Lingua Portuguesa Mod02 Vol02
Lingua Portuguesa Mod02 Vol02
Lingua Portuguesa Mod02 Vol02
PORTUGUESA
e
LITERATURA
Professor
Governador Vice-Governador
Sergio Cabral Luiz Fernando de Souza Pezão
Secretário de Estado
Gustavo Reis Ferreira
FUNDAÇÃO CECIERJ
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
A Linguagem na
Propaganda
do
Giselle Maria Sarti Leal Muniz Alves, Ivone da Silva Rebello, Jane Cleide Sousa
M aterial
Introdução
Olá, professor(a)!
Por fim, de um modo mais amplo, portanto, podemos afirmar que, no gê-
nero discursivo focado nesta unidade, a coerência mais uma vez se constrói pela
articulação de imagens, da escrita e do contexto social em que os textos se in-
serem, voltando a exigir do leitor, portanto, habilidades variadas para acionar e
articular, ao mesmo tempo, conhecimentos linguísticos e de mundo.
Objetivos da unidade
Páginas no material
Seções
do aluno
6
Recursos e ideias para o Professor
Tipos de Atividades
Para dar suporte às aulas, seguem os recursos, ferramentas e ideias no Material do Professor, correspondentes
à Unidade acima:
Ferramentas
Atividades que precisam de ferramentas disponíveis para os alunos.
Avaliação
Questões ou propostas de avaliação conforme orientação.
Exercícios
Proposições de exercícios complementares
Recurso
Análise de anúncios publi-
multimídia
citários para depreender Diálogo didáti-
Identidades na (datashow)
visões de mundo e identi- co com toda a 50 minutos.
propaganda para projetar
dades da mulher ao longo turma.
os anúncios
dos anos.
publicitários.
8
Páginas no material do aluno
Seção 3 – A campanha publicitária
139 a 140
10
Atividade Inicial
Aspectos operacionais
Distribua o texto e leia-o com os alunos. Esclareça as dúvidas de vocabulário. Peça que resolvam as questões.
Corrija-as.
Aspectos pedagógicos
Seria interessante iniciar a atividade por um diálogo didático. Nesse diálogo, procure saber se os alunos estão
familiarizados com o termo “propaganda” e suas diferentes aplicações, como a propaganda política, a propaganda
de conscientização, a propaganda comercial. Esclareça que o texto que lerão trata especialmente da propaganda
comercial, também chamada de “publicidade”. Estabeleça a relação entre a palavra “publicidade” e a palavra “público”,
bem como entre estas e a palavra “publicitário(a)”. É interessante, também, ler as questões com os alunos e esclarecer
possíveis dúvidas, checando seu entendimento acerca do que é pedido.
Linguagem publicitária
A Mensagem
Ao contrário do panorama caótico do mundo apresentado nos noticiários dos jornais, a mensagem pu-
blicitária cria e exibe um mundo perfeito e ideal (...) – sem guerras, fome, deterioração ou subdesenvolvimento.
Tudo são luzes, calor e encanto, numa beleza perfeita e não perecível.
Essa mensagem, contudo, não se limita ao mundo dos sonhos. Ela concilia o princípio do prazer com o da
realidade, quando, normativa, indica o que deve ser usado ou comprado, destacando a linguagem da marca, o
ícone do objeto (cf. Quesnel, 194, p. 86). [...]
O que cabe à mensagem publicitária, na verdade, é tornar familiar o produto que está vendendo, ou seja,
aumentar sua banalidade, e ao mesmo tempo valorizá-lo com uma certa dose de “diferenciação”, a fim de destacá-
lo da vala comum. Acima de tudo, publicidade é discurso, linguagem e, portanto, manipula símbolos para fazer a
mediação entre objetos e pessoas, utilizando-se mais da linguagem do mercado que a dos objetos. [...]
Possuir objetos passa a ser sinônimo de alcançar a felicidade: os artefatos e produtos proporcionam a sal-
vação do homem, representam bem-estar e êxito.
(CARVALHO, Nely de. Publicidade: a linguagem da sedução. 3º ed. São Paulo: Ática, 2007.)
Questão 1
O título de um texto nos aponta caminhos para a interpretação, podendo funcionar como uma síntese (resu-
mo) das ideias a serem apresentadas nos parágrafos. Assim, considerando apenas o título do texto acima, podemos
imaginar que seu objetivo é:
Questão 2
12
(a) A publicidade é contrária às novas tecnologias.
Questão 3
Questão 4
Releia este trecho do penúltimo parágrafo: “O que cabe à mensagem publicitária, na verdade, é tornar familiar
o produto que está vendendo, ou seja, aumentar sua banalidade, e ao mesmo tempo valorizá-lo com uma certa dose
de “diferenciação”, a fim de destacá-lo da vala comum.”
( ) A mensagem publicitária faz com que o produto vendido se torne conhecido do público.
( ) A mensagem publicitária faz com que o produto vendido seja necessário ao dia-a-dia do seu público.
( ) A mensagem publicitária apresenta o produto como o melhor entre outros do mesmo tipo.
Questão 5
O último parágrafo do texto demonstra que a mensagem publicitária, a fim de vender o produto que anuncia,
desperta sentimentos no leitor. Assim, compramos levando em conta não apenas o produto concreto, mas algo abs-
trato que ele nos promete ou sugere proporcionar.
A partir dessa afirmação, analise o anúncio ao lado e depois responda aos itens (a), (b) e (c):
a. Que vantagens concretas são oferecidas a quem comprar a linha de finalizadores Ravor Crystal Collec-
tion?
c. Sabemos que a mensagem publicitária não é construída apenas com palavras. Outros elementos, não
verbais, também estão presentes. Que elementos são esses?
Respostas comentadas
Questão 1
A alternativa que explicita a finalidade do texto, a partir da análise do título é a (c) – “demonstrar as características
da linguagem utilizada na publicidade.” Todas as outras alternativas não têm nenhuma relação com o conteúdo do texto,
embora alguns alunos possam, pela análise somente do título, pensar na alternativa (d) como a correta, por tratar da
linguagem da publicidade. Entretanto, você deve esclarecer a eles que, de modo geral, o título resume as informações
14
do texto, de um modo mais amplo. Na alternativa (d) é dito que o objetivo do texto seria “comprovar que a publicidade
utiliza uma linguagem difícil”. Afirmar isso sem ter lido o texto seria inadequado, pois o título não caracteriza a lingua-
gem, mas apenas anuncia que vai tratar da linguagem da publicidade. Por fim, as alternativas (a) e (b) apontam funções
de enunciados predominantemente apelativos – o que não corresponde ao gênero do texto em análise.
Questão 2
A resposta correta é a alternativa (b) – “A publicidade é aliada das novas tecnologias”. A expressão “o braço
direito” é bastante comum e expressa a ideia de cumplicidade. As alternativas (a) e (d) afirmam exatamente o oposto
dessa ideia, como se a mensagem publicitária não estivesse a serviço das novas tecnologias. Já em (c), a existência
das novas tecnologias está condicionada à existência da mensagem publicitária, o que vai de encontro à lógica de
produção dessa mensagem, que é justamente criada para vender as novas tecnologias.
Questão 3
A resposta correta é o item (c) – “A mensagem publicitária é limitada apenas ao mundo dos sonhos”. No terceiro
parágrafo, é dito que a mensagem publicitária concilia sonho e realidade, não estando, assim, restrita ao mundo dos
sonhos. Envolve o mundo dos sonhos, mas não se limita a ele. Todas as outras alternativas apresentam um traço da
mensagem da publicidade: (a) a renovação; (b) a perfeição; e (d) a valorização do produto.
Questão 4
(V) A mensagem publicitária faz com que o produto vendido se torne conhecido do público.
(V) A mensagem publicitária faz com que o produto vendido seja necessário ao dia-a-dia do seu público.
(F) A mensagem publicitária não procura esconder as características negativas do produto vendido.
(V) A mensagem publicitária apresenta o produto como o melhor entre outros do mesmo tipo.
Os únicos itens falsos são (d) e (f). Em (d), temos que a mensagem publicitária não procura esconder as característi-
cas negativas do produto vendido. Se se pensar que a mensagem publicitária tem por função, como é afirmado no trecho
destacado, valorizar e diferenciar o produto, então se pode pressupor que os traços negativos desse produto serão esca-
moteados. Já em (f), é dito que a mensagem publicitária usa o discurso dos objetos, mas o texto afirma que, na verdade, ela
utiliza o discurso do mercado, transformando os objetos em símbolos da modernidade, do status e do bem-estar. Pode ser
que os alunos tenham certa dificuldade em reconhecer este item como falso, mas você pode esclarecer e dar exemplos de
anúncios veiculados na TV, como, por exemplo, as propagandas do Polishop, que supervalorizam os produtos anunciados.
a. As vantagens concretas estão relacionadas aos resultados que os produtos capilares proporcionarão a
quem usá-los: “cabelos com modelagem natural, proteção térmica, brilho tridimensional, mais leves, soltos,
sem aspecto pesado ou oleoso”.
b. Além das vantagens concretas, é oferecido, também, ao consumidor, um resultado abstrato, que será sen-
tido, percebido pelas outras pessoas: o brilho. Isso é comprovado com duas passagens presentes no anún-
cio: “E pensar que esse brilho todo começou com seus cabelos.” e “Você e seus cabelos nasceram para brilhar.”
c. Espera-se que, a partir de seus esclarecimentos, os alunos identifiquem, como elementos não verbais, as
cores, as imagens, o cenário, a fisionomia da “personagem” retratada, que é uma idealização do público
alvo do anúncio, o tamanho e a disposição das letras, bem como a disposição das imagens. Por exemplo,
o fato de a mulher estar posicionada ao centro do anúncio, com refletores acima dela, corrobora a ideia
do brilho proporcionado pelo produto, colocando-a no centro das atenções.
Recurso
Análise de anúncios publi-
multimídia
citários para depreender Diálogo didáti-
Identidades na (datashow)
visões de mundo e identida- co com toda a 50 minutos.
propaganda para projetar
des da mulher ao longo dos turma.
os anúncios
anos.
publicitários.
Aspectos operacionais
Projete os anúncios. Sugira as questões para análise, orientando o debate. Peça que os alunos apresentem suas
conclusões.
16
Aspectos pedagógicos
Seria interessante construir, com os alunos, o conceito de “ethos discursivo”, explicando que sempre que al-
guém faz uso da palavra (o enunciador), tem em mente um destinatário para a sua mensagem. Essa imagem que o
enunciador cria do destinatário pode ou não coincidir com o destinatário real, o receptor da mensagem. Da mesma
forma, ao produzir um enunciado, o enunciador pode transmitir uma imagem sua que talvez não coincida com a
realidade. Isso pode ser percebido claramente em anúncios publicitários. Esclareça, então, que esta atividade está re-
lacionada à captação dessas imagens por meio da mensagem publicitária. Ressalte que tais imagens podem reforçar
ou modificar identidades e papéis sociais de determinadas pessoas, como, por exemplo, a mulher.
Atividade
Observem os três anúncios a seguir, todos direcionados às mulheres, e depois procurem refletir sobre
as questões propostas.
Anúncio 1
18
Anúncio 3
Questão 1
Observe as datas de publicação de cada anúncio (entre parênteses, nas referências) e identifique:
Questão 2
a. Que ideia é usada, no anúncio 1, para convencer a leitora a comprar o produto – a cera poliflor?
b. Que ideia é usada, no anúncio 2, para convencer a leitora a comprar o produto – a palha de aço Bombril?
c. Que ideia é usada, no anúncio 3, para convencer a leitora a comprar o produto – macarrão semipronto Nestlé?
Questão 4
a. Conclua: Tendo em vista que a publicidade acompanha as mudanças na sociedade ao longo dos tem-
pos, e a partir dos argumentos usados para convencer as leitoras, a imagem da mulher retratada em
cada anúncio é a mesma? Justifique.
b. Tendo em vista o papel da mulher na sociedade, desde tempos mais antigos, até os dias atuais, por que
as propagandas mostradas são voltadas exclusivamente para elas e não para os homens?
Respostas comentadas
Questão 1
Para responder aos 3 itens desta questão, basta que os alunos olhem para a referência dos anúncios, cujos anos
estão em ordem crescente. Ela tem por objetivo chamar a atenção deles para a sequência cronológica dos textos e
prepara-los para as perguntas seguintes, que abordarão as diferenças entre eles. Logo:
Questão 2
a. No primeiro anúncio, a cena retratada é uma sala de estar, onde duas mulheres estão lanchando senta-
das ao sofá com uma mesa cheia de quitutes à frente delas. Cumpre ressaltar o ângulo da imagem, vista
de cima, de modo que o assoalho fique em destaque, já que se trata de um anúncio de cera para chão.
b. No segundo anúncio, a cena retratada é uma mulher usando uma chaleira de alumínio para se maquilar, como
se fosse um espelho, de tão brilhoso que o utensílio está, devido ao uso do produto – a palha de aço Bombril.
c. No terceiro anúncio, a cena retratada é uma mulher sorridente, tomando vinho, com um pano de cozi-
nha ao ombro. Ao lado, há duas imagens: uma da embalagem do macarrão semipronto Nestlé e a outra
do mesmo macarrão já pronto para ser servido.
20
Questão 3
a. A ideia usada para convencer a leitora, no anúncio 1, é a de que seu assoalho receberá elogios das visi-
tas, e a de que ela terá o chão sempre encerado, pois a cera Poliflor é durável.
b. No anúncio 2, a ideia persuasiva é a de que, usando Bombril, a leitora fará suas tarefas domésticas mais
rápido e terá mais tempo para cuidar da própria aparência.
Questão 4
a. Espera-se que o aluno perceba que a imagem de mulher retratada em cada anúncio não é a mesma,
uma vez que a ênfase dada nos textos é diferente. No primeiro, a imagem é de uma mulher dona de
casa, preocupada com a limpeza e a beleza de sua casa, que se orgulha em receber elogios por uma casa
limpa e bem conservada; no segundo, a imagem é de uma mulher que quer tempo livre para cuidar de
si mesma, mas que, ao mesmo tempo, continua cuidando da limpeza da casa e quer tudo brilhando; no
terceiro, tem-se a imagem de uma mulher muito mais preocupada em dar conta de tudo, do que fazê-lo
com perfeição, uma mulher que trabalha muito e que não tem tempo para cozinhar.
b. Embora o papel da mulher na sociedade tenha mudado e esteja ainda em mudança, espera-se que os
alunos percebam que esses produtos interessam a ela porque, atribui-se a ela, de modo geral, a res-
ponsabilidade pelo cuidado da casa e preparo da comida. Seria possível, no entanto, considerar que
a propaganda está ficando desatualizada, e deveria rever seu público-alvo considerando também os
potenciais consumidores masculinos.
Aspectos pedagógicos
Seria interessante esclarecer aos alunos que, embora os gêneros textuais tenham características estáveis, há
textos em que se pode observar certo hibridismo, ou seja, a fusão entre gêneros. Na propaganda, há muitos exemplos
dessa intergenericidade, que acaba por funcionar como um dos muitos recursos usados na produção da mensagem
publicitária. Tais estratégias objetivam convencer o leitor, levando-o a mudar de atitude, seja pela compra de um pro-
duto – nas propagandas comerciais – seja pela adesão a alguma ideia – nas propagandas não comerciais. No caso da
propaganda apresentada nesta atividade, temos uma campanha promovida pelo Ministério da Saúde, contra o fumo;
logo, uma propaganda sem fins comerciais.
Atividade
22
Questão 1
Questão 2
Qual é a ideia transmitida pelo texto, que se deseja que o leitor adote?
Questão 3
Observe que, embora seja uma propaganda, há, no texto lido, a presença de um outro gênero textual.
b. Em que medida a presença desse gênero funciona como estratégia de convencimento no texto?
c. O fato de haver um outro gênero inserido na propaganda impede o reconhecimento do texto como
pertencente ao gênero propagandístico? Justifique.
Respostas comentadas
Questão 1
a. Os verbos são: “fume”, “faça” e “liberte-se”. Todos estão no modo Imperativo, o que caracteriza o texto
como um texto predominantemente injuntivo / apelativo.
b. Esses verbos são frequentemente usados nas propagandas porque produzem um efeito de comando,
de ordem, de pedido e de sugestão, um recurso bastante eficaz para o convencimento. O que se preten-
de é levar o leitor a aderir à ideia de não fumar, de libertar-se do vício. Pode-se, ainda, chamar a atenção
dos alunos para o fato de que é uma campanha lançada pelo Ministério da Saúde, um órgão responsá-
vel por estabelecer medidas de cuidado para com a saúde da população. Como tal, esta instituição tem
autoridade para fazer o pedido e, talvez, para dar a ordem de que não se fume.
Questão 2
A ideia transmitida e que se deseja aderida pelo leitor é a ideia de parar com o tabagismo.
a. O gênero que está inserido no texto da propaganda é o gênero tira ou tirinha, já estudado na unidade
anterior, sendo, portanto, conhecido pelos alunos.
b. A tirinha inserida no texto exemplifica uma situação em que alguém fez exatamente o que se pede na
propaganda: libertou-se do tabagismo. O personagem serve, então, de modelo a ser seguido pelo leitor,
reforçando, assim, a argumentação do texto, a ideia que se deseja que seja aderida pelo leitor.
c. Espera-se que os alunos respondam “não” a esta questão, uma vez que há outros elementos presentes
no texto que o caracterizam como propaganda: uma frase principal e de um texto complementar, o
diálogo com o leitor (coloquialismo), a escolha de palavras simples, a presença de frases curtas e de
imagens e, principalmente, a função de “vender” uma ideia.
Aspectos operacionais
Proponha a leitura e análise dos textos que estruturam cada questão, incitando os alunos a participar do debate.
Aspectos pedagógicos
Apresente aos alunos as diversas peças que compõem a campanha publicitária. Apresente os diferentes su-
portes utilizados, mas ressalte a unidade temática da campanha. Solicite que observem os argumentos e que iden-
tifiquem as estratégias utilizadas para disseminar a mensagem central da campanha e persuadir os interlocutores.
24
Atividade
A luta contra o câncer de mama é hoje uma luta mundial. Mas fazer as mulheres realizarem o autoexame, pos-
sibilitando a identificação precoce da doença, não era algo tão natural assim há 20 anos. Uma grande campanha para
divulgação da doença e conscientização da necessidade do diagnóstico precoce foi imprescindível para aumentar as
chances de cura de milhares de mulheres. Para saber um pouco mais sobre isso, responda às cinco questões que se
seguem, analisando diferentes peças publicitárias.
Questão 1
A concepção do símbolo da campanha reforça a mensagem que ela quer transmitir. Atento a isso, leia o texto
abaixo e explique, com suas palavras, uma possível relação entre a marca (símbolo) da campanha e seu tema.
Tudo começou nos EUA, em 1994. A ideia surgiu do estilista Ralph Lauren, que, ao acompanhar sua amiga, a jornalista Nina Hyde,
na luta contra o câncer de mama, teve um insight e resolveu usar a moda para falar com as mulheres sobre este assunto. Assim
nasceu o tão conhecido alvo azul.
