Geotecnia Descomissionamento de Mina

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Dissertação de Mestrado

AVALIAÇÃO MÍNERO-GEOAMBIENTAL DA
MINA DE GONGO SOCO PARA FINS DE
DESCOMISSIONAMENTO – PROPOSTAS

AUTOR: SÉRGIO EUSTÁQUIO NETO

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Francisco do Prado Filho


(UFOP)

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DA UFOP

OURO PRETO - ABRIL DE 2008


N469a Neto, Sérgio Eustáquio.
Avaliação minero-geoambiental da mina de Gongo Soco para fins de
descomissionamento: [manuscrito] propostas / Sérgio Eustáquio Neto - 2008.
xxii, 202f.: il., color.; grafs.; tabs.; mapas.

Orientador: Prof. Dr. José Francisco do Prado Filho.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto.


Escola de Minas. NUGEO.
Área de concentração: Geotecnia aplicada à mineração.

1Fechamento de minas - Teses. 2. Minas e recursos minerais - Teses.


2. Proteção ambiental - Teses. 4. Impacto ambiental - Teses. 5. Geotecnia -
Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.

CDU: 627.82(813.8)

Catalogação: [email protected]

ii
AGRADECIMENTOS
A Deus pela conquista, pois é o pilar da minha existência.

Aos meus pais José Ferreira Neto e Carmélia Alves Neto já falecidos, mas que sempre
lutaram pela educação dos filhos.

Ao meu irmão em especial Eng. Yusley Ferreira Neto que possibilitou minha formação
acadêmica que foi a base de diversas outras conquistas.

A minha “Linda” esposa e companheira Ruth Elizabeth Cruz que me acompanha desde
1985. Meu muito obrigado por sempre me apoiar nos grandes desafios. Ao meu querido
filho Pedro Henrique a jóia rara de minha vida. Vivo os dias por vocês.

Ao meu amigo Yash Maciel, geógrafo e jovem consultor da Lume Estratégia Ambiental.
Meu muito obrigado, foi imprescindível no andamento da dissertação, auxiliando-me na
elaboração das imagens georeferenciadas, ilustrando-a de forma magnífica.

A minha amiga Lídia Maria dos Santos, bióloga e parceira de vários projetos ambientais.
Meu muito obrigado pelas críticas construtivas que muito engrandeceu este trabalho.

À Lume Estratégia Ambiental Ltda e a Nicho Engenheiros Consultores Ltda que sempre
depositou confiança em meu trabalho. Muito obrigado por oportunizar-me compor suas
equipes de trabalho.

Agradeço ao Centro Federal de Ensino Tecnológico de Ouro Preto – CEFET – OP, pelo
apoio dado a mim, docente desta instituição desde 1997.

À Vale – Companhia Vale do Rio Doce, em particular ao Eng. Sérgio Botelho por ter
autorizado a elaboração desta dissertação quando ocupava o cargo de Gerente de Meio
Ambiente. À Enga Juliana Cota por também ter apoiado esta iniciativa. Meu muito
obrigado. Desejo-lhes sucesso.

Ao meu orientador e amigo professor José Francisco do Prado Filho pela confiança e
dedicação dispensada. Meu muito obrigado.

Ao coordenador do mestrado professor Romero César Gomes pelo seu dinamismo e


profissionalismo. Parabenizo-o pela excelência do curso de geotecnia aplicado à mineração
mais especificamente ao Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas da Universidade Federal
de Ouro Preto – NUGEO EMUFOP.

iv
RESUMO
A mineração é uma das atividades que mais interfere sobre os recursos naturais causando
impactos ambientais expressivos quando desenvolvida de maneira não planejada. Partindo
desta afirmação este trabalho apresenta, diante da legislação minerária e ambiental
atualizada, proposta de descomissionamento para a mina de Gongo Soco da Vale –
Companhia Vale do Rio Doce, visando o uso futuro da área, aptidões e particularidades
técnicas e ambientais.

Desde 2000 a Vale desenvolve na mina de Gongo Soco uma atividade minerária de forma
planejada. A exaustão do minério está prevista para 2014 e um novo uso deve ser dado ao
local.

Com base na caracterização do empreendimento, diagnóstico ambiental e situação sócio-


econômica regional, inserida no bioma de Mata Atlântica, a proposta base de uso futuro
para Gongo Soco foi dirigida para a criação de uma unidade de conservação na categoria
de reserva particular de patrimônio natural – RPPN. Esta unidade abrangerá as áreas de
propriedade da empresa que não sofreram intervenções minerárias, mais as áreas
recuperadas e recompostas com vegetação nativa das estruturas minerárias remanescentes,
tais como as pilhas de disposição de estéril, totalizando 1.133,47 hectares.

No entanto, frente à situação sócio-econômica regional, uma outra alternativa de uso misto
mineração/conservação foi delineada, resultando em duas alternativas desenhadas e
planejadas, para que no momento do fechamento, sejam executadas, a fim de dar novo uso
à área minerada a saber:

 Uso exclusivo para conservação fomentando a recomposição dos ambientes


remanescentes com os ecossistemas originais, criação de unidade de conservação com
vistas à implantação de estrutura de pesquisa, divulgação, visitação e educação. Para
essa alternativa haverá necessidade de desmobilização das instalações de tratamento de
minérios e formação de um lago na cava.
 Uso misto para outra atividade minerária, aproveitando as instalações de tratamento de
minérios e o ramal ferroviário para escoamento da produção de produto final. A cava
pode ser usada como bacia de contenção de rejeitos para tratamentos de minério de
outras minas próximas. Paralelamente a empresa poderá fomentar a recuperação dos
ambientes remanescentes, criar a unidade de conservação, desenvolver um ambiente de
educação e pesquisa, oportunizando planos de visitação de caráter técnico e educativo.

Tais alternativas podem ajudar a empresa a decidir sobre o melhor uso a ser dado para seu
empreendimento, lembrando que parte do sítio é tombado pelo IEPHA e integrante de
bioma protegido por Lei.

v
ABSTRACT
Mining is one of the human activities with deeper effects on natural resources and it causes
major environmental impact if carried out without proper planning. Starting from this
statement, in conjunction with the most up-to-date mining and environmental legislation,
this work presents a Decomissioning Plan for the Vale’s Gongo Soco mine, addressing the
possible future use for the mining area, considering its aptitudes and its technical and
environmental characteristics.

Vale takes on a planned mining activity on Gongo Soco mine since 2000. The mine is
expected to exhaust by 2014. After that, the area must have a post-mining land use.

The proposal presented here for future use of Gongo Soco area – an area that is part of the
Atlantic Forest biome, points to the creation of a private reserve of natural heritage (RPPN
– reserva particular de patrimônio natural), based on the undertaking profile, the
environmental diagnostics and the regional socio-economic situation. This reserve will
include areas owned by Vale that were not under mining exploration, plus the rehabilitated
area that will be recovered with native vegetation over remaining mining structures, as
sterile stockpiles, coming up to a 1.133,47 hectare reserve.

Considering the same regional socio-economic situation, though, this work also outlines a
second alternative, which combines the mixed use of mining/conservation. So, the results
are two alternatives previously designed and planned to be executed at the moment of mine
closure, in order to give a new use to the area. Those are the following:

 Conservational use of the land. Restoration of the exhausted area with previous, original
ecosystems. Creation of a Conservation Unity, for research activities, as well as
visitation, communication and educational purposes. This alternative demands the
deactivation of all mining facilities and the creation of a lake over the mining site.

 Mixed use, combining mining/conservation. A new mining activity in the area can take
advantage of the mining facilities and the railroad, for product transportation. The old
mining site can be used as a tailings disposal dam for other new mines around. At the
same time, the company can foment the rehabilitation of remaining damaged
environments, create a Conservation Unit, establish a research and education plan in this
Unit, and promote technical and didactic visitation plans.

These alternatives can help the company to decide about the best use of the land after mine
closure, considering that part of the site is inscribed by IEPHA (Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) as natural heritage and is part of a biome
protected by law.

vi
Lista de Figuras
Figura 1.1 - Regiões hotspots do planeta – áreas de conservação da natureza....................17
Figura 2.1 - Produção Bruta de Minério de Ferro................................................................26
Figura 2.2 - Produção de ROM e de Minério Contido. .......................................................27
Figura 2.3 - Reservas de minério de ferro no Brasil x Minas Gerais. .................................28
Figura 2.4 – Área de propriedade da Vale, reservas legais e área tombada pelo IEPHA....45
Figura 2.5 - Aspectos e impactos ambientais - mineração e processamento mineral
associados ao meio físico.....................................................................................................55
Figura 3.1 - Localização da mina de Gongo Soco. ..............................................................63
Figura 3.2 - Foto aérea da mina de Gongo Soco. ................................................................66
Figura 3.3 - Plano de lavra - 2007 e 2008............................................................................68
Figura 3.4 - Plano de lavra - 2009 e 2010............................................................................69
Figura 3.5 - Plano de lavra - 2011 e 2012............................................................................70
Figura 3.6 - Plano de lavra - 2013 e 2014............................................................................71
Figura 3.7 - Evolução da produção de hematita e itabirito - mina de Gongo Soco. ............72
Figura 3.8 - Relação Estéril/Minério – (2007 a 2014).........................................................73
Figura 3.9 - Evolução da Produção de ROM e de Estéril....................................................73
Figura 3.10 - Vista parcial da PDE Sudoeste com alteamentos projetados em 2006. Pilha
com capacidade de disposição de estéril esgotada...............................................................74
Figura 3.11 – PDE Correia com capacidade de disposição de estéril esgotada...................74
Figura 3.12 - PDE Sudeste com capacidade de disposição esgotada. .................................75
Figura 3.13 - Vista parcial da PDE Nordeste em operação - Agosto de 2007.....................76
Figura 3.14 - Configuração em 3D da PDE Nordeste projetada para 2014.........................77
Figura 3.15 - Vista geral de Gongo Soco.............................................................................81
Figura 3.16 - Fluxograma simplificado do processo industrial. ..........................................82
Figura 3.17 - Vista geral das instalações de tratamento de minério – ITM’s. .....................83
Figura 3.18 - Geologia local da mina de Gongo Soco.........................................................87
Figura 3.19 - Períodos de operação dos poços de rebaixamento (PGS) do NA. .................98
Figura 3.20 - Rede de poços de rebaixamento do nível d´água. ..........................................99
Figura 3.21 - Pontos de surgência d´água cadastradas. .....................................................101
Figura 3.22 - Curvas equipotenciais e linhas de fluxo d’água subterrâneo - calibração em
regime permanente.............................................................................................................102
Figura 3.23 - Zonas de recarga - modelo hidrogeológico de Gongo Soco. .......................110
Figura 3.24 - Zonas de balanço hídrico. ............................................................................112
Figura 3.25 - Rede de vertedouros.....................................................................................113
Figura 3.26 - Configuração das zonas de balanço hídrico acrescida da zona 11...............116
Figura 3.27 - Planta da cava de 2014 com indicação das seções analisadas. ....................124
Figura 3.28 - Volume bombeado dos poços de rebaixamento (Outubro de 2001 a Fevereiro
de 2007). ............................................................................................................................127
Figura 3.29 - Localização dos piezômetros na mina de Gongo Soco................................128
Figura 3.30 - Seção 646506 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,375)...131
Figura 3.31 - Seção 646506 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,434). .....131
Figura 3.32 - Seção 646706 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,460). .....131
Figura 3.33 - Seção 646806 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,419)...132
Figura 3.34 - Seção 647056 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,356). Ruptura de Face -
Hematita Talcosa (FS=1,116). ...........................................................................................132
Figura 3.35 - Seção 1 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,227).............132
Figura 3.36 - Seção 2 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,301).............133

vii
Figura 3.37 - Seção 3 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,454).............133
Figura 3.38 - Seção 4 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,393) e Localizada (FS=1,355).
...........................................................................................................................................133
Figura 3.39 - Seção 5 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,129).............134
Figura 3.40 – Seção 5 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,307)............134
Figura 4.1 - Detalhe da serra do Caraça.............................................................................137
Figura 4.2 - Planta de Situação em 2007. ..........................................................................144
Figura 4.3 - Mapa de uso do solo e cobertura vegetal - propriedade de Gongo Soco (2007).
...........................................................................................................................................145
Figura 4.4 - Rede de drenagem. .........................................................................................148
Figura 4.5 Remanescentes florestais da Mata Atlântica. ...................................................149
Figura 4.6 - Evolução da arrecadação da CFEM – Barão de Cocais.................................160
Figura 4.7 - Projeto Gongo Soco: Arrecadação do ISSQN – Barão de Cocais. ................161
Figura 4.8 - O Ciclo de Expansão da Atividade Mineradora.............................................162
Figura 4.9 - Foto das ruínas de Gongo Soco tombadas pelo IEPHA.................................162
Figura 4.10 - Médias geométricas anuais de PTS – Distrito do André. ............................167
Figura 5.1 - Fluxograma esquemático do sistema de funcionamento da mina de Gongo
Soco. ..................................................................................................................................170
Figura 5.2 - Situação projetada – paralisação da mina em 2014. ......................................174
Figura 5.3 - Paralisação da mina em 2014 e remanescentes florestais. .............................175
Figura 5.4 - Mapa de uso do solo e cobertura vegetal da propriedade em 2014. ..............177
Figura 5.5 - Pós-fechamento da mina – Alternativa 1. ......................................................180
Figura 5.6 - Pós-fechamento da mina - Alternativa 2........................................................188

viii
Lista de Tabelas
Tabela 2.1 - Posição brasileira em relação às reservas mundiais. .......................................30
Tabela 2.2 – RPPN’s da VALE inseridas no Quadrilátero Ferrífero...................................43
Tabela 2.3 - Impactos ambientais da mineração em suas diferentes etapas. .......................54
Tabela 3.1 - Produção de ROM e de Estéril - Mina de Gongo Soco...................................72
Tabela 3.2 - Cubagem da PDE Nordeste (vida útil projetada até 2008)..............................75
Tabela 3.3 - Principais características construtivas das PDE’s. ..........................................76
Tabela 3.4 - Classificação geomecânica de Bieniawski, 1976. ...........................................78
Tabela 3.5 - Parâmetros geotécnicos adotados para cálculo da estabilidade da PDE
Nordeste. ..............................................................................................................................78
Tabela 3.6 - Tipos de minério e estéril existentes na mina de Gongo Soco. .......................78
Tabela 3.7 - Características das Captações e Vazões Outorgadas .......................................86
Tabela 3.8 - Valores finais de condutividade hidráulica adotados no modelo hidrogeológico
computacional da mina Gongo Soco. ................................................................................111
Tabela 3.9 - Resultados da calibração das vazões de água. ...............................................112
Tabela 3.10 - Valores da recarga utilizados na calibração transiente. ...............................114
Tabela 3.11 - Quadro comparativo do balanço hídrico das zonas 3 (córrego Capim
Gordura) e 5 (córrego Congo Velho).................................................................................115
Tabela 3.12 - Resultado do balanço hídrico da mina de Gongo Soco para os cenários de
2009 e 2013........................................................................................................................116
Tabela 3.13 - Parâmetros de classificação de maciços (modificado de Bieniawski, 1974).
...........................................................................................................................................121
Tabela 3.14 - Classes de maciços e seus respectivos RMR adotados na mina de Gongo
Soco (modificado de Bieniawski, 1974)............................................................................121
Tabela 3.15 - Distribuição e zonas de ocorrência de classes de maciço na mina de Gongo
Soco. ..................................................................................................................................122
Tabela 3.16 - Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento Adotados – Mina de Gongo
Soco. ..................................................................................................................................129
Tabela 3.17 - Resultados das Análises de Estabilidade - Cava Projetada 2014. ...............130
Tabela 4.1 - Distribuição da área - uso e ocupação do solo em Gongo Soco – 2007........143
Tabela 4.2 - Listagem das espécies de aves observadas na ADA pela ampliação da cava de
Gongo Soco........................................................................................................................154
Tabela 4.3 - Espécies de mamíferos registradas na mina de Gongo Soco durante campanha
de julho de 2007.................................................................................................................157
Tabela 4.4 - Instrumentação da Barragem Sul...................................................................166
Tabela 4.5 - Estrutura do Índice de Qualidade do Ar. .......................................................167
Tabela 5.1 - Intervenções minerárias projetadas para 2014...............................................173
Tabela 5.2 - Uso e ocupação do solo em Gongo Soco – projeção 2014............................173
Tabela 5.3 - Áreas de uso e ocupação do solo em 2014 em Gongo Soco. ........................176
Tabela 5.4 - Vantagens e Desvantagens das Alternativas de Uso Futuro para a Mina de
Gongo Soco........................................................................................................................186

ix
LISTA SÍMBOLOS, NOMENCLATURA E ABREVIAÇÕES

AAF – Autorização Ambiental de Funcionamento


Φ’ – Ângulo de Atrito
ADA – Área Diretamente Afetada
AID – Área de Influência Direta
AII – Área de Influência Indireta
AMB – Anuário Mineral Brasileiro
APEF – Autorização para Exploração Florestal
APP – Área de Preservação Permanente
ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia
CAMMA – Conferência dos Ministérios de Minas das Américas
CFEM – Compensação Financeira pela Exploração Mineral
CODEMA – Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental
c’ – Coesão
COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
CONAMA – Comissão Nacional de Meio Ambiente
COPAM – Comissão de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais
CPB – Câmera de Proteção da Biodiversidade
CR – Constituição da República
VALE – Companhia Vale do Rio Doce
DAP – Diâmetro à Altura do Peito
DN – Deliberação Normativa
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
EFVM – Estrada de Ferro Vitória-Minas
E.I.A. – Estudo de Impacto Ambiental
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FEAM – Fundação Estadual de Meio Ambiente
FCEI – Formulário de Caracterização do Empreendimento Integrado
FOB – Mercadoria Livre a Bordo (Free on Board)
FOBI – Formulário de Orientação Básica Integrado
FS – Fator de Segurança
GAGHS – Gerência de Geotecnia e Hidrogeologia – VALE
GAPLS – Gerência de Planejamento Longo Prazo – VALE
GEPMS – Gerência Geral de Planejamento e Engenharia de Minas – VALE
GRU – Guia de Recolhimento da União

x
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Não Renováveis
IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços
IEF – Instituto Estadual de Floresta
IEPHA – Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
IGAM – Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ISSQN – Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza
ISO – Organização Internacional para Padronização (International Standardization Organization)
ISRM – Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas (International Society for Rock
Mechanics).
ITM – Instalação de Tratamento de Minério
ITR – Imposto Territorial Rural
kN/m3 – kilo Newton por Metro Cúbico
LA – Licença Ambiental
LP – Licença Prévia
LI – Licença de Instalação
LO – Licença de Operação
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MME – Ministério de Meio Ambiente
MP – Medida Provisória
Mm3 – Milhões de Metros Cúbicos
Mt – Milhões de Toneladas
NBR – ABNT – Norma Brasileira – Associação Brasileira de Normas Técnicas
NRM – Norma Reguladora de Mineração
NYSE – Bolsa de Valores de Nova York
PAE – Plano de Aproveitamento Econômico
PCA – Plano de Controle Ambiental
PDE – Pilha de Disposição de Estéril
γ – Peso Específico
PIB – Produto Interno Bruto
PIS – Programa de Integração Social
PMB – Produção Mineral Brasileira
PRAD – Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
PTRF – Projeto Técnico de Reconstituição da Flora
PUP – Projeto de Utilização Pretendida

xi
Q7,10 – vazão mínima de 7 dias de duração com um período de retorno de 10 anos
QMLT – vazão média de longo termo
RC – Resolução CONAMA
RCA – Relatório de Controle Ambiental
RE/M – Relação Estéril/Minério
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
RL – Reserva Legal
RPPN – Reserva Particular de Patrimônio Natural
SEMAD – Secretaria de Estado e Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SGA – Sistema de Gestão Ambiental
SISEMA – Sistema Estadual do Meio Ambiente
SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente
SNUC – Sistema Nacional de Unidade de Conservação
SUPRAMS – Superintendência Regionais do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
t – toneladas
TAC – Termo de Ajustamento de Conduta
UC – Unidade de Conservação

xii
ÍNDICE
CAPÍTULO I.................................................................................................................................................. 15
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 15
1.1. OBJETIVO DO TRABALHO................................................................................. 22
1.2. METODOLOGIA DO TRABALHO ......................................................................... 22
1.2.1. ANÁLISE DE DADOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................ 22
1.2.2. COMPOSIÇÃO DE DADOS ANALISADOS...................................................... 24

CAPÍTULO II ................................................................................................................................................ 25
2. – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................... 25
2.1. A IMPORTÂNCIA DA MINERAÇÃO E CONTEXTO ECONÔMICO ATUAL ...................... 25
2.2. RECURSOS E RESERVAS MINERAIS DO BRASIL .................................................. 30
2.3. DESEMPENHO DA PRODUÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO DA VALE............................ 31
2.4. ASPECTOS LEGAIS DA LEGISLAÇÃO MINERÁRIA E AMBIENTAL NO BRASIL ............ 33
2.4.1. LEI DE CRIMES AMBIENTAIS .................................................................... 44
2.4.2. MINERAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ............................... 46
2.4.3. LEI DA MATA ATLÂNTICA.......................................................................... 49
2.5. PLANEJAMENTO E FECHAMENTO DE MINA ......................................................... 52

CAPÍTULO III............................................................................................................................................... 63
3. CARACTERIZAÇÃO DA MINA DE GONGO SOCO.................................................................. 63
3.1. LOCALIZAÇÃO ................................................................................................ 63
3.2. HISTÓRICO DA MINA DE GONGO SOCO............................................................. 63
3.3. MÉTODO DE LAVRA......................................................................................... 65
3.4. MOVIMENTAÇÃO DE MINÉRIO BRUTO (ROM) ..................................................... 72
3.5. RELAÇÃO ESTÉRIL/MINÉRIO ............................................................................ 72
3.6. DISPOSIÇÃO DE ESTÉRIL ................................................................................ 73
3.7. RESERVAS E VIDA ÚTIL ................................................................................... 78
3.8. PORTE DO EMPREENDIMENTO .......................................................................... 80
3.9. BENEFICIAMENTO DO ROM .............................................................................. 81
3.9.1. INSTALAÇÃO DE TRATAMENTO DE MINÉRIOS I – ITM-I ............................... 81
3.9.2. ITM-II .................................................................................................... 82
3.9.3. ITM-III................................................................................................... 82
3.10. BARRAGEM DE REJEITOS ............................................................................. 84
3.11. ESTUDOS GEOLÓGICOS DA MINA DE GONGO SOCO ....................................... 86
3.11.1. GEOLOGIA LOCAL ................................................................................ 86
3.11.2. GEOLOGIA ESTRUTURAL ...................................................................... 92
3.12. ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS DA MINA DE GONGO SOCO .............................. 93
3.12.1. DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO ............................. 97
3.12.2. INVENTÁRIO DE PONTOS D´ÁGUA E ARREDORES ................................... 98
3.12.3. UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS DE GONGO SOCO................................. 102
3.12.4. MODELO HIDROGEOLÓGICO ............................................................... 108
3.12.5. SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS HIDROGEOLÓGICOS FUTUROS ..................... 115
3.13. ESTUDOS GEOTÉCNICOS DA MINA DE GONGO SOCO.................................... 118
3.13.1. CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DOS MACIÇOS ROCHOSOS ................... 119
3.13.2. CRITÉRIOS GEOMECÂNICOS APLICADOS AOS TALUDES DA CAVA ........... 122
3.13.3. ESTUDOS GEOTÉCNICOS APLICADOS AOS TALUDES DA MINA DE GONGO
SOCO ....................................................................................................... 124
3.13.4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE DA CAVA DE GONGO SOCO ........................ 126

xiii
CAPÍTULO IV............................................................................................................................................. 135
4. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE GONGO SOCO................................................................... 135
4.1. MEIO FÍSICO................................................................................................ 135
4.1.1. GEOLOGIA REGIONAL ............................................................................ 135
4.1.2. GEOMORFOLOGIA ................................................................................. 136
4.1.3. PEDOLOGIA E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO............................................... 141
4.1.4. CLIMA .................................................................................................. 143
4.1.5. RECURSOS HÍDRICOS............................................................................ 146
4.2. MEIO BIÓTICO – FLORA ................................................................................ 149
4.2.1. CARACTERIZAÇÃO REGIONAL DA COBERTURA VEGETAL ............................ 150
4.2.2. COBERTURA VEGETAL LOCAL.................................................................. 151
4.3. MEIO BIÓTICO – FAUNA ................................................................................ 152
4.3.1. CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA REGIONAL E LOCAL..................................... 153
4.4. MEIO ANTRÓPICO ......................................................................................... 158
4.4.1. POTENCIALIDADE TURÍSTICA ................................................................. 161
4.5. MONITORAMENTOS AMBIENTAIS .................................................................... 163
4.5.1. PROGRAMA DE MONITORAMENTO HÍDRICO SUPERFICIAL E SUBTERRÂNEO . 163
4.5.2. MONITORAMENTO GEOTÉCNICO ............................................................. 164
4.5.3. PROGRAMA DE CONTROLE DA QUALIDADE DO AR..................................... 166
4.5.4. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE VIBRAÇÕES ..................................... 167

CAPÍTULO V .............................................................................................................................................. 168


5. PROPOSIÇÕES DE DESCOMISSIONAMENTO DA MINA DE GONGO SOCO.................. 168
5.1. PARALISAÇÃO DAS ATIVIDADES MINERÁRIAS.................................................. 172
5.2. ALTERNATIVA 1 – PÓS-FECHAMENTO – USO EXCLUSIVO PARA CONSERVAÇÃO.... 178
5.2.1. DESMOBILIZAÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS E DE APOIO ............... 178
5.2.2. FORMAÇÃO DO LAGO NA CAVA ............................................................... 178
5.2.3. RECUPERAÇÃO FLORESTAL COM VEGETAÇÃO NATIVA DAS ESTRUTURAS
MINERÁRIAS REMANESCENTES ............................................................................ 181
5.2.4. CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ............................................... 182
5.2.5. IMPLANTAÇÃO DE UM AMBIENTE PARA O DESENVOLVIMENTO EM EDUCAÇÃO E
PESQUISA.......................................................................................................... 183
5.2.6. PROGRAMA DE MONITORAMENTO ........................................................... 184
5.3. ALTERNATIVA 2 – PÓS-FECHAMENTO – USO MISTO.......................................... 185
5.3.1. UTILIZAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DE TRATAMENTO DE MINÉRIO E
RECUPERAÇÃO DA CAVA COM REJEITO E/OU ESTÉRIL ............................................ 185
5.4. VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS ALTERNATIVAS DE USO FUTURO ................ 186

CAPÍTULO VI............................................................................................................................................. 189


6. CONCLUSÃO................................................................................................................................... 189

CAPÍTULO VII ........................................................................................................................................... 192


7. SUGESTÕES .................................................................................................................................... 192

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 193

xiv
CAPÍTULO I
1.INTRODUÇÃO
A Companhia Vale do Rio Doce – Vale foi criada em 1o de junho de 1942, pelo Governo
Federal, visando explorar minério de ferro no Estado de Minas Gerais. Ao longo de sua
história expandiu a atuação do Sudeste para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte do
Brasil, diversificando o “portifólio” de produtos minerais e consolidando a prestação de
serviços logísticos. Atualmente, a Vale está presente em 14 estados brasileiros e em cinco
continentes: América, Europa, África, Ásia e Oceania. A Vale é líder mundial no mercado
de minério de ferro e pelotas, segunda maior produtora global de manganês e ferroligas,
além de maior prestadora de serviços de logística do Brasil. A Vale foi privatizada em 06
de maio de 1997 no governo de Fernando Henrique Cardoso.

