Aula de Step
Aula de Step
Aula de Step
aprendizagem
ANA PEREIRA
[email protected]
Resumo Abstract
Ao longo do tempo a utilização da plataforma de step tem sido um dos recursos Over the time the use of step platform has been one of the most used materials in
materiais mais utilizados no mercado no fitness. No presente documento preten- the market in fitness. We intend to present some aspects related to the application
demos apresentar alguns aspetos relacionados com a sua aplicação e informações and relevant information in the development of the teaching-learning as music,
fundamentais no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, desde a laterality, the type of footwear, among other aspects. All the themes are intended
música, a lateralidade, o tipo de calçado, entre outros aspetos. Todas as temáticas to provide to the teacher, monitor or personal trainer, the skills to plan, organize
abordadas pretendem dotar o professor, o monitor ou o treinador pessoal de com- and implement a session or series of sessions in a coherent, more safe and adjusted
petências para planear organizar e implementar uma sessão ou conjunto de sessões to the target population.
de uma forma coerente, mais segura e ajustada à população alvo.
Key concepts:
Palavras-chave:
Step, teaching and learning, didactics, progression.
Step, ensino-aprendizagem, didática, progressão.
minutos proporcionava um reforço da musculatura dos membros ção de fadiga e comprometer a adoção de uma postura correta, parti-
inferiores, com particular incidência nos grupos musculares anterio- cularmente em pessoas com menor nível de aptidão física. As linhas
res e posteriores da coxa. orientadoras relativas à altura da Step Reebok (1997) referem: (i)
O reconhecimento dos benefícios do treino levou Gin Miller para nível principiante 10 cm; (ii) iniciado 15 cm; (iii) intermédio 20
a apresentar a proposta de construção de uma plataforma à Reebok, cm; e, (iv) avançado 25 cm; enquanto a Aerobics and Fitness Asso-
surgindo a modalidade de Step Training, criada com base em estudos ciation of America (2010), defende inclusive a utilização inicial com
científicos que forneciam linhas orientadoras para a execução dos plataformas de 10 cm e aumento progressivo da altura da plataforma
exercícios sem riscos para a saúde (Aaberg, 1999; Reebok, 1994). em função da melhoria da aptidão física e a familiarização com a
O Step, enquanto equipamento e modalidade, foi sendo ao biomecânica do movimento. Contudo e atendendo a que as diferen-
longo do tempo considerado seguro, simples e detentor de caracterís- tes proporções corporais, nomeadamente ao nível do comprimento
ticas que permitiam desenvolver simultaneamente a aptidão cardior- dos membros inferiores, produzem do ponto de vista biomecânico,
respiratória e muscular, tendo registado elevada adesão de indiví- fisiológico e energético respostas distintas, consideramos que a altu-
duos de escalões etários muito variados (Rodrigues & André, 1999). ra da plataforma deverá ser adaptada a cada individuo em função das
Os benefícios mostraram-se também de especial importância, no suas características, especificidades e experiencia, de modo a poten-
combate à perda de massa muscular e óssea (Going et al., 2003). Por ciar a segurança das estruturas musculares, tendinosas, ligamentares
ter sido estudado do ponto de vista fisiológico e biomecânico, este e articulares como referem Catela e Branco (2002), de forma a pro-
método de treino foi largamente aceite nas academias e ginásios. mover também a estabilidade no padrão de comportamento motor,
Francis, Francis, Buono e Francis (1990) referem que a altura ideal adequando ainda a velocidade de execução no movimento. Atenden-
da plataforma para a maioria dos indivíduos é de 20 cm, podendo a do ao exposto, consideramos que as propostas metodológicas para
utilização de um nível mais elevado acelerar os processos de instala- programas de treino com populações especiais deverão adotar alturas
de 15 cm, atendendo à sua maior adequabilidade ao tipo de limita- alguma fragilidade óssea, colaborando na prevenção, minimizando a
ções músculo-esqueléticas e funcionais mais frequentemente mani- manifestação de outros fatores de risco para as quedas, como a alte-
festadas. ração do equilíbrio e coordenação (Pereira et al., 2013).
Os passos padronizados utilizados na modalidade de step im-
põem uma grande solicitação dos músculos extensores dos membros
2. Vantagens do treino com a plataforma de step
inferiores e dos músculos abdutores da coxa, permitindo exercitar a
O exercício com recurso à plataforma de step enquadra-se no
estabilidade postural lateral, melhorando a massa, a força e a potên-
seio das atividades físicas recomendadas pelo American College of
cia muscular. Estes dois aspetos têm um papel essencial na preven-
Sports Medicine (ACSM, 1995).
ção das quedas laterais (impacto absorvido lateralmente) que resul-
Considerado como um treino cardiovascular extremamente
tam frequentemente na fratura da anca (Moreira & Sardinha, 2003).
eficaz, capaz de desenvolver ou manter a capacidade cardiorrespira-
A combinação dos passos padronizados, associada ou não à
tória (ACSM, 1995; Santos, 2002), proporcionando níveis modera-
execução simultânea e coordenada com movimentos dos membros
dos de stress mecânico (baixo e médio impacto) nos membros infe-
superiores, gera forças reativas do apoio e forças reativas nas articu-
riores, com cargas mecânicas semelhantes às da marcha a 4.82 km/h
lações (reação de um osso adjacente à ação de outro osso que nele se
e inferiores às da corrida (11.26 km/h), mas com benefícios fisioló-
articula), essenciais à melhoria da densidade mineral óssea, particu-
gicos semelhantes aos proporcionados pela corrida (Santos, 2002).
larmente da região da articulação coxofemoral e da região lombar.
De acordo com estes fatores, é possível que o treino com a
Desta forma, a utilização da plataforma de step com 15 cm de altura
plataforma de step, com níveis moderados de stress mecânico, possa
permite produzir forças reativas ao apoio superiores as 1.5 Newtons
constituir uma boa base de prevenção da osteoporose (Santos, 2002).
(N), consideradas suficientes para desencadear modificações ao ní-
A prática regular de atividade física e exercício físico com recurso à
vel da densidade mineral óssea (Burr, 1983). De acordo com Far-
plataforma de step por parte de populações especiais que apresentem
rington e Dyson (1995) esses picos podem variar entre 1.60 N x P pinelli, 2001).
