Didatica Do Ensino Superior
Didatica Do Ensino Superior
Didatica Do Ensino Superior
Aluno(a): _________________________________________________________________
Sumário
1. Programa da disciplina ........................................................................................................... 4
1.1 Ementa ................................................................................................................................. 4
1.2 Carga horária total ............................................................................................................... 4
1.3 Objetivos .............................................................................................................................. 4
1.4 Conteúdo programático ....................................................................................................... 4
1.5 Metodologia ......................................................................................................................... 4
1.6 Critérios de avaliação ........................................................................................................... 5
1.7 Bibliografia recomendada .................................................................................................... 5
2 Conhecimento Sobre a Finalidade da Universidade seus Problemas e Perspectivas ............ 8
2.1 A Universidade – criação e produção de conhecimentos ................................................... 8
2.1.1 A universidade que não queremos ................................................................................... 8
2.1.2 A universidade que queremos .......................................................................................... 9
2.2 Referencial do MEC ............................................................................................................ 11
3 Competência pedagógica do professor universitário ........................................................... 12
3.1 Técnicas para o desenvolvimento da aprendizagem em aula ........................................... 12
3.2 Técnicas usadas em ambientes presenciais e universitários ............................................. 14
3.3 Técnicas que poderão ser usadas em ambientes de aprendizagem profissional ............. 31
3.4 Técnicas e seu uso para incentivar a aprendizagem ......................................................... 34
4 A docência superior e a interdisciplinaridade...................................................................... 39
4.1 A Intencionalidade do trabalho docente ........................................................................... 39
4.2 O valor pedagógico da relação professor-aluno ................................................................ 40
4.3 Pedagogia da autonomia saberes necessários à prática educativa .................................. 41
4.4 Competências para ensinar ............................................................................................... 42
4.5 Didática .............................................................................................................................. 44
4.6 A interdisciplinaridade ....................................................................................................... 45
4.6.1 Como a escola pode tornar-se interdisciplinar ............................................................... 46
5 O planejamento e a organização da prática docente ........................................................... 47
5.1 A aula na universidade ....................................................................................................... 47
5.2 Planejamento de ensino .................................................................................................... 50
5.3 Estratégias de ensino aprendizagem ................................................................................. 52
5.3.1 Algumas dicas de técnicas a serem exploradas .............................................................. 54
5.3.2 Por que técnicas de dinâmicas de grupo? ...................................................................... 55
5.3.3 Lista de atividades de ensino .......................................................................................... 56
5.4 Avaliação do ensino ........................................................................................................... 57
5.4.1. O que é medir e avaliar .................................................................................................. 57
5.4.2. Modalidade de avaliação ............................................................................................... 58
5.5 Orientações práticas para elaboração do plano de ensino e de aula ............................... 59
5.5.1 Planejamento de ensino ................................................................................................. 59
5.5.2 Como elaborar um plano de ensino ............................................................................... 61
5.5.3 Modelo de plano de ensino ............................................................................................ 63
Didática do Ensino Superior
3
5.6 Reflexão............................................................................................................................. 65
6 Avaliação do ensino .............................................................................................................. 66
6.1 O que é medir e avaliar ...................................................................................................... 66
6.2. Modalidade de avaliação .................................................................................................. 67
6.3 A aprendizagem de conceitos e princípios ........................................................................ 70
6.3.1 Conteúdos conceituais .................................................................................................... 70
6.3.2 Os conteúdos procedimentais ........................................................................................ 70
6.3.3 Conteúdos atitudinais .................................................................................................... 70
1. PROGRAMA DA DISCIPLINA
1.1 Ementa
O processo educativo na Universidade. Implicações conceituais do trabalho universitário:
intencionalidade / especificidade do ato pedagógico. Teoria e prática interdisciplinar no
Ensino Superior. Produção de conhecimento. Planejamento: fundamentos e etapas.
Componentes básicos de um Plano de Ensino. Organização de Planos de Ensino. A aula
como momento de ensino e aprendizagem.
1.3 Objetivos
Geral: Compreender as funções institucionais da Universidade a partir da análise sobre a
produção e transmissão do conhecimento científico realizado nas práticas docentes do
ensino supeiror.
Específicos:
Analisar as funções de ensino, pesquisa e extensão na universidade.
Refletir sobre a importância da Didática do Ensino Superior para o desenvolvimento
da prática docente.
Discutir os fundamentos teóricos-metodológicos do trabalho pedagógico na
universidade.
Despertar para o saber interdisciplinar na tentativa de superar a fragmentação do
conhecimento científico.
Identificar as novas tecnologias como recursos do ensino aprendizagem
Aplicar situações pedagógicas que possibilitem a reflexão sobre situações concretas
do exercício docente.
Conhecer os principais aspectos relacionados ao planejamento didático.
1.5 Metodologia
A disciplina será desenvolvida através de aulas expositivas e dialogada; leitura, estudo,
reflexão e debates.
MERCADO, Luiz Paulo Leopoldo: Formação continuada de professores e novas tecnologias, Maceió,
EDUFAL, 1999.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoltte et.: Aprendizagem da docência: processos de investigação e
formação, São Carlos,EdUFSCar, 2002.
MORAES, V. R. P.: Melhoria do ensino e capacitação docente, Porto Alegre, Editora da Universidade,
1996.
MORRISA, W.: O ensino superior: teoria e prática, Rio de Janeiro, Zahar, 1972.
NÓVOA, Antônio (coord.): Os professores e sua formação, 2.ª ed., Lisboa, Nova Enciclopédia, 1994.
OLIVEIRA, M. R. N. S. (orgs): Confluências e divergências entre didática e currículo, Campinas,
Papirus, 1998, 176 pp.
OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales (org). Didática; ruptura, compromisso e pesquisa.
Campinas-SP, Papirus, 1993, p. 79-96)
PERRENNOUD, Philippe: Dez competências para ensinar, Porto Alegre, Artmédicas, 2002.
PIMENTA, S. G.: A didática como mediação na construção da identidade do professor: uma
experiência de ensino e pesquisa na licenciatura, in PIMENTA, S. G.: O estágio na formação de
professores: unidade teoria e prática, São Paulo: Cortez, 1995, pp. 37-69.
PIMENTA, Selma G. (org) Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2002
REVISTA EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: Revista de Ciência da Educação. CEDES, v. 25 nº 88-
Especial, Campinas-SP,out/2004.
SACRISTAN, Gimeno J. Compreender e Transformar o Ensino. 4ª ed. Porto Alegre, ARTMED,
2000.
SANTANNA, Ilza Martins; MENEGOLLA, Maximiliano.Didática: Aprender a ensinar. São
Paulo:Loyola, 2000
SANTANNA, I. M.: Didática: aprender a ensinar, São Paulo, Loyola, 1989.
SANTANNA, Ilza Martins. Por que Avaliar? Como Avaliar?: critérios e instrumentos. 2º ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1995
SAVIANI, D.: Tendências e correntes da educação brasileira, in MENDES, D. T.: Filosofia da educação
brasileira, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983, pp. 19-47.
SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas-SP,
Autores Associados, 1997.
___________Escola e democracia, São Paulo, Cortez, 1984.
SEVERINO, A. J.: Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito. São Paulo, Vozes, 1996.
TUGENDHAT, E.: Lições sobre Ética, Petrópolis, Vozes, 1996.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação. 8ª ed. Cadernos Pedagógicos, São Paulo: Libertad,
1998
VASCONCELOS, Celso dos S.: Construção da disciplina consciente e interativa na sala de aula e na
escola, 3a ed., Libertad, 1994.
__________________________Avaliação: Concepção dialética libertadora do processo de avaliação
escolar, Cadernos Pedagógicos de Libertad, vol. 3, São Paulo, Libertad, 1995.
__________________________Planejamento: Plano de ensino aprendizagem e projeto educativo,
São Paulo, Libertad, 1994.
nos quer dizer que a universidade é, por excelência, razão concretizada, inteligência institucionalizada.,
daí ser, por natureza, crítica, porque a razão é emminentemente crítica. Se entendemos a função
específica da universidade como desenvolvimento da dimensão de racionalidade, poderemos
visualizar o processar-se dessa mesma racionalidade em dois momentos complementares: promeiro, a
racionalidade instrumental-crítica, porque tem a universidade a responsabilidade de formar os
quadros superiores exigidos pelo desenvolvimento do país; segundo, a racionalidade crítico-criadora,
porque sua missao não se esgota na mera transmissão do que já está sabido, ela deve fazer avançar o
saber. Criadora e crítica, porque além de tomar consciência continuamente do que faz, deve se colocar
num processo permanente de revisão de suas próprias categorias, porque isso marca a historicidade
crítica de uma instituição humana; criadora e crítica, porque específico da universidade é o esforço de
ser e desenvolver nos seus membros a dimensão de uma consciência crítica, ou seja, aquele potencial
humano racional constantemente ativo na leitura dos acontecimentos da realidade, para ver, para
analisar, comparar, julgar, discernir e, finalmente, propor perspectivas racionais de ação, em acordo
sempre com as exigências do homem que aspira a ser mais, dentro do processo histórico. Para ser
consciência crítica, portanto, a universidade deve estar continuamente em interaao com a sociedade, a
realidade que a gera e sustenta.
Como essas pretensões, queremos construir uma universidade plantada numa realidade concreta, na
qual terá suas raízes, para que possa criticamente iidentificar e estudar seus reais e significativos
problemas e desafios.
Queremos uma universidade onde se torne possível e habitual trabalhar, refletir a nossa realidade
histórico-geográfico nos seus níveis social, político, econômico e cultural, desde a esfera mais próxima,
o município, a micro-região, o Estado, a região, o país, até as esferas mais remotas, o continente
lainoamericano, o terceiro mundo, o planeta; está atentos para os desafios dessa nossa realidade e
estudá-los é a grande tarefa do corpo universitário.
Queremos, enfim, uma universidade ¨consciência crítica da sociedade¨, ou seja, um corpo responsável
por indagar, questionar, investigar, debater, discernir, propor caminhos de soluções, avaliar, na medida
em que exercita as funções de criação, conservação e transmissão da cultura. A universidade,
entretanto, so poderá desempenhar tais funções quando for capaz de formar especialistas para os
quadros dirigentes da própria universidade, do municipio, do Estado, da nação, com aguda consciência
de nossa realidade social, política, econômica e cultural e equipada com adequado instrumental
científico e técnico que, permitindo ampliar o poder do homem sobre a natureza ponha a serviço da
realização de cada pessoa, as conquistas do saber humano. Propondo-se a formar cientistas,
profissionais do saber, a universidade ajuda a sociedade na busca de encontrar os instrumentos
intelectuais que dando ao homem consciência de suas necessidades, lhe possibilitam escolher meios
de superação das estruturas que o oprimem. Podíamos sintetizar as funções da universidade no
esforço para imprimir eficácia na ação transformadora do homem sobre si mesmo e sobre as
instituições que historicamente criou.
Queremos produzir conhecimento a partir de uma realidade vivida e não de critérios estereotipados e
pré-definidos por situações culturais distantes e alheias as que temos aqui e agora. Nesse contexto a
validez de qualquer conhecimento será mensurada na proporção em que este possa, ou não, fazer
entender melhor e mais profundamente a realidade concreta.
Queremos uma universidade em contínuo fazer-se. Não imaginamos um modelo definitivo de
uiversidade, mas pretendemos achar, inventar,conquistar nosso modelo, na medida em que a
estivermos construindo. Nesses termos, queremos criar um interrelacionamento professor-aluno,
fundamentado no princípio do incentivo a criatividade, a crítica, ao debate, ao estudo e, com isso,
marcando a corresponsabilidade na condução do próprio processo. Trata-se, portanto, de criar uma
relação entre dois sujeitos empenhados em edificar a reflexão crítica: de um ladoo professor, sujeito
de criação, coordenação, proposição de estudos, questionamentos e debates; de outro, o aluno,
sujeito – nunca objeto – de seu aprendizado, exercitando e desenvolvendo seu potencial crítico,
através de um esforço inteligente de assimilação, de criação, de questionamento.
Para que um tal clima se faça, é obviamente necessário que o professor esteja sempre bem iinformado
da realidade como um todo, e de sua área de especialização em particular, através do estudo e
pesquisa, a fim de que possa proporcionar a seus alunos temas de reflexão concretos, problemas e
fontes de estudos, proposiçoes criativas e originais, decorrentes de incessante observação crítica da
realidade. Ocasionando o desenvolvimento do potencial de reflexão crítica dos alunos, o professor se
torna um motivador do saber. Dessa forma não se trata mais de uma universidade em que uns sabem
e muitos não sabem , mas em que muitos sabem algo e querem saber muito mais. Enfim, uma
universidade onde, além de se consumir conhecimento, professores e aluno optaram por criá-lo e
produzí-lo. É nesse sentido que o CELAM se expressa.
O educando é o primeiro agente do processo educativo, é ele quem se educa a si mesmo: ao educador
compete apenas estimular e ordenar inteligentemente esse processo, de maneira que não seja
anulada a espontaneidade e criatiividade do educando; pelo contrário, deve chegar a expressar em
forma autenticamente pessoal o seu conteúdo.
Enfim, cabe ao professor-educador descobrir, efetivamente, como ser sujeito em diálogo com a
realidade, com o aluno; ao aluno, fazer-se sujeito em diálogo com o professor, com os demais
companheiros, com a realidade social, política, econômica e cultural, para que nessa busca de
interação seja construída a universidade, que jamais poderá existir sem professor e aluno voltados
para a criação e construção do saber engajado, por isso transformador.
Queremos uma universidade democrática e voltada inteiramente para as lutas democráticas. O corpo
universitário, professor-aluno e administração, necessita de espaço para assumir, cada um a seu nível,
a responsabilidade pelo todo. É nesses termos que pretendemos um corpo universitário que lute para
eleger os seus diretores a partir de critérios que correspondam aos objetivos da Universidade. Um
corpo universitário não mais deve presenciar passivamente a nomeação de dirigentes universitários
estribada em critérios antidemocráticos de simpatia, serviçalismo e subserviência ao poder dominante,
político ou econômico.
Queremos, enfim, uma universidade onde possamos lutar para conquistar espaços de liberdade.
Enquanto pensamos livremente, questionamos livremente, propomos livremente e livremente
avaliamos a nossa responsailidade.
Mais abrangente que técnicas me parece o termo “estratégia” para iniciar os meios que o professor
utiliza em aula para facilitar a aprendizagem dos alunos. Procurando conceituar de maneira mais
formal, podemos dizer que as estratégias para a aprendizagem constituem-se numa arte de decidir
sobre um conjunto de disposições, que favoreçam o alcance dos objetivos educacionais pelo
aprendiz, desde a organização do espaço sala de aula com suas carteiras até a preparação do
material a ser usado, por exemplo, recursos audiovisuais, visitas técnicas, internet etc., ou uso de
dinâmicas de grupo, ou outras atividades individuais.
Essencial no conceito de técnicas ou estratégias é sua característica de instrumentalidade. Todas as
técnicas são instrumentos e como tais necessariamente precisam estar adequadas a um objetivo e
ser eficiente para ajudar na consecução deste.
Três conseqüências decorrem imediatamente dessa afirmação:
1. Como no processo de aprendizagem trabalhamos com vários objetos (de conhecimento, de
habilidades e competências, afetivo-emocionais e de atitudes ou valores), é lógico que
tenhamos de usar múltiplas técnicas. Ou, em outras palavras, não é possível querermos
ajudar os alunos a conseguirem tantos objetivos usando apenas uma ou duas técnicas. Há
necessidade do conhecimento das diferentes técnicas que sejam mais adaptadas a este ou
aquele objetivo.
2. A segunda conseqüência é a seguinte: cada grupo de alunos ou cada turma ou cada classe é
diferente um do outro. Para o mesmo objetivo, determinada técnica pode ajudar um grupo
e não servir para outro pelas mais diferentes razões, por exemplo, devido ao turno em que
acontece a aula (manhã, tarde ou noite), à composição do grupo, à energia pessoal do
próprio professor, ao estado físico ou motivacional do aluno, ao clima estabelecido na
classe, a incidentes críticos acontecidos com determinado grupo, a fatos supervenientes, e
assim por diante. Isso nos alerta para as necessidades de conhecermos e dominarmos várias
técnicas que possam ser utilizadas tendo em vista o mesmo objetivo.
