BEATRIZ PPT - Final Conceição Evaristo

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A FORÇA DA CORRENTEZA: RESISTÊNCIA E MATERNIDADE NAS OBRAS

“OLHOS D’ÁGUA” E “QUANTOS FILHOS NATALINA TEVE?”, DE CONCEIÇÃO


EVARISTO

NOME: BEATRIZ COSTA DOS SANTOS

ORIENTADORA: PROF.ª DRA. CRISTINA PRATES

RIO DE JANEIRO, 2022


CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho aborda o livro de contos Olhos d’água, de
Conceição Evaristo (2014), que apresenta 15 contos sobre diversos
personagens negros, em sua maioria, com condição similar. Dentre as
histórias, selecionamos duas delas: “Olhos d’água” e “ Quantos filhos
Natalina teve?”, a fim de analisá-las sob a evidência de uma voz afro-
brasileira, que rompe com as marcas literárias coloniais ao
representar a maternidade negra na literatura.

O 1º capítulo apresenta a “Literatura afro-brasileira feminina:


uma poética da resistência”; o 2º capítulo aborda a produção literária
da autora: “Conceição Evaristo: escrevivências ficcionais”; e o último
capítulo destina-se à análise dos contos “Olhos d’água” e “Quantos
filhos natalina teve?” com o objetivo de evidenciar a importância da
matriz africana na construção do nosso país.
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL:

O objetivo geral desta pesquisa é analisar os contos “Olhos d’água” e “Quantos


filhos Natalina teve?” de Conceição Evaristo para demonstrar como a autora busca,
através da literatura afro-brasileira, afirmar a legitimação maternal das mulheres
negras como elemento basilar para a sobrevivência e resistência das famílias
afrodescendentes e como mecanismo principal em busca da importância da
ancestralidade africana na formação da cultura nacional.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

- Apresentar o percurso das principais autoras afro-brasileiras;


- Demonstrar como a autora Conceição Evaristo, através das suas escrivências
denuncia as injustiças sociais;
- Apontar as marcas literárias coloniais advindas de um passado escravo;
- Expor como, nos contos analisados, Evaristo apresenta a mulher negra através da
sua própria autoapresentação, distanciando-se de estereótipos sociais e literários.
EMBASAMENTO
TEÓRICO-METODOLÓGICO
Em nosso trabalho, escolhemos empregar o método de pesquisa qualitativa para
analisar os textos selecionados, relacionando-os com teorias de outros
escritores cujos estudos coincidem com os temas apresentados, tais como
desconstrução de estereótipos, literatura afro-brasileira feminina, preconceito
racial e de gênero, entre outros assuntos. Além disso, utilizamos a pesquisa
bibliográfica, coletando e adicionando dados de autores que abordam a literatura
afro-brasileira feminina, com ênfase nas obras de Conceição Evaristo.
Na nossa pesquisa empregaremos as orientações teóricas sobre a literatura
afro-brasileira feminina a partir da produção das autoras EVARISTO (2007);
BERND (2012); FERREIRA; MIGLIOZZI (2016); NASCIMENTO (2006); a
respeito das orientações crítico-literárias acompanharemos os trabalhos de
DUARTE (2010; 2006); DALCASTAGNÈ (2012); SANTIAGO (2019); e para
sustentar a análise dos contos consideraremos as pesquisas de DUARTE
(2010); RONCADOR (2018); ANDRADE (2018); DUARTE, C. L (2017);
DIÓGENESES (2018).
DISCUSSÃO
ESCREVIVÊNCIA: “ESCRITA”, “VIVÊNCIA”, “SOBREVIVÊNCIA”

