Olhos D'água - Conceição Evaristo - Resumo Dos 15 Contos

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OLHOS D’ÁGUA – CONCEIÇÃO EVARISTO

A autora

Maria da Conceição Evaristo Brito nasceu numa favela em Belo Horizonte, em 1946. De
origem humilde, teve de conciliar os estudos com o trabalho como empregada doméstica, até
concluir o curso Normal, em 1971. Migrou para o Rio de Janeiro, onde passou num concurso
público para o magistério, trabalhou como professora na rede pública de ensino da capital
fluminense. Estudou Letras na UFRJ. É Mestra em Literatura Brasileira, pela PUC-Rio, e Doutora
em Literatura Comparada, pela Universidade Federal Fluminense.
Na década de 1980, entrou em contato com o Grupo Quilombhoje. Estreou na literatura em
1990, com obras publicadas na série Cadernos Negros, publicada pela organização. Suas obras
abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. Vários prêmios recebidos
atestam o reconhecimento da crítica e do público.
Participa ativamente dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país.
Defende o domínio da leitura e da escrita como um direito de todos, como fator essencial para o
exercício pleno de cidadania.
É uma das mais influentes escritoras do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos
gêneros romance, conto, ensaio e poesia.

Escrevivência

A produção literária de Conceição Evaristo está enraizada no universo social e cultural afro-
brasileiro. É a partir da consciência do lugar de fala da mulher afrodescendente que ela produz sua
ficção.
Sua escrita reflete vivência do que é narrado por ela, bem como a linha tênue que separa
realidade vivida e ficção. Conceição Evaristo explica o que significa o conceito escrevivência
relacionado à sua escrita:

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Olhos d’água – Conceição Evaristo
Eu venho trabalhando com esse termo desde 1994, 1995, quando eu faço a minha
dissertação de mestrado, e aí eu começo a fazer um jogo entre escrever-viver, escrever-se-ver,
escrever-se-vendo, escrevendo-se, até chegar ao termo escrevivência. Mas o ponto de nascimento
dessa ideia traz um fundamento histórico, que é esse processo de escravização dos povos
africanos e eu estou pensando muito nas mulheres africanas e suas descendentes escravizadas. E
por isso que eu digo: “a nossa escrevivência não é para adormecer os da casa grande, e sim para
acordá-los de seus sonos injustos”.
Disponível em: https://www.geledes.org.br/conceicao-evaristo-aescrevivencia-das-mulheres-negras-reconstroi-a-
historia-brasileira.
Acesso em: 16 dez. 2022.

Assim, o termo “escrevivência” diz respeito ao anseio da autora mineira por uma sociedade
inclusiva, que abarque perspectivas diversas de estar e compreender o mundo. Ainda sobre esse
aspecto, tem-se o seguinte depoimento de Conceição Evaristo:
Escrevivência a gente pode pensar em uma escrita que é profundamente comprometida com
a vida, é profundamente comprometida com a vivência, é... mesmo no processo de funcionalização
eu vou ficcionalizar a partir de fatos, de situações reais, que podem ser da minha vivência ou não,
que podem ser em função da minha história particular, como pode ser da minha história coletiva e
sempre em uma escrita marcada pela minha condição pela minha vivência de mulher negra na
sociedade brasileira.
Brito, Maria da Conceição E. Conceição Evaristo. “Não nasci rodeada de livros, mas de palavras, através da literatura
oral”. El Pais, Paraty, jul, 2017.
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/29/cultura/
1501282581_629505.html. Acesso em: 17 jan. 2023.

 Resumo dos contos

1. Olhos d’água

Este conto abre o livro e o nomeia. O eu que narra denuncia um contexto desfavorável, de
sofrimento, mas também destaca a força da mulher negra, que resiste e inventa maneiras de
sobreviver.
A narradora e protagonista reverencia suas ancestrais, identificando-se com elas a partir da
representação simbólica da cor dos olhos. Em quase todos os contos do livro, há invenção poética
de palavras compostas por hifenização. No conto “Olhos d’água”, destaca-se o neologismo
“boneca-mãe” (p. 16)
O tempo da enunciação é o presente. A narradora-personagem conta que acordou numa
noite, há tempos, sem saber ao certo onde estava, perturbada por um pensamento que tinha se
tornado cada vez mais angustiante. O questionamento “De que cor eram os olhos de minha mãe?”
(p. 16)
A narradora recordou de algumas histórias da infância de sua mãe, que nascera “num lugar
perdido no interior de Minas” (p. 16).
Ali havia carência de tudo: roupas, alimentos, brinquedos. Sua própria história na infância
confundia-se com a vivida pela mãe, o que denuncia as consequências cruéis vivenciadas ainda
hoje pela população afro-brasileira decorrentes da escravização. Note-se que a precariedade da
condição social e a discriminação, aspectos advindos da escravização e ainda hoje não resolvidos,
estão presentes em todos os contos do livro Olhos d’água e são apresentados como forma de
denúncia.

