Enfermagem em Oncologia

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Sumário
1. POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À ONCOLOGIA................................................. 3

2. PREVENÇÃO E DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER ............................................... 8

3. PREVENÇÃO, RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER ........ 16

4. PRESTANDO ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM ONCOLOGIA EM UMA


ABORDAGEM HOLÍSTICA ................................................................................................ 19

5. ASSISTINDO O PACIENTE EM DOMICÍLIO .............................................................. 29

6. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE EM TRATAMENTO


ONCOLÓGICO ................................................................................................................... 33

7. CUIDANDO DO PACIENTE EM QUIMIOTERAPIA .................................................... 36

8. CLASSIFICAÇÃO DOS QUIMIOTERÁPICOS E OUTRAS FORMAS DE


TRATAMENTO SISTÊMICO .............................................................................................. 38

9. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS QUIMIOTERÁPICOS ............................................ 40

10. CUIDANDO DO PACIENTE EM RADIOTERAPIA................................................... 41

11. NEOPLASIA INFANTIL E RADIOTERAPIA ............................................................. 42

REFERÊNCIAIS ................................................................................................................. 44

12. LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................... 46


1. POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À ONCOLOGIA

Fonte:www.vanderfazmais.com.br

A incidência e prevalência do câncer vêm aumentando em quase todo o mundo nas


últimas décadas, sendo responsável por mais de sete milhões de óbitos a cada ano e por
cerca de 13% de todas as causas de morte no mundo (International Union Against Câncer
- UICC). É resultado das grandes transformações globais que modificaram o estilo de vida
e a situação de saúde dos povos, pela crescente urbanização e adoção de novas formas
de produção de bens e serviços e novos padrões de consumo (BRASIL, 2011).

Os dados do Inca indicam que o tabagismo é diretamente responsável por 30% das
mortes por câncer em geral, 90% das mortes por câncer de pulmão e 25% das mortes por
doença coronariana. Nas mulheres, a amamentação, a prática da atividade física e
alimentação saudável com a manutenção do peso corporal estão associadas a um menor
risco de desenvolver câncer de mama

A explicação das altas taxas de óbitos por câncer está diretamente relacionada à
maior exposição dos indivíduos a fatores de risco cancerígenos. Os atuais padrões de vida
adotados em relação a trabalho, nutrição e consumo em geral expõem os indivíduos a
fatores ambientais mais agressivos, relacionados a agentes químicos, físicos e biológicos
resultantes de um processo de industrialização e urbanização cada vez mais crescente
(GUERRA, GALLO, MENDONÇA, 2005).
Fonte:www.sintsaf.org.br

A adoção de medidas de prevenção do câncer são altamente eficazes para a


redução dos casos de câncer e a minimização de sua incidência com o incentivo a:

• estilo de vida saudável – melhoria na qualidade da alimentação e no combate ao


sedentarismo;

• restrição ao uso de tabaco e álcool;

• diminuição da exposição ao sol e à proteção contra raios ultravioleta (Raios UV);

• diminuição da exposição a poluentes atmosféricos e inaláveis; e

• diminuição da exposição ocupacional a agentes cancerígenos, dentre outros

A detecção, o diagnóstico e o tratamento precoce nas fases iniciais da doença, nos


grupos de maior risco para alguns tipos de câncer (como mama, colo uterino, próstata e
colorretal), podem resultar na diminuição da mortalidade específica e adoecimento. A
orientação da população combinada com a formação de profissionais e com o acesso aos
serviços de saúde de qualidade são fatores preponderantes por maiores taxas de cura e
responsáveis na redução dos altos custos econômicos e sociais da doença.

O tratamento do câncer e de suas complicações é realizado através de


procedimentos cirúrgicos, quimioterápicos e radioterápicos, isolados ou combinados entre
si. O controle dos sintomas é primordial, tanto na fase inicial da doença como na
avançada, com possibilidades terapêuticas. O controle da dor deve ocorrer em todas as
fases da doença.

Fonte:www.horadesantacatarina.clicrbs.com.br

Os efeitos secundários da doença e os decorrentes de seu tratamento, como


depressão, ansiedade, menopausa precoce, osteoporose, fadiga, demais neoplasias,
dentre outros, devem compor o conjunto de cuidados na atenção e assistência aos
pacientes. O seguimento sistemático, necessário ao controle da evolução da doença e de
seu reaparecimento, deve ser realizado até a alta. Nos casos sem possibilidade de cura, o
tratamento dos sintomas, o conforto geral – físico, psíquico, social e espiritual – e a
assistência ao final da vida devem ter importância similar aos demais procedimentos
terapêuticos.

O Ministério da Saúde, através da Portaria n. 2.048 de 3 de setembro de 2009,


instituiu no Sistema Único de Saúde (SUS) a Política Nacional de Atenção Oncológica
(Pnao), definindo as ações de prevenção e controle do câncer e de assistência aos
doentes de câncer. Anteriormente, a Portaria n. 2.439/GM de 8 de dezembro de 2005,
incorporada, estabelece a organização de “redes estaduais ou regionais de atenção
oncológica, formalizadas nos Planos Estaduais de Saúde, organizadas em níveis
hierárquicos, com estabelecimento de fluxos de referência e contra referência, garantindo
acesso e atendimento integral” (Art. 2º, par. III) (Anexos 1 e 2).
País um abrangente conjunto de medidas para o controle do câncer, desde as
ações de prevenção até a assistência de alta complexidade, integradas em redes de
atenção oncológica, com o objetivo de reduzir a incidência e a mortalidade por câncer.

No Estado de São Paulo, foi organizada a Rede de Alta Complexidade em


Oncologia – Rede Onco. Tem como objetivo oferecer ações e serviços de forma integral
(da prevenção à diminuição da dor nos casos considerados como fora de possibilidade
terapêutica) e integrada, com protocolos para referência e contra referência, em
conformidade com os diferentes níveis de complexidade de serviços de atenção
oncológica. Essa rede foi instituída mediante a pactuarão entre o Estado, os municípios e
as regiões de saúde, firmada nos Planos de Saúde e na Programação Pactuada e
Integrada.

Competem aos municípios, através das Secretarias de Saúde, gestoras do SUS, a


organização, o funcionamento e o controle dos serviços de oncologia e a pactuação com
os municípios vizinhos, visando a proporcionar ao paciente um atendimento integral e
especializado, através de redes regionais de assistência oncológica.

www.abordagemnoticias.com

Essas unidades devem contar com profissionais habilitados, com conhecimento


técnico e motivação para o trabalho e em número suficiente para a realização de uma
assistência de qualidade ao paciente com câncer, seus familiares e cuidadores.
Segundo o Inca, no período 2000–2005, “ocorreu um aumento expressivo no
número de pacientes oncológicos atendidos pelas unidades de alta complexidade do SUS,
o que pode estar refletindo uma melhora na capacidade do sistema em aumentar o acesso
aos recursos de tratamento especializado, ainda que pesem os gargalos existentes em
algumas especialidades, as dificuldades de regulação e articulação entre as unidades da
rede e a inexistência de resultados positivos na saúde da população” (Inca, 2006).

Compreender e controlar as doenças malignas requer conhecimentos científicos e


experiências que vão desde o conhecimento dos complexos mecanismos de regulação
molecular intracelular às escolhas individuais do estilo de vida. Também se exige uma
gestão competente e o melhor uso dos recursos disponíveis para planejamento, execução
e avaliação das estratégias de controle da doença. A prevenção e o controle de câncer
estão dentre os mais importantes desafios científicos e de saúde pública da nossa época.

Fonte:www.pa.corens.portalcofen.gov.br

O trabalho da equipe de assistência oncológica deve contar com profissionais de


diferentes formações na área da saúde, com conhecimento técnico atualizado, e ser
realizado de forma integrada. Deve abranger holisticamente o cuidado das necessidades
físicas, psíquicas e sociais do paciente e saber respeitar a autonomia do paciente no que
se refere às tomadas de decisões compartilhadas quanto a seu tratamento, sua
recuperação ou sua morte, como processos naturais inerentes ao viver.
2. PREVENÇÃO E DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER

Para que você possa cuidar de um paciente oncológico, precisa previamente


conhecer um pouco da fisiopatologia da doença, assim como reconhecer os fatores de
risco relacionados às doenças oncológicas de maior prevalência. É o que vamos ver com
vocês agora, assim como as ações educativas que podemos desenvolver com foco na
prevenção da doença oncológica.

Fonte:www.poderesaude.com.br

Vamos então ao estudo de como se inicia um câncer no organismo humano.

A carcinogênese

As evidências indicam que os cânceres não são doenças novas, já existiam há


milhares de anos. Os primeiros desenhos ou escritas de muitas civilizações primitivas, em
todas as partes do mundo, têm fornecido descrições de cânceres. Hipócrates, em 500 a.C.
na Grécia, foi o primeiro a descrever a palavra carcinos, que, em grego, significa
caranguejo, talvez pelo corpo representar o tumor, e as garras a capacidade de infiltração.

O nosso corpo é constituído por células que, em condições normais, crescem e se


dividem de maneira ordenada. Por diversos motivos, podem ocorrer falhas nesse
processo, desencadeando crescimento e divisão celular desordenados e levando à
formação de uma massa de tecido chamada tumor.

Fonte:www.areadomedico.com.br

Antes do desenvolvimento do tumor maligno, geralmente ocorrem alterações


reconhecíveis morfologicamente como displasia, metaplasia e hiperplasia atípica.

A displasia é um distúrbio do crescimento celular, semelhante ao observado em


neoplasias malignas, porém em menor intensidade, promovendo a reversibilidade do
quadro. Geralmente, ocorre nos epitélios, mas também pode acontecer em outros tecidos,
como na medula óssea, nos quais algumas síndromes mielodisplásicas podem estar
associadas a transformação leucêmica subsequente.

A metaplasia ocorre por meio da substituição de um tecido totalmente diferenciado


por outro, assim os tecidos que sofrem constantes alterações metaplásicas, como a
mucosa colunar metaplásica do esôfago de Barret, por exemplo, são suscetíveis a uma
transformação maligna.

A hiperplasia é definida como um distúrbio reversível do crescimento que ocorre,


por exemplo, secundariamente à estimulação de um tecido por hormônios. A expressão
hiperplasia atípica, encontrada em alguns laudos de biópsias, descreve as alterações
morfológicas pré- cancerosas no endométrio e na mama, mostrando uma variedade de
características morfológicas hiperplásicas que são reversíveis quando retirado o estímulo.
O processo de formação neoplásica denominado carcinogênese é dinâmico e
contempla as etapas de iniciação, promoção, progressão e manifestação.

