Corredores Ecologicos Miolo

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Corredores

Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil


ISBN 85-7300-159-3

9 788573 001594 Ecológicos


Uma abordagem integradora de
ecossistemas no Brasil

Moacir Bueno Arruda


Luís Fernando S. Nogueira de Sá
organizadores
Ministério do
Edições Ibama Meio Ambiente
Corredores Ecológicos
Uma abordagem integradora
de ecossistemas no Brasil
Ministério do Meio Ambiente
Marina Silva

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis


Marcus Luiz Barroso Barros

Diretoria de Ecossistemas
Cecília Foloni Ferraz

Diretoria de Gestão Estratégica


Leonardo Bezerra de Melo Tinôco

Centro Nacional de Informação Ambiental


José Ximenes Mesquita

Edições IBAMA
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Diretoria de Gestão Estratégica
Centro Nacional de Informação Ambiental
SAIN – Av. L4 Norte – Edifício-Sede – Bloco B
CEP: 70800-200 – Brasília – DF – Brasil
Telefones: (61) 316-1065
Fax: (61) 316-1249
e-mail: [email protected]

Brasília
2003

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ministério do Meio Ambiente
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Corredores Ecológicos
Uma abordagem integradora
de ecossistemas no Brasil

Moacir Bueno Arruda


Luís Fernando S. Nogueira de Sá
Organizadores

IBAMA
M M A
○ ○ ○ ○ ○ ○

2 0 0 3
Edição Equipe Técnica do Seminário
Edições IBAMA
Coordenação do Seminário
Revisão Luís Fernando S. Nogueira de Sá
Vitória Rodrigues
Nara Albuquerque Coordenação Científica do Seminário
Moacir Bueno Arruda
Projeto gráfico, diagramação
Denys Márcio Técnicos
Ana Lúcia de Aguiar
Capa Júlio Falcomer
Fátima Feijó Lúcia Pio dos Santos
Miguel von Behr
Mitzuru Watanabe
Ricardo Campos da Nóbrega
Suzana Maria Guimarães Ferreira
Tarcísio Proença Pereira
Zanoni Carmo Arouck Ferreira

C824 Corredores ecológicos: uma abordagem integradora de


ecossistemas no Brasil / Moacir Bueno Arruda, Luís
Fernando S. Nogueira de Sá (organizadores). – Brasília:
Ibama, 2003.
220 p. ; 16x22 cm.

Inclui Bibliografia.
ISBN 85-7300-159-3

1. Congresso. 2. Conservação ambiental. 3. Corredores


ecológicos. 4. Ecossistema. 5. Manejo de ecossistema. 6. Gestão
de recursos naturais. I. Arruda, Moacir Bueno. II. Sá, Luís
Fernando S. Nogueira de. III. Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. IV. Título.

CDU (2.ed.) 502.3(063)


Sumário

Apresentação .................................................................................... 7

Siglas ................................................................................................. 9

Corredores Ecológicos no Brasil – Gestão Integrada


de Ecossistemas ............................................................................... 11
Moacir Bueno Arruda

Corredores de Biodiversidade: O Corredor Central


da Mata Atlântica ............................................................................ 47
Gustavo A. B. da Fonseca
Keith Alger
Luiz Paulo Pinto
Marcelo Araújo
Roberto Cavalcanti

Combinando Comunidade, Conectividade e Biodiversidade


na Restauração da Paisagem do Pontal do Paranapanema como
Estratégia de Conservação do Corredor do Rio Paraná .................... 67
Cláudio Valladares-Pádua
Laury Cullen Jr.
Suzana Machado Pádua
Eduardo H. Ditt

Projeto Corredor Ecológico Araguaia-Bananal ................................. 81


Maurício Galinkin (coord.)
Adriana Dias
Edgardo M. Latrubesse
Fernando P. Scardua
André F. Mendonça
Moacir Bueno Arruda
Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré ............................... 133
Nanci Rodrigues
Joel Magalhães
Vitorinha de Ouro
Nilo Magalhães
Tânia Baraúna
Eloiza Eleena Della J. Nascimento
Cuniã – Francisco Figueiredo
Celso Franco
Rogério Vargas
Ana Maria Avelar
Alexis Bastos
Tânia Timóteo

Projeto Corredor de Biodiversidade de Santa Maria – Paraná ....... 145


Júlio Gonchorosky
Francisco de Assis Brito

A Importância dos Corredores Ecológicos ...................................... 159


Paulo Nogueira Neto

Corredores Ecológicos – Aspectos Legais ....................................... 167


Marialva Thereza Swioklo

Resultados das Oficinas Técnicas ................................................... 173

Lista dos Participantes .................................................................... 191


Apresentação

Esta publicação reúne algumas das mais recentes


experiências brasileiras de planejamento e gestão ambiental
apresentadas no I Seminário sobre Corredores Ecológicos no
Brasil, realizado pelo Ibama/Direc, em conjunto com a Jica –
Agência de Cooperação Internacional do Japão, em novembro
de 2001.
O seminário proporcionou a oportunidade para a
divulgação de projetos e depoimentos sobre corredores
ecológicos, em andamento em distintos biomas do país. As
discussões entre os participantes permitiram uma avaliação mais
concreta dos resultados encorajadores já alcançados por esses
projetos em diversas biorregiões brasileiras, tornando-os mais
visíveis e demonstrando exemplos da integração entre os esforços
governamentais, da sociedade organizada e comunitários para
trabalhar na escala de ecossistemas, dentro de um processo de
planejamento participativo cuja modelagem está se difundido
rapidamente.
As distintas abordagens propostas pelos autores e
coordenadores de projetos de corredores ecológicos revelaram
o atual estado da arte da complexa tarefa de harmonizar a
conservação da natureza com o desenvolvimento social e
econômico das comunidades que vivem e trabalham em uma
região estratégica, sob o ponto de vista de seus valores de
diversidade biológica, de seus recursos hídricos e de sua cultura,
em contraposição à fragmentação de habitats e seus efeitos
deletérios, entre os quais o isolamento de populações de animais
e plantas e a erosão genética.
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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Esses projetos demonstram a aplicação do instrumental


da gestão biorregional aos corredores ecológicos e sua contribuição
para a adoção de diretrizes, consensualmente produzidas, para
o saudável uso do solo, planejado e gerenciado para conservar
uma paisagem diversificada, proteger águas, solos e
biodiversidade.
Reconhecidos os significativos avanços e metas alcançadas
pelos projetos de corredores ecológicos no país e apreendidas
as lições da experiência acumulada, abre-se a discussão em busca
do aprimoramento dos métodos de planejamento e gestão
biorregional aplicáveis aos corredores ecológicos, de tal forma
que venham a consolidar sua posição de vanguarda no processo
de implementação das políticas públicas conservacionistas, em
direção ao cumprimento dos princípios do desenvolvimento
sustentável.
Nesse contexto, muitos desafios ainda precisam ser
vencidos especialmente quanto à capacidade de administrar
programas e projetos mais complexos e integrados, à
sistematização e o acesso às informações, ao envolvimento efetivo
de todos os grupos de atores sociais interessados e ao
fortalecimento e o vínculo de compromisso e responsabilidade
entre instituições já estabelecidas.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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SIGLAS

APA – Área de Proteção Ambiental


BM – Banco Mundial
CDB – Convenção da Diversidade Biológica
BIODIVERSITAS – Fundação Biodiversitas
CI – Conservation International
CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa
DFID – Agência Inglesa de Cooperação Internacional
DIREC – Diretoria de Ecossistemas do Ibama
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Agropecuária
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
GEF – Global Environmental Facility
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPA – Instituto de Pesquisa da Amazônia
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica e Social
ISA – Instituto Socioambiental
ONG – Organização Não-Governamental
MMA – Ministério do Meio Ambiente
RI – Reserva Indígena

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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SNE – Sociedade Nordestina de Ecologia


UC – Unidade de Conservação
TNC – The Nature Conservancy
UFC – Universidade Federal do Ceará
UFG – Universidade Federal de Goiânia
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
UFU – Universidade Federal de Uberlândia
UnB – Universidade de Brasília
URPI – Universidade Regional do Piauí
WWF – Fundo Mundial para a Conservação da
Vida Silvestre

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CORREDORES ECOLÓGICOS NO BRASIL
GESTÃO INTEGRADA DE ECOSSISTEMAS
Moacir Bueno Arruda*

O patrimônio natural brasileiro é sobejamente


reconhecido como o mais significativo do planeta. Essa riqueza
natural é expressa pela extensão continental, pela diversidade e
endemismo das espécies biológicas e seu patrimônio genético,
bem como pela variedade ecossistêmica dos biomas ecótonos,
ecorregiões e biorregiões.
A abordagem analítica da evolução filosófica, conceitual
e metodológica da conservação da natureza mostra a sua história
marcada por tendências claramente identificadas ao longo das
últimas décadas.
Até os anos sessenta, houve um enfoque na pesquisa
científica e nos esforços de manejo, voltados às populações de
espécies biológicas e seus habitats (Maulby, 1998).
Os anos setenta e oitenta foram marcados pela expansão
da rede mundial de áreas protegidas, especialmente em países
de grandes dimensões como EUA, Canadá, Austrália, Índia,
Colômbia e Brasil, entre outros.
A ECO-92 e suas resoluções levaram à integração da
conservação da biodiversidade a um contexto socioeconômico
mais amplo, com a implementação de projetos de conservação
articulados a princípios de desenvolvimento sustentável. A
Convenção da Diversidade Biológica – CDB, da qual o Brasil é

* Biólogo, mestre e doutor em ecologia pela UnB, Coordenador de Estudos de


Representatividade Ecológica do Ibama/Direc/Cgeco.
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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signatário, está assentada sobre três grandes eixos: conservação


da biodiversidade; uso sustentável dos recursos naturais e distribuição
eqüitativa das riquezas (Brasil.MMA, 2000)(Figura 1).
De acordo com as deliberações dos países membros da
CDB, os esforços devem estar voltados às principais escalas de
conservação – genética, espécies biológicas, áreas protegidas e
ecossistemas – de forma equilibrada.
A Resolução V da CDB recomenda aos países signatários
a implementação de ações de conservação com enfoque
ecossistêmico (ecosystem approach), com o objetivo de ampliar
a escala de abrangência. A União Internacional para a
Conservação da Natureza – UICN criou a Comissão de
Ecossistemas, além das Comissões de Áreas Protegidas e de Vida
Silvestre já existentes. A Unesco e a UICN estão organizando
workshops internacionais para discutir o andamento das ações
de enfoque ecossistêmico, nas quais o Brasil tem participado
(UNEP, 1998).
Os abrangentes resultados dos estudos de prioridades
para a conservação da biodiversidade por bioma (Pronabio)
(MMA,1998), já concluídos; os estudos de representatividade
ecológica por bioma realizados (Brasil.Ibama.WWF, 2000); os
diversos projetos de corredores ecológicos implementados; os
projetos de gestão biorregional e os estudos de valoração
econômica da natureza contribuem para uma visão holística da
biodiversidade e revelam os benefícios de conservar ecossistemas
inteiros, além de suas partes ou elementos(ARRUDA, 1999).
Implementados estrategicamente, os corredores e as zonas
de amortecimentos podem mudar fundamentalmente o papel
ecológico das áreas protegidas. Os corredores servem para
aumentar o tamanho e as chances de sobrevivência de populações
de diferentes espécies, além de possibilitarem a recolonização com
populações de espécies localmente reduzidas e, ainda, permitirem
a redução da pressão sobre o entorno das áreas protegidas.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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Enfoque Ecossistêmico no Contexto da


Convenção de Diversidade Biológica

Conservação
da
Biodiversidade

Uso Distribuição
Sustentável Eqüitativa das
da Riquezas da
Biodiversidade Biodiversidade

Implementação dos três objetivos


de forma integrada e equilibrada

Figura 1 – Objetivos da Convenção da Biodiversidade.

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Base Conceitual e Teórica

A filosofia e os princípios do manejo de ecossistemas


estão rapidamente convergindo para abordagens que sugerem
que, para se conseguir sustentabilidade e conservar a
biodiversidade, são necessárias mudanças nos programas de
conservação, direcionando o manejo para a escala de
ecossistemas (Miller, 1997).

Histórico

Dentre as iniciativas pioneiras do homem, na sua relação


com a natureza, estava o manejo de animais silvestres que lhe
interessavam abater ou domesticar. Esta mesma atitude de manejo
se voltava às plantas medicinais e florestas, fatos relatados no
Oriente e Ocidente desde períodos pré-socráticos. A partir do
século XIII, foram criadas leis que oficializavam a proteção de
animais e florestas nos países europeus (Arruda, 1999).
Desde o século XVIII, no Brasil, desenvolvem-se
iniciativas e legislações voltadas à conservação da natureza. No
Brasil colonial foi criado o Jardim Botânico, em 1811, para
pesquisar a rica flora brasileira que encantara a família real e os
naturalistas europeus. André Rebouças foi um visionário no seu
tempo, pois, em 1876, já defendia a criação de áreas protegidas,
influenciado pela iniciativa dos norte-americanos. Esse sonho
veio concretizar-se somente em 1937, com a criação do Parque
Nacional de Itatiaia.
A conscientização e a mobilização da sociedade, com
relação às questões ambientais, passaram a ser consideradas em
escalas regionais e globais somente a partir dos anos setenta,
após as grandes catástrofes ambientais e os efeitos globais da
poluição e das mudanças climáticas. No campo da biodiversidade,

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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vários países haviam iniciado ações macrossistêmicas de


abordagens biogeográficas, planejamento e gestão de biomas e
ecossistemas (macroconservation), cabendo citar a Austrália, o
Canadá, os Estados Unidos e a ex-União Soviética.
O Brasil, como país de maior biodiversidade do planeta,
foi o primeiro signatário da Convenção sobre a Diversidade
Biológica – CDB e é considerado o principal megabiodiverso –
países que reúnem ao menos 70% das espécies vegetais e animais
do planeta – pela Conservation International (2000).
A biodiversidade pode ser qualificada pela diversidade
em ecossistemas, em espécies biológicas, em endemismos e em
patrimônio genético. Devido a sua dimensão continental, grande
variação geomorfológica e climática, o Brasil abriga 7 biomas,
79 ecorregiões já classificadas e incalculáveis ecossistemas
(ARRUDA, 2000).
A biota terrestre brasileira possui a flora mais rica do mundo,
com até 56.000 espécies de plantas superiores já descritas, acima de
3.000 espécies de peixes de água doce, 517 espécies de anfíbios,
1.677 espécies de aves, 517 espécies de mamíferos e pode ter até 10
milhões de insetos (Conservation International, 2000).
É importante salientar que o Brasil abriga a maior rede
hidrográfica existente e uma riquíssima diversidade sociocultural.

Principais Escalas de Conservação da


Biodiversidade

As ações de conservação da biodiversidade, relativas ao


seu manejo, podem ocorrer em diversas escalas, conforme a
abordagem adotada. Do geral para o específico, reconhecemos
em escalas espaciais os ecossistemas globais oceânicos e
continentais, com seus climas, cujos acordos ocorrem no campo
da diplomacia, e a implementação de tratados, acordos e

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convenções internacionais, tais como diversidade biológica, terras


úmidas etc. (Miller, 1997) (Figura 2).

GLOBAL
ECOSSISTEMA - BIOMA

ESPÉCIES
GENÉTICA
Figura 2 – Escalas de Conservação da Biodiversidade (CDB)(Modif. WRI.IUCN,
1992).

Ao abordar os ecossistemas terrestres e marinhos, na


escala dos biomas e ecorregiões, temos as classificações
biogeográficas, os estudos de representatividade e a definição
de prioridades para conservação da biodiversidade. No campo
da implementação, temos os planos de gestão, manejo e ação
executados. Este item será detalhado mais adiante.
Até o final dos anos oitenta, a criação de áreas protegidas
foi a estratégia central para a conservação da biodiversidade;
todavia, seus principais planejadores perceberam que somente
amostras parciais e de difícil implementação, especialmente nos
países tropicais pobres, não garantiriam a variedade e viabilidade
genética das espécies. Jonathan Lash, presidente do World
Resources Institute, assim se reporta:
"Ilhas de diversidade biológica castigadas pela
tempestade, em meio a um mar de assentamentos humanos:
este bem pode ser o destino dos parques e áreas protegidas
mundiais, à medida que as áreas naturais cedem lugar a fazendas,
pastagens e povoados. As terras deixadas de lado pela

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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conservação têm sido o centro dos esforços mundiais para


proteger a diversidade biológica, cuja estratégia está sob cerco"
(Miller, 1997).
Como Miller argumenta, "deve-se primeiro expandir as
escalas geográficas dos programas de conservação, incorporando
ecossistemas inteiros de forma integrada às pessoas e instituições
que lá vivem e trabalham, fora das unidades de conservação"
(Miller, 1997).
A IUCN tem acenado, desde a década de setenta, com a
necessidade da gestão integrada regional (Miller, 1970); no livro
Managing Pr otected Areas in the Tropics, MacKinnon (1986)
dedicou a esta questão o capítulo 5, Integrating Protected Areas
in Regional Land-Use Programmes. Noutra recente edição,
intitulada Conservation of Biodiversity and New Regional
Planning, editada pela IUCN, Saunier & Meganck (1995)
elaboraram o capítulo 5, Integrating Park and Regional Planning
through and Ecosystem Approach, onde propõem os principais
critérios para a gestão integrada das áreas protegidas numa
abordagem regional e ecossistêmica.
No Brasil, as unidades de conservação de proteção integral
cobrem aproximadamente 3% do território, e a pergunta formulada
é: os demais 97% do território nacional estarão abandonados, sem
estratégias e ações de conservação? Não, a resposta está na gestão
e manejo integrados dos biomas e ecossistemas.
O manejo na escala das espécies está consagrado por
meio de inúmeros projetos em todo o mundo, cujos objetivos são
preservar espécies ameaçadas de extinção, espécies endêmicas e
espécies-problemas e aquelas que podem ser criadas em cativeiro:
são os criadouros científicos, conservacionistas e comerciais. Os
projetos mais conhecidos de preservação são: 1. o urso panda da
China; 2. os grandes mamíferos da África; 3. os felinos da Ásia; 4.
os primatas do Brasil (micos-leões); as aves e as tartarugas marinhas
e de ambientes límnicos; 5. os criadouros de jacarés, capivaras,

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emas etc. também adotam planos de manejo e planos de ação,


por exemplo, o Plano de Ação dos Mamíferos Aquáticos do Brasil
(Ibama, 1997). Embora o trabalho de preservação de espécies
seja digno de consideração e continuidade, questionam-se muito
os seus indicadores de resultados, bem como os índices de custo/
benefício. Parece ser mais razoável e econômica a conservação
do habitat da espécie-alvo, o que levaria à proteção de todas as
espécies ali existentes (Primack, 1993).
Quando se trata de biodiversidade, é usual referir-se
somente à fauna e à flora, esquecendo-se dos outros reinos
biológicos existentes. Numa breve referência, cabe lembrar a imensa
diversidade dos organismos microbiológicos. Existe uma rede
internacional de microbiologistas que estão estudando as
consideráveis interferências qualitativas provocadas no mundo
microbiológico, especialmente no solo, pelas atividades antrópicas,
sobretudo aquelas de impactos globais. Esses estudos ganharam
importância recente, com o desenvolvimento da biologia molecular,
da genética e da biotecnologia.

Aspectos Legais Relevantes

A Constituição da República Federativa do Brasil,


no seu capítulo VI, art. 225, já adota uma abordagem onde
fica visível a orientação para a conservação nas escalas de:
a. ecossistemas (biomas); b. áreas especialmente protegidas
(Unidade de Conservação–UC, Reserva Indígena–RI etc.);
e c. espécies e patrimônio genético. O parágrafo 1º incumbe
ao poder público conservar os ecossistemas da seguinte
forma: inciso I "preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas"; o parágrafo 4º especifica que "a Floresta
Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônios
nacionais, e sua utilização far-se-á na forma da lei...".

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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A legislação brasileira é profícua na regulamentação e


no ordenamento dos ecossistemas e no acesso aos recursos
naturais, mas não cabe aqui enfocar este aspecto. Entretanto, o
Decreto nº 3.059/99, que aprova a Estrutura Regimental do Ibama,
ao tratar sobre a diretoria responsável pela biodiversidade,
determina que esse objeto será abordado nas três escalas, da
seguinte forma:
• Ecossistemas – inciso IV – promoção da gestão
integrada dos ecossistemas; inciso V – promoção e
execução de estudos de representatividade e de
prioridades para a conservação de ecossistemas; inciso
III – controle, monitoramento do manejo da fauna e
flora nos ecossistemas;
• Unidades de Conservação – incisos I, VI e VII;
• Espécies e recursos genéticos – incisos II, III e VIII.

Amparo Legal de Corredores Ecológicos

A legislação mencionada a seguir aborda questões


relacionadas aos corredores ecológicos:
o artigo 7º do Decreto nº 750/93 trata dos "corredores
entre remanescentes" de Mata Atlântica; a Lei nº 4.771/65 institui
o Código Florestal, refere-se às áreas de preservação permanente
e reservas legais; a Resolução Conama nº 9/96 estabelece
parâmetros e procedimentos para a identificação e implementação
de corredores ecológicos; a nova Lei do SNUC, nº 9.985/00,
conceitua os corredores; o novo Regulamento do SNUC trata
dos corredores; as Portarias/Ibama estabelecem os comitês
gestores e as áreas dos corredores; o Decreto nº 3.833/01, que
trata da a Estrutura do Ibama, estabelece a devida alocação dos
projetos de corredores ecológicos na estrutura; iniciativas
internacionais, tais com a Convenção da Diversidade Biológica,

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Convenção Ransar, a Unesco e a IUCN têm despendido esforços


no enfoque biorregional de ecossistemas e corredores ecológicos.

Principais Conceitos Empregados

• Gestão Biorregional/Ecorregional – é o método


de gestão de conservação da natureza que objetiva
englobar ecossistemas inteiros, para a conservação, o
uso sustentável dos recursos naturais e a repartição
eqüitativa da riqueza gerada.
• Biorregião – espaço geográfico onde está incluído
um ou mais ecossistemas, identificados pela topografia,
cobertura vegetal, socioeconomia, cultura e história
dos habitantes locais, governos e comunidade científica
(K. Miller). Por exemplo: bioma, biorregião,
ecorregião, corredor ecológico, reserva da biosfera,
bacia hidrográfica.
Algumas características da gestão biorregional: aplica-se
a regiões extensas e bioticamente viáveis; são necessários:
iniciativa e manejo; suas estruturas podem compor-se de mosaicos,
corredores ecológicos e zonas-núcleo; busca a sustentabilidade
econômica; pressupõe o envolvimento integral de grupos de
atores sociais; integração interinstitucional; flexível, com o manejo
adaptativo; uso do conhecimento científico e popular;
recuperação, além da conservação; informação consistente e
compreensível; desenvolvimento de habilidade cooperativa;
cooperação internacional: técnica e financeira.
• Corredor Ecológico – "É uma grande região, onde
estão preservadas significativas extensões de áreas
naturais, preferencialmente de forma contínua,
diminuindo o isolamento entre os indivíduos de uma
mesma espécie" – Projeto Corredor Cerrado-Pantanal.
(Conser vation Inter national, 2000).

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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"São porções de ecossistemas naturais ou seminaturais,


ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o
fluxo de genes e movimento da biota, facilitando a dispersão de
espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a
manutenção de populações que demandam, para sua
sobrevivência, áreas com extensão maior do que aquelas das
unidades individuais" (SNUC, 2000).
"Um corredor ecológico é um conjunto de ecossistemas
que compõe uma eco/biorregião, conectando populações
biológicas e áreas protegidas, interpretado como unidade de
planejamento. Sua gestão visa conservar a biodiversidade,
promover o uso sustentável dos recursos naturais e a distribuição
eqüitativa das riquezas" (Ibama, 1998).
"São grandes extensões de ecossistemas florestais
biologicamente prioritários na Amazônia e na Mata Atlântica,
delimitados em grande parte por conjuntos de unidades de
conservação (existentes ou propostas) e pelas comunidades
ecológicas que contêm" (Projeto Corredores Ecológicos, MMA/
PPG7, 1997).
"É uma faixa de cobertura vegetal existente entre
remanescente de vegetação primária, em estágio médio e avançado
de regeneração, capaz de propiciar habitat ou servir de área de
trânsito para a fauna residente nos remanescentes. Os corredores
entre remanescentes constituem-se de faixas de cobertura vegetal
existentes, nas quais seja possível a interligação de remanescentes,
em especial às unidades de conservação e áreas de preservação
permanentes" (Resolução Conama nº 9/96).
• Fundamentos – ampliar a escala de conservação da
biodiversidade, passando da conservação de espécies
e áreas protegidas isoladas para a escala de
conservação de ecossistemas, ecorregiões e biomas;
todos os ecossistemas, áreas protegidas e interstícios

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devem estar integrados numa mesma estratégia de


conservação, definida em comum acordo com as
partes envolvidas.
• Ecorregião – "É um conjunto de comunidades
naturais, geograficamente distintas, que compartilham
a maioria das suas espécies, dinâmicas e processos
ecológicos, e condições ambientais similares, nas quais
as interações ecológicas são críticas para sua
sobrevivência a longo prazo" (Dinerstein, 1995).
• Estudos de Representatividade Ecológica no
Brasil – os estudos de representatividade ecológica
têm por objetivo avaliar como estão representados e/
ou protegidas as espécies biológicas, a vegetação, os
habitats, os ecossistemas e as áreas protegidas no
sistema regional ou nacional de conservação da
natureza.
Os estudos de representatividade ecológica levam em
consideração os diversos elementos dos ecossistemas, tais como
riqueza biológica, vegetação, distribuição de áreas protegidas,
antropismo e fatores físicos. Verificam como os diversos
ecossistemas – biomas, ecorregiões e biorregiões – estão sendo
representados, por meio de ações conservacionistas como áreas
protegidas, corredores ecológicos, projetos de preservação de
espécies etc. Os resultados do cruzamento destas informações
possibilitam chegar a uma análise de lacunas, que deverão ser
consideradas na definição de prioridades de conservação
(Ibama.WWF, 2000).
Os métodos de identificação de ecorregiões, análise de
lacunas, gestão biorregional e ecorregional estão sendo
empregados pelas principais instituições conservacionistas
mundiais, que resultam na padronização de procedimentos e na
eficiência nas ações em escala global.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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Iniciativas Voltadas à Conservação da


Biodiversidade na Escala de Ecossistemas

A Estratégia Global para a Biodiversidade, elaborada


pelo WRI e IUCN para a ECO-92, enfatizava o reconhecimento
da conservação em todas as escalas necessárias (WRI/IUCN, 1992)
(Figura 1).
A Agenda 21, nos seus capítulos 10, 12, 13 e 17, trata
principalmente da conservação dos ecossistemas por inteiro. O
capítulo 15, que trata da biodiversidade, embasou a Convenção
da Biodiversidade, que por sua vez aprofundou a abordagem
da gestão integrada de ecossistemas (MMA, 2000).
O Fourth Meeting of the Conference of the Parties to the
Convention on Biological Diversity, no item b. Ecosystem
Approach, reconhece que, em muitas decisões adotadas nos
encontros anteriores, "the ecosystem approach has been adressed
as a guiding principle...", cuja terminologia empregada tem sido
"...ecosystem approach, ecosystem process-oriented approach,
ecosystem management approach", e entende que a abordagem
ecossistêmica foi adotada como orientação geral para a análise e
implementação dos objetivos e dos vários programas da
Convenção da Biodiversidade. A abordagem da conservação
segundo a sua escala prossegue pelo o item c. Alien species that
threaten Ecosystems, Habitats or Species (UNEP, 1998).
A gestão integrada dos ecossistemas pressupõe a atividade
em dois planos principais:
• análise da classificação biogeográfica e/ou zoneamento
dos biomas e ecossistemas (províncias, ecorregiões e
zonas);

23
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• ações de gestão e manejo, tais como: elaboração de


planos de ação, planos de gestão e manejo, estudos
de prioridades e representatividade que se refere à
implementação de ações concretas.

Classificação Biogeográfica de Ecossistemas

Robert Bailey, um dos pioneiros e mais reconhecidos


conservacionistas, baseado no Ecosystem Management Analysis
Center da USDA Forest Service, Califórnia, afirma:
"There are several reasons for recognizing ecosystems at
various scales. Ecosystems are nested or reside within each other.
The boundaries of ecosystems, however, are never closed or
impermeable...Because of the linkages among systems,
modification of one system may affect the operation of
surrounding systems" (Bailey, 1996) 1 .
O WWF/BM produziu o trabalho Una Evaluación del
Estado de Conser vación de las Eco-r egiones Ter r estr es de
América Latina y el Caribe, coordenado por Eric Dinerstein,
no qual classifica as províncias e biomas em ecorregiões
menores, baseados em critérios de diversidade biológica
(Dinerstein, 1995).

1
Bailey produziu alguns trabalhos que se tornaram clássicos, tais como Ecoregions
for the United States (1976), Testing an ecosystem regionalization (1984), Ecosystem
Geography (1996).

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Os países de dimensões continentais adotam a


classificação dos ecossistemas com escalas, critérios e
nomenclaturas semelhantes. A hierarquia espacial dos
ecossistemas, de acordo com as escalas geográficas, pode ser:
macroecossistemas, mesoecossistemas e microecossistemas. Do
ponto de vista biogeográfico, adotam a seguinte classificação: a.
Estados Unidos – província, bioma, landtype, ecorregiões; b.
Canadá – ecorregião, ecodistrito, ecossítio etc.; c. Grã-Bretanha –
zona de terra, região de terra, sistema de terra; d. Austrália –
ecorregiões, sistema de terra; e e. ex-União Soviética – província,
zona, facia (Bailey, 1996).

