Acordao-2018 1826732

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
MAS
Nº 70078312535 (Nº CNJ: 0196465-45.2018.8.21.7000)
2018/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS E REMESSA NECESSÁRIA.


DIREITO PREVIDENCIÁRIO. UNIÃO
HOMOAFETIVA. PENSÃO POR MORTE. PEDIDO
DE HABILITAÇÃO DO COMPANHEIRO OU EX-
CONVIVENTE COMO DEPENDENTE DO
SEGURADO FALECIDO PARA AUFERIR O
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DE PENSÃO POR
MORTE.
COMPROVADA A UNIÃO ESTÁVEL ENTRE
PESSOAS DO MESMO SEXO – UNIÃO
HOMOAFETIVA – ESSA MERECE TRATAMENTO
ISONÔMICO COM AS UNIÕES HETEROSSEXUAIS
PARA FINS DE PERCEPÇÃO DE BENEFÍCIOS
PREVIDENCIÁRIOS CONCEDIDOS PELO IPERGS.
DISPENSADA A COMPROVAÇÃO DO TEMPO
MÍNIMO DE EXISTÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL
HOMOAFETIVA, ANTE O DISPOSTO NO ART. 226,
§ 3º, CF E NA LEI Nº 9.278/1996, BEM COMO NO
ART. 1.723, DO CÓDIGO CIVIL.
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA PRESUMIDA.
“O Supremo Tribunal Federal, relativamente ao direito ao
pensionamento em decorrência de relações homoafetivas,
ampliou o conceito de família previsto do artigo 226, § 3º,
da Constituição Federal, assim como no artigo 1.723 do
Código Civil, ao efeito de reconhecer a união entre pessoas
do mesmo sexo, de modo a afastar tratamento diferenciado
em razão da preferência sexual.” (“ut” trecho da ementa do
Acórdão da Apelação Cível Nº 70075312793).
“A legislação que regula o Instituto de Previdência do
Estado do Rio Grande do Sul deve ser interpretada de forma
consonante com as normas constitucional e civil que lhe
sucederam. A Constituição Federal (art. 226, § 3º), a Lei n.
9.278/96 (art. 1º) e o Código Civil (art. 1.723) determinam
que a união estável se caracteriza apenas pela convivência
pública, contínua e duradoura, estabelecida com o objetivo
de constituir família. Assim, o requisito temporal imposto
pelo art. 9º, II, da Lei n. 7.672/82 se tornou conflitante com a
legislação posterior, não sendo recepcionado pela ordem
jurídica vigente. Na constância da união estável, a
dependência econômica da companheira em relação ao
companheiro (e vice-versa) é presumida. A conclusão
decorre da equiparação constitucional da união estável ao
casamento, estendendo à companheira a presunção prevista
no § 5º do art. 9º da Lei n. 7.672/82 para a esposa.” (“ut”
trecho da ementa do Acórdão da Apelação Cível Nº
70071631410).

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No caso concreto, o conjunto probatório põe em evidência a


união estável mantida pelo autor com o ex-segurado
falecido, fazendo jus à percepção da pensão por morte.
Precedentes judiciais nesse diapasão.
CÁLCULO DO VALOR DO BENEFÍCIO. ÓBITO
APÓS A PROMULGAÇÃO DA EC 41/2003.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO “TEMPUS REGIT
ACTUM”.
“A lei de regência do benefício previdenciário é definida
pelo momento em que atendidos os requisitos para seu
deferimento; daí porque, falecido o servidor público após o
advento da EC n. 41/2003, a pensão deve submeter-se à
novel disposição normativa. Logo, aplicável ao caso dos
autos o redutor previsto na Lei n. 10.887, de 2004” (“ut”
ementa do Acórdão do STJ no AgRg no AREsp
101.062/RJ).
JUROS DE MORA. TERMOS INICIAL. DATA DA
CITAÇÃO. MATÉRIA SUMULADA.
Os juros de mora incidem da citação, com fulcro na Súmula
204 do STJ.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE
SUCUMBÊNCIA. MARCO FINAL.
Verba arbitrada com observância dos vetores previstos nos
§§§ 11º, 9º, 3º, inciso I, todos do artigo 85 do CPC. Os
honorários advocatícios devidos pela Fazenda Pública
devem ser fixados sobre o proveito econômico, abarcando as
prestações vencidas até a data da prolação da sentença, mais
12 parcelas vincendas, aí já considerada a atuação do
causídico na etapa recursal.
CONSECTÁRIOS LEGAIS. NECESSIDADE DE
OBSERVAR OS CRITÉRIOS DEFINIDOS PELA
CORTE SUPERIOR NO JULGAMENTO DOS
RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS NºS
1.492/221/PR, 1.495.144/RS E 1.495.146/MG – TEMA
905 DO STJ. CONDENAÇÃO JUDICIAL DE
NATUREZA PREVIDENCIÁRIA.
“As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza
previdenciária sujeitam-se à incidência do INPC, para fins
de correção monetária, no que se refere ao período posterior
à vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na
Lei 8.213/91. Quanto aos juros de mora, incidem segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança (art. 1º-F da
Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009)”.
(“ut” trecho da ementa do Acórdão dos Recursos Especiais
Repetitivos nºs 1.492/221/PR, 1.495.144/RS e
1.495.146/MG).
AMBOS OS APELOS PROVIDOS EM PARTE.
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SENTENÇA MODIFICADA PARCIALMENTE EM


REEXAME NECESSÁRIO.

APELAÇÃO REMESSA NECESSÁRIA VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Nº 70078312535 (Nº CNJ: 0196465- COMARCA DE PORTO ALEGRE


45.2018.8.21.7000)

JUIZ(A) DE DIREITO APRESENTANTE

VINICIUS BRANCO BOTELHO APELANTE/APELADO

INSTITUTO DE PREVIDENCIA DO APELANTE/APELADO


ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Segunda Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento a ambos
os apelos e, outrossim, modificar parcialmente a sentença em reexame necessário.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores


DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE) E DES. LUIZ FELIPE
SILVEIRA DIFINI.
Porto Alegre, 18 de outubro de 2018.

DES. MIGUEL ÂNGELO DA SILVA,


Relator.

RELATÓRIO

DES. MIGUEL ÂNGELO DA SILVA (RELATOR)

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De início, reporto-me ao relatório do parecer ministerial lançado nessa


instância revisora, vazado nestes termos, “in verbis”:
“Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Instituto de Previdência do
Estado do Rio Grande do Sul contra a sentença que, nos autos da ação ordinária ajuizada por
Vinicius Branco Botelho, julgou procedente o pedido inicial, para determinar seja o nome autor
implantado imediatamente como pensionista do ex-servidor, com o valor integral que o servidor
receberia se vivo fosse, além do pagamento das pensões devidas, com todas as vantagens auferidas
pelo falecido servidor, desde o óbito, respeitada a prescrição quinquenal, acrescidas de correção
monetária pelo IGP-M, a contar do vencimento de cada parcela, até 25.03.2015 quando incidirá o
IPCA-E até o efetivo pagamento, bem como juros de mora de 6% ao ano, a contar do trânsito em
julgado. Por fim, condenou o IPERGS ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios fixados em 10% sobre o valor total da condenação (fls. 524/526).