A Campanha, que recebeu o nome de Fashion Targets Breast Cancer, nos EUA, foi adotada pelo Conselho dos Designers de Moda
da América (CFDA, do inglês), sendo difundida por todo aquele país. No ano seguinte, a marca chegou ao Brasil.
Nesse momento é que entra o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), que, por meio de uma parceria com o CFDA, foi
o responsável pela vinda da marca ao Brasil. O Brasil foi, então, o primeiro país a realizá-la fora dos EUA e onde ela fez ainda mais
sucesso, superando até mesmo os resultados alcançados em seu território de origem.
Assim que estreou no Brasil, em 1995, a Campanha, que recebeu o nome de O Câncer de Mama
no Alvo da Moda, já ocupou seu espaço sob os holofotes do mundo da moda, recebendo o apoio
de diversas celebridades que, literalmente, vestiram a camisa.
Em pouco tempo, a Campanha ganhou passarelas, ruas, espaços na mídia e na vida dos brasilei-
ros. Circulou entre produtos dos mais variados segmentos, para todos os gostos e necessidades.
Sempre apoiada por empresas, artistas, celebridades, imprensa e a sociedade como um todo.
Superando todas as expectativas, a primeira edição da Campanha vendeu 418 mil camisetas e entrou para o livro dos recordes
(Guiness Book Edição 1995), como a camiseta mais cara do mundo. O que esta valiosa camiseta tinha? Um autógrafo da apre-
sentadora Xuxa, que fez com que a camiseta fosse arrematada por R$ 81 mil. Este foi o primeiro dos muitos recordes que seriam
batidos em sua história.
Em 2000, a Campanha virou parceira da mais influente semana de moda do País, o São Paulo Fashion Week. Até agora, diversos
estilistas já deixaram suas marcas em modelos criados com exclusividade para as edições do evento e que depois ganham as
ruas, ajudando a conscientizar a sociedade.
Durante todos esses anos de vida, o Câncer de Mama no Alvo da Moda trouxe um ar inovador para o tema. Travou uma luta
contra o preconceito, por meio da conscientização e informações, recuperando a autoestima das mulheres e desmistificando a
doença que, sim, pode ser vencida.
O alvo azul, o grande estandarte da Campanha, já esteve à frente de inúmeros modelos de camisetas e vestiu milhões de
pessoas em todo o País. Já foram arrecadados mais de R$ 57 milhões. A quantia arrecadada com a venda desses produtos
licenciados é utilizada como parte do custo em obras de ampliação e benfeitorias do IBCC.
Questão 2
Retire do texto acima exemplos de diferentes ações que colaboraram para a divulgação da campanha e da
proposta de luta contra o câncer de mama.
Questão 3
Assista a este vídeo da campanha O Câncer de Mama no Alvo da Moda e explique a força argumentativa da frase
“Pela camiseta, você vê quem gosta de ajudar”.
Lavanderia
Dur ação: 31 segundos
26
QUESTÃO 4
Observe as imagens abaixo e indique o que há, em comum, entre elas e o que isso pode representar ou sugerir.
Questão 5
Eventos de grande mobilização também podem ser utilizados estrategicamente como peça de uma campa-
nha publicitária. Veja um cartaz e uma foto de um desses eventos:
(Imagens disponíveis em: http://www.ocancerdemamanoalvodamoda.com.br/corridaFotos.asp)
Respostas comentadas
Questão 1
Dentre possíveis relações, podemos citar: i) a associação da imagem da campanha com o seio feminino, refor-
çando que a campanha trata de um tipo específico de câncer; e ii) a associação da imagem da campanha com um
alvo, reforçando que o câncer de mama está “na mira” das pessoas e da própria campanha.
Questão 2
As principais ações são indicadas neste trecho: “a Campanha ganhou passarelas, ruas, espaços na mídia e na
vida dos brasileiros. Circulou entre produtos dos mais variados segmentos, para todos os gostos e necessidades. Sem-
pre apoiada por empresas, artistas, celebridades, imprensa e a sociedade como um todo.”
Questão 3
No vídeo, a frase em destaque possui grande poder de convencimento, uma vez que, atrelada às imagens,
sugere não só que os portadores da camiseta da campanha são solidários como também que, ao comprar a camisa, o
telespectador será identificado por sua solicitude e caridade.
Questão 4
O que há, em comum, nas imagens é o fato de todos os modelos serem celebridades da TV, pessoas conheci-
das e/ou artistas e estarem usando a camiseta da campanha em sinal de adesão à sua proposta. Tal estratégia amplia
a divulgação da campanha, lhe dá maior credibilidade e adesão por afinidade.
Questão 5
Dentre as metas alcançadas com a realização do evento pode-se citar: a divulgação para grande número de
pessoas de uma só vez; a adesão de simpatizantes; e ainda a angariação de fundos para a campanha, com a venda
massiva de camisetas e inscrições.
28
Páginas no material do aluno
Seção 4 – Propaganda e coesão textual
140 a 146
Aspectos operacionais
Proponha a leitura dos textos e, em seguida, apresente as questões de análise.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, apresente o texto O segredo da propaganda é a propaganda do segredo, de Leon Eliachar, a fim de
levar o aluno a compreender a função da propaganda em nossa sociedade e a ter um posicionamento crítico na leitu-
ra desse gênero. A seguir, distribua a cópia da propaganda da BRACELPA e, através de um diálogo didático, analise-a
juntamente com os alunos. Solicite, então, que eles respondam às questões. Finalmente, chame a atenção para os
elementos coesivos que aparecem na propaganda.
Atividade
Em revistas e jornais, televisão, rádio, cinema, outdoors, internet, dentre outros meios de comunicação
de massa, observamos a presença maciça de textos publicitários, que têm como objetivo nos “vender” alguma
coisa: um produto, uma causa social, uma ideia. Nesta atividade, aprofundaremos nossa compreensão sobre
esse gênero, focalizando alguns elementos de coesão que podem estruturar seus enunciados.
Depois de tantos anos vendo televisão diariamente, chego a uma conclusão definitiva: é muito mais
divertido e mais prático ver os anúncios. Enquanto as outras pessoas ficam aflitas tentando decorar os horá-
rios das novelas, das paradas de sucesso e dos chamados programas humorísticos, eu não tenho problema:
ligo a televisão em qualquer canal e vejo os anúncios sem preocupação de horário. Vocês talvez achem que é
loucura ver os mesmos anúncios diversas vezes, mas posso garantir que os anúncios variam muito mais que
as piadas e as músicas que são servidas todos os dias. Pelo menos os anúncios são bem bolados, alguns até
inteligentes. A técnica é chatear tanto até ficarem em nosso subconsciente — se é que alguém consegue ter
subconsciente assistindo televisão.
Os refrigerantes, por exemplo: quase todos fazem as garrafas dançar na nossa frente e tocam uma mu-
siquinha que chega a dar sede. Aí a gente não resiste: vai à geladeira e bebe um copo de água.
Mas bom mesmo é anúncio de sabonete: aparece cada moça bonita que vou te contar. E com uma
grande vantagem, as moças não falam, só aparecem, ligam o chuveiro e ficam noivas dentro da espuma. Por
mais que a gente saiba que aquilo é anúncio de sabonete, fica sempre aquela dúvida se um dia eles não vão
resolver dar o nome daquele chuveiro ou, quem sabe, o telefone da moça.
Geniais mesmo são as geladeiras que duram toda a vida. Mas muito mais geniais são os textos garan-
tindo que cabe tudinho dentro delas, mas acho que não têm tanta certeza, pois fazem questão de botar uma
moça bem bonita pra mostrar a geladeira — e a gente tem é vontade de comprar a moça, mesmo sem o “cer-
tificado de garantia”.
E as televisões, baratíssimas, cada vez mais vendidas, dentro dos novos planos de venda. Ao invés de
bolarem uma televisão mais perfeita, ficam é bolando planos de venda. No dia em que inventarem uma televi-
são que focalize a cara de um sujeito com menos de três orelhas, não precisam nem fazer anúncio: é só exibir,
que esgota no mesmo dia.
Existe anúncio de todo tipo: tecidos que não amarrotam, tecidos que dão prêmios, tecidos que dão des-
conto, tecidos coloridos que são apresentados em preto-e-branco, tecidos brancos que ficam cada vez mais
brancos à medida que vai surgindo um novo sabão em pó. Mas é o que eles pensam: o branco deles, lá em
casa, todo mundo tá vendo que é cinza. O mais engraçado são os anúncios de inseticidas que matam todos os
insetos, menos as moscas do estúdio.
Anuncia-se também muita banha, muito pneu, muito perfume, muito sapato, muito automóvel, muita
calça, muita bebida e muita pílula pra dor de cabeça. Parece até que um anúncio depende do outro — é como
se fosse uma novela, com a vantagem de a gente sempre saber qual o final de cada anúncio. E não pensem
que sou o único a achar os anúncios mais interessantes que os programas: os donos das emissoras também
acham — senão não ocupavam a maior parte do tempo com anúncios. Nos intervalos é que colocam alguns
programinhas — por absoluta falta de mais anúncios.
30
Reparem só: os programas de humor mostram o lado negativo das pessoas, os personagens são quase
todos fossilizados, gagos, surdos, cegos, velhos borocochôs ou sem sexo definido. As novelas exploram seres
anormais dentro de um mundo de misérias e lágrimas. Já os anúncios apresentam um mundo de otimismo,
onde tudo é bom e saudável, não quebra, dura toda a vida e qualquer um pode adquirir quase de graça, pa-
gando como puder, no endereço mais próximo da sua casa. O único detalhe que nos deixa um pouco frustra-
dos é que a moça que dá os endereços fala tão preocupada em não errar que a gente não consegue decorar
nenhum endereço. Em compensação, sabe de cor a moça todinha.
(ELIACHAR, Leon. O Homem ao Zero. Rio de Janeiro: Editora Expressão e Cultura, 1968, p. 47.)
Leon Eliachar nasceu na cidade do Cairo, no Egito, no dia 12 de outubro de 1922, vindo,
ainda muito pequeno, para o Brasil. Desde os 19 anos, começou a trabalhar em jornais e
revistas, tornando-se um dos melhores jornalistas de humor da imprensa falada e escri-
ta. Foi assassinado, segundo o noticiário da época, na cidade do Rio de Janeiro, em 29 de
maio de 1987, a mando de um rico fazendeiro do Paraná, com cuja esposa o autor vinha
mantendo um romance.
Após a leitura do texto acima, vamos analisar uma propaganda, composta de imagem e texto verbal.
Questão 1
b. Qual a relação entre essa imagem e o texto que está na parte baixa da mesma?
32
c. Qual cor predomina na propaganda? E o que ela pode representar?
e. A propaganda acima pode ser considerada como uma forma eficiente de chamar a atenção das pessoas
apenas para utilizarem embalagens recicláveis? Justifique.
Questão 2
Após refletirmos sobre imagem da propaganda e sua mensagem central, observe, mais de perto, sua parte
verbal, como foco nos elementos que negritamos:
Nesse trecho, o pronome pessoal ela refere-se ao antecedente embalagem de papel cartão, e o pronome de-
monstrativo esses retoma três antecedentes: é mais atraente; [é] de melhor qualidade; e evita danos ao que tem dentro,
explicitados pela expressão “bons motivos”. Percebeu como os pronomes ajudam a evitar repetições, tornando o
texto mais encadeado?
Atento à função coesiva dos pronomes, analise as quatro propagandas abaixo e identifique os pronomes que
retomam informações do texto, apontando os referentes a que eles se referem.
Propaganda 1:
Propaganda 3:
34
Propaganda 4:
Questão 3
De acordo com o exposto acima, qual dos empregos corresponde ao uso do pronome demonstrativo? Justifi-
que a sua resposta, comentando trechos do texto.
Respostas comentadas
Questão 1
b. A imagem representa uma cidade completamente poluída, como se não houvesse solução para o seu
descarte. O texto verbal, por sua vez, apresenta as vantagens das embalagens de papel cartão, as quais po-
dem ser decompostas com facilidade, evitando, assim, que, no futuro, uma cidade fique sufocada pelo lixo.
c. A cor predominante nesta propaganda é escura (marrom alaranjado) com traços sombrios, como se
quisesse reforçar a imagem da degradação ambiental.
d. A associação entre a imagem de uma cidade e a imagem de um lixão objetiva alertar sobre os danos
ambientais que podem acontecer no futuro, se continuarmos a utilizar embalagens que não sejam reci-
cláveis, renováveis e biodegradáveis.
e. Não. A imagem na propaganda choca ao mostrar uma situação futura possível: a grande quantidade de
lixo acumulada nas ruas. No entanto, serve como um alerta mais amplo: ou mudamos o nosso compor-
tamento e respeitamos o ambiente no qual vivemos ou poderemos chegar a uma situação que inviabi-
lizará a vida, principalmente, do ser humano.
Questão 2
Os pronomes com função coesiva e seus referentes textuais podem ser sistematizados desta forma:
36
“a qualidade” “que”
Propaganda 3:
“todo requinte” “que”
“as cabeceiras Iolanda, Laura e
Paola, e também os criados Iolanda, “eles”
Propaganda 4: Roma e Atila”
“um lugar” “que”
Questão 3
a. Na propaganda em análise, o pronome “esse” tem a função de “lembrar ao leitor ou ao ouvinte algo já
mencionado”. Isso porque, o sintagma de que faz parte, “esse assunto”, retoma a expressão “intestino
preso”. Trata-se, portanto, de um elemento de coesão anafórica.
Atividade de Avaliação
Aspectos operacionais
Proponha a leitura do texto e, em seguida, apresente as questões de análise.
Aspectos pedagógicos
Apresente aos alunos o texto selecionado e verifique, a partir das questões de análise, se os alunos foram ca-
pazes de identificar o tipo de texto, o tipo de linguagem explorado, a finalidade do texto, o referente de pronomes
existentes e o efeito de sentindo construído a partir da utilização de elementos verbais e não-verbais.
O texto abaixo é uma peça publicitária da campanha Todos Pela Educação, que objetiva propiciar as condições
de acesso, de alfabetização e de sucesso escolar, além de ampliar recursos investidos na Educação Básica e melhorar a
gestão desses recursos. Observe a propaganda abaixo que compõe a campanha publicitária da instituição e responda
às questões que se seguem.
Questões
1. Qual o objetivo do texto acima e o tipo de linguagem utilizada para compor sua mensagem?
2. Por que usar a imagem do mapa do Brasil formado por rostos de pessoas?
3. Você reparou que todos os rostos que aparecem na propaganda são de crianças? Que relação essa informa-
ção possui com o texto escrito?
38
5. “Por isso, vamos nos juntar para mudar o Brasil.”. Nesta sentença, utiliza-se a 1ª pessoa do plural (“nós”).
Relacione essa escolha linguística ao objetivo da propaganda.
6. “veja o que você pode fazer para ajudar”. Nessa outra sentença, destaca-se o verbo no modo Imperativo e
o pronome de 3ª pessoa do singular, que se refere diretamente ao interlocutor do discurso. Qual efeito de
sentido é gerado por essa escolha linguística?
Respostas comentadas
Nesta atividade de avaliação, espera-se que os alunos concluam que:
1. O texto objetiva divulgar a campanha em questão e convencer o interlocutor a aderir ao projeto apresentado.
Para isso, aliou as linguagens verbal e não-verbal.
2. A imagem é composta por rostos de pessoas, de onde surge, através de contraste de cor, o mapa do Brasil.
Essa montagem pode suscitar a ideia de que o país é formado por pessoas, as quais são fundamentais na ação
conjunta de elevação da qualidade da educação no Brasil.
3. O fato de todos os rostos que formam o mapa serem de crianças reforça a ideia de que investir na educação
significa investir nas crianças e, consequentemente, no futuro do país.
4. O texto verbal em destaque visa a explicitar os objetivos da propaganda e apresentar, ao interlocutor, instru-
ções de como aderir ao projeto.
5. O uso da 1ª pessoa do plural permite incluir, na ação discursiva, enunciador e co-enunciador, corroborando
com a ideia fundamental do projeto de que a qualidade da educação depende ação solidária de todos.
6. O verbo no Imperativo aponta uma sugestão ou pedido direto e específico. Aumenta o valor persuasivo da
sentença e, aliado ao pronome de tratamento em questão, objetiva provocar uma resposta eficaz do interlo-
cutor: espera-se que o leitor aja imediatamente para colaborar com a missão do projeto.
Atividade de Avaliação
Aspectos pedagógicos
Apresente aos alunos o texto selecionado e verifique, a partir das questões de análise, se os alunos foram ca-
pazes de identificar o tipo de texto, o tipo de linguagem explorado, a finalidade do texto, o referente de pronomes
existentes e o efeito de sentindo construído a partir da utilização de elementos verbais e não-verbais.
Atividade
As imagens abaixo destacam uma peça publicitária da campanha Doe sangue. Analise-a e responda às ques-
tões que se seguem:
ESSA CORRENTE
PRECISA DE VOCÊ.
40
Questões
1. A peça acima faz parte da campanha nacional de doação de sangue do Ministério da Saúde. Qual foi o su-
porte utilizado para a veiculação da mensagem?
2. A propaganda alia elementos verbais e não verbais. A que se refere a sentença “Essa corrente”?
4. Que relação se pode estabelecer entre a cor utilizada na camisa e o tema da campanha?
Respostas comentadas
Nesta atividade de avaliação, espera-se que os alunos concluam que:
1. Nesta peça publicitária, o suporte utilizado para a veiculação da mensagem foi a própria camisa.
2. A expressão “essa corrente” refere-se uma corrente humana de solidariedade, reforçada pela imagem da
silhueta de pessoas, unidas em prol do objetivo de aumentar a adesão dos doadores de sangue.
3. O número em questão refere-se ao número de telefone disponível para acesso a maiores informações so-
bre como aderir eficazmente à campanha.
4. Na propaganda, utilizou-se a cor vermelha para a grafia das letras e para imagem das silhuetas de pessoas,
remetendo à cor do sangue, que é o objeto principal da campanha.
Barroco e
Romantismo:
poesia de
do
M aterial
sentimentos
Cristiane Brasileiro, Rafael Guimarães Nogueira, Giselle Maria Sarti Leal Muniz Alves,
Jacqueline de Faria Barros
Para preparamos o terreno para uma abordagem como a que estamos assu-
mindo (e que foi proposta originalmente pelo Material do Aluno), desenvolveremos
inicialmente o conceito de “estilo de época” na literatura, comparando textos de pe-
ríodos diferentes de modo a destacar a relação dos mesmos com seus respectivos
contextos de produção. Em seguida, partiremos para um recorte mais específico,
buscando relacionar textos poéticos escolhidos aos estilos barroco e romântico.
Bom trabalho!
Objetivos da unidade
Compreender o conceito de estilo de época na Literatura, a partir do estudo dos períodos literários;
Estabelecer relações entre textos de épocas diferentes, situando aspectos do contexto histórico, social e
político no Brasil.
Páginas no material
Seções
do aluno
Seção 2 – Duas épocas, duas visões - a poesia do Barroco e do Romantismo 166 a 171
44
Recursos e ideias para o Professor
Tipos de Atividades
Para dar suporte às aulas, seguem os recursos, ferramentas e ideias no Material do Professor, correspondentes
à Unidade acima:
Ferramentas
Atividades que precisam de ferramentas disponíveis para os alunos.
