Geotecnia Descomissionamento de Mina
Geotecnia Descomissionamento de Mina
Geotecnia Descomissionamento de Mina
AVALIAÇÃO MÍNERO-GEOAMBIENTAL DA
MINA DE GONGO SOCO PARA FINS DE
DESCOMISSIONAMENTO – PROPOSTAS
CDU: 627.82(813.8)
Catalogação: [email protected]
ii
AGRADECIMENTOS
A Deus pela conquista, pois é o pilar da minha existência.
Aos meus pais José Ferreira Neto e Carmélia Alves Neto já falecidos, mas que sempre
lutaram pela educação dos filhos.
Ao meu irmão em especial Eng. Yusley Ferreira Neto que possibilitou minha formação
acadêmica que foi a base de diversas outras conquistas.
A minha “Linda” esposa e companheira Ruth Elizabeth Cruz que me acompanha desde
1985. Meu muito obrigado por sempre me apoiar nos grandes desafios. Ao meu querido
filho Pedro Henrique a jóia rara de minha vida. Vivo os dias por vocês.
Ao meu amigo Yash Maciel, geógrafo e jovem consultor da Lume Estratégia Ambiental.
Meu muito obrigado, foi imprescindível no andamento da dissertação, auxiliando-me na
elaboração das imagens georeferenciadas, ilustrando-a de forma magnífica.
A minha amiga Lídia Maria dos Santos, bióloga e parceira de vários projetos ambientais.
Meu muito obrigado pelas críticas construtivas que muito engrandeceu este trabalho.
À Lume Estratégia Ambiental Ltda e a Nicho Engenheiros Consultores Ltda que sempre
depositou confiança em meu trabalho. Muito obrigado por oportunizar-me compor suas
equipes de trabalho.
Agradeço ao Centro Federal de Ensino Tecnológico de Ouro Preto – CEFET – OP, pelo
apoio dado a mim, docente desta instituição desde 1997.
À Vale – Companhia Vale do Rio Doce, em particular ao Eng. Sérgio Botelho por ter
autorizado a elaboração desta dissertação quando ocupava o cargo de Gerente de Meio
Ambiente. À Enga Juliana Cota por também ter apoiado esta iniciativa. Meu muito
obrigado. Desejo-lhes sucesso.
Ao meu orientador e amigo professor José Francisco do Prado Filho pela confiança e
dedicação dispensada. Meu muito obrigado.
iv
RESUMO
A mineração é uma das atividades que mais interfere sobre os recursos naturais causando
impactos ambientais expressivos quando desenvolvida de maneira não planejada. Partindo
desta afirmação este trabalho apresenta, diante da legislação minerária e ambiental
atualizada, proposta de descomissionamento para a mina de Gongo Soco da Vale –
Companhia Vale do Rio Doce, visando o uso futuro da área, aptidões e particularidades
técnicas e ambientais.
Desde 2000 a Vale desenvolve na mina de Gongo Soco uma atividade minerária de forma
planejada. A exaustão do minério está prevista para 2014 e um novo uso deve ser dado ao
local.
No entanto, frente à situação sócio-econômica regional, uma outra alternativa de uso misto
mineração/conservação foi delineada, resultando em duas alternativas desenhadas e
planejadas, para que no momento do fechamento, sejam executadas, a fim de dar novo uso
à área minerada a saber:
Tais alternativas podem ajudar a empresa a decidir sobre o melhor uso a ser dado para seu
empreendimento, lembrando que parte do sítio é tombado pelo IEPHA e integrante de
bioma protegido por Lei.
v
ABSTRACT
Mining is one of the human activities with deeper effects on natural resources and it causes
major environmental impact if carried out without proper planning. Starting from this
statement, in conjunction with the most up-to-date mining and environmental legislation,
this work presents a Decomissioning Plan for the Vale’s Gongo Soco mine, addressing the
possible future use for the mining area, considering its aptitudes and its technical and
environmental characteristics.
Vale takes on a planned mining activity on Gongo Soco mine since 2000. The mine is
expected to exhaust by 2014. After that, the area must have a post-mining land use.
The proposal presented here for future use of Gongo Soco area – an area that is part of the
Atlantic Forest biome, points to the creation of a private reserve of natural heritage (RPPN
– reserva particular de patrimônio natural), based on the undertaking profile, the
environmental diagnostics and the regional socio-economic situation. This reserve will
include areas owned by Vale that were not under mining exploration, plus the rehabilitated
area that will be recovered with native vegetation over remaining mining structures, as
sterile stockpiles, coming up to a 1.133,47 hectare reserve.
Considering the same regional socio-economic situation, though, this work also outlines a
second alternative, which combines the mixed use of mining/conservation. So, the results
are two alternatives previously designed and planned to be executed at the moment of mine
closure, in order to give a new use to the area. Those are the following:
Conservational use of the land. Restoration of the exhausted area with previous, original
ecosystems. Creation of a Conservation Unity, for research activities, as well as
visitation, communication and educational purposes. This alternative demands the
deactivation of all mining facilities and the creation of a lake over the mining site.
Mixed use, combining mining/conservation. A new mining activity in the area can take
advantage of the mining facilities and the railroad, for product transportation. The old
mining site can be used as a tailings disposal dam for other new mines around. At the
same time, the company can foment the rehabilitation of remaining damaged
environments, create a Conservation Unit, establish a research and education plan in this
Unit, and promote technical and didactic visitation plans.
These alternatives can help the company to decide about the best use of the land after mine
closure, considering that part of the site is inscribed by IEPHA (Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) as natural heritage and is part of a biome
protected by law.
vi
Lista de Figuras
Figura 1.1 - Regiões hotspots do planeta – áreas de conservação da natureza....................17
Figura 2.1 - Produção Bruta de Minério de Ferro................................................................26
Figura 2.2 - Produção de ROM e de Minério Contido. .......................................................27
Figura 2.3 - Reservas de minério de ferro no Brasil x Minas Gerais. .................................28
Figura 2.4 – Área de propriedade da Vale, reservas legais e área tombada pelo IEPHA....45
Figura 2.5 - Aspectos e impactos ambientais - mineração e processamento mineral
associados ao meio físico.....................................................................................................55
Figura 3.1 - Localização da mina de Gongo Soco. ..............................................................63
Figura 3.2 - Foto aérea da mina de Gongo Soco. ................................................................66
Figura 3.3 - Plano de lavra - 2007 e 2008............................................................................68
Figura 3.4 - Plano de lavra - 2009 e 2010............................................................................69
Figura 3.5 - Plano de lavra - 2011 e 2012............................................................................70
Figura 3.6 - Plano de lavra - 2013 e 2014............................................................................71
Figura 3.7 - Evolução da produção de hematita e itabirito - mina de Gongo Soco. ............72
Figura 3.8 - Relação Estéril/Minério – (2007 a 2014).........................................................73
Figura 3.9 - Evolução da Produção de ROM e de Estéril....................................................73
Figura 3.10 - Vista parcial da PDE Sudoeste com alteamentos projetados em 2006. Pilha
com capacidade de disposição de estéril esgotada...............................................................74
Figura 3.11 – PDE Correia com capacidade de disposição de estéril esgotada...................74
Figura 3.12 - PDE Sudeste com capacidade de disposição esgotada. .................................75
Figura 3.13 - Vista parcial da PDE Nordeste em operação - Agosto de 2007.....................76
Figura 3.14 - Configuração em 3D da PDE Nordeste projetada para 2014.........................77
Figura 3.15 - Vista geral de Gongo Soco.............................................................................81
Figura 3.16 - Fluxograma simplificado do processo industrial. ..........................................82
Figura 3.17 - Vista geral das instalações de tratamento de minério – ITM’s. .....................83
Figura 3.18 - Geologia local da mina de Gongo Soco.........................................................87
Figura 3.19 - Períodos de operação dos poços de rebaixamento (PGS) do NA. .................98
Figura 3.20 - Rede de poços de rebaixamento do nível d´água. ..........................................99
Figura 3.21 - Pontos de surgência d´água cadastradas. .....................................................101
Figura 3.22 - Curvas equipotenciais e linhas de fluxo d’água subterrâneo - calibração em
regime permanente.............................................................................................................102
Figura 3.23 - Zonas de recarga - modelo hidrogeológico de Gongo Soco. .......................110
Figura 3.24 - Zonas de balanço hídrico. ............................................................................112
Figura 3.25 - Rede de vertedouros.....................................................................................113
Figura 3.26 - Configuração das zonas de balanço hídrico acrescida da zona 11...............116
Figura 3.27 - Planta da cava de 2014 com indicação das seções analisadas. ....................124
Figura 3.28 - Volume bombeado dos poços de rebaixamento (Outubro de 2001 a Fevereiro
de 2007). ............................................................................................................................127
Figura 3.29 - Localização dos piezômetros na mina de Gongo Soco................................128
Figura 3.30 - Seção 646506 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,375)...131
Figura 3.31 - Seção 646506 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,434). .....131
Figura 3.32 - Seção 646706 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,460). .....131
Figura 3.33 - Seção 646806 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,419)...132
Figura 3.34 - Seção 647056 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,356). Ruptura de Face -
Hematita Talcosa (FS=1,116). ...........................................................................................132
Figura 3.35 - Seção 1 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,227).............132
Figura 3.36 - Seção 2 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,301).............133
vii
Figura 3.37 - Seção 3 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,454).............133
Figura 3.38 - Seção 4 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,393) e Localizada (FS=1,355).
...........................................................................................................................................133
Figura 3.39 - Seção 5 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,129).............134
Figura 3.40 – Seção 5 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,307)............134
Figura 4.1 - Detalhe da serra do Caraça.............................................................................137
Figura 4.2 - Planta de Situação em 2007. ..........................................................................144
Figura 4.3 - Mapa de uso do solo e cobertura vegetal - propriedade de Gongo Soco (2007).
...........................................................................................................................................145
Figura 4.4 - Rede de drenagem. .........................................................................................148
Figura 4.5 Remanescentes florestais da Mata Atlântica. ...................................................149
Figura 4.6 - Evolução da arrecadação da CFEM – Barão de Cocais.................................160
Figura 4.7 - Projeto Gongo Soco: Arrecadação do ISSQN – Barão de Cocais. ................161
Figura 4.8 - O Ciclo de Expansão da Atividade Mineradora.............................................162
Figura 4.9 - Foto das ruínas de Gongo Soco tombadas pelo IEPHA.................................162
Figura 4.10 - Médias geométricas anuais de PTS – Distrito do André. ............................167
Figura 5.1 - Fluxograma esquemático do sistema de funcionamento da mina de Gongo
Soco. ..................................................................................................................................170
Figura 5.2 - Situação projetada – paralisação da mina em 2014. ......................................174
Figura 5.3 - Paralisação da mina em 2014 e remanescentes florestais. .............................175
Figura 5.4 - Mapa de uso do solo e cobertura vegetal da propriedade em 2014. ..............177
Figura 5.5 - Pós-fechamento da mina – Alternativa 1. ......................................................180
Figura 5.6 - Pós-fechamento da mina - Alternativa 2........................................................188
viii
Lista de Tabelas
Tabela 2.1 - Posição brasileira em relação às reservas mundiais. .......................................30
Tabela 2.2 – RPPN’s da VALE inseridas no Quadrilátero Ferrífero...................................43
Tabela 2.3 - Impactos ambientais da mineração em suas diferentes etapas. .......................54
Tabela 3.1 - Produção de ROM e de Estéril - Mina de Gongo Soco...................................72
Tabela 3.2 - Cubagem da PDE Nordeste (vida útil projetada até 2008)..............................75
Tabela 3.3 - Principais características construtivas das PDE’s. ..........................................76
Tabela 3.4 - Classificação geomecânica de Bieniawski, 1976. ...........................................78
Tabela 3.5 - Parâmetros geotécnicos adotados para cálculo da estabilidade da PDE
Nordeste. ..............................................................................................................................78
Tabela 3.6 - Tipos de minério e estéril existentes na mina de Gongo Soco. .......................78
Tabela 3.7 - Características das Captações e Vazões Outorgadas .......................................86
Tabela 3.8 - Valores finais de condutividade hidráulica adotados no modelo hidrogeológico
computacional da mina Gongo Soco. ................................................................................111
Tabela 3.9 - Resultados da calibração das vazões de água. ...............................................112
Tabela 3.10 - Valores da recarga utilizados na calibração transiente. ...............................114
Tabela 3.11 - Quadro comparativo do balanço hídrico das zonas 3 (córrego Capim
Gordura) e 5 (córrego Congo Velho).................................................................................115
Tabela 3.12 - Resultado do balanço hídrico da mina de Gongo Soco para os cenários de
2009 e 2013........................................................................................................................116
Tabela 3.13 - Parâmetros de classificação de maciços (modificado de Bieniawski, 1974).
...........................................................................................................................................121
Tabela 3.14 - Classes de maciços e seus respectivos RMR adotados na mina de Gongo
Soco (modificado de Bieniawski, 1974)............................................................................121
Tabela 3.15 - Distribuição e zonas de ocorrência de classes de maciço na mina de Gongo
Soco. ..................................................................................................................................122
Tabela 3.16 - Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento Adotados – Mina de Gongo
Soco. ..................................................................................................................................129
Tabela 3.17 - Resultados das Análises de Estabilidade - Cava Projetada 2014. ...............130
Tabela 4.1 - Distribuição da área - uso e ocupação do solo em Gongo Soco – 2007........143
Tabela 4.2 - Listagem das espécies de aves observadas na ADA pela ampliação da cava de
Gongo Soco........................................................................................................................154
Tabela 4.3 - Espécies de mamíferos registradas na mina de Gongo Soco durante campanha
de julho de 2007.................................................................................................................157
Tabela 4.4 - Instrumentação da Barragem Sul...................................................................166
Tabela 4.5 - Estrutura do Índice de Qualidade do Ar. .......................................................167
Tabela 5.1 - Intervenções minerárias projetadas para 2014...............................................173
Tabela 5.2 - Uso e ocupação do solo em Gongo Soco – projeção 2014............................173
Tabela 5.3 - Áreas de uso e ocupação do solo em 2014 em Gongo Soco. ........................176
Tabela 5.4 - Vantagens e Desvantagens das Alternativas de Uso Futuro para a Mina de
Gongo Soco........................................................................................................................186
ix
LISTA SÍMBOLOS, NOMENCLATURA E ABREVIAÇÕES
x
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Não Renováveis
IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços
IEF – Instituto Estadual de Floresta
IEPHA – Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
IGAM – Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ISSQN – Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza
ISO – Organização Internacional para Padronização (International Standardization Organization)
ISRM – Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas (International Society for Rock
Mechanics).
ITM – Instalação de Tratamento de Minério
ITR – Imposto Territorial Rural
kN/m3 – kilo Newton por Metro Cúbico
LA – Licença Ambiental
LP – Licença Prévia
LI – Licença de Instalação
LO – Licença de Operação
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MME – Ministério de Meio Ambiente
MP – Medida Provisória
Mm3 – Milhões de Metros Cúbicos
Mt – Milhões de Toneladas
NBR – ABNT – Norma Brasileira – Associação Brasileira de Normas Técnicas
NRM – Norma Reguladora de Mineração
NYSE – Bolsa de Valores de Nova York
PAE – Plano de Aproveitamento Econômico
PCA – Plano de Controle Ambiental
PDE – Pilha de Disposição de Estéril
γ – Peso Específico
PIB – Produto Interno Bruto
PIS – Programa de Integração Social
PMB – Produção Mineral Brasileira
PRAD – Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
PTRF – Projeto Técnico de Reconstituição da Flora
PUP – Projeto de Utilização Pretendida
xi
Q7,10 – vazão mínima de 7 dias de duração com um período de retorno de 10 anos
QMLT – vazão média de longo termo
RC – Resolução CONAMA
RCA – Relatório de Controle Ambiental
RE/M – Relação Estéril/Minério
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
RL – Reserva Legal
RPPN – Reserva Particular de Patrimônio Natural
SEMAD – Secretaria de Estado e Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SGA – Sistema de Gestão Ambiental
SISEMA – Sistema Estadual do Meio Ambiente
SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente
SNUC – Sistema Nacional de Unidade de Conservação
SUPRAMS – Superintendência Regionais do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
t – toneladas
TAC – Termo de Ajustamento de Conduta
UC – Unidade de Conservação
xii
ÍNDICE
CAPÍTULO I.................................................................................................................................................. 15
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 15
1.1. OBJETIVO DO TRABALHO................................................................................. 22
1.2. METODOLOGIA DO TRABALHO ......................................................................... 22
1.2.1. ANÁLISE DE DADOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................ 22
1.2.2. COMPOSIÇÃO DE DADOS ANALISADOS...................................................... 24
CAPÍTULO II ................................................................................................................................................ 25
2. – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................... 25
2.1. A IMPORTÂNCIA DA MINERAÇÃO E CONTEXTO ECONÔMICO ATUAL ...................... 25
2.2. RECURSOS E RESERVAS MINERAIS DO BRASIL .................................................. 30
2.3. DESEMPENHO DA PRODUÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO DA VALE............................ 31
2.4. ASPECTOS LEGAIS DA LEGISLAÇÃO MINERÁRIA E AMBIENTAL NO BRASIL ............ 33
2.4.1. LEI DE CRIMES AMBIENTAIS .................................................................... 44
2.4.2. MINERAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ............................... 46
2.4.3. LEI DA MATA ATLÂNTICA.......................................................................... 49
2.5. PLANEJAMENTO E FECHAMENTO DE MINA ......................................................... 52
CAPÍTULO III............................................................................................................................................... 63
3. CARACTERIZAÇÃO DA MINA DE GONGO SOCO.................................................................. 63
3.1. LOCALIZAÇÃO ................................................................................................ 63
3.2. HISTÓRICO DA MINA DE GONGO SOCO............................................................. 63
3.3. MÉTODO DE LAVRA......................................................................................... 65
3.4. MOVIMENTAÇÃO DE MINÉRIO BRUTO (ROM) ..................................................... 72
3.5. RELAÇÃO ESTÉRIL/MINÉRIO ............................................................................ 72
3.6. DISPOSIÇÃO DE ESTÉRIL ................................................................................ 73
3.7. RESERVAS E VIDA ÚTIL ................................................................................... 78
3.8. PORTE DO EMPREENDIMENTO .......................................................................... 80
3.9. BENEFICIAMENTO DO ROM .............................................................................. 81
3.9.1. INSTALAÇÃO DE TRATAMENTO DE MINÉRIOS I – ITM-I ............................... 81
3.9.2. ITM-II .................................................................................................... 82
3.9.3. ITM-III................................................................................................... 82
3.10. BARRAGEM DE REJEITOS ............................................................................. 84
3.11. ESTUDOS GEOLÓGICOS DA MINA DE GONGO SOCO ....................................... 86
3.11.1. GEOLOGIA LOCAL ................................................................................ 86
3.11.2. GEOLOGIA ESTRUTURAL ...................................................................... 92
3.12. ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS DA MINA DE GONGO SOCO .............................. 93
3.12.1. DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO ............................. 97
3.12.2. INVENTÁRIO DE PONTOS D´ÁGUA E ARREDORES ................................... 98
3.12.3. UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS DE GONGO SOCO................................. 102
3.12.4. MODELO HIDROGEOLÓGICO ............................................................... 108
3.12.5. SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS HIDROGEOLÓGICOS FUTUROS ..................... 115
3.13. ESTUDOS GEOTÉCNICOS DA MINA DE GONGO SOCO.................................... 118
3.13.1. CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DOS MACIÇOS ROCHOSOS ................... 119
3.13.2. CRITÉRIOS GEOMECÂNICOS APLICADOS AOS TALUDES DA CAVA ........... 122
3.13.3. ESTUDOS GEOTÉCNICOS APLICADOS AOS TALUDES DA MINA DE GONGO
SOCO ....................................................................................................... 124
3.13.4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE DA CAVA DE GONGO SOCO ........................ 126
xiii
CAPÍTULO IV............................................................................................................................................. 135
4. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE GONGO SOCO................................................................... 135
4.1. MEIO FÍSICO................................................................................................ 135
4.1.1. GEOLOGIA REGIONAL ............................................................................ 135
4.1.2. GEOMORFOLOGIA ................................................................................. 136
4.1.3. PEDOLOGIA E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO............................................... 141
4.1.4. CLIMA .................................................................................................. 143
4.1.5. RECURSOS HÍDRICOS............................................................................ 146
4.2. MEIO BIÓTICO – FLORA ................................................................................ 149
4.2.1. CARACTERIZAÇÃO REGIONAL DA COBERTURA VEGETAL ............................ 150
4.2.2. COBERTURA VEGETAL LOCAL.................................................................. 151
4.3. MEIO BIÓTICO – FAUNA ................................................................................ 152
4.3.1. CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA REGIONAL E LOCAL..................................... 153
4.4. MEIO ANTRÓPICO ......................................................................................... 158
4.4.1. POTENCIALIDADE TURÍSTICA ................................................................. 161
4.5. MONITORAMENTOS AMBIENTAIS .................................................................... 163
4.5.1. PROGRAMA DE MONITORAMENTO HÍDRICO SUPERFICIAL E SUBTERRÂNEO . 163
4.5.2. MONITORAMENTO GEOTÉCNICO ............................................................. 164
4.5.3. PROGRAMA DE CONTROLE DA QUALIDADE DO AR..................................... 166
4.5.4. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE VIBRAÇÕES ..................................... 167
xiv
CAPÍTULO I
1.INTRODUÇÃO
A Companhia Vale do Rio Doce – Vale foi criada em 1o de junho de 1942, pelo Governo
Federal, visando explorar minério de ferro no Estado de Minas Gerais. Ao longo de sua
história expandiu a atuação do Sudeste para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte do
Brasil, diversificando o “portifólio” de produtos minerais e consolidando a prestação de
serviços logísticos. Atualmente, a Vale está presente em 14 estados brasileiros e em cinco
continentes: América, Europa, África, Ásia e Oceania. A Vale é líder mundial no mercado
de minério de ferro e pelotas, segunda maior produtora global de manganês e ferroligas,
além de maior prestadora de serviços de logística do Brasil. A Vale foi privatizada em 06
de maio de 1997 no governo de Fernando Henrique Cardoso.
15
não possui um plano de fechamento.
Não foram considerados neste trabalho aspectos relativos ao custo de fechamento da mina.
A abordagem ateve-se aos aspectos técnicos, operacionais, físicos, bióticos e antrópicos.
A mina de Gongo Soco está inserida na região conhecida como Quadrilátero Ferrífero. O
Quadrilátero Ferrífero localiza-se no centro do Estado de Minas Gerais ao sul da reserva da
biosfera da Serra do Espinhaço e a sudeste de Belo Horizonte, capital do Estado, e tem
aproximadamente 7000 km2. É formado por uma região geologicamente importante, com
4,5 bilhões de anos, e considerado uma das principais províncias metalogenéticas do
Brasil, exibindo importantes jazimentos de ferro, ouro e manganês. A situação atual da
exploração dos bens minerais configura um complexo minerário de grande vulto, com um
papel sócio-econômico relevante para o Estado e para o município de Barão de Cocais, no
qual Gongo Soco se insere.
Os limites do Quadrilátero Ferrífero são bem marcados: ao norte, a serra do Curral, limite
sul do município de Belo Horizonte; a oeste, a Serra da Moeda, paralela à rodovia BR-040,
que liga Belo Horizonte à cidade do Rio de Janeiro; a sul, a serra de Ouro Branco e a leste
a serra do Caraça. Tais serras configuram-se como bordas do Quadrilátero Ferrífero, cuja
variedade litológica propiciou o desenvolvimento de ecossistemas também variados.
De acordo com Câmara & Murta (2007), além da riqueza minerária, o Quadrilátero
Ferrífero faz parte de duas das mais importantes bacias hidrográficas de Minas Gerais – A
bacia do rio Doce e a do rio das Velhas, e de dois dos mais ricos e ameaçados biomas do
planeta – o Cerrado e a Mata Atlântica, considerados hotspots, áreas prioritárias para a
conservação da natureza mundial, por sua imensa biodiversidade e pela situação crítica de
preservação em que se encontram (Figura 1.1). São os únicos hotspots indicados no
território brasileiro, dos 34 existentes no planeta. Juntos, somam mais de 4000 espécies
16
endêmicas da flora, apesar de reduzidos, hoje, a menos de 25 % de sua área original.
