Modelo ESTELIONATÁRIO

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EMENTA – DIREITO TRIBUTÁRIO.

FALSIFICAÇÃO DE CHANCELA DE
AUTENTICAÇÃO BANCÁRIA EM GUIA DE RECOLHIMENTO DE
IMPOSTO. ITBI. ESTELIONATO. NÃO CONFIGURAÇÃO DE CRIME
CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.

I. RELATÓRIO

Trata-se de falsificação de chancela de autenticação bancária em guia de


recolhimento de imposto (ITBI).

É o relatório.

II. DO PARECER JURÍDICO

O parecer jurídico representa mera opinião do Procurador subscritor, não


configurando decisão ou ato administrativo propriamente ditos, quanto menos de caráter
vinculante. Trata-se de manifestação técnico-jurídica sobre tema específico, cuja finalidade é
auxiliar o Administrador Público na tomada de decisões.

O Administrador Público poderá sempre optar por decisão (ou solução jurídica)
diversa daquela exposta pelo parecerista, em razão de argumento de ordem técnica relacionado à
área de atuação ou mesmo com base em outros argumentos jurídicos, inclusive contrários ao
presente parecer, que, repita-se, expressa apenas a opinião jurídica deste subscritor e não vincula
o agente público responsável por emitir o ato administrativo.

De mais a mais, a fim de efetivamente assessorar ao órgão interessado é prudente


que seja indicada de forma clara e objetiva, a dúvida jurídica que se pretenda ver esclarecida, e
não formulados despachos genéricos, tais como “para conhecimento e providências”. Isto para
evitar os futuros retrabalhos e perda de eficiência; zelar pela adequada instrução processual e
imprescindível formalização dos atos, mormente quando é sabido o enorme volume dos
procedimentos geridos pelo Município.

Posta essa explicação inicial necessária, passa-se ao parecer sobre os pontos


questionados pelo Contribuinte em sua defesa.

III. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA


Sabe-se que a Administração Pública somente age pautada no Princípio da
Legalidade, de tal forma que não possui liberdade de escolha entre autuar ou não o contribuinte
que deixa de observar suas obrigações fiscais (principal ou acessória) - independente das razões
por ele alegadas. Assim, ainda que o agente público se sensibilize com a situação fática, não
possui a liberdade para não fiscalizar, lançar tributos e/ou aplicar penalidades.

A obrigação tributária sempre decorre da Lei, porque seu objeto corresponde ao


pagamento de tributo ou penalidade tributária.

O Crime de Sonegação Fiscal, definido no art. 1º da Lei 8.137/90, e o Direito


Tributário, guardam uma estreita relação jurídica e legal.

Devemos esclarecer dois aspectos sobre o tema em pauta: um diz respeito ao


Lançamento Tributário e ao Crédito Tributário, enquanto que, o outro aspecto refere-se à Elisão
Fiscal.

Pois bem, o Lançamento Tributário é a formalização da obrigação tributária, ou

seja, é a efetivação da obrigação tributária por meio de sua liquidez e certeza. O Crédito Tributário

por sua vez, é o vínculo jurídico obrigacional, por força do qual o Estado exige do contribuinte ou

responsável o pagamento de tributo ou de penalidade pecuniária.

Já a chamada Elisão Fiscal, consiste em um planejamento tributário

contextualizado com a ordem econômica constitucional, haja vista que, a elisão não se configura

infração à legislação tributária, mas sim, uma forma constitucional e legal que propicia ao

contribuinte vantagens tributárias e financeiras.

Vejamos, a seguir, o teor do artigo 1º da Lei nº 8.137/90:

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou

contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo

operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;

III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer

outro documento relativo à operação tributável;


IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva

saber falso ou inexato;

V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento

equivalente, relativa à venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente

realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.

Desta forma, fica caracterizando, explicitamente, que, o referido delito é um crime

material ou de resultado. Portanto, em razão da natureza do crime de sonegação fiscal (material

ou de resultado), é primordial a ocorrência do lançamento definitivo do tributo para que concretize

a condição objetiva de punibilidade ao contribuinte, pois, o crédito tributário, irregularmente

constituído, terá uma eficácia inapta e a sua exigibilidade será excluída.

Para que se inicie uma Ação Penal Tributária concernente ao crime de sonegação

fiscal, é salutar a consumação material do delito, sendo obrigatória, a remessa da notitia criminis

(notícia crime) ao Ministério Público, sob pena, de carência da Ação Penal por falta do quesito

‘justa causa’.

Entretanto, no caso em tela, a hipótese é de falsificação de chancela de

autenticação bancária em guia de recolhimento de imposto (ITBI), não podendo ser enquadrado

como crime contra a ordem fiscal.

Isso porque, apesar de aparentemente poder-se enquadrar tal conduta como crime

contra a ordem tributária, na verdade o agente jamais conseguirá suprimir ou reduzir o tributo

devido, uma vez que o Código Tributário Nacional somente considera extinto o débito pago:

Art. 156. Extinguem o crédito tributário:

I - o pagamento;
II - a compensação;
III - a transação;
IV - remissão;
V - a prescrição e a decadência;
VI - a conversão de depósito em renda;
VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no
artigo 150 e seus §§ 1º e 4º;
VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164;
IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita
administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória;
X - a decisão judicial passada em julgado.
XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.
Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre
a ulterior verificação da irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos
144 e 149.

Assim, a falsificação de guia de recolhimento de imposto não tem o condão de

suprimir ou reduzir o crédito tributário devido à Fazenda Pública, podendo tal conduta caracterizar

crime de falsificação de documento público ou estelionato, dependendo da circunstância, mas não

crime contra a ordem tributária.