O foco principal desta dissertação é apresentar uma avaliação minero-geoambiental da


mina de minério de ferro de Gongo Soco pertencente à Vale visando o
descomissionamento. A mina de Gongo Soco está localizada no município de Barão de
Cocais, na região central do Estado de Minas Gerais e pertence ao complexo de mineração
do Sistema Sul – Minas Centrais. Com reservas estimadas de 95,2 Mt (2006), a mina de
Gongo Soco teve sua origem na extração de ouro durante as primeiras décadas do século
XIX.

O plano de descomissionamento conceitual ora proposto equivale a um horizonte de


exploração minerária de 8 anos, já que o projeto de ampliação da jazida refere-se ao
período de 2007 até 2014. Em 2014, o sítio minerário de Gongo Soco contemplará dentro
de seus limites de propriedade uma cava a céu aberto com um lago em formação, quatro
pilhas de disposição de estéril – PDE’s (Correia, Sudeste, Sudoeste e Nordeste) duas
barragens de rejeitos (barragem Sul e Sudoeste), três instalações de tratamento de minério
(ITM’s I, II e III), uma pêra ferroviária e estruturas de apoio tais como oficina mecânica,
escritórios, restaurante, almoxarifado, dentre outras. Além destas estruturas, dentro e fora
dos limites de propriedade da Vale duas reservas legais (RL) comporão a configuração
final projetada. Dentro deste contexto espera-se que o plano de descomissionamento
proposto norteie a Vale sobre a utilização de medidas de controle e de recuperação
ambiental, bem como utilização futura da área antes explorada, já que Gongo Soco ainda

15
não possui um plano de fechamento.

Não foram considerados neste trabalho aspectos relativos ao custo de fechamento da mina.
A abordagem ateve-se aos aspectos técnicos, operacionais, físicos, bióticos e antrópicos.

A mina de Gongo Soco está inserida na região conhecida como Quadrilátero Ferrífero. O
Quadrilátero Ferrífero localiza-se no centro do Estado de Minas Gerais ao sul da reserva da
biosfera da Serra do Espinhaço e a sudeste de Belo Horizonte, capital do Estado, e tem
aproximadamente 7000 km2. É formado por uma região geologicamente importante, com
4,5 bilhões de anos, e considerado uma das principais províncias metalogenéticas do
Brasil, exibindo importantes jazimentos de ferro, ouro e manganês. A situação atual da
exploração dos bens minerais configura um complexo minerário de grande vulto, com um
papel sócio-econômico relevante para o Estado e para o município de Barão de Cocais, no
qual Gongo Soco se insere.

Os limites do Quadrilátero Ferrífero são bem marcados: ao norte, a serra do Curral, limite
sul do município de Belo Horizonte; a oeste, a Serra da Moeda, paralela à rodovia BR-040,
que liga Belo Horizonte à cidade do Rio de Janeiro; a sul, a serra de Ouro Branco e a leste
a serra do Caraça. Tais serras configuram-se como bordas do Quadrilátero Ferrífero, cuja
variedade litológica propiciou o desenvolvimento de ecossistemas também variados.

As principais jazidas encontram-se inseridas na unidade geológica Paleoproterozóica,


denominada Formação Cauê, constituída por formações ferríferas bandadas, conhecidas
como itabiritos e caracterizadas pela alternância de níveis silicosos e/ou carbonáticos, de
tonalidade clara e com níveis hematíticos acinzentados.

De acordo com Câmara & Murta (2007), além da riqueza minerária, o Quadrilátero
Ferrífero faz parte de duas das mais importantes bacias hidrográficas de Minas Gerais – A
bacia do rio Doce e a do rio das Velhas, e de dois dos mais ricos e ameaçados biomas do
planeta – o Cerrado e a Mata Atlântica, considerados hotspots, áreas prioritárias para a
conservação da natureza mundial, por sua imensa biodiversidade e pela situação crítica de
preservação em que se encontram (Figura 1.1). São os únicos hotspots indicados no
território brasileiro, dos 34 existentes no planeta. Juntos, somam mais de 4000 espécies

16
endêmicas da flora, apesar de reduzidos, hoje, a menos de 25 % de sua área original.

Os hotspots, que representam 1,4 % da superfície terrestre, são regiões de elevada riqueza
biológica, abrigam a maior parte da biodiversidade do planeta e estão sob alto grau de
ameaça, com 70 % ou mais da vegetação original já destruída. A Mata Atlântica encontra-
se reduzida a menos de 6,8 % da sua área inicial. As estimativas indicam que existem cerca
de 20.000 espécies diferentes de plantas vasculares nesse bioma, mais da metade
endêmicas.

Figura 1.1 - Regiões hotspots do planeta – áreas de conservação da natureza.


Fonte: Bernardo Esteves - Ciência Hoje On-line 11/12/2006. Imagem da revista PNAS. Disponível em:
http://cienciahoje.uol.com.br/63759

A Figura 1.1 mostra os hotspots com maior riqueza de espécies (A), espécies endêmicas
(B) e espécies ameaçadas (C). Como não há superposição entre os três, a seleção de áreas
protegidas deve levar em conta a complementaridade entre eles (imagens: PNAS -
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America).

A indústria de mineração compreende o conjunto de processos relacionados à exploração


de recursos minerais do solo e do subsolo, constitui elemento estratégico na inserção de um
país no contexto do desenvolvimento tecnológico e no cenário econômico internacional. O

17
objetivo final da mineração é extrair, produzir e vender um bem mineral, de interesse
econômico e potencialmente interessante ao mercado consumidor, em condições técnicas e
econômicas adequadas e sem impactos sócio-ambientais incompatíveis. Nesta temática
sócio-ambiental, estão hoje os maiores desafios de implantação e desenvolvimento
criterioso de uma empresa de mineração (Gomes, 2005).

Segundo Neto, S. E. & Santos, L.M. (2006), “Em relação àqueles que se opõem ou fazem
restrições estritas às mineradoras, é necessário que compreendam que a civilização se
ergue sobre equipamentos cuja matéria-prima é o minério. Para proibir a atividade
minerária, seria preciso, primeiramente, encontrar soluções alternativas realistas para
construção desses equipamentos. Enquanto essas alternativas não existirem, cumpre lutar
por empreendimentos minerários comprometidos com a adoção de medidas de controle
ambiental, capazes de prevenir ou mitigar os impactos que a mineração gera sobre o meio
ambiente”.

Neto, S. E. & Santos, L.M. (2006) afirmam, ainda que, “a única saída para a atividade
minerária é a de que seus empreendedores assumam uma atitude que leve à implementação
de medidas de controle ambiental. A mineração não pode prosseguir produzindo
intervenções que comprometem os direitos difusos: recursos hídricos conservados,
integridade da paisagem, boa qualidade do ar. A sociedade já se mobiliza nesse sentido e o
poder público exige o cumprimento dessas obrigações, que estão estabelecidas em leis.
Além disso, muitos dos empreendedores já têm consciência dessa necessidade não só
porque o descumprimento da legislação implica pagamento de pesadas multas, mas
também porque cresce na mineração a inclusão de uma gestão com responsabilidade social
e ambiental. Assim, firma-se a certeza de que é melhor usar os recursos financeiros em
obras de prevenção de impactos sobre o meio ambiente ou de recuperação, no caso de já
terem eles ocorrido, do que despendê-los com o pagamento de multas”.

Até recentemente, o planejamento da mineração, a exemplo de outros setores produtivos,


não considerava em sua estrutura organizacional a abordagem ambiental. Os aspectos
ambientais foram incorporados nos atuais investimentos em projetos de mineração. Os
projetos de mineração, na sua versão tradicional, apresentavam as seguintes etapas:
prospecção, exploração, desenvolvimento e explotação. Com a incorporação dos atores

18
ligados à temática ambiental (empresários, sociedade civil, governo e organizações não
governamentais) um novo padrão de comportamento ambiental surge. As empresas
tiveram que se enquadrar incorporando na estrutura organizacional o planejamento
ambiental estratégico para sua sobrevivência e competitividade. No caso específico do
setor mineral introduziram-se nos projetos de mineração, na sua versão mais
contemporânea, os aspectos ambientais em todas as etapas existentes do empreendimento
acrescentando-se uma nova etapa – a desativação.

Segundo Souza (2001), o planejamento da mineração foi também afetado pela dimensão
ambiental, tendo em conta que novos elementos técnicos e econômicos (investimentos,
custos e até mesmo receita), relacionados com a questão ambiental, foram incorporados na
montagem das distribuições dos fluxos de caixa dos projetos, de modo a refletir os
resultados econômicos (liquidez, rentabilidade e risco) do empreendimento, bem como a
exigência de maior alocação de recursos.

Portanto, em um processo decisório do investimento em mineração deve-se considerar o


avanço da consciência ambiental e suas conseqüências no planejamento das etapas de um
projeto de mineração, vislumbrando os principais problemas da relação mineração versus
meio ambiente, para facilitar o entendimento dos principais impactos ambientais e dos
possíveis conflitos relacionados com o uso do solo.

Devido à exaustão do recurso mineral há de se considerar ainda a desativação do


empreendimento como uma fase potencial de impactos ambientais, que pode resultar no
detrimento da imagem da empresa junto à sociedade, sendo uma característica particular
desse tipo de atividade econômica. A desativação não planejada de uma mina traz consigo
uma série de impactos negativos que atingem os diferentes elementos dos meios físico,
biótico e antrópico. Para reverter essa tendência, o fechamento desses empreendimentos
tem sido cada vez mais discutido e muitas empresas têm preparado seus planos de
fechamento anos antes da mina se esgotar, ou mesmo antes da sua própria abertura,
atendendo às exigências da legislação, comunidade ou mercado financeiro (Sánchez,
1998).

Segundo Lima & Wathern (1999), há três fatores principais que justificam a necessidade

19
de se estabelecer o plano de fechamento para uma mineração:
• Diminuição dos custos por meio do planejamento antecipado da etapa de
fechamento da mineração;
• Prevenção contra possíveis penalidades jurídicas; e
• Adequação às novas regulamentações ambientais, que exige a apresentação de um
plano de fechamento.

A integração entre operação e plano de fechamento é uma prática que deve ser
considerada. Nos países europeus, no Canadá, nos EUA e na Austrália, o fechamento de
uma atividade é tema que faz parte do projeto a ser desenvolvido. Geralmente, tais planos
são um componente do Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA) implantado pelas
empresas.

Visando competitividade, várias empresas do setor mineral implantaram em suas


organizações políticas de gestão ambiental, sendo certificados pela norma ISO 14001
(ABNT, 1996). Os requisitos para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA) podem ser aplicados em qualquer atividade econômica. Não é uma exigência legal,
e sim uma ferramenta de competitividade de mercado.

As auditorias ambientais os programas de monitoramento e os planos de fechamento de


mina devem ser incorporados no SGA. O SGA permite que a organização planeje suas
atividades, visando à eliminação ou minimização dos impactos negativos ao meio ambiente
através da adoção de ações preventivas.

A mina de Gongo Soco (unidade operacional) é certificada pela ISO 14001, desde julho de
2002.

Outra ferramenta de gestão atualmente adotada por grandes empresas é a Gestão


Corporativa. Destaca-se a Lei Sarbanes-Oxley (Lei Sarbox) que gera um conjunto de novas
responsabilidades e sanções aos administradores. A mesma têm como objetivo coibir
práticas lesivas que possam expor as sociedades anônimas a elevados níveis de risco.

No final dos anos 90, os escândalos corporativos abalaram os Estados Unidos (EUA). O

20
temor de conduta perniciosa por parte de administradores gerou uma verdadeira crise de
confiança nas práticas contábeis e de governança corporativa. As suspeitas sobre a
integridade dos balanços e demonstrativos financeiros afetaram profundamente o mercado
de capitais e alimentaram a queda das Bolsas de Valores.

Motivada por escândalos financeiros corporativos que afetou a empresa de auditoria Arthur
Andersen, a Lei Sarbox foi redigida com o objetivo de evitar o esvaziamento dos
investimentos financeiros e fuga dos investidores, causada pela aparente insegurança a
respeito da governança adequada das empresas. Ela busca garantir a criação de
mecanismos de auditoria e segurança confiáveis nas empresas, incluindo regras para a
criação de comitês e comissões encarregadas de supervisionar suas atividades e operações
de modo a mitigar riscos aos negócios, evitar a ocorrência de fraudes, ou ter meios de
identificar quando elas ocorrem, garantindo a transparência na gestão das empresas.

Em 4 de novembro de 2003, a Bolsa de Valores de Nova York – NYSE estabeleceu novas


regras de governança corporativa e as companhias emissoras privadas estrangeiras estão
sujeitas a um conjunto mais limitado de exigências relativas à governança corporativa do
que as companhias emissoras norte-americanas. No Brasil, a Lei Sabox se aplica às
empresas com ações negociadas nos mercados de capitais dos EUA. A Vale atua na NYSE
e teve que se adaptar a essa nova exigência de mercado, adotando novos procedimentos de
controles internos, administrativos, auditoria e controle de riscos. Dentre os riscos
auditados têm-se a obrigatoriedade das empresas efetivarem uma provisão de recursos
visando o seu fechamento. A Vale conquistou em março de 2007 a certificação da Lei
Sarbanes-Oxley sem ressalvas da empresa de auditoria independente
PricewaterhouseCoopers (PwC).

Conforme informações operacionais e financeiras da Vale contidas no Press Release “O


Desempenho da Vale em 2006” (Vale, 2007) foram apresentados dados consolidados de
contabilidade aceitos nos Estados Unidos (US GAAP). Foram previstos um montante de
US$ 171 milhões de provisão (valor exclusivo) para investimentos futuros em fechamento
de minas, recuperação ambiental de áreas degradadas, construção e melhoria de barragens,
além de outras ações preventivas relacionadas à proteção do meio ambiente.

21
1.1.OBJETIVO DO TRABALHO
Apresentar uma proposta de um Plano de Fechamento de Mina (descomissionamento),
tomando-se como base uma avaliação mínero-geoambiental, em função de um projeto de
expansão da mina de Gongo Soco projetado até 2014.

1.2.METODOLOGIA DO TRABALHO
As etapas descritas a seguir deram subsídios para análise e elaboração da proposta desta
dissertação.

1.2.1.ANÁLISE DE DADOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


A primeira etapa de análise baseou-se na interpretação de estudos já existentes sobre a
mina de Gongo Soco, material técnico disponibilizado pela Vale para a elaboração da
dissertação. Dentre estes estudos destacam-se:
• Estudo e análise do projeto de ampliação da cava de Gongo Soco e do
seqüenciamento da lavra (2007 – 2014) elaborado pela Gerência Geral de
Planejamento e Engenharia de Minas da Vale – GEPMS, Gerência de Planejamento
Longo Prazo – GAPLS e Gerência de Geotecnia e Hidrogeologia – GAGHS;
• Estimativa de reservas minerais (hematita e itabirito);
• Seleção, estudo e análise dos projetos ambientais existentes: Relatórios e Planos de
Controle Ambiental – RCA/PCA e Estudos de Impactos Ambientais e Relatórios de
Impactos Ambientais – EIA/RIMA, elaborados pela Mdgeo – Serviços de
Hidrogeologia Ltda (2002), Nicho Engenheiros Consultores Ltda (2003 e 2004) e
Lume Estratégia Ambiental Ltda (2007);
• Estudo, análise e interpretação do novo modelo computacional em regime
transitório do fluxo de água subterrânea e a simulação de possíveis impactos,
elaborado pela Hidrovia – Hidrogeologia e Meio Ambiente Ltda (2007);
• Estudo, análise e interpretação das atividades de rebaixamento do nível d´água na
mina de Gongo Soco, elaborado pela Vale (2007) visando informar e atender
condicionantes do Instituto Mineiro de Gestão de Águas – IGAM – Portaria IGAM
nº 00483/2006 de 01/04/2006;
• Estudo, análise, interpretação e descrição da estabilidade global dos taludes da
mina de Gongo Soco – Projeto de Expansão da Mina de Gongo Soco – Vale

22
(2006);
• Estudo, análise e interpretação do Diagnóstico de Utilização e Consumo de Água
no Complexo Industrial de Gongo Soco, elaborado pela Golder Associates Brasil
Consultoria e Projetos Ltda (2005);
• Análise e interpretação dos estudos hidrogeológicos (caracterização dos aqüíferos
locais) e do modelo hidrogeológico de circulação e saturação dos taludes, elaborado
pela Mdgeo – Serviços de Hidrogeologia Ltda (2003);
• Análise e interpretação do Relatório Técnico para Outorga de Água Superficial –
Avaliação das Disponibilidades Hídricas das Bacias dos Córregos do Vieira e
Capim Gordura na Área de Atuação da Mina de Gongo Soco, elaborado pela
Mdgeo (2002).
• Interpretação e análise dos projetos ambientais nos quais o autor desta dissertação
participou de forma efetiva como coordenador técnico dos estudos desenvolvidos
em Gongo Soco no período de 2003 a 2008, destacando-se: RCA/PCA –
Ampliação da Mina de Gongo Soco (Nicho, 2003); RCA/PCA – Implantação da
Pilha de Disposição de Estéril Nordeste – PDE Nordeste – (Nicho, 2004),
RCA/PCA de Implantação da Estrada de Acesso entre a Cava e a PDE Nordeste
(Nicho, 2004), EIA/RIMA de Ampliação da Cava de Gongo Soco (Lume, 2006),
PCA de Ampliação da cava de Gongo Soco – 2014 (Lume, 2007) e EIA/RIMA de
Ampliação da PDE Nordeste (Lume, 2007);
• Análise, interpretação, acompanhamento e elaboração das figuras existentes no
corpo desta dissertação (mapeamento) utilizando-se base georeferenciada –
Sistemas UTM com Datum SAD69 – Zona 23S sendo as conversões feitas
utilizando-se de software de Sistemas de Informação Geográfica – SIG. Utilizou-se
também para a elaboração das figuras rasters de diferentes datas para o
mapeamento de uso do solo, sendo: aerolevantamento de 2003 e aerolevantamento
a laser/ortofotocarta – aeroimagem aerofotogrametria S/A juntamente com
topografia atualizada da mina em 2007;
• Revisão bibliográfica do tema proposto e correlato; e
• Propostas de fechamento (descomissionamento) e pós-fechamento do
empreendimento mineiro.

23
1.2.2.COMPOSIÇÃO DE DADOS ANALISADOS
Com base no projeto de expansão da lavra para o período analisado (2007-2014), foi
possível elaborar e contextualizar todo o empreendimento de Gongo Soco com vistas a
caracterizar, diagnosticar, analisar e interpretar o sítio minerário do ponto de vista técnico,
operacional e ambiental. Tais informações deram subsídios para apresentação de
proposições de descomissionamento do empreendimento. Além da revisão bibliográfica o
corpo desta dissertação seguiu os seguintes itens descritos abaixo:
• Caracterização;
• Diagnóstico ambiental (meios físico, biótico e antrópico);
• Proposições de fechamento da mina de Gongo Soco;
• Conclusão;
• Sugestões; e
• Referências bibliográficas.

24
CAPÍTULO II
2.– REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.A IMPORTÂNCIA DA MINERAÇÃO E CONTEXTO ECONÔMICO
ATUAL
De acordo com Farias (2002), a mineração é um dos setores básicos da economia do país,
que contribui de forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das
presentes e futuras gerações, sendo fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade
equânime, desde que seja operada com responsabilidade social, estando sempre presentes
os preceitos do desenvolvimento sustentável.

Com o atual boom da economia mineral internacional, a brasileira, apresenta excelente


desempenho do Produto Interno Bruto Mineral – PIB Mineral, com índices da ordem de
2,8% (2003); 4,3% (2004) e 10,9% (2005), acompanhando a tendência de expressivo
crescimento das economias da Índia e China. É lícito afirmar que a indústria mineral
brasileira vem se destacando em relação a outros setores importantes da economia a partir
deste boom minero-econômico internacional.

A produção mundial de minério de ferro (2005) alcançou a ordem de 1,5 bilhão de


toneladas, apresentando crescimento de 13,43% em relação ao ano anterior. Neste mesmo
ano a produção brasileira alcançou a segunda posição no ranking mundial, mantendo a
classificação de 2004, com 263,5Mt (milhões de toneladas) de minério bruto (ROM). A
Vale e as empresas nas quais têm participação produziram aproximadamente 246Mt, ou
seja, 93,36% do total de minério de ferro produzido no Brasil.

A Figura 2.1 ilustra a produção bruta de minério (ROM) de minério de ferro, valores
obtidos diretamente da mina, sem sofrer qualquer tipo de beneficiamento.

O Estado de Minas Gerais destaca-se em primeiro lugar na produção de minério de ferro


em relação à produção brasileira, minério proveniente da região conhecida mundialmente
como Quadrilátero Ferrífero.

25
Produção Bruta de Minério de Ferro (ROM)

346.655.421
350.000.000
310.781.916

300.000.000 267.759.089

T 250.000.000 222.060.932 263.512.556


o
240.164.577
n 219.182.569
204.785.617
e 200.000.000
l
a 150.000.000
d
a
s 100.000.000

50.000.000

0
2001 2002 2003 2004
Ano Base
Brasil Minas Gerais

Figura 2.1 - Produção Bruta de Minério de Ferro.


Fonte: Anuário Mineral Brasileiro – 2002, 2003, 2004 e 2005 (DNPM) – Elaborado por Neto, S. E. 2006.

De acordo com o Anuário Mineral Brasileiro (AMB, 2005), todas as minas do Brasil que
produzem minério de ferro são desenvolvidas a céu aberto, totalizando 51 minerações.
Deste total, 33 minas enquadram-se na modalidade de grande porte (produção de ROM
superior a 1.000.000 t/ano = 1 Mt/ano – conforme determina o Departamento Nacional de
Produção Mineral – DNPM), 06 de médio porte (produção de ROM superior a 100.000 t e
inferior a 1M t/ano) e 12 empresas enquadram-se de pequeno porte (produção inferior a
100.000 t/ano).

A mina de Gongo Soco, enquadra-se como um empreendimento minerário de grande porte,


produzindo, em média, desde o ano 2000, 7Mt/ano de ROM de minério de ferro.

Outro dado relevante extraído do Anuário Mineral Brasileiro (2005) é que dentre as 51
minerações cadastradas (mineração de ferro), 82,35% estão inseridas no Estado de Minas
Gerais, ou seja, 42 empreendimentos minerários.

De acordo com a Figura 2.2, observa-se que em 4 anos, as minas de minério de ferro
localizadas em Minas Gerais movimentaram um montante de 927.645.319t (927,64Mt),
quase 1 bilhão de toneladas. Deste montante de ROM movimentado, beneficiou-se neste
período 534.122.948t (534,12Mt) uma recuperação de 57,58% de Fe, perfazendo uma

26
média anual da ordem de 133,53Mt/ano de produtos gerados e comercializados. Outro
dado relevante é que as mineradoras inseridas no Quadrilátero Ferrífero movimentaram
263,51Mt de ROM de minério de ferro. Deste montante, 153,27Mt correspondem ao
minério de interesse, ferro contido com um teor médio global da ordem de 58,16%.

Produção de ROM e Minério Contido (Ferro)

1.000.000.000 927.645.319

900.000.000

T 800.000.000
o 700.000.000
n 534.122.948
600.000.000
e
l 500.000.000
a
400.000.000
d 263.512.556
300.000.000 219.182.569 240.164.577
a 204.785.617
s 153.268.791
200.000.000 118.932.925 127.122.406 134.798.826

100.000.000
0
2001 2002 2003 2004 T otal

Produção Bruta (ROM) Contido - Mineral de Interesse

Figura 2.2 - Produção de ROM e de Minério Contido.


Fonte: Anuário Mineral Brasileiro – 2002, 2003, 2004 e 2005 (DNPM) – Elaborado por Neto, S. E. 2006.

Conforme DNPM (2005), as reservas de minério de ferro no Brasil (medidas + indicadas +


inferidas) totalizam um montante de 67.622.463.082t, 67,6 bilhões de toneladas, sendo
15.565.670.201t (reservas medidas), 10.908.173.205t (reservas indicadas) e
41.148.619.676t (inferidas). Deste montante, 10.970.731.923t foram classificadas como
sendo reservas lavráveis. Considerando-se as reservas de minério de ferro do Estado de
Minas Gerais, têm-se os seguintes dados DNPM (2005):
• Reservas medidas = 8.877.824.795t;
• Reservas indicadas = 7.983.192.960t;
• Reservas inferidas = 27.076.317.116t; e
• Reservas lavráveis = 8.778.643.127t

O montante das reservas (medidas + indicadas + inferidas) no Estado de Minas Gerais, é


de 43.937.334.871t, ou 43,94 bilhões de toneladas. Portanto, Minas Gerais detém 64,97%
das reservas de minério de ferro do Brasil, ver Figura 2.3.

27
Reservas de minério de ferro - Brasil x Minas Gerais

67.622.463.082
70.000.000.000

60.000.000.000

T
50.000.000.000 43.937.334.871
o
n
e 40.000.000.000
l
a 30.000.000.000
d
a 15.565.670.201
20.000.000.000
s 10.970.731.923
8.877.824.795 8.778.643.127
10.000.000.000

0
Me didas Indicadas Infe ridas Total Lavráve is

Brasil Minas Gerais

Figura 2.3 - Reservas de minério de ferro no Brasil x Minas Gerais.


Fonte: Anuário Mineral Brasileiro – 2002, 2003, 2004 e 2005 (DNPM) – Elaborado por Neto, S. E. 2006.

De acordo com a Mineral Negócios – Guia do Investidor (2006), a balança comercial do


setor mineral brasileiro registrou, em 2005, superávit de US$ 9,69 bilhões, com acréscimo
de 129% frente ao superávit de US$ 4,23 bilhões acumulado durante 2004.

O setor mineral, em 2005, participou no total das exportações brasileiras com


aproximadamente 8,2%, resultado 87,2% superior à participação registrada em 2004,
quando o setor contribuiu com 4,38% do total. Em relação ao superávit comercial
brasileiro, o setor mineral contribuiu com 21,6% do total do saldo de 2005, resultando
numa expansão de 70% frente à participação no saldo superavitário registrado em 2004
(12,7%).

As exportações de “commodities” minerais manufaturadas bateram recorde em 2005 tendo


atingindo US$ 9,9 bilhões, representando acréscimo de 29% ante os resultados de 2003. As
transações comerciais de manufaturados registraram acréscimo de 28%, atingindo US$
16,5 bilhões.

A Produção Mineral Brasileira – PMB em 2005, incluindo petróleo e gás natural, alcançou
R$ 84,250 bilhões a preços correntes, ou 4,35% do Produto Interno Bruto – PIB. Tal
desempenho é devido principalmente ao resultado da manutenção dos altos preços das

28
“commodities” minerais.

A situação favorável da economia mundial e as perspectivas otimistas para as economias


emergentes dos chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) – são fatores relevantes a
considerar, na medida em que se espera assegurar pelo menos a sustentação dos níveis de
preços das “commodities”, tais como: minérios, grãos, açúcar, café e produtos siderúrgicos,
setores que o Brasil apresenta reconhecidas vantagens comparativas e competitivas
(Mineral Negócios – Guia do Investidor – DNPM, 2006).

