Homilia Na Solenidade Da Imaculada Conceicao B 2009
Homilia Na Solenidade Da Imaculada Conceicao B 2009
Homilia Na Solenidade Da Imaculada Conceicao B 2009
1. E dentro daquela casa, está Maria! Afinal, Deus não encontrou Maria,
como Eva, fora de casa, fugindo de si mesma, ocultando-se, por medo, ao
olhar de Deus. Maria, pelo contrário, está na sua própria casa, habitada por
um silêncio, que se faz morada do invisível. A sua casa é o lugar da sua
clausura, do seu silêncio, da sua vida quotidiana, onde ela existe recolhendo-
se, e não dispersando-se; onde ela concentra todo o seu desejo no desejo
único de Deus. E por isso, vive na beleza esplêndida daquilo que é simples,
humilde e pobre.
2. Quando Deus entra, em toda a sua luz, Maria não está cercada pelas coisas,
nem fora de casa, dispersa, estranha, distante do seu próprio lugar, mas
habitada por Deus, atenta e livre, disponível para a surpresa do mistério. Está
em casa, o lugar onde se faz a unidade entre o que está dentro e o que está
fora, através do acolhimento e da hospitalidade. Maria começa a existir, para
nós, no evangelho, como Virgem recolhida na sua própria casa.
5. Duas sugestões muito simples: 1º: Cada um, remova dentro da sua própria
casa, o que impede a entrada à luz de Deus, a essa luz que tudo cria e recria!
Façamo-lo, começando por celebrar, (amanhã) esta vitória da misericórdia
divina sobre o pecado, através do sacramento da Reconciliação. É uma forma
de arrumar, por dentro a nossa casa, tornando-a mais limpa, pronta a ser
habitada por Deus. 2º: E, todos juntos, façamos desta Paróquia de Nossa
Senhora da Hora, às portas da missão, verdadeira “Casa de Maria”,
comunidade acolhedora, onde cada filho, regressado, da periferia, encontre
aqui um espaço aberto ao Céu!
PRECES – IMACULADA CONCEIÇÃO 2009
Tolentino Mendonça
Maria e os sacerdotes, por Bento XVI
Por conseguinte, o "sim" de Maria é a porta através da qual Deus pôde entrar no
mundo, fazer-se homem. Assim, Maria está real e profundamente comprometida no
mistério da Encarnação, da nossa salvação. E a Encarnação, o fazer-se homem do
Filho, estava desde o início finalizada para o dom de si; ao doar-se com muito amor
na Cruz, para se fazer pão pela vida do mundo. Assim, sacrifício, sacerdócio e
Encarnação caminham juntos, e Maria está no centro deste mistério.
Efectivamente, Maria tem predilecção pelos sacerdotes por dois motivos: porque,
são mais semelhantes a Jesus, amor supremo do seu coração, e porque também eles,
como Ela, estão comprometidos na missão de proclamar, testemunhar e oferecer
Cristo ao mundo. Pela sua identificação e conformação sacramental com Jesus, Filho
de Deus e Filho de Maria, cada sacerdote pode e deve sentir-se verdadeiramente
filho predilecto desta Mãe excelsa e humilíssima.
Isto é válido para cada cristão, para todos nós, mas de maneira especial para os
sacerdotes.
Estimados irmãos e irmãs, oremos para que Maria torne todos os sacerdotes, em
todos os problemas do mundo contemporâneo, conformes com a imagem do seu
Filho Jesus, dispensadores do tesouro inestimável do seu amor de Bom Pastor.
O grande sonho de Deus é viver no meio dos Homens. Esta é a sua alegria. Deus vem,
por isso, a cada instante, ao nosso encontro, para nos falar, para nos ouvir, para se
comunicar connosco.
Antes mesmo da Criação do mundo, Deus pensou em cada um de nós. Quis-nos com
Ele, no diálogo, na amizade. Criou o mundo e ali nos colocou como pérolas da
Criação. Assim, na Criação, Deus deu início à realização do seu sonho, vindo ao nosso
encontro nos jardins da nossa Vida. Diante dEle, estamos em liberdade do amor, com
a possibilidade de recusa. Deus não se impõe no seu Amor.
E Deus viu que a Humanidade precisava de salvação. Precisava de Deus. E, por isso,
Deus voltou, de novo, ao encontro do Homem. Este escondia-se, porque diante de
Deus, o pecado vem ao de cima, escondido na vergonha e no medo. O Homem,
entregue a si próprio, só pode rastejar de corpo caído sobre a Terra, só e triste,
perdido em conflitos e violências. Mas Deus não desistiu de nos salvar. Naquela
mesma hora, hora dramática em que o sonho de Deus parecia desfeito, Deus rasga
um clarão de esperança e anuncia uma boa-nova de salvação. Deus promete libertar
o Homem, promete enviar o Salvador, ao Qual está particularmete associada a
Mulher. Desta Mulher havia de nascer o autor da Vida. Ela daria à Luz a Salvação.
Sonhando ser um de nós e connosco, Deus preparou a sua morada, digna, santa e
imaculada, onde o Altíssimo pudesse fazer-se Homem. Entre todos os pobres e
humildes que esperavam a salvação, Deus encontrou uma Mulher. Mulher, que Ele
mesmo preparou para ser sua Mãe. Preparou-a para ser sua Mãe. Preparou-a
radicalmente, libertando-a do poder do mal, enchendo-a de toda a Graça,
cumulando-a de todas as bênçãos. Ela é a Cheia de Graça, a Imaculada. Ela foi a
primeira a receber em plenitude a salvação que o Seu Filho ofereceria a todos os
filhos de Deus.
Cheia de graça, eleita de Deus, sobre Ela recai toda a benevolência e todo o Dom que
nos vem do Alto. Ao querer salvar todos os homens, Deus preparou uma Mulher,
Maria, como primeira criatura a beneficiar desta salvação. Toda a Graça confiada a
Maria, tem em vista este encontro feliz, esta resposta total e incondicional ao grande
sonho de Deus: encontrar-se no Homem, com os homens para os salvar.
É Advento. Deus vem de novo até nós. Encontra-se com a nossa santidade e com o
nosso pecado. Vem completar a salvação que nos foi oferecida no baptismo mas
tantas vezes maculada no pecado. Deus vem encontrar-se com o nosso coração.
Prepará-lo, como a sua verdadeira morada, para habitar em nós, como centro da
nossa Vida. Queira Deus levar a bom termo obra tão boa começada em nós! Advento,
tempo de preparar o nascimento de Cristo em nossas Vidas. Com Maria,
caminhemos generosamente ao encontro do Senhor que vem!
Solenidade da Imaculada Conceição 1993
Diríamos então ser o homem uma criatura condenada por natureza, vítima da sua
condição, irremediavelmente perdido? Não. Na hora em que o homem parecia
irremediavelmente perdido, escutamos o anúncio da salvação, o anúncio do «sim»
de Deus, da fidelidade absoluta de Deus ao seu Amor.Mil vezes o homem diz «não» e
cai, mil vezes mil Deus repete o seu «sim» de amor e ternura. Ao anunciar a vitória
futura do Homem novo sobre o mal, Deus anunciou o aparecimento da nova Mulher
que lhe havia de dar carne e coração. Maria, a Mãe do Salvador.
Quis Deus vir até nós e vestir a nossa pele, sofrer na nossa Carne. E para o fazer
preparou a sua morada, escolheu uma Mulher, cumulou-a de todas as bênçãos,
encheu-a de toda a graça. Libertou-a do peso do pecado, salvou-a tendo em vista a
obra redentora de seu Filho. Maria é a primeira criatura salva em Jesus Cristo. Ela é a
primeira beneficiária do dom absoluto da graça de Deus, do «sim» irrevogável de
Deus à Humanidade. NEla Deus refez toda a história, iniciou um tempo novo, em que
o homem, embora marcado pelo pecado, vive superiormente animado pela graça.
O poeta Calderón de la Barca diz a dada altura: «Há uma pedra de tropeço no
caminho da Vida na qual caem todos os homens. Todos caem mas um ser bondoso os
acolhe, cura e salva de suas feridas. Mas ao chegar Maria, Ele a previne para que
evite o passo fatal e não seja ferida. Tudo isto em atenção aos méritos do Redentor
de quem ia ser Mãe».É um pouco isto o alcance e o significado do dogma da
Imaculada Conceição. Há uma criatura da nossa raça que desde o princípio da sua
existência permanece na Luz e nunca diminuiu o seu esplendor. Houve alguém sobre
quem recaiu o olhar benevolente de Deus e que foi escolhida como digna morada de
seu Filho. Esse alguém é Maria, a Mulher Prometida, de quem havia de nascer o
Salvador, esse sim, que na Cruz venceu o poder mortífero da serpente e esmagou a
força destruidora do mal. Essa vitória chegou ao coração e à vida de cada homem,
desde o acontecimento do seu baptismo. Mergulhado nas águas da Vida e enxertado
em Jesus Cristo, o homem participa da sua vitória e é acolhe a graça. Desde o
baptismo, cada homem, salvo, santo e imaculado, sabe que faz o seu caminho, não
como um desgraçado sem esperança de salvação, mas como peregrino salvo e
redimido, herdeiro do dom, agraciado pela vida de Deus. E nenhuma queda nos será
fatal.
Nesta esperança caminhamos em direcção à Luz. Está entre nós, connosco e à nossa
frente, a Mãe, a abrir corações, que sejam neste tempo e neste mundo digna morada
de seu Filho.