Fonte:www.labnetwork.com.br

Na fase de iniciação, um carcinógeno, que é o agente causador do câncer, danifica


o DNA por meio da alteração de um gene específico. Desse processo de danificação
podem derivar três situações: na primeira, o gene sofre uma reparação e não surge o
câncer; na segunda, o gene torna-se permanentemente alterado, mas sem haver
exposição aos promotores, também não desenvolvendo o câncer; e na terceira,
transforma-se e produz uma linhagem de células malignas, caso o iniciador seja um
carcinógeno completo agindo como iniciador e promotor.

Na fase de promoção, há presença da alteração do genoma ocorrida na iniciação. É


importante destacar que o agente promotor não tem ação mutagênica nem carcinogênica,
e que, para conseguir o efeito biológico, deve persistir no ambiente. Isso significa que seus
efeitos revertem-se, caso a exposição a ele seja suspensa. Essa é a grande diferença
existente entre o agente promotor e o agente carcinogênico, sendo decisiva para as ações
preventivas do câncer.

Na fase de progressão, há invasão, pois as células continuam a se dividir, e o


aumento do volume e da pressão exercida pelo crescimento da massa tumoral pode
resultar em disseminação local e invasão das estruturas adjacentes. No carcinoma in situ,
não ocorre a invasão, pois o câncer se limita ao epitélio, não tendo, ainda, invadido a
membrana basal, ou seja, o tecido subjacente.
Fonte:www.setorsaude.com.br

Para melhor entendermos o mecanismo do crescimento do tumor, é importante


relembrarmos as cinco fases do ciclo celular: G1, S, G2, M e GO. A duração de cada fase
é variável até mesmo nas células sob reprodução controlada, mas os processos ocorridos
no interior das células são iguais para todas elas, inclusive nas células cancerosas.

O crescimento celular ocorre pelo processo de divisão celular denominado mitose,


no qual uma célula-mãe origina duas células-filhas iguais. Esse ciclo celular compreende
as fases de síntese em que ocorre a cópia do material genético, a mitose que contempla a
divisão de todos os componentes celulares entre as duas células-filhas e as fases G, as
quais são provenientes do termo inglês gap, que significa intervalo.

O mecanismo de regulação da divisão celular é mediado por enzimas, e o resultado


esperado é a formação de células normais.
Fonte:www.medicalnewstoday.com

Para se certificar de que o processo de divisão celular não está sofrendo


alterações, gerando células anormais, periodicamente ocorrem reações no organismo
para a verificação de possíveis erros na multiplicação. Na ocorrência de falhas isoladas,
os mecanismos de autor regulação corrigem os “pequenos defeitos” na divisão. Se os
erros não forem passíveis de correção, resulta no fenômeno denominado apoptose
associado à morte celular, de maneira que o próprio organismo se encarrega de eliminar
as células defeituosas.

Entretanto, por causas desconhecidas, pode haver falhas de autor regulação. Nas
situações em que há inibição da apoptose, a célula anormal resultante dessa divisão
poderá sofrer modificações denominadas mutações. O aumento de mutações poderá
determinar a perda do controle da divisão celular, resultando na formação de células
anormais.

A velocidade da divisão das células normais e cancerosas varia conforme o volume


tecidual ou do tumor, respectivamente, ou seja, quanto maior o volume, mais lentamente
ocorre a divisão e o inverso é verdadeiro. Assim, um tumor apresenta tempos diferentes
de duplicação em momentos diferentes de sua história natural.
Fonte:www.aredacao.com.br

Outra atividade fundamental para formação do tumor, além da capacidade de


replicação rápida das células cancerosas é a angiogênese, ou seja, a formação de vasos
que nutrem o tumor em formação.

A hipervascularização pode facilitar a formação de metástases, ou seja, o


surgimento de tumores secundários com as mesmas características do tumor primário em
outros órgãos, os quais podem estar próximos ou não.

A maior parte das disseminações dos tumores para outros órgãos acontece pela via
hematológica, seguindo a seguinte sequência de passos: inicia-se pela migração das
células metastáticas para a periferia do tumor primário, com a penetração da parede dos
vasos sanguíneos adjacentes. Isso leva à disseminação na corrente sanguínea, causando
aderência à parede dos vasos sanguíneos em um órgão distante, com extravasamento do
vaso sanguíneo no tecido adjacente, proliferação do depósito de células metastáticas e a
formação de um sistema vascular de suporte via secreção do fator angiogênese do tumor.

Outras vias de disseminação de metástases são a semeadura em uma cavidade


corporal, como, por exemplo, na cavidade peritoneal; e via sistema linfático,
desenvolvendo-se nos gânglios linfáticos regionais. Essa informação, aplicada na prática
cirúrgica, resulta no procedimento de linfocintilografia, no qual o gânglio próximo ao tumor
é analisado durante o transoperatório, e o resultado determina a extensão da cirurgia a ser
realizada, como veremos no capítulo referente a modalidade de tratamento cirúrgico.
Fonte:www.gaspecapodi.blogspot.com.br

O organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores carcinogênicos. A


predisposição individual tem um papel importante na resposta final, porém não é possível
definir em que grau ela influencia a relação entre a dose e o tempo de exposição ao
carcinógeno e a resposta individual à exposição.

Lembramos que a carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser


provocada pela ação de agentes carcinogênicos químicos, físicos ou biológicos.

A carcinogênese física é formada principalmente pela energia radiante, solar e


ionizante. A radiação ultravioleta natural (RUV) é proveniente do sol e pode causar câncer
de pele.

Fonte:www.portalodia.com
Os raios UV-A não sofrem influência da camada de ozônio e causam câncer de
pele às pessoas que se expõem a doses altas e por um longo período de tempo. Os raios
UV-B também são carcinogênicos e sua frequência tem aumentado muito com o impacto
da destruição da camada de ozônio. As radiações de partículas alfa e as radiações
eletromagnéticas são carcinogênicas; exemplos dessas situações são os riscos
aumentados de câncer para mineiros que trabalham com elementos radioativos.

A carcinogênese química decorre do contato de agentes químicos devido a hábitos


sociais como etilismo e tabagismo, hábitos alimentares como consumo de produtos
condimentados, profissões que exponham o colaborador a produtos químicos, processo
inflamatório e hormônios, dentre outros.

Os agentes carcinogênicos biológicos atuam como promotores da proliferação


celular, criando condições propícias para mutações. São exemplos desse tipo de
carcinógeno os diversos vírus como Papilomavírus humano - HPV, Epstein-Barr - EBV,
hepatite B - HBV e HIV, assim como as bactérias, tal qual Helicobacter pylori.

A descoberta de que os oncogenes causadores de tumores estão relacionados aos


genes normais levantou várias questões sobre o papel desses genes no crescimento,
desenvolvimento e na diferenciação das células normais e tumorais. Parece certo que
etapas da iniciação e promoção de um tumor e a própria existência de uma neoplasia
maligna dependem da expressão, ou seja, da presença de oncogenes, ocasionada por
amplificação, que significa aumento do número de cópias do gene.

Fonte:www.raquelamapos.wordpress.com
No tocante aos fatores carcinogênicos, a neoplasia infantil se diferencia do câncer
em adultos, pois não há, em literatura científica, evidências que identifiquem claramente a
associação da doença com os respectivos fatores.

Outra diferença importante é que, enquanto na fase adulta geralmente são


desenvolvidos tumores no epitélio, os quais recobrem os diferentes órgãos como mama e
pulmões, o câncer em crianças e adolescentes afeta células dos sistemas sanguíneo e de
sustentação, sendo mais frequentes leucemias, tumores do sistema nervoso central,
neuroblastomas, tumores de Wilms, retinoblastomas, tumores germinativos,
osteossarcomas e sarcomas de partes moles.

Doenças malignas da infância, por serem predominantemente de natureza


embrionária, são constituídas de células indiferenciadas, o que determina, em geral, uma
melhor resposta aos métodos terapêuticos atuais.

3. PREVENÇÃO, RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER

Fonte:www.revistasuplementacao.com.br

Para prevenir o câncer, geralmente, é preciso alterar hábitos e culturas; dessa


maneira, a melhor arma do ser humano nessa luta é a informação. Para isso, o
profissional de saúde não deve poupar esforços, a fim de que a informação chegue aos
clientes de forma esclarecedora para conscientizá-los sobre a importância da adequação
de estilo de vida nesse cenário. Outra importante estratégia de prevenção é mediante
ações educativas, utilizando estratégias de educação e comunicação em saúde.

Alterar hábito de vida é uma tarefa difícil, pois envolve crença (o indivíduo aprendeu
dessa maneira e acredita ser a correta) e automatismo (o indivíduo realiza dessa forma há
tanto tempo que não pensa mais ao executar). Essa situação exige do profissional de
saúde não apenas a função de informar, mas também conscientizar a população da
importância de aplicar as recomendações transmitidas, porque é preciso que a pessoa
seja de fato sensibilizada sobre os riscos de modo a incorporar novos hábitos.

A conscientização exige do profissional conhecimento científico sobre o tema a ser


abordado, para embasar a necessidade da mudança; conhecimento sobre o perfil social,
cultural e financeiro da clientela; e também criatividade para definir formas e recursos de
comunicação, que podem contemplar folder, cartaz, aula, encenação, música, dentre
outros.