De acordo com o Haddad (2006a), o futuro reservará um lugar cada vez mais destacado
para a mineração, mas, também, mais exigente, já que se trata de recursos naturais não
renováveis, exigindo tecnologias e processos de produção/extração altamente sofisticados
com o mínimo de desperdícios e o máximo de aproveitamento das reservas; as minerações
vão se tornando indústrias de tecnologia avançada, até como condição da sobrevivência
dos seres humanos sobre a terra e do próprio negócio.

As regiões de mineração passam a ter um novo e importante papel nas economias nacional
e mundial, de tal modo que terão de receber maior atenção tanto do Poder Público, quanto
do mundo empresarial e de toda a sociedade. Exemplo clássico são os investimentos
recentes realizados pela Vale nas minas de Brucutu e Gongo Soco inseridas nos municípios
de São Gonçalo do Rio Abaixo e em Barão de Cocais, respectivamente, ambos situados no
Estado de Minas Gerais.

De acordo com estes dois exemplos, pode-se afirmar que a indústria mineral brasileira
atravessa a melhor fase da história recente do País.

O Brasil, por sua geodiversidade privilegiada e extensão continental, ocupa uma posição de
destaque pela reconhecida vantagem comparativa de suas jazidas e minas de classe
internacional, posicionando-se competitivamente na arena de mercado internacional de
commodities minerais ombreando Austrália, Canadá, China e África do Sul, concorrentes
detentores de grandes reservas minerais.

29
2.2.RECURSOS E RESERVAS MINERAIS DO BRASIL
De acordo com DNPM (2005), o Brasil ocupa importante posição no ranking internacional
de reservas minerais, ver Tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Posição brasileira em relação às reservas mundiais.


Posição Mineral Participação (%)
o Nióbio 96.9
1
Tantalita 46,3
2o Grafita Natural 26,8
o Alumínio 8,3
3
Vermiculita 5,7
4o Magnesita 8,9
o Ferro 7,2
5
Manganês 2,5
Fonte: Anuário Mineral Brasileiro-DNPM/2005.

O Brasil destaca-se como líder mundial na produção do nióbio (96,9%) e tantalita (46,3%),
seguidos pela grafita natural (26,8%) em que ocupa a segunda posição. Na terceira posição
destaca-se o alumínio (8,3%) e a vermiculita (5,7%). Na quarta posição tem-se a magnesita
(8,9%) e em quinto lugar no ranking em termos de reservas minerais tem-se o ferro (7,2%)
e o manganês (2,5%).

Apesar de estar em quinto lugar em termos de reservas, o país insere-se no mercado


mundial, destacando-se como maior exportador minério de ferro e nióbio. O Brasil detém
uma posição privilegiada na produção mundial de matérias-primas de origem mineral,
principalmente em relação ao nióbio com (91,4% - primeira colocação), destacando-se
também o ferro com 20,8% (segunda colocação). Em seguida: tântalo (20,1% - segunda
colocação); alumínio (13% - segunda colocação); manganês (11,8% - terceira colocação);
grafita natural (10,1% - terceira colocação); magnesita (9,6% - terceira colocação);
crisotila/amianto (11,1% - quarta colocação); rochas ornamentais (8,2% - quarta
colocação); vermiculita (6,8% - quarta colocação); caulim (5,4% - quinta colocação) e
estanho (5% - quinta colocação).

De acordo com o Guia do Investidor (2006), o Brasil desponta entre os países com
condições mais favoráveis à atração de investimentos externos diretos para o Setor
Mineral. Pesquisas divulgadas pelo The Fraser Institute (2005) o situa na 13ª posição no
ranking internacional. Enfim, a partir de recente exercício de cenário desenvolvido pelo

30
Goldman Sachs Bank, aponta o Brasil entre as economias mais fortalecidas do mundo,
superando o PIB de países do G-7 como Reino Unido, Alemanha e França.

2.3.DESEMPENHO DA PRODUÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO DA VALE

De acordo com BDMG (2002), no século XX, a mineração brasileira foi marcada
especialmente pelo período do “ferro”. Destaca-se também a importância do manganês
neste período. Durante todo esse século, o Brasil foi um importante exportador de
manganês de alto teor, para fabricação de ferro-ligas, inicialmente em Minas Gerais,
depois no Amapá. No que tange à mineração de ferro, vale lembrar que os primeiros altos-
fornos construídos no País datam do início do século XIX, em São João de Ipanema
(Sorocaba, São Paulo) e na Fábrica do Morro do Pilar (Minas Gerais). A primeira corrida
de ferro-gusa em alto-forno ocorreu, no Brasil, em 1814. Ainda naquele século, destacou-
se a usina construída pelo engenheiro francês Jean de Monlevade Guimarães. Em 1876, foi
criada a Escola de Minas de Ouro Preto, que, além de formar os primeiros metalurgistas
brasileiros, contribuiu para a introdução de novas técnicas no incipiente ramo de atividade.

Ainda no que se refere à mineração de ferro, os primeiros anos do século XX foram


marcados pela constituição da Itabira Iron Ore Coorporation, de capital inglês, que
adquiriu os direitos das minas de ferro de Itabira em Minas Gerais e detiveram a
participação na Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). A produção de ferro somente
ganhou fôlego após a década de 1940.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi criada em 1942, a partir da incorporação da
mineradora inglesa Itabira Iron Ore ao patrimônio do governo federal do Brasil, com o
objetivo de produzir hematita para alimentar a indústria bélica dos ingleses durante a
Segunda Guerra Mundial.

A CVRD foi privatizada em 1997/98, quando produzia 85 Mt/ano de minério de ferro, o


que a colocava como a maior exportadora do mundo no seu segmento. Tal situação foi
ampliada nos últimos anos, consolidando esta posição. Em novembro de 2007 CVRD
mudou de nome e de marca, passando a ser chamada de VALE.

31
Em 2006, as vendas de minério de ferro e pelotas da Vale alcançaram 272,682 milhões de
toneladas (272,68Mt), ultrapassando em 8,1% a marca verificada no ano anterior. Os
embarques de minério de ferro somaram 238,728 milhões de toneladas, enquanto que as
vendas de pelotas totalizaram 33,954 milhões de toneladas.

A Vale se transformou no maior fornecedor de minério de ferro para a China, embarcando


77,873 milhões de toneladas, com crescimento de 37,8% em relação ao realizado em 2005,
56,530 milhões de toneladas. A Vale foi responsável por 23,2% das importações chinesas,
representaram 28,6% do volume total de vendas, contra 22,4% em 2005 e 19,0% em 2004.

As receitas produzidas pelos minerais ferrosos - minério de ferro, pelotas, manganês e


ferro ligas - foram de R$ 27,635 bilhões, com acréscimo de 10,9% em relação a 2005,
quando atingiram R$ 24,926 bilhões.

O desempenho financeiro da Vale em 2006 revelou diversos recordes, envolvendo receita,


lucro operacional, lucro líquido, geração de caixa e investimentos, aquisições, além de
exportação, impostos gerados no Brasil, contribuição social na geração de emprego e
renda, responsabilidade social e meio ambiente. Apresentou mais um ano de desempenho
caracterizado pela superação de importantes desafios estratégicos, operacionais e
financeiros.

Com a aquisição da Inço, a Vale tornou-se a segunda maior empresa do mundo na indústria
de mineração e metais por capitalização de mercado. Entre dezembro de 2001 e fevereiro
de 2007, o valor de mercado da Vale aumentou em mais de US$ 75 bilhões, com o retorno
total para o acionista no período 2001 a 2006 chegando a 42,7% ao ano.

Nos últimos cinco anos a remuneração paga ao acionista somou US$ 4,7 bilhões, tendo
sido proposto para 2007 o pagamento de US$ 1,65 bilhão, equivalente a US$ 0,68 por ação
com elevação de 27 % em relação aos US$ 1,3 bilhão distribuídos no ano passado (R$ 2,8
bilhões), correspondentes a US$ 0,536 por ação (R$ 1,147 por ação).

Foram registrados recordes na produção de minério de ferro (271,069 milhões de


toneladas), alumina (3,939 milhões de toneladas), alumínio (550 mil toneladas), cobre (267

32
mil toneladas), potássio (732 mil toneladas) e caulim (1,352 milhão de toneladas), os quais
se refletiram em embarques recordes desses produtos. Os principais recordes da Vale em
2006 são:

1. Embarques
• Minério de ferro e pelotas – 276,021 milhões de toneladas;
• Alumina – 3,221 milhões de toneladas;
• Alumínio primário – 485 mil toneladas;
• Cobre – 169 mil toneladas;
• Potássio – 733 mil toneladas; e
• Caulim – 1,323 milhão de toneladas.
2. Indicadores financeiros
• Receita bruta de US$ 20,4 bilhões;
• Lucro operacional (lucro antes de juros e impostos), de US$ 7,6 bilhões;
• Geração de caixa, medida pelo EBITDA1 ajustado (lucro antes de despesas
financeiras, impostos e depreciação), de US$ 9,2 bilhões;
• Lucro líquido de US$ 6,5 bilhões, correspondente a US$ 2,69 por ação;
• Investimentos de US$ 26,0 bilhões, sendo US$ 3,2 bilhões em crescimento
orgânico, US$ 1,3 bilhão na sustentação dos negócios existentes e US$ 21,5 bilhões
em aquisições.

2.4.ASPECTOS LEGAIS DA LEGISLAÇÃO MINERÁRIA E AMBIENTAL NO


BRASIL
A exploração de recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens da União (art. 20 da
Constituição Federal, 1988). Compete à União legislar sobre as jazidas, minas, outros
recursos minerais e metalurgia; (art. 22 inciso XII).

1
EBITDA é a sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, que traduzido literalmente para o
português significa: lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Termo muito utilizado por analistas financeiros na
análise de balanços contábeis de empresas de capital aberto. Para se chegar ao EBITDA de uma empresa, é preciso utilizar a seguinte
conta: lucro bruto menos as despesas operacionais, excluindo-se destas a depreciação e as amortizações do período. Dessa forma, é
possível avaliar o lucro referente apenas ao negócio, descontando qualquer ganho financeiro. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/EBITDA. Acesso em: 21 de agosto de 2006.

33
O Código de Mineração (Decreto-Lei 227, de 28/02/67) disciplina os regimes de
exploração e aproveitamento dos recursos minerais brasileiros. Conceitua um conjunto de
normas e as condições de acesso ao subsolo – por autorizações, concessões, licenças e
permissões – e estabelece os direitos e deveres dos titulares de direitos minerários. Dispõe,
ainda, sobre a competência do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM,
vinculada ao Ministério de Minas e Energia – MME – na administração dos recursos
minerais e na fiscalização da atividade mineral no País.

Os regimes, conjunto de normas que disciplinam a exploração e aproveitamento dos


recursos minerais no Brasil, são por categorias contidas por tipo (como autorização de
pesquisa, grupamento mineiro, registro de licença e lavra garimpeira) e fase (como
autorização de pesquisa, disponibilidade, registro de extração, licenciamento e concessão
de lavra).

Em relação à questão ambiental, Machado (1989) descreve que desde o início da década de
70, os países desenvolvidos aprenderam uma dura lição: a continuarem as práticas
industriais em vigor, os danos ambientais se tornariam irreversíveis, comprometendo
seriamente o bem-estar de suas populações. Conscientes desses riscos deram uma guinada
em sua política industrial, assumindo posições restritivas à atuação do setor produtivo.

Em 198, o País promulgou uma Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) que
em seu art. 2o cita:
“A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana”.

Conforme a Constituição Federativa do Brasil (1988) estabelece em seu artigo 225,


parágrafo 2o:
"aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar
o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma da lei".

34
A Constituição Federal (1988) condiciona o aproveitamento dos recursos minerais com
base em premissas, ou seja, da proteção, conservação e racionalidade da exploração dos
recursos ambientais. O Art. 255 da Constituição Federal cita que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:


IV - Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - Controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a saúde,
a qualidade de vida e o meio ambiente;

A partir da publicação do Decreto 97.632/89, inicia-se no Brasil, em caráter obrigatório, a


apresentação de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD para
empreendimentos minerários. Tal decreto menciona em seu Art. 1º:
“os empreendimentos que se destinem à exploração de recursos
minerais deverão, quando da apresentação do Estudo de Impacto
Ambiental – EIA e do Relatório de Impacto do Meio Ambiente –
RIMA, submeter à aprovação do órgão ambiental competente,
plano de recuperação de área degradada”.

Em seu Art. 2º, define:


“são considerados como degradação os processos resultantes dos
danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem
algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou
capacidade produtiva dos recursos ambientais”. Em seu Art. 3º,
menciona que: “a recuperação deverá ter por objetivo o retorno
do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um

35
plano pré-estabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de
uma estabilidade do meio ambiente.”

De acordo com Neto, S.E. & Santos, L.M. (2006), em resposta às exigências legais, as
empresas mineradoras se impuseram a obrigação de implementar medidas que mitiguem os
impactos causados por suas atividades. Com esse mesmo objetivo, os especialistas, os
pesquisadores e os técnicos têm procurado desenvolver estudos e práticas que visam à
busca das soluções mais adequadas a cada situação concretamente enfrentada – inclusive
no que se refere à viabilidade econômica de implementação das propostas ante o
investimento do empreendimento – de maneira a tornar compatíveis a necessidade de
conservação do meio ambiente e os interesses econômicos. Em face das imposições legais,
citadas anteriormente, a empresa vê-se compelida a promover estudos para avaliar a
situação ambiental de seu empreendimento com vistas ao processo de licenciamento.

Na esfera federal, o Ministério do Meio Ambiente – MMA coordena e formula a Política


Nacional do Meio Ambiente. Ao Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA –
órgão deliberativo e consultivo de política ambiental do MMA – compete elaborar normas,
padrões e critérios para disciplinar o licenciamento ambiental, seja pelo Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e/ou pelos órgãos
ambientais estaduais e municipais competentes, integrantes do Sistema Nacional do Meio
Ambiente – SISNAMA.

Em Minas Gerais, as atribuições do licenciamento ambiental e da Autorização Ambiental


de Funcionamento (AAF) são exercidas pelo Conselho Estadual de Política Ambiental
(COPAM), por intermédio das Câmaras Especializadas, das Unidades Regionais
Colegiadas (URCs), das Superintendências Regionais de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SUPRAMS), da Fundação Estadual de Meio Ambiente
(FEAM), do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e do Instituto Estadual de
Florestas (IEF), de acordo com o Decreto 44.309/06.

No caso do Estado de Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e


Desenvolvimento Sustentável – SEMAD, é o órgão responsável pela coordenação do
Sistema Estadual do Meio Ambiente – SISEMA.

36
A SEMAD tem como principal objetivo formular e coordenar a política estadual de
proteção e conservação do meio ambiente e de gerenciamento dos recursos hídricos e
articular as políticas de gestão dos recursos ambientais, visando ao desenvolvimento
sustentável no Estado de Minas Gerais. O SISEMA é formado pela SEMAD, pelos
conselhos estaduais de Política Ambiental – COPAM e de Recursos Hídricos – CERH e
pelos órgãos vinculados: Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM, Instituto
Estadual de Florestas – IEF e Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM.

O COPAM exerce o papel de órgão colegiado do sistema ambiental estadual sendo


responsável pela deliberação e normatização das políticas públicas formalizadas pelo
SISEMA (SEMAD, FEAM, IGAM e IEF) na área ambiental (FEAM, 2006).

Para a regularização ambiental, considera-se a classificação dos empreendimentos nos


termos da Deliberação Normativa COPAM 74/04, conforme a seguir:
• Classe 1 - pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor;
• Classe 2 - médio porte e pequeno potencial poluído;
• Classe 3 - pequeno porte e grande potencial poluidor ou médio porte emédio
potencial poluidor;
• Classe 4 - grande porte e pequeno potencial poluidor;
• Classe 5 - grande porte e médio potencial poluidor ou médio porte e grande
potencial poluidor; e
• Classe 6 - grande porte e grande potencial poluidor.

Para os empreendimentos classes 1 e 2, considerados de impacto ambiental não


significativo, é obrigatória a obtenção da Autorização Ambiental de Funcionamento
(AAF). Para as demais classes (3 a 6), o caminho para a regularização ambiental é o
processo de licenciamento, com o requerimento das licenças Prévia (LP), de Instalação
(LI) e de Operação (LO).

“A FEAM tem por finalidade executar, no âmbito do Estado de Minas Gerais, a política de
proteção, conservação e melhoria da qualidade ambiental no que concerne à prevenção, à
correção da poluição ou da degradação ambiental provocada pelas atividades industriais,

37
minerárias e de infra-estrutura, bem como promover e realizar estudos e pesquisas sobre a
poluição e qualidade do ar, da água e do solo” (FEAM, 2006).

“O IGAM é responsável pela concessão de direito de uso dos recursos hídricos estaduais,
pelo planejamento e administração de todas as ações voltadas para a preservação da
quantidade e da qualidade de águas em Minas Gerais. Coordena, orienta e incentiva a
criação dos comitês de bacias hidrográficas, entidades que, de forma descentralizada,
integrada e participativa, gerenciam o desenvolvimento sustentável da região onde atuam”
(IGAM, 2006).

“O IEF propõe e executa as políticas florestais, de pesca e de aqüicultura sustentável. É


autarquia vinculada à SEMAD, responsável pela preservação e a conservação da
vegetação, pelo desenvolvimento sustentável dos recursos naturais renováveis; pela
pesquisa em biomassas e biodiversidade; pelo inventário florestal e o mapeamento da
cobertura vegetal do Estado. O IEF administra as unidades de conservação estaduais, áreas
de proteção ambiental destinadas à conservação e preservação” (IEF, 2006).

A licença ambiental é um ato administrativo da legislação ambiental vigente e gera


responsabilidades ou mesmo co-responsabilidades aos detentores de concessões de lavra.
Portanto, a licença de operação da mina outorgada pelo órgão ambiental gera direitos e
obrigações ao minerador. No caso de Minas Gerais, o licenciamento ambiental de
empreendimentos minerários segue as diretrizes estabelecidas pela Deliberação Normativa
– DN COPAM 04/90.

Conforme Resolução SEMAD-MG, atualmente, os processos de licenciamento ambiental


de empreendimentos sejam eles minerários ou não, devem ser elaborados/protocolados de
forma integrada.

O Formulário de Caracterização do Empreendimento Integrado – FCEI é o documento que


o empreendedor utiliza para apresentar ao órgão ambiental as informações do
empreendimento para regularização ambiental. Em resposta ao empreendedor, após análise
do FCEI, a FEAM emite o Formulário de Orientação Básica Integrado – FOBI, documento
que contém as diretrizes necessárias para formalizar o processo de licenciamento, orienta o

38
empreendedor de qual (is) estudo (s) ambiental (is) deverão ser elaborados. O FOBI é
gerado com base nas informações prestadas pelo empreendedor no FCEI e na legislação
ambiental pertinente. Atualmente o FCEI pode ser preenchido e encaminhado via on line
com assinatura digital, compondo o Sistema Integrado de Informação Ambiental – SIAM.

No caso de mineração, existe um FCEI específico. Em caso de intervenção em recursos


hídricos (rebaixamento de nível d´água, captação de água em cursos d´água e intervenções
em cursos d´água) haverá necessidade de apresentar juntamente com os estudos ambientais
o pedido de outorga visando análise junto ao IGAM. Caso haja intervenções em Área de
Preservação Permanente – APP, como também supressão de vegetação haverá necessidade
de estudos específicos como necessidade de Autorização para Exploração Florestal –
APEF, elaborando-se Projeto Técnico de Reconstituição da Flora – PTRF e/ou Projeto de
Utilização Pretentida – PUP, que serão analisados pelo Instituto Estadual de Florestas –
IEF, definindo as compensações ambientais cabíveis.

A Compensação Ambiental é um mecanismo para contrabalançar os impactos sofridos


pelo meio ambiente, identificados no processo de licenciamento ambiental no momento da
implantação de empreendimentos. Os recursos são destinados à implantação e
regularização fundiária de unidades de conservação, sejam federais, estaduais ou
municipais.

A Lei 9.985, de 18/07/2000, instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação –


SNUC, que regulamenta as unidades de conservação. O SNUC dividiu em 12 categorias a
implantação e a gestão das unidades de conservação no Brasil. Dessas 12, cinco são
unidades de conservação de proteção integral, que têm como objetivo preservar a natureza,
permitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. As outras sete são unidades de
conservação (UC) de uso sustentável, que permitem o uso de parte de seus recursos
naturais.

As unidades de conservação de proteção integral abrangem os parques nacionais, os


monumentos naturais, as estações ecológicas, as reservas biológicas e os refúgios da vida
silvestre que não podem ser habitados pelo homem.

39
As unidades de conservação de uso sustentável dividem-se em áreas de proteção
ambiental, reservas particulares de patrimônio natural, florestas nacionais, áreas de
relevante interesse ecológico, reservas extrativas, reservas da fauna e reservas de
desenvolvimento sustentável.

Em Minas Gerais a Deliberação Normativa – DN COPAM n.º 94 de 12 de abril de 2006,


estabeleceu as diretrizes e procedimentos para aplicação da compensação ambiental de
empreendimentos considerados de significativo impacto ambiental no qual o setor mineral
se enquadra.

Minas Gerais é o primeiro estado do país a definir percentuais superiores aos 0,5% dos
custos totais previstos para a implantação do empreendimento estabelecidos pela legislação
federal, podendo alcançar até 1,1% caso o empreendimento esteja previsto para ser
instalado em áreas consideradas prioritárias para a conservação. O valor da compensação
também pode chegar a 1,1% caso o empreendimento esteja localizado em áreas em que se
localizem espécies ameaçadas ou esteja a menos de cinco quilômetros de unidades de
conservação de proteção integral: os parques, reservas biológicas, estações ecológicas,
monumentos naturais e refúgios de vida silvestre.

A avaliação do grau de impacto é feita a partir dos estudos ambientais solicitados pela
Câmara de Proteção da Biodiversidade (CPB) do COPAM no processo de licenciamento
ambiental.

De acordo com Mesquita (2004) foi somente em 2000 que as Reservas Particulares de
Patrimônio Natural – RPPN’s conquistaram o status de Unidades de Conservação (UC’s),
com a aprovação da Lei SNUC que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, fazendo do Brasil o único país da América Latina a incluir as
reservas privadas no seu sistema de áreas protegidas oficialmente.

“As RPPN’s são unidades de conservação de domínio privado, criadas por iniciativa do
proprietário da área, mediante ato de órgão governamental (IBAMA ou órgão estadual de
meio ambiente, quando houver regulamentação no estado), desde que constatado o
interesse público. Pelo SNUC, as RPPN’s devem ter como objetivo principal a

40
conservação da diversidade biológica. Nas RPPN’s o dono da terra continua sendo o
proprietário, e pode contar com o apoio do IBAMA e dos órgãos de meio ambiente, assim
como das entidades ambientalistas, no planejamento do uso, manutenção e proteção dessas
reservas” (Mesquita et al, 2004).

Quem cria uma RPPN tem isenção do Imposto Territorial Rural – ITR para a área
declarada, pode encaminhar projetos para o Fundo Nacional do Meio Ambiente, através de
organizações da sociedade civil, fundações ou órgãos públicos, para financiar a
manutenção da reserva. As RPPN’s podem ser criadas em qualquer ecossistema, em todos
os biomas existentes do território nacional onde haja propriedades particulares.

De acordo com a Lei do SNUC (Lei 9.985, de 18/07/2000), em seu artigo 22, RPPN é:
“uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de
conservar a diversidade biológica”, na qual só podem ser
realizadas atividades relacionadas à pesquisa científica e à
visitação, seja com fins turísticos, recreativos ou educacionais”
(Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,
2000).

Nenhum proprietário de RPPN está obrigado a abrir sua reserva para visitantes ou
pesquisadores (direito à propriedade). Entretanto, é importante ressaltar que aqueles que
têm buscado o apoio e a parceria de instituições de meio ambiente, de centros de pesquisa
ou de universidades, sejam públicas ou privadas, têm podido realizar com maior
efetividade as ações que asseguram, em longo prazo, a concretização de seu desejo,
expresso no ato de criação da RPPN: a proteção do patrimônio natural de sua propriedade
em perpetuidade e de maneira sustentável. (Mesquita et al, 2004).

Segundo Mesquita (2004) a Reserva Legal (RL) estabelecida pelo Código Florestal é uma
obrigação de todo proprietário de imóvel rural. No caso da Mata Atlântica, todas as
propriedades devem manter pelo menos 20% da sua área com a cobertura florestal original,
sem desmatá-la. Já as RPPN’s são criadas de maneira voluntária pelos proprietários, e para
as mesmas não há limitação de tamanho nem de porcentagem da área do imóvel. Uma RL
não é uma área com vegetação intocável. Nela podem ser realizadas atividades de

41
extrativismo, desde que de maneira planejada e sustentável, especificamente para obtenção
de produtos necessários para a manutenção e manejo da propriedade agrícola. O que não
pode haver é a supressão total da vegetação original.

Uma RPPN é uma área protegida com uso muito mais restrito do que uma RL. Por esta
razão, e por ser de caráter voluntário, é que não há impedimento para o reconhecimento de
RPPN sobre áreas já averbadas como Reserva Legal, desde que o proprietário esteja ciente
que, sob esta nova regulamentação, não poderá mais utilizar, de maneira direta, os recursos
naturais da área. Por se tratar de um ato voluntário, a criação de uma RPPN deve expressar
o desejo do proprietário da área, e não se atrelar a uma "condicionante compensatória" em
Termos de Ajustamento de Conduta – TAC para atividades que produzem impactos
negativos no ambiente natural.

A Vale preserva nove RPPN’s (Tabela 2.2), totalizando 7.737,62 hectares com vegetação
em vários estágios de regeneração na região do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais.
Duas RPPN’s estão localizadas na bacia do rio das Velhas (RPPN Mata do Jequitibá e
Poço Fundo) e sete na bacia do rio Doce (RPPN Comodato Peti, Sobrado, Mata São José,
Mata do Itabiruçu, Capivari, Horto Alegria e do Diogo).

A área de propriedade da Vale em Gongo Soco totaliza 1.443,92 hectares, já incluindo duas
Unidades de Conservação enquadradas na categoria de Reserva Legal (Figura 2.4).

De acordo com a Figura 2.4, verifica-se que nas proximidades da área de propriedade uma
terceira reserva legal pertencente à mineração Santa Inês, compondo um corredor
ecológico. Na porção leste observa-se uma área tombada pelo Instituto Estadual de
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA, homologada pela Secretaria de
Estado da Cultura em 11 de maio de 1995, totalizando 83,44 ha e que intercepta parte da
propriedade da Vale. Trata-se de um conjunto paisagístico de ruínas de Gongo Soco do
século XVIII e XIX.

