A Criança de Seis Anos
A Criança de Seis Anos
A Criança de Seis Anos
Adriana Klisys1
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Coordenadora da Caleidoscópio Brincadeira e Arte - www.caleido.com.br
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Quantos cantos?
Uma média de cinco a seis crianças por proposta é um bom número, sendo assim
uma sala de 30 crianças poderá ter de cinco a seis cantos com propostas diferentes. Este
número é uma sugestão, cada professor deve decidir na situação qual é o melhor número.
Num canto com apenas um jogo para quatro jogadores, já está dado o limite de crianças
na área. Se o canto da massinha, por sua vez, é muito procurado, deve-se propor uma
mesa grande com espaço para 8 a 10 crianças durante um determinado período.
Observar constantemente o interesse das crianças é necessário para replanejar
propostas e não cair numa rotina acomodada sem desafios.
Em algumas escolas, uma vez por semana, são feitos um ou dois grandes cantos em
cada sala. Por exemplo: um canto bem montado de supermercado, com embalagens,
sacolas plásticas, caixas de papelão que servem como carrinhos de supermercado,
caixas registradoras e leitores ópticos improvisados com sucatas. Os professores deixam
as crianças circularem entre as salas, havendo integração entre as crianças de diferentes
idades. Neste caso, por serem amplos, os cantos contemplam um maior número de
crianças. Nos outros dias da semana, as ambientações ocorrem nas próprias salas, sem
integração com os demais grupos de diferentes idades. O CEI da Mina experimentou esta
forma de organização e avalia o aprendizado nestas situações como muito positivo e
instigante.
De olho no relógio
O tempo de permanência das crianças nos cantos está ligado à grade de horários
da escola. Afinal, os pequenos precisam experimentar diferentes propostas: momentos
mais coletivos, individuais, em pequenos grupos, em duplas. Deve ser um tempo que
permita a exploração e dedicação em algumas atividades, na medida certa do interesse
da criança. É sempre bom terminar uma atividade com gosto de “quero mais” para o dia
seguinte.
Ter uma constância de propostas que vão sendo incrementadas ao longo dos dias
ajuda as crianças a aprenderem a aprofundar seus conhecimentos, tanto no que diz
respeito à natureza lúdica das propostas, quanto à natureza de conhecimento que os
objetos e as interações proporcionam.
Em algumas instituições educativas, professores acham que podem substituir um
espaço diário desta proposta por um único dia da semana inteiro com cantos ou ainda
utilizando mais tempo em apenas dois dias da semana. É melhor a constância da
proposta e em menor tempo, mesmo porque há tantas outras atividades necessárias no
dia a dia. Vale intercalar momentos nos quais a condução da sala é realizada pelo
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Saídas criativas
Mais do que material, são necessárias propostas e idéias para compor os cantos. A
educadora Maria do Socorro Feitosa, do CEI da Mina, por exemplo, nos ensina o que
podemos fazer com caixas de papelão. (ver box na pág. 38)
Quem vê hoje os cantos convidativos desta instituição não pode imaginar como era
antes. A diretora e a coordenadora do CEI da Mina assumem que consideravam não ter
condições financeiras para oferecer às crianças propostas instigantes nos cantos. Hoje,
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O RCNEI é um documento que se constitui a partir das concepções de criança, infância e educação, e oferece
diretrizes curriculares a todos que atuam na área de Educação Infantil. Volumes disponíveis no site: www.mec.gov.br
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O Copolímero de Etileno-Acetato de Vinila (EVA) é comercializado em formato de placas macias e sem cheiro e não
é um material tóxico. Por ser material leve e de fácil manuseio vem sendo utilizado na fabricação de brinquedos,
artesanatos variados e também na indústria de calçados.
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Rosangela e Ana riem desta observação ao verem quanto estão modificando os espaços
das salas. Lembram de quando tiveram formação com a equipe do Instituto Avisa Lá e
assistiram ao vídeo “Prá que Canto eu Vou?”4, que trazia ricas situações de atividades
organizados com diferentes materiais. Comentaram que achavam que a creche do filme
devia ser muito rica, mas quando souberam que a instituição passava também por
dificuldades, se animaram. Novas saídas foram encontradas: idas a sebos para adquirir
livros mais em conta, campanhas para arrecadação de material, oficina de construção de
brinquedos e jogos e, sobretudo, contar com uma formação continuada dos educadores
que apóia soluções criativas para ampliar as possibilidades de trabalho com as crianças.
