Teste - Farsa de Ines Pereira
Teste - Farsa de Ines Pereira
Teste - Farsa de Ines Pereira
GRUPO I
Erm. E quando?
Inês I-vos, meu santo,
20 que eu irei um dia destes
muito cedo, muito prestes.
1
A dupla exclamação mostra que Inês ficou feliz ao reconhecer o Ermitão;
2
frutos da camarinheira;
3
eu era ainda muito nova;
4
Pero Marques repara que as roupas da mulher estão desarranjadas e diz-lhe para se arranjar;
1
Pero Seja logo sem deter.
Inês Este caminho é comprido…
35 Contai ũa estória, marido.
Pero Bofá5 que me praz,6 mulher.
Inês Passemos primeiro o rio.
Descalçai-vos.
Pero E pois 7 como?
40 Inês E levar-me-eis no ombro,
não me corte a madre o frio8.
5
interjeição: verdadeiramente;
6
me agrada;
7
depois;
8
de modo a que a água fria do rio não me enregele;
9
pedras achatadas e compridas sobre as quais se colocavam as «talhas», grandes recipientes de barro
para guardar vinho ou azeite;
10
na cultura popular, tal como o «cervo» e o «gamo», o «cuco» significa o marido traído;
11
sempre tiveste predisposição.
2
quanto vos quero.
Sempre fostes percebido
pera cervo.
75 Agora vos tomou o demo
com duas lousas.
Pero Pois assi se fazem as cousas.
Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
3. Comenta a cena final da farsa tendo como horizonte o ditado popular que, segundo a lenda,
estará na sua origem: «Antes quero asno que me leve que cavalo que me derrube».
CANTIGA DE MALDIZER
3
Esto fez el por ũa sa senhor
que quer gran bem; e mais vos ém 4 diria:
por que cuida que faz i5 maestria6,
enos cantares que fez, á sabor
de morrer i e des i d'ar viver 7;
esto faz el, que x'o pode fazer,
mais outr'omem per rem 8 nono9 faria.
[…]
Pero Garcia Burgalês, (CV 988, CBN 1380), A lírica galego-portuguesa, Lisboa, Editorial Comunicação, 1983,
p. 230. (Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de Elsa Gonçalves)
5. Comprova, com base na segunda estrofe, que é através de uma antítese que se promove
o humor.
___________________________
1
5 v. 4: para se mostrar grande trovador;
2
v. 5: porque ela desdenhou do seu amor;
3
ressuscitou;
4
sobre este assunto;
5
nisso;
6
habilidade poética;
7
vv. 11-12: nas cantigas que faz gosta de morrer nelas e depois voltar a viver;
8
10 por nada, por coisa nenhuma;
9
não o.
15
GRUPO II
20 Lê o texto seguinte.
O humor em Portugal
Em Portugal o humor, como representação da crítica moral e social, teve a sua expressão
mais comum através da palavra escrita, quer sob a forma das cantigas de escárnio e maldizer
25 quer sob a forma de teatro que Gil Vicente tão acutilantemente 1 revelou. A Inquisição2 surgiu
como censora da liberdade de expressão remetendo o riso e a ironia para a representação
iconográfica3 nas artes populares.
Como menciona Osvaldo de Sousa, o humor, expresso através do desenho associado à
palavra impressa, é referido em Portugal já nos séculos XVII e XVIII (sobretudo de origem
30 estrangeira) mas com maior incidência no século XIX, no contexto da Guerra Peninsular 4. No
entanto, só em meados desse século é que emerge, com regularidade, na imprensa a
publicação de caricaturas e desenhos satíricos produzidos por autores portugueses que
4
35
refletem a política nacional ou a crítica de costumes. Este tipo de humor passa a funcionar
como uma forma de oposição ao poder instituído.
Nas décadas de 60 e 70 do século XIX, nomes como Manuel Macedo, Manuel Maria
Bordalo Pinheiro e sobretudo Raphael Bordalo Pinheiro, inseridos na corrente naturalista, irão
marcar uma nova visão da caricatura e do humor em Portugal. A publicação dos seus
trabalhos, bem como de outros artistas, era divulgada através de periódicos como A Berlinda,
O Binóculo, O Sorvete, O Charivari ou o Pontos nos ii, entre outros. Dos temas tratados, com
mais ironia, destacava-se a política monárquica, denotando-se a tendência republicana de
muitos caricaturistas que se acentuará no final desse século.
A implantação da República e os tempos conturbados que se lhe seguiram, assim como o
facto de aquela não ser afinal a derradeira solução para o país, tornaram-na alvo da sátira e da
pena dos humoristas.