42
Tabela 2.2 – RPPN’s da VALE inseridas no Quadrilátero Ferrífero.
Tipologia Vegetal
RPPN Localização Município Área (ha) Portaria Estudos Faunísticos
Predominante
23 espécies de peixes.
Portaria do
142 de aves
IEF em
32 mamíferos
Mata do Mina Córrego regularização Floresta Estacional
Brumadinho 70,50 Observam-se algumas ameaçadas
Jequitibá do Feijão No 050 de Semidecidual
de extinção tais como: cuitelão
05/04/2004
(ave), o guigó, o lobo-guará e a
jagatirica.
Presença de Floresta
Portarias do Estacional
IBAMA Semidecidual,
Observam-se algumas espécies
Mina de 36/95-N- enclaves de campo
Poço Fundo Congonhas 426,37 ameaçadas de extinção tais como: o
Fábrica 02/06/95 e limpo e campo
lobo-guará e o pavó.
103/01- rupestre.
03/09/2001 Abriga 44 nascentes
cadastradas.
A localização contígua à RPPN
Matas ciliares de Santuário do Caraça e à RPPN
encosta, nos domínios Alegria forma um “corredor
de transição entre ecológico” importante iniciativa de
Mina de Ouro Santa Bárbara Em análise no
Capivari 2500 Mata Atlântica e conservação da fauna e flora
Fino e Itabirito IEF
cerrado lato sensu proporcionando o aumento gênico
(cerrado, campo entre as populações. Nesta RPPN
cerrado e campo de foram registradas 282 espécies de
altitude) aves.
Situada na transição A RPPN Horto Alegria é conectada
entre os domínios da à RPPN Santuário do Caraça
Mata Atlântica e do (segunda maior do estado de MG).
Mina de Em análise no cerrado. Ambas formam um corredor
Horto Alegria Mariana 3661,84
Alegria IEF Mata estacional natural, propiciando espaço para a
semidecidual, mata fauna de maior porte (sussuaranas,
ciliar, campo cerrado e lobos-guará, dentre outras
campo limpo. espécies).
Contígua à RPPN Peti (apresenta
Matas estacionais
Portaria 231 espécies de aves). Acredita-se
semideciduais e matas
Sobrado Mina de Santa Bárbara IBAMA No que muitas espécies que ocorrem
43,06 ciliares do bioma da
Brucutu 109, de nas RPPNs Peti e Comodato Peti
Mata Atlântica
08/08/2002 tansitem pela RPPN Sobrado.
Área praticamente contígua à
RPPN Peti de propriedade da
CEMIG, com cerca de 650 ha. As
Portaria duas unidades de conservação
Matas estacionais
Mina de São Gonçalo IBAMA abrigam espécies ameaçadas de
Comodato Peti 96,41 semideciduais e matas
Brucutu do Rio Abaixo 99/01- extinção como o pavó, o jacu, o
ciliares inseridas no
13/09/2001 catitu, a sussuarana, dentre outras
bioma Mata Atlântica.
espécies que necessitam de grandes
áreas para reprodução, abrigo e
trocas genéticas.
Inserida no bioma da Mata
Matas secundárias, Atlântica, a estrutura florística e
capoeiras baixas, fisionômica da cobertura vegetal
Em pastos sujos, matas de varia conforme mudanças
Mina de Água implantação eucaliptos, áreas pedológicas, topográficas e
Do Diogo Rio Piracicaba
Limpa 195,31 Portaria do assoreadas e focos microclimáticas. A área se encontra
IEF No 13 de erosivos resultantes de em recuperação com introdução de
04/02/2005 antigos garimpos de vegetação nativa.
ouro em regeneração. Observaram-se 128 espécies de
aves e 34 de mamíferos.
Portaria do Matas estacionais Conectada à RPPN Mata São José
Mata do Mina de
Itabira 221,36 IEF No254, de semideciduais e matas de propriedade da V preserva
Itabiruçu Conceição
27/12/2005 ciliares. muitas espécies da fauna.
Muitas espécies endêmicas da
Mata Atlântica são registradas tais
Matas estacionais como: guigó, a douradinha, a
Portaria do
semideciduais e matas cigarra-bambu, a choquinha-de-
Mata São José Mina de Cauê Itabira 522,40 IEF No252, de
ciliares, inseridas no dorso-vermelho, o tié-preto, o
27/12/2005
bioma Mata Atlântica. soldadinho, o gavião-pombo,
surucuá-de peito-azul, dentre
outras.
Fonte: Modificado de Câmara & Murta. Quadrilátero Ferrífero: biodiversidade protegida, 2007.

43
2.4.1.LEI DE CRIMES AMBIENTAIS
A Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 dispõe sobre sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. No artigo 55, menciona:
“executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a
competente autorização, permissão, concessão ou licença ou em
desacordo com a obtida”. Em caso de não cumprimento, o
empreendedor corre o risco de detenção, de seis meses a um ano, e
multa. Em seu parágrafo único, menciona: “nas mesmas penas
incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada,
nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou
determinação do órgão competente”.

Assim, a responsabilidade civil daquele que explorar recursos minerais advém do nexo
causal entre a atividade de mineração legalmente autorizada e o dano ambiental causado
por ela; a responsabilidade administrativa decorre da execução da atividade de mineração
em desacordo com as medidas de controle ambiental e condicionante da licença ambiental;
e a responsabilidade penal depende da aferição da vontade do infrator em praticar (com
dolo ou culpa) as infrações penais tipificadas em lei.

O art. 225, § 3º da Constituição Federal dispõe que as condutas e atividades lesivas ao


meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados,
estabelecendo três esferas distintas de responsabilidade jurídica: a penal, a administrativa e
a civil.

A Lei n.º 7.805 de 18 de julho de 1989 em seu artigo 19, responsabiliza o minerador pela
reparação dos danos causados ao meio ambiente in verbis: "o titular da autorização de
pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de
manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente."Do ponto de vista
jurídico, a não recuperação do dano ambiental causado pela atividade de mineração pode
acarretar sanções de natureza penal e administrativa, sem desonerar o minerador da
obrigação de recuperar o meio ambiente degradado pela atividade (responsabilidade civil).

44
A administração pública tem o poder de polícia para controlar as atividades que causam
impactos ambientais, por meio do controle direto das fontes geradoras de poluição ou
utilizadoras de recursos naturais. As penalidades administrativas padrões são as de cunho
pecuniário (multa) ou ligadas ao regime autorizativo para o exercício de atividades
(embargo, interdição ou suspensão). A responsabilidade penal é sempre de caráter
subjetivo, pois pressupõe a aferição da vontade do autor para a prática do ato delituoso
definido como crime, enquadrando-a nos parâmetros do dolo (consciência e vontade livre
de realizar a conduta delituosa) ou da culpa (violação do dever de cuidado, atenção e
diligência com que todos devem pautar-se na vida em sociedade). As penalidades criminais
são aplicadas exclusivamente pelo Judiciário.

2.4.2.MINERAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


O debate sobre a exploração de recursos naturais em Áreas de Preservação Permanente –
APP’s vem sendo realizado a tempos pelos envolvidos, seja através dos órgãos ambientais
competentes, por profissionais liberais, bem como pela sociedade civil organizada. Tanto a
vertente ambientalista, quanto a que constitui os representantes pela atividade minerária no
país reconhece que a questão é carente de um entendimento pleno e que a exploração
destas áreas é conflituosa, dada à importância da atividade como geradora de renda e
emprego, bem como a indiscutível necessidade de se criar mecanismos de proteção e
regulamentação das mesmas. Tomando como ponto de avaliação o minério de ferro, que é
hoje o carro chefe da mineração brasileira devido ao aumento da demanda das exportações,
pode-se ter um panorama da importância do Brasil e do estado de Minas Gerais no
contexto da atividade minerária.

O Brasil possui aproximadamente 67,6 bilhões de toneladas de minério de ferro em


reservas espalhadas pelo território nacional, representando 7,2% das reservas mundiais e
ocupando atualmente a 2ª posição na participação da produção mundial. Assim, constata-se
que a mineração tem contribuído expressivamente para o desenvolvimento regional no
País. Pelo volume de investimentos que realiza, pela quantidade dos empregos que gera e
pelo crescente volume de suas exportações, a mineração é hoje um dos mais importantes
setores da economia nacional.

46
Contudo, o fato marcante é que o setor de mineração no Brasil e em Minas Gerais mostra-
se dinâmico e com perspectivas de crescimento acelerado, corroboradas com importantes
investimentos no setor.

Desta forma, percebe-se a importância da regulamentação da exploração nestas áreas no


País e em Minas Gerais. A legislação vem evoluindo na tentativa de criar mecanismos de
ordenação da utilização de APP’s para o setor mineral bem como para outros interessados.
O Código Florestal (Lei 4.771 de 15 de setembro 1965) é um marco legal nessa questão,
pois foi onde surgiram conceitos e definições para estas áreas, e cita:
“As florestas existentes no território nacional e as demais formas
de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem,
são bens de interesse comum a todos os habitantes do País,
exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a
legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”.

A partir desta lei, as APP’s tiveram sua importância reconhecida por sua função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade física, a biodiversidade, o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas, entendida como aquela área que, coberta ou não por vegetação nativa, é
protegida nos termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal (art. 1º, § 2º, inciso II, do
Código Florestal, com a atual redação dada pela Medida Provisória n.º 2.166-67, de 2001).
A Medida Provisória – MP n° 2.166-67 de 2001 foi criada para alterar os Arts. 1°, 4°, 14°,
16° e 44°, e acrescentar dispositivos ao Código Florestal.

Outro marco legal da evolução cronológica correlata ao assunto foi a Resolução


CONAMA (RC) n.º 303, de 20 de março de 2002, criada para esclarecer a delimitação das
APP’s e os conceitos descritos no Código Florestal que estavam causando conflitos na
demarcação das mesmas. Tais conflitos eram e são sentidos, principalmente, quando da
realização de Estudos de Impactos Ambientais – EIA’s com foco à concessão de licença
ambiental. A diversidade biológica e a abundância desproporcional de recursos hídricos do
país trazem impasses a alguns Estados pela quantidade de áreas que são consideradas como
APP’s.

47
O fato de que não existe alternativa locacional para a exploração de jazidas minerais tornou
a questão ainda mais complexa. Desta maneira, a última resolução do CONAMA relativa à
APP’s (Resolução CONAMA n° 369, de 28 de março de 2006), foi construída na tentativa
de criar um mecanismo de utilização dessas áreas desde que seja constatada a utilidade
pública, o interesse social ou o baixo impacto ambiental.

Diante destas perspectivas, Minas Gerais têm como fatores potencializadores à discussão
sobre a exploração legal em APP’s, o fato de o Estado possuir como destaque um relevo
muito acidentado em boa parte de seu território, tornando essa porção propícia a ser APP
de declividade, além de deter um dos mais importantes acervos hídricos do Brasil.

A atividade de exploração mineral encontra-se geograficamente espalhada por todo o


Estado de Minas Gerais, mas principalmente, nas porções centrais, leste e nordeste. A
concentração dos decretos minerários nestes dois eixos está diretamente relacionada ao
substrato geológico dos mesmos tratando-se dos principais complexos geológicos em
termos de abundância mineral do Estado, denominados Quadrilátero Ferrífero e Província
Pegmatítica Oriental.

Gongo Soco torna-se um caso específico de que a RC 369 de 2006 foi um avanço, pois
apesar das intenvenções em APP’s, os direitos legais de sua utilização estão
salvaguardados, sendo importante lembrar que é também obrigação do empreendedor
recuperar o ambiente degradado visando garantir o interesse nacional pela utilização e
exploração dos recursos naturais bem como resguardar o meio ambiente natural, de
fundamental importância para a biota terrestre.

O minerador brasileiro tem feito esforços para acompanhar as demandas atuais em torno da
questão ambiental e a mineração. As empresas estão, em sua maioria, aplicando técnicas
mais modernas e ambientalmente mais satisfatórias.

Em geral, as empresas de mineração já vêem a necessidade de serem internalizados os


custos de recuperação ambiental e já reconhecem como legítimas as reivindicações das
comunidades, incorporando em suas práticas a responsabilidade social. Incorporar o tema
ambiental no planejamento estratégico de uma organização é um desafio constante em

48
busca de soluções técnicas factíveis e economicamente viáveis.

2.4.3.LEI DA MATA ATLÂNTICA


Originalmente, a Mata Atlântica estendia-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do
Sul, continuamente. Inclui a Floresta Ombrófila Densa sobre as serras voltadas para o
oceano Atlântico, a Floresta Estacional Semidecidual, que avança para o interior, as Matas
de Restinga da planície sedimentar costeira e os Manguezais, nas margens de rios
litorâneos. Também integram esse bioma formações abertas como os Campos de Altitude e
as Dunas Litorâneas.

A Lei n.o 11.428, conhecida como Lei da Mata Atlântica foi sancionada em 22 de
dezembro de 2006, e dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma
Mata Atlântica. De acordo com Art. 2o (Capítulo I) considera-se como vegetação
integrante deste bioma as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados:
Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de
Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta
Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de
altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.

A Lei da Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvimento sustentável


salvaguardando a biodiversidade, a saúde humana, os valores paisagísticos, estéticos e
turísticos, o regime hídrico e a estabilidade social (Capítulo II, Art. 6o). A supressão e a
exploração da vegetação deste bioma serão de maneira diferenciada, considerando-se seu
estágio de regeneração, ou seja, vegetação primária ou secundária. O corte e a supressão de
vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração do Bioma Mata
Atlântica ficam vedados quando:
a) Abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em território
nacional ou em âmbito estadual, assim declarada pela União ou pelos Estados, e a
intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies;
b) Exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão;
c) Formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em
estágio avançado de regeneração;
d) Proteger o entorno das unidades de conservação; ou

49
e) Possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos
competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração


somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a vegetação
secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade
pública e interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e motivados em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao
empreendimento proposto.

A definição de utilidade pública conforme a Lei da Mata Atlântica envolve:


a) Atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) As obras essenciais de infra-estrutura de interesse nacional destinadas aos serviços
públicos de transporte, saneamento e energia declarada pelo poder público federal
ou dos Estados;

A definição de interesse social conforme a Lei da Mata Atlântica envolve:


a) As atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais
como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de
invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, conforme resolução do
CONAMA;
b) As atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena
propriedade ou posse rural familiar que não descaracterizem a cobertura vegetal e
não prejudiquem a função ambiental da área;
c) Demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do CONAMA.

Na hipótese de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do


meio ambiente, o órgão competente exigirá que a empresa elabore um EIA-RIMA ao qual
se dará publicidade, assegurada a participação pública (Art. 15).

O corte ou a supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio ou


avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica, autorizados por esta Lei, ficam
condicionados à compensação ambiental, na forma da destinação de área equivalente à

50
extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia
hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica (Art. 17).

De acordo com capítulo VII, da Lei 11.428 (Lei da Mata Atlântica), em seu Art. 32 para
atividades minerárias, somente será admitida a supressão de vegetação secundária em
estágio avançado e médio de regeneração mediante:
I. Licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de EIA/RIMA, pelo
empreendedor, e desde que demonstrada a inexistência de alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto; e
II. Adoção de medida compensatória que inclua a recuperação de área equivalente à
extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma
bacia hidrográfica e sempre que possível na mesma microbacia.

A Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza (Lei SNUC) apresenta no Art. 36 que em casos de licenciamento
ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo
órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e
respectivo relatório – EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e
manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral.

Atualmente a FEAM orienta que os licenciamentos ambientais de estruturas minerárias já


existentes (cavas, pilhas de disposição de estéril e barragem.) fiquem condicionados a
apresentar EIA/RIMA. Vários empreendedores questionam tal medida adotada pela FEAM
alegando que se trata de estruturas já licenciadas e em atividade e deveriam apresentar
RCA/PCA, pois se trata de ampliações.

Cabe destacar que a orientação da FEAM é clara. Se houver supressão de vegetação nativa
(remanescentes de Mata Atlântica), mesmo que a estrutura já seja licenciada, a orientação é
que o licenciamento ambiental fique condicionado à apresentação dos seguintes estudos
ambientais: EIA/RIMA, PUP-PTRF e PCA. Após análise e aprovação do órgão ambiental
é emitida a LI.

Quando o projeto de ampliação de uma determinada estrutura minerária é muito

51
impactante, a orientação é que o empreendedor apresente o EIA/RIMA com vistas a uma
LP. Desta forma, o estudo ambiental é analisado com todos os trâmites normais
(audiências públicas).

Uma reflexão a ser considerada, é que a cada dia a legislação ambiental vem se tornando
mais exigente para com empreendimentos que interferem nos recursos naturais. As
empresas devem buscar alternativas, mudanças conjunturais em suas estruturas
organizacionais buscando novas tecnologias e estratégias de gestão visando à
sobrevivência. Hoje a sociedade se mostra mais organizada e exigente. Sendo assim, as
empresas têm o papel de buscar continuamente uma melhoria de suas atividades,
minimizando ou mesmo reduzindo os impactos ambientais inerentes de suas atividades.

A mineração, diferentemente de outras atividades industriais, possui rigidez locacional.


“Só é possível minerar onde existe minério” (Haddad, 2006), não há possibilidades de
relocação da jazida. Para projetos de ampliação de cava, o órgão ambiental não exige
apresentação de alternativa locacional; ao contrário de projetos novos e de ampliações de
pilhas de disposição de estéril, em que é obrigatório nos estudos ambientais apresentação
de alternativas.

2.5.PLANEJAMENTO E FECHAMENTO DE MINA


A 5ª Conferência dos Ministérios de Minas das Américas – CAMMA, realizada em
Vancouver – Canadá (1999), concluiu que "as etapas de desativação e fechamento dos
projetos minerais deve ser considerada desde o início do desenvolvimento do projeto,
constituindo o plano de desativação planificado um elemento necessário para que a
mineração contribua para o desenvolvimento sustentável, facilitando assim a existência de
condições claras e estáveis para alcançar o bem estar econômico, ambiental e social."

De acordo com Taveira (1997), entende-se mineração como sendo o conjunto de atividades
que têm por objetivo assegurar economicamente, com o mínimo possível de perturbação
ambiental, a justa remuneração e segurança, a máxima utilização dos bens minerais
naturais descobertos (jazidas), criando procedimentos adequados para a sua explotação e
comercialização. A referida definição inclui a preservação e o controle da variável

52
ambiental como uma meta do processo mineral.

De acordo com Taveira (2003) apud Curi (2001). A mineração apresenta as seguintes
etapas de desenvolvimento de sua atividade:
a) Etapa de planejamento composta por prospecção (tem como objetivo a localização de
recursos minerais economicamente viáveis) e exploração ou pesquisa mineral (tem
como objetivo a caracterização e avaliação de ocorrências minerais encontradas na fase
de prospecção e reabilitação ambiental);
b) Etapa de implantação – caracterizada pelo desenvolvimento, que engloba as
operações de preparação da jazida para a lavra;
c) Etapa de operação – caracterizada pela lavra ou explotação (engloba as operações
necessárias para o aproveitamento industrial da jazida – extração do bem mineral),
beneficiamento do minério explotado, reabilitação ambiental (tem como objetivo
mitigar ou mesmo controlar os impactos ambientais produzidos pelas atividades
extrativas e visa facilitar o processo de fechamento da empresa); e
d) Etapa de fechamento – caracteriza-se por ser uma etapa onde não mais ocorre a
extração do minério, devido à exaustão das reservas ou à inviabilidade técnico-
econômica. Há apenas a continuidade dos trabalhos de recuperação ambiental sobre o
meio físico, biótico e antrópico das áreas de influência do empreendimento, visando
promover o descomissionamento em caso de exaustão definitiva, ou o controle dos
aspectos ambientais no caso de paralisação temporária. O descomissionamento é a
transição entre o fechamento e o uso futuro da área. Esse uso é caracterizado como pós-
fechamento e não mais considerado como atividade minerária.

A mineração é uma atividade geradora de impactos ambientais positivos e negativos. Os


impactos positivos estão relacionados ao desenvolvimento de infra-estrutura, arrecadação
de impostos e geração de emprego que, durante o desenvolvimento da atividade mineral,
mostram-se benéficos, podendo se tornar negativos após fechamento da mina. Os
principais impactos ambientais negativos provocados pelas atividades minerárias em suas
diversas etapas são apresentados na Tabela 2.3.

Quando ocorre a exaustão do recurso mineral há de se considerar ainda a etapa de


desativação do empreendimento minerário como uma fase potencializadora de impactos

53
ambientais, que pode resultar na deterioração da imagem da empresa junto à sociedade,
sendo esta uma característica particular desse tipo de atividade econômica (Taveira, 2003).

Tabela 2.3 - Impactos ambientais da mineração em suas diferentes etapas.


Etapas da Meio
Impactos Ambientais Prováveis
Mineração Afetado
• Alteração da qualidade do ar;
• Alteração das propriedades do solo;
• Alteração da qualidade das águas;
Prospecção e • Alteração dos níveis de pressão sonora;
Exploração Físico
• Assoreamento de cursos d´água;
Biótico
(Fase de Antrópico • Supressão de vegetação;
planejamento da • Perda de exemplares da flora;
atividade minerária) • Incremento dos níveis de emprego e renda;
• Incremento da renda de empresas locais e regionais.

 Alteração da qualidade do ar;


 Alteração das propriedades do solo;
 Alteração da qualidade das águas (superficiais e subterrâneas
– bombeamento/rebaixamento do nível d´água);
Desenvolvimento
 Alteração dos níveis de pressão sonora;
 Aumento dos níveis de vibração;
(Fase de
Físico  Assoreamento de cursos d´água;
implantação/operação
Biótico  Supressão de vegetação;
– lavra, implantação
Antrópico  Perda de exemplares da flora;
de pilhas de estéril,
 Redução de habitats para a fauna;
barragem de rejeitos,
 Afugentamento de espécies da fauna mais sensíveis;
beneficiamento, etc.)
 Modificação da paisagem
 Incremento dos níveis de emprego e renda;
 Incremento da renda de empresas locais e regionais;

Quando ocorre o abandono da área (sem planejamento) observam-


se os efeitos continuados dos impactos detectados nas fases
anteriores, acrescidos dos seguintes impactos:
 Instabilidade física e química;
 Redução da oferta de empregos;
 Redução na arrecadação de impostos;
Físico Quando a desativação do empreendimento é planejada pela
Biótico empresa com a participação conjunta entre empresa, governo e
Fechamento
Antrópico sociedade:
 Aumento de habitats para a fauna;
 Aumento de exemplares da flora;
 Surgimento de novos setores econômicos baseados na
vocação regional;
Variação na arrecadação de impostos, podendo ser positiva ou
negativa em função das novas atividades propostas.
Fonte: Taveira, (2003), adaptado por Neto, S.E (2007).

A desativação de empreendimentos minerários não planejada traz consigo uma série de


impactos negativos sobre os diferentes elementos do meio. Segundo Sánchez (1998), para
reverter essa tendência, o fechamento desses empreendimentos tem sido cada vez mais

54
discutido e muitas empresas têm preparado seus planos de fechamento anos antes da mina
se esgotar, ou mesmo antes de sua própria abertura, atendendo às exigências da legislação,
da comunidade ou do mercado financeiro.

A Figura 2.5 mostra os aspectos e impactos da atividade minerária em relação ao meio


físico de acordo com Van Huyssteen (1998).

 Emissões de gases e particulados  Alterações da qualidade do ar


 Emissão de ruídos Ar  Pertubação da fauna e vizinhança

 Instabilidade do terreno
 Alterações de morfologia e paisagem
 Movimentação de solo  Instabilidade de taludes
Mineração e Processamento Solo  Subsidência de terrenos
 Emissão de material particulado
 Alterações de turbidez
 Perda de solo

 Alteração de turbidez
Superficiais
 Contaminação química
 Emissões de efluentes líquidos
 Emissões de efluentes sólidos em suspensão Águas
 Rebaixamento do nível d´água
 Alterações nas propriedades
Subterrâneas dos aquíferos (fluxos, recargas
e contaminação)
 Turbidez

Figura 2.5 - Aspectos e impactos ambientais - mineração e processamento mineral associados ao meio físico.
Fonte: van Huyssteen (1998).

Pela legislação ambiental brasileira (Decreto no 97.632/89), “são considerados como


degradação os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou
se reduzem algumas propriedades, tais como, a qualidade ou a capacidade produtiva dos
recursos ambientais”.

Em relação à recuperação de áreas degradadas pela mineração, cabe apresentar alguns


conceitos básicos para melhor entendimento dos termos, especificações e terminologia
usados nos estudos ambientais. Segundo Bitar (1995), o primeiro conceito a ser
considerado é o de degradação, que no contexto de alterações do meio físico, remete o
sentido de degradação do solo.

Especificamente, a degradação do solo é expressa como sendo a “alteração adversa das


características do solo em relação a seus diversos usos possíveis, tanto os estabelecidos no

55
planejamento como os potenciais” (NBR 10.703 – ABNT, 1989). Neste contexto, o termo
“alteração adversa” aproxima-se do conceito de “impacto ambiental negativo”.

Sobre o termo “recuperação”, a literatura técnica é extensa e podem ser encontradas


referências em distintas áreas do conhecimento que, de algum modo, contribuem para a
questão da recuperação de áreas degradadas.

Em relação ao meio físico, uma das aproximações mais adequadas é encontrada na ABNT
(1989) fazendo distinção entre os seguintes termos:
• Restauração – termo associado à idéia de reprodução das condições exatas do
lugar, tais como eram antes de ser alteradas pela intervenção humana no meio
físico;
• Recuperação – termo associado á idéia de que o local alterado seja trabalhado de
modo que as condições ambientais finais se aproximem das condições anteriores à
intervenção; ou seja, deve-se devolver o equilíbrio ou estabilidade dos processos
ambientais atuantes anteriormente no local;
• Reabilitação – termo associado à idéia de que o lugar alterado deverá ser destinado
a um determinado uso do solo, de acordo com um projeto prévio e em condições
compatíveis com a ocupação das adjacências, ou seja, deve-se reaproveitar a área
para uma nova finalidade (comercial, industrial, habitacional, agrícola, de proteção
ou conservação ambiental, recreativa, cultural, etc).

De acordo com Souza (2001), em face das definições e conceitos apresentados, a


restauração é considerada impossível na prática, embora o termo seja frequentemente
encontrado na literatura, para designar o resultado final do tratamento. Desta forma, a
recuperação ambiental de uma área degradada inclui pelo menos duas perspectivas básicas:
uma referente à execução coordenada de medidas que têm por objetivo assegurar a
estabilidade do ambiente em curto prazo (a recuperação propriamente dita); e outra, de
médio prazo, vinculada a um projeto de uso futuro do solo (a reabilitação).

A restauração é a recriação das condições originais do sítio anteriores á intervenção


causadora da degradação, incluindo aí a reconstituição da topografica original. A
recuperação ou reabilitação inclui diferentes níveis de melhoria das condições ambiental

56
pós-atividade degradadora, tais como capacitar a área para um uso produtivo (sustentável)
qualquer, incluindo a criação de um ecossistema inteiramente diferente do original. A
recuperação é o termo usado para designar o processo genérico de melhoria das condições
ambientais de uma área; e reabilitação indica o processo de planejamento para tornar a área
degradada apta a um novo uso (Sánchez , 1998).

Segundo Curi (2001), restauração implica a reconstituição da área degradada ao estado


padrão que tinha originalmente, ou seja, o retorno ao uso primitivo com níveis de
produtividade compatíveis com o original e com um estado de equilíbrio ecológico estável
que não contribua substancialmente para a modificação do meio ambiente e respeite as
características estéticas da área. A recuperação implica um aproveitamento novo e
substancialmente diferente da situação primitiva.

A recuperação é um processo lento que deve ser iniciado ainda na fase de planejamento do
projeto mineiro e finalizada muito tempo após o término da lavra, quando as relações entre
os componentes bióticos e o ambiente apresentam condições de equilíbrio (IBRAM, 1992).

Por outro lado, o Decreto no 97.632/89 dispõe que “a recuperação deverá ter por objetivo o
retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano
preestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio
ambiente”. Desta forma, esse dispositivo incorpora o conceito de reabilitação ao de
recuperação, que é um termo de maior alcance e, talvez por isso, mais usualmente
empregado. Além disso, expressa a perspectiva da estabilidade do ambiente ser alcançada.

