Defesa Previa Penal

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ ________ DA ________

Processo Crime nº ________

________ , ________ , inscrito no CPF sob o nº ________ , com


endereço na ________ , vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, por seu Representante Legal, apresentar sua

DEFESA PRÉVIA

pelas razões de fato e fundamentos:

DA ACUSAÇÃO

O mérito da denúncia trata-se de suposta prática dos delitos de ________


enquadrado no Art. ________ .

Segundo consta da Denúncia, o acusado teria ________ .

O denunciado exerceu o direito de permanecer em silêncio em seu


depoimento prestado na fase inquisitorial.

Apesar de ________ , a denúncia foi indevidamente recebida na data de


________ , o que merece ser revista uma vez que ________ , conforme passa a
demonstrar.

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INÉPCIA DA PEÇA ACUSATÓRIA

Dentre os pressupostos legais, nos termos do art. 41 do CPP, a denúncia


deve conter a qualificação do acusado, a exposição do fato criminoso com todas as suas
circunstâncias, o enquadramento legal do crime e classificação, in verbis:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato


criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.

Todavia, a denúncia deixa de preencher os pressupostos do referido


artigo quando deixa de ________ .

A ausência de tais informações impedem o pleno exercício ao


contraditório. Afinal, como poderá elaborar a sua defesa sem acesso a tais informações?

Tratam-se de dados indispensáveis à ampla defesa, conforme precedentes


do STJ sobre o tema:

PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA. REQUISITOS. ART. 41


DO CPP. GOVERNADOR. FORO POR PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO. STJ. DESMEMBRAMENTO. CONCURSO DE
AGENTES. DESCRIÇÃO INDIVIDUALIZADA DAS
CONDUTAS. AUSÊNCIA. AMPLA DEFESA. PREJUÍZO.
OCORRÊNCIA. INÉPCIA. REJEIÇÃO. ART. 395, I, DO CPP.
1. (...). 3. A exposição do fato criminoso com todas suas
circunstâncias tem o objetivo de atender à necessidade de
permitir, desde logo, o exercício da ampla defesa pelo
denunciado, pois é na delimitação temática da peça acusatória
em que se irá fixar o conteúdo da questão penal. 4. Ocorre a
inépcia da denúncia ou queixa quando sua deficiência resultar
em prejuízo ao exercício da ampla defesa do acusado, ante a
falta de descrição do fato criminoso, da ausência de imputação
de fatos determinados ou da circunstância de da exposição não

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resultar logicamente a conclusão. 5. Na presente hipótese, a
denúncia não narra a correta delimitação da modalidade de
contribuição do acusado para a suposta prática dos crimes dos
arts. 288 e 312 do CP, 89 e 90 da Lei 8.666/93, tampouco a
demonstra a correspondência concreta entre suas condutas e as
dos demais supostos agentes, o que impede a compreensão da
acusação que se lhe imputa, causando, por consequência,
prejuízo a seu direito de ampla defesa. 6. A rejeição da denúncia
por inépcia em relação a um acusado não impede o oferecimento
de nova denúncia, caso sanadas as irregularidades, nem seu
exame pelo juiz natural dos demais acusados, fixado pelo
desmembramento do processo. 7. Denúncia rejeitada em relação
ao acusado com prerrogativa de foro, por inépcia. (APn 810/DF,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL,
julgado em 20/11/2017, DJe 28/11/2017, #65855153) #5855153

HABEAS CORPUS. PREFEITO. FRAUDE À LICITAÇÃO


(ART. 90 DA LEI N. 8.666/1993). CONDUTA DELITUOSA.
AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE FATOS CONCRETOS.
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 280 DO CP). VÍNCULO
ESTÁVEL E PERMANENTE NÃO DEMONSTRADO.
INÉPCIA DA DENÚNCIA. OCORRÊNCIA. SIMILITUDE DE
SITUAÇÕES. RECONHECIMENTO (ART. 580 DO CPP). 1.
É inepta a denúncia que tem caráter genérico e não descreve a
conduta criminosa praticada pelo paciente, mencionando apenas
que os atos ilícitos ocorreram com o respaldo do prefeito
municipal (fl. 16), afirmando, na sequência, que o fato de ele
pertencer a mesma agremiação política do proprietário da
empresa vencedora da licitação sugere a sua adesão ao fato
delituoso. 2. As condutas descritas pelo Parquet denotam o
concurso de agentes na prática delituosa e não o delito de
associação criminosa (art. 288 do CP), cuja tipificação exige a
demonstração da existência de vínculo estável e permanente dos
agentes, visando à prática de crimes. 3. Havendo similitude de
situações, nos termos dos arts. 580 e 654, § 2º, ambos do Código
Penal, a ordem deve ser estendida aos demais denunciados

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quanto ao delito tipificado no art. 288 do Código Penal. 4.
Ordem concedida para trancar a Ação Penal n.
112/2.13.0000406-6, em trâmite na comarca de Não-Me-Toque,
em relação ao paciente, Paulo Lopes Godoi, sem prejuízo de que
outra seja ofertada com descrição circunstanciada das condutas a
ele atribuídas; com extensão parcial aos demais denunciados, tão
somente com relação ao delito tipificado no art. 288 do Código
Penal. (STJ - HC: 258696 RS 2012/0233946-2, Relator:
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Julgamento:
07/03/2017, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
13/03/2017, #95855153)

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - ART. 171, CAPUT, DO


CP, E ART. 102 DA LEI N. 10.741/03 - DENÚNCIA
REJEITADA POR INÉPCIA - REFORMA DA DECISÃO -
IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DO
ART. 41 DO CPP - AGLUTINAÇÃO E DESCRIÇÃO
GENÉRICA DE VÁRIOS FATOS COMO CRIME ÚNICO -
INÉPCIA CONFIGURADA - DECISÃO ACERTADA -
RECURSO NÃO PROVIDO. - Se a inicial acusatória não
cuidou de descrever todos os fatos criminosos e suas
circunstâncias, como determina o art. 41 do CPP, aglutinando de
forma genérica as condutas delitivas supostamente praticadas
pela recorrida, como se tratasse de um único fato delitivo,
prejudicando, consequentemente, o exercício da ampla defesa da
denunciada, configura-se a inépcia da peça, devendo ser de fato
rejeitada a denúncia. (TJ-MG - Rec em Sentido Estrito:
10444150012227001 MG, Relator: Jaubert Carneiro Jaques,
Data de Julgamento: 06/06/2017, Câmaras Criminais / 6ª
CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 23/06/2017,
#85855153)

Nesse sentido, confirmam recentes precedentes:

Recurso em sentido estrito - Lesão corporal e ameaça -


Denúncia parcialmente recebida - Desconhecimento da data em

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que um dos fatos ocorreu - Ausência dos requisitos mínimos
essenciais da peça acusatória - Inépcia configurada - Art. 41 do
Código de Processo Penal - Entendimento jurisprudencial -
Decisão mantida - Recurso improvido. (TJ-SP - RSE:
00043298420188260047 SP 0004329-84.2018.8.26.0047,
Relator: Alexandre Almeida, Data de Julgamento: 13/03/2019,
11ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação:
15/03/2019, #95855153)

A doutrina, nesse mesmo sentido, destaca sobre a imprescindibilidade da


completude da inicial, sob pena de indeferimento:

"As exigências relativas à exposição do fato criminoso, com


todas as suas circunstâncias atendem à necessidade de se
permitir, desde logo, o exercício da ampla defesa. Conhecendo
com precisão todos os limites da imputação, poderá o acusado a
ela se contrapor o mais amplamente possível, (...)".
(OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 20ª ed.
Editora Atlas, 2016. p.168)

A peça acusatória não pode ser genérica. Os fatos devem ser


individualizados e com características sólidas do ocorrido, razão pela qual deve ser
imediatamente rejeitada, nos termos do Art. 395, inc. I do CPP.

Não obstante ao exposto, pelo princípio da causalidade, passa-se a


rebater pontualmente as imputações ao réu.

DA PRESCRIÇÃO

Preliminarmente, pelo que se depreende dos autos, entre a decisão


administrativa e o recebimento da denúncia transcorreu mais de ________ anos.

Ao lecionar sobre a matéria, a doutrina acentua sobre a necessária


observância ao prazo prescricional da pretensão punitiva:

"Com a ocorrência do fato delituoso nasce para o Estado o

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iuspuniendi. Esse direito, que se denomina pretensão punitiva,
não pode eternizar-se como uma espada de Dámocles pairando
sobre a cabeça do indivíduo. (...) Escoado o prazo que a
própria lei estabelece, observadas suas causas modificadoras,
prescreve o direito estatal à punição do infrator."
(BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte
geral 1. 24 ed. Saraiva, 2018. Versão ebook p.22446)

De acordo com o inciso V do art. 109 do Código Penal, a prescrição da


pena superior a ________ , que não excede a ________ , ocorre em ________ .

Ademais, considerando que o Réu é maior de 70 (setenta), o prazo


prescricional deve ser reduzido pela metade, nos termos do art. 115 do Código Penal, ou
seja, para ________ .

Assim, considerando o lapso temporal entre a consumação do ato e o


recebimento da denúncia, tem-se a configuração da prescrição da pretensão punitiva
estatal, conforme precedentes sobre o tema:

CRIME TRIBUTÁRIO. Exame do mérito prejudicado em razão


da prescrição da pretensão punitiva retroativa. Crime
supostamente cometido antes da reforma parcial de 2010, que
alterou a disciplina da prescrição. Penas definitivas para a
acusação de 2 anos de reclusão. Consumação do crime tributário
que, segundo a Súmula Vinculante 24, se dá na data do
lançamento definitivo, não da inscrição do débito na dívida
ativa, esta consequência daquele. Decurso de mais de quatro
anos entre a decisão administrativa final e o recebimento da
denúncia. Irrelevante o atraso de cerca de um ano entre o
lançamento definitivo e a inscrição na dívida ativa. Recursos
prejudicados. Extinção da punibilidade decretada. (TJSP
0005353-93.2010.8.26.0576, Relator: Otávio de Almeida
Toledo, 10ª Câmara Criminal Extraordinária, Data de
Publicação: 11/10/2017, #75855153)

FRAUDE EM LICITAÇÃO. Artigos 90 e 96, inciso IV, da Lei

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nº 8.666/93. Condenações, respectivamente, às penas de 2 anos
e 4 meses e 3 anos e 6 meses de detenção e multa Prazo
prescricional de oito anos. Inteligência do artigo 109, inciso IV,
do CP. Lapso transcorrido entre a data dos crimes, praticados
antes da vigência da Lei nº 12.234/10, e o recebimento da
denúncia. Ultra-atividade da lei revogada por ser mais benéfica.
PRESCRIÇÃO RETROATIVA DA PRETENSÃO PUNITIVA.
Extinção da punibilidade com base no artigo 107, inciso IV, do
CP. (TJ-SP 00026551420068260493 SP 0002655-
14.2006.8.26.0493, Relator: Otávio de Almeida Toledo, Data de
Julgamento: 03/10/2017, 16ª Câmara de Direito Criminal, Data
de Publicação: 04/10/2017, #85855153)

APELAÇÃO CRIMINAL. FALSIDADE IDEOLÓGICA.