(passo básico) e 1.99 N x P, sendo o seu aumento proporcional com No trabalho de intensidade moderada (50% a 74% da fre-
a elevação da altura da plataforma (até 25 cm). A utilização dos mo- quência cardíaca de reserva: FCR) a utilização da plataforma de step
vimentos propulsivos contribui para o aumento das forças reativas ao revela-se muito importante na atenuação dos ganhos de adiposidade
apoio, no entanto por questões de segurança, a realização de saltos total e central (Pereira et al., 2013). Consideramos que a intensidade
para o topo da plataforma devem ser controlados e executados com o do exercício deverá ser aumentada a cada 2-3 semanas (introdução
apoio do professor, quando necessário, em populações especiais. de variações e/ou novos passos padronizados, alteração da combina-
A utilização da plataforma de step e os objetivos na base do ção de movimentos e adição de movimentos de membros superiores
planeamento e desenho da aula adotada, além de promoverem o de- aos movimentos de membros inferiores anteriormente aprendidos),
senvolvimento e manutenção da capacidade cardiorrespiratória como variando-se a liderança (perna que lidera o padrão motor do movi-
já referenciado, contribuem para um maior desenvolvimento muscu- mento na subida e saída da plataforma de step) para permitir alter-
lar. Aliás, quando os objetivos das sessões se prendem com a melho- nância de apoios e potenciar a maior coordenação motora a nível de
ria da capacidade neuromuscular dos indivíduos, poderemos con- membros inferiores e desenvolvimento harmonioso em ambos os
templar diferentes organizações da aula (estação ou circuito), o re- hemisférios corporais (direito e esquerdo) e o plano de realização
curso a outros equipamentos (tornozeleiras, halteres, elásticos) e dos movimentos, para evitar a sobrecarga ao nível dos grupos mus-
privilegiar grupos musculares que se inserem ou atravessam regiões culares e das articulações.
mais sensíveis à fratura osteoporótica e outros habitualmente solici- A modalidade de step promove ainda melhorias ao nível das
tados nas tarefas do dia-a-dia incluindo ombros, braços, anca e per- capacidades coordenativas (coordenação, agilidade, ritmo, equilí-
nas (Evans & Cry-Campbell, 1997; Evans, 1999), contemplando brio, orientação espacial e maior harmonia motora), aprendizagem
também exercícios para a região inferior das costas (Winett & Car- de novas tarefas motoras enriquecendo o repertório motor, bem co-
mo benefícios ao nível psicológico e social (Franco & Batista, 1998, bilidade multidirecional durante o exercício.
Pereira et al., 2013). De entre algumas das características técnicas, deve apresentar
um recorte por cima do calcanhar, na zona do tendão de Aquiles,
facilitando a movimentação deste e evitando a inflamação causada
3. Calçado recomendado
pela fricção na zona de contraforte no calcanhar que impeça a insta-
Na prática de qualquer tipo de exercício aeróbio é importante
bilidade do pé (Reebok, 1995). Deverá ter um arco de suporte inter-
o uso de calçado apropriado para evitar lesões e ter a melhor perfor-
no, respeitando a morfologia do pé: supinador, pronador ou neutro,
mance, mas a execução de exercícios com recurso à plataforma de
contribuindo para um melhor alinhamento corporal, sendo ainda
step obriga à utilização de um calçado apropriado de forma a mini-
recomendável a utilização de calçado com sistema de ventilação.
mizar as forças verticais do impacto (forças verticais que alcançam o
O conjunto destes parâmetros pode ser avaliado de forma
seu valor máximo até 50 milissegundos após o contacto do pé com o
simples, analisando os materiais usados e os padrões de desgaste do
solo ou com a plataforma) e minimizar a sobrecarga articular associ-
calçado que usamos habitualmente, e em caso de dúvida, sempre que
ada às mudanças de direção e ao impacto gerado pelos movimentos.
possível devemos recorrer aos profissionais que estão em locais es-
Atualmente, as grandes marcas de calçado desportivo desenvolvem
pecíficos de venda para aconselhamento técnico. Os praticantes de-
para o mercado do fitness modelos específicos para tipologias de
vem selecionar pelo menos ½ número acima daquele que é utilizado
aulas (indoor, outdoor, crosstrainnig, jogging, entre outras) já com
habitualmente, para um maior conforto na realização dos movimen-
base nos padrões motores e exigências de cada modalidade, sendo
tos e minimizando algum tipo de lesão nos dedos dos pés. Por últi-
que quando calçado, ele deve proporcionar conforto, estabilidade e
mo, recomenda-se a utilização de meias de algodão para absorver a
facilidade na execução dos movimentos, logo será importante encon-
transpiração, se possível, sem costuras para evitar pontos adicionais
trar uma relação amortecimento/estabilidade/conforto e liberdade
de fricção e lesão da pele e apresentar reforços no terço anterior e na
adequados às necessidades do praticante e à maior segurança e esta-
zona posterior para evitar bolhas e endurecimentos (Rodrigues & nismo das coreografias, algumas vezes põe em causa a segurança do
André, 1999). cliente/aluno/turma (e.g., quando todos os colegas regressam de um
cruzamento à esquerda e um deles está a iniciá-lo indo no sentido
contrário ao da turma).
4. A música
Na estrutura da música encontramos unidades básicas, os ba-
Tão forte como uma imagem ou como a palavra, a música,
timentos por minuto (bpm). Estes caracterizam-se pela flutuação
além de influenciar o estado de espirito e proporcionar sensações de
regular e periódica do som, resultante da comparação de duas notas
maior ou menor euforia, é uma ferramenta fundamental nesta tipolo-
com intensidade semelhante mas com frequência ligeiramente dife-
gia de aulas que se define por uma estrutura métrica. A música é
rente. Durante o processo ensino-aprendizagem, são variadas as téc-
uma combinação de sons e silêncios tradicionalmente dividida de
nicas a que podemos recorrer para ajudar os alunos (futuros instruto-
acordo com 3 elementos organizacionais: melodia, harmonia e ritmo
res) a ultrapassar a dificuldade em reconhecer os bpm´s, desde a
existindo no mercado, músicas já estruturadas para as várias modali-
chamada de atenção para o instrumento responsável pela marcação
dades do fitness incluindo para as aulas da modalidade de step.