Portanto, com base nas considerações descritas, e tendo em vista as práticas normalmente
empregadas pelo setor mineral, o termo recuperação ambiental é o que melhor traduz o que
se tem feito em áreas degradadas. Quando as medidas de controle ambiental são realizadas
em paralelo com o desenvolvimento da atividade minerária, utiliza-se o termo
“recuperação concomitante”, que representa atualmente a maneira mais adequada. A
recuperação concomitante é uma medida ambiental que evita a propagação dos impactos
ambientais e suas conseqüências sobre o meio ambiente influenciado (área diretamente
afetada – ADA, área de influência indireta – AID e área de influência indireta – AII),
facilitando o processo de fechamento da mineração.

57
De acordo com Taveira (2003), quando se age proativamente, executando a recuperação
concomitante ao desenvolvimento do processo mineral, é necessário, ao final das
atividades, promover a integração de todos os trabalhos realizados até o momento, bem
como daqueles que virão a ser executados e que visam ao fechamento completo do
empreendimento, de forma a se obter o máximo possível do equilíbrio do sistema. A essa
modalidade a comunidade científica tem chamado de “Plano de Fechamento”. Nele, além
dos meios físico e biótico, contemplam-se as medidas que serão adotadas junto ao meio
antrópico.

Se a mina for bem planejada e a lavra for conduzida considerando o uso futuro do solo
após a sua desativação, a recuperação (como medida de proteção ambiental) dos terrenos
lavrados torna-se uma tarefa menos complicada. O objetivo desta tarefa pode ser
estabelecido de forma muito simples: ao término da lavra, o terreno deve ser levado a uma
condição paisagística que não seja menos agradável à vista e não menos produtivo do que
era antes do empreendimento mineiro. Embora isso esteja sujeito a várias interpretações,
tal exigência requer o retorno às condições iniciais ou às novas condições estáveis e
compatíveis com as áreas circunvizinhas, de modo que, os terrenos lavrados não se
transformem em uma fonte permanente de poluição ou de riscos à população. E,
provavelmente, o mais importante para promover o uso seqüencial do solo: nem o
equilíbrio ecológico nem a produtividade econômica dos recursos renováveis devem ser
perdidos devido à mineração (Souza, 2001).

Todo empreendimento minerário deve contemplar no seu cotidiano um planejamento


estratégico, as ampliações de suas atividades devem ser analisadas e incorporadas de
maneira a vislumbrar o horizonte de seu fechamento. Somente assim, os impactos sócio-
ambientais poderão ser analisados e minimizados. O planejamento é a chave da
recuperação bem sucedida.

O fechamento de uma mina é o fim da atividade minerária seja por questões operacionais,
exaustão de reservas ou por razões econômicas. O descomissionamento, uma etapa
posterior, é quando a área já está recuperada, sendo considerado, a princípio, o fim das
atividades de recuperação por parte do empreendedor, iniciando-se o uso futuro da área,
considerado por alguns autores como pós-fechamento.

58
De acordo com Sanchez (1998), o termo “fechamento de minas (desativação) equivale ao
período em que não há mais produção ou atividades industriais e iniciam-se os trabalhos de
recuperação da área”.

Devido ao caráter temporário da atividade mineradora, deve-se buscar o desenvolvimento


de outras atividades econômicas condizentes com a região direta ou indiretamente afetada,
diminuindo a dependência socioeconômica em relação à mineração, medida que
comprovará sua importância principalmente na fase de exaustão do bem mineral e do
conseqüente fechamento da empresa no local (Taveira, 2003).

Em entrevista dada ao Informativo CETEM ano III, no 3, o Eng. Gildo Sá, Diretor do
CETEM afirma: “quanto à relação entre mineração e meio ambiente julgo imprescindível
um permanente entrosamento entre o órgão normalizador da mineração e os órgãos
ambientais fiscalizadores. A mineração, diferentemente de outras atividades industriais,
possui rigidez locacional. Só é possível minerar onde existe minério. Esta assertiva, apesar
de óbvia, sempre gera polêmicas entre mineradores e ambientalistas. A solução da questão
passa por estudos que contemplem os benefícios e problemas gerados pela mineração local
versus os benefícios e problemas decorrentes da mineração não local”.

Segundo Freire (2000), o empreendedor deve tomar ações preventivas para minimizar os
conflitos. Como exemplo pode citar-se a criação de uma zona de transição entre a atividade
mineral e as áreas circunvizinhas, ou seja:
• Compra de áreas no entorno do empreendimento. Essa alternativa nem sempre é
possível, em função do custo, principalmente para as pequenas empresas de
mineração;
• Arrendamento de áreas no entorno do empreendimento para serem utilizadas em
atividades que possam conviver com a atividade de mineração. Embora de menor
custo, exige estudos para identificação dessas atividades;
• Melhoria das relações de vizinhança com os proprietários das terras vizinhas ao
empreendimento;
• Planejamento das operações de lavra e de beneficiamento de acordo com as
disposições legais que regulam o uso e ocupação do solo na região.

59
O Brasil já possui uma legislação específica quanto ao fechamento de mina (NRM 20 –
Plano de Fechamento de Mina), estando inserida entre as normas estabelecidas pelo
DNPM (Portaria n.o 237 de 18/10/2001, alterada pela Portaria n.º 12 de 22/01/2002 –
Normas Reguladoras de Mineração – NRM do DNPM – MME). A NRM 20, “estabelece
procedimentos administrativos e operacionais em caso de fechamento de mina (cessação
definitiva das operações mineiras), suspensão (cessação temporária) e retomada de
operações mineiras, estabelecendo, inclusive, que tais hipóteses dependem de prévia
comunicação e autorização do DNPM, devendo o titular da concessão de lavra (minerador)
apresentar requerimento justificativo, devidamente acompanhado dos diversos documentos
que formam o plano de fechamento ou de suspensão da mina”.

De acordo com a NRM 20, um “Plano de Fechamento de Mina” deve contemplar:


 Relatório dos trabalhos efetuados;
 Caracterização das reservas remanescentes;
 Plano de desmobilização das instalações e equipamentos que compõem a infra-
estrutura do empreendimento mineiro indicando o destino a ser dado aos mesmos;
 Atualização de todos os levantamentos topográficos da mina;
 Planta da mina na qual conste às áreas lavradas recuperadas,
 Áreas impactadas recuperadas e por recuperar, áreas de disposição de solo orgânico,
estéril, minérios e rejeitos, sistemas de disposição, vias de acesso e outras obras civis;
 Programas de acompanhamento e monitoramento (sistemas de disposição de estéril e
de contenção de rejeitos; taludes em geral; comportamento do nível d´água e drenagem
das águas)
 Plano de controle da poluição do solo, atmosfera e recursos hídricos, com
caracterização de parâmetros controladores;
 Plano de controle de lançamento de efluentes com caracterização de parâmetros
controladores;
 Medidas para impedir o acesso à mina de pessoas estranhas e interditar com barreiras
os acessos às áreas perigosas;
 Definição dos impactos ambientais nas áreas de influência do empreendimento levando
em consideração os meios físico, biótico e antrópico;
 Aptidão e intenção de uso futuro da área;
 Conformação topográfica e paisagística levando em consideração aspectos sobre a

60
estabilidade, controle de erosões e drenagens;
 Relatório das condições de saúde ocupacional dos trabalhadores durante a vida útil do
empreendimento mineiro; e
 Cronograma físico e financeiro das atividades propostas.

Segundo a NRM 20, o Plano de Fechamento de Mina deve estar contemplado no Plano de
Aproveitamento Econômico da Jazida – PAE, sendo que o DNPM poderá exigir sua
apresentação, na hipótese da mina não possuir o plano de fechamento, que será atualizado
periodicamente, no que couber, e estar disponível na mina para fiscalização.

O plano de fechamento exigido pelo DNPM prevê que as etapas de desativação e


fechamento de mina devam ser consideradas desde o início do projeto de implantação,
permitindo uma constante atualização e flexibilidade, desde que não se modifique a
solução previamente aprovada pelo órgão ambiental competente para a recuperação da área
degradada pela mineração, prevista no EIA/RIMA, que ensejou a licença ambiental da
mina.

Entretanto, os trabalhos técnicos adicionais ao plano de fechamento exigido pelo órgão


ambiental devem se restringir às medidas de controle ambiental a serem implantadas na
recuperação da área degradada pela mineração, eis que a solução técnica para a
recuperação do meio ambiente degradado pela atividade de lavra e beneficiamento de
minério na mina já foi aprovada no seu licenciamento. São esses os principais aspectos
legais que atualmente envolvem o fechamento de mina no País.

“Como determina o DNPM, para o descomissionamento da mina, é obrigatória a


elaboração de um estudo de uso futuro da área, o que compreende também uma
reabilitação paisagística. Convém ressaltar que, caso se realize a recuperação concomitante
à lavra – ao final da explotação a área estará apta ao novo uso, demandando apenas ajustes
nos locais ainda em operação no momento da desativação. Nesse contexto, cavas e
depósitos deverão estar estabilizados e com cobertura vegetal formada por espécies da
flora local – ou seja, deverá estar auto sustentável. Já as unidades industriais e
administrativas deverão ser ajustadas à nova utilização.” (Neto & Santos, 2006).

61
Um dos principais desafios das mineradoras quando da apresentação de planos de
fechamento são os impactos irreversíveis, rigidez locacional, aceitabilidade do projeto de
fechamento junto à(s) comunidade(s) influenciada(s) direta ou indiretamente pela atividade
e por fim a adoção de um programa adequado de monitoramento pós-fechamento.

No caso das atividades que exploram bens naturais como à mineração, a contabilidade tem
papel fundamental como um dos instrumentos para garantir a recuperação da área
impactada (Taveira, 2003). A autora ressalta que no caso do empreendedor adotar uma
recuperação concomitante ao desenvolvimento da atividade, ao final da vida útil do
empreendimento minerário terá que ser realizado o seu fechamento, integrando todas as
atividades de recuperação desenvolvidas ao longo dos anos de recuperação. Afirma
também, que nesta fase de fechamento já não há a geração de produção de minério, ou
seja, geração de receita. Sendo assim, prevendo-se os custos necessários à execução do
fechamento, haverá necessidade de provisionar os recursos financeiros necessários para o
futuro.

62
CAPÍTULO III
3.CARACTERIZAÇÃO DA MINA DE GONGO SOCO
3.1.LOCALIZAÇÃO
A mina de Gongo Soco está localizada no município de Barão de Cocais, na região central
do Estado de Minas Gerais entre as coordenadas 43o35’00” e 43o37’30” de longitude oeste
e 19o56’00” e 19o59’00” de latitude sul (Figura 3.1). A partir de Belo Horizonte, o acesso à
área da mina é feito pela BR-262, sentido de Vitória, até o entroncamento desta com a
rodovia estadual MG-435, e, então, até a cidade de Caeté. De Caeté à Gongo Soco, são
mais 14 km em estrada não pavimentada.

Figura 3.1 - Localização da mina de Gongo Soco.

3.2.HISTÓRICO DA MINA DE GONGO SOCO


A mina de Gongo Soco teve seu início no século XIX, durante o ciclo do ouro, da chegada
dos ingleses e mecanização das minas no Brasil. Entre os anos de 1824 e 1856. Gongo

63
Soco tornou-se mundialmente conhecida pela alta tecnologia aplicada para a época, com
extração subterrânea e auge de produção de 12.887 kg de ouro. Este período foi marcado
pela forte presença de capitais de companhias inglesas em Minas Gerais, sendo que a mina
de Gongo Soco pertencia à “Imperial Brazilian Mining Association”, companhia de capital
e administração inglesa, que se utilizava mão-de-obra escrava em suas atividades mineiras.

De acordo com Burton Richard. F. (1821-1890) em seu livro “Viagem do Rio de Janeiro a
Morro Velho” tradução de David Jardim Júnior (2001) – Coleção: O Brasil visto por
estrangeiros, em seu capítulo XXX (Viagem para Gongo Soco e Fábrica da Ilha),
descreve...”separado pela lavagem, sem dificuldade, e purificado com ácido nítrico. Não
vale a pena remover todo o corpo do filão, sendo preferível, portanto, o trabalho em
galerias subterrâneas. As linhas e veios podem ser acompanhados com picaretas, não se
fazendo mister as explosões. O conteúdo fornece um minério de ferro macio e pulverizável
que exige pouco trabalho para britagem e pulverização, e o “ouro de linha” assim
encontrado é de qualidade superior. Muitas vezes, seguindo os filamentos que se irradiam
para todas as direções, vindos de um centro comum, os mineiros encontram um núcleo ou
pepita de grande tamanho, mas inferior, em qualidade, ao ouro de linha e perdendo mais na
fusão. O ouro em Gongo Soco era de 19 a 20 quilates. Alguns descrevem o ouro como
amarelo-escuro com paládio, outros dizem que muito tingido pelo ferro e de cor
semelhante à do chumbo. Vi algum cor de bronze brilhante e, às vezes, vermelho-
pardacento, como cobre trabalhado e não polido”.

O mesmo autor escreve em sua obra o seguinte trecho: “Naquela mina, porém, o ouro era
livre e o furto era enorme.... Conta-se de mineiros que saíam aos domingos levando
espingardas cheias de minério furtado, e de latas de biscoito que entravam vazias na mina
e, às vezes, saíam levando quinze quilos do precioso pó. Há ainda muito tesouro oculto, e,
de vez em quando, os que têm sorte encontram pequenas fortunas em potes e garrafas...”.
Ainda, Burton também explica a origem do nome da mina: “Explica-se que Gongo Soco
significa: o gongo, ou a campainha, que não toca. Os brasileiros traduzem por: Esconderijo
dos Ladrões”.

A mina de Gongo Soco tornou-se célebre por volta de 1830 pelo seu minério aurífero de
alto teor. “A Imperial Brazilian Mining Association, lavrou estreitos veios auríferos

64
entremeados concordantemente ao minério de ferro brando de alto teor da formação
ferrífera Itabira (FFI), paleoproterozóica, do Quadrilátero Ferrífero. Os corpos auríferos,
conhecidos como “Jacutinga”, eram compostos de hematita especular, talco, caulinita e
óxido de manganês, e lineação de estiramento com caimento para leste” (Raphael, 1996).

“Os relatos históricos registram que, no ano de 1856, a mina subterrânea de ouro foi
inundada e todas as atividades interrompidas, iniciando-se a fase decadente da produção de
ouro em Gongo Soco. Poucas décadas depois, o explorador inglês W. J. Henwood
divulgou um relatório, enfatizando a riqueza desta região em rochas ferríferas com alto teor
aurífero. Pouco se sabe da atividade minerária em Gongo Soco após este período até o ano
de 1960, quando a empresa São Carlos Minérios, de capital americano, estudou a formação
ferrífera e, em 1967, avaliou as reservas de minério de ferro. Os direitos minerários da São
Carlos Minérios foram posteriormente arrendados pela Mineração Socoimex Ltda que
iniciou, em 1989, a operação de lavra da mina de Gongo Soco, com a instalação de
britagem e peneiramento do minério de ferro” (Innocentini, 2003).

A mineração em Gongo Soco é histórica, sendo cronologicamente apresentada da seguinte


maneira: 1760 a 1800 – Início da produção de ouro em Gongo Soco com o Barão de Catas
Altas; 1800 a 1820 – Entrada do capital inglês no Brasil para produção de ouro; 1824 -
Imperial Brazilian Mining Association adquire Gongo Soco; 1871 - W.J. Henwood publica
o primeiro trabalho geológico sobre Gongo Soco; 1967 - A São Carlos Company (USA)
inicia a pesquisa para minério de ferro; 1986 – O Grupo Santa Inês adquire da São Carlos a
mina de Gongo Soco; 1987 – Início da produção de minério de ferro; 1998 – Início das
pesquisas para ouro. Em 11/05/2000 - A Vale adquire Gongo Soco do Grupo Santa
Inês/Mineração Socoimex; 2001 – Paralização das pesquisas para ouro com focalização
para a exploração de minério de ferro.

3.3.MÉTODO DE LAVRA
Os dados apresentados a seguir referem-se ao planejamento da mina para um horizonte de
8 anos, de 2007 a 2014. Parte do conteúdo descrito neste capítulo foi extraído do estudo
ambiental de ampliação da cava de Gongo Soco – EIA/RIMA elaborado pela Lume
Estratégia Ambiental Ltda em 2006. Ressalta-se que o autor desta dissertação atuou como

65
coordenador técnico deste estudo ambiental.

A lavra de minério de ferro de Gongo Soco é conduzida a céu aberto descendentemente,


em bancadas subverticais sucessivas, com altura de 13 metros, em encosta e em cava
fechada, utilizando-se o uso de perfuração e desmonte por explosivos para as litologias
mais duras e desmonte mecânico com auxílio de trator de esteira, escavadeira e
retroescavadeira, para o material mais friável. O desenvolvimento da lavra de Gongo Soco
pode ser observado na Figura 3.2.

Porção Leste

Porção / parede
Norte

Porção Sul

Porção Oeste
.
Figura 3.2 - Foto aérea da mina de Gongo Soco.
Fonte: VALE/2005

No ano de 2007, o “botton pit” (fundo da cava) de Gongo Soco alcançou a elevação – EL.
875 m. Neste ano lavrou-se 8,5 milhões de toneladas (8,5 Mt) de ROM gerando um
montante de 22,9 Mt de estéril, produzindo uma relação estéril/minério de 2,67. A Figura
3.3 ilustra o desenvolvimento da lavra (4o trimestre de 2007).

Com o avanço da lavra em direção a porção sudoeste, haverá necessidade de


remanejamento do ramal ferroviário da mina de Gongo Soco. Com o corte do talude a ser
formado será necessário uma desmobilização das estruturas existentes (escritório de
operação da mina, laboratório, área para restaurante, prédio da administração,
almoxarifado, oficina, posto de abastecimento, dentre outras). As edificações serão
relocadas para o platô final da pilha de disposição de estéril Sudeste – PDE SE. Com

66
exceção do posto de abastecimento, as demais estruturas a serem relocadas ocuparão área
útil inferior a 5 ha. Conforme Deliberação Normativa – DN 074/2004 do COPAM o
empreendimento fica dispensado de licenciamento ambiental, estando sujeito apenas à
Autorização Ambiental de Funcionamento – AAF.

O desenvolvimento da lavra nos três primeiros trimestres de 2008 se dará na porção


noroeste. No final do terceiro trimestre o “botton pit” projetado terá cota na elevação – EL.
868 m. Em 2008, serão lavrados 8,5 Mt de ROM gerando um montante de 25,7 Mt de
estéril. A relação estéril/minério global é da ordem de 3,01 (Figura 3.3)

Em 2009 será lavrada a porção noroeste (Figura 3.4). Neste ano serão lavrados 8,3 Mt de
ROM e 27,2 Mt de estéril, perfazendo uma relação estéril/minério de 3,29. Em 2010 a
lavra irá avançar em direção as porções norte e sul. Neste ano, estima-se uma produção de
ROM da ordem de 6,7 Mt e 28,6 Mt de estéril (RE/M = 4,26). Em 2010, o “botton pit”
projetado da cava estará na elevação EL. 844 m (Figura 3.4). A Figura 3.5 ilustra o
desenvolvimento da lavra nos anos de 2011 e 2012. Foram planejadas plataformas em
diversas elevações da porção norte da cava, tendo como objetivo atuar como bermas de
segurança. O mesmo acontece no plano de lavra para 2012, diferindo-se apenas na
elevação – EL. 945 m. Em 2012 o “botton pit” estará na elevação – EL. 844 m (desnível
topográfico em relação à porção norte da cava de 500 m). Em 2011 serão lavrados 5,9 Mt
de ROM com uma relação estéril/minério de 4,14, totalizando, portanto, um montante de
estéril da ordem de 24,5 Mt. Em 2012, ocorrerá uma redução da produção de ROM
(hematita + itabirito) totalizando 5,2 Mt, sendo 4,6 Mt de hematita e 0,6 Mt de itabirito.
Neste ano, a relação estéril/minério é ordem de 4,49, ou 23,3 Mt de estéril.

A Figura 3.6 mostra o desenvolvimento da lavra em 2013 e 2014. Em 2013 a lavra irá
avançar em direção a porção noroeste. Em 2014, a cava terá a conformação final com
desnível topográfico da ordem de aproximadamente 500 m (ELSuperior – porção norte = 1332 m -
ELBotton Pit = 832 m). Na porção sul o desnível topográfico chegará a 180 m (EL Superior =
1012m - ELBotton Pit = 832m). Em 2013 serão lavrados 4,7 Mt de ROM, gerando 19,8 Mt de
estéril. Em 2014, a produção de ROM será de 3,7 Mt (3,3 Mt de hematita e 0,4 Mt de
itabirito). A relação estéril/minério neste ano será a mais elevada (4,80), totalizando uma
movimentação de 17,6 Mt de estéril.

67
3.4.MOVIMENTAÇÃO DE MINÉRIO BRUTO (ROM)
A movimentação de minério bruto (ROM) prevista para o período de 2007 a 2014 na mina
de Gongo Soco é mostrada na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Produção de ROM e de Estéril - Mina de Gongo Soco.


2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Hematita Mt 6,0 5,5 6,0 5,5 5,2 4,6 4,4 3,3 40,50
Itabirito Mt 2,5 3,0 2,3 1,2 0,7 0,6 0,3 0,4 11,00
Minério Total Mt 8,5 8,5 8,3 6,7 5,9 5,2 4,7 3,7 51,50
Estéril Mt 22,9 25,7 27,27 28,6 24,5 23,3 19,8 17,6 189,67
RE/M t/t 2,7 3,02 3,28 4,27 4,15 4,48 4,21 4,76 3,68
Fonte: Gerência Geral de Planejamento e Engenharia de Minas – GEPMS/VALE
Gerência de Planejamento Longo Prazo – GAPLS/VALE. Agosto/2006.

Serão movimentados 51,5 Mt de minério ROM, sendo 40,5 Mt de hematita e 11 Mt de


itabirito. A Figura 3.7 ilustra a produção estimada de ROM/ano (hematita + itabirito) no
período considerado.

Produção Prevista de ROM (Hematita + Itabirito) - Mina de Gongo Soco


Período: 2007 - 2014

(Mt) 3

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Evolução/ano

Hematita Itabirito

Figura 3.7 - Evolução da produção de hematita e itabirito - mina de Gongo Soco.

3.5.RELAÇÃO ESTÉRIL/MINÉRIO
A movimentação de ROM na mina de Gongo Soco será da ordem de 51,5 Mt (Tabela 3.1).
Para lavrar o minério será necessário remover um montante de 189,67 Mt de estéril. Sendo
assim, a relação estéril/minério – média global é (RE/M = 3,68), expressiva se comparada
com outras minas inseridas no Quadrilátero Ferrífero.

72
A Figura 3.8 ilustra a relação estéril/minério. A Figura 3.9 ilustra a evolução da produção
de ROM e de estéril no período de 2007 a 2014.

Relação Estéril/Minério - Mina de Gongo Soco

189,67
20 0

15 0

Mt 10 0
51,5

50

0
Estéril (Mt) 1 Minério (Mt)

Figura 3.8 - Relação Estéril/Minério – (2007 a 2014).

Evolução da Produção de ROM e de Estéril - Mina de Gongo Soco -


Período: 2007 - 2014

35

30
28,6
27,2
25,7
25 24,5
22,9 23,3

20 19,8
(Mt)

17,6

15

10
8,5 8,5 8,3
6,7
5,9
5 5,2 4,7
3,7

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Minério (ROM)
Estéril

Figura 3.9 - Evolução da Produção de ROM e de Estéril.

Com o aprofundamento da mina ocorrerá a diminuição gradativa do montante de minério a


ser lavrado, aumentando a relação estéril/minério.

3.6.DISPOSIÇÃO DE ESTÉRIL
O estéril produzido na jazida de Gongo Soco é constituído basicamento por xistos do

73
Grupo Nova Lima; filitos, itabiritos carbonáticos e silicosos da Formação Cauê; dolomitos
e filitos dolomíticos da Formação Gandarela, na condição de solo à rocha alterada. Devido
aos estados de alteração em que esses litotipos são encontrados na mina, o estéril gerado é
caracterizado por um solo de textura silte-arenoso pouco argiloso com pedregulhos e
esparsos matacões métricos.

Gongo Soco conta com 04 pilhas de disposição estéril – PDE´s (PDE Sudeste, Sudoeste,
Correia e Nordeste). As PDE’s Sudoeste (Figura 3.10), Correia (Figura 3.11) e Sudeste
(Figura 3.12) já esgotaram sua capacidade de disposição. Desta forma, somente a PDE
Nordeste é que recepcionará o estéril gerado até 2014.

PDE Sudoeste

Figura 3.10 - Vista parcial da PDE Sudoeste com alteamentos projetados em 2006. Pilha com capacidade de
disposição de estéril esgotada.
Fonte: Foto NETO, S.E. – LUME – Agosto/2006. Imagem Fonte: VALE/2006

PDE Correia

Figura 3.11 – PDE Correia com capacidade de disposição de estéril esgotada.


Fonte: Foto NETO, S.E. – LUME – Agosto/2006. Imagem Fonte: VALE/2006

74
1 2

Em que: 1 – Instalações de Beneficiamento; 2 – Porção Norte da Cava de Gongo Soco e 3 – Platô (elevação) final da PDE Sudeste.

2 1

Em que: 1 – PDE Sudeste já recomposta e 2 – Barragem Sul Superior.


Figura 3.12 - PDE Sudeste com capacidade de disposição esgotada.
Fonte: Fotos NETO, S.E. – NICHO – Out./2005.

Já a PDE Nordeste foi projetada em 2005 para dispor 68 Mt de estéril ou 34 Mm3 (Tabela
3.2).
Tabela 3.2 - Cubagem da PDE Nordeste (vida útil projetada até 2008).
NÍVEL VOLUME Massa Acumulado
(m3) (t) (t)
1180 4.920.462 9.840.925 68.308.557
1170 4.858.992 9.717.985 58.467.632
1160 4.781.842 9.563.684 48.749.647
1150 4.636.489 9.272.978 39.185.963
1140 4.323.482 8.646.965 29.912.985
1130 3.753.692 7.507.384 21.266.020
1120 2.725.959 5.451.918 13.758.637
1110 1.903.282 3.806.564 8.306.719
1100 1.372.121 2.744.242 4.500.155
1090 713.848 1.427.696 1.755.913
1080 164.108 328.217 328.217
Total 34.154.278 68.308.557

A Figura 3.13 mostra uma foto retirada em agosto de 2007 da PDE Nordeste em plena
operação.

75
Figura 3.13 - Vista parcial da PDE Nordeste em operação - Agosto de 2007.
Fonte: Foto NETO, S.E. – LUME - Agosto/2007.

Conforme sequenciamento de lavra (Tabela 3.1) a previsão de estéril a ser gerado em


Gongo Soco até 2014 é de 189,67 Mt. Desta forma, a PDE Nordeste não comportará todo o
montante de estéril da mina. Sendo assim, em 2009, haverá necessidade de um novo
projeto de ampliação desta pilha. A configuração projetada para ampliação da PDE
Nordeste é apresentada na Figura 3.14.

Tabela 3.3 - Principais características construtivas das PDE’s.