PRESCRIÇÃO RETROATIVA. Decorrido o prazo extintivo,
prescrita a pretensão punitiva. Apelações providas. (TJ-GO -
APR: 01196160920088090051, Relator: DES. IVO FAVARO,
Data de Julgamento: 21/02/2017, 1A CAMARA CRIMINAL,
Data de Publicação: DJ 2243 de 04/04/2017, #95855153)

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE FURTO. PRELIMINAR


DE DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA. POSSIBILIDADE
DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO-CRIME.
ACOLHIMENTO. DECRETAÇÃO DA EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO PUNITIVA ESTATAL. Caso
dos autos em que merece ser aplicada a Súmula 337 do STJ, ao
efeito de ser desconstituída a sentença, para ser oportunizada ao
Ministério Público a oferta da suspensão condicional do
processo-crime. Extinção da punibilidade do acusado, diante da
incidência da prescrição punitiva estatal pela pena em concreto
transitada em julgado para o órgão ministerial. Lapso temporal
de dois anos e dois meses transcorrido entre a data do
recebimento da denúncia e a data da presente Sessão de
julgamento. Inteligência dos arts. 109 , VI , 115 e 107 , IV ,
todos do CP . Preliminar acolhida. Sentença desconstituída.
Extinta a punibilidade do réu. (Apelação Crime Nº

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70074048729, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: José Antônio Daltoe Cezar, Julgado em
05/10/2017).

Motivos pelos quais devem conduzir ao imediato reconhecimento da


prescrição punitiva.

DA AUSÊNCIA DE DOLO EVENTUAL

No dolo eventual, o agente não intenciona o resultado, mas,


conscientemente vislumbra como possível e o aceita. No presente caso, a conduta do
denunciado não demonstra em momento algum que ele tinha condições de prever aquele
resultado e, mesmo consciente do risco, tenha se arriscado a produzi-lo.

Pelas provas produzidas durante a instrução criminal, não há qualquer


elemento que comprove que o acusado assumira o risco de produzir o resultado,
devendo ser descartado o dolo eventual.

No presente caso, não há provas de que o acusado estaria embriagado no


momento do acidente, nem que a velocidade empreendida pelo acusado seria superior
ao limite permitido, muito menos qualquer indicação de que dirigia de maneira perigosa
ou qualquer outro elemento capaz de caracterizar a assunção do risco de produzir a
morte da vítima.

Portanto, o dolo eventual deve ser descartado, conforme precedentes


sobre o tema:

"Com efeito, a caracterização do dolo eventual é de difícil


aferição, devendo ser analisado com cautela caso a caso, sob
pena de banalizar os delitos de homicídio de trânsito e o próprio
instituto do Tribunal do Júri. Na hipótese, pelas razões expostas,
não tenho dúvida de que a conduta do réu e o resultado lesivo
foram causados pela violação de um dever objetivo de cuidado,
reunindo condições suficientes para a configuração de crime
culposo, tornando despicienda a alusão à teoria do dolo
eventual. Alias, enquadrar a conduta imprudente em dolo ao

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invés da culpa, é esvaziar o preceito normativo do art. 302 do
Código de Trânsito Brasileiro, dando arraso a direito penal
objetivo, devidamente repelido pelo ordenamento jurídico
brasileiro." (TJMS. Apelação n. 0010568-14.2013.8.12.0001,
Campo Grande, 2ª Câmara Criminal, Relator (a): Des. José Ale
Ahmad Netto, j: 02/04/2018, p: 04/04/2018, #05855153)

A doutrina ao lecionar sobre o tema, destaca:

"No dolo eventual o agente prevê o resultado como provável ou,


ao menos, como possível, mas, apesar de prevê-lo, age
aceitando o risco de produzi-lo, por considerar mais
importante sua ação que o resultado." (BITENCOURT, Cezar
Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. Vol 1. 24 ed.
Saraiva, 2018. Versão ebook p. 8636)

Com estas palavras fica claro que no dolo eventual, exige-se uma
conduta consciente do agente ao colocar o resultado final em paralelo à conduta, ele
escolhe seguir com a conduta independente do resultado.

Ou seja, o resultado é esperado e consentido. O que evidentemente não se


aplica ao presente caso. Afinal, ao cogitar a possibilidade de causar tal ilícito, o
denunciado evidentemente teria buscado evitar.

Portanto, não há que se falar em dolo eventual.

DA CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA

Diferentemente do que foi narrado, a vítima foi a verdadeira causadora


do ilícito, pois:

a) Não exerceu seu dever de cautela, expondo deliberadamente a


si e aos demais ao risco;

b) Por sua culpa exclusiva ________

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Afinal, o denunciado ________ , adotando todas as medidas possíveis
para evitar o ocorrido, não lhe sendo imputável um ilícito ocorrido por culpa exclusiva
da vítima, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE TRÂNSITO.


HOMICÍDIO CULPOSO PRATICADO NA DIREÇÃO DE
VEÍCULO AUTOMOTOR (LEI 9.503/1997, ART. 302,
CAPUT). (...). RÉU QUE NÃO CONCORREU PARA O
CRIME. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. ACUSADO
QUE TRANSITAVA REGULARMENTE NA RODOVIA
QUANDO FOI SURPREENDIDO PELA MANOBRA DE
CRUZAMENTO DO OFENDIDO. FRENAGEM E DESVIO
DA DIREÇÃO PARA A ESQUERDA QUE NÃO FORAM
SUFICIENTES PARA EVITAR O ABALROAMENTO.
VELOCIDADE DO MOMENTO DO IMPACTO INFERIOR À
PERMITIDA PARA O LOCAL. PRINCÍPIO DA
CONFIANÇA. DESFECHO QUE DEVE SER MANTIDO.
Apesar de, minutos antes do acidente, estar o demandado
transitando em velocidade um pouco acima do limite imposto
pelas leis de trânsito para o local, se, no momento do impacto, a
redução tenha sido para montante inferior ao máximo permitido
e, ainda, a colisão tenha se dado por total imprudência da
vítima que, não adotando as devidas cautelas, iniciou
abruptamente o cruzamento, mesmo vendo que haviam veículos
trafegando na rodovia, deve o réu ser isentado da culpa.
PRONUNCIAMENTO CONSERVADO. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ-SC - APR:
00204886020108240008 Blumenau 0020488-
60.2010.8.24.0008, Relator: Luiz Cesar Schweitzer, Data de
Julgamento: 26/04/2018, Quinta Câmara Criminal, #45855153)

Portanto, não há como imputar a prática criminosa por restar


demonstrada de forma inequívoca a culpa exclusiva da vítima.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


DO CRIME PRETERDOLOSO

No presente caso, a intencionalidade do agente com ________ é


evidenciada, ocorre que o resultado final, qual seja a morte, não foi em momento algum
vislumbrado.

Como prova da intencionalidade do Réu, basta ter acesso ao meio


utilizado para lesionar ________ , que não deveria ser capaz de causar a morte e, jamais
seria utilizado esse meio se a morte fosse a intenção.

Ou seja, tem-se configurada nitidamente a ocorrência de uma lesão


seguida de morte, enquadrado como crime preterdoloso, nos termos que leciona a
doutrina:

"Crime preterdoloso ou preterintencional tem recebido o


significado de crime cujo resultado vai além da intenção do
agente, isto é, a ação voluntária inicia dolosamente e termina
culposamente, porque, afinal, o resultado efetivamente
produzido estava fora da abrangência do dolo. Em termos bem
esquemáticos, afirma-se, simplistamente, que há dolo no
antecedente e culpa no consequente." (BITENCOURT, Cezar
Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. Vol 1. 24 ed.
Saraiva, 2018. Versão ebook p. 9213)

Nesse sentido dispõe precedentes sobre o tema:

"O crime de lesão corporal seguida de morte, capitulado no art.


129, § 3º, do Código Penal, tipifica-se pela fusão de duas
infrações: a lesão corporal na qual concorre o dolo, o desejo do
agente em ferir a integridade física de outrem e a morte, que,
embora não querida por ele, decorre da ação praticada, e pela
qual responde a título de culpa. Acerca do delito, explica
Rogério Greco: Cuida-se, no caso, de crime eminentemente
preterdoloso. A conduta do agente deve ter sido finalisticamente
dirigida à produção das lesões corporais, tendo o resultado
morte sido produzido a título de culpa. (In Código Penal

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Comentado. 11. ed. - Niterói, RJ: Impetus, 2017, p. 388)
Analisando todo o conjunto probatório, tenho que restou
caracterizado apenas a imprudência do agente, agindo com
acerto o juízo sentenciante. (...)" (TJMS. Apelação n. 0010568-
14.2013.8.12.0001, Campo Grande, 2ª Câmara Criminal, Relator
(a): Des. José Ale Ahmad Netto, j: 02/04/2018, p: 04/04/2018,
#05855153)

Portanto, requer a desqualificação do crime para culposo, pelos termos


dispostos.

DA AUSÊNCIA DE CULPABILIDADE

A culpabilidade é elemento indissociável da punibilidade, uma vez que a


sua consideração é pressuposto insuperável da pena da própria configuração do delito,
como destaca a doutrina especializada sobre o tema:

"Mas não basta caracterizar uma conduta como típica e


antijurídica para a atribuição de responsabilidade penal a
alguém. Esses dois atributos não são suficientes para punir com
pena o comportamento humano criminoso, pois para que esse
juízo de valor seja completo é necessário, ainda, levar em
consideração as características individuais do autor do
injusto. Isso implica, consequentemente, acrescentar mais um
degrau valorativo no processo de imputação, qual seja, o da
culpabilidade." (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de
direito penal: parte geral. Vol 1. 24 ed. Saraiva, 2018. Versão
ebook p. 28092)

Portanto, como requisito indispensável à condução do processo, tem-se


por necessária a devida ponderação da culpabilidade do agente.

DA AUSÊNCIA DE CULPA

Diferentemente do que foi narrado, não há qualquer relação ou evidência


que a conduta do réu tenha desencadeado o ilícito.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


O denunciado não pode ser culpado de uma conduta que ele não
contribuiu, não lhe sendo imputável a culpa pelo ocorrido, conforme clara disposição do
art. 13 do Código Penal:

"Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime,


somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.

Superveniência de causa relativamente independente


§ 1º A superveniência de causa relativamente independente
exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os
fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou."

Ou seja, o ato ilícito só pode ser decorrência de um ato, omissão


voluntária, negligência ou imperícia, o que neste caso não são imputáveis ao
denunciado.

AUSÊNCIA DE DOLO

A ausência de dolo deve ser considerada para avaliação do presente caso,


pois nitidamente o acusado não teve qualquer intenção de cometer o ato ilícito.

Segundo lição de Guilherme Nucci:

"Elemento subjetivo: é o DOLO. Exige-se elemento subjetivo


do tipo específico, consistente no ânimo de associação, de
caráter duradouro e estável."(NUCCI, Guilherme de Souza.
Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. São Paulo:
Editora RT, 2006, p. 785).