Classificação Biogeográfica de
Ecossistemas no Brasil

A diversidade biológica no Brasil é expressa em espécies


biológicas e em biomas, ecorregiões, fisionomias e diversas matizes
culturais unificadas pelo idioma português. É notável a
diferenciação das formas culturais de apropriação e manejo dos
recursos naturais pelas populações, conforme o ambiente onde
se encontram.
Desde o período colonial o Brasil foi visitado por
naturalistas europeus que se embrenharam pelo sertão, atraídos
pela exuberância da nossa biota. Basta citar alguns personagens-
referência como Darwin, Martius, Langsdorff e Lund. Os
naturalistas tinham, por princípio, tentar classificar os elementos
da natureza: o relevo, os animais, as plantas e as paisagens;
assim desenvolveu-se a biogeografia. Vários pesquisadores
classificaram o país de acordo com as paisagens e ecossistemas,
tais como Ab'Saber (1967), Rizzini (1963), Eiten (1983), IBGE
(1991), donde foram propostos os biomas e províncias
biogeográficas.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Devido à dimensão continental do Brasil, as


classificações biogeográficas existentes apresentam biomas com
extensão muito grande, que são: a Floresta Amazônica, a Mata
Atlântica, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga, os Campos Sulinos
e os ecossistemas costeiros, que possuem as suas identidades
físicas, climáticas, biológicas e culturais. Todavia, esses biomas
contêm inúmeras áreas compartimentadas, que podem ser
classificadas como províncias, ecorregiões, biorregiões e zonas,
bem delimitadas, necessárias ao trabalho de planejamento e
gestão ambiental (Figura 3).
O MMA, o Ibama/Direc e as principais ONGs
conservacionistas atuantes no Brasil, como WWF, CI, Biodiversitas
e TNC, a partir de seminário realizado em dezembro de 1998,
assumiram o compromisso de aplicar aos biomas brasileiros a
divisão em ecorregiões com base na metodologia desenvolvida
por Dinerstein et al. (1995), do WWF-EUA. Foram concluídos os
estudos dos biomas Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga, e do
Cerrado em fase final.
Sobre o mapa de ecorregiões é sobreposto o mapa das
áreas delimitadas pelas áreas protegidas e o mapa dos tipos de
vegetação, e obtêm-se, assim, a análise e os resultados das
ecorregiões que estão ou não representadas por unidades de
conservação ou vegetação; é o que se denomina “análise de
lacunas” (gap analysis) (Figura 4).
Outras atividades podem ser desenvolvidas no campo
do ordenamento territorial, por exemplo, o zoneamento
ambiental. Estão sendo realizados alguns estudos de zoneamento
para os biomas, como é o caso do zoneamento ecológico e
econômico da Amazônia. A Embrapa realizou o zoneamento
Agroecológico do Nordeste, que parece atender aos objetivos
propostos. A compreensão que temos é a de que o zoneamento
ambiental está mais adequado e produz melhores resultados
quando aplicado a áreas menores, como no planejamento

26
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Figura 3 – Biomas e Ecótonos do Brasil.

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Figura 4 – Ecorregiões do Brasil.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

biorregional, em unidades de conservação e áreas urbanas. O


Ibama detém boa experiência de zoneamento ambiental,
especialmente em Áreas de Proteção Ambiental (APA) (Ibama,
2001; MMA, 2001).

Gestão e Manejo de Ecossistemas

O WRI publicou o livro National Biodiversity Planning,


Guidelines based on Early Experiences Around the World, no
qual analisa a implementação da Convenção da Biodiversidade
em diversos países no mundo, em que ficam evidentes as
estratégias adotadas, tomando-se a conservação nas três escalas
básicas: genética, espécies e ecossistemas. O texto ensina
também os passos básicos para se trabalhar essas estratégias
(WRI.IUCN.UNEP, 1995).
Kenton Miller, a principal personalidade da conservação
na atualidade, desde o final da década de sessenta refere-se à
efetividade de se trabalhar a conservação integrada regionalmente.
É um precursor na proposição do planejamento biorregional como
método para se potencializar a conservação na sua escala máxima,
ou seja, na escala de ecossistema. Miller fala em "equilibrar as
escalas" por meio da gestão biorregional, na qual estariam presentes
projetos de preservação de espécies, áreas protegidas e unidades
de conservação, integrados ao ecossistema regional. Relata diversas
experiências de planejamento biorregional no mundo,
especialmente as por ele conduzidas, como as de Yellowstone e
Reserva La Amistad. Miller esteve no Brasil em 1996, a convite do
Ibama, onde proferiu palestras e coordenou um de seus seminários
que deu origem à publicação, pelo Ibama, do livro Em Busca de
Um Novo Equilíbrio – diretrizes para aumentar as oportunidades
de conservação da biodiversidade por meio do manejo biorregional
(Miller, 1997).

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Com o objetivo de definir estratégias e linhas de ação


para a conservação e o manejo dos ecossistemas, numa perspectiva
econômica e social, após diversos workshops, foi elaborado o
relatório The ecosystem approach: healthy ecosystems and
sustainable economies, coordenado pela Interagency Ecosystem
Management Task Force (1995).
O Keystone Center, Colorado, EUA, conduziu um projeto
apoiado por várias instituições, em que diversos seminários regionais
culminaram com a elaboração do The Keystone National Policy
Dialogue on Ecosystem Management, com as bases metodológicas,
passos para a execução, participação e políticas para a implementação
da gestão nacional dos ecossistemas (The Keystone Center, 1996).
Todos os países que possuem tradição no campo da
conservação da biodiversidade desenvolvem experiências de
planejamento e gestão na escala de ecossistemas, tais como EUA,
Canadá, Austrália, Grã-Bretanha e Colômbia, conforme as
orientações da Convenção da Biodiversidade e da Comissão de
Ecossistemas da União Internacional para a Conservação da
Natureza – IUCN.

Gestão e Manejo de Ecossistemas no Brasil

Foram desenvolvidos vários projetos e iniciativas voltadas


à conservação da biodiversidade na escala de ecossistemas. A
seguir, os principais, que se tornaram conhecidos por sua relevância:
• Estudo de Prioridades para a Conservação da
Biodiversidade da Amazônia, o Workshop 90, provido
pela Conservation International – CI, Inpa, Ibama e
outros; Estudo de Prioridades para Conservação da
Biodiversidade da Mata Atlântica do Nordeste, promovido
pelo MMA, CI, Biodiversitas, SNE, e Ibama, em 1993.
Em 1999, foram promovidos alguns workshops
financiados pelo GEF, sobre as ações prioritárias para a
conservação da biodiversidade: bioma cerrado e pantanal,
organizado pela CI, Biodiversitas e outros; bioma floresta

30
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

amazônica, organizado pelo Instituto Sócio Ambiental –


ISA, governo do Amapá, Imazon e outros; bioma mata
atlântica e campos sulinos, organizado pela CI, ISA,
governo de São Paulo e outros. Em 2000 ocorreu o
workshop do bioma caatinga, organizado pela UFPE,
CI e outros. Alguns estados também têm realizado estudos
desse gênero, como é o caso de São Paulo e Minas
Gerais (MMA, 2003).
• Estudos de Representatividade Ecológica – o Ibama e a
WWF Brasil, a partir de 1998, desenvolveram os estudos
de representatividade ecológica para os ecossistemas
brasileiros. Esses estudos apontaram a existência de 79
ecorregiões e concluíram que o Brasil, ao se considerar
as unidades de conservação de proteção integral federais,
além de ser um dos países com a menor porcentagem
de áreas especialmente protegidas – apenas 3,52% –,
tem essa rede mal distribuída entre seus biomas. Os
estudos demonstraram também que o cerrado, o segundo
maior bioma brasileiro e um dos mais ameaçados do
mundo, tem somente 2,48% de sua área em unidades
de conservação. O bioma mata atlântica, o mais
ameaçado de todos, com apenas 7% da sua cobertura
original, tem apenas 1,93 % de áreas especialmente
protegidas (UC). O bioma caatinga possui apenas 0,78%
de superfície conservada por unidades de conservação
(Ibama.WWF, 2000, Ferreira & Arruda, 2001).
• O Estudo de Representatividade Ecológica no Bioma
Amazônia reconheceu 23 ecorregiões, com 70 tipos
diferentes de vegetação primitiva e seis tipos de
vegetação antropizada (secundária). Os resultados
estatísticos mostram a extrema desigualdade existente
nos níveis de proteção de uma ecorregião para outra
(Ibama.WWF, 2000) (Tabela 1). Outros estudos estão
em andamento, tais como o do bioma Cerrado (Ibama,
UnB, UFU) e bioma Caatinga (TNC e outras ONGs),
já foram concluídos (Ferreira & Arruda, 2001).

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Elaborou-se o Plano de Conservação da Bacia do


Alto Paraguai – Pantanal, com a participação de
diversas instituições e financiado pelo Programa
Nacional do Meio Ambiente/Banco Mundial. É um
plano consistente, composto de oito volumes com
detalhadas ações e atividades (MMA.PCBAP, 1997).
• Projeto de Conservação da Biodiversidade do Bioma
Cerrado (BBC), que está sendo implementado pela
Embrapa/Cpac, UnB e Ibama/Direc/Cgeco. Este projeto
resulta de cooperação bilateral com a Grã-Bretanha/
DFID e está no quarto ano da sua implementação.
Nesta segunda fase, o Ibama é a instituição responsável
pelas atividades de conservação, tendo como
incumbência a definição de ecorregiões, corredores
ecológicos e unidades de conservação.
• Projeto SHIFT – Studies on Human Impact on Forests
and Floodplains in the Tropics – cooperação bilateral
com o Governo da Alemanha que está sendo
executado pelo CNPq e Ibama, em parceria com o
Inpa, Embrapa e universidades desde 1994 (SHIFT
1998). Está também em andamento a elaboração do
Plano de Ação para a Mata Atlântica, com a
participação de diversas instituições, com
financiamento do PPG7, coordenado pelo MMA.
• O Ibama/Direc está desenvolvendo projetos-piloto de
planejamento e gestão biorregional. Citamos o Projeto
de Planejamento Biorregional do Ecomuseu do
Cerrado, em parceria com o Instituto Huah; o Projeto
de Gestão Biorregional do Maciço do Baturité – CE,
cuja implementação conta com a participação da Uece,
Semace e prefeituras locais; e o Projeto Delta do
Parnaíba/Lençóis Maranhenses, PI, MA, em cooperação
com a UFMA, UFCE e URPI (Arruda, 1997). Os projetos
de gestão biorregional de corredores ecológicos serão
tratados detalhadamente mais à frente.

32
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Base Metodológica da Gestão Biorregional


Aplicada aos Corredores Ecológicos

O presente item trata dos princípios e técnicas relativos


à metodologia empregada na gestão biorregional, de forma
itemizada e sintética.
Os doze princípios adotados para a gestão de
ecossistemas pela Comissão de Ecossistemas, Convenção da
Biodiversidade (Maultby, 1998):

1 . a eleição dos objetivos da gestão dos recursos terrestres,


hídricos e vivos deve estar nas mãos da sociedade.
2 . a gestão deve estar descentralizada, ao nível apropriado
mais baixo.
3 . os administradores de ecossistemas devem ter em conta
os efeitos (reais ou possíveis) de suas atividades nos
ecossistemas adjacentes e em outros ecossistemas.
4 . dados os possíveis benefícios derivados de sua gestão,
é necessário compreender e manejar o ecossistema num
contexto econômico.
5 . manter os serviços dos ecossistemas, a conservação da
estrutura e o funcionamento dos sistemas deveriam ser
os objetivos prioritários do enfoque ecossistêmico.
6 . os ecossistemas devem ser geridos dentro dos limites do
seu funcionamento.
7 . o enfoque por ecossistemas deve aplicar-se às escalas
espaciais e temporais apropriadas.
8 . consideradas as diversas escalas temporais e os efeitos
retardados que caracterizam os processos dos ecossistemas,
deveriam ser estabelecidos objetivos no longo prazo na
gestão dos ecossistemas.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

9 . na gestão, deve reconhecer-se que mudanças são


inevitáveis.
1 0 . no enfoque por ecossistemas, deve-se procurar o
princípio apropriado entre a conservação e a utilização
da diversidade biológica e sua integração.
1 1 . o enfoque ecossistêmico deveria ter em conta todas as
formas de informação pertinentes, incluindo os
conhecimentos, as inovações e as práticas das
comunidades científicas, indígenas e locais.
1 2 . o enfoque ecossistêmico deve interferir em todos os
setores da sociedade e nas disciplinas científicas
pertinentes.

Formulam-se a seguir alguns aspectos metodológicos de uma


abordagem integradora da conservação de corredores ecológicos.

Técnicas e critérios empregados na gestão


biorregional de corredores ecológicos

Critérios de delimitação científicos, a partir dos


seguintes estudos:

a. Ecologia de paisagem; b. ecorregiões, c. bacias hídricas;


d. estudo de prioridades para a conservação da biodiversidade
por bioma; e. estudos de representatividade dos biomas e
ecossistemas em relação à biota, áreas protegidas e aspectos
socioeconômicos; f. síntese e consenso por meio de workshops.
• Planejamento e articulação socialparticipativos;
• Inclusão de todos os atores sociais pela adesão de
estados, municípios e ONGs;
• Aplicação de instrumentos de conservação e
ordenamento territorial;

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Capacitação técnica do segmento governamental e


das comunidades locais;
• Difusão de tecnologias sustentáveis;
• Discussão política sobre a mudança de modelo de
desenvolvimento centralizado por modelo sustentável.

Principais etapas e características do


planejamento e da ação

• Elaboração de projeto básico;


• Desenho do sistema de gestão;
• Workshop de validação do projeto básico;
• Emprego do planejamento integrado e participativo;
• Emprego de SIG – Sistema de Informações
Geográficas;
• Execução de ações prioritárias por todos os agentes
envolvidos;
• Implementação de ações nas três escalas de
conservação (espécies, habitats e ecossistemas);
• Implementação de ações e projetos para os três
objetivos da CDB;
• Oficialização do Comitê Gestor;
• Realização de wokshops para avaliação e correções.

Desafios para os gestores biorregionais

• Capacidade de administrar programas e projetos mais


complexos e integrados;
• Processos de planejamentos que envolvem interesses,
autoridades e responsabilidades diferentes;

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Envolvimento efetivo de todos os grupos de atores


sociais interessados;
• Fortalecimento e vínculo das instituições existentes
(ou criação de novas);
• Atuar, antecipadamente, para enfrentar desafios, a fim
de reduzir atrasos e conflitos;
• Compromisso com o legado às próximas gerações
(Miller, 1997).

Principais Corredores Ecológicos


Implementados no Brasil

Diversos projetos de corredores ecológicos foram


elaborados e estão em fase de implementação no
Brasil. Embora haja uma certa heterogeneidade nos
projetos, alguns aspectos essenciais permanecem
comuns, como a interpretação com base na ecologia
de paisagem, o emprego do planejamento biorregional,
e a gestão interinstitucional e participativa. A seguir,
descreveremos, sucintamente, alguns dos projetos que
estão sendo desenvolvidos no Brasil.

Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré


(Brasil/Bolívia)

O corredor está localizado numa região de extrema


diversidade biológica, abrangendo quatro das ecorregiões sul-
americanas: floresta úmida tropical, florestas úmidas do sudoeste
da Amazônia, florestas úmidas de Rondônia–Mato Grosso, além
de pântanos e florestas de galeria do Departamento de Beni,
na Bolívia.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Projeto Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré


surgiu de iniciativa regional entre os técnicos brasileiros e
bolivianos, a partir da necessidade de integrar esforços de
conservação, desenvolvidos ao longo da elaboração dos planos
de manejo de algumas unidades de conservação de diferentes
categorias existentes na bacia dos rios Guaporé/Itenez-Mamoré,
tanto no estado de Rondônia como na Bolívia (Figura 5).
Nesse sentido, em 1997 foram realizadas duas reuniões.
A primeira teve o objetivo de estabelecer estratégias específicas
e viabilizar de forma conjunta a consolidação dos objetivos do
corredor ecológico. A segunda, realizada na Bolívia, enfatizou o
desenvolvimento da estratégia de implantação do corredor,
caracterizando suas aptidões e elaborando um plano de ações
que é coordenado por um Comitê ad hoc, composto por membros
das delegações. Foi elaborado também um documento
denominado "Carta de Flor de Oro". Posteriormente, após a
definição da composição do Comitê ad hoc, e a partir de sua
primeira reunião ordinária, foi criado, em 1998, o documento
intitulado "Perfil do Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré",
com apoio do Banco Mundial.
Em princípio, o Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-
Mamoré abrange, no Brasil, a região das bacias hidrográficas
desses rios, incluindo vinte e uma unidades de proteção integral,
federais e estaduais, e treze áreas indígenas. Na Bolívia, o corredor
engloba as áreas protegidas, terras indígenas e reservas de
imobilização, situadas no nordeste do Departamento de Santa
Cruz, Beni e leste de Pando, envolvendo quatro áreas protegidas
e quatro territórios indígenas. Toda essa área foi apontada como
prioritária para a conservação pelos estudos do Probio/MMA.
O projeto estabelece quatro linhas mestras para ação:
conservação, uso sustentável dos recursos naturais, fortalecimento
social e contextualização e integração, definindo as principais
ações em cada uma delas. Com a sua implementação, a partir
de 1998, já foi composto e oficializado o Comitê Gestor, que tem

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Figura 5 – Corredores Ecológicos implementados no Brasil.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

características multissetoriais e funciona plenamente, coordenado


pelo Ibama. Foram realizados diversos workshops regionais que
definiram as prioridades e o comprometimento dos segmentos
sociais locais. O projeto conseguiu aglutinar diversas iniciativas
de conservação e desenvolvimento que estavam sendo
implementadas isoladamente. O trabalho dos técnicos do projeto
resultou na criação de diversas novas áreas protegidas. Devido
ao seu sucesso, esse projeto é uma realidade irreversível.

Corredor Ecológico Paranã-Pireneus

Esse projeto foi proposto pelo Ibama e aprovado pela


Agência de Cooperação Internacional do Japão – Jica, que já
disponibilizou três peritos ao Ibama, com o propósito de realizar
levantamento de informações e estudos das áreas para a
implantação do Corredor Ecológico do Cerrado.
O projeto abrange uma área aproximada de 10.000.000 ha,
dos estados de Goiás, Tocantins e do Distrito Federal, apontada
como prioritária para a conservação, de acordo com os estudos
do Probio/MMA.
Tem por objetivo contribuir para a efetiva conservação
da diversidade biológica do cerrado, adotando técnicas de biologia
da conservação e estratégias de planejamento e gestão
socioambiental de forma compartilhada. Todos os governos
estaduais e municipais estão integrados ao projeto e compartilham
dos workshops e das reuniões decisórias.
O Corredor Ecológico Paranã-Pirineus é composto pelas
seguintes regiões e áreas-núcleo, desenhadas para facilitar a
gestão biorregional:
1. Região de Pouso Alto/Chapada dos Veadeiros;
2. Região da APA de Santa Tereza;

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

3. Região do Parque Estadual de Terra Ronca;


4. Região de Mambaí e Posse;
5. Estação Ecológica Distrital de Águas Emendadas;
6. Parque Nacional de Brasília;
7. Vale do Paranã;
8. Reserva da Biosfera do Cerrado.

A Jica aprovou nova proposta de financiamento do


projeto por um período de três anos, com doação de recursos
para a aquisição de equipamentos e promoção de atividades.

Corredor Ecológico da Região do Araguaia/Bananal

Localizado em uma das principais bacias hidrográficas


do país, do Araguaia/Tocantins, o Corredor Ecológico da Região
do Araguaia/Bananal estruturou-se a partir de onze áreas
protegidas que se seqüenciam com alto grau de conectividade.
O corredor abrange cerca de nove milhões de hectares,
envolvendo vinte municípios do estado de Tocantins, oito do
Mato Grosso, sete de Goiás e quatro do Pará.
A área desse corredor foi identificada como prioritária
para a conservação pelos estudos do Probio/MMA e pelos
Estudos de Representatividade Ecológica realizados pelo Ibama/
WWF (1999). Do ponto de vista ecológico, é uma das mais
importantes áreas de transição entre os biomas Amazônia e
Cerrado, além de conter áreas úmidas significativas identificadas
pela Convenção de Ramsar. O projeto está sendo estruturado a
partir de workshops regionais e por meio de parcerias entre
instituições governamentais federais, estaduais e municipais,
universidades e ONGs.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Corredor Ecológico do Jalapão

Situado na confluência dos estados do Tocantins, do Piauí


e da Bahia, o projeto Corredor Ecológico do Jalapão está sendo
implementado pelo Ibama, Conservation International–CI e
governos estaduais e municipais. Esses ecossistemas de ecótono
têm grande importância ecológica, por conterem as nascentes
dos rios Tocantins, Parnaíba e São Francisco. Composta por rochas
sedimentares com intenso processo erosivo, essa região corre
sério risco de desertificação se não for conservada. É considerada
uma área altamente prioritária pelos estudos realizados pelo
Probio/MMA, Ibama e CI.
Esse projeto tem por objetivo manejar os ecossistemas
por meio da gestão biorregional, para manter a sua conectividade
e analisar a possibilidade de criação de novas áreas protegidas.
Como resultado da expedição científica realizada pelo Ibama,
UnB e CI, foi proposta e criada a Estação Ecológica da Serra
Geral do Tocantins, com 716.000 hectares, maior área protegida
do bioma Cerrado e a quinta do Brasil. As criações de outras
unidades para essa região estão em estudo.

Corredor Ecológico Costa Esmeralda de SC

Localizado no litoral norte do Estado de Santa Catarina,


em área de 774 km², esse corredor possui ecossistemas de mata
atlântica e marinhos, tais como: floresta ombrófila densa, florestas
quaternárias, restingas, manguezais, estuários e costões, além de
várias ilhas oceânicas. Também existem na área do corredor
ecológico diversas áreas-núcleo, constituídas por unidades de
conservação, como: Reserva Biológica Federal do Arvoredo e
Área de Proteção Ambiental Federal de Anhatomirim.
Esse projeto de conservação ambiental nasceu da
mobilização da comunidade de Zimbros, em Santa Catarina,
que buscava impedir o modelo de ocupação do solo proposto

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

pela administração pública regional. Visa garantir a biodiversidade


e a qualidade de vida dos habitantes locais, aliando ações de
manejo que garantam a utilização racional dos recursos ambientais
para a sustentabilidade econômica da região e a conservação
dos remanescentes de mata atlântica. O projeto cresceu para
outros municípios, uma vez que os princípios que norteiam sua
concepção referem-se à abordagem biorregional de conservação
de ambientes naturais.
O Corredor Ecológico Costa Esmeralda abrange
inicialmente a região dos municípios de Bombinhas, Porto Belo
e Itapema, situados na Península de Porto Belo, envolvendo as
ilhas adjacentes e o arquipélago de Arvoredo.
Os ecossistemas associados a essa zona costeira são bem
diferenciados e apresentam uma beleza exuberante. Sob o
domínio da mata atlântica, manguezais, restingas, florestas
ombrófilas densas e aluviais guardam alta riqueza de espécies e
de comunidades florísticas e faunísticas.
A partir dos seus objetivos específicos, o projeto define,
em três fases de execução, as ações necessárias às etapas de
estruturação, planejamento, divulgação, mapeamento da
paisagem, zoneamento, capacitação e treinamento, manejo da
biodiversidade, turismo sustentável e políticas públicas.

Corredores Ecológicos/PPG7/MMA

Esse projeto foi proposto pelo Programa-Piloto de


Proteção das Florestas Tropicais – PPG7 e negociado entre o
Ministério do Meio Ambiente, Ibama e Banco Mundial. Apresenta
sete extensos corredores no Brasil: cinco na Amazônia –
Corredores Norte, Oeste, Central e Sul da Amazônia, Corredor
dos Ecótonos Sul-Amazônicos – e dois na Mata Atlântica – Central
da Mata Atlântica e Corredor da Serra do Mar. O projeto propõe
como prioritários os Corredores Central da Amazônia e Central
da Mata Atlântica.

42
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tem como objetivos: fortalecer a gestão participativa,


visando ao planejamento, monitoramento e controle de ações
para conservar a diversidade biológica; aumentar a
representatividade das áreas conservadas nos corredores
ecológicos, por meio do estabelecimento e expansão das áreas
protegidas, priorizando a conectividade entre elas; reduzir a
pressão do desmatamento em áreas conservadas e contribuir
para a proteção e uso sustentado da diversidade biológica em
terras indígenas. Considerando que os ecossistemas da amazônia
e da mata atlântica são realidades diferenciadas, a implementação
de cada corredor tem estratégia específica. No Corredor Central
da Amazônia a estratégia é garantir a conectividade entre as
áreas protegidas por meio de ações que visem à manutenção e à
ampliação de áreas de conservação da biodiversidade. Já no
Corredor Central da Mata Atlântica, objetiva-se garantir a proteção
dos remanescentes florestais mais significativos e incrementar
gradualmente o grau de conectividade entre porções nucleares
da paisagem. Propõe-se, ainda, a estabelecer estrutura de gestão
descentralizada e participativa, onde cada um dos agentes
envolvidos será considerado co-gestor e co-executor. As
instituições governamentais envolvidas diretamente na execução
do projeto são: Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Funai, órgãos
estaduais de meio ambiente e as prefeituras municipais. A
estrutura de gestão também inclui associações, movimentos sociais
e ONGs que, no todo, constituem os atores sociais envolvidos
no projeto.
Além dos aspectos relativos ao sistema de gestão, o
projeto prevê ações nas seguintes áreas: coordenação,
planejamento e monitoramento do corredor, criação,
planejamento e manejo de unidades de conservação, áreas de
interstício e proteção da diversidade biológica em terras indígenas.
Atualmente o projeto está em fase de aprovação por parte dos
financiadores (Projeto Corredores Ecológicos – MMA/PPG7).

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tabela 1 – Corredores Ecológicos Implementados no Brasil.

Projeto Estado/País Área (ha)


01 Corredor Ecol. Binacional Brasil (RO)/
Itenez-Guaporé-Mamoré Bolívia 23.821.800

02 Corredor Ecol. do Araguaia-Bananal GO/TO/PA/MT 10.000.000

03 Corredor Ecol. Paranã-Tocantins GO 5.000.000

04 Corredor Ecol. do Jalapão TO/MA/PI/BA 9.275.000

05 Corredor Ecol. do Cerrado-Pantanal GO/MS/MT 21.858.800

06 Corredor Ecol. da Biodiverdidade


do Rio Paraná PR/MS/SP 2.548.000

07 Corredor Ecol. Atlântico de Zimbros SC 77.400

TOTAL 72.581.000

08 Corredor Ecol. Norte da Amazônia AM/RR 21.000.000

09 Corredor Ecol. Central da Amazônia AM/RR/PA 49.148.900

10 Corredor Ecol. Sul da Amazônia AM/PA/TO/MA 31.646.600

11 Corredor Ecol. Ecótonos


Sul-Amazônicos RO/MT/PA/TO 46.258.700

12 Corredor Ecol. Oeste da Amazônia AC/AM/RO 27.242.700

13 Corredor Ecol. Central da


Mata Atlântica BA/ES 9.409.000

14 Corredor Ecol. da Serra do Mar MG/SP/RJ 6.924.100

TOTAL PPG-7 191.630.000

TOTAL GERAL 264.211.000

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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46
CORREDORES DE BIODIVERSIDADE:
O CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA
Gustavo A. B. da Fonseca,
Center for Applied Biodiversity Science at Conservation International2
Keith Alger,
Conservation International
Luiz Paulo Pinto,
Conservation International-Brasil
Marcelo Araújo,
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia
Roberto Cavalcanti,
Conservation International–Brasil & Universidade de Brasília

Planejando Paisagens Sustentáveis na Mata Atlântica

Um consenso que emerge no meio científico nos leva a


crer que as chances de sobrevivência da biodiversidade em longo
prazo aumentarão significativamente com o estabelecimento de
um planejamento para conservação em escala regional ou que
contemple grandes unidades de paisagem. Dentre as várias
abordagens possíveis, aquela dos "corredores de biodiversidade"
representa uma das mais promissoras para um planejamento
regional eficaz. A mata atlântica, um dos 25 hotspots mundiais
(Myers et al., 2000), ou regiões biologicamente mais ricas e
ameaçadas do planeta, necessita com urgência dessa escala mais
ambiciosa de planejamento para sua conservação.

2
Conservation International – Av. Getúlio Vargas, 1300, 7º andar, CEP 30112-021 –
Belo Horizonte, MG – Telefax: (31) 3261-3889, E-mail: [email protected]
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Os esforços para o planejamento em conservação da


Conservation International do Brasil, do Centro para Pesquisa
Aplicada à Biodiversidade da Conservation International (CI) e
do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB)
concentram-se na implementação do corredor de biodiversidade
para a costa do sul da Bahia e centro-norte do Espírito Santo,
num dos ecossistemas florestais mais ameaçados do mundo (CI
& IESB, 2000). O planejamento de corredores de biodiversidade
tem como objetivo reverter a situação crítica de contínua
fragmentação e isolamento de florestas, nessa que é uma região
marcada pela riqueza de espécies raras ou endêmicas.
"Corredor de biodiversidade" ou "corredor ecológico"
compreende uma rede de parques, reservas e outras áreas de
uso menos intensivo, que são gerenciadas de maneira integrada
para garantir a sobrevivência do maior número possível de
espécies de uma região. Esses termos passaram a ser conhecidos
no Brasil associados às propostas para conservação em larga
escala de áreas-chave na Amazônia e Mata Atlântica, no Projeto
Parques e Reservas do Programa Piloto para Proteção das Florestas
Tropicais Brasileiras – PPG7 (Ayres et al., 1997). Enquanto alguns
estudos científicos utilizam o termo "corredor" em relação a faixas
de vegetação ligando blocos maiores de habitat nativo, aqui o
termo é usado como uma unidade de planejamento regional
que compreende um mosaico de uso das terras.
Sob uma perspectiva biológica, o objetivo principal do
planejamento de um corredor de biodiversidade é manter ou
restaurar a conectividade da paisagem e facilitar o fluxo genético
entre populações, aumentando a chance de sobrevivência em
longo prazo das comunidades biológicas e de suas espécies
componentes. Para atingir esse objetivo são necessárias a criação
de áreas protegidas adicionais, a introdução de estratégias mais
adequadas de uso da terra e a restauração de trechos degradados
em áreas-chave. Mosaicos com múltiplos usos da terra em uma
paisagem manejada podem permitir o movimento de populações

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

por meio de "ligações" entre florestas próximas. Sob uma


perspectiva institucional, a estratégia do corredor procura melhorar
o manejo de áreas protegidas, criar a capacidade de manejo na
região e promover pesquisas biológicas e socioeconômicas que
ajudem a reduzir a ameaça de extinção de espécies. As aspirações
das comunidades e lideranças locais devem ser levadas em
consideração como elementos-chave na equação da conservação,
para garantir a sustentabilidade em longo prazo de parques e
reservas.
A abordagem dos corredores de biodiversidade é aplicada
para integrar as diferentes escalas de proteção ambiental, desde
a local até a regional, utilizando-se de métodos que assegurem a
seleção criteriosa de porções suficientemente grandes de
ambientes naturais, buscando-se representar diferentes
ecossistemas e também manter ou incrementar os níveis de
conectividade entre as diferentes áreas. Mas requer também que
a interferência humana nas unidades de conservação (entendidas
como de proteção integral) ou nos núcleos protegidos de outras
categorias de manejo deva ser mantida em níveis mínimos, já
que estes representam as vértebras de sustentação do sistema.