3. Há necessidade de variar as técnicas no decorrer de um curso, o que se faz oportuno, pois
elas são um forte elemento de atuação sobre a motivação dos alunos, assim como a
necessidade de se propor claramente os objetivos a serem alcançados. É o que se pede aos
alunos no decorrer das aulas: eles se sentirão mais ou menos envolvidos; mais ou menos
responsáveis; mais ou menos participantes; mais ou menos capazes para aprender. De nossa
própria experiência como alunos, podemos lembrar de professores que eram excelentes
especialistas em seus conteúdos e também capazes de estabelecer um clima de
descontração em sala de aula, de diálogo com os alunos, dois fatores altamente favoráveis
para uma aprendizagem significativa; entretanto, talvez desinformados, talvez de fato não
dando valor às estratégias, repetiam uma única maneira de dar aula, do começo ao fim do
ano. Depois de dois ou três meses a produção da classe decaía, não sendo o desafio
unicamente intelectual suficiente para manter os alunos em estado de alerta; é como se a
classe começasse a se sentir “cansada” daquelas aulas, embora reconhecendo sua validade e
bom nível do conteúdo fornecido.
A variação das técnicas permite que se atenda a diferenças individuais existentes no grupo de alunos
da turma: enquanto uns aprendem mais ouvindo, outros aprendem mais debatendo, dialogando,
outros ainda realizando atividades individuais ou coletivas durante o tempo de aula. Uma única
maneira de dar aulas favorecerá sempre os mesmos e prejudicará sempre os mesmos.
A variação de técnicas favorece o desenvolvimento de diversas facetas dos alunos: por exemplo, se
um curso todo é dado sob forma de aulas expositivas, não estará desenvolvendo a habilidade de
trabalhar em grupo, de se expressar, de resolver problemas, apesar de estar desenvolvendo a
capacidade de ouvir e receber informações.
Também para o professor, a variação na maneira de dar as aulas traz vantagens: também para ele o
curso se torna dinâmico, desafiador, na medida em que exige renovação, informação sobre
estratégias, flexibilidade, criatividade ao dar as aulas.
Didática do Ensino Superior
14
A instrumentalidade das técnicas traz consigo uma decorrência: a relatividade da técnica. Este
também é um ponto muito importante para nossa reflexão: se alguns docentes e instituições do
ensino superior desqualificam qualquer importância ou relevância para o uso da tecnologia em seus
cursos, outros usam dessa tecnologia como chamariz para seus vestibulares, querendo com isto
indicar a modernidade ou atualização na formação de seus profissionais. Só tecnologia moderna não
resolve nossos problemas educacionais de aprendizagem e formação. Ela é um instrumento.
Portanto, se não revirmos nossa posição quanto aos grandes princípios educacionais, e não
proporcionarmos formação continuada e em serviço para os professores, bem como condições
adequadas de trabalho, de nada adiantará dispormos de alguma tecnologia.
Tecnologia educacional em educação é muito importante desde que venha como instrumento
colaborativo das atividades de aprendizagem.
O que se espera do professor com relação às técnicas? Vale à pena a reflexão, pois muitas pessoas
podem vê-lo apenas como um aplicador de técnicas.
O professor para nós é um educador e como tal tem clareza dos objetivos educacionais que se
pretende com seus alunos. É também o profissional da aprendizagem enquanto se responsabiliza
pela gestão das situações da aprendizagem. Assim sendo, no campo das técnicas, espera-se dele
atitudes básicas:
1. Que o professor tenha conhecimento de várias técnicas ou estratégias, bem como o domínio
do uso destas para poder utilizá-las em aulas;
2. Que o professor desenvolva capacidade de adaptação das diversas técnicas, modificando-as
naquilo que for necessário para que possam ser usadas com aproveitamento pelos alunos
individualmente ou em grupos;
3. Que o professor, pelo conhecimento e domínio prático de muitas técnicas e por sua
capacidade de adaptação das técnicas existentes, se torne capaz de criar novas técnicas que
melhor respondam às necessidades de seus alunos. Afinal, técnicas são instrumentos e
como tais podem ser criadas por aqueles que vão usá-las.
Com isso queremos dizer que se espera do professor uma atitude muito ativa e de intervenção
dinâmica no campo das estratégias.
Mas, afinal, com que estratégias podemos contar?
Para análise e discussão, vamos organizá-las em três grupos: técnicas que são usadas em ambientes
presenciais e universitários; técnicas usadas em ambientes reais de profissionalização; técnicas
presentes em ambientes virtuais.
Brainstorming
São objetivos dessas técnicas:
Colaborar para que membros de um grupo que vão trabalhar juntos durante certo tempo se
conheçam em um clima descontraído;
Preparar uma classe que no início se mostra apática para um relacionamento mais vivo e,
portanto, mais favorável à aprendizagem da disciplina;
Expressar expectativas ou problemas que afetam o clima do grupo e o desempenho de seus
membros, os quais professor e/ou alunos não percebam claramente ou tenham dificuldade
de expressar de modo direto, verbalmente;
Produzir grande número de idéias em prazo curto; desenvolver a originalidade e a
desinibição;
Quebrar percepções aprioristicamente preconceituosas entre os membros da classe.
1. Apresentação simples
Cada membro do grupo, oralmente, se apresenta, dizendo alguma coisa de si mesmo nos vários
aspectos de sua vida, inclusive suas preferências em momentos de lazer e em outros momentos de
sua vida social. A apresentação pode ser entremeada com perguntas feitas pelos participantes.
Essa estratégia é mais aconselhável para grupos pequenos (20-25 pessoas). Além desse número, ela
se torna cansativa. Por isso, outra técnica deverá ser escolhida.
2. Apresentação cruzada em duplas
Trata-se de uma variante da técnica anterior. Os participantes se reúnem em duplas durante seis
minutos e deverão, nesse período, se apresentar um ao outro nos mesmos moldes descritos na
apresentação simples. Cada um tem três minutos para fazer sua apresentação ao colega. Cada
elemento da dupla deverá dar toda atenção ao colega, pois, no memento seguinte, deverá
apresentá-lo ao grupo. A apresentação cruzada costuma ser bastante informal, criando
freqüentemente momentos jocosos e hilariantes, e de grande aproximação entre o grupo. Este é, de
fato, o objetivo da técnica.
Como a anterior, essa técnica é mais aconselhável para grupos de 25 ou, no máximo, 30 pessoas.
Além desse número, precisamos escolher outra técnica.
3. Complementação de frases
Por vezes, encontramos uma turma muito inibida, com pouca disposição de se comunicar
oralmente. Nessa condição, uma técnica que pode ajudar o desbloqueio é a complementação de
frases. Em que consiste? O professor prepara um cartão para cada aluno, no qual escreve um início
de frase, que será complementado pelo aluno, livremente. Em seguida, recolhem-se os cartões e se
redistribuem aleatoriamente, de forma que cada aluno, agora, tem uma frase completa, que não foi
escrita por ele, e ninguém sabe por quem o foi, e é convidado a ler a frase em público para todos os
colegas. A inibição diminui, pois aquela leitura praticamente não compromete o leitor; e com base
nela o professor pode fazer outras questões ou outros alunos podem querer ler frases semelhantes.
O desbloqueio se inicia.
Exemplos de frases: Vim para este curso...; Esta disciplina serve para...; Nesta disciplina espero
aprender...; Meus colegas dizem que esta disciplina...; Em meus momentos de lazer...; Socialmente
eu...; Com relação à minha profissão... etc.
É uma técnica que pode ser usada com pequenos e grandes grupos, dando a oportunidade de todos
se manifestarem, ouvirem uma grande parte de depoimentos e conhecerem o grupo de modo geral,
sobretudo se o professor recolher os cartões e examiná-los posteriormente.
4. Desenhos em grupos
Essa é uma técnica que poderá ser usada com grandes grupos, desde que tenhamos espaço físico
suficiente. Divide-se a turma em grupos de cinco a sete pessoas no máximo. Dá-se um tema a
respeito do qual se pede para os grupos debaterem durante 15 minutos, procurando chegar à
diversas idéias comuns. Após esse tempo, pede-se que cada grupo procure uma forma de comunicar
a toda a turma as idéias a que chegaram seus integrantes, sem usar a palavra oral ou escrita. Ou
seja, procurem comunicar-se mediante outros recursos, por exemplo: o desenho, a representação
estática ou dinâmica, gestos etc. O professor terá levado para sala de aula folhas de papel-jornal ou
cartolinas, com pincéis atômicos para os desenhos, ou outro material que julgar conveniente, como
revistas, fotos etc. para se fazer uma colagem. Dá-se um tempo de mais 15 minutos para a realização
dessa atividade.
Certamente haverá muita reclamação por parte dos alunos que não estão acostumados a esse tipo
de comunicação, alguns dirão não saber fazer a atividade, outros vão afirmar que “isso é coisa de
escola fundamental” etc. Ao que responderemos que desejamos apenas desenvolver outros tipos de
comunicação que, em geral, estão embotados em nós; que procurem ajuda entre os colegas de
outros grupos (não esqueçamos que nosso objetivo é a interação grupal) etc.
Encerrado o tempo estipulado, cada grupo é chamado para fazer sua apresentação ou expor seu
desenho. Inicialmente, sem manifestação do grupo que está expondo, pergunta-se à classe quais
idéias estão sendo comunicadas. Após cerca de dois minutos, dá-se a palavra ao grupo para se
explicar. O diálogo aproxima muito os grupos e a turma de diversas formas, e ao professor oferece
oportunidade de conhecer o que seus alunos pensam a respeito do assunto sobre o qual se
dialogou.
A técnica permite que os alunos do pequeno grupo se entrosem e interajam com a classe como um
todo de uma forma, em geral, descontraída. É muito importante que o encaminhamento dessa
atividade dado pelo professor esteja explicitamente relacionado com objetivos de aprendizagem
esperados, para que os alunos não entendam a atividade apenas como uma “brincadeira”
inconseqüente durante a aula.
5. Deslocamento Físico
Nem sempre damos conta de que o tempo que os alunos permanecem sentados, levando em
consideração o desconforto das cadeiras, traz grande probabilidade de desatenção e apatia durante
as aulas. Donde a necessidade de provocarmos deslocamentos físicos dos alunos e/ou do professor.
Por exemplo, logo no início da aula solicitar colaboração para arrumar as carteiras em forma de
semicírculo, o que favorece muito mais a participação dos alunos nas aulas; se o professor for dar
uma aula expositiva, abrir espaço entre as carteiras para que possa transitar livremente entre os
alunos, até o final da sala, e fazer esse deslocamento aproximando-se dos mais variados alunos e
ocupando os espaços da sala de aula diversas vezes durante a exposição; programar atividade de
grupo que obrigue os alunos a mudarem de local na sala; lembrar que várias dinâmicas de grupo
permitem deslocamentos maiores durante o tempo de aula. Isso poderá ser mais bem percebido
adiante quando tratarmos das dinâmicas de grupo.
6. Brainstorming
Incluímos nessa categoria a técnica brainstorming (tempestade cerebral) porque, freqüentemente,
ela permite um desbloqueio, um aquecimento da classe, embora seu principal objetivo seja levar a
um desenvolvimento da criatividade, bem como à produção de grande número de idéias em curto
prazo de tempo.
Seu funcionamento, em geral, é o seguinte: orienta-se a classe para a atividade que vai acontecer,
pedindo aos alunos que, ao ser apresentado o tema ou uma palavra, procurem verbalizar
imediatamente, sem preocupação com o certo ou errado, com plena liberdade, sem censura, as
associações que lhes vierem à mente. Evitar que se tenha tempo para pensar ou fazer longos
raciocínios. Nessa técnica é importante a manifestação espontânea.
Combinado o procedimento, o professor apresenta um tema ou uma palavra que seja provocador(a)
e instigante, escrevendo-a na lousa. Imediatamente se iniciam as verbalizações que o professor vai
registrando na lousa, ao redor da palavra ou do tema escrito, sem se preocupar com nenhuma
ordem ou organização, e sem fazer nenhum comentário a favor ou contra, evitando inclusive que
suas reações às verbalizações sejam percebidas, justamente para incentivar as manifestações sem
censura e total liberdade de associação.
Decorrido cerca de dois a três minutos (ou seja, um tempo não muito extenso), o professor encerra
as manifestações e, então, juntamente com o grupo, começa a organizar as manifestações
solicitando agora a participação para, por exemplo, se identificar tudo que seja possível acerca do
que está registrado na lousa, que idéias são mais próximas do tema ou do conceito que a palavra
escrita contém; ou agrupar as idéias por alguma semelhança; ou eliminar as que não possam ser
colocadas em prática (o critério depende do tema proposto para a atividade). E num processo
contínuo, de preferência com os alunos, o professor vai construindo o conceito ou o tema utilizando
as colaborações apresentadas. Poderão surgir idéias que nada tenham a ver com o tema ou a
palavra proposta. Será interessante deixá-las por último para que os próprios alunos cheguem a essa
conclusão. Se não perceberem, o professor poderá mostrar porque não se incluem essas sugestões
no trabalho realizado.
Certa vez, em um curso de formação de professores, quando o tema foi “Avaliação”, tema em geral
carregado de ansiedades e experiências negativas, o brainstorming foi muito importante para se
expor às defesas, os sentimentos negativos com relação ao tema, os aspectos pejorativos. Enfim, o
aspecto emocional apareceu aí e pôde ser trabalhado, permitindo que em seguida se entrasse para a
discussão do tema com mais tranqüilidade, buscando e discutindo novas informações, novas
experiências e com maior abertura para aprender.
De que técnicas dispomos para dar sustentação a uma disciplina durante um semestre ou um ano?
Tratando-se de ambientes presenciais em que a disciplina será ministrada, precisamos distinguir
técnicas que poderão ser usadas em ambientes “universitários”, ou seja, técnicas que poderão ser
usadas em salas de aula, laboratórios, biblioteca, congressos, e assim por diante, das técnicas que
poderão ser utilizadas em ambientes “profissionais”, isto é, quando a aprendizagem se efetiva em
ambientes próprios da atividade profissional para a qual o aluno está se preparando: estágios, visitas
técnicas, excursões, prática clínica ou profissional em clínicas, escolas, empresas, escritórios,
ambulatórios, postos de saúde, hospitais, fóruns, institutos de pesquisa.
Não podemos nos esquecer de que hoje dispomos de outro ambiente de aprendizagem, próprio da
era tecnológica que estamos vivendo: o ambiente virtual de aprendizagem. Para esse ambiente
também dispomos de técnicas específicas que precisamos comentar.
Vamos começar com técnicas que, em geral, são usadas em ambientes presenciais.
1. Aula expositiva
Trata-se de uma técnica que a maioria absoluta dos professores do ensino superior usa
freqüentemente. Como toda e qualquer técnica, sua escolha deverá se orientar pelos critérios
básicos de seleção: adequação ao objetivo de aprendizagem pretendido e eficiência para colaborar
na consecução deste.
Em geral, os professores a usam para transmitir e explicar informações aos alunos. Estes têm uma
atitude de ouvir, anotar, por vezes perguntar, mas, em geral, de absorvê-las para reproduzir
futuramente. Essa atitude do aluno, em geral, o coloca em uma situação passiva de receber e em
condição que em muito favorece a apatia, a desatenção e o desinteresse pelo assunto.
Por tais razões, vale a pena recordar que a aula expositiva pode responder a três objetivos: abrir um
tema de estudo; fazer uma síntese após o estudo do assunto procurando reunir os pontos mais
significativos e estabelecer comunicações que tragam atualidade ao tema ou explicações
necessárias.
Abrir um tema de estudo: por vezes é importante que, ao se iniciar um tema, o professor apresente
um cenário bem amplo em que se coloca a importância, a atualidade do estudo a ser feito, bem
como suas relações com outros assuntos, matérias do curso, com o exercício profissional. Essa
preleção pode servir para motivar os alunos ao estudo do tema, dar vida a um conteúdo que pode
parecer frio e desinteressante e orientar a realização do estudo propriamente dito do tema, para o
que se utilizará de outras técnicas, por exemplo: atividades de grupo ou individuais, de pesquisa ou
de leituras, etc.
