Revisao Critica Das Teorias de Jornalismo

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Revisão Crítica
das Teorias do Jornalismo

Prof. Dr. Manuel Carlos Chaparro

O jornalismo é, sem dúvida, uma das áreas do conhecimento mais fortemente pertur-
badas pelos avanços tecnológicos e pelos seus revolucionários efeitos culturais, que tão
intensamente interferem na vida de todos nos.
Urge, portanto, refletir e conversar sobre Teorias do Jornalismo. E começaremos por
tentar entender o correto significado desses dois termos: TEORIAS + JORNALISMO.
Com base nas ideias já abordadas em nossas aulas, arrisco sintetizar em quatro pa-
rágrafos um entendimento atualizado do que seja Jornalismo -este:
Jornalismo é uma linguagem eficaz, confiável, sedutora e extraordinaria-
mente criativa para o RELATO e o COMENTÁRIO dos acontecimentos da atu-
alidade. Como linguagem, o jornalismo tem uso social cada vez mais intenso,
para o DIZER e o AGIR dos sujeitos discursivos organizados – governos e
instituições governamentais; partidos e empresas; e uma infinidade de institui-
ções não governamentais (culturais, empresariais, profissionais, ambientais,
científicas, recreativas, religiosas, artísticas...), que têm o que dizer, querem
dizer e sabem dizer.
São sujeitos falantes, que agem quando dizem. E que dizem quando
agem. Sempre em função da defesa a afirmação de algum interesse, particular
ou público. Portanto, em cenários e lógicas de conflitos – políticos, econômicos,
financeiros, ideológicos, morais, éticos, jurídicos, religiosos etc.”.
Como linguagem e como espaço público dos mais relevantes conflitos
que movem o mundo, o jornalismo é, cada vez mais, parte essencial dos pro-
cessos políticos, sociais, econômicos, científicos e culturais que alteram, de-
sorganizam e/ou reorganizam continuamente as relações de poder e os orde-
namentos sociais nas comunidades humanas.
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Mas, exatamente por se constituir linguagem e espaço público dos confli-


tos, o jornalismo é um bem público, igualmente indispensável ao mundo orga-
nizado das instituições e ao mundo dos cidadãos comuns, que como usuários
do jornalismo, nele e por ele viabilizam o direito fundamental de acesso à aqui-
sição e à difusão de informações, ideias e opiniões – o que inclui o direito á
liberdade de expressão.

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E TEORIA, o que é?
Como poderemos conceituar e atribuir significados a esse termo tão importante para
a explicação e a compreensão das encrencas da vida?
Nos melhores dicionários, os significados atribuíveis à palavra teoria recheiam longos
verbetes construídos em torno de um eixo movido por três cilindros semânticos:
1) Teoria é um conjunto de regras ou leis aplicadas e/ou aplicáveis a uma ...área
específica (ex.: política, economia, comunicação...);
2) Teoria é um conhecimento especulativo metódico e organizado – e por especula-
tivo entenda-se um conhecimento caracterizado pela investigação teórica sem in-
cursões pela prática;
3) Teoria pode ser também uma opinião, uma doutrina, ou um conjunto sistemático
de opiniões.
Como o oceano em que navegamos tem águas da Ciência (afinal, este é um curso de
nível universitário), há que aprofundar um pouco mais as explicações. E teremos que dar um
passeio à velha Grécia, para apalpar intelectualmente a raiz do termo.
Pois bem, na velha Grécia, o termo Theoria foi criado para dar nome à fileira dos que
se dirigiam aos templos, e neles se reuniam, unidos pelo que chamavam de “festões de
flores”.1 Eram caminhadas e cerimônias adornadas por exuberantes guirlandas e coroas
de flores – belos conjuntos visuais formados por milhares de pequenas pétalas coloridas.
Por isso, o significado inicial da palavra acumulava as ideias de exame e visão. Por
decorrência, ganhou também o sentido de nexo, palavra que no uso científico, como no
senso comum, designa as lógicas e/ou as estruturas de ligação entre coisas.