Bases Conceituais dos Corredores


de Biodiversidade

Em biologia da conservação, ramo que se dedica à


pesquisa sobre o declínio e eventual colapso de populações e
espécies, além da busca de soluções que minimizem esse
processo, os corredores de biodiversidade têm a função primordial
de proporcionar vias de intercâmbio e incrementar as
possibilidades de movimento de indivíduos pertencentes a
populações que se encontram, em maior ou menor grau, isoladas
em áreas de habitat mais propício à sua sobrevivência. É preciso
ressaltar, entretanto, que mesmo paisagens fragmentadas oferecem
oportunidades de movimentação de organismos.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Em áreas continentais, ao contrário de um arquipélago


de ilhas verdadeiras, é extremamente difícil isolar completamente
um fragmento florestal de outros na mesma região. Mais de duas
décadas de pesquisa do projeto "Dinâmica Biológica de
Fragmentos Florestais", sob a coordenação do INPA e do
Smithsonian Institution, demonstram claramente esse fato. Em
outras palavras, a não ser em situações extremas, paisagens
naturais modificadas em regiões continentais ainda permitem,
em diferentes graus, o intercâmbio de indivíduos. As dificuldades
de movimentação de organismos entre fragmentos são de caráter
probabilístico e proporcionais ao grau de isolamento, este último
traduzido pela distância entre habitats propícios e pelo número
de pontes interconectantes. De acordo com Forman (1995), o
nível de resistência da paisagem ao movimento de organismos é
restritivo quando a cobertura natural é, em média, menor do
que 5%. Mesmo nesses casos, a resistência é dependente do
organismo em questão. Aves, por exemplo, podem movimentar-
se entre fragmentos mesmo em situações de conectividade
reduzida; grandes vertebrados encontram maior resistência, e
pequenos mamíferos demonstram padrões intermediários
(Forman, 1995).
Em diversas circunstâncias, a estratégia "corredor" não
pressupõe qualquer ação de incremento no grau de conectividade
entre porções de paisagem. Os grandes carnívoros, como por
exemplo a onça-pintada (Panthera onca) e a onça-parda (Puma
concolor), são extremamente adaptáveis quanto aos seus padrões
alimentares e de uso de habitat, distribuindo-se amplamente desde
a América do Norte até o sul do nosso continente. São assim
capazes de se deslocar ao longo de ambientes já perturbados
pela atividade humana, sendo o problema mais grave a caça
predatória a que estão sujeitas as suas populações. A efetiva
proteção dessas espécies ao longo de áreas estratégicas,
localizadas entre unidades de conservação ou grandes blocos
de habitat propícios à sua sobrevivência, constituiria-se em um

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

mecanismo mais eficiente e menos oneroso do que se buscar


conectar fisicamente esses elementos da paisagem. Em outros
casos, essas estratégias do tipo "salvo-conduto" podem ser bastante
eficazes para permitir o intercâmbio gênico e o resgate
demográfico de populações declinantes.
Os corredores não necessariamente possuem condições
de abrigar populações viáveis em longo prazo, mas podem elevar
as probabilidades de sobrevivência do conjunto das populações
isoladas de uma determinada espécie (conhecido como
metapopulação). De acordo com a teoria ecológica contemporânea,
a probabilidade de sobrevivência de uma metapopulação encontra-
se geralmente inversamente relacionada ao grau de isolamento
dos seus elementos constituintes (as diversas populações). O
estabelecimento de corredores de ligação entre populações isoladas
seria uma estratégia de minimização dos riscos de extinção da
espécie como um todo. Como mencionado anteriormente, vale
ressaltar que a ausência de zonas de contato físico entre fragmentos
não significa que determinado arquipélago de remanescentes seja
impermeável ao intercâmbio. Um conjunto de pequenos fragmentos
isolados, porém próximos, pode efetivamente proporcionar vias
de acesso, funcionando como stepping stones.
Assim sendo, o desenho dos Corredores de Biodiversidade
do PPG7 e do projeto aqui descrito tem como um dos seus objetivos
específicos, dentre vários outros, a manutenção ou o incremento
do grau de conectividade por meio de ações que permitam a
maximização (ou a minimização do grau de resistência) do fluxo
de indivíduos das diferentes espécies que compõem as
comunidades florísticas e faunísticas. Essas ações incluem o combate
à caça ilegal, a criação de novas unidades de conservação públicas
e privadas, o estímulo à conservação de áreas florestais
estrategicamente situadas e o incentivo à regeneração natural ou
induzida de florestas.

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Mas somente o estabelecimento de corredores não


assegura que as reservas isoladas irão cumprir o seu papel de
preservar as espécies nelas contidas. Dados empíricos gerados
em diferentes ecossistemas tropicais indicam que, mais do que o
isolamento, a superfície total do fragmento é a variável mais
importante no número final de espécies presentes em uma
determinada área. Se o grau de exposição da reserva ao ambiente
circundante é muito alto, o seu tamanho efetivo será
progressivamente reduzido pela deterioração do habitat a partir
de suas margens externas. Para enfrentar esse problema, tem-se
advogado o estabelecimento de "zonas-tampão" circundando o
fragmento ou área protegida. As zonas-tampão, por sua vez,
podem funcionar também como corredores. Essa estratégia
constituiu-se na essência do programa das Reservas da Biosfera
da Unesco, proposto no início dos anos 80.
Os níveis de biodiversidade (mensurados em número de
espécies) de determinado fragmento, portanto, não dependem
somente do grau de isolamento, mas de outras variáveis também
relevantes, como por exemplo o tamanho ou área efetiva do
remanescente. Ainda de acordo com Forman (1995), enquanto os
grandes fragmentos são bastante importantes para a manutenção
da biodiversidade e de processos ecológicos em larga escala, os
pequenos remanescentes cumprem diversas funções extremamente
relevantes ao longo da paisagem, como o seu papel de elemento
de ligação (stepping stones) entre grandes áreas, de auxiliar no
aumento no nível de heterogeneidade da matriz de habitat e de
refúgio para espécies que requerem ambientes particulares que só
ocorram nessas áreas.
Ao longo do seu desenvolvimento, os projetos de
corredores de biodiversidade terão que buscar o desenvolvimento
de estratégias que lidem com essas diversas variáveis. Dada a
complexidade do desafio, os corredores de biodiversidade
possuem qualidades que transcendem as funções de estabelecer

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vias de trânsito e intercâmbio entre populações e de minimizarem


os impactos externos sobre as áreas protegidas. De acordo com
Wienz (1996), esse tipo de abordagem "...reconhece que nem
todas as áreas de habitat apropriado serão ocupadas naquele
momento por uma determinada espécie, e que áreas inocupadas
podem ter um valor significativo para a conservação." Além disso,
"...requer uma avaliação empírica sobre como os padrões da
paisagem e os movimentos individuais das espécies interagem,
resultando em um nível de conectividade que promove a
dinâmica das metapopulações." Na realidade, se bem sucedidas,
as regiões-alvo dos projetos dos corredores de biodiversidade
no Brasil, em sua maioria, irão se constituir em mosaicos de
áreas naturais compostos por áreas biologicamente prioritárias,
protegidas do impacto negativo das atividades antrópicas,
juntamente com a totalidade da paisagem circundante sob
diferentes padrões de uso da terra, determinados pelas práticas
de manejo mais apropriadas à realidade socioeconômica local,
além de sua importância para a biodiversidade.
O desenho proposto para o Corredor Central da Mata
Atlântica flexibiliza as categorias rígidas, estanques e permanentes
de regulação do uso da paisagem, adequando-as à dinâmica
ecológica, permitindo o aprimoramento do sistema na medida
em que informações mais precisas são geradas. O exemplo recente
da conversão da Estação Ecológica de Mamirauá em Reserva de
Desenvolvimento Sustentado, após vários anos de estudos
ecológicos, econômicos e sociais, ilustra bem esse novo enfoque.
O Corredor Central da Mata Atlântica deve, portanto, deixar de
lado os enfoques que privilegiam áreas isoladas para uma nova
estratégia de "manejo dinâmico e integrado da paisagem",
favorecendo abordagens que levem em consideração a dinâmica
da paisagem e as inter-relações entre áreas protegidas. A aplicação
de modelos biogeográficos revela claramente que a conservação
de extensões mais amplas de ecossistemas naturais será essencial
para tornar o sistema ecologicamente viável.

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Corredor Central da Mata Atlântica

O planejamento de corredores é feito em escala regional,


podendo se estender por centenas de quilômetros para incluir
áreas protegidas, habitats naturais remanescentes e suas
comunidades ecológicas. O corredor central compreende cerca
de 80% da biorregião "Bahia", uma das sub-regiões biogeográficas
da mata atlântica propostas por Silva & Casteleti (2001). As regiões
biogeográficas da mata atlântica foram delimitadas a partir da
sobreposição dos mapas da distribuição das espécies de aves
passeriformes endêmicas da região com os centros de endemismo
identificados para primatas e borboletas florestais. As áreas de
endemismo são sub-regiões caracterizadas pela presença de um
conjunto único de espécies endêmicas que apresentam grande
sobreposição em suas distribuições. Isso permitiu a identificação
dos núcleos das regiões consideradas como áreas de endemismo.
O mapa de vegetação do IBGE, baseado nos dados do Projeto
RADAMBRASIL, foi utilizado para delimitar as bordas entre as
regiões biogeográficas, principalmente entre aquelas regiões
consideradas como áreas de endemismo e aquelas consideradas
como áreas de transição, pois nem sempre a borda entre esses
dois tipos de regiões pode ser claramente definida com base na
distribuição das espécies. A biorregião "Bahia" possui 120.954
km2 e estende-se desde Sergipe até o Espírito Santo. O Corredor
Central da Mata Atlântica compõe a porção centro-sul dessa região
biogeográfica, limitando-se ao norte pelo rio Jiquiriçá, onde se
inicia o agrossistema do baixo-sul da Bahia, estendendo-se pela
região cacaueira tradicional, extremo sul da Bahia e centro-norte
do Estado do Espírito Santo (Figura 1). Alguns trechos penetram
em áreas do Estado de Minas Gerais. Os limites do corredor
central vêm sendo aperfeiçoados e, de qualquer forma, os limites
não se pretendem definitivos, podendo ser objeto de adequações
e refinamentos, em resposta ao incremento do conhecimento e
à realidade regional.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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O Corredor Central da Mata Atlântica representa um dos


principais centros de endemismo da mata atlântica, como descrito,
por exemplo, para plantas, borboletas e vertebrados de modo
geral (Müller, 1973; Prance, 1982; Brown Jr., 1975; Kinzey, 1982).
A região possui várias áreas indicadas como prioritárias para
conservação da biodiversidade do bioma (Conservation
International do Brasil et al., 2000) e detém ainda dois dos maiores
recordes de diversidade botânica em todo o mundo em floresta
próxima ao Parque Estadual da Serra do Conduru (Thomas et al.,
1998) e na região serrana do Espírito Santo (Thomas & Monteiro,
1997). O Corredor abriga também grande diversidade de espécies
de vertebrados, incluindo mais de 50% das espécies de aves
endêmicas da mata atlântica, como o gênero endêmico monotípico
recentemente descrito – o graveteiro-acrobata (Acrobatornis
fonsecai), e 60% das espécies endêmicas de primatas da mata
atlântica, como é o caso do mico-leão-de-cara-dourada
(Leontopithecus chrysomelas) e o macaco-prego-do-peito-amarelo
(Cebus xanthosternos).
A partir do início da década de 90, a região sul da
Bahia vem recebendo mais atenção no contexto da conservação,
pela aceleração dos desmatamentos provocados pela crise na
lavoura cacaueira. A região é a maior produtora de cacau no
Brasil, por meio de um sistema agroflorestal designado
localmente por cabruca. A área total ocupada com o cultivo de
cacau abrange cerca de 650.000 hectares, sendo 70% sob o
sistema de cabruca. Apesar de apresentar uma perturbação
significativa, a floresta de cabruca possui grande variedade de
plantas e animais nativos e contribui para conexão de áreas
protegidas e remanescentes florestais da região (Moura, 1999).
Além de uma queda brusca no preço do cacau no mercado
inter nacional, a expansão do fungo Crinipellis per niciosa,
causador da doença conhecida como "vassoura-de-bruxa" vem
destruindo muitas plantações antes produtivas. Para compensar
os prejuízos da lavoura, muitos fazendeiros optaram pela

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

exploração da madeira de suas reserva de matas e das cabrucas,


inclusive com substituição das cabrucas por café e pastagens
para criação de gado (Rocha, 2002). O desemprego de
trabalhadores rurais, também gerado pela crise, eleva a
população de lavradores sem terra, o que por sua vez aumenta
a pressão sobre as áreas de floresta (Alger & Caldas, 1996).
Todo o território do Espírito Santo está situado na mata
atlântica e, proporcionalmente, este é o estado que apresenta a
maior devastação. Pastagem, café e eucalipto substituíram a
maior parte das florestas do estado. Restam apenas 8,4% da
mata original, que se apresenta fragmentada na sua maioria.
Dos cerca de 380.000 hectares da mata nativa no Espírito Santo,
apenas 19%, ou, aproximadamente, 70.000 hectares (2% do
território do estado) se encontram sob unidades de conservação
de proteção integral (parques, reservas e estações ecológicas),
ou seja, a maioria dos remanescentes florestais no estado constitui
propriedade privada.
Uma análise da rede de unidades de conservação dos
estados da Bahia e do Espírito Santo, considerando a área do
Corredor Central da Mata Atlântica, indica claramente que o atual
sistema não é geográfica nem ecologicamente bem distribuído.
O Corredor Central possui 41 unidades de conservação de
proteção integral, representando menos de 2% de proteção oficial
do seu território. Além disso, é preocupante o tamanho médio
de 3.200 hectares por unidade de conservação na região,
indicando a necessidade de criar novas unidades e expandir as
já existentes. No extremo sul da Bahia encontra-se um dos blocos
mais importantes de mata do Corredor Central, compreendendo
quatro parques nacionais: Descobrimento, Monte Pascoal, Pau-
Brasil, e Abrolhos, protegendo cerca de 50.000 hectares de mata
e 90.000 hectares de áreas marinhas. As pequenas bacias
hidrográficas protegidas por esses parques nacionais são
extremamente importantes, não só para a biodiversidade da Mata

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Atlântica, como também para os recifes de coral e outros


ecossistemas marinhos no Banco de Abrolhos e no Parque
Nacional Marinho de Abrolhos, a zona mais rica em recifes de
coral do Atlântico Sul. Na porção do Corredor no Espírito Santo,
encontra-se também uma das principais seções de floresta
ombrófila densa na tipologia da Mata de Tabuleiros, criada pela
ligação da Reserva Biológica de Sooretama à Reserva Florestal
de Linhares, totalizando cerca de 44.000 hectares. Em comparação
com as outras formações de matas neotropicais, a Mata de
Tabuleiros é incomparável, devido à elevada diversidade de
espécies e à elevada densidade de lianas que apresenta (Peixoto
& Gentry, 1990).

Ferramentas para o Planejamento do Corredor


Central da Mata Atlântica

Várias abordagens estão sendo utilizadas para o


planejamento do Corredor Central da Mata Atlântica, que inclui
informações variadas: biológicas, sociais, econômicas e legais.
As avaliações biológicas e sociais fornecem uma base sólida de
conhecimentos sobre a diversidade e a distribuição de espécies
dentro dos corredores, fato essencial para o planejamento da
conservação da biodiversidade e para a compreensão da relação
entre as comunidades locais e a floresta. Estudos sobre grupos
taxonômicos, considerados indicativos da qualidade do habitat,
têm como objetivo investigar a diversidade de espécies, riqueza
e composição desses grupos em remanescentes florestais no
Corredor de Biodiversidade, verificando o grau de substituição
de espécies nos fragmentos florestais, ao longo do latitudinal e
do longitudinal. O Programa de Avaliação Rápida (RAP) também
pode ser utilizado como uma ferramenta importante na
abordagem integrada para a coleta de dados básicos de natureza
biológica para o estabelecimento de áreas protegidas nos
corredores de biodiversidade (Fonseca, 2001).

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A avaliação econômica é usada para determinar o valor


financeiro de habitats críticos e entender os incentivos que
resultam em ameaças à biodiversidade. Esses incentivos são
analisados para antecipar e atenuar as ameaças, melhorar as
estratégias de conservação e elaborar programas efetivos para
manejo de recursos e aplicação de leis. A avaliação econômica
também tenta exercer influência na criação de políticas de
infraestrutura e desenvolvimento, apresentando objetivos
conservacionistas, numa linguagem econômica clara e de fácil
entendimento para os tomadores de decisão e agências de
desenvolvimento.
O mapeamento de paisagens e as análises das mudanças
no uso da terra ajudam a medir o grau de desflorestamento em
ambientes tropicais. Essas mudanças são detectadas em três escalas
espaciais (local, microrregião e corredor), para enfatizar áreas
onde a conversão de florestas primárias está ocorrendo mais
rapidamente. O poder dos dados de sensoriamento remoto -
que incluem imagens de satélite e fotografias aéreas - se deve a
sua habilidade de fornecer informações rápidas sobre a dinâmica
da paisagem.
Por fim, outra abordagem envolve a avaliação de políticas
públicas para auxiliar no planejamento de corredores em suas
questões legais, uma vez que direitos de propriedade e de
ocupação da terra mal definidos, falhas na legislação relativa a
recursos naturais e a áreas protegidas e conflitos entre autoridades
de várias jurisprudências representam grandes ameaças para a
implementação de um corredor de biodiversidade. Para
corredores em áreas relativamente intactas, a ênfase é dada na
avaliação dos recursos naturais nacionais e na legislação de áreas
protegidas. Em áreas com grande densidade populacional, como
é o caso do Corredor Central da Mata Atlântica, a ênfase legal é
mais focalizada nos direitos de propriedade e ocupação da terra
e nas autoridades que tomam as decisões locais.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Pesquisa sobre o Corredor de Biodiversidade


Central da Mata Atlântica

Estudos de campo sobre mamíferos, aves e anfíbios foram


realizado nos últimos dois anos ao longo do Corredor Central da
Mata Atlântica, além de uma avaliação da estrutura florestal dos
remanescentes investigados. Estão sendo geradas novas
informações quanto à biodiversidade regional, como a indicação
da distribuição espacial de espécies-chave e a descoberta de
novas espécies para a ciência (pelo menos 12 espécies novas de
anfíbios anuros conforme Silvano & Pimenta, 2001). O
componente de biodiversidade do Corredor Central da Mata
Atlântica tem também proporcionado a comparação entre a
riqueza de espécies de aves, mamíferos e anfíbios entre as áreas
protegidas e fragmentos florestais de diversos tamanhos no sul
da Bahia, determinando o papel das áreas protegidas na
conservação da diversidade biológica da região. Além disso, esses
estudos têm estimulado outros pesquisadores e estudantes para
o desenvolvimento de projetos de pesquisas sobre a
biodiversidade regional.
A formação do corredor central dependerá não somente
da identificação dos principais fatores biológicos concorrentes
para a formulação da estratégia ótima de seleção de fragmentos
ao longo da paisagem, mas principalmente dos instrumentos
econômicos e políticas públicas que possam ser implementadas
dadas às limitações (ou oportunidades) de natureza social,
econômica e política. Uma pesquisa sobre a relação espacial
entre o uso da terra e fragmentos florestais está sendo realizada,
com a finalidade de indicar zonas prioritárias para conservação
no corredor central (ver Landau, 2001). Adicionalmente, foram
feitos estudos específicos sobre as alternativas econômicas na
região. O objetivo do estudo sobre a alternativa econômica foi
determinar a tendência na substituição do uso principal da terra

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

– o cacau – por outras culturas. Enquanto os proprietários rurais


têm procurado outras atividades econômicas, essas tentativas são
principalmente para complementar a renda da produção de cacau,
com a introdução de culturas alternativas. Essas tentativas têm
sido feitas numa pequena escala, já que débitos passados têm
impedido a obtenção de novos empréstimos. Pequenos
produtores, menos endividados e com menor custo de mão de
obra, possuem uma perspectiva econômica melhor, mas têm
dificuldade de acesso a mudas de cacau resistentes à vassoura-
de-bruxa ou a outras tecnologias.
Foram realizadas, também, análises por grupos
participativos, com representantes do governo, pequenos
proprietários, grandes fazendeiros de cacau, grupos de sem-terra
e técnicos agrícolas, a fim de descobrir quais seriam os melhores
mecanismos políticos para a implementação do corredor. Grandes
proprietários, que estão endividados, preferiram algum tipo de
mecanismo que aliviasse seus débitos, em retorno a um possível
compromisso com a conservação. Pequenos proprietários e
fazendeiros sem débito não mostraram preferência pelo mesmo
mecanismo, já que este concentraria a assistência financeira nas
maiores fazendas. Todas as lideranças envolvidas mostraram ter
dúvidas quanto à capacidade do governo de garantir o
cumprimento de qualquer novo compromisso ambiental assumido
por proprietários de terra. Principalmente por causa desse
descrédito, os proprietários prefeririam vender suas terras a receber
um fluxo de pagamentos do governo pela conservação das
fazendas. Dentro dos grupos, os agentes governamentais se
mostraram otimistas quanto à sua capacidade de implementar
mecanismos para o cumprimento de compromissos ambientais
além do mínimo legal exigido, apesar de não contarem com a
confiança da população. Segundo eles, o sucesso depende da
expectativa dos proprietários em conseguir indenizações razoáveis
pelos compromissos assumidos.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Como parte ainda das iniciativas de avaliação da atuação


dos órgãos públicos na região, foi realizado um estudo sobre o
sistema de controle e fiscalização do Corredor Central da Mata
Atlântica. O estudo de fiscalização no Sul da Bahia mostrou que,
além da necessidade para infraestrutura e equipamentos, existe
uma grande necessidade para investimentos em outros aspectos
do sistema de fiscalização (Akella et al., 2002). Faltam
responsabilidades institucionais claramente definidas,
procedimentos para processar infrações que sejam eficientes e
pessoal capacitado, tanto nas agências de fiscalização quanto
nas outras instituições estaduais e federais envolvidas no sistema
de fiscalização, a exemplo do poder judiciário.
Visando a integração dos dados produzidos nesse projeto
e o estabelecimento de ferramentas como auxílio de análise, foi
elaborado um programa denominado Tamarin (Toolbox for
Analysis of Mata Atlântica Restoration Incentives). O Tamarin
funciona como uma planilha de custos com representações
geográficas, simulando diferentes cenários para o futuro do
Corredor Central da Mata Atlântica. Utilizando informações sobre
as tendências do uso da terra, distribuição de espécies da fauna
e da flora e dados socioeconômicos, o programa fornece os
cenários possíveis e nos auxilia a identificar os caminhos para
alcançar os objetivos estabelecidos para a manutenção de
paisagens mais adequadas à conservação da biodiversidade.

O Futuro do Corredor Central da Mata Atlântica

A proposta para a formação do Corredor Central da


Mata Atlântica tem como um de seus objetivos a geração de
cenários alternativos para a manutenção ou o incremento do
grau de conectividade, por meio de ações que permitam a
maximização do fluxo de indivíduos (ou minimização do grau
de resistência) das diferentes espécies que compõem as

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

comunidades florísticas e faunísticas. Informações produzidas por


esse projeto devem ser integradas e analisadas em várias escalas
para o planejamento do corredor. O projeto é considerado
ambicioso, mas a dinâmica da ameaça na região também se
reveste de magnitude sem precedente. Resta enfrentar o problema
ou deixar-se reduzir a ações pontuais de resistência. As iniciativas
estão sendo implementadas por etapas, especialmente a partir
de seus núcleos de manejo , como o coração da região cacaueira
e a rede de parques nacionais no extremo sul da Bahia.
Estão sendo examinadas a viabilidade de uma série de
instrumentos e as políticas que possibilitem a formação do
corredor, que além de cumprirem os requerimentos mínimos
de viabilidade ecológica descritos anteriormente podem ser
passíveis de controle e fiscalização, e que idealmente sejam
aqueles de menor custo financeiro, aproveitando o custo-
oportunidade associado ao valor da terra na região. Esses
instrumentos incluem, entre outros, a aquisição direta de terras
de alto valor biológico, a compra de conservation easements
(instrumento similar aos incentivos associados as RPPNs, em
utilização em vários países, em particular na Costa Rica), o
subsídio periódico para a não utilização da terra (um exemplo
sendo o mecanismo do ICMS Ecológico, em operação em outros
estados da Federação), impostos sobre produtos gerados por
meio de práticas ambientalmente danosas, introdução de
"direitos negociáveis de desenvolvimento", como vem sendo
discutido na revisão do código florestal, a venda de serviços
ecossistêmicos associados ao seqüestro de carbono, além dos
mecanismos de comando e controle usuais, como multas e
outras penalidades associadas ao não cumprimento de
dispositivos que proíbem o desmate da reserva legal da
propriedade e das florestas em áreas com declive acentuado.
A utilização de corredores de biodiversidade como
unidades de planejamento nos permite algo difícil de obter com
o planejamento na escala de unidades de conservação e zonas-

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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tampão isoladas: o direcionamento de recursos que produzam o


máximo de resultados positivos à conservação, com o custo
mínimo para a sociedade. Essa abordagem é fundamentalmente
diferente daquela minimalista, das "áreas mínimas", defendida
no passado, que não tratava suficientemente dos problemas
relativos ao isolamento e fragmentação, e nem considerava o
quanto os instrumentos de política econômica podem ser mais
eficientes, se empregados na manutenção de paisagens mais
adequadas à conservação da biodiversidade.

Agradecimentos

A pesquisa sobre corredores de biodiversidade descrita


aqui representa um esforço único de colaboração entre o
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB),
a Conser vation International (CI) e o Grupo de Pesquisa de
Desenvolvimento do Banco Mundial (DECRG). O financiamento
para as pesquisas provém do Ministério do Meio Ambiente
(MMA), por meio do Projeto de Conservação e Utilização
Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO), do
DECRG e do Centro para Pesquisa Aplicada à Biodiversidade
(CABS) da CI. A Conservation International e o IESB agradecem
ao Ministério do Meio Ambiente, à Agência Americana de Apoio
ao Desenvolvimento Internacional (USAID), à Fundação Ford,
ao Grupo de Pesquisa do Banco Mundial, ao Núcleo de Estudos
e Pesquisas Ambientais (NEPAM) da UNICAMP, ao Programa
Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais, à Ford Motor
Company, à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
ao Departamento de Desenvolvimento Florestal da Bahia (DDF),
à Aliança para a Conservação da Mata Atlântica e à Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), pelo generoso apoio dado à
pesquisa do Corredor Central da Mata Atlântica.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

COMBINANDO COMUNIDADE, CONECTIVIDADE


E BIODIVERSIDADE NA RESTAURAÇÃO DA
PAISAGEM DO PONTAL DO PARANAPANEMA
COMO ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO DO
CORREDOR DO RIO PARANÁ
Cláudio Valladares-Pádua e Laury Cullen Jr.,
Universidade de Brasília, [email protected]
Suzana Machado Pádua e Eduardo H. Ditt,
IPE – Instituto de Pesquisas Ecológicas

Há mais de dez anos, várias instituições públicas e


privadas vêm trabalhando pela criação e implantação de um
corredor de biodiversidade na região do Rio Paraná (Figura 1).
Tal corredor inclui fragmentos florestais no Brasil, na Argentina e
no Paraguai. Em sua parte norte, embora necessitando de recursos
para sua implementação, já existe uma articulação bem
estruturada entre as diversas instituições responsáveis pelas
unidades de conservação ou suas parceiras nos seguintes estados:
1. Paraná
Reservas e refúgios biológicos da Itaipu Binacional;
Parque Nacional de Ilha Grande; APA das ilhas e
várzeas do Rio Paraná; Estação Ecológica Estadual
do Caiuá.
2. São Paulo
Parque Estadual do Morro do Diabo–PEMD e
remanescente da Grande Reserva do Pontal.
3. Mato Grosso do Sul
Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema.

O Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPE e seu antecessor,


o Projeto Mico-Leão-Preto, em parceria com o Instituto Florestal
de São Paulo, atuam na parte paulista do corredor, principalmente

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no Pontal do Paranapanema, desde 1983. As pesquisas do


Instituto, nesses quase vinte anos de atuação no Pontal, vêm se
concentrando em entender os efeitos da fragmentação das reservas
florestais sobre a biodiversidade e, a partir daí, propor ações
conservacionistas com bases científicas para a região. Tais
pesquisas têm como base teórica os princípios da biologia da
conservação. Essa nova ciência é a resposta da comunidade
científica à crise de biodiversidade. É um campo científico novo,
que aplica princípios de ecologia, biogeografia, genética,
economia, sociologia, antropologia, filosofia e outras disciplinas
que possuam bases teóricas na manutenção da diversidade
biológica.
No presente trabalho descrevemos, de maneira resumida,
como alguns princípios da biologia da conservação estão sendo
utilizados na conservação da região do Pontal do Paranapanema,
com explicações de cada um deles e os resultados práticos obtidos
naquela região. Mostramos como eles podem contribuir no
planejamento e na implantação de um corredor e, finalmente,
sugerimos a sua extrapolação para o restante do Corredor de
Biodiversidade da Região do Rio Paraná.

Alguns Conceitos Importantes da Biologia


da Conservação e Resultados de sua
Aplicação no Pontal do Paranapanema

A floresta vazia e o pardigma do não-equilíbrio

Primeiro é preciso entender que floresta não é somente


um conjunto de árvores, mas sim um conjunto de interações
entre árvores e outros elementos dos meios biótico e abiótico
(Redford, 1992). São os animais que garantem a grande
diversidade da floresta, quando agem como dispersores de
sementes ou como polinizadores das flores. Se retirarmos os

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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animais da floresta, por exemplo, não haverá nem polinização,


nem dispersão de muitas sementes. Isso naturalmente levará
a floresta a desaparecer ou a se tornar homogeneizada. Assim,
a exploração da fauna, seja para caça de subsistência,
comercial, obtenção de peles ou couros, ou por qualquer outro
motivo, pode, em médio e longo prazos, causar o
desaparecimento de uma floresta. Não devemos nos deixar
enganar: nem sempre uma floresta cheia de árvores,
samambaias e orquídeas é saudável. Várias dessas florestas
que parecem tão vivas já estão a caminho de seu
desaparecimento em algum momento do futuro.
Da mesma maneira que é um mito pensar que um
aglomerado de árvores compõe uma floresta o é também a
visão de "natureza em equilíbrio", como se pensava nos anos
70. Hoje sabemos que os sistemas ecológicos não são
completos funcionalmente e não são capazes de se auto-
regular. Isso nos leva a concluir que certa unidade natural
não se conserva simplesmente porque está numa reserva. Essas
unidades não são capazes de manter-se em configuração
estável e balanceada e, finalmente, não retornarão ao seu
estado natural se seriamente perturbadas.
O que a ciência nos mostra, em realidade, é exatamente
o contrário. Uma reserva não está garantida simplesmente porque
foi cercada e "protegida" das influências humanas. Não é com
cadeado na porteira que se protege uma área natural, mas com
o entendimento de que os sistemas ecológicos estão abertos e
sujeitos a trocas de energia com a matriz que os cerca.
No Pontal esses conceitos são utilizados principalmente
de duas maneiras. Primeiro, pelo grande esforço para ampliar as
ações conservacionistas para o entorno do Parque Estadual do
Morro do Diabo e dos demais fragmentos florestais da região.
Segundo, pelas pesquisas e ações conservacionistas com a fauna
nos fragmentos florestais, de forma a minimizar possíveis
ocorrências de florestas vazias.