Homilia na Imaculada Conceição de Nossa Senhora 1994
«Ouvi o rumor dos vossos passos. Tive medo e escondi-me»! Eis o homem. O homem
frágil que se quis fora de Deus. Eis o homem que julgou poder viver enraizado nas
suas próprias forças, guiado pelas suas ideias. Eis o homem que rejeitou viver na
«companhia» do seu Deus e se encontra agora na mais dolorosa solidão. Eis o
homem perdido no seu des-caminho, o homem desesperado da sua condição, sem
esperança de remédio. Eis o «homem primeiro», vítima do mal radical: querer erguer
a sua vida, seguro de si, à sombra das suas possibilidades, recusando Deus como
fonte do seu ser e luz do seu agir. É este mesmo homem que se confessa diante de
Deus: «Ouvi o rumor dos vossos passos. Tive medo e escondi-me». Diante de Deus
que passa pelo silêncio do seu coração, o homem retrai-se, tímido e temeroso. «Tive
medo e escondi-me»! Diante de Deus está diante da sua Verdade. «Estava nu e tive
medo»!
Mas é a este homem, perdido no seu pecado, sem esperança de salvação, é a este
homem que Deus vem. Deus aproxima-se com a ternura dos seus passos delicados.
Aproxima-se para tocar o homem na sua verdade mais profunda. É a este «homem»
que Deus vem anunciar que «este mal radical não é fundamental nem definitivo».
Vem dizer-lhe que o quer salvar, que o quer «elevar com o seu amor redentor, um
amor que é sempre maior que o seu pecado». Na hora da perdição, Deus vem e traz a
primeira boa nova da salvação: Da descendência da mulher, outra Mulher havia de
aparecer. DEla havia de nascer Aquele que esmagaria o poder do mal.
A condição humana votada à desgraça pode deixar de ter medo. «Não ter medo
porque o homem foi redimido por Deus. A força da Cruz de Cristo e da sua
Ressurreição é maior do que qualquer mal de que o homem possa ou deva ter medo».
Herdeiro do pecado, em Cristo o homem torna-se herdeiro da graça.
Esta graça da salvação, operada para nós na morte e Ressurreição de Cristo, espelha-
se de maneira singular em Maria, Santa e Imaculada... Aquela que havia de conceber
em seu seio o Salvador do Mundo. Imaculada desde a sua Conce(p)ição, Maria é
assim a primeira redimida em Cristo. Quer dizer, a salvação oferecida em Cristo é
oferecida primeiro a Maria e a ela oferecida de maneira radical. Tal significa que
Maria é isenta não somente daquele mal que o homem experimenta diariamente
nos seus pecados, mas é também liberta daquela «condição de pecado» que torna o
homem pecador. Maria é a primeira, não só no tempo como na perfeição, a
beneficiar da salvação de Deus em Cristo. Tendo em vista preparar uma digna
morada para seu Filho, Deus encheu Maria de toda a graça. E a grandeza de Maria
está no puro acolhimento e na fidelidade a este dom, na sua plena correspondência
ao amor de Deus que a elegeu. Dizer «Imaculada Conceição» quer dizer que o mal no
mundo deixou de ser irreversível... A obra de Cristo já o venceu, uma vez que Maria
pôde nascer «cheia de graça»...
Por isso, a nós que temos medo até do futuro por causa do pecado, Deus vem
abraçar-nos com o seu amor redentor e dizer a cada um, como a Maria: «Não tenhas
receio». «Não tenhais medo do mistério de Deus...Não tenhais medo dos homens. O
homem é sempre igual. Não tenhais medo da fragilidade do Homem nem da sua
grandeza. Não devemos temer a verdade sobre nós próprios. Não tenhais medo
daquilo que vós mesmos criastes, não tenhais medo nem sequer de tudo o que
homem produziu e se revela cada vez mais um perigo. O homem não cessa de ser
grande, nem sequer na sua fragilidade. Não tenhais medo de ser testemunhas da
dignidade de toda a pessoa humana, desde o momento da sua concepção até à
morte. Não devemos temer a verdade sobre nós próprios. Não tenhais medo de Deus.
Invocai-o como Pai, «o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que lá do alto dos Céus nos
abençoou e nos escolheu, antes da Criação do Mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis», (Ef.1,3) como Maria, a cheia de graça!
Homilia na Imaculada Conceição
no II Domingo de Advento B 1996
Quem cala, consente! A voz de Deus ecoa silenciosa no coração de uma Mulher. Tudo
tão simples e tão extraordinário. Um prodígio de maravilha, à sombra do silêncio. Do
silêncio de Deus donde brota a Palavra. Do silêncio de Maria onde a Palavra se
fecunda.
Deus está primeiro e é maior do que nós. Foi Ele que pensou em Maria para digna
morada de seu Filho; e neste sentido, a preparou, libertando-a de toda a mácula,
enchendo-a de toda a graça. Pensando nEla, para digna morada de seu Filho, Deus
quis Maria preservada de todo o pecado, liberta de todo o mal; desejou-a pura, santa
e imaculada. Assim, Deus realizou primeiro em Maria, de modo absolutamente
singular e pleno, a salvação que a todos seria oferecida.
E Maria, ali, sozinha e calada, sem sombra de pecado; sem nada fazer, sem nada
medir, sem nada pedir. Se, da parte de Deus, tudo é dom, tudo é graça, tudo é
benevolência, amor gratuito, da parte de Maria, tudo é assentimento livre,
consentimento calado, acolhimento puro. Apenas um «sim», a resposta livre e
serena à graça recebida. Mais uma vez, Deus primeiro. Primeiro, o «sim de Deus» ao
homem. Depois, «o sim do Homem a Deus». E pela primeira vez na História da
salvação, em Maria, a perfeita harmonia entre «o sim Deus» e «o sim» da criatura
humana».
Maria é assim «puro advento», puro acolhimento da graça, pura aceitação do dom,
puro coração aberto e envolto pelo amor divino. Em Maria, se manifesta o agir e o
querer de Deus. É Deus que tudo faz. E ao homem só é pedido, que deixe Deus fazer,
que deixe Deus vir, chegar e vencer...
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 1998
Talvez o cenário da 1ª leitura nos ofereça uma resposta, que poupe Deus à vergonha
de uma Promessa há tanto tempo por cumprir! Lá, nas origens, quando e onde nem
sequer havia jardins proibidos, Deus andava de braço dado com o Homem. Ali, o
homem vivia sem medo de rumores inimigos, metendo mãos à obra do Criador. De
repente, foi tentado a largar a mão amorosa de Deus, que o fazia crescer, para se
entregar sozinho à aventura de uma vida, sem projecto, à sua pequena medida. Quis-
se fora de Casa, como Filho rebelde, a viver dos rendimentos recebidos. E, sem se dar
conta, alienou a sua vida, pelo preço da sua liberdade. O Dom maior, pelo qual Deus
não se impunha mas se oferecia em amor, - a sua liberdade - perdia-se nas teias do
orgulho próprio. E, por isso, Deus, fiel a si mesmo, veio de novo. Para recuperar o
perdido, para reconstruir a liberdade humana, com a força da sua graça e do seu
perdão.
Doravante, esta Terra Prometida da Liberdade, este futuro de sonho, é uma obra que
Deus não construirá nunca sem a nossa livre colaboração. É como se, no profundo
respeito pela nossa liberdade, Deus dissesse de uma vez para sempre ao Homem:
«Eu que te criei sem ti, não te salvarei sem Ti... O meu Reino não se construirá sem a
tua liberdade... E a tua liberdade não se resgatará sem a minha graça». Deus, não
esperou mais, que encontrar na Terra uma criatura de sonho, onde a sua graça se
encontrasse com a nossa liberdade. E foi assim, que na aurora dos novos tempos,
Deus «achou graça» a Maria. E «encheu de sua graça» a Virgem de Nazaré. Na cena
da anunciação, desenha-se o quadro perfeito do encontro entre a graça de Deus e a
liberdade humana de Maria. Deus vem e saúda. «Avé, ó cheia de graça»... Interpela
Maria, como filha predilecta do seu amor, e chama-a a responder livremente. Num
profundo diálogo de Amor, Maria acolhe a mensagem como surpresa e não como
um facto inevitável. Deus não se impõe. Oferece-se no Dom de um Filho. E Maria,
tocada pela graça daquele encontro, deixa-se possuir pela força de tão grande amor.
Acolhe Jesus, no seu coração, com liberdade própria.
É uma liberdade consciente, que se deixa «perturbar» e interrogar: «como será isto».
Mas ao mesmo tempo, uma liberdade, que não se isola na solidão e na concentração
sobre si mesma, mas antes se derrama com generosidade, em relações autênticas:
com o Pai que a premiou, com o Filho que nela se começa a gerar e com o Espírito
que a cobre com a sua sombra. É uma liberdade humilde, que reconhece a sua
dependência amorosa: «eis a serva do Senhor». E, por fim, uma liberdade ousada e
capaz de confiar: «Faça-se em mim, segundo a tua Palavra»...
2. E o Senhor, volta-se depois para a Mulher, seduzida pelo Mal, parecendo repetir o
diálogo, com esta pergunta «Que fizeste? Que se passa entre um e outro? Que se
passa entre vós e Mim?»... A Mulher, fazendo orelhas moucas da voz calada da
consciência, transforma a serpente em “má da fita”. «A serpente enganou-me e eu
comi». O muro enterrou-se ainda mais nos alicerces! O laço do amor torna-se um nó
cego a prender um e outro à sua miséria. No fim, parece a história dos três tristes:
Deus desencantado, o Homem envergonhado e a Mulher espezinhada!