O autor, em suas razões recursais, busca a reforma parcial da sentença. Sustenta,


em linhas gerais, que o termo inicial dos juros deve ser a citação, bem como o termo final dos
honorários a data da sentença, nos termos da Súmula nº 111 do STJ (fls. 537/542).

O IPERGS, por outro lado, sustenta a reforma da sentença. Refere ser necessária a
comprovação da dependência econômica. Assevera que o autor possuía vida econômica ativa e
autônoma, sem qualquer relação de dependência com relação ao falecido servidor. Sustenta estar
submetida ao princípio da legalidade e que a legislação estadual reconhece a união estável e
estabelece requisitos para a comprovação da dependência da companheira para fins previdenciários,
o que não restou demonstrado no caso. Aduz, acaso seja mantida a sentença, que a pensão não deve
corresponder à totalidade, uma vez que o servidor faleceu em data posterior a entrada em vigor da
EC 41/03. Colaciona precedentes. Requer, ao final, provimento do recurso (fls. 549/556).

Foram apresentadas contrarrazões (fls. 569/570).”

A douta Procuradoria de Justiça exarou parecer opinando pelo conhecimento


e parcial provimento do recurso do IPERGS e provimento do apelo do autor.
Vieram os autos conclusos.

É o relatório.

VOTOS

DES. MIGUEL ÂNGELO DA SILVA (RELATOR)


Conheço de ambos os apelos, pois presentes seus requisitos de
admissibilidade.
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Cuida-se de ação de concessão de benefício de pensão por morte ajuizada


em face do INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
por VINICIUS BRANCO BOTELHO, asseverando, na inicial, que mantinha união estável
homoafetiva com Sergio Luiz Pastoriza Ribeiro, ex-servidor público estadual falecido em
03-11-2006 (certidão de óbito inserta à fl. 222@).

A r. sentença invectivada julgou procedente a ação, conforme dispositivo


transcrito no relatório supra.

Em linhas gerais, impõe-se mantida a sentença hostilizada, cujos judiciosos


fundamentos reproduzo parcialmente adiante, a fim de evitar indesejável exercício de
tautologia, “in litteris”:
“A vasta documentação carreada aos autos, tanto documental como testemunhal,
comprovam a união estável entre a parte autora e o ex-servidor.

Pois bem. Conforme já dito quando do exame do pedido de tutela antecipada, a


união estável, ainda que entre pessoas do mesmo sexo – união homoafetiva – merece tratamento
igualitário e isonômico, com mesmos direitos e deveres das uniões heterossexuais.

A Constituição Federal de 1988, promulgada posteriormente à edição da Lei nº


7.672/82, lei previdenciária estadual, assegura igualdade de direitos e obrigações entre homens e
mulheres. Logo, a pretensão da parte demandante independe para o seu exercício da comprovação
da dependência econômica que existia com seu falecido companheiro, bem como da edição de
normas Complementares ou Infraconstitucionais o reconhecendo.

Ainda, o direito à Previdência Social apresenta-se como fundamental, assim sua


norma instituidora é autoaplicável.

Portanto, frente aos elementos contidos nos autos, e, em razão da garantia


constitucional do direito igualitário entre homens e mulheres, não é possível exigir-se do
marido/companheiro tratamento distinto para obter o direito ao pensionamento.

Corroborando com o entendimento:

AGRAVO INTERNO. APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDÊNCIA


PÚBLICA. PENSÃO POR MORTE. RELAÇÃO HOMOAFETIVA.
INCLUSÃO DO COMPANHEIRO COMO PENSIONISTA.
POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
O Supremo Tribunal Federal, relativamente ao direito ao
pensionamento em decorrência de relações homoafetivas,
ampliou o conceito de família previsto do artigo 226, §3º, da
Constituição Federal, assim como no artigo 1.723 do Código
Civil, ao efeito de reconhecer a união entre pessoas do mesmo
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sexo, de modo a afastar tratamento diferenciado em razão da


preferência sexual. Em razão da garantia constitucional do
direito igualitário entre homens e mulheres, não é possível exigir-
se do marido/companheiro tratamento distinto para obter o
direito ao pensionamento. Os argumentos trazidos no recurso não
se mostram razoáveis para reformar a decisão monocrática.
Imposição de multa de 1% sobre o valor atualizado da causa, nos
termos do art. 1.021, § 4º, do CPC/15. NEGADO PROVIMENTO
AO RECURSO. VOTOS VENCIDOS. (Agravo Nº 70069811156,
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 14/10/2016).

Assim, não há que se falar em falta de dependência econômica, sendo procedente o


pedido da parte autora de ser incluída no rol de beneficiários à pensão por morte de ex-servidor.”

De efeito.

O conjunto probatório coligido na instrução processual comprova a


existência de união estável homoafetiva mantida pelo autor desta demanda com Sérgio Luiz
Pastoriza Ribeiro, ex-servidor público estadual cujo decesso ocorreu em 2006.
O IPERGS indeferiu na seara administrativa o requerimento de concessão do
benefício previdenciário formulado pelo demandante com esta justificativa (fl. 472@),
“Informamos-lhe o indeferimento de seu pedido de REANÁLISE de habilitação à pensão por morte,
pelo não atendimento ao disposto no art. 9º, inciso VI, § 5º e § 6º, combinado com os arts, 11, e 13 da
Lei 7672/82 e alterações, uma vez que não logrou êxito em comprovar a dependência econômica até
a data do óbito do ex-segurado, pois apresentou a rescisão de contrato de trabalho que ocorreu 6
(seis) meses após o óbito do ex-segurado e, além disso, o salário percebido mensalmente, à época do
óbito, era superior a um salário mínimo regional, motivos pelos quais não faz jus ao benefício
solicitado.”

A decisão administrativa não deve prevalecer, porquanto mostra-se em


descompasso com o ordenamento jurídico atualmente vigente e a jurisprudência perfilhada
pelo Excelso Supremo Tribunal Federal.

“In casu”, o demandante VINICIUS BRANCO BOTELHO logrou


comprovar na via judicial, de forma satisfatória (ou seja, quantum satis), fazer jus à pensão
por morte, ante a demonstração de que mantinha união estável homoafetiva com o “de
cujus” Sérgio, o qual, na condição de servidor público, ostentava a condição de segurado
obrigatório do IPERGS.

