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Relato de viagem

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Entre o zero e o infinito


É uma coincidência e afinal de repente toma um significado profundo. No nosso itinerário
do Norte da Namíbia passamos primeiro pelo meteorito 1 Hoba e poucas horas depois
chegamos ao monólito2 de Spitzkoppe. Qualquer geólogo que esteja a ler isto provavelmente já
percebeu onde quero chegar com a coincidência. Eu só me apercebi agora.
5 Um meteorito é um corpo que desce
do Espaço e como tal não pertence à
Terra; um monólito sai de dentro da
Terra em direção ao céu. As
potencialidades poéticas da conjugação
10 numa mesma viagem de duas
realidades tão antagónicas são
potentes. O meteorito pode ser um deus
caído e expulso do seu meio pelos seus
pares celestes; tal como um monólito
15 pode ser uma tentativa desesperada de
um colosso romper com a sua solidão e
alcançar a companhia das estrelas. Um
Gonçalo Cadilhe (Visão, 2019)
meteorito pode ser visto como um
viajante que depois de muito vaguear pelo Universo chega por fim ao seu destino; o monólito
20 pode ser um prisioneiro inconformado com a ditadura da gravidade que procura alcançar a
liberdade ilimitada do espaço sideral.
Já alguma vez estiveste ao pé de um meteorito? Sentado em cima dele, apoiado para uma
selfie ou simplesmente estático em silêncio a meditar na viagem que ele terá feito para chegar
até aqui e estar hoje ao pé de ti? Este meteorito que temos à nossa frente é o maior que se
25 conhece no nosso planeta. Terá cerca de 400 milhões de anos e chegou à Terra há oitenta.
Uma vez, o Museu de História Natural de Nova Iorque tentou comprar o Hoba mas
compreendeu que não conseguiria transportá-lo para a América. Com 60 toneladas de ferro,
era demasiado pesado para sair da Namíbia. Que sorte, a nossa.
Seguimos viagem agora pela região de Damaraland […]. Se o que procuras é a
30 possibilidade de escutares o grito primordial do planeta, o momento que antecipa a criação da
vida na Terra, encontras aqui. […]
E porque quis trazer-te aqui? Esta montanha deve ser mágica. Tem qualquer coisa boa
indefinível muito para além da compreensão da minha mente racional; um chamamento que me
convoca com a força de uma dependência neurológica e ao qual tenho respondido ao longo
35 dos anos. Sempre que posso, regresso. Monto a tenda entre os enormes calhaus que se
soltaram da face do Spitzkoppe e rolaram para a planície no tempo dos dinossauros. […]
E queres mesmo saber por que viajámos hoje entre um meteorito e um monólito? No caso
MPAG10DP © Porto Editora

do Spitzkoppe, encontrámos um dos componentes mais íntegros e essenciais saídos das


profundezas da Terra – essa Terra que para nós, terráqueos, é o quilómetro zero de todas as
40 direções que se estendem pela vastidão sem fim do Universo. E o meteorito Hoba é o maior
testemunho que conhecemos de um objeto que tenha viajado por essa vastidão ao nosso
encontro. Tu, hoje, percorreste a distância que separa o zero da Terra do infinito do Universo.
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Gonçalo Cadilhe in https://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2019-06-04-entre-o-zero-e-o-infinito/


(texto com supressões, consultado a 8/8/2020)

NOTAS
1
meteorito – corpo mineral que cai sobre a Terra. 2 monólito – pedra de grandes dimensões.

MPAG10DP
1. Descreve o local da viagem realizada por Gonçalo Cadilhe.
©

Porto Editora
2. Explicita o que o autor pretende dizer com o facto de ser uma coincidência passar no mesmo dia por
um meteorito e por um monólito.