1
Assim como os romanos, os gregos tinham paixão pelas flores. Mas, ao contrário dos egípcios, não usavam vasos. Pre-
feriam a arte de confeccionar guirlandas e coroas de flores, utilizadas como adornos festivos.
3

No decorrer dos séculos, os mecanismos culturais deram à significação do termo Te-


oria o revestimento intelectual de opinião cientificamente validada em teses, artigos e
congressos. Para receber validação, qualquer teoria proposta deve resultar de obser-
vações metodológicas que investiguem, desconstruam, identifiquem, classifiquem,
compreendam e revelem nexos explicativos dos fenômenos. E por nexos se entenda
lógicas e/ou as estruturas de ligação entre fatos, situações, circunstâncias, ideias,
comportamentos e outros objetos (físicos ou abstratos) direta ou indiretamente rela-
cionados com a vida terrena e as necessidades humanas entender o mundo e se en-
tender nele.

Jornalismo como área de conhecimento

As teorias são, portanto, parte fundamental dos processos produtores de conheci-


mento, oferecendo às diferentes áreas acadêmicas marcos conceituais que lhes garantam
autonomia curricular e competências específicas para responderem adequadamente às res-
pectivas demandas culturais e profissionais.
Com a instituição, em 2013, de diretrizes curriculares próprias, e por suas complexi-
dades de linguagem e atividade especializada de crescente importância no mundo globali-
zado, o jornalismo tornou-se área acadêmica com autonomia curricular. 2
Como área acadêmica do campo das Ciências da Comunicação, o jornalismo tem
renovadas necessidades de teorias. Precisamos, sim, de teorias consistentes e inovadoras,
que tornem compreensíveis, e cognitivamente assumidos, novos papeis que ao jornalismo
são atribuídos pelo estágio de civilização digital em que já entramos.
Mas teorias não faltam na história do jornalismo. E como ponto de partida para no-
vas ideias, essas teorias devem ser criticamente revisitadas. É o que faremos a seguir,
analisando por ordem cronológica as cinco mais importantes e conhecidas teorias do jorna-
lismo.

Teoria do Espelho

DEFINIÇÃO – Pela teoria do espelho, surgida em torno de 1850, a mediação jorna-


lística ficaria limitada à Notícia, na perspectiva de um jornalismo livre de opinião. E pela
Teoria do Espelho, noticiar seria um trabalho de observação e narração isento,

2
Por meio da Resolução no 1 de 27 de setembro de 2013, o Conselho Nacional de Educação instituiu oficialmente as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em jornalismo (bacharelado).
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desinteressado, marcado pela neutralidade da imparcialidade, para que os fatos fossem des-
critos objetivamente. O princípio básico seria a separação de fatos e opiniões, para que o
relato jornalístico refletisse a realidade, sem interpretações nem valorações. Como se fosse
uma descrição fotográfica.
CONTEXTO – A Teoria do Espelho surgiu quando no mundo ocidental o jorna-

lismo entrava no ciclo histórico da notícia. E três fatores contribuíram para a definição
e aceleração desse rumo:
1) O surgimento das tecnologias de comunicação à distância. O telégrafo havia
sido inventado por Samuel Morse em 1837, e seria utilizado pela primeira vez pelo seu
inventor em 1844.
2) O surgimento das agências noticiosas. Primeiro a Havas (Paris), criada em