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A prova documental aportada ao feito traz seguros indicativos dessa união


homoafetiva, constando dos autos, inclusive, cópia da escritura pública de declaração de
união estável que os ex-conviventes celebraram em Tabelionato na data de 20-06-2006
(39@).
Ademais disso, as declarações de ajuste anual do imposto de renda – pessoa
física prestadas pelo servidor estadual Sérgio Luiz Pastoriza Ribeiro à Receita Federal, como
se infere da declaração relativa ao exercício de 2012 (ano-calendário 2011), dão conta de que
o demandante VINICIUS fora declarado seu dependente, na condição de companheiro
(código 11 – fls. 152@ e seguintes).

Portanto, apresenta-se desprovida de justificativa minimamente plausível, do


ponto de vista jurídico, a negativa administrativa de concessão do benefício pelo IPERGS,
sob a alegação inserta no ofício expedido em 27-03-2017, por meio da qual comunica ao
requerente que “a declaração fornecida pelo INSS não foi aceita, uma vez que seu nome
consta com grafia diferente da certidão de nascimento, bem como a declaração de IR, (...),
tendo em vista que as orientações contidas na RDO não foram cumpridas na íntegra” (sic).

Ora, a circunstância de a declaração de ajuste anual do Imposto de Renda –


Pessoa Física relativa ao exercício de 2012 mencionar como nome do declarante SERGIO
LUIZ PASTORIZ RIBEIRO, ao invés de SÉRGIO LUIZ PASTORIZA RIBEIRO, constitui
aspecto secundário desse documento, sem o condão de comprometer a veracidade das
declarações nele lançadas perante o Fisco Federal.
Por conseguinte, estimo comprovados satisfatoriamente os requisitos legais
necessários à concessão do benefício de pensão por morte ao autor.
Por relevante, de sublinhar, nesse passo, que as uniões homoafetivas
merecem, para efeitos de natureza previdenciária, tratamento isonômico ao conferido
às uniões heterossexuais, como deflui de interpretação construtiva da norma constitucional
que consagrava o valor da proteção à entidade familiar, a fim de assegurar os direitos
fundamentais consagrados na Constituição Federal, tomando-se o princípio da igualdade ou
isonomia inscrito no texto da Lei Fundamental como vetor axiológico a servir de norte à
interpretação dos seus dispositivos.

A propósito, percucientemente anotou o eminente Desembargador


ARMINIO JOSÉ ABREU LIMA DA ROSA, no voto que proferiu na Apelação Cível nº
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70044184307, julgada pela Vigésima Primeira Câmara Cível em 24-08-2011, de cujos


fundamentos reproduzo pequeno excerto, “in litteris”:
“Com efeito, apresenta-se insustentável argumentação quanto à inviabilidade de se
reconhecer união estável entre pessoas do mesmo sexo, em face de suposta violação ao artigo 226, §
3.º, CF, notadamente após o julgamento conjunto da ADI 4277/DF e da ADPF 132/RJ pelo Supremo
Tribunal Federal.

Entendimento com óbvia repercussão na definição atinente ao direito do


companheiro a pensão por morte do parceiro, o qual tem sido declarado pela Excelsa Corte, contanto
que atendidas as exigências do artigo 1.723, CC/02, como se extrai do RE 477.554/MG, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, j. 1.º.07.2011, assim ementado:

UNIÃO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO. ALTA RELEVÂNCIA


SOCIAL E JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DA QUESTÃO PERTINENTE ÀS
UNIÕES HOMOAFETIVAS. LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO
RECONHECIMENTO E QUALIFICAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA
COMO ENTIDADE FAMILIAR: POSIÇÃO CONSAGRADA NA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ADPF 132/RJ E ADI
4.277/DF). O AFETO COMO VALOR JURÍDICO IMPREGNADO DE
NATUREZA CONSTITUCIONAL: A VALORIZAÇÃO DESSE NOVO
PARADIGMA COMO NÚCLEO CONFORMADOR DO CONCEITO DE
FAMÍLIA. O DIREITO À BUSCA DA FELICIDADE, VERDADEIRO
POSTULADO CONSTITUCIONAL IMPLÍCITO E EXPRESSÃO DE UMA IDÉIA-
FORÇA QUE DERIVA DO PRINCÍPIO DA ESSENCIAL DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA. PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA (2006): DIREITO DE
QUALQUER PESSOA DE CONSTITUIR FAMÍLIA, INDEPENDENTEMENTE
DE SUA ORIENTAÇÃO SEXUAL OU IDENTIDADE DE GÊNERO. DIREITO DO
COMPANHEIRO, NA UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA, À PERCEPÇÃO DO
BENEFÍCIO DA PENSÃO POR MORTE DE SEU PARCEIRO, DESDE QUE
OBSERVADOS OS REQUISITOS DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL. O ART.
226, § 3º, DA LEI FUNDAMENTAL CONSTITUI TÍPICA NORMA DE
INCLUSÃO. A FUNÇÃO CONTRAMAJORITÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. A PROTEÇÃO DAS
MINORIAS ANALISADA NA PERSPECTIVA DE UMA CONCEPÇÃO
MATERIAL DE DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO.

Em face de tal contexto, o que importa é a presença nos autos de elementos


suficientes à comprovação da existência de efetiva união estável entre o autor e o extinto segurado, a
autorizar o acolhimento da pretensão deduzida.” (destaques do original).

De outra parte, cabe acentuar que não há necessidade de o requerente do


benefício previdenciário comprovar o requisito temporal da existência da união homoafetiva
durante o período de cinco anos, conforme previsão contida no artigo 9º, inciso II, da Lei nº

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7.672/1982, porquanto tal exigência acabou superada pela legislação superveniente àquele
diploma estadual que instituiu o benefício de pensão por morte (aliás, conforme se infere da
intelecção conferida atualmente pela jurisprudência ao art. 226, § 3º, CF; ao texto da Lei nº
9.278/1996 e ao enunciado normativo do art. 1.723 do atual Código Civil, cuja entrada em
vigor é muito posterior à edição da precitada lei previdenciária estadual).

No que tange aos benefícios previdenciários, o art. 9º da Lei Estadual nº


7.672/1982, elenca os dependentes do segurado:
“9º. Para os efeitos desta lei, são dependentes do segurado:

I - a esposa; a ex-esposa divorciada; o marido inválido; os filhos


de qualquer condição enquanto solteiros e menores de dezoito
anos, ou inválidos, se do sexo masculino, e enquanto solteiros e
menores de vinte e um anos, ou inválidos, se do sexo feminino;
(Redação dada pela Lei n° 7.716/82)
(...)
§ 5º - Os dependentes enumerados no item I deste artigo, salvo o
marido inválido, são preferenciais e a seu favor se presume a
dependência econômica; os demais comprová-la-ão na forma
desta Lei. (Redação dada pela Lei n° 7.716/82)”

A mencionada Lei Estadual – visivelmente defasada no tempo e


desatualizada em relação às relações sociais atualmente em vigor - deve ser interpretada à
luz do princípio da isonomia insculpido no artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal, a
preceituar, “verbis”:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição.
(...)