do bpm, à utilização de um metrónomo (instrumento que marca de
O ritmo de cada música, reflete os sons e silêncios que se su-
forma audível cada batimento da música, à verbalização da conta-
cedem temporalmente (cada um com duração e intensidade própria)
gem “1,2,3,4,5,6,7,8” ou ordem inversa, ou ainda, à verbalização
e permite-nos uma referência facilitadora quer na construção coreo-
apenas do “1”, entre muitas outras, auxiliando-os na manutenção da
gráfica quer na sua implementação em aula. Assim, consideramos
métrica e no reconhecimento dos bpm. No entanto, no decorrer da
que o que define o ritmo, é o número médio de sons e silêncios exis-
classe e na relação com os clientes, a música enquanto estrutura não
tente em um minuto. Frequentemente encontramos pessoas disrítmi-
lhes é ensinada, importa que os clientes executem os movimentos de
cas, i.e., cujos movimentos corporais não acompanham o ritmo mu-
forma coordenada e sincronizada com os dos restantes alu-
sical. Ainda que frequentemente possa apenas interferir no sincro-
xão femoral, entre outros), existindo também alguns passos de 8 1999). A música deve ser bem selecionada e respeitar determinados
tempos (e.g., passo a cavalo, passo básico com lunge, tripla, entre aspetos relacionados com o estilo coreográfico, o nível dos partici-
outros) (Rodrigues & André 1999). pantes, o escalão etário e as preferências musicais da classe. O estilo
Na montagem coreográfica é fundamental identificar o núme- musical e a melodia selecionada deve ter uma cadência adequada ao
ro total de movimentos e o número de tempos de cada movimento, nível e gosto dos participantes, dentro dos limites de velocidade da
para que estes se enquadrem nos respetivos batimentos e seja possí- música aconselhada para cada segmento da aula (aquecimento, parte
vel introduzi-los adequadamente na música. Podemos verificar tam- principal, reforço muscular e retorno à calma) (Franco & Batista
bém as variações de sonoridade, que definem a melodia e o estilo 1998).
individual de cada música. A execução dos movimentos da coreo- Um estudo realizado pela Reebok University (1999) sobre a
grafia de acordo com a sonoridade e características da música, per- relação entre a velocidade da música e a segurança dos movimentos
mitem ao professor realizar outras tarefas em vez de estar constan- com a utilização da plataforma de step, concluiu que o número de
temente a referir o número de repetições de cada passo padronizado, bpm indicado para uma aula segura e eficaz situa-se entre os 118 e
podendo desta forma aplicar feedback, motivar e corrigir. Em rela- os 122 bpm, indo até aos 128 bpm no caso de participantes mais
ção ao participante permite-lhe seguir de forma mais eficaz as dire- avançados, embora alguns estudos encontrem 132 bpm como limite
trizes do professor e concentrar-se na sua prestação. de segurança (Franco & Batista 1998). A proposta do planeamento
Uma sessão bem organizada deve estar de acordo com a es- de aula com recurso à utilização da plataforma de step para popula-
trutura musical selecionada pelo professor, de forma a utilizar as ções especiais enfatiza a utilização da música entre 118 bpm e 122
marcações fortes e fracas, tornando a sequência do movimento fluí- bpm para assegurar o controlo dos movimentos, a utilização de uma
da, minimizando a instalação de fadiga que as consecutivas repeti- técnica de execução correta e salvaguardar o risco de lesão.
ções e o número dos exercícios possam causar (Rodrigues & André, Cada segmento da aula requer uma determinada velocidade
ve ser calma e relaxante apropriada para esta fase da aula. A utiliza- A adoção desta sinalética na construção do plano de sessão
ção de músicas com mais bpm do que aqueles que são recomendados facilita a compreensão da sequência coreográfica e dos movimentos
não aumentam de forma significativa a intensidade do exercício e a executar.
potenciam a execução incorreta dos movimentos, a diminuição das
amplitudes articulares e a ocorrência de quedas na subida ou descida
da plataforma, todavia, também é da responsabilidade do professor 6. Passos padronizados (skills)
adequar os movimentos e sua amplitude à musica aplicada, podendo Seria impensável expor todos os passos possíveis de realizar
duplicar o tempo de execução “normal” de alguns movimentos, com recurso à plataforma de step, já que em coreografias avançadas
permitindo coreografar e ajustar a intensidade à segurança da popu- as variações, dependem do movimento base, da sua amplitude, da
passo em V com a liderança esquerda). Porém, a construção coreo- variação na perna de liderança, i.e., nos tempos fortes da música, o
gráfica poderá também seguir o principio da perna pronta (o pé livre pé direito e o pé esquerdo dirigem-se ao solo de forma alternada
no final de um movimento é o que inicia o movimento seguinte) e/ou (e.g., toque alternado: sobe direita, toca esquerda, desce esquerda,
uso de movimentos com liderança alternada. Esta metodologia (com desce direita e se quisermos continuar, sobe esquerda toca direita,
adoção de sequencias de movimentos sem realização de toques no desce direita desce esquerda).
solo para troca de lideranças, à exceção dos exigidos pelo passo pa- Para troca de liderança, frequentemente recorremos a passos
drão (e.g., Passo e Toca/ Step-Touch) exige planeamento de modo a neutros (agachamento, polichinelo, saltitos a 2 pés) ou passos que a
introduzir movimentos de transição, neutros ou capazes de alterar a alteram a liderança de forma direta (tripla, troca-passo, número ím-
liderança do movimento (e.g., após uma série de passo básico com par de passos padronizados de liderança alternada). Consideramos
liderança direita, executa uma elevação de joelho com a mesma lide- que a construção coreográfica e as sequências coreográficas devem
rança permitindo que a subida à plataforma de step no passo básico ser bem planeadas e que as transições entre vários movimentos de-
seguinte se execute com a perna esquerda – realizando desta forma a vem ser fluídas, pelo que planear e experimentar antes do momento
liderança alternada). de lecionar é fundamental e crucial para não defraudar expectativas
Consideram-se movimentos de liderança simples, os que no momento em que enfrentamos os nossos participantes em ativi-
tem sempre a mesma perna de liderança, i.e., nos tempos fortes da dades desta natureza.
música, o pé dirigido ao solo é sempre o mesmo (e.g., Passo Básico:
sobe direita, sobe esquerda, desce direita, desce esquerda e se qui-
8. Planeamento de uma aula de step
sermos repetir o passo padronizado utilizando o princípio da perna A estrutura formal de uma aula de step considera as fases de
pronta, será o pé direito a iniciar novamente o mesmo movimento). aquecimento, principal (por norma solicitando componente cardior-
Por outro lado, os movimentos de liderança alternada apresentam respiratória), reforço muscular e retorno à calma. Algumas conside-
rações relativas a objetivos e cuidados em cada uma destas fases idosos, iniciados, obesos, gestantes e doentes cardíacos precisam de
serão apresentadas de forma a melhor clarificar as diferentes consi- um aquecimento mais gradual e longo, 10 a 15 minutos, para uma
derações no momento de planear. transição segura e eficaz para exercícios mais intensos e complexos.