O tipo pena, neste caso, exige a presença do dolo para sua configuração,
pois:

"É por meio da análise do animus agendi que se consegue


identificar e qualificar a atividade comportamental do agente.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Somente conhecendo e identificando a intenção — vontade e
consciência — deste se poderá classificar um comportamento
como típico. (...) Para a configuração do dolo exige-se a
consciência daquilo que se pretende praticar, no caso do
homicídio, matar alguém, isto é, suprimir-lhe a vida. Essa
consciência deve ser atual, isto é, deve estar presente no
momento da ação, quando ela está sendo realizada."
(BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte
geral 2. 24 ed. Saraiva, 2018. Versão ebook p. 1663)

Para o enquadramento de um crime licitatório, não basta a simples


evidência de que o ato administrativo possa desbordar da legalidade, é indispensável a
existência do dolo do agente, conforme disciplina a doutrina ao lecionar sobre este tipo
penal:

"O tipo incriminador disposto no art. 90 tem como verbos-


núcleo do tipo 'frustrar ou fraudar'. A conduta de 'frustrar'
pode ser entendida como iludir a expectativa de competitividade
do certame, e a de 'fraudar' como burlar, enganar tal
competitividade, (...). Essa infração penal só pode ser
praticada mediante dolo, direto ou eventual, consistente na
vontade de fraudar ou frustrar o caráter competitivo do
certame." (FREITAS, André Guilherme Tavares Crimes na Lei
de Licitações. 2ª ed. Editora LumenJuris. p.102)

Trata-se da necessária demonstração da evidência da má fé, do


intuito em se obter para si ou para outrem vantagem decorrente do objeto licitado,
para então ser possível a aplicação da lei penal.

Desta forma, mesmo que se demonstrasse comprovada alguma


irregularidade na contratação, o que não ensejaria a imediata responsabilização do
agente Público, é crucial que seja evidenciada a existência de intencionalidade na
obtenção de privilégio ilícito.

Veja, Excelência, que o Parquet não logrou demonstrar nem a má fé,


nem o animus em lesar os cofres públicos nos atos praticados pelo demandado.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Ainda que minimamente, tais pontos deveriam ter sido demonstrados
à inicial, sem os quais torna-se incabível a denúncia, uma vez que meras
irregularidades não são consideradas atos típicos, conforme jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO. ART. 90, DA LEI 8.666/93. FRAUDE À


LICITAÇÃO. DOLO. INSUFICIÊNCIA DE PROVA.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. A
prova judicializada não foi conclusiva sobre o dolo na ação
dos agentes, no sentido de terem atuado no processo
licitatório para favorecer um dos réus. Insuficiência
probatória que importa na manutenção do édito absolutório
de primeiro grau. APELO DESPROVIDO (Apelação Crime Nº
70075147587, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Rogerio Gesta Leal, Julgado em 09/11/2017).

APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 90 DA LEI 8.666/93.


AUSÊNCIA DE PROVA DO DOLO. ABSOLVIÇÃO
MANTIDA. Inexistiu, a partir das provas coletadas,
demonstração do dolo de fraudar ou frustrar o
procedimento licitatório indevidamente fracionado e, menos,
do intuito de obter vantagem decorrente da adjudicação do
objeto. A irregular escolha da modalidade licitatória nos dois
certames vencidos pela mesma empresa não se mostrou
suficiente para caracterizar o dolo do crime previsto no art. 90
da Lei 8666.93, mesmo que tenha o acusado sido condenado
pela prática de ato de improbidade por ofensa ao princípios
insculpidos no art. 11 da referida lei. Na dúvida, deve ser o réu
absolvido. APELAÇÃO NÃO PROVIDA. (Apelação Crime Nº
70069700110, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Julio Cesar Finger, Julgado em 01/09/2016,
#45855153)

Em toda peça exordial, não se verificou, portanto, a existência do dolo,


consistente na vontade livre e consciente de causar dano ao erário, ou enriquecimento
ilícito de quem quer que seja, motivo pelo qual não se verifica ato de improbidade no

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


caso relatado.

Para o enquadramento de um crime licitatório, não basta a simples


evidência de que o ato administrativo possa desbordar da legalidade, é indispensável a
existência do dolo do agente.

Trata-se da necessária demonstração da evidência da má fé para a


aplicação da lei penal.

Desta forma, mesmo que se demonstrasse comprovada alguma


irregularidade na contratação, o que não ensejaria a imediata responsabilização do
agente Público, é crucial que seja evidenciada a existência de má fé.

Veja, Excelência, que o Parquet não logrou demonstrar nem a má fé,


nem o animus em lesar os cofres públicos nos atos praticados pelo demandado.

Ainda que minimamente, tais pontos deveriam ter sido demonstrados


à inicial, sem os quais torna-se incabível a denúncia, uma vez que meras
irregularidades não são consideradas atos típicos, conforme jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL PENAL. PREFEITO. PROCURADORA


JURÍDICA DO MUNICÍPIO E ADVOGADO. CRIMES DE
RESPONSABILIDADE E DE DISPENSA OU
INEXIGIBILIDADE INDEVIDA DE LICITAÇÃO. AÇÃO
PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA. AUSÊNCIA DE DOLO
AFERIDA. TRANCAMENTO. POSSIBILIDADE. 1. Não
demonstrado dolo na conduta dos réus na contratação de
escritório de advocacia para assessoria tributária e
previdenciária ao município, falta justa causa para a
increpação pela qual há imputação do crime do art. 1º, I, do
Decreto-Lei nº 201/67 e do delito do art. 89 da Lei nº
8.666/1993. 2. Ordem concedida para trancar a ação penal. (HC
412.740/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 08/02/2018, DJe
26/02/2018)

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL
NO RECURSO ESPECIAL. ART. 89 DA LEI N. 8.666/93.
CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO. INEXIGIBILIDADE DE
LICITAÇÃO. ARTS. 13, V, E 25, II, DA LEI DE LICITAÇÃO.
DOLO ESPECÍFICO DE CAUSAR PREJUÍZO AO ERÁRIO
NÃO VERIFICADO. ELEMENTO IMPRESCINDÍVEL À
CONFIGURAÇÃO DO DELITO. PRECEDENTES.
CONDUTA ATÍPICA. ABSOLVIÇÃO. ART. 386, III, DO
CPP. I - Nos termos da jurisprudência que atualmente
predomina nesta Corte, ressalvado o entendimento do
Relator, para a configuração do delito previsto no art. 89 da
Lei 8.666/93, imprescindível a presença do especial fim de
agir, consistente na vontade de causar dano ao erário e da
demonstração do efetivo prejuízo. Precedentes. II - O r.
acórdão registrou que a dispensa de licitação se deu em
desconformidade com o procedimento previsto na Lei de
Licitação, em especial pela ausência de comprovação da notória
especialização do contratado e em razão do cumprimento do
contrato por outros advogados. Contudo, não houve o eg.
Colegiado a quo por registrar o dolo do ora recorrente que,
conforme consignado no r. acórdão, na condição de Presidente
da comissão de licitação, apenas proferiu parecer opinativo e
não vinculante a favor da contratação dos serviços advocatícios.
Nessa senda, deve ser provido o recurso especial para
reconhecer a atipicidade da conduta em relação ao crime
previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/93 e, por conseguinte,
absolver o recorrente, com fundamento no art. 386, III, do CPP.
Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1709405/MG,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
06/02/2018, DJe 16/02/2018)

Em toda peça exordial, não se verificou, portanto, a existência do dolo,


consistente na vontade livre e consciente de causar dano ao erário, ou enriquecimento
ilícito de quem quer que seja, motivo pelo qual não se verifica ato de improbidade no
caso relatado.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Ademais, pela instrução processual não fica evidenciada qualquer
conduta direta do agente em alguma apropriação dolosa de bens ou valores públicos.

Pelo contrário, apenas indícios que levaram à suspeita de que denunciado


teria se apropriado dos valores, sem qualquer prova inequívoca de conduta específica.

Tal quadro deve configurar no máximo peculato culposo, conforme


precedentes sobre o tema:

PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL.


PECULATO APROPRIAÇÃO. PROVA DE
MATERIALIDADE. AUSÊNCIA DE PROVA DE
APROPRIAÇÃO DO NUMERÁRIO PELO ACUSADO.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O TIPO DE PECULATO
CULPOSO 1 - Gerente de agência de correios acusado de se
apropriar de dinheiro guardado em cofre da agência, sob sua
responsabilidade. 2 - Subsistindo dúvida sobre se o réu
efetivamente se apropriou do dinheiro de que tinha posse
por força de sua função pública, ou se simplesmente deu
causa à apropriação do numerário por terceira pessoa não
identificada, por negligência, deve ser operada a
desclassificação do crime imputado para o de peculato
culposo (art. 312, § 2º, do Código Penal). 3 - considerando a
pena máxima cominada ao crime de peculato culposo, de um
ano de reclusão, é de ser reconhecida a prescrição da pretensão
punitiva pela pena em abstrato, declarando-se a extinção da
punibilidade do réu. 4 - apelação parcialmente provida,
declaração de extinção de punibilidade do réu, apelação do 1
ministério público federal que objetivada a majoração da pena
declarada prejudicada. (TRF-2 - Ap: 00003471720074025005
ES 0000347-17.2007.4.02.5005, Relator: SIMONE
SCHREIBER, Data de Julgamento: 28/08/2017, 2ª TURMA
ESPECIALIZADA, #15855153)

Afinal, pela instrução do processo subsiste dúvida se o denunciado


efetivamente se apropriou do dinheiro de que tinha posse por força de sua função

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


pública, ou se o mesmo simplesmente deu causa para a apropriação do numerário por
terceira pessoa, por negligência, comportamento que se subsume ao tipo do art.312,§ 2º,
doCódigo Penal.

Assim, operada a desclassificação, é de ser reconhecida a prescrição da


pretensão punitiva pela pena em abstrato, uma vez que a pena cominada ao crime de
peculato culposo é de 3 meses a 1 ano de reclusão.

Tais elementos caracterizam facilmente que o acusado não teve qualquer


conduta volitiva direcionada à ilicitude, mas pelo contrário: teve uma errada percepção
da realidade, incorrendo erroneamente nas condutas mencionadas.

Assim, considerando que o Ministério Público deixou de demonstrar


minimamente qualquer evidência dolo do agente público, resta notoriamente
descaracterizados os atos indicados como crime - refletindo, portanto, no sumário
indeferimento da inicial.

DA INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

Conforme relatado, era inexigível ao Réu que adotasse conduta diferente


daquela tomada, pois as circunstâncias o impediam que pudesse buscar outra
alternativa.

Ao lecionar sobre o tema, a doutrina destaca sobre a necessidade de se


avaliar as circunstâncias do ilícito, uma vez que podem existir requisitos negativos do
delito:

"Interpretando as palavras de CARNELUTTI, requisitos


positivos do delito significam prova de que a conduta é
aparentemente típica, ilícita e culpável. Além disso, não podem
existir requisitos negativos do delito, ou seja, não podem existir
(no mesmo nível de aparência) causas de exclusão da ilicitude
(legítima defesa, estado de necessidade etc) ou de exclusão da
culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa, erro de
proibição etc.)." (LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal.
15ª ed. Editora Saraiva jur, 2018. Versão Kindle, p. 13502)

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


A inexigibilidade de conduta diversa, se configura sempre que não for
possível exigir do agente outra conduta que não aquela praticada em determinada
situação de risco ou nas hipóteses de coação moral irresistível, como se evidencia no
presente caso.

Desta forma, evidenciada a circunstância que configura inexigibilidade


de conduta diversa, tem-se por necessária a exclusão da culpabilidade o Réu.

DO DIREITO AO SILÊNCIO

O Direito ao Silêncio do investigado e do réu se trata de direito


fundamental e jamais pode ser utilizado em seu desfavor, que é exatamente o que se
pretende na denúncia em análise.

