de


animais:

Cambão com laço:


É uma peça de madeira ou metálica, com uma das extremidades de forma
retangular, em que existe uma tira de couro ou de aço em forma de laço, cuja abertura
é regulada por uma corda trançada, que corre externamente ao cabo. Passa-se a
laçada pela cabeça do animal a ser capturado e, na medida do possível, envolve-se
também um membro anterior. Traciona-se a corda para conter o animal. Para liberá-
lo, é só reduzir a tensão na corda.

105
Figura 63: Cambão com laço
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Gancho para ofídio:


O gancho é um ferro de 90°, com um cabo de madeira na extremidade oposta,
para segurá-lo. Gancho é passado sob o animal, cerca de no início de seu terço médio
e em seguida é erguido o suficiente para a retirada de seu apoio. A extremidade do
gancho com a cobra deve ser mantida a mais baixa possível para dificultar o acesso
do animal à mão do capturador por meio do cabo. O ofídio, eventualmente, poderá
subir pelo cabo do gancho devendo-se, neste caso, provocar um pequeno “tranco” no
gancho ou então soltar o animal para capturá-lo em seguida. Para a liberação deve-
se abaixar o gancho, de modo a fornecer apoio ao ofídio, evitando-se a queda do
mesmo e traumatismos provenientes disto.

106
Figura 64: Gancho para ofídio
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Puçá, passaguá ou coador:


É um equipamento indispensável para o manejo de captura de aves, mamíferos
e répteis. Pode ser confeccionado com cabo de madeira, de cano de PVC ou cano de
alumínio. Para a captura e medicação, deve-se ensacar o animal pressionando o aro
do puçá no chão. Provocar uma rotação na rede do puçá, levantando-o a seguir,
ficando o animal contido na sua parte inferior. Para a liberação, coloca-se o puçá no
chão, facilitando a saída do animal. Deve ser revestido com material macio e
acolchoado, para minimizar o impacto da mordida do animal, no ato da contenção,
evitando possíveis fraturas de dentes e outras lesões na boca.

Figura 65: Puçá, passaguá ou coador


Fonte: SCD/EaD/Segen.

107
Rede:
Geralmente são de corda de nylon, de diferentes tipos de malhas, dependendo
do tamanho e fragilidade do animal a ser capturado. Às vezes costuma-se usar, ao
invés das redes de corda de nylon, sacos de lona adaptados às armações de metal.
São utilizadas para conter animais velozes, de pequeno e médio porte, tais como
cervídeos e caprinos selvagens.

Figura 66: Rede


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Caixa de transporte:
Utilizadas para transportar animais de pequeno e médio porte, como aves,
répteis e mamíferos. Confeccionadas geralmente, com tela de arame, malha 16 de
uma polegada, com portas do tipo guilhotina.

Figura 67: Caixa de transporte

108
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Pano opaco:
Para controle de stress e manejo em geral. Utilizar tecido de cor escura e
resistente, cortado em pedaços de 03 metros ou mais se for usado para manejo de
condução de animais.

Saco de pano:
É um saco comum, com capacidade para 60 kg, como os utilizados para
acondicionamento e transporte de açúcar. Muito utilizada para pesagem e
acondicionamento de animais. O capturador deverá introduzir uma de suas mãos até
o fundo do saco e por meio dele prender o animal, com a outra mão, deve-se virar o
saco, cobrindo o animal. Em seguida fecha-se a boca do saco e libera o animal. Para
evitar-se risco de abafamento, os animais devem ficar contidos em sacos, o menor
tempo possível.

Figura 68: Saco de pano


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Luva de raspa:

109
É uma luva de raspa de couro de cano longo, com boa maleabilidade. Devem
ser sempre utilizadas quando se manipula os animais diretamente com as mãos ou
por equipamentos. Embora elas atrapalhem durante o manejo de animais de pequeno
porte, são necessárias para proteger de picadas, mordidas etc.

Figura 69: Luva de raspa


Fonte: SCD/EaD/Segen.

Mangueira:
Deve ser transparente e seu diâmetro um pouco maior do que o diâmetro da
serpente, para evitar que o animal consiga virar na mangueira.

Figura 70: Mangueira


Fonte: SCD/EaD/Segen.

110
Outros equipamentos:

Figura 71: Outros equipamentos de captura


Fonte: SCD/EaD/Segen.

3.4. Destinação dos animais salvos


Considerando a importância da integridade do habitat da espécie salva, é
importante dar a destinação correta, sobretudo se houver necessidade de cuidados
médicos, pois mantê-lo em seu ambiente natural ou mais próximo disso é fundamental
para a reabilitação. Os impactos causados pela soltura de animais fora de seu habitat,
tem a mesma proporção, senão maior, quanto os que morrem em incêndios. O
desequilíbrio ambiental que pode ser causado na introdução de uma espécie fora de
seu habitat, afeta totalmente todo o ecossistema, por isso a necessidade de
acompanhamento especializado. Cabe ressaltar que existem diversas instituições que
podem dar destinação correta aos animais salvos em meio aos incêndios florestais,
dentre elas:

111
● centros de triagem de animais silvestres;
● zoológicos;
● criadores autorizados (conservacionistas, científicos, comerciais);
● museus;
● instituições científicas de pesquisa e ensino.

