Resenha Filosofia Latina Americana
Resenha Filosofia Latina Americana
Resenha Filosofia Latina Americana
PINTO, Simone
Rodrigues. O Pensamento Social e Político Latino-Americano: etapas de seu
desenvolvimento. Revista Sociedade e Estado – V. 27 Nº 2 – Maio/Agosto 2012.
Simone Rodrigues Pinto é professora e coordenadora da pós-graduação do Centro de
Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC) da universidade de Brasília. Seu
artigo propõe traçar um panorama geral do modo como se sucedeu a produção do
conhecimento na América Latina, traçando uma linha histórica mais recente onde se
observará a influência do Romantismo e do Positivismo, assim como nos primeiros anos da
independência, somando-se a esquerda nascente e aos nacionalismos, a emergência do
desenvolvimentismo e do dependentismo, e finalizando com a perspectiva crítica do pós-
colonialismo.
O artigo tem como proposta interativa ir apontando os vários personagens reais que ao
longo da história produziram e, no caso de alguns, ainda produzem conhecimento na realidade
latino-americana. A intenção é gerar interesse e admiração pelos escritores e escritos latino-
americanos de maior destaque partindo das etapas do desenvolvimento do conhecimento.
A pergunta célebre que abre o debate, existe um pensamento latino-americano?,
encontra nos anos 1960 um dos mais importantes pensadores. Salazar Bondy (1968) afirmou
ser impossível desenvolver um pensamento genuíno e original a partir das Américas em razão
de que aqui a produção intelectual estar condenada a ser inautêntica e imitativa. Em resposta a
Bondy, Boaventura de Souza Santos defende formas alternativas de conhecimento e busca dar
voz a grupos excluídos, silenciados e marginalizados.
Aparentemente Salazar Bondy se mostra cônscio da supervalorização que se faz do
conhecimento produzido desde o norte, o que de fato é real. Mas veremos no decorrer da
exposição que Bondy não tem a intenção de reafirmar o que já estar em voga, porém mostrar
a condição mundial de marginalizados que vivemos e os obstáculos internos e externos que
impedem a afirmação de autenticidade do conhecimento produzido aqui.
O obstáculo externo é com relação à dificuldade que os intelectuais têm de serem
reconhecidos nos grandes centros do conhecimento. A autora de utiliza de uma citação de
Pierre Bourdieu (2006) que se aplica muito bem ao que se discute: para ele, a produção do
conhecimento é marcada por uma luta simbólica que reproduz as relações de dominação.
O obstáculo interno se encontra no sentimento de inferioridade historicamente imposto
pelo modelo euro-americano de conhecimento. Dentro da perspectiva da modernidade que
nos fez incorporar os dilemas de Calibã (personagem teatral de Aimé Cesaire) e assumir a
autoimagem de bárbaros, incapazes de produzir conhecimento de qualidade.
Para Bondy, é possível listar as características gerais do pensamento hispano-
americano, tais como: pensa-se de acordo com modelos europeus; ausência de uma tendência
característica de pensamento; sentimento de frustação intelectual, pois os filósofos da região
sabem que seus pensamentos não são autênticos; uma mesma tendência filosófica se
apresentou em todos os países da América Latina em função das similitudes históricas.
Desse modo, Salazar Bondy conclama os pensadores latino-americanos a orientar o
pensamento filosófico no sentido de extinguir a dominação interior e exterior para que se faça
uma filosofia para a liberdade.
Analisados os programas das disciplinas de ciências sociais nas academias, se percebe
a exaustiva tentativa de entender os nossos problemas e contingências partindo de modelos
exógenos a nossa realidade latino-americana. Epistemologicamente, a sociedade moderna
capitalista favorece a percepção necessária de superioridade dos saberes produzido por ela. A
Ciência dentro desse contexto hegemônico ganha status privilegiado por conta do lugar que
ocupa, tornando-se oráculo da verdade e única forma de conhecimento possível.
A resposta da autora a pergunta inicial é sim! É possível um pensamento latino-
americano autêntico e original dependendo da perspectiva filosófica que adota o leitor.
Leopoldo Zea (2002), outra figura importante em torno desse debate, afirma que há uma
tradição de pensamento autenticamente latino-americano. Para ele é possível filosofar na
América Latina desde que refletimos a fundo nossa peculiar maneira de ser.
Ao contrario de Bondy, Zea diz que nem precisamos fazer a indagação acerca da
possibilidade de Filosofia na América Latina. Ele considera que quando fazemos a pergunta
sobre a existência de uma filosofia americana, estamos assumindo que somos diferentes,
“distintos dos outros homens?”.
A princípio, a filosofia latino-americana constituiu-se como afirmação antropológica
do índio que se sentiu distinto, diferente do europeu e que, por isso, precisava ser considerado
como ‘Homem’. Para Zea, o fato de necessitarmos de soluções peculiares não significa que
não vamos considerar a filosofia europeia como ponto de partida para solucionar problemas
que não estão fora da realidade do homem em geral.
Diferentemente de Bondy, Zea afirma que para ser original e autêntica, a filosofia
latino-americana não precisa ser inovadora. Ela pode beber em outras fontes, mas deve
adaptar os cânones da filosofia ocidental á realidade que lhe pertence. A proposta de
Leopoldo Zea é uma filosofia plenamente ideológica capaz de buscar soluções aos problemas
da dependência e dominação a que estão submetidos os países da América Latina. Sua
perspectiva estar pautada na ação, uma “Filosofia da Práxis” e ressalta o fato de tal concepção
de filosofia (voltada para a ação) é tendência crescente no cenário filosófico latino-americano.
Ser original, portanto, é partir de si mesmo, do que se é, da própria realidade não
repetindo problemas e questões alheias à sua realidade. Mas ser original não quer dizer
também ser tão diferente que nada tenha a ver com a filosofia produzida no mundo. Muitos
intelectuais associaram suas teorias ao ideal emancipatório e fizeram de sua trajetória uma
luta real pela superação das deficiências da região.
Querendo ou não, por muito tempo a América Latina já faz parte desse mundo
globalizado produzindo e acarretando em novas formas de conhecimento. Querer tomá-la
como algo aparte do mundo, pode tanto nos ajudar a compreendê-la quanto nos afastar dessa
compreensão, pois de um modo ou de outro o capitalismo venceu, e de tudo quanto cultural
tentarmos preservar, corre o risco de virar mercadoria. Então meio que seria não tentar
chamar a atenção para nós mesmos, e nos mantermos invizibilizados com estamos.
Entretanto, se quisermos ter voz, voz para quem? Para o europeu? Parece que a luta
contra a dominação e o imperialismo só será findada quando o reconhecimento partir dos
centros culturais do norte, coisa que sabemos que não acontecerá cedo, visto que esses países
ainda não reconheceram os erros com seus próprios concidadãos.
Então porque não voltamos nossa atenção para nós mesmos, e cá encontramos o que
temos de importante, e desse modo poderemos eleger: essa é a filosofia que produzimos e é a
ela que damos nossa atenção e comprometimento. É preciso que a alteridade nos seja dada ou
nós mesmo a outorguemos? Não é o europeu que dirá isso é filosofia latino-americana e isso
não. A Filosofia aqui feita deve ser pensada e direcionada para os latino-americanos, ou não,
se eu for um filósofo mexicano, direcionarei minha filosofia para os mexicanos, e não
esperarei reconhecimento que não seja dos mexicanos.