Trata-se de preceito constitucional de obrigatória A esse respeito,


confere-se o seguinte trecho de ementa de julgado da Corte Superior:

"O silêncio do acusado foi nitidamente interpretado em seu


desfavor pelo Tribunal de origem. Tal situação viola
frontalmente o art. 186, parágrafo único, do Código de Processo
Penal, o art.5º,LXIII, da Constituição da República, além de
tratados internacionais, a exemplo da Convenção Americana de
Direitos Humanos (art. 8, § 2º, g) e, por isso, é suficiente para
inquinar de nulidade absoluta o acórdão impugnado" (HC
265.967/SP, Min. Rel. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma, julgado
em 05/03/2015, v.u.).

Afinal, a inobservância ao direito de permanecer em silêncio configura


nulidade processual por cerceamento de defesa:

CORREIÇÃO PARCIAL. AÇÃO PENAL PÚBLICA PELOS


CRIMES PREVISTOS NOS ARTS. 129, § 9º E ART. 147,
CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. ALEGAÇÃO DE NULIDADE
OCORRIDA DURANTE A AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO.
LEITURA DA DENÚNCIA PARA UMA TESTEMUNHA,
FEITA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. IMPROCEDENTE.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL. MAGISTRADO QUE
LIMITA O EXERCÍCIO DO DIREITO AO SILENCIO POR
PARTE DO ACUSADO, O QUAL QUERIA RESPONDER
APENAS AS PERGUNTAS DA DEFESA. PROCEDENTE.
INTERROGATÓRIO E ATOS PROCESSUAIS
POSTERIORES ANULADOS. PEDIDO CORREICIONAL
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Inexiste
qualquer irregularidade com o fato de o membro do Ministério
Público proceder a leitura da denúncia para uma testemunha,
tendo em vista que não há qualquer vedação legal para o
procedimento; 2. Se o acusado manifesta o desejo de apenas
responder as perguntas feitas pela defesa, não pode o magistrado
limitar o exercício desse direito, já que o acusado não é obrigado
a se auto-incriminar (nemo tenetur se detegere), podendo
responder as perguntas que sua defesa entenda serem mais
convenientes, de modo que o exercício do direito ao silêncio
pode ser feito de forma parcial. Precedentes; 3. Não se deve,
contudo, anular toda a audiência realizada, tendo em vista que as
outras provas produzidas foram válidas, sem qualquer vício.
Interrogatório e atos processuais posteriores anulados.
Correiçãoa parcial conhecida e parcialmente provida, nos termos
do voto da Desa. Relatora (TJ-PA - COR:
00174006520168140401 BELÉM, Relator: VANIA LUCIA
CARVALHO DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 20/06/2017,
1ª TURMA DE DIREITO PENAL, Data de Publicação:
04/07/2017, #75855153)

PENAL. APELAÇÃO. ART. 155, § 4º, INCISO I, DO


CÓDIGO PENAL. RECURSO MINISTERIAL.
CONDENAÇÃO - TESTEMUNHO POLICIAL - CONFISSÃO
DO ACUSADO EM SEDE INQUISITORIAL - AUSÊNCIA
DO DIREITO CONSTITUCIONAL DE PERMANECER EM
SILÊNCIO - DIFICULDADE ALEGADA PELO ACUSADO
NO ACESSO A UM ADVOGADO - PROVA ILÍCITA -
DÚVIDAS QUANTO AO MODO DE OBTENÇÃO DA
PLACA DO VEÍCULO ENVOLVIDO NO CRIME. RECURSO

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


NÃO PROVIDO. Ainda que seja possível que o acusado tenha
participado da empreitada delitiva, não foram carreados para os
autos os elementos mínimos a demonstrar a certeza necessária a
um édito condenatório. A confissão efetuada pelo acusado em
sede inquisitorial é prova ilícita, visto que não fora assegurado
ao suspeito o direito constitucional ao silêncio, garantia essa que
não consta do referido termo de declarações. Se o modo como se
obteve o acesso a uma placa de carro envolvido na empreitada
delitiva se mostra nebuloso, com mudança de versões ofertadas
pela vítima e testemunha em juízo, reforça-se a dúvida quanto à
efetiva participação do acusado nos fatos em deslinde. (TJ-DF
20110610138315 0013582-97.2011.8.07.0006, Relator:
ROMÃO C. OLIVEIRA, Data de Julgamento: 02/03/2017, 1ª
TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE :
08/03/2017 . Pág.: 68/97, #55855153)

Razão pela qual o simples silêncio do acusado não pode ter interpretação
desfavorável.

DA NECESSÁRIA DESCONSIDERAÇÃO DO DEPOIMENTO POLICIAL

Toda denúncia parte de uma presunção equivocada da autoria do Réu,


calcada exclusivamente sobre um depoimento prestado pelo policial militar.

Todavia, a doutrina e a jurisprudência possuem posicionamento firmado


de que o agente policial, sem qualquer acusação a sua probidade, mas possui conflito de
interesses inafastável, uma vez que participou ativamente das diligências que
culminaram em sua prisão.

Nesse sentido:

Por mais idôneo que seja o policial, por mais honesto e correto,
se participou da diligência, servindo de testemunha, no fundo
está procurando legitimar a sua própria conduta, o que
juridicamente não é admissível. A legitimidade de tais
depoimentos surge, pois, com a corroboração por testemunhas

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


estranhas aos quadros policiais (Apelação n.º 135.747, TACrim-
SP Rel. CHIARADIA NETTO)

Apelação. Tráfico de drogas. Contradição no depoimento


policial. Absolvição. 1. Os elementos de informações
produzidos na fase de inquérito policial e não confirmados
perante a autoridade judicial (depoimento das testemunhas da
acusação), não podem ser utilizados para fundamentar uma
condenação, sendo a absolvição única solução a ser
implementada. 2. Apelação conhecida e improvida. (TJ-AM
02549835720128040001 AM 0254983-57.2012.8.04.0001,
Relator: Elci Simões de Oliveira, Data de Julgamento:
24/09/2017, Segunda Câmara Criminal, #95855153)

Assim, considerando a escassa prova gerada no inquérito, constata-se que


inexiste elementos suficientes a incriminar o réu.

DO EXCESSO DE PRAZO

A Constituição Federal em seu Art. 5º, inc. LXXVIII dispõe claramente


sobre a duração razoável do processo, censurando atos que impliquem em morosidade
processual.

O paciente encontra-se preso em caráter preventivo por mais de


________ dias sem que houvesse a devida revisão do cabimento da pena. Com efeito, o
referido inquérito iniciou-se em ________ , sendo efetuada a prisão em ________ .

Com o advento da Lei 13.964/19, que introduziu o pacote anticrime, a


prisão preventiva deve ser revista a cada 90 dias, alterando expressamente a redação
do CPP que passou a prever:

Art. 316 (...) Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva,


deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de
sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Desta forma, a prisão não pode perdurar infinitamente, devendo ser
revista a cada 90 dias e, se mantida, deve ser devidamente motivada por decisão
fundamentada.

No presente caso, configura demora inadmissível, pois trata-se do


cerceamento da liberdade sem o devido processo legal, uma vez que a custódia
prolonga-se por mais de ________ , extrapolando qualquer juízo de razoabilidade.

Ademais, o autor encontra-se preso em flagrante por mais de ________


dias sem que houvesse o encerramento do inquérito, em clara inobservância ao que
prescreve o art. 306 do Código de Processo Penal:

"Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se


encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente,
ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada.

§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão,


será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em
flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.

Ou seja, a restrição de liberdade sob o título de prisão em flagrante não


pode ultrapassar 24h sob pena de ilegalidade.

O Código de Processo Penal estabelece ainda claramente que quando o


inquérito policial durar mais de 10 dias a contar da prisão em flagrante, in verbis:

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o


indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias,
quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.

O art. 648 do Código de Processo Penal refere que a coação considerar-


se-á ilegal quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Mesmo tratando-se de crime hediondo, não se pode admitir o excesso de
prazo na prisão, conforme já sumulado pelo Supremo Tribunal Federal:

Súmula 697 do STF - A proibição de liberdade provisória nos


processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da
prisão processual por excesso de prazo.

Evidentemente que não pode o Réu sofrer as mazelas da privação de


liberdade em razão, exclusivamente, da ineficiência administrativa do Estado na
________ .

Sendo assim, vislumbra-se a ilegalidade da prisão do Réu, o qual esta


detido sem que houvesse o ________ , situação expressamente vedada pelo
ordenamento jurídico brasileiro, por inequívoco EXCESSO DE PRAZO, conforme
entendimento pacificado nos tribunais:

PENAL E PROCESSUAL PENAL.HABEAS


CORPUS.HOMICÍDIO.PRISÃO PREVENTIVA.EXCESSO
DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. OCORRÊNCIA.
AUDIÊNCIAS NÃO REALIZADAS.INSTRUÇÃO AINDA
NÃO INICIADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
OCORRÊNCIA. 1.Tem-se do andamento processual que a ação
não se desenvolve de forma regular, com o insucesso das três
audiências designadas para instrução e julgamento, para o qual
não contribui o paciente. 2. Reconhecido o excesso de prazo da
instrução criminal, é possível, no caso, a substituição da prisão
por medidas cautelares outras. 3. Ordem concedida para fixar ao
paciente medidas cautelares diversas, tais como:
comparecimento a todos os atos do processo, comparecimento
periódico em juízo, nas condições a serem fixadas pelo Juiz do
feito, para informar e justificar suas atividades, e recolhimento
domiciliar no período noturno (das 20h às 6h), nos finais de
semana e feriados. O Juiz da causa, desde que de forma
fundamentada, poderá fixar outras cautelas.Fica o paciente
informado, desde já, que o descumprimento das medidas
impostas poderá dar causa à nova prisão. (STJ - HC 470162 / PE

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


HABEAS CORPUS 2018/0245133-3. Relator(a) Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR. Órgão Julgador: T6 - SEXTA
TURMA. Data do Julgamento: 11/04/2019. Data da
Publicação/Fonte: DJe 26/04/2019)

RECURSO EM HABEAS CORPUS. DUPLA TENTATIVA


DE HOMICÍDIO QUALIFICADO (ARTS. 121, § 2º, II E IV,
C/C O ART. 14, II, DO CP, DUAS VEZES).PRISÃO
PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA
CULPA.DESARRAZOADA DEMORA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL
MANIFESTO.PERICULOSIDADE CONCRETA DO
AGENTE E REAL RISCO DE REITERAÇÃO DELITIVA.
NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DE CAUTELARES
DIVERSAS.1. A questão do excesso de prazo deve ser aferida
segundo os critérios de razoabilidade, tendo em vista as
peculiaridades do caso.2. Na espécie, o crime foi praticado no
dia 12/3/2018. A prisão foi em flagrante e a denúncia foi
recebida em 30/4/2018. O recorrente ofereceu resposta à
acusação em 5/7/2018. Foi expedida carta precatória para a
citação da coacusada, com aviso de recebimento datado de
13/6/2018. Diante das infrutíferas tentativas de proceder à
referida citação, houve, em 24/6/2019, a expedição de edital e,
em 24/7/2019, a apresentação de pedido de relaxamento de
prisão na origem. Até 26/11/2019, esse pedido não havia sido
apreciado nem o feito desmembrado, a fim de dar seguimento ao
processo contra o recorrente.3. Configurado o retardo excessivo
na implementação dos atos processuais e a inércia por parte do
Juízo processante, há que se reconhecer o excesso de prazo na
formação da culpa.4. Hipótese em que há motivação concreta a
justificar a necessidade da custódia preventiva para garantia da
ordem pública, alicerçada no modus operandi da conduta
criminosa, reveladora da extrema violência adotada pelo agente,
bem como no risco real de reiteração delitiva, uma vez que o
recorrente já responde a diversas ações criminais e possui
condenação por porte de arma de fogo. Nesse contexto, é