O Fundo Mundial de Pesquisa sobre Câncer (World Cancer Research Fund -


WCRF), em seu relatório de 2007 sobre alimentos, nutrição, atividade física e prevenção
do câncer, apresentou a seguinte lista de recomendações:

• mantenha-se magro, apresentando índice de massa corporal (IMC) entre 18,5 e


24,9;

• mantenha-se fisicamente ativo, como parte de sua rotina diária, incluindo qualquer
atividade física no cotidiano. Caso não seja possível realizar 30 minutos de uma só vez,
dívida em períodos de dez minutos;

• limite o consumo de alimentos de alto valor calórico, inclusive bebidas ricas em


açúcar, como refrigerante;

• coma mais verduras, frutas e legumes variados, bem como cereais e grãos
integrais, como exemplo podemos citar granola, feijão, soja, lentilha e ervilha. Esses
alimentos devem compor dois terços do prato de comida;

• limite o consumo de carnes vermelhas (até 500g por semana) e evite carnes
processadas e embutidas;

Há ainda situações que não foram contempladas nesse relatório, mas são de
grande impacto no Brasil. Estamos nos referindo à exposição solar, pois também já
sabemos que é um risco modificável; dessa maneira, há ações que podem ser
recomendadas para diminuir o risco de câncer de pele, um dos tipos mais comuns,
conforme observamos nos dados epidemiológicos:

• orientar que a exposição ao sol seja evitada no período entre 10 e 16 horas. Para
a proteção adequada, a pessoa pode procurar a sombra, utilizar chapéus ou bonés com
abas para proteger cabeça e pescoço, utilizar camisas e calças, aplicar filtro solar com
fator de proteção solar (FPS) no mínimo 15;

• em países tropicais, como o Brasil, recomenda-se o uso de protetor solar durante


todo o dia, inclusive quando a exposição ao sol ocorrer antes da 10 horas e após as 16
horas;

• evitar lâmpadas de bronzeamento,

• atentar para a proteção de crianças e adolescentes, pois a exposição cumulativa e


excessiva nos primeiros 10 a 20 anos de vida aumenta muito o risco de desenvolvimento
de câncer de pele, mostrando ser a infância uma fase particularmente vulnerável aos
efeitos nocivos do sol; e

• proteger os olhos com óculos que apresentam lentes com proteção a raios UV-A
e UV-B.

Ressaltamos a dificuldade de prevenção do câncer na infância e adolescência, visto


que não estão claramente definidos os fatores carcinogênicos. Reforçamos a importância
do diagnóstico precoce, pois cerca de 70% dos pacientes acometidos de câncer nessa
fase da vida, se diagnosticado precocemente e tratado adequadamente, têm possibilidade
de cura e boa qualidade de vida após o tratamento.

Entretanto, vemos ainda pacientes sendo encaminhados aos centros


especializados de tratamento oncológico em estágio avançado. Essa situação é
multifatorial, decorrendo possivelmente da desinformação dos pais, medo do diagnóstico
de câncer (podendo levar à negação dos sintomas) e desinformação da equipe de saúde.
Além disso, pode também estar relacionada com a inespecificidade dos sintomas de
determinados tipos de tumor, porque a apresentação clínica dos mesmos pode não diferir
muito de diferentes doenças, muitas delas bastante comuns na infância.

Como já dito, o surgimento do câncer é multifatorial, resultante das interações de


fatores externos e genéticos. Dessa forma, é importante informar a população de que
essas ações preventivas diminuem consideravelmente a probabilidade do câncer, mas
não excluem a possibilidade de sua ocorrência. Esse esclarecimento é fundamental por
duas razões: a primeira, para evitar o descrédito da equipe de saúde que é referência da
população; e a segunda, para alertar quanto à necessidade de realizar as ações para o
rastreamento do câncer. Atentar também para os sinais e sintomas característicos, ambos
são primordiais para a detecção precoce, uma forma de prevenção secundária.

Ressaltamos a importância do diagnóstico precoce que tem como objetivo viabilizar


a intervenção antineoplásica no estágio inicial da doença, diminuindo a morbidade e
mortalidade da população.

Uma das etapas utilizadas para diagnosticar precocemente o câncer é o


rastreamento (screening), que consiste em realizar procedimentos de execução simples,
seguros, não invasivos, baratos, de sensibilidade e especificidade comprovadas e de fácil
aceitação pela população e pela comunidade científica. Esses procedimentos são
aplicados em grupos de indivíduos assintomáticos, com probabilidade relativamente alta
para desenvolverem certos tipos de câncer, conforme os fatores de risco: ocupacional,
estilo de vida, idade, dentre outros.

4. PRESTANDO ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM ONCOLOGIA EM UMA


ABORDAGEM HOLÍSTICA

Fonte:www.fisioonco.blogspot.com.br

Uma doença não é somente um fato físico, mas um problema que diz respeito à
pessoa como um todo, incluindo o corpo, as emoções e a mente. Os estados emocionais
e mentais têm uma função importante no que diz respeito tanto à suscetibilidade, como à
recuperação de qualquer doença.
Podemos dizer que a mente, o corpo e as emoções são um sistema unitário:
quando se afeta um, estaremos afetando os outros. A recuperação torna-se facilitada ao
mobilizarmos a pessoa como um todo em direção à saúde.

A abordagem holística do tratamento do câncer lida não só com os aspectos físicos,


os sintomas do paciente, mas também com sua atitude emocional e suas crenças, a sua
habilidade em se recuperar e a sua capacidade de resolver os seus problemas
emocionais.

Cada indivíduo tem a sua história de vida: não é um ser simplesmente biológico, e,
sim, alguém que tem a sua vida cronológica a ser considerada, incluindo seus aspectos
cultural, religioso e social.

Os profissionais da saúde devem adentrar nesse campo sem medo, para que esses
pacientes possam ser atendidos da forma mais integral possível.

Para ter essa abrangência, os profissionais que compõem a equipe são: os que
controlam os sintomas do corpo (médico, enfermeiro, fisioterapeuta, terapeuta
ocupacional); da mente (psicólogo, psicoterapeuta, psicanalista, psiquiatra); do espírito
(padre, pastor, rabino, guru, sacerdotes das diferentes crenças religiosas); e sociais
(assistente social, voluntário).

Muitos hospitais incluem voluntários nas atividades de visita aos pacientes para
companhia durante a noite, para alívio de suas ansiedades, na escuta ativa, na busca de
recursos na comunidade para financiar analgésicos e alimentos. As atividades dos
voluntários dependerão da aceitação dos pacientes e suas famílias.

O estresse do cuidador está relacionado com a quantidade de tarefas que envolvem


o cuidado, exigindo gasto de energia para lidar com sentimentos inerentes a esse
processo. Resulta na interrupção das suas atividades diárias, como: trabalho, estudo,
sono, lazer, humor, vida sexual e social, desajuste financeiro, dentre outros.

O impacto na família está relacionado com longos períodos de hospitalização,


reiterações frequentes, terapêutica agressiva, dificuldade de separação da família,
limitações na compreensão do diagnóstico, angústia, dor e sofrimento.

Conhecendo cada área profissional da equipe de saúde


Enfermagem: Quando falamos em enfermagem, logo nos lembramos do verbo
cuidar, que está presente em todas as teorias de enfermagem. Especialmente, cuidar em
oncologia significa estar ao lado de pessoas com perda de vitalidade, com dor, depressão,
perda de autonomia.

Cabe à enfermagem, prestar um cuidado que ampare, suporte e conforte; oferecer


cuidado holístico, atenção humanizada, associados ao agressivo controle de dor e de
outros sintomas; ensinar ao doente que uma morte tranquila e digna é seu direito;
contribuir para que a sociedade perceba que é possível desassociar a morte e o morrer do
medo e da dor. É dever dos profissionais de enfermagem preservar a autonomia do
paciente, exercitando sua capacidade de se auto cuidar, reforçando o valor e a
importância do doente e seus familiares de participar ativamente nas decisões do
tratamento, assim como nos cuidados.

Fonte:www.guiadacarreira.com.br

É muito importante, devido à proximidade da equipe de enfermagem com o


paciente, que ela tenha habilidade para perceber a comunicação não verbal do paciente,
ficando atenta às suas expressões faciais e para saber calar no momento exato, ou seja,
usar adequadamente o silêncio e tocar de forma afetiva e não apenas no momento
técnico, quando realiza o exame físico.

Nutrição: O nutricionista tem como responsabilidade contribuir para promover,


preservar e recuperar a saúde, realizando a avaliação nutricional do paciente oncológico.
Muitos pacientes com câncer sofrem com os efeitos colaterais do tratamento. A
quimioterapia é um grupo de medicamentos que atua de forma sistêmica, pode destruir as
células saudáveis dos tecidos e provocar o comprometimento imunológico, os distúrbios
de coagulação, os distúrbios do trato gastrintestinal, renal e hepático.

Fonte:www.academiahorizon.com.br

A radioterapia, apesar de ser localizada, apresenta os efeitos da irradiação sobre os


tecidos e órgãos da área irradiada, podendo ter, dependendo da dose e duração da
exposição e o número de sessões, efeitos similares à queimadura. Em regiões como
medula óssea, cabeça, pescoço, pelve e abdome, compromete a imunidade, bem como
ingestão, digestão e absorção de nutrientes.

A terapia nutricional em oncologia vem sendo um desafio, cheio de indagações,


para os profissionais que a ela se dedicam. Torna-se cada vez mais importante continuar
ampliando as investigações, pois há evidências de que a terapia nutricional não interfere
apenas na manutenção e recuperação do estado nutricional.

A assistência nutricional ao paciente oncológico não se limita ao cálculo das


necessidades e à sua prescrição. Ela objetiva, simultaneamente, recuperar o estado
funcional, normalizar a composição corpórea e os déficits acumulados, garantir o
desempenho de sistemas vitais como capacidade de cicatrização e função imunológica e,
não menos relevantemente, auxiliar na qualidade de vida.

Porém, é de grande valia que o profissional observe as solicitações alimentares do


paciente, efetuando uma conduta que atenda às necessidades nutricionais e seu desejo,
pois é necessário perceber e valorizar a simbologia do alimento, compreendendo as
recordações agradáveis e prazerosas que determinadas preparações alimentares
despertam.

Serviço Social: O assistente social é o elo entre o paciente e a instituição por meio
da socialização das informações, na busca de conhecer suas necessidades, contribuindo
para o acesso aos benefícios e programas de saúde, de uma perspectiva dos direitos
políticos, civis e sociais.

Fonte:www.g1.globo.com

O setor de serviço social pauta suas atividades com enfoque no acolhimento, que
se traduz pela habilidade em acolher o usuário no processo de escuta, de resposta e
responsabilização ante todas as situações socioassistenciais demandadas por pacientes,
familiares e instituição.

A qualidade do atendimento depende da relação da equipe com o paciente e


familiar, ou seja, da atitude assumida pelos profissionais. O assistente social tem que
entender que cada família e paciente devem ser vistos como únicos e terem suas
necessidades atendidas da forma mais adequada possível, tendo-se claro que nem
sempre essas carências são condizentes com as da equipe de atendimento.