Os hotspots, que representam 1,4 % da superfície terrestre, são regiões de elevada riqueza
biológica, abrigam a maior parte da biodiversidade do planeta e estão sob alto grau de
ameaça, com 70 % ou mais da vegetação original já destruída. A Mata Atlântica encontra-
se reduzida a menos de 6,8 % da sua área inicial. As estimativas indicam que existem cerca
de 20.000 espécies diferentes de plantas vasculares nesse bioma, mais da metade
endêmicas.
A Figura 1.1 mostra os hotspots com maior riqueza de espécies (A), espécies endêmicas
(B) e espécies ameaçadas (C). Como não há superposição entre os três, a seleção de áreas
protegidas deve levar em conta a complementaridade entre eles (imagens: PNAS -
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America).
17
objetivo final da mineração é extrair, produzir e vender um bem mineral, de interesse
econômico e potencialmente interessante ao mercado consumidor, em condições técnicas e
econômicas adequadas e sem impactos sócio-ambientais incompatíveis. Nesta temática
sócio-ambiental, estão hoje os maiores desafios de implantação e desenvolvimento
criterioso de uma empresa de mineração (Gomes, 2005).
Segundo Neto, S. E. & Santos, L.M. (2006), “Em relação àqueles que se opõem ou fazem
restrições estritas às mineradoras, é necessário que compreendam que a civilização se
ergue sobre equipamentos cuja matéria-prima é o minério. Para proibir a atividade
minerária, seria preciso, primeiramente, encontrar soluções alternativas realistas para
construção desses equipamentos. Enquanto essas alternativas não existirem, cumpre lutar
por empreendimentos minerários comprometidos com a adoção de medidas de controle
ambiental, capazes de prevenir ou mitigar os impactos que a mineração gera sobre o meio
ambiente”.
Neto, S. E. & Santos, L.M. (2006) afirmam, ainda que, “a única saída para a atividade
minerária é a de que seus empreendedores assumam uma atitude que leve à implementação
de medidas de controle ambiental. A mineração não pode prosseguir produzindo
intervenções que comprometem os direitos difusos: recursos hídricos conservados,
integridade da paisagem, boa qualidade do ar. A sociedade já se mobiliza nesse sentido e o
poder público exige o cumprimento dessas obrigações, que estão estabelecidas em leis.
Além disso, muitos dos empreendedores já têm consciência dessa necessidade não só
porque o descumprimento da legislação implica pagamento de pesadas multas, mas
também porque cresce na mineração a inclusão de uma gestão com responsabilidade social
e ambiental. Assim, firma-se a certeza de que é melhor usar os recursos financeiros em
obras de prevenção de impactos sobre o meio ambiente ou de recuperação, no caso de já
terem eles ocorrido, do que despendê-los com o pagamento de multas”.
18
ligados à temática ambiental (empresários, sociedade civil, governo e organizações não
governamentais) um novo padrão de comportamento ambiental surge. As empresas
tiveram que se enquadrar incorporando na estrutura organizacional o planejamento
ambiental estratégico para sua sobrevivência e competitividade. No caso específico do
setor mineral introduziram-se nos projetos de mineração, na sua versão mais
contemporânea, os aspectos ambientais em todas as etapas existentes do empreendimento
acrescentando-se uma nova etapa – a desativação.
Segundo Souza (2001), o planejamento da mineração foi também afetado pela dimensão
ambiental, tendo em conta que novos elementos técnicos e econômicos (investimentos,
custos e até mesmo receita), relacionados com a questão ambiental, foram incorporados na
montagem das distribuições dos fluxos de caixa dos projetos, de modo a refletir os
resultados econômicos (liquidez, rentabilidade e risco) do empreendimento, bem como a
exigência de maior alocação de recursos.
Segundo Lima & Wathern (1999), há três fatores principais que justificam a necessidade
19
de se estabelecer o plano de fechamento para uma mineração:
• Diminuição dos custos por meio do planejamento antecipado da etapa de
fechamento da mineração;
• Prevenção contra possíveis penalidades jurídicas; e
• Adequação às novas regulamentações ambientais, que exige a apresentação de um
plano de fechamento.
A integração entre operação e plano de fechamento é uma prática que deve ser
considerada. Nos países europeus, no Canadá, nos EUA e na Austrália, o fechamento de
uma atividade é tema que faz parte do projeto a ser desenvolvido. Geralmente, tais planos
são um componente do Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA) implantado pelas
empresas.
A mina de Gongo Soco (unidade operacional) é certificada pela ISO 14001, desde julho de
2002.
No final dos anos 90, os escândalos corporativos abalaram os Estados Unidos (EUA). O
20
temor de conduta perniciosa por parte de administradores gerou uma verdadeira crise de
confiança nas práticas contábeis e de governança corporativa. As suspeitas sobre a
integridade dos balanços e demonstrativos financeiros afetaram profundamente o mercado
de capitais e alimentaram a queda das Bolsas de Valores.
Motivada por escândalos financeiros corporativos que afetou a empresa de auditoria Arthur
Andersen, a Lei Sarbox foi redigida com o objetivo de evitar o esvaziamento dos
investimentos financeiros e fuga dos investidores, causada pela aparente insegurança a
respeito da governança adequada das empresas. Ela busca garantir a criação de
mecanismos de auditoria e segurança confiáveis nas empresas, incluindo regras para a
criação de comitês e comissões encarregadas de supervisionar suas atividades e operações
de modo a mitigar riscos aos negócios, evitar a ocorrência de fraudes, ou ter meios de
identificar quando elas ocorrem, garantindo a transparência na gestão das empresas.
21
1.1.OBJETIVO DO TRABALHO
Apresentar uma proposta de um Plano de Fechamento de Mina (descomissionamento),
tomando-se como base uma avaliação mínero-geoambiental, em função de um projeto de
expansão da mina de Gongo Soco projetado até 2014.
1.2.METODOLOGIA DO TRABALHO
As etapas descritas a seguir deram subsídios para análise e elaboração da proposta desta
dissertação.
22
(2006);
• Estudo, análise e interpretação do Diagnóstico de Utilização e Consumo de Água
no Complexo Industrial de Gongo Soco, elaborado pela Golder Associates Brasil
Consultoria e Projetos Ltda (2005);
• Análise e interpretação dos estudos hidrogeológicos (caracterização dos aqüíferos
locais) e do modelo hidrogeológico de circulação e saturação dos taludes, elaborado
pela Mdgeo – Serviços de Hidrogeologia Ltda (2003);
• Análise e interpretação do Relatório Técnico para Outorga de Água Superficial –
Avaliação das Disponibilidades Hídricas das Bacias dos Córregos do Vieira e
Capim Gordura na Área de Atuação da Mina de Gongo Soco, elaborado pela
Mdgeo (2002).
• Interpretação e análise dos projetos ambientais nos quais o autor desta dissertação
participou de forma efetiva como coordenador técnico dos estudos desenvolvidos
em Gongo Soco no período de 2003 a 2008, destacando-se: RCA/PCA –
Ampliação da Mina de Gongo Soco (Nicho, 2003); RCA/PCA – Implantação da
Pilha de Disposição de Estéril Nordeste – PDE Nordeste – (Nicho, 2004),
RCA/PCA de Implantação da Estrada de Acesso entre a Cava e a PDE Nordeste
(Nicho, 2004), EIA/RIMA de Ampliação da Cava de Gongo Soco (Lume, 2006),
PCA de Ampliação da cava de Gongo Soco – 2014 (Lume, 2007) e EIA/RIMA de
Ampliação da PDE Nordeste (Lume, 2007);
• Análise, interpretação, acompanhamento e elaboração das figuras existentes no
corpo desta dissertação (mapeamento) utilizando-se base georeferenciada –
Sistemas UTM com Datum SAD69 – Zona 23S sendo as conversões feitas
utilizando-se de software de Sistemas de Informação Geográfica – SIG. Utilizou-se
também para a elaboração das figuras rasters de diferentes datas para o
mapeamento de uso do solo, sendo: aerolevantamento de 2003 e aerolevantamento
a laser/ortofotocarta – aeroimagem aerofotogrametria S/A juntamente com
topografia atualizada da mina em 2007;
• Revisão bibliográfica do tema proposto e correlato; e
• Propostas de fechamento (descomissionamento) e pós-fechamento do
empreendimento mineiro.
23
1.2.2.COMPOSIÇÃO DE DADOS ANALISADOS
Com base no projeto de expansão da lavra para o período analisado (2007-2014), foi
possível elaborar e contextualizar todo o empreendimento de Gongo Soco com vistas a
caracterizar, diagnosticar, analisar e interpretar o sítio minerário do ponto de vista técnico,
operacional e ambiental. Tais informações deram subsídios para apresentação de
proposições de descomissionamento do empreendimento. Além da revisão bibliográfica o
corpo desta dissertação seguiu os seguintes itens descritos abaixo:
• Caracterização;
• Diagnóstico ambiental (meios físico, biótico e antrópico);
• Proposições de fechamento da mina de Gongo Soco;
• Conclusão;
• Sugestões; e
• Referências bibliográficas.
24
CAPÍTULO II
2.– REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.A IMPORTÂNCIA DA MINERAÇÃO E CONTEXTO ECONÔMICO
ATUAL
De acordo com Farias (2002), a mineração é um dos setores básicos da economia do país,
que contribui de forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das
presentes e futuras gerações, sendo fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade
equânime, desde que seja operada com responsabilidade social, estando sempre presentes
os preceitos do desenvolvimento sustentável.
A Figura 2.1 ilustra a produção bruta de minério (ROM) de minério de ferro, valores
obtidos diretamente da mina, sem sofrer qualquer tipo de beneficiamento.
25
Produção Bruta de Minério de Ferro (ROM)
346.655.421
350.000.000
310.781.916
300.000.000 267.759.089
50.000.000
0
2001 2002 2003 2004
Ano Base
Brasil Minas Gerais
De acordo com o Anuário Mineral Brasileiro (AMB, 2005), todas as minas do Brasil que
produzem minério de ferro são desenvolvidas a céu aberto, totalizando 51 minerações.
Deste total, 33 minas enquadram-se na modalidade de grande porte (produção de ROM
superior a 1.000.000 t/ano = 1 Mt/ano – conforme determina o Departamento Nacional de
Produção Mineral – DNPM), 06 de médio porte (produção de ROM superior a 100.000 t e
inferior a 1M t/ano) e 12 empresas enquadram-se de pequeno porte (produção inferior a
100.000 t/ano).
Outro dado relevante extraído do Anuário Mineral Brasileiro (2005) é que dentre as 51
minerações cadastradas (mineração de ferro), 82,35% estão inseridas no Estado de Minas
Gerais, ou seja, 42 empreendimentos minerários.
De acordo com a Figura 2.2, observa-se que em 4 anos, as minas de minério de ferro
localizadas em Minas Gerais movimentaram um montante de 927.645.319t (927,64Mt),
quase 1 bilhão de toneladas. Deste montante de ROM movimentado, beneficiou-se neste
período 534.122.948t (534,12Mt) uma recuperação de 57,58% de Fe, perfazendo uma
26
média anual da ordem de 133,53Mt/ano de produtos gerados e comercializados. Outro
dado relevante é que as mineradoras inseridas no Quadrilátero Ferrífero movimentaram
263,51Mt de ROM de minério de ferro. Deste montante, 153,27Mt correspondem ao
minério de interesse, ferro contido com um teor médio global da ordem de 58,16%.
1.000.000.000 927.645.319
900.000.000
T 800.000.000
o 700.000.000
n 534.122.948
600.000.000
e
l 500.000.000
a
400.000.000
d 263.512.556
300.000.000 219.182.569 240.164.577
a 204.785.617
s 153.268.791
200.000.000 118.932.925 127.122.406 134.798.826
100.000.000
0
2001 2002 2003 2004 T otal
27
Reservas de minério de ferro - Brasil x Minas Gerais
67.622.463.082
70.000.000.000
60.000.000.000
T
50.000.000.000 43.937.334.871
o
n
e 40.000.000.000
l
a 30.000.000.000
d
a 15.565.670.201
20.000.000.000
s 10.970.731.923
8.877.824.795 8.778.643.127
10.000.000.000
0
Me didas Indicadas Infe ridas Total Lavráve is
A Produção Mineral Brasileira – PMB em 2005, incluindo petróleo e gás natural, alcançou
R$ 84,250 bilhões a preços correntes, ou 4,35% do Produto Interno Bruto – PIB. Tal
desempenho é devido principalmente ao resultado da manutenção dos altos preços das
28
“commodities” minerais.
De acordo com o Haddad (2006a), o futuro reservará um lugar cada vez mais destacado
para a mineração, mas, também, mais exigente, já que se trata de recursos naturais não
renováveis, exigindo tecnologias e processos de produção/extração altamente sofisticados
com o mínimo de desperdícios e o máximo de aproveitamento das reservas; as minerações
vão se tornando indústrias de tecnologia avançada, até como condição da sobrevivência
dos seres humanos sobre a terra e do próprio negócio.
As regiões de mineração passam a ter um novo e importante papel nas economias nacional
e mundial, de tal modo que terão de receber maior atenção tanto do Poder Público, quanto
do mundo empresarial e de toda a sociedade. Exemplo clássico são os investimentos
recentes realizados pela Vale nas minas de Brucutu e Gongo Soco inseridas nos municípios
de São Gonçalo do Rio Abaixo e em Barão de Cocais, respectivamente, ambos situados no
Estado de Minas Gerais.
De acordo com estes dois exemplos, pode-se afirmar que a indústria mineral brasileira
atravessa a melhor fase da história recente do País.
O Brasil, por sua geodiversidade privilegiada e extensão continental, ocupa uma posição de
destaque pela reconhecida vantagem comparativa de suas jazidas e minas de classe
internacional, posicionando-se competitivamente na arena de mercado internacional de
commodities minerais ombreando Austrália, Canadá, China e África do Sul, concorrentes
detentores de grandes reservas minerais.
29
2.2.RECURSOS E RESERVAS MINERAIS DO BRASIL
De acordo com DNPM (2005), o Brasil ocupa importante posição no ranking internacional
de reservas minerais, ver Tabela 2.1.
O Brasil destaca-se como líder mundial na produção do nióbio (96,9%) e tantalita (46,3%),
seguidos pela grafita natural (26,8%) em que ocupa a segunda posição. Na terceira posição
destaca-se o alumínio (8,3%) e a vermiculita (5,7%). Na quarta posição tem-se a magnesita
(8,9%) e em quinto lugar no ranking em termos de reservas minerais tem-se o ferro (7,2%)
e o manganês (2,5%).
De acordo com o Guia do Investidor (2006), o Brasil desponta entre os países com
condições mais favoráveis à atração de investimentos externos diretos para o Setor
Mineral. Pesquisas divulgadas pelo The Fraser Institute (2005) o situa na 13ª posição no
ranking internacional. Enfim, a partir de recente exercício de cenário desenvolvido pelo
30
Goldman Sachs Bank, aponta o Brasil entre as economias mais fortalecidas do mundo,
superando o PIB de países do G-7 como Reino Unido, Alemanha e França.
De acordo com BDMG (2002), no século XX, a mineração brasileira foi marcada
especialmente pelo período do “ferro”. Destaca-se também a importância do manganês
neste período. Durante todo esse século, o Brasil foi um importante exportador de
manganês de alto teor, para fabricação de ferro-ligas, inicialmente em Minas Gerais,
depois no Amapá. No que tange à mineração de ferro, vale lembrar que os primeiros altos-
fornos construídos no País datam do início do século XIX, em São João de Ipanema
(Sorocaba, São Paulo) e na Fábrica do Morro do Pilar (Minas Gerais). A primeira corrida
de ferro-gusa em alto-forno ocorreu, no Brasil, em 1814. Ainda naquele século, destacou-
se a usina construída pelo engenheiro francês Jean de Monlevade Guimarães. Em 1876, foi
criada a Escola de Minas de Ouro Preto, que, além de formar os primeiros metalurgistas
brasileiros, contribuiu para a introdução de novas técnicas no incipiente ramo de atividade.
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi criada em 1942, a partir da incorporação da
mineradora inglesa Itabira Iron Ore ao patrimônio do governo federal do Brasil, com o
objetivo de produzir hematita para alimentar a indústria bélica dos ingleses durante a
Segunda Guerra Mundial.
31
Em 2006, as vendas de minério de ferro e pelotas da Vale alcançaram 272,682 milhões de
toneladas (272,68Mt), ultrapassando em 8,1% a marca verificada no ano anterior. Os
embarques de minério de ferro somaram 238,728 milhões de toneladas, enquanto que as
vendas de pelotas totalizaram 33,954 milhões de toneladas.
Com a aquisição da Inço, a Vale tornou-se a segunda maior empresa do mundo na indústria
de mineração e metais por capitalização de mercado. Entre dezembro de 2001 e fevereiro
de 2007, o valor de mercado da Vale aumentou em mais de US$ 75 bilhões, com o retorno
total para o acionista no período 2001 a 2006 chegando a 42,7% ao ano.
Nos últimos cinco anos a remuneração paga ao acionista somou US$ 4,7 bilhões, tendo
sido proposto para 2007 o pagamento de US$ 1,65 bilhão, equivalente a US$ 0,68 por ação
com elevação de 27 % em relação aos US$ 1,3 bilhão distribuídos no ano passado (R$ 2,8
bilhões), correspondentes a US$ 0,536 por ação (R$ 1,147 por ação).
32
mil toneladas), potássio (732 mil toneladas) e caulim (1,352 milhão de toneladas), os quais
se refletiram em embarques recordes desses produtos. Os principais recordes da Vale em
2006 são:
1. Embarques
• Minério de ferro e pelotas – 276,021 milhões de toneladas;
• Alumina – 3,221 milhões de toneladas;
• Alumínio primário – 485 mil toneladas;
• Cobre – 169 mil toneladas;
• Potássio – 733 mil toneladas; e
• Caulim – 1,323 milhão de toneladas.
2. Indicadores financeiros
• Receita bruta de US$ 20,4 bilhões;
• Lucro operacional (lucro antes de juros e impostos), de US$ 7,6 bilhões;
• Geração de caixa, medida pelo EBITDA1 ajustado (lucro antes de despesas
financeiras, impostos e depreciação), de US$ 9,2 bilhões;
• Lucro líquido de US$ 6,5 bilhões, correspondente a US$ 2,69 por ação;
• Investimentos de US$ 26,0 bilhões, sendo US$ 3,2 bilhões em crescimento
orgânico, US$ 1,3 bilhão na sustentação dos negócios existentes e US$ 21,5 bilhões
em aquisições.
1
EBITDA é a sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, que traduzido literalmente para o
português significa: lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Termo muito utilizado por analistas financeiros na
análise de balanços contábeis de empresas de capital aberto. Para se chegar ao EBITDA de uma empresa, é preciso utilizar a seguinte
conta: lucro bruto menos as despesas operacionais, excluindo-se destas a depreciação e as amortizações do período. Dessa forma, é
possível avaliar o lucro referente apenas ao negócio, descontando qualquer ganho financeiro. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/EBITDA. Acesso em: 21 de agosto de 2006.
33
O Código de Mineração (Decreto-Lei 227, de 28/02/67) disciplina os regimes de
exploração e aproveitamento dos recursos minerais brasileiros. Conceitua um conjunto de
normas e as condições de acesso ao subsolo – por autorizações, concessões, licenças e
permissões – e estabelece os direitos e deveres dos titulares de direitos minerários. Dispõe,
ainda, sobre a competência do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM,
vinculada ao Ministério de Minas e Energia – MME – na administração dos recursos
minerais e na fiscalização da atividade mineral no País.
Em relação à questão ambiental, Machado (1989) descreve que desde o início da década de
70, os países desenvolvidos aprenderam uma dura lição: a continuarem as práticas
industriais em vigor, os danos ambientais se tornariam irreversíveis, comprometendo
seriamente o bem-estar de suas populações. Conscientes desses riscos deram uma guinada
em sua política industrial, assumindo posições restritivas à atuação do setor produtivo.
Em 198, o País promulgou uma Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) que
em seu art. 2o cita:
“A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana”.
34
A Constituição Federal (1988) condiciona o aproveitamento dos recursos minerais com
base em premissas, ou seja, da proteção, conservação e racionalidade da exploração dos
recursos ambientais. O Art. 255 da Constituição Federal cita que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
35
plano pré-estabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de
uma estabilidade do meio ambiente.”
De acordo com Neto, S.E. & Santos, L.M. (2006), em resposta às exigências legais, as
empresas mineradoras se impuseram a obrigação de implementar medidas que mitiguem os
impactos causados por suas atividades. Com esse mesmo objetivo, os especialistas, os
pesquisadores e os técnicos têm procurado desenvolver estudos e práticas que visam à
busca das soluções mais adequadas a cada situação concretamente enfrentada – inclusive
no que se refere à viabilidade econômica de implementação das propostas ante o
investimento do empreendimento – de maneira a tornar compatíveis a necessidade de
conservação do meio ambiente e os interesses econômicos. Em face das imposições legais,
citadas anteriormente, a empresa vê-se compelida a promover estudos para avaliar a
situação ambiental de seu empreendimento com vistas ao processo de licenciamento.
36
A SEMAD tem como principal objetivo formular e coordenar a política estadual de
proteção e conservação do meio ambiente e de gerenciamento dos recursos hídricos e
articular as políticas de gestão dos recursos ambientais, visando ao desenvolvimento
sustentável no Estado de Minas Gerais. O SISEMA é formado pela SEMAD, pelos
conselhos estaduais de Política Ambiental – COPAM e de Recursos Hídricos – CERH e
pelos órgãos vinculados: Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM, Instituto
Estadual de Florestas – IEF e Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM.
“A FEAM tem por finalidade executar, no âmbito do Estado de Minas Gerais, a política de
proteção, conservação e melhoria da qualidade ambiental no que concerne à prevenção, à
correção da poluição ou da degradação ambiental provocada pelas atividades industriais,
37
minerárias e de infra-estrutura, bem como promover e realizar estudos e pesquisas sobre a
poluição e qualidade do ar, da água e do solo” (FEAM, 2006).
“O IGAM é responsável pela concessão de direito de uso dos recursos hídricos estaduais,
pelo planejamento e administração de todas as ações voltadas para a preservação da
quantidade e da qualidade de águas em Minas Gerais. Coordena, orienta e incentiva a
criação dos comitês de bacias hidrográficas, entidades que, de forma descentralizada,
integrada e participativa, gerenciam o desenvolvimento sustentável da região onde atuam”
(IGAM, 2006).
38
empreendedor de qual (is) estudo (s) ambiental (is) deverão ser elaborados. O FOBI é
gerado com base nas informações prestadas pelo empreendedor no FCEI e na legislação
ambiental pertinente. Atualmente o FCEI pode ser preenchido e encaminhado via on line
com assinatura digital, compondo o Sistema Integrado de Informação Ambiental – SIAM.
39
As unidades de conservação de uso sustentável dividem-se em áreas de proteção
ambiental, reservas particulares de patrimônio natural, florestas nacionais, áreas de
relevante interesse ecológico, reservas extrativas, reservas da fauna e reservas de
desenvolvimento sustentável.
Minas Gerais é o primeiro estado do país a definir percentuais superiores aos 0,5% dos
custos totais previstos para a implantação do empreendimento estabelecidos pela legislação
federal, podendo alcançar até 1,1% caso o empreendimento esteja previsto para ser
instalado em áreas consideradas prioritárias para a conservação. O valor da compensação
também pode chegar a 1,1% caso o empreendimento esteja localizado em áreas em que se
localizem espécies ameaçadas ou esteja a menos de cinco quilômetros de unidades de
conservação de proteção integral: os parques, reservas biológicas, estações ecológicas,
monumentos naturais e refúgios de vida silvestre.
A avaliação do grau de impacto é feita a partir dos estudos ambientais solicitados pela
Câmara de Proteção da Biodiversidade (CPB) do COPAM no processo de licenciamento
ambiental.
De acordo com Mesquita (2004) foi somente em 2000 que as Reservas Particulares de
Patrimônio Natural – RPPN’s conquistaram o status de Unidades de Conservação (UC’s),
com a aprovação da Lei SNUC que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, fazendo do Brasil o único país da América Latina a incluir as
reservas privadas no seu sistema de áreas protegidas oficialmente.