2. “Ana Davenga”

Segundo conto do livro Olhos d’água. Ana e seu companheiro, Davenga, viveram uma vida de
riscos que terminou com um final trágico. No conto, há presença de discurso indireto livre e de uma

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fala em discurso direto, marcadamente informal “Mulher, tá pancada? Parece que bebe? Esqueceu
da vida? Esqueceu de você?” (p. 29).
Destaca-se o neologismo: “gozo-pranto”, que mostra a ambiguidade do líder da favela,
homem capaz de atos cruéis, mas também dotado de sensibilidade em sua relação amorosa:
Davenga que era tão grande, tão forte, mas tão menino, tinha o prazer banhado em lágrimas.
Chorava feito criança. Soluçava, umedecia ela toda. Seu rosto, seu corpo ficavam úmidos das
lágrimas de Davenga. E todas as vezes que ela via aquele homem no gozo-pranto, sentia uma dor
intensa (...) (p. 23)
A narrativa é feita por um narrador onisciente. No início do conto, Ana estava aflita. Na favela,
havia uma senha composta por batidas de samba, que indicava algum tipo de festividade, mas Ana
sentia o coração apertado pela ausência de Davenga, seu companheiro.

3. “Duzu-Querença”

Terceiro conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre. A protagonista, Duzu,
no final do percurso de sua vida repleta de enormes sofrimentos, tem uma ligação forte com sua
neta Querença, menina que, no conto, representa a esperança de renovação e de novas
possibilidades de vida.
Note-se que o tema da esperança renovada nos descendentes está presente também no
último conto do livro, chamado “Ayoluwa, a alegria do nosso povo”.
Na cena inicial, Duzu, caracterizada como uma mendiga, ao lado de outros iguais a ela,
tentava sobreviver na escadaria de uma igreja, sofrendo o escárnio daqueles que por ela
passavam e a consideravam um incômodo no caminho. Duzu alucinava de fome e recorria à sua
imaginação para amenizar esse sofrimento. Já idosa, mal conseguia se manter de pé. No entanto,
resistia, apelando para a dimensão imaginária: “Ela é que não ia ficar ali assentada. Se as pernas
não andam, é preciso ter asas para voar” (p. 32).
Veja-se que o tema da estigmatização social e racial está presente em outros contos do
livro.

4. “Maria”

Quarto conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre e de discurso direto.
Narra a trajetória de uma mulher negra e mãe de três filhos, que, ao voltar para sua casa, depois
do trabalho, é linchada pelos passageiros do ônibus que ocupava, por ter sido poupada do
assalto. Destacamos um trecho do conto que evidencia a violência do racismo e suas
consequências nefastas:
Olha só, a negra ainda é atrevida, disse o homem, lascando um tapa no rosto da mulher.
Alguém gritou: Lincha! Lincha! Lincha! ... Uns passageiros desceram e outros voaram em direção
à Maria. (p. 42)
A protagonista desse conto é Maria, mulher negra, empregada doméstica, mãe dedicada.
Para garantir a subsistência de seus filhos pequenos, ela trabalhou até num domingo, numa festa
na casa de sua patroa. Nessa ocasião, sofreu um acidente de trabalho, um corte nomeio da mão,
enquanto cortava o pernil. No dia seguinte, a palma de sua mão doía e ela pensava: “Que coisa!
Faca a laser corta até a vida!” (p. 40).

5. “Quantos filhos Natalina teve?”

Quinto conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre e discurso direto. A
protagonista, Natalina, estava grávida. Era sua quarta gravidez, mas era o primeiro filho
somente seu. Seus outros filhos foram dados, por diferentes motivos. Era muito jovem quando
engravidou pela primeira vez. Tinha catorze anos.
Natalina, no final da narrativa, estava fugindo do comparsa daquele homem que havia
matado. Apesar do perigo, estava feliz, pois iria ter um filho em breve: “Um filho que fora concebido

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nos frágeis limites da vida e da morte” (p. 50). Note-se que o tema da extrema vulnerabilidade da
existência no ambiente hostil, de exclusão, reaparece em outros contos do livro.

