OTCA

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Universidade de Brasília

Departamento de Geografia
Geografia Política
Maria Luiza Vannucci Cagnoni 17/0132960
Relatório de Campo – OTCA

Introdução:

No dia 23 de maio de 2023, a turma de Geografia Política da Universidade de Brasília (UNB)


realizou uma visita de campo à sede da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
(OTCA), localizada em Brasília. O objetivo da visita foi proporcionar aos estudantes a
oportunidade de conhecer as atividades e a estrutura da organização regional voltada para a
cooperação e preservação da Amazônia.

A Amazônia é uma região de extrema importância não apenas para o Brasil, mas também para
os países vizinhos que compartilham o bioma amazônico. A OTCA desempenha um papel
fundamental na promoção da cooperação entre esses países, visando à preservação ambiental,
ao desenvolvimento sustentável e à proteção dos direitos indígenas.

Durante a visita à sede da OTCA, tivemos a oportunidade ímpar de aprofundar seus


conhecimentos sobre a geografia política da Amazônia e entender como essa região é abordada
no contexto das relações internacionais.

A visita ofereceu a oportunidade de interagir com especialistas e profissionais que trabalham


diretamente com questões relacionadas à Amazônia e à cooperação internacional. Essa troca
de conhecimentos e experiências enriqueceu a formação acadêmica dos estudantes presentes,
permitindo-nos ampliar nossa compreensão sobre a geografia política da Amazônia e as
complexidades envolvidas na gestão e proteção desse importante bioma.

OTCA:

A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) é um organismo


intergovernamental formado por oito países membros: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,
Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. A OTCA foi estabelecida como resultado do Tratado de
Cooperação Amazônica, assinado em 3 de julho de 1978. Seus principais objetivos são a
preservação do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais da Amazônia.

Em 1995, os países membros decidiram criar a OTCA e, em 2003, estabeleceram a Secretaria


Permanente da OTCA para fortalecer e implementar os objetivos do Tratado. A organização
reconhece a Amazônia como uma reserva estratégica e busca promover o desenvolvimento
harmônico da região, por meio da coordenação, desenvolvimento, promoção e implementação
de programas, projetos e atividades.

A OTCA atua em diversos eixos de trabalho, incluindo a proteção e conservação da


biodiversidade e dos recursos florestais, a inclusão e participação dos povos indígenas e
comunidades tribais na gestão de seus recursos e na proteção de seus conhecimentos
tradicionais, o manejo integrado e uso sustentável dos recursos hídricos, a melhoria da
qualidade de vida das populações amazônicas e ações conjuntas para enfrentar os impactos das
mudanças climáticas na região.

Os países membros estão financeiramente comprometidos com o trabalho da OTCA, mas a


organização também busca financiamento por meio de parcerias estratégicas para ampliar seu
impacto e promover o desenvolvimento sustentável na região amazônica. A OTCA integra a
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e outros acordos internacionais em suas
ações e estratégias.

A OTCA desempenha um papel crucial na promoção da cooperação regional e na busca por


soluções conjuntas para os desafios socioambientais da Amazônia, visando a preservação desse
ecossistema único e o bem-estar das comunidades locais.

Visita:

No dia 23 de maio, às 15h, uma turma de Geografia Política da Universidade de Brasília (UnB)
teve a oportunidade de visitar a sede da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica) em Brasília. O encontro inicial ocorreu em frente ao prédio, onde o professor
Daniel, proporcionou aos estudantes uma breve e envolvente introdução ao tema.

Foto1: Recepção da OTCA


Fonte: Maria Luzia (2023)

Foto 2: Sala de Reuniões

Fonte: Maria Luiza (2023)

Após a chegada ao prédio da OTCA, fomos calorosamente recepcionados por Ana Neiva,
Assistente Executiva Júnior, que nos guiou por uma palestra introdutória abrangendo diversos
aspectos importantes. Ana iniciou sua apresentação abordando a Amazônia, explicando sua
importância como um dos ecossistemas mais ricos e diversos do mundo. Ela discorreu sobre a
vasta biodiversidade da região e a relevância global de sua preservação.
Em seguida, Ana nos conduziu pela história da OTCA, detalhando sua fundação em 1995 por
meio do Tratado de Cooperação Amazônica. Ela explicou que a organização foi estabelecida
pelos países amazônicos com o objetivo de promover a cooperação regional para a conservação
e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

A palestra de Ana também abordou a estrutura decisória da OTCA. Ela explicou como a
organização é composta por órgãos como Secretaria permanente (SP/OTCA), Reunião de
Ministros das Relações Exteriores, Conselho de Cooperação Amazônica (CCA), Comissão de
Coordenação do Conselho de Cooperação Amazônica (CCOOR).