Sabendo que escrever sobre as mulheres negras é uma maneira de


mostrar a realidade discriminatória à qual elas são impostas, as obras de
Conceição Evaristo denunciam e resistem, com um toque de esperança em
relação a melhora da sociedade, sempre se opondo à conivência social diante
da violação dos direitos humanos e do apagamento da cultura afro-brasileira,
como revelam as próprias palavras da autora: “Escrevo. Deponho. Um
depoimento em que as imagens se confundem, um eu-agora a puxar um eu-
menina pelas ruas de Belo Horizonte. E como a escrita e o viver se con
(fundem), sigo eu nessa escrevivência” (EVARISTO, 2009).
DISCUSSÃO

Na obra intitulada como Olhos d’água (2014),


Conceição Evaristo elabora um conjunto de narrativas
composto por 15 diferentes contos que se entrecruzam
ao discorrerem sobre a vida de mulheres e homens
negros que padecem as mais variadas violências e
depreciações sociais. Toda via, logo em seu primeiro
conto que leva o mesmo título de seu livro, podemos
perceber que a autora vai além de um tema vinculado
apenas ao sofrimento, ao direcionar o leitor ao aspecto
ancestral e identitário afro-brasileiro, que perpassa e
reconforta a dolorosa realidade de seus personagens.
DISCUSSÃO
Podemos perceber, ao longo do conto “Olhos d’água”, a recorrência pelo
resgate da cor dos olhos da mãe, da ancestralidade e da matriz africana, ao
vermos que a personagem mergulha em seus próprios pensamentos para
encontrar a resposta que tanto a aflige. Lucas Toledo de Andrade discursa
sobre essa questão afirmando, em seu trabalho, que essa submersão nas
lembranças da infância tem como objetivo evidenciar o significado da
ancestralidade africana na formação cultural do nosso país:

Desse modo a autorrepresentação da mulher negra, por meio de uma


narradora, que busca saber a cor dos olhos da mãe algo que pode ser
entendido como uma metáfora para um mergulho na própria ancestralidade
africana e nas memórias da infância dessa personagem, traz a figura da negra
a uma raiz familiar: a uma raiz profunda e se confunde com as raízes do
próprio Brasil e da África, o que em certa medida, põe em evidência a
importância da mulher negra e da descendência africana na formação da
cultura nacional, o que foi banalizado pela historiografia nacional. (ANDRADE,
2018, p. 8-9)
DISCUSSÃO
No conto “Quantos filhos Natalina teve?” a personagem é marcada por
diversas violências. Natalina era uma menina de apenas 13 anos que, sem
orientação sobre os cuidados que precisa ter com o próprio corpo, engravida
pela primeira vez. Resistindo à violência que sofre de sua mãe, ao pavor e ao
ódio das gravidezes indesejadas, às idealizações de um namorado que quer
construir uma família, ao desejo de sua patroa em ser mãe e à dolorosa
violação de um estupro, a personagem encontra forças para ser dona de suas
próprias convicções e seguir com seu primeiro filho, fruto de sua braveza.

A personagem contraria “[...] o instinto maternal, a fragilidade e a dependência"