3. Mas não. Deus não deixa o homem preso ao laço do inimigo. Não o deixa
esganado no nó cego do seu pecado. Não o deixa cercado no muro da sua vergonha!
Deus anuncia a salvação. Promete destruir o mal pela raiz. E «da descendência da
Mulher – diz Ele – é que há-de vir Aquele que esmagará» o poder tirano da tristeza e
do pecado. E assim foi... Deus voltou ao diálogo com a sua criatura humana. Fez
ouvir, de novo, o rumor silencioso dos seus passos e veio ao encontro de outra
Mulher. Entrou onde Ela estava, sem perguntar «onde estás?», ou «que fizeste?».
Porque sabia que estava inteiramente nEle e que lhe obedecia com amor. Por isso, as
palavras de Deus, na boca do Anjo, são o anúncio feliz da salvação. «Alegra-te, ó
cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres»...
Maria não teve medo nem se escondeu. Procurava apenas entender o sentido
daquelas palavras e Deus parece disposto a explicar-se: «És feliz, Maria, porque te
quis, em primeiro lugar! És, de facto, a predilecta do meu amor! És feliz, porque te
deixaste seduzir pela beleza do meu amor divino. És feliz, porque és, entre todas as
criaturas, a primeira que Eu quis sã e salva, no amor de meu Filho. És feliz, porque
foste procurada e achada como digna morada de meu Filho. És feliz, porque sem
sombra de pecado, és possuída pela força do altíssimo»...
Isabel, dias mais tarde, receberá Maria em sua casa e, lendo à tona dos olhos da
Virgem a graça de tamanha alegria, sente o menino saltar-lhe no seio e exclama: «És
feliz, Maria, porque acreditaste, és feliz porque acolheste e não duvidaste, és feliz
porque obedeceste e não fugiste, és feliz porque entre ti e Deus não há muro de
vergonha; Tu és, ó Maria, como um enorme cristal onde se espelha a graça, onde
Deus nasce e entra, como o Sol pela vidraça»!
5. Maria, é por isso, causa da nossa alegria! Causa de uma história de amor, da qual
todos saímos sãos e salvos. Por causa daquele «sim» de Maria, Deus pôde fazer
maravilhas, sem nenhum impedimento. Pôde devolver ao Homem triste, só e
envergonhado, o rosto da alegria! Com razão, Maria pôde cantar: «A minha alma
glorifica o Senhor e o meu Espírito se alegra em Deus meu Salvador».
1. Deus, que se queria Homem, fez-se ao encontro de uma Mulher. Havia muitos
séculos que Deus desenhara, sonhara e prometera uma humanidade nova, depois do
velho pecado das origens. Deus encontra agora, na plenitude dos tempos, uma
criatura, uma Mulher, de nome Maria, inteiramente livre. Não livre de Deus, como a
primitiva Mulher, seduzida e sedutora. Mas uma Mulher inteiramente livre para Ele,
livre de tudo para Deus.
Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, vem, por isso, de mansinho ao encontro da
Filha Predilecta, para ser sua Mãe. E encontra em Maria a plena correspondência ao
seu amor. Encontra em Maria, a «cheia de graça», a criatura humana sem sombra de
pecado, nem mancha de negação. Ela responde sem entraves. Livre de si mesma,
consente prontamente: «Faça-se em Mim, segundo a tua Palavra». Este fiat de
Maria - «faça-se em mim» - decidiu, da parte humana, o cumprimento do mistério
divino. Na Anunciação, de facto, Maria entregou-se a Deus completamente,
manifestando «a obediência da fé» Àquele que lhe falava. Ela respondeu, pois, com
todo o seu «eu» humano e feminino. E assim deu corpo ao sonho divino de um
Homem novo!
2. O relato da Anunciação, que acabámos de ouvir, não é, por isso, uma história de
embalar. É um quadro, onde São Lucas, tentou exprimir o encontro perfeito entre a
liberdade humana e a graça de Deus. O «Sim» de Maria é o «consentimento» livre da
Criatura, diante da generosa surpresa do Criador. Maria pronunciou este «fiat»
mediante a fé. Foi mediante a fé que ela «se entregou a Deus» sem reservas e «se
consagrou totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra do seu Filho». E
este Filho — como ensinam os Padres da Igreja — concebeu-o na mente antes de o
conceber no seio: precisamente mediante a fé!
Assim como esta estrela, conjuntamente com a aurora precede o nascer do Sol,
assim também Maria, precedeu na História do género humano, a vinda do Salvador,
o nascer do Sol da Justiça” (Red. Mat.3).
Em pleno Advento, Maria é Estrela no caminho da fé. Daquela fé, que consente no
silêncio e diz «sim» à Palavra, daquela fé que se prontifica a acolher a surpresa de
Deus e a caminhar sem sinal nem garantia. Daquela fé que dispõe e torna o coração
livre, de qualquer empecilho, recompensa ou condição, para dar lugar a Deus e a Ele
somente. Sobretudo daquela fé que acredita na força de um «sim» que pode
transformar o mundo. Por muito pequeno e escondido que ele seja.
“Maria será para os cristãos a Estrela que lhes guia os passos com segurança ao
encontro do Senhor”! (TMA 59). Quanto a nós, “basta um «sim», um passo, para (a)
Ele chegar”!
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 2001
3. Neste tempo de Advento, a Igreja olha para Maria, como «aurora» da redenção,
como o primeiro sinal da sua chegada. Para dar conta da presença de Deus é preciso
estar ali, detido, aos pés de Maria, à espera do impossível. Com o mesmo desejo de
salvação, com a mesma atenção silenciosa, com a mesma abertura generosa, com a
mesma ânsia da hora de Deus. Ela é a Virgem da Expectação, a Senhora do Ó, a mãe
grávida, preparada, como digna morada, para receber o Filho e ansiosa para o dar à
Luz. A Igreja mira-se, assim, neste tempo de Advento, em Maria, e aprende dela a
esperar! Com as exclamações de espanto e de maravilha, e ao mesmo tempo, de
espera e de desejo, que é costume rezar-se nas vésperas dos dias que antecedem o
Natal. Diante da imagem da Senhora do Ó, podemos encarnar este desejo, que foi
seu. E rezar:
- Ó Chave da Casa de David, que abris e ninguém pode fechar, fechais e ninguém
pode abrir!
R. Vinde libertar os que vivem nas trevas nas sombras da morte!
1. Não sabemos bem quando tudo começou ou se deu. Nem como tal se gerou e –
diz o primeiro livro da Bíblia – afinal aconteceu. Mas sabemos exactamente “como”
tudo acabou. O Homem, homem e mulher, deixaram-se vencer, pela pressa de ser e
de crescer, pelo orgulho de mais ter e de tudo saber, pelo desejo de agir e de seguir
os seus passos, fora do olhar amoroso de Deus. Mas quando um e outro julgavam ter
chegado com um dedo ao céu, deram-se conta de estar já a pisar a dura terra da
solidão. Nessa hora negra da nossa história original, ainda a noite começava e já
Deus prometia e anunciava, no preciso Jardim da Criação, um tempo novo, o dia da
salvação.
2. Desde então, foi longo, muito longo, o tempo da espera e da preparação. Séculos
dos séculos sem fim. Nem os medimos bem. Nem importa se cem… ou quantos além,
se «um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como o dia de ontem que já
passou». Importa que a humanidade inteira ficou à espera, prisioneira de um mal
que se lhe apegou. Mas certa de que Deus tarda, mas não falta ao que nos prometeu.
3. Esta esperança fez um Povo, que vivia de uma Promessa, que Deus ainda não
pagou. Na história antiga deste Povo de Deus havia a esperança, que da
descendência de uma Mulher, havia de nascer o Salvador, Aquele, que tem o poder
de esmagar a cabeça e vencer o poder do mal, pela raiz. Uma e outra vez, parecia
que era desta, e de vez, Mas não. Também Deus, no tempo da sua paciência, soube
esperar, sem nunca desistir ou se cansar. Até, um dia, parar e reparar que, algures,
em Nazaré, estava a Mulher que Ele mesmo pensou e preparou, para ser a digna
morada do seu Filho: Maria.
4. E eis-nos agora em Nazaré. E a gente nem sabe porque é, ali. Apenas se vê bem
porquê, pois Deus é tudo e faz o que quer, numa virgem que Lhe dá um «sim» livre e
consciente, de filha, de Mãe e de Mulher. Ela é a última na fila de um Povo inteiro,
que há muito esperava pelo Messias. Mas é a primeira, porque mais O deseja, como
ninguém. Ela quer tanto deixar Deus ser, vir e vencer, que, sem contar, apressa a sua
chegada. E Deus, de uma passada, desce do seu coração imaculado ao ventre
materno, para gerar nela o Filho Eterno, sem nenhum brado, sem nenhum pranto.
Tudo num silêncio humilde onde Ela guarda o rumor divino e o segredo inefável do
seu único amor. E basta um «sim», sem nada exigir, nem consultar, para o caso,
nenhum dos «seus», para se tornar fruto do seu ventre puríssimo, Jesus, o Filho de
Deus.
6. Quem nos dera um desejo assim, tão desnudado de tudo, como o de Maria, tão
cheio dAquele Menino Deus que está por vir. O homem do novo milénio
experimenta esta tensão entre o querer tudo e o já não esperar nada. Falho de
paciência, para o que demora e não chega na sua marcada hora. De certo modo,
tornamo-nos incapazes de uma verdadeira espera, ou porque vivemos no imediato e
conformados com tudo isto, ou porque desesperados, já não estamos realmente
empenhados na vinda de N.S.J. Cristo.
