Apostila de Potenciometria 2014
Apostila de Potenciometria 2014
Apostila de Potenciometria 2014
INTRODUÇÃO.
2o TÓPICO: A MEDIÇÃO DE E
BIBLIOGRAFIA:
1
INTRODUÇÃO.
2
1o TÓPICO
A EQUAÇÃO DE NERNST E A POTENCIOMETRIA
Para um bom contato elétrico, o fio de prata e o de cobre tem que estar bem
polidos. Ao ligarmos os eletrodos de Ag e Cu a um voltímetro, pode-se ler a diferença de
potencial entre os dois conjuntos solução/eletrodo. Se o eletrodo de cobre foi conectado
ao pólo positivo e o de prata ao negativo, o potencial lido pode ser, por exemplo, -505 mV.
De acordo com as recomendações da IUPAC, deve-se descrever
esquematicamente a pilha do seguinte modo:
AgoAg+ (0,100 mol/L) Cu+2 (?)Cuo
Eo (Ag) = 799 mV Eo (Cu) = 337 mV
3
Ligar o eletrodo de cobre ao pólo positivo indica que se espera a redução do Cu +2.
a Cu0, no entanto o valor do potencial negativo indica que a reação é ao contrário, o cobre
se oxida e a prata se reduz. Como o interesse não é no sentido da reação, e sim na
concentração, o sistema permanece o mesmo e pode-se calcular a concentração do
cobre em 3,55 10-4 mol/L, utilizando a equação de Nernst1:
Uma vez que temos o valor do potencial lido experimentalmente para o sistema, e
podemos utilizar concentração conhecida para calcular o potencial do eletrodo de
referência. Temos condições de saber qual o valor do potencial do eletrodo indicador, e
com ele, obtermos a concentração da solução problema.
O melhor método de cálculo, nesse caso, é resolver a equação de cada eletrodo
separadamente, isto facilita em muito o cálculo e previne erros causados por trocas de
sinais, como podemos ver a seguir, com a resolução do primeiro exemplo dado:
A partir da pilha,
AgoAg+ (0,100 mol/L) Cu+2 (?)Cuo
Eo (Ag) = 799 mV Eo (Cu) = 337 mV
Sabemos que o Elido foi de -505 mV e que:
Elido = Eindicador - Ereferência temos então:
-505 = ECu - EAg (Equação 1)
1
A equação está em milivolts, e não em volts.
4
Para a célula de prata que apresenta a seguinte semi-reação:
Ag+ + e- Ago
Podemos escrever, Eref. = EAg, sendo que:
59,15 [1]
EAg = EAgo - log
n [Ag+]
todos os eletrodos.
Os eletrodos utilizados (metálicos) sofrem interferência do oxigênio dissolvido na água,
Deve-se deixar bem claro que a equação de Nernst é um modelo teórico e, como
todo modelo, tem suas limitações. Necessita de alguns ajustes para ser utilizada
corriqueiramente. Além disso, o sistema utilizado também está longe de ser o melhor.
O eletrodo indicador ideal seria aquele que, para uma pequena variação de
concentração daquele analito, tivesse uma grande variação na diferença de potencial. Isto
é, diferentes concentrações forneceriam diferentes potenciais e quanto maior a diferença
entre essas medidas, mais facilmente o técnico distinguiria entre concentrações muito
próximas. Ou seja, o eletrodo indicador teria uma grande sensibilidade. Esse eletrodo
também teria que responder à concentração daquele analito e nenhum outro. Ou seja, ele
teria uma grande seletividade.
O eletrodo de referência ideal seria aquele absolutamente indiferente às variações
de concentração do analito e que tivesse um potencial invariável durante toda a medição.
O voltímetro ideal seria aquele que, ao medir o potencial, não deixasse passar
corrente alguma, de forma a não modificar as concentrações das espécies presentes na
amostra.
Tendo consciência de todos esses problemas, pede-se ao estudante que resolva
os exercícios a seguir ainda utilizando a equação de Nernst. Nesses exercícios não se
quer determinar a espontaneidade da reação e sim a concentração dos reagentes
naquele potencial, que pode ser negativo. Nos tópicos seguintes são mostradas as
alterações necessárias ao sistema teórico e prático para que ele seja mais confiável.
6
EXERCÍCIOS
Recomenda-se que os exercícios devem ser resolvidos por equações separadas
1)A partir do Elido determine a concentração do analito nos casos a seguir:
a)Eletrodo indicador: fio de prata polido e
imerso na solução-problema. Eletrodo de
referência: fio de platina imerso em uma
mistura Fe+2/Fe+3 (0,0200 mol/L de Fe+2 e
0,0800 mol/L de Fe+3)Elido = -126 mV.