(PINSKY, 2012, 64 p. 471), para buscar os ideais considerados masculinos:
"força, racionalidade e coragem” (PINSKY, 2012, p. 471).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já discorremos em nossa pesquisa, a ausência do tema da
maternidade negra é uma das mais latentes questões apontadas por Evaristo
(2005). Como para ela “o corpo da mulher se salva pela maternidade”, o
apagamento da maternidade em afrodescendentes provoca na autora
reflexões a respeito da literatura e a história ocultar “(...) os sentidos de uma
matriz africana “(EVARISTO, 2005, p. 202). Os contos “Olhos d’água” e
“Quantos filhos Natalina teve?” mostram o protagonismo materno
afrodescendente, evidenciando este sentido da matriz africana para a
construção do nosso Brasil, além de mostrar como as mães presentes nessas
narrativas têm a força de uma correnteza. Se por um lado, Natalina sofre as
mais variadas violências, por outro, ela é capaz de ressignificar os
acontecimentos e seguir com seu filho. E, se no conto “Olhos d’água” uma
família sofre brutalmente com a falta de alimentos, há também uma mãe que
ressignifica as vivências e alimenta suas filhas com brincadeiras para distrair a
fome.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, acreditamos serem esses olhos molhados, negros e
maternos a fonte que irá lavar os estigmas que ainda se impõem sobre os
corpos afrodescendentes maternos na literatura e no imaginário social
brasileiro. Assim como o som das ondas dos mares, as vozes negras
propagam-se exigindo seu lugar na maternidade, nas mesmas águas outrora
navegadas pelos colonizadores. Negando-se a contar novamente as histórias
que serviam para ninar os da casa-grande, as mães negras, fortes como a
correnteza, narram hoje as suas próprias histórias que, apesar de todo
preconceito oriundo de um passado escravagista, “em baixa voz, violent[am]
os tímpanos do mundo” (EVARISTO, 2008).
REFERÊNCIAS
ANDRADE, L. T. Ancestralidade, memória e autorrepresentação da mulher negra na
Literatura Afro-brasileira contemporânea em “Olhos d’água” de Conceição Evaristo. Revista
Entrelaces, v. 1, n. 14, out/dez (2018), Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2018.
BERND, Zilá. “Apresentando a Antologia de poesia afro-brasileira: 150 anos de consciência
negra no Brasil”. R. Educ. Públ. Cuiabá, v. 21, n. 46, p. 261-274, maio/ago. 2012.

DALCASTAGNÈ, R. Um território contestado: literatura brasileira contemporânea e as


novas vozes sociais. Revista Iberical, Paris, n. 2, p. 13-18, 2012. Disponível em:
http://iberical.paris-sorbonne.fr/wp-content/uploads/2012/03/002-02.pdf. Acesso em: 20 fev.
2019.

DIÓGENES, S. R.; CARDOSO, S.M. Representação do corpo subalterno da mulher negra


em contos de Conceição Evaristo. Revista Textura, Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, 2018.

DUARTE, C. L. Gênero e violência na literatura afro-brasileira. Literafro, UFMG. Disponível


em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/arquivos/artigos/teoricos-
conceituais/ArtigoConstancia1generoeviolencia.pdf. Acesso em: 12 mar. 2022.
REFERÊNCIAS
DUARTE, E. A. O Bildungsroman afro-brasileiro de Conceição Evaristo. Revista Estudos
Feministas, Florianópolis, v. 14, n. 1, jan.-abr. 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ref/a/g7gPJT4f9yzqMyFyLxR6HBb/?lang=pt. Acesso em: 03 jun.
2022.

DUARTE, E. A. Por um conceito de literatura afro-brasileira. Literafro, UFMG, 2010.

EVARISTO, C. Da representação à autoapresentação da Mulher Negra na Literatura


Brasileira. Revista Palmares: cultura afro-brasileira, Brasília, a. 1, n. 1, p. 52-57, ago. 2005.
Disponível em: http://www.palmares.gov.br/sites/000/2/download/52%20a%2057.pdf.
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EVARISTO, C. Entrevista. In: PEREIRA, E. de A. (org.). Malungos na escola. Questões


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EVARISTO, C. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. Scripta, Belo


Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 17 dez. 2009. Disponível em:
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REFERÊNCIAS
EVARISTO, C. Poemas de recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala,
2008.
FERREIRA; MIGLIOZZI. Literatura afro-feminina brasileira do século XXI: corpo, voz, poesia
e resistência. XV Abralic. Disponível em:
https://abralic.org.br/anais/arquivos/2016_1491524538.pdf. Acesso em: 02 jun., 2022.

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RONCADOR, S. O mito da mãe preta no imaginário literário de raça e mestiçagem cultural.
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Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/view/9437/8338. Acesso
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SANTIAGO, S. O entre-lugar do discurso latino-americano. In: SANTIAGO, S. Uma
literatura nos trópicos. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

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