O aquecimento deve conter uma parte geral onde predominem exer-
8.1. Aquecimento
cícios contínuos, simples e de mobilização articular. Devem ser in-
O objetivo principal do aquecimento é preparar o organismo
troduzidos inicialmente movimentos de pequena amplitude e baixa
para a realização dos exercícios prevenindo/minimizando o risco de
intensidade para que o organismo transite de forma suave e gradual
lesão e preparando o executante para a fase principal da sessão. Esta
de uma posição de inatividade para uma fase de atividade física mo-
fase tem uma duração de aproximadamente 10 minutos, no entanto
derada. A realização de exercícios compostos por contração e rela-
varia de acordo com vários fatores, como a temperatura ambiente, a
xamento dos músculos antagonistas (e.g., elevação do calcanhar,
duração total da aula, a hora do dia, o nível dos praticantes, o tipo de
lunges, combinações com flexão do cotovelo ou abdução dos braços)
aula, entre outros fatores (Franco & Batista, 1998). Os efeitos fisio-
melhoram no aquecimento das articulações através da contração
lógicos do exercício, desde o aumento do débito cardíaco, aceleração
ativa. Além disso, o aquecimento pode ser realizado em estilo livre
do metabolismo dos ácidos gordos e glucose, entre outros, são aspe-
ou apresentado em coreografia desde que sejam aplicadas as corretas
tos cruciais na adaptação do organismo ao exercício, e para tal, ape-
metodologias de progressão.
nas uma aplicação ajustada do planeamento da aula ao tipo de popu-
A fase de aquecimento deve também conter uma parte espe-
lação conduzirá aos benefícios do exercício.
cífica correspondente à parte principal da aula. Proporcionando ao
A fase de aquecimento integra um conjunto de exercícios
executante um ensaio dos padrões motores básicos que irão ser utili-
com a finalidade de aumentar o fluxo sanguíneo e a temperatura cor-
zados na fase fundamental da aula, adaptando-se assim às exigências
poral, diminuindo a viscosidade entre os tecidos de ligação dos mús-
dos exercícios. Os movimentos globais e os específicos devem inte-
culos e articulações. Segundo Brooks (1998), os indivíduos mais
ragir de uma forma dinâmica, combinados numa sequência coreográ- relativas aos efeitos benéficos dos alongamentos após aquecimento,
fica lógica, aumentando a intensidade da aula de forma gradual e e atendendo à especificidade dos modos de treino estudados, a nossa
adaptada aos executantes. experiencia no terreno, impele-nos na sua defesa e manutenção.
As limitações funcionais e musculares em populações especi-
ais são aspetos fundamentais no planeamento da aula, pois o aumen-
8.2. Fase cardiovascular
to gradual da amplitude dos movimentos aumenta o líquido sinovial, A fase cardiovascular representa a parte principal da sessão
ajudando a lubrificar, a proteger e a alimentar as articulações. Ainda de treino, tendo como o objetivo a aprendizagem de habilidades mo-
assim, esta fase da aula reduz o risco de problemas cardiovasculares, toras específicas e o desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória.
pois a ausência de um aquecimento gradual torna a atividade física O tempo previsto para a fase cardiovascular com a plataforma de
repentina e intensa podendo provocar arritmias e aumentar de forma step situa-se entre os 20-25 minutos de modo que os estímulos sejam
anormal o fluxo sanguíneo, prejudicando o sistema cardiovascular suficientes para causar as adaptações no organismo. Deve ser res-
(Rodrigues & André, 1999). tringida a execução de exercícios de alto impacto, na medida em que
Consideramos que o aquecimento deve terminar com a reali- os mesmos aumentam o risco de lesão do aparelho músculo-
zação de alongamentos estáticos e específicos (nomeadamente aos esquelético, nomeadamente fraturas causadas por fadiga e/ou pato-
quadricípites, isquiotibiais, adutores e abdutores dos membros infe- logias degenerativas em algumas articulações como o joelho e colu-
riores e musculatura de suporte do tronco), devendo os mesmos se- na vertebral.
rem executados de forma lenta e controlada, permanecendo na posi- Existem pelo menos quatro parâmetros que podem influenci-
ção de alongamento entre 15 a 20 segundos (Alter, 1996), ainda que ar a intensidade da aula de step: altura da plataforma, rit-
se discuta e pondere a pertinência da sua realização e real efeito na mo/velocidade da música, as diferentes sequências de movimentos
prevenção de lesões (Farinatti, 2000). Conscientes das incertezas (lentos e rápidos com o mesmo tempo para a execução do mesmo
movimento) e coreografias, bem como a utilização de cargas adicio- da pressão arterial. Assim, movimentos de braços acima do nível do
nais (Putman, 2007). De acordo com Olson, Williford, Blessing, e coração ou propulsivos não são aconselhados para participantes com
Greathouse (1991), o dispêndio energético aumenta em proporção tensão arterial elevada ou hipertensão diagnosticada, no entanto,
direta com a altura da plataforma havendo um aumento adicional de para os restantes, estes movimentos devem ser alternados com outros
17% no dispêndio energético por cada aumento de 5 cm na altura da em planos mais baixos (Franco & Batista, 1998). Relativamente à
plataforma (Francis et al., 1990), estando ainda associado a um au- influência da utilização de cargas adicionais na manipulação da in-
mento do consumo de oxigénio. Os mesmos autores indicam que a tensidade da aula de step, Goss et al. (1989), reportam aumentos de 1
altura ideal da plataforma para a maioria dos indivíduos é de 20 cm. a 3 Kcal quando são utilizados halteres de 1 Kg, enquanto Kravitz et
A execução com plataformas mais altas (bem como velocidades de al. 1995; Olson et al. 1991; Workman, Kern, e Earnest 1993) refe-
execução elevadas, complexidade desadequada da coreografia ou rem não haver influência significativa no dispêndio energético, mas
cargas adicionais) pode levar o indivíduo a assumir uma postura de entre as inúmeras estratégias possíveis de adotar para aumento da
incorreta (e.g., flexão cervical, anteriorização do tronco, rotação in- intensidade do exercício, continuamos a recorrer com alguma fre-
terna de ombros, não alinhamento dos segmentos corporais: cabeça, quência à utilização de cargas adicionais, desde halteres (dando ên-
tronco e bacia, hiperextensão ou hiperflexão da articulação do joe- fase ao trabalho de equilíbrio muscular dos membros superiores e
lho, entre outros), acelerando o processo de fadiga, a má execução aumento da carga na totalidade da realização do movimento motor),
técnica e o risco de lesão. De notar que a utilização de movimentos barras ou bastões (que podem ser utilizados pelos membros superio-
dos membros superiores acima do plano do coração provocam um res e tronco), tornozeleiras e bandas elásticas (para maior resistência
aumento da frequência cardíaca (FC). Apesar de existir um incre- nos membros inferiores) ainda que esta maior solicitação se faça em
mento da intensidade, a FC aumenta devido ao incremento da resis- aulas com tipologia de circuito ou intervaladas e não nas aulas de
tência periférica, exigindo maior esforço do coração pela elevação componente cardiorrespiratória contínua sujeitas a rotinas coreogra-
fadas Na fase inicial de inclusão de indivíduos no programa de ativi- res que interferem no bem-estar psíquico e social dos indivíduos.