Avaliação
Questões ou propostas de avaliação conforme orientação.
Exercícios
Proposições de exercícios complementares
46
Páginas no material do aluno
Seção 3 − Barroco e Romantismo – contatos e
172 a 183
contrastes na poesia de sentimentos
A turma
Computador,
Em busca do Relacionar, oralmente, vídeo poderá ser
datashow e
Brasil: ontem e sobre Romantismo a textos dividida em 70 minutos
cópias dos
hoje selecionados. grupos de 03
textos.
alunos.
Análise comparativa de
um soneto de Álvares de
Azevedo e da música João
Embalados
Cópias do e Maria, de Chico Buarque, Atividade
entre a amada 50 minutos
exercício. a fim de identificar pontos individual.
e a morte
comuns na caracterização
da morte e, principalmente
da mulher.
Análise comparativa do
poema A mãe do Cativo, de
Castro Alves, e do samba-en-
redo Liberdade, Liberdade!
Há Romantis- Cópias do Atividade
Abra as asas sobre nós, do 50 minutos.
mo no Barroco? exercício. individual
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldi-
nense (RJ), a fim de observar
aspectos temáticos comuns
aos textos.
Atividade Inicial
Aspectos operacionais
Esta atividade possui duas questões. A primeira apresenta dois poemas (um Barroco e um Romântico) e boxes
com características gerais de cada século em que os textos foram produzidos, a fim de que os alunos relacionem as
obras aos períodos sumarizados nos boxes. A segunda questão propõe a exploração temática dos poemas, conside-
rando, inclusive, as figuras de linguagem utilizadas. Para desenvolver estas questões, proponha a leitura dos textos e,
em seguida, apresente as questões.
48
Aspectos pedagógicos
Para a primeira questão, sugerimos a exploração das características de cada século a partir de palavras-chave ou de
outras informações, não apresentadas no enunciado da questão. A partir disso, os alunos poderão mais facilmente identifi-
car as características culturais de cada século, relacioná-las aos poemas e identificar a temática central de cada texto.
Atividade
QUESTÃO 1
Identifique a que século pertencem os dois poemas que se seguem. Para isso, relacione o conteúdo dos textos
às informações históricas presentes neste quadro-síntese.
Minha terra!
Do berço balbuciada,
Lá no horizonte a brilhar.
Fonte: http://pt.wikisource.org/wiki/Minha_terra!
50
TEXTO 2: (de Gregório de Matos)
Fonte: http://www.escolamobile.com.br/Emedio/vereda/arquivos/portugues/2cport_cm_90.pdf
QUESTÃO 2
Agora, que você já identificou a que século pertencem os dois poemas acima, aprofunde sua análise:
destaque, nos dois fragmentos desses mesmos textos, que se seguem logo adiante, figuras de linguagem
que possam se relacionar à temática central de cada poema.
TEXTO 1:
Lá no horizonte a brilhar.
Respostas comentadas
QUESTÃO 1
Relacionando as informações referentes a cada período histórico à interpretação dos poemas, espera-se que
os alunos concluam que:
O Texto 1, de Gonçalves Dias, insere-se no contexto do século XIX, uma vez que reflete o patriotismo oriundo
do processo de Independência do país. No poema, o eu-lírico, distante de sua terra (“em terra estranha”), revela sua
nostalgia, exaltando as belezas naturais da “terra amada” com a qual tanto se identifica (tais como, seu céu, seu sol,
seu “ameno luar”, seus vales, seus montes, sua brisa, suas praias).
Por sua vez, o Texto 2, de Gregório de Matos, reflete aspectos do século XVII, tendo em vista que a dualidade
e o conflito percorrem quase todos os versos do poema. Em sua vertente lírico-filosófica, Gregório busca aproximar
elementos opostos (como no trecho “quis que aqui fosse a neve ardente, / Permitiu parecesse a chama fria.”).
QUESTÃO 2
Na identificação da temática central de cada texto e das figuras de linguagem que a explicitam, espera-se que
os alunos concluam que:
No texto 1, focaliza-se a saudade da pátria e a exaltação de sua beleza natural. No trecho em destaque, os versos “De-
pois de girar no mundo/Como barco em crespo mar” fazem uma comparação que realça traços da natureza nos quais pode-
mos ser submersos, enquanto nos versos “enquanto Amiga praia nos chama/ Lá no horizonte a brilhar”, reaparece a natureza
realçada através de uma personificação, que atribui à “praia amiga” uma ação tipicamente humana (‘nos chama”). Em ambas as
figuras de linguagem, portanto, está muito presente uma ideia geral de natureza e homem fortemente entrelaçados – o que,
no caso em questão, só acentuou o sentimento geral de saudade da terra pátria e valorização sentimental da mesma.
Já no Texto 2, o tema é descrição da figura amada, em sua forte dualidade. Há, pois, o uso constante de antíte-
ses (como em “fogo” e “neve”; “passas brandamente” e “queimas com porfia”) na caracterização da amada, a quem o
eu-lírico se dirige diretamente.
52
Páginas no material do aluno
Seção 2 − Duas épocas, duas visões - a poesia do
166 a 171
Barroco e do Romantismo
Aspectos operacionais
Proponha a leitura dos dois textos e, em seguida, apresente a questão que se segue.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, recupere, junto a seus alunos, traços gerais da Grécia Antiga, da Idade Média e da primeira meta-
de do século XIX, a fim de contextualizar cada um dos três textos envolvidos na atividade. Em seguida, é importante
destacar que o Texto 1 trata-se de uma adaptação, tendo em vista que a obra original (disponível em: http://www.
ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf ) foi composta originalmente em versos. Ainda antes da leitura desse texto,
seria interessante apresentar o trecho do filme Tróia que representa o fragmento a ser lido: trata-se da cena em que
Aquiles derrota Heitor. Para isso, basta que você procure o trecho do vídeo em sites de busca, como o Youtube. Ana-
lise, além do texto verbal, a imagem que o sucede, observando, junto aos alunos, como as duas obras representam a
cena. Siga apresentando aos alunos os Textos 2 e 3, focalizando, agora, as figuras de Galaaz e de I-Juca-Pirama, respec-
tivamente. Apresente a proposta de análise e oriente os alunos em suas conclusões.
Qual é seu herói preferido? Hércules, Lancelot, Super-homem, Batman, Mulher Maravilha, Rambo... Todos es-
ses personagens possuem características físicas e/ou morais que despertam nossa admiração. E, por isso, podem ser
compreendidos como modelos de comportamento. O que veremos, nesta atividade, é que o ideal de homem tradu-
zido pelo herói muda de tempos em tempos, a depender da cultura de cada época.
O primeiro uma adaptação do poema épico Ilíada, a narrativa mais famosa dos feitos de Aquiles na Guerra
de Tróia. A narrativa é um legado da Antiguidade Clássica, aproximadamente do século VIII a. C – período histórico
marcado pela crença em diferentes deuses (politeísmo) e por constantes guerras territoriais, nas quais os guerreiros
deveriam demostrar sua coragem, força e destreza.
O segundo texto é um fragmento do Canto III da novela de cavalaria A demanda do Santo Graal, que narra as
aventuras de Galaaz e dos demais Cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur em busca do Santo Graal, cálice sagrado
em que no qual José de Arimateia colheu o sangue de Jesus durante a crucificação. Trata-se de uma narrativa da Idade
Média, aproximadamente do século XIII d. C. – período em que, pelos princípios cristãos, concebia-se Deus como cen-
tro de toda a vida (teocentrismo) e exaltavam-se os valores da humildade, do respeito, da moderação e da abnegação.
O terceiro texto é um fragmento do poema I-Juca-Pirama, composto por Gonçalves Dias, em 1851, alguns anos
após a Independência de nosso país. Nesse texto narrativo, o personagem-título é um guerreiro tupi que, em uma
fuga, é aprisionado por uma tribo dos Timbiras. O trecho que leremos é o canto IV, em que I-Juca-Pirama, a pedido
dos próprios inimigos que o haviam capturado, canta longamente seus feitos, a fim de que os mesmos tivessem um
gosto ainda maior em sacrificá-lo em um ritual antropofágico.
Leia, com atenção, os três textos. Destaque as características de cada herói. Em seguida, explique de
que maneira a caracterização desses dois personagens reflete valores culturais da Antiguidade Clássica, da
Idade Média e do séc. XIX no Brasil, respectivamente.
[...] Enquanto refletia dessa forma, Aquiles se aproximou, tão terrível quanto Marte, sua armadura brilhando
como um raio enquanto se movia. Vendo-o, Heitor acovardou-se e fugiu. Aquiles perseguiu-o rapidamente. Ambos
correram acompanhando as muralhas pelo lado de fora, dando três voltas na cidade. Sempre que Heitor se apro-
ximava demais das muralhas, Aquiles o interceptava, forçando-o a se afastar, fazendo-o, assim, correr num círculo
mais aberto. Contudo, Apolo sustentou as forças de Heitor, não permitindo que elas se exaurissem. Palas, assumindo
a forma de Deífobo, o mais corajoso entre os irmãos de Heitor, apareceu repentinamente ao seu lado. Heitor viu-o
com deleite, e sentindo-se fortalecido, interrompeu a fuga e virou-se para enfrentar Aquiles. Heitor arremessou a sua
lança, que atingiu o escudo de Aquiles e caiu. Voltou-se para pegar uma outra lança nas mãos de Deífobo, mas este
havia desaparecido. Finalmente, Heitor compreendeu o seu destino e disse: “Ah! É certo que chegou a minha hora de
morrer! Pensei que Deífobo estivesse ao meu lado, mas Palas me enganou, pois na verdade meu irmão ainda está em
Tróia. Porém, não morrerei sem glória”. Assim falando, desembainhou a espada e correu para o combate. Aquiles, pro-
54
tegido pelo escudo, esperou que Heitor se aproximasse. Quando este estava ao alcance, o astuto guerreiro da Grécia
escolheu um ponto do pescoço do inimigo que ficava desguarnecido da armadura e arremessou sua lança, atingindo
o alvo. Heitor caiu mortalmente ferido, e, agonizando, disse: “Poupa o meu corpo. Permite que meus pais o resgatem,
e que eu receba os ritos funerários dos filhos e filhas de Tróia”. Ao que Aquiles replicou: “Cão, não fales em resgate nem
em piedade, pois a mim trouxeste horrendo sofrimento. Não! Confia-me, nada há de salvar a tua carcaça da sanha dos
cães. Ainda que vinte resgastes e teu peso em ouro me fossem ofertados para devolver teu corpo, não os aceitaria”.
Em seguida, retirou o corpo de sua armadura, e amarrando os pés de Heitor a uma corda, prendeu-o atrás de sua
carruagem, e arrastou o corpo de lá para cá em frente à cidade, deixando uma trilha na areia. Que palavras poderiam
traduzir o sofrimento do rei Príamo e da rainha Hécuba, que testemunharam essa cena! [...]
(BULFINCH, Thomas. O livro da mitologia: histórias de deuses e heróis. [tradução: Luciano Alves Meira]. 4. ed. São Paulo:
Martin Claret, 2006. Coleção a obra-prima de cada autor; Série ouro; 45. pp. 290 e 291.)
Aquiles, triunfante, arrasta o corpo de Heitor em frente aos portões de Tróia – pintura de Franz Matsch.
(Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Triumph_of_Achilles_in_Corfu_Achilleion.jpg?uselang=pt)
O ASSENTO PERIGOSO
Eles nisto falando, olharam e viram que todas as portas do paço se fecharam e todas as janelas, mas não es-
cureceu por isso o paço, porque um tal raio de sol, que por toda a casa se estendeu. E aconteceu então uma grande
maravilha, não houve quem no paço não perdesse a fala; e olhavam-se uns aos outros e nada podiam dizer; e não
houve alguém tão ousado, que disse não ficasse espantado; mas não houve quem saísse do assento, enquanto isso
durou. Aconteceu que entrou Galaaz armado de loriga e brafoneiras e de elmo e de duas divisas de veludo vermelho;
e, depós ele, chegou o ermitão, que lhe rogara que o deixasse andar com ele, e trazia um manto e uma garnacha de
veludo vermelho em seu braço.
Mas tanto vos digo que não houve no paço quem pudesse entender por onde Galaaz entrara, que em sua
vinda não abriram porta nem janela. Mas do ermitão não vos digo, porque o viram entrar pela porta grande. E Galaaz,
assim que chegou ao meio do paço, disse de modo que todos ouviram:
E o homem bom pôs as vestes que trazia sobre um alfâmbar, e foi ao rei Artur e disse-lhe:
– Rei Artur, eu te trago o cavaleiro desejado, aquele que vem da alta linguagem do rei Davi e de José de Arima-
téia, pelo qual as maravilhas desta terra e das outras terão fim.
E com isto que o homem bom disse, ficou o rei muito alegre. E disse:
– Se isto é verdade, sede bem-vindo. E bem seja vindo o cavaleiro, porque este é o que há de dar cabo às
aventuras do santo Graal. Nunca foi feita nesta corte tanta honra como lhe nós faremos; e quem quer que ele seja, eu
quereria que lhe fosse muito bem, pois de tão alta linhagem vem como dizeis.
Então fê-lo vestir os panos que trazia e foi assentá-lo no assento perigoso. E disse:
– Filho, agora vejo o que muito desejei, quando vejo o assento perigoso ocupado.
E quando viram Galaaz no assento, logo todos os cavaleiros tiveram poder de falar, e bradaram todos a uma voz:
– Dom Galaaz, sede o bem-vindo – pois já seu nome sabiam, porque o ermitão o nomeara já ali.
(A demanda do Santo Graal. [organização e atualização do português: Heitor Megale.] São Paulo: Companhia das Letras,
2008. pp. 29 e 30.)
Vocabulário
Paço palácio
Maravilha milagre
Loriga saio de malha com lâminas de metal (da armadura)
Brafoneira parte da armadura que cobria o alto do braço
Elmo parte da armadura, com viseira e crista, que protegia cabeça e rosto
Divisa emblema
Garnacha Veste comprida, que desce até aos calcanhares
56
TEXTO 3: I-Juca-Pirama – Canto IV
Guerreiros, ouvi:
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Guerreiros, nasci;
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Os silvos fugaces
Vi lutas de bravos,
De estranhos ignavos
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Cobertos d'espinhos
Chegamos aqui!
58
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu'ria morrer!
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
O cru dessossego
Na noite sombria,
A só alegria
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Deixa-me viver!
Se a vida deploro,
60
Resposta comentada
Na Ilíada, Aquiles é descrito como o mais belo e o melhor dos heróis reunidos contra Tróia. Especificamente no
trecho em análise, destacam-se: sua velocidade, sua força, sua agilidade e sua audácia. Aquiles, assim como demais
heróis da Antiguidade Clássica, possuía atributos que se relacionavam a forças da natureza. Desse modo, a velocida-
de de Aquiles é comparada a um raio: “sua armadura brilhando como um raio enquanto se movia”. Paralelamente,
sublinha-se a força física e a destreza do herói no manuseio das armas: “o astuto guerreiro da Grécia escolheu um
ponto do pescoço do inimigo que ficava desguarnecido da armadura e arremessou sua lança, atingindo o alvo”. Por
fim, ao arrastar o corpo de Heitor, Aquiles revela grande ousadia, pois, além de negar os rituais fúnebres à família do
guerreiro derrotado, seu ato ofendia e provocava toda a Tróia.
Já na novela de cavalaria A demanda do Santo Graal, Galaaz pode ser comparado a Jesus Cristo. Antes de
tudo, seu nome (que significa “o puro dos puros”) destaca sua pureza moral, afastando-o da condição humana. Nesse
sentido, no trecho em destaque, Galaaz é apresentado como um ser do qual emana luz; sua aparição na Távola Re-
donda é marcada por “um tal raio de sol”, que impressiona aos demais cavaleiros. Ao mesmo tempo, as vestimentas
do herói possuem a cor vermelha, que aponta realeza e paixão – tendo sendo utilizada em muitas pinturas de Jesus
Ressurreto, como nas representações de Raffaello Sanzio (http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Raffaello_Sanzio_
Auferstehung_Christi_Sao_Paulo.jpg?uselang=pt) e de Piero della Francesca (http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Resurrection.JPG?uselang=pt). Finalmente, a proximidade entre Galaaz e Jesus Cristo também se constrói pela
saudação do herói aos cavaleiros (“A paz esteja convosco”) – a mesma utilizada pelo profeta em muitos trechos do
Evangelho (dentre os quais: Lucas 24:36 e João 20:26) – e pela genealogia do cavaleiro, “que vem da alta linguagem
do rei Davi e de José de Arimatéia”.
No poema I-Juca-Pirama, o personagem-título caracteriza-se, inicialmente, por sua coragem e força: “Sou bra-
vo, sou forte,”. Paralelamente, seu nome – que, em tupi, significa "aquele que vai morrer" ou "aquele que é digno de ser
morto" – destaca sua honra, refletida na coragem e altivez mantidas mesmo no momento de total entrega aos seus
inimigos, que sabidamente vão matá-lo e devorá-lo logo em seguida.
Aquiles, Galaaz e I-Juca-Pirama possuem, portanto, virtudes acima da média. No entanto, a caracterização des-
ses heróis revela valores culturais distintos. Na descrição de Aquiles, destaca-se um tipo de virtude dura, a chamada
areté, um atributo próprio da nobreza e dos guerreiros que se faziam gloriosos. Nesse sentido, em um período mar-
cado por intensas disputas territoriais, a narração de atos grandiosos e implacáveis como os de Aquiles suscitava e
encorajava, principalmente nos exércitos, a busca pela honra e pela glória – ainda que às custas da morte dos outros
e de si mesmo.
De forma semelhante, na descrição de Galaaz, a figura idealizada de um cavaleiro servia como motivação para
que toda a sociedade medieval cultivasse os mesmo princípio do herói focalizado. Esta caracterização do cavaleiro da
Idade Média, entretanto, era reflexo da perspectiva teocêntrica (e não politeísta), segundo qual o homem deve acatar
a vontade divina e dedicar toda a sua vida à construção do Reino de Deus, de modo que as virtudes destacadas ligam-
-se mais aos princípios da lealdade e da castidade.
A representação de I-Juca-Pirama, por sua vez, aponta uma idealização do índio, exaltando-o como símbolo da
terra, agora independente. O índio concretiza a “teoria do bom selvagem", de Jean-Jacques Rosseau, segundo a qual
o homem, por natureza, é bom, nasce livre; sendo sua maldade advinda apenas da organização social que impõe a
Logo, mesmo que em períodos e culturas distintas, a construção do herói aponta exemplos de comportamento.
Aspectos operacionais:
Leia os três poemas, esclarecendo dúvidas de vocabulário; compare a linguagem dos textos; proponha as
questões de análise e corrija-as.