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O tamanho de um fragmento

Uma das discussões conservacionistas mais presentes no


cenário nacional é a do percentual de áreas protegidas que deve
ter nosso país e onde devem estar localizadas. Certos grupos de
pesquisadores propõem o uso de ecorregiões como a alternativa
mais apropriada, enquanto outros defendem a maior proteção
de núcleos (hotspots) de biodiversidade. A realidade é que
dificilmente os conservacionistas têm a chance de definir
cientificamente onde uma reserva deve se localizar. Felizmente
elas continuam sendo criadas, todavia, na maioria das vezes, de
maneira oportunística.
A área do fragmento é normalmente o parâmetro que
melhor explica a riqueza específica, padrão observado para muitos
organismos, desde plantas (Hobbs, 1988; Soulé et al., 1992) até
animais vertebrados (Verboom & van Apeldoorn, 1990; Soulé et
al., 1992). A riqueza tende a diminuir à medida que a área do
fragmento torna-se menor que a área mínima requerida pela
população (Saunders et al., 1991).
Está claro hoje em dia que, se todas as outras variáveis
forem iguais, uma reserva maior retém muito mais espécies e
com maior viabilidade. De maneira geral, devemos procurar
sempre criar reservas, as maiores possíveis. No entanto, se
raramente nos é apresentada a oportunidade de criar uma reserva,
imagine decidir qual o tamanho que ela deve ter.
Nessas circunstâncias, alguns outros conceitos teóricos
podem ajudar no processo decisório. Avaliações expeditas de
biodiversidade podem nos dizer onde temos mais chances de
estar conservando mais biodiversidade. No Pontal, o resultado
de nossas pesquisas mostra que existem cerca de 21.000 ha de
florestas na forma de fragmentos de diversos tamanhos. Com
tão pouco para ser conservado, não podemos nos dar ao luxo
de escolher tamanho de fragmentos. Nesse caso é preciso garantir

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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com urgência a conservação de todos os fragmentos restantes.


Nossa proposta tem sido a imediata criação da Estação Ecológica
Mico-Leão-Preto, que compreende quatro fragmentos no entorno
do Parque Estadual do Morro do Diabo, os quais nossas pesquisas
mostraram como sendo os mais importantes (Ditt, 2000). Todos
os demais fragmentos devem ser abordados e transformados em
reserva. Tal incorporação ainda é possível na região, pois as
terras do Pontal são públicas e estão no momento sendo
negociadas com seus atuais ocupantes para fins de reforma agrária.
Todavia esta é a última oportunidade de fazê-lo por negociação
e sem custos de indenização por desapropriação.

O abraço verde e o efeito de borda

Fragmentos florestais sofrem naturalmente um efeito de


borda causado pelo excesso de luz solar e pela ação do vento e
do fogo na sua faixa externa. O resultado é que esta faixa torna-
se uma zona empobrecida ecologicamente e, conseqüentemente,
mais vulnerável à destruição.
Os efeitos de borda têm sido combatidos no Pontal, em
parceria com os pequenos e grandes produtores, com o plantio
de uma faixa de floresta que pode ou não ser consorciada com
atividades agrícolas (agrofloresta), e que obrigatoriamente produzam
benefícios econômicos a quem a plantou. Essa abordagem beneficia
a todos e pode ser uma forma concreta de estimular as pessoas a
plantarem florestas e ao mesmo tempo garantirem a proteção dos
fragmentos contra o fogo, os ventos e a superpopulação de cipós
entre outros efeitos deletérios do isolamento.

Tamanho mínimo viável de uma população

Pequenas populações de animais e vegetais "ilhados"


nos fragmentos florestais tendem a aumentar o cruzamento entre
parentes. Com isso ocorrem efeitos genéticos negativos que afetam

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a produtividade e a própria sobrevivência de muitas espécies.


Os números utilizados nesses casos são resultantes dos trabalhos
de Soule & Wilcox (1980), complementados posteriormente com
os trabalhos de Franklin (1980). O tamanho mínimo viável para
uma população efetiva (aquela parte da população que pode
procriar) é conhecido como regra dos 50-500 (Meffe & Carroll,
1997). Por essa regra, populações menores que esse mínimo
tendem a desaparecer pelo aumento da probabilidade de
casamentos consangüíneos e conseqüentemente da expressão
de genes deletérios.
Os nossos estudos com a fauna do Pontal têm obtido
resultados similares. Nenhuma das mais de dez espécies de
mamíferos examinadas possui uma população efetiva mínima
viável de 500 indivíduos e, portanto, nenhuma delas será capaz
de sobreviver isoladamente no PEMD, ou em quaisquer dos
demais fragmentos da região (Cullen Jr., 1997). O mesmo autor
vai mais adiante e conclui que somente integrando-se as
subpopulações de mamíferos dos fragmentos florestais da região
será possível viabilizá-las.

Corredores e fluxo gênico

Um dos fatores mais importantes na conservação da


biodiversidade é o reconhecimento de que espécies não devem
ser preservadas estáticas, como se fizessem parte de um museu.
Muito ao contrário, elas têm que ser mantidas como participantes
do processo evolutivo. Infelizmente, a expansão das paisagens
dominadas pelo homem criou uma escalada de fragmentação e
isolamento de habitat naturais. Essa redução de tamanho e esse
isolamento agem negativamente sobre a riqueza biológica,
diminuindo as taxas de imigração, o que pode levar populações
pequenas à extinção e tende a tornar dominantes as espécies
que conseguem se manter nas manchas isoladas (Hanson et al.,
1990). Dessa forma, a diversidade diminui, não só pela redução

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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na riqueza, mas também por uma redução na equitabilidade.


Quando consideramos um conjunto de fragmentos florestais, o
isolamento depende da distância até a fonte de indivíduos mais
próxima, da distância aos fragmentos vizinhos de mesmo tipo e
das características da matriz (Metzger, 1995).
A conectividade é a capacidade da paisagem de estimular
ou inibir o movimento dos organismos (Taylor et al., 1993).
Como vimos anteriormente, a conectividade leva em conta o
arranjo espacial dos fragmentos, a presença de corredores e a
permeabilidade da matriz. No Pontal temos trabalhado com
restauração da conexão entre fragmentos florestais, utilizando
principalmente restauração de Áreas de Preservação Permanente
e Reservas Legais. No caso dessas últimas, o processo envolve o
apoio da comunidade e a utilização mais uma vez de
agroflorestas, seja como agente iniciador do processo de
restauração florestal ou pela formação de corredores agroflorestais
conectando fragmentos de floresta nativa.

Ilhas de passagem da biodiversidade

Finalmente, onde os corredores não forem de todo


possíveis, deve-se plantar uma série de pequenos bosques
(principalmente de árvores frutíferas) entre os fragmentos de
floresta nativa, para possibilitar a passagem de polinizadores,
dispersores e outros animais, reduzindo o efeito de isolamento
dos fragmentos.
Na perspectiva agroflorestal, a terceira parte do projeto
consiste no uso de bosques sociais ou quintais agroflorestais
como "ilhas de passagem de biodiversidade" (do inglês stepping
stones, no sentido proposto por Forman, 1995). "Ilhas de
passagem" são pequenas ilhas florestadas que aumentam a
heterogeneidade na paisagem, estimulando movimentos saltitantes
de dispersão para muitas espécies. Esses movimentos promovem
a recolonização de fragmentos recipientes pelo mosaico

73
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

fragmentado, além de aumentar o fluxo gênico e a diversidade


genética das espécies. Esse fluxo contínuo leva a aumento na
adaptabilidade e na densidade de espécies, principalmente
daquelas mais susceptíveis aos efeitos da fragmentação e, como
conseqüência, a melhoria da diversidade e da integridade
biológica no ecossistema (Forman, 1995). "Ilhas de passagem"
podem também "acordar" certas populações isoladas, estimulando
dispersões e criando um cenário metapopulacional
(metapopulação é um conjunto de populações isoladas da mesma
espécie), principalmente para muitas aves, morcegos e insetos
polinizadores, os grandes responsáveis pelos serviços de fluxo
gênico, polinização, dispersão e chuvas de sementes pela
paisagem.
Esses bosques têm sido utilizados no Pontal com grande
sucesso e contam mais de 400 famílias envolvidas. Do ponto de
vista socioeconômico, o uso e a exploração manejada desses
bosques agroflorestais pode servir como nova fonte alimentar e
de renda para as comunidades rurais, além de promover uma
provável redução nos conflitos e antagonismos entre a fauna e a
flora presentes nos fragmentos florestais e as comunidades rurais
vizinhas (Cullen Jr., 1997). Dessa forma, integramos uma
alternativa social a uma necessidade ecológica para a paisagem
regional.

Conclusões

No Projeto Mico-Leão-Preto foram examinados aspectos


da ecologia, comportamento, genética e demografia da espécie.
Graças a essas pesquisas, oito novas populações de micos foram
descobertas, seis das quais em fragmentos de ocupações no
Pontal. Os dados obtidos foram usados em modelos matemáticos
de simulações da evolução de cada população isoladamente e
em conjunto. Os resultados das simulações mostram que, se
deixadas em sua condição de isolamento, todas as populações

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

têm grande probabilidade de se extinguir nos próximos cem


anos. Em conjunto, possuem grande chance de sobreviver nesse
mesmo período (Valladares-Pádua & Cullen Jr., 1994). Fica
demonstrada não só a necessidade de se garantir a existência
dos fragmentos florestais do Pontal, mas também a implantação
de um processo de restauração ecológica para garantir sua
integridade e continuidade.
As pesquisas mostram que o mesmo destino reservado
aos micos aguarda também os outros mamíferos da região (Cullen
Jr. et al., 2000/2001). Os seus resultados indicam que onças
(Panthera onca), pumas (Puma concolor), antas (Tapirus
ter restris) e jaguatiricas (Felis pardalis) não só necessitam de
todos os fragmentos florestais encontrados na região mas também
do plantio de corredores florestais que sirvam de abrigo no
deslocamento desses animais pela paisagem (Cullen Jr. &
Valladares-Pádua, 1999).
A necessidade clara de conservar os fragmentos florestais
remanescentes das reservas do Pontal foi sacramentada por uma
avaliação ecológica deles, que deu indicações das prioridades
nos esforços de conservação. Em tal diagnóstico da conservação
e das ameaças a fragmentos, foram examinados: aspectos
históricos e fundiários da região; características da paisagem, como
forma e tamanho dos fragmentos, configurações da paisagem e
influência dos remanescentes florestais vizinhos; atitudes e
comportamento de fazendeiros; alterações refletidas na estrutura
das florestas e na composição de espécies de árvores de dossel
(Ditt, 2000).
Ao mesmo tempo em que as pesquisas ecológicas
evoluíam no Pontal, implantava-se um programa de educação
ambiental com a comunidade local. Para alcançar conservação
da natureza com envolvimento comunitário, foram usadas três
estratégias principais: pesquisas, educação e envolvimento
comunitário. Para verificação de sua eficácia e para seu
aprimoramento, foi utilizada metodologia de avaliação contínua,

75
que facilitou a implementação do programa e a adoção de
atividades eficientes, economizando tempo e recursos (Pádua,
1991; Pádua & Valladares-Pádua, 1997).
A expansão das ações conservacionistas no Pontal
mostrou que os esforços integrados de pesquisa com espécies e
seu habitat, educação ambiental e envolvimento comunitário
são de grande importância para a conservação de ecossistemas
ameaçados, como é o caso da Mata Atlântica de Interior no
Pontal do Paranapanema. Foram essas conclusões que levaram
a uma expansão ainda maior do programa de conservação, com
a aproximação da comunidade de assentados da reforma agrária
na região.
Em seguida, resumimos algumas conclusões que
obtivemos nesses vinte anos de ação conservacionista no Pontal
do Paranapanema, esperando que elas sirvam de contribuição
ao manejo efetivo do Corredor do Rio Paraná, bem como de
outros corredores que estão em planejamento ou implantação
em nosso país.
• Os resultados do conjunto de pesquisas realizadas na
região do Pontal do Paranapanema indicam o
comprometimento da sobrevivência no longo prazo
de, pelo menos, parte da biodiversidade da região norte
do corredor de biodiversidade na região do Rio Paraná,
se este não for implantado em médio prazo. Os grandes
felinos, por exemplo, precisariam de todo o Corredor
de Biodiversidade do Rio Paraná para a sua
sobrevivência (Cullen Jr. & Valladares-Pádua, 1999).
• A subdivisão do corredor em células menores, com
atores específicos, como é o caso do IF e do IPE na
parte norte, mas com uma coordenação geral para
não se perder o rumo, pode facilitar sua implantação.
• É importante planejar na paisagem, mas agir na
propriedade.
• A incorporação do corredor, oficialmente, nas políticas
públicas facilita enormemente a ação daqueles que
estão trabalhando na sua implantação.
• Finalmente, manejos participativo e adaptativo têm se
mostrado agentes facilitadores da implantação do
corredor. No Pontal, os avanços nas ações e os resultados
das pesquisas são discutidos com representantes das
comunidades da região, pelo menos a cada dois anos
e, a partir daí, as novas metas são traçadas.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer ao Ibama, por nos ter


convidado a participar do I Workshop sobre Corredores.
Agradecemos ao Instituto Florestal de São Paulo e, em especial,
ao diretor do Parque Estadual do Morro do Diabo, Helder Faria,
sem o apoio dos quais pouco do que fizemos no Pontal teria
sido possível. Agradecemos também aos parceiros institucionais
de longos anos Apoena e Cocamp.

Bibliografia

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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79
PROJETO CORREDOR ECOLÓGICO
ARAGUAIA–BANANAL
Equipe Básica
Maurício Galinkin (coord.)
Adriana Dias
Edgardo M. Latrubesse

Participação
Fernando P. Scardua
André F. Mendonça

Supervisão Geral
Moacir Bueno Arruda

O Brasil é o país que possui a maior área territorial de


formações vegetais do tipo savânicas do mundo, cerca de 2 milhões
de km 2, que abrangem um quarto do território nacional. Em
nosso país esse tipo vegetacional é mais comumente conhecido
como Cerrado e é a formação savânica mais rica em diversidade
florística e faunística do mundo. Contudo, estima-se que 37% da
área do bioma já perderam sua cobertura vegetal primitiva e
56% são manejados de alguma forma (Dias, 1994). Estudo recente
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE demonstra
que restam apenas pequenas porções não antropizadas nesse
bioma, enquanto o documento "Prioridades para a Conservação
do Cerrado e Pantanal" (MME, 1999) indica ter o bioma apenas
três áreas pouco alteradas pelo homem, que representam cerca
de 16,72% do total do cerrado.
Por ser muito diferente do que o colonizador europeu
estava acostumado a ver, acabou sendo objeto de um estigma
que desvalorizou a flora e a fauna que se encontravam nessa
região. O mesmo aconteceu quanto ao uso das terras para
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

agricultura comercial, por exigir o desenvolvimento de técnicas


apropriadas, desconhecidas pelos colonizadores. As pedras e os
metais preciosos que por aqui se encontravam foram o principal
motivo que levou à ocupação desse território.
O cerrado, desconhecido e desprezado quanto ao seu
valor, ficou então sujeito a uma crescente devastação,
particularmente após o desenvolvimento de tecnologia agrícola,
a partir dos anos 70 do presente século, o que permitiu a
implantação de agricultura comercial nessa região. A paisagem
do cerrado encerra em suas formas arquitetônicas características
intrínsecas às espécies biológicas que a compõem e diversidade
e riqueza. Agora tem sido desprezada em favor do lucro imediato
e fácil pelo cultivo de espécies comerciais exóticas.

Histórico

Com o objetivo de gerar as principais linhas de atuação


para a criação de um programa para a implantação de corredor
ecológico interligando a APA federal dos Meandros do Araguaia,
ao sul, à APA estadual do Cantão, ao norte da Ilha do Bananal,
o Ibama e o Cenaqua promoveram, no mês de julho de 2000,
na cidade de Luiz Alves, município de São Miguel do Araguaia
(GO), uma reunião com a presença de representantes de distintos
segmentos da sociedade civil e de órgãos governamentais, como:
Secretaria de Recursos Hídricos Federal, prefeituras da região,
empresários, Universidade Federal de Goiás, Universidade
Estadual de Goiás, Funai, IBGE e organizações não-
governamentais (ONGs).
Reunião similar foi organizada em Aruanã (GO), entre
30 de outubro e 2 de novembro de 2000. Nessas ocasiões, foram
discutidas e indicadas diretrizes iniciais para a implementação
do corredor ecológico. Além de propostas específicas de
preservação e estudo da biodiversidade, a execução de um plano

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

de desenvolvimento sustentável para a região, a expansão do


ecoturismo, assim como planos de gestão e pesquisa dos recursos
hídricos foram objeto das atenções dos participantes do encontro.
O presente projeto baseia-se nas diretrizes levantadas
nessas reuniões e refletem os principais problemas da região,
dando indicações acerca de suas possíveis soluções.
Houve consenso, nos referidos encontros, que a falta de
estudos básicos e a escassez de dados sistemáticos sobre o sistema
fluvial trazem grandes dificuldades para o desenvolvimento de
qualquer plano complexo de gestão integrada, como deve ser
aquele de um corredor ecológico. Definiu-se, então, que o estudo
do sistema fluvial e sua abordagem, desde as diferentes óticas
disciplinares, seriam uma das prioridades, já que esse
conhecimento é fundamental para subsidiar o entendimento de
processos bióticos, para a tomada de decisões e a implementação
de planos de gestão.

Corredores Ecológicos – Quadro Conceitual

Escalas de Conservação

Na evolução da relação homem versus meio, surgiram


os desequilíbrios ambientais e, com eles, a necessidade de dar
sustentação aos ciclos básicos que garantem a vida na Terra.
Essa percepção incentivou ações políticas, no sentido de criar
áreas legalmente protegidas que guardassem territórios
representativos da vida natural no planeta.
Quando se olha sob a perspectiva das comunidades
florestais, observa-se a criação de manchas de biodiversidade
legalmente protegidas, entremeadas de ocupações que,
desconectadas do próprio funcionamento biológico da paisagem,
acabam por colocar em risco a sua manutenção e o próprio

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

fornecimento de elementos básicos para a sobrevivência


humana, tais como água potável, ar puro, solo rico, recursos
alimentares e medicinais.
Em função da urbanização e expansão agrícola,
presencia-se uma aceleração contínua das taxas de perdas de
habitats naturais. O modelo brasileiro de áreas naturais
protegidas já não cumpre seu principal objetivo: o de proteção
da biodiversidade. As taxas de devastação são muito superiores
às de regeneração e o fenômeno de fragmentação se instala
rapidamente. Esse fenômeno, como resultado das interferências
humanas nos ecossistemas naturais, produz influências
significativas na dinâmica das comunidades florísticas e
faunísticas locais. Segundo Ricklefs (1996), quanto menores e
mais isolados os fragmentos florestais mais facilmente as
populações de fauna e flora minguam à extinção. Plummer &
Mann (1995) relatam que a fragmentação promove a extinção
do processo de acasalamento dos animais silvestres, o que
conduz à degradação gradual dos habitats. Wilson (1988) afirma
que esse fato tem sido considerado uma das maiores ameaças
à biodiversidade, especialmente nos países megadiversos dos
trópicos, onde as extinções previstas para as próximas décadas
são alarmantes.
De acordo com Fernandez (1996), a fragmentação resulta
em dois processos distintos: o primeiro, a curto prazo, é a própria
redução da área que, por um simples efeito de amostragem,
leva os fragmentos a terem menos espécies que a área contínua.
E o segundo, a longo prazo, é o fenômeno da insularização,
que se relaciona diretamente aos padrões de espécie-área. O
conceito de espécie-área é bastante antigo dentro da ecologia e
inúmeros estudos argumentam sobre sua relevância nas
populações de aves, mamíferos e nas comunidades florestais. O
termo indica as condições espaciais ideais para comportar
comunidades florísticas e faunísticas representativas de
ecossistemas naturais não antropizados.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Outra conseqüência importante trazida pela fragmentação


de habitats é justamente o aumento na proporção de bordas
expostas. Os efeitos de borda aumentam a temperatura do ar e o
déficit da pressão do vapor estende-se a cerca de 60 metros
dentro de fragmentos de 100 hectares (Kapos, 1989). Lovejoy et
al. (1997) observaram que alguns pássaros permanecem pelo
menos 50 metros longe das bordas dos fragmentos florestais na
Amazônia. Laurence (1991) concluiu que o efeito de borda em
florestas tropicais pode ser detectável em até 500 metros da borda,
contudo, freqüentemente, penetram 200 metros. Há o aumento
de espécies vegetais generalistas, uma vez que estas espécies
possuem excelente habilidade de dispersão e são capazes de
invadir e colonizar habitats em distúrbio, sendo atraídas para a
borda e podendo até penetrar no núcleo dos fragmentos.
No sentido acima relacionado, temos alguns princípios
descritos por Quammen (1997) sobre a sobrevivência esperada
de espécies em reservas naturais isoladas:
• Reservas grandes guardam mais espécies em equilíbrio
do que as pequenas.
• Reservas localizadas perto de outras podem guardar
mais espécies do que reservas distantes.
• Em um grupo de reservas que são tenuamente
conectadas, cada uma delas vai suportar mais espécies
do que um grupo de reservas desconectadas.
• Formatos redondos guardam mais espécies do que
os alongados.

Corredores Ecológicos

Nesse cenário de intensa retalhação dos ecossistemas


naturais, as Unidades de Conservação possuem crucial
importância para os programas de conservação, mas, no entanto,

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essas não passam de um caso particular de fragmentos de habitat,


de ilhas de diversidade.
Devido a essas dimensões, que envolvem a manutenção
da estabilidade dos habitats, é que a implantação de corredores
de dispersão de fauna e flora, denominados corredores ecológicos,
que reconectam partes de habitats isolados e reduzem a taxa de
extinção, emerge como ponto estratégico para a conservação
dos ambientes naturais remanescentes.
Segundo Reed Noss, citado por Plummer & Mann (1995),
a conectividade é absolutamente crucial, especialmente quando
falamos a respeito de espécies que não possuem espaços
suficientes para manter a população viável.
Em locais onde a paisagem é fragmentada pela
urbanização e desflorestação, os animais precisam de caminhos
naturais para se movimentar e migrar, na busca de prevenir a
consangüinidade e super-exploração das presas. Em regiões onde
o turismo é uma atividade econômica, os corredores garantem a
beleza cênica da paisagem.
Para desenhar uma paisagem com interconexões de
corredores, é essencial ter em mente as relações dos efeitos de
bordadura, dinâmica de populações florísticas e faunísticas,
insularidade e, ainda, tamanho, desenho e forma de organização
das Unidades de Conservação.

Proteção Legal de Espaços Naturais

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC


é a referência legal, em nosso país, para a criação e gestão de
áreas naturais protegidas.
A legislação, em seu artigo 2°, inciso XIX, diz que
"corredores ecológicos são porções de ecossistemas naturais ou
seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando


a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas,
bem como a manutenção de populações que demandam, para
sua sobrevivência, áreas com extensão maior do que aquela das
unidades individuais".
No artigo 27, parágrafo 1°, o referido diploma legal afirma
que os planos de manejo, quesito básico para as unidades de
conservação, devem abranger a área da unidade de conservação,
sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo
medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica
e social das comunidades vizinhas.

Estratégia do País para Conservação e Uso


Sustentável dos Recursos

Importância e processo de implantação de um


Corredor Ecológico

A estratégia de conservação baseada em reservas isoladas


acarretou diminuição do fluxo gênico entre populações de certas
espécies, causando, a médio e longo prazos, o aparecimento de
genes deletérios e, por conseqüência, uma possível extinção local.
Nesse contexto, o Ibama começou a trabalhar no sentido de
criar corredores ecológicos.
A conservação da biodiversidade, por meio da
implementação de corredores ecológicos, segue premissas básicas
definidas por Miller em 1997, que são:
• Conservação de regiões extensas e bioticamente
viáveis; ter sustentabilidade econômica;
• Envolvimento das agências ambientais;
• Aceitação popular e integração institucional.

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A delimitação de corredores no Brasil tem sido definida


por estudos científicos. Inicialmente, é realizado o estudo de
representabilidade dos biomas e ecossistemas em relação às
unidades de conservação e aos tipos de vegetação existentes. Os
resultados desse estudo levam ao estudo de prioridades para
conservação, onde são identificadas e classificadas por bioma as
áreas mais importantes para conservação.
A delimitação de um corredor não é estática, sendo
freqüentemente reavaliada sua função e importância, a partir de
novos estudos científicos.
Outro ponto para a conservação é o uso sustentado de
recursos, no qual deve haver uma harmonia entre a política
pública e os diferentes setores da sociedade, que estão presentes
na região, fazendo com que haja incentivo à criação de planos
de manejo sustentado de recursos naturais e projetos que visem
incentivar e organizar o turismo na região.
Deve haver apoio técnico-científico e incentivos
financeiros às comunidades locais e aos setores produtivos
que estão na região, para que suas atividades sejam otimizadas
e, conseqüentemente, diminuam as pressões sobre os
ecossistemas naturais.
Para a implantação de um corredor ou área de proteção,
é indispensável o processo de fortalecimento social, seguindo as
seguintes diretrizes:
• Identificação de prioridades para as comunidades
locais;
• Capacitação na resolução de conflitos;
• Formação de líderes;
• Apoio à educação e à saúde;
• Capacitação de promotores de educação ambiental;

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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• Priorização do trabalho de minorias e populações


tradicionais;
• Socialização das informações sobre o corredor ou da
área de proteção.

Planejamento Biorregional

Miller (1997) acredita que o destino das áreas protegidas


mundiais caminha para a formação de ilhas de diversidade
biológica em meio a um mar de assentamentos humanos.
Segundo o mesmo autor, para começarmos um trabalho que
objetive reverter essa tendência, devemos primeiro expandir as
escalas geográficas dos programas de conservação, incorporando
ecossistemas inteiros, de forma integrada com as pessoas e
instituições que lá vivem e trabalham.
A biorregião Araguaia-Bananal destaca-se como um
ponto estratégico de conservação da biodiversidade do cerrado
brasileiro. Ela apresenta-se, conforme já mencionado, como um
dos três últimos remanescentes inseridos na paisagem savânica
brasileira; os restantes são relictos dispersos na paisagem, que
também precisam de planejamento.
Embora a maioria dessas UCs esteja contribuindo para a
preservação de uma fração significativa da diversidade biológica,
desempenhando um papel central para o futuro dos recursos
naturais brasileiros, o conhecimento científico acumulado nos
últimos anos, no ramo da biologia da conservação, tem indicado
que áreas bastante grandes são necessárias para a manutenção
de processos ecológicos evolutivos (Fonseca & Ayres, 1998). Sendo
assim, a perpetuidade das UCs brasileiras depende do manejo
adequado da sua biorregião e do envolvimento das populações
nos esforços da conservação.

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Padrões de Acordos Institucionais Adotados

Para a gestão de corredores, tem sido proposta, como


no presente caso, a criação da seguinte estrutura:
• Um Comitê Ad hoc, que será composto por
representantes das instituições municipais, estaduais,
federais e ONGs, na sua fase inicial de implantação.
O comitê será responsável pela implementação do
corredor, sendo dissolvido após a criação deste.
• Comitês Consultivos, que serão responsáveis pela
avaliação do avanço do corredor e do estabelecimento
das propriedades-mestras em âmbito local.
• O Comitê Técnico Consultivo será originário do Comitê
Ad hoc e contará com representantes de organizações
governamentais e não-governamentais.
• O Comitê Participativo-Consultivo, composto por
representantes de vários setores envolvidos, avaliará
os avanços na implementação do corredor e
estabelecerá as prioridades locais e as ações a serem
desenvolvidas.

Caracterização da Área do Corredor

Introdução

No final da década de 70 foi criado o Projeto de


Desenvolvimento Integrado da Bacia do Araguaia-Tocantins –
Prodiat, que tinha como objetivo incentivar e delinear o
desenvolvimento para essa área, assim como estimar as possíveis
conseqüências desse desenvolvimento. Os resultados dos estudos
do Prodiat foram publicados em outubro de 1982.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Esse trabalho contém a primeira proposta de criação de


corredores ecológicos na região focalizada, a partir da observação de
que a elevada taxa de crescimento demográfico (5% a.a. entre a
população rural na região central, cuja área coincide aproximadamente
com a do corredor ora proposto), então registrada na região, causada
pelo avanço da fronteira agrícola, tenderia a provocar graves danos
ambientais e conseqüente perda de biodiversidade (Prodiat, 1982).
Embora a legislação da época já garantisse a defesa de alguns desses
ambientes, os autores do programa argumentam que, dada a extensão,
a falta de infra-estrutura e de recursos tornava quase impossível a
proteção dessa área.
A área total de corredores então proposta por esse
programa, com 25.276.940 hectares, representa 27% da área total
abrangida pelo Prodiat. Esses corredores teriam largura mínima
de 10 km e ligariam as diferentes áreas de proteção.
A área destinada à implantação de corredores na subárea
goiana do Prodiat, que atualmente compreende os estados de
Tocantins e Goiás, era de 13.794.977 hectares, correspondendo
também a cerca de 27% da área total dessa subárea. O atual
projeto do Corredor Araguaia-Bananal, apresentado a seguir,
propõe um corredor com cerca de 9.000.000 de hectares.

Limites Propostos e Descrição da Área


do Corredor Ecológico

Em função das condições abióticas da região, assim


como da biodiversidade de ecossistemas e habitats, e com o
fim de garantir um efetivo corredor ecológico, propõe-se uma
área com limite norte no extremo setentrional da APA estadual
do Cantão; o extremo sul em Aruanã, o limite oriental ao longo
do eixo da margem direita do Araguaia-Javaés, e como extremo
ocidental, o escarpamento/pedimonte da Serra do Roncador.
Sendo assim, o corredor se estenderia ao longo da bacia do

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Bananal, a qual compreende a ilha do mesmo nome, o Pantanal


do Rio das Mortes, a planície aluvial do Araguaia e pequenas
áreas periféricas (Figura 1).
A bacia do rio Araguaia é um dos sistemas fluviais mais
importantes da América do Sul. Vários aspectos fazem dela uma
área de particular interesse para as pesquisas de recursos hídricos
e diversidade florística e faunística de ambientes aquáticos. Ela é
a quarta em tamanho na América do Sul, com quase 900.000
km². Sua área de drenagem inclui duas das mais espetaculares
regiões fitogeográficas, que concentram boa parte da
biodiversidade do planeta: o cerrado e a floresta amazônica.
A planície do Bananal é uma das maiores áreas de
sedimentação fluvial do continente, semelhante ao Pantanal Mato-
grossense. Os impactos induzidos pela ação antrópica,
principalmente pelo desmatamento para expansão da fronteira
agropecuária no cerrado, têm produzido processos acelerados
de erosão na parte alta da bacia, cujas conseqüências de médio
e longo prazos para o sistema principal são ainda desconhecidas,
podendo-se verificar, no curto prazo, a degradação da qualidade
de suas águas por contaminantes de diversos tipos.
Erosão e assoreamento são dois impactos ambientais
que vêm sendo constatados na bacia do rio Araguaia, mas só
existem dados significativos para a parte alta da bacia (DAEE/
IPT, 1989; IPT-SP, 1988; Oliveira e Salomão,1992). Os órgãos
governamentais estaduais (de Goiás e Mato Grosso), por razões
diversas, têm focalizado sua atenção apenas nos catastróficos
processos erosivos registrados na alta bacia, sem desenvolver
pesquisas quantitativas e sistemáticas sobre geomorfologia
fluvial e hidrologia no sistema principal. Compreender e
mensurar esses elementos é fundamental para qualquer
proposta de planejamento do desenvolvimento sustentável da
região (Baker et al., 1988; Cooke and Doorkampf, 1974;
Dunne & Leopold, 1998; Latrubesse et al., aceito para
publicação; Leopold, 1994).

