ComumaondaCAP 01vale
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ALMERINDA
DANIEL CASCAES
LAVÍNIA
NINA
LENITA
SINÉSIO
AMARANTE/FLORIANO
MARILÉIA
PAI DE ALMERINDA
GIGI
IDALINA
PEDROCA
QUEBRA-QUEIXO
QUERUBIM
JULIA
CONRADO
ENCARNAÇÃO
FRANKLIN
JJ
ROSÁRIO
RUBICO/BARTÔ
Açores Capítulo 1 Pag.: 1
RECEPCIONISTA/GUIA/CAPANGAS
CENA 01. PORTUGAL. GUIMARÃES. EXTERIOR. DIA.
CAMERA/EDIÇÃO: PG DE OCEANO, DERIVANDO LENTAMENTE PARA O
CONTINENTE, REVELANDO A COSTA PORTUGUESA.
ATENÇÃO SONOPLASTIA: SOBRE AS IMAGENS, TEMA MUSICAL
PORTUGUÊS. AOS POUCOS, A MÚSICA VAI CAINDO PARA BG. ENTRA BELA
VOZ DE GUIA PORTUGUÊS.
GUIA PORT. — (OFF) Uma antiga lenda conta que um príncipe de olhos
verdes e uma princesa de olhos azuis choraram muito por não
poder se casar. De seus lamentos, veio a música que embala as
paixões arrebatadas e os amores mais intensos. De suas lágrimas,
nasceram as águas azuis e os campos verdes de Portugal...
CORTA:
CENA 02. GUIMARÃES. CASTELO DE GUIMARÃES. EXTERIOR. DIA
PP DE TURISTAS, INCLUINDO OS PAIVA ( SINÉSIO, MARILÉIA, NINA E LENITA)
QUE ACOMPANHAM O GUIA VESTIDO A CARÁTER: FIGURINO PORTUGUÊS
MEDIEVAL. VÁRIOS OUTROS TURISTAS ACOMPANHAM SEUS GUIAS.
GUIA PORT. — (CONT.) ... E o que não fez a Natureza com sua mão
generosa, fizeram os homens, com sua religiosidade e sua
capacidade de produzir belezas que se eternizam. Assim é nossa
cidade medieval de Guimarães, verdadeiro berço da nação
portuguesa, nascida no século X, com a construção do convento
dúplice onde hoje encontra-se a a igreja da Oliveira, que já
conhecemos.
CAMERA: DETALHA A FAMÍLIA PAIVA. NINA COM CADERNO DE ESBOÇOS.
GUIA — O Castelo de Guimarães, originalmente um convento,
também data do século X, quando o local chamava-se ainda
Vimaranes. Mas ataques de mouros e normandos obrigaram à
necessidade de transformá-lo numa fortaleza, para a defesa dos
cristãos. Talvez porisso, apesar de tratar-se de um castelo,
perceba-se por cá uma atmosfera de desapego aos mundanismos,
que conduz a um estado ... puramente espiritual.
ALGUNS PASSOS E O GRUPO PASSA POR UMA MOITA OU DESVÃO DO
JARDIM, SEGUINDO EM FRENTE.
CAMERA: FICA ALI, CONTORNA A MOITA OU DESVÃO, REVELANDO:
Açores Capítulo 1 Pag.: 2
NINA — Meu amor, que saudade! (T) Eu também... não vejo a hora de
voltar, querido...
bem, Manoel.
DANIEL — Igualmente, senhorita Verônica!
NINA SAI PISANDO DURO. DANIEL SORRI, LENITA SE DIVERTE. CAM VAI
PARA NINA QUE ENROSCA O PÉ NA ALÇA DE UMA SACOLA NO CHÃO E LEVA
UM TEMPO PARA SE DESVENCILHAR. DANIEL RI DA TRAPALHADA DELA.
NINA SE LIVRA E VAI EMBORA BUFANDO. LENITA ESBANJA CHARME.
LENITA — Não liga para o humor da Nina. Deve ser saudade do “quase-
noivo”que ela deixou no Brasil.
DANIEL — E tu? Tens também um quase noivo ou quase marido por lá?
LENITA — (CHARME) Quase isso. Aliás, tudo na vida é quase... Nada é
definitivo.
DANIEL — (ENTRA NO JOGO DELA) Uma paixão repentina pode não
ser definitiva... mas um amor verdadeiro sempre será.
1º INTERVALO COMERCIAL
SINÉSIO — Eu sei ... Mas ela deve estar se sentindo triste, com saudade,
sem ter o que fazer ... Nem deve estar comendo direito ...
CORTA DIRETO PARA:
CENA 27. CASA DE SINÉSIO. ESCRITÓRIO. INTERIOR. NOITE.
ABRE EM GIGI COM SANDUÍCHE ENTALADO NA BOCA, TREPADA NUMA
ESCADA VASCULHANDO A PARTE DE CIMA DO ARMÁRIO, NA MAIOR FARRA.