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


necessário e adequado substituir a prisão preventiva por outras
cautelas.5. Recurso parcialmente provido para reconhecer o
excesso de prazo da instrução do Processo n. 0116679-
14.2018.8.06.0001 e substituir a prisão preventiva do recorrente
pelas seguintes medidas: a) comparecimento periódico em juízo,
no prazo e nas condições a serem fixadas pelo Juiz, para
informar o seu endereço e justificar atividades (art. 319, I, do
CPP); b) proibição de manter contato com qualquer pessoa
relacionada aos fatos sob apuração (art. 319, III, do CPP); c)
proibição de ausentar-se da comarca em que reside sem
autorização judicial (art. 319, IV, do CPP); e d) recolhimento
domiciliar no período noturno (art. 319, V, do CPP) - isso sob o
compromisso de comparecimento a todos os atos processuais e
sem prejuízo da aplicação de outras cautelas pelo Juiz do
processo ou de nova decretação da prisão preventiva, em caso de
descumprimento de qualquer dessas obrigações impostas ou de
superveniência de motivos novos e concretos para tanto. (STJ,
RHC 106.752/CE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 03/12/2019, DJe 11/12/2019)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E


ASSOCIAÇÃO PARA O NARCOTRÁFICO. EXCESSO DE
PRAZO. OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1. O
Tribunal de origem, embora haja reconhecido a nulidade do
processo ab initio, em razão de cerceamento de defesa, entendeu
não ser o caso de ordenar a soltura da acusada, o que acarretou o
apontado excesso de prazo, tendo em vista que ela estava presa
cautelarmente desde 24/6/2013 - até ser solta por força de
liminar concedida nos autos deste writ, quando, então, a sua
custódia já perdurava por mais de 4 anos e meio -, por culpa
exclusiva do Estado-Juiz no processamento da causa. 2. Ordem
concedida para, confirmada a liminar - que assegurou à paciente
o direito de aguardar em liberdade o julgamento final deste
habeas corpus -, reconhecer o excesso de prazo e determinar o
relaxamento da sua custódia cautelar se por outro motivo não
estiver presa, ressalvada a possibilidade de imposição de

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


medidas cautelares diversas da prisão, caso efetivamente
demonstrada sua necessidade, nos termos do art. 319 do CPP.
(STJ - HC: 435555 RJ 2018/0023696-7, Relator: Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 26/06/2018,
T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/08/2018,
#05855153)

Portanto, demonstrada a violação legal, em que pese tratar-se de crime, a


manutenção da prisão deve ser afastada, por questão de ilegalidade (não observância de
procedimento).

Pontes de Miranda, destaca:

"O fato de estar preso o réu, por mais tempo do que a lei
determina, é, insofismavelmente, violência ou coação por
ilegalidade, ou abuso de poder. Se assim é, se o paciente,
estribando-se na passagem constitucional, impetra o habeas
corpus... e se pelos documentos prova a opressão, ou desleixo
que em prisão ilegal importou, não sabemos como e fundado em
que possa a instância superior negar-se a libertá-lo". (História e
Prática do Habeas Corpus, Saraiva, 1979, 2º Volume, p. 144).

Trata-se de inaceitável excesso de prazo, revelador de constrangimento


ilegal. Na contramão dos comandos constitucionais, o Estado retarda a marcha
processual por circunstâncias que não podem ser atribuídas ao paciente ou à sua Defesa,
em clara inobservância à garantia da razoável duração do processo.

DOS VÍCIOS MATERIAIS DA PRISÃO EM FLAGRANTE

Conforme narrado, a prisão ocorreu ________ após a ocorrência,


conforme consta do auto de prisão em flagrante. Ocorre que, não estão presentes
nenhum dos motivos que autorizam a sua custódia cautelar.

A prisão em flagrante é uma medida caracterizada pela privação da


liberdade de locomoção do agente surpreendido em situação de flagrância, que
independe de prévia autorização judicial.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Conforme se depreende pela narrativa, não se encontram presentes os
permissivos do artigo 302 do CPP, quais sejam:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

No entanto, conforme consta no auto de prisão ________ .

Ocorre que não houve nexo ininterrupto entre o momento da prisão e a


prática do delito. O Paciente não foi encontrado logo depois da prática de uma infração
penal, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que fizessem presumir ser ele o seu
autor. Restando afastado o requisito temporal.

Insta consignar que o conceito de perseguição é facilmente concebido


pelo Art. 290 do CPP, in verbis:

§ 1º - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu,


quando:

a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora


depois o tenha perdido de vista;

b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu


tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo
lugar em que o procure, for no seu encalço.

Ou seja, a perseguição exige uma continuidade entre o ato ilícito e a


busca pela prisão, imediatamente após o ato, conforme leciona a doutrina sobre o tema:

"Elementar, portanto, que para a própria existência de uma

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


"perseguição" com contato visual (ou quase) ela deve iniciar
imediatamente após o delito. Não existirá uma verdadeira
perseguição se a autoridade policial, por exemplo, chegar ao
local do delito 1 hora depois do fato. Assim, "logo após" é um
pequeno intervalo, um lapso exíguo entre a prática do crime e o
início da perseguição." (LOPES JR, Aury. Direito Processual
Penal. 15ª ed. Editora Saraiva jur, 2018. Versão Kindle, P.
12863)

Assim, considerando que a referida prisão em suposto "flagrante" ocorreu


mais de ________ após o fato, trata-se de prisão ilícita, sendo imperativo o relaxamento
da constrição, nos termos do art. 5º, inciso LXV, da Constituição da República. O STJ
confirma este entendimento:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - ROUBO


QUALIFICADO - RELAXAMENTO DO FLAGRANTE E
INDEFERIMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA - Prisão
ocorrida 4 meses após o crime - Réu primário e menor de 21
anos - Afinal, no caso dos autos, deve ser observada não só a
ausência de estado de flagrante, como também a
excepcionalidade da prisão preventiva e os aspectos pessoais do
réu primário e com 18 anos de idade (mídia de fls. 33) a ponto
de não se vislumbrar, no caso concreto, a presença dos
requisitos indispensáveis à prisão cautelar. Necessidade da
prisão não demonstrada - Gravidade abstrata das conduta -
Prisão - Não cabimento - Recurso improvido. (TJ-SP
00207533220178260050 SP 0020753-32.2017.8.26.0050,
Relator: Alexandre Almeida, Data de Julgamento: 01/11/2017,
11ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação:
07/11/2017)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 121, § 2º, I


E IV E ART. 121 C/C O ART. 14, II E ART. 18, I, 2 ª PARTE,
NA FORMA DO ART. 70, AMBOS DO CÓDIGO PENAL C/C
O ART. 1º DA LEI N.º 8072/90. PRISÃO EM FLAGRANTE.
APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA DO PACIENTE.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


RELAXAMENTO. "Prisão em flagrante. Não tem cabimento
prender em flagrante o agente que, horas depois do delito,
entrega-se à polícia, que o não perseguia, e confessa o crime.
Ressalvada a hipótese de decretação da custódia preventiva, se
presentes os seus pressupostos, concede-se a ordem de habeas
corpus, para invalidar o flagrante. Unânime." (STF - RHC n.º
61.442/MT, 2ª Turma, Rel. Min. Francisco Rezek, DJU de
10.02.84). Writ concedido, a fim de que seja relaxada a prisão
em flagrante a que se submete o paciente, com a conseqüente
expedição do alvará de soltura, se por outro motivo não estiver
preso, sem prejuízo de eventual decretação de prisão preventiva
devidamente fundamentada. (STJ - HC: 30527 RJ
2003/0167195-3, Relator: Ministro FELIX FISCHER, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação, #45855153)

"Prisão em flagrante - Inocorrência - Agente que não foi


surpreendido cometendo a infração penal, nem tampouco
perseguido imediatamente após sua prática, não sendo
encontrado, ademais, em situação que autorizasse presunção de
ser o seu autor." (TJSP - Câm. Crim. h.c. nº 128260, em 3.2.76,
Rel. Des. Humberto da Nova - RJTJESP 39/256)

Diante o exposto, devida a imediata expedição do alvará de soltura.

DO FLAGRANTE PREPARADO

Conforme claro entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal:

Súmula 145 - Não há crime, quando a preparação do flagrante


pela polícia torna impossível a sua consumação.

Ao conceituar a matéria, a Ministra do STJ Maria Thereza de Assis


Moura, esclarece que "o flagrante preparado apresenta-se quando existe a figura do
provocador da ação dita por criminosa, que se realiza a partir da indução do fato." (HC
290.663/SP)

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Guilherme de Souza Nucci ao lecionar sobre o tema, esclarece:

"Trata-se de um arremedo de flagrante, ocorrendo quando um


agente provocador induz ou instiga alguém a cometer uma
infração penal, somente para assim poder prendê-la. Trata-se
de crime impossível (art.17,CP), pois inviável a sua
consumação. Ao mesmo tempo em que o provocador leva o
provocado ao cometimento do delito, age em sentido oposto
para evitar o resultado. Estando totalmente na mão do
provocador, não há viabilidade para aconstituição do crime."
(inCódigo de Processo PenalComentado, 11ª Ed., São Paulo, Ed.
Revista dos Tribunais, 2012, pág. 636).

Após breve conceituação, fica perfeitamente clara a caracterização de


flagrante preparado o fato objeto do inquérito, uma vez que ________

Portanto, trata-se de crime impossível, uma vez que perfeitamente


caracterizada a indução policial para a configuração do tipo penal, vejamos:

Agente provocador do fato típico: ________

Ação que induziu ao fato típico: ________

Assim, comprovada a ocorrência de flagrante preparado, resta


demonstrada a ocorrência de crime impossível, conforme precedentes do STJ:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL


NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ART. 33, CAPUT,
DA LEI N. 11.343/06. SUSTENTAÇÃO ORAL EM AGRAVO
REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE. FLAGRANTE
PREPARADO. OCORRÊNCIA. ATIPICIDADE DA
CONDUTA. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. (...) 2.
Considera-se preparado o flagrante se a atividade policial induz
ao cometimento do crime. 3. Agravo regimental provido para
reformar o decisum impugnado e absolver o recorrente ante a
atipicidade da conduta. (AgRg no AREsp 262.294/SP, Rel.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
21/11/2017, DJe 01/12/2017)

Nesse mesmo sentido, é o posicionamento da jurisprudência:

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO. FLAGRANTE


PREPARADO. NULIDADE. PROVAS. INEXISTENTES.
ABSOLVIÇÃO. 1. Nulo o flagrante preparado pela polícia,
aplica-se a absolvição de xx por ausência de provas. 2. Não
comprovada autoria do tráfico por parte de Guilherme, impõe-se
a absolvição. Prejudicados os demais pedidos. Recursos
providos. (TJ-GO - APR: 02043407120118090137, Relator:
DES. IVO FAVARO, Data de Julgamento: 23/01/2018, 1A
CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: DJ 2457 de
01/03/2018, #95855153)

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS.