Paris no ano de 1835 por Charles-Luis Havas, da qual a France Press é herdeira; em
seguida a Wolff, na cidade de Berlim, em 1849; dois anos depois, a Reuters, fundada
em Londres pelo imigrante alemão Paul Julius Reuters; e em 1848, a Associated Press,
com sede em Nova York.
Ao longo da segunda metade do século 19, as agências noticiosas utilizaram e
expandiram a Notícia como forma preponderante do relato jornalístico, principal-
mente depois de 1865, ano em que a Associated Press usou pioneiramente o telégrafo,
na cobertura da Guerra da Secessão. E até o final do século, a Notícia ultrapassaria o
Artigo, em espaço ocupado na mancha impressa dos jornais.
3) O revolucionário desenvolvimento da indústria gráfica. A invenção da im-
pressora rotativa, posta em operação em 1846, no Philadelphia Public Ledge; a zinco-
gravura, disponível a partir de 1852, graças à qual Roger Fenton3 pôde publicar, no The
Times, em 1855, as fotos que fez nas frentes de batalhas da Guerra da Criméia – e aí
nasceu o fotojornalismo; e o surgimento da linotype (linotipo), inventada em 1885 e
lançada no mercado em 1886. Com os novos equipamentos gráficos, a Notícia ganhou

3
ROGER FENTON (1819-1869), histórico fotógrafo britânico, pioneiro em coberturas fotográficas de guerras, foi um dos
criadores do fotojornalismo.
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rapidez, maior alcance e novos públicos.


COMENTÁRIO - Se a objetividade fosse no jornalismo uma estratégia possível,

ou mesmo desejável, a imparcialidade seria, sem dúvida, virtude essencial. A meu en-
tender, porém, a objetividade não faz parte do método jornalístico. O que integra o
método jornalístico é a precisão, tão importante no observar e no registrar da materi-
alidade dos fatos, quanto na escolha subjetiva de critérios e razões para as depurações
narrativas.

Teoria do Gatekeeper

DEFINIÇÃO - Um século depois da Teoria do Espelho, em 1950, surgiu a Teoria do


Gatekeeper, também nos Estados Unidos, proposta pelo professor e pesquisador de jorna-
lismo David Manning White. Em seu estudo, Manning White propôs e defendeu a ideia de
que a divulgação de qualquer notícia deveria passar por filtros subjetivos e arbitrários de um
jornalista “porteiro”. Para escolher as notícias a serem publicadas, esse jornalista “porteiro”
(ou ”guardião”) usaria apenas critérios, valores e expectativas dele próprio, no exercício do
poder individual de jornalista.
CONTEXTO – PhD em 1942, o sociólogo e comunicólogo David Manning White já
exibia alentado currículo acadêmico quando, em 1950, aos 35 anos, propôs a sua Teoria de
Gatekeeper. Para o estudo que fez, em procedimentos de observação, White acompanhou
de perto, durante algum tempo, o trabalho de um jornalista de meia idade (a quem chamou
de “Mr. Gates”), profissional experiente, responsável pela seleção de notícias nos teletipos
na redação do “The Pioria Star”, pequeno jornal local de uma cidade localizada no Meio-
Oeste americano.
Com metodologia mais intuitiva do que científica, o professor Manning White desco-
briu que “Mr. Gates” baseava as escolhas das notícias a publicar no cruzamento de três
critérios: 1) a avaliação da veracidade e do interesse da informação; 2) a necessidade ope-
racional de limitar a quantidade e o tamanho dos textos à disponibilidade de espaço nas
páginas do noticiário; 3) a hierarquia entre notícias sobre os mesmos fatos ou assuntos.
Gostou do que fez e nos deixou, como coisa boa, a Teoria do Gatekeeper.
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Teoria Organizacional

Cinco anos depois, no próprio ambiente acadêmico norte-americano, a crítica mais


efetiva à proposta do professor White viria de outro sociólogo, o professor Warren Breed.
Em 1955, ele publicou um artigo no qual, em contestação à Teoria do Gatekeeper, defendia
que o jornalista se conforma mais com as normas da política editorial da organização jorna-
lística para a qual trabalha, do que com as crenças pessoais. Breed afirmava que o jornalista
acaba “socializado” na política editorial por uma sucessão sutil de recompensas e punições. E a
sua análise entrou e permanece nas discussões do jornalismo como a “Teoria Organizacional”.

