Mapeamento de Aqüíferos Na Cidade de Manaus / AM (Zonas Norte e Leste) Através de Perfilagem Geofísica de Poço e Sondagem Elétrica Vertical

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Revista de Geologia, Vol. 19, nº 1, 111-127, 2006


www.revistadegeologia.ufc.br

Mapeamento de aqüíferos na cidade de Manaus / AM (zonas norte e leste)


através de perfilagem geofísica de poço e sondagem elétrica vertical

Lena Simone Barata Souzaa & Om Prakash Verma

Recebido em 15 de dezembro de 2004 / Aceito em 29 de agosto de 2005

Resumo
Através de dados de Sondagens Elétricas Verticais, Perfilagem Geofísica de Poço e perfis litológicos
de amostragem de calha são mapeadas as camadas permo-porosas (aqüíferos) nas zonas norte e leste de
Manaus-AM, indicando a presença de duas zonas aqüíferas. A 1ª zona até 50 m de profundidade é
constituída por camadas argilosas, arenosas e areno-argilosas de dimensões variadas. As duas últimas
apresentam elevado potencial aqüífero. Contudo, esta zona é limitada no volume de água, devido à
pouca continuidade lateral dos corpos arenosos e estar sujeita aos estorvos antrópicos superficiais. A 2ª
zona (de 50 m a 290 m) é caracterizada por litologias arenosa e areno-argilosa. É propensa a um bom
armazenamento de água devido os corpos arenosos serem mais espessos e de boa continuidade lateral;
possui vazão em torno de 300 m3/h. Serve, então, para abastecimento público com água de boa qualidade
protegida de ações antrópicas. Os mapas de resistência transversal e condutância longitudinal revelaram
as faixas permeáveis: os setores NE e SW para faixas inferiores a 50 m de profundidade. Em porções
superiores a 50 m recomenda-se a locações de poços nas faixas NNW, SW e extremo sul, em virtude da
alta profundidade das perfilagens geofísicas de poços realizadas na área estudada.

Palavras-Chaves: Aqüíferos, sondagem elétrica vertical, perfilagem geofísica de poço, Manaus/AM

Abstract
The permo-porous aquifers are mappped in the northern and eastern part of the town of Manaus,
using in an integrated manner of the well-log geophysical data, the lithology information obtained through
the borehole cuttings and carrying out the Vertical Electrical Soundings (VES). Two distinct geohidrological
zones in depth are identified. The first up 50 m is marked by clay, sand and sandy-clay zones of varied
dimensions. The last two zones posses good groundwater potential. However, they are not recommended
for great demand of water because of the limited lateral extension of the zones and being susceptible to
superficial contaminations. The second zone extents between 50 m to 290 m depth. It contains thick sand
zones of great lateral extensions. The production rate of the wells in this aquifer zone is around 300 m3/
h. An analysis of the transverse resistance and longitudinal conductance maps of the upper zone up to 50
m, leads to that NE and SW sectors of the area contend more permeable zones, contend less clayey layers,
therefore, of higher transmissibility zones of the aquifer system. However, for wells deeper than 50 m,
recommend NNW e SW region for their locations based on the results obtained through Geophysical Well
Logging that delineates the permo-pourous layers forming a good aquifer.

Keywords: Groundwater, vertical electrical sounding, well-log geophysical, Manaus/AM


a
Curso de Pós-graduação em Geofísica, Depto de Geofísica – CG – UFPA, Campus Universitário do Guamá, Av.
Augusto Correa, n. 1, 66075-900 Belém-PA. E-mail: [email protected]
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1. Introdução sofreram falhamentos listricos por ação tectônica