A atuação do serviço social em oncologia é bastante ampla na prevenção,


assistência e nos cuidados paliativos; as relações familiares vinculadas ao serviço social
incorporam, nesse trabalho, a complexidade e sistematização de condutas, sendo os
membros da família atores importantes no cuidado a pacientes em internação domiciliar e
hospitalar, discutindo questões de enfrentamento da morte.
O reconhecimento dos limites e das possibilidades de cuidado e atenção de todos
os envolvidos na questão, paciente, família e equipe, é ponto crucial para que a
assistência proposta surta o efeito desejado. Afinal, esse reconhecimento traz a
tranquilidade necessária para que a equipe possa atuar adequadamente, nem exigindo e
solicitando demais ou de menos da família e do paciente; não indo nem além e nem
aquém do que cada um pode oferecer.

A grande preocupação e o foco do assistente social podem ser resumidos em: para
o paciente, garantia da qualidade de vida nos momentos finais e morte digna. Para a
família, auxílio na manutenção do equilíbrio familiar possível.

A assistência ao paciente oncológico abrange ações que buscam oferecer conforto,


esperança, escuta efetiva, atenção aos problemas emocionais e sociais, resolução para as
causas prementes e a certeza de que o homem é um ser único com necessidades,
desejos, possibilidades e limites que o fazem sempre e a cada vez especial.

Fisioterapia: Ao assistir o paciente oncológico, o fisioterapeuta deve estabelecer


um programa de tratamento adequado com utilização de recursos, técnicas e exercícios,
objetivando, pela abordagem multiprofissional e interdisciplinar, alívio do sofrimento, da
dor e de outros sintomas estressantes. Oferece suporte para que os pacientes vivam o
mais ativamente possível, com qualidade de vida, dignidade e conforto, além de oferecer
suporte para ajudar os familiares na assistência propriamente dita.

A massagem é um recurso terapêutico utilizado na intensificação do relacionamento


e, ainda, promove maior resistência contra as doenças, estimula a digestão, elimina gases
e diminui cólicas devido ao relaxamento do trato gastrintestinal; estimula a respiração e
circulação, além de melhorar a dor.
Fonte:www.papouniversitario.anhembi.br

Geralmente, os pacientes e seus cuidadores expressam o desejo de voltarem para


casa, mesmo por um curto período de tempo. Nesse caso, vale ressaltar a inclusão de
conceitos e orientações do autocuidado também aos familiares, principalmente quando
sabemos que nos defrontamos, com grande frequência, com uma população de
cuidadores desgastada física e emocionalmente.

O foco para o tratamento do paciente com câncer deixa de ser somente a cura e o
controle da doença. A fisioterapia colabora ativamente na manutenção da qualidade de
vida, desde o diagnóstico até o final do tratamento. Reabilita, condiciona e adapta o
paciente à sua nova condição. Dispõe de inúmeros recursos específicos, que são
utilizados de acordo com as necessidades de cada paciente, visando sempre ao seu bem-
estar.

Terapia ocupacional: Atuando para que o paciente de alguma doença oncológica


possa se manter ativo, o terapeuta ocupacional (TO) ajuda esse doente na adaptação às
mudanças trazidas pela doença, sejam elas físicas, emocionais ou cognitivas, no controle
de sintomas desagradáveis e também na manutenção de suas capacidades e
potencialidades.
Fonte:www.plus.google.com

Ele possibilita que o paciente maximize sua independência nas atividades de vida
diária, como alimentação, vestuário, higiene, locomoção, comunicação, trabalho e lazer,
com controle sobre si mesmo, sobre a situação e o ambiente.

As metas estabelecidas pelo terapeuta ocupacional e o paciente devem ir ao


encontro das habilidades, limitações e necessidades presentes e dos desejos do paciente
e do cuidador, por meio da realização de projetos a curto e médio prazo que dão sentido e
significado à vida.

Além do paciente, esse profissional também trabalha com os familiares, pois as


questões relativas ao adoecimento e sofrimento que isso acarreta nos familiares devem
ser levadas em consideração, e é o terapeuta ocupacional que, por meio de apoio,
orientação e informação, busca a melhoria da qualidade de vida para os envolvidos no
tratamento.

Fonoaudiologia: Muitos pacientes apresentam, no decorrer de sua evolução,


alterações de deglutição e de comunicação, comprometendo assim a sua qualidade de
vida.
Fonte:www.interne.com.br

Pacientes com tumores em cavidade oral ou glossectomizados evoluem com


restrição no movimento de língua e tumores na região da faringe comprometem o
mecanismo de deglutição.

A radioterapia pode ser uma indicação do tratamento do câncer de cabeça e


pescoço e, muitas vezes, ocasionar mudanças nas funções de tecidos e músculos, alterar
o paladar, reduzir a produção de saliva e o reflexo de deglutição tanto durante como após
o tratamento.

Ao fonoaudiólogo cabe avaliar a qualidade do processo de deglutição de alimentos,


líquidos, secreções orais, saliva e medicações desde o seu controle oral até o nível
faríngeo. É ele quem sugere posturas de cabeça ou mudanças de posição para uma
deglutição segura e modifica a consistência dos alimentos quando necessário. Realiza
estimulações passivas e exercícios ativos com o intuito de melhorar os aspectos da
deglutição.

Psicologia: O diagnóstico do câncer tem usualmente um efeito devastador. Ele


ainda traz a ideia de morte, embora atualmente ocorram muitos casos de cura. Essa
situação de sofrimento conduz a uma problemática psíquica com características
específicas. Os processos emocionais desencadeados nesses pacientes exigem um
profissional especializado da área específica da psico-oncologia.
Fonte:www.sideise.com.br

Essa é uma área em formação no Brasil, que pretende ainda conquistar espaço
para o desenvolvimento de trabalhos sérios de profissionais de saúde comprometidos com
aquilo que deve ser a sua matéria-prima: o ser humano em todas as suas dimensões.

A ajuda psicológica não se concentra somente no paciente, estende-se também às


famílias, sofredoras que são nos seus medos e angústias, no seu despreparo diante da
doença, na sobrecarga das suas funções e tantos outros transtornos. Essa ajuda tem sido
considerada essencial no processo do tratamento oncológico. A boa comunicação entre
pacientes e familiares bem como o apoio que os familiares possam oferecer ao paciente
têm sido considerados de maior importância para os doentes oncológicos.

Por sua vez, os profissionais de saúde que atendem esses pacientes e que são
responsáveis por tratamentos invasivos, mutiladores, agressivos, que infringem grande
sofrimento e nem sempre levam à recuperação e cura, também necessitam de ajuda
psicológica. É o psicólogo que dará o suporte para a equipe multiprofissional expressar
medos, angústias e sentimentos.

Assistência espiritual: Religiosidade e espiritualidade não são sinônimos. A


religiosidade envolve sistematização de culto e doutrina compartilhados por um grupo. A
espiritualidade está relacionada a questões sobre o significado e o propósito da vida, com
a crença em aspectos espiritualistas para justificar sua existência e seus significados.

A assistência espiritual atua na área em que a ciência não dá conta e a moral se


atrapalha. Evidências científicas atestam que, especialmente no caso do câncer, em que o
desgaste emocional e físico é imensamente maior para os pacientes, há uma resposta
melhor ao tratamento quando existe suporte espiritual.

A comunidade científica deve reconhecer a importância da dimensão espiritual,


assim como da psicossocial, nas respostas individuais ao tratamento, relacionadas
também à adesão terapêutica e à confiança na equipe de saúde. Negligenciar essa
abordagem é negar ao paciente e sua família o cuidado integral a que todos têm direito.

Ao aplicar a abordagem holística na assistência do paciente, é importante que o


planejamento do tratamento oncológico seja feito de forma individualizada. Para isso, são
analisados diversos aspectos na tomada de decisão, dentre eles, sítio de origem do tumor,
tamanho do tumor, grau de diferenciação das células, presença ou não de metástases,
avaliação clínica do paciente e avaliação multiprofissional.

Como o tratamento oncológico, muitas vezes, demanda um certo tempo, alternando


internações e outros momentos que exigirão uma assistência domiciliar, vamos, a seguir,
tratar de alguns aspectos relevantes dessa modalidade de assistência.

5. ASSISTINDO O PACIENTE EM DOMICÍLIO

Normalmente, as visitas domiciliares são realizadas por uma equipe multidisciplinar:


assistente social, enfermeiro, psicólogo, nutricionista e técnico de enfermagem. A equipe
trabalha prestando atendimento à população com câncer, na prevenção, cura, reabilitação
e no alívio do sofrimento, abrangendo os aspectos biopsicossociais, por meio de uma
abordagem interdisciplinar e mais humana, a fim de proporcionar melhora na qualidade de
vida do paciente.

O serviço de assistência domiciliar pode ser classificado por categorias:


preventivos, terapêuticos, reabilitadores, acompanhamento por longo tempo e cuidados
paliativos. Pode também ser classificado por tipo: visitas periódicas, internações
domiciliares, busca ativa e preventiva.
Fonte:www.viplifehomecare.com.br

A visita domiciliar é importante para o doente, para a família e para o profissional,


que se beneficia como ser humano realizando esse trabalho. Em oncologia, o paciente
conseguirá ser tratado pelos cuidados paliativos no lugar mais adequado: sua própria
casa. Normalmente, a família é quem tem mais trabalho. Ela recebe orientação da equipe
paliativista sobre como tratar seu familiar doente; aprende, também, a respeitar o doente,
mesmo que ele se encontre em coma, pois o último sentido que ele perde é a audição e
ele não deve escutar discussões ou qualquer tipo de coisa que o desagrade, pois isso
pode prejudicar seu tratamento.

Cada profissional da equipe possui uma atribuição na visita domiciliar e cabe ao


técnico de enfermagem auxiliar no treinamento do cuidador domiciliar; acompanhar a
evolução dos casos e comunicar à equipe as alterações observadas; realizar
procedimentos de enfermagem dentro de suas competências técnicas e legais; orientar
cuidados com o lixo originado no trato do usuário e do lixo domiciliar, quanto a separação,
armazenamento e coleta; estabelecer via de comunicação participativa com a família;
identificar sinais de gravidade; comunicar ao enfermeiro e ao médico alterações no quadro
clínico do paciente e registrar os atendimentos.

A expressão “Não há nada mais a ser feito” é substituída pelo entendimento de que
a terapêutica deve ser contínua, ativa e coerente às necessidades, amparada pelos
preceitos bioéticos nas diversas fases da patologia.

Quando se fala em bioética, significa dizer que estamos estudando a conduta


humana na área das ciências da saúde, com base nos valores e princípios morais de cada
sociedade e com o objetivo de que essa conduta vá ao encontro da plenitude da pessoa
humana.