Teoria do Agendamento (Agenda Setting)

DEFINIÇÃO – Em sua teoria do Agendamento, Maxwell McCombs e Donald Shaw


trabalham com a hipótese de que o jornalismo tem e exerce o poder de impor aos públicos
destinatários, portanto à discussão pública, os fatos, as falas e os temas da agenda jorna-
lística.
CONTEXTO - Maxwell McCombs e Donald Shaw formaram uma dupla curiosa.
Quando criaram e propuseram a Teoria do Agendamento, McCombs era jornalista, pesqui-
sador e professor estadunidense de jornalismo; Shaw, um músico escocês que viria a ser
bastante premiado, era também compositor, produtor e um dos membros fundadores do
grupo Capercaillie .
Pois essa improvável dupla propôs à cultura jornalística, em 1972, a interessante mas
óbvia teoria segundo a qual, para os consumidores de notícias, as novidades mais atrativas
e importantes são as que conquistam maior destaque na cobertura jornalística. Assim, o
sucesso do discurso jornalístico está na sua capacidade de levar os públicos destinatários a
pensar e a falar sobre determinados assuntos, e não sobre outros
No seu estudo, McCombs e Shaw chegam a admitir que os públicos das audiências
jornalísticas tendem a incluir ou a excluir de seus conhecimentos aquilo que os meios de
comunicação incluem ou excluem do seu próprio conteúdo.
COMENTÁRIO – Apesar de representar um avanço conceitual em relação às anteri-
ores Teorias, McCombs e Staw olharam o jornalismo como objeto confinado em redações.
E ignoraram pelo menos três variáveis: 1) Esqueceram que os fatos geradores, sem os quais
não haveria Notícia, são planejados e materializados fora das redações, por sujeitos sociais
organizados, competentes e interessados (as chamadas “fontes”), que usam a notícia como
ação tática em estratégias de comunicação social, visando objetivos políticos, econômicos,
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culturais, mercadológicos etc.; 2) Ignoraram, também, a interferência decisiva e irreversível


que a revolução tecnológica digital já exercia, e exerceria cada vez mais, nos processos
culturais e sociais da informação, jornalismo incluído – e vale lembrar que, em 1972, os
satélites e os computares já existiam, operacionalizando várias tecnologias de difusão; 3) E
esqueceram que, como linguagem, a função e o sucesso do jornalismo está no espaço e
nas estratégias das macrointerlocuções sociais, envolvendo públicos destinatários que
nesse processo são os sujeitos da transformação, nas relações e nas estruturas sociais.

Teoria do Newsmaking

DEFINIÇÃO – A partir da observação dos modos de produção da Notícia, e em tra-


balhos individuais, o português Nelson Traquina e o italiano Mauro Wolf apresentaram e
defenderam ideias que acabaram conectadas e conhecidas como a Teoria do Newsma-
king. Nessa proposta, o jornalismo é entendido e explicado como uma construção da reali-
dade. Na visão apresentada por esses autores, os jornalistas produzem enunciações e so-
cializam enunciados que realizam ações discursivas a serem submetidas, em forma de no-
tícia, às pressões, interpretações e reações sociais. E para que assim aconteça, os autores
da teoria trabalham e propõem a hipótese de que a produção da notícia é um processo
complexo, planejado e controlado como rotina industrial.
CONTEXTO – A Teoria do Newsmaking tem formuladores que integram a elite dos
pensadores de jornalismo contemporâneo. Entre eles, tenho respeito especial por Nelson
Traquina e Mauro Wolf
Nascido nos Estados Unidos, com estudos em Denver e Paris, NELSON TRAQUINA
tornou-se cidadão português, no itinerário que o levou a Portugal para cobrir a Revolução de
Abril de 1974 (“Revolução dos Cravos”), como correspondente de agências noticiosas inter-
nacionais. Por lá ficou, como professor da Universidade Nova de Lisboa. E com seus livros,
conquistou prestígio e respeitabilidade de investigador português mais influente nos estudos
e debates internacionais sobre jornalismo.
O sociólogo italiano MAURO WOLF (1947-1996) foi professor e ensaísta de influente
produção acadêmica, em trabalhos multidisciplinares que envolveram pesquisas e reflexões
nos campos da sociologia e da comunicação Deixou-nos, como legado, vários livros hoje
considerados textos clássicos, como fontes de referência teórica sobre diversas vertentes
temáticas da comunicação de massa.
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Em trabalhos individuais produzidos em anos diferentes, Traquina, Wolf e outros pen-