Aspectos pedagógicos:
Inicialmente, é importante relembrar o que foi visto no Material do Aluno acerca das três faces observadas na
poesia de Gregório de Matos. Em seguida, leia os poemas com os alunos. Esclareça as dúvidas de vocabulário, que
provavelmente serão muitas, e aponte a presença da linguagem rebuscada como um dos traços da estética barroca,
relacionada à intenção de provocar estranhamento, de impressionar. Antes de propor as questões a serem respondi-
das, seria interessante comentá-las oralmente, conduzindo os alunos na interpretação dos sentidos dos textos.
62
Atividade
O escritor Gregório de Matos foi o grande representante da poesia barroca. Seus poemas são, normalmente,
agrupados em três vertentes: (a) a poesia sacra ou religiosa; (b) a poesia lírico-amorosa; e (c) a poesia satírica.
Atento a isso, indique a qual dessas três vertentes pertence cada um dos poemas a seguir, escritos por Gregório
de Matos. Para isso, consulte, se necessário, a síntese presente em seu livro didático.
Poema 1
64
Poema 3
Descreve o que era realmente naquelle tempo a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa.
Já a poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos está no poema 2, “A Maria dos Povos, sua futura esposa”. Para
chegar a essa conclusão, os alunos devem ter claro o conceito de lirismo, que pode ser retomado por uma revisão dos
gêneros literários. Deve-se destacar, também, que a face lírica de Gregório nem sempre é amorosa, podendo apre-
sentar questionamentos de ordem filosófica, como o poema que consta no Material do Aluno. Eles devem justificar
essa escolha pelo fato de, no poema, Maria ser elogiada pelo eu poético, que lhe dá atributos fundados em sua visão
particular acerca da mulher. A análise pode, ainda, ser comprovada com o trecho: “Em tuas faces a rosada Aurora,/ Em
teus olhos e boca, o Sol e o dia”, no qual as metáforas descrevem a beleza de Maria, comparando-a com a beleza do
nascer do dia.
Por fim, a poesia satírica é aquela em que se “descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia
de mais enredada por menos confusa”. Para desenvolver essa análise, os alunos deverão ter claro o conceito de sátira,
que tem como principal traço o uso da ironia, do deboche. Eles devem, também, justificar sua resposta explicando
as crítica sociais à Bahia do tempo de Gregório. Um dos trechos em que isso é percebido é: “Não sabem governar sua
cozinha,/ E podem governar o mundo inteiro“. Nesse trecho, existe um comentário predominantemente irônico, visto
que eu poético questiona e ridiculariza a competência dos governantes, que segundo o poeta, se julgam capazes de
governar o mundo sem, ao menos, saber governar a própria casa.
66
Páginas no material do aluno
Seção 3 − Barroco e Romantismo – contatos e
172 a 183
contrastes na poesia de sentimentos
Aspectos operacionais
Leia o poema, esclarecendo possíveis dúvidas de compreensão. Em seguida, proponha as questões de análise,
discuta com os alunos o desenvolvimento das mesmas e corrija-as.
Aspectos pedagógicos
Seria interessante ler o poema com os alunos, consultando o vocabulário fornecido e esclarecendo as possíveis
dúvidas que tenham. Uma sugestão seria levar jornais para a sala de aula, que abordassem alguns dos problemas men-
cionados no poema, para que os alunos percebam a atualidade do texto, ainda que tenha sido escrito há muitos anos.
Atividade
Em sua poesia satírica, Gregório de Matos tinha como principal objetivo apontar problemas sociais, políticos e
econômicos pelos quais passava a Bahia de seu tempo. Nesses textos, a ironia é usada como recurso expressivo para
lançar uma crítica aos comportamentos inadequados, degradantes, antiéticos de governantes e outras personalida-
des de destaque na sociedade.
O fragmento logo a seguir é um exemplo dessa poesia satírica. Leia-a com atenção, e depois responda às
questões que se seguem.
II
V
Quem a pôs neste socrócio?...Negócio.
E que a justiça a resguarda?...Bastarda.
Quem causa tal perdição?...Ambição.
68
Socrócio
confusão
Usura
cobrança de juros
Desaventura
infelicidade
Asnal
estúpida
Cabedal
riqueza
Círios
procissões religiosas
Socrócio
confusão
Meirinhos
oficiais de justiça
QUESTÃO 1
O poema trata de várias questões sociais presentes na vida social da cidade da Bahia. Identifique esses proble-
mas mencionados, que estão relacionados a:
b. Economia (estrofes 3 e 4)
As manchetes de jornal abaixo estão relacionadas às críticas sociais presentes no poema. Identifique a que
problema está relacionada cada uma dessas manchetes.
1. “Mais uma obra de Monteiro Lobato é questionada por suposto racismo”. (GLOBO.COM, 25/9/12)
QUESTÃO 3
Gregório de Matos ficou conhecido como Boca do Inferno por suas poesias satíricas, que ridicularizavam os
costumes sociais da sociedade baiana de seu tempo. Hoje, as charges – estudadas na Unidade 6 deste módulo – pos
suem uma função social semelhante: zombar de personalidades, acontecimentos ou instituições relacionadas ao con-
texto político-social em vigor. Com isso em mente, Indique a situação ilustrada na charge reproduzida logo a seguir,
relacionando-a ao atual contexto político-social de nosso país.
Fonte: http://malvados.files.wordpress.com/2012/04/sociedadejusta.jpg
70
Respostas comentadas
QUESTÃO 1
a. Espera-se que os alunos percebam que a verdade, a honra e a vergonha são valores relacionados à ética.
Exemplos disso podem ser apontados, como a vergonha em não devolver algo que se pega empresta-
do, em ter o nome sujo por não pagar contas em dia, entre outros.
b. As estrofes 3 e 4 tratam de procedimentos relativos à ambição do ser humano: ter sempre mais e, mui-
tas vezes, mais do que precisa. As relações de mercado, de exploração de mão de obra, os interesses
comerciais das empresas, que invadem nossa vida com suas “promoções” e propagandas enganosas, as
cobranças de juros exorbitantes podem ser mencionadas, a fim de refletir acerca dos comportamentos
consumistas que cultivamos.
c. As estrofes 5 e 6 tratam da escravidão: conceber o outro como objeto, mercadoria, riqueza. Pode-se
aproveitar a oportunidade para tratar da questão racial na atualidade.
d. As últimas estrofes focalizam a corrupção de autoridades, em especial daquelas que deveriam defender
a população, mas que, ao contrário, a extorquem. Podem ser mencionados fatos como a cobrança de
propina por parte dos policiais, advogados de bandidos que trocam a verdade por mentira, para lucra-
rem; juízes que condenam inocentes por dinheiro e em troca de privilégios.
QUESTÃO 2:
Espera-se que os alunos tenham facilidade em resolver esta questão, principalmente após terem desenvolvido
a anterior. Entretanto, faz-se necessário ler cada uma das manchetes, contextualizando-as. Em síntese, as manchetes
se relacionam a:
1. a questão racial.
5. a questão racial.
Nesta atividade, os alunos devem focalizar a ironia presente na fala do personagem da charge, principalmente,
na exploração da ambiguidade da palavra “justa”, que pode apontar “igualitária” ou “apertada”, agenciando assim, ao
mesmo tempo, os traços de grande desigualdade e forte sexualização que tanto marcam nossa experiência com a
sociedade brasileira. Com essa leitura, oriente seus alunos, ainda, a observar as semelhanças entre o texto chárgico e
o poema analisado, destacando que a igualdade social ainda é um desejo não plenamente alcançado.
A turma
Computador,
Em busca do Relacionar, oralmente, vídeo poderá ser
datashow e
Brasil: ontem e sobre Romantismo a textos dividida em 70 minutos
cópias dos
hoje selecionados. grupos de 03
textos.
alunos.
Aspectos operacionais
Assistir ao vídeo. Anotação das características referentes ao período Romantismo. Leitura, em grupo, dos tex-
tos. Observação e discussão oral sobre pontos relevantes relacionados ao período observados nos textos.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, lembre seus alunos que a história da literatura é dividida em períodos por etapas determinadas de
forma convencional e fortemente relacionada com a histórica geral, retomando, assim, aspectos do chamado Roman-
tismo. Em seguida, frise que o Romantismo tem três fases, sendo a 1ª delas o foco do poema em análise, em que há a
valorização da figura do índio e do sentimento nacionalista. A música contemporânea pode ser apresentada com o vi-
deoclipe, disponível em sites como o Youtube. Proponha as questões de análise, discuta-as com seus alunos e corrija-as.
72
Atividade
Analise os dois textos que se seguem. O primeiro é foi escrito logo após a Independência do Brasil e, por isso,
possui caráter essencialmente nacional: trata-se do poema O Canto do Guerreiro, de Gonçalves Dias (1823-1864), que,
pertencente à primeira geração romântica, destaca o índio como herói da terra brasileira. O segundo texto é a música
Que país é esse?, de Renato Russo, que também trata da imagem do índio.
Texto 1:
O CANTO DO GUERREIRO
I Na altura arrojada
74
Afronte
encare, peleje.
Arrojada
Boré
Carpido
gemido, pranto.
Co
Destro
Empinada
Estrujo
vibro fortemente.
Fremente
Imigos
Imprumada
cobertos
Maracá
chocalho.
Marulhosa
Piaga
Pajé.
Preou
Reboam
Tacape
76
Texto 2
(...)
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papeis
Documentos fiéis
(...)
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendemos todas as almas
Dos nossos índios num leilão...
Que país é esse?
Que país é esse?...(2x)
(Disponível em: http://letras.mus.br/legiao-urbana/46973/)
QUESTÃO 1
Em O canto do guerreiro, várias palavras que remetem à coragem e à contemplação da natureza de um índio
que está disposto a enfrentar qualquer obstáculo. Diante disso, responda aos seguinte comandos, que buscam realçar
aspectos essenciais à primeira geração do Romantismo:
Na canção do poeta Renato Russo, podemos destacar a revolta frente a um sistema degradado e hostil do qual
o Brasil, de acordo com o poeta, participa.
Apresente diferenças entre o índio retratado por Gonçalves Dias e o que aparece na canção de Renato Russo.
Nacionalismo e ufanismo são características deste primeiro momento da geração indianista. Destaque os con-
trapontos a estes sentimentos que podemos encontrar no texto 2.
Respostas comentadas
QUESTÃO 1
No poema, todos os instrumentos utilizados pelo índio devem ser observados na resposta dos alunos, tais
como: boré, tacape, frecha e outros.
O índio e a natureza estão em plena harmonia. A relação é de entrega total e de unidade. O índio do poema é
um herói, valente, guerreiro. Ele é forte e se sustenta por suas próprias mãos. A cultura e a natureza se exaltam pela
figura idealizada do índio que se torna o tema literário nacional. Na verdade, a figura desse índio é feita a partir de
uma idealização do mesmo, que ganha aspectos de cavaleiro medieval vestido de penas.
QUESTÃO 2
O índio do texto 1 é um herói, exaltado pela terra, forte, poderoso e que ama a natureza sendo irmanado com
ela. O índio do texto 2 é um escravo, um ser à venda, descartável e empobrecido, negociável e submetido apenas às
leis selvagens do mercado.
O amor pela pátria é substituído, no texto 2, pela revolta contra um sistema quebrado, contra uma realidade de
desigualdade social e diferenças. O autor deseja exaltar a necessidade de se observar a realidade com olhos críticos.
Páginas no material do aluno
Seção 3 − Barroco e Romantismo – contatos e
172 a 183
contrastes na poesia de sentimentos
Análise comparativa de
um soneto de Álvares de
Azevedo e da música João
Embalados
Cópias do e Maria, de Chico Buarque, Atividade
entre a amada 50 minutos
exercício. a fim de identificar pontos individual.
e a morte
comuns na caracterização
da morte e, principalmente
da mulher.
Aspectos operacionais
Entregar textos. Ler os textos. Observar pontos importantes em ambos os textos. Responder às questões.
Aspectos pedagógicos
Após a entrega dos textos, leia-os e destaque, com seus alunos, os pontos mais importantes a serem observa-
dos como as características do período. Em seguida, apresente as questões, esclarecendo possíveis dúvidas antes da
realização do trabalho. Permita que façam as atividades, com o seu auxílio, quando necessário.
Atividade
Na geração do mal do século, (2ª fase do período do Romantismo) os autores organizavam sua linguagem de
modo a mostrar imagens sugestivas de um pensamento focado na morte, no medo de amar ou no pessimismo dian-
te do mundo onde viviam. Para isso, o eu-lírico usa estratégias baseadas nas palavras, no tempo e no modo de ver a
amada. Diante disso e tendo por base a leitura dos textos a seguir, responda as questões:
Soneto
Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/QTQxNTAw/
João e Maria
A noiva do cowboy
Eu enfrentava os batalhões
80
[...]
[...]
Fonte: http://letras.mus.br/chico-buarque/45140/
QUESTÃO 1
No poema “Soneto”, de Álvares de Azevedo, as figuras de linguagem atuam na construção da imagem de uma
mulher pura, virgem, angelical, quase inatingível no plano real, só possível no plano dos sonhos.
a. Cite versos onde apareçam figuras de linguagem como a metáfora explicando o sentido construído
pela figura.
b. Compare o 9°verso do poema com o 7° verso a fim de observar que tipo de contraste podemos apontar
entre as visões desta mesma mulher.
QUESTÃO 2
QUESTÃO 1
a. Por ser a mulher uma figura inatingível, o poeta diz que ela é um anjo: “Não te rias de mim, meu anjo
lindo!”, por exemplo. Essa mesma imagem é observada na descrição “Pálida, à luz da lâmpada sombria/
Sobre o leito de flores reclinada/Como a lua...”, em que o eu-lírico a compara à lua.
b. O 7° verso traz a visão desta mulher “anjo”, tão impossível, intocada e pura (ideal e imaginária). O 9º ver-
so, retrata uma mulher de carne e osso, real que sente e vive como o poeta.
QUESTÃO 2
a. Em ambos os textos, a morte é vista como um mergulho na própria subjetividade e como um desen-
canto. Busca-se o espaço do sonho e do ideal que não se encontra. Observa-se um pessimismo e uma
forte necessidade de evasão.
b. A amada é vista sob a perspectiva do pessimismo. Ela é inatingível, idealizada, intocada. Vive nos deva-
neios e nos sonhos do eu- lírico: pura e virginal.
82
Atividade de Avaliação
Análise comparativa do
poema A mãe do Cativo, de
Castro Alves, e do samba-en-
redo Liberdade, Liberdade!
Há Romantis- Cópias do Atividade
Abra as asas sobre nós, do 50 minutos.
mo no Barroco? exercício. individual
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldi-
nense (RJ), a fim de observar
aspectos temáticos comuns
aos textos.
Aspectos operacionais
Proponha a leitura dos textos e, em seguida, as questões de análise.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, converse com os alunos sobre os tempos verbais relembrando-os. Após a leitura dos textos sele-
cionados, explicite o objetivo das questões.
Atividade
A última geração do período denominado Romantismo, na poesia, é a chamada geração condoreira devido ao
simbolismo do condor, uma ave que voa a grandes alturas, transmitindo uma sensação de altivez e liberdade. Asso-
ciado a essa idea, os poetas dessa vertente poética expressam um discurso persuasivo a favor da liberdade política e
social. O maior exemplo disso é Castro Alves, que exalta a natureza brasileira e se dedica às causas humanas, entre elas
o abolicionismo. Nesse contexto, você terá em mãos o poema “A mãe do cativo”, de Castro Alves, e a letra de “Liber-
dade, liberdade” (samba-enredo de 1989 da Imperatriz Leopoldinense, que virou tema de abertura de novela global
“Lado a lado”, de 2012), que serão alvos de reflexão sobre a linguagem e sobre a sociedade. Por isso, leia com atenção
estes dois textos e, em seguida, responda às questões que estão propostas.
Ó mãe do cativo! que alegre balanças Ao frio das noites, aos raios do sol.
A rede que ataste nos galhos da selva! Na vida - só cabe-lhe a tanga rasgada!
Melhor tu farias se a pobre criança
Na morte - só cabe-lhe o roto lençol.
Cavasses a cova por baixo da relva.
Ensina-o que morda... mas pérfido oculte-se
Ó mãe do cativo! que fias à noite
Bem como a serpente por baixo da chã
As roupas do filho na choça da palha!
Que impávido veja seus pais desonrados,
Melhor tu farias se ao pobre pequeno
Que veja sorrindo mancharem-lhe a irmã.
Tecesses o pano da branca mortalha.
Misérrima! E ensinas ao triste menino Ensina-lhe as dores de um fero trabalho...
Que existem virtudes e crimes no mundo Trabalho que pagam com pútrido pão.
E ensinas ao filho que seja brioso, Depois que os amigos açoite no tronco...
Que evite dos vícios o abismo profundo ... Depois que adormeça co’o sono de um cão.
E louca, sacodes nesta alma, inda em trevas, Criança - não trema dos transes de um mártir!
O raio da espr’ança... Cruel ironia!
Mancebo - não sonhe delírios de amor!
E ao pássaro mandas voar no infinito,
Marido - que a esposa conduza sorrindo
Enquanto que o prende cadeia sombria! ...
Ao leito devasso do próprio senhor! ...
Ó cega divina que cegas de amor?! Ó Mãe do cativo, que fias à noite
Ensina a teu filho - desonra, misérias, À luz da candeia na choça de palha!
A vida nos crimes - a morte na dor. Embala teu filho com essas cantigas...
Que seja covarde... que marche encurvado...
Ou tece-lhe o pano da branca mortalha.
84
Açoite
Brioso
corajoso.
Candeia
Utensílio de folha ou de barro que se usa suspenso da parede ou do velador e em que se coloca azeite ou querosene para ali-
mentar o lume na torcida ou mecha que sai por um bico.
Cantigas
poesias cantadas.
Cativo
escravo.
Choça
habitação humilde.
Devasso
libertino.
Fadário
destino, pesar..
Fero
cruel, violento.
Impávido
destemido
Látego
chicote.
jovem..
Mártir
Mortalha
vestidura branca que certos penitentes levam nas procissões; vestidura que envolve o cadáver que vai ser sepultado.
Pérfido
traidor.
Pútrido
podre..
Relva
Roto
Vil
86
Texto 2:
O centenário em poesia
Era fidalguia
Brilhando na Sapucaí
Foi presidente
Liberdade, liberdade!
Fonte: http://letras.mus.br/imperatriz-leopoldinense-rj/46373/
Refletindo sobre a gramática de nossa língua, vimos, nas unidades anteriores, que os verbos cada uma de
nossas escolhas linguísticas expressa um diferente ponto de vista sobre o que dizemos e/ou sobre como o dizemos.
Dentre essas escolhas, estão os modos verbais. São eles:
Relacionando a escolha dos modos verbais feita pelo poeta ao sentido dos versos, responda:
a. Em que modo verbal estão conjugados os verbos que estruturam o último verso da primeira e da se-
gunda estrofe? Qual a diferença de sentido entre esses verbos e aqueles que compõem o primeiro e o
segundo verso das mesmas estrofes?
b. “Despertes”, “ensina”, “arranca”. Em que modo verbal estão conjugados esses verbos que compõem o
segundo canto? Qual a importância dessa escolha linguística para a construção do poema?
QUESTÃO 2
O Texto 1 traz à tona o modo como o escravo vivia. Era maltratado, desprezado, sentia dor, tristeza, usava rou-
pas em más condições e, na morte, era coberto com tecido destroçado. Refletindo sobre o problema da discriminação
social, faça o que se pede:
a. Identifique, em algumas estrofes do poema, ações e condições que denunciam esse problema.
b. Em relação à postura da mãe do cativo, comente uma característica que revele a construção de estereótipo do
negro.
88
Respostas comentadas
QUESTÃO 1
a. Os verbos estão no futuro do subjuntivo. A diferença é que estes estão no indicativo presente.
b. Os verbos estão no modo Imperativo (afirmativo). É importante para a estrutura linguística do texto que
faz uma súplica, um apelo.
QUESTÃO 2
a. A condição do escravo é descrita em vários momentos do poema, como em: “Cavasses a cova por bai-
xo da relva” ou em “As roupas do filho na choça da palha!” A figura da pobreza e da morte são figuras
sempre necessárias ao negro: “... ao pobre pequeno/ tecesses o pano da branca mortalha”. Entre outras.
c. No poema, temos uma representação contundente do negro escravo, desprezado e humilhado social-
mente das formas mais vis, que serve por isso de forte denúncia social. Já no texto 2, a letra da canção, o
negro é aquele que deseja ser livre, já é capaz de festejar a própria liberdade, e se coloca na posição de
reivindicar, para si mesmo e para todos, direitos plenos e iguais.
A poesia
Clássica no
Brasil - O
do
M aterial
Arcadismo e o
Parnasianismo
Cristiane Brasileiro, Rafael Guimarães Nogueira, Jane Cleide dos Santos de Sousa e
Shirlei Campos Victorino.
Introdução
Olá, professor(a)!
Como recriação de uma realidade que se instaura pelas palavras, tais es-
téticas recuperam os ideais da Antiguidade Clássica, através da valorização da
forma perfeita e da exaltação da objetividade em reação aos excessos de forma e
conteúdo característicos dos estilos barrocos e românticos.
Bom trabalho!
Objetivos da unidade
92
Recursos e ideias para o Professor
Tipos de Atividades
Para dar suporte às aulas, seguem os recursos, ferramentas e ideias no Material do Professor, correspondentes
à Unidade acima:
Ferramentas
Atividades que precisam de ferramentas disponíveis para os alunos.
Avaliação
Questões ou propostas de avaliação conforme orientação.
Exercícios
Proposições de exercícios complementares
94
Páginas no material do aluno
Seção 2 − O Neoclassicismo
197 a 210
Computador A atividade
Forma & conectado Análise do vídeo One man’s pode ser de-
Conteúdo – à Internet e dream, da artista israelense senvolvida in-
representações datashow; ou Ilana Yahav, produzido em dividualmente
50 minutos
miméticas televisão e 2009, visando à observação ou em grupos
no período DVD, caso o das principais características de aproxima-
árcade. vídeo tenha temáticas do Arcadismo. damente 04
sido gravado. alunos.
Computador
conectado
Análise de um vídeo, a fim
à Internet e
Art Nouveau de identificar as influências
datashow; ou Atividade
e o Parnasia- das características estéticas 50 minutos
televisão e individual.
nismo do movimento Art Nouveau
DVD, caso o
na poesia parnasiana.
vídeo tenha
sido gravado.
O
Análise do Hino à Bandeira
parnasianismo Cópias do
Nacional, a fim de identificar Atividade
no Hino à exercício e 50 minutos
elementos parnasianos individual.
Bandeira dicionário..
nessa obra.
Nacional
Análise de um fragmento
do poema árcade "Marília
de Dirceu", de Tomás Antô-
Arcadismo e
nio Gonzaga,e do soneto
Parnasianismo Cópias do Atividade
parnasiano "Vaso Grego", de 50 minutos
– cruzando exercício. individual.
Alberto de Oliveira, a fim
leituras
de identificar as caracterís-
ticas dos estilos literários a
que pertencem.
96
Atividade Inicial
Aspectos operacionais
Apresente os textos e, em seguida, proponha questões como as que sugerimos.
Aspectos pedagógicos
Discuta, junto aos alunos, a síntese teórica presente no enunciado da primeira questão, retomando, se neces-
sário, os conceitos estudados na unidade 19, referentes ao Arcadismo e ao Parnasianismo. Em seguida, proponha as
questões de análise, orientando os alunos em suas conclusões.
Atividade
É comum as mulheres ficarem empolvorosas quando uma celebridade dá à luz. E a preocupação não é com
a nova vida que nasce, mas sim com a silhueta da mãe em questão. Pelo menos é o que aponta recente pesquisa
feita na Inglaterra com 6.626 mulheres – 60% delas dizem sentirem-se pressionadas por verem famosas superma-
gras logo após o parto. O problema é quando essa pressão leva a mulher a lançar mão de diversos recursos em
busca da forma perfeita, o que pode prejudicar não só ela como também o ser mais inocente da história: o bebê.
No Brasil não faltam exemplos de artistas que voltaram à forma poucos meses após o término da gestação .
A apresentadora Angélica, por exemplo, cinco meses após ter o segundo filho, Benício, posou para a capa de uma
revista que fala sobre o corpo. A mais emblemática, no entanto, é a cantora Claudia Leitte, que um mês após o parto
do primeiro filho, Davi, apareceu linda e loira em cima do trio elétrico no Carnaval de Salvador.
Milagre? Cirurgia? Qual o segredo das famosas? O especialista explica: “Elas têm uma gama enorme de pro-
fissionais para auxiliá-las a voltar à forma porque trabalham com a imagem. As mulheres anônimas não têm de se
preocupar tanto com isso”, diz o cirurgião plástico Ruben Penteado. Embora muitas mulheres o procurem pedindo
para fazer plástica no mesmo dia do parto, o profissional explica que isso não pode ser feito. Só é liberada de três a
seis meses após a parada da amamentação. “Neste período os hormônios estão alterados, então não é recomenda-
do nenhum tipo de intervenção cirúrgica. Inclusive há problemas de coagulação de sangue e a parte cardiovascular
está alterada, o que pode ser um risco para a mãe”, alerta o médico.
Outras iniciativas extremadas como, por exemplo, o uso de inibidores de apetite e, em alguns casos, até ana-
bolizantes, pode influir diretamente na criança, já que a mãe terá de deixar de amamentar para ingerir a fórmula.
Nem por isso a mulher tem de relaxar durante a gestação. São recomendados exercícios liberados pelo mé-
dico, como hidroginástica e ioga, além de uma alimentação balanceada. “ Cuidar-se durante a gravidez é funda-
mental para poder não só manter a forma, mas ter qualidade de saúde”, acrescenta o profissional. Após o parto, diz
ele, é preciso ter paciência para que a natureza se encarregue de voltar o corpo à forma normal.
(...).
Disponível em:
http://www.diaadiarevista.com.br/Noticia/5802/a-busca-da-forma-perfeita/ (Acesso em 31/07/13)
QUESTÕES
1. A autora discute, no artigo, a preocupação da maioria das mulheres com a silhueta logo após darem à luz.
Que fato releva que essa atitude pode ser um problema? Por quê?
2. Em sua opinião, o que leva as mulheres a tomarem “iniciativas extremadas” para manter a forma?
3. Que cuidados são indicados pelo especialista para se manter a boa forma antes, durante e depois da gravidez?
4. A autora faz um alerta em relação aos exageros da vaidade e do culto aos modelos de beleza. O que isso
tem a ver com as concepções neoclassicistas e parnasianas estudadas anteriormente?
98
5. Do texto, infere-se um imediatismo que leva as pessoas a viverem a vida intensamente. O desejo de apro-
veitar o dia e a vida enquanto possível, tema bastante explorado no Barroco, é retomado pelo Arcadismo.
Como essa ideia está presente na notícia “A busca da forma perfeita” e na “Lira XIIII”, de Tomás Antônio
Gonzaga, que segue abaixo?
(...)
(...)
E ao semblante a graça.
Vaso Chinês
Disponível em:http://www.infoescola.com/escritores/alberto-de-oliveira/
No poema acima, o eu-lírico descreve o momento de contemplação de um refinado vaso chinês. O procedi-
mento de análise consiste em compreender o todo, a partir da observação dos detalhes. Pode-se estabelecer um
diálogo entre esse texto e o artigo lido?
Respostas Comentadas
1. A preocupação das mulheres com a silhueta após darem à luz torna-se um problema quando elas lançam
mão de diversos recursos, nem sempre confiáveis e/ou saudáveis, devido à pressão social que sofrem quan-
to à exigência de uma forma perfeita, o que, reitera o texto, pode prejudicar tanto a mãe quanto o bebê.
2. Resposta pessoal. Espera-se que o aluno discorra sobre a pressão da mídia e da sociedade que firmam pa-
drões de beleza específicos, principalmente para as mulheres, o que acaba por impulsionar o comércio de
produtos voltados para os que desejam alcançar os padrões estéticos e, desta forma, preservar a juventude
e a vitalidade.
3. Para se manter a boa forma, os especialistas recomendam exercícios como a hidroginástica e a ioga, além
de uma alimentação balanceada com uma boa dose de paciência, tendo em vista que o corpo tem um
período de ajuste para voltar à forma natural.
4. A busca da perfeição formal e a exaltação dos ideais de beleza, sem abrir mão da razão e do equilíbrio, são
características da arte clássica greco-romana, retomada do Renascimento, presentes nos estilos árcade e
parnasiano.
100
5. Já na Lira XIII, há o pressuposto de que a existência é formada por instantes passageiros; dessa forma, o
tempo deve ser aproveitado para desfrutar a felicidade terrena, atualizando a expressão clássica acima que
vê a vida como um momento breve e efêmero.
6. Sim. A partir do título, “A busca da forma perfeita”, percebe-se o diálogo com o texto parnasiano, que revela uma
preocupação voltada para a forma: o eu-lírico exalta o detalhismo perfeccionista do esmerado artesão. Dessa
forma, a perfeição das peças decorativas alude à perfeição formal que o poeta procura alcançar no poema.
Aspectos operacionais
Apresente os textos e, em seguida, proponha questões como as que sugerimos.
Aspectos pedagógicos
Após a apresentação da pintura e da canção, os alunos devem identificar de que modo são abordados e de-
senvolvidos pelos autores árcades os temas ligados às filosofias de vida próprias ao período em questão – conforme
quadro esquemático do Material do Aluno, que trata da inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentis-
tas. Retome a síntese teórica presente no livro didático e, em seguida, proponha as questões de análise, orientando
os alunos em suas discussões e conclusões.
Observe, atentamente, a pintura abaixo (texto 1) e, em seguida, leia a canção que segue (texto 2) para respon-
der às questões propostas.
Texto 1:
Texto 2:
102
[...]
Pra perder?
Tão rara...
[...]
QUESTÕES
1. O século XVIII, pela propagação de ideias iluministas, foi marcado por tendências contrastantes, uma vez
que se reuniu a liberdade e a tradição, a expressividade e o artificialismo, a simplicidade espontânea da
expressão e o formalismo. De que forma isso está presente na pintura Paisagem do rio italiano e na música
Paciência?
2. O Arcadismo ou Neoclassicismo, ao combater os excessos do Barroco, exprimiu de forma mais clara e sim-
ples o apego do homem ao espaço natural, a manifestação do sentimento amoroso e dos princípios da
razão, em detrimento da religiosidade. Tendo em vista que, no Brasil, a exploração do ouro permitiu ao
homem da Colônia maior urbanidade, a produção estética reflete a cortesia do convívio e do refinamento
do intelectual, o permite uma maior dedicação à ciência e às artes em geral. O sonho de fruição e exaltação
da natureza pode ser identificado nos textos dados? Como?
2. Sim. Percebe-se o sonho da fruição e a exaltação da natureza através dos elementos que compõem a ima-
gem do pintor alemão como uma vida mais simples, os campos verdejantes e as árvores. Também na can-
ção, há o desejo por um espaço mais tranquilo, em que se possa encontrar “Um pouco mais de calma” e
“Um pouco mais de alma”. Tais representações apontam, pois, um ambiente mais equilibrado, remetendo-
-nos à ideia do locus amoenus e do fugere urbem, ou seja, a busca de um lugar propício para uma vida sim-
ples e harmoniosa, em contraste com a cidade que encontra eco no questionamento sobre a brevidade da
vida efemeridade da vida e a inexorabilidade do tempo.
Computador A atividade
Forma & conectado Análise do vídeo One man’s pode ser de-
Conteúdo – à Internet e dream, da artista israelense senvolvida in-
representações datashow; ou Ilana Yahav, produzido em dividualmente
50 minutos
miméticas televisão e 2009, visando à observação ou em grupos
no período DVD, caso o das principais características de aproxima-
árcade. vídeo tenha temáticas do Arcadismo. damente 04
sido gravado. alunos.
Aspectos operacionais
Apresente o vídeo e, em seguida, proponha questões como as que sugerimos.
104
Aspectos pedagógicos
Antes de apresentar o vídeo, seria interessante retomar com os alunos as características principais do estilo
árcade. Convém contextualizar o vídeo, explicando que se trata de uma produção que explora, de forma poética, a
questão da existência, construindo uma narrativa que tem a função refletir sobre as consequências do progresso e do
constante processo de urbanização. Feita essa introdução, exiba o vídeo e discuta-o com a turma, a partir das ques-
tões que propusemos ou de outras que julgar pertinente.
Atividade
(5min e 22seg)
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=dEgSoTCgvgA
QUESTÕES
1. Como o vídeo One man’s dream, produzido pela artista israelense Ilana Yahav, através da técnica de SandArt
(arte na areia), recupera os temas clássicos do Arcadismo como locus amoenus, o carpe diem , o fugere
urbem e o aurea mediocritas?
2.
a. O espaço da natureza apresenta-se rústico e simples, com uma paisagem tranquila e hamoniosa. O es-
paço urbano é opulento e luxuoso, cheio de prédios e de pessoas que não param para aproveitar o dia
ou para reparar na beleza e na brevidade da vida.
3. No vídeo, dentre os temas que caracterizam o Arcadismo, estão: o bucolismo; a representação dos valores
da natureza e a busca pela vida simples; e a exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza, através do
estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos.
106
Páginas no material do aluno
Seção 3 − Parnasianismo – o modelo clássico
211 a 222
revisitado no século XIX
Computador
conectado
Análise de um vídeo, a fim
à Internet e
Art Nouveau de identificar as influências
datashow; ou Atividade
e o Parnasia- das características estéticas 50 minutos
televisão e individual.
nismo do movimento Art Nouveau
DVD, caso o
na poesia parnasiana.
vídeo tenha
sido gravado.
Aspectos operacionais
Projete o vídeo e promova debate acerca das características do estilo Art Nouveau e do Parnasianismo. Em
seguida, encaminhe para a questão proposta.
Aspectos pedagógicos
Após o debate, solicite que os alunos voltem ao livro didático e releiam a Seção 2 (Neoclassisimo) e a Seção
3 (Parnasianismo – o modelo clássico revisitado no séc. XIX). Em seguida, solicite que realizem a atividade proposta.
Atividade
Você sabe o que é a Art Nouveau? Para saber (mais) sobre esse importante movimento artístico, assista a este
vídeo e responda: O que há em comum entre a Art Nouveau e as estéticas estudadas nesta unidade: o Arcadismo e o
Parnasianismo?
(2 min e 52seg)
Respostas Comentadas
Espera-se que o aluno identifique nos estilos estudados características como: a retomada de elementos clás-
sicos; o culto ao adorno, ao detalhe e à forma; a elaboração do fazer artístico a partir da valorização da lógica e do
conhecimento racional; oposição ao movimento romântico e à valorização das expressões sentimentais na arte. Os
alunos deverão, ainda, estabelecer relações entre as manifestações da estética Art Nouveau, como a arquitetura e o
design gráfico, com o rebuscamento e a busca da forma perfeita da poesia parnasiana.
O
Análise do Hino à Bandeira
parnasianismo Cópias do
Nacional, a fim de identificar Atividade
no Hino à exercício e 50 minutos
elementos parnasianos individual.
Bandeira dicionário..
nessa obra.
Nacional
108
Aspectos operacionais
Entregar as folhas aos alunos. Fazer leitura em conjunto. Disponibilizar dicionários. Propor as questões de análise.
Aspectos pedagógicos
Faça um breve resumo das principais características do estilo parnasiano estudadas no Material do aluno. Leia o
texto com os alunos e, se for possível, estimule-os a cantá-lo. Você pode, ainda, apresentar a música do hino, disponível em
sites como o Youtube. Solicite que utilizem o dicionário para melhor compreensão do significado de algumas palavras. Re-
force a preocupação do poeta com a forma do hino, principalmente na construção das rimas e na seleção do vocabulário.
Atividade
Além do Hino Nacional, há outros que exaltam a beleza de nosso país. Vamos ler, então, o Hino à Bandeira Na-
cional (que tem letra de Olavo Bilac e música de Francisco Braga) e, em seguida, responder às questões abaixo.
Olavo Bilac, o grande poeta parnasiano, não utilizou o soneto para escrever o Hino à Bandeira, mas preferiu
outra forma fixa, denominada verso gregoriano. Sabendo que o soneto é uma estrutura composta por versos decassí-
labos, o verso gregoriano é uma estrutura composta quantas sílabas poéticas?
Um dica: Para contarmos corretamente as sílabas poéticas, devemos seguir os seguintes preceitos: Não contamos
as sílabas poéticas que estão após a última sílaba tônica do verso; ditongos têm valor de uma só sílaba poética; duas ou
mais vogais, átonas ou até mesmo tônicas, podem fundir-se entre uma palavra e outra, formando uma só sílaba poética.
( ) 11 sílabas (hendecassílabo)
QUESTÃO 2
Observamos que ao escrever o Hino à Bandeira, o poeta preocupou-se com a utilização de rimas e métricas
perfeitas. Esses elementos referem-se a que característica parnasiana?
( ) impessoalidade
( ) objetividade temática
( ) rigor formal
QUESTÃO 3
O purismo e o preciosismo linguístico são fortes características parnasianas. Observe a 1ª estrofe do Hino e
retire elementos que expressem tais características.
QUESTÃO 4
Hipérbato (ou inversão) é uma figura sintática muito explorada pelos poetas parnasianos por conferir complexidade
e rebuscamento ao verso. Retire do Hino à Bandeira dois exemplos de hipérbato e reescreva-o desfazendo a inversão.
QUESTÃO 5
Ainda visando ao preciosismo vocabular, ao valor estético e ao descritivismo, o poeta explora o emprego de
palavras de grande valor conotativo e acentua a obsessão pelo adorno da frase, ampliando a erudição do texto. Uma
110
das formas encontradas para isso foi o uso de expressões que designam o objeto cantado (a nossa Bandeira Nacional)
através de suas características. Chama-se “perífrase” a figura de linguagem que explora esse recurso. Retire do texto
pelo menos duas expressões que exemplifiquem a perífrase.
Respostas Comentadas
QUESTÃO 1
Os verso gregoriano é composto por 9 sílabas métricas (eneassílabo), como se pode verificar na escansão do Hino:
(Refrão)
Refrão
Refrão
A utilização de rimas e métricas perfeitas refere-se ao rigor formal. Já a impessoalidade refere-se ao distanciamen-
to entre eu-lírico e objeto lírico; e objetividade temática, à negação da subjetividade e do extravasamento romântico.