Ressalte-se que o art. 201, inciso V, da Constituição Federal, com a redação


que lhe deu a Emenda Constitucional nº 20/1998, ao tratar sobre a disciplina previdenciária,
não estabelece qualquer discrime ou diferenciação em razão do casamento ou da união
estável:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de
regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: [...]V - pensão por
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morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou


companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.

Em julgamento emblemático, o Pleno do Supremo Tribunal Federal


considerou admissível a equiparação plena da união estável ao casamento para fins
sucessórios, em aresto assim ementado:
Direito constitucional e civil. Recurso extraordinário.
Repercussão geral. Aplicação do artigo 1.790 do Código Civil à
sucessão em união estável homoafetiva. Inconstitucionalidade da
distinção de regime sucessório entre cônjuges e companheiros. 1.
A Constituição brasileira contempla diferentes formas de família
legítima, além da que resulta do casamento. Nesse rol incluem-se
as famílias formadas mediante união estável, hetero ou
homoafetivas. O STF já reconheceu a “inexistência de hierarquia
ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de
constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico”,
aplicando-se a união estável entre pessoas do mesmo sexo as
mesmas regras e mesas consequências da união estável
heteroafetiva (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, j.
05.05.2011) 2. Não é legítimo desequiparar, para fins
sucessórios, os cônjuges e os companheiros, isto é, a família
formada pelo casamento e a formada por união estável. Tal
hierarquização entre entidades familiares é incompatível com a
Constituição de 1988. Assim sendo, o art. 1790 do Código Civil,
ao revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e discriminar a
companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos sucessórios
bem inferiores aos conferidos à esposa (ou ao marido), entra em
contraste com os princípios da igualdade, da dignidade humana,
da proporcionalidade como vedação à proteção deficiente e da
vedação do retrocesso. 3. Com a finalidade de preservar a
segurança jurídica, o entendimento ora firmado é aplicável
apenas aos inventários judiciais em que não tenha havido trânsito
em julgado da sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais
em que ainda não haja escritura pública. 4. Provimento do
recurso extraordinário. Afirmação, em repercussão geral, da
seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é
inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os
casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”. (RE
646721, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
10/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL
- MÉRITO DJe-204 DIVULG 08-09-2017 PUBLIC 11-09-2017)

Essa ratio decidendi tem aplicação no âmbito do direito previdenciário,


razão pela qual a jurisprudência prevalente em nossos pretórios tem considerado
desnecessária a comprovação do requisito da dependência econômica em se tratando de
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2018/CÍVEL

união estável (seja ela heterossexual, seja homoafetiva), pois idêntica prova não se exige da
esposa e/ou ex-esposa divorciada. Tal entendimento dimana da intelecção da norma
constitucional que equipara a união estável ao casamento e igualmente da aplicação do
princípio constitucional vetor da isonomia.
Portanto, no caso concreto sub examine, impõe-se reconhecer o direito do
autor à percepção do benefício previdenciário de pensão por morte, conforme preconiza,
aliás, o judicioso parecer de lavra do ilustre Procurador de Justiça Julio Cesar da Silva Rocha
Lopes, do qual reproduzo este excerto, “in litteris”:
“O artigo 226 da Constituição Federal assim estabelece:

“Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do


Estado.
(...)
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo
a lei facilitar sua conversão em casamento.

Nessa esteira, a Lei Federal n.º 9.278/96, que regulamenta o dispositivo


constitucional antes mencionado reconhece como “entidade familiar a convivência duradoura,
pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de
família” .

Seguindo a mesma linha, o art. 1.723 do novo Código Civil reconhece como
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Inicialmente, superado que nada muda quanto ao entendimento em se tratando das


relações homoafetivas, como se sabe:

APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDÊNCIA PÚBLICA. PENSÃO POR


MORTE. RELAÇÃO HOMOAFETIVA. INCLUSÃO DO(A)
COMPANHEIRO(A) COMO PENSIONISTA. POSSIBILIDADE.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA. 1. O Supremo
Tribunal Federal, relativamente ao direito ao pensionamento em
decorrência de relações homoafetivas, ampliou o conceito de
família previsto do artigo 226, §3º, da Constituição Federal, assim
como no artigo 1.723 do Código Civil, ao efeito de reconhecer a
união entre pessoas do mesmo sexo, de modo a afastar tratamento
diferenciado em razão da preferência sexual. 2. Em razão da
garantia constitucional do direito igualitário entre homens e
mulheres, não é possível exigir-se do marido/companheiro
tratamento distinto para obter o direito ao pensionamento.
RECURSO DESPROVIDO. VOTO VENCIDO. (Apelação Cível Nº
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70075312793, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,


Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 23/03/2018)

Depreende-se das normas legais e constitucionais que regem a matéria, portanto,


que não existe lapso temporal mínimo estabelecido para que se possa comprovar a convivência,
sendo suficiente a demonstração da convivência pública, duradoura e contínua, o que é o caso dos
autos.

Além dos documentos juntados, que dão conta da coabitação, bem como da
proximidade com o de cujus, há escritura pública de declaração de união estável (fl. 39).

Com relação à dependência econômica, podem ser rastreados precedentes do


Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul no sentido de que ela deve ser comprovada para obter a
habilitação junto ao IPERGS para fins de perceber a pensão por morte de companheiro2.

Todavia, tenho que a melhor interpretação a ser dada é que a dependência


econômica para o companheiro deve ser presumida. Isso porque, conforme já mencionado, a união
estável foi equiparada ao casamento, de forma que a dependência econômica decorre da própria
união estável.

Alinhados ao posicionamento aqui adotado, julgados do Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. UNIÃO


ESTÁVEL. COMPROVAÇÃO DE DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA. ART. 13 DA LEI Nº 7.672/1982. JUROS E
CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA.
LEI Nº 9.494/1997. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 5º DA
LEI Nº 11.960/2009. ADINS Nº 4357 E 4425. PRECLUSÃO. 1.
Boa parte dos documentos juntados com o recurso de apelação já
estavam nos autos, não havendo que se falar em inovação ou
preclusão. A parte ré não impugnou a documentação juntada com
a petição inicial. 2. Os documentos dos autos indicam que mesmo
tendo ocorrido divórcio consensual, o casal, posteriormente,
reconsiderou a decisão e conviveram em união estável até o
falecimento da servidora pública. 3. Equiparando-se a união
estável ao casamento, da mesma sorte que ocorre quando os
conviventes estão unidos pelo instituto do casamento, a
dependência econômica é presumida. É indevida a exigência de
que o ex-marido comprove a dependência econômica e/ou
situação de invalidez para obter pensão por morte da ex-
companheira (aplicação do disposto no artigo 5º, inciso I da
Constituição Federal). Precedentes jurisprudenciais. O disposto
no art. 13 da Lei nº 7672/1982 trata da presunção relativa de
dependência econômica, podendo a existência dessa ser
comprovada por outras provas. No caso, os documentos dos autos
demonstram a dependência econômica da parte autora. 4. No

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caso, é devido o pagamento de pensão por morte à parte autora, a


contar da data do pedido administrativo. Consoante o que restou
decidido no REsp. nº 1270439/PR, julgado pelo rito do art. 543-C
do CPC, a correção monetária deverá ser calculada com base no
IPCA, a partir da data em que devida cada parcela, e os juros
moratórios com base no índice oficial de remuneração básica
aplicados à caderneta de poupança, nos termos da regra do art.
1º-F da Lei 9.494/97, com redação da Lei 11.960/09, a partir da
citação. 5. Ônus sucumbenciais redistribuídos. RECURSO DE
APELAÇÃO PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70060771482, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: João Barcelos de Souza Junior, Julgado em 24/09/2014)

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO.


SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL DE BOA VISTA DO
BURICÁ. PENSÃO À COMPANHEIRA. UNIÃO ESTÁVEL
RECONHECIDA. Comprovada suficientemente nos autos a
união estável da autora com o falecido servidor do município de
Boa Vista do Buricá, com coabitação em torno de 06 anos. O art.
220, § 4º, da Lei Municipal nº 17/2002, dispensa a comprovação
de dependência econômica da companheira, expressamente
estipulando que é ela presumida. Termos do Regime Jurídico
Único. REEXAME NECESSÁRIO. HONORÁRIOS. Redução dos
honorários para 5%, considerando-se as peculiaridades do caso,
que incidem sobre as parcelas vencidas até a sentença, na forma
do verbete nº 111 da Súmula do STJ. APELAÇÃO DESPROVIDA.
REEXAME NECESSÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70060494242, Vigésima Primeira Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Almir Porto da Rocha
Filho, Julgado em 17/09/2014)

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO.


PREVIDÊNCIA PÚBLICA. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.
PENSÃO POR MORTE. COMPANHEIRA COMO
BENEFICIÁRIA. UNIÃO ESTÁVEL. CONFIGURAÇÃO.
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. DESNECESSIDADE.
PRESUNÇÃO. TERMO INICIAL DAS PRESTAÇÕES E
CORREÇÃO MONETÁRIA. REFORMATIO IN PEJUS. 1.
Limitações impostas pela Lei Municipal que, relativamente à
companheira, exige comprovação de união por mais de cinco anos
e dependência econômica, que não se sobrepõe. Aplicação da Lei
Federal nº 9.278/86, que regulamentou o art. 226, § 3º, da
Constituição Federal, bem como do art. 1.723 do Código Civil,
que se contentam, para o reconhecimento da união estável, com a
comprovação da convivência pública, duradoura e contínua
estabelecida com o objetivo de constituição de família, sem
imposição de qualquer exigência temporal mínima. Hipótese em
que há prova documental e oral suficientes quanto à existência
da união estável narrada na inicial. Reconhecida a união estável,
a dependência econômica passa a ser presumida perante a
legislação previdenciária, a exemplo do que ocorre com a(o)
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cônjuge. 2. Termo inicial do pagamento das prestações e fator de


correção monetária. Embora a existência de pedido
administrativo e a possibilidade de aplicação do IPCA (REsp nº
1270439/PR, submetido ao rito do art. 543-C do CPC), no caso, a
aplicação de tais entendimentos implicaria em reformatio in pejus
(Súmula 45 do STJ: "No reexame necessário, é defeso, ao
Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública").
APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação e Reexame Necessário Nº
70060047826, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 03/09/2014)

Cálculo do benefício. Princípio “tempus regit actum”


A sentença fustigada condenou o IPERGS a pagar ao demandante o
benefício previdenciário de pensão por morte tomando por base “o valor integral que o
servidor receberia se vivo fosse” (sic).

Verifico que o instituidor da pensão faleceu em 03-11-2016 (“ut” certidão de


óbito, fl. 222@), quando já estava em vigor a Emenda Constitucional nº 41/2003, que alterou
a redação do art. 40, § 7º, da Constituição Federal de 1988, passando a dispor, “verbis”:
Art. 40. [...]
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por
morte, que será igual: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41, 19.12.2003)
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o
limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta
por cento da parcela excedente a este limite, caso aposentado à
data do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41,
19.12.2003)
II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo
efetivo em que se deu o falecimento, até o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência
social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da
parcela excedente a este limite, caso em atividade na data do
óbito. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

Portanto, o cálculo da pensão por morte deve considerar tal disposição


constitucional, observando-se o redutor, acaso ultrapassar o teto dos proventos do RGPS.

Nesse sentido, invoco aresto do Superior Tribunal de Justiça:


PROCESSO CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE.
REVISÃO E REAJUSTAMENTO. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA.

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EQUIVALÊNCIA À REMUNERAÇÃO DE SERVIDORES DA


ATIVA. REDUTOR PREVISTO NA LEI N. 10.887/2004.
APLICÁVEL.
1. Para atender o requisito do prequestionamento não é
necessário que o acórdão recorrido mencione expressamente os
preceitos legais tidos como contrariados, nas razões do recurso
especial, sendo suficiente que a questão federal tenha sido
apreciada pelo Tribunal local.
2. Consoante jurisprudência desta Corte, comprovada a
dependência econômica em relação ao de cujus, o cônjuge
separado judicialmente faz jus ao benefício de pensão pós-morte
do ex-cônjuge, ainda que não receba pensão alimentícia.
Precedentes: AgRg no AREsp 12.882/RJ, Rel. Min. Humberto
Martins, Segunda Turma, julgado em 2.8.2011, DJe 10.8.2011;
AgRg no REsp 881.085/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis
Moura, Sexta Turma, julgado em 4.5.2010, DJe 24.5.2010; AgRg
no REsp 1.295.320/RN, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Segunda
Turma, julgado em 19.6.2012, DJe 28.6.2012.
3. A lei de regência do benefício previdenciário é definida pelo
momento em que atendidos os requisitos para seu deferimento;
daí porque, falecido o servidor público após o advento da EC n.
41/2003, a pensão deve submeter-se à novel disposição normativa
(AgRg nos EDcl no RMS 33.167/MS, Rel. Min. Castro Meira,
Segunda Turma, DJe 1º.7.2011). Logo, aplicável ao caso dos
autos o redutor previsto na Lei n. 10.887, de 2004.
Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 101.062/RJ, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 04/12/2012, DJe 13/12/2012)

Na mesma senda, colaciono precedente deste Tribunal:


APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO. PREVIDÊNCIA.
FALECIDO SERVIDOR DO IRGA. COMPLEMENTAÇÃO DE
PENSÃO POR MORTE DO INSS. POSSIBILIDADE. REDUTOR
DE 30%. PREQUESTIONAMENTO. DESNECESSIDADE.
SENTENÇA MANTIDA.
1. A pensionista, viúva de servidor do IRGA que, em vida,
percebia diferença de proventos pelo IPERGS, faz jus à
complementação da pensão por morte recebida do INSS. 2.
Ocorrendo o óbito do servidor em 2015, sob a égide da EC nº
41/2003, deve o cálculo do benefício levar em conta o que dispõe
o artigo 40, § 7º, inciso I, da Constituição Federal, tal como
constou na origem. Caso dos autos em que o falecimento do
instituidor da pensão ocorreu em data posterior à alteração
constitucional, atingindo a parte autora as novas disposições. Na
hipótese do valor do benefício ultrapassar o teto dos proventos do
RGPS, incidirá o percentual redutor de 30% sobre a soma
excedente, em hipótese em que aposentado à data do óbito. 3.
Impositiva a complementação à pensão por morte. Manutenção da
sentença. Precedentes. 4. Prequestionamento. Pretensão que não
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deve ser acolhida, pois desnecessária a referência a todos os


dispositivos legais e constitucionais mencionados pelas partes no
processo, bastando que a decisão esteja bem fundamentada.
Disposições do novo Código de Processo Civil que introduziram o
prequestionamento ficto em nosso ordenamento. NEGARAM
PROVIMENTO AO APELO, UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70074901364, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 27/09/2017)

Rogo vênia para reproduzir elucidativo excerto do voto do ilustre


Desembargador RICARDO TORRES HERMANN, proferido no julgamento desse Apelo,
“in litteris”:
“Cumpre, no ponto, aclarar a questão atinente ao redutor de 30% do que valor,
somado, eventualmente ultrapassar o teto dos benefícios da previdência social, na esteira do parecer
ministerial lançado (fls. 132/133).

Isso porque, embora a sentença tenha feito menção à necessária observância ao


que dispõe o artigo 40, §7º, da Constituição Federal, importante consignar a aplicação ao caso do
seu inciso I1, com redação pela Emenda Constitucional n.º 41/2003, considerando que o óbito foi
posterior a entrada em vigor da citada alteração.

A reforma previdenciária estabeleceu novos critérios para a concessão do benefício


de pensão por morte, de modo que, nas hipóteses em que o falecimento do instituidor da pensão
ocorrer após sua vigência, incidirá sobre o valor da pensão um redutor nas hipóteses em que ela
exceder o limite estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social, de que trata
o artigo 201 da Carta Política.

No caso dos autos, como visto, o óbito do instituidor da pensão ocorreu em data
posterior à EC nº 41/2003, atingindo a parte autora as novas disposições. Assim, na hipótese do valor
do benefício ultrapassar o teto dos proventos do RGPS, incidirá o percentual redutor de 30% sobre a
soma excedente.”

1
Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário,
mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.       (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por morte, que será igual: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41, 19.12.2003)
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo estabelecido para os
benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da
parcela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº
41, 19.12.2003) (grifos meus).

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Termo inicial de incidência dos juros de mora

Nas ações de natureza previdenciária, ante o caráter alimentar do benefício,


os juros de mora são devidos a contar da citação, como prevê o enunciado nº 204 da Súmula
do STJ: “Os juros de mora nas ações relativas a benefícios previdenciários incidem a partir
da citação válida.”
Nessa esteira, a título meramente exemplificativo, refiro julgado recente do
eg. Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
SERVIDOR PÚBLICO. MENOR SOB GUARDA. DIREITO À
PENSÃO POR MORTE. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 126/STJ. JUROS DE MORA.
SÚMULA 204/STJ. (...)
2. Quanto aos juros de mora, em se tratando de débitos relativos
a benefícios previdenciários, dado o caráter alimentar da dívida,
são incidentes juros moratórios no percentual de 1% (um por
cento) ao mês, a partir da citação válida (Súmula 204 do STJ),
até a entrada em vigor da Lei n. 11.960/2009, quando será
observado o índice oficial de remuneração básica e os juros
aplicados à caderneta de poupança.
3. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp
1086861/PE, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 07/03/2018)

No mesmo diapasão, colaciono ementa de aresto desta Câmara:


APELAÇÕES CÍVEIS E REMESSA NECESSÁRIA.
PREVIDÊNCIA PÚBLICA. IPERGS. PENSÃO POR MORTE.
MARIDO. (...)
– O termo inicial dos juros não é o trânsito em julgado da ação, e
sim a citação, pois se aplica a Súmula 204, do STJ, segundo a
qual os juros de mora nas ações relativas a benefícios
previdenciários incidem a partir da citação válida, no que não há
maiores celeumas. (...). APELO DO IPERGS DESPROVIDO.
APELO DO AUTOR PARCIALMENTE PROVIDO. SENTENÇA
REFORMADA EM REMESSA NECESSÁRIA. (Apelação e
Reexame Necessário Nº 70077005189, Vigésima Segunda Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marilene Bonzanini,
Julgado em 26/04/2018)

Honorários de sucumbência

Os honorários advocatícios decorrem dos princípios da causalidade e da


sucumbência, nos termos do art. 85, “caput”, do CPC/2015.

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O CPC atual utiliza a expressão “valor da condenação ou do proveito


econômico” como base de cálculo da verba honorária de sucumbência (art. 85, §§ 2° e 3°).
A propósito, eis orientação firmada no Enunciado nº 007 do Simpósio de
Direito Previdenciário do IBDP:
Enunciado IBDP 007. A Súmula 111, do STJ, deve ser relida à
luz do art. 85 do CPC/15, já que havendo recurso do INSS às
instâncias superiores, devem ser até o limite de 20% majorados
os honorários sucumbenciais, como também não limitadas às
parcelas vencidas até a prolação de sentença. (Elaborado no
XXIV Simpósio de Direito Previdenciário do IBDP, em Canela/RS,
dias 28 e 29 de abril de 2016.)

Por conseguinte, em situações como a ora apreciada, vencida a Fazenda


Pública, deve-se observar o proveito econômico obtido pela parte vencedora (art. 292, §§ 1º
e 2º, do CPC2).