ELA JOGA TRALHA PRA BAIXO: VARAS, MOLINETES, ARBALETE, ETC. EM
BAIXO, FRANKLIN E RUBICO “ESCOLHENDO” MATERIAIS.
GIGI — Pega isso, deve servir pra arpoar a criatura. (DESCE)
FRANKLIN — (CONFERE) Lanterna, binóculo, máquina fotográfica ...
RUBICO — Vai fotografar a assombração, Franklin?
FRANKLIN — (POSE) Claro, né! Que graça tem capturar e não ter prova?
GIGI — Meu pai fotografa tudo que é peixe que ele pega. Bem de
perto, pra parecer maior do que é. Uma sardinha fica parecendo
um tubarão.
RUBICO — Acho que já tem tudo. Vamos nessa.
ELES CATAM A TRALHA E SAEM DO ESCRITÓRIO. CORTA PARA:
CENA 28. CASA DE SINÉSIO. SALA. INTERIOR. NOITE.
APRESENTAÇÃO CENÁRIO. AS CRIANÇAS PASSAM SORRATEIRAS PELA
SALA, CARREGANDO A TRALHA, MEIO SE ATRAPALHANDO COM O MONTE
DE COISAS, ESBARRANDO EM MÓVEIS. ABREM A PORTA E SAEM. CORTA
PARA:
CENA 29. VILA PESCADORES. CAMINHO C/ PEDRAS GRANDES. EXT. NOITE.
CAMINHO SOMBRIO, DESERTO, PRÓXIMO DO MAR. RUBICO, FRANK E GIGI
SURGEM DE TRÁS DAS PEDRAS E CAMINHAM CAUTELOSOS, COM
LANTERNA ACESA. CARREGAM TRALHA DE EQUIPAMENTOS DE “CAÇA”.
RUBICO SEGUE NA FRENTE. GIGI ATRÁS DELE. FRANKLIN POR ÚLTIMO, MAIS
NERVOSO.
FRANKLIN — (OLHA PROS LADOS) O que será que assombração come?
RUBICO — A do velho Bartô come perna de criança.
transformar em bicho.
RUBICO — E se ela pular do meio das pedras? Ou chegar voando?
FRANKLIN — (COM MEDO) Putz!... Será que assombração voa?
RUBICO — Se chegar voando a gente usa o plano B.
GIGI — Plano B? Que plano é esse?
RUBICO — Se liga, Gigi: é aquele que vem depois do plano A.
GIGI — E qual é o plano A?
RUBICO — (SIMPLES) Não inventei ainda.
GIGI E FRANK SE ENTREOLHAM, PREOCUPADOS, E SEGUEM RUBICO. CORTA:
CENA 30. VILA. CANTÃO DE PRAIA COM PEDRAS GRANDES. EXT. NOITE.
CAMERA/EFEITOS ESPECIAIS: ABRE NA LUA CHEIA. UMA NUVEM PASSA, A
COBRE A LUA. CORRIGE PRA GIGI, RUBICO E FRANKLIN À ESPREITA. HÁ
FOG, O VENTO MOVIMENTA A BRUMA, DEIXANDO TUDO SINISTRO,
ASSUSTADOR.
GIGI — Droga, cadê a criatura?
RUBICO — Calma, Gigi. Pensa que assombração é que nem a gente que
tem hora pra tudo? (ASSUSTANDO) Elas aparecem em noite
assim, de lua cheia... na hora do espanto, do terror, na hora
maldita das almas penadas...
FRANKLIN — (MEDO) Quer parar com isso, Rubico?
GIGI, OLHOS ARREGALADOS NA DIREÇÃO DAS PEDRAS, APONTA. RUBICO E
FRANKLIN OLHAM. ARREGALAM OS OLHOS. PV DELES: NO FIM DA VIELA,
NO CONTRA-LUZ, A FIGURA DE BARTÔ - SEM IDENTIFICAR ROSTO, SÓ A
SILHUETA. CONFORME ANDA NA DIREÇÃO DOS TRÊS, SUA SILHUETA VAI
CRESCENDO. CAMINHA DEVAGAR, MEIO FRANKENSTEIN.
FRANKLIN — (PAVOR) Que que que que ...
RUBICO LHE DÁ UM TAPÃO PARA DESENGASGAR.
FRANKLIN — Que que é aquilo ... ????
GIGI — (OLHÃO) Assombração, mula sem cabeça.
RUBICO — Cabeça tem. E das grandes! Acho que é o Velho Bartô.
FRANKLIN — (MEDO) Que que a gente faz agora?
Açores Capítulo 1 Pag.: 19
RUBICO — A gente arpoa ele. Não, a gente taca um pedra. Não, a gente/
FRANKLIN — (RÁPIDO) Corre?
RUBICO — Fotografa. Pega a câmera aí, Frank, bate logo uma foto.