ABSOLVIÇÃO. FLAGRANTE PREPARADO. 1) Quando a
situação de flagrante sofrer a intervenção de terceiros, antes da
prática do crime, existe um flagrante provocado, também
denominado flagrante preparado. 2) Não há crime quando o fato
é preparado mediante provocação ou induzimento, direto ou por
concurso, de autoridade, que o faz para fim de aprontar ou
arranjar o flagrante 3) Nulo o flagrante preparado pela polícia,
aplica-se a absolvição Do acusado por ausência de provas.
APELO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-GO - APR:
679710620108090105, Relator: DES. NICOMEDES
DOMINGOS BORGES, Data de Julgamento: 17/07/2018, 1A
CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: DJ 2567 de
15/08/2018, #95855153)

Diante o exposto, requer a imediata concessão da ordem com expedição


do competente alvará de soltura.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


DA ILEGALIDADE DA REVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM
PREVENTIVA

De forma cautelar, destaca-se ainda a inviabilidade de transformação de


prisão em flagrante em prisão preventiva, pois ausentes os requisitos legais, nos termos
do art. 321 do CPP, "ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as
medidas cautelares previstas no art. 319 (...)".

Ou seja, a prisão preventiva será mantida SOMENTE quando presentes


os requisitos e não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, conforme
clara redação do Art. 282, §6 do CPP.

No entanto, não há nos autos do processo, qualquer elemento a


evidenciar a manutenção da prisão preventiva. Afinal, a gravidade abstrata do delito não
ostenta motivo legal suficiente ao enquadramento em uma das hipóteses que cabível se
revelaria à prisão cautelar. (CPP, arts. 282 e 312)

A prisão preventiva tem caráter cautelar diante da manutenção das


circunstâncias que a fundamentam, previstas no Art. 282 do CPP:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão


ser aplicadas observando-se a:

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação


ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos,
para evitar a prática de infrações penais;

II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias


do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.

§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a


medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de
motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Tais requisitos devem estar presentes não somente no ato da prisão, mas
durante todo o lapso temporal de sua manutenção.

Todavia, considerando que a prisão ocorreu a mais de ________ meses,


não permanece qualquer risco à investigação ou instrução criminal, desfazendo-se
qualquer periculum libertatis que pudesse fundamentar a continuidade da prisão,
conforme leciona o STJ:

"Sabe-se que o ordenamento jurídico vigente traz a liberdade do


indivíduo como regra. Desse modo, antes da confirmação da
condenação pelo Tribunal de Justiça, a prisão revela-se cabível
tão somente quando estiver concretamente comprovada a
existência do periculum libertatis, sendo impossível o
recolhimento de alguém ao cárcere caso se mostrem inexistentes
os pressupostos autorizadores da medida extrema, previstos na
legislação processual penal." (HC 430.460/SP, Rel. Ministro
ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, DJe
16/04/2018, #85855153)

Trata-se da aplicação do princípio da provisionalidade, conforme desta


respeitável doutrina, de forma esclarecedora:

"Nas prisões cautelares, a provisionalidade é um princípio


básico, pois são elas, acima de tudo, situacionais, na medida em
que tutelam uma situação fática. Uma vez desaparecido o
suporte fático legitimador da medida e corporificado no fumus
commissi delicti e/ou no periculum libertatis, deve cessar a
prisão. O desaparecimento de qualquer uma das "fumaças"
impõe a imediata soltura do imputado, na medida em que é
exigida a presença concomitante de ambas (requisito e
fundamento) para manutenção da prisão." (LOPES JR, AURY.
Direito Processual Penal. 15ª ed. Editora Saraiva jur, 2018.
Versão Kindle, P. 12555)

Ou seja, os "indigitados fundamentos de cautelaridade devem


ser apreciados sob o signo temporal, devendo ser atuais

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


independentemente de se tratar de novo decreto de prisão ou de
restabelecimento de prisão há muito revogada, seja em virtude
da ausência dos requisitos do artigo 312 do Código de Processo
Penal, seja em virtude da ausência de fundamentação idônea"
(AgRg no REsp 1.195.873/MT, Rel. Min. MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJe 21/06/2013).

Afinal, a conversão em prisão preventiva seria cabível somente diante


dos requisitos dos arts. 312 e 313 do CPP:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como


garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria. Parágrafo único. A prisão
preventiva também poderá ser decretada em caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade


máxima superior a 4 (quatro) anos;

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença


transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I
docaputdo art. 64 do Decreto-Lei no2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal;

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a


mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência;

Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-
la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade
após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.

Situações que não estão mais presentes no presente quadro., uma vez que
não há indícios de que o acusado em liberdade ponha em risco a instrução criminal, a
ordem pública ou risco à ordem econômica.

Portanto, considerando que ausentes os requisitos que pudessem motivar


a conversão em prisão preventiva, não subsistem motivos à manutenção da prisão
cautelar, conforme precedentes sobre o tema:

HABEAS CORPUS. DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.


AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ILEGALIDADE
FLAGRANTE. ORDEM CONCEDIDA. PRISÃO
REVOGADA. RESSALVADA A POSSIBILIDADE DE QUE
NOVA CUSTÓDIA VENHA A SER DECRETADA, SE
APONTADAS RAZÕES CONCRETAS. 1. As instâncias
ordinárias, in casu, não indicaram fatos concretos aptos a
justificar a segregação cautelar do paciente, estando a decisão
fundamentada apenas em conjecturas e na gravidade abstrata do
tráfico de drogas, o que configura nítido constrangimento ilegal.
No caso, a quantidade de droga apreendida (4 mudas de
maconha e 885 g de maconha) não constitui elemento concreto a
evidenciar a periculosidade do paciente para o fim de justificar a
determinação da prisão cautelar. 2. Desde 11/5/2012, após o
Plenário do Supremo Tribunal Federal declarar,
incidentalmente, a inconstitucionalidade de parte do art. 44 da
Lei n. 11.343/2006, a saber, da que proibia a concessão de
liberdade provisória nos casos de tráfico de drogas, a
fundamentação calcada nesse dispositivo simplesmente perdeu o
respaldo. De acordo com o julgamento da Suprema Corte, a
regra prevista no referido art. 44 da Lei n. 11.343/2006 é
incompatível com o princípio constitucional da presunção de

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


inocência e do devido processo legal, dentre outros princípios.
Assim, para se manter a prisão, imprescindível seria a presença
de algum dos requisitos do art. 312 do Código de Processo
Penal, o que não ocorreu no caso. 3. Ordem concedida,
confirmando-se a liminar, para garantir ao paciente o direito de
responder ao processo em liberdade, salvo se por outro motivo
estiver preso e ressalvada a possibilidade de haver nova
decretação de prisão ou a aplicação de uma das medidas
cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal,
caso se apresente motivo concreto para tanto. (STJ - HC:
401830 MG 2017/0127983-6, Relator: Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, Data de Julgamento: 18/09/2018, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 07/11/2018, #65855153)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES.


PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Sabe-se que o ordenamento jurídico vigente
traz a liberdade do indivíduo como regra. Desse modo, antes da
confirmação da condenação pelo Tribunal de Justiça, a prisão
revela-se cabível tão somente quando estiver concretamente
comprovada a existência do periculum libertatis, sendo
impossível o recolhimento de alguém ao cárcere caso se
mostrem inexistentes os pressupostos autorizadores da medida
extrema, previstos na legislação processual penal. 2. Na espécie,
ao converter a prisão em flagrante em preventiva, deteve-se o
Juízo de piso a fazer ilações acerca da gravidade abstrata do
crime de tráfico, a mencionar a prova de materialidade e os
indícios de autoria, a supor a fuga do distrito da culpa e a
invocar a quantidade do entorpecente apreendido, o que, na
hipótese específica dos autos, não constitui motivação suficiente
para a segregação antecipada, sobretudo porque não há falar, no
caso, em apreensão de elevada quantidade de droga, já que
encontradas com o paciente 20 porções de cocaína, com peso
líquido de 26,9g (vinte e seis gramas e nove decigramas). 3.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Habeas corpus concedido. (STJ - HC: 458857 SP
2018/0171330-9, Relator: Ministro ANTONIO SALDANHA
PALHEIRO, Data de Julgamento: 09/10/2018, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 26/10/2018, #05855153)

EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES - LESÃO


CORPORAL E AMEAÇA - DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA - IMPOSSIBILIDADE -
EXCEPCIONALIDADE DA PRISÃO CAUTELAR. No
processo penal brasileiro a prisão cautelar, antes do trânsito em
julgado, deve ser entendida como medida excepcional, sendo
cabível exclusivamente quando comprovada a sua real
necessidade, pautando-se em fatos e circunstâncias do processo,
que preencham os requisitos previstos no artigo 312 do Código
de Processo Penal. Ausentes os requisitos do artigo 312 do
Código de Processo Penal, não há como se decretar a prisão
preventiva. (TJ-MG - Emb Infring e de Nulidade:
10433150282450002 MG, Relator: Maria Luíza de Marilac,
Data de Julgamento: 10/04/2018, Data de Publicação:
20/04/2018, #75855153)

HABEAS CORPUS. REVOGAÇÃO DA PRISÃO


PREVENTIVA. A prisão sem condenação é medida
excepcional, devendo ser imposta, ou mantida, apenas quando
houver prova da existência do crime, indício suficiente de
autoria e, ainda, forem atendidas as exigências dos artigos 312 e
313, ambos do Código de Processo Penal. Decisão que
carecedora de fundamentação, não sendo possível inferir
necessidade de garantia da ordem pública, da ordem econômica,
a conveniência da instrução criminal e tampouco a exigência da
prisão do paciente para garantir a aplicação da lei penal. (TJ-SP
20325049820188260000 SP 2032504-98.2018.8.26.0000,
Relator: Kenarik Boujikian, Data de Julgamento: 09/04/2018, 2ª
Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 13/04/2018,
#85855153)

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. LIBERDADE
PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. A gravidade do crime em
abstrato, por si só, não pode fundamentar prisão preventiva, sob
pena de séria violação aos mais basilares princípios
constitucionais. Caso em que nada no fato concreto ou nas
circunstâncias pessoais do paciente poderia justificar a alegação
de que sua soltura é um perigo concreto à ordem pública, assim
como nada indica que possam prejudicar a instrução criminal ou
eventual aplicação da lei penal. ORDEM CONCEDIDA.
UNÂNIME. (Habeas Corpus Nº 70077105138, Segunda Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Mello
Guimarães, Julgado em 12/04/2018).

Por se tratar de requisitos indispensáveis para a condução da prisão em


flagrante para preventiva, não há motivos para a manutenção da prisão em flagrante.

Motivos pelos quais, requer o provimento do presente pedido de


liberdade provisória.

AUSÊNCIA DO PERICULUM LIBERTATIS

Nos termos do art. 321 do CPP, "ausentes os requisitos que autorizam a


decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo,
se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 (...)".

Ou seja, a prisão preventiva será mantida SOMENTE quando


presentes os requisitos e não for cabível a sua substituição por outra medida
cautelar, conforme clara redação do Art. 282, §6 do CPP.

No entanto, não há nos autos do processo, qualquer elemento a


evidenciar a manutenção da prisão preventiva. Afinal, a gravidade abstrata do delito não
ostenta motivo legal suficiente ao enquadramento em uma das hipóteses que cabível se
revelaria à prisão cautelar. (CPP, arts. 282 e 312)

A prisão preventiva tem caráter cautelar diante da manutenção das


circunstâncias que a fundamentam, previstas no Art. 282 do CPP:

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
ser aplicadas observando-se a:

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação


ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos,
para evitar a prática de infrações penais;

II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias


do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
(...)