Interessante seria diferenciar uma posição ética de uma posição legal. Uma posição
eticamente correta é uma posição real; já uma posição legalmente correta é uma posição
formal. Ao elaborarmos um Termo de Consentimento com vistas a um procedimento
médico, por exemplo, devemos fornecer as informações adequadas, de maneira que a
pessoa que irá recebê-las possa compreendê-las e dar o seu consentimento.

Quando documentamos esse consentimento, o transformamos em uma questão


formal, expressando os aspectos médico-legais. Sempre é possível encontrarmos
soluções técnicas aceitáveis para a documentação de um consentimento – um aspecto
formal. Porém, nem sempre é possível acharmos soluções eticamente corretas – aspecto
real – para o fornecimento dessa informação e a consequente emissão do consentimento.

Dentre alguns temas polêmicos, a bioética na cancerologia discute: eutanásia,


distanásia, autonomia, como dar más notícias, alocação de recursos, ordens de não
ressuscitação, suspensão ou não instalação de alimentação e/ou hidratação artificial,
sedação paliativa (sedação controlada), e finitude da vida.

A bioética indica caminhos, faz refletir e dar sentido às metas já estabelecidas pela
medicina, quais sejam: restaurar a saúde; aliviar sintomas incluindo estresse físico e
psicológico; restaurar a função de um órgão ou manter a função já comprometida; salvar
ou prolongar a vida; educar e aconselhar os pacientes, considerando suas condições e
seu prognóstico.

A bioética não veio para punir, mas para buscar, de forma multidisciplinar, um
melhor entendimento do ser humano nos seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais e
espirituais, evitando causar-lhe danos no curso de seu cuidado. Dentre os principais temas
abordados pela bioética, podem-se citar o fim da vida humana bem como o limite da
intervenção sobre o ser humano.

O processo de perda é um dos fatores que devem ser trabalhados na oncologia,


principalmente nos cuidados paliativos, e é aí que entramos em outra problemática. O
profissional de saúde deve estar preparado para seguir alguns referenciais éticos em
relação ao enfrentamento da perda.
Fonte:www.meriti.rj.gov.br

Devemos sempre falar a verdade sobre o tratamento com o nosso paciente, isso é
de extrema importância na relação interpessoal do profissional de saúde e do paciente e
seus familiares. Ao falarmos a verdade, possibilitamos que o paciente tenha participação
nas decisões do seu tratamento e do início do processo de enlutamento, já que, em
oncologia, no caso do cuidado paliativo, a morte é iminente.

Ao negarmos ao paciente e à família a sua condição de saúde, impedimos que eles


enfrentem seus medos, impedimos a evolução em direção ao processo de morrer e,
quando a morte chegar, essas pessoas, em vez de aceitação, poderão sentir raiva pelo
inesperado e por terem sido enganadas.

Percebemos que a maior dificuldade está em comunicar a verdade quando o


prognóstico do paciente é ruim. Para isso, se faz necessária a qualificação dos
profissionais, pois essa conduta deve ser discutida com muita cautela pela equipe
multidisciplinar.

Temos que aprender a não negar a existência da morte, mas aceitá-la com
naturalidade, procurar viver de acordo com essa realidade concreta, admitindo a própria
morte e aceitando-a.

Portanto, a aceitação da morte pelos familiares e pelo próprio paciente pode ser um
processo de grande dificuldade para a equipe, pois pode levar os profissionais a terem
sentimento de impotência e incapacidade que, muitas vezes, acentuam-se pelo vínculo
afetivo que se estabeleceu durante o tratamento.
A superação da morte vem com a continuidade da luta pela cura de outros
pacientes e pelo desenvolvimento de trabalhos internos de suporte biopsicossocial, além
da conquista de atitude, isto é, ofertar uma assistência humanizada em todas as fases do
tratamento independentemente do desfecho final.

A partir dessa visão holística da assistência de enfermagem, vamos abordar, nos


próximos capítulos, como cuidar do doente submetido aos diferentes tratamentos
oncológicos.

6. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE EM TRATAMENTO


ONCOLÓGICO

As modalidades terapêuticas existentes para o tratamento oncológico são:


quimioterapia, radioterapia e abordagem cirúrgica. Esses tratamentos podem ser usados
isoladamente ou em combinação com outras terapias. Outras opções de tratamento do
câncer incluem terapia-alvo, imunoterapia, hormonioterapia e transplante de medula
óssea.

A radioterapia é uma modalidade de tratamento oncológico em que ocorre


exposição do tumor à radiação ionizante de forma controlada e direcional, visando à
destruição das células expostas à radiação através da desestabilização do DNA celular e
consequente destruição das células. O número de aplicações necessárias pode variar de
acordo com a extensão e a localização do tumor, dos resultados dos exames e do estado
de saúde do paciente. No planejamento do tratamento, é utilizado um aparelho chamado
simulador. Pelas radiografias, o médico delimita a área a ser tratada, marcando a pele
com uma tinta vermelha. Para que a radiação atinja somente a região marcada, em alguns
casos, pode ser feito um molde de gesso.
Fonte:www.hsvp.com.br

Já a cirurgia oncológica é o mais antigo tipo de terapia do câncer, sendo ainda


utilizada em muitos casos. A cirurgia envolve a remoção do tecido cancerígeno do corpo.
É o principal tratamento para diversos tipos de câncer e, em alguns casos, pode ser a
cura. A cirurgia também pode confirmar o diagnóstico (biópsia), determinar o quão longe o
câncer de uma pessoa tem avançado (estadiamento), aliviar os efeitos colaterais (como
uma obstrução) ou aliviar a dor (cirurgia paliativa).

Outra modalidade de tratamento é a quimioterapia. É considerada um tratamento


sistêmico, que ataca pela corrente sanguínea todas as células cancerosas do organismo.
A quimioterapia ataca as células que estão crescendo ativamente. No entanto, essas
drogas não conseguem diferenciar as células normais, que são células de reprodução, das
cancerígenas; como resultado, verificamos os efeitos secundários do tratamento. O
objetivo primário da quimioterapia é eliminar as células cancerosas e impedir a recorrência
da doença (o câncer voltar após o tratamento). Quando não é possível uma eliminação, a
quimioterapia pode ser usada para controle, por retardar o crescimento das células e/ou
reduzir os sintomas causados pelo câncer (chamado de terapia paliativa).
Fonte:www.esquadraodoconhecimento.wordpress.com

Sempre que falarmos de tratamento do câncer, é importante ressaltar a importância


da participação de uma equipe multiprofissional, envolvendo médicos (oncologistas,
cirurgiões, radiologistas, radioterapeutas, patologistas, dentre outros), enfermeiros,
psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e muitos outros profissionais, devido à
complexidade da doença e às diferentes abordagens terapêuticas.

A equipe multiprofissional começa sua atuação desde o início do tratamento


oncológico. Para que você possa atuar de forma harmoniosa com essa equipe, é muito
importante conhecer as ações dos diferentes profissionais.

Cada profissional da equipe interdisciplinar tem uma parcela de participação


importante no tratamento dos pacientes com câncer. Todas as informações colhidas,
quando compartilhadas, subsidiam a atuação de todos os profissionais da equipe,
promovendo aos pacientes uma assistência individualizada e específica às suas
necessidades.

Além de enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e dentistas,


fazem parte da equipe interdisciplinar outros profissionais de saúde, os quais podem ser
acionados mediante avaliação da equipe, como, por exemplo: fisioterapeutas,
fonoaudiólogas, terapeuta ocupacional.

É importante que o planejamento do tratamento oncológico seja feito de forma


individualizada. Para isso, são analisados diversos aspectos na tomada de decisão, tais
como: sítio de origem do tumor, tamanho do tumor, grau de diferenciação das células,
presença ou não de metástases, avaliação clínica do paciente e avaliação
multiprofissional.

7. CUIDANDO DO PACIENTE EM QUIMIOTERAPIA

Fonte:www.g1.globo.com

Para que você possa prestar uma assistência de enfermagem fundamentada em


princípios científicos de forma segura e livre de danos ao paciente oncológico, é
importante que você conheça conceitos, objetivos, planejamento, cuidados de
enfermagem e efeitos colaterais das diversas modalidades de tratamento oncológico.
Assim, iniciaremos os estudos com a quimioterapia.

A quimioterapia antineoplásica é o tratamento que utiliza agentes químicos,


isolados ou em combinação, no tratamento de tumores malignos e que faz parte da
maioria dos planejamentos de tratamento oncológico, principalmente aqueles sem
condições imediatas de abordagem cirúrgica e/ou pela radioterapia.

É considerado o mais comum dos tratamentos em oncologia, sendo utilizado de


forma sistêmica, isto é, atingindo todas as células do organismo. A quimioterapia tem
como objetivo primário destruir células malignas preservando células normais. Mas, na
maioria das vezes, a diferença entre essas duas populações de células é muito pequena,
deixando o limite entre o efeito terapêutico desejado e a toxicidade muito próximo,
surgindo, assim, os efeitos colaterais, efeitos esses que, apesar dos avanços recentes,
são frequentemente intensos, limitantes e muitas vezes incapacitantes.
Atualmente, preconiza-se o uso de quimioterápicos em associação, o que é
chamado de poliquimioterapia, ou seja, a utilização de duas ou mais drogas que,
combinadas, agem de forma complementar, trazendo vantagens consideráveis ao
tratamento. A superioridade da poliquimioterapia sobre a monoquimioterapia é justificada
pela diminuição da resistência tumoral à ação dos fármacos e ao efeito sinérgico e da
combinação das drogas. Ademais, os efeitos colaterais da terapêutica podem ser
reduzidos pela utilização de dosagens menores de cada quimioterápico e, devido ao efeito
tóxico, em intervalos e órgãos distintos.

A escolha do tratamento quimioterápico adequado depende do tipo do tumor a ser


tratado, do tamanho do tumor, da extensão da doença e das condições clínicas do
paciente nas diversas fases da administração dos medicamentos, podendo ser empregado
com objetivos curativos e paliativos.

Alguns tipos de câncer são passíveis de cura completa com tratamento


quimioterápico exclusivo; podemos citar como exemplos os pacientes acometidos por
linfomas, leucemias, tumores da infância e câncer de testículo. As quimioterapias curativas
são usadas nos casos em que o tratamento tem como proposta a cura do paciente,
deixando-o completamente livre de doença.