recorrente. Esta formação caracteriza-se, então, por
Em Manaus, os principais aqüíferos perten- rochas friáveis, pouco coesas, intercaladas por
cem aos sedimentos da Formação Alter do Chão, rochas mais endurecidas e restritas aos níveis de
fornecendo poços confinados a semiconfinados ocorrência do “Arenito Manaus” e de crostas
com vazão de até 300 m3/h em poços de aproxi- lateríticas e/ou “linhas-de-pedra” que são
madamente 220 m. Entretanto, grandes distor- responsáveis pela preservação tabular do relevo
ções, contudo, têm sido notadas. Há poços com (Fig. 2).
baixo rendimento de até 78 m3/h (Aguiar et al. 2002)
devido à má colocação de filtros, em virtude da 3. Hidrogeologia
carência de informações sobre os aqüíferos.
Desta forma foi realizado um estudo geofísico O Aqüífero Alter do Chão tem espessura em
com a finalidade de mapear camadas litológicas torno de 200 m, dos quais 175 m estão saturados.
permo-porosas com elevado potencial aqüífero, Para uma porosidade efetiva de 15% em uma área
através do uso integrado de Perfilagem Geofísica de 400 km2 tem-se uma reserva de água de 10
de Poço (PGP) (perfis de raio gama “RG”, de km3 (Aguiar et al. 2002). O limite inferior do
potencial espontâneo “SP” e de resistência elétrica aqüífero corresponde ao contato entre as rochas
“RE”), Sondagem Elétrica Vertical (SEV) e clásticas da Formação Alter do Chão e evaporitos
informações litológicas de amostragem de calha. e calcários da Formação Nova Olinda (?). Este
Contribuindo, assim, para um melhor conhecimento, contato foi verificado em oito poços tubulares e
e conseqüentemente, melhor aproveitamento dos se faz através de uma superfície discordante
recursos hídricos subterrâneos nas zonas norte e leste horizontal. O nível freático médio das águas do
desta cidade (Fig. 1). aqüífero é de 25 m. Valores maiores que 25 m
estão nas porções SE e NE, correspondendo a
2. Geologia quase toda a parte oriental de Manaus. E os
menores que 25 m se restringem para oeste, em
Em Manaus a geologia está representada pela virtude da topografia, chegando a aflorar em
Formação Alter do Chão inserida no Grupo alguns locais, como na parte NW, no bairro de
Javari. Esta formação é encontrada ou em faixas Sta Etelvina.
contínuas ao sul do Município de Presidente As águas subterrâneas em Manaus indicam
Figueiredo ou confinada em estruturas tipo um fluxo principal na direção NE-SW. Já os fluxos
graben. É datada do Cretáceo Superior/Terciário secundários mostram direções diversas, sendo
Inferior (em torno de 120 Ma) e caracteriza-se originados principalmente pelo rebaixamento
por arenitos argilosos, argilitos, arcósios, quartzo- provocado pelos igarapés Quarenta, Mindú e
arenitos e brechas intraformacionais, marcados Bolívia, associados à baixa transmissividade e
por coloração avermelhada típica. A sucessão explotação elevada nas imediações dessas
inferior desta formação é arenosa e apresenta drenagens (Aguiar et al. 2002). Esta águas
ciclos de sedimentação relacionados a ambientes mostram-se pouco mineralizadas, com pH na
fluviais anastomosados com retrabalhamento ordem de 4,8 e uma condutividade elétrica de
eólico. A sucessão superior é pelítica e de um 32,4 µS/cm (Silva, 2001). Esses dados refletem
ambiente progradacional flúvio-deltáico (Dino et al. uma infiltração bastante rápida e um ambiente de
1999). circulação quimicamente pobre. As águas são dos
Aguiar et al. (2002) identificaram na Formação tipos sulfatada cloretada potássica e cloretada
Alter do Chão quatro fácies sedimentares: argilosa, sódica. Portanto, são consideradas potáveis,
areno-argilosa, arenosa e “Arenito Manaus”. Em embora, se tratando de um aqüífero livre e estejam
seção, estas ocorrem como camadas pouco protegidas.
suborizontalizadas e com disposição lenticular que 4. Apresentação e interpretação dos dados

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Fig. 1. Mapa de localização da área de estudo, dos poços com dados geofísicos e sondagens elétricas verticais.