6. “Beijo na face”

Sexto conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre. Nesse conto, há a
denúncia de uma sociedade em que mulheres vivenciam relacionamentos abusivos. Há
também a expressão de novas formas amorosas. Destaca-se o neologismo “borboletamenina”:
“Salinda tombou suavemente o rosto e com as mãos em concha colheu, pela milésima vez, a
sensação impregnada do beijo em sua face. Depois, com um gesto lento e cuidadoso, abriu as
palmas das mãos, contemplando-as. Sim, lá estava o vestígio do carinho. Algo tão tênue, como os
restos de uma asa amarela, de uma borboleta-menina, que foi atropelada nos primeiros instantes
de seu inaugural voo (...)” (p. 51)
No início do conto, a protagonista vivencia mais uma vez a sensação de ter sido beijada no
rosto. Foi um carinho tênue, suave. Ela se lembrou mais uma vez do corpo que estivera ao seu
lado. Ela estava conhecendo uma nova forma de amor. No começo essa aprendizagem foi difícil
para ela, pois esse amor tinha de ser vivido de forma secreta.

7. “Luamanda”

Sétimo conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre. Destaca-se o


neologismo: “vida-estrada”. Luamanda, a protagonista, observou-se e notou que parecia muito
mais jovem do que era, que “estava inteirinha, apesar de tantos trambolhões e acidentes de
percurso em sua vida-estrada” (p. 59).
Ela sentia a influência da lua e sentia a pulsação de eros no seu peito de mulher. Ela se
indagava se “haveria um tempo em que as necessidades do amor seriam saciadas” (p. 60).
Recordou a primeira paixão, quando tinha onze anos. Vivera um amor platônico. Aos treze anos,
teve um relacionamento com um garoto. Mais tarde, quando ela já tinha tido acumulado diversas
vivências, apaixonou-se imensamente à primeira vista e com esse homem teve cinco filhos.

8. “O cooper de Cida”

Oitavo conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre e de discurso direto. O
neologismo “tempo-espaço” (p. 66) refere-se a uma compreensão da protagonista de que, no
vertiginoso espaço citadino, ela precisaria viver o tempo com mais vagar, conforme o tempo da
natureza.
A protagonista Cida, ao amanhecer, costumava praticar cooper em Copacabana. No entanto,
naquele dia, algo no clima e no movimento das ondas do mar fez com que ela andasse cada vez
mais devagar. Ela era uma desportista natural. Sua rotina era corrida: cooper, ida à padaria,
compra de jornal, leitura apressada das notícias, pois ela tinha feito um curso de leitura dinâmica.
Casa, banho ligeiro, desjejum, uniforme, saída ligeira para o trabalho, ia pelas escadas porque era
mais rápido. Cida “corria sobre a corda bamba, invisível e opressora, do tempo. Era preciso
avançar, avançar e sempre” (p. 66).

9. “Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos”

Nono conto. Narrador onisciente. Discurso indireto livre e discurso direto. Esse conto aborda a
vulnerabilidade extrema a que crianças afrodescendentes são expostas por viverem em
espaços destinados aos despossuídos da sociedade. Nele, destaca-se o neologismo:
“figurinha-flor” (p. 71), que, de forma ambígua, parece se referir a um brinquedo muito estimado por
uma menina, mas também à Zaíta, que teve o corpo frágil de criança atingido por balas “que
desabrochavam no tiroteio como flores malditas” (p. 76).

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A protagonista chama-se Zaíta. No início do conto, a menina brinca com figurinhas no chão
de um barraco. Faltava: “a mais bonita, a que retratava uma garotinha carregando uma braçada de
flores” (p. 71). Zaíta pensou que sua irmã gêmea, Naíta, devia ter pegado a figurinha e ela não
podia reclamar com a mãe, senão as duas meninas seriam castigadas e todas as figurinhas seriam
destruídas. A mãe de Zaíta, chamada Benícia, tinha chegado do supermercado. Estava cansada.
Tinha trinta e quatro anos e quatro filhos. Os dois filhos já estavam crescidos. O primogênito estava
no exército e o outro filho na criminalidade.

10. “Di Lixão”

Décimo conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre. Destaca-se o


neologismo: “quarto-marquise” (p. 77), que se refere ao espaço de exclusão ocupado pelo
protagonista, espaço transformado em seu leito de morte. Esse conto comporta grave
denúncia da indiferença em relação aos garotos afro-brasileiros que vivem em situação de rua.
No início do conto, ao amanhecer, Di Lixão estava sentindo uma dor de dente latejante. Havia
um pequeno tumor na sua boca. Ele dividia um espaço sob uma marquise com um garoto
semelhante a ele. Era seu quarto. Algumas horas mais será seu leito de morte.
Di Lixão deu uma cusparada no rosto do colega de desdita. Por instinto de defesa, este reagiu
e Di Lixão recebeu um pontapé nas suas partes baixas e deitou-se encolhido em posição fetal.
Essa dor o fez se lembrar de sua mãe. Era a primeira vez que lembrava dela, depois de ela ter sido
assassinada na zona de prostituição onde ambos até então moravam. Ele presenciou o crime, mas
não o contou para a polícia.