Analito: Ag+. O eletrodo de Fe+2/Fe+3 pode
ser considerado um bom eletrodo de
referência?
7
2o TÓPICO
A MEDIÇÃO DE E
2
Usualmente a pilha padrão de Weston, cuja ddp é 1018 mV. Esse valor permanece fixo durante anos, se a pilha não for
ligada em curto. O gasto médio é de 0,1 mV/ano, dependendo dos cuidados e da freqüência do uso.
3
Quanto maior a corrente que passa dentro do medidor, menor a corrente que passa pelo ponto que queremos medir. Isto
faz com que a voltagem medida caia, pois uma parte dela é consumida dentro do próprio medidor. Para isto não ocorrer,
a resistência interna do medidor tem que ser 100 vezes maior que a do ponto que queremos medir, para que o erro seja
menor que 1%.
8
resistência de membrana de 40 a 1000 M. Eles retiram uma minúscula corrente do
sistema e amplificam-na medindo diretamente a voltagem da célula. A maneira usual de
ligação atribui o terminal negativo ao eletrodo de referência:
4
impedância é o análogo da resistência para corrente alternada.
5
também alguns têm saída para a titulação de Karl Fischer que não é potenciométrica e sim amperométrica.
6
Este conceito será explicado mais tarde. Por ora, substitua-o por concentração.
9
EXERCÍCIOS
2) Um aparelho que lê com incerteza de 1mV foi usado para medir a concentração de
cobre com um eletrodo indicador confeccionado com uma lâmina do metal (Cuº). A leitura
contra o eletrodo normal de hidrogênio foi de 300 mV. Qual é a incerteza percentual na
concentração de Cu+2? Que conclusão se pode tirar sobre a capacidade de leitura do
aparelho e a precisão na medida da concentração do íon? E se fosse para um íon
monovalente, daria no mesmo?
Supondo que cada um dos argumentos a seguir predomine sobre todos os demais, diga
qual dos aparelhos seria o mais indicado em cada caso, justificando:
a) medida de pH de águas de rios.
b) medida com eletrodos seletivos.
c) para equipar um laboratório de uma microempresa em formação.
d) medidas de sistemas de temperatura variável.
e) monitoramento contínuo de um íon em uma unidade industrial.
f) leitura do instrumento por pessoal não especializado.
g) Utilização do aparelho em aulas práticas.
10
3o TÓPICO
ELETRODOS DE REFERÊNCIA: CALOMELANO E Ag/AgCl
2. Qualquer alteração das espécies em solução altera próprio potencial fornecido pelo
eletrodo.
3. Não são práticos.
7
revestida de platina coloidal, negra
11
ELETRODO DE CALOMELANO COM JUNÇÃO CERÂMICA (“FRIT”)
o
Esse eletrodo consiste numa pasta de Hg 2Cl2 e Hg recobrindo um fio de platina,
em contato com solução de KCl e a sua semicélula é:
Mas, como há íons cloreto, é preciso levar em conta a disponibilidade de íons Hg2+2, que
depende do equilíbrio de solubilidade:
8
calomelano é o nome antigo desse sal.
12
Como se considera que a concentração dos metais é 1, teremos:
59,15 [1]
Eref = 790 - log
2 [Hg2+2]
Substituindo a expressão do Kps na equação acima temos:
Eref = 790 - 59,15 log [Cl-] + 29,575 log 2,00 x 10-18 ou,
Esse valor (230 mV) não corresponde ao efetivamente medido contra o eletrodo
normal de hidrogênio9, 244 mV. Isto acontece porque:
9
Referência 26, página 658.
13
O POTENCIAL DE JUNÇÃO
10
Referência 34.
14
O COEFICIENTE DE ATIVIDADE DE UM ÍON EM SOLUÇÃO 11
a = C
Assim,
a 2,44
Cl- = = = 0,6
c 4
A atividade do Cl -, embora não seja unitária, permanece fixa devido à solução estar
saturada ou próxima da saturação. Desse modo, o potencial é constante para uma
atividade constante.
11
Referências 21 e 25.
12
Neste caso pode-se desprezar Ej, já que o potássio e o cloreto têm velocidades de migração muito próximas.
15
A INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO POTENCIAL
16
O ELETRODO DE Ag/AgCl
Este eletrodo consiste de um fio de prata recoberto por uma camada de cloreto de
prata em contado com uma solução de KCl e sua semicélula é:
2,44) é:
-18 10-18
Kps = 10 = aHg2+. (aCl_)2 aHg2+ = = 1,68 . 10-19 mol/L
5,95
Por outro lado a solubilidade do AgCl em solução concentrada de cloreto é bem
mais alta que a do Hg2Cl2 (aAg+ 10-10 mol/L). A diferença brutal na solubilidade dos dois
sais evidência as principais limitações do eletrodo de Ag/AgCl frente ao calomelano.
Pela junção do eletrodo há quase sempre o escoamento do líquido interno que, no
caso do Ag/AgCl significa uma quantidade razoável de prata. Esse íon pode interferir no
sistema em estudo. Em análises bioquímicas, por exemplo, não se usa esse eletrodo,
pois o íon Ag+ pode precipitar proteínas. Por outro lado, o eletrodo seria envenenado com
tampões comumente usados nesses meios. Por exemplo, o tampão tris complexa
17
fortemente Ag+. O usual em tais situações é recorrer ao calomelano ou ao eletrodo de
junção dupla13.
Mas o prata-cloreto de prata tem suas vantagens:
13
Ver apêndice.
18
EXERCÍCIOS 14
1) Uma célula foi montada, sendo usado como eletrodo de referência o eletrodo de
calomelano saturado (ECS) e como eletrodo indicador para íons Pb+2; foi usada uma
barra de chumbo puro. Determine a concentração de chumbo, considerando que a leitura
do medidor foi - 385 mV.
2) Dada as duas montagens abaixo determine a concentração de cobre para cada uma
delas:
+2
a) ECS | | Cu (?) | Cuº E lido = - 160 mV
+2
b) Ag/AgCl sat. | | Cu (?) | Cuº E lido = 15,0 mV
14
Faça as mesmas simplificações de antes: = 1 ; T = 298 K, etc.
19
5) Observe a seguinte pilha, cujo E lido foi de +58 mV, e considere que o volume de todas
as soluções é de 50,00 mL e a temperatura da medida é de 25ºC:
+2 -3
Hg/Hg2Cl2, Cl- (1,00 mol/L) // Cu (1,00 x 10 mol/L)/Cu
20
APÊNDICE
DIFERENTES VERSÕES DOS ELETRODOS DE REFERÊNCIA
A junção do tipo sleeve tem menor resistência elétrica que a junção comum, por
permitir o escoamento da solução. O eletrodo de junção dupla, possui uma segunda
câmara com outro eletrólito, que permite mergulhar o eletrodo onde o KCl poderia
apresentar problemas.
A tabela a seguir, tirada do catálogo de um fabricante, resume as principais
características, além de apresentar outros materiais usados para junção. O princípio é
que em soluções de baixa condutividade (diluídas ou em meio não-aquoso) é preciso uma
junção de menor resistência elétrica (com menor Ej), o que, todavia, acarreta maior
escoamento do líquido interno.
21
TIPO DE JUNÇÃO Resistência a 25C Fluxo de perda APLICAÇÕES
em solução de KCl de solução de
sat. (em k) KCl no eletrodo
Junção de cerâmica 0,2 a 0,5 2,5 a 5 L/h Trabalhos gerais em soluções aquosas com
simples ( = 0,5 mm) condutividade elétrica maior que 10 S/cm. Não
adequada para uso contínuo em soluções fortemente
alcalinas.
Junção dupla ou tripla de 0,2 a 0,5 10 a 20 L/h Como acima, mas para eletrodos de uso industrial.
cerâmica ( = 0,5
mm)
Junção de amianto ( 5 a 10 30 a 70 L/h Uma junção robusta para trabalhos gerais. Quanto
0,7 mm) mais alto o fluxo de perda de solução interna, menor
a possibilidade de danos ao eletrodo. Adequada para
uso contínuo em soluções fortemente alcalinas.
Junção de amianto ( 4a8 40 a 100 L/h Como acima, mas para eletrodos de uso industrial.
1 mm)
Junção de vidro 0,2 a 0,5 1,5 a 4 mL/h Titulações potenciométricas em solventes não-
sinterizado ( = 4,5 mm) aquosos.
Junção ground-joint 0,5 a 1,0 0,5 a 2 mL/h de Para soluções fracamente ionizadas, com uma
acordo com o condutividade elétrica < 10 S/cm. Também
ajuste adequada para uso em soluções muito concentradas
ou turvas (fácil de limpar).
Soluções adequadas para a dupla junção, e que não são problemáticas do ponto
de vista de Ej, são os nitratos e sulfatos de sódio e de amônio. Se não houver
disponibilidade do eletrodo de dupla junção, pode-se usar uma ponte salina preparada
com um gel de AGAR a 1-2 % em solução de NaNO3 a 1 mol/L (ou outra concentração
apropriada).
As tabelas registram também os potenciais para o eletrodo de prata-cloreto de
prata. Os problemas de atividade, temperatura e Ej também são válidos para esse tipo de
eletrodo.
22
4o TÓPICO
ELETRODOS INDICADORES
Mn+ + ne- Mo
Eind = EoCu – 59,15/2 . log 1/aCu2+ ou Eind = EoCu + 59,15/2 . log aCu2+
Como (-log) pode ser expresso como uma função p, podemos escrever a equação
acima como:
Eind = EoCu – 59,15/2 . pCu
23
Os eletrodos metálicos de segunda classe: Consistem de um metal recoberto
com um sal pouco solúvel do próprio metal em contato com uma solução contendo o
ânion do sal. O eletrodo metálico pode ser construído para ser sensível a atividade de
um ânion que forme um complexo estável com o íon.
Um exemplo deste tipo de eletrodo indicador pode ser construído com a prata para
íons haleto. Para se preparar um eletrodo para determinação íons cloreto é necessário
formar uma camada saturada de cloreto de prata sobre o eletrodo de prata.
Já que o Eo AgCl = 222 mV, temos que a Equação de Nersnt pode ser escrita para este
eletrodo como:
Eind = 222 – 59,15 . log aCl- ou Eind = 222 + 59,15 . pCl
24
Como já visto anteriormente os eletrodos indicadores do tipo membrana, ou
também chamado íon seletivo, têm a capacidade de desenvolver um potencial elétrico
proporcional ao logaritmo da atividade de uma espécie iônica, mesmo na presença de
outros íons15. Esse é o caso ideal e a seletividade de um eletrodo vai depender de sua
própria estrutura e constituição. Assim veremos a estrutura dos eletrodos mais comuns e
descrever com mais detalhes os eletrodos de fluoreto e o de vidro (para pH).
O eletrodo seletivo desenvolve potencial através de uma
membrana que se interpõe entre a sua solução interna e a solução
que se quer medir. Essa membrana é seletiva ao íon que se quer
medir e idealmente possui a capacidade de ter uma interação
físico-química com a espécie iônica de interesse e com nenhuma
outra. Ao lado pode-se ver o esquema de um eletrodo indicador,
onde a1 é a atividade do analito no eletrólito 1 e a2 é a atividade do
analito no eletrólito 2:
Podemos comparar esse sistema, ao caso clássico de uma pilha de concentração,
onde o potencial gerado é dado pela expressão16:
E = 59,15 . log a1
n a2
Esse potencial é desenvolvido na região de interface entre as duas soluções, isto é,
na membrana, e é um potencial de junção. Se a solução interna está lacrada e não admite
mudança de atividade, o potencial gerado dependerá única e exclusivamente da
concentração da solução externa então podemos escrever:
15
Referências 15 e 21.
16
Compare com o exercício 2 do primeiro tópico. Veja também o apêndice deste tópico.
25
O fio externo do eletrodo de referência é conectado a outro eletrodo de referência,
através de um milivoltímetro apropriado, os dois eletrodos imersos na mesma solução
para fechar o circuito:
26
Essa é a equação do eletrodo seletivo, que depende do logaritmo da atividade do
íon a se medir, desde que a membrana responda a esse íon. A constante K, como se
verá adiante, pode ser determinada empiricamente. Para cátions, a equação terá a forma
acima. Para ânions, que são a forma reduzida na reação redox, em vez de log a 1, tem-se
log 1/a1 e a equação toma a forma:
27
O ELETRODO DE FLUORETO
Os únicos íons que podem migrar através da membrana, além do fluoreto e, por
conseguinte, interferir, são o La+3, o Eu+2 (muito raros e difíceis de estarem presentes
numa amostra) e o OH-, que tem mais o menos o mesmo tamanho do íon fluoreto e a
mesma carga, o que faz com que também possa migrar ao longo da membrana. As
análises de soluções contendo ânios fluoreto com esse eletrodo, devem ser feitas em
solução neutra ou levemente ácida para evitar essa interferência.
A equação para um eletrodo de fluoreto acoplado a um eletrodo de referência será
da forma:
E = K + S pF
17
Referência 33.
28
Onde pF é -log aF-. A constante K depende do eletrodo de referência utilizado e da
concentração da solução interna. O fator de resposta do eletrodo de fluoreto, que pode
ser visto como uma constante S é razoavelmente nernstiano, isto é, próximo a 59,15
mV/pF. O potencial gerado (E) dependerá desses fatores e do logaritmo da atividade da
solução externa (pF).
Os eletrodos desse tipo são, na realidade, dois eletrodos num só corpo de vidro.
Têm uso tão amplo e é tão imprescindível, que serão descritos com detalhe18.
A membrana seletiva é o bulbo que fica na extremidade inferior do eletrodo, pois
algumas espécies de vidro estabelecem forte interação com o íon H 3O+ (por simplicidade,
falaremos doravante em H+). O eletrodo combinado pode ser entendido de acordo com o
esquema abaixo:
18
Referência 29.
29
O silicato de sódio, maior constituinte do vidro, pode ser hidratado, formando um
gel na superfície do vidro e a água tem o equilíbrio iônico:
H2O H+ + OH-
Dessa forma, com o vidro apropriado, se forma uma membrana que interage com
os íons H+ e OH-. Um esquema simplificado da membrana é mostrado a seguir:
A expressão do potencial lido com esse eletrodo é análoga à descrita para o íon
fluoreto (embora o S tenha sinal contrário, pois é um cátion) e dependerá da atividade de
H+ na solução externa ao bulbo de vidro:
E = K + S pH
Nesse caso não há migração de íons, mas a diferença de carga em H + de cada
lado da membrana é suficiente para provocar um potencial. Esse potencial tem uma alta
impedância e necessita de bons milivoltímetros para a sua leitura.
Esse eletrodo raramente é encontrado na forma separada. Existem eletrodos com
dupla junção (com uma outra parede de vidro), onde pode ser colocado um eletrólito que
não afete o meio, se for o caso:
30
EXERCÍCIOS
3)Correlacione a coluna da esquerda com a direita, marcando com um (X) quando não
houver correlação, tanto no parênteses, como sobre o(s) número(s) não utilizado(s).
4)O sódio pode ser um interferente no eletrodo de vidro. Pesquise a respeito e descreva
como isso acontece e como se pode diminuir esse efeito.
31
5)Numere a coluna da direita de acordo com a da esquerda:
1- Eletrodo indicador ( ) Eletrodo seletivo a H+
2- Potencial de junção ( ) Visa assegurar o equilíbrio de cargas
3- Eletrodo de referência ( ) O valor ideal é zero
4- Resposta do eletrodo ( ) Fornece um potencial fixo, permitindo a medida de E
5- Eletrodo de vidro ( ) Fornece um potencial na dependência da concentração
6-Pilha Padrão de Weston da espécie de interesse
7- Milivoltímetro eletrônico ( ) Fornece um potencial para calibração de milivoltímetros.
8-Junção cerâmica
+
solução que contém íons cloreto. A dupla junção deve conter íons Ag de forma a
evitar os problemas de precipitação que poderiam ocorrer.
A equação de Nernst estabelece uma relação linear entre a diferença de potencial de
32
APÊNDICE
A PILHA DE CONCENTRAÇÃO
O exercício 2 do primeiro tópico é resolvido aqui, para tornar mais clara a equação
do eletrodo seletivo:
A MEDIDA DE pH
E = K + S pX
80
7,10 -8,0
0
1,00 3,00 5,00 7,00 9,00 11,00 9,20 -126
-80
-160
pH
34
Pode-se afirmar com razoável certeza que o sistema obedece à equação proposta.
Os valores de K e S podem ser obtidos a partir do traçado da melhor reta para aquele
conjunto de dados.
Para obter o pH de uma amostra desconhecida, basta interpolar a leitura em
milivolts da amostra no gráfico e obter o pH da amostra. Ou então calcular os valores de
K e S pelo gráfico19, ou por regressão linear, e obter a reta, que no caso é:
E = 374 - 53,8 pH
Toda vez que se quiser medir a atividade de íons, e não sua concentração, a
técnica descrita acima é suficiente, desde que se tenha os padrões adequados. O
problema é: e quando o objetivo for medir concentração e não atividade?
19
Faça o cálculo.
20
Suponha uma amostra que tivesse leitura de 150 mV e resolva pelos dois métodos.
35
MEDIDA DA CONCENTRAÇÃO
Ressaltamos que p’X passa a ser -log [concentração do íon X] nessa última
versão da equação, e não -log [atividade do íon X].
Se tivermos coeficiente de atividade ( constante, o termo S log passa a ser
constante e pode-se obter uma nova constante:
K’ = K - S log .
Para que possa ser constante, podemos utilizar um nivelador de força iônica no
preparo dos padrões e da amostra. O nivelador de força iônica é uma solução de alta
concentração salina, que não contem o íon de interesse. É adicionado num volume
significativo e em quantidades iguais nos padrões e na amostra, que também são
avolumados ao mesmo volume final. Desse modo, a variação da força iônica devida
ao íon de interesse é desprezível em relação à força iônica total. Podemos considerar
então a força iônica e o coeficiente de atividade como constante durante todas as
medições e a equação toma a forma:
E = K’ + S p’X
36
Essa nova equação pode também ser obtida empiricamente (experimentalmente)
para a determinação do íon de interesse, desde que todos os padrões e a amostra
tenham sido preparados nas mesmas condições. No caso do eletrodo de fluoreto,
utilizando um eletrodo de referência de calomelano e as soluções-padrão
convenientemente niveladas, podem-se obter medidas experimentais de E, que
resultarão em um gráfico como o apresentado abaixo:
C (mol/L) p’F E
1,00 10-2 2,00 132,1
240,0
1,00 10-3 3,00 190,5
E(mV)
120,0
2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
p'F
Pode-se afirmar com razoável certeza que o sistema obedece à equação proposta.
