Verificação de Dimensionamento de Estruturas de Madeira

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Disciplina DAE00432 Estrutura de Madeira

2021.1

Verificação de dimensionamento de estruturas de madeira


Resistências
Resistência dos Materiais
A resistência é a aptidão dos materiais de suportar tensões. É determinada
convencionalmente pela máxima tensão que pode ser aplicada a corpos de prova do
material considerado até o aparecimento de fenômenos, além dos quais há restrição de
emprego do material em elementos estruturais, como os de ruptura ou deformação
excessiva.
Valores Representativos
a) Resistência Média
A resistência média fm é a média aritmética das resistências fi nos n elementos que
compõem um dado lote de material. O desvio padrão é dado por

∑(𝑓 − 𝑓 )
𝜎=
𝑛

b) Resistências características
Os valores característicos fk das resistências são os que, num dado lote, têm uma
determinada probabilidade de serem ultrapassados, no sentido desfavorável para a
segurança. É admitida como sendo o valor que tem apenas 5% de probabilidade de não
ser atingido. Supondo uma distribuição de probabilidade normal
fk = fm – 1,64·σ = fm·(1 – 1,64·δ)
δ = σ/fm ≈ 0,18 ⸫ fk ≈ 0,7·fm
Valores de Cálculo
Resistência de Cálculo
A resistência de cálculo fd, é dada por:
𝑓
𝑓 =
𝛾
Onde o denominador é o coeficiente de ponderação das resistências, sendo
γm = γ1 · γ2 · γ3
Onde o primeiro coeficiente do lado direito da equação leva em conta a variabilidade da
resistência efetiva, o segundo as diferenças entre a resistência efetiva do material e aquela
medida em corpos de prova e o terceiro considera as incertezas existentes na determinação
das solicitações resistentes, seja em virtude dos métodos construtivos, seja em
decorrência do método de cálculo empregado.
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Particularidades para estruturas de madeira


a) Classe de resistência
A norma ABNT NBR 7190:1997 introduziu o sistema de Classe de Resistência para
simplificar a especificação do material na fase do projeto. Não é preciso adotar a madeira,
que varia muito em resistência com a espécie, disponibilidade de mercado e região de
construção. O proprietário da obra e seu fornecedor de madeira deverão se adequar à
classe definida em projeto.

b) Coeficientes de ponderação e coeficientes modificadores


Uma forma alternativa, utilizada na norma de estruturas de madeira, para se obter a
resistência de cálculo, é:
𝑓
𝑓 =𝐾 .
𝛾

Onde γw é o coeficiente de ponderação da resistência da madeira e o Kmod o é coeficiente


modificador.
Os valores do coeficiente de ponderação da resistência da madeira para estados limites
últimos são:
γwc = 1,4 decorrentes de tensões de compressão paralela às fibras
γwt = 1,8 decorrentes de tensões de tração paralela às fibras
γwv = 1,8 decorrentes de tensões de cisalhamento paralela às fibras

O coeficiente modificador Kmod é o produto de 3 coeficientes:


Kmod = Kmod,1 · Kmod,2 · Kmod,3
Onde o primeiro considera o efeito da duração do carregamento, o segundo a umidade do
meio ambiente e o terceiro a categoria da madeira, conforme Tabelas a seguir:
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-Valores para Kmod,1

- Valores para Kmod,2

-Valores para Kmod,3

c) Classes de Umidade

d) Relações entre propriedades mecânicas


Para obter as resistências características às diversas solicitações a partir da compressão
paralela às fibras, pode-se usar as seguintes relações:
fc,k/ft,k = 0,77
fM,k/ft,k = 1,00
fc90,k/fc0,k = 0,25
fv0,k/fc0,k = 0,15 (para coníferas)
fv0,k/fc0,k = 0,12 (para dicotiledôneas)
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e) Módulo de elasticidade
Na Verificação de Estados Limites Últimos em que os esforços dependam da rigidez da
madeira, adota-se valor efetivo do módulo de elasticidade na direção das fibras em função
de seu valor médio em ensaios de compressão:
Ec0,ef = Kmod,1· Kmod,1· Kmod,1·Ec0
Esse valor também pode ser obtido a partir de ensaios de flexão como:
EM = 0,85·Ec0 (para coníferas)
EM = 0,90·Ec0 (para dicotiledôneas)

f) Valores típicos para algumas espécies


No Anexo E da norma ABNT NBR 7190:1997 são apresentados alguns valores médios
de propriedades mecânicas para algumas espécies coníferas e dicotiledôneas.

Verificação de resistência de peças de madeira


Repetindo e resumindo, os valores de cálculo das resistências são obtidos por:
𝑓
𝑓 =𝐾 .
𝛾
onde as resistências características podem ser dadas por resultados de ensaios
padronizados ou, mais usualmente, adotando-se valores padronizados das classes
definidas na norma.

