Nocmat 2006
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Nocmat 2006
* Membro correspondente
RESUMO
Esse artigo está embasado na dissertação de mestrado, como também nos fundamentos
teóricos sobre biônica, tendo como objetivo mostrar o processo de fabricação de um eco-
compósito composto de resíduos reciclados de madeira usados para reforçar resina de
poliéster insaturada. A base teórica para dar suporte a este eco-compósito é a Ecologia
Industrial, processo biônico que usa o conceito de circulação de insumos em ciclos fechados,
tal como acontece no mundo natural com o objetivo de preservação ambiental. O propósito do
eco-compósito é demonstrar que é possível o aproveitamento eco-eficiente de resíduos de
madeira como insumo para outras indústrias, como as de plástico reforçado como é mostrado
no artigo. O resíduo de madeira, depois de coletado, foi classificado, quantificado e misturado
com resina de poliéster insaturado, formando 15 traços diferentes. O processo de fabricação
foi baseado no sistema de prensagem a frio com molde fechado, escolhido por responder aos
critérios ecológicos sugeridos pela Ecologia Industrial através de requisitos de Design
Industrial. Os traços foram testados em ensaios de Absorção de Água, Dureza Shore D e
Flexão de Três Pontos demonstrando ser uma boa alternativa ecologia a materiais tradicionais.
Com a crescente preocupação com os destinos do planeta terra, devido aos graves problemas
ambientais causados pela ação antrópica, cresse também, as pesquisas sobre tecnologias
ambientalmente amigáveis, necessárias para recuperar e manter o equilíbrio ecológico.
Essa realidade permite uma reflexão sobre como um material, considerado tão nobre e com
risco de extinção de algumas espécies, pode ter mais da metade de seu volume subutilizado ou
descartado, apenas por se apresentar fisicamente diferente do estado de antes do
beneficiamento. Será que existem alternativas que permitam a valorização deste resíduo?
Ecologia Industrial
A saída para a valorização deste tipo de resíduo, aqui proposta, foi baseada na aplicação da
Ecologia Industrial, filosofia integrante da Biônica, que considera os resíduos de um processo
produtivo como insumo para outros processos produtivos. Usa como modelo os processos
naturais da cadeia alimentar, mais precisamente o uso e reciclagem de insumos, para a
formação de processos tecnológicos análogos a estes naturais.
A Biônica é a ciência que estuda modelos naturais para basear o design e propor processos
para a resolução de problemas humanos, ou seja: a inovação inspirada na natureza. Segundo
Benyus [2], torna-se uma ferramenta imprescindível ao propor modelos ecológicos que
permitam produtos e processos eco-eficientes, não poluentes e socialmente corretos. Um
exemplo de aplicação da biônica, segundo Nachtigall [3] são os processos de produção e
fabricação (biônica de processo) como os encontrados nos mecanismos naturais de reciclagem
e que evitam o depósito de materiais considerados como resíduo ou lixo.
A Ecologia Industrial é uma aplicação da biônica de processo, que visa prevenir impactos
ambientais negativos pela redução da demanda de matérias primas e energia, assim como visa
também à diminuição da devolução de resíduos e poluentes à natureza. Para Kiperstok &
Marinho [4] a lógica de processamento interno de materiais e energia, com a recuperação de
valores incorporados a elementos que seriam rejeitos de alguns processos, por sua utilização
como alimentação de outros, é que leva à associação com a ecologia. Portanto, segundo a
Ecologia Industrial, o que é considerado resíduo em um processo produtivo é aproveitado
como insumo em outro processo, formando, assim, um circuito fechado de aproveitamento de
insumos e energia, tal como acontece no meio natural e fazendo com que a quantidade de
material que transita na biosfera tenha uma dissipação mínima, se mantendo quase constante.
Isso resulta em redução tanto da demanda de recursos naturais quanto na redução de resíduos,
minimizando a pressão sobre a natureza. A FIGURA 1 mostra o funcionamento do conceito
básico da Ecologia Industrial.
FIGURA 1 - FUNCIONAMENTO DA ECOLOGIA INDUSTRIAL (BASEADO EM TEIXEIRA [6]).
Deste modo, o material deixa de ser resíduo pela sua valorização como matéria-prima para a
obtenção de novos produtos. Neste caso, o resíduo passa a ser tratado como subproduto do
processo produtivo [5]. Do ponto de vista do produtor, esta pode ser uma excelente
oportunidade de negócio, pois estará produzindo produtos a custos muito mais baixos, já que
estará utilizando como matéria-prima algo que era visto como descartável, além de usar de
maneira quase completa toda madeira disponível, já que este é um material considerado
nobre.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa teve como um de seus objetivos demonstrar uma relação de Ecologia Industrial
entre duas empresas com sistemas de produção e uso de matérias primas bastante distintas,
ambas situadas em Salvador-Ba. Para isso foram feitas etapas de reciclagem de resíduos e
moldagem de corpos de prova feitos com o compósito a base de resíduo. A pesquisa deu-se
em 3 etapas aqui descritas:
A FIGURA 2 mostra a relação entre estas duas indústrias durante o programa experimental. É
possível observar o aproveitamento do resíduo na forma de serragem do processo produtivo
01 como insumo no processo produtivo 02, para a fabricação dos corpos-de-prova.