Os valores de K’ e S podem ser obtidos a partir do traçado da melhor reta para aquele
conjunto de dados.
Para obter o p’F de uma amostra desconhecida, basta interpolar a leitura em
milivolts da amostra no gráfico e obter o p’F da amostra. Ou então, calcular os valores de
K’ e S pelo gráfico21, ou por regressão linear, e obter a reta, que no caso é:
E = 22,1 + 55,9 p’F
21
Faça o cálculo.
22
Suponha uma amostra que tivesse leitura de 150 mV e resolva pelos dois métodos.
37
O FATOR DE RESPOSTA DO ELETRODO
Curvas de Calibração
Íons Mono-, Di- e Trivalentes
350
300
Íon
Monovalente
250
E (mV)
Íon Divalente
200
Íon Trivalente
150
100
1 2 3 4 5
pX
38
EXERCÍCIOS
23
Os dados deste exercício foram obtidos experimentalmente.
39
completou-se o volume com o nivelador de força iônica. A leitura dessa última solução foi
de -72,0 mV. O esquema de análise e o gráfico obtido podem ser vistos a seguir:
30,0
0,0
1,00 1,50 2,00 2,50 3,00
E (mV)
-30,0
-60,0
-90,0
pAg
40
a)Explique a utilização da dupla junção e determine a resposta do eletrodo indicador.
b)Determine a concentração de cloreto na amostra original.
c)Se mudássemos o calomelano para um Ag/AgCl o que aconteceria com os valores de
E para os padrões e a amostra e o fator de resposta do eletrodo?
É correto afirmar:
a) Somente a opção 1 d) As opções 1 e 2
b) As opções 1 e 3 e) Somente a opção 3
c) Somente a opção 2 f) As opções 2 e 3
41
O analista testou o desempenho do eletrodo usando várias soluções-tampão
(inclusive a de pH = 8,00), fez a leitura dos potenciais e obteve o gráfico abaixo:
Sabendo que a leitura da
Curva de Calibração do Eletrodo de Vidro
amostra foi de 30,0 mV: 320
a)Mostre qual o verdadeiro pH da
240
amostra.
b)Calcule o fator de resposta do 160
E (mV)
80
c)Explique os resultados obtidos
0
pelo analista, fazendo uma crítica
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00
ao procedimento adotado. -80
-160
pH
A amostra foi 150 mg de uma liga de prata dissolvida em HNO 3 1:3, adicionada do
ajustador de força iônica e avolumada a 250,00 mL.
42
8)Montou-se uma tabela medindo-se a diferença de potencial obtida com um eletrodo
seletivo de cloreto e um eletrodo de referência adequado. Os padrões foram preparados
com atenção na força iônica. Uma amostra de cloreto em água também foi medida. O
tratamento utilizado na amostra foi coletar 50,00 mL que foram devidamente avolumados
a 250,00 mL com regulador de força iônica. Os resultados são mostrados abaixo:
pCl E (mV)
0,300 -126
1,301 -72,0
2,302 -12,0
3,301 43,0
4,300 80,0
5,300 160
amostra -30,0
43
6o TÓPICO
A TÉCNICA DA ADIÇÃO PADRÃO
E1 = K + S pX + Ej, ou
Aqui vamos admitir que K, S, e Ej mantêm seu valor, o que é muito razoável: Pois
K e S em condições normais não mudam seus valores com a concentração do analito.
Por outro lado os valores de Ej e , que a rigor variam com a força iônica, podem ser
considerados constantes. Pois neste caso esta variação é desprezível, já que o volume de
solução padrão é pequeno frente ao volume da amostra, que possui uma alta força iônica.
C a Va + C p Vp
E1 -E2 = K - S log Ca + Ej - K - S log + Ej ,
Va
Como os termos K e Ej são os mesmos nas equações de E1 (Eq. 1) e E2 (Eq. 2),
estes se anulam. A equação pode ser escrita da seguinte forma:
C a Va + C p Vp
E1 -E2 = - S log Ca - - S log ,
Va
C a Va + C p V p
E1 - E2 = - S log Ca - S log + S log + S log
Va
C a Va + C p Vp
E1 - E2 = - S log Ca + S log
Va
45
Uma nova aplicação de propriedades logarítmicas a equação pode ser simplificada.