dade física com a plataforma de step, devem ser realizadas coreogra- Esta solicitação neuromuscular é importante não apenas na popula-
fias pequenas e simples valorizando-se o número de repetições, evo- ção idosa, mas adulta e jovem já que durante o desenvolvimento
luindo gradualmente a complexidade para que a motivação dos exe- motor ao longo da vida e nomeadamente ao nível das populações
cutantes e a melhoria da prestação dos mesmos sejam realçadas. Por mais idosas, o aumento progressivo da idade leva à perda de massa
vezes, tendem a desistir do programa de exercício os indivíduos que magra e a ausência de uma prática regular de atividade física reflete-
apresentam grande dificuldade em acompanhar ou incapacidade de se negativamente na capacidade de realização das tarefas diárias de
realizar uma habilidade motora específica na sequência coreográfica forma autónoma (Pereira et al., 2012).
criada. Fatores como o aumento da complexidade e da intensidade Dependendo dos objetivos dos clientes, do planeamento e da sessão
devem ser modificados progressivamente e alternadamente (desde de aula, e considerando que o objetivo principal da sessão, foi o de-
complexidade de movimentos de membros inferiores, à junção dos senvolvimento da capacidade cardiorrespiratória, esta fase deve ter
movimentos de membros superiores, aos deslocamentos, à propul- uma duração de aproximadamente 15 minutos, e pressupõe a reali-
são, às voltas, ao aumento dos bpm da música e à altura da platafor- zação de um trabalho muscular solicitando os grupos musculares
ma). menos tónicos, menos desenvolvidos, menos solicitados na aula,
para que os desequilíbrios musculares não favoreçam o aparecimen-
8.3. Fase de reforço muscular
to de dores e problemas relacionados com um controlo postural de-
Quando a fase principal da aula se centra na melhoria da ca-
sajustado (Costa, 1996), devendo a seleção dos exercícios ser efici-
pacidade cardiorrespiratória, recorremos ao reforço muscular para os
ente e específica para os praticantes, com o objetivo de maximizar o
contributos na melhoria da força resistente, fortalecimento das estru-
seu aproveitamento. Caso seja considerada no planeamento, nesta
turas músculo-esqueléticas específicas, melhoria da composição cor-
fase devem ser realizados exercícios localizados para a musculatura
poral e influência positiva na autoestima, autoimagem, e outros fato-
de suporte do tronco, membros superiores e inferiores, dando ênfase estimular, já que a força, a resistência e a massa muscular só se de-
a alguns grupos musculares como a parede abdominal e a zona glú- senvolvem se as cargas utilizadas forem superiores àquelas a que os
tea pelo seu papel na manutenção da posição da bacia em retroversão músculos estão familiarizados (Cerca, 2003). Além deste aspeto, é
(Willardsdon, 2007). importante a organização e sequencialização dos exercícios, nomea-
O planeamento da fase muscular deve assegurar o bem-estar damente desenvolver exercícios multiarticulares ou compostos (que
e saúde do indivíduo, devendo evitar-se aquando da realização dos envolvam mais de uma articulação) e monoarticulares (envolvem
exercícios, aspetos como a hiperextensão das articulações (e.g., apenas uma articulação), solicitando agonistas e antagonistas (e.g.,
complexo articular do joelho e cotovelo, lombar), movimentos brus- bicípite e tricípite) com o controlo do movimento em cada uma das
cos ou balísticos com excessivas amplitudes (e.g., abdução do om- fases: excêntrica (fase negativa caracterizada pelo alongamento
bro, elevação da perna à frente “chuto”, toque alternado com eleva- muscular e concêntrica (fase positiva caracterizada pela produção de
ção da pena atrás “avião”, entre outros), o trabalho de um grupo força para vencer a resistência proporcionada pelo encurtamento
muscular em detrimento de outro (e.g., grande peitoral encurtado, muscular).
deltóide posterior, romboides e trapézios médios alongados, entre A utilização de diferentes materiais proporciona uma maior
outros) e o desalinhamento da articulação dos joelhos relativamente versatilidade das aulas, proporcionando maior motivação dos parti-
aos apoios (e.g., agachamento frontal, semiagachamento, afundo, cipantes. Nesta fase da aula, e à semelhança do referenciado para a
entre outros). Fase Cardiovascular, ara além do peso corporal, podem ainda ser
Para que possa ser assegurada uma maior capacidade de res- utilizados diversos materiais como forma de aumentar a resistência:
posta do sistema músculo-esquelético, devem ser adotados alguns halteres (utilizados para aumentar a carga do trabalho dos membros
critérios metodológicos. Assim, os exercícios selecionados devem superiores), caneleiras/tornozeleiras (aplicadas à volta dos tornoze-
impor uma sobrecarga sobre os grupos musculares que se pretendem los, servindo, fundamentalmente, para aumentar a carga durante o
trabalho dos membros inferiores), barras ou bastões (podem ser uti- em circuito. No entanto, estas variações só devem ser utilizadas após
lizados como forma de aumentar a carga e como apoio, para manter os participantes terem um bom domínio dos movimentos realizados
o equilíbrio e a postura em determinados exercícios como o agacha- isoladamente.