1. Era assim, neste espírito de preparação para a vinda do Salvador, que rezávamos
no início da Eucaristia, que neste Domingo de Advento celebrámos. A Solenidade da
Imaculada Conceição há-de ver-se e viver-se, neste preciso clima de preparação, de
intensa espera e de desejo ardente, da primeira, da permanente e da última vinda
do Salvador. Se há um tempo litúrgico “mariano” por excelência, é este do Advento.
Neste II Domingo, reunimo-nos aqui, sob o manto e o olhar de Maria, que viveu esta
espera «com inefável amor» (Pref. Advento II), e por isso nos pode «conceder a graça
de «caminharmos generosamente ao encontro de Cristo», (Oração Colecta do II
Domingo de Advento) seu Filho.
Maria faz parte do Povo de Deus. Ela é a verdadeira Filha de Sião; filha de um Povo
que trazia, desde as origens a marca do pecado, mas também voltado para o futuro,
na esperança da salvação. Na história antiga deste Povo de Deus, esta esperança,
estava além do mais ligada, segundo a Promessa, à descendência de uma Mulher, da
qual havia de nascer o Salvador, Aquele, que tem o poder de esmagar a cabeça e
vencer o poder do mal, pela raiz. Uma e outra vez, parecia que era desta, e que era
de vez, que a Promessa se cumpria. Mas não. Também Deus, no tempo da sua
paciência, soube esperar, sem nunca desistir de nós, nem se cansar. Até, um dia, o
próprio Deus parar e reparar que, algures, em Nazaré, estava a Mulher que Ele
mesmo pensou e preparou, para ser a digna morada do seu Filho: Maria.
Foi Deus que pensou em Maria para digna morada de seu Filho; e neste sentido, Ele
próprio a preparou radicalmente, libertando-a de toda a mácula, enchendo-a de toda
a graça. Pensando nEla, para digna morada de seu Filho, Deus quis Maria preservada
de todo o pecado, liberta de todo o mal; desejou-a pura, santa e imaculada. Toda a
graça confiada a Maria, tem em vista este encontro feliz de Deus com a sua criatura,
esta resposta total, este «sim» incondicional da pessoa ao seu desígnio de amor e de
salvação.
Diríamos que Maria é a última na fila de um Povo inteiro, que há muito esperava pelo
Messias. Mas é a primeira, pois O deseja, como ninguém. Ela quer tanto deixar Deus
ser, vir e vencer, que, sem contar, lhe apressa a sua chegada. E Deus, de uma passada,
desce do seu coração imaculado ao ventre materno, para gerar nela o Filho Eterno,
sem nenhum brado, sem nenhum pranto. Tudo num silêncio humilde onde Ela
guarda o rumor divino e o segredo inefável do seu único amor. E basta um «sim»,
sem nada exigir, nem consultar, para o caso, nenhum dos «seus», para se tornar
fruto do seu ventre puríssimo, Jesus, o Filho de Deus.
Maria é assim «puro advento», puro acolhimento da graça, pura aceitação do dom,
puro coração aberto e envolto pelo amor divino. Em Maria, se manifesta o livre agir e
o querer absoluto de Deus. É Deus que tudo faz. E ao homem só é pedido, como a
Maria, que deixe Deus fazer, que deixe Deus ser, vir, chegar e vencer...
Mas não é só como Filha de um Povo que Maria espera o Messias. É também como
Mãe de Deus, que Ele espera o Filho. Neste Advento, Maria aparece-nos, Mulher
grávida, Mãe em expectação, verdadeira «Mãe da espera». Ela «está de esperanças»,
para usar uma expressão tão antiga e tão bela. Como diz a Liturgia, «Ela esperou com
inefável amor» o Messias Prometido. Esperou-o e, pela sua santidade de vida,
alcançou-o. Vivendo «sem pecado nem motivo algum de censura», ela «apressou a
vinda do dia de Deus».
3. Que espera Maria de nós? Como vive Maria hoje e connosco esta espera, este
Advento?
Diz a Liturgia, olhando já não para o princípio da Imaculada, mas para o fim último da
vida de Maria: «Elevada à glória do Céu, Maria assiste com amor materno a Igreja,
protegendo misericordiosamente os seus passos, enquanto espera a vinda gloriosa do
Senhor» (Pref. Nossa Senhora III).
Neste tempo de Advento, a Igreja sente-se acompanhada pelo olhar de Maria, que
nos abre os olhos para Jesus e nos ajuda, não tanto a falar muito dEle, mas
sobretudo a manifestá-lo e a descobri-lo.
Para dar conta da vinda e da presença de Deus, é preciso estar ali, detido, aos pés de
Maria, à espera do impossível. Com o mesmo desejo de salvação, com a mesma
atenção silenciosa, com a mesma abertura generosa, com a mesma ânsia da hora de
Deus.
4. Quem nos dera um desejo assim, tão desnudado de tudo, como o de Maria, tão
cheio dAquele Menino Deus que está ainda por vir. O homem do novo milénio
experimenta esta tensão entre o querer tudo e o já não esperar nada. De certo modo,
tornamo-nos incapazes de uma verdadeira espera, ou porque vivemos no imediato e
conformados com tudo isto, ou porque desesperados, já não estamos realmente
empenhados na vinda de N.S.J. Cristo.
Com Maria, caminhemos generosamente ao encontro do Senhor que veio, que há-de
vir e que vem, no seu colo, mais uma vez, no regaço de sua Mãe.
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição
da Virgem Santa Maria 2003
1. Às portas do Natal, ouvimos Deus bater à porta. Eis que está à porta e bate
(Ap.3,20). Ele sempre bate à nossa porta. Desta e pela primeira vez bate à porta do
Paraíso. Bate à porta do Homem, do primeiro e de cada Homem, e pergunta-lhe:
«Onde estás?». Mas o homem, que pecou, que se trancou dentro de portas, para se
defender e isolar de Deus, está fora de casa, fora do espaço onde verdadeiramente é.
Incomunicável. Fora de si. Fora dos outros. Fora de Deus. E por isso, à pergunta de
quem lhe bate à porta do coração, o homem responde, a tremer, sem dizer onde
está. Nem ele sabe porventura onde está. Sabe que não está em Deus. E por isso
reage, como a um estranho, com medo de lhe abrir a porta. Medo e vergonha,
solidão absoluta de um homem nu e prisioneiro, ao ar livre. «Tive medo e escondi-
me». Desabafa ele. E segue-se uma longa conversa, sobre a culpa, que não é solteira
e que ele diz ser da mulher. E que a mulher diz não ter, por ser enganada. E, nesta
zanga, aquela que era uma relação de amor e de comunhão, está agora viciada pelo
engano, pela suspeita, pela divisão.
Até que um dia, Deus bate, de novo, à porta. À porta de uma mulher. Daquela que
Ele escolhera, desde toda a eternidade, para se tornar a Mãe de Seu Filho. Vai a
Nazaré. E não precisa sequer de bater à porta. A porta estava inteiramente aberta.
«Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: Ave, ó cheia de graça, o Senhor está
contigo!». Maria está em Deus. Está onde Deus está. Deus está nela e está como que
em sua casa. Ele mesmo a preparara, para se tornar a digna morada de seu Filho.
Maria está cheia e preenchida pela graça, pela presença amorosa do seu Deus. Do
Deus em quem espera. Do Deus, o Único por quem espera. Maria soube esperar
unicamente de Deus a salvação. A sua pobreza, a sua pequenez converteu-se, deste
modo, em palco do poder divino. A própria virgindade - convém repeti-lo - atesta que
Deus é capaz de inventar uma esperança, onde não há esperança e abrir caminhos
no deserto... abrir portas, onde até as janelas se fecham à luz.
4. E Deus espera tudo de Maria, para uma resposta inteira e livre. E Maria, neste
encontro, de portas abertas, não é tomada pelo medo, mas pelo temor. Pela certeza
da sua pequenez, diante do imenso mistério de Deus. Sem sombra de pecado, Maria
diz um «sim». Um «sim» incondicional, que permite a Deus entrar, vir e acontecer, e
fazer como lhe apetecer. Para estabelecer a sua morada no meio de nós. Deus
começa a ganhar terreno. E, por esta porta aberta de Maria, abre-se-nos, de novo, a
porta do Paraíso, as portas do encontro de toda a humanidade com Deus. Abrem-se
as portas ao Redentor. Abrem-se as portas da salvação a toda a humanidade. Maria
Imaculada, preservada de todo a mancha do pecado, redimida e salva, aparece,
assim, como a aurora de um tempo novo, a anunciar à aparição do Sol da Justiça,
Cristo nosso Deus.
5. Que poderíamos aprender de Maria neste advento? Ela ensina-nos, nesse silêncio
humilde, a esperança dos pobres. Neste especial tempo de advento, afinal o mais
mariano de todos, a Virgem Mãe ensina-nos a não desistir, perante tantas portas,
que se nos fecham. A não desesperar, quando, por exemplo, parece esgotado o
diálogo no casal, quando se julgam jogadas todas as hipóteses de reconciliação, num
intrincado conflito de família, quando já nem encontramos mais portas onde bater,
para obter uma ajuda, para encontrar o próprio emprego, quando até se nos fecham
as portas do mundo, para a evangelização.
É preciso então não desistir. Nem forçar, de modo algum, a porta do paraíso. Porque
pior do que nos fecharem todas portas, é não termos as nossas abertas, ao Senhor
que vem e até gosta bem de nos surpreender. É preciso, como Maria, deixar apenas
Deus entrar, pela brecha do nosso desejo, pela porta aberta do nosso coração, a
Deus e ao irmão.