§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a


medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de
motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.

§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não
cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma
fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada.

Tais requisitos devem estar presentes não somente no ato da prisão, mas
durante todo o lapso temporal de sua manutenção.

Todavia, considerando que a prisão ocorreu a mais de ________ meses,


não permanece qualquer risco à investigação ou instrução criminal, desfazendo-se
qualquer periculum libertatis que pudesse fundamentar a continuidade da prisão,
conforme leciona o STJ:

"Sabe-se que o ordenamento jurídico vigente traz a liberdade


do indivíduo como regra. Desse modo, antes da confirmação da
condenação pelo Tribunal de Justiça, a prisão revela-se cabível
tão somente quando estiver concretamente comprovada a
existência do periculum libertatis, sendo impossível o
recolhimento de alguém ao cárcere caso se mostrem
inexistentes os pressupostos autorizadores da medida extrema,

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


previstos na legislação processual penal." (HC 430.460/SP,
Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, DJe 16/04/2018, #75855153)

Trata-se da aplicação do princípio da provisionalidade, conforme desta


respeitável doutrina, de forma esclarecedora:

"Nas prisões cautelares, a provisionalidade é um princípio


básico, pois são elas, acima de tudo, situacionais, na medida em
que tutelam uma situação fática. Uma vez desaparecido o
suporte fático legitimador da medida e corporificado no fumus
commissi delicti e/ou no periculum libertatis, deve cessar a
prisão. O desaparecimento de qualquer uma das "fumaças"
impõe a imediata soltura do imputado, na medida em que é
exigida a presença concomitante de ambas (requisito e
fundamento) para manutenção da prisão." (LOPES JR, AURY.
Direito Processual Penal. 15ª ed. Editora Saraiva jur, 2018.
Versão Kindle, P. 12555)

Ou seja, os "indigitados fundamentos de cautelaridade devem ser


apreciados sob o signo temporal, devendo ser atuais independentemente de se tratar
de novo decreto de prisão ou de restabelecimento de prisão há muito revogada, seja
em virtude da ausência dos requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal,
seja em virtude da ausência de fundamentação idônea" (AgRg no REsp 1.195.873/MT,
Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA).

Afinal, a conversão em prisão preventiva seria cabível somente diante


dos requisitos dos arts. 312 e 313 do CPP:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como


garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo
estado de liberdade do imputado.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Art. 313. Nos termos doArt. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade


máxima superior a 4 (quatro) anos;

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença


transitada em julgado, ressalvado o disposto noInciso I do
Caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal;

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a


mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência;

Situações que não estão mais presentes no presente quadro., uma vez que
não há indícios de que o acusado em liberdade ponha em risco a instrução
criminal, a ordem pública ou risco à ordem econômica.

Portanto, considerando que ausentes os requisitos que pudessem motivar


a conversão em prisão preventiva, não subsistem motivos à manutenção da prisão
cautelar, conforme precedentes sobre o tema:

HABEAS CORPUS. DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.


AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ILEGALIDADE
FLAGRANTE. ORDEM CONCEDIDA. PRISÃO
REVOGADA. RESSALVADA A POSSIBILIDADE DE QUE
NOVA CUSTÓDIA VENHA A SER DECRETADA, SE
APONTADAS RAZÕES CONCRETAS. 1. As instâncias
ordinárias, in casu, não indicaram fatos concretos aptos a
justificar a segregação cautelar do paciente, estando a decisão
fundamentada apenas em conjecturas e na gravidade abstrata do
tráfico de drogas, o que configura nítido constrangimento ilegal.
No caso, a quantidade de droga apreendida (4 mudas de
maconha e 885 g de maconha) não constitui elemento

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


concreto a evidenciar a periculosidade do paciente para o
fim de justificar a determinação da prisão cautelar. 2. Desde
11/5/2012, após o Plenário do Supremo Tribunal Federal
declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidade de parte do
art. 44 da Lei n. 11.343/2006, a saber, da que proibia a
concessão de liberdade provisória nos casos de tráfico de
drogas, a fundamentação calcada nesse dispositivo
simplesmente perdeu o respaldo. De acordo com o julgamento
da Suprema Corte, a regra prevista no referido art. 44 da Lei n.
11.343/2006 é incompatível com o princípio constitucional da
presunção de inocência e do devido processo legal, dentre outros
princípios. Assim, para se manter a prisão, imprescindível
seria a presença de algum dos requisitos do art. 312 do
Código de Processo Penal, o que não ocorreu no caso. 3.
Ordem concedida, confirmando-se a liminar, para garantir ao
paciente o direito de responder ao processo em liberdade, salvo
se por outro motivo estiver preso e ressalvada a possibilidade de
haver nova decretação de prisão ou a aplicação de uma das
medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo
Penal, caso se apresente motivo concreto para tanto. (STJ - HC:
401830 MG 2017/0127983-6, Relator: Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, Data de Julgamento: 18/09/2018, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 07/11/2018, #95855153)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES.


PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Sabe-se que o ordenamento jurídico vigente
traz a liberdade do indivíduo como regra. Desse modo, antes da
confirmação da condenação pelo Tribunal de Justiça, a prisão
revela-se cabível tão somente quando estiver concretamente
comprovada a existência do periculum libertatis, sendo
impossível o recolhimento de alguém ao cárcere caso se
mostrem inexistentes os pressupostos autorizadores da medida
extrema, previstos na legislação processual penal. 2. Na espécie,

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


ao converter a prisão em flagrante em preventiva, deteve-se
o Juízo de piso a fazer ilações acerca da gravidade abstrata
do crime de tráfico, a mencionar a prova de materialidade e
os indícios de autoria, a supor a fuga do distrito da culpa e a
invocar a quantidade do entorpecente apreendido, o que, na
hipótese específica dos autos, não constitui motivação
suficiente para a segregação antecipada, sobretudo porque
não há falar, no caso, em apreensão de elevada quantidade de
droga, já que encontradas com o paciente 20 porções de cocaína,
com peso líquido de 26,9g (vinte e seis gramas e nove
decigramas). 3. Habeas corpus concedido. (STJ - HC: 458857
SP 2018/0171330-9, Relator: Ministro ANTONIO SALDANHA
PALHEIRO, Data de Julgamento: 09/10/2018, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 26/10/2018, #85855153)

EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES - LESÃO


CORPORAL E AMEAÇA - DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA - IMPOSSIBILIDADE -
EXCEPCIONALIDADE DA PRISÃO CAUTELAR. No
processo penal brasileiro a prisão cautelar, antes do trânsito em
julgado, deve ser entendida como medida excepcional, sendo
cabível exclusivamente quando comprovada a sua real
necessidade, pautando-se em fatos e circunstâncias do processo,
que preencham os requisitos previstos no artigo 312 do Código
de Processo Penal. Ausentes os requisitos do artigo 312 do
Código de Processo Penal, não há como se decretar a prisão
preventiva. (TJ-MG - Emb Infring e de Nulidade:
10433150282450002 MG, Relator: Maria Luíza de Marilac,
Data de Julgamento: 10/04/2018, Data de Publicação:
20/04/2018, #15855153)

HABEAS CORPUS. REVOGAÇÃO DA PRISÃO


PREVENTIVA. A prisão sem condenação é medida
excepcional, devendo ser imposta, ou mantida, apenas quando
houver prova da existência do crime, indício suficiente de
autoria e, ainda, forem atendidas as exigências dos artigos 312 e

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


313, ambos do Código de Processo Penal. Decisão que
carecedora de fundamentação, não sendo possível inferir
necessidade de garantia da ordem pública, da ordem econômica,
a conveniência da instrução criminal e tampouco a exigência da
prisão do paciente para garantir a aplicação da lei penal. (TJ-SP
20325049820188260000 SP 2032504-98.2018.8.26.0000,
Relator: Kenarik Boujikian, Data de Julgamento: 09/04/2018, 2ª
Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 13/04/2018,
#95855153)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. LIBERDADE


PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. A gravidade do crime em
abstrato, por si só, não pode fundamentar prisão preventiva, sob
pena de séria violação aos mais basilares princípios
constitucionais. Caso em que nada no fato concreto ou nas
circunstâncias pessoais do paciente poderia justificar a alegação
de que sua soltura é um perigo concreto à ordem pública, assim
como nada indica que possam prejudicar a instrução criminal ou
eventual aplicação da lei penal. ORDEM CONCEDIDA.
UNÂNIME. (Habeas Corpus Nº 70077105138, Segunda Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Mello
Guimarães, Julgado em 12/04/2018).

Por se tratar de requisitos indispensáveis para a condução da prisão em


flagrante para preventiva, não há motivos para a manutenção da prisão em flagrante.

Motivos pelos quais, requer o provimento do presente pedido de


liberdade provisória.

DOS BONS ANTECEDENTES, ENDEREÇO CERTO E EMPREGO FIXO

Não obstante a preliminar arguida, importa destacar que o Réu é


________ , trata-se de pessoa íntegra, de bons antecedentes e que jamais respondeu a
qualquer processo crime conforme certidão negativa que junta em anexo.

Possui ainda endereço certo na ________ , onde reside com sua família

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


nesta Comarca, trabalha na condição de ________ na empresa ________ conforme
comprovantes em anexo.

DOS PROCESSOS CRIMINAIS SEM TRÂNSITO EM JULGADO

O princípio da presunção da inocência faz com que o réu não possa sofrer
consequências penais ou extrapenais em decorrência de processos criminais em curso.

Logo, a ausência de trânsito em julgado de eventuais ações penais passa a


ser um argumento na defesa do reconhecimento de bons antecedentes do réu, para fins
de dosimetria da pena, conforme expressamente previsto no CPP:

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário


à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem


solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar
quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito
contra os requerentes.

Portanto, a simples existência de inquéritos policiais ou processos


criminais sem trânsito em julgado, não podem ser considerados como antecedentes
criminais para qualquer fim, conforme já sumulado pelo STJ:

Súmula STJ 444 - É vedada a utilização de inquéritos


policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.

Sobre o tema, o STF já se pronunciou em Recurso Extraordinário com


repercussão geral declarada, ao afirmar que "A existência de inquéritos policiais ou de
ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena". (RE 591054)

O Art. 5º, inciso LVII da Constituição Federal traz expressamente a


garantia de que ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado de
sentença condenatória.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


Desta forma, para efeito de aumento da pena somente podem ser
valoradas como maus antecedentes decisões condenatórias irrecorríveis, sendo
impossível considerar, para tanto, investigações preliminares ou processos criminais em
andamento, mesmo que estejam em fase recursal.