Desse modo, estou em arbitrar a verba honorária de sucumbência em 12%


sobre o proveito econômico (abarcando as prestações vencidas até a data da prolação da
sentença, mais 12 parcelas vincendas), aí já considerada a atuação do causídico da parte
vencedora na etapa recursal, com fulcro nos §§§ 11º, 9º, 3º, inciso I, todos do artigo 85 do
CPC.
Nesse sentido refiro, à guisa de ilustração:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. IPERGS.
PENSÃO POR MORTE. CÔNJUGE SUPÉRSTITE. EXIGÊNCIA
DE DEPENDÊNCIA ECONÔMICA E INVALIDEZ. PRINCÍPIO
DA IGUALDADE. ENTENDIMENTO DO PLENÁRIO DO STF.
FONTE DE CUSTEIO. (...)
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. Verba
arbitrada com observância dos vetores previstos nos §§§ 11º, 9º,
3º, inciso I, todos do artigo 85 do CPC. Os honorários
advocatícios devidos pela Fazenda Pública devem ser fixados
sobre o proveito econômico (abarcando as prestações vencidas
até a data da prolação da decisão que reconheceu o direito do
dependente a perceber o benefício previdenciário, mais 12
parcelas vincendas), já considerada a atuação do causídico na
etapa recursal. APELO PROVIDO. (Apelação Cível Nº

2
Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:
(...)
§ 1º Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, considerar-se-á o valor de umas e outras.
§ 2º O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo
indeterminado ou por tempo superior a 1 (um) ano, e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações.
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70078161130, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de


Justiça do RS, minha relatoria, Julgado em 30/08/2018)

Aplicação da Lei nº 11.960/2009 aos consectários legais.


O art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009,
determinou que nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da
mora, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança.

Pois bem.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento Recurso Extraordinário nº
870.947 – Tema 810, reconheceu a repercussão geral da matéria relativa à validade jurídico-
constitucional da correção monetária e dos juros moratórios incidentes em as condenações
judiciais impostas à Fazenda Pública, segundo os índices oficiais de remuneração básica da
caderneta de poupança (Taxa Referencial - TR), conforme prevê o art. 1º-F da Lei nº
9.494/1997, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009.
A proclamação do resultado desse julgamento levado a cabo pelo Plenário
do Excelso Pretório deixou assente o seguinte, “verbis”:
“O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, Ministro Luiz Fux,
apreciando o tema 810 da repercussão geral, deu parcial provimento ao recurso para, confirmando,
em parte, o acórdão lavrado pela Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, (i)
assentar a natureza assistencial da relação jurídica em exame (caráter não-tributário) e (ii) manter a
concessão de benefício de prestação continuada (Lei nº 8.742/93, art. 20) ao ora recorrido (iii)
atualizado monetariamente segundo o IPCA-E desde a data fixada na sentença e (iv) fixados os juros
moratórios segundo a remuneração da caderneta de poupança, na forma do art. 1º-F da Lei nº
9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09. Vencidos, integralmente o Ministro Marco
Aurélio, e parcialmente os Ministros Teori Zavascki, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.
Ao final, por maioria, vencido o Ministro Marco Aurélio, fixou as seguintes teses, nos termos do voto
do Relator: 1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte
em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública , é
inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser
aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário,

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em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às condenações
oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o índice de
remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09 ; e 2) O art. 1º-F
da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a
atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração
oficial da caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao
direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.
Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 20.9.2017.”

Assim, conforme concluiu o Plenário do Excelso Pretório nesse relevante


julgamento, afigura-se descabida a adoção da TR como índice de atualização monetária nas
condenações judiciais da Fazenda Pública.

De seu turno, o egrégio Superior Tribunal de Justiça, ao julgar os Recursos


Especiais representativos de controvérsia nºs 1.492/221/PR, 1.495.144/RS e 1.495.146/MG
(Tema 905-STJ), sob a relatoria do Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, definiu
que os consectários legais aplicáveis devem ter em conta a natureza da condenação imposta à
Fazenda Pública.
Elucidativa a ementa do Acórdão paradigmático:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUBMISSÃO À
REGRA PREVISTA NO ENUNCIADO ADMINISTRATIVO
02/STJ. DISCUSSÃO SOBRE A APLICAÇÃO DO ART. 1º-F DA
LEI 9.494/97 (COM REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/2009)
ÀS CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA. CASO
CONCRETO QUE É RELATIVO A CONDENAÇÃO JUDICIAL
DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA.
" TESES JURÍDICAS FIXADAS.
(...)
3. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação.
3.1 Condenações judiciais de natureza administrativa em geral.
As condenações judiciais de natureza administrativa em geral,
sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros
de mora de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os
índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com
destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
(b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à
vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora correspondentes à
taxa Selic, vedada a cumulação com qualquer outro índice; (c)
período posterior à vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora
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segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança;


correção monetária com base no IPCA-E.
3.1.1 Condenações judiciais referentes a servidores e empregados
públicos.
As condenações judiciais referentes a servidores e empregados
públicos, sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até julho/2001:
juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção
monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça
Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de
janeiro/2001; (b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5%
ao mês; correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de julho/2009:
juros de mora: remuneração oficial da caderneta de poupança;
correção monetária: IPCA-E.
3.1.2 Condenações judiciais referentes a desapropriações diretas
e indiretas.
No âmbito das condenações judiciais referentes a desapropriações
diretas e indiretas existem regras específicas, no que concerne aos
juros moratórios e compensatórios, razão pela qual não se
justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação
dada pela Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem
para remuneração do capital.
3.2 Condenações judiciais de natureza previdenciária.
As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza
previdenciária sujeitam-se à incidência do INPC, para fins de
correção monetária, no que se refere ao período posterior à
vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei
8.213/91. Quanto aos juros de mora, incidem segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança (art. 1º-F da Lei
9.494/97, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009).
3.3 Condenações judiciais de natureza tributária.
A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na
repetição de indébitos tributários devem corresponder às
utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso. Não havendo
disposição legal específica, os juros de mora são calculados à
taxa de 1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN). Observada a regra
isonômica e havendo previsão na legislação da entidade
tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua
cumulação com quaisquer outros índices.
4. Preservação da coisa julgada.
Não obstante os índices estabelecidos para atualização monetária
e compensação da mora, de acordo com a natureza da
condenação imposta à Fazenda Pública, cumpre ressalvar
eventual coisa julgada que tenha determinado a aplicação de
índices diversos, cuja constitucionalidade/legalidade há de ser
aferida no caso concreto.
" SOLUÇÃO DO CASO CONCRETO.
5. No que se refere à alegada afronta aos arts. 128, 460, 503 e 515
do CPC, verifica-se que houve apenas a indicação genérica de
afronta a tais preceitos, sem haver a demonstração clara e precisa
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do modo pelo qual tais preceitos legais foram violados. Por tal
razão, mostra-se deficiente, no ponto, a fundamentação recursal.
Aplica-se, por analogia, o disposto na Súmula 284/STF: "É
inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na
sua fundamentação não permitir a exata compreensão da
controvérsia".
6. Quanto aos demais pontos, cumpre registrar que o presente
caso refere-se a condenação judicial de natureza previdenciária.
Em relação aos juros de mora, no período anterior à vigência da
Lei 11.960/2009, o Tribunal de origem determinou a aplicação do
art. 3º do Decreto-Lei 2.322/87 (1%); após a vigência da lei
referida, impôs a aplicação do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com
redação dada pela Lei 11.960/2009). Quanto à correção
monetária, determinou a aplicação do INPC. Assim, o acórdão
recorrido está em conformidade com a orientação acima
delineada, não havendo justificativa para reforma.
7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não
provido. Acórdão sujeito ao regime previsto no art. 1.036 e
seguintes do CPC/2015, c/c o art. 256-N e seguintes do RISTJ.
(REsp 1492221/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe
20/03/2018)

