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GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL

DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL

Núcleo de Assistência Jurídica de Defesa dos Direitos Humanos


Ofício Nº 160/2022 - DPDF/NDH Brasília-DF, 16 de fevereiro de 2022.
Senhora Secretária,

Cumprimentando-o cordialmente, os defensores públicos do Núcleo da Defesa dos


Direitos Humanos - NDDH, no uso das atribuições que lhes conferem o ar go 134, da Cons tuição
Federal; o ar go 4°, incisos II, III, VII, VIII, e X, o ar go 89, inciso X, da Lei Complementar 80/94; vêm
expor e solicitar, no prazo de 5 (cinco) dias, o que segue.
No ciou-se na imprensa o desespero de pais com relação à ausência de monitores
para ajudar no aprendizado das crianças e jovens com deficiência e ao fechamento de salas de
recursos nas escolas da rede pública de ensino no Distrito Federal.
Sobre a proteção dos direitos das pessoas com deficiência, é importante lembrar que
em 30 de março de 2007 foram assinados em Nova York a Convenção da Organização das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Faculta vo. Nesse cenário, a
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência das Nações Unidas consagra
o modelo social ou de direitos humanos, que busca a inclusão das pessoas com deficiência na
sociedade. Inverte-se, portanto, o paradigma: não é a pessoa com deficiência que deve se adaptar à
sociedade, mas a sociedade que deve trabalhar em prol da inserção das pessoas com deficiência.
No que diz respeito especificamente à educação, a Cons tuição Federal prevê como
princípios para o ensino a igualdade de condições de acesso e permanência na escola (ar go 206,
inciso I) e a garan a de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação ar s ca,
segundo a capacidade de cada um (ar go 208, inciso V). Para a educação da pessoa com deficiência,
garante o atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art.
208, III).
Determina o texto cons tucional a obrigação do Estado em promover programas de
assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, devendo observar como preceito a
criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas com deficiência,
bem como a integração social do adolescente e do jovem com deficiência, mediante o treinamento
para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços cole vos, com a
eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação (art. 227, §1º, II).
Portanto, a educação é direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema
educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo da vida, de forma a alcançar o
máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades sicas, sensoriais, intelectuais e
sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Importante lembrar
que a escola deve adaptar o conteúdo conforme a necessidade da pessoa com deficiência, a fim de
garan r o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o
exercício de sua autonomia.
Por sua vez, a Lei nº 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, é previsto como dever do Estado garan r atendimento educacional especializado gratuito
aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular
de ensino. É o que se denomina educação especial, cuja oferta inicia-se na educação infan l e
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estende-se ao longo da vida.
Na escola regular, quando houver necessidade de atender às peculiaridades dos alunos
de educação especial haverá serviços de apoio especializado. Para isso, a escola deverá
providenciar, sem custo adicional, profissional de apoio para o educando com deficiência que
apresentar tal necessidade, o que pode ser comprovado por relatório médico ou de profissional de
saúde. No caso de alunos au stas, a Lei 12764/2012 prevê especificamente o direito à acompanhante
especializado nos casos de comprovada necessidade.
Registra-se que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação currículos, métodos,
técnicas, recursos educa vos e organização específicos, para atender às suas necessidades . Para o
atendimento especializado, os sistemas de ensino devem contratar professores com especialização
adequada em nível médio ou superior, bem como professores do ensino regular capacitados para a
integração dos educandos nas classes comuns.
A educação é direito de todos e dever do Estado e, sob essa ó ca, impõe-se a proteção
ao interesse das crianças, dos adolescentes e dos jovens, com deficiência, conforme previsto na
Cons tuição Federal nos ar gos 205 e 208, inciso III. Da mesma forma, também é direito desses
alunos a disponibilização da sala de recursos mul funcionais, como forma de complementar o
atendimento.
No âmbito do Poder Judiciário, existem diversos julgados que, considerando o caráter
prestacional do direito à educação, entendem que deve imperar a garan a cons tucional de
atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, que, em linha com o princípio da
dignidade da pessoa humana, não pode ser obstada, seja pela tese de violação ao Princípio da
Isonomia, seja pelo Princípio da Reserva do Possível. Alertam, ainda, que a concre zação do direito
em questão depende da oferta de educação diferenciada, com atendimento individualizado e
especializado àqueles que possuem necessidades especiais. Em outras palavras, não disponibilizar tal
tratamento diferenciado às pessoas com deficiência é o mesmo que negar o direito fundamental à
educação.
Ademais, a Lei n. 6.637, de 20 de julho de 2020, que estabelece o Estatuto da Pessoa
com Deficiência do Distrito Federal, determina:
Art. 31. Fica assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os
níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, como meio de
efe var o direito das pessoas com deficiência à educação sem
discriminação e com base na igualdade de oportunidades.
Art. 32. É dever do Distrito Federal, da família, da comunidade escolar e da
sociedade assegurar educação de qualidade às pessoas com deficiência,
colocando-as a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
violência, crueldade e opressão escolar.
§ 1º Fica assegurado ao aluno com deficiência, à sua família ou ao seu
representante legal o direito de opção pela frequência nas escolas da
rede comum de ensino ou nas escolas de educação básica na modalidade
de educação especial, observadas as especificidades devidamente
detectadas por avaliação mul profissional, devendo haver o serviço de
apoio educacional complementar.
§ 2º Fica assegurado aos alunos com deficiência intelectual o direito de
matrícula simultânea nas escolas da rede regular de ensino e nas escolas
que prestem atendimento educacional especial.
Art. 34. Os órgãos e as entidades da administração pública direta e indireta
responsáveis pelo sistema de educação dispensam tratamento prioritário
e adequado aos assuntos objeto desta Seção, viabilizando, sem prejuízo