PDE NORDESTE
CARACTERÍSTICAS
PDE SUDESTE PDE SUDOESTE PDE NORDESTE (Projeto de Ampliação
CONSTRUTIVAS
2009 – 2011)
Projetos da PDE´s de
acordo com ABNT NBR 13029/93 NBR 13029/93 NBR 13029/93 NBR 13029/2006
24 Mt
Capacidade de
(a partir do projeto 19 Mt 65,72 Mt 54,2 Mt
Disposição de Estéril
de ampliação)
Vida Útil 2006 2006 2008 2011
210 m (considerando os
130 m 90 m 100 m
Altura da Pilha 100 m da PDE já
existente)
Largura das Bermas 7,5 m 7,5 m 7,5 m 7,5 m
Ângulo Geral de o o
(22 ) 1V:2H (21 ) 1V:2H (21o) 1V:2H (21o)
Talude
Ângulo do Talude de
Banco) 1V:2H (26,5o) 1V:2H (26,5o) 1V:2H (26,5o) 1V:2H (26,5o)
Dreno de Fundo SIM SIM SIM SIM
Drenagem Superficial
e Periférica SIM SIM SIM SIM
Talude Geral: 22o ⇒ Talude Geral: 22o ⇒ Talude Geral: 21o ⇒ FS superiores a 1,436
FS = 1,385 FS = 1,384 FS > 1,408 para condição mais
Estabilidade da Pilha
Talude de Banco: Talude de Banco: Talude de Banco: severa (NA acima do
26,5o⇒ FS=1,37 26,5o⇒ FS=1,364 26,5o⇒ FS=1,364 normal)
Qualidade de água a jusante dos diques de contenção de finos
Medidores de vazão (vertedouros), Marcos superficiais, Medidores de N.A. e Piezômetros
Monitoramento
Inspeções periódicas (auditorias internas e externas) - verificação da estabilidade das PDE’s
Monitoramento do desenvolvimento da vegetação protetora
Fonte: Tabela elaborada a partir dos projetos conceituais e executivos das PDE’s – RIDZ Projetos Ltda sendo: Projeto
Executivo da PDE Sudoeste – Agosto/2002, PCA de Ampliação da PDE Sudeste – Outubro/2002, Projeto Conceitual da
PDE Nordeste – Junho/2003 e Projeto Executivo de Ampliação da PDE Nordeste – Março/2007. *Obs.: 54,2 Mt ≈ 26,6
Mm3. A partir de 2011 haverá necessidade de novo projeto de ampliação visando dispor mais 33,4 Mm3 ≈ 71 Mt.

76
Cava Projetada em 2014

PDE SW PDE NE projetada em


2014
Vol. projetado = 94 Mm3

33,4 Mm3
PDE Correia 26,6 Mm3

PDE SE
34,0 Mm3

Figura 3.14 - Configuração em 3D da PDE Nordeste projetada para 2014.


Fonte: VALE/2006.

As análises de estabilidade da ampliação da PDE Nordeste foram realizadas utilizando-se o


software SLIDE v.5.0 da empresa canadense Rocscience Inc. O SLIDE v.5.0 é um software
que utiliza a teoria do equilíbrio limite para o cálculo do fator de segurança em taludes de
solo e/ou rocha. Foram pesquisadas superfícies circulares de ruptura adotando-se o método
de Bishop, que admite o equilíbrio de momentos em relação ao centro do círculo. Foram
analisados em todas as seções círculos críticos passando pelo aterro, bem como pela
fundação. Para realização dos estudos em questão foi utilizada como referência a NBR
13029/2006.

Os parâmetros de resistência ao cisalhamento, coesão (c’) e ângulo de atrito (Φ’) assim


como os pesos específicos (γ) dos materiais utilizados nas análises de estabilidade, foram
estabelecidos com base nos ensaios de laboratório, provenientes de blocos indeformados
retirados da fundação e do estéril a ser disposto, ver Tabela 3.4 e Tabela 3.5.

Adotou-se como fator mínimo de segurança 1,50 para uma condição normal (superfície
freática normal) e 1,30 para a condição severa (superfície freática crítica) conforme
recomenda a NBR 13029/2006 para estruturas desta natureza. A geometria da PDE
Nordeste obteve fator de segurança mínimo de 1,436 na condição de severidade (nível
freático 10m acima do normal) e 1,534 na condição normal (nível freático normal).

77
Tabela 3.4 - Classificação geomecânica de Bieniawski, 1976.
CLASSE I II III IV V VI

RMR 100 - 80 80 - 60 60 – 40 40 – 30 30 – 0 -
TERMO Muito bom Bom Regular Pobre Muito pobre Solo coesivo
DESCRITIVO Very good Good Fair Poor Very poor Stiff soil

Tabela 3.5 - Parâmetros geotécnicos adotados para cálculo da estabilidade da PDE Nordeste.
Parâmetros de Resistência ao
Peso Específico
Material Classe Cisalhamento
γnat (kN/m3)
c’ (kN/m2) Φ (o)
Estéril 19,50 5,00 30,00
Meta Básica (MB) 19,70 5,00 18,00
Xisto Nova Lima (XNL) 19,50 12,00 28,00
VI
Formação Ferrífera 27,00 250,00 35,00
Talus 16,20 0,00 17,00
Gnaisse 19,30 15,00 25,00
Fonte: RDIZ – Projeto Executivo – Ampliação da PDE Nordeste – Março/2007.

3.7.RESERVAS E VIDA ÚTIL


Os tipos de minério e estéril utilizados no modelamento geológico da jazida de Gongo
Soco são apresentados na Tabela 3.6.

Tabela 3.6 - Tipos de minério e estéril existentes na mina de Gongo Soco.


Tipos de Minérios
HF - Hematita Friável - material desagregado, granulado ou xistoso, contendo em torno de
20% de massa maior do que 8 mm. A espessura dos corpos varia de poucos centímetros a até
100m. Os teores de ferro são altos, em média 66,62%.
HCT - Hematita Contaminada - Material rico em ferro, friável, usualmente com altos teores de
manganês (acima de 1%).
IT - Itabirito - itabirito silicoso, desagregado, contendo em torno de 30% de massa acima de
8mm e Ferro de aproximadamente 49,52%. A espessura dos corpos varia de poucos metros a
até cerca de 150m.
Tipos de Estéril
IDO – Itabirito Dolomítico – Itabirito pobre, limonítico, com altos teores de fósforo.
ICT – Itabirito Contaminado – Itabirito pobre, contendo altos teores de manganês e fósforo.
IN – Rochas Intrusivas – rochas básicas metamorfisadas
THX – Talco-Hematita-Xisto – itabiritos contendo bandas de talco intercaladas com bandas de
hematita.
XI –Xistos do Grupo Nova Lima - Quartzo-xistos e clorita-xistos.
CG – Canga – depósitos superficiais formados por fragmentos de itabirito e hematita,
cimentados por goethita.
Fonte: VALE (2003) e RCA/PCA – Ampliação da Cava de Gongo Soco (2003-2006) – NICHO, 2003.

Em 2003 as reservas cubadas da mina de Gongo Soco totalizavam 127,2 Mt de minério,

78
sendo 81,2 Mt de hematita e 46 Mt de itabirito. As reservas geológicas remanescentes na
jazida de Gongo Soco até o final de 2006 eram da ordem de 91,2Mt.

Conforme a Gerência Geral de Planejamento e Engenharia de Minas – GEPMS/Vale e a


Gerência de Planejamento Longo Prazo – GAPLS/Vale em agosto de 2006, a
movimentação prevista de ROM de 2007 a 2014 será de 51,5 Mt (reserva lavrável).
Portanto a reserva geológica remanescente é de aproximadamente 39,7 Mt. Deve-se
destacar quanto à diferença de reserva geológica e lavrável. A reserva lavrável distingue da
geológica quanto aos aspectos econômicos e operacionais, ou seja, reserva
economicamente e tecnicamente viável para ser explotada.

Considerando-se os próximos 8 anos de produção de ROM (51,5 Mt) e as reservas


remanescentes (39,7 Mt) a vida útil do empreendimento minerário de Gongo Soco seria da
ordem de 14 anos, considerando-se a média de produção de ROM/ano de 2007 a 2014 que
é de 6,44 Mt.

Como o horizonte desta dissertação é até o ano de 2014, subtende-se que as reservas
remanescentes não serão contabilizadas, ou seja, não são tecnicamente viáveis para serem
explotadas por razões de ordem técnica, viabilidade econômica e/ou por questões
operacionais (segurança - estabilidade física da cava). Dois fatores limitantes importantes
são:
 A porção norte projetada da cava terá um desnível topográfico de 500 metros em 2014;
 A elevada relação estéril/minério (RE/M).

De acordo com Innocentini (2003), os estudos de engenharia para projetos mineiros


tendem a se tornar cada vez mais especializados devido à necessidade de exploração de
depósitos com teores cada vez mais baixos. Isto requer uma avaliação mais detalhada dos
fatores que influenciam os aspectos econômicos, tais como a qualidade do minério, o preço
do metal, os custos de investigação, desenvolvimento e construção, custos de transporte,
etc. Segundo este mesmo autor, em termos das escavações de taludes em rocha e sua
estabilização, as aplicações de maior impacto ocorrem exatamente em minas a céu aberto,
que requerem taludes de grande altura e com fatores de segurança relativamente baixos
quando comparados com as demais obras de engenharia. O dimensionamento destes

79
taludes deve estar bem fundamentado, pois, além de oneroso, pode acarretar prejuízos
numa eventual ruptura de um talude existente. O profissional, ao projetar os taludes de uma
mina, deve ter como objetivo principal a otimização da extração do bem mineral com o
menor custo possível, mediante a adoção de fatores de segurança satisfatórios.

Hoje a engenharia geotécnica é uma ferramenta fundamental para os empreendimentos


mineiros, pois fornece soluções tecnicamente viáveis atendendo as exigências ambientais e
legais do ponto de vista de segurança e de qualidade.

Caso Gongo Soco não paralise suas atividades extrativas em 2014, deverá analisar a
possibilidade econômica e técnica para lavrar o montante das reservas remanescentes
(geológicas), transformando-as em reservas lavráveis e economicamente viáveis.

3.8.PORTE DO EMPREENDIMENTO
A atividade desenvolvida na mina de Gongo Soco é a minerária com explotação e
beneficiamento de minério de ferro (hematita com teor médio de 66,62% de Fe e itabirito
com teor médio de 49,52% de Fe).

O beneficiamento do ROM é realizado nas instalações de tratamento de minérios


denominadas de ITM’s I, II e III, com capacidade instalada para beneficiar 9,0 Mt de
ROM/ano. Os rejeitos provenientes do beneficiamento do itabirito são direcionados para a
barragem Sul (Figura 3.15).

Conforme Deliberação Normativa COPAM n.o 74, de 9 de setembro de 2004, Gongo Soco
é classificado como um empreendimento minerário de grande porte. A DN 74/2004
estabelece critérios de classificação segundo o porte e o potencial poluidor (o
empreendimento se enquadra em grande porte - produção bruta superior a 1.500.000 t/ano
com potencial poluidor/degradador: Ar = Médio, Água = Grande, Solo = Grande e Geral =
Grande).

80
6
5 3
4

Figura 3.15 - Vista geral de Gongo Soco.


Fonte: VALE, 2005.
Em que:
1. Barragem Sul Inferior – esta barragem tem por finalidade básica o armazenamento da água liberada
dos rejeitos dispostos na Barragem Sul Superior.
2. Barragem Sul Superior – esta barragem tem por finalidade básica a disposição dos rejeitos gerados
na usina, além de possibilitar a drenagem e recuperação de água para recirculação.
3. PDE Sudeste.
4. PDE Sudoeste.
5. ITM’s I, II e III e Pêra ferroviária.
6. Cava de Gongo Soco.

3.9.BENEFICIAMENTO DO ROM
O beneficiamento do minério de ferro é feito por via úmida, sendo que esse processo exige
o bombeamento contínuo da vazão denominada água nova (make-up). O fluxograma
simplificado do processo de tratamento de minério é apresentado na Figura 3.16. A água é
o principal insumo do processo produtivo. De acordo com o “Diagnóstico de Utilização de
Consumo de Água no Complexo Industrial de Gongo Soco,” elaborado pela Golder
Associates Brasil Consultoria e Projetos Ltda, em fevereiro de 2005, as instalações de
beneficamento são:

3.9.1.INSTALAÇÃO DE TRATAMENTO DE MINÉRIOS I – ITM-I


O Run of Mine (minério de hematita) é beneficiado por um processo composto por

81
britagem e peneiramento primário a seco, britagem secundária e peneiramento secundário a
úmido, que gera como oversize os produtos Natural Pellet Ore (NPO) e Hematitinha
(HEM). O undersize do peneiramento secundário alimenta classificadores espirais, que
geram como produto no underflow o Sinter Feed (SFC).

O overflow dos classificadores é bombeado para o sistema de ciclonagem primária, que


tem seu overflow direcionado para a ciclonagem secundária. O underflow da ciclonagem,
tanto primária quanto secundária, é direcionado para a filtragem, gerando o produto Pellet
Feed – PFF, ao passo que o overflow é direcionado aos espessadores de lamas.
Opcionalmente, os produtos NPO e HEM podem ser rebritados num britador terciário para
geração do SFC.

Figura 3.16 - Fluxograma simplificado do processo industrial.


Fonte: GOLDER, 2005.

3.9.2.ITM-II
O Run of Mine (minério de hematita – itabirito) é beneficiado por um processo composto
por britagem e peneiramento a seco, que gera como oversize minérios em granulometria
adequada para reprocessamento na ITM I e como undersize o produto Natural Sinter Feed
(NSF).

3.9.3.ITM-III
O ROM (minério de itabirito) é beneficiado por um processo composto por moagem e
peneiramento primário a seco, jigagem, hidrociclonagem e espessamento. Inicialmente, o
ROM é alimentado em uma moega com alimentador vibratório, a partir da qual o oversize

82
é encaminhado à pilha de estocagem e de estéreis, ao passo que o undersize alimenta o
peneiramento primário. O undersize do peneiramento alimenta dois silos, a partir dos quais
o minério alimenta o peneiramento secundário. A partir dos silos, o minério alimenta dois
jigues, sendo que o seu rejeito é encaminhado ao pátio de estocagem e seu concentrado é
encaminhado a peneiras desaguadoras. O oversize das peneiras é parte do produto final,
enquanto que o undersize alimenta os hidrociclones. O overflow dos hidrociclones é
encaminhado ao espessador de lamas e o underflow à barragem de rejeitos.

1 3

Figura 3.17 - Vista geral das instalações de tratamento de minério – ITM’s.


Fonte: VALE, 2006.
Em que:
1. Tanque elevado.
2. Instalações de beneficiamento – ITM I, II e III.
3. Cava de Gongo Soco.
4. Linha férrea (pêra ferroviária).

83
3.10.BARRAGEM DE REJEITOS
A barragem sul superior é uma estrutura que tem como objetivo a contenção de rejeitos do
beneficiamento de minério de ferro. O alteamento é feito para montante, com diques de
itabirito friável, provenientes da mina e compactados sobre a praia de rejeitos.

O maciço da barragem encontra-se na elevação 955 m e previsão de cota final alteada para
a elevação 960 m. O reservatório gerado pelo alteamento até a cota 960 m irá proporcionar
uma capacidade adicional de rejeitos da ordem de 3,4 milhões de metros cúbicos (3,4
Mm3).

O sistema extravasor operacional consta de uma tomada d'água em torre de queda


retangular, e pequeno segmento de galeria bloco retangular conectada a uma tubulação em
Arco, implantada na escavação em terreno natural da ombreira direita, e passando sob o
maciço dos diques alteáveis.

Para a fase de desativação da barragem será implantado um vertedouro em soleira livre,


dimensionado para a Precipitação Máxima Provável, também na ombreira direita.

De acordo com Golder (2005), o volume de água utilizado no processo de beneficiamento


do minério de ferro é obtido de duas fontes: captação do volume proveniente do
rebaixamento do N.A. no interior da cava e captação no reservatório da Barragem Sul.
Uma importante parcela da água captada recircula continuamente na usina, ao passo que
outra parte é descartada para a barragem de rejeitos, incorporando-se novamente ao corpo
hídrico represado. No entanto, uma parcela da água liberada pelos rejeitos é bombeada
novamente para a usina.

Há duas formas importantes de reuso de água: a que retorna para o circuito após a
decantação ocorrida nos espessadores e a que é constituída pela água contida no rejeito,
que após a percolação, fica disponibilizada novamente para uso. A Barragem Sul, nas
condições atuais de assoreamento do reservatório, possui um volume de 1.500.000 m³, e
cota de coroamento na elevação 935 m (Golder, 2005). A cota final da crista desta
barragem é igual a 942 m (Golder, 2005). Atualmente, o vertimento de volumes excedentes
ou para a garantia de vazão residual no córrego Capim Gordura é realizado por dois sifões,

84
cujo caminhamento da tubulação é feito pelo rápido do vertedouro de emergência.

Quando o reservatório da Barragem Sul estiver praticamente todo assoreado, será


implantada uma nova barragem, localizada a jusante da confluência dos córregos do Vieira
e Capim Gordura, denominada Sudoeste. Esta barragem será utilizada, também, para
acomodar o rejeito liberado pela usina e para fornecer água para o processo de
beneficiamento. A cota inicial de implantação da Barragem Sudoeste será igual a 895 m,
com volume máximo da ordem de 10.000.000 m³. Nesta fase, a captação no reservatório da
Barragem Sul será transferida para o reservatório da Barragem Sudoeste.

A Barragem Sul Superior está em operação há vários anos, e destina-se à contenção de


rejeitos do beneficiamento do minério de ferro da mina de Gongo Soco. Foi construída em
alteamentos para montante com diques de itabirito friável proveniente da mina. Os diques
são apoiados sobre a praia de rejeitos, proveniente do lançamento hidráulico. No projeto de
alteamentos e reforço da barragem entre as elevações 930 a 942, foram considerados os
seguintes dados:

Geração de Rejeitos:
 70.000 t/mês de rejeitos + 40.000 t/mês de perdas = 110.000 t/mês
 A partir de jan./2003, com a entrada em operação da planta de concentração de itabirito
(ITM-III), passou a ser gerada uma massa adicional de rejeitos: 117.000 t/mês
 Densidade aparente seca (adotada) = 1,8 t/m³

Assoreamento do Reservatório
 Até dez./2002 = 110.000 t/mês ÷ 1,8 t/m³ = 61.000 m³/mês
 A partir de jan./2003 = 227.000 t/mês ÷ 1,8 t/mês = 126.000 m³/mês

A alimentação de make-up é feita pelo rebaixamento do N.A. junto a cava, por meio de
poços tubulares profundos (18 poços), sendo os volumes bombeados dos poços dispostos
em um pequeno reservatório, instalado junto à cava. Esse reservatório é dotado de
instalação elevatória que alimenta o reservatório denominado de Tanque Elevado. Os
excessos de água nesse reservatório são vertidos para o sistema de drenagem superficial da
estrada de acesso à mina, ao passo que os excessos de água no tanque elevado são vertidos

85
para o reservatório da barragem Sul Inferior, incrementando assim a reservação de água
recuperada.

Os volumes provenientes da captação de água nova nos poços tubulares, de captação de


água recirculada no processo e também de água recuperada no reservatório da barragem
Sul Inferior são armazenados no reservatório denominado de tanque elevado. O tanque
elevado (Vol.total arnazenamento = 9.285 m³) foi construído em localização e altitude que
permite a distribuição de água para a usina por gravidade, por meio de adutoras. As
captações atualmente em operação dispõem de outorgas de uso concedidas pelo IGAM –
Instituto Mineiro de Gestão das Águas. As principais características das captações e vazões
outorgadas são apresentadas na Tabela 3.7.

Tabela 3.7 - Características das Captações e Vazões Outorgadas


Barragem Barragem Poços
Variável / Local
Sul Inferior Sudoeste Tubulares
Volume disponível para regularização (m³) 1.500.000 10.000.000 -
QMLT (m³/h) 450,0 1.580,4 -
Vazão máxima regularizada (m³/h) 339,8 1.285,2 -
Percentual da QMLT (m³/h) 75,5 81,3 -
Vazão outorgada (m³/h) 0 0 6701
Q 7,10 (m³/h) 160,6 565,2 -
Fluxo residual (m³/h) 112,4 395,6 -
Fonte: GOLDER, 2005.
Em que: QMLT = vazão média de longo termo
Q 7,10 = vazão mínima de 7 dias de duração com um período de retorno de 10 anos.

3.11.ESTUDOS GEOLÓGICOS DA MINA DE GONGO SOCO

3.11.1.GEOLOGIA LOCAL
Dentre as unidades que compõem a coluna estratigráfica regional do Quadrilátero
Ferrífero, sete unidades foram correlacionadas aos litotipos reconhecidos na área da mina
de Gongo Soco. São elas: Grupo Nova Lima, Formações Moeda, Batatal, Cauê, Gandarela,
Cercadinho e Fecho do Funil, além de rochas metabásicas intrusivas e coberturas detríticas.
Uma Unidade Transicional, composta por filitos dolomíticos, metabásicas e metacherts
ferruginosos é descrita entre os filitos da Formação Batatal e os itabiritos da Formação
Cauê, ver Figura 3.18.
1
Conforme Portaria IGAM 00483/2006, válida até abril de 2011.

86
3.11.1.1.UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS
• Grupo Nova Lima
O Supergrupo Rio das Velhas é representado na área pela seqüência vulcanossedimentar
arqueana do Grupo Nova Lima, disposta no extremo norte da área estudada. Este pacote é
composto por clorita-sericita-xistos, sericita-xistos, xistos carbonosos e carbonáticos, além
de intercalações de metacherts e formações ferríferas bandadas do tipo algoma. O topo
desta seqüência é caracterizado por um pacote contendo xistos carbonáticos e dois
importantes corpos de formação ferrífera bandada, portadores de sulfetos, que se
apresentam decompostos até grandes profundidades (Geoestrutural, 2002).

• Supergrupo Minas
O Supergrupo Minas, de idade paleoproterozóica, é representado na área pelas Formações
Moeda, Batatal, Cauê, Gandarela, Cercadinho e Fecho do Funil, que se encontram
inseridas no flanco norte (normal) do Sinclinal Gandarela.

• Formação Moeda
A Formação Moeda aflora de maneira restrita na porção norte da mina, em um corpo
delgado de quartzito micáceo, que pode variar para um quartzo-xisto ou para um quartzito
microconglomerático, em uma camada com espessura média de aproximadamente 20
metros.

• Formação Batatal
Da mesma forma, a Formação Batatal aflora em um pacote de 30 a 50 metros sobrepostos
a Formação Moeda, composta por filitos sericíticos e grafitosos. Lentes centimétricas a
decimétricas de metacherts e quartzitos micáceos são comuns neste pacote.

• Unidade Transicional
Uma unidade intermediária, mapeada entre os filitos da Formação Batatal e os itabiritos da
Formação Cauê, marca a transição entre a sedimentação clástica do Grupo Caraça e a
sedimentação química do Grupo Itabira. Compreende filitos, itabiritos carbonáticos,
dolomitos e metabásicas concordantes, dispostos em um pacote delgado e descontínuo
denominado Unidade transicional (Geoestrutural, 2002).

88
• Formação Cauê
Sobreposto à unidade transicional ocorrem às formações ferríferas da Formação Cauê.
Compreendem itabiritos silicosos a localmente carbonáticos, alterados até grandes
profundidades em produtos friáveis. Associado a estes itabiritos, ocorre uma mega lente de
hematita de aproximadamente 1 km de comprimento e várias dezenas de metros de
espessura, originada a partir de um protominério carbonático. Este corpo exibe a forma de
boudins alongados, e constitui o minério atualmente explorado na mina.

No contato basal do corpo de hematita com os itabiritos, ocorre uma lente rica em talco na
porção central da mina, informalmente conhecida por talco hematita ou hematita talcosa. A
presença deste mineral deve-se à natureza carbonática do minério, derivada de processos
metassomáticos em zona de deformação dúctil concentrada. Essa faixa funciona como uma
barreira hidráulica para os fluxos d’água subterrâneos, condicionando zonas de riscos
geotécnicos localizados (Geoestrutural, 2002).

Uma transição gradual dos itabiritos de fácies óxido para itabiritos de fácies carbonato
ocorre no contato com a Formação Gandarela, evidenciado pela passagem dos itabiritos
predominantemente silicosos para itabiritos dolomíticos e anfibolíticos, mapeados pela
Geoestrutural (2002) como pertencentes à Formação Gandarela.

• Formação Gandarela
Seguindo a estratigrafia, ocorre a Formação Gandarela, constituída por um pacote
estratificado composto da base para o topo de itabiritos dolomíticos e anfibolíticos,
dolomitos ferro-manganesíferos e dolomitos puros, com uma intercalação métrica e
contínua de formação ferrífera manganesífera.

Na área da cava de Gongo Soco, esta formação está representada pela seqüência basal de
itabiritos dolomíticos e anfibolíticos, exibindo um aspecto alterado e argiloso, de coloração
marrom café a ocre, típica de alteração de carbonatos (Geoestrutural, 2002).

Sobre estes itabiritos há o predomínio de litologias não foliadas, correspondentes aos


dolomitos rosas, cinzas e brancos. Uma importante consideração sobre estes dolomitos são
as ocorrências de estruturas cársticas bem desenvolvidas, tais como cavidades de

89
dissolução, cavernas e uma provável dolina. Falhamentos normais, de direção NW-SE e N-
S são freqüentes neste domínio, onde, freqüentemente, se encaixam os principais córregos
da região. Um corpo de formação ferrífera manganesífera delgado e contínuo de direção
WSW-ENE, foi mapeada pela equipe da Geoestrutural (2002) entre os dolomitos desta
formação.

• Formação Cercadinho
A Formação Cercadinho ocorre restrita à porção central do Sinclinal Gandarela, a sul da
área em estudo. É composta por quartzitos ferruginosos, micáceos ou puros e filitos
sericíticos e grafitosos. Estas rochas apresentam granulação fina a média e encontram-se
alteradas diferencialmente, possuindo desde afloramentos praticamente sãos, até porções
bastante alteradas. Os quartzitos ferruginosos muitas vezes podem ser confundidos com o
itabirito pobre, devido à concentração de minerais opacos.

• Formação Fecho do Funil


No topo da seqüência proterozóica em questão, ocorrem os filitos grafitosos e dolomíticos
representantes da Formação Fecho do Funil, aflorantes no extremo sul da área.

• Rochas Básicas Intrusivas


Além dessas formações, ocorrem na área corpos intrusivos básicos, dispostos
concordantemente à foliação regional. São representados por clorita-actinolita-xistos,
observados nas seqüências do Grupo Nova Lima, no contato entre as formações Cauê e
Gandarela (ao norte da cava da mina) e em um nível expressivo na Formação Gandarela,
próximo ao contato com os quartzitos da Formação Cercadinho (Geoestrutural, 2002).

• Coberturas Detríticas
Coberturas detríticas, de idade cenozóica, representadas por depósitos sedimentares de
fluxo gravitacional de detritos. Bacias sedimentares e cangas também são observadas na
área.

• Depósito de Fluxo de Detritos


Os depósitos de fluxo de detritos são representados na região por coberturas de tálus e

90
colúvios de composição heterogênea, que ocupam em geral os fundos de vales.

Trata-se de depósitos detríticos de material comumente originado por erosão de itabiritos e


hematitas, que sofreram remobilização do quartzo durante o intemperismo e deposição por
gravidade em fundos de vales.

Os depósitos da região são usualmente compostos por fragmentos de itabirito, hematita,


canga e quartzito, cimentados por matriz ferruginosa. Estas coberturas são comuns nos
talvegues do entorno da mina e na porção central da área, recobrindo outro depósito
detrítico, que será caracterizado separadamente a seguir, devido à sua matriz argilosa.