Educador atuante
Aprender a gerir o espaço, saber cuidar dos materiais de uso coletivo é um desafio
para as crianças. No início, é o adulto que dá o norte para esta organização, mas deve
incluir gradativamente as crianças neste aprendizado. Nesse sentido, rodas de conversa
prévias e posteriores à organização dos cantos ajudam as crianças a irem construindo
autonomia no uso do espaço coletivo.
Observar e registrar estes momentos de cantos diversificados, bem como construir
portfolios com as diferentes propostas que dão certo no dia-a-dia educativo ajudam a
construir um olhar mais apurado para as necessidades das crianças.
O professor precisa tomar cuidado para não escolarizar as propostas na
configuração do ambiente. Lembrar que a disposição das carteiras, por exemplo, deve ser
mudada: arrastadas, empilhadas, mesas cobertas com tecidos viram cabanas ou
divisórias de ambientes e assim por diante. Numa casinha de faz-de-conta, uma simples
toalha em cima da mesa já tira o ar de carteira escolar. E por que não usar mais o chão:
pistas de carrinhos, construção, esteiras ou almofadas para leitura? Sobretudo deve-se
olhar para que direção vai a brincadeira das crianças e o interesse nas atividades,
fazendo-as participar, sabendo incluí-las cada vez mais na organização do ambiente, o
que compreende, é claro, montar e desmontar os cantos. Todos ajudam nesta tarefa!
Uma forma de intervenção educativa é pensar na modificação do ambiente,
concebendo-o como parte integrante do currículo, sempre com informações culturais.
Quando se oferecem trenas e fita métricas num canto de faz-de-conta de marcenaria,
cria-se um contexto interessante para as crianças poderem usar estes instrumentos que
foram inventados para a medição.
Também vale introduzir novos cantos e incrementar ainda mais os já existentes,
pois certamente a procura pela novidade será intensa, causando disputas. Assim, se um
professor leva pela primeira vez uma casinha de bonecas de papelão com cinco bonecas
tipo manequim, é evidente que terá uma grande procura por este espaço. Sabendo disso
de antemão, pode propor atividades que sejam instigantes: quem sabe numa das mesas
deixar massinha com novos apetrechos, propor no canto Faça Você Mesmo a construção
de mobília para a casinha de bonecas, usando para isso tocos de madeira, cola, tecido,
revistas sugerindo a decoração da mobília ou fazer nova casa de bonecas. De qualquer
forma, quando acontece uma “superlotação” num dos cantos é preciso fazer combinados
e ver uma forma de rodízio das crianças. Se há um jogo novo que todos querem jogar,
quem sabe estipular uma partida por grupo? Nada que uma boa conversa não resolva.
Outra dica importante é a delimitação dos espaços para que os materiais não fiquem
dispersos ou espalhados. No CEI da Mina, por exemplo, há caixas para as crianças
guardarem os materiais. Um simples pano no chão para colocar os livros permite o
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Vídeo produzido por Instituto Avisa lá/ IBM – Adriana Klisys e Elza Corsi.
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Mil cantos
Canto Faça Você Mesmo: aqui o que está em jogo é a construção dos
brinquedos: fazer teatro de sombra e personagens para brincar, confeccionar pipa,
fazer massinha caseira, boneca de papel, iô-iô, aviãozinho, inventar novas formas
de brincar de cama-de-gato etc.
Livros
A Criança em ação, Mary Hohmann, Bernard Banet, David P. Weikart. Fundação
Calouste Gulbenkian. Tel.: (21) 2221-6213
“A Instituição e o Projeto Educativo” in Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil: Movimento. MEC, 1998. Arquivos disponíveis no site:
www.mec.gov.br.
“Espaços Educacionais e de Envolvimento Pessoal”, in As Cem Linguagens da
Criança. Carolyn Edwards, Lella Gandini, George Forman. Ed. Artmed. Tel.: 0800-
703-3444.
“Organização do Espaço em Instituições Pré-Escolares” in Educação Infantil:
Muitos Olhares – org. Zilma Morais R. de Oliveira. Ed. Cortez. Tel.: (11) 3864-0111
“Organização dos Espaços na Educação Infantil” – cap. 11, Lina Iglesias Forneira
in Qualidade em Educação Infantil - Zabalza, Ed. Artmed. Tel.: 0800-703-3444.
“Os tantos visuais que cabem no espaço da sala de aula”. In: Quem educa quem?,
Fanny Abramovich. Ed. Summus.Tel.: (11) 3872-3322
300 Propostas de Artes Visuais, Ana Tatit e Maria Silvia Machado. Edições Loyola.
Tel.: (11) 3242-0449
Ficha Técnica: