A Umbanda Vista Do Altar (1940 A 1953)
A Umbanda Vista Do Altar (1940 A 1953)
A Umbanda Vista Do Altar (1940 A 1953)
Resumo
O objetivo deste artigo é fazer uma reflexão sobre a religião umbandista na cidade
de Juiz de Fora, no período de 1940 a 1953, sob a perspectiva da Igreja Católica.
Para isso tomamos como fonte o jornal oficial da diocese, O Lampadário. Cabe
ressaltar que a palavra umbanda nem sempre foi utilizada pela Igreja, outras
categorias são tomadas para se referir a essa religião, e isso também será objeto
de nossa reflexão. Mostraremos ainda todo o contexto dos anos 40 aos anos 50
que influenciaram direta ou indiretamente a realidade dos cultos mediúnicos no
Brasil bem como o ambiente vivido pela Igreja Católica nesse período. É
importante ainda frisar que este trabalho é fruto do andamento da pesquisa de
nossa dissertação de mestrado e por isso traz conclusões apenas parciais.
Palavras-chave: Umbanda, Igreja Católica, Cultos Mediúnicos, Religiões Afro-
brasileiras.
Abstract
The goal of this article is to reflect about the Umbanda religion in the city of Juiz de
Fora in the period of 1940 to1953 as seen through the lenses of the Roman
Catholic Church. The primary source of this research was the official paper of this
church body in Juiz de Fora, O Lampadario. It is important to say that the word
“Umbanda” has not always been used by the church herself. Other terms are also
used to refer to this religion, and this is a topic for our reflection, too. Additionally,
1
Este artigo foi escrito como trabalho de aproveitamento da disciplina História e Religião,
ministrada pela professora Patrícia Santos Sherman, no Programa de Pós Graduação em Ciência
da Religião (PPCIR), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), no segundo semestre de
2005.
∗
Graduada em História (UFJF); Especialista e Mestranda em Ciência da Religião pelo PPCIR –
UFJF.
Introdução
Este artigo está inserido no contexto de uma pesquisa maior, que visa
compreender a perspectiva católica e kardecista sobre a umbanda em Juiz de
Fora, no período de 1940 a 1965.
Neste trabalho faço uma reflexão sobre a religião umbandista na
perspectiva de um lado da Igreja Católica apenas. Utilizo como fonte o jornal O
Lampadário, órgão oficial da diocese juizforana, somente até o ano de 1953, pois
apesar de toda a pesquisa documental já ter sido realizada, só foi possível
sistematizar as fontes até esse ano.
Este artigo está dividido em duas partes. Na primeira busco contextualizar
historicamente o período; mostro o que se passava de mais relevante no âmbito
da Igreja Católica bem como os acontecimentos que influenciaram direta ou
indiretamente na realidade das religiões mediúnicas a partir da década de 40. E,
na segunda parte, me detenho à análise das fontes católicas levantadas até
então, com o intuito de compreender como a umbanda era vista e como essa
religião foi construída dentro do discurso católico.
1. Contextualização Histórica
6
Emerson GIUMBELLI, O “Baixo Espiritismo” e a história dos cultos mediúnicos, p.247-281.
7
Idem, ibidem, p.273.
8
Idem, ibidem. p.273.
9
Emerson GIUMBELLI, op.cit., p.274.
10
Iyvonne MAGGIE, op.cit., p.182, 185.
11
Idem, ibidem, p.73.
12
Idem, ibidem, p. 218 e 219.
13
Marina BANDEIRA. A Igreja Católica na virada da questão social (1930-1964): anotações para
uma história da Igreja no Brasil: ensaio de interpretação, p.14.
14
Idem, ibidem, p.19 e 20.
15
Idem, ibidem, p.53.
16
BANDEIRA, op.cit., p.213, 214.
17
Idem, ibidem, p.168,169.
18
BANDEIRA, op.cit, p.181-183.
19
Idem, ibidem, p.397.
20
Idem, ibidem, p.209.
21
Idem, ibidem, p.214 e 215.
22
Idem, ibidem, p.220 e 221.
23
BANDEIRA, op.cit., p.221.
24
Idem, ibidem, p.223 e 224.
25
Idem, ibidem, p.224.
26
Venho trabalhando sobre o tema desde meados da graduação, por volta do ano de 2001, e no
final da mesma escrevi um artigo sobre o baixo espiritismo na década de 40, também com base
em O Lampadário, mas sobre outra perspectiva. Tratou-se de um trabalho bem superficial feito
como aproveitamento de uma das disciplinas cursadas.
27
Fátima Regina Gomes TAVARES & Maria da Graça FLORIANO, Do canjerê ao candomblé:
notas sobre a tradição afro-brasileira em Juiz de Fora, p. 165-177.
28
TAVARES & FLORIANO, op.cit., p.167-171.
29
Ver Jornal do Commércio, 15, 17, 20, 21, 22, 23 de fevereiro de1906.
30
O Lampadário, nº 724, 10 de março de 1940.
Essa nota pode mostrar com clareza a ligação feita entre religiões
mediúnicas e tragédias, loucura, desequilíbrios, mortes e etc. Essa associação já
vinha sendo feita por outros setores da sociedade desde a virada do século.
Como demonstrativo dessa situação, temos o Código Penal de 1890, e
posteriormente, o de 1940. Como já foi dito na primeira parte de nosso trabalho,
desde a Proclamação da República há preocupação das autoridades em regular a
crença na feitiçaria no Brasil, afinal um dos frutos dessa crença, segundo
autoridades legais e médicas, era a loucura e os desequilíbrios mentais32.