Fazer uma síntese do assunto estudado. Quando um estudo é realizado por diversos grupos, ou é
resultado de contato com especialistas, ou apresenta vários aspectos que precisam ser
considerados, mais que de alguma forma se perderam durante uma discussão ou um debate, ou não
ficaram suficientemente claros, é interessante uma aula expositiva para recuperar esses aspectos de
uma forma sintética. Mas observe: não se trata de repetir todas as informações estudadas, mas de
fazer uma síntese conclusiva sobre o tema. Isso demandará um tempo de mais ou menos 20
minutos. Será interessante porque os alunos já dominam o assunto, bem como possibilitará ver a
síntese feita pelo professor.
Estabelecer comunicações que tragam atualidade ao tema ou explicações necessárias. O professor
pode expor recentes descobertas, ou novas teorias, atualizando o conhecimento existente nos
livros-texto ou em publicações acessíveis ao aluno. Pela preleção, o professor pode transmitir ao
aluno explicações sobre os pontos difíceis, ressaltar aqueles mais importantes e sintetizar
informações de difícil acesso aos alunos, ou colhidas em fontes diversas, tais como pesquisas,
jornais, revistas etc.
Por que descartei dos objetivos da aula expositiva a transmissão cotidiana e contínua de
informações ao aluno? Por uma razão: as informações básicas e fundamentais para a aprendizagem
do aluno, em geral, encontram-se em fontes acessíveis a ele: livros-texto, livros e revistas em
bibliotecas. Se o aluno for incentivado a buscar as informações, ele conhecerá a biblioteca,
aprenderá a fazer uso dela, a buscar informações, o que lhe será útil para o resto de sua vida;
aprenderá a ler e compreender o que os autores escrevem e resolver as dúvidas; ou mesmo
aprenderá a ler livros de sua área; desenvolverá mais o raciocínio e a capacidade de pensar e trazer
sua contribuição. Aprenderá a ser mais ativo em seu processo de aprendizagem e a valorizar mais o
encontro com o professor e seus colegas, uma vez que tais encontros se tornarão essenciais para a
compreensão total do assunto. Para incentivar o aluno a buscar informações, há que se trabalhar de
forma diferente com a leitura fora de aula e o uso de técnicas dinâmicas em aula, como veremos
adiante.
No entanto, quando o professor for usar a aula expositiva como técnica, é preciso que se lembre de
algumas medidas indispensáveis para prepará-la e ministrá-la.
Na preparação da aula expositiva.
Ter claro o objetivo da aula, conforme explicamos acima;
Planejar a seqüência em que fará a explanação, para garantir que haja clareza e seqüência
nas idéias, sem cair em digressões;
Considerar que há limite de tempo, para não cansar os alunos e favorecer a divagação;
Considerar a classe para quem vai se dirigir, escolhendo linguagem, exemplos etc., de acordo
com os alunos;
Preparar uma notícia de jornal ou revista atual que poderá usar em determinado momento
para chamar a atenção dos alunos; um exemplo ou caso bem adaptado ao que expõe;
perguntas para formular aos alunos durante a explanação a fim de ativar a participação ou
atenção dos alunos; preparar uma piada, ou um caso hilariante para alegrar e minimizar a
tensão durante a fala;
Se for usar slides ou transparências, prepará-los apenas com imagens, tabelas, gráficos ou
itens indicativos e nunca com textos longos para serem lidos durante o tempo todo. Quanto
a slides, calcular muito bem o número a ser usado: poucos, bem escolhidos, que ajudem na
explicação ou permitam o debate e a discussão. Nunca usar um número excessivo que
praticamente substitua a aula expositiva;
Preparar com antecedência os materiais e recursos necessários para a aula e verificar se, no
espaço físico onde a aula será dada, há condições para o uso dos recursos. Nada mais
frustrante para o professor e para o aluno do que chegar a uma sala com tudo preparado
para a aula e o recinto não se mostrar apropriado, até por vezes pela própria iluminação
natural que impede o uso de recursos audiovisuais.
Ao se dar aula expositiva propriamente dita, observar alguns pontos:
Deixar bastante claro para os alunos qual é o objetivo daquela aula;
Procurar ganhar a atenção dos alunos de início, mediante a apresentação de um problema,
de uma pergunta ou de um desafio;
Considerar o ritmo da classe para tomar notas, refletir sobre o que está ouvindo, fazer
perguntas, apresentar os pontos difíceis mais devagar, ou repetindo o mesmo conceito ou
idéia sob diferentes formas, e, por vezes, permitir pausas rápidas para uma comunicação
entre os próprios alunos;
Dirigir-se pessoalmente aos alunos, pedindo deles um feedback sobre a clareza do que está
expondo, olhando-os nos olhos um a um, e para isso locomover- se pela sala, comunicar- se
com os alunos;
Utilizar-se livremente de recursos auxiliares à palavra para se fazer entender ou para manter
o interesse e a atenção dos alunos; mantendo-os, porém, na categoria de “recursos” e não
de elementos principais;
Evitar considerar as distrações dos alunos afronta pessoal ou desrespeito; em vez disso,
utilizar esses indícios para re orientar sua própria exposição: é o momento de uma pergunta
à classe, ou de se comentar uma notícia de jornal, ou mesmo, de contar uma piada, ou de
abrir uma janela para conseguir mais ventilação. Afinal, a aula expositiva exige do aluno uma
posição passiva, nem sempre fácil de se manter.
2. Debate com a classe toda
O objetivo principal dessa técnica é permitir ao aluno expressar-se em público, apresentando suas
idéias, suas reflexões, suas experiências e vivências, ouvir os outros, dialogar, respeitar opiniões
diferentes da sua, argumentar e defender suas próprias posições. Permitir ao aluno valorizar o
trabalho de grupo, percebendo como a discussão entre todos e as experiências de todos são mais
ricas do que as de uma só pessoa.
Há alguns pressupostos básicos para o funcionamento dessa técnica:
o professor deve dominar bem o assunto sobre o qual se dará o debate;
o tema indicado pelo professor deverá ser preparado pelos participantes do debate com
leituras e pesquisas anteriores, trazendo o material preparado para discussão;
o professor deverá garantir a participação de todos, evitando o monopólio das intervenções
por parte de alguns apenas. Todos deverão ter oportunidade para fazer o uso da palavra.
Inclusive o próprio professor precisará se policiar para não interferir a todo instante e com
grande tempo de manifestação, mesmo que seja para resolver mais rapidamente a questão
apresentada. Esse comportamento pode comprometer os objetivos da própria estratégia.
Como realizar essa técnica?
O professor em data anterior ao debate escolhe um tema, sugere leituras e bibliografia básica e
orienta para que se estude o assunto e se façam anotações.
No dia do debate, o professor ocupará o papel de mediador, expõe o tema, fixa um tempo para a
atividade e abre a palavra aos participantes. Daí para a frente procurará garantir a palavra a todos
para fazer comentários, apresentar questões, levantar dúvidas de compreensão do assunto,
formular perguntas, complementar comentários do colega, e assim por diante. O coordenador do
grupo estará atento para contornar monopolizações, trazer o grupo de volta ao tema central sempre
que houver dispersões, administrar o tempo e orientar para que, ao final do debate, se possa chegar
a algumas conclusões para seu fechamento e para as questões não ficarem no ar.
A técnica em geral é bem-sucedida com pequenos grupos. Apresenta maior dificuldade quando
realizada com grandes grupos. Nessa situação, sugiro o emprego de outra técnica, por exemplo, o
painel integrado sobre o qual falaremos adiante.
3. Estudo de caso
Essa técnica tem por objetivo colocar o aluno em contato com uma situação profissional real ou
simulada. Real, quando o professor toma uma situação profissional existente e a apresenta aos
alunos para ser encaminhada com soluções adequadas. Simulada, quando o professor, tendo por
objetivo a aprendizagem de determinados conceitos, ou teorias, ou habilidades, ou valores,
“compõe” uma situação simulada com vários aspectos reais.
Hoje encontramos estudos de caso ou cases, como costumam ser denominados em quase todas as
áreas de conhecimento, e muitos deles já se encontram em sites ou em outros programas de
computação (por exemplo, jogos de empresa), permitindo um debate com a própria máquina para a
sua solução
Qual é o objeto dessa técnica? O que ela ajuda a aprender?
entrar em contato com uma situação real ou simulada de sua profissão, buscando uma
solução para o problema;
fazer uma análise diagnóstica da situação, levando em conta as variáveis componentes;
buscar informações necessárias para o encaminhamento da situação-problema;
aplicar as informações à situação real, integrando teoria e prática;
ser capaz de aprender a trabalhar em equipe, se a técnica, a juízo do professor, incluir a
possibilidade de discussão entre os colegas na busca de solução;
desenvolver a capacidade de analisar problemas e encaminhar soluções e preparar-se para
enfrentar situações reais e complexas, mediante a aprendizagem em ambiente não
ameaçador (sala de aula).
Como usar essa técnica?
Ela pode ser usada após o estudo de um conteúdo, como aplicação prática da teoria estudada, e
então o aluno já dispõe das informações básicas para resolver o caso. Ou poderá ser empregada
como elemento motivador para aprendizagem, e então o caso será apresentado antes dos estudos
teóricos, incentivando o aluno a buscar as informações necessárias para a solução do problema ou
na bibliografia de que dispõe, ou em discussão em duplas ou trios com os colegas usando as mesmas
fontes, ou solicitando auxílio do professor quando absolutamente necessário.
Conheci a experiência de um professor de Contabilidade que organizou todo o conteúdo de um
bimestre num estudo de caso simulado para ser resolvido, no qual havia situações conhecidas e
desconhecidas dos alunos. As questões conhecidas permitiram revisão de matéria; as desconhecidas
motivaram os alunos a aprenderem trabalhando em aula e fora dela. O assunto novo era por demais
árido e difícil. E a experiência foi um sucesso de aprendizagem segundo o depoimento do professor.
Em qualquer das duas hipóteses (usar o estudo de caso como prática do que foi estudado ou como
motivador para a aprendizagem), pode-se trabalhar com um único caso ou com casos diferentes.
Sempre será interessante um plenário para se discutirem as soluções encontradas visando ao
enriquecimento do grupo, ou porque é possível que as soluções sejam diferentes, ou porque os
processos de solução podem ser variados, ou porque, se forem casos diferentes, a abrangência da
experiência será bem maior.
4. Ensino com pesquisa
Trata-se hoje de uma estratégia fundamental para a melhoria da qualidade dos cursos de graduação,
aceita e defendida por todas as instituições de ensino superior. É a pesquisa se iniciando já na
formação dos profissionais contemporâneos. Além disso, é uma técnica que permite o
desenvolvimento de várias aprendizagens:
tomar iniciativa na busca de informações, dados e materiais necessários para o estudo;
entrar em contato com as mais diferentes fontes de informações (livros, revistas, periódicos,
anais de congressos, músicas, fotos etc.) e com os mais diversos ambientes informativos
(bibliotecas, internet, sites etc.), com especialistas de seu curso e de outras instituições
mediante entrevistas, e-mails etc.;
selecionar, organizar, comparar, analisar, correlacionar dados e informações;
fazer inferências segundo dados e informações, levantar hipóteses, checá-las, comprová-las,
reformulá-las e tirar conclusões;
elaborar um relatório com características científicas;
comunicar o resultado obtido com clareza, ordem, precisão cientifica, oralmente ou por
escrito.
Essa é uma estratégia que pode ser usada uma vez no semestre ou duas no ano, dado o
tempo que ela consome. Tempo esse que será em pequena parte dos momentos das aulas e
em grande parte de momentos fora das aulas.
Também precisa ficar claro que a técnica só pode ser levada a efeito se o professor estiver disposto a
orientar seus alunos nessa atividade. Não será suficiente “mandar o aluno fazer pesquisa”. Será
necessário orientar como se faz uma pesquisa e acompanhar sua realização.
Quais são as etapas dessa estratégia?
Motivar os alunos a participarem da atividade, discutindo com eles no que consiste a
pesquisa, a riqueza de aprendizagem que encerra, sua validade, a importância e como se
relaciona com a aprendizagem que se está desenvolvendo naquela disciplina e naquele
semestre.
Discutir os critérios para a escolha do assunto ou da situação a ser pesquisada, lembrando
que a pesquisa pode ser bibliográfica, de campo ou incluindo ambos os aspectos.
Dividir a turma em pequenos grupos, ficando cada um com um aspecto do assunto a ser
pesquisado ou com um tema próprio.
Apresentar e discutir com os alunos o que vem a ser um plano de pesquisa, seus elementos
e sua organização:
o definição precisa de um problema;
o metodologia de pesquisa, ou seja, com que método vai trabalhar para coletar
informações necessárias para responder ao problema, como vai organizá-las e
interpretá-las;
o bibliografia a ser consultada;
deverá contar com a apresentação dos projetos para toda a turma, com debate sobre cada um
deles, para que todos possam aproveitar dos trabalhos realizados por cada grupo ou aluno e
desenvolver assim suas aprendizagens. A apresentação também é um momento de aprendizagem e
não apenas um encerramento de trabalhos.
6. Desempenho de papéis (dramatização)
Consideremos alguns exemplos: alunos do curso de Medicina participam de uma situação simulada
de entrevista com um paciente, na qual um deles faz o papel do doente, o segundo do médico e o
terceiro do observador; um grupo de alunos do curso de Direito participa de um júri em que um faz
o papel do advogado de defesa, outro do promotor, outro do réu, outro do juiz, outros do júri;
alunos do curso de Pedagogia ou Licenciatura participam de uma reunião numa escola para definir o
planejamento do ano, na qual um faz o papel do diretor, outro do professor, outro do servente,
outro do bedel, outro do supervisor, outro do secretário, outro do pai de aluno, outro de aluno;
alunos do curso de Odontologia participam de uma equipe de consultório em que um faz o papel da
secretária, outro do paciente, um terceiro do auxiliar, outro do cirurgião-dentista-chefe, outro do
protético; alunos do curso de Economia e Administração formam uma equipe para discutir os novos
rumos de uma empresa, na qual um é o dono, outro é o contador, outro é o responsável pelas
finanças, um quarto pela matéria-prima, outro pelo marketing, outro pela pesquisa de mercado,
outro pelo contato com os clientes; e assim por diante.
Esses exemplos mostram como alunos podem aprender desempenhando papéis próprios de suas
realidades profissionais. Cria-se uma situação-problema, organiza-se uma equipe com membros
diferenciados e pede-se que todos, cada um defendendo seu papel, dialogue com os outros para
resolver o problema apresentado.
Para que a aprendizagem aconteça é fundamental que cada elemento assuma integralmente seu
papel, isso é, comporte-se como tal, defenda as posições próprias daquele papel, procure ter as
reações e atitudes próprias daquele personagem.
São objetivos dessa técnica: que seus participantes desenvolvam a empatia (capacidade de se
colocar no lugar do outro, o que é fundamental para nossas atividades profissionais), a capacidade
de desempenhar papéis de outros e de analisar situações de conflito segundo não só o próprio
ponto de vista, mais também o de outras pessoas envolvidas.
Além disso, que possam trabalhar com valores como desenvolvimento pessoal, aquisição de
habilidades de relacionamento inter pessoal, consciência de si mesmo, independência social e
sensibilidade a situações grupais.
É uma técnica mais voltada para o desenvolvimento de habilidades e atitudes dos alunos; o que não
impede que ocorra, considerando determinados conteúdos já estudados ou sendo estudados
naquele momento.
Essa estratégia em muito incentiva a participação dos alunos e permite avaliar de que modo ele se
comporta, na prática, como profissional diante das questões colocadas.
7. Dinâmicas de grupo
Ao analisarmos a utilização de estratégias envolvendo um grupo de alunos, seja pequeno ou grande,
o primeiro aspecto a que precisamos estar atentos é o fato de tratar-se de técnicas coletivas. O que
isto quer dizer: elas deverão trazer algumas vantagens diferentes das técnicas usadas para
aprendizagens individuais e colaborar para outras aprendizagens que não seremos capazes de obter
apenas individualmente.