sadores e pensadoras do jornalismo (entre elas, a americana Gaye Tuchman) ofereceram à
reflexão acadêmica a ideia de que uma notícia sempre resulta de uma negociação entre
vários agentes do processo – diretores, editores, pauteiros, repórteres e outros intervenien-
tes com poderes de minimizar ou maximizar os efeitos da notícia. Nessa intervenção, usam-
se conhecidos critérios profissionais, entre os quais a notoriedade, os níveis hierárquicos e
a quantidade das pessoas envolvidas nos fatos; as novidades dos conteúdos; o interesse
público; o impacto sobre as coletividades ou nações; e o caráter transgressor ou infrator das
ações e comportamentos.
COMENTÁRIO – Mais sofisticada do que as propostas anteriores, a Teoria do
Newsmaking constrói e defende a ideia de um jornalismo que nada tem a ver com o “espelho
da realidade”. Ao contrário: os dois acreditam e propõem que o jornalismo faz a construção
narrativa de uma possível e suposta realidade.
Nesse contexto, o jornalista não tem o nível de poder individual que lhe é atribuído
pela Teoria do Gatekeeper. Nem é tão subjugado dentro da redação quanto entende a Teoria
Organizacional.
Mas surpreende que em autores tão consistente ainda encontremos visões de jorna-
lismo que não vão além dos limites e poderes das redações. Como se o jornalismo fosse
propriedade do poder profissional dos jornalistas, e nele se esgotasse. Como se fora das
redações não existisse o mundo movimentado pelo agir intencional e planejado de sujeitos
sociais organizados. Como geradores de conteúdos noticiáveis, são usuárias competentes
do jornalismo. Portanto, sujeitos de ações discursivas que ocupam o espaço, o tempo e a
linguagem do jornalismo para efetivar conflitos que decidem rumos, ritmos e razões de ser
da caminhada civilizatória da humanidade.

Outras Teorias

Com tentativas teóricas de entender e explicar o jornalismo, vários estudos sobre o


Jornalismo surgiram nas últimas décadas. E é importante que pelo menos as três mais cita-
das possam ser aqui referidas, em curtos resumos.
Teorias Instrumentalistas – Os instrumentalistas dividem-se em duas correntes teó-
ricas: a de viés conservador e reacionário, que considerava os jornalistas uma classe social
distinta, anticapitalista, empenhada em distorcer as notícias para difundir ideologias pesso-
ais; e a de viés progressista e contestador, que sustenta serem os jornalistas oprimidos nas
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empresas, pressionados a reproduzir os valores capitalistas, como o consumo desenfreado,