31
O Lampadário, 24 de agosto de 1940.
32
MAGGIE, op.cit.,1992.
Remédios Espíritas
(...) Tomar remédio do espiritismo é pecado e expressamente
proibido pela Igreja, que como mãe caridosa, tem a obrigação de
zelar pela alma de seus filhos. Os curandeiros espíritas são
agentes do demônio para perder almas. Por meio de remédios e
dessa caridade hipócrita fazem propaganda da maior praga da
33
humanidade: o espiritismo. (...)
33
O Lampadário, 15 de março de 1941.
34
Sobre a questão da cura na umbanda ver Paula MONTERO. Da doença a desordem: a magia
na Umbanda, 1985.
35
MAGGIE, op.cit.,1992.
36
O Lampadário, 31 de maio de 1941, p.2.
Brasil ou Cafraria?
37
O Lampadário, 31 de maio de 1941, p.2.
38
Dentre eles podemos citar: Artur Ramos, Edison Carneiro, Ruth Landes e etc.
Nesse fragmento do artigo pode-se mais uma vez confirmar que a Igreja
Católica não fazia distinções no campo das religiões mediúnicas, pois
independente do nome que se dê, o significado é o mesmo no entender do autor
do texto: “o comércio com as almas dos mortos ou com espíritos, de qualquer
casta”. Para dar maior credibilidade ao seu texto, o autor recorreu ao Livro
39
O Lampadário, 28 de fevereiro de 1942,p.2
40
Emerson GIUMBELLI. Zélio de Moraes e as origens da umbanda no Rio de Janeiro, p.195.
41
O Lampadário, 12 de fevereiro de 1953.
Por meio desse texto pode-se notar que o desejo de Kloppenburg era
alertar aos cristãos católicos da falsidade que havia, segundo ele, por de traz do
tríplice aspecto do espiritismo: “religioso, filosófico e científico”. No entanto, em
outras fontes mostradas aqui, também se pode verificar esse alerta, entretanto, a
diferença desse texto para os outros anteriores está na inclusão da umbanda.
Novamente o autor utiliza uma fonte “de dentro” – pois retirou do Diário Oficial
anúncios redigidos pelos próprios centros - para, a partir dessas, tecer sua crítica.
42
O Lampadário, 12 de março de 1953, p.4
43
Essas observações participantes se deram a partir de 2001.
44
O Lampadário, 15 de janeiro de 1953, p. 4.
45
Boaventura KLOPPENBURG, Ensaio de uma nova posição pastoral perante a Umbanda, p.
404-417.
46
Aline COUTROT, Religião e Política, p.348.
47
Idem, ibidem, p.349.
48
MAGGIE, op.cit.,1992.
49
Entre eles, destaco: Lísias Nogueira NEGRÃO, Entre a cruz e a encruzilhada: formação do
campo umbandista em São Paulo.
50
TAVARES & FLORIANO, op.cit.,2003.
51
Utilizamos essa expressão com base na obra de Pierre, BOURDIEU, A Economia das trocas
simbólicas.
52
Não se encontra na cidade, até o presente momento, nenhum periódico ou qualquer tipo de
publicação umbandista sistematizada, nem atual e nem durante o período trabalhado neste artigo.
Em trabalhos de campo realizados a partir de 2001, tive notícia de uma publicação, de iniciativa de
um terreiro específico, mas que não possuía nenhuma sistematização, tanto que não foi possível
ver nenhum exemplar. Vale ressaltar que não se trata de uma grande publicação e sim de
pequeno jornal, na verdade, um pequeno informativo de uma folha frente e verso apenas. Ou seja,
não se encontra em Juiz de Fora uma publicação que represente todo o movimento umbandista
ou pelo menos parte dele, inclusive porque até a própria federação umbandista local encontra-se
desativada.
53
Maria da Graça FLORIANO, As reuniões de dona Xzinha: trânsito religioso e espaço secreto,
entre modernidade e tradição.
54
Simone Geralda OLIVEIRA, A “fé raciocinada” na “Atenas de Minas”: gênese e consolidação do
espiritismo em Juiz de Fora e algumas repercussões para contemporaneidade.
55
O jornal espírita O Médium é fundado na década de 30. Havia ainda outros jornais espíritas em
circulação na cidade, como, por exemplo, O Semeador.
Referências Bibliográficas
Fontes Impressas
a) Arquivos
Biblioteca Municipal Murilo Mendes – Setor de Memória
Centro de Memória da Igreja de Juiz de Fora – Seminário Arquidiocesano
Santo Antônio
b) Jornais
56
É importante observar que apesar da Igreja utilizar como uma das categorias acusatórias a
palavra “candomblés”, tudo indica que o Candomblé só chegou a cidade na década de 80. Para
maiores informações ver TAVARES & FLORIANO, op.cit., 2003.
57
É importante ressaltar que os números da década de 40 que estão faltosos é pelo fato de não
estarem no Centro de Memória da Igreja. Alguns deles se encontram na Cúria, e agora já foram
averiguados, entretanto, na época em que foi escrito esse artigo, a consulta a esses anos não foi
possível, pois esse arquivo encontrava-se fechado.
MAGGIE, Yvonne. Medo do feitiço: relações entre magia e poder no Brasil. Rio de
Janeiro: Arquivo Nacional, 1992.