Resistência e tensões normais inclinadas em relação às fibras da madeira


Permite-se ignorar a influência da inclinação das tensões normais em relação às fibras da
madeira até o ângulo α = 6º. Para inclinações maiores, usa-se a fórmula de Hankison:
𝑓 ∙ 𝑓
𝑓 =
𝑓 ∙ 𝑠𝑒𝑛 𝛼 + 𝑓 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝛼

Exemplos:
1) Considere o Jatobá, madeira de uma espécie de árvore muito empregada na construção
de pontes. Os resultados experimentais mostram que a resistência média à compressão
paralela às fibras para a madeira fc0,m = 70 MPa (TU=20%). Determinar a resistência a
compressão de cálculo paralela às fibras a 12% de umidade, considerando um ambiente
seco e parcialmente úmido, madeira serrada de 2ª categoria e carregamento de longa
duração.
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Primeiro passo: Corrigir a umidade


A norma NBR 7190:1997 adota como condição padrão de referência a classe 1 de
umidade, ou seja, umidade de equilíbrio igual a 12%.
Qualquer resistência ou rigidez determinada no intervalo de 10 a 20% podem ser
corrigidas para umidade padrão através das expressões:
3 ∙ (𝑈% − 12)
𝑓 % =𝑓 % ∙ 1+
100
2 ∙ (𝑈% − 12)
𝐸 % =𝐸 % ∙ 1+
100

Então, para estimativa de fc0,m a 12% de umidade, fazemos:


3 ∙ (𝑈% − 12)
𝑓 % =𝑓 % ∙ 1+
100
3 ∙ (20 − 12)
𝑓 , , % = 70 𝑀𝑃𝑎 ∙ 1 +
100
𝑓 , , % = 70 𝑀𝑃𝑎 ∙ [1 + 0,24]

∴ 𝑓 , , % = 86,8 𝑀𝑃𝑎

Segundo passo: Determinar a resistência à compressão paralela às fibras característica


𝑓 , = 0,7 ∙ 𝑓𝑐0, 𝑚

𝑓 , = 0,7 ∙ 86,8 𝑀𝑃𝑎

∴ 𝑓 , = 60,76 𝑀𝑃𝑎
Terceiro passo: Determinar a resistência à compressão de cálculo
𝑓
𝑓 =𝐾 .
𝛾
Do enunciado, temos, madeira serrada:
1) Carregamento de longa duração: Kmod,1 = 0,7;

2) Considerar um ambiente seco e parcialmente úmido


Classes de categoria de Umidade 1 ou 2: Kmod,2 = 1,0

3) Madeira serrada de segunda categoria: Kmod,3 = 0,8


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Coeficiente de ponderação da resistência:


γwc = 1,4 decorrentes de tensões de compressão paralela às fibras
𝑓 𝑓
𝑓 =𝐾 . = 𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾 𝛾
𝑓 ,
𝑓 , =𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾
60,76 𝑀𝑃𝑎
𝑓 , = 0,7 ∙ 1,0 ∙ 0,8 ∙
1,4
∴ 𝑓 , = 24,30 𝑀𝑃𝑎

2) Determinar o valor característico da resistência à compressão paralela às fibras (fc0,k)


de um lote de madeira na espécie Canafístula (Cassia ferruginea). Para este lote, foram
efetuados ensaios de compressão paralela às fibras em doze corpos de prova, com teor de
umidade igual a 12%, tendo sido obtidos os seguintes valores:
Corpo de prova
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
(CP)
fc0 (MPa) 56,7 43 61,9 64,7 59,6 54,9 38,6 34,9 43 58 58,1 50,1

Primeiro passo: Colocar em ordem crescente os corpos de prova de acordo com os


valores de fc0.
Corpo de prova
8 7 2 9 12 6 1 10 11 5 3 4
(CP)
fc0 (MPa) 34,9 38,6 43 43 50,1 54,9 56,7 58 58,1 59,6 61,9 64,7

Utilizando o estimador de resistência característica a partir de corpos de prova:

𝑓 +𝑓 + 𝑓 + ⋯𝑓
𝑓 , = 2∙ 𝑛 −𝑓 ∙ 1,1
2−1
Para n = número de corpos de prova = 12, o estimador de resistência resume-se a:
𝑓 , +𝑓 , +𝑓 , +𝑓 , + 𝑓 ,
𝑓 , = 2∙ −𝑓 , ∙ 1,1
5
34,9 + 38,6 + 43 + 43 + 50,1
𝑓 , = 2∙ − 54,9 ∙ 1,1
5
∴𝑓 , = 31,83 𝑀𝑃𝑎
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3) Determinar os valores de cálculo para a resistência de cálculo paralela as fibras (fc0,d)


e ao cisalhamento (fv0,d) para a espécie Eucalipto Citriodora (Corymbia citriodora), com
base nos resultados fornecidos na Tabela 1, do anexo E, da NBR 7190/97. Considerar
madeira serrada, de segunda categoria, classe de umidade 2 e carregamento de longa
duração.
Da Tabela E.1, Página 90 da ABNT NBR 7190:1997, temos para o Eucalipto Citriodora:
ρap (12%) = 999 kg/m³
fc0 = 62 MPa
ft0 = 123,6 MPa
ft90 = 3,9 MPa
fv = 10,7 MPa
Ec0 = 18421 MPa