Sermão no encerramento da
Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria
Fregim - 2003
1. Às portas do Natal, ouvimos Deus bater à porta. Eis que está à porta e bate
(Ap.3,20). Ele sempre bate à nossa porta. Na primeira leitura da celebração da
Eucaristia deste dia, era Deus que batia à porta do Paraíso. Batia à porta do Homem,
do primeiro e de cada Homem, para lhe perguntar: «Onde estás?».
Mas o homem, das origens e desde as origens até hoje, o homem que pecou, que se
trancou dentro de portas, para se defender e isolar de Deus, está fora de casa, fora
do espaço onde verdadeiramente é. Fora de si. Fora dos outros. Fora de Deus.
Incomunicável.
E por isso, à pergunta de Deus que lhe bate à porta do coração, o homem responde,
a tremer, sem dizer onde está. Nem ele sabe porventura onde está. Sabe que não
está em Deus. E por isso reage, como a um estranho, com medo de lhe abrir a porta.
Medo e vergonha, solidão absoluta de um homem despido e prisioneiro, ao ar livre.
«Tive medo e escondi-me». Desabafava ele. E segue-se uma longa conversa, sobre a
culpa, que não é solteira e que ele diz ser da mulher. E que a mulher diz não ter, por
ser enganada. E, nesta zanga, aquela que era uma relação de amor e de comunhão,
está agora viciada pelo engano, pela suspeita, pela divisão.
2. Este era afinal o retrato de uma humanidade ferida pelo pecado, de uma
humanidade que fecha umas e outras portas a Deus, de uma humanidade que
impede Deus de entrar na sua própria casa, de nos visitar, de se sentar à mesa
connosco, de nos sentar à mesa com Ele.
Mas ainda assim, apesar das muitas portas trancadas, Deus sempre abre uma brecha,
como quem nos deixa espreitar a luz, pelo buraco da fechadura, e descobrir o
segredo para a porta de novo se abrir. Voltando-se para a serpente, afrontando o
mal que a todos nos faz rastejar, Deus diz a respeito de uma Mulher: «Esta te
esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar». E tal Mulher tornou-se a “mãe de
todos os viventes”, daqueles que pareciam condenados a ser os pobres mortais.
4. E Deus espera tudo de Maria, para uma resposta inteira e livre. E Maria, neste
encontro, de portas abertas, não é tomada pelo medo, mas pelo temor. Pela certeza
da sua pequenez, diante do imenso mistério de Deus. Sem sombra de pecado, Maria
diz um «sim».
- Um «sim» incondicional, que permite a Deus entrar, vir e acontecer, e fazer como
lhe apetecer.
- Um sim agora, um sim depois. Um sim sempre. Um «sim» permanente: a sua vida
inteira foi um sim a Deus e aos homens.
- Um sim humilde, a partir da sua pequenez e pobreza, fiado em Deus e não na sua
capacidade ou na sua auto-suficiência;
- Um sim livre, não por medo nem imposição, mas na lucidez e amor.
- Um sim enamorado, como o da noiva de Deus. Deus é todo o seu amor e nada Lhe
poderá negar;
- Um sim entregue, sinal de obediência radical; pelo que põe toda a sua vida nas
mãos de Deus;
- Um sim reparador, por todos os nãos pronunciados, desde as origens, por todas as
rupturas do Homem com Deus; Por este «sim», por esta porta aberta de Maria, abre-
se-nos, de novo, a porta do Paraíso, as portas do encontro de toda a humanidade
com Deus. Abrem-se as portas ao Redentor. Abrem-se as portas da salvação a toda a
humanidade.
5. Que poderíamos aprender de Maria neste advento? Ela ensina-nos, nesse silêncio
humilde, a esperança dos pobres. Neste especial tempo de advento, afinal o mais
mariano de todos, a Virgem Mãe ensina-nos a não desistir, perante tantas portas, que
se nos fecham. A não desesperar, quando, por exemplo, parece esgotado o diálogo no
casal, quando se julgam jogadas todas as hipóteses de reconciliação, num intrincado
conflito de família, quando já nem encontramos mais portas onde bater, para obter
uma ajuda, para encontrar o próprio emprego, quando até se nos fecham as portas
do mundo, para a evangelização. É preciso então não desistir. Nem forçar, de modo
algum, a porta do paraíso. Porque pior do que nos fecharem todas portas, é não
termos as nossas abertas, ao Senhor que vem e até gosta bem de nos surpreender. É
preciso, como Maria, deixar apenas Deus entrar, pela brecha do nosso desejo, pela
porta aberta do nosso coração, a Deus e ao irmão. Só abrindo estas portas, se terá
acesso ao Presépio de Belém.
HOMILIA NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO C 2004
Para nós, que neste Advento andamos «pelos caminhos da família de Nazaré», é
oportuno e interessante registar, desde já e a partir da escuta da Palavra de Deus,
um pormenor significativo: a Sagrada Escritura, ao representar o drama original do
pecado e a promessa da salvação, conta-nos uma história de amor do par humano e
situa-nos na trama dessa relação conjugal. Vale a pena ir até lá.
Vê-se bem, no quadro do pecado original, como o amor é um tesouro, desde sempre
ameaçado pela fragilidade do nosso barro humano. O próprio homem que tinha
acolhido a Mulher com um grito de alegria incontível (Gén.2,23), ao recebê-la, como
carne da sua carne, osso dos seus ossos, atribui agora as culpas à Mulher, que Deus
lhe dera por sua igual e companheira. E a relação do casal ameaça a ruptura.
5. Somos assim alertados, com realismo, para o dom e para o risco que comporta a
vivência da sexualidade e do amor entre o Homem e a Mulher. Se a sexualidade é
uma expressão do amor e um dom do criador, e por isso mesmo dotada de bondade,
isso afasta-nos claramente de uma visão diabólica, que só vê “pecado” em tudo o
que é a linguagem dos afectos e dos gestos de amor; mas se há, como se vê, o risco
de manipulação e de exploração em tudo o que são afectos, sentimentos e gestos de
amor, também não podemos cair numa visão angélica, como se esse mundo da nossa
vida íntima estivesse livre de toda a ambiguidade e isento do pecado. E fosse tudo
amor! A maravilha e o trágico deixam igualmente a sua marca na experiência original
do amor humano.
6. Assim, caros irmãos, neste ser humano, enfraquecido pelo pecado, verificamos
que o nosso pobre coração chamado a tamanha grandeza, precisa de ser redimido,
purificado, educado, dilatado, preenchido, para realizar a sua altíssima vocação ao
amor. Nesse sentido, a vivência digna da sexualidade e do amor conjugal é uma luta
de todos os dias e de toda uma vida, é uma construção generosa de vitória, sobre os
possíveis desvios do pecado humano.
Nós cristãos sabemos que chegar a este coração novo, alcançar este coração puro, é
impossível sem a graça de Deus, sem o impulso, o fogo, a sombra do seu Espírito
Santo. Todavia essa graça só pode invadir-nos e possuir-nos, se previamente nos
dispusermos a limpar o coração, a cultivar nele a humana virtude da castidade. A
castidade anuncia o desejo de viver generosamente o amor e renuncia a experiências
sexuais facilitantes, isto é, renuncia a uma sexualidade desligada do amor e da
responsabilidade de um compromisso definitivo. O caminho do amor é o caminho da
generosidade e da coragem. Não o da experimentação prévia ou provisória.
7. Eis porque o amor também se aprende… e as suas linguagens e manifestações,
também se educam, sob pena de caírem rapidamente na vulgaridade e no vazio do
consumo. Ainda assim, a última palavra é de esperança. A queda do primeiro casal é
acompanhada de uma promessa de auxílio e de salvação, com a qual o casal sempre
deve contar. No projecto de Deus, o casamento é uma Promessa que Deus não
esqueceu, apesar de tudo o que nos factos pareça desmenti-la.
Também aí Maria, no seu amor virginal, nos há-de abrir à esperança de um coração
novo, redimido pela graça de Cristo. Ela é a primeira criatura de uma humanidade
chamada a voltar sempre ao primeiro amor! Olhando para a Virgem Imaculada,
podemos contemplar a pureza do desejo e o rosto da ternura, o amor, sem sombra
de pecado!
SERMÃO EM FREGIM IMACULADA CONCEIÇÃO 2004
▼ É Deus Pai que é glorificado na Imaculada, pois, ao ser preservada, desde a sua
concepção, de toda a mácula do pecado original, significa que Maria foi cumulada
inteira e plenamente da graça de Deus, desse Deus Pai, que olhou para a sua Filha
predilecta e primeiro a amou, a escolheu e consagrou para ser a Mãe de seu Filho;
3. Esta definição dogmática, como aliás a de todos os dogmas, não é uma imposição
à fé. É apenas a confirmação da fé já sentida, vivida e assumida pelo Povo de Deus. A
proclamação do dogma da Imaculada Conceição nada acrescentou à fé e devoção do
povo português, mas contribuiu, e muito, para as confirmar e robustecer. Prova disso,
foi o dinamismo suscitado entre os fiéis de Portugal, no sentido de erguer um
monumento nacional que assinalasse a definição de Pio IX. Em 1869 concluía-se esse
primeiro monumento, no Sameiro, seguindo-se-lhe a construção dum santuário
dedicado à Imaculada Conceição de Maria, cuja imagem foi coroada solenemente há
cem anos.