“As RPPN’s são unidades de conservação de domínio privado, criadas por iniciativa do
proprietário da área, mediante ato de órgão governamental (IBAMA ou órgão estadual de
meio ambiente, quando houver regulamentação no estado), desde que constatado o
interesse público. Pelo SNUC, as RPPN’s devem ter como objetivo principal a
40
conservação da diversidade biológica. Nas RPPN’s o dono da terra continua sendo o
proprietário, e pode contar com o apoio do IBAMA e dos órgãos de meio ambiente, assim
como das entidades ambientalistas, no planejamento do uso, manutenção e proteção dessas
reservas” (Mesquita et al, 2004).
Quem cria uma RPPN tem isenção do Imposto Territorial Rural – ITR para a área
declarada, pode encaminhar projetos para o Fundo Nacional do Meio Ambiente, através de
organizações da sociedade civil, fundações ou órgãos públicos, para financiar a
manutenção da reserva. As RPPN’s podem ser criadas em qualquer ecossistema, em todos
os biomas existentes do território nacional onde haja propriedades particulares.
De acordo com a Lei do SNUC (Lei 9.985, de 18/07/2000), em seu artigo 22, RPPN é:
“uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de
conservar a diversidade biológica”, na qual só podem ser
realizadas atividades relacionadas à pesquisa científica e à
visitação, seja com fins turísticos, recreativos ou educacionais”
(Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,
2000).
Nenhum proprietário de RPPN está obrigado a abrir sua reserva para visitantes ou
pesquisadores (direito à propriedade). Entretanto, é importante ressaltar que aqueles que
têm buscado o apoio e a parceria de instituições de meio ambiente, de centros de pesquisa
ou de universidades, sejam públicas ou privadas, têm podido realizar com maior
efetividade as ações que asseguram, em longo prazo, a concretização de seu desejo,
expresso no ato de criação da RPPN: a proteção do patrimônio natural de sua propriedade
em perpetuidade e de maneira sustentável. (Mesquita et al, 2004).
Segundo Mesquita (2004) a Reserva Legal (RL) estabelecida pelo Código Florestal é uma
obrigação de todo proprietário de imóvel rural. No caso da Mata Atlântica, todas as
propriedades devem manter pelo menos 20% da sua área com a cobertura florestal original,
sem desmatá-la. Já as RPPN’s são criadas de maneira voluntária pelos proprietários, e para
as mesmas não há limitação de tamanho nem de porcentagem da área do imóvel. Uma RL
não é uma área com vegetação intocável. Nela podem ser realizadas atividades de
41
extrativismo, desde que de maneira planejada e sustentável, especificamente para obtenção
de produtos necessários para a manutenção e manejo da propriedade agrícola. O que não
pode haver é a supressão total da vegetação original.
Uma RPPN é uma área protegida com uso muito mais restrito do que uma RL. Por esta
razão, e por ser de caráter voluntário, é que não há impedimento para o reconhecimento de
RPPN sobre áreas já averbadas como Reserva Legal, desde que o proprietário esteja ciente
que, sob esta nova regulamentação, não poderá mais utilizar, de maneira direta, os recursos
naturais da área. Por se tratar de um ato voluntário, a criação de uma RPPN deve expressar
o desejo do proprietário da área, e não se atrelar a uma "condicionante compensatória" em
Termos de Ajustamento de Conduta – TAC para atividades que produzem impactos
negativos no ambiente natural.
A Vale preserva nove RPPN’s (Tabela 2.2), totalizando 7.737,62 hectares com vegetação
em vários estágios de regeneração na região do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais.
Duas RPPN’s estão localizadas na bacia do rio das Velhas (RPPN Mata do Jequitibá e
Poço Fundo) e sete na bacia do rio Doce (RPPN Comodato Peti, Sobrado, Mata São José,
Mata do Itabiruçu, Capivari, Horto Alegria e do Diogo).
A área de propriedade da Vale em Gongo Soco totaliza 1.443,92 hectares, já incluindo duas
Unidades de Conservação enquadradas na categoria de Reserva Legal (Figura 2.4).
De acordo com a Figura 2.4, verifica-se que nas proximidades da área de propriedade uma
terceira reserva legal pertencente à mineração Santa Inês, compondo um corredor
ecológico. Na porção leste observa-se uma área tombada pelo Instituto Estadual de
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA, homologada pela Secretaria de
Estado da Cultura em 11 de maio de 1995, totalizando 83,44 ha e que intercepta parte da
propriedade da Vale. Trata-se de um conjunto paisagístico de ruínas de Gongo Soco do
século XVIII e XIX.
42
Tabela 2.2 – RPPN’s da VALE inseridas no Quadrilátero Ferrífero.
Tipologia Vegetal
RPPN Localização Município Área (ha) Portaria Estudos Faunísticos
Predominante
23 espécies de peixes.
Portaria do
142 de aves
IEF em
32 mamíferos
Mata do Mina Córrego regularização Floresta Estacional
Brumadinho 70,50 Observam-se algumas ameaçadas
Jequitibá do Feijão No 050 de Semidecidual
de extinção tais como: cuitelão
05/04/2004
(ave), o guigó, o lobo-guará e a
jagatirica.
Presença de Floresta
Portarias do Estacional
IBAMA Semidecidual,
Observam-se algumas espécies
Mina de 36/95-N- enclaves de campo
Poço Fundo Congonhas 426,37 ameaçadas de extinção tais como: o
Fábrica 02/06/95 e limpo e campo
lobo-guará e o pavó.
103/01- rupestre.
03/09/2001 Abriga 44 nascentes
cadastradas.
A localização contígua à RPPN
Matas ciliares de Santuário do Caraça e à RPPN
encosta, nos domínios Alegria forma um “corredor
de transição entre ecológico” importante iniciativa de
Mina de Ouro Santa Bárbara Em análise no
Capivari 2500 Mata Atlântica e conservação da fauna e flora
Fino e Itabirito IEF
cerrado lato sensu proporcionando o aumento gênico
(cerrado, campo entre as populações. Nesta RPPN
cerrado e campo de foram registradas 282 espécies de
altitude) aves.
Situada na transição A RPPN Horto Alegria é conectada
entre os domínios da à RPPN Santuário do Caraça
Mata Atlântica e do (segunda maior do estado de MG).
Mina de Em análise no cerrado. Ambas formam um corredor
Horto Alegria Mariana 3661,84
Alegria IEF Mata estacional natural, propiciando espaço para a
semidecidual, mata fauna de maior porte (sussuaranas,
ciliar, campo cerrado e lobos-guará, dentre outras
campo limpo. espécies).
Contígua à RPPN Peti (apresenta
Matas estacionais
Portaria 231 espécies de aves). Acredita-se
semideciduais e matas
Sobrado Mina de Santa Bárbara IBAMA No que muitas espécies que ocorrem
43,06 ciliares do bioma da
Brucutu 109, de nas RPPNs Peti e Comodato Peti
Mata Atlântica
08/08/2002 tansitem pela RPPN Sobrado.
Área praticamente contígua à
RPPN Peti de propriedade da
CEMIG, com cerca de 650 ha. As
Portaria duas unidades de conservação
Matas estacionais
Mina de São Gonçalo IBAMA abrigam espécies ameaçadas de
Comodato Peti 96,41 semideciduais e matas
Brucutu do Rio Abaixo 99/01- extinção como o pavó, o jacu, o
ciliares inseridas no
13/09/2001 catitu, a sussuarana, dentre outras
bioma Mata Atlântica.
espécies que necessitam de grandes
áreas para reprodução, abrigo e
trocas genéticas.
Inserida no bioma da Mata
Matas secundárias, Atlântica, a estrutura florística e
capoeiras baixas, fisionômica da cobertura vegetal
Em pastos sujos, matas de varia conforme mudanças
Mina de Água implantação eucaliptos, áreas pedológicas, topográficas e
Do Diogo Rio Piracicaba
Limpa 195,31 Portaria do assoreadas e focos microclimáticas. A área se encontra
IEF No 13 de erosivos resultantes de em recuperação com introdução de
04/02/2005 antigos garimpos de vegetação nativa.
ouro em regeneração. Observaram-se 128 espécies de
aves e 34 de mamíferos.
Portaria do Matas estacionais Conectada à RPPN Mata São José
Mata do Mina de
Itabira 221,36 IEF No254, de semideciduais e matas de propriedade da V preserva
Itabiruçu Conceição
27/12/2005 ciliares. muitas espécies da fauna.
Muitas espécies endêmicas da
Mata Atlântica são registradas tais
Matas estacionais como: guigó, a douradinha, a
Portaria do
semideciduais e matas cigarra-bambu, a choquinha-de-
Mata São José Mina de Cauê Itabira 522,40 IEF No252, de
ciliares, inseridas no dorso-vermelho, o tié-preto, o
27/12/2005
bioma Mata Atlântica. soldadinho, o gavião-pombo,
surucuá-de peito-azul, dentre
outras.
Fonte: Modificado de Câmara & Murta. Quadrilátero Ferrífero: biodiversidade protegida, 2007.
43
2.4.1.LEI DE CRIMES AMBIENTAIS
A Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 dispõe sobre sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. No artigo 55, menciona:
“executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a
competente autorização, permissão, concessão ou licença ou em
desacordo com a obtida”. Em caso de não cumprimento, o
empreendedor corre o risco de detenção, de seis meses a um ano, e
multa. Em seu parágrafo único, menciona: “nas mesmas penas
incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada,
nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou
determinação do órgão competente”.
Assim, a responsabilidade civil daquele que explorar recursos minerais advém do nexo
causal entre a atividade de mineração legalmente autorizada e o dano ambiental causado
por ela; a responsabilidade administrativa decorre da execução da atividade de mineração
em desacordo com as medidas de controle ambiental e condicionante da licença ambiental;
e a responsabilidade penal depende da aferição da vontade do infrator em praticar (com
dolo ou culpa) as infrações penais tipificadas em lei.
A Lei n.º 7.805 de 18 de julho de 1989 em seu artigo 19, responsabiliza o minerador pela
reparação dos danos causados ao meio ambiente in verbis: "o titular da autorização de
pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de
manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente."Do ponto de vista
jurídico, a não recuperação do dano ambiental causado pela atividade de mineração pode
acarretar sanções de natureza penal e administrativa, sem desonerar o minerador da
obrigação de recuperar o meio ambiente degradado pela atividade (responsabilidade civil).
44
A administração pública tem o poder de polícia para controlar as atividades que causam
impactos ambientais, por meio do controle direto das fontes geradoras de poluição ou
utilizadoras de recursos naturais. As penalidades administrativas padrões são as de cunho
pecuniário (multa) ou ligadas ao regime autorizativo para o exercício de atividades
(embargo, interdição ou suspensão). A responsabilidade penal é sempre de caráter
subjetivo, pois pressupõe a aferição da vontade do autor para a prática do ato delituoso
definido como crime, enquadrando-a nos parâmetros do dolo (consciência e vontade livre
de realizar a conduta delituosa) ou da culpa (violação do dever de cuidado, atenção e
diligência com que todos devem pautar-se na vida em sociedade). As penalidades criminais
são aplicadas exclusivamente pelo Judiciário.
46
Contudo, o fato marcante é que o setor de mineração no Brasil e em Minas Gerais mostra-
se dinâmico e com perspectivas de crescimento acelerado, corroboradas com importantes
investimentos no setor.
A partir desta lei, as APP’s tiveram sua importância reconhecida por sua função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade física, a biodiversidade, o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas, entendida como aquela área que, coberta ou não por vegetação nativa, é
protegida nos termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal (art. 1º, § 2º, inciso II, do
Código Florestal, com a atual redação dada pela Medida Provisória n.º 2.166-67, de 2001).
A Medida Provisória – MP n° 2.166-67 de 2001 foi criada para alterar os Arts. 1°, 4°, 14°,
16° e 44°, e acrescentar dispositivos ao Código Florestal.
47
O fato de que não existe alternativa locacional para a exploração de jazidas minerais tornou
a questão ainda mais complexa. Desta maneira, a última resolução do CONAMA relativa à
APP’s (Resolução CONAMA n° 369, de 28 de março de 2006), foi construída na tentativa
de criar um mecanismo de utilização dessas áreas desde que seja constatada a utilidade
pública, o interesse social ou o baixo impacto ambiental.
Diante destas perspectivas, Minas Gerais têm como fatores potencializadores à discussão
sobre a exploração legal em APP’s, o fato de o Estado possuir como destaque um relevo
muito acidentado em boa parte de seu território, tornando essa porção propícia a ser APP
de declividade, além de deter um dos mais importantes acervos hídricos do Brasil.
Gongo Soco torna-se um caso específico de que a RC 369 de 2006 foi um avanço, pois
apesar das intenvenções em APP’s, os direitos legais de sua utilização estão
salvaguardados, sendo importante lembrar que é também obrigação do empreendedor
recuperar o ambiente degradado visando garantir o interesse nacional pela utilização e
exploração dos recursos naturais bem como resguardar o meio ambiente natural, de
fundamental importância para a biota terrestre.
O minerador brasileiro tem feito esforços para acompanhar as demandas atuais em torno da
questão ambiental e a mineração. As empresas estão, em sua maioria, aplicando técnicas
mais modernas e ambientalmente mais satisfatórias.
48
busca de soluções técnicas factíveis e economicamente viáveis.
A Lei n.o 11.428, conhecida como Lei da Mata Atlântica foi sancionada em 22 de
dezembro de 2006, e dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma
Mata Atlântica. De acordo com Art. 2o (Capítulo I) considera-se como vegetação
integrante deste bioma as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados:
Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de
Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta
Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de
altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.
49
e) Possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos
competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.
50
extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia
hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica (Art. 17).
De acordo com capítulo VII, da Lei 11.428 (Lei da Mata Atlântica), em seu Art. 32 para
atividades minerárias, somente será admitida a supressão de vegetação secundária em
estágio avançado e médio de regeneração mediante:
I. Licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de EIA/RIMA, pelo
empreendedor, e desde que demonstrada a inexistência de alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto; e
II. Adoção de medida compensatória que inclua a recuperação de área equivalente à
extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma
bacia hidrográfica e sempre que possível na mesma microbacia.
Cabe destacar que a orientação da FEAM é clara. Se houver supressão de vegetação nativa
(remanescentes de Mata Atlântica), mesmo que a estrutura já seja licenciada, a orientação é
que o licenciamento ambiental fique condicionado à apresentação dos seguintes estudos
ambientais: EIA/RIMA, PUP-PTRF e PCA. Após análise e aprovação do órgão ambiental
é emitida a LI.
51
impactante, a orientação é que o empreendedor apresente o EIA/RIMA com vistas a uma
LP. Desta forma, o estudo ambiental é analisado com todos os trâmites normais
(audiências públicas).
Uma reflexão a ser considerada, é que a cada dia a legislação ambiental vem se tornando
mais exigente para com empreendimentos que interferem nos recursos naturais. As
empresas devem buscar alternativas, mudanças conjunturais em suas estruturas
organizacionais buscando novas tecnologias e estratégias de gestão visando à
sobrevivência. Hoje a sociedade se mostra mais organizada e exigente. Sendo assim, as
empresas têm o papel de buscar continuamente uma melhoria de suas atividades,
minimizando ou mesmo reduzindo os impactos ambientais inerentes de suas atividades.
De acordo com Taveira (1997), entende-se mineração como sendo o conjunto de atividades
que têm por objetivo assegurar economicamente, com o mínimo possível de perturbação
ambiental, a justa remuneração e segurança, a máxima utilização dos bens minerais
naturais descobertos (jazidas), criando procedimentos adequados para a sua explotação e
comercialização. A referida definição inclui a preservação e o controle da variável
52
ambiental como uma meta do processo mineral.
De acordo com Taveira (2003) apud Curi (2001). A mineração apresenta as seguintes
etapas de desenvolvimento de sua atividade:
a) Etapa de planejamento composta por prospecção (tem como objetivo a localização de
recursos minerais economicamente viáveis) e exploração ou pesquisa mineral (tem
como objetivo a caracterização e avaliação de ocorrências minerais encontradas na fase
de prospecção e reabilitação ambiental);
b) Etapa de implantação – caracterizada pelo desenvolvimento, que engloba as
operações de preparação da jazida para a lavra;
c) Etapa de operação – caracterizada pela lavra ou explotação (engloba as operações
necessárias para o aproveitamento industrial da jazida – extração do bem mineral),
beneficiamento do minério explotado, reabilitação ambiental (tem como objetivo
mitigar ou mesmo controlar os impactos ambientais produzidos pelas atividades
extrativas e visa facilitar o processo de fechamento da empresa); e
d) Etapa de fechamento – caracteriza-se por ser uma etapa onde não mais ocorre a
extração do minério, devido à exaustão das reservas ou à inviabilidade técnico-
econômica. Há apenas a continuidade dos trabalhos de recuperação ambiental sobre o
meio físico, biótico e antrópico das áreas de influência do empreendimento, visando
promover o descomissionamento em caso de exaustão definitiva, ou o controle dos
aspectos ambientais no caso de paralisação temporária. O descomissionamento é a
transição entre o fechamento e o uso futuro da área. Esse uso é caracterizado como pós-
fechamento e não mais considerado como atividade minerária.
53
ambientais, que pode resultar na deterioração da imagem da empresa junto à sociedade,
sendo esta uma característica particular desse tipo de atividade econômica (Taveira, 2003).
54
discutido e muitas empresas têm preparado seus planos de fechamento anos antes da mina
se esgotar, ou mesmo antes de sua própria abertura, atendendo às exigências da legislação,
da comunidade ou do mercado financeiro.
Instabilidade do terreno
Alterações de morfologia e paisagem
Movimentação de solo Instabilidade de taludes
Mineração e Processamento Solo Subsidência de terrenos
Emissão de material particulado
Alterações de turbidez
Perda de solo
Alteração de turbidez
Superficiais
Contaminação química
Emissões de efluentes líquidos
Emissões de efluentes sólidos em suspensão Águas
Rebaixamento do nível d´água
Alterações nas propriedades
Subterrâneas dos aquíferos (fluxos, recargas
e contaminação)
Turbidez
Figura 2.5 - Aspectos e impactos ambientais - mineração e processamento mineral associados ao meio físico.
Fonte: van Huyssteen (1998).
55
planejamento como os potenciais” (NBR 10.703 – ABNT, 1989). Neste contexto, o termo
“alteração adversa” aproxima-se do conceito de “impacto ambiental negativo”.
Em relação ao meio físico, uma das aproximações mais adequadas é encontrada na ABNT
(1989) fazendo distinção entre os seguintes termos:
• Restauração – termo associado à idéia de reprodução das condições exatas do
lugar, tais como eram antes de ser alteradas pela intervenção humana no meio
físico;
• Recuperação – termo associado á idéia de que o local alterado seja trabalhado de
modo que as condições ambientais finais se aproximem das condições anteriores à
intervenção; ou seja, deve-se devolver o equilíbrio ou estabilidade dos processos
ambientais atuantes anteriormente no local;
• Reabilitação – termo associado à idéia de que o lugar alterado deverá ser destinado
a um determinado uso do solo, de acordo com um projeto prévio e em condições
compatíveis com a ocupação das adjacências, ou seja, deve-se reaproveitar a área
para uma nova finalidade (comercial, industrial, habitacional, agrícola, de proteção
ou conservação ambiental, recreativa, cultural, etc).
56
pós-atividade degradadora, tais como capacitar a área para um uso produtivo (sustentável)
qualquer, incluindo a criação de um ecossistema inteiramente diferente do original. A
recuperação é o termo usado para designar o processo genérico de melhoria das condições
ambientais de uma área; e reabilitação indica o processo de planejamento para tornar a área
degradada apta a um novo uso (Sánchez , 1998).
A recuperação é um processo lento que deve ser iniciado ainda na fase de planejamento do
projeto mineiro e finalizada muito tempo após o término da lavra, quando as relações entre
os componentes bióticos e o ambiente apresentam condições de equilíbrio (IBRAM, 1992).
Por outro lado, o Decreto no 97.632/89 dispõe que “a recuperação deverá ter por objetivo o
retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano
preestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio
ambiente”. Desta forma, esse dispositivo incorpora o conceito de reabilitação ao de
recuperação, que é um termo de maior alcance e, talvez por isso, mais usualmente
empregado. Além disso, expressa a perspectiva da estabilidade do ambiente ser alcançada.
Portanto, com base nas considerações descritas, e tendo em vista as práticas normalmente
empregadas pelo setor mineral, o termo recuperação ambiental é o que melhor traduz o que
se tem feito em áreas degradadas. Quando as medidas de controle ambiental são realizadas
em paralelo com o desenvolvimento da atividade minerária, utiliza-se o termo
“recuperação concomitante”, que representa atualmente a maneira mais adequada. A
recuperação concomitante é uma medida ambiental que evita a propagação dos impactos
ambientais e suas conseqüências sobre o meio ambiente influenciado (área diretamente
afetada – ADA, área de influência indireta – AID e área de influência indireta – AII),
facilitando o processo de fechamento da mineração.
57
De acordo com Taveira (2003), quando se age proativamente, executando a recuperação
concomitante ao desenvolvimento do processo mineral, é necessário, ao final das
atividades, promover a integração de todos os trabalhos realizados até o momento, bem
como daqueles que virão a ser executados e que visam ao fechamento completo do
empreendimento, de forma a se obter o máximo possível do equilíbrio do sistema. A essa
modalidade a comunidade científica tem chamado de “Plano de Fechamento”. Nele, além
dos meios físico e biótico, contemplam-se as medidas que serão adotadas junto ao meio
antrópico.
Se a mina for bem planejada e a lavra for conduzida considerando o uso futuro do solo
após a sua desativação, a recuperação (como medida de proteção ambiental) dos terrenos
lavrados torna-se uma tarefa menos complicada. O objetivo desta tarefa pode ser
estabelecido de forma muito simples: ao término da lavra, o terreno deve ser levado a uma
condição paisagística que não seja menos agradável à vista e não menos produtivo do que
era antes do empreendimento mineiro. Embora isso esteja sujeito a várias interpretações,
tal exigência requer o retorno às condições iniciais ou às novas condições estáveis e
compatíveis com as áreas circunvizinhas, de modo que, os terrenos lavrados não se
transformem em uma fonte permanente de poluição ou de riscos à população. E,
provavelmente, o mais importante para promover o uso seqüencial do solo: nem o
equilíbrio ecológico nem a produtividade econômica dos recursos renováveis devem ser
perdidos devido à mineração (Souza, 2001).
O fechamento de uma mina é o fim da atividade minerária seja por questões operacionais,
exaustão de reservas ou por razões econômicas. O descomissionamento, uma etapa
posterior, é quando a área já está recuperada, sendo considerado, a princípio, o fim das
atividades de recuperação por parte do empreendedor, iniciando-se o uso futuro da área,
considerado por alguns autores como pós-fechamento.
58
De acordo com Sanchez (1998), o termo “fechamento de minas (desativação) equivale ao
período em que não há mais produção ou atividades industriais e iniciam-se os trabalhos de
recuperação da área”.
Em entrevista dada ao Informativo CETEM ano III, no 3, o Eng. Gildo Sá, Diretor do
CETEM afirma: “quanto à relação entre mineração e meio ambiente julgo imprescindível
um permanente entrosamento entre o órgão normalizador da mineração e os órgãos
ambientais fiscalizadores. A mineração, diferentemente de outras atividades industriais,
possui rigidez locacional. Só é possível minerar onde existe minério. Esta assertiva, apesar
de óbvia, sempre gera polêmicas entre mineradores e ambientalistas. A solução da questão
passa por estudos que contemplem os benefícios e problemas gerados pela mineração local
versus os benefícios e problemas decorrentes da mineração não local”.
Segundo Freire (2000), o empreendedor deve tomar ações preventivas para minimizar os
conflitos. Como exemplo pode citar-se a criação de uma zona de transição entre a atividade
mineral e as áreas circunvizinhas, ou seja:
• Compra de áreas no entorno do empreendimento. Essa alternativa nem sempre é
possível, em função do custo, principalmente para as pequenas empresas de
mineração;
• Arrendamento de áreas no entorno do empreendimento para serem utilizadas em
atividades que possam conviver com a atividade de mineração. Embora de menor
custo, exige estudos para identificação dessas atividades;
• Melhoria das relações de vizinhança com os proprietários das terras vizinhas ao
empreendimento;
• Planejamento das operações de lavra e de beneficiamento de acordo com as
disposições legais que regulam o uso e ocupação do solo na região.