Durante a palestra, Ana Neiva também abordou os eixos de trabalho da OTCA, detalhando as
áreas prioritárias em que a organização concentra seus esforços. Esses eixos compreendem:

1. Recursos Naturais:

- Conservação e manejo sustentável de florestas.

- Gestão de recursos hídricos.

- Monitoramento e controle de margens de rios.

- Proteção de espécies ameaçadas de fauna.

- Combate ao comércio ilegal de recursos naturais.

- Promoção do uso sustentável dos recursos naturais.

2. Socioeconômicos:

- Apoio a micro, pequenas e médias empresas.

- Promoção da bioeconomia na região amazônica.

3. Saúde:

- Alerta antecipado e prevenção de surtos e epidemias.

- Desenvolvimento de uma estrutura estratégica para a proteção dos povos indígenas em


isolamento e contato inicial.

4. Tecnologia e Conhecimento:

- Observatório Regional Amazônico (ORA).

- Gestão e intercâmbio de conhecimentos.


- Pesquisa e capacitação.

- Diálogos intersetoriais e multidisciplinares.

- Diálogo intercultural e intercientífico.

- Rede de Centros de Pesquisa da Amazônia.

- Monitoramento de áreas degradadas.

5. Mudança Climática:

- Segurança hídrica.

- Desenvolvimento do Atlas da Vulnerabilidade Hidroclimática.

- Modelagem de cenários de mudanças climáticas.

- Base de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês).

- Parcerias com a Organização Meteorológica Mundial (WMO), Programa Hidrológico


Internacional (IHP) da Unesco e França.

- Alertas antecipados relacionados a eventos climáticos.

6. Povos Indígenas:

- Proteção do conhecimento tradicional indígena.

- Proteção dos povos indígenas em isolamento voluntário e em contato inicial.

- Saúde indígena em áreas de fronteira.

Esses eixos de trabalho demonstram a abrangência das áreas de atuação da OTCA, refletindo
seu compromisso em abordar questões socioambientais, promover o desenvolvimento
sustentável e proteger os povos indígenas na região amazônica. A organização busca aliar
conhecimentos tradicionais e científicos, estabelecendo parcerias e promovendo o intercâmbio
de experiências para enfrentar os desafios complexos que a região amazônica enfrenta.

Após a palestra de Ana Neiva, tivemos a oportunidade de ouvir Carlos Macedo, Coordenador
do Projeto Plano de Contingência para a Proteção da Saúde de Povos Indígenas, que nos
proporcionou um maior entendimento sobre a situação dos povos indígenas na Amazônia e
detalhou o seu trabalho nesse contexto.
Carlos Macedo iniciou compartilhando informações sobre os desafios enfrentados pelos povos
indígenas na região amazônica, incluindo questões relacionadas à saúde, preservação cultural
e territorial, e os impactos das atividades humanas na região.

Em seguida, ele nos explicou sobre o Projeto Plano de Contingência para a Proteção da Saúde
de Povos Indígenas, destacando sua importância diante da atual conjuntura de pandemia e
outras ameaças à saúde dessas comunidades. Ele enfatizou que o projeto busca desenvolver
estratégias e ações efetivas para garantir a proteção e o cuidado da saúde dos povos indígenas
na região amazônica.

Após a apresentação de Carlos Macedo, tivemos a honra de receber o Embaixador Carlos


Alfredo Lazary Teixeira, Diretor Executivo da OTCA, que deu continuidade à conversa e
prontamente respondeu a todas as perguntas que foram levantadas.

O Embaixador Lazary Teixeira compartilhou sua experiência e conhecimento sobre a atuação


da OTCA, fornecendo insights valiosos sobre a importância da cooperação entre os países
amazônicos e os desafios enfrentados na busca pelo desenvolvimento sustentável da região.

O Embaixador Lazary Teixeira demonstrou profundo conhecimento sobre os temas discutidos


e trouxe clareza às questões levantadas pelos participantes. Sua abordagem aberta e receptiva
criou um ambiente propício para o diálogo e enriqueceu ainda mais a nossa visita à sede da
OTCA.

Foto 3
Fonte: Maria Luzia (2023)

Após a conversa com o Embaixador, tivemos o privilégio de ser apresentados ao Observatório


Regional Amazônico (ORA). Nessa etapa da visita, fomos conduzidos a conhecer as
instalações e recursos disponíveis no ORA, que é um centro de referência para informações
abrangentes sobre a biodiversidade, recursos naturais, fauna, florestas e povos da Amazônia.