Queridos Amigos, para isto sabemos que podemos contar com Aquela que, sem
jamais ter cedido ao pecado, é a única criatura perfeitamente livre. É a Ela que vos
confio. Caminhai com Maria, ao longo do trajecto da plena realização da vossa
humanidade!
Queira Deus que este gesto de consagração se transforme num permanente apelo,
para todos, no sentido de cultivarmos e mantermos sempre viçosas as rosas do nosso
amor a Maria. Que ela não nos deixe murchar a fé e a devoção que tantos séculos de
história construíram no coração das gentes desta terra de Santa Maria de Fregim.
Que Maria Santíssima, nossa Mãe Imaculada, olhe para vós e por vós, bem como por
toda a humanidade, nos difíceis caminhos da paz e da justiça, no Natal que se
aproxima. Com Maria, caminhemos generosamente ao encontro do Senhor que vem!
Homilia na Solenidade da imaculada Conceição 2005
Minado pelo pecado, sobretudo da soberba, Adão e Eva, o Homem e Mulher, entram
em ruptura com Deus. E a partir dai, a desvergonha e a divisão conjugal! E quem
segue as primeiras páginas da Bíblica, vê como esta ruptura provocada pelo pecado
das origens, afectará também a relação dos irmãos entre si, de que a História de
Abel, morto por Caim é exemplar (Gen.4). Esta desordem do pecado, mina a relação
entre as nações, com a disputa e confusão entre os povos, descrita no episódio de
Babel (Gen.11).
Quer dizer, depois do pecado, dessa escolha livre do Homem, em viver sem Deus ou
contra Ele, escusando o amor, a inimizade está estabelecida, a Paz está
comprometida. “Os tesouros da terra já não estão ao serviço da edificação do jardim
de Deus, no qual todos podem viver, mas estão ao serviço dos poderes da exploração
1
e da destruição” (Bento XVI) .
3. Mas a última palavra da História não é o mal. Deus promete de novo a Paz. O seu
desígnio para o mundo e para o Homem é de Paz. A humanidade, apesar de ferida
pelo pecado, pelo ódio e pela violência, é chamada por Deus a formar uma única
4. Em Maria, Imaculada, vemos bem que só a libertação do pecado, nos pode dar a
Paz! Só, empenhando-nos, por viver «sem pecado nem motivo algum de censura, é
que Deus nos pode encontrar na Paz» (II Pe.3,14). Maria apresenta-se-nos, desde a
Sua Concepção Imaculada, como ícone (imagem transparente) dessa Paz de Deus.
Ela não se esconde de Deus. Está onde Deus está. Maria, entre todas as criaturas,
refulge como o mais belo exemplar do esplendor da Paz, como se dos seus olhos
irradiasse já a Luz do Filho que «é, de facto a nossa Paz» (Ef.2,13). Maria, Virgem
Imaculada, por singular privilégio de Deus, traz-nos esta certeza viva da fé: “por mais
2
radical que seja o mal, nunca é tão profundo como a bondade” .
Neste caminho de Advento, Maria levar-nos-á a trabalhar pela Paz, com coragem,
com a confiança de que o mal não prevalecerá. «Esta confiança permite manter-
se de pé, (como Maria, junto à Cruz) onde as sociedades humanas são abaladas. Ela
permite avançar mesmo quando surge o fracasso» Logo no início do seu Pontificado,
dizia-nos João Paulo II: “A aspiração à Paz não será desiludida para sempre. O
trabalho em prol da Paz produzirá os seus frutos. A Paz será a última palavra da
3
História” . E Bento XVI afirmou e confirmou a mesma convicção: “dirijo a vós todos,
4
um forte convite a tornarmo-nos, juntos, artífices da paz. (…)” .
2 Frei Roger, Carta à Família de Paul Ricouer, cit. por ANTÓNIO MARUJO, A confiança do coração, in Público
(18-08-2005), pág. 20.
3 João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz 1978
5 João Paulo II, Atravessar o limiar da Esperança, Ed. Planeta, Lisboa 1994,205.
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 2006
"Maria, a Imaculada"? Que tem este título a dizer-nos? A liturgia de hoje esclarece-
nos, com duas imagens grandiosas: a da anunciação, no evangelho, e a do primeiro
anúncio da salvação, na leitura do livro do Génesis. Comecemos pela imagem da
Anunciação e escutemos, de novo, as palavras de saudação do Anjo: «Alegra-te, ó
cheia de graça».
I. Eram palavras muito familiares a Maria, palavras que ela, pobre e simples, mulher
do povo e mulher de fé, bem conheceria do profeta Sofonias; eram palavras
conhecidas, porque dirigidas a um pequeno resto do povo, que permaneceu firme e
fiel, face a todas as derrocadas da história. Maria fazia parte desse pequeno resto do
Povo de Israel, que se manteve irrepreensível na santidade e firme na esperança do
Messias. Em Maria, diríamos, está presente a melhor parte, a parte mais bela, desse
pequeno resto, do verdadeiro povo de Sião. Se quiséssemos retomar o símbolo da
casa e da árvore, com que marcamos a 1ª semana do Advento, podíamos dizer:
Maria é a casa onde Deus quer habitar. É o lugar do seu repouso. Ou então, Maria é o
rebento que, na obscura noite invernal da história, brota do tronco abatido de David.
Diríamos que em Maria se cumpre aquela palavra do Salmo (67,7): "A terra produziu
o seu fruto": Jesus, o fruto bendito do seu ventre. Maria é como que o botão, do qual
deriva a nova árvore da redenção, a nova descendência dos redimidos.
II. A segunda imagem, bem mais difícil e obscura, aparecia-nos na primeira leitura do
livro do Génesis. Voltemos, com paciência, ao texto:
b) Mas o texto sugere outra terrível tentação: a do Homem, homem e mulher, que
não deseja receber de Deus a sua existência e a plenitude da sua vida. Quer extrair
ele mesmo, da árvore da ciência, o poder de formar e dominar o mundo, de se fazer
deus, elevando-se ao nível d'Ele. Aqui Adão e Eva fazem figura da Humanidade que
não quer contar com o amor, para vencer o mal; o amor não lhes parece confiável;
eles confiam unicamente na ciência, o que lhes dá o poder, com que desejam ter nas
suas mãos a própria vida. E ao fazê-lo, confiam na mentira, e assim mergulham a sua
vida no vazio e na desgraça.
III. Queridos irmãos e irmãs! Esta narrativa tão antiga descreve não só a história do
princípio, mas a história de todos os tempos. Todos trazemos dentro de nós próprios
uma gota do veneno daquele modo de pensar e de se comportar. A esta gota de
veneno, chamamos pecado original. Este “veneno” inquinou, desde o princípio, o
coração do Homem, e com ele se expandiu o mal. E todos experimentamos todos os
dias os seus efeitos.
V. A lição comum às duas imagens, é esta: Deus não falha. Ou mais exactamente: no
início Deus falha sempre; deixa existir a liberdade do Homem, e este, na sua
liberdade, diz continuamente "não". Mas a fantasia de Deus é inesgotável; a força
criadora do seu amor é maior do que o nosso "não". Deus não falha, mesmo perante
os fracassos sucessivos da Humanidade, pois daí tira novas oportunidades de uma
misericórdia sempre maior, que se manifesta de geração em geração. A cada "não"
humano é acrescentada por Deus uma nova dimensão do seu amor. Deus, no seu
amor criativo e criador, encontra sempre novas formas para alcançar os homens, até
encontrar em “Maria” o «sim» da nova Humanidade e no seu seio se fazer Homem.
VI. É sobretudo isto que devemos guardar no coração neste dia da Imaculada: em
Maria, Deus faz-se Homem, para salvar o Homem! Maria diz-nos a todos que aquele
que se abandona totalmente nas mãos de Deus, não se torna um fantoche de Deus e
não perde a sua liberdade. O homem que recorre a Deus, não se torna menor, mas
maior. Quanto mais próximo de Deus o homem está, tanto mais próximo está dos
homens. Vemo-lo em Maria.
VII. O facto de Maria estar totalmente junto de Deus é a razão pela qual se encontra
também próxima dos homens. Por isso, pode ser uma Mãe à qual, em qualquer
necessidade, todos podem dirigir-se, porque Ela tudo compreende e para todos
constitui a força aberta da bondade criativa de Deus. [Neste dia, creio que Maria se
dirige a ti, dizendo-te]:
(podia ser uma voz feminina, a ler este texto, no final da Homilia)
"Meu filho:
Tem a coragem de ousar, com Deus!
Tenta! Não tenhas medo d'Ele!
Tem a coragem de arriscar com a fé!
Tem a coragem de arriscar com a bondade!
Tem a coragem de arriscar com o coração puro!
Compromete-te com Deus,
e a tua vida há-de tornar mais ampla e iluminada,
sem tédio nem tristeza, repleta de surpresas e de maravilhas!
Amém!
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 2007
2. Ora, para responder a estas duas perguntas tão difíceis, o melhor é contar-vos
brevemente uma longa história! Digo-vos já que não é original a bela história, que
vos vou contar. Pois é “a antiga e sempre nova” história do pecado original. E que diz
ela afinal?
2.1. Diz que «Deus nos escolheu, antes da Criação do Mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis, em caridade, na sua presença» (cf. Ef.1, 3-12). Por palavras mais
simples: o único sonho de Deus é fazer-nos conhecer e viver no seu Amor; do seu
Amor, para o seu Amor”. Deus criou o Homem, homem e mulher, para viver e
conviver, na sua presença, para ser, estar e caminhar, na alegria da sua companhia.