59
O Brasil já possui uma legislação específica quanto ao fechamento de mina (NRM 20 –
Plano de Fechamento de Mina), estando inserida entre as normas estabelecidas pelo
DNPM (Portaria n.o 237 de 18/10/2001, alterada pela Portaria n.º 12 de 22/01/2002 –
Normas Reguladoras de Mineração – NRM do DNPM – MME). A NRM 20, “estabelece
procedimentos administrativos e operacionais em caso de fechamento de mina (cessação
definitiva das operações mineiras), suspensão (cessação temporária) e retomada de
operações mineiras, estabelecendo, inclusive, que tais hipóteses dependem de prévia
comunicação e autorização do DNPM, devendo o titular da concessão de lavra (minerador)
apresentar requerimento justificativo, devidamente acompanhado dos diversos documentos
que formam o plano de fechamento ou de suspensão da mina”.
60
estabilidade, controle de erosões e drenagens;
Relatório das condições de saúde ocupacional dos trabalhadores durante a vida útil do
empreendimento mineiro; e
Cronograma físico e financeiro das atividades propostas.
Segundo a NRM 20, o Plano de Fechamento de Mina deve estar contemplado no Plano de
Aproveitamento Econômico da Jazida – PAE, sendo que o DNPM poderá exigir sua
apresentação, na hipótese da mina não possuir o plano de fechamento, que será atualizado
periodicamente, no que couber, e estar disponível na mina para fiscalização.
61
Um dos principais desafios das mineradoras quando da apresentação de planos de
fechamento são os impactos irreversíveis, rigidez locacional, aceitabilidade do projeto de
fechamento junto à(s) comunidade(s) influenciada(s) direta ou indiretamente pela atividade
e por fim a adoção de um programa adequado de monitoramento pós-fechamento.
No caso das atividades que exploram bens naturais como à mineração, a contabilidade tem
papel fundamental como um dos instrumentos para garantir a recuperação da área
impactada (Taveira, 2003). A autora ressalta que no caso do empreendedor adotar uma
recuperação concomitante ao desenvolvimento da atividade, ao final da vida útil do
empreendimento minerário terá que ser realizado o seu fechamento, integrando todas as
atividades de recuperação desenvolvidas ao longo dos anos de recuperação. Afirma
também, que nesta fase de fechamento já não há a geração de produção de minério, ou
seja, geração de receita. Sendo assim, prevendo-se os custos necessários à execução do
fechamento, haverá necessidade de provisionar os recursos financeiros necessários para o
futuro.
62
CAPÍTULO III
3.CARACTERIZAÇÃO DA MINA DE GONGO SOCO
3.1.LOCALIZAÇÃO
A mina de Gongo Soco está localizada no município de Barão de Cocais, na região central
do Estado de Minas Gerais entre as coordenadas 43o35’00” e 43o37’30” de longitude oeste
e 19o56’00” e 19o59’00” de latitude sul (Figura 3.1). A partir de Belo Horizonte, o acesso à
área da mina é feito pela BR-262, sentido de Vitória, até o entroncamento desta com a
rodovia estadual MG-435, e, então, até a cidade de Caeté. De Caeté à Gongo Soco, são
mais 14 km em estrada não pavimentada.
63
Soco tornou-se mundialmente conhecida pela alta tecnologia aplicada para a época, com
extração subterrânea e auge de produção de 12.887 kg de ouro. Este período foi marcado
pela forte presença de capitais de companhias inglesas em Minas Gerais, sendo que a mina
de Gongo Soco pertencia à “Imperial Brazilian Mining Association”, companhia de capital
e administração inglesa, que se utilizava mão-de-obra escrava em suas atividades mineiras.
De acordo com Burton Richard. F. (1821-1890) em seu livro “Viagem do Rio de Janeiro a
Morro Velho” tradução de David Jardim Júnior (2001) – Coleção: O Brasil visto por
estrangeiros, em seu capítulo XXX (Viagem para Gongo Soco e Fábrica da Ilha),
descreve...”separado pela lavagem, sem dificuldade, e purificado com ácido nítrico. Não
vale a pena remover todo o corpo do filão, sendo preferível, portanto, o trabalho em
galerias subterrâneas. As linhas e veios podem ser acompanhados com picaretas, não se
fazendo mister as explosões. O conteúdo fornece um minério de ferro macio e pulverizável
que exige pouco trabalho para britagem e pulverização, e o “ouro de linha” assim
encontrado é de qualidade superior. Muitas vezes, seguindo os filamentos que se irradiam
para todas as direções, vindos de um centro comum, os mineiros encontram um núcleo ou
pepita de grande tamanho, mas inferior, em qualidade, ao ouro de linha e perdendo mais na
fusão. O ouro em Gongo Soco era de 19 a 20 quilates. Alguns descrevem o ouro como
amarelo-escuro com paládio, outros dizem que muito tingido pelo ferro e de cor
semelhante à do chumbo. Vi algum cor de bronze brilhante e, às vezes, vermelho-
pardacento, como cobre trabalhado e não polido”.
O mesmo autor escreve em sua obra o seguinte trecho: “Naquela mina, porém, o ouro era
livre e o furto era enorme.... Conta-se de mineiros que saíam aos domingos levando
espingardas cheias de minério furtado, e de latas de biscoito que entravam vazias na mina
e, às vezes, saíam levando quinze quilos do precioso pó. Há ainda muito tesouro oculto, e,
de vez em quando, os que têm sorte encontram pequenas fortunas em potes e garrafas...”.
Ainda, Burton também explica a origem do nome da mina: “Explica-se que Gongo Soco
significa: o gongo, ou a campainha, que não toca. Os brasileiros traduzem por: Esconderijo
dos Ladrões”.
A mina de Gongo Soco tornou-se célebre por volta de 1830 pelo seu minério aurífero de
alto teor. “A Imperial Brazilian Mining Association, lavrou estreitos veios auríferos
64
entremeados concordantemente ao minério de ferro brando de alto teor da formação
ferrífera Itabira (FFI), paleoproterozóica, do Quadrilátero Ferrífero. Os corpos auríferos,
conhecidos como “Jacutinga”, eram compostos de hematita especular, talco, caulinita e
óxido de manganês, e lineação de estiramento com caimento para leste” (Raphael, 1996).
“Os relatos históricos registram que, no ano de 1856, a mina subterrânea de ouro foi
inundada e todas as atividades interrompidas, iniciando-se a fase decadente da produção de
ouro em Gongo Soco. Poucas décadas depois, o explorador inglês W. J. Henwood
divulgou um relatório, enfatizando a riqueza desta região em rochas ferríferas com alto teor
aurífero. Pouco se sabe da atividade minerária em Gongo Soco após este período até o ano
de 1960, quando a empresa São Carlos Minérios, de capital americano, estudou a formação
ferrífera e, em 1967, avaliou as reservas de minério de ferro. Os direitos minerários da São
Carlos Minérios foram posteriormente arrendados pela Mineração Socoimex Ltda que
iniciou, em 1989, a operação de lavra da mina de Gongo Soco, com a instalação de
britagem e peneiramento do minério de ferro” (Innocentini, 2003).
3.3.MÉTODO DE LAVRA
Os dados apresentados a seguir referem-se ao planejamento da mina para um horizonte de
8 anos, de 2007 a 2014. Parte do conteúdo descrito neste capítulo foi extraído do estudo
ambiental de ampliação da cava de Gongo Soco – EIA/RIMA elaborado pela Lume
Estratégia Ambiental Ltda em 2006. Ressalta-se que o autor desta dissertação atuou como
65
coordenador técnico deste estudo ambiental.
Porção Leste
Porção / parede
Norte
Porção Sul
Porção Oeste
.
Figura 3.2 - Foto aérea da mina de Gongo Soco.
Fonte: VALE/2005
No ano de 2007, o “botton pit” (fundo da cava) de Gongo Soco alcançou a elevação – EL.
875 m. Neste ano lavrou-se 8,5 milhões de toneladas (8,5 Mt) de ROM gerando um
montante de 22,9 Mt de estéril, produzindo uma relação estéril/minério de 2,67. A Figura
3.3 ilustra o desenvolvimento da lavra (4o trimestre de 2007).
66
exceção do posto de abastecimento, as demais estruturas a serem relocadas ocuparão área
útil inferior a 5 ha. Conforme Deliberação Normativa – DN 074/2004 do COPAM o
empreendimento fica dispensado de licenciamento ambiental, estando sujeito apenas à
Autorização Ambiental de Funcionamento – AAF.
Em 2009 será lavrada a porção noroeste (Figura 3.4). Neste ano serão lavrados 8,3 Mt de
ROM e 27,2 Mt de estéril, perfazendo uma relação estéril/minério de 3,29. Em 2010 a
lavra irá avançar em direção as porções norte e sul. Neste ano, estima-se uma produção de
ROM da ordem de 6,7 Mt e 28,6 Mt de estéril (RE/M = 4,26). Em 2010, o “botton pit”
projetado da cava estará na elevação EL. 844 m (Figura 3.4). A Figura 3.5 ilustra o
desenvolvimento da lavra nos anos de 2011 e 2012. Foram planejadas plataformas em
diversas elevações da porção norte da cava, tendo como objetivo atuar como bermas de
segurança. O mesmo acontece no plano de lavra para 2012, diferindo-se apenas na
elevação – EL. 945 m. Em 2012 o “botton pit” estará na elevação – EL. 844 m (desnível
topográfico em relação à porção norte da cava de 500 m). Em 2011 serão lavrados 5,9 Mt
de ROM com uma relação estéril/minério de 4,14, totalizando, portanto, um montante de
estéril da ordem de 24,5 Mt. Em 2012, ocorrerá uma redução da produção de ROM
(hematita + itabirito) totalizando 5,2 Mt, sendo 4,6 Mt de hematita e 0,6 Mt de itabirito.
Neste ano, a relação estéril/minério é ordem de 4,49, ou 23,3 Mt de estéril.
A Figura 3.6 mostra o desenvolvimento da lavra em 2013 e 2014. Em 2013 a lavra irá
avançar em direção a porção noroeste. Em 2014, a cava terá a conformação final com
desnível topográfico da ordem de aproximadamente 500 m (ELSuperior – porção norte = 1332 m -
ELBotton Pit = 832 m). Na porção sul o desnível topográfico chegará a 180 m (EL Superior =
1012m - ELBotton Pit = 832m). Em 2013 serão lavrados 4,7 Mt de ROM, gerando 19,8 Mt de
estéril. Em 2014, a produção de ROM será de 3,7 Mt (3,3 Mt de hematita e 0,4 Mt de
itabirito). A relação estéril/minério neste ano será a mais elevada (4,80), totalizando uma
movimentação de 17,6 Mt de estéril.
67
3.4.MOVIMENTAÇÃO DE MINÉRIO BRUTO (ROM)
A movimentação de minério bruto (ROM) prevista para o período de 2007 a 2014 na mina
de Gongo Soco é mostrada na Tabela 3.1.
(Mt) 3
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Evolução/ano
Hematita Itabirito
3.5.RELAÇÃO ESTÉRIL/MINÉRIO
A movimentação de ROM na mina de Gongo Soco será da ordem de 51,5 Mt (Tabela 3.1).
Para lavrar o minério será necessário remover um montante de 189,67 Mt de estéril. Sendo
assim, a relação estéril/minério – média global é (RE/M = 3,68), expressiva se comparada
com outras minas inseridas no Quadrilátero Ferrífero.
72
A Figura 3.8 ilustra a relação estéril/minério. A Figura 3.9 ilustra a evolução da produção
de ROM e de estéril no período de 2007 a 2014.
189,67
20 0
15 0
Mt 10 0
51,5
50
0
Estéril (Mt) 1 Minério (Mt)
35
30
28,6
27,2
25,7
25 24,5
22,9 23,3
20 19,8
(Mt)
17,6
15
10
8,5 8,5 8,3
6,7
5,9
5 5,2 4,7
3,7
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Minério (ROM)
Estéril
3.6.DISPOSIÇÃO DE ESTÉRIL
O estéril produzido na jazida de Gongo Soco é constituído basicamento por xistos do
73
Grupo Nova Lima; filitos, itabiritos carbonáticos e silicosos da Formação Cauê; dolomitos
e filitos dolomíticos da Formação Gandarela, na condição de solo à rocha alterada. Devido
aos estados de alteração em que esses litotipos são encontrados na mina, o estéril gerado é
caracterizado por um solo de textura silte-arenoso pouco argiloso com pedregulhos e
esparsos matacões métricos.
Gongo Soco conta com 04 pilhas de disposição estéril – PDE´s (PDE Sudeste, Sudoeste,
Correia e Nordeste). As PDE’s Sudoeste (Figura 3.10), Correia (Figura 3.11) e Sudeste
(Figura 3.12) já esgotaram sua capacidade de disposição. Desta forma, somente a PDE
Nordeste é que recepcionará o estéril gerado até 2014.
PDE Sudoeste
Figura 3.10 - Vista parcial da PDE Sudoeste com alteamentos projetados em 2006. Pilha com capacidade de
disposição de estéril esgotada.
Fonte: Foto NETO, S.E. – LUME – Agosto/2006. Imagem Fonte: VALE/2006
PDE Correia
74
1 2
Em que: 1 – Instalações de Beneficiamento; 2 – Porção Norte da Cava de Gongo Soco e 3 – Platô (elevação) final da PDE Sudeste.
2 1
Já a PDE Nordeste foi projetada em 2005 para dispor 68 Mt de estéril ou 34 Mm3 (Tabela
3.2).
Tabela 3.2 - Cubagem da PDE Nordeste (vida útil projetada até 2008).
NÍVEL VOLUME Massa Acumulado
(m3) (t) (t)
1180 4.920.462 9.840.925 68.308.557
1170 4.858.992 9.717.985 58.467.632
1160 4.781.842 9.563.684 48.749.647
1150 4.636.489 9.272.978 39.185.963
1140 4.323.482 8.646.965 29.912.985
1130 3.753.692 7.507.384 21.266.020
1120 2.725.959 5.451.918 13.758.637
1110 1.903.282 3.806.564 8.306.719
1100 1.372.121 2.744.242 4.500.155
1090 713.848 1.427.696 1.755.913
1080 164.108 328.217 328.217
Total 34.154.278 68.308.557
A Figura 3.13 mostra uma foto retirada em agosto de 2007 da PDE Nordeste em plena
operação.
75
Figura 3.13 - Vista parcial da PDE Nordeste em operação - Agosto de 2007.
Fonte: Foto NETO, S.E. – LUME - Agosto/2007.
76
Cava Projetada em 2014
33,4 Mm3
PDE Correia 26,6 Mm3
PDE SE
34,0 Mm3
Adotou-se como fator mínimo de segurança 1,50 para uma condição normal (superfície
freática normal) e 1,30 para a condição severa (superfície freática crítica) conforme
recomenda a NBR 13029/2006 para estruturas desta natureza. A geometria da PDE
Nordeste obteve fator de segurança mínimo de 1,436 na condição de severidade (nível
freático 10m acima do normal) e 1,534 na condição normal (nível freático normal).
77
Tabela 3.4 - Classificação geomecânica de Bieniawski, 1976.
CLASSE I II III IV V VI
RMR 100 - 80 80 - 60 60 – 40 40 – 30 30 – 0 -
TERMO Muito bom Bom Regular Pobre Muito pobre Solo coesivo
DESCRITIVO Very good Good Fair Poor Very poor Stiff soil
Tabela 3.5 - Parâmetros geotécnicos adotados para cálculo da estabilidade da PDE Nordeste.
Parâmetros de Resistência ao
Peso Específico
Material Classe Cisalhamento
γnat (kN/m3)
c’ (kN/m2) Φ (o)
Estéril 19,50 5,00 30,00
Meta Básica (MB) 19,70 5,00 18,00
Xisto Nova Lima (XNL) 19,50 12,00 28,00
VI
Formação Ferrífera 27,00 250,00 35,00
Talus 16,20 0,00 17,00
Gnaisse 19,30 15,00 25,00
Fonte: RDIZ – Projeto Executivo – Ampliação da PDE Nordeste – Março/2007.
78
sendo 81,2 Mt de hematita e 46 Mt de itabirito. As reservas geológicas remanescentes na
jazida de Gongo Soco até o final de 2006 eram da ordem de 91,2Mt.
Como o horizonte desta dissertação é até o ano de 2014, subtende-se que as reservas
remanescentes não serão contabilizadas, ou seja, não são tecnicamente viáveis para serem
explotadas por razões de ordem técnica, viabilidade econômica e/ou por questões
operacionais (segurança - estabilidade física da cava). Dois fatores limitantes importantes
são:
A porção norte projetada da cava terá um desnível topográfico de 500 metros em 2014;
A elevada relação estéril/minério (RE/M).
79
taludes deve estar bem fundamentado, pois, além de oneroso, pode acarretar prejuízos
numa eventual ruptura de um talude existente. O profissional, ao projetar os taludes de uma
mina, deve ter como objetivo principal a otimização da extração do bem mineral com o
menor custo possível, mediante a adoção de fatores de segurança satisfatórios.
Caso Gongo Soco não paralise suas atividades extrativas em 2014, deverá analisar a
possibilidade econômica e técnica para lavrar o montante das reservas remanescentes
(geológicas), transformando-as em reservas lavráveis e economicamente viáveis.
3.8.PORTE DO EMPREENDIMENTO
A atividade desenvolvida na mina de Gongo Soco é a minerária com explotação e
beneficiamento de minério de ferro (hematita com teor médio de 66,62% de Fe e itabirito
com teor médio de 49,52% de Fe).
Conforme Deliberação Normativa COPAM n.o 74, de 9 de setembro de 2004, Gongo Soco
é classificado como um empreendimento minerário de grande porte. A DN 74/2004
estabelece critérios de classificação segundo o porte e o potencial poluidor (o
empreendimento se enquadra em grande porte - produção bruta superior a 1.500.000 t/ano
com potencial poluidor/degradador: Ar = Médio, Água = Grande, Solo = Grande e Geral =
Grande).
80
6
5 3
4
3.9.BENEFICIAMENTO DO ROM
O beneficiamento do minério de ferro é feito por via úmida, sendo que esse processo exige
o bombeamento contínuo da vazão denominada água nova (make-up). O fluxograma
simplificado do processo de tratamento de minério é apresentado na Figura 3.16. A água é
o principal insumo do processo produtivo. De acordo com o “Diagnóstico de Utilização de
Consumo de Água no Complexo Industrial de Gongo Soco,” elaborado pela Golder
Associates Brasil Consultoria e Projetos Ltda, em fevereiro de 2005, as instalações de
beneficamento são:
81
britagem e peneiramento primário a seco, britagem secundária e peneiramento secundário a
úmido, que gera como oversize os produtos Natural Pellet Ore (NPO) e Hematitinha
(HEM). O undersize do peneiramento secundário alimenta classificadores espirais, que
geram como produto no underflow o Sinter Feed (SFC).
3.9.2.ITM-II
O Run of Mine (minério de hematita – itabirito) é beneficiado por um processo composto
por britagem e peneiramento a seco, que gera como oversize minérios em granulometria
adequada para reprocessamento na ITM I e como undersize o produto Natural Sinter Feed
(NSF).
3.9.3.ITM-III
O ROM (minério de itabirito) é beneficiado por um processo composto por moagem e
peneiramento primário a seco, jigagem, hidrociclonagem e espessamento. Inicialmente, o
ROM é alimentado em uma moega com alimentador vibratório, a partir da qual o oversize
82
é encaminhado à pilha de estocagem e de estéreis, ao passo que o undersize alimenta o
peneiramento primário. O undersize do peneiramento alimenta dois silos, a partir dos quais
o minério alimenta o peneiramento secundário. A partir dos silos, o minério alimenta dois
jigues, sendo que o seu rejeito é encaminhado ao pátio de estocagem e seu concentrado é
encaminhado a peneiras desaguadoras. O oversize das peneiras é parte do produto final,
enquanto que o undersize alimenta os hidrociclones. O overflow dos hidrociclones é
encaminhado ao espessador de lamas e o underflow à barragem de rejeitos.
1 3
83
3.10.BARRAGEM DE REJEITOS
A barragem sul superior é uma estrutura que tem como objetivo a contenção de rejeitos do
beneficiamento de minério de ferro. O alteamento é feito para montante, com diques de
itabirito friável, provenientes da mina e compactados sobre a praia de rejeitos.
O maciço da barragem encontra-se na elevação 955 m e previsão de cota final alteada para
a elevação 960 m. O reservatório gerado pelo alteamento até a cota 960 m irá proporcionar
uma capacidade adicional de rejeitos da ordem de 3,4 milhões de metros cúbicos (3,4
Mm3).
Há duas formas importantes de reuso de água: a que retorna para o circuito após a
decantação ocorrida nos espessadores e a que é constituída pela água contida no rejeito,
que após a percolação, fica disponibilizada novamente para uso. A Barragem Sul, nas
condições atuais de assoreamento do reservatório, possui um volume de 1.500.000 m³, e
cota de coroamento na elevação 935 m (Golder, 2005). A cota final da crista desta
barragem é igual a 942 m (Golder, 2005). Atualmente, o vertimento de volumes excedentes
ou para a garantia de vazão residual no córrego Capim Gordura é realizado por dois sifões,
84
cujo caminhamento da tubulação é feito pelo rápido do vertedouro de emergência.
Geração de Rejeitos:
70.000 t/mês de rejeitos + 40.000 t/mês de perdas = 110.000 t/mês
A partir de jan./2003, com a entrada em operação da planta de concentração de itabirito
(ITM-III), passou a ser gerada uma massa adicional de rejeitos: 117.000 t/mês
Densidade aparente seca (adotada) = 1,8 t/m³
Assoreamento do Reservatório
Até dez./2002 = 110.000 t/mês ÷ 1,8 t/m³ = 61.000 m³/mês
A partir de jan./2003 = 227.000 t/mês ÷ 1,8 t/mês = 126.000 m³/mês
A alimentação de make-up é feita pelo rebaixamento do N.A. junto a cava, por meio de
poços tubulares profundos (18 poços), sendo os volumes bombeados dos poços dispostos
em um pequeno reservatório, instalado junto à cava. Esse reservatório é dotado de
instalação elevatória que alimenta o reservatório denominado de Tanque Elevado. Os
excessos de água nesse reservatório são vertidos para o sistema de drenagem superficial da
estrada de acesso à mina, ao passo que os excessos de água no tanque elevado são vertidos
85
para o reservatório da barragem Sul Inferior, incrementando assim a reservação de água
recuperada.
3.11.1.GEOLOGIA LOCAL
Dentre as unidades que compõem a coluna estratigráfica regional do Quadrilátero
Ferrífero, sete unidades foram correlacionadas aos litotipos reconhecidos na área da mina
de Gongo Soco. São elas: Grupo Nova Lima, Formações Moeda, Batatal, Cauê, Gandarela,
Cercadinho e Fecho do Funil, além de rochas metabásicas intrusivas e coberturas detríticas.
Uma Unidade Transicional, composta por filitos dolomíticos, metabásicas e metacherts
ferruginosos é descrita entre os filitos da Formação Batatal e os itabiritos da Formação
Cauê, ver Figura 3.18.
1
Conforme Portaria IGAM 00483/2006, válida até abril de 2011.
86
3.11.1.1.UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS
• Grupo Nova Lima
O Supergrupo Rio das Velhas é representado na área pela seqüência vulcanossedimentar
arqueana do Grupo Nova Lima, disposta no extremo norte da área estudada. Este pacote é
composto por clorita-sericita-xistos, sericita-xistos, xistos carbonosos e carbonáticos, além
de intercalações de metacherts e formações ferríferas bandadas do tipo algoma. O topo
desta seqüência é caracterizado por um pacote contendo xistos carbonáticos e dois
importantes corpos de formação ferrífera bandada, portadores de sulfetos, que se
apresentam decompostos até grandes profundidades (Geoestrutural, 2002).