Durante a apresentação, pudemos explorar o acervo de dados, mapas, publicações e material


multimídia disponíveis no ORA. Esses recursos são provenientes de fontes oficiais dos países
membros da OTCA e de outras instituições que geram informações relevantes sobre a
Amazônia.

O ORA demonstrou ser uma ferramenta valiosa para pesquisadores, acadêmicos, formuladores
de políticas e demais interessados na região amazônica, oferecendo um acesso fácil e
abrangente a informações atualizadas. A visita ao ORA proporcionou uma compreensão mais
profunda sobre a biodiversidade, os recursos naturais e as questões socioambientais da
Amazônia, contribuindo para a promoção da cooperação e o intercâmbio de conhecimentos na
busca pela preservação e desenvolvimento sustentável da região.

ORA
Fonte: Maria Luiza (2023)

Revisão bibliográfica:

O artigo de Nora Mareï e Yann Richard “Regionalizações do mundo e integração


macrorregional: por um aumento da generalidade geográfica”aborda a relevância da integração
macrorregional na sociedade contemporânea e destaca a necessidade de uma definição e
conceitualização mais precisa dos termos relacionados, como região, regionalização,
regionalismo e integração espacial. Também explora as abordagens geográficas aplicadas às
grandes regiões do mundo e reconhece a contribuição dos geógrafos para o estudo da
integração macrorregional. O texto ressalta a falta de consenso e clareza conceitual nesse
campo de estudo, destacando a importância de desenvolver uma estrutura conceitual
abrangente e organizada para compreender a integração macrorregional de forma mais
coerente. Além disso, discute as dificuldades de medir e comparar a integração macrorregional,
enfatizando a importância de examinar esse processo em diferentes escalas e levar em
consideração as práticas dos diversos atores envolvidos.

A integração regional é um tema de grande importância em diversas disciplinas, como


Economia, Ciência Política e Direito Internacional. No entanto, é evidente que os trabalhos
produzidos nessas áreas são dispersos e frequentemente não há consenso sobre os quadros
teóricos e definições utilizadas. Termos como "regionalização", "regionalismo" e "integração
regional" são frequentemente utilizados de forma vaga e sem uma definição clara, levando à
confusão conceitual.

Na Ciência Política, Relações Internacionais e Direito Internacional, é comum adotar


abordagens estadocêntricas, onde os governos e os Estados são vistos como atores principais
do regionalismo e da integração regional. Essa visão é criticada por negligenciar outros atores
e dimensões importantes. Por exemplo, a Sociologia das Relações Internacionais destaca a
importância de outros atores, independentemente de seu nível e natureza.

No Direito Internacional, a integração é entendida como a criação de conjuntos de instituições


comuns por parte dos Estados em um acordo regional. Já na Economia, os trabalhos de Béla
Balassa são referência para medir os níveis de integração, utilizando uma escala que vai desde
acordos de livre comércio até mercados únicos, por exemplo. No entanto, essas abordagens
econômicas tendem a dar uma importância excessiva às forças e dinâmicas institucionais,
considerando um acordo regional comercial como suficiente para criar uma região.

Abordagens mais recentes, como o "novo regionalismo" no contexto do construtivismo social,


propõem análises que levam em conta igualmente os Estados, atores econômicos e sociedades
civis, buscando compreender as modalidades de integração. Além disso, algumas disciplinas
têm negligenciado o espaço geográfico em suas pesquisas, considerando-o apenas como um
pano de fundo distante, sem uma investigação aprofundada.

As abordagens clássicas muitas vezes apresentam um caráter setorial, limitando-se a um único


domínio e fornecendo uma representação simplificada da realidade. Poucos autores têm uma
visão global da integração macro-regional, e alguns economistas questionam a validade das
classificações tradicionais do regionalismo. Eles destacam a importância de considerar não
apenas as dimensões econômicas e comerciais, mas também iniciativas conjuntas em
segurança, desenvolvimento e outras áreas. Além disso, esses estudos enfatizam que a
integração regional pode surgir de práticas de atores em redes comerciais, financeiras, culturais
e tecnológicas, buscando complementaridades entre territórios vizinhos.

Bibliografia:

MAREÏ, Nora; RICHARD, Yann. Régionalisations du monde et intégration (macro)régionale.


Pour une montée en généralité géographique In: Belgeo Revue belge de géographie n. 4, 2020.
Disponível em: https://journals.openedition.org/belgeo/pdf/43451.

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