Quais são estes objetivos que poderemos desenvolver?
A capacidade de estudar um problema em equipe, trazendo sua colaboração, ouvindo as
contribuições dos colegas, debatendo e discutindo os vários aspectos do tema,
relacionando-os com seus conhecimentos e suas experiências, ampliando seu universo
intelectual, de tal forma que, ao término do trabalho em grupo, cada participante possa ter
avançado e aprendido mais com relação ao tema em pauta do que se tivesse estudado
sozinho.
A capacidade de discutir e debater, superando a simples justaposição de idéias. Com efeito,
para que cada um exponha suas idéias a outros e depois se faça uma síntese dessas
contribuições não há necessidade de dinâmica de grupo. É só solicitar que cada um coloque
numa folha de papel suas idéias para que depois então as reunamos em um texto comum.
Portanto, para que tenhamos um trabalho de grupo é fundamental a discussão, o debate, e
chegar-se a um ponto mais avançado e significativo da aprendizagem, para além daquele
aonde se chegaria sozinho.
Aprofundar a discussão de um tema, chegando a conclusões. Para isso supõe-se sempre uma
preparação prévia de estudo individual sobre o tema a ser discutido. Se, de um lado, as
experiências e os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto são interessantes para
o debate, uma preparação imediata com leituras indicadas pelo professor ou sugeridas pelo
aluno com aprovação do professor é fundamental para o êxito da dinâmica de grupo. A
ausência dessa preparação faz com que o encontro dos grupos, por vezes, se transforme
num bate-papo sem interesse e sem perspectiva de maiores aprendizagens. Pela mesma
razão é desaconselhável que se permita ao aluno que não preparou o material participar da
atividade de grupo. Ele poderá se aproveitar das contribuições dos outros, mais não trará a
sua própria colaboração e, em geral, atua mais no sentido de dispersão do grupo. A
sugestão, se o aluno não preparou o material proposto, é no sentido de que o faça, em
particular, durante o período da atividade de grupo, a fim de se encontrar apto para
aproveitar a continuidade das atividades.
Aumentar a flexibilidade mental mediante o reconhecimento da diversidade de
interpretações sobre o mesmo assunto.
Ter oportunidade de desenvolver sua participação em grupos, sua verbalização, seu
relacionamento em equipe e sua capacidade de observação e crítica do desempenho grupal.
Confiar na possibilidade de aprender também com os colegas (além do professor) a valorizar
os feedbacks que eles podem lhe oferecer para a aprendizagem.
Valorizar o trabalho em equipe, hoje uma das exigências para atividade de qualquer
profissional.
Antes de descrever algumas dinâmicas de grupo, acredito ser importante fazer ainda uma
consideração: na maioria das vezes os professores “mandam” que os alunos façam uma atividade
em grupo. Isso aconteceu no ensino fundamental, no ensino médio e se repete no ensino superior.
Em nenhum desses momentos houve preocupação de que os alunos aprendessem a trabalhar em
grupo, não lhes foi ensinado um conjunto mínimo de regras necessárias para que um grupo possa
funcionar bem. E, então, quando as atividades grupais não saem a contento do professor, este é o
primeiro a dizer; “É, trabalho em grupo não adianta mesmo. O melhor é dar aula expositiva!”.
Certamente conhecemos uma vasta literatura sobre dinâmicas de grupo que contém algumas regras
básicas para se realizar bem a atividade grupal. Mas penso que vale a pena, nesse espaço,
considerarmos ao menos algumas das regras básicas para o bom funcionamento de um grupo:
Que todos os participantes tenham muita clareza sobre qual é o objetivo daquela atividade em
grupo; onde se pretende chegar? Para garantir tal clareza sugere-se que alguém do grupo verbalize o
objetivo e ele seja discutido até que se tenha um consenso sobre ele. Se houver muita dificuldade, o
professor deve ser chamado para explicar melhor o objetivo. Esse ponto é fundamental para se
evitar a dispersão e o fato de que cada aluno apresentar suas contribuições num sentido diferente
do outro.
Que se distribuam funções entre os participantes:
Um coordenador que esteja atento para que todos possam se manifestar e a palavra na seja
monopolizada por um ou alguns dos membros do grupo, administre o tempo dado para
evitar que este se esgote e o grupo não chegue ao objetivo esperado, quando necessário
corte a palavra de alguém, estimule outro a participar, evite repetições (ficar “amassando
barro”), empreste dinamismo à discussão. Sua função não é responder às questões ou dar as
respostas esperadas, embora possa e deva participar também como outro membro qualquer
do grupo;
um relator que anote as manifestações dos participantes, alerte quando as repetições se
fizerem presentes, organize as idéias e primeiras conclusões de tal forma que facilite a
elaboração de um relatório final;
Um cronometrista para acompanhar o tempo para a atividade, não permitindo que a tarefa
fique inconclusa por distração quanto ao tempo.
Que cada participante do grupo se disponha a ouvir seu companheiro de tal que suas contribuições
sempre dêem continuidade ao que se manifestou antes, procurando levar o assunto adiante a não
tomar uma atitude de repetição do que já foi discutido anteriormente.
Que a discussão do grupo em suas idéias principais e nas suas conclusões de grupo seja registrada
em um relatório por escrito ou em outra forma. Com efeito, esse relatório é a materialização dos
resultados obtidos e dos avanços do grupo na discussão proposta. Quando ele não ser faz, ou “não é
solicitado pelo professor”, as idéias, decisões e conclusões ficam soltas no ar, o que dificulta
perceber se o objetivo do grupo foi alcançado ou não e até onde se avançou. O grupo, o professor e
os colegas dos outros grupos ficam sem este feedback, o que nos impede de avaliar a aprendizagem.
Em qualquer dinâmica de grupo, se observarmos ao menos essas poucas regras e a colocarmos em
pratica vamos perceber, nós e os alunos, que o trabalho de grupo pode ser muito eficiente e eficaz e
ajudar de modo significativo a aprendizagem, a ponto de os alunos se motivarem a se preparar
anteriormente para não perdê-las. É o que diz minha experiência de mais de 30 anos de docência no
ensino superior.
Vamos considerar alguns exemplos de dinâmica de grupo:
7.a PEQUENOS GRUPOS COM UMA SÓ TAREFA: divide-se a classe em pequenos grupos e atribui a
cada um uma tarefa, por exemplo, responder a uma ou duas questões sobre o texto lido
apresentadas pelo professor; estudar o mesmo caso e dar-lhe uma solução; fazer uma síntese de um
mesmo texto, e assim por diante. Trata-se de uma forma bem simples de começar a desenvolver
com uma classe a habilidade de trabalhar em equipe. Em geral, fecha-se a atividade com a
apresentação em plenário das tarefas realizadas por todos os grupos, com base nas quais os
próprios alunos e o professor fazem comentários que completam as respostas, corrigem-nas ou
ampliam-nas.
Uma forma simples, mais que dinamiza uma aula, é solicitar que no decorrer desta se leia um texto e
formem-se duplas. Para cada uma o professor entrega uma pergunta a ser respondida em tempo
curto, por exemplo, dez minutos. Fim do tempo, o professor pede que cada dupla leia sua pergunta,
responda-a e em seguida ele pode abrir para comentários do grupo todo e inclusive para sua
participação. Poderá fazer link com outras perguntas que virão, pedirá que quem tem questão
próxima ou parecida se apresente para lê-la com a devida resposta e assim por diante. Ao final de
todas as respostas, a turma terá estudado o assunto de modo mais proveitoso do que se apenas
ouvisse o professor falar sobre ele.
7.b PEQUENOS GRUPOS COM TAREFAS DIVERSAS: a turma é dividida em pequenos grupos, sendo
que cada um realizará uma atividade diferente; em geral, as atividades se completam ou se
contradizem, entrando em conflito e exigindo um debate posterior em seu fechamento. Por
exemplo, sobre um assunto qualquer o professor apresenta dois ou três artigos ou autores que
pensam de modo diferente e pede que um grupo resuma os pontos teóricos centrais de cada autor
ou de cada teoria; para outro grupo pedirá que levante experiências concretas referentes ao tema
em discussão; e a um terceiro, que aponte questões importantes que merecem ser ouvidas,
discutidas por toda a classe. O fechamento dessa técnica deverá trazer ao plenário os aspectos
diferentes que, debatidos, integrarão a compreensão do assunto e enriqueceram as experiências dos
alunos, facilitando o encaminhamento para aplicações concretas.
7.c PAINEL INTEGRADO OU GRUPOS COM INTEGRAÇÃO HORIZONTAL OU VERTICAL. Trata-se de uma
técnica que favorece em muito a participação dos alunos. Ela se realiza em três momentos. No
primeiro, dividi-se a classe em grupos de cinco ou no máximo seis elementos. Indica-se a tarefa a ser
realizada e o tempo que poderá ser gasto para tanto. Por exemplo, cada grupo deverá ter lido e
discutirá um capitulo de um livro. O resultado da discussão deverá ser anotado por todos, e
distribui-se entre os membros do grupo um número de 1 a 5 ou 1 a 6.
No segundo momento reunem-se os números 1 de todos os grupos, ou os números 2, 3, 4, 5, 6,
formando-se agora vários grupos que realizarão duas outras atividades: trocar informações
relatando o que aconteceu no primeiro grupo e fazer nova discussão. A troca de informações é
garantida pela presença de um componente que participou da discussão do primeiro momento e
trouxe para este grupo as conclusões do grupo anotadas. As conclusões serão explicadas e discutidas
e poderão até ser modificadas pelo novo grupo a luz das outras questões que lhes serão trazidas.
A nova discussão acontecerá ou mediante uma nova questão apresentada pelo professor, ou como
resultado dos debates sobre as questões já estudadas, normalmente o professor sugere um ponto
mais amplo que possa englobar as varias discussões e leve o assunto para um âmbito mais geral.
O terceiro momento será o do professor. Com efeito, durante o segundo momento, o professor se
colocará em alguns dos grupos reunidos e ouvirá, sem participar da discussão, o que estará sendo
trazido de cada um dos grupos anteriores para este novo grupo. Dessa forma ele estará se
informando sobre o que está sendo trabalhado em todos os grupos. De posse dessa informação, o
professor decidirá se deve intervir e como intervir: corrigindo alguma informação incorreta,
sublinhando outras, ampliando terceiras, debatendo pontos que ficaram obscuros.
Para o bom funcionamento da técnica é importante que o professor tome alguns cuidados de
organização: uma previsão adequada e um controle rígido do tempo de cada momento, que o tipo
de discussão a ser realizado possa ser acompanhado igualmente por todos os participantes, que
cada participante saia do primeiro grupo com anotações sobre as conclusões que deverá levar para
o segundo grupo, uma vez que não se pode confiar apenas na memória. Aliás, o papel de levar
informações corretas de um grupo para o outro manifesta a responsabilidade do aluno para com o
outro grupo.
Essas estratégias apresentam algumas vantagens: exige a participação de todos, pessoal e grupal, e
desenvolve a responsabilidade pelo processo de aprendizagem próprio e do colega, é uma técnica
que pode ser usada com classes pequenas e com classes numerosas: sempre serão cinco ou seis
alunos trabalhando em grupo; o professor, acompanhando qualquer grupo do segundo momento,
saberá o que esta sendo informado em todos os grupos e poderá completar, corrigir ou aperfeiçoar;
é uma forma de naturalmente se quebrarem “as panelas” existentes nas turmas, levando
aleatoriamente os alunos a se encontrarem com colegas junto aos quais até este instante não
haviam trabalhado e que nem conheciam.
7.d GRUPO DE VERBALIZAÇÃO E GRUPO DE OBSERVAÇÃO (GVGO). É uma técnica que permite o
desenvolvimento de varias habilidades, tais como: verbalizar, ouvir, observar, dialogar, trabalhar em
grupo. Seu funcionamento exige que se formem dois círculos concêntricos, um menor, no centro,
com no máximo cinco pessoas. Outro maior (o restante do grupo) circulando o primeiro. É uma
técnica que pode ser mais bem usada com grupos de até 35 pessoas.
Convidam-se 5 voluntários para participar da atividade, e estes se sentarão no circulo do centro. A
eles será dado um tema para discussão que poderá basear-se em texto indicado previamente para a
leitura, ou em experiências próprias. Terão 15 minutos para fazer a discussão e fechá-la, e durante
esse tempo somente os cinco poderão verbalizar. Ninguém poderá intervir no debate. Deverão falar
em voz bem alta para que todos ouçam. Caso terminem a discussão antes dos 15 minutos avisarão
ao professor.
Antes de começar a atividade de grupo, o professor orientará o grupo observador sobre o que
deverá observar, o que depende do objetivo da estratégia. Poderá ser em relação a um conteúdo
que está sendo discutido, ou sobre experiências pessoais que estão sendo trazidas, ou em relação a
variáveis de funcionamento do próprio grupo. Poderão todos observar os mesmos aspectos ou
dividir aspectos a serem observados por pequenos grupos de cinco ou seis alunos que estão no
grupo de observação.
Exemplos de aspectos a serem observados: se o grupo verbalizador está usando todos os conceitos
do texto lido; se há emprego adequado dos conceitos; se estão relacionados os novos conceitos com
conceitos já aprendidos; se as experiências são semelhantes ou não; se todos os participantes têm
oportunidade de falar; se o grupo procura se organizar em relação a tarefa solicitada; se o grupo
segue as mínimas regras de funcionamento de um grupo; e assim por diante.
Passados 15 minutos, o grupo de verbalização passa a ser um grupo de observação e o grupo de
observação passa a ser um grupo de verbalização. Inicialmente, somente o último grupo pode
verbalizar, apresentando as diferentes observações feitas e, depois, o professor pode abrir para um
diálogo entre os dois grupos sobre as observações feitas.
Em seguida, pode se repetir na mesma aula ou em outra a mesma técnica GVGO com outros
elementos para se verificar se a aprendizagem das habilidades esperadas foi alcançada por outros
também.
7.e DIÁLOGOS SUCESSIVOS. Essa técnica é a mais apropriada para compreender, fixar e relacionar
conceitos; explicitar características de uma teoria, discutir etapas de um projeto, passos de uma
pesquisa, cenas de um filme, aspectos de um vídeo, e assim por diante.
Como funciona? Organiza-se a classe em dois círculos concêntricos: metade dos alunos na parte de
fora, outra metade, na parte interna voltados uns para os outros (de frente um para o outro)
formando pares. Dado um tema, os elementos de fora e de dentro têm aspectos diferentes sobre os
quais vão dialogar por um espaço de três a quatro minutos. Terminado este tempo os elementos de
dentro do círculo giram no sentido anti-horário e se encontram com um segundo elemento. Os
elementos do lado de fora permanecem em seus lugares. No segundo encontro cada um expõe ao
outro seu aspecto do tema e o aspecto que ouviu de seu par no momento anterior, e ouve o aspecto
de seu novo parceiro e o que ele ouviu de seu par anterior. E assim por diante, por umas três ou
quatro vezes.
O movimento leva a um conhecimento cumulativo e/ou a formas melhores de expressar a mesma
idéia.
Talvez seja necessário um exemplo para explicar melhor esta técnica. Vamos supor que o nosso
tema fosse processo de aprendizagem. Quais elementos precisariam ser bem compreendidos e
fixados? Conceitos de aprendizagem, de ensino, aprendizagem significativa, aprendizagem
continuada, aprendizagem de adultos, papel do professor. Esses assuntos já foram abordados, mais
queremos fixá-los. Então, distribuem- se os conceitos aos alunos que estarão nos círculos e cada um
falará sucintamente de seu conceito para outro colega e o giro dos círculos se inicia, de tal forma
que todos trabalharão com os aspectos de forma cumulativa.
É uma técnica que pode funcionar com turmas grandes e pequenas, porque os participantes
dialogarão, no máximo, com quatro ou cinco colegas e cumulativamente poderão estar ouvindo até
oito ou nove colegas sobre o tema.
7.f GRUPOS DE OPOSIÇÃO. Essa técnica de modo especial é apropriada para desenvolver a
capacidade de argumentar, de debater, e produzir argumentos, analisar e avaliar argumentação,
contrapropor argumentos, defender ou atacar determinadas posições e teorias, sempre baseando-
se em argumentos.