• Supergrupo Minas
O Supergrupo Minas, de idade paleoproterozóica, é representado na área pelas Formações
Moeda, Batatal, Cauê, Gandarela, Cercadinho e Fecho do Funil, que se encontram
inseridas no flanco norte (normal) do Sinclinal Gandarela.
• Formação Moeda
A Formação Moeda aflora de maneira restrita na porção norte da mina, em um corpo
delgado de quartzito micáceo, que pode variar para um quartzo-xisto ou para um quartzito
microconglomerático, em uma camada com espessura média de aproximadamente 20
metros.
• Formação Batatal
Da mesma forma, a Formação Batatal aflora em um pacote de 30 a 50 metros sobrepostos
a Formação Moeda, composta por filitos sericíticos e grafitosos. Lentes centimétricas a
decimétricas de metacherts e quartzitos micáceos são comuns neste pacote.
• Unidade Transicional
Uma unidade intermediária, mapeada entre os filitos da Formação Batatal e os itabiritos da
Formação Cauê, marca a transição entre a sedimentação clástica do Grupo Caraça e a
sedimentação química do Grupo Itabira. Compreende filitos, itabiritos carbonáticos,
dolomitos e metabásicas concordantes, dispostos em um pacote delgado e descontínuo
denominado Unidade transicional (Geoestrutural, 2002).
88
• Formação Cauê
Sobreposto à unidade transicional ocorrem às formações ferríferas da Formação Cauê.
Compreendem itabiritos silicosos a localmente carbonáticos, alterados até grandes
profundidades em produtos friáveis. Associado a estes itabiritos, ocorre uma mega lente de
hematita de aproximadamente 1 km de comprimento e várias dezenas de metros de
espessura, originada a partir de um protominério carbonático. Este corpo exibe a forma de
boudins alongados, e constitui o minério atualmente explorado na mina.
No contato basal do corpo de hematita com os itabiritos, ocorre uma lente rica em talco na
porção central da mina, informalmente conhecida por talco hematita ou hematita talcosa. A
presença deste mineral deve-se à natureza carbonática do minério, derivada de processos
metassomáticos em zona de deformação dúctil concentrada. Essa faixa funciona como uma
barreira hidráulica para os fluxos d’água subterrâneos, condicionando zonas de riscos
geotécnicos localizados (Geoestrutural, 2002).
Uma transição gradual dos itabiritos de fácies óxido para itabiritos de fácies carbonato
ocorre no contato com a Formação Gandarela, evidenciado pela passagem dos itabiritos
predominantemente silicosos para itabiritos dolomíticos e anfibolíticos, mapeados pela
Geoestrutural (2002) como pertencentes à Formação Gandarela.
• Formação Gandarela
Seguindo a estratigrafia, ocorre a Formação Gandarela, constituída por um pacote
estratificado composto da base para o topo de itabiritos dolomíticos e anfibolíticos,
dolomitos ferro-manganesíferos e dolomitos puros, com uma intercalação métrica e
contínua de formação ferrífera manganesífera.
Na área da cava de Gongo Soco, esta formação está representada pela seqüência basal de
itabiritos dolomíticos e anfibolíticos, exibindo um aspecto alterado e argiloso, de coloração
marrom café a ocre, típica de alteração de carbonatos (Geoestrutural, 2002).
89
dissolução, cavernas e uma provável dolina. Falhamentos normais, de direção NW-SE e N-
S são freqüentes neste domínio, onde, freqüentemente, se encaixam os principais córregos
da região. Um corpo de formação ferrífera manganesífera delgado e contínuo de direção
WSW-ENE, foi mapeada pela equipe da Geoestrutural (2002) entre os dolomitos desta
formação.
• Formação Cercadinho
A Formação Cercadinho ocorre restrita à porção central do Sinclinal Gandarela, a sul da
área em estudo. É composta por quartzitos ferruginosos, micáceos ou puros e filitos
sericíticos e grafitosos. Estas rochas apresentam granulação fina a média e encontram-se
alteradas diferencialmente, possuindo desde afloramentos praticamente sãos, até porções
bastante alteradas. Os quartzitos ferruginosos muitas vezes podem ser confundidos com o
itabirito pobre, devido à concentração de minerais opacos.
• Coberturas Detríticas
Coberturas detríticas, de idade cenozóica, representadas por depósitos sedimentares de
fluxo gravitacional de detritos. Bacias sedimentares e cangas também são observadas na
área.
90
colúvios de composição heterogênea, que ocupam em geral os fundos de vales.
• Cangas
Material típico de climas tropicais descrita originalmente no Brasil, a canga é definida por
Dorr (1969) como produto de alteração de formações ferríferas, formada por quantidades
variadas de fragmentos detríticos de hematita e formações ferríferas, cimentadas por matriz
limonítica. Sua composição lhe confere alta resistência frente a agentes intempéricos
químicos e mecânicos, o que reflete comumente em altos relevos.
91
3.11.2.GEOLOGIA ESTRUTURAL
As camadas do flanco normal do Sinclinal Gandarela na região da mina de Gongo Soco
possuem direção média NEE-SWW, e mergulho médio variando entre 50° e 60º
preferencialmente no sentido SE. Segundo o mapeamento realizado pela Geoestrutural em
2002, foram identificados na região quatro grupos de estruturas reunidas em foliação,
falhas, juntas e micro ondulações.
92
ser variáveis, tornando estes maciços bastante anisotrópicos.
Os dados referentes às formações ferríferas indicam que as hematitas são mais fraturadas
que os itabiritos devido à sua maior competência. Apresentam famílias distintas, com altos
mergulhos e direções predominantes em torno de NNW-SSE, observando-se ainda nas
direções E-W e NEE-SWW.
No início da década de 80, com o aprofundamento das cavas, muitas minas inseridas no
Quadrilátero Ferrífero atingiram o nível d´água. Nesta época, a drenagem das minas se deu
por gravidade, através de canaletas, época em que iniciaram os estudos hidrogeológicos
para a solução do que era, então, um problema para a mineração: presença de água nas
frentes de lavra. A partir de meados da década de 1980, iniciou-se o processo de
rebaixamento do nível d´água das minas por meio de poços tubulares profundos
(Bertachini, 1994).
Grande parte dos depósitos minerais está situada abaixo da superfície piezométrica dos
aqüíferos, ou seja, é parte ou está associada a um reservatório subterrâneo. Dependendo
das condições de armazenamento e circulação das águas subterrâneas do aqüífero, a água
pode vir a ser mais uma dificuldade para as operações de lavra. O rebaixamento do nível
d´água tem por objetivo manter o N.A. em uma determinada cota que permita a
continuidade das atividades de lavra.
93
seu entorno.
94
• Estudos hidrometeorológicos (Dados meteorológicos, principalmente
pluviometria, evaporação e temperatura do ar, bem como os dados fluviométricos
regionais, são fundamentais na definição do modelo hidrogeológico preliminar.
Dados locais de pluviometria e hidrologia da mina são fundamentais);
• Inventário/cadastramento de pontos d´água (Atividade a ser desenvolvida em
um estudo hidrogeológico voltado para o rebaixamento do nível d’água);
• Programa de monitoramento (Após inventário dos pontos de monitoramento, o
passo seguinte é o projeto de implantação e operação de uma rede de
monitoramento com instalação de piezômetros, indicadores de nível d´água,
vertedouros);
• Elaboração do modelo hidrogeológico (De posse dos dados geológicos, do
inventário dos pontos d’água e do monitoramento de, pelo menos, um ciclo
hidrológico, torna-se possível a elaboração do modelo hidrogeológico da mina. O
modelo deve definir as unidades hidrogeológicas com sua geometria, parâmetros
hidrodinâmicos, parâmetros hidroquímicos, potenciometria e condições de
circulação e armazenamento da água subterrânea); e
• Projeto de rebaixamento do nível d´água (Análise do seqüenciamento de lavra –
evolução da escavação ao longo do tempo. Definição de como deverá ser a
evolução do rebaixamento. Estimativa dos volumes d´água a serem explotados e
estruturas de captação. Elaboração do modelamento numérico do fluxo d’água
subterrânea).
95
A análise do sequenciamento de lavra engloba também a proposição de
descomissionamento para a mina, ou seja, o que será feito com a cava de exaustão e o
entorno. A atividade de rebaixamento do nível d’água deve estar intimamente associada ao
planejamento da lavra, adequando todas as modificações do planejamento ao
desaguamento. Da mesma forma, o planejamento deve considerar sempre a evolução do
rebaixamento, principalmente na definição da forma de avanço da lavra. Em minas com
maior porte e associadas a aqüíferos expressivos torna-se necessário o uso de estruturas de
captação de água subterrânea, tais como poços tubulares, galerias de drenagem, trincheiras,
drenos escavados, drenos perfurados, dentre outros.
96
3.12.1.DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO
A principal ferramenta para o dimensionamento racional do sistema de rebaixamento é
definir o modelamento numérico do fluxo d’água subterrânea. Os modelos possibilitam o
prognóstico do sistema de rebaixamento, bem como o seu planejamento ao longo da vida
da mina e na fase de descomissionamento, até a recuperação dos níveis d’água dos
aqüíferos (Mdgeo, 2003).
De acordo com Mdgeo (2003), os modelos a serem empregados podem ser do tipo
analítico ou numérico. Os modelos numéricos de elementos finitos são empregados para
soluções mais complexas. O modelo físico, conceitual ou hidrogeológico determina a
abrangência da área a ser modelada, a geometria dos aqüíferos, as condições de contorno,
os parâmetros hidrodinâmicos, o regime da simulação e os elementos de controle da
calibração. A rede de monitoramento fornece o conjunto de dados necessário à calibração
do modelo. Para se obter um modelo de calibração se utiliza dados do monitoramento de
pelo menos um ciclo hidrológico.
97
PERÍODO DE OPERAÇÃO DOS POÇOS DO GONGO SOCO
PGS21
PGS20
PGS19
PGS18
PGS17
PGS16
PGS15
PGS14
PGS13
PGS12
PGS11
PGS10
PGS09
PGS08
PGS07
PGS06
PGS05
PGS04
PGS03
PGS02
PGS01
set/01 dez/01 abr/02 ago/02 dez/02 abr/03 ago/03 dez/03 abr/04 ago/04 dez/04 abr/05 ago/05 dez/05 abr/06 ago/06 dez/06
A Figura 3.19 mostra as faixas em azul que indicam os poços instalados na formação
ferrífera e em vermelho nas unidades que compõem o talude norte da cava. Tem-se,
portanto, 14 poços na formação ferrífera sendo 11 em atividade (PGS 04, 05, 06, 07, 09,
10, 13, 18, 19, 20 e 21). Para drenar os taludes da porção norte da cava são 7 poços (PGS
08, 11, 12, 14, 15, 16 e 17). A Figura 3.20 ilustra a localização dos poços de rebaixamento
na mina de Gongo Soco.
98
A Figura 3.21, mostra a localização geográfica dos pontos de surgências d´água
cadastrados bem como a rede de drenagem. Gongo Soco é limitado pelo divisor de águas
(norte da cava), compõe a sub-bacia do rio Socorro, pertencente à bacia do rio Doce. Esta
sub-bacia tem como principais mananciais locais os córregos Capim Gordura, Vieira,
Canta Galo e Congo Velho.
O córrego Congo Velho, também conhecido como Gongo Soco, localiza-se na porção leste
da cava e engloba 20 surgências d'água. Estas águas pertencem aos mesmos sistemas
aqüíferos do córrego Capim Gordura, porém com maior contribuição do Aqüífero Cauê,
que drena a região da cava.
100
O fluxo d´água subterrâneo caminha de oeste para leste (Figura 3.22).
Figura 3.22 - Curvas equipotenciais e linhas de fluxo d’água subterrâneo - calibração em regime permanente.
Fonte: MDGEO, 2003.
102
hidráulica e transmissividade dos materiais.
3.12.3.1.AQÜÍFEROS
• Zonas Aqüíferas do Grupo Nova Lima
As rochas metamórficas do Grupo Nova Lima são desprovidas de porosidade primária.
Desenvolvem zonas aqüíferas localizadas em fraturas na rocha sã. Desta forma, tanto nos
xistos quanto nas formações ferríferas e nos metacherts inalterados, a circulação de água
subterrânea ocorre apenas nas fraturas. Quando alterados, os xistos em geral são
classificados como aquicludes, enquanto as formações ferríferas e os metacherts
classificam-se como zonas aqüíferas. Estes últimos são os principais aqüíferos presentes no
Grupo Nova Lima, constituindo meio com porosidade de interstícios associadas a
intemperização dos minerais constituintes dessas rochas.
103
As surgências d’água desta unidade apresentam vazões geralmente entre 0,25 e 1,0 l/s. Os
níveis piezométricos dessa unidade indicam condições de pressão d’água bastante
elevadas, com níveis atuais entre as cotas 960 e 1100m.
• Aqüífero Moeda
Corresponde a um aqüífero do tipo fissural, constituído pelos quartzitos micáceos da
Formação Moeda que, quando inalterados, apresentam baixa condutividade hidráulica e
pequena capacidade de armazenamento. Entretanto, dependendo do grau de alteração,
essas rochas podem apresentar porosidade secundária com maior capacidade de
armazenamento e circulação de águas subterrâneas.
A única surgência d’água cadastrada nesta formação, encontra-se na cota 1070 metros
(GS-35), apresentando uma vazão estimada em 1,0 l/s. O seu nível piezométrico se
encontra atualmente entre as cotas 950 e 1000 m.
• Aqüífero Cauê
Constituído por itabiritos e hematitas da Formação Cauê, é o principal aqüífero do
Quadrilátero Ferrífero. Trata-se de um aqüífero regionalmente semiconfinado a confinado,
caracterizado como do tipo fissural e granular. As camadas confinantes em geral são os
filitos do aquiclude Batatal, os dolomitos do aquifugo Gandarela e corpos de rochas
intrusivas com o comportamento de aquiclude.
104
se comparado aos valores de condutividade hidráulica na direção ortogonal à esta direção.
Segundo as medições realizadas no ano de 2002, os sete poços perfurados neste aqüífero,
na cava da mina, apresentaram vazão média de 490 m3/h.
O nível d'água dos piezômetros do Aqüífero Cauê antes da operação dos poços encontrava-
se, em média, entre as cotas 960 e 970 metros.
• Aqüífero Gandarela
Os dolomitos usualmente não constituem bons aqüíferos, sendo tratados na literatura do
Quadrilátero Ferrífero como aquicludes ou aquifugos. O comportamento local desta
unidade é de um aqüífero fissural cárstico em que a circulação e o armazenamento das
águas subterrâneas estão vinculados às cavidades de dissolução das rochas carbonáticas.
Durante o levantamento realizado pela Mdgeo (2002a e 2002b), foram encontradas três
importantes feições cársticas: Uma caverna, na qual está totalmente inserido o córrego
Capim Gordura, situada à montante da estação de bombeamento d'água da mina; outra
caverna, situada na grota que contém as nascentes GS-14 e GS-15 e uma lagoa natural,
situada à jusante da nascente GS-54, interpretada como dolina provocada por dissolução
carbonática.
105
Gandarela encontram-se entre as cotas 850 e 950 metros, com vazões variando entre 0,1 e
1,0 l/s, não sendo observada uma surgência pontual expressiva.
• Aqüífero Cercadinho
Regionalmente constitui o segundo aqüífero mais importante do Quadrilátero Ferrífero.
Corresponde aos quartzitos da Formação Cercadinho, caracterizados como um aqüífero do
tipo granular e fissural. Apresenta-se freqüentemente confinado por intercalações de filitos
da própria formação, fato este que lhe confere uma elevada anisotropia. De forma geral,
trata-se de um aqüífero com elevada porosidade e condutividade hidráulica.
A capacidade de produção d’água deste aqüífero pode ser atestada pela sua ocorrência em
outras localidades, como por exemplo, a cidade de Belo Horizonte, que já foi abastecida
pela água desse aqüífero, tanto através de surgências naturais quanto por poços tubulares.
As surgências d'água cadastradas sobre este domínio ocupam cotas médias entre 850 e
1000 metros, apresentando vazões médias entre 0,1 e 0,5 l/s.
As cangas não chegam a constituir um aqüífero propriamente dito por ocuparem as cotas
mais elevadas e por serem muito permeáveis, logo rapidamente drenadas. Portanto, a
cobertura de canga tem grande importância na recarga dos aqüíferos locais, principalmente
o Cauê. A canga dificilmente armazena água, mas quando esta é transmitida aos aqüíferos
subjacentes, são águas de rápida infiltração e pequena evaporação. Este é o motivo pelo
quais as águas do Cauê são pouco mineralizadas.
Os depósitos de fluxo de detritos são os aqüíferos mais importantes nas áreas de domínio
de rochas impermeáveis, tais como os xistos, filitos e rochas sedimentares argilosas.
Entretanto, como são muito permeáveis e ocupam áreas com gradiente elevado, a vazão
das drenagens alimentadas apenas por estes aqüíferos diminui consideravelmente no
período de seca. Estes aqüíferos ocupam em geral a mesma área das matas ciliares e são
muito sensíveis ao desmatamento e à erosão. Por serem muito permeáveis e formados por
106
materiais similares à canga, estes aqüíferos também apresentam águas pouco mineralizadas
e com pequena evaporação.
• Aquiclude Batatal
Esta unidade compreende os filitos sericíticos e grafitosos da Formação Batatal, além dos
filitos, itabiritos carbonáticos, dolomitos e metabásicas da Unidade Transicional. Trata-se
de rochas que se apresentam alteradas, mesmo a grande profundidade, com predomínio de
materiais argilosos. Apresenta nível d’água entre as cotas 950 e 998 m.
107
concordantes ou não com a foliação. No aqüífero Cauê, são comuns corpos de rochas
básicas compartimentando esta unidade em setores com níveis d’água diferenciados. Em
função do armazenamento d’água, tais rochas podem ser classificadas como aquicludes
quando intemperizadas. No contato com litologias mais permeáveis, estas rochas
encontram-se invariavelmente alteradas.
Esses diques atuam como uma espécie de armadilha estrutural, importantes no processo de
enriquecimento supergênico dos minérios de ferro. Em diversos depósitos ferríferos da
Formação Cauê, pode ser observado de um lado do dique, itabiritos pobres e do outro lado,
itabiritos ricos ou mesmo hematitas, indicando que estes corpos foram determinantes no
direcionamento do fluxo d’água.
3.12.4.MODELO HIDROGEOLÓGICO
Em regime permanente foram analisadas as condições do aqüífero em seu estado de
equilíbrio com o tempo tendendo a infinito e, em regime transitório, simulou-se o aqüífero
no seu estado de não-equilíbrio, sendo necessário determinar o tempo de duração da
simulação. Um dos principais objetivos em elaborar o modelo hidrogeológico
computacional em regime transiente é analisar as condições hidrodinâmicas do sistema
avaliando suas conseqüências hidrológicas provocadas pelo rebaixamento das águas
subterrâneas na cava.
108
3.12.4.1.CALIBRAÇÃO DO MODELO
A calibração foi feita para o período hidrológico compreendido entre maio de 2004 a abril
de 2005. Na calibração em regime permanente, os valores de vazão dos vertedouros, das
cotas d’água dos piezômetros, da quantidade de água bombeada da mina e da recarga
efetiva foram tomados segundo as médias globais no período hidrológico considerado.
As taxas de bombeamento de água para a mina de Gongo Soco, previstas no plano de lavra
para os anos de 2009 e 2013, são, respectivamente, de 13.305 e de 14.813 m3/dia. A Vale
possui outorga do IGAM (vazão outorgada) de 670 m3/h até o ano 2011 (670 m3/h x 24
h/dia = 16.080 m3/dia) garantindo desta forma o rebaixamento do N.A. além de 2011. Deve
ser ressaltado que o plano de lavra final foi alterado (2014) e em 2010 deverá ser revisto,
pois o “bottom pit” neste ano já estará na elevação 844 metros, 12 metros abaixo do
cenário hidrogeológico analisado pela Hidrovia (2007).
Outra questão que deve ser destacada é em relação aos estudos geotécnicos. Considerou-se
a continuidade do rebaixamento ao longo do tempo através dos poços de bombeamento e
dos drenos sub-horizontais adotando como premissa o afastamento do nível de água da
face do maciço em torno de 25 m e o rebaixamento na formação ferrífera em pelo menos
um banco (13 metros). Tal análise deverá ser revisada pela Vale visando garantir não só o
rebaixamento do N.A. como também a estabilidade da cava.
3.12.4.2.UNIDADES HIDROESTRATIGRÁFICAS
Doze unidades hidroestratigráficas que correspondem às unidades geológicas que
apresentam uma diferenciação no comportamento do fluxo subterrâneo foram consideradas
para concepção do modelo dentro e fora da cava. As principais unidades hidrogeológicas
que comandam a maior parte do sistema de fluxos subterrâneos no domínio de abrangência
da mina de Gongo Soco são os sistemas aqüíferos conformados pelas formações ferríferas
(itabiritos e hematitas). As rochas dolomíticas, conforme apontado também por Mdgeo
(2003), mostram-se com um potencial aqüífero elevado, mas condicionado apenas às zonas
de maior percolação em fraturas e em contatos geológicos com outras ocorrências
litológicas.
De acordo com a Hidrovia (2007) de maneira geral, os fluxos subterrâneos estão regidos
pela condição de aqüíferos livres sob o controle da pressão atmosférica, com tendências a
109
acompanhar os gradientes topográficos, sendo que, localmente, podem existir faixas de
aqüíferos confinados com a ocorrência de artesianismo. Desse modo, em face da presença
de zonas de topografia mais elevada nas porções oeste e norte em relação à área da cava,
pode-se esperar um sentido de fluxos de oeste para leste em nível regional, e de norte para
sul localmente. Esses fatos são corroborados por Mdgeo (2003), tanto pelas simulações
numéricas desenvolvidas quanto pelos estudos de datação das águas subterrâneas.
3.12.4.3.ZONAS DE RECARGA
Quanto à recarga das águas subterrâneas, a experiência obtida em outros estudos realizados
no Quadrilátero Ferrífero indica um intervalo típico de valores compreendidos entre 10 e
30% do valor da precipitação, podendo alcançar, em alguns casos, valores acima de 40%
da precipitação, Lazarini (1999).
Estabeleceu-se duas zonas distintas de recarga sendo uma na área direta da cava (zona de
recarga 1) e outra no restante do domínio de cálculo (zona de recarga 2), conforme
apresentado na Figura 3.23. O valor da recarga a que se chegou durante o processo da
calibração na zona 1 correspondeu a 40% da precipitação anual, ou seja, 673 mm/ano,
enquanto na zona 2 a recarga foi de 35% da precipitação anual, equivalente a 589 mm/ano.
110
3.12.4.4.CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA
Os valores de condutividade hidráulica1 das unidades hidroestratigráficas adotados no
modelo, após os procedimentos finais de calibração, são apresentados na Tabela 3.8.
Tabela 3.8 - Valores finais de condutividade hidráulica adotados no modelo hidrogeológico computacional da
mina Gongo Soco.
De modo geral, adotou-se uma anisotropia das condutividades hidráulicas no eixo z, com
uma ordem de grandeza inferior aos demais eixos. Apenas na Formação Cauê (itabiritos) e
na hematita também foi adotada uma anisotropia horizontal, de modo que a condutividade
hidráulica no eixo x foi uma ordem de grandeza maior do que no eixo y. Esta prerrogativa
levou em consideração a calibração obtida no modelo numérico realizado por Mdgeo
(2003) e pelo fato de que nestas duas unidades, o fluxo é predominantemente condicionado
pelas foliações, que possuem direção principal EW. A condutividade hidráulica vertical
nestas duas unidades foi cerca de 5 vezes menor do que ky, obtida através da calibração
dos resultados.
1
Condutividade hidráulica é um parâmetro que traduz a facilidade com que a água se movimenta ao longo do perfil do solo.
111
Figura 3.24 - Zonas de balanço hídrico.
Fonte: Hidrovia, 2007.
112
3.12.4.5.CALIBRAÇÃO DO MODELO COMPUTACIONAL – REGIME TRANSIENTE
114
As zonas de balanço hídrico monitoradas na mina de Gongo Soco são as zonas
representativas das sub-bacias 3 e 5, referem-se aos córrego Capim Gordura (zona 3) e
Congo Velho (zona 5). A Tabela 3.11 apresenta uma análise comparativa em torno dos
valores das vazões medidas em campo e simuladas pelo modelo.