No tocante aos indexadores de correção monetária e juros de mora incidentes


nas condenações judiciais de natureza previdenciária impostas à Fazenda Pública, restou
assentado na motivação do mencionado Acórdão do STJ:
“(...)
No período anterior à vigência da Lei 11.430/2006, devem ser aplicados os
índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, conforme tabela a
seguir:

Período Indexador OBS


De 1964 a fev/86 ORTN
De março/86 a jan/89 OTN Os débitos anteriores a
jan/89 deverão ser
multiplicados, neste mês,
por 6,17
Jan/89 IPC/IBGE de 42,72% Expurgo, em substituição
ao BTN
Fev/89 IPC/IBGE de 10,14% Expurgo, em substituição
ao BTN
De mar/89 a mar/90 BTN
De mar/90 a fev/91 IPC/IBGE Expurgo, em substituição
ao BTN e ao INPC de
fev/91
De mar/91 a dez/92 INPC/IBGE Art. 41, §6º, da Lei n.
8.213/91
De jan/93 a fev/94 IRSM Lei n. 8542 de 23.12.92.
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art. 9º, §2º


De 01.03.94 a 01.07.94 Conversão em URV MP n. 434/94. Lei n.
(MP n. 434/94. Lei n. 8.880 de 27.5.94 – art.
8.880 de 27.5.94 – art. 20, §5º
20, §5º), nos seguintes
percentuais:
*46,0150% em mar/94:
referente à variação da
URV de 28.02.94 e
1.4.94, conforme o art.
20, §5º da Lei n.
8.880/94;
*42,1964% em abr/94:
referente à variação da
URV de 1.4.94 e 1.5.94;
*44,1627% em mai/94:
referente à variação da
URV de 1.5.94 e 1.6.94;
*44,0846% em jun/94:
referente à variação da
URV de 1.6.94 a 1.7.94.
De 01.07.94 a 30.06.95 IPC-R Lei n. 8.880 de
27.05.1994, art. 20, §6º
De 04.07.95 a 30.04.96 INPC/IBGE Lei n. 10.741/2003, MP
n. 316/2006 e Lei n.
11.430/2006
De maio/96 a IGP-DI MP n. 1415, de 29.04.96
agosto/2006 e Lei n. 10.192, de
14.02.2001

(...)
Ressalte-se que a Lei 11.430/2006 incluiu o art. 41-A na Lei 8.213/91, cujo
caput possui a seguinte redação:

Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado,


anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo, pro
rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último
reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao
Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE.

Assim, no período posterior à vigência da Lei 11.430/2006, a correção


monetária de condenações judiciais impostas à Fazenda Pública de natureza
previdenciária deve ser calculada segundo a variação do INPC.

(...)
A tabela a seguir resume os índices aplicáveis:

Período Juros de mora Correção monetária


Até a vigência da Lei 1% ao mês. Índices previstos no
11.430/2006 Manual de Cálculos da

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Justiça Federal.

Período posterior à I% ao mês. INPC


vigência da Lei
11.430/2006 e anterior à
vigência da Lei
11.960/2009
Período posterior à Remuneração oficial da INPC
vigência da Lei caderneta de poupança
11.960/2009 (art. 1º-F redação dada
pela lei referida)

(...)”

Vale dizer, o Superior Tribunal de Justiça, ao julgar tais recursos repetitivos


definiu que a correção monetária nas condenações judiciais de natureza previdenciária
impostas à Fazenda Pública deve observar os índices previstos no Manual de Cálculos da
Justiça Federal, aplicando-se juros de 1% ao ano até a data da entrada em vigor da Lei nº
11.430/2006. Depois disso impõe-se adotar o INPC, mais juros moratórios de 1% ao ano até
à data de início de vigência da Lei nº 11.960/2009, a partir de quando incidirá a taxa de juros
de remuneração oficial da caderneta de poupança.
De ressaltar que a observância dos índices de atualização monetária nas
condenações de natureza previdenciária da Fazenda Pública definidos no julgamento do
recurso especial representativo da controvérsia (Tema 905-STJ) não conflita com o decidido
pelo Excelso Pretório no julgamento do Recurso Extraordinário nº 870.947/SE. Isso porque,
conforme anotou o insigne Ministro Relator MAURO CAMPBELL MARQUES, “naquela
ocasião, determinou-se a aplicação do IPCA-E para fins de correção monetária de benefício
de prestação continuada (BPC), o qual se trata de benefício de natureza assistencial, previsto
na Lei 8.742/93. Assim, é imperioso concluir que o INPC, previsto no art. 41-A da Lei
8.213/91, abrange apenas a correção monetária dos benefícios de natureza previdenciária”.

No caso concreto, a sentença condenou o IPERGS a pagar à parte autora o


benefício de pensão por morte tendo como marco inicial a data do óbito do ex-servidor com
quem mantinha união homoafetiva (03-11-2006).
Cuidando-se de condenação judicial de natureza previdenciária imposta à
Fazenda Pública, sobre o montante principal das parcelas devidas há de incidir atualização

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monetária pelos índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal até a data da
entrada em vigor da Lei nº 11.430/2006. Depois disso, impõe-se aplicar o INPC.
No que tange aos juros moratórios, incide a espécie a taxa de juros de
remuneração oficial da caderneta de poupança.

Dispositivo:
Do exposto, voto por dar parcial provimento a ambos os apelos e,
outrossim, modificar em parte a sentença em reexame necessário, aos efeitos de:
a) determinar a aplicação dos ditames do art. 40, § 7º, da Constituição
Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/2003, quanto à forma de
cálculo da pensão por morte concedida ao autor;

b) adotar como termo inicial de incidência dos juros de mora sobre as


parcelas devidas a data da citação;

c) condenar o IPERGS a pagar honorários advocatícios ao procurador da


parte autora, que arbitro em 12% sobre o proveito econômico (abarcando as prestações
vencidas até a data da prolação da sentença, mais 12 parcelas vincendas), conforme antes
explicitado; e

d) redefinir os consectários legais que hão de incidir sobre o principal da


condenação, nos termos da fundamentação supra.

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH - Presidente - Apelação Remessa Necessária nº


70078312535, Comarca de Porto Alegre: "À UNANIMIDADE, DERAM PARCIAL
PROVIMENTO A AMBOS OS APELOS E, OUTROSSIM, MODIFICARAM EM PARTE
A SENTENÇA EM REEXAME NECESSÁRIO."

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Julgador(a) de 1º Grau: VERA REGINA CORNELIUS DA ROCHA MORAES

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