1 C a Va + C p Vp
E1 - E2 = S log + S log
Ca Va
E1 - E2 Ca Va + Cp Vp
= log
S C a Va
E1 - E2 C p Vp
= log 1 +
S C a Va
Extraindo os logaritmos:
E1 - E2
S Cp
10 = 1 + x Vp
Ca Va
Uma vez que a equação acima foi obtida levando-se em consideração que Vp não
pode ser maior do que 5% do volume da amostra Va (Vp < 5% de Va). Quando esta
condição não for satisfeita, é preciso usar a expressão completa descrita abaixo:
E1 E2 a Cp
1 S = + p
a+ p Ca ( a+ p)
Para maior precisão, faz-se uma série de adições padrão, medindo sempre o E
correspondente. Os dados são lançados numa curva na qual a variável independente é Vp
E1 E 2
(abcissa) e a variável dependente será Z (que é 10 S , a ordenada). Como no
exemplo da análise de fluoreto em pasta de dente mostrada abaixo:
46
Massa de Amostra (g) = 0,4130. Vp(mL) E(mV) (E1 - E2)/S Z
Volume de Diluição (mL) = 250,00. 0,00 243,8 0 1,00
Alíq. de Adição (Va) (mL) = 100,00. 1,00 225,2 0,3326 2,15
Conc.do Padrão (ppm) = 114,6. 2,00 214,9 0,5167 3,29
3,00 207,8 0,6437 4,40
Fator de resposta (mV/pF) = 55,93.
4,00 202,0 0,7474 5,59
Adição -Padrão
Amostra de Creme Dental
6,00
5,00
4,00
Z 3,00
2,00
1,00
0,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00
Vp(mL)
A reta deve cruzar o eixo y em Z = 1, como pode ser visto pela equação, quando
Cp
Vp= 0. Na reta obtida determina-se o coeficiente angular, que é o termo . Sendo Cp
C a Va
e Va conhecidos, calcula-se Ca. Observe-se que tal reta sempre terá declividade positiva,
seja para cátion, seja para ânion, pois para um cátion, à medida que Vp cresce, a
47
diferença de E1 - E2 torna-se negativa, mas como S é também negativo, a relação (E1-
"A precisão com que Ca pode ser determinado depende diretamente da precisão de
Cp. Vp, Va, S e E1 - E2. A concentração do padrão Cp e os volumes Va e Vp podem ser
medidos de modo muito acurado e não deverão limitar a precisão dessa técnica. De modo
similar, o fator de resposta S, pode ser determinada com uma precisão relativamente alta.
Em muitos casos será justamente a medida das diferenças de potenciais que causarão a
maior dificuldade. Essa imprecisão será tanto mais significativa, quanto menor for o valor
da diferença E1 - E2, que pode ser aumentada pelo incremento da concentração do
analito, tornando-se essa diferença a maior possível. Todavia essa adição não pode ser
tão grande a ponto de afetar a força iônica do meio, como já foi discutido. Assim, os
resultados ótimos têm que estar dentro das possibilidades de variações no coeficiente de
atividade e potencial de junção, causados pelas mudanças na força iônica.
Na presença de agentes complexantes em excesso, a técnica de adição padrão é o
único procedimento disponível para determinação da concentração total da espécie
complexada, usando eletrodos seletivos. Isto se consegue, porque a espécie que é
adicionada é complexada na mesma extensão daquela inicialmente existente, de tal
modo, que cada medição de E está relacionada com uma fração constante da
concentração total.”
Se há interesse em determinar a porção do íon em análise que está complexada,
pode-se comparar os resultados obtidos pela técnica da adição padrão com a técnica da
curva de calibração. Medições do íon fluoreto em água do mar revelaram um conteúdo de
0,6 ppm, enquanto a adição padrão forneceu 1,2-1,3 ppm. Isto indica que metade do
fluoreto está complexando o magnésio. Finalmente, no âmbito dos sistemas biológicos,
normalmente interessa medir a atividade da espécie iônica livre, não complexada. Para
tais casos a técnica da adição padrão não tem serventia, a menos que a fração
complexada seja conhecida.