Tabela 3.11 - Quadro comparativo do balanço hídrico das zonas 3 (córrego Capim Gordura) e 5 (córrego
Congo Velho).
Zona 3 – córrego Capim Gordura
Instrumentação de medição – vertedouro V07
Tempo Valor de campo Valor simulado - ModFlow Diferença percentual
(dias) (m3/dia) (m3/dia) (%)
31 13.997 15.056 7,6
61 12.874 14.151 9,9
92 11.923 14.265 19,6
123 26.957 13.440 -50,1
153 12.182 13.067 7,3
184 24.106 13.592 -43,6
214 11.923 14.767 23,9
245 31.068 18.586 41,9
276 19.699 18.783 -4,6
304 10.800 17.151 58,8
335 15.898 19.505 22,7
365 13.306 16.376 23,1
Zona 5 – córrego Congo Velho
Instrumentação de medição – vertedouro V06
Tempo Valor de campo Valor simulado - ModFlow Diferença percentual
(dias) (m3/dia) (m3/dia) (%)
31 5.875 6.351 8,1
61 4.493 5.916 31,7
92 7.517 6.001 -20,2
123 5.098 5.608 10,0
153 2.333 5.446 133,4
184 4.925 5.723 16,2
214 2.592 6.310 143,4
245 11.837 8.143 -31,2
276 23.242 8.165 -64,9
304 6.134 7.351 19,8
335 16.243 8.452 -48,0
365 9.418 6.936 -26,4
Fonte: Hidrovia, 2007.
115
balanço hídrico adicional, denominada Zona 11 (Figura 3.26).
Figura 3.26 - Configuração das zonas de balanço hídrico acrescida da zona 11.
Fonte: Hidrovia, 2007.
A avaliação do impacto do deságüe da mina, diante destes cenários, foi feita a partir da
comparação das estimativas das vazões para cada zona de balanço hídrico, com os
respectivos valores simulados no ano de 2004 (período de calibração do modelo). Os
resultados finais das vazões de água previstos para as zonas de balanço hídrico e as suas
respectivas variações, em relação aos valores das vazões estimadas para ano de 2004, são
apresentados na Tabela 3.12.
Tabela 3.12 - Resultado do balanço hídrico da mina de Gongo Soco para os cenários de 2009 e 2013.
Balanço hídrico dos cenários 2009 e 2013
Zona 2 Zona 3 Zona 5 Zona 6
Ano Cota Vazão Vazão Vazão Vazão
Pit Estimada Variação Estimada Variação Estimada Variação Estimada Variação
(m) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%)
2004 904 3.594 - 15.862 - 6.722 - 6.925 -
2009 880 3.491 -2,9 14.248 -10,2 5.811 -13,6 6.770 -2.2
2013 856 3.491 -2,9 13.850 -12,7 5.531 -17,7 6.631 -4,2
116
O principal impacto decorrente do rebaixamento do nível d’água na mina de Gongo Soco
estaria relacionado à possibilidade de redução da vazão de nascentes, sobretudo nas áreas
muito próximas da cava. Conforme já mencionado, desde 2001 estas nascentes são
regularmente monitoradas em termos de vazão e até o momento (março/2008) não se
percebeu nenhuma redução de vazão. A disponibilidade hídrica não foi afetada.
A única comunidade que eventualmente poderia ser afetada pelo rebaixamento do nível
d’água da mina, seria o distrito de Socorro, localizado a aproximadamente 3,3 Km ao sul
da cava. No entanto as simulações de rebaixamento e recuperação do nível d’água, atestam
que não ocorrerão impactos hídricos neste local. O nível d’água em Gongo Soco é
suficientemente profundo para que nenhuma vegetação freatófila retire água do aqüífero, o
que elimina a possibilidade de serem afetadas. Quanto à fauna, o impacto poderia ocorrer
caso a redução na vazão fosse significativo sem a respectiva reposição, o que não é o caso.
Durante a fase de rebaixamento a disponibilidade de água é sempre crescente e no decorrer
da fase de fechamento da mina tende a ser menor, pois ocorre a recuperação do aqüífero,
no entanto esta menor disponibilidade poderia ser perfeitamente compensada por uma
gestão eficaz dos recursos hídricos, como por exemplo, continuidade da operação de
alguns poços para manutenção das vazões nos córregos.
117
10, os impactos do rebaixamento do N.A. encontram-se dentro de uma faixa de variação de
até 5,8% (zona 8). Nestas sub-bacias não são esperados impactos potenciais, e os
resultados corroboram o modelo conceitual, segundo o qual o fluxo subterrâneo a norte da
mina tem seu divisor nas vertentes topográficas, onde se encontram materiais de baixa
permeabilidade que atuam como aqüicludes, e também é fortemente condicionado pelo
mergulho estrutural de todo o pacote litológico na direção S-SE.
118
Em 2003, foram concluídas duas amplas campanhas de ensaios de laboratório para
caracterização geotécnica dos materiais incompetentes e altamente intemperizados e das
rochas relativamente sãs que compõem as feições litológicas da cava de Gongo Soco.
119
maciço;
Relacionar as condições de um local com a experiência encontrada em outros locais;
Disponibilizar dados quantitativos e diretrizes para projetos de engenharia; e
Fornecer bases comuns para a comunicação entre engenheiros e geólogos.
120
Para a mina de Gongo Soco, adotou-se a classificação de Bieniawski (1974) para a
identificação dos tipos de maciço que ocorrem na mina, pois é uma classificação de ampla
aplicação e de domínio generalizado no meio técnico. A Tabela 3.13 apresenta os
parâmetros de classificação, bem como os pesos relativos para a composição das classes de
maciços (RMR), utilizados pela Gerência de Geotecnia e Hidrogeologia – GAGHS/VALE.
Utilizar ensaio
Compressão
> 8 Mpa 4-8 MPa 2-4 Mpa 1-2 MPa de compressão
Puntiforme
simples
Resistência Resistência
10-25 MPa
1 da rocha à 50-100
> 200 MPa 100-200 MPa 25-50 MPa 3-10 MPa
Intacta Compressão Mpa
1-3 MPa
Simples
2
Peso 15 12 7 4 1
Relativo 0
R.Q.D.% 90-100 75-90 50-75 25-50 < 25
2
Peso Relativo 20 17 13 8 3
Espaçamento de Fraturas >3m 1-3m 0,3 – 1 m 50-300 mm < 50 mm
3
Peso Relativo 30 25 20 10 5
Superfícies
Superfícies Superfícies
muito Superfícies
pouco estriadas ou Preenchimento
rugosas. pouco
rugosas. preenchiment mole >5 mm ou
Não rugosas.
4 Condições das Fraturas Separação o <5 mm ou abertura >5 mm.
contínuas. Separação <1
>1 mm. abertura 1-5 Fraturas
Fechadas. mm. Paredes
Paredes mm. Fraturas contínuas
Paredes duras.
moles. contínuas.
duras.
Peso Relativo 25 20 12 6 0
Tabela 3.14 - Classes de maciços e seus respectivos RMR adotados na mina de Gongo Soco (modificado de
Bieniawski, 1974).
CLASSE I II III IV V VI
RMR 100 - 80 80 – 60 60 – 40 40 – 20 20 – 0 -
121
Tabela 3.15 - Distribuição e zonas de ocorrência de classes de maciço na mina de Gongo Soco.
Classe de Zonas de ocorrência na área da mina de Gongo Soco
Maciço
♦ Todo o pacote de paleocolúvio laterizado;
♦ Horizonte superficial afetado por ações intempéricas em todos os litotipos da mina;
♦ Grande parte da porção central da formação ferrífera até as profundidades previstas
para a lavra;
♦ Níveis profundos (mais de 100 m) nos pacotes de filito da Formação Batatal e da
Classe VI Unidade transicional e nos dolomitos Gandarela;
♦ Ao longo de falhas com superfícies estriadas e espelhadas e a maioria dos contatos
geológicos entre litotipos;
♦ Horizontes centimétricos e decimétricos, controlados, principalmente, pela foliação;
no interior dos maciços Classes II, III, IV e V em todas as unidades tecto-
estratigráficas.
♦ Horizontes adjacentes aos maciços Classes III e IV, junto dos pontões rochosos
principais da mina;
Classe V ♦ Níveis isolados dentro dos maciços de solo residual (Classe VI);
♦ Horizontes decimétricos a métricos controlados principalmente pela foliação, no
interior dos maciços Classes II, III e IV, em todas as unidades tecto-estratigráficas.
♦ Horizontes controlados pela foliação na formação ferrífera;
♦ Pontões isolados no interior de todo o empilhamento tecto-estratigráfico,
Classe IV
principalmente nas Formações Batatal, Unidade transicional e Gandarela;
♦ Zonas transicionais nas bordas dos maciços Classes III e II.
♦ Horizontes controlados pela foliação na formação ferrífera, notadamente aqueles
mais ricos em hematita;
Classe III
♦ Pontões no Grupo Caraça e raramente na Formação Gandarela;
♦ Zonas transicionais nas bordas dos maciços Classe II.
♦ Níveis profundos do Grupo Nova Lima, das Formações Moeda e Batatal e da
Classe II Unidade Transicional;
♦ Níveis profundos na formação ferrífera dados por hematitas compactas e itabiritos.
Fonte: VALE e Innocentini, 2003.
122
Os filitos normalmente encontram-se bastante decompostos até várias dezenas de metros, e
também possuem baixas características de resistência, sendo um dos componentes que
certamente influenciam no comportamento geotécnico dos taludes. São também
importantes para a compreensão do comportamento do maciço, outras formações
litológicas, como a Unidade Transicional e as rochas básicas, que ocorrem em forma de
diques.
O talude norte, constituído por xistos, quartzitos, filitos e formação ferrífera possui
foliação subparalela à direção geral dos taludes, com mergulho entre 55o e 60o para o
interior da cava, portanto em posição desfavorável à estabilidade.
O talude sul apresenta foliação com mergulho para dentro do maciço, em torno de 60°,
portanto em situação aparentemente favorável. Ressalta-se que mesmo tendo mergulho
favorável, rupturas condicionadas por tombamento de blocos já foram observadas quando
da setorização da cava.
De acordo com Innocentini (2003), a Unidade Transicional, o filito e o itabirito silicoso são
as litologias de maior heterogeneidade, tanto em superfície quanto em profundidade (fato
constatado através de testemunhos de sondagem, que mostraram uma compartimentação
do maciço em duas áreas, uma situada a oeste da mina, onde há predomínio de material de
aspecto de solo, enquanto que, a leste, há certa influência de material mais resistente). As
outras unidades (xisto e quartzito) apresentam apenas dois comportamentos distintos, um
nível superficial mais alterado (domínio de solo) e outro mais são (rocha) em
profundidade. Instabilidades locais foram detectadas na região norte da cava devido ao
123
intenso intemperismo dos materiais, associadas às condições críticas do nível d’água local
(elevado grau de saturação e surgências de água).
A Figura 3.27 mostra em planta a configuração projetada para a cava 2013 que passou a
ser definida posteriormente pela Vale como cava de 2014. Tal figura ilustra também a
indicação das seções analisadas que subsidiaram as análises de estabilidade.
Figura 3.27 - Planta da cava de 2014 com indicação das seções analisadas.
Fonte: GAGHS/GALPS-VALE/2006.
124
partir do modelo geomecânico:
a. O conjunto do Supergrupo Minas é portador de várias formações no domínio da cava,
das quais se destacam a Moeda, Batatal, Unidade Transicional, Cauê e a Gandarela. O
conjunto de litotipos é bastante foliado, onde esta estrutura é uma feição onipresente e
persistente na mina, com mergulho preferencialmente moderado (40° a 60°) para sul e
direção E-W a ENE-WSW, em geral concordante com a distribuição litológica;
b. O empacotamento do Supergrupo Minas na área da mina encontra-se, em geral, na
posição normal e a partir do limite norte da cava, é constituído, da base para o topo,
pelas seguintes formações:
Formação Moeda – Quartzitos e quartzitos microconglomeráticos;
Formação Batatal – Filitos grafitosos e raros quartzitos;
Unidade transicional – Filitos dolomíticos predominantes, filitos sericíticos e metacherts
ferríferos;
Formação Cauê – Hematitas, por vezes com talco, e itabiritos silicosos ou carbonáticos;
Formação Gandarela – Dolomitos ferruginosos ou não, itabiritos carbonáticos, filitos
dolomíticos e filitos manganesíferos.
c. O Grupo Nova Lima ocorre de forma sotoposta ao Supergrupo Minas e é constituído
por duas seqüências básicas: quartzo-clorita-xistos com níveis de formações ferríferas
bandadas e um pacote de sericita-xistos grafitosos com lentes de quartzito e quartzo-
xisto;
d. Ocorrem dois níveis principais de rochas metamáficas intrusivas posicionadas
subconcordantemente às seqüências do talude norte, causando deslocamentos tectônicos
no empacotamento normal do Supergrupo Minas;
e. As Formações Moeda, Batatal, Unidade transicional e Cauê, além do Grupo Nova
Lima, formam o principal talude da cava (norte – altura máxima de aproximadamente
500 m para esta cava) e contém o maior potencial para problemas geotécnicos passíveis
de ocorrência, principalmente pela presença de litotipos extremamente alterados e
saturados, apresentando baixa resistência ao cisalhamento, como é o caso do filito
Batatal e da Unidade Transicional. A Formação Gandarela formará a maior parte do
talude sul da cava, de menor altura do que o norte, com aproximadamente 200 m de
altura máxima;
f. Em decorrência da variação da resistência aos agentes intempéricos, o perfil de
alteração apresenta um padrão serrilhado, onde as unidades mais resistentes,
125
constituídas por rocha pouco alterada, ocorrem na forma de pontões, delineados pela
foliação;
g. A distribuição dos pontões de rocha pouco alterada governa a setorização geomecânica
do maciço, pois tem grande influência no dimensionamento dos taludes, podendo
resultar em ângulos mais íngremes;
h. Fora das zonas de ocorrência dos pontões resistentes, o maciço se apresenta bastante
alterado, com resistência similar a de um solo residual, ou saprolito, podendo gerar
rupturas controladas pelo mecanismo do tipo circular e plano circular.
Para o talude norte foram adotados parâmetros oblíquos à foliação quando as superfícies de
ruptura interceptam o maciço com ângulos menores do que 35° e maiores que 65°. Quando
as superfícies de ruptura interceptam o maciço com ângulos variando entre 35° e 65° foram
adotados parâmetros paralelos à foliação. Estes ângulos foram adotados
conservadoramente diferentes das medidas obtidas da foliação no talude norte, que se
apresenta entre 40° e 60°. Para o talude sul da cava de Gongo Soco, os parâmetros de
resistência foram adotados sempre oblíquos à foliação.
A posição do nível de água no maciço foi adotada com base na posição atual do nível de
água, obtido através das leituras dos piezômetros existentes na mina, considerando a
continuidade do rebaixamento ao longo do tempo através dos poços de bombeamento e
drenos subhorizontais, adotando como premissa o afastamento do nível de água da face do
maciço em torno de 25 m e o rebaixamento na formação ferrífera em pelo menos um banco
(13 m).
126
O monitoramento do nível da água da mina de Gongo Soco é feito por 44 piezômetros
distribuídos da seguinte maneira: 11 piezômetros na Formação Ferrífera (Formação Cauê),
11 na Unidade Transicional, 06 na Formação Batatal (filito Batatal), 07 na Formação
Moeda (quartzito Moeda) e 09 no Grupo Nova Lima (xisto Nova Lima), ver localização
desta instrumentação na Figura 3.29.
600
PGS09 E 11 PGS18
550 PGS19
PGS10
PGS14
500
450 PGS08
PGS06 e 07
400
350 PGS13
300
PGS20
PGS01 PGS05 PGS12 PGS15, 16 E 17
250
PGS21
CAPACIDADE INSTALADA
200
CAPACIDADE OPERACIONAL
150
VOLUME BOMBEADO
100
50 PGS04
PGS03
0
PGS02
out/01 fev/02 jun/02 out/02 fev/03 jun/03 out/03 fev/04 jun/04 out/04 fev/05 jun/05 out/05 fev/06 jun/06 out/06 fev/07
Figura 3.28 - Volume bombeado dos poços de rebaixamento (Outubro de 2001 a Fevereiro de 2007).
Fonte: VALE, abril/2007.
127
3.13.4.2.PARÂMETROS GEOTÉCNICOS ADOTADOS
Os parâmetros de resistência ao cisalhamento, coesão (c’) e ângulo de atrito (φ‘), e os
pesos específicos dos materiais utilizados nas análises de estabilidade, foram obtidos a
partir de resultados de ensaios laboratoriais realizados nos litotipos presentes na mina
durante a elaboração dos estudos realizados pela RDIZ (2001) e Geoestrutural (2002b). A
Tabela 3.16 mostra os parâmetros de resistência adotados.
129
Para o caso da seção 5, em que o FS obtido ficou em torno de 15% abaixo do fator de
segurança mínimo admissível de 1,3. Foi proposto, pela geotecnia, uma mudança na
geometria da cava na região do entorno da seção 5. Essa mudança prevê o alargamento do
banco na elevação EL.1084 m para 33 m e a alteração do ângulo geral entre as elevações
940 m e 1084 m para 29°, e acima da elevação 1084 m para 31°, removendo o filito e a
Unidade Transicional alterados da face do talude. Estas alterações permitiram o acréscimo
do FS para 1,307 neste setor da mina. Deve-se reiterar também a importância na
manutenção do rebaixamento do nível de água tanto na formação ferrífera quanto nas
litologias condicionantes da estabilidade dos taludes, unidade transicional (UT), filitos
(FL) e dolomitos (DOL).
130
Figura 3.30 - Seção 646506 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,375).
Figura 3.31 - Seção 646506 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,434).
Figura 3.32 - Seção 646706 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,460).
131
Figura 3.33 - Seção 646806 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,419).
Figura 3.34 - Seção 647056 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,356). Ruptura de Face - Hematita Talcosa
(FS=1,116).
132
Figura 3.36 - Seção 2 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,301).
Figura 3.38 - Seção 4 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,393) e Localizada (FS=1,355).
133
Figura 3.39 - Seção 5 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,129).
134
CAPÍTULO IV
4.DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE GONGO SOCO
Parte dos textos apresentados neste capítulo foram extraídos de estudos ambientais da
Nicho (2003) e Lume (2006). Cabe ressaltar que o autor desta dissertação foi coordenador
técnico destes estudos.
4.1.MEIO FÍSICO
4.1.1.GEOLOGIA REGIONAL
Inserido na porção meridional do Cráton do São Francisco, o Quadrilátero Ferrífero é uma
das regiões de geologia mais atraentes e estudadas do país, devido ao fato de abrigar em
seus domínios importantes jazidas de ferro, ouro e outros recursos minerais. Ocupando
uma superfície de 7.000 km2, o Quadrilátero Ferrífero engloba unidades litoestratigráficas
cujas idades estendem-se do Arqueano ao Proterozóico Superior. Gongo Soco situa-se no
Quadrilátero Ferrífero, importante província mineral brasileira, representada por quatro
macro-unidades lito-estratigráficas:
Complexo gnáissico-migmatítico, constituído de rochas arqueanas,
predominantemente gnaisses tonalíticos a granodioríticos, migmatizados ou não.
Este complexo recebe diferentes denominações, conforme suas características
locais: do Bação (porção central do Quadrilátero Ferrífero), Caeté (a norte), Belo
Horizonte (a noroeste), Bonfim (a oeste), Congonhas (a sudoeste), Santa Rita (a
sudeste).
Seqüência metavulcano-sedimentar arqueana do Supergrupo Rio das Velhas, do
tipo Greenstone Belt, composta por um espesso pacote de rochas metavulcânicas e
metassedimentares de idade arqueana. O Supergrupo Rio das Velhas é subdividido
em três grupos: Quebra-Osso (inferior), Nova Lima e Maquiné (superior). O Grupo
Quebra-Osso compreende a unidade basal, composta por komatiitos e basaltos,
rochas vulcanoclásticas e lavas riolíticas. O Grupo Nova Lima é a unidade de maior
distribuição geográfica, representado por rochas metavulcânicas e metassedimentos
clásticos e químicos. No Grupo Maquiné, unidade superior, predomina xistos,
filitos quartzo-filitos e quartzitos.
Seqüência metassedimentar paleoproterozóica do Supergrupo Minas subdivido em
quatro Grupos: Caraça, Itabira, Piracicaba e Sabará. O Grupo Caraça constitui a
135
base do Supergrupo Minas, sobreposto tectonicamente ou por discordância angular
ao Supergrupo Rio das Velhas. Inclui metaconglomerados, quartzitos e filitos da
Formação Moeda e filitos sericíticos e carbonosos da Formação Batatal. O Grupo
Itabira compreende metassedimentos de origem química representados por
itabiritos (Formação Cauê) e dolomitos (Formação Gandarela). Entre estes
extremos ocorrem todas as gradações composicionais, além de freqüentes
intercalações de filito. O Grupo Piracicaba é subdividido em quatro Formações –
Cercadinho (base), Fecho do Funil, Tabõoes e Barreiro (topo) - as quais incluem
diferentes tipos de quartzitos e filitos, intercalado com lentes de dolomito. O Grupo
Sabará é representado por uma seqüência de xistos e filitos, com metagrauvacas e
metavulcânicas em menor proporção, pertencentes ao topo do Supergrupo Minas.
Metassedimentos terrígenos do Grupo Itacolomi: é constituído de quartzitos e, em
menor proporção, metaconglomerados e filitos, que recobrem em discordância o
Supergrupo Minas. O metaconglomerado contém seixos de litologias mais antigas,
sendo comuns os de itabirito da Formação Cauê. Ter-se-ia formado a partir da
erosão das unidades do Supergrupo Minas em ambiente continental e transicional.
4.1.2.GEOMORFOLOGIA
O relevo da região da mina de Gongo Soco, como em todo Quadrilátero Ferrífero é
bastante acidentado e montanhoso, marcado, por porções elevadas e baixas que apresentam
notáveis trechos longos e retilíneos com encostas assimétricas. Estas feições são evidências
de movimentos tectônicos, envolvendo movimentação ao longo de falhas e basculamentos.
As porções mais baixas, com cotas em torno de 800 m, onde se localiza o leito do rio
Socorro, desenvolvem-se notadamente em domínio de rochas filíticas e dolomíticas.
Os vales da região são em geral bem sulcados, com perfil em “V”, que se associam
drenagem com elevados gradientes, condicionadas pela razoável compartimentação
estrutural. Gongo Soco esta situada no setor norte da unidade geomorfológica composta
pelo Quadrilátero Ferrífero. Esta unidade individualiza-se, em nível regional, por constituir
domínio morfoestrutural destacado topograficamente na paisagem em virtude das altitudes
elevadas em relação às áreas circundantes.
136
Destacam-se na paisagem as formas evoluídas sobre as rochas do Supergrupo Minas que
compõem cumeadas de serras, cristas e picos de expressão topográfica notável, marcando a
morfologia do relevo regional. Entre as formas de relevo mais expressivas, deve-se
mencionar a serra do Caraça e a serra da Piedade, respectivamente situadas ao sul e ao
norte do espigão da serra do Espinhaço, que na região da área de concessão da mina de
Gongo Soco recebe o nome de serra da Paula.
Este conjunto das formas de relevo que compõem a borda leste do Quadrilátero Ferrífero
caracteriza-se pela presença desses alinhamentos de serras marcadas por estruturas
dobradas e erodidas do tipo anticlinais esvaziadas e sinclinais suspensas.
A serra do Caraça, constituída por quartzitos e filitos do Grupo Caraça, unidade basal do
Supergrupo Minas, apresenta-se como um maciço rochoso intensamente fraturado,
formado por um conjunto de falhas de empurrão. Nesta serra estão as superfícies de erosão
mais antigas e mais elevadas (1879-1886 m) do Quadrilátero Ferrífero. Além disso, a serra
do Caraça guarda os níveis altimétricos mais elevados desta unidade geomorfológica com
altitudes superiores a 2.000 m (Figura 4.1).