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de outras, as seguintes medidas:
I - inclusão, no sistema educacional, da educação especial como
modalidade de educação escolar que permeia transversalmente todos os
níveis e as modalidades de ensino;
II - inserção, no sistema educacional, das escolas ou ins tuições
especializadas, públicas ou privadas;
III - oferta, obrigatória e gratuita, da educação especial em
estabelecimentos públicos ou conveniados de ensino;
IV - oferta obrigatória dos serviços de educação especial ao aluno com
deficiência que esteja internado por prazo igual ou superior a 1 mês em
unidades hospitalares e congêneres;
V - acesso de aluno com deficiência aos bene cios conferidos aos demais
alunos, inclusive material escolar, transporte adaptado e adequado e
merenda escolar.
§ 1º Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Seção, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede
comum de ensino para educandos com deficiência.
§ 2º A educação especial deve cons tuir processos flexíveis, dinâmicos e
individualizados, contando com equipe mul disciplinar especializada que
deve adotar orientações adequadas a cada caso.
§ 3º A educação do aluno com deficiência inicia-se na educação infan l, a
partir de zero ano de idade.
§ 4º Quando da construção e reforma de estabelecimentos de ensino,
devem ser atendidas as normas técnicas de acessibilidade em vigor.
Art. 35. Os serviços de educação especial são ofertados nas ins tuições de
ensino públicas e privadas do sistema de educação geral, de forma
transitória ou permanente, mediante programas de apoio ao aluno que
esteja incluído no sistema comum de ensino, ou nas escolas de educação
básica na modalidade especial, exclusivamente quando a educação das
escolas da rede comum de ensino não possa sa sfazer as necessidades
educativas do aluno ou quando necessário ao seu bem-estar.
Seção II - Da Educação Básica
Art. 43. As ins tuições de ensino de educação básica, em qualquer nível
ou modalidade de ensino, devem assegurar o atendimento educacional
aos alunos com deficiência, prevendo e provendo a oferta de serviço e
apoio especializados para o processo ensino e aprendizagem desses
alunos, tais como:
I - escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e
ouvintes, com professores bilíngues e professores surdos, na educação
infan l e nos anos iniciais do ensino fundamental, bem como com a
presença de tradutores e intérpretes de Libras;
II - escolas bilíngues ou escolas comuns da rede comum de ensino, abertas
a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental,
ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes
áreas do conhecimento, cientes da singularidade linguís ca dos alunos
surdos e de suas especificidades, bem como com a presença de tradutores
e intérpretes de Libras.
Considerando o exposto, muito agradeceria a gen leza de informar a quan dade de
alunos com deficiência matriculados, de monitores e de educadores sociais voluntários
contratados, nos úl mos três anos, bem como determinar providências com vistas à regularização do
serviço educacional, com a disponibilização de monitores em número suficiente para atendimento da
demanda, além dos serviços fornecidos nas salas de recursos, a fim de que seja observada a
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legislação afeta ao tema.

Atenciosamente,

Bianca Cobucci Rosière


Defensora Pública

Juliana Braga
Defensora Pública

Ronan Figueiredo
Defensor Público

À Senhora

Hélvia Miridan Paranaguá Fraga

Secretária

Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal

Endereço: SBN, Qd. 02, - Bloco "C", Edifício Phenícia - CEP 70.040-020

Contato: 3901-3185. E-mail : [email protected]

Documento assinado eletronicamente por BIANCA COBUCCI ROSIERE - Matr.0216054-4,


Defensor(a) Público(a), em 16/02/2022, às 15:20, conforme art. 6º do Decreto n° 36.756, de 16
de setembro de 2015, publicado no Diário Oficial do Distrito Federal nº 180, quinta-feira, 17
de setembro de 2015.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site:


http://sei.df.gov.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0
verificador= 80242612 código CRC= B6BDE955.

"Brasília - Patrimônio Cultural da Humanidade"


Setor Comercial Norte, Quadra 01, Lote G, Ed. Rossi Esplanada Bussiness - Bairro Asa Norte - CEP 70711-000 -
DF
2196-4480
Site: - www.defensoria.df.gov.br

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