Aula de Sociologia 0205

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SEMANA 6

EIXO TEMÁTICO:
Análise Sociológica do Mundo Moderno: a Sociedade em que Vivemos.

TEMA/TÓPICO(S):
Trabalho, sociedade e classes sociais.

HABILIDADE(S):
Avaliar o atual mundo do trabalho no Brasil.

CONTEÚDOS RELACIONADOS:
Pandemia, Precarização, Aplicativos, Crise Econômica, Neoliberalismo, Revolução Industrial, Direi-
tos Trabalhistas.

INTERDISCIPLINARIDADE:
Filosofia, História, Geografia, Língua Portuguesa (Redação).

TEMA: Precarização do trabalho em tempos de Pandemia


A pandemia do novo Coronavírus se tornou um dos maiores problemas da humanidade em 2020. Uma
parcela considerável da população mundial, incluindo no Brasil, esteve de quarentena em suas casas
para evitar o risco de contaminação e expansão da doença. Governos e prefeituras fecharam escolas e
serviços não essenciais como academias, restaurantes, cinemas e salões de beleza, recomendando o
isolamento social para a população.
O fato de muitas pessoas não poderem sair de casa e terem que utilizar serviços de entrega em domicí-
lio aumentou o número de usuários e trabalhadores das gigantes empresas de aplicativos como a Uber
Eats, Rappi, Ifood e várias outras. Ao mesmo tempo, muitas pessoas que não podem simplesmente pa-
rar de trabalhar ou que estão desempregadas e não encontram empregos fixos, desde antes da pande-
mia, devido à crise econômica que assola o país, estão aderindo aos apps em busca de algum sustento
para suas famílias.
Os serviços por aplicativo foram considerados essenciais para o momento que estamos passando e por
isso são permitidos. Eles contribuem para que muitas pessoas fiquem em casa e que alguns estabeleci-
mentos continuem funcionando mesmo que de portas fechadas. Mesmo sendo essenciais, a condição
de trabalho dos trabalhadores por aplicativo têm se tornado o exemplo mais nítido da precarização que
o mundo do trabalho tem atravessado nas últimas décadas no Brasil.
Quando falamos em precarização, estamos dizendo que uma situação que já não é boa ficou ainda pior.
No caso do trabalho a precarização significa piorar as condições de trabalho, como diminuir a renda,
aumentar os riscos à saúde e à vida, aumentar a jornada de trabalho, não oferecer nenhuma garantia
ou benefício trabalhista (férias, 13º salário, folga semanal, por exemplo) e ainda aumentar a instabilida-
de no emprego.
As empresas de aplicativos de transporte de entrega intensificaram a precarização do trabalho no
Brasil. Ao serem acusadas disso elas se defendem dizendo que os motoristas e entregadores não são
funcionários, mas “parceiros”, “autônomos”, “colaboradores”, “empreendedores”, e por isso não têm
responsabilidade por suas condições de trabalho, pois legalmente não há o vínculo empregatício e nem
os direitos trabalhistas que uma tradicional carteira de trabalho garantiria. Seu papel seria apenas ser
uma ponte entre o serviço prestado pelo trabalhador e o consumidor final. Ou seja, essas plataformas
digitais se isentam de responsabilidades e custos trabalhistas.