A serra da Piedade é constituída por itabiritos do Grupo Itabira, localmente recobertos por
superfícies concrecionárias limoníticas. Com altitude de 1.736 metros no ponto mais
137
elevado, a serra é um monumento do relevo, consistindo num marco referencial de
percepção coletiva, histórica, integrante da paisagem de uma ampla região, relatada por
antigos viajantes por seu valor intrínseco como expressão fisiográfica notável.
Entre esses dois destaques do relevo estendem-se na direção SW-NE a serra do Espinhaço.
Este alinhamento de crista, na região, é composto por rochas do Supergrupo Rio das
Velhas, Grupo Nova Lima e Supergrupo Minas, Grupos Itabira e Piracicaba.
138
vertentes retilíneas ravinadas e vales encaixados. Esta associação de elementos
morfológicos ocupa grandes extensões do espaço, dominando amplamente a paisagem
regional.
Outro conjunto de formas de relevo que ocorre na região, desenvolvidas sobre rochas
graníticas do complexo basal, caracteriza-se por formas colinosas de topos abaulados com
vertentes convexas e vales côncavos e encaixados.
Nas abas do sinclinal Gandarela as drenagens de primeira e segunda ordem compõe uma
densa rede hidrográfica a partir de numerosas nascentes, organizadas em padrão dendrítico,
para formar os muitos cursos d' água que drenam a vertente SE da serra do Espinhaço
dispostos em padrão retangular em relação ao nível de base local no rio Socorro.
O perfil longitudinal dos córregos que descem a encosta SE da serra é bastante acentuado,
marcado por várias cachoeiras formadas em rupturas abruptas de declive, associadas aos
falhamentos de empurrão que definem os contatos litológicos entre as rochas do Grupo
Nova Lima na região.
A profundidade dos vales principais, no caso do rio Socorro, em relação aos topos das
vertentes que os confinam é uma evidência da energia desses relevos. A profundidade é
bastante acentuada entre as bordas do sinclinal Gandarela e o fundo do vale em torno de
300-350 m.
A ação erosiva das drenagens tributárias desses rios agiu profundamente sobre as encostas
dos vales, imprimindo as feições morfológicas de dissecação e obliterando níveis de
aplainamento de antigos ciclos erosivos dos quais restam apenas pequenas superfícies
remanescentes. Os níveis recobertos por crostas ferruginosas mantiveram-se melhor
conservados, enquanto as formações superficiais eluvionares e coluvionares e a própria
rocha intemperizada sofreram excessivo desgaste.
139
As coberturas eluvionares e coluvionares dominam a superfície do relevo, com
profundidades variáveis conforme as declividades e a atuação dos processos de
meteorização das rochas. As formações aluvionares nas áreas de maior energia do relevo
são escassas, devido à competência de transporte de sedimentos dos cursos d'água que
exibem acentuado perfil longitudinal.
Os terrenos onde ocorre a explotação do minério de ferro são compostos por segmentos de
colinas, cujo padrão morfológico geral são vertentes convexo/côncavas elaboradas por
processos de dissecação fluvial imposta por uma rede de drenagem afluente a dois cursos
d'água de segunda ordem, os córregos Capim Gordura e Congo Velho.
O conjunto dos terrenos compõe assim uma fração da superfície de micro bacias
hidrográficas na região das cabeceiras de drenagem de cursos de primeira ordem mais
fechados em “V”, ocupadas por matas, que conformam ravinas ao longo das quais as
declividades se acentuam dando movimento ondulado ao relevo. O sentido geral da
drenagem é norte-sul e oeste-leste.
140
4.1.3.PEDOLOGIA E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
As informações de classificação e o mapeamento da cobertura pedológica da região do
Quadrilátero Ferrífero foram executadas no âmbito de alguns projetos de caráter regional,
em nível de levantamentos exploratórios ou de reconhecimento, empregando, portanto,
escalas pequenas que abrangem, numa mesma unidade pedológica, associações ou
complexos de solos em categorias taxonômicas elevadas.
Os solos da região do Quadrilátero Ferrífero são em geral incipientes e sua origem está
normalmente associada ao substrato de rochas ferríferas. O caráter incipiente se deve a
pelo menos dois fatores: à condição do relevo da região e à constituição litológica do
substrato.
A rapidez com que os materiais detríticos trabalhados pela pedogênese são removidos por
processos denudacionais, tais como os movimentos coletivos do solo e escoamento
superficial difuso e concentrado, notadamente onde a interferência antrópica é mais
intensa, no que diz respeito à remoção da cobertura vegetal e ao manejo do solo,
condiciona a formação de solos minerais, pouco desenvolvidos, predominantes na região
do Quadrilátero Ferrífero como os das classes dos Cambissolos e Litólicos, além dos
afloramentos de rochas.
141
A classe dos Cambissolos tem forte predominância em termos de extensão espacial na
região, associando-se aos solos Litólicos e a afloramentos de rochas nas áreas serranas e
montanhosas, normalmente representadas por grupos de solos originados em substratos de
rochas ferríferas.
142
propriedade de Gongo Soco (Figura 4.3). A distribuição da área de uso e ocupação do solo
na propriedade de Gongo Soco em 2007 é apresenta na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 - Distribuição da área - uso e ocupação do solo em Gongo Soco – 2007.
Tipologias Áreas (ha)
Barragem de rejeito 37,15
Vegetação de áreas alteradas 109,30
Áreas antropizadas 431,09
Floresta estacional semidecidual em estágio avançado de regeneração 172,70
Floresta estacional semidecidual em estágio inicial de regeneração 367,14
Pasto limpo 99,05
Plantio de eucaliptos 77,59
Floresta estacional semidecidual em estágio médio a avançado de
149,90
regeneração (RL da Vale – área não contígua à propriedade)
Total 1.443,92
Fonte: Elaborado por Neto, S.E (2008).
4.1.4.CLIMA
Gongo Soco está inserido em um local onde predomina clima tropical semi-úmido,
apresenta pluviometria média anual da ordem 1500 mm com um período seco que
compreende aos meses de abril a agosto, com precipitação média inferior a 30 mm/mês, e
um segundo período com precipitação média da ordem de 100 a 200 mm/mês, que
compreende os meses de setembro, outubro e março. O período entre os meses de
novembro a fevereiro possui a maior pluviometria, com valores mensais da ordem de 200 a
500 mm/mês. A temperatura máxima anual varia em torno de 30ºC e a mínima de 8ºC; a
média anual oscila por volta de 22ºC.
143
4.1.5.RECURSOS HÍDRICOS
4.1.5.1.HIDROLOGIA SUPERFICIAL
A rede de drenagem da região da mina de Gongo Soco é limitada pelo divisor de águas ao
norte da mina, compõe a sub-bacia do rio Socorro, tributário do rio Santa Bárbara, que por
sua vez é tributário do rio Piracicaba, pertencentes à Bacia do rio Doce.
O rio Socorro comanda a drenagem local, na encosta voltada para o rio Doce, com o seu
curso marcado por uma série de rápidas corredeiras orientado no sentido SW-NE, adaptado
ao eixo do sinclinal Gandarela.
Na região da cava de Gongo Soco, a sub-bacia do rio Socorro tem como principais
tributários os córregos Capim Gordura, Vieira, Canta Galo e Congo Velho. Os traçados dos
cursos d’água na região apresentam padrões básicos dos tipos em treliça, paralelo e
retangular mostrando direções preferenciais ENE-WSW, N-S e NW-SE. Tais padrões
revelam controles por contatos geológicos, traços de foliação e descontinuidades.
As sub-bacias dos córregos do Vieira, Capim Gordura e Congo Velho têm suas cabeceiras
de drenagem situadas na encosta sul do segmento da serra do Espinhaço, conhecido como
serra da Paula, em elevações superiores a 1400 metros de altitude. Estas encostas são
densamente drenadas por uma infinidade de pequenos canais de primeira ordem que só
muito raramente ultrapassam os 1.000 metros de extensão, formando antes confluências e
grupos hierárquicos de segunda ordem.
O equilíbrio alcançado entre os perfis longitudinais dos cursos d' água, a declividade das
encostas e a estabilidade geomecânica dos solos e do substrato, além da intercepção da
cobertura vegetal, têm assegurado condições de escoamento superficial sem
desenvolvimento de processos de erosão acelerada que poderiam comprometer a
146
quantidade e a qualidade dos recursos hídricos.
Os principais afluentes do rio Socorro à montante da confluência com o rio Conceição, são
pela margem direita, os córregos da Lagoa Funda, Campestre, do Brás, Olho D’água,
Lapinha, Pedra Vermelha, córrego da Onça, Coqueiro, Olaria, Andorinha, e Capim
Cheiroso; pela esquerda, córregos do Mato Grosso, Ponte Funda, Maria Casimira, Santa
Cruz, do Vieira, Congo Velho, do Congo, Trindade, Cabral, Três Moinhos e São Miguel.
A bacia do rio Socorro drena uma área basicamente rural, uma vez que, à exceção de Barão
de Cocais, estão localizados na região apenas alguns distritos, como Socorro e Gongo
Soco. Grandes áreas da bacia são ocupadas por campos e pastagens e algumas encostas
foram utilizadas para reflorestamento com eucaliptos, verificando-se ainda a ocorrência de
matas nativas, principalmente junto às cabeceiras de drenagens (Figura 4.4).
147
4.2.MEIO BIÓTICO – FLORA
Gongo Soco localiza-se dentro do bioma Mata Atlântica. A Mata Atlântica encontra-se,
hoje, reduzida a fragmentos florestais, na sua maioria descontínua. Chegou a representar
15% do território nacional, mas atualmente seus remanescentes perfazem apenas 6,8%, ver
Figura 4.5.
.
Figura 4.5 Remanescentes florestais da Mata Atlântica.
Fonte: Ciência Hoje On-line. Juliana Tinoco, 2006.
Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/64022
A Figura 4.5 mostra os remanescentes florestais da Mata Atlântica (em verde) e a área total
da cobertura original da floresta (mancha amarela).
De acordo com Câmara & Murta (2007) o Brasil é o quinto maior país do mundo e
contribui com aproximadamente 14% da biota mundial. A flora brasileira possui cerca de
56.000 espécies de plantas catalogadas, representando 19% dos vegetais da terra. O
domínio Mata Atlântica é dividido em diferentes formações definidas pelo CONAMA em
149
1992, tais como Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Estacional
Decidual, Floresta Estacional Semidecidual, Mangues e Restingas, entre outros.
150
4.2.2.COBERTURA VEGETAL LOCAL
A vegetação remanescente em Gongo Soco enquadra-se na fitofisionomia da Mata
Estacional Semidecidual. Sua vegetação está condicionada a uma dupla estacionalidade
climática, uma tropical com época de intensas chuvas de verão seguida por estiagem
acentuada, e outra subtropical sem período seco, mas com seca fisiológica. Durante a
estação seca cerca de 20 a 50% dos indivíduos perdem folhas (Veloso et al., 1991).
As porções norte, leste e oeste da cava são as que apresentam as formações vegetais mais
bem preservadas na propriedade possuindo remanescentes vegetais em estágio médio a
avançado de regeneração. O estágio médio a avançado de regeneração possui fisionomia
arbórea e/ou arbustiva predominando sobre a herbácea, constituindo estratos diferenciados,
com altura média variando de 5 m (cinco metros) a 12 m (doze metros). A cobertura
vegetal varia de fechada a aberta, com ocorrência eventual de indivíduos emergentes. A
distribuição diamétrica apresenta amplitude moderada, DAP (diâmetro à altura do peito)
médio, com predominância dos pequenos diâmetros variando de 10 cm (dez centímetros) a
20 cm (vinte centímetros).
De acordo com os levantamentos realizados pela Lume (2007) observou-se nestas porções,
indivíduos dispersos das espécies Cabralea canjerana e Cedrela fissilis, que são
característicos de remanescentes em estágio avançado de regeneração natural, porém
predominam as espécies secundárias inicias e tardias na sucessão natural.
151
metros), podendo apresentar árvores emergentes ocorrendo com diferentes graus de
intensidade; copas superiores horizontalmente amplas; distribuição diamétrica de grande
amplitude com DAP médio superior a 18 cm (dezoito centímetros).
Encontra-se na área espécies que, segundo a Deliberação Normativa COPAM n.° 73/2004,
pertencem ao estágio avançado de regeneração natural, como as espécies: Apuleia
leiocarpa (Garapa), Aspidosperma parvifolium (Guatambu), Aspidosperma sp. 2 (Tambú
branco), Cariniana estrellensis (Jequitibá rosa), Cedrela fissilis (Cedro), Copaifera
langsdorffii (Copaíba), Ficus sp. (Gameleira), Ocotea laxa (Canela-prego), Ocotea
odorifera (Canela sassafrás) e Ocotea sp. (Canela com cheiro).
152
natural e condição atual de preservação. Das 34 áreas indicadas no mundo, a Mata
Atlântica e o Cerrado são as únicas no território nacional (Câmara & Murta, 2007).
O Brasil abriga uma das maiores faunas de aves do mundo, com um total de 1731 espécies.
Cerca de 10% são endêmicas e 193 estão sob ameaça de extinção. A Mata Atlântica conta
com 1020 espécies das quais 188 endêmicas.
O grupo dos anfíbios conta com 765 espécies, das quais 737 são anuros (sapos, rãs e
pererecas), 27 cobras-cegas e uma salamandra. A Mata Atlântica é o bioma com a maior
quantidade de espécies 340 devido ao alto índice pluviométrico, à grande disponibilidade
de ambientes úmidos e à diversidade estrutural arbórea. Em Minas Gerais ocorrem
espécies restritas aos complexos da Mantiqueira, ao Espinhaço e ao vale do Jequitinhonha.
A lista de espécies ameaçadas de extinção do país registra 16 espécies.
153
as comunidades faunísticas primitivas e que antes apresentavam ampla distribuição se
encontram hoje localmente sob risco.
Tabela 4.2 - Listagem das espécies de aves observadas na ADA pela ampliação da cava de Gongo Soco.
FAMÍLIA Densidade
Nome científico mínima
Nome popular (ind./ha)
CATHARTIDAE
Coragyps atratus inferior a 0,2
Urubu
Cathartes aura 0,2
Urubu caçador
FALCONIDAE
Milvago chimachima inferior a 0,1
Pinhé
CRACIDAE
Penelope superciliaris inferior a 0,1
Jacuaçu
COLUMBIDAE
Columba plumbea 0,3
Pomba amargosa
TROCHILIDAE
Phaethornis pretrei 0,2
Beija flor da mata
Phaethornis eurynome 0,2
Beija flor da mata
Thalurania glaucopis 0,5
Beija flor tesoura verde
Amazilia lactea 0,2
Beija flor de barriga azul
Chlorostilbon aureoventris 0,3
Besourinho verde
154
FAMÍLIA Densidade
Nome científico mínima
Nome popular (ind./ha)
TROGONIDAE
Trogon surrucura 0,2
Surucuá
PICIDAE
Picumnus cirratus 0,3
Pica-pau anão
Verniliornis passerinus 0,2
Picapauzinho
Verniliornis maculifrons 0,2
Picapauzinho
DENDROCOLAPTIDAE
Xiphocolaptes albicollis 0,3
Arapaçu
FURNARIIDAE
Synallaxis frontalis 0,3
Zucli
Lochmias nematura 0,6
Capitão da porcaria
THAMNOPHILIDAE
Thamnophilus caerulescens 0,9
Choca cinzenta
Drymophila ferruginea 0,6
Trovoada
Drymophila ocropiga 0,9
Choquimha
Pyriglena leucoptera 0,6
Papa taoca
TYRANNIDAE
Chiroxiphia caudata 0,2
Tangará dançarino
Colonia colonus 0,2
Viuva
Megarhynchus pitangua 0,2
Nei nei
Phylloscartes dificilis 0,3
Cebinho
Phylloscartes oustaleti 0,9
Cebinho
Myiobius atricaudus 0,3
Assanhadinho
Muscipipra vetula 0,2
Tesoura cinzenta
Tolmomyias sulphurescens 0,6
Bico chato de orelha
Todirostrum poliocephalum 0,4
Ferreirinho
Todirostrum plumbeiceps 1,5
Ferreirinho canela
Camptostoma obsoletum 0,2
Risadinha
TURDIDAE
Turdus amaurochalinus 0,2
Sabiá poca
155
FAMÍLIA Densidade
Nome científico mínima
Nome popular (ind./ha)
VIREONIDAE
Cyclarhis gujanensis 0,6
Gente de fora vem
Hylophilus poicilotis 02
Verdinho coroado
EMBEREZIDAE
Basileuterus flaveolus 0,2
Canário da mata
Basileuterus hypoleucus 1,3
Pichito
Coereba flaveola 0,6
Caga sebo
Dacnis cayana inferior a 0,1
Sai azul
Tangara cyanoventris 0,6
Saíra de cabeça amarela
Tangara cayana 0,7
Saíra amarela
Hemithraupis ruficapilla 0,4
Saíra de cabeça vermelha
Cissopis leveriana 0,3
Tietinga
Saltator similis 0,4
Trinca ferro
Sporophila nigricollis 0,2
156
Tabela 4.3 - Espécies de mamíferos registradas na mina de Gongo Soco durante campanha de julho de 2007.
ORDEM TIPO DE LOCAL DO
FAMÍLIA NOME COMUM REGISTRO REGISTRO
ESPÉCIE
Didelphimorphia
Didelphidae Cuíca-quatro-olhos Captura
Philander frenatus
Rodentia
Muridae Rato-do-chão Captura
Akodon sp Rato Captura
Oligoryzomys eliurus
Carnivora
Mustelidae Jaratataca Pegadas, cheiro 23k 0648422 UTM 7793843
Conepatus semistriatus 23k 0653730 UTM 7790616
Carnivora
Procionidae 23k 0645662 UTM
Procyon cancrivorus Mão-pelada Pegadas 7791090
Carnivora
Felidae Onça-pintada Pegadas 23k 0648422 UTM 7793843
Panthera onca * #
Carnivora
Canidae Cachorro-do-mato Pegadas 23k 0648050 UTM 7793810
Cerdocyon thous 23k 0648422 UTM 7793843
Carnivora
Canidae Lobo-guará Pegadas, fezes 23k 0653730 UTM 7790616
Chrysocyon brachyurus *# 23k 0648305 UTM
7793810
Carnivora
Mustelidae Irara Pegada 23k 064805 UTM 7793810
Eira barbara
Pilosa
Mymercophagidae Tamanduá-mirim Entrevista
Tamanduá tetradactyla #
Primates
Callitrichidae Mico-estrela Vocalização, 23k 0648408/779312
Callithrix penicilatta Visualização 23k 0648392/7793850
Primates
Cebidae Guigó Vocalização 23k 0648305/7793810
Callicebus nigrifrons 23k 0648408/779312
Artiodactyla
Cervidae Veado Pegadas 23k 0645662/7791090
Mazama sp 23k 064805/7793810
Rodentia
Cuniculidae Paca Pegadas 23k 0645662/7791090
Cuniculus paca
Rodentia
Hydrochoeridae Capivara Pegadas
Hydrochoerus hydrochaeris 23k 0645662/7791090
Legenda: # Mamíferos ameaçados de extinção em Minas Gerais (Machado et al., 1998);
* Mamíferos ameaçados de extinção no Brasil (Machado et al., 2005).
Fonte: Nicho, 2007.
157
(Callicebus personatus), que apesar de serem relativamente comuns nesta região do Estado
estão normalmente associados a manchas de mata mais extensas e bem conservadas. Desta
forma é lícito concluir que as matas e capoeiras que se encontram no interior e no entorno
da propriedade de Gongo Soco apresentam uma boa capacidade de suporte para a fauna de
aves e de vertebrados terrestres e, ainda que não seja suficiente para a manutenção de
muitas espécies que habitavam a região antes do início das atividades antrópicas,
desempenha papel relevante na manutenção da diversidade faunística local e regional.
4.4.MEIO ANTRÓPICO
A economia dos municípios detentores de atividades minerárias sofrem grandes alterações
quando surgem novos empreendimentos no território dos mesmos, ou quando os que já
existem são ampliados. Sendo assim, o município de Barão de Cocais, assim como todos
os municípios brasileiros que são detentores destas atividades, têm o direito à parte do
lucro com a venda do produto final assegurado por lei. Sendo esse montante distribuído na
seguinte proporção:
• 12% para a União (DNPM, IBAMA e MCT1);
• 23% para o Estado onde for extraída a substância mineral;
• 65% para o Município produtor.
Direito esse amparado pela Constituição Federal de 1988 que, em seu Art. 20, § 1º, cita:
“A Compensação Financeira pela Exploração Mineral - CFEM é devida
aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da
administração da União, como contraprestação pela utilização
econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios.”
A CFEM ainda é regulamentada pelas Leis n.°s 7.990/89, 8.001/90 e 9.993/00, bem como
pelo Decreto n.º 1/91. Sendo de responsabilidade do DNPM, a administração,
normatização e fiscalização sobre a arrecadação da CFEM (Lei n° 8.876/94, art. 3° - inciso
IX).
A CFEM é gerada a partir do cálculo sobre o valor do faturamento líquido das empresas
minerárias, concebido na venda do produto mineral originário das áreas da jazida, mina,
1
Ministério da Ciência e Tecnologia.
158
salina ou outros depósitos minerais. Deste valor são deduzidos os tributos (ICMS1 , PIS2 e
COFINS3), que são incidentes na comercialização, assim como as despesas com transporte
e seguro. Na ocasião onde o produto mineral é consumido, transformado ou utilizado pelo
próprio minerador, então se considera como valor, para efeito de base do cálculo da
CFEM, o somatório das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da utilização
do produto mineral. Em Gongo Soco, a jazida explotada é constituída de hematitas que é
detentora de altos teores de ferro. O DNPM aplica alíquotas específicas sobre o
faturamento líquido para a obtenção da CFEM, variando-se de acordo com a substância
mineral da seguinte maneira:
Aplica-se a alíquota de 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e
potássio;
2% para: ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias;
0,2% para: pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais
nobres;
1% para: ouro.
O pagamento da CFEM é realizado mensalmente, até o último dia útil do segundo mês
subseqüente ao fato gerador, ou seja, a venda do produto mineral. Sendo a efetuação do
mesmo feito por meio de boleto bancário, emitido no site do DNPM (Guia de
Recolhimento da União – GRU disponível em www.dnpm.gov.br) na internet, em qualquer
agência bancária até a data do vencimento. Já o recebimento do beneficio, é creditado para
o Estado de Minas Gerais e conseqüentemente para o município de Barão de Cocais no
sexto dia útil que sucede ao recolhimento por parte das empresas de mineração. Segundo o
DNPM, “o município produtor é aquele onde ocorre a extração da substância mineral”. O
mesmo Departamento discrimina quando da existência de substâncias em limites
municipais e orienta que caso isso ocorra, deverá ser preenchida uma GUIA/CFEM para
cada município, guardadas as proporções de produção de cada um deles. Como a CFEM,
juridicamente não é considerada um imposto, e sim uma contraprestação econômica pela
exploração mineral em seus respectivos territórios, os recursos originários da arrecadação
da mesma não poderão ser aplicados de forma genérica. Ou seja, em pagamento de dívidas
1
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços.
2
PIS - Programa de Integração Social.
3
COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
159
ou no quadro permanente de pessoal da União, dos Estados, do Distrito Federal e
Municípios. O investimento deverá ser direcionado para projetos que, direta ou
indiretamente, revertam em prol da comunidade local na forma de melhoria da infra-
estrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação.
4.500.000
4.000.000
VALORES EM R$ 1,00
3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
2006 2007
2008 2009
2010 2011
2012 2013
ANOS
160
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
ANOS
S/EXPANSÃO C/ EXPANSÃO
4.4.1.POTENCIALIDADE TURÍSTICA
Sabendo da temporalidade do recurso mineral que se esvai durante o tempo, Barão de
Cocais passará por dificuldades econômicas no futuro. Apesar de deter outras jazidas
sendo exploradas em seu território, o município, através de seu poder público e com a
participação da sociedade organizada, deve pensar desde já em alternativas na geração de
emprego e renda. Essa preocupação é fundamental para a sobrevivência de sua economia e
manutenção/melhoria da qualidade de vida dos municípios.
Analisando a Figura 4.8, na linha do tempo da mina de Gongo Soco, a mesma encontra-se
em seu auge com expansão. Este fato corrobora a necessidade que o município tem de se
planejar para a busca de novas formas de utilização do seu território como modelo
econômico.