No tratamento quimioterápico paliativo, o grau de desenvolvimento dos tumores, a


extensão da doença, o acometimento de outras estruturas do corpo (metástases),
associados às condições clínicas do paciente, impedem a realização de medidas
curativas. Nesse caso, o tratamento quimioterápico tem como principal objetivo reduzir o
tumor, estabilizar o quadro clínico e garantir uma melhor qualidade de vida.

Para o planejamento do tratamento quimioterápico, é muito importante que a equipe


de saúde conheça as condições clínicas dos pacientes que necessitam desse tipo de
tratamento com vistas a uma assistência humanizada e segura.

Como estratégia de avaliação das condições clínicas dos pacientes oncológicos


utilizamos escalas e índices internacionalmente aceitos. As escalas mais comumente
usadas são as de avaliação de performance e status dos pacientes, principalmente: a
escala de performance Eastern Cooperative Oncology Group (Ecog) e índice de Karnofsky
(KPS), o mais utilizado no Brasil.
8. CLASSIFICAÇÃO DOS QUIMIOTERÁPICOS E OUTRAS FORMAS DE
TRATAMENTO SISTÊMICO

Fonte:www.gapc-gapc.blogspot.com.br

Quimioterapias são drogas que possuem mecanismos de ação em nível celular,


interferindo no seu processo de crescimento e divisão celular. Cada droga quimioterápica
age especificamente nas células que estão sofrendo divisão celular, podendo atuar em
uma das fases de divisão, ou em diversas delas, tornando mais eficaz o tratamento
quando diagnosticado precocemente, época em que o tumor ainda é pequeno.

Como já vimos, os quimioterápicos agem mais agressivamente nos tecidos com alto
grau de multiplicação e diferenciação celular, característica principal das células do
câncer; consequentemente, os tecidos normais de alto grau de multiplicação celular são
os mais atingidos pelos efeitos colaterais.

Com a evolução dos estudos em oncologia e a busca pelos pesquisadores para


encontrar um fármaco que seja capaz de destruir seletivamente apenas as células
malignas, sem prejudicar as células sadias, surgiram novas drogas que compõem a
terapia antineoplásica direcionada a alvos moleculares específicos, fazendo dessa uma
nova abordagem de tratamento na oncologia, comumente chamada de terapia alvo
específico ou terapia alvo molecular.

A terapia alvo específico na oncologia se refere ao tratamento com a utilização de


uma droga designada a atacar determinadas substâncias produzidas pelas células, os
antígenos tumorais. A terapia alvo molecular se liga aos antígenos tumorais específicos,
desencadeando uma resposta imunológica. Esse tratamento proporciona um benefício
para o paciente, pois é mais tolerado que os quimioterápicos convencionais por possuir
menor efeito colateral sistêmico.

Outras formas de tratamento sistêmico incluem a hormonioterapia e a imunoterapia.


A hormonioterapia é um tratamento que tem como objetivo impedir a ação de hormônios
que estão presentes em alguns tumores como os de mama, próstata e endométrio, que
crescem por ação hormonal, ou seja, bloqueando ou suprimindo os efeitos do hormônio
sobre o órgão-alvo. Um exemplo é o uso do hormônio chamado tamoxifeno nos cânceres
de mama, que impede a produção de estrógeno importante para o desenvolvimento dos
tumores de mama.

Outra modalidade de tratamento utilizando quimioterápicos que surgiu atualmente e


tem mostrado resultados benéficos aos pacientes submetidos a essa terapia é a
quimioterapia intraperitoneal, que consiste na aplicação na cavidade abdominal para que a
medicação tenha contato direto com a superfície dos órgãos abdominais e tenha maior
chance de destruir focos de tumor não visíveis.

Essa forma de tratamento pode associar-se à cirurgia citorredutora, que é aquela


em que o cirurgião retira os focos de células tumorais que estão espalhados pela
superfície dos órgãos, ou seja, faz uma redução da quantidade de doença visível. A
administração de medicamentos na cavidade abdominal, inclusive quimioterápico, tem
como um dos principais cuidados a administração do medicamento na temperatura
corporal (por volta de 37°C), motivo pelo qual aquecemos o quimioterápico a ser
administrado, portanto a esse procedimento dá-se o nome de quimioterapia intraperitoneal
hipertérmica.

A concomitância de quimioterapia e radioterapia é uma estratégia para aumentar a


eficácia do tratamento quimioterápico proposto. Nessa modalidade de tratamento, é de
fundamental importância que o início das sessões de radioterapia seja concomitante ao
tratamento quimioterápico.

Sabemos que os quimioterápicos geralmente são associados a outros


quimioterápicos e/ou hormônios e/ou anticorpos monoclonais e/ou radioterapia, e que não
atuam de forma exclusiva nas células tumorais, afetam também as células que se
proliferam rapidamente, por exemplo: as células da pele, da mucosa, os glóbulos
vermelhos, plaquetas, glóbulos brancos, como também as células germinativas. Portanto,
os efeitos colaterais dos quimioterápicos, associados ou não a outros agentes, atingem
também células normais.
Atualmente, com a evolução dos medicamentos, vários efeitos colaterais podem ser
atenuados. Como consequência, já é possível minimizar sintomas colaterais, como
náuseas e vômitos, decorrentes da quimioterapia, por meio de medicações potentes de
última geração. Por outro lado, é possível conseguir ainda a diminuição dos riscos de
infecção e anemia, através da adoção de medicamentos preventivos. Além disso, é
preciso lembrar que os efeitos colaterais decorrentes da quimioterapia desaparecem após
o término do tratamento.

Os efeitos colaterais da quimioterapia podem ser muito mais intensos ou menos


intensos que os efeitos da radioterapia. Isso tudo depende do tipo, do local, da intensidade
e a da duração do tratamento empregado. O tratamento radioterápico para tumores
localizados, por exemplo, nos membros inferiores, tem normalmente muito menos efeitos
colaterais do que a radioterapia do câncer de pulmão, da mesma forma o tratamento
quimioterápico para a leucemia é altamente tóxico, e a quimioterapia para um câncer de
intestino é mais bem tolerada.

Existem inúmeros tipos e associações de quimioterápicos; para cada diagnóstico,


essas associações compõem o que chamamos de protocolo de quimioterapia.

Um protocolo estabelece os medicamentos a serem utilizados, determina suas


doses em função do peso ou da superfície corpórea do paciente (calculada com base no
peso e na altura atuais) e propõe as datas para sua administração.

9. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS QUIMIOTERÁPICOS

Fonte:www.oncoclinica.com.br
São importantes também os conhecimentos relacionados a: vias de administração;
sequência de infusão; incompatibilidades entre drogas a serem administradas; velocidade
de administração; e reconhecimento das drogas no seu aspecto de toxicidade
dermatológica local.

Com relação à toxicidade dermatológica, as drogas podem ser classificadas em


vesicantes, pois, quando infiltradas fora do vaso sanguíneo provocam irritação severa e
necrose local; ou em irritantes, que causam reação cutânea menos intensa, podem
provocar dor e queimação e, algumas vezes, eritema no local da injeção.

Os quimioterápicos, mesmo quando adequadamente infundidos no vaso sanguíneo,


podem causar efeitos imediatos no local da aplicação como, por exemplo, os irritantes,
que podem ocasionar dor e reação inflamatória no local da punção e ao longo do trajeto
venoso utilizado para aplicação.

10. CUIDANDO DO PACIENTE EM RADIOTERAPIA

Fonte:www.brasil.elpais.com

Essa modalidade de tratamento é bem mais recente que a cirurgia; entretanto,


apesar de recente, houve muitos progressos com impacto importante tanto na morbidade
e eficiência do tratamento como na segurança do profissional. O avanço também se
estendeu aos equipamentos, que em meados de 1950 a 1955 possibilitaram o tratamento
de lesões profundas sem efeitos significativos sobre a pele.
Como muitas descobertas científicas que acontecem a partir da simples
observação, a radioterapia surgiu de pesquisas realizadas em dermatites nas mãos de
pesquisadores dessa área. Essas dermatites ocorriam devido à exposição dos
pesquisadores à radiação por raios X. As lesões provocadas por esses raios tinham a
característica de queimaduras provocadas pelo sol e que cicatrizavam posteriormente.
Esse fenômeno levou os pesquisadores ao pensamento de que os raios X também
poderiam ter propriedades biológicas, além da propriedade física de sensibilizar chapas
fotográficas. Essa tríade, exposição, dano biológico e restituição, os levaram a especular
se os raios X poderiam ser usados com a finalidade terapêutica.

Registros que datam de 1896 revelam que a primeira paciente tratada por meio da
exposição à radiação de raios X com finalidade terapêutica de forma empírica era
portadora de um volumoso câncer de mama. No mesmo ano, também foi identificado o
tratamento de um paciente com câncer gástrico.

Durante o II Congresso Internacional de Radiologia realizado em 1929, definiu-se


pela primeira vez uma unidade padrão de dose de exposição à radiação, uniformizando os
critérios de dosimetria. Atualmente, a nomenclatura da unidade empregada é o centiGray
(cGy), em homenagem ao físico e radiobiologista inglês, L. H. Gray.

11. NEOPLASIA INFANTIL E RADIOTERAPIA

Fonte:www.laboranalise.com.br

A radioterapia, assim como as outras modalidades de tratamento antineoplásico,


também é utilizada no tratamento de cânceres infantis. Entretanto, devido aos riscos de
complicação tardia, é discutível na literatura a idade mínima para submeter crianças ao
tratamento radioterápico. Na prática, podemos observar crianças de dois anos sendo
tratadas.

Durante o planejamento, o cuidador da criança pode entrar na sala e permanecer


até que ambos se sintam seguros. Inclusive, a participação do cuidador é fundamental
para auxiliar a equipe em como abordar a criança de maneira lúdica, por exemplo,
sugerindo que a mesa do equipamento se transforma em uma nave espacial e que se
aproxima de um céu estrelado. Podem-se colocar adesivos luminosos no teto, que se
destacam no momento em que as luzes precisam ser apagadas para a visualização do
laser que demarca o campo a ser irradiado. A máscara poderia se transformar no
capacete necessário para entrar na nave da personagem preferida da criança. A faixa de
segurança, para evitar a queda do paciente, poderia ser transformada no cinturão com
superpoderes, dentre outros exemplos.