3. Interpreta a definição apresentada pelo autor para “meteorito” e “monólito”, entre as linhas 15 e 19.

4. Explica o motivo pelo qual o Museu de História Natural de Nova Iorque desistiu de comprar o Hoba.

5. Apresenta uma interpretação possível para a afirmação do autor: “Sempre que posso, regresso” (linha
33).

6. Clarifica o título do texto, apoiando a tua resposta com transcrições textuais pertinentes.

7. Indica duas características deste género de texto, justificando a tua resposta com citações textuais
pertinentes.
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Exposição sobre um tema

MPAG10DP
Lê o texto. ©

Porto Editora
O futuro é isto: drones a recolher o lixo das praias
A utilização de aparelhos aéreos não
tripulados, conhecidos por drones, para recolher
lixo depositado nas praias costeiras portuguesas é
o objetivo de investigadores da Universidade de
5 Coimbra (UC), a ser operacionalizado depois de
2022.
A equipa de investigadores do Instituto de
Engenharia de Sistemas e Computadores de
Coimbra (INESC) tem em curso, desde 2018, um
10 projeto de localização e mapeamento do lixo
marinho em três areais da Figueira da Foz, mas
de futuro a ideia é que os próprios drones possam
recolher os detritos acumulados na praia e nas
dunas circundantes, constituídos, Drones usados na recolha de lixo das praias
15 maioritariamente, por resíduos de plástico.
“O futuro é obviamente os drones limparem as praias, já não estamos muito longe. Esta
primeira etapa é de mapeamento e localização do lixo e numa segunda etapa irá um drone
mais potente, com uma mão robotizada, pegar no lixo e trazê-lo. O lixo menos pesado”, disse
aos jornalistas Gil Gonçalves, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
20 de Coimbra (FCTUC) e investigador do INESC.
Em declarações à margem de uma sessão de demonstração, realizada na praia da Leirosa,
no sul do concelho da Figueira da Foz, litoral do distrito de Coimbra, Gil Gonçalves estimou que
após o término da atual investigação, daqui por dois anos, será possível existir um projeto
relacionado com a recolha de lixo pelos aparelhos aéreos não tripulados. […]
25 Por outro lado, o projeto engloba dois aparelhos aéreos distintos: um drone de baixo custo,
idêntico aos disponíveis comercialmente a qualquer interessado, que regista a “abundância” de
lixo existente nas praias, isto é, permite perceber a quantidade existente, e outro aparelho
“mais caro”, que serve para caracterizar o tipo de lixo, como saber se é plástico, esferovite ou
outro material, frisou Gil Gonçalves. […]
30 Se, por um lado, a quantificação da abundância de lixo existente na praia (da qual a
investigação produziu já mapas dos areais sob estudo) “pode ter interesse” para uma câmara
municipal “saber para onde mobilizar a equipa de recolha”, já a utilização de um drone com
capacidades de categorização do lixo obrigará a um investimento mais avultado da parte de
eventuais interessados, como autarquias ou entidades governamentais, admitiu. […]
35 Um drone com capacidade para retirar lixo da praia, como o que Gil Gonçalves espera que
possa existir depois de 2022, “será ainda mais high cost, mais alto custo, porque tem de ser
robotizado, tem de ser programado”, antecipou.
Questionado sobre o estado dos detritos nas praias da costa portuguesa, o investigador
baseou-se em conversas que tem mantido com colegas de outros locais como a América
40 Latina ou a Ásia, frisando que “a quantidade de lixo [em Portugal] não tem nada a ver com o
problema que eles têm”.
Já Filipa Bessa, investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da
Universidade de Coimbra (MARE-UC), frisou que os resultados já conseguidos pelo projeto dão
nota de que “os drones são efetivos no mapeamento de grandes objetos de plástico”
45 encontrados nas praias e podem dar “uma resposta muito rápida” sobre o tipo de lixo, quando
comparada com a observação humana. […]
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O projeto incide ainda sobre a praia de Quiaios, no norte do concelho, mais afastada da
pressão urbana e considerada “a praia mais limpa” das três que integram a investigação, e a do
Cabedelo, “mais urbana” e “recreativa”, localizada junto ao molhe sul do rio Mondego e
conhecida por ser bastante frequentada por turistas e surfistas “que recebe mais lixo no
50 inverno”.
“No verão é um lixo diferente, está mais associado aos fins recreativos”, asseverou a
investigadora do MARE-UC.
in https://www.publico.pt/2020/09/27/p3/noticia/futuro-drones-recolher-lixo-praias-1933049,
(texto com supressões, consultado a 10/10/2020 )

1. Indica o tema do texto.

2. No terceiro parágrafo, o uso das aspas tem como objetivo


(A) apresentar uma citação.
(B) apresentar uma explicação.
(C) destacar uma ideia.
(D) destacar uma oposição.