48
EXERCÍCIOS
2) Uma amostra de solo, contendo fluoreto e pesando 3,60 g, foi tratada com HClO 4 e o
49
4) Uma amostra de 6,0396g de extrato de tomate foi diluída a 250,00 mL. Dessa solução
se retirou uma porção de 50,00mL e juntou-se mais 50,00 mL de solução de NaNO 3 1
mol/L. Mediu-se a diferença de potencial desenvolvida entre um eletrodo seletivo de
cloreto e um calomelano de dupla junção mergulhados na solução. Por 10 vezes se
adicionou 500 microlitros de uma solução de NaCl a 0,500 mol/L, e também foi feita a
leitura de potencial entre cada adição. Os dados obtidos estão na tabela abaixo:
Vp (mL) 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Elido (mV) 130 119 111 106 101 97,0 94,0 91,0 88,0 86,0 84,0
50
seguida procederam-se adições de 300 L da solução I e anotou-se os novos valores de
ddp em mV nos aparelhos, conforme a tabela abaixo:
51
7o TÓPICO
TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA
milivoltímetro.
As fontes de erro são as padronizações das soluções, a medida de volume do
titulante e o grau de variação do potencial no ponto de equivalência (que é dependente da
constante de equilíbrio da reação de titulação). A determinação visual da virada do
indicador, a maior fonte de erro na titulação clássica, não existe nesse caso.
As técnicas de titulação potenciométrica são largamente aplicadas e podem se
basear em vários tipos de reação: neutralização ácido-base, precipitação, oxirredução e
complexação 24. Como nos métodos clássicos, essas reações têm que ser relativamente
rápidas e completas. Do mesmo modo, as soluções em análise têm que ter
concentrações relativamente altas, embora o método potenciométrico possa dosar teores
um pouco menores do que o método clássico.
24
Referências 17 e 18.
52
O problema crítico na titulação, como
sempre, é a identificação do ponto em que Titulação Potenciométrica
E(mV)
potenciométrica, esse ponto deve coincidir
com o ponto de inflexão da sigmóide que se
origina de E (mV) V (mL), onde E (mV) é o
potencial lido e V (mL) é o volume de
V(mL) de Titulante
titulante adicionado.
Para construir o gráfico da derivada primeira, temos que obter uma nova série de
pontos a partir dos valores de E e V, que virão da operação E/V, isto é, a ordenada de
um ponto menos a ordenada do ponto anterior, dividida pela abcissa do mesmo ponto
menos a abcissa do ponto anterior. Isto traduz o quanto a função E (V) variou entre cada
ponto. Obtém-se assim uma nova ordenada que deve ser plotada contra a mesma
abcissa. Isto dá origem a uma nova série de dados.
Como exemplo, vê-se abaixo o gráfico de uma titulação de uma solução de Fe +2
feita com uma solução-padrão de dicromato de potássio25.
25
Neste caso, como o próprio meio já fornece um potencial que muda com a concentração, pois temos uma
reação de oxirredução, o eletrodo indicador é somente um fio de platina que, por ser um metal nobre, não é
atacado.
53
V(mL) E(mv) E/V Dados Experimentais da Titulação do Fe(II)
00,00 205,0 - pelo Dicromato
03,00 279,5 24,8 800,0 1000,0
06,00 302,3 7,6
09,00 317,9 5,2
700,0
12,00 331,5 4,5 800,0
15,00 346,5 5,0
18,00 361,3 4,9 600,0
21,00 382,0 6,9 600,0
E/V
E(mV)
22,00 392,8 10,8 500,0
23,00 408,0 15,2
24,00 433,8 25,8 400,0
Os cálculos para esse tipo de gráfico podem ser feitos tanto com E, como com
pX, já que existe uma correspondência direta entre essas unidades. É só ter atenção para
os casos em que o gráfico com E, pela troca de sinal, é simétrico ao de pX, o que não
altera o ponto final da titulação:
54
Curva de Titulação Curva de Titulação
Potenciométrica Potenciométrica
E(mV)
pX
V(mL) V(mL)
EXERCÍCIOS
55
2)Determine a normalidade do ácido V (mL) pH
usado para titular o bórax, sabendo que a 0,00 9,25
massa de bórax pesada foi de 0,4895 g. 5,00 9,04
10,06 8,82
14,92 8,55
17,42 8,38
19,82 8,16
22,04 7,83
23,00 7,61
23,58 7,38
23,90 7,20
24,02 7,11
24,12 7,01
24,22 6,88
24,32 6,73
24,38 6,64
24,42 6,56
24,48 6,46
24,54 6,21
24,68 5,91
24,70 5,77
24,78 5,49
24,84 4,66
24,88 4,64
24,92 4,44
25,02 3,90
56
GABARITO DOS EXERCÍCIOS
3)55,14% 6o TÓPICO:
1)a)5,0 x 10-4- mol/L
4)a)zero b)não
b)47,4 mV
c)8,1 mV 2) 8ppms ponderais
3) 5-X-3-6-1-2-4 7o TÓPICO:
5o TÓPICO: 3)94%
1) A - pH = 4,59 B – pH = 6,78
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BIBLIOGRAFIA
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