mento), elásticos (o trabalho com elásticos requer alguma adaptação, Como forma de aumentar o volume da carga (quantidade to-
devendo ser utilizados com indivíduos familiarizados com o treino tal de carga aplicada durante o segmento localizado) pode ser utili-
localizada, já que requer um grande domínio do movimento, nomea- zado o aumento do número de repetições e séries por exercício, di-
damente durante a ação excêntrica em que este deve ser efetuado de minuição do tempo de descanso entre os exercícios para o mesmo
uma forma controlada). grupo muscular, aumento do número de exercícios para o mesmo
A modificação da posição do corpo (i.e., em pé, em decúbito grupo muscular, aumento da amplitude do movimento e do compri-
ventral ou dorsal, sentado, e outras posições laterais) é também outra mento do braço da alavanca (aumentando da distância do ponto de
forma de variar o exercício, podendo também servir para aumentar apoio em torno do eixo da articulação óssea onde os músculos das
ou diminuir a carga. Note-se que não tem interesse em utilizar mo- inserções próximas produzirão força e/ou movimento), aumento da
vimentos ou posições que ponham em causa a segurança do partici- quantidade de carga externa, entre outros. A recomendação de reali-
pante, apenas com o objetivo de modificar a aula, a sequência dos zação de um mínimo de 8 a 10 exercícios para os principais grupos
exercícios deve permitir passagens fluídas entre eles e na passagem musculares com o objetivo de desenvolver força e resistência muscu-
para as diferentes posições do corpo (e.g., realizar todos os movi- lar de uma forma eficiente: 1 a 2 séries: 15 – 25 repetições; aumento
mentos em pé depois para sentado e/ ou decúbito). de força: 2 a 4 séries - 8 a 12 repetições (ACSM, 2009) pode não ser
A combinação do trabalho dos membros superiores com os integralmente cumprida durante esta fase, já que estão apenas dispo-
inferiores pode também constituir uma alternativa ao desenvolvi- níveis aproximadamente 10 minutos com incidência dos grupos
mento do trabalho, assim como o encadeamento de vários exercícios musculares que tendencionalmente estão mais fragilizados e com
maior influência na adoção de posturas corretas. e erros a evitar, mas fazê-lo de forma clara, direta e sem muitas pa-
lavras é fundamental para manter os níveis de atenção dos partici-
8.4.1 Postura pantes. Deve ainda aproveitar o início da realização do exercício
É importante definir as regras de segurança na execução dos para incentivar, motivar e dar informações adicionais, corrigindo e
exercícios ao nível do controlo postural e do ciclo respiratório (e.g., cumprindo o ciclo de feedback, i.e., após feedback voltar a observar
pés paralelos e afastados à largura da bacia, distribuição do peso e verificar se este foi incorporado, ou se, ao invés, é necessário novo
corporal pelos dedos dos pés: calcanhares e pelas extremidades exte- feedback.
riores dos pés, joelhos ligeiramente fletidos e alinhados com o 2º/3º
metatarso, bacia em posição neutra (evitar retroversão ou anteversão
8.4. Retorno à calma
pronunciada), peito elevado e ombros em baixo e em posição neutra Esta fase deve sempre ser incluída nas sessões de treino, pois
(evitando rotação interna), omoplatas aproximadas, cabeça centrada alguns eventos associados à descida abrupta da pressão arterial, ar-
no cimo da coluna vertebral e com o queixo paralelo ao solo. Relati- ritmias e outras alterações metabólicas podem ocorrer. Geralmente,
vamente à respiração, é aconselhado mantermos um padrão de respi- o tempo de duração de retorno à calma varia entre os 5 e 10 minutos.
ração normal (não realizar bloqueio respiratório), é ainda recomen- Porém, o retorno à calma é também caracterizado por ser um mo-
dável inspirar na fase excêntrica e expirar na concêntrica, uma vez mento de relaxamento fundamental para o bem-estar psíquico e físi-
que o não cumprimento das mesmas pode causar algum desconforto co, facilitando a dissipação de calor de forma gradual, reduzindo a
ou agravar patologias já existentes. O professor exerce um papel potencialidade de hipotensão pós exercício, auxiliando na remoção
fundamental na transmissão do exercício, desde as diretrizes de exe- do ácido láctico e outros metabolitos, contrariando, entre outros fato-
cução, os critérios de êxito, a demonstração correta do movimento, a res, o efeito corrosivo do aumento das catecolaminas plasmáticas
velocidade de execução, o número de repetições, o ciclo respiratório, (Rodrigues & André, 1999).
Nesta fase, devem ser incluídos exercícios adequados ao tra- de ensinar, bem como a aplicação de novas metodologias de ensino.
balho desenvolvido na fase principal da sessão, de forma a promover A consolidação de todos os movimentos deve visar progressivamen-
a sucessiva passagem do estado ativo para o repouso do organismo. te o aumento da intensidade e consecutivamente a realização de um
Os exercícios de alongamento efetuados no final da sessão proporci- maior número de exercícios.