FRANK, APAVORADO, PEGA MÁQUINA E DEIXA CAIR. PV DELES: A FIGURA
SE APROXIMA, CADA VEZ MAIOR.
GIGI — Anda, Frank! A criatura tá chegando muito perto!
PV DELES: A FIGURA MAIS PERTO. FRANKLIN CONSEGUE PEGAR MÁQUINA.
RUBICO — Vai, fotografa logo, antes que ele ele ele....
FRANK CONSEGUE BATER UMA FOTO. O FLASH CHAMA A ATENÇÃO DA
FIGURA, QUE ESTANCA E DEPOIS ANDA MAIS RÁPIDO. ELES SE APAVORAM.
RUBICO — Vambooooraaaaaa!!!!!!
OS TRÊS SAEM CORRENDO, LARGANDO A LANTERNA ACESA NO CAMINHO.
CAMERA SUBJETIVA: VISÃO DE BARTÔ QUE CHEGA ONDE ELES ESTAVAM,
ABAIXA, PEGA A LANTERNA AINDA ACESA. OLHA CURIOSO O FOCO DE LUZ,
ILUMINANDO O PRÓPRIO ROSTO. COM O FOCO DE LUZ DE BAIXO PRA CIMA
SURGE PELA PRIMEIRA VEZ A FIGURA FANTASMAGÓRICA DO VELHO
BARTÔ: BARBA, CABELOS LONGOS, CHAPÉU DE NAVEGADOR PORTUGUÊS
CENTENÁRIO. UM ROSTO ASSUSTADOR NAQUELA LUZ, MAS SEM
DEFINIÇÃO.
CAMERA: A VISÃO DA “CRIATURA” AINDA INDEFINIDA, E CORTA:
CENA 31. CASA DE JOTA JOTA. QUARTO DE RUBICO. INTERIOR.NOITE
RUBICO VOA JANELA A DENTRO. PULA NA CAMA, PUXA AS COBERTAS E SE
METE DEBAIXO, COBRINDO A CABEÇA, ASSUSTADO. NESSE MOVIMENTO O
PRESENTE QUE ESTAVA SOBRE A CAMA DESPENCA NO CHÃO. PAUSA E
ENCARNAÇÃO ENTRA. FECHA A JANELA. AO SAIR DÁ COM O PRESENTE
CAÍDO. PEGA, COLOCA SOBRE A MESA DE CABECEIRA, APAGA A LUZ E SAI.
CAMERA: FECHA EM RUBICO QUE DESCOBRE SÓ A CABEÇA, COM OS OLHOS
ARREGALADOS, AINDA AMEDRONTADO. CORTA:
CENA 32. GUIMARÃES. RUA/FACHADA DE ALMERINDA. EXT.
AMANHECER.
CAMERA/EDIÇÃO: TAKE DE PASSAGEM E LOCALIZAÇÃO. ABRE NO GERAL
DA RUA DESERTA E FECHA NA FACHADA DA CASA DE ALMERINDA. CORTA:
AMANHECER.
ALMERINDA DORME. DANIEL SAI DA CAMA CUIDADOSAMENTE, COMEÇA A
VESTIR-SE. ELA DESPERTA. FALAM MUITO BAIXO.
ALMERINDA — Não devias ter vindo hoje, meu pai pode ver-te sair..
DANIEL — O almirante está a dormir, certamente. Ainda é madrugada.
DANIEL CHEGA ATÉ ELA. ABRAÇA, BEIJA. FALAM RÁPIDO, BAIXO.
ALMERINDA — Aqueles gajos devem estar a vigiar-me.
DANIEL — Pois não os culpo. O que de melhor pode haver para se olhar
do que teu encanto?
ALMERINDA — Por que ficas a dizer essas coisas? Me confundes, me
arrebatas e eu não acho como dizer-te que/...
DANIEL — Shh... Apenas escuta-me: quero mesmo levar-te daqui. Já
acertei tudo, tens apenas que ir logo mais encontrar-me no porto.
ALMERINDA — (ANIMA) No porto? Então vamos mesmo para as ilhas!
DANIEL — Pega umas poucas roupas. À hora em que teu pai sai para a
caminhada, corre e toma o carro que vai piscar as luzes, no canto
da rua. Ele te levará até à cidade do Porto.
ALMERINDA — Eu vou, meu amor. Vou contigo para qualquer lugar deste
mundo. Agora despacha-te, tem cuidado, não deixa que te vejam.
DANIEL — E lembra-te, qualquer problema encontre-me no farol.
ALMERINDA — Está bem, no farol.
ELE VAI PARA A JANELA PRA SAIR POR ALI. ELA O RETÉM MAIS UM POUCO:
ALMERINDA — Promete-me que vais te cuidar.
DANIEL — Promete-me que vais me encontrar.
ALMERINDA — É tudo o que mais quero.
ALMERINDA SORRI.
ELE SAI PELA JANELA. ELA, APAIXONADA, PASSA A MÃO NOS LÁBIOS.
CORTA
FIM CAP. 01