92
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

As propostas de expansão da fronteira agrícola dentro


da bacia do Araguaia têm provocado profundas discussões
políticas, sociais e científicas na região Centro-Oeste. O foco
desses debates tem sido os projetos governamentais de infra-
estrutura de transporte que pretendem incentivar o que
denominam de desenvolvimento regional, por meio de sua
integração à economia nacional, dentro dos moldes tradicionais
de melhoria de infra-estrutura de transportes e, assim, maiores
facilidades para o avanço da fronteira agrícola e monoculturas,
cuja produção é destinada à exportação (Programa Avança
Brasil-Hidrovia Araguaia-Tocantins). Recentemente, a Secretaria
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da União propôs um
programa de gestão para a bacia (Programa Nossos Rios/Bacia
Araguaia-Tocantins).

Áreas Protegidas na Região

As áreas protegidas existentes na região, tanto por seu


significado em termos de biodiversidade quanto de proteção às
populações indígenas, podem ser vistas na Figura 2. A área
escolhida contém quatro unidades de conservação e seis reservas
indígenas. Ao norte, a APA Estadual (do Tocantins) do Cantão e
o Parque Estadual (Tocantins) do Cantão, esta uma área protegida
de 89.000 ha, criada pelo governo estadual em 1998, seguida,
na região intermediária, pelo Parque Nacional do Araguaia, com
518.964 ha. Mais ao sul, a APA Meandros do Araguaia, com
357.166 ha (Ibama). As seis reservas indígenas da região têm
cerca de 2 milhões de ha.

Geomorfologia

A bacia do Bananal é uma das maiores e mais


desconhecidas áreas de sedimentação fluvial quaternária
continental da América do Sul. Necessita ser estudada devido à

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

sua estratégica posição entre o cerrado e a floresta amazônica, o


que constitui uma situação de privilégio para os estudos de
biodiversidade, recursos hídricos e paleoecologia das regiões
tropicais.
O quase total desconhecimento da evolução desse
grande sistema, durante o quaternário tardio, torna necessária
uma pesquisa que permita esboçar a evolução paleohidrológica,
paleoecológica e paleogeográfica do sistema e sua inserção nos
modelos paleoambientais e paleoclimáticos propostos para os
trópicos sul-americanos. Não devemos esquecer que a aplicação
da teoria dos refúgios do pleistoceno foi utilizada como base
fundamental para o planejamento e demarcação de unidades
de conservação na América do Sul (Lovejoy, 1982). Porém,
conforme explicitado por Haffer (1981), os refúgios não deveriam
somente ser identificados em função das bases de dados
biológicos, tais como centros de endemismo, mas também sobre
as bases de dados geocientíficos.
De acordo com Veiga (2000), o rio Araguaia corre sobre
"faixas de rochas dobradas seguindo o sentido Norte-Sul,
desenvolvidas entre antigos núcleos continentais…". Está, assim,
em uma "geosutura ativa, que condiciona porções subsidientes
em processo de preenchimento por sedimentos fluviais". Como
resultado dessa especificidade, a área caracteriza-se por
"acentuada dinâmica ambiental, grande diversidade biológica e
vulnerabilidade a ações antrópicas".

Importância da Biodiversidade Local

Na região do Araguaia-Bananal encontramos uma densa


malha hídrica, entremeada por grande variedade de tipos florestais
características do cerrado brasileiro. Informações mais detalhadas
a respeito das tipologias florestais do cerrado são parcas e os
processos geomórficos, como a mobilidade de canais dos rios

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

que criam instabilidade na vegetação, não são freqüentemente


investigados (Kalliola et al., 1992).
De acordo com os resultados do trabalho "Ações
Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado
e Pantanal", a área proposta para o corredor é um dos três
pontos nos quais ainda existe a maior integridade da
cobertura vegetal do cerrado brasileiro, entre 64% e 100%, e
corresponde a 16,77% de áreas remanescentes de cerrado
não antropizado.
A ampla rede hídrica que suporta a região Araguaia-
Bananal confere à área extrema importância biológica. São lagos
marginais, foz de tributários, planícies de inundação, cabeceiras
de rio, cachoeiras e corredeiras, que guardam alta riqueza da
biota aquática, bem como os tipos de vegetação associados à
mesma. Os resultados do seminário, conduzido pelo Ministério
do Meio Ambiente para definição de suas ações prioritárias para
o cerrado, mostram explicitamente a região do médio e alto
Araguaia como área prioritária para a conservação da
biodiversidade aquática.
O corredor aqui proposto tem uma particularidade
interessante. De grande vulto em abrangência territorial, cerca
de 9.000.000 ha, irá envolver ecótonos de diferentes fisionomias
do cerrado e suas variações florísticas e faunísticas, bem como a
Floresta Amazônica junto ao seu limite norte, no Parque Estadual
do Cantão (Figura 1).
Grande parte do corredor ecológico proposto, cerca 4/5
do total, está contida dentro do cerrado, apresentando todas as
possíveis fitofisionomias que esse bioma possui (cerrado senso
estrito, cerradão, campos sujos, campos limpos, campos de
murundus, florestas de galeria, matas semidecíduais, veredas),
além de apresentar ecótonos (uma área de transição entre dois
biomas) entre o cerrado e a Amazônia e cerrado e Pantanal
Mato-grossense.

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Figura 1. Delimitação aproximada do corredor.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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No cerrado, a devastação está ocorrendo principalmente


pela expansão da fronteira agropecuária e pelo incentivo às
monoculturas. Esse processo de destruição leva à fragmentação
das paisagens naturais e, com isso, ao isolamento de plantas e
animais, o que tende a quebrar a dinâmica do ecossistema
(Lovejoy et al., 1986; Laurence et al., 1998).
O isolamento de algumas espécies dificulta, ou mesmo
impede, que ocorra fluxo gênico entre as metapopulações,
conforme visto anteriormente, o que pode acarretar a extinção
das espécies isoladas e conseqüentemente de outras que são
dependentes destas.
Além do cerrado, essa região sofre influência ao norte
da floresta amazônica, sendo possível encontrar formações
vegetais características desse bioma como: Floresta Perenifólia
Higrófila Hileiana Amazônica, Floresta Subcaducifólia Amazônica,
Floresta Estacional Subcaducifólia Tropical, Complexo do
Cachimbo e Xingu (Plano de Manejo Parque Nacional do
Araguaia, 1981).
A região mais ao norte (Parque Estadual do Cantão e
Ilha do Bananal) apresenta uma grande influência da floresta
amazônica em termos de flora e ambiente. Essa região é formada
por floresta perenifolia sazonalmente alagada, floresta estacional
semidecidual, mata ciliar, capoeiras, varjões, saranzal, praias e
vegetação herbáceo-arbustiva.

Flora

A região do corredor Araguaia-Bananal é um mosaico


de tipos vegetacionais, que está diretamente relacionado ao clima
e ao solo da região, variando de campos abertos a áreas com
esparsas coberturas arbóreas, florestas com dosséis secos semi-
abertos, florestas sempre verdes mais altas com dossel fechado,
que acompanham as bordas dos cursos de água, florestas
semideciduais de dossel fechado associadas aos solos calcáreos,

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

até a floresta ombrófila densa no domínio amazônico, além de


manchas de capoeiras que caracterizam a regeneração secundária
na sucessão florestal.
Sendo assim, tendo como base Eiten (1990), Ribeiro et
al. (1983) e Embrapa (1998), reconhecemos para o cerrado pelo
menos onze tipos fisionômicos gerais, enquadrados em formações
florestais (mata ciliar, mata de galeria, mata seca, cerrado),
savânicas (cerrado sentido restrito, parque de cerrado, palmeiral
e vereda) e campestres (campo sujo, campo rupestre e campo
limpo), e ainda subtipos.

Fauna

A fauna de vertebrados pode ser dividida em ictiofauna


(peixes), herpetofauna (anfíbios e répteis), avifauna (aves) e
mastofauna (mamíferos). Essa divisão é importante para a análise,
pois cada grupo necessita de condições particulares para que
sua sobrevivência seja assegurada.
Com a quebra da continuidade física da cobertura vegetal
nativa, espécies animais de maior porte encontradas no corredor
Araguaia/Bananal, como a anta (Tapirus terrestris), o cachorro-
do-mato (Cerdocyon thous), o mão-pelada (Procyon
cancrivorus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a onça-
pintada (Panthera onca), que precisam de grandes extensões
de território para conseguir alimento e outros recursos importantes
à sobrevivência, não conseguem o suficiente em seus refúgios
de cerrado, passando a atravessar estradas e plantações e a se
alimentar, muitas vezes, de animais e plantas criados pelo homem,
na periferia das cidades, agrovilas e sedes de fazendas.
Segundo Araújo (1997), as aves acostumadas a pequenas
migrações para buscar alimento podem romper as barreiras que
isolam fragmentos de cerrado e continuar a ocupar a região.
Porém, certas espécies, como o bico-de-agulha (Galbula
ruficauda), o surrucuá-variado (Trogon surrucura) e o juruba

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(Baryphthengus ruficapillus) são restritas a habitats íntegros de


cerrado e não resistem à competição com espécies invasoras ou
à supressão de certos elementos do habitat, importantes para a
sua reprodução ou abrigo.

Ictiofauna

Aspectos gerais

Até o momento, a ictiofauna das bacias do Araguaia e


Tocantins não foi contemplada por estudos específicos mais
completos. No entanto, a ictiofauna da região e seus afluentes
possuem grande semelhança com as áreas periféricas da
Amazônia Central, tais como Guianas e Rio Meto superior, na
Colômbia. Entretanto, difere da ictiofauna da região central da
Bacia Amazônica, indicando que esta é uma barreira geográfica
importante para muitas espécies (Peret, 2000).
De acordo com esse autor, "a fauna de peixes da região
Araguaia-Tocantins representa uma fração importante e particular
na composição da biodiversidade brasileira (de peixes),
demonstrada pela grande quantidade de espécies endêmicas",
as quais destacam-se os peixes temporários, pertencentes à família
Rivulidae, dos gêneros Spectrolebias, Plesiolebias, Sympsonichthys,
Maratecoara, Trigonectes, Pituna, num total de sete espécies
descobertas recentemente nas regiões de entorno e vizinhanças
da APA do Cantão.
A bacia Amazônica, à qual pertence o rio Araguaia,
principal curso d'água da APA, apresenta a maior diversidade de
espécies de peixes do mundo. Segundo pesquisas científicas,
estima-se em 3.000 o número de espécies que podem ser
encontradas nessa bacia. De acordo com Brasil (1982) in
Seplan-TO (2000), 257 espécies foram identificadas no pólo
Araguaia-Tocantins, que compreendem os trechos do baixo
Araguaia, médio e baixo Tocantins.

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Fragilidade do ecossistema

Nessa região, os rios possuem nichos específicos criados


pelos travessões (obstrução no leito do rio que diminui sua
velocidade e resulta em uma região de deposição de sedimentos
e nutrientes). Como conseqüência, uma ictiofauna específica para
esses ambientes se desenvolveu. No projeto da hidrovia Araguaia-
Tocantins é proposta a retirada desses travessões, o que poderia
acarretar a extinção da comunidade.
A sobrevivência dessa ictiofauna está diretamente ligada
às lagoas marginais, que são conectadas ao rio de forma
permanente ou só no período das chuvas. Essas lagoas têm a
função de servir como "berçário" para os alevinos, pois nelas se
forma um ambiente propício para o desenvolvimento de uma
comunidade planctônica considerável, sendo o plâncton
indispensável ao crescimento dos alevinos.

Herpetofauna

Existem poucos estudos realizados na região que enfocam


a herpetofauna, porém eles indicam que há grande influência
do cerrado na composição dessas espécies.
O levantamento realizado na área do Parque Ecológico
Estadual do Cantão, pela Tangará Consultoria para o Governo do
Tocantins, encontrou 25 espécies de répteis, divididos em Squamata
(lagartos e cobras), com 20 espécies, Chellidae (tartarugas), com
três espécies, e Crocodilianos (jacarés), com duas espécies. Em
relação aos anfíbios, ocorre uma predominância de espécies do
cerrado, sendo observadas 23 espécies.
A região conta com a atuação do Centro Nacional de
Quelônios da amazônia–Cenaqua, um projeto do Ibama que
funciona há 20 anos e que visa à proteção dos quelônios de
água doce. Esses animais são sensíveis à presença humana em
larga escala e são caçados por sua carne, muito apreciada pela
população local, particularmente a indígena, tendo tornado-se

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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prato refinado para gourmets e oferecido em banquetes nas


cidades da região amazônica.

Avifauna

A avifauna da região proposta para a criação do Corredor


Ecológico Araguaia – Bananal caracteriza-se por ser de cerrado.
Essa região também é importante como área de nidificação de
aves migratórias.
O cerrado possui 837 espécies de aves, distribuídas em
64 famílias; 90,7% dessas espécies são residentes no cerrado,
sendo que 3,8% destas são endêmicas (Silva, 1995).
Em relação ao uso de habitat, cerca de 51,8% das aves
do cerrado são dependentes das matas e 20,8% são
semidependentes. No caso de aves migratórias que utilizam o
cerrado, 88,4% são dependentes de formações florestais.
Entretanto, 51,5% das espécies endêmicas desse bioma não são
dependentes de áreas florestais.
Essa dependência de parte da avifauna do cerrado em
relação a áreas de florestas faz com que a existência dessas
áreas seja extremamente relevante como fator de localização
dos corredores ecológicos. Mas o cerrado senso estrito possui
importância fundamental, pois as espécies endêmicas dependem
dessa fitofisionomia.
No Parque Estadual do Cantão, de acordo com o estudo
citado, foram registradas 317 espécies de aves, sendo que 33 são
endêmicas. Nesse parque, as espécies são em sua maioria
adaptadas para o ambiente amazônico, pois ele contém poucos
elementos de cerrado.
Nessa região foi observada a presença da harpia (Harpia
harpia), animal ameaçado de extinção, sendo este um dos poucos
lugares no Brasil Central onde ela ocorre. Essa ave se alimenta de
pequenos e médios mamíferos, faz ninhos no topo de árvores em
matas e forma casal monogâmico para o resto da vida, dificultando
os esforços de ajuda humana para sua reprodução.

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Mastofauna

A mastofauna da região do Araguaia se assemelha


bastante à mastofauna do cerrado, com algumas exceções como
o boto (Inia geoffrensis) e a preguiça (Bradypus sp).
Grande parte da mastofauna do cerrado, da mesma forma
que a avifauna desse bioma, apresenta acentuada dependência
das matas de galeria, seja para forrageamento, seja para abrigo
ou fonte constante de água durante a estação seca.
As matas de galerias contidas no cerrado podem ser
consideradas corredores ecológicos naturais que, ao longo do
tempo, possibilitarão o fluxo gênico entre a mata atlântica e a
floresta amazônica. Isso ressalta a importância das matas de galeria
no fluxo gênico.
Com relação à fauna associada às matas ciliar e de galeria,
iremos caracterizá-las como sendo de mesma ocorrência, uma
vez que a literatura não oferece bases para a separação.
A fauna de mamíferos do cerradão ainda não é muito
conhecida, pois existem poucos estudos realizados. A composição
da fauna do cerrado senso estrito é similar a de outras fisionomias
próximas, como o cerradão, o parque cerrado, o campo úmido
e o campo limpo.
Com relação aos mamíferos, a fauna associada às
formações campestres é dominada pela espécie Bolomys lasiurus.
Os mamíferos médios são representados por Didelphis albiventris
e várias espécies de tatus (Dasypus spp, Cabassus unicinctus e
Euphractus sexintus).
Com relação à fauna de mamíferos voadores, essa área
foi pouco amostrada, porém as condições locais indicam que
provavelmente existe uma comunidade de quirópteros com alta
riqueza, devido às diferentes fitofisionomias contidas nessa
região. Como essa área é uma transição entre o cerrado e a
floresta amazônica, é provável que ela possua espécies dos

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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dois biomas. A proteção das áreas utilizadas pelos morcegos é


importante, pois esse grupo é considerado um dos principais
polinizadores do cerrado.
A região de alagados, que caracteriza a Ilha do Bananal e
o Parque Estadual do Cantão, apresenta uma mastofauna que se
assemelha à do pantanal. Por toda a região existem relatos de
ocorrência de onça-pintada (Panthera onca), espécie carnívora de
topo de cadeia que exige grande área para viver. Se houver trabalho
de proteção dessa espécie, grande parte das espécies terrestres que
vivem nessa região será automaticamente protegida, devido à
extensão de área necessária para a sua sobrevivência.

Relação entre flora e fauna

Com a quebra da continuidade física da cobertura vegetal


nativa, as espécies de animais de maior porte encontradas no
Corredor Araguaia-Bananal, como a anta (Tapirus terrestris), o
cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o mão-pelada (Procyon
cancrivorus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a onça-
pintada (Panthera onca), que precisam de grandes extensões
de território para conseguir alimento e outros recursos importantes
à sobrevivência, não conseguem o suficiente em seus refúgios
de cerrado, passam a atravessar estradas, plantações, a se
alimentar, muitas vezes, de animais e plantas criados pelo homem,
na periferia das cidades, agrovilas e sedes de fazendas.
Segundo Araújo (1997), as aves acostumadas a pequenas
migrações para buscar alimento podem romper as barreiras que
isolam fragmentos de cerrado e continuar a ocupar a região.
Porém, certas espécies como o bico-de-agulha (Galbula
ruficauda), o surrucuá-variado (Trogon surrucura) e o juruba
(Baryphthengus ruficapillus) são restritas a habitats íntegros de
cerrado e não resistem à competição com espécies invasoras ou
a supressão de certos elementos do habitat, importantes para a
sua reprodução ou abrigo.

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Sendo assim, na região proposta para o Corredor


Ecológico Araguaia-Bananal é esperado um domínio faunístico
e, conseqüentemente, florístico de alta fidelidade ao original.
Esse grande fragmento de cerrado representa 17% dos cerca de
30% a 40% que restam desse domínio fitogeográfico e possui
cobertura vegetal com cerca de 60% de integridade.

Situação atual da população local

Os 39 municípios considerados na composição do


Corredor Ecológico Araguaia-Bananal possuem aproximadamente
450 mil habitantes, com cerca de metade deles vivendo na área
rural, de acordo com o censo populacional de 1996 do IBGE.
O município com o menor número de habitantes é
Abreulândia (TO), com 1.957 pessoas, enquanto o mais populoso
é Redenção (PA), com 58.029 habitantes.
A atividade econômica predominante na região é a
pecuária extensiva, havendo agricultura comercial nos pontos
extremos, ao norte e ao sul, bem como projetos de agricultura
irrigada nos municípios de São Miguel do Araguaia (GO) e Lagoa
da Confusão (TO).
Em Aruanã e no Distrito de Luiz Alves (município de São
Miguel do Araguaia), situados no noroeste de Goiás, as atividades
de turismo ligado à natureza são intensas e extremamente
relevantes, do ponto de vista econômico. De acordo com Borges
(2000), cerca de 135 mil turistas freqüentam anualmente essa região,
gerando uma receita aproximada de R$ 53 milhões, o que leva os
empresários locais a investirem em torno de R$ 35 milhões para
oferecer uma estrutura hoteleira com pouco mais de mil leitos
(Grupo Nativa, 1996, apud Borges, 2000).
Os recentes desdobramentos dos espaços políticos, com
a criação de novos municípios, tornam necessário buscar nova
avaliação geral, a partir de indicadores microrregionais.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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A região considerada para o corredor apresenta o Índice


Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M) abaixo da
média nacional, com tendência de redução dos valores no sentido
sul-norte. Na microrregião de Conceição do Araguaia (PA), esse
indicador registra valor praticamente no limite entre o baixo e o
médio nível de desenvolvimento humano (Tabela 1).

Tabela 1 – Índice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M). Corredor


Ecológico Araguaia-Bananal, por microrregião. 1991

Estado/Microrregião IDH-M IDH-M Estadual


Goiás
São Miguel do Araguaia .602 .722
Tocantins
Rio Formoso .628 .560
Miracema do Tocantins .574 .560
Mato Grosso
Médio Araguaia .712 .702
Norte Araguaia .555 .702
Pará
Conceição do Araguaia .503 .595
Brasil .742

Fonte: IPEA/FJP/IBGE/PNUD, Atlas do Desenvolvimento Humano


no Brasil, 1998.
IDH-M = Índice de Desenvolvimento Humano Municipal.

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Figura 2 – Índice Municipal de Desenvolvimento Humano – 1991.

Os municípios considerados na presente proposta de


criação de corredor ecológico possuem as áreas indicadas na
Tabela 2, ressaltando-se que o projeto pode não abranger as
áreas totais de alguns dos municípios:
Corredor Ecológico Araguaia-Bananal
Municípios considerados e respectivas áreas, em
hectares – 1997:

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tabela 2 – Área do Corredor Ecológico Araguaia-Bananal – por município.

Estado Município Área (ha)


1 PA Conceição do Araguaia 585.390
2 PA Redenção 383.990
3 PA Santa Maria das Barreiras 1.037.990
4 PA Santana do Araguaia 1.163.920
5 TO Abreulândia 190.310
6 TO Araguacema 278.990
7 TO Araguaçu 518.800
8 TO Barrolândia 70.530
9 TO Caseara 169.870
10 TO Couto de Magalhães 159.540
11 TO Cristalândia 181.550
12 TO Divinópolis do Tocantins 235.720
13 TO Dois Irmãos do Tocantins 377.260
14 TO Dueré 346.580
15 TO Formoso do Araguaia 1.351.050
16 TO Goianorte 180.850
17 *TO Juarina 48.310
18 *TO Lagoa da Confusão 1.060.250
19 TO Marianópolis do Tocantins 210.000
20 TO Miracema do Tocantins 266.700
21 TO Miranorte 103.590
22 TO Paraíso do Tocantins 133.100
(continua)

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(continuação)

Estado Município Área (ha)


23 TO Pium 1.005.820
24 *TO Sandolândia 354.200
25 MT Água Boa 1.156.620
26 MT Cocalzinho 1.945.630
27 MT Luciara 466.250
28 MT Nova Xavantina 576.350
29 MT Novo São Joaquim 865.170
30 MT Santa Terezinha 647.700
31 MT São Félix do Araguaia 1.900.970
32 MT Vila Rica 746.430
33 GO Aruanã 306.100
34 GO Britânia 96.660
35 GO Crixás 467.840
36 GO Mozarlândia 174.060
37 *GO Mundo Novo 215.470
38 GO Nova Crixás 732.530
39 GO São Miguel do Araguaia 616.790
TOTAL 10.722.497

Fonte:IBGE.
* Novo.

108
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Situação da população indígena

A região de influência do Corredor Ecológico Araguaia-


Bananal abriga população indígena de 11 etnias, em cerca 24 terras
indígenas, conforme mostra a Tabela 3 a seguir.

Tabela 3– Povos e Terras Indígenas na Região do Corredor Ecológico Araguaia-Bananal.

Terras Indígenas Povos UF Superfície População Data


(hectares)
Krikati Krikati MA 146.000 420 1990
Areões Xavante MT 218.515 759 1996
Areões I Xavante MT 24.450 0
Areões II Xavante MT 16.650 0
Karajá de Aruanã I Karajá GO 11 50 1994
Karajá de Aruanã II Karajá MT 893 0
Karajá de Aruanã III Karajá GO 586 0
Maraiwatsede Xavante MT 165.241 0
Marechal Rondon Xavante MT 98.500 376 1996
Parabubure Xavante MT 224.447 3.162 1996
Pimentel Barbosa Xavante MT 328.966 1.068 1996
Sangradouro/Volta Grande Xavante, Bororo MT 100.280 807 1994
São Domingos Karajá MT 5.705 93 1989
São Marcos Xavante MT 188.478 1.813 1996
Tapirapé/Karajá Karajá, Tapirapé MT 66.166 384 1994
Urubu Branco Tapirapé MT 167.533 60 1995
Karajá Santana do Araguaia Karajá PA 1.485 183 1989
Apinayé Apinayé TO 141.904 718 1989
Araguaia Avá-Canoeiro, Javaé,
Karajá, Tapirapé TO 1.358.499 2.249 1994
Boto Velho Javaé TO 145.080 95 1994
Funil Xerente TO 15.703 190 1994
Kraolândia Krahô TO 302.533 1.198 1989
Xambioá Karajá do Norte,
Guarani M'byá TO 3.326 176 1994
Xerente Xerente TO 167.542 1.362 1994
Fonte: Ricardo, C. A. (ed.), Povos Indígenas no Brasil 1991/1995. São Paulo: ISA, 1996.

109
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

De acordo com o Instituto Socioambiental, os grupos


indígenas na região do corredor ecológico proposto pertencem,
em sua maioria, ao tronco lingüístico Macro-Jê, sendo Tupi apenas
os Tapirapé. Embora existam algumas características socioculturais
genéricas comuns, as diferenças e especificidades de cada povo
manifestam-se de diversas formas, principalmente em termos das
relações de contato, do modo de ocupação do território e de
uso dos recursos naturais.
A situação dessa população, em termos de educação,
saúde e renda pode ser considerada como pior do que a registrada
pelos indicadores existentes para a população da sociedade
envolvente, embora não se disponha de índices específicos.
Com o avanço da fronteira agrícola, e a conseqüentemente
da ocupação da região por fazendeiros, a área de coleta de
alimentos e caça disponível para os indígenas fica cada vez mais
restrita às suas próprias terras. Já não existe mais a abundância,
presente no passado, de mamíferos de maior porte, que necessitam
de grandes áreas para viver. A pesca, fonte básica de proteínas
para os povos indígenas, também já se ressente dessa pressão
antrópica e da poluição das águas por produtos químicos originários
da exploração agrícola comercial. E essa situação tende a se agravar,
caso sejam levados adiante os projetos de infra-estrutura de
transportes e de incremento do plantio de grãos, constantes da
agenda governamental, conforme admite o Estudo de Impacto
Ambiental do Projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins, apresentado
ao Ibama por seu empreendedor.

Objetivos do projeto

O presente projeto tem como objetivo implantar em sua


fase inicial um corredor ecológico, tendo como eixo principal o rio
Araguaia, entre a APA Federal Meandros do Araguaia, em Mato

110
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Grosso, e a APA Estadual do Cantão, no Tocantins. Na segunda


fase de implementação, o corredor se estenderá até as cabeceiras
do rio Araguaia, junto ao Parque Nacional das Emas, e o Pantanal
do Rio das Mortes, no Mato Grosso.
Um processo participativo e democrático, que incorpore
todos os segmentos sociais da população local, é condição
necessária para a implantação do corredor, de forma a se definir
em conjunto um Programa de Desenvolvimento Humano
Sustentável que permita melhorar as condições de vida de seus
habitantes, utilizando os recursos naturais com sustentabilidade
ambiental, social e econômica.
Para dar suporte às políticas e projetos decorrentes desse
processo, uma série de estudos e pesquisas torna-se necessária e
prioritária, na medida em que o conhecimento científico da região
ainda é incipiente. Assim, o projeto do corredor propõe alguns
estudos iniciais para melhor se conhecer a geomorfologia, a fauna
e a flora, e as condições socioeconômicas da área geográfica
abrangida pelo corredor.

Agência executora

A condução geral do processo caberá ao Ibama, que ao


longo de todo o trabalho permanecerá como orientador e
referencial para a implantação do projeto. A agência executora
poderá ser o próprio Ibama ou o Cenaqua.
Para tornar a proposta operacional, dando agilidade às
decisões tomadas pelas instâncias de coordenação, conforme já
observado anteriormente, o ponto focal do processo poderá ser
a Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural –
CEBRAC, com sede em Brasília/DF. Essa indicação ficou pendente
de confirmação final por parte do Ibama.

111
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Justificativa
Situação Atual

A criação de um corredor ecológico, interligando quatro


áreas ambientalmente protegidas e seis territórios indígenas, irá
possibilitar fluxo gênico de grande diversidade ao longo de mais
de 400 km do rio Araguaia. Isso poderá garantir os largos espaços
necessários à sobrevivência de grandes mamíferos e aves de
maior porte, hoje ameaçados de extinção pelo contínuo e
persistente processo de avanço da fronteira agrícola nas regiões
Centro-Oeste e Norte. Além disso, possibilitará às populações
indígenas a continuidade de seus modos de vida e culturas,
baseados na pesca e caça, dentro de um equilíbrio com a
natureza. Mais ainda, as populações indígenas tradicionais que
vivem na região passarão a contar com a possibilidade de novas
atividades econômicas, utilizando os recursos naturais dentro de
um processo de desenvolvimento sustentável.

Fauna ameaçada de extinção

A região focalizada foi considerada pelo Governo Federal


como área prioritária para conservação, entre outras razões, por
ser área de transição entre os dois maiores biomas do Brasil (o
Cerrado e a Floresta Amazônica). Essa região é utilizada como
área de nidificação por aves residentes e migratórias, devido à
grande quantidade de peixes nessa região.
Em termos de mastofauna, podemos observar que, do
número total de espécies observadas no levantamento feito no
Parque Nacional do Araguaia, em 1981, cerca de 47% estão
ameaçadas de extinção.
No caso da ictiofauna, essa região apresenta uma taxa
de endemismo alta. Ressalte-se que qualquer degradação resultante
de intervenção antrópica de maior porte nessa área pode levar
várias espécies à extinção.

112
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Ameaças ao ecossistema

Essa área está sendo ameaçada pelo projeto da hidrovia


Araguaia-Tocantins, pois para implantar uma hidrovia industrial
será necessário que o leito do rio seja rebaixado por meio de
dragagens praticamente permanentes, dado o grande volume
de material alóctone anualmente para ele carreado. Com a
retirada das barreiras naturais, a velocidade das águas do rio
Araguaia aumentará, fazendo com que as áreas hoje alagadas
a montante da Ilha do Bananal sejam drenadas, e isso levará à
destruição das lagoas marginais, pois não haverá o
extravasamento anual das águas e os ovos e alevinos dos peixes
não irão para essas lagoas.
Como conseqüência, poderá ocorrer a extinção de várias
espécies ali existentes. Como a ictiofauna é a base da teia alimentar
nessa região, a avifauna e a mastofauna estarão extremamente
ameaçadas, além da população humana, que eleva sua renda
real e o consumo de proteínas por meio da pesca.
Outro problema ligado à proposta da hidrovia é que
nos meses de safra o trânsito de comboios será intenso, com
intervalo de cerca de 30 minutos na passagem entre um e outro,
após a confluência do Rio das Mortes, no Araguaia. O barulho, a
turbulência das águas e as ondas provocadas por esse tráfego
ininterrupto (24 horas) certamente irão afetar a fauna da região.
Além disso, o crônico derramamento de óleos lubrificantes e
combustíveis, usual e incontrolável em todas hidrovias do mundo,
afetará a ictiofauna e, principalmente, os quelônios, que são
muito sensíveis a poluentes. O pequeno intervalo entre os
comboios pode, também, impedir a travessia do rio por animais,
criando uma nova forma de isolamento. O barulho afetará as
aves que nidificam na vegetação ribeirinha e o aumento do
movimento na água pode impedir as desovas de anfíbios e répteis
(jacarés e tartarugas).