onam uma ação favorável e estimulante da circulação periférica, Existem três fases de aprendizagem quando abordamos uma
eliminando metabolitos provenientes das contrações musculares técnica motora: a fase cognitiva, a associativa e a autónoma (Meinel,
consecutivas e uma reposição do comprimento inicial dos diversos 1984). A fase cognitiva corresponde à fase inicial da inclusão do
grupos musculares. O retorno à calma pode ter uma fase inicial de- executante no programa de atividade física. Nesta fase o nível de
nominada “arrefecimento” de características ativas mas com o intui- prática na modalidade é o fator responsável pela aplicação da meto-
to de diminuir a intensidade, ou seja, os participantes continuam a dologia mais adequada nas aulas, no entanto, a adaptação à intensi-
executar movimentos mas a uma intensidade menor do até então dade do exercício e ao ritmo dos movimentos são aspetos fundamen-
(Cerca, 1999). Esta transição vai facilitar o retorno sanguíneo duran- tais no planeamento das sessões de treino. Esta modalidade promove
te a recuperação, prevenindo eventuais casos de cardiopatias e au- não só à melhoria da condição física, mas também a melhoria dos
mento do stress fisiológico e psicológico ao participante. Além dis- fatores psicológicos (e.g,. preservação da função intelectual, alívio
so, após um contexto inebriante onde o participante explora um am- dos sintomas de depressão, entre outros) que se relacionam com o
biente distante da sua rotina diária, esta fase da aula irá promover a aumento do bem-estar (Biddle & Mutrie 2001). Nesta fase de apren-
transição e o seu regresso à “realidade”. dizagem os participantes cometem muitos erros em função dos ele-
vados níveis de ansiedade e da falta de concentração inicial. Desta
forma, será pertinente, enquanto estratégia de intervenção, dar maior
9. Estratégias e Métodos de ensino
ênfase à consciencialização corporal, colocação dos apoios no step e
É importante que os professores dominem as diversas formas
no solo, instrução clara e simples associada à demonstração (prefe- período de assimilação da informação fornecida diverge de pratican-
rencialmente usando mais do que um plano para permitir a correta te para praticante, assim as diretrizes para a manutenção do exercício
perceção do movimento, realização dos movimentos a velocidades dependem da sua apresentação e corresponder às necessidades indi-
de execução inferiores às do ritmo musical, progressões de ensino viduais dos praticantes (Reebok, 1994). Os erros tendem a ser mini-
com manutenção nas progressões mais simples dando tempo sufici- mizados e a capacidade de identificar e corrigir as próprias falhas
ente para incentivos e feedbacks. O professor nas primeiras sessões desperta o interesse pelo aperfeiçoamento na prestação individual,
deve utilizar músicas que facilitem a aprendizagem dos movimentos, ocorrendo significativamente uma melhoria da sua autoconfiança e
nomeadamente reduzir os bpm para 100-110 ou dependendo da po- melhoria na realização dos movimentos aprendidos. A fase autóno-
pulação alvo e grau de dificuldade no acompanhamento, contudo ma caracteriza-se pela concretização dos critérios de êxito propostos
pode ainda numa fase inicial utilizar a música apenas para criar am- e que vão modificar-se ao longo do tempo, onde o participante se
biente. adapta aos novos constrangimentos impostos pelo professor e explo-
A segunda fase de aprendizagem denomina-se por fase asso- ra a sua capacidade com o envolvimento e a sua perceção de compe-
ciativa, onde os praticantes começam a compreender as bases fun- tência motora, empenhando-se nas tarefas a realizar. Durante o pro-
damentais e os mecanismos da técnica de execução dos passos pa- cesso de ensino-aprendizagem devem ser considerados entre outros,
dronizados nomeadamente a técnica de subida e descida da plata- os seguintes aspetos:
forma de step, postura, ritmo e sincronização entre os segmentos 1. A manifestação de incorreções posturais pode categoriza-los
corporais a adotar na realização de todos os passos padronizados. na 1ª ou na 2ª fase de aprendizagem, contudo essa situação pode
Dentro de uma sala de aula, o professor é o modelo que os partici- apenas verificar-se para um movimento em particular. Para facilitar
pantes devem seguir, pelo que terá necessariamente de executar os a aprendizagem do movimento, pode ser aconselhado o seu ensaio
movimentos corretamente (Franco & Batista, 1998). No entanto, o
no solo previamente à utilização da plataforma, ou o recurso a plata- ção ou reconhecimento de incapacidade perante os outros. No senti-
formas mais baixas. do de minimizar riscos, é fundamental que o planeamento seja reali-
2. Os participantes na 1ª fase de aprendizagem estão mais sus- zado de forma cuidada e individualizada e a sua implementação seja
cetíveis ao aparecimento de lesões. A realização dos movimentos devidamente monitorizada, caso contrário o trabalho pode ser preju-
padronizados é muito variada, levando a consecutivos erros de técni- dicial.
ca de execução. Por essa razão, as metodologias de ensino conside- 3. Quando são apresentados movimentos com propulsão os
ram diferentes métodos de construção coreográfica, mas indepen- mesmos, atendendo aos princípios da progressão, devem ser antece-
dentemente do método utilizado, o principio fundamental ao longo didos de uma versão sem propulsão e no decorrer da aula é essencial
da sessão e do planeamento, deve iniciar dos exercícios conhecidos que os participantes que apresentem mais dificuldades não se sintam
para os desconhecidos, dos simples para os complexos, dos menos pressionados a executar os movimentos mais complexos para os
intensos para os mais intensos e assim certificamo-nos que partici- quais ainda não se sentem preparados e a ação de acompanhamento,
pantes com maiores dificuldades coordenativas ou de aptidão física, explicação e sensibilização do professor é fundamental, todavia não
consigam ter movimentos padrão alternativos para que possam ser existe uma estratégia que seja sempre válida para todas as situações
capazes de se manter em atividade (ainda que com um movimento (e.g., os participantes com maior dificuldade devem estar colocados
com menor complexidade, amplitude ou impacto) mesmo quando na sala de aula perto do professor, no entanto o facto de estarem co-
fatigados, tornando sempre que possível o exercício adequado aos locados em frente ao espelho e a apresentar erros, pode fazê-los sen-
objetivos da sessão. Se o executante não consegue ou não é reco- tir observados pelos demais e esta estratégia pode provocar-lhes
mendável realizar um movimento com propulsão, deve-se recomen- maior inibição além de distração e incapacidade de acompanhamen-
dar sempre que possível, o mesmo movimento mas com baixo im- to dos restantes participantes que não conseguem ver o movimento
pacto e sem que esta estratégia seja mostrada como uma despromo- correto. Nestes casos, devem aproveitar uma zona mais atrás possibi-
litando-lhes visualizar os movimentos pela observação dos outros e cida do step sem enquadramento coreográfico e repetição de uma
“protegidos” dos olhares alheios. Por vezes é também essencial, ins- combinação ou sequência de movimentos pré-definida. Este método
truir de forma antecipada ou no momento, inibição de determinados é ideal para participantes inexperientes que necessitam de automati-
movimentos (propulsão, alterações de planos, giros ou voltas), seja zar os padrões motores do movimento específico de abordagem à
por contraindicação, para evitar confusão e/ ou desmotivação. Para plataforma de step. De forma a aumentar a intensidade e complexi-
alcançar os objetivos definidos de forma sustentada, os professores dade, devem ser incluídos os movimentos dos braços. De salientar,
devem evitar introduzir demasiados movimentos novos numa só que a integração de novos elementos realizados com os membros
sessão e não devem privilegiar mais do que dois ou três movimentos superiores representam um elemento de variação e estímulo à coor-
complexos na sua rotina coreográfica da sessão. denação não devendo influenciar negativamente a coordenação do