• Bacia Terciária do Gongo Soco


Esta cobertura sedimentar detrítica é um tipo especial de depósito de fluxo de detritos que
apresenta uma matriz argilosa, com características hidrogeológicas distinta.

Trata-se de uma bacia de sedimentação localizada na porção central da área, configurando


uma depressão oval de 1,5 x 1,0 km sobreposta aos dolomitos da Formação Gandarela.
Este depósito é denominado de "Bacia Terciária do Gongo Soco" por Maizatto, J. R. 1995,
in Geoestrutural, 2002. A origem desta bacia está relacionada à dissolução das rochas
carbonáticas sotopostas, favorecida pela presença de zonas de fraturas laterais e por uma
barreira hidráulica correspondente ao corpo de rocha básica situado à sul do depósito, que
facilitaram a lixiviação dos carbonatos.

• Cangas
Material típico de climas tropicais descrita originalmente no Brasil, a canga é definida por
Dorr (1969) como produto de alteração de formações ferríferas, formada por quantidades
variadas de fragmentos detríticos de hematita e formações ferríferas, cimentadas por matriz
limonítica. Sua composição lhe confere alta resistência frente a agentes intempéricos
químicos e mecânicos, o que reflete comumente em altos relevos.

Coberturas métricas de canga são também comuns no entorno da mina, oriundas do


intemperismo de formações ferríferas. Estão comumente localizadas nos topos de encostas
fato que favorece a recarga dos aqüíferos subjacentes devido à sua alta permeabilidade.

91
3.11.2.GEOLOGIA ESTRUTURAL
As camadas do flanco normal do Sinclinal Gandarela na região da mina de Gongo Soco
possuem direção média NEE-SWW, e mergulho médio variando entre 50° e 60º
preferencialmente no sentido SE. Segundo o mapeamento realizado pela Geoestrutural em
2002, foram identificados na região quatro grupos de estruturas reunidas em foliação,
falhas, juntas e micro ondulações.

O primeiro grupo engloba a foliação, a xistosidade, o bandamento composicional e a


lineação mineral observada nas rochas que, de maneira geral, encontram-se paralelizadas
pelos processos tectônicos. Uma característica marcante deste grupo é o bandamento
composicional observado nos itabiritos, caracterizado por bandas de minerais silicosos
e/ou carbonáticos e bandas de óxidos de ferro, orientadas segundo a foliação regional.

As falhas são estruturas bem marcantes no Sinclinal Gandarela, e envolvem deslocamentos


discretos, de centímetros a metros, seguindo anisotropias existentes. Foram detectadas ao
longo da foliação, especialmente nos contatos entre as formações Cauê e Gandarela, e
entre os itabiritos carbonáticos e os dolomitos da Formação Gandarela (Geoestrutural,
2002). Falhamentos normais, cortando perpendicularmente as camadas nas direções
preferenciais NW-SE e N-S e com mergulhos distintos também foram mapeados ao longo
de toda área. Estes lineamentos estruturais são observados, sobretudo, ao longo do leito dos
principais córregos da região, favorecendo um fluxo d’água subterrâneo diferenciado no
sentido destas drenagens.

As crenulações são marcadas por ondulações de amplitudes e comprimentos de onda


milimétricos a centimétricos que aparecem nas rochas mais xistosas da área, com eixos de
orientações variáveis. Nas rochas mais competentes aparecem ondulações suaves, de
dimensões decimétricas a métricas e de orientações semelhantes às crenulações
(Geoestrutural, 2002).

As juntas são estruturas posteriores às demais, e aparecem nas diversas litologias,


seccionando as estruturas mais antigas. Possuem espaçamentos variando entre decímetros e
metros, persistência máxima de algumas dezenas de metros e predominam nas rochas mais
competentes, como a hematita, o itabirito e o quartzito. As orientações das famílias podem

92
ser variáveis, tornando estes maciços bastante anisotrópicos.

Os dados referentes às formações ferríferas indicam que as hematitas são mais fraturadas
que os itabiritos devido à sua maior competência. Apresentam famílias distintas, com altos
mergulhos e direções predominantes em torno de NNW-SSE, observando-se ainda nas
direções E-W e NEE-SWW.

3.12.ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS DA MINA DE GONGO SOCO


No Brasil, os trabalhos de desaguamento de grandes minas foram iniciados na década de
80. Entretanto, a mineração, desde os tempos do Brasil Colônia, já praticava o
rebaixamento do nível d’água (N.A.). Na mineração a atividade de rebaixamento do nível
d´água se desenvolve desde o momento em que a cava atinge o nível d’água, e se estende
até o momento de iniciar-se o processo de descomissionamento da mina (Mdgeo, 2003).

No início da década de 80, com o aprofundamento das cavas, muitas minas inseridas no
Quadrilátero Ferrífero atingiram o nível d´água. Nesta época, a drenagem das minas se deu
por gravidade, através de canaletas, época em que iniciaram os estudos hidrogeológicos
para a solução do que era, então, um problema para a mineração: presença de água nas
frentes de lavra. A partir de meados da década de 1980, iniciou-se o processo de
rebaixamento do nível d´água das minas por meio de poços tubulares profundos
(Bertachini, 1994).

Grande parte dos depósitos minerais está situada abaixo da superfície piezométrica dos
aqüíferos, ou seja, é parte ou está associada a um reservatório subterrâneo. Dependendo
das condições de armazenamento e circulação das águas subterrâneas do aqüífero, a água
pode vir a ser mais uma dificuldade para as operações de lavra. O rebaixamento do nível
d´água tem por objetivo manter o N.A. em uma determinada cota que permita a
continuidade das atividades de lavra.

Do ponto de vista operacional o desaguamento é encerrado ao término da atividade de


lavra. Entretanto, o rebaixamento do aqüífero persiste enquanto o N.A. não atinge a
condição de equilíbrio, quando a própria cava segue realizando o rebaixamento do N.A. no

93
seu entorno.

Nas grandes cavas de mineração o rebaixamento tem um potencial considerável de geração


de impactos sobre os recursos hídricos, que em alguns casos podem significar impactos
ambientais. Os impactos negativos tendem a afetar a disponibilidade hídrica para outros
usuários, gerando problemas nem sempre de fácil solução, e que requerem ferramentas
eficazes de instrumentos de gestão. Por outro lado, o desaguamento tende a aumentar a
disponibilidade local de água, o que pode vir a gerar significativos benefícios (Mdgeo,
2003).

De acordo com Amorim (2006), a “descoberta” de que o minério de ferro se constituía


num aqüífero (Formação Ferrífera – hospedeira do minério de ferro é também um
aqüífero) desencadeou um processo crescente de percepção social que foi a tônica dos anos
90: a suspeita de que a mineração de ferro estaria comprometendo os recursos hídricos.
Esse processo fez com que os estudos hidrogeológicos, antes restritos ao âmbito das minas,
fossem estendidos às áreas do seu entorno (influência) com o objetivo de verificar
possíveis impactos ambientais.

Consequentemente, com o desenvolvimento da legislação ambiental, estudos hidrológicos


prévios englobando toda a área de influência dos projetos passaram a ser exigidos e
fiscalizados pelos órgãos ambientais no processo de licenciamento dos novos
empreendimentos mineiros. O Estado de Minas Gerais, com larga tradição em mineração,
possui em sua estrutura de gestão dos recursos hídricos e gestão ambiental, procedimentos
legais para regulamentar especificamente a atividade, através da outorga (IGAM) e do
licenciamento do empreendimento quando da necessidade de rebaixamento do nível
d’água.

Para a elaboração de um estudo de rebaixamento do nível d´água uma série de


informações/estudos hidrogeológicos devem ser perseguidos dentre os quais se destaca:

• Existência de modelo geológico da área (A gênese da jazida, estudada na fase de


pesquisa mineral, fornece subsídios de alta relevância na constituição do modelo
hidrogeológico de um depósito mineral);

94
• Estudos hidrometeorológicos (Dados meteorológicos, principalmente
pluviometria, evaporação e temperatura do ar, bem como os dados fluviométricos
regionais, são fundamentais na definição do modelo hidrogeológico preliminar.
Dados locais de pluviometria e hidrologia da mina são fundamentais);
• Inventário/cadastramento de pontos d´água (Atividade a ser desenvolvida em
um estudo hidrogeológico voltado para o rebaixamento do nível d’água);
• Programa de monitoramento (Após inventário dos pontos de monitoramento, o
passo seguinte é o projeto de implantação e operação de uma rede de
monitoramento com instalação de piezômetros, indicadores de nível d´água,
vertedouros);
• Elaboração do modelo hidrogeológico (De posse dos dados geológicos, do
inventário dos pontos d’água e do monitoramento de, pelo menos, um ciclo
hidrológico, torna-se possível a elaboração do modelo hidrogeológico da mina. O
modelo deve definir as unidades hidrogeológicas com sua geometria, parâmetros
hidrodinâmicos, parâmetros hidroquímicos, potenciometria e condições de
circulação e armazenamento da água subterrânea); e
• Projeto de rebaixamento do nível d´água (Análise do seqüenciamento de lavra –
evolução da escavação ao longo do tempo. Definição de como deverá ser a
evolução do rebaixamento. Estimativa dos volumes d´água a serem explotados e
estruturas de captação. Elaboração do modelamento numérico do fluxo d’água
subterrânea).

De acordo com a Mdgeo (2003), a cronologia da lavra e a natureza do desaguamento


desejado são os fatores que determinam o rebaixamento a ser realizado. Nas minas de
médio e grande porte, deve-se trabalhar sempre com o princípio do pré-rebaixamento, ou
seja, quando se abre um novo banco, o maciço deve estar adequadamente drenado. Tanto
em minas a céu aberto como em minas subterrâneas o rebaixamento do nível d’água deve
ser estipulado em função do avanço da mina, procurando-se manter uma determinada
distância entre a cota do nível d’água e da lavra. O ideal é que todas as modificações sejam
realizadas antes do inicio do próximo período chuvoso, quando se processa a recarga e o
ritmo do rebaixamento diminui.

95
A análise do sequenciamento de lavra engloba também a proposição de
descomissionamento para a mina, ou seja, o que será feito com a cava de exaustão e o
entorno. A atividade de rebaixamento do nível d’água deve estar intimamente associada ao
planejamento da lavra, adequando todas as modificações do planejamento ao
desaguamento. Da mesma forma, o planejamento deve considerar sempre a evolução do
rebaixamento, principalmente na definição da forma de avanço da lavra. Em minas com
maior porte e associadas a aqüíferos expressivos torna-se necessário o uso de estruturas de
captação de água subterrânea, tais como poços tubulares, galerias de drenagem, trincheiras,
drenos escavados, drenos perfurados, dentre outros.

Os poços tubulares profundos são as estruturas de captação de água subterrânea mais


empregadas, principalmente na mineração a céu aberto. Na mina de Gongo Soco o
rebaixamento do nível d´água é realizado atualmente com auxílio de uma bateria de 18
poços tubulares. Desde 2001, ocorre o rebaixamento do nível d´água na cava, visando
manter o desenvolvimento da lavra e auxiliando na estabilidade dos taludes. As principais
vantagens dos poços tubulares residem em permitir o avanço do rebaixamento em
profundidade, ocupar pequenas praças de trabalho na construção e operação e distribuir o
desembolso financeiro praticamente ao longo da vida da mina.

O regime hidrogeológico da mina de Gongo Soco, em particular na região da parede norte,


é monitorado com a implantação de piezômetros, drenos profundos de despressurização e
de poços de rebaixamento. Os piezômetros foram instalados nas principais litologias,
particularmente no xisto Nova Lima, quartzitos, filitos, Formação Ferrífera e na unidade
transicional. A simulação do rebaixamento caminha em paralelo com a equipe de
planejamento de lavra, associado ao arranjo geométrico da mina. Nesta fase define-se o
ritmo do pré-rebaixamento, de forma a evitar um bombeamento excessivo e desnecessário,
mas ao mesmo tempo seguro.

As simulações são obrigatoriamente realizadas em regime transitório, uma vez que em


simulações em regime permanente não se considera a variável tempo, tornando-se difícil a
quantificação dos volumes de água a serem explotados no decorrer da lavra (Hidrovia,
2007).

96
3.12.1.DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO
A principal ferramenta para o dimensionamento racional do sistema de rebaixamento é
definir o modelamento numérico do fluxo d’água subterrânea. Os modelos possibilitam o
prognóstico do sistema de rebaixamento, bem como o seu planejamento ao longo da vida
da mina e na fase de descomissionamento, até a recuperação dos níveis d’água dos
aqüíferos (Mdgeo, 2003).

De acordo com Mdgeo (2003), os modelos a serem empregados podem ser do tipo
analítico ou numérico. Os modelos numéricos de elementos finitos são empregados para
soluções mais complexas. O modelo físico, conceitual ou hidrogeológico determina a
abrangência da área a ser modelada, a geometria dos aqüíferos, as condições de contorno,
os parâmetros hidrodinâmicos, o regime da simulação e os elementos de controle da
calibração. A rede de monitoramento fornece o conjunto de dados necessário à calibração
do modelo. Para se obter um modelo de calibração se utiliza dados do monitoramento de
pelo menos um ciclo hidrológico.

Na região do Quadrilátero Ferrífero, em geral, o procedimento de desagüamento das minas


iniciou-se na década de 80 e, nesta época, os estudos eram voltados essencialmente para o
dimensionamento das unidades de captação e bombeamento para garantir a continuidade
da extração (Hidrovia, 2007). Na década de 90 a legislação ambiental passou a exigir, para
os processos de licenciamento das atividades de mineração, a execução de estudos
hidrogeológicos. Desta forma, a Vale contratou empresas especializadas visando elaborar
uma análise do comportamento dos sistemas aqüíferos e suas influências nos recursos
hídricos com o rebaixamento do N.A. da cava de Gongo Soco.

Além dos possíveis impactos ambientais sobre os recursos hídricos, o conhecimento


higrogeológico de uma jazida é de extrema importância para a atividade minerária, pois
subsidia a segurança operacional da mina (estabilidade da escavação). A Figura 3.19
mostra os períodos de operação dos poços de rebaixamento do N.A, que ilustra a bateria de
21 poços (PGS) dentre os quais 03 desativados (PGS01, 02 e 03). Gongo Soco conta
atualmente com 18 poços de rebaixamento d´água bombeando em média 370 m3/h de água,
durante 365 dias/ano e possui outorga para 670 m3/h, válida até abril de 2011 (Portaria
IGAM 00483/2006).

97
PERÍODO DE OPERAÇÃO DOS POÇOS DO GONGO SOCO
PGS21
PGS20
PGS19
PGS18
PGS17
PGS16
PGS15
PGS14
PGS13
PGS12
PGS11
PGS10
PGS09
PGS08
PGS07
PGS06
PGS05
PGS04
PGS03
PGS02
PGS01

set/01 dez/01 abr/02 ago/02 dez/02 abr/03 ago/03 dez/03 abr/04 ago/04 dez/04 abr/05 ago/05 dez/05 abr/06 ago/06 dez/06

Figura 3.19 - Períodos de operação dos poços de rebaixamento (PGS) do NA.


Fonte: VALE, abril/2007.

A Figura 3.19 mostra as faixas em azul que indicam os poços instalados na formação
ferrífera e em vermelho nas unidades que compõem o talude norte da cava. Tem-se,
portanto, 14 poços na formação ferrífera sendo 11 em atividade (PGS 04, 05, 06, 07, 09,
10, 13, 18, 19, 20 e 21). Para drenar os taludes da porção norte da cava são 7 poços (PGS
08, 11, 12, 14, 15, 16 e 17). A Figura 3.20 ilustra a localização dos poços de rebaixamento
na mina de Gongo Soco.

3.12.2.INVENTÁRIO DE PONTOS D´ÁGUA E ARREDORES


A Mdgeo (2000a) foi contratada pela Vale para elaborar um inventário de pontos d´água da
mina de Gongo Soco e arredores. Foi inventariada uma área de aproximadamente 3000 ha
englobando todas as drenagens no entorno da mina, compreendendo os principais
mananciais do córrego Capim Gordura e do córrego Congo Velho, drenagens essas
relacionadas às rochas do Supergrupo Rio das Velhas (Grupo Nova Lima) e Supergrupo
Minas (Formações Cauê, Gandarela e Cercadinho). Foram cadastrados 75 pontos (62
surgências d’água e 13 leitos secos).

98
A Figura 3.21, mostra a localização geográfica dos pontos de surgências d´água
cadastrados bem como a rede de drenagem. Gongo Soco é limitado pelo divisor de águas
(norte da cava), compõe a sub-bacia do rio Socorro, pertencente à bacia do rio Doce. Esta
sub-bacia tem como principais mananciais locais os córregos Capim Gordura, Vieira,
Canta Galo e Congo Velho.

Os córregos Capim Gordura e Vieira, localizados na porção oeste da cava, englobam 37


das 62 surgências d'água cadastradas, oriundas, sobretudo, dos dolomitos e formações
ferríferas que compõem os aqüíferos da Formação Gandarela, Formação Cauê e do Grupo
Nova Lima. O Capim Gordura tem como principais tributários os córregos Vieira e Canta
Galo, localizados respectivamente no extremo oeste da cava e a leste das ITM’s. O córrego
Vieira deságua no médio leito do córrego Capim Gordura, enquanto o córrego Canta Galo
deságua diretamente na barragem de rejeitos, antes de confluir com o córrego Capim
Gordura, próximo à foz no rio Socorro, à montante da vila homônima.

O córrego Congo Velho, também conhecido como Gongo Soco, localiza-se na porção leste
da cava e engloba 20 surgências d'água. Estas águas pertencem aos mesmos sistemas
aqüíferos do córrego Capim Gordura, porém com maior contribuição do Aqüífero Cauê,
que drena a região da cava.

Ao contrário do córrego Capim Gordura, não se observa águas provenientes de surgências


nos quartzitos da Formação Cercadinho e do Grupo Sabará. De acordo com os dados
piezométricos, definiu-se as cotas iniciais do nível d’água subterrâneo da jazida de Gongo
Soco. Variaram entre a cota 995 m, no extremo oeste da mina, até a cota 965 m no seu
extremo leste. Estas são as cotas originais de nível d’água do Aqüífero Cauê, anteriores ao
início do bombeamento do N.A..

100
O fluxo d´água subterrâneo caminha de oeste para leste (Figura 3.22).

Figura 3.22 - Curvas equipotenciais e linhas de fluxo d’água subterrâneo - calibração em regime permanente.
Fonte: MDGEO, 2003.

3.12.3.UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS DE GONGO SOCO


Um aqüífero é definido como sendo uma unidade geológica permeável e saturada, passível
de transmitir quantidades significativas de água sob gradientes hidráulicos ordinários. Um
aquitardo consiste em uma camada de baixa permeabilidade, inserida em uma seqüência
estratigráfica onde existem camadas mais permeáveis, que pode armazenar água
subterrânea em grande quantidade, transmitindo-a, por gravidade, para uma camada
aqüífera subjacente. Já um aquiclude define uma unidade geológica saturada incapaz de
transmitir água em quantidades significativas sob gradientes hidráulicos ordinários. Por
outro lado, aquifugo é uma camada ou formação geológica de caráter absolutamente
impermeável (Custódio & Llamas, 1976).

A superfície potenciométrica é o lugar geométrico dos pontos que determinam a altura do


nível d’água em um aqüífero. Os aqüíferos podem ser subdivididos em função de duas
características principais (Bear, 1979):
• Capacidade de armazenamento, diretamente ligada à porosidade (relação entre o
volume de vazios e o volume total) e ao armazenamento específico (quantidade de
água liberada por 1m3 da camada, sob efeito da gravidade);
• Capacidade de fluxo, relacionada ao processo de percolação da água subterrânea do
aqüífero, diretamente associado às propriedades de permeabilidade, condutividade

102
hidráulica e transmissividade dos materiais.

Em Gongo Soco são observados predominantemente litologias aqüíferas, seguidas por


aquicludes e aquitardos. Seguindo o empilhamento estratigráfico normal, os aqüíferos da
região correspondem às formações ferríferas do Grupo Nova Lima, quartzitos da Formação
Moeda, itabiritos e hematitas da Formação Cauê, itabiritos e dolomitos carstificados da
Formação Gandarela, quartzitos da Formação Cercadinho e às coberturas detríticas
(Mdgeo, 2003).

Por se tratarem de litologias menos permeáveis, os xistos do Grupo Nova Lima, os


dolomitos não fraturados ou alterados da Formação Gandarela, os filitos da Formação
Fecho do Funil e as rochas básicas intrusivas, constituem as demais unidades
hidrogeológicas da região, sendo classificadas de acordo com suas propriedades
hidráulicas como aquicludes ou aquifugos. Os principais aquicludes e aquitardos são
representados pelos filitos das formações Batatal, Cercadinho e Fecho do Funil e pelos
xistos do Grupo Nova Lima. Estas rochas quando alteradas podem apresentar-se saturadas,
mas com baixa ou nenhuma condição de circulação de água subterrânea.

A caracterização hidrogeológica das unidades presentes na mina de Gongo Soco, segundo


Mdgeo (2003) e confirmada pela Hidrovia (2007), é apresentada a seguir.

3.12.3.1.AQÜÍFEROS
• Zonas Aqüíferas do Grupo Nova Lima
As rochas metamórficas do Grupo Nova Lima são desprovidas de porosidade primária.
Desenvolvem zonas aqüíferas localizadas em fraturas na rocha sã. Desta forma, tanto nos
xistos quanto nas formações ferríferas e nos metacherts inalterados, a circulação de água
subterrânea ocorre apenas nas fraturas. Quando alterados, os xistos em geral são
classificados como aquicludes, enquanto as formações ferríferas e os metacherts
classificam-se como zonas aqüíferas. Estes últimos são os principais aqüíferos presentes no
Grupo Nova Lima, constituindo meio com porosidade de interstícios associadas a
intemperização dos minerais constituintes dessas rochas.

103
As surgências d’água desta unidade apresentam vazões geralmente entre 0,25 e 1,0 l/s. Os
níveis piezométricos dessa unidade indicam condições de pressão d’água bastante
elevadas, com níveis atuais entre as cotas 960 e 1100m.

• Aqüífero Moeda
Corresponde a um aqüífero do tipo fissural, constituído pelos quartzitos micáceos da
Formação Moeda que, quando inalterados, apresentam baixa condutividade hidráulica e
pequena capacidade de armazenamento. Entretanto, dependendo do grau de alteração,
essas rochas podem apresentar porosidade secundária com maior capacidade de
armazenamento e circulação de águas subterrâneas.

A única surgência d’água cadastrada nesta formação, encontra-se na cota 1070 metros
(GS-35), apresentando uma vazão estimada em 1,0 l/s. O seu nível piezométrico se
encontra atualmente entre as cotas 950 e 1000 m.

• Aqüífero Cauê
Constituído por itabiritos e hematitas da Formação Cauê, é o principal aqüífero do
Quadrilátero Ferrífero. Trata-se de um aqüífero regionalmente semiconfinado a confinado,
caracterizado como do tipo fissural e granular. As camadas confinantes em geral são os
filitos do aquiclude Batatal, os dolomitos do aquifugo Gandarela e corpos de rochas
intrusivas com o comportamento de aquiclude.

O comportamento de meio granular ocorre quando os itabiritos desenvolvem porosidade


intersticial, devido à dissolução e lixiviação de bandas carbonáticas ou silicosas. Isto
confere ao aqüífero uma elevada capacidade de armazenamento e, dependendo da
lixiviação, a permeabilidade também é elevada. A porosidade de fraturas desenvolve-se na
rocha sã, principalmente nas hematitas compactas que, quando fraturadas, conferem ao
aqüífero uma excepcional condutividade hidráulica. A porosidade efetiva dessas rochas
varia bastante, com valores médios entre 2% a 5%, atingindo até 15%. A condutividade
hidráulica destas rochas também é bastante variável, com valores entre 0,1 m/dia e 10
m/dia, com média em torno de 1,0 m/dia. Por se tratarem de litologias altamente bandadas,
os itabiritos e hematitas desta unidade apresentam uma elevada anisotropia na
condutividade hidráulica, chegando a valores até dez vezes superiores ao longo da foliação,

104
se comparado aos valores de condutividade hidráulica na direção ortogonal à esta direção.
Segundo as medições realizadas no ano de 2002, os sete poços perfurados neste aqüífero,
na cava da mina, apresentaram vazão média de 490 m3/h.

O nível d'água dos piezômetros do Aqüífero Cauê antes da operação dos poços encontrava-
se, em média, entre as cotas 960 e 970 metros.

• Aqüífero Gandarela
Os dolomitos usualmente não constituem bons aqüíferos, sendo tratados na literatura do
Quadrilátero Ferrífero como aquicludes ou aquifugos. O comportamento local desta
unidade é de um aqüífero fissural cárstico em que a circulação e o armazenamento das
águas subterrâneas estão vinculados às cavidades de dissolução das rochas carbonáticas.

Durante o levantamento realizado pela Mdgeo (2002a e 2002b), foram encontradas três
importantes feições cársticas: Uma caverna, na qual está totalmente inserido o córrego
Capim Gordura, situada à montante da estação de bombeamento d'água da mina; outra
caverna, situada na grota que contém as nascentes GS-14 e GS-15 e uma lagoa natural,
situada à jusante da nascente GS-54, interpretada como dolina provocada por dissolução
carbonática.

Os itabiritos dolomíticos e anfibolíticos que ocorrem próximo ao contato com o aqüífero


Cauê, quando alterados, também apresentam comportamento de meio poroso, com
circulação d'água associada aos poros formados pelo intemperismo dos minerais silicáticos
e carbonáticos constituintes destas rochas. Esta unidade comporta-se como um aqüífero,
sendo atribuídos valores de condutividade hidráulica e armazenamento intermediário entre
os itabiritos silicosos e os dolomitos.

A evolução do nível d'água dos piezômetros instalados nos itabiritos da Formação


Gandarela apresenta uma queda gradual desde o início do monitoramento. Esses fatores,
aliados à falta de surgências significativas na Formação Cauê, sugerem que o Aqüífero
Gandarela tenha uma comunicação com ao Aqüífero Cauê, principalmente na interface dos
itabiritos. Atualmente possui nível piezométrico acima da superfície piezométrica do
Aqüífero Cauê. Em média, as nascentes cadastradas sobre os dolomitos da Formação

105
Gandarela encontram-se entre as cotas 850 e 950 metros, com vazões variando entre 0,1 e
1,0 l/s, não sendo observada uma surgência pontual expressiva.

• Aqüífero Cercadinho
Regionalmente constitui o segundo aqüífero mais importante do Quadrilátero Ferrífero.
Corresponde aos quartzitos da Formação Cercadinho, caracterizados como um aqüífero do
tipo granular e fissural. Apresenta-se freqüentemente confinado por intercalações de filitos
da própria formação, fato este que lhe confere uma elevada anisotropia. De forma geral,
trata-se de um aqüífero com elevada porosidade e condutividade hidráulica.

A capacidade de produção d’água deste aqüífero pode ser atestada pela sua ocorrência em
outras localidades, como por exemplo, a cidade de Belo Horizonte, que já foi abastecida
pela água desse aqüífero, tanto através de surgências naturais quanto por poços tubulares.
As surgências d'água cadastradas sobre este domínio ocupam cotas médias entre 850 e
1000 metros, apresentando vazões médias entre 0,1 e 0,5 l/s.