QUESTÃO 3
O purismo e o preciosismo linguístico podem ser observados, por exemplo, no refinamento lexical (“pendão”;
“augusto”), no esquema de rima clássico ABAB, no emprego de rimas ricas (paz/traz, substantivo/verbo) e no uso de
inversões (“Tua nobre presença à lembrança A grandeza da Pátria nos traz.”)
QUESTÃO 4
- Tua nobre presença à lembrança A grandeza da Pátria nos traz. ( A grandeza da Pátria nos traz tua nobre
presença à lembrança)
- E o Brasil por seus filhos amado, poderoso e feliz há de ser! ( O Brasil há de ser poderoso e feliz e amado por
seus filhos)
QUESTÃO 5
A Bandeira Nacional é designada pelo poeta como: “pendão da esperança”, “símbolo augusto da paz”, “símbolo
da Terra”, “Sagrada bandeira”, “Pavilhão de justiça e de amor”.
112
Atividade de Avaliação
Análise de um fragmento
do poema árcade "Marília
de Dirceu", de Tomás Antô-
Arcadismo e
nio Gonzaga,e do soneto
Parnasianismo Cópias do Atividade
parnasiano "Vaso Grego", de 50 minutos
– cruzando exercício. individual.
Alberto de Oliveira, a fim
leituras
de identificar as caracterís-
ticas dos estilos literários a
que pertencem.
Aspectos operacionais
Proponha as duas questões que sugerimos e corrija-as oralmente.
Aspectos pedagógicos
A atividade propõe avaliar a capacidade do aluno em reconhecer e identificar as características básicas dos
estilos literários estudados.
Atividade
Em nossas aulas, vimos que o Arcadismo retomou os ideais do Classicismo, propondo o retorno à simplicidade
da forma literária e a valorização da cultura greco-romana. Já o Parnasianismo, apesar de representar, no século XIX,
o retorno à orientação clássica, não perseguia os mesmos ideais estéticos do arcadismo. Enquanto o primeiro se
contrapunha aos exageros barrocos, o segundo se contrapunha aos exageros românticos. Atento a isso, responda às
questões que se seguem:
Assinale com “A” as características do movimento Árcade, com “P” as características do movimento Parnasiano
e com “C” para as características comuns entre os dois movimentos.
1. ( ) culto à natureza
2. ( ) postura antirromântica
3. ( )racionalismo
8. ( ) busca da objetividade
114
QUESTÃO 2
Observe os dois poemas abaixo. Um é tipicamente árcade, e o outro é tipicamente parnasiano. Identifique-os
e justifique sua resposta a partir de elementos dos textos.
Poema 1:
Marília de Dirceu – 1ª parte Lira XIV (de Tomás An- e o leve filho sempre alegre salta.
tônio Gonzaga) A mesma formosura
(...) É dote, que só goza a mocidade:
Ornemos nossas testas com as flores. Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
E façamos de feno um brando leito, Mal chega a longa idade.
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Que havemos de esperar, Marília bela?
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Que vão passando os florescentes dias?
Sobre as nossas cabeças,
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
E para nós o tempo, que se passa,
Ah! Não, minha Marília,
Também, Marília, morre.
Aproveite-se o tempo, antes que faça
Com os anos, Marília, o gosto falta, O estrago de roubar ao corpo as forças
E se entorpece o corpo já cansado; E ao semblante a graça.
triste o velho cordeiro está deitado, (...)
Poema 2:
QUESTÃO 1
Na comparação entre as duas estéticas, espera-se que os alunos apresentem a seguinte sequência:
1. ( A ) culto à natureza
2. ( P ) postura antirromântica
3. ( C )racionalismo
8. ( C ) busca da objetividade
QUESTÃO 2
O poema 1 é representativo do Arcadismo. Isso porque há a utilização de uma linguagem simples e a citação de
elementos da natureza, tais como “flores”, “cordeiro”; faz referência a elementos pastoris (“façamos de feno um brando
leito”); e valoriza o tempo presente (carpe diem): “Que havemos d’esperar, Marília bela?” e “aproveite-se o tempo, antes
que se faça / o estrago de roubar ao corpo as forças”. Além disso seu autor é um reconhecido expoente desse estilo.
O poema 2, por sua vez, é representativo da estética parnasiana. Espera-se que aluno reconheça o autor como
integrante da Tríade Parnasiana (Raimundo Correa, Olavo Bilac e Alberto Oliveira) e identifique a objetividade temá-
tica – em que o poeta não focaliza seus sentimentos, mas trata de um objeto (o vaso grego), fugindo de sentimen-
talismos e subjetivismos. Há, ainda, referências a elementos gregos, como “Olimpo”, “poeta de Teos”, “Anacreonte”, e
o rebuscamento e o preciosismo vocabular, como nas expressões “áureos relevos”, “divas mãos”, “Ignota voz”. Assim,
concretiza-se o conceito de arte pela arte, já que o poeta esmera-se para descrever, tão poeticamente quanto possível,
um simples objeto.
Volume 2 • Módulo 2 • Língua Portuguesa e
Literatura • Unidade 8
P rofessor
Brasil colonial:
além da poesia
lírica
do
M aterial
Introdução
Olá, professor(a)!
Bom trabalho!
Objetivos da unidade
Reconhecer a herança do Classicismo Português na estrutura dos poemas épicos árcades brasileiros;
Analisar textos barrocos e árcades, considerando a linguagem, a estética e o contexto sociocultural da época.
118
Páginas no material
Seções
do aluno
Seção 2 - Histórias e críticas no Arcadismo brasileiro - a poesia épica e a satírica 252 a 264
Para dar suporte às aulas, seguem os recursos, ferramentas e ideias no Material do Professor, correspondentes
à Unidade acima:
Ferramentas
Atividades que precisam de ferramentas disponíveis para os alunos.
Avaliação
Questões ou propostas de avaliação conforme orientação.
Exercícios
Proposições de exercícios complementares
Computador
Análise de um vídeo sobre a
conectado
História do Brasil e de textos
à Internet e
literários do Quinhentismo,
datashow ou
Revisitando do Barroco e do Arcadismo. Diálogo
televisão e 140
o Período O objetivo da Atividade didático com
DVD, caso o minutos.
Colonial é, portanto, relacionar os toda a turma.
vídeo tenha
principais fatos históricos a
sido gravado;
algumas produções literárias
Cópias do
dos século XVI, XVII e XVIII.
exercício.
Análise do "Sermão de
Santo Antônio (aos peixes)",
do padre Antônio Vieira,
Ousadia e
contundência: Cópias do a fim de apresentar esse Atividade
50 minutos
um sermão de exercício. gênero textual e, a partir individual.
Vieira
dele, identificar o contexto
histórico e social
do século XVII.
120
Tipos de Título da Material Divisão da Tempo
Descrição Sucinta
Atividades Atividade Necessário Turma Estimado
Atividade de Avaliação
Resolução de questões
objetivas retiradas de
Desafios de
exames vestibulares, a fim
vestibular: Cópias do Atividade
de avaliar os conhecimentos 50 minutos.
barroco e exercício. individual.
apreendidos pelos alunos
arcadismo
sobre os estilos de época
estudados.
122
Atividade Inicial
Computador
Análise de um vídeo sobre a
conectado
História do Brasil e de textos
à Internet e
literários do Quinhentismo,
datashow ou
Revisitando do Barroco e do Arcadismo. Diálogo
televisão e 140
o Período O objetivo da Atividade didático com
DVD, caso o minutos.
Colonial é, portanto, relacionar os toda a turma.
vídeo tenha
principais fatos históricos a
sido gravado;
algumas produções literárias
Cópias do
dos século XVI, XVII e XVIII.
exercício.
Aspectos operacionais
Apresente o vídeo e, em seguida, proponha questões como as que sugerimos.
Aspectos pedagógicos
Antes de apresentar o vídeo, seria interessante retomar com os alunos a relação entre Literatura e cultura.
Relembre que, através da literatura, o homem manifesta sua visão de mundo e veicula valores estéticos e culturais.
Como o mundo está em constante transformação, a representação da realidade varia de época para época: “Há então
um estilo que empresta fisionomia própria e inconfundível a cada época e que se traduz em características comuns
aos vários escritos representativos dessa mesma época.”. Desse modo, os alunos poderão ficar mais motivados a as-
sistir ao vídeo – que trata, especificamente, de aspectos histórico-culturais do período colonial, em que se inserem o
Quinhentismo, o Barroco e o Arcadismo. Feita essa introdução, exiba o vídeo e discuta-o com a turma, relacionando-o
à análise dos textos literários selecionados.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o Período do Brasil Colônia, em que se inserem o Quinhentismo, o
Barroco e o Arcadismo, e observar a relação entre a História e a Literatura, assista a este vídeo, que integra Videoteca
Do Estudante, e, em seguida, responda às questões propostas.
QUESTÕES
3. Como esses objetivos se refletem no trecho a seguir, extraído da Carta de Pero Vaz ao Rei de Portugal?
124
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela [na nova terra], ou outra coisa de metal, ou ferro; nem
lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados [...]. Águas são muitas; infinitas. Em tal
maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a prin-
cipal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
(CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. Disponível em: http://www.culturabrasil.org/zip/carta.pdf.)
4. O que significa a frase “Os portugueses se arrastavam pela praia como caranguejos”, utilizada pelo cronista
Frei Vicente de Salvador para se referir aos primeiros anos de colonização portuguesa?
5. Durante o período do Governo Geral, qual foi a principal atividade econômica desenvolvida? E qual a prin-
cipal mão de obra utilizada?
7. De que maneira essa caracterização do Brasil do século XVII se reflete, por exemplo, neste poema de Gre-
gório de Matos, autor barroco?
8. A partir de meados do século XVIII, qual passou a ser a principal atividade de exploração? E qual o reflexo
dessa mudança na formação da população da colônia?
9. Neste período, surge, no Brasil, um movimento literário impulsionado pelos ideais iluministas de liberdade
e igualdade: o Arcadismo. Os poetas árcades participam de movimentos contra o domínio português e, em
suas obras, impulsionaram, como a Inconfidência Mineira. Atento a isso, responda: Como são retomados os
ideais iluministas neste trecho do poema épico Vila Rica, de Claudio Manuel da Costa, publicado em 1773?
10. O que marca o final do Período Colonial? E quais foram os principais fatos históricos do início do século XIX
que promoveram esta mudança?
Respostas Comentadas
A partir de um diálogo didático com a turma, espera-se que os alunos recuperem informações presentes no
vídeo, respondendo que:
1. O pioneirismo português na expansão marítima deve-se, em primeiro lugar, ao fato de, desde o século XII,
Portugal ser em uma monarquia centralizada – o que lhe permitiu acumular riquezas e, assim, financiar as
navegações. Além disso, Portugal aprendeu com os genoveses, da Itália, as técnicas de navegação. Por fim,
deve-se considerar a posição privilegiada de Portugal na Península Ibérica: ocupa, nas palavras do historia-
dor, uma “ponta” do continente europeu, facilitando a navegação pelo Atlântico.
126
2. As expedições portuguesas tinham como principais objetivos a aquisição de bens materiais, principalmen-
te o ouro e as especiarias. Ao mesmo tempo, segundo Boris Fausto, havia um “espírito de aventura”, que
refletia o desejo de conhecer novos rumos e novas terras.
3. No trecho da carta de Pero Vaz, a busca por bens materiais fica evidente no fragmento “Até agora não pu-
demos saber se há ouro ou prata nela [na nova terra], ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos.”. Já
o desejo por conhecer novas terras é percebido em: “Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e
temperados [...]. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á
nela tudo; por causa das águas que tem!”. Na Carta de Achamento do Brasil, indica-se, ainda, um outro obje-
tivo das expedições portuguesas, não mencionado no vídeo: a busca por novos cristãos católicos: “Contu-
do, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal
semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.”.
4. A frase "Os portugueses se arrastavam pela praia como caranguejos" indica que, nos primeiros anos de
colonização, os portugueses se fixavam nas praias, no litoral, principalmente em regiões do Nordeste de
nosso país.
5. Durante o Governo Geral, o modelo de exploração implantado pelos portugueses no Brasil focalizava o
cultivo da cana-de-açúcar, desenvolvido pela exploração da mão de obra indígena e, anos depois, pelo
trabalho escravo de africanos traficados.
6. Segundo o historiador, o Brasil do século XVII era "atrasado" e "mais indígena", como se configurava, por
exemplo, a atual cidade de São Paulo, que, nesse período, era povoada por bandeirantes.
7. Semelhante à caracterização da cidade de São Paulo, feita, no vídeo, pelo historiador Boris Fausto, há, no
poema em análise, a “Descrição da cidade de Sergipe D’el-Rei" como um espaço retrógado. Tal imagem é,
no poema, construída pela listagem de elementos que apontam pouco desenvolvimento tanto na estrutu-
ra física da cidade quanto na formação intelectual de seus habitantes " como em: “casebres remendados”,
“Doze porcos na praça bem criados” e “Dois conventos, seis frades, três letrados”.
8. A partir de meados do século XVIII, a principal atividade de exploração passou a ser a mineração, visto que
bandeirantes encontraram metais preciosos no atual estado de Minas Gerais. A notícia dessa nova ativida-
de comercial despertou o interesse dos portugueses que viviam na Europa, estimulando-os a imigrar para
o Brasil. Assim, a “corrida do ouro” modificou a configuração da população da colônia, até então, constituí-
da, principalmente, de índios e negros.
9. No poema de Claudio Manuel da Costa, os ideais iluministas são resgatados, principalmente, pela crítica à
intolerância política que marca o absolutismo (“Não é destro cultor, o que procura / Decepar aquela árvore,
que pode / Sanar, cortando um ramo, si lhe acode / Com sábia mão a reparar o dano”) e, consequentemen-
te, pela defesa da igualdade (“Necessária se faz uma igualdade / De razão e discurso”). Há, ainda, a defesa
da liberdade ou, pelo menos, de uma nova forma de governo (“quem duvida, / [...] Que a todos falta um
condutor prudente / Que os dirija ao acerto?”).
10. O fim do Período Colonial é marcado pela Independência do Brasil, em 1822. Dentre os fatos históricos que
contribuíram para a instituição do Império do Brasil, destacam-se: a vinda da família real para a colônia, em
1808, como fuga às pressões de Napoleão Bonaparte; a abertura dos portos brasileiros às demais nações
do mundo, rompendo o antigo pacto colonial; o retorno de D. João VI para Portugal e o início da regência
de D. Pedro I, em 1821; o grito de independência de D. Pedro I, que, ao voltar de Santos, parado às margens
do riacho Ipiranga, recusou as ordens de seu pai para que voltasse a Portugal, pronunciando a famosa frase
“Independência ou Morte!”, em 7 de Setembro de 1822.
Análise do "Sermão de
Santo Antônio (aos peixes)",
Ousadia e do padre Antônio Vieira,
contundência: Cópias do a fim de apresentar esse Atividade
50 minutos
um sermão de exercício. gênero textual e, a partir individual.
Vieira dele, identificar o contexto
histórico e social
do século XVII.
Aspectos operacionais
Proponha a leitura do texto selecionado e, em seguida, questões de análise como as que sugerimos.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, podem ser apresentadas pinturas que caracterizam o Brasil do século XVII, a fim de destacar o
momento histórico em que se deu a produção do sermão. Em seguida, distribua aos alunos o texto e as questões
propostas, orientando-os em suas conclusões.
Atividade
Como vimos, o Barroco é o estilo artístico que marca o século XVII. Na Literatura, Gregório de Matos,
considerado o maior poeta do Barroco brasileiro, abalou as estruturas morais de sua época (os costumes da
sociedade baiana) e questionou pessoas públicas (como o administrador português, o próprio rei e o clero).
De forma semelhante, o “impiedoso” Padre Antônio Vieira contraiu muitas críticas e inimizades, pois, em suas
obras literárias, também questionava os padrões morais da época.
Antônio Vieira, em termos políticos, tinha contra si: a pequena burguesia cristã, porque defendia o ca-
pitalismo judaico e os novos cristãos; os pequenos comerciantes do Brasil, por ter ajudado na criação de um
monopólio mercantil no Maranhão; e administradores e colonos, por defender os índios. Tais posições, em
especial, a defesa dos novos cristãos, custaram-lhe uma condenação pela Inquisição, tendo ficado preso por
dois anos (1665-1667).
128
Considerando essas informações, analise este sermão, proferido por Vieira, em 1654, na cidade de São Luís
do Maranhão. Nele, o padre usa sua argumentação para, em uma terra corrompida, chamar a responsabilidade dos
pregadores e impressionar os ouvintes.
Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque
quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta
como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?
Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra não se deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não
pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que
lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou
porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem; ou
é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. [...]
Suposto, pois, que, ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar; que se há de fazer a este sal, e que se
há de fazer a esta terra? O que se há de fazer ao sal, que não salga, Cristo disse logo: [...] Se o sal perder a substância
e a virtude, e o Pregador faltar à doutrina, e ao exemplo; o que se lhe há de fazer, é lança-lo fora como inútil, para
que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal coisa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como
não há quem seja mais digno de reverência, e de ser posto sobre a cabeça, que o Pregador, que ensina e faz o que
deve; assim é merecedor de todo o desprezo, e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra, ou com a vida
prega o contrário.
(VIEIRA, Antônio. In: PÉCORA, Alcir (Org.). Sermões. Tomo I. São Paulo: Hedra, 2000. p. 317-318. Fragmento.)
QUESTÕES
2. Ao iniciar o seu sermão com a fala de Cristo, Vieira faz um questionamento. Qual seria ele?
4. Segundo Vieira, quais são os motivos pelos quais a pregação não consegue eliminar a corrupção?
5. Quanto aos fiéis, quais são as razões que levam os mesmos a não acatarem os conselhos dos pregadores?
8. Em sua opinião, as colocações feitas por Vieira podem ser consideradas atuais? Presenciamos, em nossa
sociedade, a realidade colocada por ele em seu sermão? Comente sua resposta.
1. Segundo Vieira, os pregadores são o “sal da terra”, cuja função é impedir, com suas pregações, a corrupção
disseminada entre seus fiéis.
2. Vieira questiona os ouvintes sobre as causas da corrupção, tendo em vista a grande quantidade de prega-
dores que deveriam impedi-la, conforme argumenta em: “mas quando a terra se vê tão corrupta como está
a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?”.
3. O questionamento representa uma estratégia para iniciar o raciocínio, apresentando o tema do sermão: a
corrupção. Em seguida, apresentam-se as causas da corrupção na sociedade.
4. Os motivos seriam porque os pregadores não pregam a doutrina verdadeira; não vivenciam o que pregam
e pregam sobre si mesmos e não sobre Cristo em seus sermões.
5. Segundo o autor, “a terra não se deixa salgar”, porque os ouvintes não dão ouvidos à verdadeira doutrina;
desejam imitar a vida incorreta dos pregadores e, por isso, não seguem os verdadeiros ensinamentos; e,
ainda, se deleitam em seus próprios desejos ao invés de seguir os mandamentos de Cristo.