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Fig. 2. Carta de litofácies do Aqüífero Alter do Chão/Manaus (Aguiar et al., 2002).

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4.1. Perfilagem geofísica de poço (PGP) ocorre, pois as ruas não são lineares por longas
distâncias e são asfaltadas dificultando cravar os
Os 15 perfis de poço mostraram profundida- eletrodos, tem alto fluxo de automóveis e
des variando até em torno de 152 m a 249 m, sendo pedestres. Estes fatores dificultaram o trabalho e
estas perfilagens realizadas pelo Departamento de contribuíram para que a malha estabelecida fosse
Geofísica (DGf-UFPA) como prestação de irregular e limitassem as aberturas entre os
serviços para demarcação de aqüíferos com eletrodos A e B, controladas pelas situações do
finalidade de colocação de filtros (Fig. 1). Estes, local da sondagem na cidade.
por sua vez, não apresentaram uma disposição Ressalta-se que o método de SEV não
regular, pois foram perfuradas por empresas de consegue separar camadas muito delgadas. Logo,
captação de água subterrânea, em geral para o valor da resistividade aparente deve ser
abastecimento público ou para indústrias, sem fins entendido como uma média dentro de um pacote
científicos e, logo, dispostas aleatoriamente. Os que não é homogêneo. Se uma porção do terreno
perfis geofísicos foram obtidos utilizando o tem elevada resistividade, deve-se considerar que
equipamento 1000C da Mount Sopris analógico o pacote referido pode possuir não somente cama-
com capacidade para perfilar até 400 m. das de areia grossa, por exemplo, mas também
Areias/arenitos com água doce são indicadas de camadas finas de argila e até pelitos, porém
nas interpretações de PGP por baixos valores de estes em menores volumes. O contrário também
RG, SP negativo com curvas deslocadas para pode ocorrer, ou seja, um pacote argiloso de
esquerda e elevado RE. Na argila/folhelho, o RG resistividade baixa pode possuir camadas de areia
é elevado, o SP não desloca e a RE é baixa. Se o e/ou seixo mais delgadas de alta resistividade.
aqüífero contiver água salobra/salgada, o SP é
negativo com a curva bastante deslocada para a 4.3. Perfis litológicos de amostragem de calha
esquerda, a RE é baixa e o RG se mantêm baixo.
Na Figura 3 são mostrados somente perfis de 3 Nos oito perfis foram identificados a
poços (poços 1, 4 e 5) do total de 15 utilizados princípio três tipos de rochas sedimentares:
neste trabalho. Posteriormente, os perfis foram arenito e argilito (pertencentes à Formação Alter
correlacionados lateralmente. A interpretação não do Chão), e calcário (característico da Formação
teve a pretensão de definir as rochas ou Nova Olinda). O topo destes perfis (em geral os
sedimentos atravessados pela sonda, mas indicar 20 primeiros metros de profundidade) é
se estes eram ou não permo-porosos. caracterizado por material argiloso. De 20 m em
diante até 200 m predomina material arenoso. Em
4.2. Sondagem elétrica vertical (SEV) alguns casos o arenito apresentou uma intensa
silicificação, podendo ser chamado de unidade
Foram feitas 17 SEVs, cuja abertura mínima informal “Arenito Manaus” (Aguiar et al. 2002).
de AB/2 foi 4,2 m e a máxima de 320 m (Fig. 1). Sabe-se que esta unidade funciona como uma
O equipamento usado foi o Resistivímetro rocha selante, onde os estratos subseqüentes
GEOTEST RD-300A. Para o processamento e podem ter potencialidade aqüífera. Na Figura 5 é
interpretação dos dados das SEVs, foi aplicando visto somente 3 perfis litológicos (4, 6 e 8).
a técnica de inversão utilizando o programa ATO
desenvolvido por Zohdy & Bisdorf (1989). Na 5. Discussão dos resultados
Figura 4 são mostrados apenas 2 curvas interpre-
tadas das sondagens (4 e 8). Na área de estudo das quatro fáceis sedimen-
É desejável que investigação por sondagem tares descritas por Aguiar et al. (2002) foram
elétrica deve ser feita em estações distribuídas de identificadas três (i. e., argilosa, areno-argilosa e
maneira regular na superfície. No entanto, para a arenosa) nas seções hidrogeológicas. A partir dos
sua realização no meio urbano tal premissa não dados de PGPs, SEVs e perfis de amostragem de