a competição, o individualismo e a privatização.
Teoria dos Definidores Primários – É uma linha teórica que atribui às fontes entre-
vistadas a distorção intencional das notícias, tendo em vista os seus próprios interesses e
suas conveniências.
Teoria Unificadora da Notícia – Trata-se da mais recente e elaborada proposta teó-
rica sobre jornalismo, formulada pelo professor Jorge Pedro Sousa, da Universidade Fer-
nando Pessoa, localizada no Porto, importante cidade de Portugal. Em sofisticado ensaio de
2004, Sousa propõe, em jeito de paradigma, um método para o entendimento unificado das
várias teorias do jornalismo. Ensaio tão sofisticado, que não dá para resumir. Por isso, re-
corto do texto uma explicação do próprio autor:
“A teoria unificada da notícia tem o seguinte enunciado: a notícia é o resultado da
interação simultaneamente histórica e presente de forças de matriz pessoal, social (organi-
zacional e extraorganizacional), ideológica, cultural, do meio físico e dos dispositivos tecno-
lógicos, tendo efeitos cognitivos, afetivos e comportamentais sobre as pessoas, o que por
sua vez produz efeitos de mudança ou permanência e de formação de referências sobre as
sociedades, as culturas e as civilizações.”
“A tradução matemática da parte da teoria que diz respeito à construção da notícia é
uma função em que N (notícia) é diretamente proporcional ao produto das forças atrás cita-
das - pessoal, socio-organizacional, extraorganizacional, ideológica, cultural, histórica, do
meio físico e dos dispositivos tecnológicos: N = f (Fp.Fso.Fseo.Fi.Fc.Fh.Fmf.Fdt.Fh)”
O ensaio está disponibilizado na Internet. É um texto difícil, mas vale a pena ler:
(http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-construindo-teoria-j),
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E a profissão, como ficará?

A crítica às Teorias já produzidas cria uma demanda por novos entendimentos e novas
explicações do que seja jornalismo. E torna inevitável uma pergunta: - E a profissão de jorna-
lista, como ficará?

A profissão está em estado de mutação, adaptando-se às novas dinâmicas e práticas do uso


do jornalismo em tempos de revolução digital. Qualquer que seja a avaliação da crise de adaptação
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pela qual passa, a profissão será cada vez mais importante, não apenas como a atividade respon-
sável pela confiabilidade e eficácia da linguagem, mas também pela função civilizatória que lhe cabe.

A organização e a deontologia dos jornalistas terão de encontrar modelos e formas que privi-
legiem o zelo técnico e a responsabilidade ética dos profissionais, qualquer que seja o lugar em que
trabalhem, desde a origem e a socialização da Notícia ao trabalho intelectual de elucidar e debater
os seus significados e efeitos.

Para ajudar nessa reflexão, vocês, alunos e alunas deste curso, proponho que assumam
como tarefa obrigatória a leitura da Portaria n o 1 de 27 de setembro de 2013, por meio da qual o
Conselho Nacional de Educação instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de
Jornalismo.
Como aperitivo, transcrevo abaixo o Capitulo 4 do documento, que trata das Competências
exigidas para a profissão (Conhecimentos, Habilidades, Atitudes e Valores).

Competências gerais

- Compreender e valorizar como conquistas históricas da cidadania e in-


dicadores de um estágio avançado de civilização, em processo constante de ris-
cos e aperfeiçoamento: o regime democrático, o pluralismo de idéias e de opini-
ões, a cultura da paz, os direitos humanos, as liberdades públicas, a justiça social
e o desenvolvimento sustentável;
- Conhecer, em sua unicidade e complexidade intrínsecas, a história, a
cultura e a realidade social, econômica e política brasileira, considerando especi-
almente a diversidade regional, os contextos latino-americano e ibero americano,
o eixo sul-sul e o processo de internacionalização da produção jornalística;
- Identificar e reconhecer a relevância e o interesse público entre os te-
mas da atualidade;
- Distinguir entre o verdadeiro e o falso a partir de um sistema de referên-
cias éticas e profissionais;
- Pesquisar, selecionar e analisar informações em qualquer campo de
conhecimento específico;
- Dominar a expressão oral e a escrita em língua portuguesa;
- Ter domínio instrumental de pelo menos dois outros idiomas – preferen-
cialmente inglês e espanhol, integrantes do contexto geopolítico em que o Brasil
está inserido;
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- Interagir com pessoas e grupos sociais de formações e culturas diversas


e diferentes níveis de escolaridade;
- Ser capaz de trabalhar em equipes profissionais multifacetadas;
- Saber utilizar as tecnologias de informação e comunicação;
- Pautar-se pela inovação permanente de métodos, técnicas e procedi-
mentos;
- Cultivar a curiosidade sobre os mais diversos assuntos e a humildade
em relação ao conhecimento;
- Possuir abertura para compreender que o aprendizado é permanente;
- Saber conviver com o poder, a fama e a celebridade mantendo a inde-
pendência e o distanciamento necessários em relação aos mesmos;
- Perceber constrangimentos à atuação profissional e desenvolver senso
crítico em relação a eles;
- Procurar ou criar alternativas para o aperfeiçoamento das práticas pro-
fissionais;
- Atuar sempre com discernimento ético.