Enquanto a criança está sendo irradiada, permanecendo sozinha no equipamento


por muito tempo, a forma lúdica de o cuidador atuar será conversando com a criança pelo
comunicador; cantar e contar histórias também são opções válidas, para minimizar a
sensação de insegurança e solidão. Para isso, também podem ser utilizadas figuras do
painel no teto (quando houver) para criar as histórias. Mostrar o local em que o cuidador
permanece enquanto a criança está recebendo a radiação também é importante, assim
como mostrar o monitor que permite a sua visualização quando está sozinha. Permitir a
entrada da mãe juntamente com o tecnólogo no momento de reposicionamento do
paciente para irradiação de outro campo (quando houver) também é fundamental para que
a criança se sinta segura, colabore e não precise de anestesia durante as possíveis 35
aplicações planejadas.

O número de crianças e adolescentes no setor de radioterapia geralmente é ínfimo


quando comparado ao número de adultos, exceto em instituições destinadas
exclusivamente ao público infantil. Essa quantidade permite que a equipe multiprofissional
priorize esses pacientes quanto aos agendamentos, respeitando o horário das atividades
sociais, com o objetivo de interferir o mínimo na qualidade de vida. Mesmo diante de um
atraso, as crianças, por dificuldade de compreender o cenário, são priorizadas,
principalmente devido ao jejum para a Sala de radioterapia infantil com iluminação lúdica
no anestesia (quando necessário).
Os pacientes infantis devem ser priorizados na alocação de recursos humanos, com
vistas a manter os mesmos profissionais durante todo o tratamento, de modo a permitir o
estabelecimento de vínculo com os profissionais, minimizando a indicação de anestesia
diária e diminuindo o impacto na qualidade de vida decorrente da presença diária na
instituição.

REFERÊNCIAIS

ABRAHÃO, A. L. ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL.


INFORME-SE EM PROMOÇÃO DA SAÚDE, N.2, P.1-2, JAN.-JUN. 2006.
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DE JANEIRO: GRAAL, 1981.

BRAGA, J. C. S.; PAULA, S. G. DE. SAÚDE E PREVIDÊNCIA - ESTUDOS DE POLÍTICA SOCIAL. SÃO
PAULO: CEBES; SÃO PAULO: HUCITEC, 1987.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. LEI ORGÂNICA DE SAÚDE. 2. ED. BRASÍLIA: ASSESSORIA DE

COMUNICAÇÃO SOCIAL, 1991.


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12. LEITURA COMPLEMENTAR

Nome do autor: Camila Santejo Silveira e Márcia Maria Fontão Zag


Data de acesso: 02/12/2016
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n4/v14n4a21.pdf

PESQUISA BRASILEIRA EM ENFERMAGEM ONCOLÓGICA: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA

RESUMO:
Foi realizada uma revisão integrativa da literatura com o objetivo de caracterizar as pesquisas produzidas
pela enfermagem brasileira em oncologia. O levantamento bibliográfico abrangeu as publicações nacionais
em enfermagem, de 1980 a 2004, sendo identificados 84 artigos que compuseram a amostra do estudo. Os
resultados apontaram a falta de esclarecimentos para demonstrar o rigor dos estudos nos artigos
analisados. Sugerimos identificar prioridades de pesquisa, refinar estratégias de síntese de resultados de
pesquisa, conduzir com rigor os estudos, respeitando-se as etapas do método científico e maior cuidado na
elaboração dos relatórios encaminhados para publicação.

Palavras chave: enfermagem; oncologia; pesquisa

INTRODUÇÃO

A oncologia tem tido grande evolução nas técnicas diagnósticas e terapêuticas, o


que tem possibilitado a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes com câncer. Cabe à
enfermagem acompanhar o desenvolvimento dessa especialidade pelas investigações
científicas, que são os principais recursos para a atualização do conhecimento para o
cuidado ao paciente oncológico.
No contexto do câncer, o enfermeiro atua em ações de prevenção e controle. Tem
como competência prestar assistência a pacientes com câncer na avaliação diagnóstica,
tratamento, reabilitação e atendimento aos familiares. Além dessas, ele desenvolve ações
educativas, ações integradas com outros profissionais, apoia medidas legislativas e
identifica fatores de risco ocupacional, na prática da assistência ao paciente oncológico e
sua família. Por isso, a pesquisa em enfermagem oncológica é essencial para gerar a
base de conhecimento que fundamenta a prática clínica, além de poder identificar o
impacto do câncer e do tratamento na vida de pacientes e familiares.
Essas considerações justificam o nosso interesse em desenvolver uma revisão
integrativa sobre a produção científica em enfermagem oncológica, na literatura brasileira,
para a interpretação do conhecimento produzido na área e com o propósito de auxiliar no
desenvolvimento de futuras investigações.
Sendo assim, estipulamos como questão desta pesquisa: os artigos publicados pela
enfermagem brasileira em oncologia estão contribuindo para o desenvolvimento do
conhecimento e cuidado de enfermagem?
Frente às colocações acima, este estudo tem como objetivo geral:
- Sintetizar a contribuição das pesquisas produzidas pela enfermagem brasileira em
oncologia.
Objetivos específicos:
- Realizar o levantamento das produções científicas desenvolvidas pela enfermagem
brasileira em oncologia;
- Identificar os autores, os tipos de pesquisa, a coerência teórico-metodológica dos
artigos e os resultados;
- Analisar descritivamente os resultados das pesquisas produzidas para a construção
do conhecimento na área.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o alcance do objetivo geral, optamos pelo método da revisão integrativa, visto
que ele possibilita sumarizar as pesquisas já concluídas e obter conclusões a partir de um
tema de interesse. Uma revisão integrativa bem realizada exige os mesmos padrões de
rigor, clareza e replicação utilizada nos estudos primários.

Embora os métodos para a condução de revisões integrativas variem, existem padrões a


serem seguidos. Na operacionalização dessa revisão, utilizamos as seguintes etapas:
seleção das questões temáticas, estabelecimento dos critérios para a seleção da amostra,
representação das características da pesquisa original, análise dos dados, interpretação
dos resultados e apresentação da revisão.
O levantamento bibliográfico foi realizado pela Internet, pela BIREME, no banco de dados
Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde) e na base de dados BDENF
(Base de Dados Bibliográficos Especializada na Área de Enfermagem do Brasil),
consideradas as principais da área da saúde brasileira.

Para o levantamento dos artigos, utilizamos as palavras-chave “enfermagem”, “câncer”,


“oncologia” e “neoplasia”. Realizamos o agrupamento das palavras-chave da seguinte
forma: enfermagem e câncer, enfermagem e oncologia, e enfermagem e neoplasia.

Os critérios utilizados para a seleção da amostra foram: artigos publicados em periódicos


nacionais; artigos que abordem a temática do câncer, dentro de todas as áreas de
interesse da enfermagem; periódicos indexados nos bancos de dados Lilacs e BDENF;
artigos publicados até o ano de 2004 e todo artigo, independentemente do método de
pesquisa utilizado.

Foram identificados 91 artigos. No entanto, após adquirirmos todas as cópias e termos


realizado a leitura dos artigos, optamos por excluir os estudos publicados antes de 1980,
devido ao seu pequeno número. Dessa forma, a amostra final foi composta por 84 artigos
científicos produzidos pela enfermagem ou com sua participação, publicados em território
nacional.

Foi desenvolvido um formulário de coleta de dados, que foi preenchido para cada artigo da
amostra final do estudo. O formulário permitiu a obtenção de informações sobre
identificação do artigo e autores; fonte de localização; objetivos, delineamento e
características do estudo; coerência teóricometodológica; análise dos dados, resultados e
discussão; conclusões e recomendações para a prática de enfermagem.

Os artigos encontrados foram numerados conforme a ordem de localização, e os dados


foram analisados, segundo os seus conteúdos, pela estatística descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observamos que o periódico que publicou o maior número de artigos sobre


oncologia, pelos enfermeiros brasileiros, foi a Revista Brasileira de Cancerologia (17,9%);
esse fato se explica por se tratar de um periódico específico da oncologia, com impacto
nas diferentes disciplinas que atuam na área.
Periódicos como a Revista Latino-Americana de Enfermagem (primeiro periódico de
enfermagem nacional indexado no Scielo) e a Revista Brasileira de Enfermagem (primeiro
periódico de enfermagem nacional e órgão oficial de divulgação da Associação Brasileira
de Enfermagem - ABEn), apresentaram um percentual maior de publicações na nossa
área de interesse, com 10,7% cada.

Ao se analisar o conjunto da amostra, verificamos que a inexistência de um periódico


específico da enfermagem voltado para a cancerologia pode estar dificultando a
divulgação do conhecimento produzido. A maioria dos artigos foi publicada em periódicos
gerais, o que compromete, também, a rápida atualização do conhecimento.

Após o ano de 2000, constatamos um crescente aumento de publicações. Acreditamos


que o ensino de pós-graduação foi um dos fatores determinantes do desenvolvimento da
enfermagem, no Brasil, contribuindo decisivamente para a construção do conhecimento.

Em relação à titulação, a maioria dos autores é docente (41,5%), mas também os


enfermeiros graduados apresentam um percentual de destaque em relação às demais
titulações (19,5%). Os demais autores, não docentes, 35,5% são: graduandos,
especialistas, mestrandos, mestres, doutorandos e doutores. 3,5% dos autores não
informaram a titulação.

No que se refere à profissão, 85,5% são enfermeiros e, também, há a participação de


outros profissionais, como: psicólogos 5 (2,5%), médicos 2 (1,0%) e 1 físico (0,5%). A
parceria entre a enfermagem e outros profissionais é válida, já que a mesma executa seu
trabalho em equipe, e a troca de experiência na área da saúde é de grande importância
para a melhora da qualidade da assistência. Esse dado também foi comprometido, pois 11
(5,5%) autores não informaram a profissão.

Entre esses profissionais, 33,4% procedem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto,


da USP, e da Universidade Federal de São Paulo. Essas Instituições apresentam, além
dos programas de pós-graduação, núcleos de pesquisa em oncologia, com a participação
de enfermeiros assistenciais, alunos de graduação e pós-graduação, o que contribui para
a realização de pesquisa em grupos e aumento da produção científica.

A maioria dos estudos foi desenvolvida na região Sudeste, com destaque para as cidades
de São Paulo (21,4%), Rio de Janeiro (15,5%) e Ribeirão Preto (11,9%). Nesta região
foram implantados os primeiros Programas de Pós-Graduação em Enfermagem e hoje
concentra a maioria deles. Se considerarmos que o Brasil apresenta uma grande
diversidade socioeconômica e cultural entre suas regiões, a aplicação de resultados de
pesquisa provenientes de centros mais desenvolvidos economicamente fica comprometida
em regiões menos favorecidas e vice-versa, devido aos recursos tecnológicos e
qualificação profissional existente.