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Fig. 4. Exemplo de curvas de sondagem elétrica vertical.


Fig. 3. Exemplo de perfis geofísicos de poço: 1 Est. Torquato Tapajós. 4
Renato Souza Pinto. 5 Riacho Doce.
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to
Fig. 5. Exemplo de perfis litológicos de amostragem de calha: 4 – Col. S Antônio. 6 – São José. 8 – Zumbi.

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calha montou-se seis seções exibidas nas figuras 6, Na área estudada em Manaus verificou-se,
7, 8, 9, 10 e 11. Estas seções mostraram a continui- então, que os estratos não têm uma boa continui-
dade vertical em profundidade dos tipos litológicos dade lateral em subsuperfície a profundidades
aflorantes característicos da Formação Alter do inferiores a 50 m, sendo bastante correlacionáveis
Chão. Todas estas seções são caracterizadas por a profundidades maiores que estas. São basica-
poços muito profundos (de 152 m a 249 m), mente constituídas por material arenoso intercalado
podendo-se assim, melhor inferir a continuidade com níveis argilosos.
lateral dos corpos sedimentares em profundidade. Os perfis litológicos de amostragem de calha
É importante mencionar que, camadas geoelétricas (Fig. 5), embora tenham sido utilizados apenas como
de baixas resistividades (p. e., material argiloso) informação complementar na determinação de zonas
podem ocorrer lado a lado com as de médias a altas permo-porosas para a área, descreveram também
resistividades (típicas de material arenoso) em uma a fácies sedimentar “Arenito Manaus” a profun-
seção. Essa situação implica em uma continuidade didades superiores a 20 m e inferiores a 200 m.
lateral interrompida (i. e., irregular) dos estratos, Apesar desta fácies não ser identificada nas
sugerindo uma interdigitação ou gradação lateral dos sondagens, e conseqüentemente, nas seções hidro-
materiais, o que resultaria em resistividades variadas geológicas, ela funciona como uma rocha selante,
a uma mesma profundidade. onde as camadas subseqüentes possuem poten-
Os dados de PGP e SEV que resultaram na cialidade aqüífera, devido ao seu alto grau de
confecção das seções hidrogeológicas, embora silicificação.
tenham configurado uma boa continuidade lateral Os aqüíferos na área de estudo, portanto,
dos estratos em subsuperfície, sabe-se da impos- estariam localizados nos pacotes areno-argilosos
sibilidade em definir as geometrias dos corpos e e nos mais arenosos depositados em ambiente
caracterizar um sistema deposicional, devido à fluvial e flúvio-deltáico, onde este último é freqüente
existência de poucos dados e a uma malha irregu- em toda a área, contudo, sem continuidade lateral
lar por causa do meio urbano. Mas, fazendo-se assegurada.
uso do conhecimento geológico regional e local Segundo Silva (2001), os aqüíferos na capital
dos sedimentos da Formação Alter do Chão, que do Amazonas possuem águas pouco mineralizadas,
em profundidade alcança em torno de 200 m com pH de 4,8 e condutividade elétrica de 32,4
(Aguiar et al., 2002). µS/cm. Ou seja, estas águas são consideradas
Nas seções hidrogeológicas são visualizadas potáveis, embora se tratando de um aqüífero livre,
seqüências de corpos sedimentares arenosos, areno- elas estejam pouco protegidas de contaminações,
argilosos e argilosos, geralmente interdigitados, esta dependendo sobremaneira da profundidade do
interdigitação ocorre na porção mediana das seções, mesmo.
cujo topo e base são quase sempre caracterizados Apesar dos sinais preocupantes de contamina-
por material arenoso com raras lentes de argila. A ção, devido aos elevados teores de amônia e nitrato
forma de lente também é muito freqüente, de constatados nos bairros de Educandos e Colônia
dimensões nada uniformes, com espessuras variando Oliveira Machado e na porção sudoeste da cidade,
em dezenas de metros. a área em estudo (zonas norte e leste - Fig. 1) não
No geral, o topo das seções é caracterizado por apresentam tais contaminações, pelo menos nos
um conjunto de resistividades bastante variadas em aqüíferos mais profundos.
virtude da lixiviação, produto do forte intemperismo
vigente na área estudada, que mascara as unidades 5.1. Resistência transversal e condutância
superficiais e gera um solo de espessura muito variada. longitudinal
Os corpos arenosos apresentaram valores de
resistividade extremamente altos, em torno de 5.000 Fez-se uma análise do potencial aqüífero da
W.m, e corpos argilosos com resistividades de quase região. Calculando-se a resistência transversal (R)
200 W.m. e condutância longitudinal (S), onde estas estão