Seu funcionamento supõe a organização de pelo menos dois grupos de alunos, sendo que um deles
tem por tarefa defender uma idéia ou encontrar as suas vantagens enquanto o outro deverá atacar a
mesma idéia ou mostrar suas desvantagens. Eventualmente poderá se constituir um terceiro
pequeno grupo que funcione como um grupo de juizes para julgar qual grupo conseguiu
desempenhar melhor seu papel.
O assunto indicado anteriormente foi estudado por todos individualmente. No primeiro momento
em aula, cada grupo se reúne para organizar seus argumentos de acordo com a tarefa que lhe cabe.
Marca-se um tempo para essa atividade: vinte a trinta minutos. Terminando o prazo, o professor
pede que os dois ou três grupos se coloquem na sala de tal forma que todos vejam a todos, todos
possam se olhar. O professor ocupa o lugar do mediador. Inicia o debate dando a palavra a um dos
grupos e a partir deste momento vale o diálogo entre os grupos. O professor não deverá entrar na
discussão do tema, mas apenas para dinamizar ou organizar a discussão quando necessário. Durante
o debate o professor deverá inverter as posições dos grupos. Visando desenvolver uma agilidade
maior de argumentação, poderá pedir que o grupo que ataca uma posição passe a defendê-la; e a
que a defende, passe a atacá-la. A intervenção é ver como os alunos reagem em posições inversas.
Com essa técnica, o professor está lidando com a competição entre grupos de classe. Será preciso,
então, refletir se isso será ou não prejudicial para a dinâmica da turma, tendo em vista manter um
clima de abertura e de cooperação dentro dela.
7.g PEQUENOS GRUPOS PARA FORMULAR QUESTÕES. Essa técnica é uma das mais dinâmicas para
ser usada em aula e agrega em si a possibilidade de desenvolver vários aspectos de aprendizagem:
aprofundamento de conhecimentos, compreensão do assunto, habilidade de trabalhar em grupo,
ouvir e dialogar com colegas, aprender com colegas.
Como funciona? Uma semana antes se indica um texto a ser lido para o próximo encontro sobre um
assunto que se está estudando. A leitura, porém, deverá permitir que cada aluno traga para aula
duas ou três perguntas inteligentes: isto é, perguntas que revelem dúvidas ou não compreensão do
texto, aspectos importantes que se gostaria de ver estudados com mais profundidade, tamas de
grande atualidade. É evidente que não serão aceitas perguntas que se retirem diretamente do texto
e cujas respostas aí se encontrem com facilidade.
No dia da aula, formam-se grupos de 5 alunos cada um. Durante 15 minutos, o grupo deverá ler,
compreender as dez ou no máximo 15 perguntas e selecionar duas. Essas perguntas deverão ser
escritas em uma folha de papel sulfite, com letra legível e com o nome do grupo que a formulou.
Inicia-se uma das várias rodadas: o grupo que formulou as duas perguntas, sem as responder, passa-
as para o grupo mais próximo, e assim os demais grupos. Dá-se um tempo de 15 minutos para que o
grupo responda por escrito às duas perguntas que recebeu. Em seguida, as perguntas respondidas
são passadas para outro grupo. Este terá 10 minutos para: ler as perguntas, compreendê-las, ler as
respostas que o primeiro grupo deu e redigir agora sua resposta que poderá ser de acordo com a
resposta do primeiro grupo, poderá complementá-la, ou corrigi-la. Tudo isso sem rabiscar as
respostas do primeiro grupo, mais escrevendo na mesmo folha, em seguida. Passa-se para um
terceiro e, no máximo, para um quarto grupo que falarão do mesmo trabalho, dentro do mesmo
tempo. Terminada a rodada a folha com as perguntas e as respostas dos três ou quatro grupos é
devolvida ao grupo original que as formulou. Este vai agora analisar as respostas dos grupos e,
então, redigir a sua, que poderá também concordar ou não com as respostas. Por último, em
plenário, cada grupo lê as perguntas e as respostas, permitindo esclarecimentos possíveis,
complementações por parte do professor, debate e até um comentário do professor sobre as
pertinências das perguntas: foram elas de fato inteligentes? Representaram os aspectos mais
importantes do texto e do tema? Se não, caberá ao professor mostrar os pontos não trabalhados.
7.h SEMINÁRIO. Essa é uma técnica das mais comuns no vocabulário de professores de ensino
superior ou de alunos. Dá-se essa denominação até para resumo de capítulos de livro feitos pelos
alunos e apresentados para seus colegas em aula, enquanto, muitas vezes, o professor apenas
assiste sem interferir. Claro que não é um seminário, nem arremedo de seminário.
O seminário (cuja etimologia está ligada a sêmen, sementeira, vida nova, idéias novas) é uma técnica
riquíssima de aprendizagem que permite ao aluno desenvolver sua capacidade de pesquisa, de
produção de conhecimento, de comunicação, de organização e fundamentação de idéias, de
elaboração de relatório de pesquisa, de fazer inferências e produzir conhecimento em equipe, de
forma coletiva. Ele envolve professor (professores) e alunos no trabalho de pesquisa por dois ou três
meses.
Como funciona? Em duas partes. A primeira delas corresponde ao ensino com pesquisa que já
descrevemos. Ou seja: no primeiro momento usa-se a técnica do ensino com pesquisa até a
comunicação final dos resultados de cada grupo.
A segunda parte consiste no seguinte: os assuntos de pesquisa que foram distribuídos pelos
diferentes grupos guardam entre si uma relação de complementação, ou de crítica, que não
aparecem á primeira vista. O professor, então, estabelece um tema para o seminário que
diretamente não foi pesquisado por nenhum grupo, mas para cujo debate encontram-se idéias e
informações nos vários grupos de pesquisa. Orienta os diferentes grupos informando que não se
trata de uma atividade em que cada um vai apresentar um resumo de sua pesquisa, mas de se
retirar das pesquisas os elementos necessários para a discussão do novo tema. E, portanto, os
diferentes grupos deveriam se preparar para isso. Marca-se o dia do seminário.
Por ocasião da realização do seminário, professor aleatoriamente escolhe um elemento de cada
grupo de pesquisa formando com eles uma mesa-redonda. Os demais assistirão ao debate, podendo
participar pedindo a palavra ao coordenador. Aberta a discussão cada participante exporá os dados
e as informações que suas pesquisa oferece para o desenvolvimento daquele tema. O debate se
instalará, o professor mediará, inclusive apresentando questões a serem debatidas, garantindo e
incentivando a participação de todos, abrindo possibilidades de participação também para os
ouvintes conduzindo os trabalhos de tal forma que, o tempo previsto chegue a produzir um tema
novo com base nos grupos de pesquisa. Então, sim, teremos realizado um seminário. Nesses moldes,
chegaria a afirmar que mesmo em cursos de pós-graduação o uso dessa técnica é por demais
reduzido.
Como disse anteriormente, é uma excelente técnica quando bem compreendida e adequadamente
realizada. Por isso, vale apena conhecê-la, praticá-la e permitir que os nossos alunos a descubram
também.
8. Leituras
Todos nós professores consideramos bastante importante que os alunos se preparem para as aulas
lendo alguns textos ou preparando algum material. E são muitas as reclamações de que os alunos
não lêem, nem preparam nenhum material fora de aula porque não tem tempo, pois trabalham o
dia todo ou fazem outras tantas atividades, ou porque “acham muito chatas essas leituras, e, depois,
o professor as repõem, explica ou retoma em aula: então, para que estudar antes da aula?”.
Eu também já vivi esse drama, e após algumas tentativas, em meus cursos, matutinos ou noturnos,
os alunos já lêem e preparam o material para o encontro seguinte.
Em primeiro lugar, no início do curso, quando fazemos sua programação, combinamos que ali nos
encontramos para aprender e não apenas para “tirar uma nota”. Essa disposição exige trabalho do
grupo durante o período de aula para aprender e esse tempo não pode ser ocupado só com aulas
expositivas, nas quais o professor apresenta de forma resumida e organizada um conteúdo
necessário. Cada aluno precisa ler, procurar entender os textos, buscar informações e se preparar
para um tempo na Universidade (aula) onde ele vai se encontrar com seus colegas e com o professor
e todos juntos, em equipe, vão aprender o que se propuseram. Leitura, estudo, preparação pessoal
é indispensável para se aprender e participar de uma atividade coletiva de aprendizagem.
Fechado o compromisso, indo para o lado prático, é importante que os textos indicados para leitura
sejam de fácil acesso, com um número de páginas que possa ser lido e estudado em uma semana
(supondo que os encontros de aula sejam semanais), lembrando que o aluno não tem só a disciplina,
mais um conjunto de oito a dez. Ou seja, é fundamental que os textos indicados sejam bem dosados
na quantidade e na complexidade (indo dos mais simples aos mais complexos). Por vezes, podemos
solicitar que os alunos pesquisem outros materiais, mais neste caso a orientação é imprescindível.
Um segundo cuidado ao indicar uma leitura a ser feita, visando motivar o aluno, é orientá-la para
que em cada semana ela seja feita de um modo diferente, conforme seu uso em aula. Por exemplo,
numa semana, que os alunos leiam um texto e tragam-no resumido em uma página; em outra
semana, que tragam redigidos em uma página os pontos ou conceitos-chaves do texto; numa
terceira vez; pede- se que em uma ou duas páginas tragam um caso resolvido; em outra
oportunidade, que leiam o texto e, baseado neste, tragam perguntas. Pode-se ainda, solicitar que
leiam um texto e dele façam um resumo com comentários pessoais e até mesmo, pode-se oferecer
uma série de perguntas relacionadas ao texto de leitura que deverão ser respondidas por escrito e
assim por diante. Veja quantas alternativas temos, e existem muitas outras, para várias atividades de
leitura fora de aula. Explorá-las leva a motivação e supera-se aquela sensação de “tarefa, obrigação,
chateação que os professores mandam a gente fazer em casa, só por fazer; ou para o professor não
se sentir omisso, pois deu uma tarefa para casa”.
No entanto, um aspecto importante: a atividade que pedirmos para os alunos fazerem em casa
deverá ter uma continuação em aula. O aluno deve perceber que não fez seu trabalho em vão e que
o material que preparou é importante para as atividades da aula. E o que vai acontecer em aula não
poderá ser uma aula expositiva repetida do texto lido (esta é a melhor forma de desencorajar alunos
a estudarem fora de aula), mais atividades dinâmicas, interessantes, em que a participação dos
alunos com suas páginas escritas é fundamental. O aluno precisa sentir que seu trabalho é
importante e ele próprio é valorizado pelo que está acontecendo em aula. Pela mesma razão,
aqueles que não realizaram a tarefa solicitada não poderão participar da dinâmica da classe mais
deverão ser convidados a aproveitar aquele tempo para uma segunda oportunidade de ler e se
preparar individualmente para a continuidade da aula.
Aos poucos, a classe vai percebendo que é interessante ler, vir à aula pois se torna importante
encontrar-se com colegas e professor para trocar idéia, debater, discutir, conhecer aspectos novos,
participar de dinâmicas novas. Vai notar, aos poucos, a diferença de receber um material todo
pronto e contribuir ele próprio para o seu conhecimento, encontrando nele um significado próprio.
Para o professor uma aula assim será muito mais motivadora e instigadora e muito menos cansativa.
9. Recursos audiovisuais.
Em geral, os recursos audiovisuais são empregados com apoio às aulas expositivas ou atividades com
todo o grupo da classe. Como o próprio nome diz, são cartazes, fotos, quadro negro, slides, mapas,
pintura, gráficos, filmes, transparências, músicas, power- point, CD-ROM. São recursos usados
esteticamente ou com movimentos, isoladamente ou em conjunto do tipo multimídia.
Para exibí-los, vamos precisar de instrumentos e condições próprias para cada um, e por isso a
primeira preocupação do professor será verificar se na sala de aula ou no local onde for usá-los
dispõe-se destes instrumentos e das condições necessárias, por exemplo: iluminação natural
adequada, possibilidades de escurecer a sala, tomadas elétricas convenientes, telas, som, TV, vídeo,
projetor multimidiático, retroprojetor, computador, etc.
Cada um desses recursos possui regras próprias de uso. Não queremos descer aos detalhes do uso
de cada um, mais chamar a atenção para alguns aspectos gerais que se referem a quase todos, e
sobre os quais freqüentemente somos interrogados em nossos contatos com professores do ensino
superior.
O primeiro ponto. Em geral, esses recursos não deveriam ser usados para a escrita e leitura de textos
longos. Há professores, por exemplo, que escrevem seus textos de aula em transparências e passam
o tempo de aula lendo-os. Esses recursos devem ser usados para exibir, por exemplo, o esquema de
um estudo, ou um roteiro de aula apenas com palavras-chaves ou itens que serão desenvolvidos e
poderão ser colocados no quadro-negro, em uma transparência, num slide, no power point. Aliás,
aconselha-se a não colocar todos os itens de uma só vez nesses recursos, mais abrir ou colocar um
de cada vez para que os alunos não se destraiam e se concentrem em um ponto por vez. Cada
recurso dispõe de forma própria de fazer isso.
Poderão ser usadas para explicar o que estamos estudando ou tratando por meio de desenhos,
fotos, gráficos, mapas, tabelas, figuras. Neste sentido, a atenção precisa estar voltada para alguns
pontos: a quantidade de pontos, fotos, gráficos, mapas, tabelas, figuras. Um número ideal deles é
que permite ao aluno, ao mesmo tempo, ver e compreender melhor o que se está explicando e
discutir, debater, analisar o que está havendo. Sem dúvida, uma sessão com número menor de
slides, por exemplo, bem escolhidos e que permita discussão sobre eles, inclusive com um acender
de luzes para que todos se velejam no debate, será algo muito mais incentivador da aprendizagem
do que as sessões contínuas de slides (com certeza fotográficamente cada vez mais belos e
perfeitos) durante 50 ou 100, ou até mesmo 200 minutos, com pequeno intervalo. Um número
razoável de slides que permita, inclusive, que se interrompa sua seqüência para um debate e pedido
de explicação ou apresentação de dúvidas comprime muito bem o seu papel de apoio à atividade em
andamento.
No uso de transparências deve-se procurar elaborá-las com recursos de que dispomos hoje, com o
computador, não se esquecendo de escolher bem as cores do fundo e das letras, o tamanho destas
para que se permita visualizá-las de todos os lugares da sala (o mesmo valendo para o uso do
quadro-negro). Mesmo que se escolha a transparência ou power-point para poder escrever com
caneta apropriada na hora da aula, a escrita precisa ser bem legível. É lamentável, e, no meu modo
de ver, de uma profunda falta de respeito com os participantes, o que vim a assistir, há pouco dias,
numa conferência internacional: o conferencista usava transparências mal escritas, à mão, ilegíveis,
com quadros também mal escritos, completamente tortos e rabiscados.
Por último, no uso de transparência, slides ou power-point, o professor deve atentar para não se
posicionar entre o aparelho e a tela cobrindo assim parte da projeção, e deve usar de preferência
ponteira lazer para se chamar a atenção para algum ponto em especial. Se não se dispuser deste
instrumento, no caso das transparências pode se usar uma caneta ou lapiseira como um pulsor,
colocando-a sobre a transparência, em cima do retroprojetor, ao invés de fazer a indicação com a
mão ou dos dedos apontando para a tela.
Em todos esses aspectos, o uso de power-point leva grande vantagem operacional, tanto no que diz
respeito na construção da imagem de textos (movimento por efeito, outros tamanhos e tipos de
letra, usos de figuras, linhas, falhas e etc.) quanto à apresentação: dinâmica, por partes, com ou sem
comentário.
Que princípios substituem estes? A interação teoria-prática é fundamental para a aprendizagem. Ela
precisa acontecer na realidade.
Por vezes buscamos conhecimentos e depois vamos ver como se comportam na pratica; não vamos
necessariamente realizar uma prática conforme o padrão estabelecido pela teoria. Vamos ver como
a teoria se comporta na situação completa em que estamos: ela poderá ajudar a resolvê-la, poderá
sofrer adaptações, ou mesmo poderá exibir nova pesquisa, ou seja, a teoria de que dispomos não foi
suficiente para a situação vivida.