Competência específicas

Competências cognitivas - Conhecer a construção histórica e os funda-


mentos da Cidadania; Compreender e valorizar o papel do jornalismo na demo-
cracia e no exercício da cidadania; Compreender as especificidades éticas, técni-
cas e estéticas do jornalismo, em suas complexidades de linguagem e como
forma diferenciada de produção e socialização de informação e conhecimento so-
bre a realidade; Discernir os objetivos e as lógicas de funcionamento das institui-
ções privadas, estatais, públicas, partidárias, religiosas ou de outra natureza em
que o jornalismo é exercido, assim como as influências do contexto neste exercí-
cio.
Competências pragmáticas - Contextualizar, interpretar e explicar infor-
mações relevantes da atualidade, agregando-lhes elementos de elucidação ne-
cessários à compreensão da realidade; Perseguir elevado grau de precisão no
registro e na interpretação dos fatos noticiáveis; Propor, planejar, executar e ava-
liar projetos na área de jornalismo; Organizar pautas e planejar coberturas jorna-
lísticas; Formular questões e conduzir entrevistas; Adotar critérios de rigor e inde-
pendência na seleção das fontes e no relacionamento profissional com elas, tendo
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em vista o princípio da pluralidade, o favorecimento do debate, o aprofundamento


da investigação e a garantia social da veracidade; Dominar metodologias jorna-
lísticas de apuração, depuração, aferição, produção, edição e difusão; Conhecer
conceitos e dominar técnicas dos gêneros jornalísticos; Produzir enunciados jor-
nalísticos com clareza, rigor e correção, e ser capaz de editá-los em espaços e
períodos de tempo limitados; Traduzir em linguagem jornalística, preservando-os,
conteúdos originalmente formulados em linguagens técnico-científicas, mas cuja
relevância social justifique e/ou exija disseminação não especializada; Elaborar,
coordenar e executar projetos editoriais de cunho jornalístico para diferentes tipos
de instituições e públicos; Elaborar, coordenar e executar projetos de assessoria
jornalística a instituições legalmente constituídas de qualquer natureza, assim
como projetos de jornalismo em comunicação comunitária, estratégica ou corpo-
rativa; Compreender, dominar e gerir processos de produção jornalística, e ser
capaz de aperfeiçoá-los pela inovação e pelo exercício do raciocínio crítico; Do-
minar linguagens midiáticas e formatos discursivos utilizados nos processos de
produção jornalística nos diferentes meios e modalidades tecnológicas de comu-
nicação; Dominar o instrumental tecnológico – hardware e software – utilizado na
produção jornalística; Avaliar criticamente produtos e práticas jornalísticas.
Competências comportamentais - Perceber a importância e os mecanis-
mos da regulamentação político-jurídica da profissão e da área de comunicação
social; Identificar, estudar e analisar questões éticas e deontológicas no jorna-
lismo; Conhecer e respeitar os princípios éticos e as normas deontológicas da
profissão; Avaliar, à luz de valores éticos, as razões e os efeitos das ações jorna-
lísticas; Atentar para os processos que envolvem a recepção de mensagens jor-
nalísticas e o seu impacto sobre os diversos setores da sociedade; Impor aos
critérios, às decisões e às escolhas da atividade profissional as razões do inte-
resse público; Exercer, sobre os poderes constituídos, fiscalização comprometida
com a verdade dos fatos, o direito dos cidadãos à informação e o livre trânsito das
ideias e das mais diversas opiniões.

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