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Fig. 6. Seção hidrogeológica inferida baseada nos dados geofísicos. Seção Transversal AA’.

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Fig. 7. Seção hidrogeológica inferida baseada nos dados geofísicos. Seção Transversal BB’.

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Fig. 8. Seção hidrogeológica inferida baseada nos dados geofísicos. Seção Transversal CC’.

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Fig. 9. Seção hidrogeológica inferida baseada nos dados geofísicos. Seção Transversal DD’.

vinculadas a transmissividade que, por sua vez, lado baixos T e S elevados representam zonas
indica a quantidade de água que pode ser mais argilosas, e logo, menos permeáveis do
transmitida horizontalmente por toda a espessura sistema.
saturada do aqüífero, ou seja, é a taxa de escoa- Os mapas de R e S confeccionados para a
mento de água através de uma faixa vertical do área só alcançam até 50 m de profundidade
aqüífero com largura unitária submetida a um (Figuras 12 e 13). A baixa profundidade de
gradiente hidráulico unitário. Em um aqüífero os abrangência destes mapas é em virtude, ao
setores com baixos valores de S e altos T definem número limitado e baixa penetração das SEVs.
zonas mais transmissivas do sistema. Por outro As zonas são classificadas com o objetivo de
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Fig. 10. Seção hidrogeológica inferida baseada nos dados geofísicos. Seção Transversal EE’.

indicar o melhor local para instalação de poço, mais espessos com melhor transmissividade. Na
onde os mais rasos podem servir uma menor Figura 13 os valores de S menores que 0,3 siemens
demanda de água, por exemplo, conjuntos ocorrem em quase todas as porções do mapa,
fechados, casas e etc. Já os mais profundos exceto no extremo NNW onde estão os maiores
servindo uma maior quantidade de água, por valores. Entretanto, condutância é indicador de
exemplo, bairros da cidade. camadas condutivas que nesse ambiente geológico
Na Figura 12 os valores de R são superiores a representam camadas de argila/folhelho, as quais
40 Kohm nas porções NE, NW e meio da área no possuem baixa permeabilidade hidráulica (i. e.,
extremo sul. Esses valores indicam maior espessura aqüitard). Essas camadas funcionam como
de camadas de areia, conseqüentemente, aqüíferos protetores de aqüíferos contra contaminações
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Fig. 11. Seção hidrogeológica inferida baseada nos dados geofísicos. Seção Transversal FF’.