6. Para Vieira, os pregadores que não cumprem as suas funções de forma honesta e adequada, devem ser lan-
çados fora do ofício (“lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos”.), pois “é merecedor de todo
o desprezo, e de ser metido debaixo dos pés”.
7. A partir das respostas anteriores, os alunos poderão concluir que um sermão é um texto essencialmente
argumentativo em que um profeta ou religioso discute temas bíblicos, teológicos, religiosos ou morais, sob
os princípios da crença que professa. No sermão em análise, Vieira retoma o Evangelho – especificamente,
Mateus 5:13 (“Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta
senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.”) – para tratar de um tema social e moral (a corrupção)
e, ao mesmo tempo, repensar a atuação e a postura do clero.
8. Resposta pessoal. Seria interessante os alunos perceberem que, apesar de ter sido escrito num passado re-
moto, o sermão permanece bem atual. Ainda há, por um lado, religiosos que pregam algo distante do que
praticam, não dando exemplo de vida cristã e, por isso, não são ouvidos pelos fiéis; e, por outro, “fiéis” que
não seguem os ensinamentos da Igreja. Há, também, a possibilidade de associar os pregadores e os fiéis
aos políticos de nossa sociedade, os quais fazem promessas nas eleições, mas não cumprem e pessoas que
seguem as suas próprias convicções, sendo indiferentes aos seus deveres.
130
Páginas no material do aluno
Seção 1- Argumentação e crítica no barroco do Brasil
239 a 252
Aspectos operacionais
Proponha a leitura do texto selecionado e, em seguida, questões de análise como as que sugerimos.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, retome, junto aos alunos, as tipologias textuais já estudadas e introduza a tipologia argumenta-
tiva, sistematizando, se necessário, seus principais elementos. Em seguida, distribua aos alunos o texto e as questões
propostas, orientando-os em suas conclusões.
Atividade
O texto a seguir é um fragmento de um dos mais importantes sermões do padre António Vieira. Leia-o, com
atenção, e responda às questões que se seguem.
[IX] Sabeis, Cristãos, a causa por que se faz hoje tão pouco fruto com tantas pregações? – é porque as pala-
vras dos pregadores são palavras, mas não são palavras de Deus. Falo do que ordinariamente se ouve. A palavra de
Deus (como dizia) é tão poderosa e tão eficaz, que não só na boa terra faz fruto, mas até nas pedras e nos espinhos
nasce. [...]
[X] A pregação que frutifica, a pregação que aproveita, não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que
lhe dá pena. [...] quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atônito, então é a pregação qual convém,
então se pode esperar que faça fruto. [...]
Semeadores do Evangelho, eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens
saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos concei-
tos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim,
todos os seus pecados. Contanto que se descontentem de si, descontentem-se embora de nós. Si hominibus place-
rem, Christus servus non essem – dizia o maior de todos os pregadores, S. Paulo: ´Se eu contentara aos homens, não
seria servo de Deus’. Oh, contentemos a Deus, e acabemos de não fazer caso dos homens!
VIEIRA, padre Antônio Vieira. Sermões. Rio de Janeiro: Agir, 1968. (Fragmento adaptado).
QUESTÃO 1
Nos textos argumentativos, podemos reconhecer: (i) uma tese e (ii) um ou mais argumentos. A tese é a ideia
que o autor defende a partir de argumentos. Sabendo que o texto gerador X é um texto argumentativo, responda:
a. Sublinhe, no texto, a tese defendida pelo Padre Vieira para responder à pergunta-problema “Sabeis,
Cristãos, a causa por que se faz hoje tão pouco fruto com tantas pregações?”. Depois, explicite essa tese.
b. Após identificar a tese, podemos reconhecer os argumentos usados pelo autor transformando a tese
em uma pergunta com “Por que”. Envolva, no texto, o argumento que o autor apresenta para compro-
var essa tese.
QUESTÃO 2
O Conceptismo é um traço do estilo Barroco caracterizado pelo privilégio da expressão do raciocínio, por meio
do jogo de ideias e de recursos argumentativos. Ao fim da pregação do texto gerador V, o padre Vieira fez uso de um
recurso argumentativo para persuadir seu público: a citação. Transcreva do fragmento um exemplo de uso desse
recurso e relacione-o ao Conceptismo.
132
Respostas Comentadas
QUESTÃO 1
É interessante iniciar a análise da questão mostrando que a argumentação é uma ação verbal pela qual se
leva uma pessoa e/ou todo um auditório a aceitar uma determinada tese, valendo-se, para tanto, de recursos que
demonstrem a consistência dessa tese. Dessa forma, argumentação é um termo que se refere tanto a esse ato de con-
vencimento quanto ao conjunto de recursos utilizados para realizá-lo. Por meio desta questão, pode-se exemplificar
essas características da argumentação.
a. Para responder por que a palavra de Deus faz hoje tão pouco fruto, Vieira defende a ideia de que as pa-
lavras dos pregadores “são palavras, mas não são palavras de Deus”. Para que os alunos sejam capazes
de explicitar essa tese, é importante estimulá-los a reler todo o fragmento do Sermão. Assim, poderão
reconhecer que, para o Padre Vieira, as palavras de Deus pregadas no sentido que Deus as disse, essas
sim são palavras de Deus; mas pregadas no sentido que os pregadores querem ou utilizam, “não são
palavras de Deus”. Em outras palavras, os pregadores devem tomar as palavras da Escritura em seu ver-
dadeiro sentido, como Cristo as pregou, semeou. Pode-se ainda comentar que, de acordo com a tese
do Padre Vieira, os pregadores andavam tomando as palavras da Escritura em sentido alheio e torcido,
de acordo com as conveniências humanas. Porém, se as palavras de Deus fossem semeadas em seu
verdadeiro sentido, elas frutificariam.
b. No sermão, o aluno deve reconhecer que, para defender a tese de que os pregadores apenas usam as
palavras, mas não as palavras de Deus, Vieira utiliza como argumento a força e a eficácia da própria
palavra de Deus: “A palavra de Deus (como dizia) é tão poderosa e tão eficaz, que não só na boa terra
faz fruto, mas até nas pedras e nos espinhos nasce”. Assim, ele justifica o fato de a palavra de Deus – e
somente ela – frutificar até em lugares impossíveis, diferentemente das palavras dos homens, que, por
mais que sejam semeadas, não frutificam. Por fim, vale destacar para os alunos que, nos sermões, os
argumentos são fundamentais para convencer e persuadir os fiéis. No Sermão da Sexagésima, o argu-
mento em questão corrobora a tese de que a perda de fiéis da Igreja se deve à incompetência de alguns
pregadores, mas não de Deus. Assim, exalta-se a força de Deus e de suas palavras.
c. O Sermão da Sexagésima, proferido na Capela Real a um público composto por católicos da nobreza
portuguesa em 1655, propõe-se a discutir “por que não frutifica a palavra de Deus na terra”. Nessa dis-
cussão, o Padre António Vieira examina e refuta diversas hipóteses antes de defender sua tese. Predomi-
na, portanto, o modo de organização argumentativo.
Para que os alunos sejam capazes de reconhecer as razões para o padre ter escolhido utilizar-se desse tipo de
organização do discurso, é importante levá-los a identificar o objetivo de um sermão. Para tanto, vale destacar que o
sermão é um discurso religioso, pregado no púlpito (tribuna), para um auditório repleto de fiéis dispostos a ouvir as
ideias do sacerdote. Seu objetivo é convencer – levar à aceitação de uma ideia – e persuadir – induzir a uma ação ou
decisão – seu público ouvinte acerca de determinado tema. É interessante esclarecer que, à convicção, basta o enten-
dimento; mas, à persuasão, é necessária a emoção.
Para que reconheçam, no Sermão da Sexagésima, do que o padre pretendia convencer e persuadir seu público,
é interessante relembrar o contexto religioso turbulento vivido, tanto no Brasil quanto na Europa, no período do Bar-
roco. A Igreja Católica sofreu uma grande perda de fiéis devido à Reforma de Lutero. Daí, pode-se constatar o objetivo
A partir dessa análise, pode-se demonstrar que, Vieira precisava, primeiro, convencer o leitor da verdade da
proposição em análise. Assim, tornava-se possível levar o ouvinte a implicar-se no texto, através da criação de uma
cumplicidade entre orador e ouvinte, de modo que este se torne predisposto a aceitar os pontos de vista apresenta-
dos. Para isso, ele se utilizou de toda a sua técnica argumentativa, ao longo de dez capítulos.
QUESTÃO 2
Ao longo do Sermão da Sexagésima, Vieira utiliza-se do Conceptismo, do raciocínio engenhoso, com o pro-
pósito de ensinar, persuadir e convercer o público. Na peroração (conclusão) do fragmento, o autor traz à memória
dos ouvintes os principais argumentos defendidos em relação à pregação que frutifica. Sua estratégia persuasiva é
comover e mover o ânimo dos ouvintes à ação. A ação é: sair descontente de si dos sermões. Para fundamentar essa
ação, se utiliza de um recurso argumentativo: a citação. A marca linguística própria do discurso citado é a utilização
do uso de aspas, cuja função é destacar transcrições textuais.
Ao citar o apóstolo São Paulo (“Se eu contentara aos homens, não seria servo de Deus”), Vieira sustenta não só
a tese defendida (o pouco fruto da palavra de Deus), mas também a própria argumentação com vistas à ação. O pro-
fessor pode aproveitar o momento e orientar o aluno de que não é só no Sermão da Sexagésima que Vieira costuma
usar a citação de textos bíblicos para fundamentar os seus argumentos e persuadir o ouvinte, ele a utiliza na maioria
de seus sermões.
No fragmento, Vieira usa esse recurso para demonstrar aos ouvintes que a autoridade bíblica, São Paulo, é um
especialista no assunto religioso da matéria em discussão. Logo, é uma autoridade incontestável quando diz que todo
ouvinte deve sair descontente de si das pregações, pois aquele que contenta aos homens não é servo de Deus. A
fonte citada é, portanto, uma fonte confiável, de prestígio. O uso desse recurso tem por objetivo maior fazer com que
Vieira consiga adesão à sua tese, buscando com isso dar à própria fala o prestígio e a autoridade de outrem, citando
de São Paulo o que entende como conveniente à sustentação que está fazendo: não se pode contentar aos homens
somente a Deus para que a mesma palavra de Deus frutifique.
Vale ressaltar que a citação pode servir tanto para reforçar como para desautorizar uma atividade argumen-
tativa e requer, por isso, que o autor saiba não só interpretar, mas também fazer os recortes convenientes das falas e
integrá-los, de modo que produzam os melhores efeitos persuasivos. Esse intuito persuasivo pode ser reconhecido a
partir do uso da interjeição e da apóstrofe, logo após a citação, impressionando o auditório: “Oh, contentemos a Deus,
e acabemos de não fazer caso dos homens!”.
134
Páginas no material do aluno
Seção 1- Argumentação e crítica no barroco do Brasil
239 a 252
Aspectos operacionais
Proponha a leitura dos textos selecionados e, em seguida, a questão de análise que sugerimos.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, retome, junto aos alunos, as principais marcas do cultismo e do conceptismo, relendo e amplian-
do as sínteses presentes no Material do Aluno e no enunciado da questão. Em seguida, distribua aos alunos os textos
e proponha a questão comparativa, orientando-os em suas conclusões.
Atividade
Reunindo as produções do Barroco, podemos identificar dois estilos: o cultismo e o conceptismo. Por um lado,
a corrente cultista focaliza a forma, caracterizando-se pela construção de imagens, por estímulos sensoriais, por para-
lelismos, por jogos de palavras (sinonímia, antonímia) e pelo uso recorrente de figuras de linguagem, principalmente
as metáforas e os paradoxos. Por outro, os autores considerados conceptistas privilegiam o conteúdo de suas obras,
isto é, as relações de sentido construídas entre as ideias que estruturam o texto, tais como comparações, menções a
outros textos, relações lógicas e referências à origem dos vocábulos.
Texto 1:
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Porém se acaba o Sol, por que nascia? E tem qualquer dos bens por natureza
Se é tão formosa a Luz, por que não dura? A firmeza somente na inconstância.
Texto 2:
Capítulo III:
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de
mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem
de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que,
quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque
não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma
o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com
que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque
o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para
não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o
ter amado muito, de amar menos. [...]
136
Respostas Comentadas
O Sermão de Vieira, de caráter argumentativo, constrói-se por um jogo de ideias, por uma relação lógica entre
os enunciados que o compõem. Nesse sentido, é importante destacar para os alunos que a primeira frase do excerto
selecionado poderia ser considerada como a tese do texto, uma vez que explicita a opinião do autor em relação à
temática. Você pode, ainda, mostrar aos alunos que, a partir do período “Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo
gasta, tudo digere, tudo acaba.”, Vieira resgata a cultura clássica, mais especificamente a teogonia – do grego, theos
(deus) e genea (origem). Nesse mito da criação do Universo, Crono, titã do tempo, assumiu o poder do Universo e,
com medo de perdê-lo, engolia seus filhos recém-nascidos, como cantou o poeta Hesíodo nos primeiros versos da se-
gunda estrofe de “O nascimento de Zeus”: “E engolia-os o grande Crono tão logo cada um / do ventre sagrado da mãe
descia aos joelhos, / tramando-o para que outro dos magníficos Uranidas / não tivesse entre os imortais a honra de
rei.”1. Portanto, por meio dessa referência, a erudição de Vieira torna-se evidente já a partir do primeiro do fragmento
do Sermão do Mandato.
Dando sequência à argumentação do texto, o padre, a fim de defender seu ponto de vista, utiliza, primeira-
mente, analogias. A primeira delas pode ser identificada no trecho “Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto
mais a corações de cera!”, em que o autor relaciona a resistência do mármore – incapaz de resistir à ação do tempo – à
fragilidade dos sentimentos. Em seguida, o autor compara as afeições à própria experiência humana: na certeza da
efemeridade das coisas, a cada dia nos aproximamos da morte, do fim dos sentimentos. Essa mesma ideia é inten-
sificada pela analogia seguinte: “São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais
continuadas, tanto menos unidas.”, construída por referência a conhecimentos da Geometria. Desse modo, para que
seus alunos compreendam mais facilmente esse argumento, você pode desenhar um círculo e mostrar-lhes que,
embora o ângulo formado pelos raios permaneça o mesmo, a distância entre as linhas aumenta, à medida que elas se
estendem – conforme representamos na figura abaixo:
Outra estratégia argumentativa explorada por Vieira neste sermão é a relação de causalidade. Se todas as coisas
se acabam com o tempo, a vitalidade do amor só pode ser representada no momento em que ele desperta, quando,
próximos ao centro da circunferência, os raios ainda estão unidos. Retomando, novamente, elementos mitológicos,
o autor defende que, sob o governo de Crono, as flechas de Eros (ou, na cultura romana, Cupido) não mais atingem o
1 Cf. Teogonia: a origem dos deuses. 3. ed. [Estudo e tradução Jaa Torrano]. São Paulo: Ed. Iluminuras LTDA, 1995.
Disponível em: http://psicologiaanalitica.files.wordpress.com/2010/05/hesiodo-teogonia-a-origem-dos-deuses.pdf. cf. Hesíodo: 102)
Concluindo a exploração do texto, você pode ressaltar o fato de o autor retomar, no período “Gasta-se o ferro
com o uso, quanto mais o amor?”, a primeira analogia que utilizou como argumento, para, em seguida, apresentar sua
conclusão. Dessa maneira, você pode ajudar os alunos a compreender que o texto se fecha com um silogismo: se tudo
é passageiro, quanto mais se pôde amar, menos tempo se tem para desfrutar esse sentimento – conforme “O mesmo
amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.”.
Logo, o Sermão do Mandato – que, como vimos, se constrói por comparações, referências mitológicas (incluin-
do a exploração do sentido do vocábulo “tempo”) e relações de causalidade entre as proposições que o estruturam
– prioriza a lógica, inserindo-se na vertente conceptista.
O soneto “À instabilidade das cousas do mundo”, por sua vez, possui maior rebuscamento formal. Desse modo,
é importante que você identifique, junto a seus alunos, as diversas figuras de linguagem presentes nesse poema. Se,
no desenvolvimento da questão cinco, metáfora, personificação, zeugma e antítese já foram exploradas; agora, você
pode destacar as figuras de linguagem o uso do paralelismo, inversão (ou hipérbato).
Ao compreender o paralelismo como a existência de estruturas sintáticas similares, você pode observar que o
segundo quarteto desse soneto apresenta, em cada um dos versos que a estruturam, frases interrogativas estrutu-
radas de forma semelhante: as duas primeiras se constroem pelo pronome “por que” e por uma oração subordinada
concessiva, que se conecta à principal pelo pronome “se”; as outras duas se constroem pelo pronome “como”, que as
enceta. Contudo, de acordo com a seção “Condições prévias para aprender” das Orientações Pedagógicas deste ciclo,
tão importante quanto reconhecer o uso dos recursos estilísticos é compreender a sua relação com a unidade temáti-
ca do texto. Nessa perspectiva, é importante que, por sua intervenção, os alunos entendam como a recorrência desses
questionamentos pode representar a própria angústia do eu-lírico frente à constatação de que tudo é transitório.
Na última estrofe do poema, a ordem comum dos constituintes da sentença foi alterada: no primeiro verso, o
sujeito gramatical (“o mundo”) está pós-posto ao verbo que o seleciona (“Começa”); e, nos versos seguintes, além de
o sujeito “qualquer dos bens” ocupar posição pós-verbal, o adjunto adverbial “por natureza” se interpõe entre o verbo
“tem” e o complemento objeto direto (“a firmeza”). Por um lado, essa construção sintática amplia o conteúdo do so-
neto, evidenciando a desarmonia e o conflito do mundo; por outro, pode representar um obstáculo para a leitura. Por
isso, talvez seja adequado reescrever, de acordo com a disposição mais recorrente dos termos gramaticais, esses dois
enunciados, como nestas sugestões:
Fazendo isso, você poderá, também, revisar algumas regras de uso da vírgula e, assim, mostrar a importância
da pontuação para a clareza de textos, principalmente daqueles em que se exige objetividade e formalidade.
Além dessas diferentes figuras de linguagem, um recurso linguístico presente em todo o soneto é a relação en-
138
tre termos sinônimos e antônimos. A fim de melhor visualizar esse jogo de palavras, talvez seja interessante construir,
com seus alunos, um quadro comparativo, como o que se segue:
Formas Nominais:
“Sol”
“tristes sombras”
“formosura”
“beleza”
“o gosto da pena”
“tristeza”
“firmeza” “ignorância”
“constância” “inconstância”
Formas Verbais
“morre”
“nascia” “acaba”
“se transfigura”
“se fia”
A partir do levantamento desses vocábulos, os alunos poderão entender, mais facilmente, que, nesse texto,
constroem-se dois campos semânticos: de um lado, expressões que apontam “perfeição” e “vitalidade”; de outro, for-
mas que expressam “agonia” e “extenuação”. Tal oposição reflete, portanto, a dualidade, identificada como principal
marca do Barroco.