3. Explica em que consiste o projeto apresentado ao longo do texto.

3.1. Tendo por base a perspetiva de Filipa Bessa, identifica os resultados já produzidos pelo projeto.
_

3.2. Identifica os locais que beneficiarão da implementação do projeto.


_

4. Apresenta uma possível interpretação para a afirmação do investigador: “a quantidade de lixo [em
Portugal] não tem nada a ver com o problema que eles têm” (linhas 39 e 40), tendo em conta o
contexto em que ocorre.

5. Explicita o título do texto.


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Cartoon
©

Porto Editora
Observa o cartoon de Josua Cabrera.

Josua Cabrera (Filipinas)

1. Descreve o cartoon apresentado.

2. Indica um motivo para o computador funcionar como veneno para o cérebro da figura humana.

3. Apresenta uma explicação possível para o facto de o ser humano ter os olhos costurados.

4. Sabendo que o cartoon foi publicado a 24 de setembro de 2020, comenta a situação retratada,
considerando a pandemia de Covid-19.

5. Explica a intencionalidade crítica do cartoon.


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Apreciação crítica

Lê o texto.

Conto mais ou menos gótico de verão


François Ozon, um dos mais prolíficos 1 e erráticos2 realizadores da atualidade, aponta aqui
ao coração da nostalgia. Está tudo logo no título (e no genérico inicial acompanhado por uma
canção dos Cure3), mesmo que o ano da ação não seja especialmente importante: podia ser 75
ou 95 e tudo se passar mais ou menos da mesma forma – embora se reporte claramente a um
5 tempo ainda sem internet, telemóveis e redes sociais, quando os adolescentes podiam ser
mais afetados pela descoberta de um poema de Verlaine 4 do que pela última sensação do
Instagram ou quejandos5. É portanto um “conto de verão” (e Melvil Poupaud, protagonista do
filme de Rohmer que nos anos 90 se chamou assim, figura no elenco, na pele de um professor
de literatura), que fala de um “verão azul”, mas um verão azul-escuro, tingido por um negrume
10 vagamente gótico.
Muito vagamente, e essa é a principal causa da insatisfação que o filme deixa. Tudo nele é
bastante vago, como se Ozon quisesse resgatar a leveza despreocupada da adolescência,
vista a uma luz nostálgica (quer dizer, semimitificada), temperá-la com uns pozinhos de angst6
e poesia fin de siècle7 (é uma história de amor e morte, paixões transgressoras, descoberta da
15 sexualidade, Rimbaud8 e Verlaine), mas nunca acertasse com o tom certo, e tudo se perdesse
em meras sinalizações de uma força dramática e emocional que não se materializa. […]
Tudo fica vago, meias tintas, […] o espetador é cedo lançado no torpor da indiferença, de
que só desperta – assim-assim – quando os Cure voltam a aparecer para acompanhar o
genérico de fecho.
Miguel Oliveira, in Público-Ípsilon, (texto adaptado e com supressões, consultado a 25/9/2020)

NOTAS
1
prolíficos – produtivos.
2
erráticos – errantes, que não são regulares.
3
Cure – banda britânica de rock.
4
Verlaine – considerado um dos maiores poetas do Simbolismo francês.
5
quejandos – semelhantes.
6
angst – angústia existencial.
7
fin de siècle – fim do século.
8
Rimbaud – poeta francês contemporâneo de Verlaine, conhecido por “um jovem Shakespeare”.

1. Descreve o enredo principal do filme.

2. Explica a seguinte afirmação: “Está tudo logo no título” (linha 2).

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3. Explicita a opinião do autor da apreciação crítica sobre o filme.

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