Estimativa de fc0,k:
𝑓 , = 0,7 ∙ 𝑓𝑐0, 𝑚

𝑓 , = 0,7 ∙ 62 𝑀𝑃𝑎

∴ 𝑓 , = 43,4 𝑀𝑃𝑎
Estimativa de fv0,k: Sendo o Eucalipto Citriodora uma Dicotiledônia:
𝑓 , /𝑓 , = 0,12

𝑓 , = 0,12 ∙ 𝑓 ,

𝑓 , = 0,12 ∙ 43,4 𝑀𝑃𝑎

∴ 𝑓 , = 5,20 𝑀𝑃𝑎

Para estimativa de fc0,d e fv0,d, considerar:


1) Carregamento de longa duração: Kmod,1 = 0,7;
2) Classe de Umidade 2: Kmod,2 = 1,0
3) Madeira serrada de segunda categoria: Kmod,3 = 0,8
4) Coeficiente de ponderação da resistência
γwc = 1,4 decorrentes de tensões de compressão paralela às fibras
γwv = 1,8 decorrentes de tensões de cisalhamento paralelo às fibras
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Estimativa de fc0,d:
𝑓 𝑓
𝑓 =𝐾 . = 𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾 𝛾
𝑓 ,
𝑓 , =𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾
43,4 𝑀𝑃𝑎
𝑓 , = 0,7 ∙ 1,0 ∙ 0,8 ∙
1,4
∴ 𝑓 , = 17,36 𝑀𝑃𝑎
Estimativa de fv0,d:
𝑓 𝑓
𝑓 =𝐾 . = 𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾 𝛾
𝑓 ,
𝑓 , =𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾
5,20 𝑀𝑃𝑎
𝑓 , = 0,7 ∙ 1,0 ∙ 0,8 ∙
1,8
∴ 𝑓 , = 1,62 𝑀𝑃𝑎

4) Determinar os valores de cálculo para a resistência de cálculo paralela às fibras (fc0,d)


e ao cisalhamento (fv0d), bem como o valor efetivo do módulo de elasticidade na direção
paralela às fibras (Ec0,ef) para a classe C60 (dicotiledônea). Considerar madeira serrada,
de primeira categoria, classe de umidade 2 e carregamento de longa duração.
Da norma ABNT NBR 7190:1997, Tabela 9, Página 16, para Classe de Resistência das
Dicotiledôneas, para madeiras da Classe C60, tem-se:
fc0,k = 60 MPa
fv0,k = 8 MPa
Ec0,m = 24500 MPa
ρbas,m = 800 kg/m³
ρap = 1000 kg/m³
Para estimativa de fc0,d, fv0,d e Ec0,ef considerar:
1) Carregamento de longa duração: Kmod,1 = 0,7;
2) Classe de Umidade 2: Kmod,2 = 1,0
3) Madeira serrada de primeira categoria: Kmod,3 = 1,0 (Dicotiledôneas)
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4) Coeficiente de ponderação da resistência


γwc = 1,4 decorrentes de tensões de compressão paralela às fibras
γwv = 1,8 decorrentes de tensões de cisalhamento paralelo às fibras

Estimativa de fc0,d:
𝑓 𝑓
𝑓 =𝐾 . = 𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾 𝛾
𝑓 ,
𝑓 , =𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾
60 𝑀𝑃𝑎
𝑓 , = 0,7 ∙ 1,0 ∙ 1,0 ∙
1,4
∴ 𝑓 , = 30 𝑀𝑃𝑎
Estimativa de fv0,d:
𝑓 𝑓
𝑓 =𝐾 . = 𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾 𝛾
𝑓 ,
𝑓 , =𝐾 , ∙𝐾 , ∙𝐾 , ∙
𝛾
8 𝑀𝑃𝑎
𝑓 , = 0,7 ∙ 1,0 ∙ 1,0 ∙
1,8
∴ 𝑓 , = 3,11 𝑀𝑃𝑎
Estimativa de Ec0,ef:
Ec0,ef = Kmod,1· Kmod,1· Kmod,1·Ec0
Ec0,ef = Kmod,1· Kmod,1· Kmod,1·Ec0,m
Ec0,ef = 0,7· 1,0· 1,0· 24500 MPa
⸫ Ec0,ef = 17150 MPa

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