Em outra circunstância, ainda não dispomos da teoria, mas podemos entrar em contato com um
ambiente profissional e aprender a observar o que ali acontece e por essas primeiras observações
buscar as informações de que se necessita para a compreensão do ambiente e da situação
profissional que ali se desenrola. A teoria vem em seguida ao contato direto com a situação
profissional. E nesse caso, em geral, o processo de aprendizagem é mais eficiente.
O estágio é considerado eixo fundamental de um currículo, e não apenas uma atividade a mais. Por
isso mesmo é realizado desde o início do curso, de várias formas, em vários ambientes, integrando
disciplinas, reorganizando o currículo. Num projeto que conhecemos, inclusive a divisão do ano
acadêmico foi alterada de dois semestres para três quadrimestres a fim de que se organizasse a
formação com quadrimestre full time na universidade seguido de um quadrimestre full time na
empresa.
Há, portanto a valorização da lógica indutiva como forma de e construir o conhecimento, partindo-
se da situação concreta para os princípios teóricos. E, por fim, desenvolve-se o sentido de parceria e
co-responsabilidade pela aprendizagem entre as instituições envolvidas no processo.
Consideramos técnicas para ambientes profissionais: o estágio, visitas técnicas, excursões, prática
clínica, laboratórios, aulas práticas em escolas, empresas, escritórios, hospitais, instituições de
pesquisa, fóruns etc.
Essas técnicas são específicas de cada profissão, uma vez que cabe à carreira profissional junto com
a universidade definir as características próprias de seu profissional e, conseqüentemente, como
desenvolvê-las. Assim, o que esperar da presença do aluno no ambiente profissional, o que poderá
aprender, em que condições ele deverá atuar, com que profissionais, de que forma realizar sua
aprendizagem são definições próprias de cada profissão juntamente com os professores da
universidade e certamente diferentes para cada curso de graduação.
Há, no entanto, algumas que são comuns e sobre as quais me parece oportuno comentar.
1. Estágio
Esta é uma prática de forma comum em todas as profissões. Mais infelizmente não é aproveitada
pedagogicamente. Senão vejamos: o estágio aparece na vida dos alunos como uma tarefa
indesejável que ele deverá fazer fora do horário de aula, que é obrigatória, pois lhe trará créditos e
notas necessárias e da qual ele deverá se livrar de forma mais rápida, até mesmo contando com
certa cumplicidade do responsável do local onde fará o estágio. Os professores responsáveis pelo
estágio em uma instituição educacional nem sempre são remunerados pelas horas que necessitam
para orientar e acompanhar os estagiários.
Em nosso entender, há necessidade de se resgatar a importância e a validade do estágio como
ambiente essencialmente necessário para a aprendizagem dos alunos.
Para isto há que valorizá-lo institucionalmente colocando-o no lugar de destaque no currículo: ele
deveria ser pensado como um dos eixos curriculares que perpassa todo o currículo, favorece a
integração das disciplinas e da teoria com a prática, se realiza durante todo curso em situações
diferentes cada vez mais complexas, com acompanhamento não apenas de um professor
encarregado do estágio, mais de todos os professores em cujas as disciplinas ele é realizado,
tratando-o como ambiente fundamental de aprendizagem. Assim entendido, o estágio pode
inclusive colaborar para aperfeiçoar o próprio currículo.
Há que valorizá-lo diante dos alunos, para que estes o percebam como uma situação real,
profissional, em que eles encontrarão as melhores condições de se formar e aprender, a tal ponto
que em vez de abreviá-lo procurem explorá-lo cada vez mais. Para isso, é evidente que a preparação,
realização e avaliação do estágio precisam ser muito bem planejadas e executadas juntamente com
os alunos.
A instituição que vai abrir o estágio também deve valorizá-lo, percebendo como será interessante
para ele relacionar-se com a universidade, com os professores universitários, que seus funcionários
se relacionem com futuros profissionais dando prosseguimento à sua formação continuada por
intermédio desse contato.
É uma visão realmente nova e talvez necessite de certa ousadia para po-la em prática. Mas não
vemos outra saída para melhorar a qualidade dos cursos de graduação. Há instituições,
principalmente da área de engenharia e da saúde, que estão ingressando por esse caminho e
realizando projetos muito promissores.
2. Visitas técnicas e excursões
Como o estágio, trata-se de duas técnicas muito ricas que permitem ao aprendiz desenvolver
aprendizagens cognitivas, de habilidades e de valores ou atitudes. Elas podem ocorrer em grupos
(pequenos ou com toda a turma). Depende das circunstâncias e das possibilidades tanto da
instituição educacional como do local da visita ou excursão.
Em qualquer hipótese, para que funcionem bem, precisamos tomar alguns cuidados:
Que as visitas técnicas e excursões estejam integradas aos assuntos que estão sendo
estudados no momento:
Que sejam preparadas juntamente com os alunos, definindo-se o que observar e o que
registrar. É interessante que se organize com o grupo de alunos um roteiro de observações
e/ou entrevistas que deverão ser realizadas por eles além de orientá-lo como registrar os
dados em material adequado. Ás vezes será interessante que todos observem tudo; outras,
que cada grupo de alunos observe parte da situação para complementação posterior;
Que, após a visita técnica ou excursão, cada aluno redija um relatório das observações e
dados obtidos e os traga na aula seguinte para o estudo e debate entre colegas e com o
professor. Nesse debate é importante que sejam trazidas as questões teóricas buscando a
interação teórica e prática.
3. Aulas práticas e de Laboratório
O uso de aulas práticas e de laboratório para a aprendizagem, embora diferentes e específicas para
cada curso e profissão, poderá levar em conta as recomendações que fizemos acima para visitas
técnicas e excursões visando à eficiência para a aprendizagem dos alunos. Interessante será que o
aluno possa contar com várias dessas aulas práticas e laboratoriais, entremeadas com visitas
técnicas e excursões. Os aspectos teóricos nunca estarão dispensados, mas será mais interessante e
motivador tratá-los e aprende-los de forma integrada com a realidade profissional do que apenas
subjetivamente.
Prática para aprendizagem em ambientes virtuais formando um conjunto, as técnicas que vamos
analisar a seguir são aquelas que se baseiam em fundamentalmente no uso do computador e da
informática. Há algum tempo essas técnicas eram chamadas de “novas tecnologias” e,
posteriormente, “novas tecnologias de informação e comunicação” (NTIC).
Essas novas tecnologias incluem o uso da internet, do CD-ROM, da hipermídia, da multimídia, de
sites, de ferramentas como o Chat, grupos ou lista de discussão, fóruns, vídeos e teleconferência,
correios eletrônicos e de outros recursos e linguagens digitais de que atualmente dispomos e que
podem colaborar significativamente para tornar o processo de educação mais eficiente e eficaz.
Tecnologia essa que pode ser usada para se realizar educação a distância, em que o computador
passa a ser uma máquina de intermédios entre professor e alunos em locais físicos distantes visando
Didática do Ensino Superior
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5. Internet
Esse é um recurso que poderá ajudar a nós professores e aos alunos em seu processo de
aprendizagem a superar duas dificuldades no incentivo à leitura e à pesquisa: certa rejeição dos
alunos em ler livros, preferindo substituí-los por apostilas, e alguma resistência em se dirigir à
biblioteca para pesquisar.
A internet se apresenta como um recurso dinâmico, atraente, atualizadíssimo, com possibilidade de
acesso a um número ilimitado de informações, e de estar em contado com todas as grandes
bibliotecas do mundo, com os mais diversos centros de pesquisa, com os próprios pesquisadores e
especialistas nacionais e internacionais, com os periódicos mais importantes das diversas áreas do
conhecimento.
Acrescente-se a tais vantagens a comodidade do acesso que se faz de casa, do escritório, da
biblioteca, dos mais diferentes lugares. Você acessa, lê, compara, reproduz textos e imagens,
constrói pensamento, produz textos, registra reflexões, tudo ao mesmo tempo.
Sem dúvida, a internet é um grande recurso de aprendizagem múltipla: aprende-se, busca
informações, pesquisa, compra dados, analisá-os, organizá-os.
Com a internet podemos desenvolver habilidades para explorar esse novo recurso tecnológico;
desenvolver nossa criatividade; discutir valores éticos, políticos e sociais na consideração dos fatos e
denomenos que chegam a nossos conhecimentos de todas as partes do mundo; desenvolver a auto-
aprendizagem e a interaprendizagem (com os outros, com o mundo e suas realidades, com seu
contexto).
Como todos os outros recursos, porém, é preciso que se aprenda a usá-lo. Há necessidade de o
professor orientar como utilizá-lo para as atividades de pesquisa, de busca de informações, de
construção do conhecimento e de elaboração de trabalhos e monografias. Deve-se orientar os
alunos para que não transforme tão rico instrumento de aprendizagem em uma forma mais
caprichada de apresentar uma colagem de textos, como antes faziam com os textos de revistas ou
de livros fotocopiados da biblioteca. No fundo, há que se orientar com fazer trabalhos e monografias
que sejam produção de conhecimento, frutos da reflexão e do estudo pessoais e de discussões em
grupo e não apenas cópias de textos já escritos.
Ao professor caberá o papel de orientar a leitura de um trabalho de reflexão, como pesquisar na
internet, abrir os primeiros endereços ou sites que sejam relevantes para o assunto que se pretende
pesquisar, incentivar para que daí por diante o aluno faça suas próprias navegações, e não estranhar
se, porventura, o aluno encontrar dados ou informações que ele, professor, ainda não tenha
descoberto.
Seu papel não é saber tudo o que existe sobre determinado assunto antes do aluno, mas estar
aberto para aprender também com novas informações conquistadas pelo aluno e, principalmente,
estar em condições de discutir e, debater as informações com ela, bem como ajudá-lo a desenvolver
sua criatividade diante do que venha a encontrar. Todos nós sabemos que há muita coisa
importante é interessante a que chegamos pela internet. Assim somo há um sem número de
informações absolutamente dispensáveis. Alunos e professor vão aprendendo a desenvolver tal
criatividade.
6. CD-ROM e Power Point
Ainda como exemplos de novas técnicas, penso que é interessante comentar o uso do CD e do
Power Point em aula, como recursos facilitadores e mediadores de aprendizagem.
São técnicas multimidiáticas e hipermediáticas que integram imagem, luz com texto, movimento,
pesquisa, busca, links já organizados ou com possibilidades de torná-los presentes pelo acesso à
internet. Esses recursos disponibilizam informações e orientações de trabalho para os usuários de
uma forma integrada, ativando todos os sentidos e incentivando a reflexão e compreensão do
assunto que se pretende aprender.
A confecção do CD-ROM exige cuidados e recursos técnicos especializados de que nem todos os
professores dispõem. O uso, porém dos que existem e a confecção de material em Power-point
visando à aprendizagem do aluno não poderão desconsiderar alguns princípios básicos: o aluno não
pode fazer o papel de assistente passivo diante do que se desenrola na frente; o CD-ROM ou o
Power-point não podem querer substituir as atividades do aprendiz; há que prever atividades,
tempo, momentos para o aluno perguntar, refletir, debater, pesquisar, trabalhar, redigir etc. CD-
ROM e Power Point deverão funcionar como incentivadores dessas várias atividades de
aprendizagem.
EDUCADOR OU PROFESSOR?
(MERA CONVERSA DE UM VELHO PROFESSOR COM
UM COLEGA MAIS JOVEM)
Educadores, onde estão? Em que covas terão se escondido? Professores há milhares. Mas professor
é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador ao contrário, não é profissão é
vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança. (RUBEM ALVES).
Rebuscando velhas gavetas da memória, deparo-me com meu professor de matemática Roque
Baroni, siciliano sanguíneo, exigente e afável ao mesmo tempo, muitas vezes confidente de meus
sonhos e conflitos adolescente. Profº Roque, se preciso, dava um zero e depois sabia nos acariciar a
auto-estima com um dez . Ele era também o diretor e orientador de nossas peças teatrais. Falava de
Báscara e Moliere com a mesma deliciosa naturalidade. Concedi-lhe minha permissão
psicoemocional de alargar meu pensamento e aumentar meu conhecimento. Passei a adorar
matemática e acabei me tornando professor dessa disciplina. Pude, com tal mister, durante muito
tempo, manter sustendo de meus filhos.
Também em meus guardados de ginásio, encontro-me, sem saudades, com o prof º de Educação
Física, que nos estipulava “cangurus” e “polichinelos”, a ponto de nos levar à exaustão. Se
errávamos, e eu errava muito, o professor tascava-nos um beliscão capaz de fazer corar um frasco
de benzetacil. Detestava suas aulas, lá a elas com medo. Nunca mais gostei de Educação Física,
desprezei o corpore sano. Quem me conhece sabe do que estou falando (é claro que a culpa não é
só dele) – é assim: a gente só aprende com aqueles a quem outorgamos o direito de nos ensinar e
para tanto é preciso um pouco de amor nesta relação de trocas...
Fico agora conversando com um professor de hoje: meu caro, jovem mestre e colega, quantas vezes
você tem sido educador e elevado a auto-estima de seus alunos, ou você é daqueles que acham que
só Deus merece um dez? Nas suas avaliações, os alunos aprendem também, ou só se reconhecem
incapazes, estultos e impermeáveis à sua disciplina? Você é daqueles que faz do conhecimento uma
arma de cidadania e crescimento pessoal ou é da espécie que faz do zero uma arma cartorial,
dominadora e disciplinadora?
Na sua aula os alunos têm cara de adolescentes ou ficam absolutamente imbecis e atônicos? Alguém
já dormiu em sua classe e você contínuou achando sua aula muito interessante? Quando o aluno
cochila, a culpa é só dele? Você gosta do som monocórdio de sua voz ou concorda com um
relaxamento, um alongamento e uma catarse geral, para depois começar sua docência?
Confidencialmente, se a noite anterior sua esposa for de pouca graças, você desconta na sua
garotada? Ou sublima, e se refaz para procurar graças na próxima noite?
A ciência que você ensina é “chata” por natureza ou você a fez assim? Em classe, o ideal é que você
falasse o tempo todo e preferisse ouvir as moscas voarem a ouvir voz de aluno? Ou você gosta de
fazer os meninos trabalharem e gosta de instigar o raciocínio da moçada?
Toda pergunte de aluno de é cretina? Só você pergunta e responde bem? Ou você aprendeu mais
dando aulas do que na sua própria escola?
Você tem um caso de amor com o quadro negro-verde? Há quanto tempo você não usa outra coisa a
não ser paleontolítico giz? A sirene toca e você começa a salivar à cão do Pavlov?
Ou há sempre um texto interessante para uma turma ler e uma dinâmica de grupo a ser adotada na
aula?
Você usa o retroprojetor, os slides, e outro recurso didáticos com tv, vídeo, etc.? Alías, na escola tem
essas coisas? Você sabe preparar uma transparência? E o computador você já o descobriu? Ou você
é contra esses modernismos? Seria você um dos “neoluditas”? Você tem internet como ferramenta
de pesquisa e gosta de navegar por suas ondas ou tem medo de se afogar nesse mar de recursos?
Você já descobriu que seu aluno já sabe muito mais do que se pensa sobre essa parafernália
tecnicista? Você já desconfio que essa geração parece ter um chip a mais?
Você gosta de capacitar continuamente ou acha que já sabe tudo sobre sua matéria? Se um pupilo
fizer uma pergunta para a qual você não se acha preparado, pede um tempo e vai buscar a resposta
ou o aluno vai para a sala do diretor por desrespeito a autoridade? Você que professor de português
deve ou pode ser analfabeto em matemática ou vice versa? Ou você valoriza o conhecimento
holístico e coloca em prática seus conhecimentos na hora da aula? Algum aluno já fez confidencia is
pessoais para você e lhe contou coisas de sua vida? Ou, quando você chega, a rodinha muda de
assunto e todos saem de fininho? Você prefere ser amigo ou bicho papão? Você acha que
adolescente adolesce ou aborrece? Você entende que disciplina é meio ou fim em si mesmo?
Disciplina é coisa de bedel ou você da conta de sua turma?