4. O professor deve ser um bom observador, dominar vários movimento de membro inferior per si nem a fluidez da aula.
métodos de ensino e ter um reportório de estratégias que lhe permita Os métodos que preconizam a combinação de padrões motores
potenciar a aprendizagem, a variedade e a motivação dos praticantes e a construção de coreografias devem ser incluídos numa etapa pos-
pelo sucesso nas tarefas. Cada método de ensino deve ser aplicado terior e de forma progressiva. São métodos de trabalho que têm co-
em situações específicas e cabe ao professor identificar qual o méto- mo objetivo formar sequências coreográficas e posteriormente blo-
do mais ajustado para aquela coreografia, para o nível da classe e cos. Além de ser possível manipular o movimento (a sua complexi-
para a fase de aprendizagem do praticante. Numa fase inicial o mé- dade, intensidade e sequência) pode ainda variar-se a abordagem à
todo Livre poderá ser utilizado para a o ensino progressivo dos pas- plataforma step como os deslocamentos e a ocupação espacial. O
sos básicos e desenvolver, numa primeira etapa, a coordenação mo- recurso e a elaboração de blocos sucessivos devem ser introduzidos
tora e a aptidão cardiorrespiratória. Com este método o participante quando os movimentos estão totalmente adquiridos e consolidados.
deve aprender e praticar os padrões motores básicos de subida e des- A memorização e resistência física poderá levar à fadiga do partici-
pante e o professor deve estar atento ao conjunto de fatores inerentes Fases: ensinar um bloco, ensinar o segundo bloco e juntá-los. Repe-
à realização dos movimentos, observando elementos que traduzem tir com outros dois blocos e juntar os quatro blocos
cansaço e desmotivação (e.g., redução ou ausência dos movimentos (A….B….A+B….C….D…C+D);
dos braços, diminuição da amplitude de movimentos e da deslocação Sandwich: utilizar o método das fases para atingir os quatro blocos.
no espaço, anteversão da bacia nos movimentos de subida à plata- Partir para voltar a unir com outra sequência
forma, manifestação de cansaço através da expressão facial, incorre- (A+B….C+D…A+C+D+B e A+B…C+D…A+C+B+D);
ções posturais, entre outros). Apresentamos de seguida alguns dos Substituição: substituir os movimentos de uma sequência base, até
métodos utilizados: atingir o bloco final;
Variação de Intensidade: ensinar movimentos de baixo impacto e
Método Livre: ensinar as habilidades motoras básicas isoladas, sem ensinar a variação de alto impacto;
as combinar posteriormente.
Método das Partes: ensinar os movimentos separadamente e após Relativamente às coreografias, temos as simétricas, onde os movi-
consolidação uni-los até formar blocos. mentos realizam-se pelos dois lados do corpo, i.e., liderança direita e
Método do Todo: mostrar o movimento todo e ensinar numa estru- liderança esquerda, enquanto nas coreografias assimétricas, os mo-
tura mais simples. vimentos realizam-se por um lado do corpo, i.e., liderança direita ou
Método das progressões: liderança esquerda. Sendo que a bilateralidade dos movimentos deve
Pirâmide Invertida: combinar 2-4 movimentos repetindo 8 vezes ser promovida. A este respeito, a lateralidade divide-se em unilate-
cada um até diminuir o número de repetições; ral, onde os movimentos são executados só de um lado do corpo, ou
Soma: ensinar um bloco, ensinar outro bloco e juntá-los são executados de ambos os lados mas não são iguais, enquanto em
(A…B…A+B….C…A+B+C….); coreografias bilaterais os movimentos são executados pelos dois
lados do corpo e são iguais. Assim como a construção coreográfica, tinência conciliar a informação verbal à não-verbal (corporal e ges-
alguns princípios devem ser cumpridos, desde o nome do passo pa- tual) podendo no entanto, e à medida que a aula se desenrola e as
dronizado, a liderança ou perna líder, a posição na sala, a direção do sequências vão sendo memorizadas, em locais com acústica fraca,
deslocamento, o movimento de braços e os tempos musicais. Por prescindir pontualmente da voz do professor não apenas para evitar
exemplo: que esta se torne ruído mas também para permitir algum descanso e
diminuição da intensidade do esforço do professor.
Cruzamento (D) Braços afasta/ cruza/ afasta/ palma (4t)
No que respeita à informação verbal esta é dada através da voz do
professor e serve para clarificar o que é pretendido. O professor uti-
10. Comunicação: verbal e não-verbal (corporal e sinalização liza esta forma de expressão, entre outras, para chamar atenção para
No decorrer da aula o professor recorre a um conjunto de estratégias vimentos, a contagem do número de tempos do movimento e o nú-
para transmitir aos participantes a informação necessária para a rea- mero de repetições em falta. Contudo, é importante que o professor
lização dos exercícios. As ordens de comando devem ser breves, saiba colocar a voz, simplificando a informação e dando enfase à
seguras, objetivas e aplicadas no tempo certo para que os participan- entoação e timbre.
tes compreendam a informação e haja uma continuidade na transição A comunicação gestual, realizada com recurso aos braços e mãos, é
de um movimento para outro. O tempo em que deve ocorrer essa na maioria dos casos realizada com os membros bem elevados supe-
informação não é definido, já que depende da extensão da instrução. riormente para que toda a turma visualize e daí obtenha as informa-
A comunicação utilizada deve permitir a todos os participantes, ções necessárias para a execução e acompanhamento da aula. A sina-
acompanharem da forma correta a aula, a sequência coreográfica, e lização gestual serve para indicar o passo pretendido, a direção ou
os movimentos pretendidos. Consideramos por isso de extrema per- sentido do deslocamento, o número de tempos que faltam para ter-
petos. Para ensinar é necessário aprender, e o futuro professor antes Cerca, L. (2003). Metodologia da Ginástica de Grupo (3ª ed.). Colecção
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