Sobre o tema, cabe destacar os precedentes do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. DOSIMETRIA DA PENA.
ANTECEDENTES CRIMINAIS. INQUÉRITOS E
PROCESSOS EM CURSO. TEMA 129/STF. 1. As ações e
inquéritos penais em andamento não são hábeis a validar a
fixação da pena-base além do piso legal, por intermédio da
valoração prejudicial das circunstâncias judiciais elencadas no
art. 59 do CP, em respeito ao princípio da inocência. 2. "Ante o
princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e
processos criminais em curso são neutros na definição dos
antecedentes criminais" (RE-RG 591.054, Rel. Min. Marco
Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2014, publicado em
26/2/2015 - Tema 129/STF). Agravo regimental improvido.
(AgRg no RE no AgRg no HC 392.214/RS, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, CORTE ESPECIAL, julgado em
07/03/2018, DJe 23/03/2018, #35855153)

Sobre o tema, a jurisprudência acompanha este entendimento:

PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO. ROUBO


"SIMPLES". CONDENAÇÃO. RECURSO DA DEFESA.
Recurso visando, em preliminar, ao reconhecimento de
nulidades, e, no mérito, à absolvição por falta de provas ou à
mitigação da pena (fixação da base no mínimo e alteração do
regime inicial para o semiaberto), com pedido, ainda, de
concessão de liberdade provisória. Parcial pertinência. 1.
Prejudicado pedido de concessão de liberdade provisória com o
julgamento do presente recurso. Legitimidade, de todo o modo,
de execução definitiva da pena em face da concretização do

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


duplo grau de jurisdição na esteira de recente jurisprudência do
C. STF (HC 126.292/SP, de 17/02/2016 e MC nas ADCs 43 e
44, de 05/10/2016). 2. Nulidades inexistentes. A) Ilicitude na
prova de autoria não detectada. A despeito de ilegal condução
coercitiva, a elucidação de autoria partiu de denúncia anônima,
confirmada a suspeita depois de efetuado reconhecimento
(fotográfico e de pessoa, ambos "Positivo"), surgindo, portanto,
de fonte independente. Art. 157, do CPP. B) Inexistente violação
ao princípio da judicialização das provas. Policiais que
descreveram com precisão a dinâmica da investigação, não se
limitando, ao reverso do colocado, a ratificar o que fora
afirmado na fase inquisitiva. Existência, ademais, de outras
provas incriminadoras (confissão e relatos da vítima)
regularmente produzidas em juízo. Nulidades inexistentes. 3.
Condenação legítima. Acusado que, simulando estar armado,
subtraiu bens da vítima que caminhava em via pública. Integral
admissão em juízo. Confirmação da confissão pela prova
judicializada. Inviável absolvição. Idoneidade das provas, quais
sejam, da confissão judicial (comprovando, no caso, a prática da
infração), bem como das declarações da vítima e dos
testemunhos dos policiais (confirmando aquela). Precedentes. 3.
Imperiosa fixação da base no mínimo. Na sentença, foram
valorados, sob a pecha de "maus antecedentes", processos
em trâmite, sem sentença e um com trânsito em julgado
posterior, mas em que fora declarada a extinção da
punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. A
existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem
trânsito em julgado não pode ser considerada como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena. Entendimento
firmado, pelo C. STF, no RE 591054 SC, com repercussão
geral reconhecida. Súmula nº 444, do C. STJ. Retorno ao
mínimo. 4. Inviável alteração do regime determinado para início
de expiação da aflitiva. Apesar de se cuidar de roubo "simples",
em tese, inicialmente, possível de determinação de cumprimento
da pena mais brando, a escolha pelo fechado se mostra mais
adequada, para que a pena surta suas devidas finalidades,

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


quando o crime é cometido mediante simulação de porte de
arma, aspecto este que demonstra maior ousadia e
periculosidade do agente, extraíveis, também pelo fato de a
subtração ter ocorrido em via pública, local não ermo, portanto,
Reincidência específica que, ademais, impõe, de todo o modo,
determinação de início de cumprimento em regime fechado (não
incidência da Súmula de nº 269, do C. STJ). Inteligência do art.
33, §§ 2º e 3º, do CP. Situação que tornou inaplicável, no caso, o
disposto no artigo 387, §2º, do CPP, porque irrelevante, para
aquele objetivo, quantum imposto e, por consequência, eventual
tempo de prisão provisória. Parcial provimento, na parte não
prejudicada e afastadas as nulidades. (TJSP; Apelação Criminal
0011724-21.2018.8.26.0050; Relator (a): Alcides Malossi
Junior; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Criminal; Foro
Central Criminal Barra Funda - 28ª Vara Criminal; Data do
Julgamento: 25/04/2019; Data de Registro: 29/04/2019,
#75855153)

REVISÃO CRIMINAL. SENTENÇA CONTRÁRIA À PROVA


DOS AUTOS. ABSOLVIÇÃO. AFASTADA. ROUBO.
PALAVRA DA VÍTIMA. ESPECIAL VALOR PROBANTE.
CONTINUIDADE DELITIVA. IMPOSSIBILIDADE.
CONTUMÁCIA. DESPROVIMENTO. UNÂNIME. 1. Tese
absolutória rejeitada em virtude do arcabouço processual
fundado nos depoimentos prestados pelas vítimas dos delitos de
roubo, pois em crimes deste jaez a palavra da vítima têm
especial valor probante.Precedentes.2. Conquanto os delitos
praticados pelo réu sejam da mesma espécie, praticados contra
distintas vítimas, mas com idêntico modus operandi, em curto
espaço de tempo e dentro da mesma comarca, não há como
aplicar o favor legal quando se constata que não se tratam de
crimes continuados e sim de inegável e deslavada contumácia
delituosa. 3. Ao reconhecimento da continuidade delitiva não
basta que se façam presentes os requisitos objetivos (mesmas
circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução) é imperioso
que se demonstre a unicidade de desígnios, que se estabeleçam

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


liames entre os crimes praticados em sequência tal que permita
admitir a ficção de que os demais delitos são a continuação do
primeiro.4. O requerente, entre os meses de abril e julho do ano
de 2005, praticou isoladamente vários crimes de roubo na
localidade, de forma que os excertos demonstram que o Réu faz
do crime de roubo à mão armada um meio de vida, um modo de
auferir dinheiro.5. Constata-se que o réu trata-se de delinquente
habitual, de modo que sua contumácia impede que seja
amparado pela benesse da continuidade delitiva, pois verifica-se
que as condutas perpetradas são independentes, com desígnios
autônomos em condições de tempo distintas e isoladas, de forma
que caberia à espécie o concurso material e não a continuidade
pretendida. Precedentes.6. Continuidade delitiva afastada. À
unanimidade de votos.PENA. ART. 59, CP.
REDIMENSIONAMENTO. VETORES DO MOTIVO E
CIRCUNSTÂNCIAS. VALOR NEGATIVO AFASTADO.
UNÂNIME. MAUS ANTECEDENTES. MANTIDOS. STF: RE
591054/SC REPERCUSSÃO GERAL AFASTADA E
INTELIGÊNCIA DA SÚM. 444 DO STJ AFASTADA. POR
MAIORIA DA TURMA. 7. Pena reduzida, à unanimidade, ante
o reconhecimento da ausência de fundamentação legal na
análise das circunstâncias do art. 59 do CP, dos motivos e das
circunstâncias do crime, todavia, por maioria, a Turma afastou a
incidência do entendimento sufragado pelo pleno do STF
quando do julgamento realizado no RE 591054/SC, com
repercussão geral reconhecida, em foi assentada a tese de que "A
existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito
em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena", afastando,
consequentemente, o escólio já sedimentado pelo STJ na Súm.
444, vencido o Relator. 8. Habeas corpus concedido ex officio, à
unanimidade de votos, para estender a ação n. 661/2006 a
redução aqui procedida, resultando em cada uma delas a pena de
06 (seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão. (Revisão Criminal
499848-10001228-35.2018.8.17.0000, Rel. Fausto de Castro
Campos, Seção Criminal, julgado em 28/03/2019, DJe

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


11/06/2019, #25855153)

A doutrina ao lecionar sobre a matéria, esclarece:

"no âmbito penal, em particular, por conta da edição da Súmula


444 do STJ. ("É vedada a utilização de inquéritos policiais e
ações penais em curso para agravar a pena-base"), somente se
podem considerar as condenações, com trânsito em julgado,
existentes antes da prática do delito" (NUCCI, Guilherme de
Souza. Curso de Direito Penal - Vol. 1 - Parte Geral - Arts. 1ª a
120 do Código Penal, 3ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2019.)

Portanto, quaisquer inquéritos ou processos criminais sem trânsito em


julgado, não podem ser considerados para fins de antecedentes.

As razões do fato em si serão analisadas oportunamente, no devido


processo legal, não cabendo, neste momento, um julgamento prévio que comprometa
sua inocência, conforme precedentes sobre o tema:

EMENTA: HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO E


FURTO QUALIFICADO TENTADO. PRISÃO
PREVENTIVA. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS MENOS GRAVOSAS.
POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA OU GRAVE
AMEAÇA. PACIENTE PRIMÁRIO, DE BONS
ANTECEDENTES E COM RESIDÊNCIA FIXA. ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA. - A prisão preventiva é
medida excepcional que deve ser decretada somente quando não
for possível sua substituição por cautelares alternativas menos
gravosas, desde que presentes os seus requisitos autorizadores e
mediante decisão judicial fundamentada (§ 6º, artigo 282, CPP)-
No caso, considerando a ausência de violência ou grave
ameaça e, ainda, as condições pessoais favoráveis do
paciente (primariedade, bons antecedentes e residência fixa),
a substituição da prisão por medidas diversas mais brandas
revela-se suficiente para os fins acautelatórios almejados.

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


(TJ-MG - HC: 10000180115032000 MG, Relator: Renato
Martins Jacob, Data de Julgamento: 15/03/2018, Data de
Publicação: 26/03/2018, #45855153)

Neste sentido, Julio Fabbrini Mirabete em sua obra, leciona:

"Como, em princípio, ninguém deve ser recolhido à prisão


senão após a sentença condenatória transitada em julgado,
procura-se estabelecer institutos e medidas que assegurem o
desenvolvimento regular do processo com a presença do
acusado sem sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia
provisória apenas para as hipóteses de absoluta necessidade."
(Código De Processo Penal Interpretado, 8ª edição, pág. 670)

À vista do exposto, requer-se a consideração de todos os argumentos


acima com o deferimento do presente pedido.

DAS PROVAS QUE PRETENDE PRODUZIR

Para amparar a defesa, o réu pretende instruir seus argumentos com as


seguintes provas:

a) Depoimento pessoal do ________ , para esclarecimentos


sobre ________ ;

b) Ouvida de testemunhas, uma vez que ________ cujo rol


segue abaixo: ________

c) Obtenção dos documentos abaixo indicados, junto ao


________ ;

d) Reprodução cinematográfica a ser apresentada em audiência;

e) Análise pericial da ________ .

Importante esclarecer sobre a indispensabilidade da prova

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


pericial/testemunhal, pois trata-se de meio mínimo necessário a comprovar o direito do
acusado, sob pena de grave cerceamento de defesa.

Trata-se da positivação ao efetivo exercício do contraditório e da ampla


defesa disposto no Art. 5º da Constituição Federal:

"Art. 5º (...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;(...)"

Para tanto, o réu pretende instruir o presente com as provas acima


indicadas, sob pena de nulidade do processo.

PEDIDOS

Isto posto, requer que seja ABSOLVIDO O DENUNCIADO, diante da


existência de circunstancias que excluam o crime ou isentem o réu da pena.

Requer que seja feita a oitiva das testemunhas que presenciaram os fatos
(rol em anexo).

Termos em que, pede deferimento.

________ , ________ .

________

Anexos:

1. Prova do endereço fixo

2. Prova dos bons antecedentes

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021


3. Procuração

4. Rol de testemunhas

5. Provas do alegado

#5855153 Fri Nov 26 20:14:43 2021

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