Vejamos:

E M E N T A: PENAL. PROCESSUAL PENAL. TENTATIVA DE ESTELIONATO. USO DE

DOCUMENTO FALSO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA.

APLICABILIDADE DO ARTIGO 171, §3° DO CP. ABSOLUTA INEFICÁCIA DO MEIO

EMPREGADO. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO VERIFICAÇÃO. CONDENAÇÃO MANTIDA.

DOSIMETRIA DA PENA. PENA BASE. PERSONALIDADE E CULPABILIDADE.

CONTINUIDADE DELITIVA. PENA DE MULTA. REGIME PRISIONAL. SUBSTITUIÇÃO

POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. RECOMENDAÇÃO 62/2020 DO CNJ. CRIME

PRATICADO SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. APLICAÇÃO DE MEDIDAS

CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. RECURSO DEFENSIVO PARCIALMENTE

PROVIDO. 1. Em se tratando de estelionato em desfavor de ente público, não é

cabível a aplicação do referido princípio, pois o bem jurídico protegido transcende a

natureza patrimonial e o prejuízo a um indivíduo, resultando em dano a toda a

coletividade. 2. A circunstância de o prejuízo derivado da prática delitiva atingir patrimônio

pertencente à empresa pública, integrante da Administração Pública Federal indireta e

prestadora de serviço público, autoriza a aplicação do §3° do artigo 171 do CP. 3. O uso de

documentos falsos para a instrução do requerimento é meio eficaz e próprio à prática

do delito de estelionato e, por tal razão, não há que falar em crime impossível.

Quando a consumação delitiva somente não ocorrer em razão de atos administrativos

e acautelatórios praticados pelos funcionários da agência bancária, não desvirtua o


fato de o pedido vir instruído com elementos fictícios que, a princípio, eram aptos a

garantir o indevido acréscimo patrimonial. [...]. (APELAÇÃO CRIMINAL (417) Nº

0000958-34.2018.4.03.6111 RELATOR: Gab. 17 - DES. FED. MAURICIO KATO

APELANTE: FERNANDA CRISTINA MARQUES Advogado do(a) APELANTE: ALFEU

GERALDO MATOS GUIMARAES - SP175703-A APELADO: MINISTERIO PUBLICO

FEDERAL – PR/SP. OUTROS).

Falsificação de papéis públicos - Alteração de guia de recolhimento de Imposto Sobre

Circulação de Mercadoria - Crime caracterizado - Autoria e materialidade plenamente

demonstradas - Obediência hierárquica - Inadmissibilidade - Inexistência de relação de

direito público - Desprovimento. (TJMG. Apelação Criminal1.0000.00.333919-9/000,

Relator(a): Des.(a) Kelsen Carneiro, 3ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 09/11/2004,

publicação da súmula em 01/02/2005).

Observe-se que à fl. 42 foi constatado que não só o débito acerca do ITBI não se

efetivou na conta-corrente, como também não foi confirmada a veracidade do comprovante

juntado pelo Contribuinte, o que caracteriza crime de estelionato, conforme o Código Penal

Brasileiro: “Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,

induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio

fraudulento”

Portanto, por se tratar de crime de estelionato, não vislumbro como alçada desse

departamento a possibilidade de elaboração de notitia criminis, uma vez que não se trata de crime

contra a ordem tributária.

Por fim, já comprovada a dívida do ITBI, deve essa retornar ao Cadastro da Dívida

Ativa.

IV. CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto, OPINA-SE pelo envio do presente processo


administrativo para o Procurador Geral do Município, de forma que ele determine para qual
departamento caberá a elaboração de notitia criminis.
É o parecer (opinativo), submetido à apreciação da autoridade superior, que poderá
acolhê-lo ou não. Esta opinião jurídica não é ato que defere ou indefere qualquer pedido, de forma
que é necessário que a autoridade administrativa competente manifeste-se expressa e
fundamentadamente sobre a questão.

É a manifestação que submeto a consideração superior.

Juiz de Fora, 03 de dezembro de 2020

ILUSTRÍSSIMO SENHOR PROMOTOR DE JUSTIÇA DA XX PROMOTORIA DA COMARCA DA


CIDADE
NOTITIA CRIMINIS

, pessoa jurídica de direito público interno, inscrito no CNPJ sob o n, com sede na, vem,
respeitosamente, perante V. Excelência, por seu Procurador-Geral, ex vi legis, nos termos do art. 5º, II do
CPP, NOTICIAR suposto delito praticado por, em razão de falsificação de chancela de autenticação
bancária em guia de recolhimento de imposto.

Em processo administrativo fiscal de lançamento tributário (ITBI), houve emissão de


Documentos de Arrecadação Municipal para pagamento do imposto. O contribuinte ao solicitar a emissão
de certidão de quitação de ITBI, ao que tudo indica, apresentou ao Município falso comprovante de
pagamento no valor .

Portanto, conforme se depreende da documentação que acompanha estas informações, e


resguardados os limites legais quanto aos poderes investigativos da Fazenda Municipal, restou apurado
indícios que o contribuinte praticou fatos que se amoldariam, em tese, a conduta descrita no art. 171
“caput” c/c / §3º, ambos do Código Penal.

Nesta seara, por todas as condutas narradas e constante do processo administrativo o


presente visa levar ao conhecimento do Douto Ministério Público a existência de possível fato ilícito a
serem apurados em persecução penal, caso assim Vossa Excelência entender.

Por fim, o Município coloca-se à disposição para quaisquer outros esclarecimentos, caso
necessário.

Respeitosamente,
Nome
Procurador-Geral do Município

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