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Fig. 12. Mapa de contorno de resistência transversal dos horizontes geoelétricos inferiores a 50 m de profundidade.

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Fig. 13. Mapa de contorno de condutância longitudinal dos horizontes geoelétricos superiores a 50 m de profundidade.

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superficiais (Henriet, 1976). Logo, mapas em S tem Serve, então, para abastecimento público por causa
importância, particularmente de até 50 m de das boas vazões, garantia de água de boa qualidade
profundidade, como indicador da proteção de protegida de ações antrópicas e não requerer um
aqüíferos abaixo deles. alto custo em sua captação.

6. Conclusões Agradecimentos

Integralizando-se os dados de PGP e SEV, e Agradecemos ao Curso de Pós-graduação


ainda, perfis de amostragem de calha, levando- em Geofísica/UFPA pelo auxílio financeiro, ao
se em conta o contexto geológico na interpreta- Departamento de Geofísica/UFPA pelo apoio
ção, foi possível discriminar duas zonas aqüíferas logístico e a CAPES pela concessão de bolsa de
na Formação Alter do Chão para Manaus, de mestrado a aluna Lena S. B. Souza. Os agradeci-
características hidrogeológicas e litológicas mentos são extensivos a Agenor da S. Souza e
distintas: zona 1 e zona 2. A zona 1 é marcada Alessandra C. Moraes pela assistência nos traba-
pelos 50 m iniciais de profundidade. Distingue- lhos de campo.
se três tipos de litologias: argilosa, arenosa e
areno-argilosa com as mais variadas dimensões. Referências Bibliográficas
Estas duas últimas litologias são descritas por
Aguiar et al. (2002), como as fácies sedimentares Aguiar, C.J.B., Horbe, M.A., R Filho, S.F., Lopes, E.S.,
de elevado potencial aqüífero. Mesmo assim, Moura, U.F., Andrade, N.M. & Diógenes, H.S., 2002,
Carta hidrogeológica da cidade de Manaus. CPRM-
nesta zona não há tendência a conter um volume AM Manaus, Relatório Interno, 1-4.
de água considerável, devido à limitada continui- Dino, R.; Silva, O.B. & Abraão, D., 1999, Caracterização
dade lateral dos corpos arenosos e estar sujeita palinológica e estratigráfica de estratos cenozóicos da
aos estorvos antrópicos superficiais. Portanto, Formação Alter do Chão, Bacia do Amazonas. 5.
não indicada para explotação de água em grandes Simpósio sobre o Cretáceo, Rio Claro, 557-565.
Henriet, J.P., 1976, Direct applications of the dar zarrouk
quantidades. parameters in ground water surveys. Geophysical
A zona 2 se estende a partir dos 50 m até Prospecting, 24: 344-353.
aproximadamente 290 m de profundidade. É Nogueira, A.C., Souza, V. & Soares, E.A.A., 1997,
caracterizada por dois tipos de litologias: arenosa Contribuição a tectôncia Cenozóica da região de Presi-
e areno-argilosa. Ao contrário da primeira, a esta dente Figueiredo, norte de Manaus-AM. 6. SIMP.
NAC. EST. TECT., Pirinópolis, 123-125.
profundidade há propensão do armazenamento e Silva, M.L., 2001, Hidroquímica elementar e dos isótopos
exploração de água, por causa da alta profundida- de urânio no Aqüífero Alter do Chão de Manaus –
de, litologias com elevado potencial aqüífero, AM. Dissertação de Mestrado, UNESP, 82p.
cujos corpos arenosos são mais espessos e pos- Zohdy, A.A. & Bisdorf, R.J.A., 1989, Programs for the
suem uma maior continuidade lateral que os da automatic processing and interpretation of schlum-
berger sounding curves in quickbasic 4.0. Open-file
zona 1; e valores de vazão de quase 300 m3/h. report 89-137 A & B, U.S. Geological Survey, 19p.

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