113
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Para a hidrovia funcionar, será necessário construir portos


e, por conseguinte, cidades. Com isso, as fontes de poluentes
aumentarão e a caça e a pesca também serão incrementadas,
prejudicando o estoque de peixes e animais terrestres, com
conseqüências na suas reproduções.
Um caso especial é o Parque Ecológico Estadual do
Cantão, um dos últimos refúgios naturais da ariranha (Pteronoura
braziliensis) e da onça-pintada (Panthera onca), que estão
ameaçadas de extinção. Esses animais encontraram esse refúgio
devido ao difícil acesso ao local e à grande quantidade de
alimento (peixes). Outra espécie ameaçada que ocorre nessa
região é o pirarucu, que utiliza as inúmeras lagoas ali existentes
para se alimentar.
É necessário que se crie o corredor ecológico dentro da
perspectiva de contínua educação ambiental da população local,
desenvolvendo-se planos de manejo sustentável. Essa região tem
grande potencial turístico, pois é semelhante ao pantanal, além
de possuir formações vegetais amazônicas e de cerrado.

Situação esperada

No final do projeto espera-se que as diferentes áreas de


conservação, reservas indígenas e resquícios de vegetação natural
estejam interligados por corredor com cerca de 100 km de largura,
que possibilite o fluxo gênico entre as diferentes populações,
atualmente isoladas nessas áreas. Além disso, a implantação do
corredor possibilitará a existência de uma comunidade residente
no próprio corredor, o que acarretará maior complexidade
ambiental e, conseqüentemente, maior diversidade de organismos.
Como o corredor está sendo proposto tendo o rio
Araguaia como sua base, este projeto assegurará a proteção do
rio e da comunidade lá presente ou dependente deste.

114
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Beneficiários do projeto

O meio ambiente da região será preservado nas áreas


ainda não antropizadas. Nas áreas que já foram alteradas
pela ação humana serão recuperados segmentos que
possibilitem um contato e troca de genes ao longo de toda a
região, por meio da circulação da fauna e polinização da
flora, ampliando os espaços disponibilizados para sua
reprodução e alimentação.

De forma simultânea, será instalado um processo de


uso sustentável, pelas populações locais, dos recursos naturais
existentes. Com isso, podemos alinhar como beneficiários do
projeto, inicialmente, as populações locais e, em particular, os
povos indígenas e as populações ribeirinhas e tradicionais, que
passarão a contar com um processo de proteção e conseqüente
ampliação do "estoque" de mamíferos e peixes que
tradicionalmente compõem sua cesta de alimentação básica no
tocante a proteínas animais.

Assim, seus modos de vida serão mantidos, reforçando


suas culturas, ora sob a grande ameaça, queadvêm da implantação
de grandes projetos de infra-estrutura (transporte, energia) e de
modificações no uso do solo, iniciados com a chegada da fronteira
agrícola da região.

Ao dar sustentabilidade às populações dessa região, o


país como um todo se beneficia, já que sua diversidade e riqueza
cultural são protegidas. Por outro lado, esses habitantes passam
a contar com melhores condições de vida, seja nos aspectos de
renda real, seja sob a ótica da saúde, educação e cultura,
possibilitando sua maior contribuição ao processo de
desenvolvimento do país.

115
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Estratégia de implementação

Ao longo dos dois seminários realizados, o primeiro em


Luiz Alves (município de São Miguel do Araguaia) e o segundo
em Aruanã3, ambos no estado de Goiás, representantes de diversas
entidades governamentais e não-governamentais estiveram
presentes, tendo sido possível o encaminhamento de propostas
de participação nos vários segmentos de atuação, necessários à
implementação do projeto do corredor. Algumas delas foram
definidas durante os encontros, outras ainda dependem de
decisão final do Ibama.
A condução geral do processo caberá ao Ibama, que ao
longo de todo o trabalho permanecerá como orientador e
referencial para a implantação do projeto.
Para tornar a proposta operacional, dando agilidade às
decisões tomadas pelas instâncias de coordenação, a Fundação
Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural – Cebrac, com
sede em Brasília/DF, devido ao acúmulo de conhecimento e
experiência nas questões ambientais da região como um todo,
foi indicada para atuar como ponto focal do projeto. Essa proposta
ficou pendente de decisão final por parte do Ibama.
Os estudos geológicos e geomorfológicos serão
conduzidos pela Universidade Federal de Goiás, com a
participação e o apoio do IBGE – Goiás, Companhia de Pesquisa
de Recursos Minerais – CPRM, devendo ser convidadas a
integrarem-se ao trabalho as universidades federais e estaduais
dos estados diretamente envolvidos (GO, MT, TO e PA).

3
Um terceiro seminário foi realizado no município tocantinense Lagoa da Confusão,
posteriormente à elaboração do presente projeto.

116
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prevê-se, ainda, que participem de estudos e pesquisas,


além das entidades governamentais e não-governamentais acima
citadas, a Funai, a Fundação Emas, as secretarias de meio
ambiente, de educação, de saúde, do trabalho e de turismo dos
estados e municípios (onde houver) da região, a Embrapa, o
Sebrae, a Funasa, o Senai, o Sesi, o Sesc e o Senar.
Além disso, as câmaras dos vereadores, prefeituras,
clubes de serviços, igrejas e ONGs locais devem participar da
gestão do processo, por meio dos mecanismos previstos para a
coordenação do projeto, e também poderão auxiliar na
execução de pesquisas locais.

Linhas de Ação

Mobilização

Para ser implantado e funcionar, esse corredor ecológico


necessita da efetiva adesão da população local, em todos os
estratos sociais, exigindo que a presente proposta seja conduzida
dentro de um processo de planejamento e execução democrático
e participativo, como já vem ocorrendo desde o primeiro
momento. Para isso, torna-se necessário ampliar o esforço de
mobilização da sociedade civil local, à qual deve ser oferecida,
como referencial para discussão, uma proposta inicial de projeto
de desenvolvimento humano sustentável.
A mobilização e o efetivo envolvimento da população
local é fator essencial, sem o qual a implantação do corredor
ecológico terá baixíssima chance de sucesso, permanecendo
apenas no papel e no desejo de seus proponentes.
Ao mesmo tempo em que se realiza esse esforço de
mobilização, deverão ser oferecidos à população local
informações e cursos que a habilitem a atuar como efetiva
protagonista no processo de planejamento e definição de um
projeto de desenvolvimento humano sustentável.

117
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Essa mobilização começará com os grupos organizados


da sociedade civil – organizações não-governamentais
ambientalistas, sociais e filantrópicas, clubes de serviços (Lions,
Rotary etc.), igrejas, sindicatos patronais e de trabalhadores, clubes
sociais etc. – escolas e com os órgãos governamentais locais.
Devem ser formados comitês regional e municipais, tendo
estes últimos representação de todos os grupos de interesse
existentes, para que neste âmbito sejam discutidas, com a
assessoria técnica necessária, as sugestões oriundas dos grupos
de discussão, de forma a se proceder a uma escolha de prioridades
- dentro de parâmetros indicados no projeto de desenvolvimento
sustentável - entre as propostas existentes. Os comitês municipais
indicarão representantes para participarem do comitê regional.
O comitê regional debaterá os resultados locais, definindo
prioridades e sinergias entre as várias propostas apresentadas,
tendo sempre como pano de fundo um processo de
desenvolvimento sustentável para a região.

A questão indígena

Como seis territórios indígenas fazem parte do corredor


ecológico, é essencial a incorporação e integração dessa população
ao debate relativo ao projeto de desenvolvimento sustentável
para a região, com representações nos comitês municipais e no
comitê regional.
Para isso, suas culturas e modos de vida deverão ser
respeitados e sua inclusão no debate com as populações não
indígenas deve exigir um processo de discussão interno entre as
diversas comunidades e etnias, de forma a possibilitar que
cheguem a posições comuns, acordadas entre eles, para
apresentarem ao debate geral nos comitês. Assim, deve-se contar
com o apoio de especialistas nas questões indígenas, sejam da
Funai ou de organizações não-governamentais que merecem a
confiança dos diversos grupos (Conselho Indigenista Missionário
– CIMI, Instituto Socioambiental – ISA etc.).

118
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Turismo de Natureza e Pesca Esportiva

Uma das atividades que poderá ser desenvolvida no


corredor ecológico será a de serviços de turismo ligado à natureza,
aproveitando a espetacular paisagem e a existência de espécies
de animais em perigo de extinção.

Identificação das Necessidades de Pesquisas

Estudos específicos

Para a implantação do Corredor Ecológico Araguaia-


Bananal é indispensável realizar estudos e pesquisas para o
estabelecimento, por meio de inventário, do monitoramento de
espécies indicadoras de diversidade. Essas espécies devem ser
representativas da biota endêmica, das espécies raras/ameaçadas
e das espécies de interesse econômico. Além disso, será necessário
um monitoramento da paisagem, por meio de imagens de satélites
recentes, para ser mensurado o grau de fragmentação e pressão
antrópica que a região vem sofrendo.
Um sistema de informações integrado, geograficamente
referenciado, deve ser implantado e seus dados, disponibilizados
ao público. Esse sistema deve conter informações geográficas,
físicas, econômicas, sociais, biológicas e outras que sejam
relevantes para a composição da região e dos propósitos do
projeto do corredor. Deve indicar, de alguma forma, os conflitos
do uso dos recursos naturais existentes, em relação aos objetivos
do corredor, de for ma a possibilitar o encaminhamento de
soluções conseguidas.
Seguindo as recomendações do corpo técnico envolvido
no trabalho “Ações Prioritárias para a Conservação da
Biodiversidade do Cerrado e Pantanal”, complementadas com os
resultados do I Seminário sobre Implantação do Corredor Ecológico
na Região Araguaia-Bananal, ocorrido em Luís Alves (GO), em

119
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

julho de 2000, propõe-se no presente projeto a adoção do manejo


biorregional como instrumento de gestão dos diversos conflitos
culturais, econômicos e sociais que existem na região, relacionados
ao uso dos recursos disponíveis.

Meio Físico

Não existe, até o momento, nenhum estudo concreto,


com resultados quantitativos e cientificamente comprovados, sobre
as respostas morfohidráulicas, que são produzidas pela planície
aluvial do rio Araguaia, aos processos de erosão acelerada na
parte alta da bacia.
Também não se dispõe de informações sistemáticas sobre
a qualidade das águas, resultante da poluição causada pelo uso
de fertilizantes e agrotóxicos pela agricultura local.
Compreender e mensurar esses elementos é fundamental
para qualquer proposta de planejamento do desenvolvimento
sustentável da região (Baker et al., 1988; Cooke & Doorkampf,
1974; Dunne & Leopold, 1998; Latrubesse et al., aceito para
publicação; Leopold, 1994).
Por meio da pesquisa aqui proposta, poderemos oferecer
à sociedade uma resposta sobre quais os processos de erosão e
assoreamento na realidade estão acontecendo no sistema e qual
a intensidade dos mesmos. São essas as razões pelas quais resulta
uma necessidade: a realização de um diagnóstico para caracterizar
as respostas morfohidráulicas da planície aluvial aos impactos
antrópicos produzidos na alta bacia.

Propostas de estudos para conservação da


biodiversidade

Flora
Para os estudos de conservação da biodiversidade
florística, será realizado o mapeamento do mosaico da paisagem

120
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

regional por meio de imagens de satélite, utilizando o sistema de


informações geográficas. Serão relacionados padrões espectrais
às diferentes fisionomias existentes na região Araguaia-Bananal.

Estudos para conservação da fauna


Em relação aos mamíferos, a ênfase deve ser dada aos
carnívoros, pois eles se encontram no topo da cadeia alimentar
e, por essa razão, são os que mais são afetados com a degradação
do meio ambiente.
Será necessário um estudo dos felinos e outros carnívoros,
principalmente a onça-pintada (Panthera onca), pois ela é um
dos mamíferos mais ameaçados no Brasil.
Outro estudo seria referente à proteção das ariranhas
(Pteronura braziliensis) e do boto, que seguiria os mesmos
padrões do estudo com a onça.
Já com as aves seriam necessários três projetos, sendo
que dois com o mesmo molde proposto para os felinos, ou seja,
para a proteção da harpia e do urubu-rei. Esses projetos
consistiriam em estudos para determinar o status da espécie na
região e posterior proteção das áreas de nidificação e de
forrageamento dessas duas espécies ameaçadas.
Outro estudo seria a identificação das espécies migratórias
que utilizam a região, em que época e de onde elas migram e
que tipo de migração ocorre. Com esses dados, poderíamos
caracterizar a área em relação a importância como região de
nidificação ou de forrageamento para essas aves.

Propostas de estudos na área socioeconômica


Alguns levantamentos prévios devem se beneficiar das
estatísticas já existentes como, por exemplo, a análise de
microdados do Censo 2000, ou, pelo menos, o acesso a esse

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

tipo de informação do Censo Agropecuário de 1995/1996 e da


Contagem Populacional de 1996, do IBGE. Além disso, deve-se
buscar informações recentes nas áreas de educação e saúde, em
todos os níveis de governo, para poder subsidiar – de forma
expedita – os debates propostos a nível local com a população
da região, com a análise de um quadro, o mais próximo possível
da efetiva realidade local, antes de se partir para levantamentos
de campo, que são mais demorados e mais caros.

OBJETIVOS IMEDIATOS, ATIVIDADES


E RESULTADOS

Implementação do Corredor Ecológico


entre a APA Meandros do Araguaia e a
APA Estadual Cantão

A seguir, as duas fases para a realização do planejamento


biorregional democrático e participativo.

Fase 1 (2001 a 2002)


Curto Prazo (contatos iniciais)
Na primeira fase desta etapa, os objetivos principais são:
• questões existentes, com relação à preservação e
utilização da área para geração de renda e lazer, sob
o ponto de vista da população local;
• orientação de ações que minimizem impactos
ambientais na biorregião; fortalecimento da proteção
das unidades de conservação e integração do meio
natural, contido nas unidades de conservação com as
comunidades vizinhas.

122
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fase 2 (2002-2005)
A segunda fase tem como objetivo principal:
• a promoção de ações orientadas ao conhecimento e
proteção da biodiversidade, bem como a implementação
das atividades geradoras de renda propostas pela
população local e que apresentem características que as
enquadrem dentro de um processo de desenvolvimento
sustentável.
As fases seguintes terão ações de manejo específico,
que comportam os programas de ações a serem implementados
na biorregião.

Metodologia

Fase 1
É nesta fase que se vai estimular o fortalecimento da
proteção do patrimônio natural existente na biorregião, por meio
da integração da concepção do projeto com as percepções e
necessidades das comunidades envolvidas, bem como das ações
que busquem resolver ou minimizar os conflitos emergentes.

Etapa de divulgação
Nesta fase serão desenvolvidas ações específicas,
orientadas ao conhecimento e proteção da biodiversidade
biológica utilizando-se tanto os dados científicos registrados na
fase anterior quanto o aprofundamento na busca do
conhecimento empírico das comunidades locais.
Esses dados serão obtidos nas oficinas da Fase 1, nos
cursos da Fase 2, nas oficinas do saber local, nas entrevistas
estruturadas realizadas com os moradores locais pela pesquisa
social e por meio do mapeamento e zoneamento dos
componentes da paisagem a serem realizados neste momento.

123
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

MÉDIO E LONGO PRAZOS

Ampliação do Corredor para Nascentes do Araguaia


e Pantanal do Rio Das Mortes

Ampliação de área com inclusão do Pantanal do Rio


das Mortes e a região entre Aruanã e as cabeceiras do rio Araguaia
(Parque Nacional das Emas).

Longo Prazo

No longo prazo, prevê-se a realização das seguintes


atividades, cujo detalhamento dependerá de maior discussão
nos seminários, que ocorrerão nessa fase inicial de elaboração
participativa do projeto do corredor, inclusive para a geração de
indicadores que sejam facilmente produzíveis e por todos
entendido:
• Avaliação geral do processo anterior (2001 e 2005).
Consolidação das avaliações contínuas, realizadas ao
longo do processo de trabalho, e discussão dos resultados com a
população local;

Manejo da Biodiversidade

Os resultados obtidos até aqui serão avaliados e analisados


em um Seminário do Corredor Ecológico do Araguaia-Bananal. A
partir dessa avaliação, serão desenvolvidas atividades que busquem
o equilíbrio entre a escala local trabalhada nas unidades básicas
de manejo, e a escala corredor, que permitirá a implementação
do corredor ecológico na biorregião.
• Consolidação da articulação social, estabelecimento
e operação da rede;

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Consolidação dos projetos – definição de novos


projetos e programas;
• Difusão de informações. (EA)

Indicadores de Sucesso

As ações do projeto terão efeitos múltiplos na natureza


e na sociedade local, com repercussões em uma área mais ampla,
graças à demonstração da viabilidade e sustentabilidade de seus
resultados. O estabelecimento de indicadores de sucesso exige
ampla e mais aprofundada discussão, que se espera realizar
durante o primeiro ano de execução da presente proposta. Aqui,
procura-se apresentar apenas alguns indicadores que podem servir
para animar os debates a esse respeito que se pretende realizar
com a sociedade local e nacional.
Temos, por exemplo, indicadores qualitativos e
quantitativos que podem ser construídos para acompanhamento
do projeto, a partir de:
• número de reuniões realizadas em cada nível de
planejamento (local, sub-regional e global do corredor) e sua
dispersão geográfica dentro do espaço do corredor;
• grau de participação da sociedade organizada e a
composição – em termos de classes sociais, interesses distintos
etc. – da representação presente às reuniões;
• participação na definição dos objetivos desejados e
das prioridades entre ações dos grupos geralmente excluídos
das decisões governamentais, tais como as mulheres, populações
indígenas, negros, ribeirinhos;
• qualidade das propostas que surjam a cada passo do
planejamento e da implementação de subprojetos.

125
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A análise econômica dos projetos experimentais que


sejam implementados, sua divulgação e replicação por outros
grupos na região do corredor também serve como referência do
grau de sucesso do projeto.
Os aspectos da sustentabilidade econômica, social e
política do Projeto do Corredor Ecológico, como resultado do
processo que juntará população e governos para alcançar os
objetivos propostos e sua efetiva implementação, serão
provavelmente os melhores e mais fidedignos indicadores do
grau de sucesso alcançado por este projeto.

Riscos

A implantação do Corredor Ecológico Araguaia - Bananal


conectará área do bioma cerrado com área da Floresta Amazônica,
característica essa única entre os corredores ecológicos cogitados
para o país. Além disso, protegerá o derradeiro espaço do cerrado,
na interface entre os biomas citados, onde as áreas de intervenção
antrópicas ainda não prevalecem sobre o total, ou seja, ainda
está relativamente pouco alterada pela intervenção humana.
Os riscos dessa proposta advêm da grande extensão do
corredor, de nove milhões de hectares, das naturais dificuldades de
se coordenar ações envolvendo várias agências do Governo Federal,
de 4 governos estaduais e de 39 prefeituras municipais, além das
organizações não-governamentais que participarão do processo.
O desafio de realizar um processo efetivamente
participativo e democrático, envolvendo todos os segmentos da
sociedade civil da região, condição considerada essencial para o
sucesso do projeto, também é um ponto que merece reflexão
quanto aos riscos do empreendimento.
A questão usual da disponibilidade e continuidade de
recursos para a implantação do projeto também deve merecer a
atenção de seus executores, particularmente tendo em vista os

126
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

custos a serem cobertos para realizar a articulação da sociedade


civil em tão largo espaço geográfico, o custo político de
descontinuidades de ações, a necessidade da realização de
pesquisas científicas que elevem o grau e conhecimento da
realidade local e os investimentos necessários à implantação de
iniciativas de geração de renda, compatíveis com um processo
de desenvolvimento humano sustentável.

Orçamento

Estimativa inicial de custos para a primeira fase do projeto


do Corredor Ecológico (2001/2002):

Item US$ mil


1 – Coordenação Geral 200
2 – Mobilização Social 300
3 – Pesquisa: 820
3.1 – Geomorfologia 270
3.2 – Biologia 300
3.3 – Socioeconomia 250
4 – Informação e Comunicação 150
5 – Máquinas e Equipamentos (investimentos) 150
TOTAL 1,620

Nota: taxa de câmbio utilizada: US$ 1.00= R$ 1,95.

127
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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131
CORREDOR ECOLÓGICO
GUAPORÉ/ITENEZ-MAMORÉ
COMISSÃO DE IMPLEMENTAÇÃO
IBAMA – Nanci Rodrigues
INCRA – Joel Magalhães
FUNAI – Vitorinha de Ouro
SEDAM – Nilo Magalhães
SEPLAD – Tânia Baraúna
UNIR – Eloiza Eleena Della J. Nascimento
CPPT – Cuniã – Francisco Figueiredo
OSR – Celso Franco
KANINDÉ – Rogério Vargas
INDIA – Ana Maria Avelar
RIOTERRA – Alexis Bastos
PLANAFORO – Tânia Timóteo

Conceito

"Corredores ecológicos são porções de ecossistemas


naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que
possibilitem entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota,
facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas
degradadas, bem como a manutenção de populações que
demandam, para a sua sobrevivência, áreas com extensão maior
do que aquelas das unidades individuais" (SNUC).
O Parque Estadual de Corumbiara é um corredor natural,
interligando a Bacia Amazônica à Bacia do Paraná, assim como o
Parque Estadual de Guajará-Mirim, o Parque Nacional dos Pacaás
Novos, o Parque Nacional Serra da Cotia e a Área Indígena Uru-
Eu-Wau-Wau, que contemplam a maior concentração de nascentes
dos principais rios do estado de Rondônia. Tais aspectos revelam
a importância do Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré.
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Iniciativas

A primeira iniciativa de consolidação de um corredor


ecológico no Estado de Rondônia se deu a partir da visita ao
Parque Nacional Noel Kempff Mercado, realizada por técnicos
que conheceram o processo de Gestão Compartilhada do
Governo Boliviano e da Fundação Amigos da Natureza -FAN.

Objetivos das reuniões

A 1ª Reunião Técnica Binacional do Corredor Ecológico


Guaporé/Itenez-Mamoré foi realizada no período de 30 de junho
a 1º de julho de 1997, em Porto Velho. Os atores envolvidos na
primeira discussão representaram as partes governamentais e não-
governamentais, que buscaram estabelecer políticas e estratégias
específicas para a definição dos contornos geopolíticos de um
corredor ecológico no Vale do Guaporé.
Viabilizar, de forma conjunta, a proteção e a consolidação
das várias unidades de conservação, áreas indígenas e suas áreas
de entorno, que por si já formam um corredor natural; bem
como delinear possíveis políticas públicas específicas para áreas
antropizadas no Vale do Guaporé-Mamoré, visando à
manutenção, preservação e conservação da biodiversidade dos
espaços desse corredor.
Posteriormente, aconteceram mais duas reuniões, com o
mesmo propósito de consolidação do referido corredor.
O estado de Rondônia possui 53 unidades de conservação
dentre as federais, estaduais e municipais, integrantes do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, somando 16.385.230,88
hectares (Figura 1). A área do estado é de 238.512,8 km² e o
corredor ecológico corresponde a 55,01% desse total.

134
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Figura 1 – Unidades de Conservação e Preservação Federais e Estaduais de


Rondônia.
Fonte: Sedam/Nusec (2000).

135
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Unidades de Conservação e áreas protegidas que estão


no âmbito do corredor ecológico

A) Unidades Estaduais:

3 Parques Estaduais (Corumbiara, Guajará-Mirim e


Serra dos Reis);
2 Estações Ecológicas (Antônio Mojica Nava e Serra
dos Três Irmãos);
2 Reservas Biológicas (Ouro Preto e Traçadal)
1 Florestas Estaduais de Rendimento Sustentado (Rio
Vermelho B);
5 Reservas Extrativistas (Jaci-Paraná, Curralinho,
Cautário, Pedras Negras e Pacáas Novos).
Total: 13 Unidades Estaduais.

B) Unidades Federais

2 Parque Nacional (Pacáas Novos e Serra da Cutia);


1 Reserva Biológica (Guaporé);
1 Floresta Nacional (Bom Futuro);
4 Reservas Extrativista (Rio Ouro Preto, Barreiro das
Antas, Rio Cautário e Lago do Cuniã);
2 Estações Ecológicas (Cuniã I e Cuniã II).
Total: 10 Unidades Federais.

C) Terras Indígenas

13 Territórios Indígenas (Sagarana, Uru-eu-wau-wau,


Rio Negro Ocala, Massaco, Rio Mequéns, Guaporé,
Rio Branco, Pacaás Novos, Igarapé Lage, Igarapé
Ribeirão, Karipuna, Kaxarari e Karitiana).
Total de terras indígenas no estado: 22 territórios,
equivalentes a 35% da área total do estado de
Rondônia (83.173.972 ha).

136
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré abrange,


em Rondônia, a bacia hidrográfica do rio Guaporé e rio Madeira.
Ao norte, desce a Calha do Madeira, entre o entroncamento do
rio Abunã até a cachoeira de Santo Antônio. Ao sul, o corredor
se estende sobre a Bacia do Guaporé até o município de Cabixi.
Engloba 17 municípios: Porto Velho, Guajará-Mirim, Nova
Mamoré, Cerejeiras, Costa Marques, São Miguel do Guaporé,
Castanheira, Seringueiras, Pimenteiras do Oeste, São Francisco
do Guaporé, Corumbiara e Cabixi, Mirante da Serra, Alvorada
D'Oeste, Alto Alegre dos Pareces, Alta Floresta D'Oeste, Campo
Novo de Rondônia e Buritis (Figura 2).

Projeto de Conservação e Manejo Sustentável dos


Ecossistemas Presentes no Corredor Ecológico

Objetivo Superior

Estabelecer e implementar o Corredor Ecológico


Guaporé/Itenez-Mamoré, de forma a manter o fluxo genético de
vasta região, formada por unidades de conservação e áreas
protegidas de diferentes categorias, integradas ou conectadas,
valorizando a sócio e a biodiversidade, com o desenvolvimento
sustentável no contexto regional.

Objetivo Geral

Proteger, conservar e manejar de forma sustentável os


recursos naturais existentes nessa região, para assegurar a sua
biodiversidade, garantir e resgatar a qualidade de vida das
populações.

Beneficiários

Os beneficiários do projeto são todas as associações de


moradores e produtores, cooperativas, sindicatos e conselhos
rurais da abrangência do corredor.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Figura 2 – Municípios que compõem o corredor ecológico Itenez-Guaporé.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

De acordo com levantamento feito na Associação de


Assistência Técnica e Extensão Rural- Emater/RO, existem cerca
de 180 instituições, entre associações, colônias, sindicatos,
cooperativas, conselhos e órgãos federais, estaduais e municipais.

Estrutura de Gestão

O projeto prevê uma estrutura de gestão compartilhada,


participativa e abrangente.
O Ibama é o coordenador-geral do projeto e conta com
uma unidade de gerenciamento (Grupo de Trabalho/GT) para
assessorar, implementar e supervisionar as atividades no corredor
ecológico.
O GT está composto, hoje, pelas seguintes instituições:
Ibama, Incra, Funai, Unir, Sedam, Seplad/Planafloro, Fórum das
ONGs, India, Kanindé e Rioterra.
A sociedade civil é representada no GT pelo Fórum das
ONGs, que agrupa associações ambientalistas, representantes dos
produtores rurais e populações tradicionais, pelas ONGs Kanindé,
India e Rioterra.
O GT funciona como instância consultiva e decisória do
corredor ecológico, que apóia a unidade coordenadora e garante
a participação governamental e não-governamental,
responsabilizando-se pela aprovação de relatórios e pela
consolidação do planejamento estratégico.

Período de Execução

O projeto terá duração de 10 anos, divididos em duas


fases de 5 anos. A 1ª fase está prevista para o período de 2001
a 2005.

139
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Ações

• Coordenação, planejamento e monitoramento;


• Regularização fundiária;
• Criação, planejamento e manejo de unidades de
conservação;
• Delimitação de áreas de interstício;
• Proteção da diversidade biológica em terras indígenas;
• Mapeamento da cobertura vegetal por município;
• Turismo sustentável e políticas públicas;
• Capacitação e treinamento.

Estratégia

Garantir a conectividade entre as áreas protegidas, por


meio de ações que visem à manutenção e à ampliação de áreas
de conservação e protegidas.

Fase atual de desenvolvimento

O Projeto do Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-


Mamoré está em fase final de elaboração. As bases cartográficas
estão sendo elaboradas em parceria com a Sedam, no Laboratório
de Sensoriamento Remoto, que compreendem: um mapa de
classificação dos solos por município; uma imagem de satélite
com o uso atual do solo/2000; uma base e um diagnóstico da
elaboração da cobertura vegetal e altimetria, contendo a rede
hidrográfica, a malha rodoviária e a delimitação das unidades
de conservação e terras indígenas (Figura 3).

140
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Recursos Financeiros

1ª Fase
• Construção do Projeto Rondônia, com base nas demandas
sociais e ênfase na participação governamental e não-
governamental;
• Difusão conceitual de corredores ecológicos;
• Elaboração da base cartográfica.
Recursos do Projeto Ibama e Planafloro

2ª Fase
• Seminário Binacional para identificar demandas da
Bolívia;
• Elaboração do Projeto da Bolívia Acordo Binacional
Brasil/Bolívia.

Recursos dos Financiadores

Principais resultados já alcançados/integração em


andamento com outros projetos:
• A retomada do projeto em agosto de 2000, a partir de
reunião com a Comissão Estadual do Corredor
Ecológico, no qual foi planejado o Seminário
Biorregional.
• Realização do Seminário Gestão Biorregional em
setembro de 2000, que teve como objetivo apresentar
conceitos sobre gestão biorregional e trabalhos já
desenvolvidos, como também proceder ao nivelamento
de informações.

141
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Nos dias 10 e 11 de outubro de 2000 foi realizada, no


município de Guajará-Mirim, uma consulta à
comunidade para a criação de unidades de
conservação nas glebas Samaúma/Traçadal/Conceição.
Esse evento foi realizado com o MMA e faz parte do
Projeto de Expansão e Consolidação de um Sistema
de Áreas Protegidas na Região Amazônica do Brasil.
• Assessoria ao município de Guajará-Mirim, na
elaboração de projetos de recomposição de áreas
alteradas, como compromisso assumido às demandas
surgidas no seminário realizado no município nos dias
10 e 11/10/2000, a ser financiado pelo MMA. Esta
atividade já faz parte da execução dos objetivos do
projeto em articular a interface com outros projetos
de desenvolvimento e preservação ambiental que
visem à sustentabilidade socioambiental do corredor.