Diante disso e do fato que Barão de Cocais também conserva sua origem no ciclo do ouro
(que faz parte do circuito da Estrada Real), preservando o importante sítio arqueológico de
Gongo Soco, vislumbra-se que o turismo pode ser um dos pontos fortes para a geração de
emprego e renda para a população.
161
Taxas de
expansão II. Expansão III. Estabilidade com
em ritmo taxa de expansão
decrescente próxima de zero
IV. Declínio com taxas
negativas de expansão
I. Expansão em ritmo
crescente
tempo
Figura 4.8 - O Ciclo de Expansão da Atividade Mineradora.
Fonte: Haddad, P.R - PHORUM Consultoria (2006).
Figura 4.9 - Foto das ruínas de Gongo Soco tombadas pelo IEPHA.
Fonte: Foto Neto, S.E. – Nicho, 2003.
162
A 3 km do distrito de Cocais, localiza-se o sítio arqueológico Pedra Pintada de Cocais,
onde pinturas rupestres ainda podem ser apreciadas. Além destes fatores, Barão de Cocais
está muito próximo do Parque Natural e Reserva do Caraça, propriedade particular com
mais de 11 mil hectares de extensão de mata atlântica, cerrado e montanhas.
Bem sinalizado, o parque oferece boa estrutura ao turismo, com áreas destinadas ao lazer,
além de monitores para acompanhamento dos passeios por suas trilhas e exuberantes
cachoeiras. Há também cavernas como a do Centenário, a mais profunda (485 metros) e
mais extensa (4.700 metros) cavidade natural em quartzito do mundo.
4.5.MONITORAMENTOS AMBIENTAIS
A Vale adota uma série de monitoramentos, dentre as quais se destacam:
• Programa de monitoramento hídrico (qualidade da água) superficial e subterrâneo;
• Programa de controle e monitoramento geotécnico;
• Programa de controle da qualidade do ar;
• Programa de monitoramento de ruídos e vibrações; e
• Programa de monitoramento da fauna.
163
consolidados e analisados, sugerindo ou não alterações tanto no que tange à localização
dos pontos de coleta de amostras quanto às freqüências e listagem de parâmetros
amostrados.
4.5.2.MONITORAMENTO GEOTÉCNICO
Tem como objetivo garantir o desenvolvimento da atividade minerária segura
considerando-se os aspectos hidrológicos, hidrogeológicos e geotécnicos. Visa à
estabilidade física da cava, da barragem de rejeitos e das pilhas de disposição de estéril. O
programa de controle e monitoramento é composto de:
Inspeções periódicas de campo onde são avaliadas as condições de estabilidade ao
escorregamento dos taludes, presença de processos erosivos superficiais, condições
dos dispositivos de drenagem e condições da revegetação instalada;
Análises das leituras dos instrumentos de monitoramento hídrico (piezômetros,
medidores de nível d´água, poços de rebaixamento do NA); e
Acompanhamento sistemático com retroanálise da estabilidade global dos taludes
da cava, da barragem e das pilhas.
4.5.2.1.MONITORAMENTO DA CAVA
As avaliações são realizadas pela equipe de geotecnia da Vale e por consultores externos.
O monitoramento geotécnico engloba observações visuais e acompanhamento dos
monitoramentos hidrogeológicos (leituras/interpretação dos piezômetros instalados nas
diversas formações geológicas e controle das vazões dos poços de bombeamento). A
interpretação dos resultados é acompanhada pela equipe de hidrogeologia, geotecnia e de
lavra (curto e longo prazo) e por consultores externos.
164
4.5.2.2.MONITORAMENTO DA BARRAGEM
A auscultação de uma barragem é o conjunto de processos que visam a observação,
detecção e caracterização de eventuais deteriorações que constituem risco potencial às
condições de sua segurança global (Gomes, 2005). A auscultação pode ser feita por:
• Inspeções visuais: é o processo da auscultação qualitativa, através de vistorias
periódicas de campo;
• Instrumentação: é o processo de aquisição, registro e processamento sistemático
dos dados obtidos a partir dos instrumentos de medida instalados no aterro e na
fundação da barragem.
De acordo com Gomes (2005), estes processos devem ser realizados em conjunto durante
toda a vida útil da barragem, de forma a fornecer subsídios necessários para uma eventual
revisão ou adaptação dos procedimentos adotados na construção, operação ou manutenção
da barragem, definindo a etapa de controle do empreendimento, permitindo ainda verificar
se uma dada condição de risco está se desenvolvendo ou se é potencialmente viável de
ocorrer.
165
Tabela 4.4 - Instrumentação da Barragem Sul.
Topo
Cod. Data Cota Cota Cota do Nível Nível
Localização Profundidade da
Instrumento Instalação Topo Fundo Terreno Atenção Emergência
Célula
MACIÇO PZ 04 01/01/2002 885.000 865.000 20.000 871.000 884.90 .000 .000
MACIÇO PZBSS 02 M 01/10/2001 930.647 903.14 27.500 905.147 930.147 924.860 927.420
MACIÇO PZBSS 03 M 30/09/2004 910.906 885.316 25.589 886.316 910.316 904.430 908.140
FUNDAÇÃO PZBSS 09 F 21/04/2002 900.210 870.210 30.000 871.210 900.210 895.210 897.470
MACIÇO PZBSS 09 M 21/04/2002 900.210 885.210 15.000 886.210 900.210 895.210 897.470
MACIÇO PZBSS 10 M 30/09/2004 910.764 887.16 23.600 888.164 910.164 904.43 908.140
MACIÇO PZBSS 12 M 30/09/2004 920.711 899.001 21.710 900.001 920.001 913.98 916.550
MACIÇO PZBSS 13 M 30/09/2004 921.306 899.616 21.690 900.616 920.616 913.980 916.550
MACIÇO PZBSS 5B 01/12/2006 949.816 938.306 11.510 936.306 949.710 945.220 947.630
Fonte: VALE/2007.
166
Tabela 4.5 - Estrutura do Índice de Qualidade do Ar.
IQA – Índice
PTS PM10 Qualidade do Cor de Resolução
3 3 de Qualidade
(µg/m ) (µg/m ) Ar Referência CONAMA 03/90
do Ar
0 – 80 0 - 50 0 - 50 BOA ATENDE AO
81 – 240 51 - 150 51 - 100 REGULAR PADRÃO
241 – 375 151 - 250 101 - 199 INADEQUADA
376 – 625 251 - 420 200 - 299 MÁ NÃO ATENDE
626 – 875 421 - 500 300 - 399 PÉSSIMA AO PADRÃO
876 – 1000 501 - 600 ≥ 400 CRÍTICA
Fonte: VALE – Julho-2006
100
60
µg/m3
39,36 40,64
40 34,77 36,75
33,55 34,47
31,70 30,23
20
0
2004 2005 M A R/05 a A BR/05 a M A I/05 a JUN/05 a JUL/05 a AGO/05 a
FEV/06 M AR/06 AB R/06 M AI/06 JUN/06 JUL/06
167
CAPÍTULO V
5. PROPOSIÇÕES DE DESCOMISSIONAMENTO DA MINA DE
GONGO SOCO
O processo de fechamento de uma mina engloba uma série de quesitos de ordem técnica,
econômica, ambiental, social e educacional, de análise de ameaças, oportunidades e
exigências que precisam ser abordados, bem como o calendário para que essa atividade
ocorra.
168
Produto Interno Bruto (PIB) de Nova Lima, além de proporcionar um aumento de 150% na
arrecadação do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e de 50% no
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
Considerando que as condições originais de Gongo Soco não serão restabelecidas na área
em estudo, as proposições apresentadas nesta dissertação têm como objetivo simular
situações possíveis de uso futuro, seguindo a legislação vigente, minerária e ambiental, na
busca da estabilidade e integridade do sistema a ser formado no contexto local.
O resultado de muitos anos de explotação de minério de ferro em Gongo Soco será uma
cava com 500 metros de profundidade e 190,26 ha de área de intervenção, com presença de
declividades acentuadas e áreas de risco de movimento de massa; quatro pilhas de
disposição de estéril; três instalações de tratamento de minério; duas barragens de rejeitos;
uma via férrea; um pátio de embarque de minério; sub-estação e rede de distribuição de
energia; oficinas; prédios administrativos e operacionais. Todas essas estruturas
apresentam especificidades ligadas a potencial de risco de erosão, movimentos de massa e
potencial contaminante, que exigem regras de tratamento que as torne compatíveis com a
situação de novo uso.
169
Figura 5.1 - Fluxograma esquemático do sistema de funcionamento da mina de Gongo Soco.
Fonte: Elaborado por Neto, S.E, 2008.
170
Não há regras, no entanto, para determinação de um novo uso, nem procedimentos
específicos a serem adotados, visto que cada mina tem suas particularidades, regiões de
inserção com características distintas, que devem ser consideradas. Porém, o uso
sustentável de áreas mineradas – ecológicas inclusive, consolida-se como uma alternativa
para diminuir os impactos sociais e fomentar futuros empreendimentos que promovam a
geração de empregos e renda, perdidos com a exaustão da atividade.
Para a primeira alternativa seria formado um lago na cava até a cota 965 metros,
desmobilização das ITM’s, transformando este local e as áreas remanescentes em unidade
de conservação na categoria de RPPN e implantação de centro de educação e pesquisa.
171
receber grande volume de tal material. Ressalte-se que esta opção favorece o
restabelecimento de parte do equilíbrio hidrogeológico, visto que devolve na cava material
permeável similar ao removido pela extração de minério e estéril. Ao redor da mina de
Gongo Soco existem concessões de lavra da Vale, como Gongo Velho, Baú, Piacó e
Maquiné que poderão vir a utilizar tal estrutura gerando ganho para o meio ambiente, por
se evitar a formação de novas barragens de rejeito. Ressalta-se que as áreas remanescentes
serão também recuperadas e incorporadas a uma unidade de conservação.
172
porção norte e nordeste, ver pontos 9 e 10.
173
No momento do descomissionamento Gongo Soco comporá as seguintes formações
listadas na Tabela 5.3 e ilustradas na Figura 5.4.
176
5.2.ALTERNATIVA 1 – PÓS-FECHAMENTO – USO EXCLUSIVO PARA
CONSERVAÇÃO
Conforme já mencionado o pós-fechamento ou descomissionamento de um
empreendimento minerário é uma etapa posterior à recuperação. Seria o uso futuro
proposto para a área.
A cava exaurida terá como novo uso da área minerada um lago até a elevação 965 metros,
com desnível variável de, no máximo, 133 metros de profundidade. O lago que se formará
178
na cava promoverá a recuperação das vazões naturais impactadas e consistirá num grande
reservatório de água. Esse reservatório poderá ser integrado ao sistema de abastecimento
público de água da cidade de Barão de Cocais, distante 18 km do centro da cidade. A
acumulação de água no interior da cava funcionará também como área de recarga dos
aqüíferos. Além deste fato o lago promoverá a regularização das vazões, acumulando água
nos períodos chuvosos e funcionando como reserva nos períodos de estiagem (Bertachini,
1994).
A Figura 5.5 ilustra a alternativa 1 de uso futuro proposto para área. Todas as pilhas de
disposição de estéril remanescentes deverão ser incorporadas como Unidade de
Conservação. Exceção feita quanto aos taludes superiores da cava (acima da cota 965 m) e
as barragens de rejeitos, que deverão ser permanentemente monitoradas, sendo
classificadas como áreas de restrição geotécnica.
As porções superiores da cava acima da cota 965 m, que atingem os taludes e as bermas
finais, serão revegetadas. Além desta medida a Vale já adota de forma controlada o
direcionamento das águas pluviais para o interior da cava. Desta forma, a empresa deverá
intensificar os trabalhos de drenagem superficial com caimentos longitudinais (1%) e
transversais (3%) distribuindo os fluxos pluviais de forma a evitar processos erosivos,
gatilhos para a instabilidade de taludes. O direcionamento do fluxo pluvial deverá ser
encaminhado para caixas de passagem e descidas d´água previamente dimensionadas para
períodos de recorrência superiores a 100 anos.
179
5.2.3.RECUPERAÇÃO FLORESTAL COM VEGETAÇÃO NATIVA DAS
ESTRUTURAS MINERÁRIAS REMANESCENTES
O programa de reabilitação terá como objetivo principal a recomposição da vegetação
nativa dos taludes da cava (acima da cota 965 m), das bermas e taludes das PDE’s e da
área das ITM’s, visando à recuperação da flora local, aumentando o habitats para a fauna
além de minimizar o impacto visual.
A prática observada hoje nas minerações a céu aberto consiste na revegetação de áreas que
não sofreram mais intervenção a partir da aplicação de biomantas e semeadura de
gramíneas e leguminosas.
Raras são as situações onde observa-se reflorestamento. Esta prática deve mudar, visto que
a mina se insere no bioma da Mata Atlântica, protegido por Lei Federal e abrange áreas de
preservação permanente (APP), que, legalmente, devem ser reflorestadas com espécies dos
ecossistemas originais.
A cobertura vegetal nativa é expressiva em Gongo Soco, com presença de várias espécies
ameaçadas de extinção que compõem a expressiva floresta observada.
Por isso, o reflorestamento é o mais indicado, inclusive porque será cobrado pelas
instituições públicas, em relação a condicionantes impostas no licenciamento pretérito do
181
empreendimento.
Não existe, no entanto, nenhuma estrutura para a produção de mudas na unidade minerária,
o que deverá consistir numa preocupação para a empresa, nos anos que antecedem o
fechamento da mina.
Nas áreas que não sofreram intervenções minerárias, não serão necessárias medidas de
recuperação ambiental, uma vez que já se encontram com vegetação em diferentes estágios
de regeneração natural. Os remanescentes atuais e esses últimos são fontes de propágulos
para o reflorestamento necessário.
Nas estruturas minerárias remanescentes (PDE’s), após as áreas serem recuperadas com
vegetação nativa e garantidas sua estabilidade física, serão incorporadas à Unidade de
Conservação.
A maioria dos planos de fechamento de mina propõe para uso futuro, a criação de áreas
agrícolas e comerciais (condomínios residenciais). No caso de Gongo Soco, fica evidente
que tais usos não são compatíveis, visto as condições geotécnicas não apropriadas ao uso
humano intensivo, com edificações, residências e trânsito. A mina remonta desde o século
XIX e situa-se na zona de transição entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado.
Observa-se um sítio arqueológico (vila britânica do século XIX), tombada pelo IEPHA em
1995, constituindo o conjunto das ruínas de Gongo Soco, que são as características mais
marcantes que devem ser potencializadas pela conservação, divulgação e pesquisa.
182
A Unidade de Conservação proposta para a área seria uma maneira de reverter a paisagem
local visto que é intensa a exploração dos recursos naturais que datam desde o século XIX.
Cabe ressaltar que além deste uso futuro deverá ser dada ênfase na educação ambiental e
uso sustentável na região, explorando o conjunto das ruínas de Gongo Soco.
São relevantes as análises referidas por Grossi (1981), Volpato (1984) e Minayo (1986),
que visam o resgate do passado e a apropriação da história local pelas antigas e atuais
comunidades mineiras. Tais proposições poderiam contribuir para o desenvolvimento
local, através de projetos de conservação, restauro e uso turístico e educativo de antigas
minas e demais elementos do patrimônio mineiro, a exemplo do que ocorre em muitas
regiões mineiras de diversos países.
Portanto, propõe-se a criação de cursos de curta duração voltados para a área das ciências
da natureza, oportunizando aos jovens da região conhecimentos na área ambiental e de
conservação do patrimônio. Poderiam ser criados ainda programas educativos, cursos
técnicos para a comunidade local e regional e para funcionários da Vale.
Para que esta proposta possa ser implantada, a Vale deverá criar parcerias com a Prefeitura
Municipal de Barão de Cocais, IEPHA, Centro Federal de Ensino Tecnológico de Ouro
Preto – CEFET-OP e Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP.
183
Além dos cursos já propostos, este centro de educação também poderia oferecer para as
comunidades locais e regionais visitas monitoradas. Com isso, adolescentes, jovens e
adultos poderiam ter a oportunidade de adquirir conhecimento sobre meio ambiente em um
local anteriormente explotado e que passaria a apresentar um cenário de
recuperação/conservação da biodiversidade.
5.2.6.PROGRAMA DE MONITORAMENTO
Corresponde ao período destinado ao acompanhamento dos programas de reabilitação
propostos, visando demonstrar e garantir o sucesso do descomissionamento da mina de
Gongo Soco.
184
Cabe destacar que não há uma regra específica que defina o momento/período de
monitoramento de estruturas minerárias pós-fechamento. Somente após uma análise
preliminar de risco, ou seja, anterior ao fechamento irá nortear diretrizes necessárias de
monitoramento contínuo, permanente ou mesmo esporático.
O minério proveniente destas futuras lavras poderia ser conduzido por transportadores de
correia, sendo processado nas ITM’s de Gongo Soco.
Além do minério transportado para as ITM’s de Gongo Soco, a Vale pode analisar também
a viabilidade em transportar estéril proveniente das minas citadas, conduzido via correia
transportadora e dispondo-o no interior da cava exaurida. Estas propostas merecem uma
análise criteriosa quanto aos aspectos técnicos, operacionais e financeiros, mas são
recomendados frente às limitações legais impostas, especialmente às de proteção ao meio
natural.
Esta alternativa pode ser adotada mantendo as outras propostas de uso futuro apresentadas
na alternativa 1. A única diferença seria uma pequena redução de 26,57 ha na RPPN, pois
185
as instalações de tratamento de minério e embarque iriam funcionar. Sendo assim, a
altenativa 2 (uso misto) teria 317,49 ha (cava e barragens – restrição geotécnica), 26,57 ha
(área das ITM’s) e 1106,90 ha de RPPN (Figura 5.6)
Tabela 5.4 - Vantagens e Desvantagens das Alternativas de Uso Futuro para a Mina de Gongo Soco.
FATORES ALTERNATIVA 1 ALTERNATIVA 2
QUALITATIVOS VANTAGEM DESVANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM
MEIO FÍSICO
Disposição de Utilização de área
rejeitos e/ou estéril impactada para
proveniente de disposição de rejeito e/ou
minas próximas a estéril no interior da cava
Gongo Soco exaurida
Controle sistemático
Controle geotécnico dos
(intenso) da
taludes finais – problema
estabilidade dos
Estabilidade menos intenso
taludes com a
Geotécnica da (confinamento com o
recuperação do
Cava Final rejeito e/ou estéril
aqüífero (situação
proveniente de outras
dos taludes não
minas).
drenados)
Reservatório de
água podendo
integrá-lo ao
Formação do Lago sistema de
na Cava abastecimento
público de
Barão de
Cocais.
Aumento da
Diminuição da
manutenção de
manutenção de
poços verticais
poços de
(garantir a vazão
Bombeamento bombeamento
de cursos d´água
D´água d´água para
impactados com
manutenção de
provável
vazões dos
diminuição da
cursos d´água.
vazão)
MEIO BIÓTICO
Preservação de É previsto pela Vale Diminuição dos impactos
Vegetação Nativa a abertura de novos ambientais quanto à
na Região (QF) empreendimentos supressão de
186
minerários na remanescentes florestais
região. Haverá de mata Atlântica.
necessidade de Aumento da
implantação de biodiversidade da região
novas plantas de devido a não supressão
tratamento de de vegetação nativa.
minério, (aumento do habitat para
implantação de a fauna)
novas PDEs e de
Barragens de rejeito
(impacto ambiental
significativo de
novas áreas no QF).
Implantação de
Unidade de Ambas alternativas são positivas para o meio ambiente
Conservação (UC)
MEIO ANTRÓPICO
Funcionamento das
ITMs processando
minério de ferro
proveniente de minas
próximas a Gongo Soco.
Funcionamento do
Manutenção de
Carregamento/Transporte
Postos de Trabalho
e Comercialização de
produtos finais (sinter-
feed, pellet-feed e
granulado) com a
manutenção do pátio de
produtos (pêra
ferroviária)
Implantação do
Centro de
Ambas alternativas são positivas para o meio ambiente
Educação e
Pesquisa
Fonte: Elaborado por Neto, S.E, 2008.
187
CAPÍTULO VI
6. CONCLUSÃO
Esta dissertação enfocou este sujeito, mas se ateve sobre a definição do uso futuro da área,
considerando que as questões técnicas pertinentes à estabilidade da cava, pilhas de
disposição de estéril, barragens deverão ser reavaliadas, principalmente para o caso da
cava, ou seja, considerar as análises de estabilidade para o caso não drenado (recuperação
do aqüífero).
A mina de Gongo Soco resultará numa cava de 500 metros de profundidade, cercada de
taludes íngremes, que será preenchida parcialmente por água até a cota 965 metros,
deixando 367 metros de taludes na porção norte e 90 metros na porção sul da cava, caso a
atividade principal seja paralisada. Caso ela continue, a cava provavelmente será
189
preenchida com rejeitos até a cota 965 metros, com possibilidade de disposição de estéril
acima desta cota.
Duas barragens de rejeito com 127,20 hectares de área e quatro pilhas de estéril deverão
permanecer no local, totalizando 269,92 ha, todas de grandes dimensões, com alturas entre
90 e 210 metros, com exceção da PDE Correia. As instalações de tratamento de minério,
pátio de estocagem, pátio de embarque, ferrovia, subestação, sucatas e resíduos estarão
paralisados para desmonte ou reutilização.
190
Outra questão que não foi tratada neste estudo, mas que é de suma importância no contexto
sócio-econômico regional, é a reposição do emprego e perda de arrecadação do município
de Barão de Cocais. Espera-se que funcionários locados em Gongo Soco sejam
encaminhados para outros empreendimentos, enquanto que, com a implantação de novos
empreendimentos minerários em Barão de Cocais, a arrecadação seja gradativamente
recuperada.
Com a proposta de uso misto para Gongo Soco, vários empregos deverão ser mantidos,
pois as ITM’s irão funcionar processando minério de minas próximas. Além destas
estruturas, o carregamento de produtos (pêra ferroviária) e a manutenção de sistema de
bombeamento de rejeitos para o interior da cava irão também fomentar diversos empregos
diretos.
Apesar da Vale ainda não possuir um plano de fechamento para a mina de Gongo Soco, a
dissertação ora apresentada visa contribuir para a discussão sobre o tema. Deve-se ressaltar
que as duas alternativas de uso futuro são exeqüíveis e embasadas na caracterização e
diagnóstico do empreendimento e pela experiência técnica do autor em estudos
geoambientais. Os cenários apresentados buscam assegurar a sustentabilidade ambiental da
região contribuindo para a preservação da biodiversidade, pois a mesma se insere no bioma
da Mata Atlântica, protegido pela Lei 11.428.
Com intuito de preservação, não se pode desvincular a questão da educação para sustentar
tais propostas. Para isso, um centro educacional foi sugerido para que gerações atuais e
futuras tenham oportunidade de adquirir conhecimento em meio ambiente, recuperação de
áreas degradadas e afins, perpetuando na região o entendimento sobre o uso sustentável de
recursos naturais.
Cabe ressaltar que as propostas apresentadas são exclusivas do autor da dissertação não
tendo sido discutidas com a Vale e tampouco com a população de Barão de Cocais. Nesse
contexto considera-se que tais proposições sejam instrumentos iniciais para subsidiar
futuras discussões quando a Vale apresentar seu plano de fechamento ao órgão ambiental
estadual (FEAM) e abrir as discussões com a comunidade.
191
CAPÍTULO VII
7.SUGESTÕES
Propõe-se para futuros estudos uma série de medidas que fundamentem mais detalhamente
este plano de fechamento, tais como: uma análise ou uma comparação do planejamento
estratégico e tático, contemplando a elaboração de análise de risco ambiental, geotécnico,
hidrogeoquímico; verificação da necessidade de selamento superficial das barragens de
rejeitos; manutenção de brigada de incêndios florestais; realização de um inventário
detalhado sobre as atividades da mineração antes do fechamento; continuidade dos
monitoramentos geotécnicos, hidrogeológicos das estruturas minerárias e manutenção do
monitoramento das vazões dos cursos d´água cadastrados no entorno de Gongo Soco (pós-
fechamento).
192
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