Acha que nota ruim merece castigo ou recuperação? Você faz marketing com a cara feia ou é um
mestre de verdade? Você sabe para que ensina seus conteúdos? Você sabe formular objetivos, não
sabe? Que habilidades e competências você espera ao final de seu trabalho? Você distingue
Pedagogia de Didática? Ou tudo isso é coisa ara pedagogo passar fome?
Já foi dito que o verdadeiro educador é como um técnico de futebol: orienta, planeja, grita, acalenta,
cobra, ensina mais não joga. Quem vai à luta são os jogadores, e ele fica ao lado do campo a torcer e
a gritar por eles... São seus alunos que jogam? Ou só você faz gols?
Aqui entre nós, se uma ponte cair o engenheiro leva a culpa; se a colheita frustar o agrônomo é
responsável; se a cirurgia der errada, o médico está lascado. Certo? Se o aluno tomar bomba, o
professor é só rigoroso e competente... Certo ou errado?
Finalmente, você é daqueles que pensa que sua carreira está em extinção e que seu lugar vai ser
tomado pelo computador, pelo vídeo e outros bichos? Se sim, merece tão destino.
Agora ,se acha que há muito o que fazer, que pode colocar toda a tecnologia do mundo a serviço da
Educação e que é preciso alongar o pensamento e dar dimensão humana aos futurismos, então
arregace as mangas e trate e de completar a obra de Deus, pois as pessoas nascem sem saber as
coisas do mundo, e, portanto, incompletas, e cabe a você ensina-las, afinal para tanto, ELE fez de
você um educador...
Agenor Cansado – Professor de Matemática, presidente do SINEPE/GO e diretor do Colégio ALFA
BETA.
4 A DOCÊNCIA SUPERIOR E A
INTERDISCIPLINARIDADE
4.1 A Intencionalidade do trabalho docente
Nosso desejo é ajudar a transformar a prática educativa. O meio que estamos utilizando é a
reflexão. A reflexão enquanto tal (atividade simbolizadora e seus produtos: representações,
conceitos, teorias, etc) não pode, de fato, interferir diretamente na realidade, nas condições
objetivas; quem age sobre a realidade – direta ou indiretamente (através de algum instrumento) –
são os sujeitos. Ocorre que estes, por sua vez, têm sua ação pautada em algum nível de reflexão,
Didática do Ensino Superior
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visto que a prática está sempre baseada numa significação, seja ela ideológica, interesseira,
utilitária, alienada, qual seja, não é um processo mecânico, automático, aleatório, casuístico.
Incessantemente há na ação consciente dos sujeitos um nível de elaboração, um sentido, um fim,
uma justificativa, uma marca mana que é a intencionalidade.
A reflexão tem, pois, por função propiciar o despertar do sujeito, além de capacitá-lo para
caminhar...
(um conhecimento da realidade) – Análise da realidade, uma nova intencionalidade – Projeção de
Finalidades, e um novo plano de ação – (Formas de mediação).Isto implica que a reflexão precisa
articular duas dimensões:
1. Convencimento – ser elemento que dê força à atividade, propicie o despertar do desejo
para a consciência de se integrar, se encontrar, se motivar, se dispor para a ação.”Limpar o
meio de campo”: desconstruir representações equivocadas, desmontar mitos e
preconceitos. Ajudar o sujeito (pessoal e coletivamente) a se convencer de que sua ação é
importante, embora limitada. Corresponde a uma mobilização inicial, à gênese do resgate
do professor como sujeito. Esta é, então, uma primordial tarefa da reflexão:
2. Intervenção – ser uma guia para a prática que se quer transformadora. Indicar caminhos.
Ajudar a ganhar competência para a ação: entender o que está acontecendo; projetar
objetivos para a ação; apontar alternativas para a intervenção.
Planejar, então, remete a: 1- querer mudar algo; 2- acreditar na possibilidade de mudança da
realidade; 3-perceber a necessidade da mediação teórico-metodológica; 4- vislumbrar a
possibilidade de realizar aquela determinada ação...
Para resgatar o lugar do planejamento na prática escolar, há um elemento fulcral que é o professor
se colocar como sujeito do processo educativo. Quem age por condicionamento, não carece de
planejamento, pois alguém já planejou por ele... Muito sinteticamente, podemos dizer que o
indivíduo está na condição de sujeito de transformação quanto a uma prática, quando em relação a
ela há um querer (estar resolvido a fazer alguma coisa) e um poder (capacidade de realizar algo)...
O quadro a seguir procura sistematizar as várias dimensões envolvidas neste processo.
Uma função incentivadora e energizante, pois ele deve aproveitar a curiosidade natural do
educando para despertar o seu interesse e mobilizar seus esquemas cognitivos (esquemas
operativos de pensamento);
Uma função orientadora, pois deve orientar o esforço do aluno para aprender, ajudando-o
a construir seu próprio conhecimento.
Cabe ao professor, durante sua intervenção em sala de aula e por meio de sua interação com a
classe, ajudar o aluno a transformar sua curiosidade em esforço cognitivo e a passar de um
conhecimento confuso, sincrético, fragmentado, a um saber organizado e preciso.
Mas o professor deve ter bem claro que, antes de ser um professor, ele é um educador, pois sua
personalidade é norteada por valores e princípios de vida, e consciente ou inconscientemente,
explícita ou implicitamente ele veicula esses valores em sala de aula, manifestando-os a seus
alunos. Assim, ao interagir com cada aluno em particular e ao se relacionar com a classe como um
todo, o professor não apenas transmite conhecimentos, em forma de informações, conceitos e
idéias (aspecto cognitivo), mas também facilita a veiculação de idéias, valores e princípios de vida
(elementos da esfera afetiva), contribuindo para a formação da personalidade do educando.
De acordo com nossa concepção, o educando é “uma pessoa que se desenvolve, que atualiza suas
possibilidades, que se ajusta e se reajusta, mediante processos dinâmicos, orientados por valores
que lhe conferem individualidade e prospectividade”.
Quem concebe assim o educando, tende a valorizar ainda mais a relação professor-aluno, pois vê
nessa interação um processo de intercâmbio de conhecimentos, idéias, ideais e valores, que atua
diretamente na formação da personalidade.
4.5 Didática
A palavra Didática, vem do Grego Didaktiké, que quer dizer arte de ensinar. Esta palavra foi
empregada pela 1a. vez, com sentido de ensinar em 1629 por Ratre, em seu livro “Principais
aforismos Didáticos”, porém, a palavra Didática foi consagrada em 1657 quando João Amos
Comenius lançou a famosa obra “ Didática Magna ”.
A Didática primeiramente significou arte de ensinar. E como arte, a Didática dependia muito do
jeito de ensinar, da intuição do professor.Com o tempo, a Didática passou a ser conceituada
como ciência e arte de ensinar, .
Didática pode ser compreendida em dois sentidos:
1. Amplo – preocupa-se com os procedimentos que orientam o educando a aprender
algo,sem a preocupação com valores sócio-morais.
2. Pedagógico – apresenta compromissos com o sentido sócio-moral da aprendizagem do
educando visando não só a transmissão de conhecimentos, mas sobretudo a formação de
cidadãos conscientes, críticos, criativos, eficientes e responsáveis.
O conceito de Didática, vinculado ao de Educação, pode ser conceituado da seguinte forma:
Didática é o estudo do conjunto de recursos que tem como objetivo dirigir a aprendizagem do
educando, tendo em vista orientá-lo à atingir um estado de maturidade que lhe permita
desvendar a realidade de maneira consciente, eficiente , responsável para na mesma atuar como
um cidadão participante .
A Didática busca eficiência no processo ensino-aprendizagem para que se possa obter
aprendizagens significativas com menos esforços e em menos tempo.
A Didática é uma ciência dimensionada para o humano, por isso, sente necessidade constante de
se perguntar o que é o homem; para que se possa obter respostas para saber como ensinar.
A Didática deve questionar por que educar, por que ensinar, o que ensinar , a quem ensinar,
quando ensinar, como ensinar e com que ensinar.
O objeto da didática é o ensino que se propõe estabelecer os princípios para orientar a
aprendizagem com segurança e eficiência. A didática pretende orientar o agir do professor e do
aluno na sua ação de ensinar, de educar e de aprender.
A didática objetiva resultados, aprendizagens, mudanças significativas de comportamento.
A didática deve ser uma disciplina altamente questionadora da realidade educacional, da escola, do
professor, do ensino, das disciplinas e conteúdos, da metodologia, da aprendizagem, da realidade
cultural, da política educacional.
A didática pode ser definida como a “capacidade de tomar decisões acertadas sobre o que e
como ensinar, considerando quem são os nossos alunos e porque o fazemos. Considerando ainda
quando e onde e com que se ensina”.
A didática ajuda a tomar decisões sobre a educação, o educando, o ensino, o professor, as
disciplinas, os conteúdos,os métodos e técnicas e sobre a comunidade escolar.
O que ensinar. A didática pode oferecer perspectivas e ajudar a escolher o que ensinar para que
o aluno aprenda como aprender, habilidade que requer conhecimentos e uma grande visão, não
só do presente, mas também do futuro..
Por que ensinar. Será que o professor sabe realmente por que ensinar cada disciplina, ou
determinado conteúdo? O que se pretende com a educação e com o ensino ? Será que o aluno
sabe e entende por que está estudando? E os pais sabem por que mandam os filhos à escola?
Quais são os reais objetivos do ensino; por que ensinar algo?
Como ensinar. O professor deve ser capaz de selecionar adequadamente um método didático e
organizar todos os procedimentos e técnicas, visando propiciar aos alunos a melhor
aprendizagem. No ensino sempre se estabelecem certas prioridades. Para atingi-las, traçam-se
estratégias que dirigem toda a ação.
Quando ensinar. Os procedimentos didáticos devem estar intimamente relacionados com o
objetivo do ensino, com os conteúdos a serem ensinados e com as características e habilidades
dos alunos. O melhor procedimento é aquele que atende as características individuais ou grupais.
Com que ensinar. Quem planeja o ensino deve partir de uma análise dos objetivos, dos
conteúdos, dos procedimentos e de todas as possibilidades humanas e materiais que o ambiente
escolar pode oferecer em termos de meios a empregar no processo ensino-aprendizagem.
4.6 A interdisciplinaridade
A sociedade é produto da evolução do homem e de seus relacionamentos.
Houve uma época em que, para sobreviver, os homens se uniram, formando grupos coesos, onde
cada indivíduo era tratado e respeitado como um todo –ser individual e social. Com o advento do
capitalismo e da tecnologia, a sociedade dividiu-se em classes, tornando-se bem forte a diferença
entre dois grupos: “entre os que pensam e os que fazem, entre os que planejam e os que
executam”.
A escola, como instituição social , traz para seu fazer essa dicotomia: discriminando uns e
reforçando outros , dividindo os conteúdos, fragmentando e/ou impedindo a construção de um
saber integral, inter-relacionado, onde o aluno abre “portas” e “janelas “ em seu cérebro, tentando
captar tudo, enquanto os seus professores só se preocupam com uma parcela do conhecimento – o
seu saber específico.
Ora, o homem é um ser inteiro, integral.
O pensar, se esfacelado, não permite o aprimoramento, ou seja, ver o todo e as partes.
A escola, espaço institucionalizado, destinado à ( re ) construção do saber socialmente produzido e
sistematizado, nos diversos campos do conhecimento, tem que encontrar uma forma de quebrar a
dicotomia e permitir, ao aluno, a visão do todo, para melhor compreender a realidade.
A interdisciplinaridade apresenta-se como uma forma de permitir ao aluno visão global da
realidade. Para que isto ocorra , é necessário que os professores tenham bem claro o que seja um
trabalho interdisciplinar.
Para discutirmos o tema “interdisciplinaridade” , começaremos pela compreensão de alguns
termos específicos, conceituando-os com clareza.
Inter/Disciplinar/ Idade: Deriva da palavra primitiva disciplinar ( que diz respeito a disciplina ) , por
prefixação ( inter-ação: recíproca comum ) e sufixação (dade: qualidade, estado ou resultado da
ação) .
Disciplina refere-se à ordem conveniente, a um funcionamento regular. Originalmente significa
submissão ou subordinação a um regulamento superior. Significa também “Matéria (campo de
conhecimento determinado que se destaca para fins de estudo ) tratada didaticamente, com
ênfase na aquisição de conhecimentos e no desenvolvimento de habilidades intelectuais.”
Didática do Ensino Superior
46
É uma palavra muito presente em instituições, como o exército, a fábrica e a Igreja, que valorizam a
disciplina na formação de seu pessoal.
A utilização desta mesma palavra para denominar os conteúdos escolares refere-se tanto à
necessidade de submeter-se à mente a mesma ordem que controla o corpo dos educandos,
quanto ao tratamento didático que deve ser dado a cada matéria escolar.
De posse desses conceitos básicos , vamos analisar os diversos tipos de composição curricular:
Multidisciplinar – modelo fragmentado em que há justaposição de disciplinas diversas, sem relação
aparente entre si ;
Pluridisciplinar - quando se justapõem disciplinas mais ou menos vizinhas nos domínios do
conhecimento, formando-se áreas de estudo com conteúdos afins ou coordenação de área, com
menor fragmentação;
Interdisciplinar – com nova concepção de divisão do saber, frisando a interdependência, a
interação, a comunicação existente entre as disciplinas e buscando a integração do conhecimento
num todo harmônico e significativo ;
Transdisciplinar – quando há coordenação de todas as disciplinas num sistema lógico de
conhecimentos, com livre trânsito de um campo de saber para outro.
5 O PLANEJAMENTO E A ORGANIZAÇÃO DA
PRÁTICA DOCENTE
5.1 A aula na universidade
Tratar da ”aula na universidade” parece uma questão menor diante dos grandes problemas que
afetam o ensino superior brasileiro: políticas, diretrizes, custos, investimentos, remuneração,
capacitação e condições de trabalho dos docentes, acesso ao ensino superior, qualidade do ensino,
pesquisa, responsabilidade social da universidade, gratuidade, modelos de estruturas universitárias
etc., para citar alguns.
A importância de discutir e debater a “aula na universidade” advém do fato de ela constituir uma
situação, um ambiente, um espaço, um tempo, em que está presente todos aqueles problemas,
concretizados na interação educativa de professores e alunos que desenvolvem um programa de
formação, de profissionalização de aprendizagem.
A forma como se der a interação desses três elementos ( professor, aluno, programa) revelará, por
exemplo, a concepção que o professor tem da aprendizagem; de seu papel nele, do papel que cabe
ao aluno; de sua visão de mundo e da sociedade contemporânea; de sua competência pedagógica e
política; desvelará maneiras de integrar teoria e prática, ciência e realidade cotidiana fora da
estrutura escolar; indicará as diretrizes políticas e educacionais tanto do MEC quanto da instituição
concreta onde essa aula se realiza; ou seja, a aula é sim um pequeno mundo onde, nas ações e
interações de professores-alunos-programa no dia-a-dia, realiza-se a educação de nossos
educandos e educadores.
Por essas razões, vejo relevância em abordar esse tema da forma mais interrogativa e investigadora
possível, discutindo menos como acontecem as aulas e mais como poderão acontecer de uma
perspectiva eminentemente educacional.
Aula como espaço de convivência humana e de relações pedagógicas.
A discussão desse assunto tomou para mim um interesse particular a partir de uma pesquisa, que
realizei com alunos do curso de licenciatura da Faculdade de Educação da USP. (Masetto, 1995).
Evidente que os argumentos são sedutores, mas também é natural que surja no professor uma
respeitável dúvida quanto a sua prática. Não seriam os pilares da educação propostos nesse
relatório apenas “palavras vazias”, objetivas retóricos, discursos distantes do cotidiano em uma sala
de aula?
A resposta é não e o próprio relatório Educação – Um tesouro a descobrir já apresenta alguns
caminhos. Outros são propostos por Perrenoud.
Os conteúdos a serem trabalhados na formação dos sujeitos podem ser classificados em três
grandes categorias, a saber:
Conceituais: relativos a informações, fatos, conceitos, imagens, etc.
Procedimentais: habilidades, hábitos, aptidões, procedimentos, etc.
