Aula de Sociologia 0205
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EIXO TEMÁTICO:
Análise Sociológica do Mundo Moderno: a Sociedade em que Vivemos.
TEMA/TÓPICO(S):
Trabalho, sociedade e classes sociais.
HABILIDADE(S):
Avaliar o atual mundo do trabalho no Brasil.
CONTEÚDOS RELACIONADOS:
Pandemia, Precarização, Aplicativos, Crise Econômica, Neoliberalismo, Revolução Industrial, Direi-
tos Trabalhistas.
INTERDISCIPLINARIDADE:
Filosofia, História, Geografia, Língua Portuguesa (Redação).
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A questão que se coloca é que são essas empresas que definem quanto os trabalhadores ganham por
quilômetro rodado, são elas que definem as taxas sobre o que eles ganham, são elas que têm o poder de
bloqueá-los e são elas as que mais lucram com todo o processo. Dessa forma elas têm um poder maior
sobre a vida de seus “parceiros” do que o contrário. Nesse sentido, essas empresas exercem na prática
o papel de empregadoras, mesmo que legalmente não tenham a responsabilidade pelas condições de
trabalho dos trabalhadores.
Além disso, os trabalhadores possuem uma série de gastos com equipamentos de segurança, combus-
tível e manutenção de seus veículos. Se um profissional tem um acidente, por exemplo, ela ou ele não
possui nenhuma garantia ou seguro que o ampare financeiramente no período em que estiver afastado
do trabalho, o que compromete sua sobrevivência e a de sua família. Na atual pandemia são os próprios
entregadores e motoristas que devem arcar com os gastos dos materiais de higiene e limpeza para
evitar o seu contágio pelo Covid-19. Lembremos que a alta circulação desses trabalhadores os deixam
bastante expostos ao risco de contágio. Todas essas condições levaram as trabalhadoras e trabalha-
dores de aplicativo a se organizarem e decretarem greve no dia 1° de julho de 2020, exigindo melhores
condições de trabalho das empresas de aplicativo.
A precarização do trabalho significa o desmonte dos direitos trabalhistas. O que isso quer dizer? Des-
monte significa “desmontar” mesmo todos os nossos direitos que foram construídos durante muito
tempo. Os direitos trabalhistas conquistados pelas trabalhadoras e trabalhadores ao longo de sua his-
tória não foram fruto da bondade dos empresários capitalistas, mas fruto de duras lutas. Desde a Re-
volução Industrial no Século 18, os trabalhadores vêm se organizando em sindicatos e associações e
construindo seus direitos com base em suas demandas e necessidades. A luta é principalmente contra
a exploração e pela dignidade profissional.
Com a Revolução Industrial, passa a existir a divisão entre a classe dos “proprietários dos meios de
produção” (os capitalistas) e a classe dos que só possuíam a força de trabalho (os trabalhadores).
É nessa época que o trabalho deixa de ser servil e passa a ser “livre” e assalariado. O trabalhador era
livre apenas legalmente, pois na realidade se via forçado, pela necessidade e para não passar fome,
a fazer o que lhe era imposto. Trabalhadores passam a vender a sua força de trabalho para os capitalis-
tas, donos das fábricas e negócios.
A principal meta da sociedade capitalista é a acumulação, o lucro.
Para que o proprietário capitalista aumente o seu lucro é necessá-
rio que ele aumente a produtividade de seu negócio. É necessário
que seu negócio produza o máximo possível de bens e serviços
pelo menor custo possível. Logo, é do interesse do capitalista que
os trabalhadores dediquem muitas horas, para produzir muito,
a um preço baixo, que custe pouco ao empresário.
Os conflitos entre os capitalistas e os trabalhadores aparece-
ram a partir do momento em que estes perceberam que traba-
lhavam muito e estavam cada dia mais miseráveis. Vários tipos
de enfrentamento ocorreram ao longo do desenvolvimento do
Capitalismo, desde o movimento dos destruidores de máqui-
nas nas fábricas do início do século 19, até as várias greves
ocorridas durante o século 20.
As lutas dos trabalhadores e trabalhadoras ao longo dos últimos dois séculos foi o que garantiu a cria-
ção dos direitos do trabalhador. No Brasil a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943, é ain-
da uma referência importante da garantia dos direitos e deveres dos empregadores e empregados.
No entanto, a Reforma Trabalhista de 2017 e a Reforma da Previdência de 2019, aprovadas pelos últi-
mos governos, criadas para atender aos interesses dos grandes empresários capitalistas, permitem
que muitas das garantias da CLT sejam burladas e que as situações de precarização do trabalho, como
a dos motoristas e entregadores de aplicativos, sejam difíceis de combater.
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Atualmente os trabalhadores de aplicativo dedicam mais de 12 horas por dia, inclusive aos fins de sema-
na, prejudicando-se física e mentalmente, sem descanso, para conseguirem um mínimo de renda que
em muitos casos não é o suficiente para sustentar suas famílias. Enquanto os donos e investidores de
aplicativos ficam cada vez mais ricos, a mão-de-obra está cada vez mais desprotegida e sem direitos.
Este quadro nos aproxima das condições de trabalho da época da Revolução Industrial do século 18.
Em matéria de direitos trabalhistas, estaríamos retrocedendo no tempo?
ATIVIDADES
1 - Observe as duas charges abaixo:
Relacione as charges e escreva um pequeno parágrafo sobre o que é a precarização do trabalho e como
a vida do trabalhador é afetada por ela na sociedade brasileira.
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PARA SABER MAIS
Música: “RAP dos Informais”, da página do Treta no Trampo. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=5AxUuOxwaIM (3m22s). Acesso em: 27 ago. 2021.
Documentário: “Vidas Entregues”, de Renato P. Biar sobre a rotina precária dos entregadores de apli-
cativo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cT5iAJZ853c&t=26s (21m29s). Acesso em:
27 ago. 2021.
Humor político: episódio “Delivery” do programa Greg News da tv por assinatura, do humorista Gregó-
rio Duvivier. Aborda de forma crítica e humorada a realidade dos trabalhadores de aplicativo no Brasil
da pandemia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v3B9w6wWNQA&t=9s (33m). Acesso
em: 27 ago. 2021.
REFERÊNCIAS
TOMAZI, Nelson Dácio. Sociologia para o Ensino Médio. 3. ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2013.
ANTUNES, Ricardo. O trabalho, sua nova morfologia e a era da precarização estrutural. Revista
THEOMAI, n.19, 2009.
BONIS, Gabriel. Pandemia precariza ainda mais o trabalho de entregadores de aplicativos. UOL, 10
de jul. de 2020. Disponivel em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/07/10/pan-
demia-precariza-ainda-mais-o-trabalho-de-entregadores-de-aplicativos.htm> Acesso em: 13 de
julho de 2020.
ARAÚJO, Carlos E. Bem-vindo ao deserto da precarização: o mundo do trabalho no séc XXI. Justifi-
cando, 27 de fev. de 2019. Disponível em: <https://www.justificando.com/2019/02/27/bem-vindo-ao-
-deserto-da-precarizacao-o-mundo-do-trabalho-no-seculo-xxi/> Acesso em: 13 de julho de 2020.
MACHADO, Leandro. Greve dos entregadores: o que querem os profissionais que fazem paralisação
inédita. BBC News Brasil, 1 de jul. de 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/bra-
sil-53124543> Acesso em: 13 de julho de 2020.
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