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A questão que se coloca é que são essas empresas que definem quanto os trabalhadores ganham por
quilômetro rodado, são elas que definem as taxas sobre o que eles ganham, são elas que têm o poder de
bloqueá-los e são elas as que mais lucram com todo o processo. Dessa forma elas têm um poder maior
sobre a vida de seus “parceiros” do que o contrário. Nesse sentido, essas empresas exercem na prática
o papel de empregadoras, mesmo que legalmente não tenham a responsabilidade pelas condições de
trabalho dos trabalhadores.
Além disso, os trabalhadores possuem uma série de gastos com equipamentos de segurança, combus-
tível e manutenção de seus veículos. Se um profissional tem um acidente, por exemplo, ela ou ele não
possui nenhuma garantia ou seguro que o ampare financeiramente no período em que estiver afastado
do trabalho, o que compromete sua sobrevivência e a de sua família. Na atual pandemia são os próprios
entregadores e motoristas que devem arcar com os gastos dos materiais de higiene e limpeza para
evitar o seu contágio pelo Covid-19. Lembremos que a alta circulação desses trabalhadores os deixam
bastante expostos ao risco de contágio. Todas essas condições levaram as trabalhadoras e trabalha-
dores de aplicativo a se organizarem e decretarem greve no dia 1° de julho de 2020, exigindo melhores
condições de trabalho das empresas de aplicativo.
A precarização do trabalho significa o desmonte dos direitos trabalhistas. O que isso quer dizer? Des-
monte significa “desmontar” mesmo todos os nossos direitos que foram construídos durante muito
tempo. Os direitos trabalhistas conquistados pelas trabalhadoras e trabalhadores ao longo de sua his-
tória não foram fruto da bondade dos empresários capitalistas, mas fruto de duras lutas. Desde a Re-
volução Industrial no Século 18, os trabalhadores vêm se organizando em sindicatos e associações e
construindo seus direitos com base em suas demandas e necessidades. A luta é principalmente contra
a exploração e pela dignidade profissional.
Com a Revolução Industrial, passa a existir a divisão entre a classe dos “proprietários dos meios de
produção” (os capitalistas) e a classe dos que só possuíam a força de trabalho (os trabalhadores).
É nessa época que o trabalho deixa de ser servil e passa a ser “livre” e assalariado. O trabalhador era
livre apenas legalmente, pois na realidade se via forçado, pela necessidade e para não passar fome,
a fazer o que lhe era imposto. Trabalhadores passam a vender a sua força de trabalho para os capitalis-
tas, donos das fábricas e negócios.
A principal meta da sociedade capitalista é a acumulação, o lucro.
Para que o proprietário capitalista aumente o seu lucro é necessá-
rio que ele aumente a produtividade de seu negócio. É necessário
que seu negócio produza o máximo possível de bens e serviços
pelo menor custo possível. Logo, é do interesse do capitalista que
os trabalhadores dediquem muitas horas, para produzir muito,
a um preço baixo, que custe pouco ao empresário.
Os conflitos entre os capitalistas e os trabalhadores aparece-
ram a partir do momento em que estes perceberam que traba-
lhavam muito e estavam cada dia mais miseráveis. Vários tipos
de enfrentamento ocorreram ao longo do desenvolvimento do
Capitalismo, desde o movimento dos destruidores de máqui-
nas nas fábricas do início do século 19, até as várias greves
ocorridas durante o século 20.
As lutas dos trabalhadores e trabalhadoras ao longo dos últimos dois séculos foi o que garantiu a cria-
ção dos direitos do trabalhador. No Brasil a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943, é ain-
da uma referência importante da garantia dos direitos e deveres dos empregadores e empregados.
No entanto, a Reforma Trabalhista de 2017 e a Reforma da Previdência de 2019, aprovadas pelos últi-
mos governos, criadas para atender aos interesses dos grandes empresários capitalistas, permitem
que muitas das garantias da CLT sejam burladas e que as situações de precarização do trabalho, como
a dos motoristas e entregadores de aplicativos, sejam difíceis de combater.

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Atualmente os trabalhadores de aplicativo dedicam mais de 12 horas por dia, inclusive aos fins de sema-
na, prejudicando-se física e mentalmente, sem descanso, para conseguirem um mínimo de renda que
em muitos casos não é o suficiente para sustentar suas famílias. Enquanto os donos e investidores de
aplicativos ficam cada vez mais ricos, a mão-de-obra está cada vez mais desprotegida e sem direitos.
Este quadro nos aproxima das condições de trabalho da época da Revolução Industrial do século 18.
Em matéria de direitos trabalhistas, estaríamos retrocedendo no tempo?

ATIVIDADES
1 - Observe as duas charges abaixo:


Relacione as charges e escreva um pequeno parágrafo sobre o que é a precarização do trabalho e como
a vida do trabalhador é afetada por ela na sociedade brasileira.

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PARA SABER MAIS
Música: “RAP dos Informais”, da página do Treta no Trampo. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=5AxUuOxwaIM (3m22s). Acesso em: 27 ago. 2021.
Documentário: “Vidas Entregues”, de Renato P. Biar sobre a rotina precária dos entregadores de apli-
cativo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cT5iAJZ853c&t=26s (21m29s). Acesso em:
27 ago. 2021.
Humor político: episódio “Delivery” do programa Greg News da tv por assinatura, do humorista Gregó-
rio Duvivier. Aborda de forma crítica e humorada a realidade dos trabalhadores de aplicativo no Brasil
da pandemia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v3B9w6wWNQA&t=9s (33m). Acesso
em: 27 ago. 2021.

REFERÊNCIAS
TOMAZI, Nelson Dácio. Sociologia para o Ensino Médio. 3. ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2013.
ANTUNES, Ricardo. O trabalho, sua nova morfologia e a era da precarização estrutural. Revista
THEOMAI, n.19, 2009.
BONIS, Gabriel. Pandemia precariza ainda mais o trabalho de entregadores de aplicativos. UOL, 10
de jul. de 2020. Disponivel em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/07/10/pan-
demia-precariza-ainda-mais-o-trabalho-de-entregadores-de-aplicativos.htm> Acesso em: 13 de
julho de 2020.
ARAÚJO, Carlos E. Bem-vindo ao deserto da precarização: o mundo do trabalho no séc XXI. Justifi-
cando, 27 de fev. de 2019. Disponível em: <https://www.justificando.com/2019/02/27/bem-vindo-ao-
-deserto-da-precarizacao-o-mundo-do-trabalho-no-seculo-xxi/> Acesso em: 13 de julho de 2020.
MACHADO, Leandro. Greve dos entregadores: o que querem os profissionais que fazem paralisação
inédita. BBC News Brasil, 1 de jul. de 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/bra-
sil-53124543> Acesso em: 13 de julho de 2020.

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