Atitudinais: disposições, interesses, posturas, atitudes, etc.
A aprendizagem de conceitos e princípios1
Conteúdos conceituais:
Os conceitos se referem ao conjunto de fatos, objetos ou símbolos que têm características
comuns (mamífero, densidade, impressionismo, romantismo, sujeito, cidade,
cambalhota,...);
Os princípios se referem às mudanças que se produzem num fato, objeto ou situação em
relação a outros fatos, objetos e situações e que normalmente descrevem relações de
causa-efeito ou de correlação (as leis ou regras como a de Arquimedes, as normas ou
regras de uma corrente literárias,...).
Uma das características dos conteúdos conceituais é sempre existe a possibilidade de
ampliar ou aprofundar seu conhecimento, de fazê-la mais significativa.
As condições para a aprendizagem são:
o Atividades complexas que provocam um verdadeiro processo de elaboração e
construção pessoal do conceito.
o Atividades experimentais que favoreçam que os novos conteúdos se relacionem com os
conhecimentos prévios.
o Atividades que promovam essas relações e desafios ajustados às possibilidades reais,
proporcionando significado e funcionalidade aos novos conceitos.
o Atividades que favoreçam a compreensão do conceito a fim de utilizá-lo para a
interpretação ou o conhecimento de situações, ou para a construção de outras idéias.
Os conteúdos procedimentais:
Um conteúdo procedimental inclui, entre outras coisas, as regras, técnicas, os métodos, as
destrezas ou habilidades, as estratégias, os procedimentos - um conjunto de ações
ordenadas e com um fim, ou seja, dirigidas para a realização de um objetivo.
Aprende-se os conteúdos procedimentais a partir de modelos especializados.
A realização das ações que compõem o procedimento ou a estratégia é o ponto de partida
para a aprendizagem.
Em seguida a exercitação múltipla até que possa dominar e a reflexão sobre a própria ação
para tomar consciência da mesma, pois para poder melhorar o procedimento é necessário
refletir sobre a maneira de realizá-lo e sobre quais são as condições ideais de seu uso,
sendo, então, imprescindível conhecer o conteúdo.
1
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
Didática do Ensino Superior
52
Aproveitar as experiências anteriores dos alunos, para que eles possam associar os novos
conteúdos assimilados às suas vivências significativas.
Adequar o conteúdo e a linguagem ao nível de desenvolvimento cognitivo da classe.
Oferecer ao aluno oportunidade de transferir e aplicar o conhecimento aprendido a casos
concretos e particulares, nas mais variadas situações.
Verificar constantemente, por intermédio da avaliação contínua, se o aluno assimilou e
compreendeu o conteúdo desenvolvido.
A concretização da metodologia é feita com o componente chamado procedimento metodológico,
ou procedimentos de ensino e que são muitas vezes denominados de estratégias. Este componente
do Plano de Ensino delineia como vão ser desenvolvidos os conteúdos de ensino, relacionando-os
com os objetivos.
A metodologia refere-se ao “como” do processo de ensino, é exatamente como o professor vai
proceder na sala de aula para incentivar, organizar o processo ensino-aprendizagem. Nesse
processo há uma combinação entre atividades do professor e atividades dos alunos.
Torna-se importante ressaltar que ao escolher uma determinada metodologia para desenvolver
uma aula ou curso, o professor não está escolhendo somente técnicas ou métodos, mas toda uma
teoria que a sustenta, vinculada a uma concepção de mundo e de sujeito educado.
O professor deve ter perante a didática uma atitude crítica. Por isso, deve refletir sobre a melhor
forma de ajudar seus alunos no processo de reconstrução do conhecimento e sobre a eficácia de
sua ação didática, expressa nos resultados da avaliação do aproveitamento do aluno. A prática
pedagógica deve ser analisada e repensada continuamente pela reflexão.
Diz a lei de diretrizes e Bases da Educação Brasileira, nº 9394/96, em seu artigo 24, inciso V, alínea
“a”, que os aspectos qualitativos devem prevalecer sobre os quantitativos, Isso significa dizer que
deve ser valorizadas a capacidade e habilidade do indivíduo. Segundo Sacristán (2000, p. 303) “as
capacidades e habilidades dizem respeito a modos organizados de operações e a técnicas
generalizadas para tratar de materiais e problemas”. Cabe ao professor oferecer atividades que
exijam a participação dos alunos com o emprego de pensamento e habilidades mentais. Vejamos
alguns exemplos do emprego de pensamento e habilidades mentais que podem ser desenvolvidos
pelo aluno:
Detectar, selecionar, recolher e tratar informações válidas;
Estabelecer relações entre essas informações;
Decodificar e interpretar mensagens orais e escritas;
Justificar uma situação problema através de uma linguagem verbal clara e objetiva;
Interpretar um texto, apresentando seu ponto de vista;
Apresentar solução para um problema;
Transferir conhecimentos adquiridos para situações semelhantes;
Formular hipóteses relativas às soluções de alguns problemas;
Resumir um texto,, destacando os aspectos mais significativos;
Comparar idéias ou processos, buscando encontrar relações mútua, semelhanças e
diferenças;
Criticar a validade e/ou deficiências de uma situação com fundamento em sua avaliação e
experiências;
Imaginar o que faria se... (não cabe ao professor fazer críticas que possam restringir a
imaginação e a criatividade do aluno).
Concluindo: ensinar a pensar implica oferecer ao aluno oportunidades para que este pense. A tarefa
não é simples e não existe garantia absoluta de êxito, até porque exige do professor dedicação,
planejamento de atividades, elaboração de material e muita atenção aos comportamentos dos
alunos. Isso é valorizar os aspectos qualitativos da avaliação. Entretanto, importa dizer que as
atividades acima relacionadas para desenvolver o pensamento e as habilidades mentais são apenas
alguns exemplos dentro de um contexto mais amplo.
“processo de tomada de decisões bem informadas que visam à racionalização das atividades
do professor e do aluno, na situação ensino-aprendizagem, possibilitando melhores
resultados e, em conseqüência, maior produtividade”.2
OBJETOS DO PLANEJAMENTO DE ENSINO
São objetivos do planejamento de ensino:
racionalizar as atividades educativas;
assegurar um ensino efetivo e econômico;
conduzir os alunos ao alcance dos objetivos;
verificar a marcha do processo educativo.
O professor, durante o período (ano ou semestre) letivo, pode organizar três tipos de planos. Por
ordem de abrangência, vai:
delinear, globalmente, toda a ação a ser empreendida (Plano de Ensino ou de Curso).
disciplinar partes da ação pretendida no plano global (Plano de Unidade).
especificar as realizações diárias para a concretização dos planos anteriores (Plano de Aula).
Pelo significativo apoio que o planejamento empresta à atividade do professor e alunos, é
considerada etapa obrigatória de todo trabalho docente.
O planejamento tende a prevenir as vacilações do professor, oferecendo maior segurança na
consecução dos objetivos previstos, bem como na verificação da qualidade e quantidade do ensino
que está sendo orientado pelo mestre e pela escola.
CARACTERÍSTICAS DO BOM PLANO DE ENSINO
Ricardo Nervi em La prática docente e seus fundamentos psico-pedagógicos, Buenos Aires, Kapelusz,
1969. p.56-57, considera como características essenciais do bom plano de ensino:
Coerência
As atividades planejadas devem manter perfeita coesão entre si, de modo que não se dispersem em
distintas direções; de sua unidade e correlação dependerá o alcance dos objetivos propostos.
Seqüência
Deve existir uma linha ininterrupta que integre, gradualmente, as distintas atividades, desde a
primeira até a última, de modo que nada fique jogado ao acaso.
Flexibilidade
Deve permitir a inserção sobre a marcha, de temas ocasionais, subtemas não previstos e questões
que enriqueçam os conteúdos por desenvolver, bem como permitir alteração - restrição ou
supressão - dos elementos previstos, de acordo com as necessidades e/ou interesses dos alunos.
PRECISÃO E OBJETIVIDADE
Os enunciados devem ser claros, precisos, objetivos e sintaticamente impecáveis. As indicações não
podem ser objeto de dupla interpretação; as sugestões devem ser inequívocas.
PLANO DE ENSINO
É um instrumento de trabalho amplo, genérico, sintético que serve de marco de referência às
operações de ensino-aprendizagem que se desencadearão durante o curso, derivados dos fins a
serem alcançados.
2
SANT’ANNA, Flávia Maria et al. Planejamento de Ensino e Avaliação. 11. ed. Porto Alegre. Sagra:
De Luzzatto, 1996.
EMENTA
REFERÊNCIAS LEGAIS
CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
AVALIAÇÃO
1A. Nota
2A. Nota
3A. Nota
4a. Nota
5a. Nota
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_________________________ _______________________
Professor(a) Coordenador(a)
5.6 Reflexão
DE QUEM E A BOLA (Adaptação de texto-Carmen Lucia Carnieri)
E de adão e Eva, e do governo, e do sistema, e do pai, da mãe e da escola...Ou e dos educadores...
Afinal, de quem e a bola...
Adão e Eva
No principio do mundo, Adão e Eva cometeram a primeira falta contra Deus. Os homens passaram
a atribuir todo o mal do mundo - as doenças, as crises, o sofrimento, as injustiças – a falta cometida
por Adão e Eva. Acontecem que as crises foram aumentando, o tempo passando e o mundo
evoluindo. O homem aos poucos se conscientizava e chegava a’ conclusão de que a bola não era,
não podia ser só de Adão e Eva. E jogavam a bola para o governo... Sim, ele devia ser a causa de
tudo!
O governo:
O governo passou a ser responsável por todos os problemas, por todos os males que envolviam a
sociedade. O povo passava fome... Culpa do governo. A educação não ia bem... Culpa do governo.
Professores não eram competentes...Culpa do governo. Alunos não tinham bom desempenho...
Culpa do governo, culpa dos parlamentares, do congresso. Os homens jogavam então a bola para
os governantes, responsabilizando-os dos pequenos e grandes problemas. Assim foi durante muito
tempo! ...
O sistema:
Vindo da direita, saindo da esquerda, do centro, ou caindo pela tangente a bola estava nas mãos do
sistema. Sim, só pode ser o sistema, tudo o que vem de um presidente vulnerável aos altos e baixos
de popularidade, o responsável direto pela decadência da sociedade.Ele, o sistema, fazia aumentar
a prostituição, a marginalidade, a violência que amedronta a todos, sim, o senhor sistema não
educou bem seus cidadãos! Houve um esforço grande para entender se realmente a bola ficaria na
estante do sistema. E alguns pensadores começaram a questionar se a bola não ficaria melhor nas
mãos do pai e da mãe .Afinal, e a família o berço da aprendizagem, da moral e dos bons
costumes.
O pai e mãe:
Sem perceber, os pais estavam com a bola nas mãos e se distraiam com ela. O pai jogava para a
mãe, acusando-a pela ma educação dos filhos dizendo: Você não para em casa, não cuida da saúde
deles, só pensa na emancipação, trabalha dois horários e não tem tempo para vê-los ou ouvi-los. A
mãe, por sua vez, sentindo-se injustiçada e magoada devolvia a bola para o Pai acusando-o por
trabalhar demais, ficar o tempo todo no computador, ao ter uma folga, e se divertir em barzinho,
jogar futebol com os amigos. A bola era acionada para os dois como um verdadeiro jogo de tênis
em campeonato. Como a crise permanência, por que não procurar alguém que possa ficar com a
bola Para o casal era interessante, cômodo e ainda se livrava do sentimento de culpa...e a bola foi
qui-can-do para a escola.
A Escola:
A escola recebe os reflexos dos problemas familiares e sociais traduzido em alunos problemáticos,
carentes, desajustados, drogados, apáticos. E a escola resolve também se isentar dessa
responsabilidade de educar e diz que o problema-a bola é do Pai, da Mãe, do sistema, do governo,
do Adão, da Eva e que ela, a escola só vai fazer aquilo que lhe compete e o que diz a Lei.
Educador:
A bola continua solta... e o mundo em decadência globalizada. A população aumenta, os homens se
violentam, as crianças se degeneram e o mundo que foi criado para ser paraíso, passa a ser campo
de batalha, campo de concentração, campo de promiscuidade e corrupção.
A bola continua sendo jogada de uma escola para outra. O problema não chega a uma solução
porque todos deveriam assumir. O dialogo, os direitos e deveres, a responsabilidade, a
sensibilidade, a solidariedade, a educação para a paz universal. AMIGOS
A Bola está agora em suas mãos.
Quem faz a Instituição são as pessoas. As pessoas fazem à diferença...
6 AVALIAÇÃO DO ENSINO
6.1 O que é medir e avaliar
A palavra Avaliação, muitas vezes, é empregada como mensuração. Zélia Domingues Mediano, faz a
seguinte distinção entre medir e avaliar.
“Medir é o ato de colher informações, levando em conta seu aspecto quantitativo numérico...A
medida, em educação, procura descrevewr quantitativamente o grau em que o aluno dominou
determinado objetivo. É simplesmente uma descrição quantitativa do conteúdo aprendido. Não
inclui descrições qualitativas nem juízo de valor”.
Avaliar é um processo mais amplo que a medida porque utiliza tanto descrições quantitativas, como
qualitativas.”(1995 p. 32)
Na linguagem popular o verbo avaliar significa atribuir valor a alguma coisa. Na Educação o
significado de avaliar consiste em classificar o aluno através de provas, testes, trabalhos
dissertativos, etc.
Gimeno Sacristán e Perez Gomes em sua obra “Compreender e Transformar o Ensino” (2000, p.298)
afirma:
“A avaliação se refere a qualquer processo por meio do qual algumas ou várias características de um
aluno/a de um grupo de estudantes, de um ambiente educativo, de objetivos educacionais, de
materiais didáticos, professores/as, programas, etc., recebem a atenção de quem avalia em função
de alguns critérios ou pontos de referencias para emitir julgamento que seja relevante em
educação”.
A avaliação só será eficaz se ocorrer de forma interativa entre professor e aluno, ambos caminhando
na mesma direção em busca dos mesmos objetivos.
O aluno não deve ser um indivíduo passivo e o professor a autoridade que decide o que o aluno
precisa e deve saber. O professor não irá apresentar verdades, mas com o aluno irá investigar,
problematizar, questionar as teorias e juntos descobrirão as melhores alternativas para superá-los.
Uma avaliação deve se alicerçar em objetivos claros, simples, precisos, que conduzam a melhoria da
aprendizagem.
A avaliação fundamenta-se em pressuposto como:
É dinâmica: não é estática;
É continua: não é terminal;
É integrada: não é isolada do ensino;
É progressiva: não é estanque;
É abrangente: não restrita a alguns aspectos da personalidade do educando;
É versátil: não se efetiva sempre da mesma forma.
3
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
Didática do Ensino Superior
71
Valores: são os princípios ou as idéias que permitem às pessoas emitir um juízo sobre as
condutas e se sentido, como a solidariedade, o respeito, a responsabilidade e a
liberdade.
Aprende-se um valor quando foi interiorizado e foram elaborados critérios para tomar
posição frente àquilo que deve se considerar positivo ou negativo, critérios morais que
regem a atuação e a avaliação de si mesmo e dos outros.
Atitudes: são tendências ou predisposições relativamente estáveis das pessoas para
atuar de certa maneira, de acordo com valores determinados. São exemplos: cooperar, e
participar das atividades.
Aprende-se uma atitude quando a pessoa pensa, sente e atua de uma forma mais ou
menos constante, desde as mais instintivas até as fortemente reflexivas.
Normas: são padrões ou regras de comportamento que devemos seguir em
determinadas situações, constituem a forma pactuada de realizar certos valores
compartilhados por uma coletividade e indicam o que pode se fazer e o que não pode se
fazer neste grupo.
Aprende-se uma norma em diferentes graus: aceitação, embora não se entenda a
necessidade de cumpri-la; conformidade quando implica uma certa reflexão sobre o
significado da norma, podendo ser voluntária ou forçada; e quando se interiorizam as
normas e se aceitam como regras básicas de funcionamento.
EXEMPLOS DE VERBOS UTILIZADOS EM OBJETIVOS VOLTADOS PARA CONTEÚDOS