112
Finalizando

Neste módulo, você aprendeu que:


• A prevenção dos incêndios florestais.
• A prevenção das fontes do fogo.
• A aplicação da legislação.
• Os sistemas preventivos da propagação do fogo.
• A silvicultura preventiva e os índices de perigo de incêndio.
• A legislação brasileira e as normativas jurídicas que tratam dos incêndios
em área rural.
• O salvamento de animais silvestres.

113
GLOSSÁRIO

Aceiro: são barreiras naturais ou faixas livres de vegetação, especialmente


construídas para impedir a propagação do fogo.
Acessórios: objeto que, individualmente e/ou em conjunto com outros, permite
ampliar ou melhorar a capacidade operacional, ou realizar uma tarefa. Exemplos:
rádio comunicador, binóculo e lima (para afiar motosserra).
Cauda ou base: é a parte de trás do incêndio, se propaga em direção oposta à frente
do fogo e lentamente.
Causa: quem ou o que ocasionou o incêndio.
CIF: combate a Incêndios Florestais.
Comandante da operação: responsável pela operação.
Combate direto: método de combate a incêndios florestais em que o fogo deve ser
atacado diretamente.
Combate indireto: método de combate a incêndios florestais onde se deve abrir um
aceiro na frente do fogo, podendo ainda usar o contrafogo para eliminar o combustível
entre o aceiro e a frente do fogo.
Combate misto, paralelo ou combinado: método de combate a incêndios florestais
em que se deve abrir uma pequena faixa de terra próximo à linha de fogo e, a partir
dela, utilizar o contrafogo ou atacar diretamente as chamas.
Contrafogo: é o método onde focos relativamente pequenos e controlados são
ateados sob condições favoráveis, a partir de uma linha de defesa, antes da frente do
fogo, visando consumir o combustível, eliminando ou reduzindo o incêndio.
Desmobilização: conjunto de operações necessárias para o retorno dos grupos de
combate a incêndios florestais ao quartel, recontagem do efetivo e equipamentos, e o
retorno ao estado de pronto emprego.
EPI: equipamento de proteção individual.
Equipamentos: máquina ou aparelho de certa complexidade que serve para realizar
uma tarefa e cujo princípio de ação consiste na transformação da energia para
aumentar a capacidade de trabalho. Exemplos: motosserra, motobomba e roçadeira.

114
Fagulhamento: ocorre quando fagulhas provenientes de material combustível
incendiado são expelidas e podem, quando em contato com outros combustíveis,
provocar novos incêndios.
Ferramentas: objetos manuais que servem para realizar uma tarefa com a energia
que provém diretamente do operador. Exemplos: Batedor, abafador e mcload.
Flancos: são as laterais do incêndio e se propagam perpendicularmente à “cabeça”.
Cabeça ou frente do fogo: também chamada de “linha de fogo” ou “cabeça”. É a
parte frontal do incêndio, que avança com maior velocidade e segue a direção do
vento.
GCIF: guarnição de combate ao incêndio florestal.
Incêndio florestal: é o fogo sem controle em florestas e demais formas de vegetação
Incêndio de copa: são incêndios que se propagam por meio das copas das árvores,
onde a velocidade e a intensidade do fogo são maiores e mais rápidas, devido à
grande circulação do vento.
Incêndio em terrenos baldios: são incêndios que ocorrem em terrenos baldios (sem
construção) no meio urbano, geralmente suas chamas não atingem grande altura em
razão do material combustível florestal disponível.
Incêndio subterrâneo: são incêndios que se propagam por meio das camadas de
húmus ou turfa existentes sobre o solo mineral e abaixo do piso da floresta. Esses
combustíveis são de textura fina, relativamente compactados e isolados da atmosfera.
Incêndio superficial: são incêndios que se propagam na superfície do piso da
floresta, queimando os restos vegetais não decompostos, tais como folhas e galhos
caídos, gramíneas, arbustos, enfim todo material combustível até cerca de 1,80
metros de altura.
Índice de perigo de incêndio florestal: indicam a probabilidade de ocorrer um
incêndio florestal.

115
Referências Bibliográficas

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05 Mai.
2021.

BRASIL. Lei Federal nº 9605/98. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas


derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm.
Acesso em: 06 Mai. 2021.

BRASIL. Lei Federal nº 12651/12. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;


altera as Leis nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996,
e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nº 4.771, de 15 de setembro de
1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de
agosto de 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 06 Mai. 2021.

BRASIL. Manual de determinação de causas de incêndios florestais.


PREVFOGO/U.S. DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Brasília. 1994.

BOTELHO, H. S. Efeitos do fogo controlado em árvores de povoamento jovens


de Pinus Pinaster. Vila Real, Portugal: UTAD, 1996.

BYRAM, G. M. Combustion of forest fuel. In: Davis, K.P., ed. Forest Fire: control and
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE GOIÁS. Manual Operacional de Bombeiros:


Prevenção e Combate a Incêndios Florestais. Goiânia. 2017.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Manual de


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