Ações Prioritárias para 2001

• Oficina no município de Costa Marques, visando à


divulgação da concepção teórica do corredor;
• Consulta popular, visando à participação da sociedade
e à formação de uma consciência crítica quanto à finalidade do
corredor;
• Oficina em Pimenteira (a ser definida pelo GT), com
a mesma finalidade.

142
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Figura 3 – Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré – Unidades de Conservação

143
PROJETO CORREDOR DE BIODIVERSIDADE
DE SANTA MARIA – PARANÁ
Júlio Gonchorosky e Francisco de Assis Brito

Histórico e problemática ambiental

Em 1919, o governo do estado do Paraná declarou as


terras das margens do rio Iguaçu como áreas de domínio público,
ou seja, de utilidade pública, numa extensão territorial de
aproximadamente de 1.008 hectares. Em 1930, as terras foram
doadas ao Governo Federal, que as transformou em parque
nacional. Mas somente onze anos depois é que foi criado o
Parque Nacional do Iguaçu, por meio do Decreto nº 1.035, de
10 de janeiro de 1939, com área de aproximadamente 185.276
hectares de floresta subtropical, remanescente no oeste do estado
do Paraná, abrigando muitas espécies da flora e da fauna
(diversidade biológica). Mas os trabalhos de demarcação e
regularização fundiária só foram iniciados em 1967 e, em 1978,
foram concluídas as questões de desapropriação. Hoje
praticamente toda a sua área está regularizada. Em 1981 foram
definidos os limites atuais do parque, com exceção das ilhas do
rio Iguaçu, que são áreas ainda pertencentes ao Serviço de
Patrimônio da União (SPU).
O parque faz confluência entre o Brasil, a Argentina e o
Paraguai, abrigando importantes constituintes bióticos e abióticos,
que justificam plenamente a sua conservação e a gestão integrada
de seus recursos. Em 1986, foi tombado pela Unesco como Patrimônio
Natural da Humanidade, em razão de sua importância. E esforços
vêm sendo envidados, no sentido de proteger importantes áreas
que interligam os três países – Brasil, Argentina e Paraguai –, já
tendo sido estabelecido o Corredor Ecológico Trinacional.
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Desde a criação do parque, os recursos naturais na região


vêm sofrendo um processo acelerado de devastação, com a
ocupação das áreas de entorno da unidade de conservação,
resultado da exploração de madeira, e pela forma de utilização
do solo para a agropecuária. Esse processo tem provocado
desconectividade entre a UC e outros remanescentes florestais,
obstruindo a integração de áreas de proteção da biodiversidade
e o fluxo entre as espécies não consangüíneas.
O Ibama (2000:8/12) ressalta que a área de entorno
do parque é fortemente marcada pela exploração do solo para a
produção de grãos, para exportação e agricultura familiar (culturas
alemã e italiana), urbanização (áreas fortemente alteradas pela
ação antrópica), dissociadas de observações da legislação
ambiental quanto à proteção das encostas de corpos d'água (matas
de galerias), o que tem resultado em grande devastação ambiental
nos ecossistemas locais nos últimos 20 anos. A região possui
solos férteis, propícios às culturas de soja, milho, trigo, feijão,
fumo, mandioca e algodão; avicultura; suinocultura; pecuária de
corte e leite; e piscicultura, como é destacado pelo Ibama (2000:12)
Ao lado da atividade agrícola, tem crescido muito a indústria
alimentícia, a exploração madeireira e as atividades de
transformação de minerais não metálicos.
É importante frisar que a região oferece oportunidades
de energia elétrica, extensa rede telefônica, água tratada e grande
malha viária, com estradas pavimentadas e vicinais,
proporcionando excelente atendimento às demandas locais.
Frente aos problemas ambientais crescentes, o governo
do estado do Paraná tem implementado programas (ICMS
Ecológico, Florestas Municipais, Água Limpa, Terra Limpa, de
RPPN e malhas intercomunicantes formadas por corredores
ecológicos para a conservação de remanescentes dos ecossistemas
locais) destinados à recuperação de matas ciliares e à conservação
ambiental da região.

146
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A área de estudo configura-se como uma região com


remanescentes sob o domínio de Floresta Estacional Semidecídua.
E o interior do Parque Nacional do Iguaçu (PNI), como área-
núcleo do corredor de biodiversidade, guarda importantes
atributos naturais que representam grandes riquezas de espécies
bióticas (biodiversidade e recursos genéticos), florísticas e
faunísticas, assim como uma beleza cênica exuberante. Não
obstante, a ocupação das áreas de entorno do PNI por particulares
põem em risco os habitats naturais, pelos efeitos de bordas; a
descontiguidade de áreas com formações vegetais e a desligação
de resquícios vegetais; e a desconectividade entre o PNI e as
áreas naturais de influência, que proporcionavam integração de
áreas de proteção da biodiversidade e fluxo entre as espécies
em vias de extinção, entre elas: onça-pintada (Panthera onca),
anta (Tapirus terrestris), onça-parda (Puma concolar), gavião
de penacho (Spizaetus or natus), macuco (Tinamus solitarius),
jacutinga (Pipele jacutinga), dentre outros existentes no interior
do PNI.
Ressalte-se que o estado do Paraná possui originalmente
70% de sua cobertura florestal composta pelas florestas estacionais
semidecíduas. Atualmente essa área está reduzida a cerca de 7%
de remanescentes, dos quais 80% compõem o PNI, um dos
últimos refúgios para inúmeras espécies, nichos ecológicos
intangíveis, com importantes recursos hídricos de expressão que
nascem ali, como é o caso do rio Floriano.
Na região, a falta de conservação das encostas dos corpos
d'água provoca o surgimento de vários problemas, tais como o
assoreamento e a poluição das águas, devido à falta de proteção
das matas de galerias. Outro problema grave é a urbanização e
o surgimento de cidades, como a ocupação do oeste paranaense,
as lavouras para produção de grãos, transformando o PNI em
uma ilha verde no centro de áreas fortemente alteradas pela
ação antrópica.

147
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

OBJETIVOS

Objetivo Geral do Corredor de Biodiversidade


Santa Maria

O Corredor de Biodiversidade de Santa Maria tem como


objetivo geral o de fundamentar conceitos e princípios para a
definição de ações e estratégias de educação ambiental para a
implantação e implementação do corredor de biodiversidade, com
a perspectiva de ecodesenvolvimento e conservação ambiental.
Nesse sentido, o corredor figura como unidade ambiental
(matas ciliares que vão ligar as unidades de conservação: Parque
Nacional do Iguaçu e Reserva Legal do Lago de Itaipu, passando
pela Reserva Particular de Patrimônio Natural Santa Maria), que
busca promover melhor convivência do homem com a natureza,
com o propósito de estruturar a dinâmica ambiental para facilitar
o fluxo gênico e aumentar a chance de sobrevivência de espécies
da fauna e da flora, assim como comunidades biológicas e
processos ecológicos em longo prazo.
Constituem os objetivos do Corredor de Biodiversidade
Santa Maria:
• Estabelecer processo contínuo de planejamento
ambiental e gestão biorregional para criar condições
de levar os indivíduos e os grupos sociais a adquirirem
largas experiências, contatos e conhecimentos sobre
o meio ambiente e seus problemas;
• Promover conhecimentos que levem os grupos sociais
e indivíduos a adquirirem valores éticos e apreciações
ambientalistas importantes para a proteção do meio
ambiente;
• Promover conhecimentos entre os grupos sociais e
indivíduos, a fim de adquirirem maior nível de
conscientização e habilidades na identificação dos

148
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

problemas ambientais e resoluções destes, por meio


da tomada de consciência, das decisões e das ações
políticas;
• Regenerar áreas de encostas dos corpos d'água, para
aumentar o fluxo de genes e o movimento da biota
local, facilitando a dispersão de espécies;
• Utilizar abordagens ecossistêmicas, processuais e
participativas, para alcançar os objetivos e as metas
de gestão do corredor e sua função vital, otimizando
os procedimentos e os resultados viáveis e socialmente
compatíveis;
• Estabelecer mecanismos de planejamento e gestão
participativa entre os órgãos governamentais e
organizações não-governamentais nos processos de
implementação dos corredores ecológicos;
• Implementar mecanismos de compensações
financeiras, por meio de ICMS Ecológico e outras
modalidades, para os proprietários de terras que
invistam em conservação dos recursos naturais;
• Desenvolver mecanismos e instrumentos facilitadores
de participação dos atores sociais e parcerias que
contribuam para a implementação do corredor
ecológico, enfocando o enquadramento da política à
complexidade das questões ambientais.

Objetivos Imediatos

• Promover recomposições (adensamento e plantio de


mudas) das áreas degradadas de matas de galerias no entorno
dos rios Apepú e Bonito, de maneira a permitir o deslocamento
de biodiversidade entre o PNI e a faixa de preservação do Lago
de Itaipu;

149
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Promover o isolamento de áreas das encostas de rios


e de seus tributários, com a utilização de cercas;
• Recompor ecossistemas no entorno dos rios Apepú e
Bonito, e nos trechos que ligam um rio a outro, estabelecendo
um corredor que permita o deslocamento da fauna local entre o
PNI e a faixa de proteção do Lago de Itaipu;
• Recuperar e manter a totalidade dos rios para regenerar
o corredor;
• Fortalecer a gestão participativa nos corredores
identificados, visando o planejamento, monitoramento e controle
de ações para conservar a diversidade biológica, sob o enfoque
de biorregião, no sentido de implementar ações para a
conservação de comunidades naturais, que incluem a grande
maioria das espécies, a dinâmica da diversidade ecológica e as
condições ambientais necessárias à qualidade de vida das
gerações presentes e futuras;
• Contribuir para a redução da pressão do
desmatamento em áreas conservadas, apoiando iniciativas de
controle ambiental e uso sustentado dos recursos ambientais no
setor produtivo privado;
• Conservar os recursos hídricos;
• Promover a consolidação física e a validação social
do PNI e de outras UCs federais, estaduais e municipais;
• Apoiar a consolidação física e a validação social de
UCs estaduais e municipais;
• Estimular a criação de RPPNs, bem como suas
consolidações físicas;
• Desenvolver sistema de monitoramento ambiental
do cor redor, monitorar e avaliar a conser vação da
biodiversidade nas UCs federais e em seu entorno, incluindo

150
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

análise laboratorial e avaliação da qualidade da água, para


manter o controle dos níveis de poluição de acordo com a
legislação vigente;
• Promover e fomentar a implantação de um criadouro
de animais silvestres na RPPN Santa Maria, para reproduzir espécies
ameaçadas de extinção e reintroduzi-las no seu habitat natural.

Justificativa

Emerge, no Brasil, uma nova modalidade de planejamento


para a conservação ambiental, em escala regional, que contempla
grandes unidades de paisagens. E esse recente paradigma leva-
nos a crer em novas possibilidades de conservação da
biodiversidade dos biomas e ecossistemas brasileiros em longo
prazo. São os corredores ecológicos, ou de biodiversidade, que se
constituem em unidade de planejamento. Eles representam uma
eficaz proposta de planejamento ambiental regional, ou
biorregional, possibilitando a compatibilização das políticas de
conservação ambiental e da biodiversidade, bem como a promoção
da melhoria da qualidade de vida da população.
A experiência de promover a conservação da
biodiversidade por meio de corredores ecológicos, ou de
biodiversidade, é ainda pouco difundida, mas é um modus
operandi que já vem sendo trabalhado sob um enfoque
sistêmico, que muito tem contribuído para a conservação
ambiental e da biodiversidade.
Os danos ambientais de um bioma são agressões à
biodiversidade. Com efeito, faz-se necessário grande esforço
dos órgãos governamentais com as iniciativas privadas e
entidades não-governamentais, no sentido de promover um
processo contínuo de educação ambiental para tornar
conscientes os usuários e clientes dos recursos naturais sobre o
meio ambiente.

151
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Áreas Protegidas

O Parque Nacional do Iguaçu (PNI)

O estado do Paraná possui originalmente 70% de sua


cobertura florestal composta pelas florestas estacionais
semidecíduas, área que está reduzida a 7% de remanescentes,
dos quais 80% compõem o Parque Nacional do Iguaçu (PNI),
criado em 10 de janeiro de 1939, com área de aproximadamente
185.276 hectares.
O Parque Nacional do Iguaçu fica na confluência de
três países: Brasil, Argentina e Paraguai, em local privilegiado
por características ambientais e geopolíticas de grande importância
para o continente, reconhecido e tombado pela Organização
das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco)
como Patrimônio Natural da Humanidade, em 1986.
O parque é hoje uma ilha verde com massa florestal
que serve de refúgio para rica diversidade biológica, com
inúmeras espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção.

O Entorno do Parque Nacional do Iguaçu (PNI)

Ao longo dos anos, as áreas de entorno do PNI sofreram


enorme processo de isolamento da biodiversidade, com ocupação
urbana, expansão da fronteira agrícola e exploração da madeira.
O processo desordenado de ocupação das terras tem resultado
em prejuízos para a biodiversidade local, destruindo as áreas de
ligação do PNI com outras remanescentes florestais e
impossibilitando o fluxo gênico com as áreas externas.
Toda a área de entorno do PNI está fortemente alterada pela
ação humana, conseqüentemente é inevitável o empobrecimento
dos estoques genéticos existentes no interior do parque.

152
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A região de entorno do PNI não dispõe de cobertura


vegetal que possa dar contigüidade de territórios com formações
vegetais de interligação e integração de áreas, que assegurem a
proteção da biodiversidade, possibilitem a conectividade entre a
UC e as áreas naturais, e permitam o fluxo entre as espécies. Os
recursos florestais do seu entorno foram desmatados para dar
lugar a cidades e lavouras de grãos (monocultura da soja, milho,
trigo, feijão, fumo, mandioca e algodão) e a pecuária.
Aliada ao desmatamento, que atinge as áreas de
preservação permanente - encostas dos corpos d'água -, existe a
falta de conservação dos rios e ribeirões, onde é comum a
presença de lixo e embalagens de agrotóxicos nas suas margens,
o que contamina as águas.

Diagnóstico da área de estudo do Corredor de


Biodiversidade de Santa Maria (Paraná)

Determinação do Problema

No levantamento da situação física dos rios e de suas


margens foram ressaltados os seguintes impactos ambientais:
• Em grande parte das encostas dos rios e ribeirões não
existe nenhuma faixa de proteção;
• Proprietários de terras agricultáveis na região fizeram
retiradas de madeiras nas margens dos rios (que são
cortados em vários pontos por estradas rurais);
• Utilização das faixas dos rios como pastagens, sem
nenhuma barreira física entre as áreas de pastagens e
a faixa de preservação permanente;
• Áreas de agricultura que não adotam técnicas
adequadas de conservação de solos nem prevenção
para processos erosivos, assoreamento e contaminação
por agrotóxico dos corpos d'água (rios, ribeirões, lagos);

153
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Áreas de preservação permanente utilizadas para


despejo de entulhos, lixo doméstico e resto de animais
abatidos;
• Os animais pastam nas áreas de cobertura vegetal
herbácea e arbustiva, suprimindo os sub-bosques,
destruindo abrigos de pequenos animais e causando
grave compactação do solo. Os proprietários de terras
construíram, dentro de suas propriedades, açudes,
aterros par;
• Passagem de gado e tanques de criação de peixes
(utilizando espécies exóticas), obras irregulares e sem
o devido licenciamento;
• As estradas que cortam as propriedades rurais para
escoamento de produtos agrícolas produzidos na
região são utilizadas por veículos leves e caminhões
pesados, causando compactação dos solos das
estradas e riscos ao meio ambiente, especialmente
depois que foi implantado o sistema de pedágio na
BR-277, na altura do município de São Miguel do
Iguaçu, onde motoristas fazem o desvio para não
pagar a taxa;
• A movimentação de veículos pesados nas estradas
rurais da região causa danos ao meio ambiente ao
revolver o solo dessas estradas. No período chuvoso,
esse material é carreado pela enxurrada para dentro
do leito dos rios, com o risco de atropelamento dos
animais silvestres;
• Área de encostas dos corpos d'água sem cobertura
arbórea, apenas com a presença de gramíneas e
herbáceas/arbustivas;
• As áreas de preservação permanente são utilizadas
para o despejo de lixo doméstico, de entulho e de

154
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

restos de animais abatidos, que são arrastados pelas


enxurradas para o leito dos corpos d'água;
• Áreas de matas ciliares desflorestadas e manejo
inadequado do solo, o que ocasiona processos
erosivos em vários pontos;
• Utilização de faixas das margens dos rios como
pastagens, com a existência de animais fazendo
pastoreio na cobertura vegetal herbácea e arbustiva,
causando compactação do solo.

Recomendações

• No primeiro estágio do projeto, analisar a problemática


ambiental no âmbito do Corredor da Biodiversidade;
• Desenvolver atividades que possam garantir a
adequada proteção do entorno do parque e a
implantação do corredor de biodiversidade, ligando
o PNI às faixas de preservação do Lago de Itaipu,
passando na RPPN Santa Maria; e criar condições para
que haja fluxo de genes e movimento da biota, o
que facilita a dispersão de espécies, a recolonização
de áreas degradadas e mantém as populações;
• Recuperação e recomposição das matas ciliares, matas
de galerias, ou ripárias (plantio de mudas), para a
manutenção vegetacional e manutenção pedológica
animal (da qualidade da água), que desempenham
importantes funções no corredor (dispersão e
manutenção do fluxo gênico das espécies da flora e
da fauna, polinização);
• Nas áreas de encostas de corpos d'água, estimular a
recomposição da mata ciliar até que atinja a faixa de
no mínimo 30 metros de largura de cada lado, a partir
do leito original;

155
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Nas áreas alagadas, ou brejosas, colocação de mudas,


introduzindo espécies adaptadas às características do
ambiente;
• Reservas legais devem estar em contigüidade com
áreas de preservação permanente, facilitando a
implementação de corredores;
• Isolamento da área de estudo do corredor, com cercas
de arame, totalizando 46 km de extensão, para
assegurar a livre passagem de pequenos animais que
transitem no local;
• Retirada de lixo não biodegradável (embalagens
plásticas, entulhos de construção, papéis, pneus velhos,
ferragens) das margens dos corpos d'água a serem
recuperadas;
• Formação de brigada de combate a incêndios florestais;
• Implantação de criadouros de animais silvestres, com
orientação, apoio e fornecimento de tecnologia
utilizada para a criação.

Parceiros Potenciais

A execução do projeto ficará sob a responsabilidade


dos seguintes parceiros potenciais:
• Ambiental Consultoria – levantamento socioeconômico,
elaboração do projeto de Educação Ambiental (EA) e
capacitação dos técnicos, com acompanhamento do
Ibama;
• Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Ibama,
Prefeitura de Santa Terezinha de Itaipu e de São
Miguel – isolamento do corredor, com a colocação
de cercas ao longo da área de estudo;

156
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Prefeitura de


Santa Terezinha de Itaipu e de São Miguel –
recuperação de mata ciliar, com plantio de mudas,
manutenção e monitoramento ambiental;
• Ambiental Consultoria e Ibama, Prefeitura de Santa
Terezinha de Itaipu e de São Miguel – manutenção e
monitoramento do corredor;
• Ibama, RPPN Santa Maria e Refúgio Biológico Bela
Vista, Prefeitura de Santa Terezinha de Itaipu e de
São Miguel – implantação de criadouros de animais
silvestres.

O Sistema Nacional de Unidade de Conservação


Lei nº 9.985/2000

No Brasil, o Sistema Nacional de Unidade de Conservação


Federal (SNUC) foi estabelecido pela Lei nº 9.985, de 18 de
julho de 2000, que apresenta dois grupos: a) Unidades de
Conservação de Proteção Integral, compostas pelos parques
nacionais, estações ecológicas, reservas biológicas, monumentos
naturais e refúgios da vida silvestre; e b) Unidades de Conservação
de Uso Sustentável, compostas pelas áreas de proteção ambiental,
reservas de fauna, reservas de desenvolvimento sustentável e
reservas particulares do patrimônio natural. As categorias de
unidades de conservação são legalmente instituídas e estão sob
a responsabilidade e competência, no âmbito federal, da Diretoria
de Unidades de Conservação e Vida Silvestre. A Lei nº 9.985/00
detalha os aspectos relevantes de sua estruturação, como os
instrumentos de planejamento para tais unidades de conservação,
a regularização, a relação das UCs com as populações locais, as
parcerias, o estabelecimento de zonas de vida silvestre e outras.

157
A IMPORTÂNCIA DOS CORREDOS ECOLÓGICOS
Paulo Nogueira Neto
Professor do Departamento de Ecologia da USP

Por volta de 1994, o PPG7 tinha um programa de 10


pontos. Eram 10 tipos de atividades que estavam previstas:
delimitação de áreas indígenas e uma série de outras. E três
dessas atividades seriam extintas. O ministro do Meio Ambiente
naquela ocasião era o Henrique Brandão Cavalcante, que é meu
amigo de longa data. Eu disse a ele: "Ministro, nós não podemos
abrir mão das unidades de conservação", e ele respondeu: "Mas
eu não estou vendo projeto algum e sem projeto nós não podemos
fazer nada". Então, exagerando um pouco, disse a ele: "Hoje
mesmo vou lhe apresentar um anteprojeto", porque já tinha isso
mais ou menos na cabeça. Ao chegarmos no gabinete, falei:
"Precisamos agir para salvar a floresta Amazônica e, de
preferência, os lugares aonde a fronteira agrícola ainda não
chegou. Depois que a fronteira agrícola chegou tudo ficou difícil.
Na Amazônia ainda há tempo para agir. Nós devíamos
criar meia dúzia de grandes unidades de conservação entre o rio
Amazonas e a fronteira agrícola, se bem que já existe a
Transamazônica, que corre mais ou menos paralela ao rio
Amazonas, mas a uma distância de algumas centenas de
quilômetros, o que não impediria completamente". E apresentei
esse projeto ao PPG7, cujo Comitê de Assessoramento eu fazia
parte, que trabalha com o Banco Mundial e que deu origem ao
Projeto Corredores Ecológicos.
Na Sema não tínhamos dinheiro e fizemos uma rede de
estações ecológicas com 3,2 milhões de hectares, com 18 estações
ecológicas e todas estão aí. Nenhuma delas foi invadida, ou
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

destruída, devido aos cuidados que tomamos. O que faziamos


era consultar a opinião de ecólogos competentes – eu mesmo
sou ecólogo e professor titular de Ecologia, hoje aposentando,
mas continuo trabalhando na USP.
Nós sobrevoávamos as áreas, consultávamos o pessoal
local, as não-governamentais locais, e tínhamos uma idéia das
coisas. Então tratávamos logo de ir delimitando, fazendo decreto
e deu tudo certo, porque até hoje não houve reclamação e nem
grandes invasões. As pequenas invasões locais foram
solucionadas com a ajuda do Incra, como uma parte da Serra
das Araras, em Mato Grosso. O Banco Mundial ficou de estudar
melhor o programa, porque eles achavam que precisava ser mais
elaborado. O Ibama teve o bom senso de convidar Márcio Aires
e Gustavo Fonseca, que examinaram o assunto e acharam que o
interessante seria não criar unidades, embora grandes e separadas,
e sim corredores. Foi daí que nasceu a idéia dos Corredores
Ecológicos, imediatamente aceita por todos – eu apoiei 100% – e
realmente era uma coisa muito importante.
E o Corredor da Amazônia Central, o mais adiantado,
está quase pronto. Quero aproveitar para dizer que esse corredor
central está numa espécie de UTI há cerca de dois ou três anos.
Está parado. Então quando tomei conhecimento do I Seminário
sobre Corredores, com o Moacir Arruda coordenando, vi que a
idéia saiu finalmente da UTI. Porque é um absurdo uma idéia
tão boa, tão grande, estar parada há tanto tempo, e nem sei
explicar por quê.
Fico extremamente satisfeito ao perceber pelas duas
palestras que foram feitas aqui, uma sobre o pantanal e outra
sobre a mata atlântica, que vocês estão fazendo um detalhamento
que nós não cogitávamos e nem podíamos cogitar porque não
havia gente, recurso, nada. Naquele tempo tratavávamos era de
salvar o que pudesse, deixando o detalhamento para mais tarde.
E vejo com satisfação que essa fase de particularidades, que é
muito importante, finalmente já está em pleno andamento.

160
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Imaginem se a gente ia pensar em biofisionomia. A nossa


idéia era conservar amostras representativas dos principais biomas.
E salvar o que pudesse, desde o Rio Grande do Sul até perto da
Venezuela, em Maracá, no Estado de Roraima. Eu fico
imensamente satisfeito de ver que essa fase está andando.
A idéia dos corredores ecológicos avançou muito nos
últimos anos, com a implantação dos corredores implementados
pelo Ibama, cujos trabalhos estão sendo mostrados neste
simpósio.
Há um outro aspecto que gostaria de chamar a atenção,
e ao qual venho me dedicando pessoalmente, que é o de salvar
fragmentos. Porque no Brasil existe uma pressão errada e muito
generalizada de que sendo fragmento é um lixo. Inclusive, em
reunião pública em São Paulo, uma pessoa disse: "Isso daí tem
algumas centenas de hectares, não adianta nada, não serve para
nada!". Não é assim. A nossa realidade, em muitos lugares do
Brasil, é constituída de fragmentos.
Sou vice-presidente da SOS Mata Atlântica e também um
dos diretores do WWF do Brasil. Aliás, na minha cabeça tem um
"muro de Berlim", que não deixa passar nada de um lado para o
outro: o que corre no WWF eu jamais levo pra SOS – Mata Atlântica,
porque poderia dar alguma confusão. Mas a verdade é que nós
temos lugares onde vemos fazer os corredores, e é muito bom
fazermos os corredores, inclusive agora que já têm apoio na
legislação.
Antes de passar para os fragmentos, quero acrescentar
que os corredores já têm uma complementação legal, que é a
Lei do SNUC. Esta lei colocou uma coisa que há anos eu venho
me batendo por ela, que é a idéia dos mosaicos ecológicos. As
grandes áreas ecológicas naturais, que nós todos sabemos, todos
aqui têm experiência, não são uniformes. A gente anda no
cerrado, passa um quilômetro, dois ou três, e encontra outro
ecossistema, muito parecido às vezes, mas já com outras plantas,

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

outros animais. Depois, aquele sistema que passou volta a se


repetir. Enfim, nós temos que lidar na natureza com grandes
mosaicos. Daí a idéia dos corredores, que são constituídos de
vários tipos de unidades de conservação. Esses vários tipos de
unidades são para adaptar as condições locais. Onde tem
seringueiros – eu tenho muita atividade no Acre hoje em dia,
tenho até uma casinha lá... – onde tem atividade humana
extrativista, vamos criar uma reserva extrativista. Onde já existe
muita agricultura que não dá para desapropriar, vamos criar uma
APA. Inclusive, quando saímos da SEMA, tinha 1,5 milhão de
hectares em APA e hoje já existem no Brasil, segundo o Moacir
Arruda, cerca de 6 milhões de hectares em APA. Eu tenho como
medida de unidade o Líbano, que, com um milhão de hectares,
têm etnias diferentes, religiões diferentes, guerra, atividades
imensas. Vocês podem imaginar que 6 milhões de hectares são
seis Líbanos.
Falando de outras áreas grandes, Mameauá deve ter uns
5 milhões de hectares; Amaná, uns 6 milhões de hectares; quer
dizer, nós estamos lidando com grandes áreas que devem ser
organizadas, sempre que possível, em corredores – e os corredores
já têm essa estrutura prevista na Lei do SNUC, que é a estrutura
do mosaico. Essa estrutura permite que a diversidade de tipos de
unidades de conservação possa ser administrada em conjunto,
atendendo às peculiaridades locais. O corredor é um mosaico,
está previsto. Vamos tratar de organizar isso da maneira mais
rápida possível.
Os fragmentos são considerados por muitos como uma
espécie de lixo econômico. Fragmento não vale nada. É claro e
evidente que, quanto maior a área, melhor será ecologicamente.
Dizem que um casal de onças, por exemplo, precisa de 10 mil
hectares – não há estudo muito preciso, mas é mais ou menos
desta ordem. Isso é possível na Amazônia e no Pantanal, mas
não nos estados do Brasil Sudeste, a não ser na Serra do Mar,
que ainda tem florestas bastante grandes. Nós calculamos que a

162
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Serra do Mar tenha mais de um milhão de hectares só no Estado


de São Paulo. Já é uma coisa bastante representativa.
Grande parte das espécies que existem quando essa
área primitiva é reduzida a um fragmento se perde, porque elas
exigem grandes áreas. Mas a maioria das espécies não exige
grandes áreas, pois é formada por invertebrados e não por
vertebrados – que chamam mais a atenção da gente, mas
constituem minoria das espécies animais. A maioria pode viver
em fragmentos relativamente pequenos.
O que acontece quando uma população diminui muito
de tamanho? Perde gens alelos para o mecanismo chamado de
deriva genética. O mecanismo na perda por deriva genética
significa que, pelo simples fato do número ter diminuído muito
e não poder mais conter todos os gens alelos, essa população
tem uma perda desses gens. Mas a perda não se dá por pressão
seletiva, ela se dá ao acaso, aleatoriamente. Quando a área
primitiva é reduzida a um fragmento, as espécies se perdem,
porque elas exigem grandes áreas. O fragmento vai ficar com
determinados gens alelos da população primitiva, uma população
hipotética primitiva. O outro fragmento mais adiante, com a perda
e por acaso, vai ficar com outros gens alelos diferentes daquele
fragmento, e assim por diante. Então, os gens de uma população
que era primitivamente grande podem ficar muito reduzidos em
matéria de números de alelos em cada fragmento, mas ela pode
estar representada nos vários fragmentos.
Um dos grandes desafios que nós temos em relação aos
fragmentos é o de uni-los, porque geneticamente existe melhora
e dá para reconstituir as grandes populações que existiam. Mas
como? Pode-se reconstituir de uma maneira: a receita já está na
lei, que são as florestas e as matas ciliares. É difícil um fragmento
de certa expressão que não tenha uma nascente d'água, que
não nasça ali um curso d'água; então, se são 30 metros de cada
lado, é um pequeno, mas já é um corredor. Esses pequenos