11. “Lumbiá”

Décimo primeiro conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre e discurso
direto. Neologismos: “imagemmulher” e “imagem-homem”, que unidos ao termo “Deus-menino”,
referem-se à família sagrada, que está presente nos presépios natalinos.
No início do conto, Lumbiá trocou sua lata de amendoim pela caixa de chicletes de sua irmã
chamada Beba. Aquelas crianças não tinham conseguido vender nada naquele dia e já estavam
perambulando há um bom tempo. Se não se desse bem na venda de chicletes, o garoto iria
procurar seu colega Gunga e juntos venderiam flores, mercadoria de que sua mãe não
gostava, por dar prejuízo, mas que Lumbiá apreciava muito de tê-la em seus braços. Vender flores
era com ele, tinha até um jeito próprio de vendê-las: observava os casais e tão logo o casal
acabasse de se beijar, ele impunha-lhe sua mercadoria.

12. “Os amores de Kimbá”

Décimo segundo conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre. Kimbá
acordou bem cedo. Iria fazer sol. Antes ele era Zezinho, Kimbá foi o apelido que um amigo rico,
viajado, dera-lhe por ele parecer-se com alguém da Nigéria de quem o amigo tinha saudades.
Kimbá pensou que “era preciso movimentar a vida até a morte” e decidiu com um gesto brusco não
deitar novamente. Sua movimentação abalou um pouco o sono de todos que dormiam nos quartos
vizinhos do barraco: sua Vó Lidumira, as suas duas irmãs, sua mãe e suas tias. Seu irmão mais
velho, Raimundo, sempre bêbado, no entanto, que dormia no mesmo quarto que ele, nem se
mexeu.
Ele gostava de ser bem alto, forte e bonito. A descoberta de ser atraente também para os
homens era perturbadora para ele. Saiu do barraco. Tinha conseguido deixar tudo para trás. Sentiu
dor, mas também alívio. Detestava a pobreza dali.

13. “Ei, Ardoca”

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Décimo terceiro conto. Narrador onisciente. Presença de discurso indireto livre e de discurso
direto.
Note-se que, assim como nos contos “Di Lixão”, “Lumbiá” e “Os amores de Kimbá”, no conto
“Ei, Ardoca”, o protagonista masculino sucumbe de modo violento. Ardoca não conseguiu ser
insensível à brutalidade que vivenciou ao longo de sua vida.
O protagonista desse conto chama-se Ardoca. No início do conto, in media res, evidencia-se
desarmonia vivenciada por Ardoca: ele não suportava mais ouvir o barulho do trem, que o
acompanhava e atormentava, mesmo no seu dia de descanso, mesmo quando estava junto com
sua família, no descanso dominical:
O barulhar seco e cortante do trem irritava os ouvidos de Ardoca. O atrito da máquina nos
trilhos ecoava constantemente no fundo de seus tímpanos. Aos domingos, dentro de casa, no
silêncio da mulher, nas vozes e brincadeiras dos filhos, ele ouvia o grito arranhado do aço
espichado sobre o solo. Grito lancinante e cortante debaixo do comboio pesadãoque parecia
massacrar a linha férrea inerte. (p. 95)

14. “A gente combinamos de não morrer”

Décimo quarto conto. O narrador é em terceira pessoa, onisciente, no entanto, sua voz é
entrecortada pelas vozes dos personagens, que assumem a narração em primeira pessoa, por
meio de discurso indireto livre.
O texto divide-se em oito partes separadas por um espaço entre cada uma delas. No conto,
será narrada a história de Dorvi, Bica, Dona Esterlinda (mãe de Bica), Idago e Neo. Os dois
últimos têm em comum o fato de terem sido punidos com a morte, por serem traidores, cada um a
seu modo.
Note-se que o nome do conto se refere a um pacto feito por um grupo de garotos, que
cresceram juntos no mesmo ambiente precário e hostil de uma favela não nomeada. O pacto era o
de não morrerem, tal combinado implicava necessariamente o entendimento que eles tinham de
que a vida deles seria regida pelo enfrentamento constante da morte.

15. “Ayoluwa, a alegria do nosso povo”

Décimo quinto conto. Narrado em primeira pessoa do plural, por um narrador que se
assume como voz de uma coletividade. Nele, há ênfase na esperança e na celebração da
vida. Destacamos o uso do neologismo “milagrou”:
E no exato momento em que a vida milagrou no ventre de Bamidele, Omolara, aquela que
tinha o dom de fazer vir as pessoas ao mundo, a conhecedora de todo ritual do nascimento,
acolheu a criança de Bamidele. Uma menina que buscava caminho em meio à correnteza das
águas íntimas de sua mãe. E todas nós sentimos, no instante em que Ayoluwa nascia, todas nós
sentimos algo se contorcer em nossos ventres, os homens também. Ninguém se assustou.
Sabíamos que estávamos parindo em nós mesmos uma nova vida. (p. 114)

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