Na identificação das fontes para localização dos artigos, 52,4% são provenientes do
LILACS, e somente 13,1% foram localizados só pelo BDENF, sendo que os demais
constavam nas duas bases de dados. As palavras-chave mais utilizadas pelos autores
foram “enfermagem e câncer”, presentes em 76,2% dos estudos.

Neste estudo não utilizamos palavras-chave referentes aos sistemas corporais, o que
ampliaria a amostra do estudo. Como o nosso interesse era analisar a produção científica
nacional na enfermagem oncológica, de uma forma ampla, utilizamos as palavras com
maior probabilidade de aparecerem nos artigos.

Verificamos que 66,7% dos artigos apresentam os objetivos do estudo de forma clara, ou
seja, possibilitam o fácil entendimento do leitor; 23,8% não apresentam objetivos, e 9,5%
não relatam adequadamente os objetivos do estudo.

O objetivo é a apresentação do que se pretende alcançar com a pesquisa. Constitui a


ação proposta para responder à questão do estudo; é fundamental para a compreensão
do estudo e do artigo publicado.

Outro aspecto importante dos trabalhos publicados pela enfermagem é que poucos artigos
científicos 16 (19,0%) são derivados de dissertações ou teses.

Ao analisarmos os delineamentos de pesquisa mais frequentes na amostra estudada,


identificamos que 31 (36,9%) utilizaram a abordagem metodológica qualitativa, 18 (21,4%)
desenvolveram estudos com métodos quantitativos, 8 (9,5%) realizaram estudos
quantiqualitativos (descritivos) e 27 (32,1%) não discriminaram o método utilizado.

Entre os estudos que utilizaram a abordagem metodológica qualitativa (36,9%), os


métodos utilizados foram: fenomenologia, materialismo dialético, teoria fundamentada nos
dados e etnografia. Nove (10,7%) estudos não discriminaram um método específico.

A abordagem metodológica qualitativa de pesquisa é um meio de gerar conhecimentos


sobre fenômenos subjetivos que constituem foco de interesse da profissão. Vários
pesquisadores da enfermagem oncológica destacam que, entre os diferentes propósitos
da metodologia qualitativa, está o de descrever, explorar e explicar o fenômeno do câncer,
ou melhor, interpretar o fenômeno sob o ponto de vista daqueles que o vivenciam(8-11).
Nesse sentido, a enfermagem oncológica brasileira, tal como a de outros países, tem
pesquisado esse enfoque com o objetivo de desenvolver intervenções de enfermagem
adequadas ao contexto sociocultural dos cliente.

Dentre os estudos quantitativos, 7 (8,3%) são não-experimentais; entre esses fazem parte:
estudo retrospectivo, longitudinal, pesquisa metodológica, levantamento e revisão
bibliográfica. Dez (11,9%) seguem delineamentos quantitativos, mas não discriminaram o
tipo de método.

Chamou-nos a atenção o fato de não encontrarmos nenhum estudo que utilizou o desenho
experimental ou o quase-experimental, já que os resultados desses estudos permitem a
validação da prática clínica. Apesar de os experimentos apresentarem algumas limitações
de caráter ético, devido às variáveis que tecnicamente podem ser manipuladas, mas
eticamente não são aceitas, são esses estudos que melhor respondem ao teste das
hipóteses causais.

As pesquisas nas abordagens metodológicas qualitativa e quantitativa se complementam,


geram diferentes tipos de conhecimento para a prática de enfermagem. O que determina o
tipo de delineamento mais adequado para conduzir a pesquisa é a natureza do problema.
Ambos os delineamentos requerem experiência do pesquisador, rigor no desenvolvimento
do estudo e geram conhecimento para o desenvolvimento da profissão.

No que se refere à ética, identificamos que 35 (41,7%) dos artigos não apresentam
nenhuma consideração. Esse resultado pode ser justificado devido à Resolução 196, que
determina que toda pesquisa envolvendo seres humanos deve ser submetida a uma
avaliação ética, entrou em vigor somente em 1996.

Dentre os estudos analisados, 55 (65,5%) apresentam características da amostra


estudada, e 29 (34,5%) não apresentam nenhuma característica.

Somando-se as amostras dos 84 estudos, obtivemos o total de 2084 sujeitos que foram
selecionados pelos enfermeiros pesquisadores. Porém nem sempre os estudos
especificam a estratégia utilizada para a seleção da amostra, o que deixa dúvidas se ela é
representativa da população que se pretendeu investigar.

Outro resultado obtido é que 77 (91,7%) dos relatórios de pesquisa apresentam com
clareza o problema do estudo, permitindo o entendimento do leitor, e 7 (8,3%) não
apresentam o problema do estudo.
No Brasil, como não há o estabelecimento de prioridades de pesquisa na enfermagem em
geral e na oncológica, como ocorre em outros países, apreendemos que os problemas de
pesquisa descritos estão relacionados ao interesse particular de cada pesquisador.

Em todos os estudos que apresentaram o problema a ser investigado, não encontramos


discordância entre o tipo de objeto e o método selecionado.

Destacamos que 39,3% dos artigos apresentaram um quadro teórico para fundamentar o
objeto de pesquisa; no entanto, poucos deles apresentaram com clareza os conceitos da
teoria selecionada para análise e interpretação dos resultados. Os quadros teóricos foram
variados, extraídos da bibliografia nacional e internacional, com destaque para o
referencial da fenomenologia.

Salientamos que, em algumas situações, a teoria descrita não apresentou relação com os
resultados encontrados. Também apreendemos que a forma como a teoria foi
apresentada dificulta o entendimento do leitor, devido ao uso de termos e expressões
específicas, que podem não ser de seu conhecimento, dificultando a sua interpretação dos
resultados.

Entre os artigos, 82 (97,6%) apresentam revisão da literatura para embasar o problema e


as demais etapas do processo de pesquisa; 75 (89,3%) apresentam considerações finais
ou conclusões, e apenas 55 (65,5%) responderam adequadamente aos objetivos
propostos.

Em relação à temática dos artigos, 36,9% focalizaram ações da assistência de


enfermagem (processo de enfermagem, planos de assistência, analgesia da dor), da
prevenção do câncer e o relacionamento da equipe de enfermagem que trabalha com o
paciente oncológico. Complementando, 38 (45,2%) dos artigos focalizaram diferentes tipos
de câncer, 15 (17,9%), o câncer de mama, 12 (14,3%), o câncer de útero e 12 (14,3%), o
câncer infantil.

Segundo publicações estrangeiras, várias são as áreas que necessitam ser investigadas,
devido à falta de conhecimento sobre a experiência do câncer, entre grupos sociais, e da
efetividade das ações de enfermagem, tal como: sintomas do câncer e efeitos colaterais
das terapêuticas, aspectos psicossociais e comportamentais, efeitos tardios das
terapêuticas, e outras, com diferentes delineamentos metodológicos.
Por fim, identificamos que 60 (71,4%) dos artigos apresentam recomendações para a
realização de pesquisas futuras, como complementação dos resultados encontrados; e 24
(28,6%) não fazem nenhum tipo de recomendação.

Com base nos resultados, alguns autores fazem recomendações específicas para a
mudança da prática clínica, mas não apresentaram com clareza o método utilizado, a
população estudada, a representatividade da amostra selecionada, tempo de coleta de
dados, a relação dos resultados com o referencial de escolha, justificativa da escolha do
método para alcance dos objetivos e, até mesmo, o preparo dos pesquisadores para o
desenvolvimento do estudo, fatores que determinam o rigor de um estudo científico.

Por essas interpretações, consideramos que apenas alguns dos artigos apresentaram
coerência entre os objetivos propostos e o quadro teóricometodológico utilizado.

Assim, os artigos nacionais derivados de pesquisas, analisados nessa revisão, focalizando


as diferentes dimensões da atuação do enfermeiro oncológico, apresentam vários pontos
críticos, relacionados: ao referencial teórico utilizado, aos objetivos, à metodologia, aos
aspectos éticos, à análise e discussão dos dados, aos resultados, às considerações finais
e à redação. Essas críticas não são específicas às publicações da enfermagem
oncológica, no Brasil, mas, às publicações da enfermagem em geral.

No entanto, como pontos positivos dos estudos realizados, destacamos: aspectos gerais e
específicos para o plano de cuidados; compreensão da experiência do câncer entre
pacientes, familiares e equipe de enfermagem, fornecendo dimensões ou variáveis para a
construção de instrumentos, por exemplo, de avaliação da qualidade de vida e do cuidado;
reflexões críticas sobre o cuidado, destacando a questão da interdisciplinaridade e
integralidade; além de propostas para o desenvolvimento de pesquisas futuras.

Compreendemos que a pesquisa nacional em enfermagem oncológica ainda está em


construção, porém é necessário que as publicações em forma de artigo recebam mais
atenção dos autores, editores, analistas e veículos de publicação, para que o rigor
evidencie a melhoria da qualidade das publicações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela caracterização das publicações analisadas, consideramos que os artigos científicos


dos enfermeiros brasileiros, na área da oncologia, embora tenham crescido
numericamente nos últimos anos, demonstram que a pesquisa ainda não está
consolidada, devido a lacunas na produção do conhecimento. Frente a esse fato,
sugerimos que:

- Os enfermeiros pesquisadores identifiquem as prioridades de pesquisa em enfermagem


oncológica no país, para a construção do conhecimento em áreas carentes de
embasamento científico e para evitar o desenvolvimento de estudos isolados, que trazem
pouca contribuição para a profissão;

- Os enfermeiros pesquisadores refinem as estratégias de síntese dos resultados de


pesquisa, para favorecer a implantação das evidências científicas, com a integração de
resultados de estudos que utilizaram a metodologia qualitativa e/ou quantitativa;

Os pesquisadores incluam, nos relatórios elaborados para publicação, informações


suficientes para garantir a apreensão do leitor em relação ao problema de pesquisa, ao
método e suas etapas e, principalmente, à análise dos resultados, de modo coerente com
o referencial teórico, o que demonstraria o rigor do estudo.

Essas questões são importantes para que a pesquisa na enfermagem oncológica


brasileira cumpra a sua finalidade de fornecer a base de conhecimentos, os quais poderão
promover a efetividade dos cuidados.
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