Paralelamente, você pode destacar que a articulação dessas expressões no texto alicerça outro recurso lite-
rário: a construção de imagens metafóricas por meio de estímulos visuais. Desse modo, esse soneto de Gregório de
Matos “apresenta imagens que guardam relação de antítese como dia e noite, claro e escuro, que corresponderiam a
outras próprias da experiência de viver: alegria e tristeza, beleza e degradação” [grifos nossos]2.
Tendo, nessa análise, identificado a ampla utilização de figuras de linguagem, jogos de palavras e a construção
de imagens, verifica-se que o soneto apresenta extrema elaboração formal, que permite relacioná-lo à vertente cultista.
Todavia, convém ressaltar que esta classificação/separação representa, na verdade, uma síntese didática, a
partir da qual se busca evidenciar as características mais significativas das obras barrocas. Isso não significa, portanto,
que toda obra desse período deva refletir, exclusivamente, as características de uma dessas categorias estéticas.
2 BARRETO, Ricardo Gonçalves. (org.). Português: ensino médio, 1º ano. 1a ed. São Paulo: Edições SM, 2010.
(Coleção ser protagonista). p. 144.
A obra de Vieira adota o conceptismo, trabalhando, sobretudo, com elaborados jogos de ideias. No entan-
to, não lhe seria possível chegar ao refinado trabalho conceitual que faz em seus Sermões se não empregas-
se também jogos de palavras igualmente rebuscados. Em suma: mesmo que Vieira ataque o cultismo em
sua obra, privilegiando o conceptismo, o padre trabalha ambos com habilidade. [grifos do autor]3
Podemos comprovar essa citação observando o uso de figuras de linguagem no Sermão do Mandato, dentre as
quais: inversão, anáfora, paralelismo, gradação e elipse (todas presentes, por exemplo, no primeiro período do texto:
“Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.”); comparação (“Atreve-se o tempo a
colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de
haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência,
que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas.”); metonímia (“Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor
menino”); personificação (“não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o
armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não
fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda
esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta
que sejam usadas para não serem as mesmas.”); paradoxo (“O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito,
de amar menos.”).
Se, por um lado, a prosa de Vieira apresenta traços cultistas; por outro, a lírica de Gregório possui elementos
conceptistas. Isso porque, ambos os textos têm como temática a efemeridade das coisas do mundo. Focalizando
a inevitável depreciação da vida e dos sentimentos, também o poema expressa um olhar pessimista sobre a pró-
pria condição humana e, por isso, destaca, indiretamente, a importância de aproveitar o momento presente (“carpe
diem”). Logo, embora se destaque por sua alta elaboração linguística, o soneto consiste em uma expressão artística
de cunho filosófico, que atualiza a temática da “inconstância”, presente, por exemplo, nos textos clássicos: “Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o mundo é composto de mudança, /
Tomando sempre novas qualidades.”4.
140
Páginas no material do aluno
Seção 1- Argumentação e crítica no barroco do Brasil
239 a 252
Aspectos operacionais
Proponha a leitura dos textos selecionados e, em seguida, a questão de análise que sugerimos.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, aprofunde, se necessário, os períodos históricos indicados no enunciado da questão, destacando
outras marcas culturais. Em seguida, distribua aos alunos os textos e proponha a questão comparativa, orientando-os
em suas conclusões.
Atividade
Os fragmentos abaixo tratam de períodos históricos diferentes. Leia-os, com atenção, e responda à questão
que se segue:
[Idade Média. In Infopédia (on line). Porto: Porto Editora, 2003-2012 (fragmento adaptado).[Quebra Suave]Disponível
em http://www.infopedia.pt/$idade-media>. Acesso em: 02/04/2012.]
À medida que a sociedade vai se liberando do amplo domínio da Igreja, a arte vai se voltando mais para a
realidade, valorizando o homem e colocando-o como o centro ao redor do qual gira o mundo. Esse antropocen-
trismo, oposto ao teocentrismo medieval, caracteriza o Renascimento, identificado pela valorização da razão, pelo
culto aos valores da Antiguidade Clássica e pelo humanismo.
O período barroco representou artisticamente a tentativa de conciliar os valores religiosos herdados da Idade
Média e os valores humanistas ligados ao Renascimento. A partir dos dois poemas de Gregório de Matos, destaque:
Respostas Comentadas
As referências medievais e humanistas apresentam-se tencionadas na estética barroca. Vale destacar aos alu-
nos que não se trata de mera exposição do quadro estático de diferenças entre os elementos espiritualizados de um
lado e os valores terrenos de outro, mas da composição de uma cena de conciliação dramática e impossível. A ques-
tão, porém, solicita o reconhecimento dessas referências separadamente. Com efeito, observa-se a predominância de
traços medievais no primeiro poema e de traços humanistas no segundo texto.
Jesus Cristo, além das referências à fé, à santa lei, ao pecado e ao madeiro que, por metonímia, lembram o sa-
crifício de Jesus na cruz. A fim de complementar a análise, é válido comentar com os alunos o emprego dessas alusões
por parte do poeta. Na primeira estrofe do soneto, observa-se um apelo ao amor divino por meio do reconhecimento
do sacrifício da cruz. O eu-lírico ainda afirma a sua fé (“Em cuja fé protesto de viver;/Em cuja santa lei hei de morrer”).
Na segunda estrofe, o eu-lírico admite ser aquela a sua última oração (“transe derradeiro”) e apela à misericórdia de
um pai (“A brandura de um pai, manso, cordeiro”). Nos tercetos, o amor e o pecado são reconhecidos como grandes;
porém, sendo eterno o amor divino e finito o pecado humano, o eu-lírico pode confiar que terá o seu perdão. Este
poema admite a existência de uma vida espiritual, explicita a importância de Deus na vida do homem e lembra a
submissão à vontade divina – tipicamente medieval.
Certamente as referências ao Humanismo não parecerão tão claras aos alunos, em função da presença de ele-
mentos da cultura greco-romana. No entanto, é visível a ausência de citações religiosas. É importante destacar para
os alunos que, no segundo poema, sobram referências ao corpo (faces, olhos, boca, cabelos), numa nítida valorização
do homem. O próprio adjetivo “formosa”, usado no superlativo, já é bastante revelador. O foco da composição é a
beleza física e, portanto, o humano e o terreno estão em evidência. Para facilitar a exposição aos alunos, pode-se fazer
a seguinte síntese:
referências ao corpo humano através do rosto e cabelos de Maria: “Em tuas faces a rosada Aurora/ Em teus
olhos e boca, o Sol e o dia” e “Te espalha a rica trança voadora”;
referências ao terreno, por meio de alusões à morte: “Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”.
Ao final do poema, a musa é alertada quanto à efemeridade da vida; porém, nem mesmo nos tercetos, é Deus
quem sentencia a morte, mas o tempo que, embora seja implacável e cruel (“Que o tempo trota a toda ligeireza,/E
imprime em toda a flor sua pisada”), está destituído de qualquer caráter divino. Apesar de ser uma figura idealizada, a
musa é comparada com divindades pagãs da cultura clássica greco-romana, forte inspiração para a estética barroca.
Os deuses gregos e, por extensão, os latinos eram antropomorfizados, temperamentais e vingativos, em nada pareci-
dos com o Deus absoluto e infalível da Idade Média.
Aspectos pedagógicos
Inicialmente, revise, junto aos alunos, as características principais de um texto épico, opondo aos outros gêne-
ros literários. Para tal, pode-se utilizar um quadro-síntese semelhante a este:
MAIA, João Domingues. Português (volume único). São Paulo: Ática, 2008. p. 89.
Em seguida, retome a temática central de Caramuru, relendo trechos do Material do Aluno, recuperando tre-
chos do texto original (disponível em: http://pt.wikisource.org/wiki/Caramuru) e/ou apresentando trechos do filme
Caramuru – A invenção do Brasil, de 2001 (disponível em sites de busca como o Youtube). Em seguida, distribua aos
alunos as questões propostas, orientando-os em suas conclusões.
Atividade
Como vimos, o Arcadismo surgiu com a valorização dos ideais do Iluminismo, que, baseados no racionalismo,
combatiam as superstições e os dogmas religiosos e defendiam a liberdade e a igualdade. Dentre as obras árcades,
podemos destacar o poema Caramuru.
144
Caramuru é um poema épico que narra o descobrimento da Bahia. Escrito em 1781 pelo frei Santa Rita Durão,
conta a história de Diogo Álvares Correia, um náufrago português que viveu entre os Tupinambás. Este personagem
histórico é, no poema, apresentado como o “Caramuru” (palavra tupi para o peixe “moreia”). O apelido faz referência
ao fato de Diogo ter sido encontrado pelos indígenas em meio às pedras da praia e às algas, tal como o peixe.
Nas questões abaixo, destacamos trechos do Capítulo 1 do poema, no qual se descreve o primeiro
contato entre o protagonista (Caramuru, “o deus do trovão”) e os índios.
QUESTÃO 1
I I
De um varão em mil casos agitados, As armas e os barões assinalados,
Que as praias discorrendo do Ocidente, Que da ocidental praia Lusitana,
Descobriu recôncavo afamado Por mares nunca de antes navegados,
Da capital brasílica potente; Passaram ainda além da Taprobana,
Do Filho do Trovão denominado, Em perigos e guerras esforçados,
Que o peito domar soube à fera gente, Mais do que prometia a força humana,
O valor cantarei na adversa sorte, E entre gente remota edificaram
Pois só conheço herói quem nela é forte. Novo Reino, que tanto sublimaram;
IV II
Nele [no Brasil] vereis nascer desconhecidas, E também as memórias gloriosas
Que em meio dos sertões a fé não doma Daqueles Reis, que foram dilatando
E que puderam ser-vos convertidas A Fé, o Império, e as terras viciosas
Maior império que houve em Grécia ou Roma! De África e de Ásia andaram devastando;
Gentes vereis e terras escondidas, E aqueles, que por obras valerosas
Onde, se um raio da verdade assoma, Se vão da lei da morte libertando;
Amansando-as, tereis na turba imensa, Cantando espalharei por toda parte,
Outro reino maior que a Europa extensa. Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
QUESTÃO 2
Agora, analise formalmente os fragmentos destacados na questão anterior, investigando em que medida a
métrica, o esquema de rimas e a divisão das estrofes dos poemas são semelhantes.
QUESTÃO 3
Além de retomar valores e formas Clássicas, Caramuru se aproxima aos textos Quinhentistas, como a Carta de
Pero Vaz de Caminha, pela forma como descreve o índio e a terra brasileira. Comprove essa afirmativa destacando,
nestas três estrofes, as características dos índios e a terra.
146
XX
XXI
XXII
QUESTÃO 1
Na primeira estrofe de Caramuru, aponta-se a temática central do poema: a narração do grande feito de Diogo
Álvares Correia, o “descobrimento” da Bahia: “Que as praias discorrendo do Ocidente, / Descobriu recôncavo afamado
/ Da capital brasílica potente”. De forma semelhante, destaca-se, na primeira estrofe de Os Lusíadas, a ação heroica dos
portugueses que, guiados por Vasco da Gama, cruzaram “mares nunca de antes navegados”, traçaram uma nova rota
para as índias (“E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram”).
Outro ponto comum entre os poemas é o desejo do narrador em cantar esses feitos heroicos, destacando, a
partir de sua arte (técnica), a grandeza dos homens: “O valor cantarei na adversa sorte, / Pois só conheço herói quem
nela é forte.” (texto 1) e “E aqueles, que por obras valerosas / Se vão da lei da morte libertando; / Cantando espalharei
por toda parte, / Se a tanto me ajudar o engenho e arte.” (texto 2).
QUESTÃO 2
No Arcadismo, há a retomada dos valores clássicos, como a simetria e o equilíbrio. Dessa forma, Caramuru é
um poema com métrica regular (decassílaba), rimas cruzadas e emparelhadas (ABABABCC) e estrofes de oito versos
(oitavas) – a mesma estrutura observada em Os Lusíadas.
QUESTÃO 3
Nas duas primeiras estrofes em análise, destacam-se as características dos índios: a prática da antropofagia
(“Na boca, em carne humana ensanguentada”); a utilização de adornos (“Anda o beiço inferior todo caído, / Porque
a têm toda em roda esburacada, / E o labro de vis pedras embutido;”); a ausência de pelos no corpo (“Nem se lhe vê
nascer na barba o pelo,); sua fisionomia marcada por “Chata a cara e nariz”; o hábito de andar nu (“Vão sem pudor com
bárbaro despejo, / Os homens, como Adão sem culpa andava”). Na terceira estrofe, sublinha-se a exuberância da ter-
ra, principalmente a partir da riqueza de sua fauna (“Qual das belas araras traz vistosas, / Louras, brancas, purpúreas,
verdes plumas). Nesse sentido, a descrição do nativo o aproxima dos outras animais, reforçando os ideais de harmonia
entre o homem e a natureza.
148
Atividade de Avaliação
Resolução de questões
objetivas retiradas de
Desafios de
exames vestibulares, a fim
vestibular: Cópias do Atividade
de avaliar os conhecimentos 50 minutos.
barroco e exercício. individual.
apreendidos pelos alunos
arcadismo
sobre os estilos de época
estudados.
Aspectos operacionais
Leitura e interpretação dos textos propostos, conforme a orientação dada em cada questão.
Aspectos pedagógicos
Apresente as questões aos alunos, destacando a relevância da resolução de questões de vestibular, e oriente-
-os em suas conclusões, retomando as análises anteriores e as sínteses presentes no Material do Aluno.
Atividade
As cinco questões objetivas abaixo foram retiradas de vestibulares e tratam das estéticas estudadas nesta uni-
dade: o Barroco e o Arcadismo.
(MACKENZIE-SP)
a. Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias que seguem a tradição medieval e textos para tea-
tro com clara intenção catequista.
c. A literatura seiscentista reflete um dualismo: o ser humano dividido entre a matéria e o espírito, o pe-
cado e o perdão.
QUESTÃO 2
(UFRJ-RJ)
LIRA XI
Na sonorosa lira,
“Marília de Dirceu” apresenta um dos principais traços do Arcadismo. A opção que aponta esta característica
temática, presente no texto, é:
a. o bucolismo.
150
c. o pessimismo e negatividade.
QUESTÃO 3
(UPE, adaptada)
Sobre as Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, analise as proposições abaixo, atribuindo (V)
para as que forem “verdadeiras” e (F) para as afirmações “falsas”.
( ) Trata-se de uma sátira endereçada ao governador da época, Luís da Cunha Meneses, criti-
cando os desmandos administrativos e a corrupção praticados por este na Capitania de Minas Gerais.
( ) Trata-se de um poema lírico-amoroso em que o pastor declara o seu amor de forma tão
enfática que o conjunto dos versos pode ser entendido como um convite de casamento.
QUESTÃO 4
(PUCCAMP-SP)
c. exemplo do lirismo amoroso e da poesia de combate, cultivados sobretudo pelos poetas românticos da
chamada “terceira geração”.
e. expressões menores da prosa e da poesia do nosso Arcadismo, cultivadas no interior das academias.
(ITA)
Dadas as afirmações:
I. �O Uraguai, poema épico que antecipa em várias direções o Romantismo, é motivado por dois propósitos
indisfarçáveis: exaltação da política pombalina e antijesuitismo radical.
II. �O (A) autor(a) do poema épico Vila Rica, no qual exalta os bandeirantes e narra a história da atual Ouro Pre-
to, desde a sua fundação, cultivou a poesia bucólica, pastoril, na qual menciona a natureza como refúgio.
III. �Em Marília de Dirceu, Marília é quase sempre um vocativo; embora tenha a estrutura de um diálogo, a obra
é um monólogo – só Gonzaga fala, raciocina; constantemente cai em contradição quanto à sua postura de
pastor e sua realidade de burguês.
Está(ão) Correta(s):
a. Apenas I
b. Apenas II
c. Apenas I e II
d. Apenas I e III
e. Todas
Respostas Comentadas
QUESTÃO 1
A única afirmativa incorreta é o item E, haja vista a inversão dos termos conceptismo e cultismo. Ao contrário do
que se afirma nesse item, o cultismo “caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante”, predominando
nos poemas de Gregório de Matos; por outro lado, a obras conceptistas, como os sermões de Vieira, são marcadas,
principalmente, “pelo jogo de ideias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista”.
152
QUESTÃO 2
Apesar de o bucolismo e o carpe diem serem temáticas recorrentes nos textos árcades, não há, no trecho em
destaque, qualquer menção à vida pastoril tampouco ao desejo de aproveitar os prazeres da vida. Pessimismo e ne-
gatividade não são características do Arcadismo, assim como a mulher não é descrita de forma sensual (ao contrário,
ela é representada de forma idealizada e etérea: “musa”). Desse modo, a alternativa correta é o item B, dada à menção,
no poema, a elementos da Antiguidade Clássica relacionados à própria construção poética: os instrumentos musicais
lira e clarim, utilizados na declamação de poemas; os poetas Homero (grego) e Virgílio (romano), aos quais é atribuída
a autoria de epopeias; e a própria musa, que inspira a criação dos poemas.
QUESTÃO 3
Apesar de ser um escritor do Arcadismo, estilo literário em que o bucolismo é uma característica marcante,
Tomás Antônio Gonzaga tem, em Cartas Chilenas, uma poesia satírica. Assim, a 1ª e a 3ª afirmativa estão incorretas.
A única afirmativa correta é, portanto, a 2ª, visto que, no texto, o autor critica o governador de Minas por corrupção.
Logo, a sequência de respostas é F – V – F.
QUESTÃO 4
Marília de Dirceu é um poema lírico-amoroso em que o eu-lírico exalta a beleza de Marília e, paralelamente, a
harmonia da vida distante dos centros urbanos. Já a obra Cartas Chilenas insere-se, como visto na questão anterior,
na vertente satírica, uma vez que exprime críticas à corrupção. Assim, o item correto é a alternativa A. As alternativas
B e C são incorretas, pois o livro Cartas Chilenas não se trata de uma literatura epistolar nem de poesia de combate, e,
assim como Marília de Dirceu, não foi produzido no século XVII. O item D também é incorreto, pois os dois textos são
árcades (e não barrocos). Finalmente, o item E apresenta o equívoco de classificar Marília de Dirceu como um texto
“menor” e em prosa.
QUESTÃO 5
O item 1 está correto, visto que Uraguai, rompendo o modelo clássico do poema épico, narra a disputa
entre jesuítas, índios e europeus nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul. Além disso, apresenta
uma imagem idealizada do índio – a qual marcará, na primeira metade do século XIX, os textos da 1ª Geração
do Romantismo no Brasil.
O item 2 está incorreto, uma vez que Cláudio Manuel da Costa, o autor de Vila Rica, não cultivou a poesia bu-
cólica e pastoril; ao contrário, ele relacionou sua poesia mais diretamente à sua atuação política e, com sua participa-
ção como participante jurista e integrante da Inconfidência Mineira, dedicou mais sua produção literária a temas de
cunho explicitamente social e político. Por fim, o item 3 está correto, pois em Marília de Dirceu, há um diálogo explícito
entre o eu-poético (o pastor Dirceu) e sua amada idealizada (Marília).
Logo, a alternativa correta é a opção A, que afirma estarem corretos apenas os itens 1 e 3.