De certo modo, o Homem é chamado a viver no coração de Deus, como em sua casa.
Nisto estava a vida e alegria do Homem: conhecer e amar a Deus, ser conhecido e
amado por Ele. O maior risco, para o Homem - e Deus advertira-o disso - era querer
«saltar para fora» do coração de Deus. Criar raízes fora dele!
2.2. E assim aconteceu. O Homem cedeu à tentação de usar a sua liberdade, para
escapar ao amor de Deus. E então a tal liberdade que lhe parecia prometer a
verdadeira alegria, trouxe-lhe o medo e a solidão; a inteligência, com que julgava
transformar o seu mundo num jardim, fez dele um deserto. A promessa de uma vida
exaltante, fora de Deus, desembocou rapidamente na desordem e no vazio. Por fim,
o homem que julgava encontrar, sem Deus, o Paraíso, vê-se metido no inferno da
solidão, da inimizade e da destruição.
2.3. Uma história cheia de “poesia”, direis… mas acaba tão mal assim?! Não. Neste
cenário “triste e escuro”, abre-se um clarão de esperança. Deus não abandona a
Humanidade. Anuncia-se já a vitória do amor de Deus, sobre o pecado. O mal não
terá a última palavra. O amor de Deus é invencível, e fá-lo-á descer e vir ao nosso
encontro, para nos salvar. E é nesta prometida “viagem” ou “viragem histórica” que
se anuncia já o aparecimento da mais alta “estrela da nossa esperança”; vê-se já
desenhada no céu, a figura nova de uma Mulher. Da sua descendência, havia de
nascer Aquele que esmagaria o poder terrível do mal, com a força frágil do amor.
1. Uma intensa luz, brilha sobre a página mais negra da nossa história humana e
divina! Ali, onde abundou o pecado e a desobediência do Homem e da Mulher,
sobreveio, como uma luz intensa, na mais densa noite dos tempos, a promessa da
salvação, a garantia da nossa cura e da nossa libertação! Ali, onde a humanidade
falhou, num abuso de liberdade criada, Deus não abandonou à desgraça a sua
criatura! A história do pecado original faz brilhar, sobre os escombros da miséria
humana, a promessa do amor divino, verdadeira luz invencível.
2. Mas que nos diz afinal, e de essencial, esta história, tão antiga e sempre nova, do
pecado original?
3. Como mistério da luz, podemos enunciar esta primeira certeza da fé: não há neste
mundo, dois princípios, um bom e um mau! Há um só princípio, um só Deus criador!
E este princípio é bom, unicamente bom, sem sombra de mal. E por isso também o
ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, não é uma mistura de bem e de
mal! O ser humano, como tal, é bom, e por isso é bom existir, é bom viver! Este é o
alegre anúncio da fé: só há uma fonte boa, Deus Criador, do qual recebemos tudo o
que somos e vivemos. E por isso, viver é um bem! É bom ser homem, é bom ser
mulher!
4. Mas paira ainda sobre nós, e tão densamente, o mistério do mal. Como foi
possível, como aconteceu? Isso permanecerá, sempre obscuro para nós, tão obscuro
e irracional, como é a escuridão do próprio mal! A imagem, descrita na primeira
leitura, poderá ajudar-nos a intuir algo da origem desse mal, mas não pode explicar o
que, em si mesmo, não tem lógica. O que podemos saber, no meio de toda esta
escuridão, é que o mal não provém do próprio ser de Deus, nem pertence ao ser da
pessoa. O pecado permanece como uma marca de origem, mas não como um defeito
de fabrico! O mal vem e provém de uma liberdade abusada!
Mas, ainda assim, neste jogo de luzes e sombras, Deus, com a sua luz, é sempre mais
forte. E por isso, o mal pode ser superado. A criatura humana pode ser curada. Para
isso, Cristo veio a este mundo e fez brotar, para nós, uma fonte de graça, abriu, no
mar das nossas desgraças, um rio de luz!
Por isso, para chegarmos a ser e a receber esta Luz, precisamos de luzes próximas de
nós, de pessoas que reflictam a luz de Cristo e iluminem o nosso caminho a
percorrer!
E que pessoa mais luminosa do que Maria? Quem, melhor, do que Maria, pode ser
para nós essa “estrela de esperança (cf. Enc. Spe salvi, 49) que nos guia? Ela é a
primeira criatura, redimida pela Luz, daquele que veio a dar à Luz. Com o seu "sim",
Maria consentiu, que a Luz de Deus entrasse neste mundo. Por meio dEla, Deus fez-
se carne, entrou na história, como nova fonte do bem! Por isso, animados por filial
confiança, pedimos-lhe:
Depois do Magnificat chega o silêncio; nada se diz acerca dos três meses da presença
de Maria ao lado da sua prima Isabel. Talvez nos seja dita a coisa mais importante: o
bem não faz ruído, a força do amor expressa-se na discrição tranquila do serviço
quotidiano.
4. Irmãos e Irmãs, lanço a todos vós um apelo premente, a fim de que façais tudo o
que estiver ao vosso alcance para que a vida, qualquer vida, seja respeitada desde a
concepção até ao seu ocaso natural. A vida é uma dádiva sagrada, da qual ninguém
se pode apropriar.
Enfim, a Imaculada Conceição tem uma mensagem para todos. Ei-la: sede mulheres
e homens livres! Contudo, recordai-vos: a liberdade humana é uma
liberdade marcada pelo pecado. Ela tem necessidade de ser libertada. Cristo é o
seu libertador, Ele que "nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres" (Gl
5, 1). Defendei a vossa liberdade!
Queridos Amigos, para isto sabemos que podemos contar com Aquela que, sem
jamais ter cedido ao pecado, é a única criatura perfeitamente livre. É a Ela que vos
confio. Caminhai com Maria, ao longo do trajecto da plena realização da vossa
humanidade!
Homilia do Papa Bento XVI
Solenidade da Imaculada Conceição 2005
O que significa "Maria, a Imaculada"? Este título tem algo a dizer-nos? A liturgia
hodierna esclarece-nos o conteúdo desta palavra com duas imagens grandiosas. Em
primeiro lugar, há a maravilhosa narração do anúncio a Maria, a Virgem de Nazaré,
da vinda do Messias.
I. O EVANGELHO DA ANUNCIAÇÃO
Deus não fracassou, como podia parecer já no início da história com Adão e Eva, ou
durante o período do exílio babilónico, e como novamente parecia no tempo de
Maria, quando Israel se tornou definitivamente um povo sem importância, numa
região ocupada, com poucos sinais reconhecíveis da sua santidade. Deus não
fracassou. Na humildade da casa de Nazaré vive o Israel santo, o resto puro. Deus
salvou e salva o seu povo. Do tronco abatido resplandece de novo a sua história,
tornando-se uma nova força que orienta e impregna o mundo. Maria é o Israel santo;
ela diz "sim" ao Senhor, coloca-se plenamente à sua disposição e assim torna-se o
templo vivo de Deus.
A segunda imagem é muito mais difícil e obscura. Esta metáfora tirada do Livro do
Génesis fala-nos de uma grande distância histórica, e somente com dificuldade pode
ser esclarecida; somente durante a história foi possível desenvolver uma
compreensão mais profunda daquilo que ali é mencionado. Prediz-se que durante
toda a história continuará a luta entre o homem e a serpente, ou seja, entre o
homem e os poderes do mal e da morte. Porém, é também prenunciado que "a
estirpe" da mulher um dia vencerá e esmagará a cabeça da serpente, da morte;
prenuncia-se que a linhagem da mulher e nela a mulher e a própria mãe vencerá e
que assim, mediante o homem, Deus vencerá. Se, juntamente com a Igreja crente e
orante, nos colocarmos à escuta diante deste texto, então poderemos começar a
compreender o que é o pecado original, o pecado hereditário, e também o que é a
tutela contra este pecado hereditário, o que é a redenção.
a) O homem não confia em Deus. Ele tentado pelas palavras da serpente, alimenta a
suspeita de que Deus, em última análise, tira algo da sua vida, que Deus é um
concorrente que limita a nossa liberdade e que nós só seremos plenamente seres
humanos, quando O tivermos posto de lado; em síntese, somente deste modo
podemos realizar na plenitude a nossa liberdade. O homem vive na suspeita de que o
amor de Deus cria uma dependência e que é necessário libertar-se desta
dependência para ser plenamente ele mesmo.
O homem não deseja receber de Deus a sua existência e a plenitude da sua vida.
Quer haurir ele mesmo, da árvore da ciência, o poder de plasmar o mundo, de se
fazer deus elevando-se ao nível d'Ele e de vencer com as próprias forças a morte e as
trevas. Não quer contar com o amor, que não lhe parece confiável; ele conta
unicamente com a ciência, dado que ela lhe confere o poder.
Em vez de visar o amor, tem como objectivo o poder com que deseja ter nas suas
mãos, de modo autónomo, a própria vida. E ao fazê-lo, confia na mentira e não na
verdade, e assim mergulha com a sua vida no vazio, na morte. Amor não é
dependência, mas dom que nos faz viver. A liberdade de um ser humano é a
liberdade de um ser limitado e, portanto, ela mesma é limitada. Só a podemos
possuir como liberdade compartilhada, na comunhão das liberdades: a liberdade
pode desenvolver-se unicamente se vivermos do modo justo uns com os outros, e
uns para os outros.