PROCESSO PROCESSO
PRODUTIVO 01 PRODUTIVO 02 CORPOS-
DE-PROVA
RECICLAGEM DE
SERRAGEM RESINA TERMOFIXA
(LASCAS E PÓ) DE POLIÉSTER COMPÓSITO
A resina usada era composta de poliéster termofixo insaturado ortoftálico cristal POLYDYNE
5061 da Cray Valley. Que é formulada pela reação de ácidos e álcoois, e que pode ser diluído
em monômero de estireno, Esse tipo de resina apresenta-se inicialmente como um líquido
viscoso e pode ser curada a quente ou a frio, neste caso com o uso de catalisadores
endurecedores, não voltando ao estado líquido inicial, em ambos os casos. A resina ortoftálica
usada é de uso geral, com aplicação nas indústrias náutica, automotiva e de transporte em
geral, moveleira, piscinas, utensílios, indústria esportiva e outras. Sua resistência física e
química a impede de ser usada em condições mais severas.
Suas propriedades físicas podem ser modificadas pela adição de cargas e reforços fibrosos. A
resina ortoftálica é a resina termofixa mais conhecida e usada comercialmente devido ao
baixo preço de aquisição, facilidade de manipulação e de moldagem, processo popularmente
conhecido como fiberglass (plástico reforçado com fibra de vidro).
Coleta e reciclagem
Foram coletados cerca de 10 kg de serragem, tanto no silo de resíduo quanto ao redor das
máquinas de beneficiamento de toras (FIGURA 3). O resíduo que se encontrava no silo
apresentava 96% de umidade, pois, o silo era a céu aberto. Já o coletado em torno das
máquinas de beneficiamento apresentava umidade em torno de 18%.
Após o peneiramento, o resíduo foi separado e classificado como Fino (F), Médio (M),
Grosso (G) e Descartado (D). Os três primeiros foram usados na fabricação dos compósitos,
totalizando uma reciclagem em torno de 95% do resíduo coletado. O restante foi descartado
por apresentar partículas muito grandes e impurezas como areia e palha
Processo de fabricação
PRENSA
MOLDE
Foi verificado nesta etapa que os traços com 10% de resíduo, por serem fluidos, apresentaram
grande facilidade de moldagem. Os traços de 20% de resíduo formaram uma massa um tanto
quanto seca, mas ainda passíveis de serem moldados. Os traços com o resíduo grosso
apresentaram elevado grau de dificuldade durante a moldagem, pois o tamanho das partículas
de resíduo dificultaram significativamente o preenchimento dos cantos do molde. Verificou-
se, também, que o grau de homogeneização da mistura variou conforme a granulometria do
resíduo. A presença de partículas finas permitiu a obtenção de compósitos mais homogêneos e
com elevada compacidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Absorção de água
Este ensaio forneceu dados sobre o comportamento do compósito imersos em água. Foram
moldados 4 corpos-de-prova para cada traço, os quais foram imersos num recipiente com
água a temperatura ambiente (± 30ºC, para o mês de outubro em Salvador) durante 15 dias,
tendo seu peso medido duas vezes ao dia.
Com base nos resultados apresentados na FIGURA 6, foi possível verificar que:
• Quanto maior a quantidade de resíduo de madeira, maior a absorção de água.
• Quanto maior a granulometria das partículas do resíduo de madeira, maior a absorção de
água.
Os corpos de prova absorveram água de forma lenta com graduações de décimos de grama
por dia. Nos traços mais absorventes registrou-se uma média em torno de 5% de umidade no
décimo quinto dia de ensaio. Este valor pode ser considerado pequeno quando comparado
com a madeira in natura imersa na água, a qual pode absorver 30% ou mais de água. A partir
destes resultados entende-se que a resina envolve e protege a madeira da umidade, mesmo
estando os compósitos imersos na água vários dias.
Dureza Shore D
Este ensaio forneceu dados sobre o desempenho do material quanto à resistência a objetos
penetrantes. Foi usado um durômetro para a realização das 5 medições em diferentes posições
do corpo-de-prova. O tempo de exposição à carga foi de 10 segundos e a massa usada para
aplicação da carga foi de 5 kg. O ensaio foi feito à temperatura de laboratório (±25ºC) A
dureza de um material especifica a resistente à penetração ou risco quando há contato com
materiais durezas diferenciadas.. Há várias escalas de medidas de dureza. Neste estudo foi
usada a escala Shore D, que varia de 0 (macio) a 100 (duro). Os resultados obtidos são
mostrados na FIGURA 7.
A dureza dos traços F1 e F2 ficaram bem próximas ao do traço T, por serem bastante
homogêneos e sem a presença de partículas médias ou grossas. A quantidade de resíduo de
madeira também influenciou na medida da dureza, sendo os traços com 20% de resíduo um
pouco mais macios que os traços com 10%.
Este ensaio forneceu dados sobre a resistência à tração na flexão dos compósitos avaliados,
sendo realizado a temperatura ambiente para 5 corpos-de-prova por traço. Foi utilizada uma
prensa DL 30000 da marca EMIC, assistida por computador, com célula de carga de 20 N.
Para facilitar a aquisição dos dados foi desenvolvida uma rotina de controle digital dedicada a
este ensaio.
CONCLUSÃO
A pesquisa mostrou que a serragem de madeira pode ser usada como componente de um eco-
compósito que, além de preencher os requisitos do princípio da circulação de material, além
de ser produzido por um processo de fabricação de baixo impacto ambiental, conceitos
propostos pela Ecologia Industrial, também mostrou ter boas propriedades físicas e
mecânicas. Portanto o uso do resíduo na forma de serragem reciclada é uma resposta viável
para a preservação do meio ambiente.
REFERÊNCIAS