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corredores, no futuro, vão formar uma rede e essa rede vai permitir
que as populações possam novamente entrar em contato, sair
do seu isolamento, digamos, de cada segmento.
Outra coisa que precisamos ter em vista, e isso é um
aspecto genético no qual poucos prestam atenção, é que quando
um gen é perdido pela deriva genética ou por qualquer outro
motivo, esse gen alelo pode reaparecer na população. Não cem
por cento igual, o que é muito difícil, porém existe uma coisa
que todos conhecemos chamada mutação. As mutações, que
também se dão ao acaso, tendem, havendo tempo para isso, a
reconstituir gens que foram perdidos. Por quê? Porque a mutação
é selecionada. Portanto, a seleção é que vai determinar as
mutações que vão sobreviver. E se um gen era útil e foi perdido,
se um alelo genético foi perdido, há grande probabilidade de
que a mutação faça com que ele reapareça, porque esse
reaparecimento é favorecido pela própria seleção natural. É claro
que se trata de um processo lento, demorado, mas é bem estudado
e conhecido geneticamente.
Temos que salvar os fragmentos na medida do possível e
não ficar pensando que, por ser fragmento, a coisa não tem maior
valor. No momento estou coordenando no Estado de São Paulo
um programa na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo – FAPESP, que é a entidade de pesquisa do estado,
para repensar as unidades de conservação de São Paulo. Consegui
introduzir um elemento novo, o principal elemento do grupo que
está trabalhando nisso com o recurso da FAPESP, que é estudar os
fragmentos do oeste do estado. Entre a região de Jundiaí, ou seja,
Serra do Japi, e o rio Paraná, a uma distância de mais ou menos
de 500/600 km, há um branco no mapa onde estão localizadas as
unidades de conservação. Só aparece uma área grande, o Morro
do Diabo, com 36 mil hectares, e, no Paraná, o Parque do Iguaçú
junto com o Parque Argentino. E, por serem unidades de
conservação, estão e estarão sempre presentes.
Resolvemos, então, realizar o levantamento desses
fragmentos. O SOS – Mata Atlântica, há uns três anos, por meio

164
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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do trabalho em conjunto com o INPE, que deu toda a cobertura


técnica de imagens de satélites, verificou que no Estado de São
Paulo existiam, ou existem, 7,5 mil fragmentos acima de 25
hectares. Realmente são fragmentos muito pequenos. Mas um
estudo feito pelo serviço florestal do estado verificou que existem
485 fragmentos, já bem determinados, maiores de 100 hectares.
E nós estamos mapeando esses fragmentos, recolhendo inscrições
e informações sobre esses fragmentos. A nossa idéia é apresentar
um projeto, dentro de um ano, para permitir que se constituam
unidades de conservação para salvar esses fragmentos.
O Instituto IPE é pioneiro e está salvando fragmentos
muito importantes junto ao Morro do Diabo, onde existe o mico-
leão-preto. Estamos concentrando esforços nessa idéia de
reconstituir. Mas vocês podem perguntar: "como fazer para
desapropriar, já que esta é uma preocupação geral?". Existe no
elenco de unidades de conservação uma unidade chamada Área
de Relevante Interesse Ecológico, que nós criamos com as APAs
– é a irmã gêmea das APAs, só que é mais novinha, mais modesta,
que significa um tombamento.
Podemos criar Áreas de Relevante Interesse Econômico
com certa facilidade, porque não existem maiores despesas. Criar
pra salvar. Esses fragmentos, ou áreas até um pouco maiores
que simples fragmentos, também poderiam ser salvos por meio
de áreas, de preferência, com até 5 mil hectares. Pretendemos
apresentar isso para os fazendeiros que salvarão essas áreas,
mas que ainda estão lá, mantendo-as. Geralmente são reservas
legais e áreas de proteção permanente. Vamos apresentar a eles
como uma espécie de prêmio, para que fiquem satisfeitos por
ter uma área considerada pelos órgãos oficiais, por decreto, como
de Relevante Interessante Ecológico.
Na RPPN acontece algo semelhante, só que ela depende
da iniciativa privada e nós queremos fazer uma coisa de iniciativa
governamental, porque pode ser que muitos desses proprietários

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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não concordem ainda em fazer com que essas áreas sejam


consideradas unidades de conservação. Mas eles já as estão
protegendo e as áreas já são protegidas, inclusive pelas Polícias
Florestais de São Paulo, de Minas Gerais e de outros lugares
bastante atuantes, como Santa Catarina, que tem uma boa polícia
florestal. O Paraná também possui alguma coisa. É possível fazer
com que esses fragmentos tenham uma denominação legal e
que venham a ser constituídos como unidades de conservação.
É o primeiro passo para preservar.
Queria lembrar também que na natureza é muito comum
populações, principalmente de inseto, e isso se aplica a roedores
e a uma série de outros animais que passam por gargalos
ecológicos, situações em que, por motivo de pragas, doenças
etc., a população fica reduzida a poucos indivíduos. Então ela
passa por uma situação de gargalo. Depois as condições
favoráveis reaparecem, a população começa a se expandir e as
mutações passam a recriar grande parte dos gens, senão iguais,
pelo menos muito semelhantes aos que tinham desaparecido
quando a população diminuiu. A flutuação das populações em
matéria de número é um fenômeno natural. Ocorre na natureza
e o homem evidentemente acelera isso.
Para terminar, gostaria de parabenizar vocês e dizer que
a gente continua: as pessoas que lidam com isso, as não-
governamentais, as nossas universidades; nas lições como as do
Ibama e dos órgãos estaduais. Hoje nós temos uma massa crítica
bastante grande. Podemos e vamos fazer valer os nossos pontos
de vista. Na minha opinião, o problema número um, e o mais
crítico em relação à preservação de áreas naturais, é a preservação
dos últimos bosques de Araucárias. Só sobraram dois ou três
bosques da escala de 2 mil, 3 mil hectares. Quer dizer: a Araucária
está no fim. Precisamos concentrar, pelo menos, parte importante
dos nossos esforços para salvar as últimas florestas de Araucária
de certa expressão, que se encontram nos estados de Santa
Catarina e Paraná.

166
CORREDORES ECOLÓGICOS – Aspectos legais
Marialva Thereza Swioklo
Advogada/consultora ambiental
Procuradora aposentada do Ibama

Em agosto último, na cidade de Caxias do Sul, por


ocasião do "SIMADER – 2º Seminário de Industrialização e Usos da
Madeira de Reflorestamento", do "6º Simpósio Florestal do Rio
Grande do Sul" e do "Encontro Brasileiro de Técnicas para
Habitação e Estruturas", fui abordada por alguns de seus
participantes a respeito das implicações legais, caso ocorresse a
criação de um "corredor ecológico", envolvendo suas propriedades
rurais. Na verdade, aqueles empresários queriam saber o seguinte:
a implementação de um corredor ecológico constituir-se-ia em
mais uma restrição de uso do solo de suas propriedades?
A pergunta gerou uma série de novas indagações de
outros participantes, incluindo professores e estudantes
universitários. Agora, queriam saber "tudo" sobre essa figura que
– à primeira vista – se caracterizava como uma ameaça ao já "tão
limitado" uso do solo, em razão das inúmeras leis de proteção à
natureza editadas nos últimos anos. Além do receio demonstrado,
ficou evidente que – com raras exceções – a clientela dos eventos
desconhecia os reais objetivos da figura "corredor ecológico",
forçando uma conclusão preocupante e – por que não afirmar? –
totalmente errônea.
Essa lacuna, ou seja, a falta de informações, está sendo
suprida com a realização desse seminário, que tem, entre outros,
o objetivo de "nivelar conhecimentos, discutir e esclarecer
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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conceitos e métodos, além de consolidar informações." Tarefa


que – digamos – não será muito fácil (creio até que os
organizadores do evento sabem das inúmeras dificuldades que
encontrarão para que esses objetivos possam ser atingidos). Mas,
por certo, todos nós daqui sairemos bem mais esclarecidos e as
dúvidas existentes, senão totalmente sanadas, serão
sensivelmente abrandadas.
Em Direito, costumamos afirmar que os costumes e a
celeridade dos acontecimentos caminham bem mais rápidos do
que a lei. Conseqüência, é claro, de uma sociedade ágil, onde
os meios de comunicação sofreram um impacto violentíssimo
nas últimas três décadas, em especial. Assim, as leis – em sua
grande maioria – ao chegarem, já estão meio capengas, meio
desatualizadas. Surgem, então, os conflitos, as incertezas, gerando
o célebre bordão: "a justiça é lenta". E, o que é pior: na aplicação
da lei, alguns defendem que, na falta de instrumento legal mais
coerente com o fato, há que se utilizar o artifício a que dão o
horroroso nome de " flexibilização da lei". Aí, perdem todos. A
lei – melhor dizendo, a legislação – não é aplicada e os remendos
a ela ficam mil vezes pior. Então, a justiça de fato e de direito
não é feita. Pior para todos.
Esses pequenos comentários, ao redor da aplicação da
lei, tornam-se necessários para que possamos entender melhor
as implicações legais que incidem, ou melhor, que venham a
incidir, quando da implementação da figura jurídica dos corredores
ecológicos. É justamente isso o que os gaúchos queriam saber. E
agora, vamos – em um exercício de memória (principalmente) –
tentar responder a tão providencial indagação.
Muito foi escrito sobre a legislação ambiental. A partir da
Constituição Federal de 1988, onde o meio ambiente ganhou
capítulo especial, surgiu uma gama enorme de advogados
interessados na matéria, que tem nos brindado com livros
interessantes e profundos. Portanto, não vou repetir o rol de leis

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

existentes, nem citar doutrina, nem jurisprudência. A minha


militância profissional, tanto no serviço público como na iniciativa
privada, deu-me a visão eclética do meio ambiente e, hoje – sem
medo de errar –, posso afirmar que me sinto mais preparada para
discorrer sobre temas ambientais, sem a preocupação de defender
esse ou aquele. O que importa é que todos os segmentos
envolvidos precisam ter a mesma preocupação: a preservação e a
conservação das nossas riquezas naturais é de interesse de todos.
Após este preâmbulo, vamos ao assunto que me traz aqui.
Afinal, o que é um Corredor Ecológico? Definições – sempre – são
perigosas. Na própria bem elaborada "Nota Técnica", que
acompanha o material sobre este seminário, vê-se 7(sete) definições
(Lei nº 9.985/2000-SNUC; Resolução Conama nº 09/1996; Ibama,
1998; Conservation International, 2000 (duas); Ibama, 2000; e
publicação sem data do MMA/PPG7).
Pela fidelidade à hierarquia das leis, torna-se coerente
que iniciemos com a definição da Lei nº 9.985, de 18 de julho
de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza – SNUC. Assim, logo no seu art. 2º,
para os fins previstos na lei, temos a seguinte conceituação:

"XIX – Corredores Ecológicos: porções


de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando
unidades de conservação, que possibilitem entre elas o
fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a
dispersão de espécies e a recolonização de áreas
degradadas, bem como a manutenção de populações que
demandam para sua sobrevivência áreas com extensão
maior do que aquela das unidades individuais."

Examinando a conceituação escolhida pelo SNUC, e


comparando-a com as demais citadas, verifica-se que houve
preocupação de estender, da melhor forma possível, a idéia, já
preconizada, sobre as funções e objetivos dos corredores. O

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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objetivo maior seria a intenção de se conservar, de maneira


efetiva, a biodiversidade do Brasil. Estariam aí incluídas as
unidades de conservação propriamente ditas (SNUC), nos
âmbitos federal, estadual e municipal, as reservas particulares e
as terras indígenas.
Além dos espaços listados, teríamos ainda uma zona
maior de abrangência, sempre objetivando a conservação da
biodiversidade, ou seja, as áreas do entorno (zonas de
amortecimento – SNUC), os espaços de interstício entre as diversas
categorias, as propriedades particulares e, em especial, as
comunidades envolvidas.
Depreende-se, então, que múltiplos são os atores. Utilizo-
me aqui desse vocábulo bem atual, ainda não inserido nas lides
jurídicas, para enfatizar a importância do imprescindível bom
relacionamento que deverá reinar entre o administrando e o
administrador, como queiram, quando da implementação de um
corredor. Na efetivação de novas estratégias, visando a
conservação do meio ambiente, há uma reação contrária dos
envolvidos, quando os propósitos não são bem esclarecidos. No
nosso caso, o que se pretende é: primeiro, preservar a
biodiversidade; e, segundo, introduzir o conceito de
desenvolvimento sustentado entre as populações regionais.
Nas minhas andanças pelos caminhos virtuais da internet,
tenho visto colocações a respeito dos corredores, as mais variadas
possíveis. Embora a figura se apresente como bastante conhecida
na maioria dos países (e, de certa forma, com uma conceituação
idêntica a nossa), verifica-se no Brasil estranhas manifestações.
Assim, há aqueles que consideram os corredores como um perigo
à segurança nacional. Seriam – dizem eles – "áreas intocáveis" e
que "misteriosamente" superpõem-se sobre os corredores de
desenvolvimento da Amazônia. Estariam sendo defendidos por
ONGs, que preconizariam sua total intocabilidade, deixando "a
região intacta para posterior uso de potências dominantes".

170
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Folclore à parte, a complexidade em torno da


implementação de um corredor exige que, para a obtenção de
êxito, a sua condução seja partilhada por todos os segmentos da
sociedade. Desta forma, para que a política de conservação
baseada nesses termos alcance seus objetivos, será necessário –
em primeiríssimo lugar – que a iniciativa privada participe de
todo o processo. Isto porque, em muitos casos, haverá alteração
da destinação da propriedade rural, por imposição técnica (como
exemplos: recuperação do solo degradado, "mudança de lugar"
da reserva legal florestal).
E todos sabemos – até por tradição – que os cidadãos
que vivem dentro e nas regiões do entorno das áreas protegidas
(incluindo as terras indígenas) são tratados, muitas e muitas vezes,
como se inimigos fossem. "Intrusos", "depredadores" são alguns
dos adjetivos que lhes atribuem. Nada mais falso. Não seria mais
inteligente e racional levar até eles a idéia de que a criação de
um corredor ecológico lhes proporcionaria a oportunidade de
ter suas terras melhoradas, com um rendimento sustentado
tecnicamente elaborado e, em conseqüência, mais valorizadas?
Enfim, dada a complexidade e multiplicidade das
estratégias que antecedem a implementação de um corredor,
torna-se necessária a criação de um programa de educação e
comunicação ambiental, objetivando a participação dos cidadãos
envolvidos, sensibilizando-os para uma indispensável cooperação.
Dessa forma, adotando-se procedimentos profiláticos, e dando
um enfoque transdisciplinar à criação do corredor, evitar-se-ia,
sem sombra de dúvidas, a prática odiosa da fiscalização
eminentemente repressiva, inócua, uma vez que se tem
"protegendo" os corredores uma legislação enorme, dispersa e –
por que não dizer? – conflitante, inclusive quanto à competência
de atuação.

171
RESULTADOS DAS OFICINAS TÉCNICAS
Considerações iniciais

O presente documento relata os resultados das oficinas


de trabalho do I Seminário Nacional sobre Corredores Ecológicos
no Brasil. Tem como objetivo retratar todas as discussões e decisões
tomadas em grupos e em plenária pelos participantes do evento,
ocorrido nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2001.
No documento são apresentados:
• O objetivo do encontro;
• A metodologia aplicada;
• Os colaboradores da presente proposta;
• Os resultados obtidos no final do seminário.
As principais análises temáticas foram realizadas sob os
seguintes aspectos:
• Oficina I – Aspectos Conceituais sobre Corredores
Ecológicos: para essa oficina foi apresentada uma
matriz com as características desejáveis dos corredores
ecológicos, a análise de pontos fortes e fracos dos
conceitos de corredores já existentes e, por fim, o
conceito de corredor ecológico definido pelo encontro;
• Oficina II – Métodos e Instrumentos para
Planejamento e Implantação de Corredores
Ecológicos: os resultados indicaram o melhor
caminho metodológico para realizar planejamento de
corredores ecológicos, estratégias para sua implantação
e quais as principais formas de monitorar seus
impactos;
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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• Oficina III – Sistema e Instrumentos de Gestão de


Corredores Ecológicos: as principais considerações
foram a respeito da estrutura de governabilidade dos
corredores ecológicos, os componentes de sua
estrutura de gestão e os instrumentos legais necessários
para essa gestão.
A profundidade dos debates ocorridos nos grupos e em
plenária, durante a consolidação da proposta, bem como a
constante e entusiasmada participação dos envolvidos nos dá
uma avaliação positiva do seminário.
Em todas as oficinas houve forte representação de pessoas
com larga experiência em trabalhos sobre corredores ecológicos,
além de ativa participação nas discussões dos grupos e na
formulação de propostas indicativas para o desempenho desejável
e viável para o planejamento e gestão de corredores, tendo como
base as distintas experiências existentes.
Este seminário marcou não somente o encontro entre o
estado da arte da gestão biorregional e os distintos atores
atualmente envolvidos no processo, mas também um processo
de convergência dos conhecimentos, gerados no âmbito dos
corredores ecológicos no País.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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Participantes das Oficinas

Oficina I: Abordagens conceituais sobre corredores ecológicos


Adriana Dias Cons. Ibama/SC
Ana Lúcia de Aguiar Ibama/Direc
Antônio Edson G. Farias MMA/SBF/DAP
Armando Ferreira Ribeiro 4º CONSEG
Arnaldo Rebelato Biólogo
Carlos A. S. Correia MPF – 4ª Câmara de Coord. e Revisão
Diana de Farias Albernaz UnB – Biologia (Estudante)
Eliete Luzia Victor Associação Ambiental "Lagoa Viva"
Emanuel Fulton Madeira Casara Ibama/RO
Francisco A. Brito Ibama/Sede/Dicoe
Isolde Luiza Lando Eng. Florestal Cons.
José Joaquim Crashineski Ibama/PR
Maria Inês de L. Moreira Prefeitura de Lagoa da Confusão
Sec. Turismo/Meio Ambiente
Moacir B. Arruda Ibama/Direc
Norberta Benarrosh Ibama/RO
Maria Olatz Cases Consultora/MMA
Priscila Lopes Ibama – Sede/UnB – Geografia

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Oficina II: Métodos e instrumentos aplicáveis ao planejamento e gestão de


corredores ecológicos
Andreina D'ayala Valva Agência Ambiental – GO
Apolonio N. S. Rodrigues Ibama/PNI
Cláudia M. R. Costa Fundação Biodiversitas
João Paulo C. de Abreu Prefeitura Municipal de Lagoa
da Confusão – TO
Jorge Fontes Barbosa Ibama/BA
Juarez Cordeiro de Oliveira IAP/PR
Maridélia Liliany Zecenarro Ibama/NUC/SC
Miguel von Behr Ibama/Direc
Mônica Martins de Melo UnB
Nilo F. A. Magalhães Sedam/RO
Paulo César Casado Auto Ibama/AL
Paulo Henrique Vicente de Paiva Semarh/GO
Petrúcio Pereira Nascimento Ibama/AL
Rosemeri Lodi Ibama/Pna
Tania Baraúna Seplad/RO
Tarcísio P. Pereira Ibama/Direc
Ricardo Campos da Nóbrega Ibama/Direc
Zanoni Ferreira Ibama/Direc
Júlio Falcomer Ibama/Direc

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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Oficina III: Sistemas e instrumentos de gestão dos corredores ecológicos


Alandy Patrícia do S. C. Simas Iepa/ZEE – AP
Ary Soares dos Santos Ibama/Parna Emas
Caio P. S. de Medeiros Ibama/PR
Carmem Tereza A. F. M. Florêncio Ibama/P. N. Chapada dos Veadeiros – GO
Claudio Valladares Padua UnB-IPÊ
Divina Paula B. Oliveira Ibama/TO
Donizete Tokarski Ecodata
Dulcilene Santos Andrade Lima Ibama/CE
Francinete Avelar India/RO
Iloé Listo de Azevedo Ibama/CNPT
Iolanda Cavalcante Costa Semma/GO
Jorge Leonam Barbosa Naturatins/TO
Lúcia Lima Ibama/CGEUC
Luís Fernando S. Nogueira de Sá Ibama/Direc
Manoel Borges de Castro Ibama/PI
Maria Jurema de Freitas Rocha Ibama/SedeCSR/DF
Marissônia de A. Nunes Seplan/TO

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Resultados Alcançados nas Oficinas

As discussões e troca de informações entre os


participantes das oficinas e as apresentações dos trabalhos em
plenária destacaram as principais abordagens e os conceitos
apresentados a seguir:

OFICINA I – Abordagens Conceituais sobre Corredores


Ecológicos

De acordo com a metodologia proposta para o trabalho


em grupo, os participantes dessa oficina identificaram e
selecionaram as características desejáveis de um corredor
ecológico e, sua função vital, conforme seqüência:

Características do corredor ecológico

Quais as características conceituais implicitamente


desejáveis em um corredor ecológico? Considerando:

Aspectos sociais

As principais percepções apontaram a integração e


participação social no processo como fator fundamental para o
sucesso do projeto, compreendendo:
• Atores sociais conscientizados sobre a importância da
preservação e conservação dos recursos naturais em
relação à sua interdependência com o meio ambiente;
• Comunidades conscientizadas de seu papel no
processo de desenvolvimento regional, organizadas,
articuladas e comprometidas com os resultados do
projeto;

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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• Socialmente justo: respeito às comunidades e ao seu


modo de estruturação social. Refere-se à perspectiva
do planejamento biorregional contribuir para a redução
das desigualdades regionais;
• De indicadores sociais para o monitoramento da
qualidade de vida das populações afetadas (IDH).

Aspectos econômicos

As preocupações voltaram-se principalmente à


contribuição para o estabelecimento das bases para o
desenvolvimento sustentável.
• Economicamente viável, rentável e sustentável;
• Novas opções econômicas ambientalmente sustentáveis
oferecidas às comunidades locais e a outros agentes,
por meio de programas de capacitação profissional;
• Aplicação de métodos de produção e de tecnologias
ambientalmente saudáveis, contribuindo para o
fortalecimento dos zoneamentos ecológico-econômicos
nas distintas unidades federativas;

Aspectos ambientais

• Manutenção de ecossistemas em condições de


equilíbrio entre preservação e uso dos recursos
ambientais em níveis que garantam a manutenção da
biodiversidade;
• Promoção e fortalecimento da conectividade entre
unidades de conservação, áreas de proteção
permanente, reservas legais e outras áreas protegidas,
inclusive entre fragmentos de ambientes naturais de
interesse para a conservação como fator de
importância para a manutenção da biodiversidade.;

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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• Promoção da noção de corredor ecológico em seu


mais amplo sentido, como uma unidade
biogeográfica de planejamento regional de interesse
socioeconômico para o desenvolvimento sustentável
de modo integrado ao conceito de corredor de
biodiversidade, visando a manutenção de fluxos
gênicos entre distintos habitats.

Escala e Conceito

• A escala deve ser adotada caso a caso;


• A escala deve estar em função da capacidade de
gestão e das condições socioeconômicas da região;
• Contemplar no conceito o caso de corredor onde não
existem unidades de conservação;
• Incluir no conceito a escala temporal;
• Adotar conceitos de unidades de conservação e áreas
protegidas;
• Especificar no conceito qualidade de vida "humana"
ou "das populações residentes".

Função Vital

Qual é a função vital do corredor ecológico? (função


vital entendida como uma qualidade essencial que, se ausente,
descaracteriza-o como tal).
• Conciliar a conservação da biodiversidade com o
processo de desenvolvimento socioeconômico
regional, para a redução das desigualdades e a
promoção da saudável qualidade de vida das
populações residentes.

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
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Definição do conceito de Corredor Ecológico

Corredores Ecológicos são ecossistemas naturais ou


seminaturais que garantem a manutenção das populações biológicas
e a conectividade entre as áreas protegidas. São geridos como
unidades de planejamento visando a conservação da biodiversidade,
o uso sustentável dos recursos naturais e a repartição eqüitativa das
riquezas para as presentes e futuras gerações.
O corredor ecológico é uma unidade de planejamento
biorregional, formada por ecossistemas naturais, que possibilitam
a conectividade de suas espécies com áreas protegidas, delimitada
com o propósito de conservar a biodiversidade para as presentes
e futuras gerações, o uso sustentável dos recursos naturais e a
distribuição eqüitativa das riquezas.

OFICINA II – Métodos e instrumentos aplicáveis ao


planejamento e implantação de
Corredores Ecológicos

Os aspectos metodológicos foram estratificados em


planejamento, implantação e monitoramento do corredor
ecológico. As principais proposições podem ser observadas a seguir:

Planejamento

Etapas do Planejamento
As principais etapas propostas para a sistematização do
planejamento de um corredor ecológico são:
• Identificação de áreas relevantes para a conservação
ambiental;
• Identificação de parceiros institucionais;
• Definição da área de estudo para o corredor
(seminário);

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• Formação de equipe interna e elaboração de pré-


projeto para discussão;
• Seminários nos municípios parceiros regionais;
• Diagnósticos de potenciais ambientais, econômicos e
culturais;
• Compatibilização dos Planos Municipais / Estaduais /
Federais;
• Contratação de Equipe Multidisciplinar (consultoria);
• Identificação dos problemas existentes na área de
interesse para o corredor ecológico;
• Identificação de atores;
• Estabelecimento do marco referencial sobre as
condições locais (retrato);
• Definição de indicadores;
• Elaboração de projeto final do corredor ecológico.

Método de Seleção
O método proposto para identificação da área do
corredor ecológico contempla:
• Áreas com grupo de unidades de conservação;
• Análise dos fragmentos (tamanho, diversidade e
proximidade com espécies ameaçadas); de remanescentes
florestais contínuas;
• Preferência por áreas com espaço geográfico com
maior número de ecossistemas;
• Áreas com alta diversidade cultural e com formas
diversas de adaptação homem/natureza;
• Áreas de alta importância ecológica com alta pressão
antrópica (hotspots);

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Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Sobreposição de mapas de área protegida com mapas


das áreas prioritárias para conservação, a fim de identificar a
área-base Áreas do corredor;
• Análise de banco de dados físicos, biológicos e
socioeconômicos;
• Modelagem da dinâmica do ecossistema;
• Potencial para a criação de novas áreas protegidas.

Limite
Foram propostas as seguintes opções para a delimitação
da área de estudo para um corredor ecológico:
• Unidades geomorfológicas regionais como limites dos
ecossistemas;
• Características locais/regionais;
• Político-administrativo;
• Capacidade de gestão/envolvimento/participação dos
diversos atores do processo.

Escala
A escala de planejamento adotada para o corredor
ecológico deve contemplar os seguintes aspectos:
• Grau de exeqüibilidade para a gestão;
• Escala de ecossistemas (bacias hidrográficas/
ecorregiões/unidades biogeográficas);
• Representatividade do planejamento participativo;
• Potencial presente e futuro de manutenção do fluxo
genético da biota (fauna/flora).

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Execução das Atividades

As estratégias desejáveis para execução das atividades


previstas para corredores ecológicos são:
• Divisão das áreas dos corredores em áreas-núcleo;
• Dividir a atuação em fases ou áreas-piloto
(priorização);
• Elaboração de matriz interinstitucional na fase de
planejamento;
• Envolvimento comunitário (seminários/workshops);
• Execução de programas emergenciais;
• Existência de um programa de marketing;
• Criação de fundos, ou direcionar os existentes para
corredor ecológico;
• Fomentar projetos de geração de renda para envolver
as comunidades;
• Adoção de instrumentos jurídicos de contrapartida;
• Implantar uma certificação ambiental para produtos
da região;
• Eleição de alternativas sustentáveis para os setores
produtivos.

Monitoramento
Quanto ao monitoramento das atividades relacionadas
com o corredor ecológico, as principais sugestões foram:

Monitoramento de atividades do projeto (desempenho)


• Elaboração de plano de monitoramento de ações;
• Número de projetos ambientalmente e economicamente
sustentáveis implantados.

186
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Impactos do corredor ecológico na conservação da


biodiversidade
• Elaboração de plano de monitoramento dos impactos
do projeto;
• Monitoramento do fluxo genético da fauna;
• Acompanhamento por amostragem periódica da flora
(inventário);
• Verificação do índice de desmatamento por meio de
imagens de satélite;
• Verificação bienal do índice de diversidade.

Impactos do corredor ecológico na qualidade de vida


das populações humanas
• Elaboração de plano de monitoramento dos impactos
do projeto;
• Realização de entrevistas para avaliar aceitação dos
atores sociais;
• Adesão da comunidade ao longo do projeto;
• Monitoramento do IDH – Índice de Desenvolvimento
Humano;
• Critérios estabelecidos para avaliar a qualidade de
vida da população;
• Verificação da prática de alternativas de produção
propostas;
• Identificação e acompanhamento de empreendimentos
(em andamento e planejamento).

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

OFICINA III – Sistemas e Instrumentos de Gestão

A análise do sistema de gestão foi estratificada conforme


os itens abaixo relacionados:

Quanto à governabilidade/participação

Estrutura de governabilidade
Fatores que garantem a governabilidade dos corredores
ecológicos:
• Governabilidade assegurada, por intermédio de um
instrumento administrativo compatível com seus
objetivos;
• Atores envolvidos, comprometidos e capacitados para
a governabilidade;
• Programas e projetos setoriais integrados entre si.
Os critérios de representatividade para a participação de
OGs e ONGs no organismo gestor são:
• Paridade entre OG, sociedade civil organizada e
iniciativa privada assegurada;
• Legítima participação da sociedade civil organizada;
• Estrutura de governabilidade funcional e eficiente.

Quanto à estrutura de gestão


Considerações sobre quais as estruturas de gestão são
mais adequadas aos corredores ecológicos:
• Um conselho: paritário, legítimo, representativo e
funcional;
• Estrutura de gestão adaptada às condições de cada
corredor.

188
Corredores Ecológicos – Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Quanto a instrumento legal


Os instrumentos legais mais adequados para oficializar
a gestão de corredores ecológicos são:
• Hierarquia Evolutiva: Portaria ! Resolução ! Conama
Decreto;
• Unidades de Gestão integrada e fortalecidas por meio
da aplicação do arcabouço legal;
• Integração com outras unidades de planejamento e
gestão territorial (ex.: comitê, bacia; zoneamento
ecológico-econômico e outras).

Considerações finais

Comentários sobre os resultados

De forma genérica, o seminário obteve bons resultados


em todas as oficinas. Contudo, é possível observar avaliações
específicas em cada um dos grupos de trabalho:
• Oficina I – Aspectos Conceituais sobre Corredores
Ecológicos: a complexidade do ter mo corredor
ecológico demandou a este grupo intensa análise sobre
terminologias, formas verbais e idéias. Entretanto o
grupo conseguiu construir o conceito de forma
conclusiva.
• Oficina II – Aspectos Metodológicos para
Planejamento e Implantação de Corredores
Ecológicos: os resultados gerados por este grupo
tiveram boa aceitação pela plenária. Isso se deve, em
parte, pela clareza com que os participantes trataram
os assuntos abordados, uma vez que muitos
componentes do grupo já possuíam vasta experiência
sobre alguns dos temas debatidos pela equipe.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• Oficina III – Sistema de Gestão de Corredores


Ecológicos: esta equipe teve dificuldades em levantar
os resultados, em razão da metodologia proposta para
o seminário basear-se nas lições aprendidas nas diversas
vivências de corredor ecológico no Brasil, pelo fato
das visões e experiências serem diferenciadas.

É importante notar que, de maneira geral, houve consistência


nos produtos gerados. Contudo, o tempo disponível para o evento
não permitiu o aprofundamento técnico em alguns temas.

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