Nós vivemos do modo justo, se vivermos segundo a verdade do nosso ser, ou seja,
segundo a vontade de Deus. Porque a vontade de Deus não é para o homem uma lei
imposta a partir de fora, que o obriga, mas a medida intrínseca da sua natureza, uma
medida que está inscrita nele e que o torna imagem de Deus e, assim, criatura livre.
Se nós vivermos contra o amor e contra a verdade contra Deus então destruir-nos-
emos uns aos outros e aniquilaremos o mundo. Então, não encontraremos a vida,
mas defenderemos o interesse da morte. Tudo isto é narrado com imagens imortais
na história do pecado original e da expulsão do homem do Paraíso terrestre.
III. UMA HISTÓRIA QUE SE REPETE
Contudo, quando olhamos para o mundo à nossa volta, podemos ver que não é
assim, ou seja, que o mal envenena sempre, que não eleva o homem mas o rebaixa e
humilha, que não o enobrece, não o torna mais puro nem mais rico, mas o prejudica
e faz com que se torne menor. É sobretudo isto que devemos aprender no dia da
Imaculada: o homem que se abandona totalmente nas mãos de Deus não se torna
um fantoche de Deus, uma maçadora pessoa conscientemente; ele não perde a sua
liberdade. Somente o homem que confia totalmente em Deus encontra a verdadeira
liberdade, a grande e criativa vastidão da liberdade do bem. O homem que recorre a
Deus não se torna menor, mas maior, porque graças a Deus e juntamente com Ele se
torna grande, divino, verdadeiramente ele mesmo. O homem que se coloca nas mãos
de Deus não se afasta dos outros, retirando-se na sua salvação particular; pelo
contrário, só então o seu coração desperta verdadeiramente e ele torna-se uma
pessoa sensível e por isso benévola e aberta.
IV. DEUS ENGRANDECE O HOMEM
Quanto mais próximo de Deus o homem está, tanto mais próximo está dos homens.
Vemo-lo em Maria. O facto de Ela estar totalmente junto de Deus é a razão pela qual
se encontra também próxima dos homens. Por isso, pode ser a Mãe de toda a
consolação e de toda a ajuda, uma Mãe à qual, em qualquer necessidade, todos
podem dirigir-se na própria debilidade e no próprio pecado, porque Ela tudo
compreende e para todos constitui a força aberta da bondade criativa. É nela que
Deus imprime a sua própria imagem, a imagem daquela que vai à procura da ovelha
perdida, até às montanhas e até ao meio dos espinhos e das sarças dos pecados
deste mundo, deixando-se ferir pela coroa de espinhos destes pecados, para salvar a
ovelha e para a reconduzir a casa.
V. A MENSAGEM DE MARIA
"Tem a coragem de ousar com Deus! Tenta! Não tenhas medo d'Ele! Tem a coragem
de arriscar com a fé! Tem a coragem de arriscar com a bondade! Tem a coragem de
arriscar com o coração puro! Compromete-te com Deus, e então verás que
precisamente assim a tua vida se há-de tornar ampla e iluminada, não tediosa, mas
repleta de surpresas infinitas, porque a bondade infinita de Deus jamais se esgota!".
Neste dia de festa, queremos agradecer ao Senhor o grande sinal da sua bondade,
que nos concedeu em Maria, sua Mãe e Mãe da Igreja. Queremos pedir-lhe que
ponha Maria no nosso caminho, como luz que nos ajuda a tornar-nos também nós
luz e a levar esta luz pelas noites da história. Amém!
ANGELUS
Solenidade da Imaculada Conceição
Sexta-feira, 8 de Dezembro de 2006
Podemos perguntar: por que, entre todas as mulheres, Deus escolheu precisamente
Maria de Nazaré? A resposta está escondida no mistério insondável da vontade
divina.
Contudo há uma razão que o Evangelho ressalta: a sua humildade. Ressalta isto
muito bem Dante Alighieri no último Canto do Paraíso: "Virgem Mãe, filha do teu
Filho, / humilde e alta mais do que criatura, / fim firme do conselho eterno" (Par.
XXXIII, 1-3).
A própria Virgem no "Magnificat", o seu cântico de louvor, diz isto: "A minha alma
glorifica o Senhor... porque pôs os olhos na humildade da sua serva" (Lc 1, 46.48).
Sim, Deus foi atraído pela humildade de Maria, porque achou graça diante dos olhos
de Deus (cf. Lc 1, 30). Tornou-se assim a Mãe de Deus, imagem e modelo da Igreja,
eleita entre os povos para receber a bênção do Senhor e difundi-la a toda a família
humana.
Esta "bênção" mais não é do que Jesus Cristo. É Ele a Fonte da graça, da qual Maria
foi repleta desde o primeiro momento da sua existência. Acolheu Jesus com fé e com
amor o deu ao mundo. Esta é também a nossa vocação e a missão da Igreja: acolher
Cristo na nossa vida e doá-lo ao mundo, "para que o mundo seja salvo por Ele" (Jo
3,17).
Queridos irmãos e irmãs, a festa da Imaculada ilumina como um farol o tempo do
Advento, que é tempo de vigilante e confiante expectativa do Salvador. Enquanto
nos encaminhamos ao encontro do Deus que vem, olhamos para Maria que "brilha
como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do Povo de Deus
peregrino" (Lumen gentium, 68).
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO
DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA
PALAVRAS DO PAPA BENTO XVI
Praça de Espanha
Sexta-feira, 8 de Dezembro de 2006
"Cheia de graça" és tu, Maria, repleta do amor divino desde o primeiro momento da
tua existência, providencialmente predestinada para ser a Mãe do Redentor, e
intimamente associada a Ele no mistério da salvação. Na tua Imaculada Conceição
resplandece a vocação dos discípulos de Cristo, chamados a tornar-se, com a sua
graça, santos e imaculados no amor (cf. Ef 1, 14).
Em ti brilha a dignidade de cada ser humano, que é sempre precioso aos olhos do
Criador.
Quem para ti dirige o olhar, ó Mãe Toda Santa, não perde a serenidade, por muito
difíceis que sejam as provas da vida.
"Cheia de graça" és tu, Maria, que aceitando com o teu "sim" os projectos do
Criador, nos abristes o caminho da salvação.
Dá-nos a coragem de dizer "não" aos enganos do poder, do dinheiro, do prazer; aos
lucros desonestos, à corrupção e à hipocrisia, ao egoísmo e à violência. "Não" ao
Maligno, príncipe enganador deste mundo. "Sim" a Cristo, que destrói o poder do
mal com a omnipotência do amor.
Nós sabemos que só corações convertidos ao Amor, que é Deus, podem construir um
futuro para todos.
"Cheia de graça" és tu, Maria! O teu nome é para todas as gerações penhor de
esperança certa. Sim! Porque, como escreve o sumo poeta Dante, para nós mortais,
Tu "és fonte viva de esperança" (Par., XXXIII, 12). A esta fonte, à nascente do teu
Coração imaculado, voltamos mais uma vez peregrinos confiantes para haurir fé e
conforto, alegria e amor, segurança e paz
Ave Maria,
Mulher pobre e humilde,
abençoada do Altíssimo!
Virgem da esperança,
profecia dos novos tempos,
nós nos associamos
ao teu hino de louvor
para celebrar
as misericórdias
do Senhor,
para anunciar
a vinda do Reino
e a libertação
integral do homem.
Ave Maria,
humilde serva do Senhor,
gloriosa Mãe de Cristo!
Virgem fiel,
santa morada do Verbo,
ensina-nos a perseverar
na escuta da Palavra,
a ser dóceis à voz do Espírito,
atentos aos seus apelos
na intimidade da nossa consciência
e às suas manifestações
nos acontecimentos da história.
Ave Maria,
Mulher da dor, Mãe dos viventes!
Virgem esposa junto da cruz,
nova Eva, sê nossa guia
pelos caminhos do mundo,
ensina-nos a viver e a propagar
o amor de Cristo,
ensina-nos a permanecer contigo,
junto das numerosas cruzes
nas quais teu Filho
ainda é crucificado.
Ave Maria,
Mulher de fé,
primeira entre os discípulos!
João Paulo II
Comentários - Rádio - Imaculada Conceição 2009
Neste dia de festa, queremos agradecer ao Senhor o grande sinal da sua bondade,
que nos concedeu em Maria, sua Mãe e Mãe da Igreja. Queremos pedir-lhe que
ponha Maria no nosso caminho, como luz que nos ajuda a tornar-nos também nós
luz e a levar esta luz pelas noites da história!
Antes da 1ª leitura: No momento preciso do pecado, Deus anuncia uma boa nova de
salvação; adivinha-se para Maria, Nova Eva, um papel singular.
Antes da 2ª leitura: Uma típica leitura de advento: esperamos os novos céus e a nova
terra!
Antes do Evangelho: O sim de Deus e o sim da Mulher. Uma história nova começa.
Depois da Homilia:
À Comunhão: Diz o Papa a concluir a sua encíclica sobre a esperança: “Com um hino
do século VIII/IX, portanto com mais de mil anos, a Igreja saúda Maria, a Mãe de
Deus, como «estrela do mar»: A vida humana é um caminho. Rumo a qual meta?
Como achamos o itinerário a seguir? A vida é como uma viagem no mar da história,
com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os
astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas
que souberam viver com rectidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus
Cristo é a luz por excelência, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas,
para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz
recebida da luz d'Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia. E quem
mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu
«sim», abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo”.
Final: Deus preparou uma digna morada para o seu Filho. Maria, cheia de graça, é um
testemunho da gratuidade do amor de Deus, que ama primeiro e vai à frente. Seja
este o estímulo para uma caminhada feliz ao encontro do Senhor.