A partir de 1926, o Estado Novo 5 veio refrear a crítica política, condicionando os
caricaturistas a abordarem sobretudo temas de crítica social e de costumes. Apesar dos
constrangimentos da censura, é por essa altura que surge, no contexto das publicações
humorísticas de caráter periódico, um dos jornais de referência da ironia em Portugal no
século XX, o Sempre fixe, publicado até 1962. Os seus colaboradores zombavam dos
acontecimentos ou astutamente tratavam os temas políticos.
A par deste tipo de publicações, diários e semanários de outra índole contavam também
com o trabalho de caricaturistas. Para além destes, surgiram jornais associados a instituições
que, muitas vezes produzidos de forma quase artesanal, refletiam a atualidade da organização
que os editava. Como exemplo, podem referir-se os inúmeros “jornais de caserna 6” que
durante o século XX foram sendo editados nas unidades, quer no continente quer no ultramar,
os quais tiveram uma larga divulgação durante o período da Guerra Colonial 7. Embora não se
tratassem de publicações de caráter cómico, muitos eram os humoristas que, estando a
prestar o serviço militar, colaboravam com os seus trabalhos nestas edições, ironizando as
situações vividas na guerra e nos quartéis.
“O humor no Jornal do Exército 1961-1974” resultou de um desafio lançado a dois jovens
40 soldados com o objetivo de pesquisarem, selecionarem e exporem caricaturas e cartoons que
ao longo do período em apreço pudessem caracterizar a expressão desta arte gráfica no
âmbito da sátira, da ironia, da irreverência, ou da crítica social que, entre outros aspetos,
refletissem o dia a dia de um meio profissional que, particularmente no período em causa,
atravessava e participava na designada Guerra Colonial/Guerra do Ultramar.
http://www.exercito.pt/sites/MusMilPORTO/Actividades/Paginas/4297.aspx.
(Texto adaptado, consultado em janeiro de 2016)
______________________
1
tão acutilantemente – tão bem; 2 Inquisição – tribunal de natureza religiosa, fortemente repressivo;
3
representação iconográfica – representação em imagens; 4 Guerra Peninsular – a guerra entre os exércitos de
Napoleão e os de Inglaterra, Portugal ou Espanha (1807-1814); 5 Estado Novo – regime político ditatorial que
vigorou em Portugal entre 1933 e 1974; 5 caserna – quartel; 6 Guerra Colonial – guerra travada por Portugal em
algumas das suas antigas colónias (1961 – 1974).
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a opção que permite obter uma
afirmação correta.
5
(B) apresentar os principais humoristas militares portugueses.
(C) apresentar a história do humor em geral em Portugal e no exército português em
particular.
(D) indicar o contexto cultural de uma pesquisa efetuada por alguns soldados portugueses
relativa ao humor no exército português.
1.2 A censura da Inquisição sobre formas de humor em Portugal exerceu-se principalmente sobre
(A) as imagens.
(B) a palavra escrita.
(C) a palavra dita.
(D) as artes populares.
1.4 Em meados do século XIX, o humor, em Portugal, debruça-se principalmente sobre temas
(A) religiosos.
(B) políticos.
(C) artísticos.
(D) sociais.
1.7 «O humor no Jornal do Exército 1961-1964» é uma iniciativa cujo objetivo principal é
(A) uma pesquisa de documentação humorística.
(B) uma seleção de documentação humorística.
(C) uma apresentação de documentação humorística.
(D) uma exposição de documentação humorística.
2.1 O étimo latino UNITATE- deu origem à palavra «unidade». Indica o processo fonológico
presente na evolução de /t/ (no étimo latino) para /d/ (na palavra portuguesa).
2.2 Refere a função sintática de «o humor» (linha 6).
2.3 Classifica a última oração iniciada pela palavra «que» presente no texto.
6
GRUPO III
ALTERNATIVA I
ALTERNATIVA II
Escreve uma síntese do texto do Grupo II que tenha cerca de um quarto das suas palavras.
1. Este teste e os seguintes terão uma estrutura diferente dos anteriores: será
idêntica aos exames nacionais – dois textos literários (3 + 2 perguntas) + texto
não literário (10 perguntas – 7 de escolha múltipla e 3 de resposta fechada) +
produção de texto.
Haverá sempre uma alternativa ao segundo texto literário, em anexo,
constituída pelo texto expositivo de temática literária (130-170 palavras – MCP
10 Educação Literária) e poderá haver ou não alternativas para a produção de
texto.
2. Numa pergunta do Texto A ocorre a expressão «dimensão satírica»: é um dos
quatro tópicos de conteúdo do programa.
3. Outro tópico de conteúdo do programa ocorre na expressão «representação do
quotidiano» presente na proposta de escrita alternativa ao Grupo B – que se
anexa. Trata-se de uma proposta baseada em MCP EL10 15.5 «Escrever
exposições (entre 120 e 150 palavras) sobre temas respeitantes às obras
estudadas, seguindo tópicos fornecidos.»