• Aqüífero em Coberturas Detríticas


Os aqüíferos superficiais do Quadrilátero Ferrífero são caracterizados por coberturas de
canga e depósitos gravitacionais de fluxo de detritos (tálus e colúvios).

As cangas não chegam a constituir um aqüífero propriamente dito por ocuparem as cotas
mais elevadas e por serem muito permeáveis, logo rapidamente drenadas. Portanto, a
cobertura de canga tem grande importância na recarga dos aqüíferos locais, principalmente
o Cauê. A canga dificilmente armazena água, mas quando esta é transmitida aos aqüíferos
subjacentes, são águas de rápida infiltração e pequena evaporação. Este é o motivo pelo
quais as águas do Cauê são pouco mineralizadas.

Os depósitos de fluxo de detritos são os aqüíferos mais importantes nas áreas de domínio
de rochas impermeáveis, tais como os xistos, filitos e rochas sedimentares argilosas.
Entretanto, como são muito permeáveis e ocupam áreas com gradiente elevado, a vazão
das drenagens alimentadas apenas por estes aqüíferos diminui consideravelmente no
período de seca. Estes aqüíferos ocupam em geral a mesma área das matas ciliares e são
muito sensíveis ao desmatamento e à erosão. Por serem muito permeáveis e formados por

106
materiais similares à canga, estes aqüíferos também apresentam águas pouco mineralizadas
e com pequena evaporação.

3.12.3.2.AQUITARDOS, AQUICLUDES E AQUIFUGOS


• Aquiclude Nova Lima
Os xistos do Grupo Nova Lima quando intemperizados, são caracterizados como
aquicludes, isto é, são rochas que armazenam água mas não a transmitem.

• Aquiclude Batatal
Esta unidade compreende os filitos sericíticos e grafitosos da Formação Batatal, além dos
filitos, itabiritos carbonáticos, dolomitos e metabásicas da Unidade Transicional. Trata-se
de rochas que se apresentam alteradas, mesmo a grande profundidade, com predomínio de
materiais argilosos. Apresenta nível d’água entre as cotas 950 e 998 m.

Porém, zonas aqüíferas localizadas foram observadas nesta unidade, correspondentes às


pequenas lentes de metachert associadas aos filitos. Estas lentes são meios porosos e
permeáveis totalmente confinadas. Apesar de apresentarem boa permeabilidade, essas
lentes só produzem água quando perfuradas por drenos, e não apresentam recarga quando
exauridas. Desta forma, não são classificados como zonas aqüíferas.

Um dos maiores desafios da mineração no Quadrilátero Ferrífero consiste em drenar os


taludes de mina situados neste aquiclude, devido à sua baixíssima condutividade
hidráulica.

• Aquiclude - Aquifugo Gandarela


A Formação Gandarela pode apresentar também o comportamento aquifugo, quando
predominam os dolomitos não fraturados e sem carstificações, ou mesmo de aquiclude,
quando estes dolomitos apresentam-se intemperizados. O baixo grau de carstificação
associado à colmatação das fraturas por argilas, implica em uma baixa capacidade de
armazenamento e circulação d’água subterrânea para esta unidade.

• Aquiclude em Rochas Básicas


Em todo o Quadrilátero ferrífero são comuns os diques de rochas básicas metamorfisadas

107
concordantes ou não com a foliação. No aqüífero Cauê, são comuns corpos de rochas
básicas compartimentando esta unidade em setores com níveis d’água diferenciados. Em
função do armazenamento d’água, tais rochas podem ser classificadas como aquicludes
quando intemperizadas. No contato com litologias mais permeáveis, estas rochas
encontram-se invariavelmente alteradas.

Esses diques atuam como uma espécie de armadilha estrutural, importantes no processo de
enriquecimento supergênico dos minérios de ferro. Em diversos depósitos ferríferos da
Formação Cauê, pode ser observado de um lado do dique, itabiritos pobres e do outro lado,
itabiritos ricos ou mesmo hematitas, indicando que estes corpos foram determinantes no
direcionamento do fluxo d’água.

• Aquiclude Fecho do Funil


Composto pelos filitos grafitosos da Formação Fecho do Funil, comporta-se como
aquiclude, salvo pequenas zonas aqüíferas localizadas em descontinuidades de níveis mais
quartzíticos desta unidade.

• Aquiclude em Coberturas Detríticas Argilosas


Representados por depósitos gravitacionais de fluxo de detritos de matriz argilosa, argilas e
brechas laterizadas, configuram um aquiclude superficial do tipo granular. Ocorrem na
porção central da área, em uma depressão oval de 1,5 x 1,0 km sobre os dolomitos da
Formação Gandarela, possivelmente decorrentes de processo de dissolução carbonática e
conseqüente perda de volume desses dolomitos (Geoestrutural, 2002a e 2002b).

3.12.4.MODELO HIDROGEOLÓGICO
Em regime permanente foram analisadas as condições do aqüífero em seu estado de
equilíbrio com o tempo tendendo a infinito e, em regime transitório, simulou-se o aqüífero
no seu estado de não-equilíbrio, sendo necessário determinar o tempo de duração da
simulação. Um dos principais objetivos em elaborar o modelo hidrogeológico
computacional em regime transiente é analisar as condições hidrodinâmicas do sistema
avaliando suas conseqüências hidrológicas provocadas pelo rebaixamento das águas
subterrâneas na cava.

108
3.12.4.1.CALIBRAÇÃO DO MODELO
A calibração foi feita para o período hidrológico compreendido entre maio de 2004 a abril
de 2005. Na calibração em regime permanente, os valores de vazão dos vertedouros, das
cotas d’água dos piezômetros, da quantidade de água bombeada da mina e da recarga
efetiva foram tomados segundo as médias globais no período hidrológico considerado.

As taxas de bombeamento de água para a mina de Gongo Soco, previstas no plano de lavra
para os anos de 2009 e 2013, são, respectivamente, de 13.305 e de 14.813 m3/dia. A Vale
possui outorga do IGAM (vazão outorgada) de 670 m3/h até o ano 2011 (670 m3/h x 24
h/dia = 16.080 m3/dia) garantindo desta forma o rebaixamento do N.A. além de 2011. Deve
ser ressaltado que o plano de lavra final foi alterado (2014) e em 2010 deverá ser revisto,
pois o “bottom pit” neste ano já estará na elevação 844 metros, 12 metros abaixo do
cenário hidrogeológico analisado pela Hidrovia (2007).

Outra questão que deve ser destacada é em relação aos estudos geotécnicos. Considerou-se
a continuidade do rebaixamento ao longo do tempo através dos poços de bombeamento e
dos drenos sub-horizontais adotando como premissa o afastamento do nível de água da
face do maciço em torno de 25 m e o rebaixamento na formação ferrífera em pelo menos
um banco (13 metros). Tal análise deverá ser revisada pela Vale visando garantir não só o
rebaixamento do N.A. como também a estabilidade da cava.

3.12.4.2.UNIDADES HIDROESTRATIGRÁFICAS
Doze unidades hidroestratigráficas que correspondem às unidades geológicas que
apresentam uma diferenciação no comportamento do fluxo subterrâneo foram consideradas
para concepção do modelo dentro e fora da cava. As principais unidades hidrogeológicas
que comandam a maior parte do sistema de fluxos subterrâneos no domínio de abrangência
da mina de Gongo Soco são os sistemas aqüíferos conformados pelas formações ferríferas
(itabiritos e hematitas). As rochas dolomíticas, conforme apontado também por Mdgeo
(2003), mostram-se com um potencial aqüífero elevado, mas condicionado apenas às zonas
de maior percolação em fraturas e em contatos geológicos com outras ocorrências
litológicas.

De acordo com a Hidrovia (2007) de maneira geral, os fluxos subterrâneos estão regidos
pela condição de aqüíferos livres sob o controle da pressão atmosférica, com tendências a

109
acompanhar os gradientes topográficos, sendo que, localmente, podem existir faixas de
aqüíferos confinados com a ocorrência de artesianismo. Desse modo, em face da presença
de zonas de topografia mais elevada nas porções oeste e norte em relação à área da cava,
pode-se esperar um sentido de fluxos de oeste para leste em nível regional, e de norte para
sul localmente. Esses fatos são corroborados por Mdgeo (2003), tanto pelas simulações
numéricas desenvolvidas quanto pelos estudos de datação das águas subterrâneas.

3.12.4.3.ZONAS DE RECARGA
Quanto à recarga das águas subterrâneas, a experiência obtida em outros estudos realizados
no Quadrilátero Ferrífero indica um intervalo típico de valores compreendidos entre 10 e
30% do valor da precipitação, podendo alcançar, em alguns casos, valores acima de 40%
da precipitação, Lazarini (1999).

Estabeleceu-se duas zonas distintas de recarga sendo uma na área direta da cava (zona de
recarga 1) e outra no restante do domínio de cálculo (zona de recarga 2), conforme
apresentado na Figura 3.23. O valor da recarga a que se chegou durante o processo da
calibração na zona 1 correspondeu a 40% da precipitação anual, ou seja, 673 mm/ano,
enquanto na zona 2 a recarga foi de 35% da precipitação anual, equivalente a 589 mm/ano.

Figura 3.23 - Zonas de recarga - modelo hidrogeológico de Gongo Soco.


Fonte: Hidrovia, 2007.

110
3.12.4.4.CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA
Os valores de condutividade hidráulica1 das unidades hidroestratigráficas adotados no
modelo, após os procedimentos finais de calibração, são apresentados na Tabela 3.8.

Tabela 3.8 - Valores finais de condutividade hidráulica adotados no modelo hidrogeológico computacional da
mina Gongo Soco.

Fonte: Hidrovia, 2007.

De modo geral, adotou-se uma anisotropia das condutividades hidráulicas no eixo z, com
uma ordem de grandeza inferior aos demais eixos. Apenas na Formação Cauê (itabiritos) e
na hematita também foi adotada uma anisotropia horizontal, de modo que a condutividade
hidráulica no eixo x foi uma ordem de grandeza maior do que no eixo y. Esta prerrogativa
levou em consideração a calibração obtida no modelo numérico realizado por Mdgeo
(2003) e pelo fato de que nestas duas unidades, o fluxo é predominantemente condicionado
pelas foliações, que possuem direção principal EW. A condutividade hidráulica vertical
nestas duas unidades foi cerca de 5 vezes menor do que ky, obtida através da calibração
dos resultados.

Quanto às vazões de água, a calibração em regime permanente se deu a partir do balanço


hídrico de oito sub-bacias hidrográficas, denominadas de zonas de balanço hídrico,
numeradas pelos algarismos 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 (Figura 3.24).

1
Condutividade hidráulica é um parâmetro que traduz a facilidade com que a água se movimenta ao longo do perfil do solo.

111
Figura 3.24 - Zonas de balanço hídrico.
Fonte: Hidrovia, 2007.

O resultado do balanço hídrico conseguido na calibração é apresentado na Tabela 3.9.

Tabela 3.9 - Resultados da calibração das vazões de água.


Zona de balanço Instrumentação Valor de campo Valor simulado Diferença
hídrico do de medição (m3/d) ModFlow percentual
ModFlow (vertedouros) (m3/d) (%)
3 V07 17.136 15.862 -7,4
5 V06 8.309 6.722 -19,1
Fonte: Hidrovia, 2007.
De acordo com a Tabela 3.9 a comparação entre os valores de drenagens superficial
simulados e medidos em campo na Zona 3 (córrego Capim Gordura) indica uma variação
de 7,4 %. Já na Zona 5 (córrego Congo Velho), monitorada pelo vertedouro V06, os
valores simulados foram 19,1 % menores do que os observados. Em ambos os casos, os
valores calculados estão abaixo dos valores monitorados. Tal observação é coerente com o
processo de modelagem, pois os valores monitorados nos vertedouros nos períodos de
chuva também incluem a contribuição do escoamento superficial que não é contabilizada
no modelo. A rede de vertedouros de Gongo Soco pode ser observada na Figura 3.25.

112
3.12.4.5.CALIBRAÇÃO DO MODELO COMPUTACIONAL – REGIME TRANSIENTE

A calibração do modelo em regime transitório consistiu em comparar os resultados de


carga hidráulica versus tempo. Sendo assim, utilizou-se as médias mensais dos valores de
vazão dos vertedouros, das cotas d’água dos piezômetros, da quantidade de água bombeada
da mina e da recarga efetiva. A composição dos dados para calibração foi feita a partir de
informações fornecidas por 36 piezômetros, 17 poços de bombeamento (vazão de 14.218
m3/dia) e 02 vertedouros (V06 e V07) que registraram vazões médias de 8.309 m3/d e
17.136 m3/d, respectivamente.

O período hidrológico considerado (2004-2005) para a calibração transiente foi em


intervalos mensais, obedecendo à quantidade de dias em cada mês. Os valores de vazão de
cada poço de bombeamento foram obtidos a partir da média aritmética simples mensal de
cada poço.

Os valores da recarga mensal obedeceram às mesmas proporções obtidas na calibração em


regime permanente, ou seja, o valor da recarga na Zona 1 (fundo da cava) é de 40% do
valor da precipitação mensal observada na mina de Gongo Soco, e na Zona 2 esta taxa é de
35%, conforme observado na Tabela 3.10.

Tabela 3.10 - Valores da recarga utilizados na calibração transiente.


Recarga efetiva média
Agenda temporaral Recarga Recarga
Precipitação (mm/mês) (mm/mês)
Ano Mês Intervalo de Quant. observada Zona de recarga 1 Zona de recarga 2
Tempo dias (mm/mês) (Fundo da cava) (restante)
40% precipitação 35% precipitação
Mai 1 31 31 44 18 15
Jun 32 61 30 3 1 1
Jul 62 92 31 55 22 19
Ago 93 123 31 0 0 0
2004 Set 124 153 30 0 0 0
Out 154 184 31 74 30 26
Nov 185 214 30 172 69 60
Dez 215 245 31 448 179 157
Jan 246 276 31 334 134 117
Fev 277 304 28 156 62 55
2005 Mar 305 335 31 350 140 123
Abr 336 365 30 47 19 16
Totais (mm/ano) 1684 673 589
Fonte: Hidrovia, 2007.

114
As zonas de balanço hídrico monitoradas na mina de Gongo Soco são as zonas
representativas das sub-bacias 3 e 5, referem-se aos córrego Capim Gordura (zona 3) e
Congo Velho (zona 5). A Tabela 3.11 apresenta uma análise comparativa em torno dos
valores das vazões medidas em campo e simuladas pelo modelo.

Tabela 3.11 - Quadro comparativo do balanço hídrico das zonas 3 (córrego Capim Gordura) e 5 (córrego
Congo Velho).
Zona 3 – córrego Capim Gordura
Instrumentação de medição – vertedouro V07
Tempo Valor de campo Valor simulado - ModFlow Diferença percentual
(dias) (m3/dia) (m3/dia) (%)
31 13.997 15.056 7,6
61 12.874 14.151 9,9
92 11.923 14.265 19,6
123 26.957 13.440 -50,1
153 12.182 13.067 7,3
184 24.106 13.592 -43,6
214 11.923 14.767 23,9
245 31.068 18.586 41,9
276 19.699 18.783 -4,6
304 10.800 17.151 58,8
335 15.898 19.505 22,7
365 13.306 16.376 23,1
Zona 5 – córrego Congo Velho
Instrumentação de medição – vertedouro V06
Tempo Valor de campo Valor simulado - ModFlow Diferença percentual
(dias) (m3/dia) (m3/dia) (%)
31 5.875 6.351 8,1
61 4.493 5.916 31,7
92 7.517 6.001 -20,2
123 5.098 5.608 10,0
153 2.333 5.446 133,4
184 4.925 5.723 16,2
214 2.592 6.310 143,4
245 11.837 8.143 -31,2
276 23.242 8.165 -64,9
304 6.134 7.351 19,8
335 16.243 8.452 -48,0
365 9.418 6.936 -26,4
Fonte: Hidrovia, 2007.

As vazões simuladas pelo modelo representam satisfatoriamente o regime hídrico dos


cursos d´água na região (Hidrovia, 2007).

3.12.5.SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS HIDROGEOLÓGICOS FUTUROS


As simulações das futuras condições hidrogeológicas em regime transiente tiveram como
premissa o plano de lavra visando prever o impacto ambiental nas águas superficiais das
sub-bacias hidrográficas circunvizinhas à mina de Gongo Soco, provocado pelo
rebaixamento das águas subterrâneas na cava. A estratégia adotada para simular uma
condição representativa do sistema de rebaixamento do nível d’água, foi criar uma zona de

115
balanço hídrico adicional, denominada Zona 11 (Figura 3.26).

Figura 3.26 - Configuração das zonas de balanço hídrico acrescida da zona 11.
Fonte: Hidrovia, 2007.

A avaliação do impacto do deságüe da mina, diante destes cenários, foi feita a partir da
comparação das estimativas das vazões para cada zona de balanço hídrico, com os
respectivos valores simulados no ano de 2004 (período de calibração do modelo). Os
resultados finais das vazões de água previstos para as zonas de balanço hídrico e as suas
respectivas variações, em relação aos valores das vazões estimadas para ano de 2004, são
apresentados na Tabela 3.12.

Tabela 3.12 - Resultado do balanço hídrico da mina de Gongo Soco para os cenários de 2009 e 2013.
Balanço hídrico dos cenários 2009 e 2013
Zona 2 Zona 3 Zona 5 Zona 6
Ano Cota Vazão Vazão Vazão Vazão
Pit Estimada Variação Estimada Variação Estimada Variação Estimada Variação
(m) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%)
2004 904 3.594 - 15.862 - 6.722 - 6.925 -
2009 880 3.491 -2,9 14.248 -10,2 5.811 -13,6 6.770 -2.2
2013 856 3.491 -2,9 13.850 -12,7 5.531 -17,7 6.631 -4,2

Zona 7 Zona 8 Zona 9 Zona 10


Ano Cota Vazão Vazão Vazão Vazão
Pit Estimada Variação Estimada Variação Estimada Variação Estimada Variação
(m) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%) (m3/dia) (%)
2004 904 3.564 - 5.631 - 14.586 - 4.769 -
2009 880 3.959 11,1 5.303 -5,8 14.440 -1,0 4.733 -0,8
2013 856 3.827 7,4 5.373 -4,6 14.918 2,3 4.713 -1,2
Fonte: Hidrovia, 2007.

116
O principal impacto decorrente do rebaixamento do nível d’água na mina de Gongo Soco
estaria relacionado à possibilidade de redução da vazão de nascentes, sobretudo nas áreas
muito próximas da cava. Conforme já mencionado, desde 2001 estas nascentes são
regularmente monitoradas em termos de vazão e até o momento (março/2008) não se
percebeu nenhuma redução de vazão. A disponibilidade hídrica não foi afetada.

Dentre os corpos de águas superficiais no entorno da cava da mina, apenas naqueles


correspondentes às Zonas 3 e 5 (córregos Capim Gordura e Congo Velho) podem ser
previstos impactos hidrológicos nas vazões. As prováveis reduções das vazões poderão
atingir um máximo de 13,6 e 17,7%, respectivamente. No entanto, parte da água bombeada
dos poços já está sendo direcionada para o córrego do Congo Velho e o mesmo poderá ser
feito no córrego Capim Gordura caso necessário, compensando esta possível redução de
vazão.

A única comunidade que eventualmente poderia ser afetada pelo rebaixamento do nível
d’água da mina, seria o distrito de Socorro, localizado a aproximadamente 3,3 Km ao sul
da cava. No entanto as simulações de rebaixamento e recuperação do nível d’água, atestam
que não ocorrerão impactos hídricos neste local. O nível d’água em Gongo Soco é
suficientemente profundo para que nenhuma vegetação freatófila retire água do aqüífero, o
que elimina a possibilidade de serem afetadas. Quanto à fauna, o impacto poderia ocorrer
caso a redução na vazão fosse significativo sem a respectiva reposição, o que não é o caso.
Durante a fase de rebaixamento a disponibilidade de água é sempre crescente e no decorrer
da fase de fechamento da mina tende a ser menor, pois ocorre a recuperação do aqüífero,
no entanto esta menor disponibilidade poderia ser perfeitamente compensada por uma
gestão eficaz dos recursos hídricos, como por exemplo, continuidade da operação de
alguns poços para manutenção das vazões nos córregos.

De acordo com a equipe de hidrogeologia da Vale, com a exaustão da mina e conseqüente


finalização do rebaixamento, é previsto que a posição original do nível d’água, no entorno
da cava, volte a sua posição original após 13,5 anos, caso se utilize a cava para acúmulo de
água – lago.

Em todos os demais córregos representados pelas zonas de balanço hídrico 2, 6, 7, 8, 9 e

117
10, os impactos do rebaixamento do N.A. encontram-se dentro de uma faixa de variação de
até 5,8% (zona 8). Nestas sub-bacias não são esperados impactos potenciais, e os
resultados corroboram o modelo conceitual, segundo o qual o fluxo subterrâneo a norte da
mina tem seu divisor nas vertentes topográficas, onde se encontram materiais de baixa
permeabilidade que atuam como aqüicludes, e também é fortemente condicionado pelo
mergulho estrutural de todo o pacote litológico na direção S-SE.

3.13.ESTUDOS GEOTÉCNICOS DA MINA DE GONGO SOCO


Em 2014 a cava de Gongo Soco terá desnível topográfico da ordem de aproximadamente
500 m na porção norte. Na porção sul o desnível topográfico chegará a 180m e 220m.

De acordo com Innocentini (2003), os primeiros estudos geotécnicos na mina de Gongo


Soco foram feitos em 1992 e retomados em 1998, pela Sérgio Brito Consultoria e
contemplava basicamente análises de estabilidade de taludes de até 100 m. A partir de
2000/2001 após aquisição da mina pela Vale, os estudos geotécnicos foram retomados.
Devido à ausência de uma campanha de ensaios com os solos e rochas da mina de Gongo
Soco, foi baseado apenas no conhecimento especializado dos profissionais envolvidos e na
extrapolação de parâmetros de resistência de outras minas com características similares.

Em 2003, foram realizados 93 furos de sondagem, totalizando cerca de 14.000 m de


testemunhos recuperados, em uma extensa campanha de investigação geológica-
geotécnica. Os objetivos desta investigação incluíram a determinação da profundidade e
extensão das zonas intemperizadas, os contatos entre as litologias, a determinação da
reserva de minério com teores de qualidade, as condições hidrogeológicas e,
principalmente, visaram atender as principais recomendações do estudo anterior de
estabilidade. Os trabalhos de investigação evidenciaram a continuidade da formação
ferrífera com resultados promissores em termos de uma substancial expansão das reservas.
Estimava-se uma reserva lavrável de 74,5Mt de hematita e 38Mt de toneladas de itabirito,
totalizando 112,5Mt. De posse destes novos estudos (levantamentos e investigações
geológicas-geotécnicas) as reservas de Gongo Soco tiveram um acréscimo de 11,56%
totalizando 127,2Mt de minério, sendo 81,2Mt de hematita e 46Mt de itabirito.

118
Em 2003, foram concluídas duas amplas campanhas de ensaios de laboratório para
caracterização geotécnica dos materiais incompetentes e altamente intemperizados e das
rochas relativamente sãs que compõem as feições litológicas da cava de Gongo Soco.

De posse dos estudos geotécnicos e hidrogeológicos, foi possível elaborar o projeto de


expansão da cava, horizonte compreendendo 2007-2014. A partir da geometria proposta
para a cava (2014) e com o auxílio de 09 (nove) seções geológicas foi possível elaborar as
análises de estabilidade.

3.13.1.CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DOS MACIÇOS ROCHOSOS


A complexidade da natureza dos maciços rochosos implica a necessidade de adoção de
ferramentas teóricas que permitam analisar o controle de seu comportamento. Na mina de
Gongo Soco em particular, a descrição geotécnica foi baseada em conceitos e simbologias
internacionais sugeridos pela International Society for Rock Mechanics – ISRM, 2007 –
Suggested Methods. Devido às características geológico-geotécnicas do maciço, os
critérios e parâmetros da ISRM foram associados, ajustados e complementados aos da
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia – ABGE e aos prescritos pela própria
Vale, particularmente em termos dos parâmetros grau de alteração, resistência à
compressão da rocha e espaçamentos das descontinuidades.

As classificações geomecânicas foram propostas inicialmente para escavações


subterrâneas, sendo atualmente muito utilizadas também para taludes de mineração e obras
afins. Segundo Gomes (1991), as tentativas de racionalização dos inúmeros parâmetros
condicionantes do comportamento do maciço, ante a natureza da obra em implantação,
conduziram a sistemas de classificações bem mais elaborados, mediante a setorização do
maciço em classes, através do ordenamento e hierarquização de suas características mais
significativas. Deste modo, pode-se dizer, resumidamente, que as classificações
geomecânicas visam os seguintes objetivos:
 Identificar os parâmetros mais significativos que influenciam no comportamento do
maciço;
 Setorizar o maciço em grupos de comportamento e qualidade geomecânicas
similares;
 Fornecer as características básicas para o entendimento de cada setor ou classe de

119
maciço;
 Relacionar as condições de um local com a experiência encontrada em outros locais;
 Disponibilizar dados quantitativos e diretrizes para projetos de engenharia; e
 Fornecer bases comuns para a comunicação entre engenheiros e geólogos.

Bieniawski (1974) propôs o sistema empírico de classificação geomecânica RMR,


derivado principalmente para a aplicação em projetos de túneis. Com o tempo, um acervo
de dados foi sendo adicionado à classificação, originando significativas mudanças nos
pesos dos diferentes parâmetros de classificação e sua expansão para aplicações em obras
de superfície como fundações e taludes. O sistema RMR utiliza quatro parâmetros para
classificar o maciço rochoso:
Resistência uniaxial do material de rocha;
Índice de qualidade da rocha (RQD);
Espaçamento das descontinuidades; e
Padrão das descontinuidades;

Na classificação de Bieniawski (1989), foram incorporados 2 (dois) novos parâmetros:


ação da água subterrânea e orientação das descontinuidades em relação à escavação e da
natureza da obra. Além destes, foram unidos o espaçamento com as características das
descontinuidades.

O sexto parâmetro é adotado separadamente porque as influências das orientações das


descontinuidades dependem das aplicações de engenharia, tais como túneis, minerações,
taludes e fundações. Este parâmetro não é definido de modo quantitativo, mas sim,
qualitativo (favorável e desfavorável). A aplicação de uma classificação geomecânica na
mina de Gongo Soco foi adotada para permitir a individualização e compartimentação de
grupos de maciço com propriedades de resistência e de deformabilidade distintas. A
definição do sistema de classificação geomecânica baseou-se na premissa de que a
experiência profissional, através da vivência e participação nos estudos de vários projetos
de dimensionamento de taludes, tem contribuição fundamental na elaboração e adequação
de uma determinada classificação clássica, para identificar os tipos de maciço que ocorre
num determinado sítio de projeto (Mangolim et al, 1976).

120
Para a mina de Gongo Soco, adotou-se a classificação de Bieniawski (1974) para a
identificação dos tipos de maciço que ocorrem na mina, pois é uma classificação de ampla
aplicação e de domínio generalizado no meio técnico. A Tabela 3.13 apresenta os
parâmetros de classificação, bem como os pesos relativos para a composição das classes de
maciços (RMR), utilizados pela Gerência de Geotecnia e Hidrogeologia – GAGHS/VALE.

Tabela 3.13 - Parâmetros de classificação de maciços (modificado de Bieniawski, 1974).

Utilizar ensaio
Compressão
> 8 Mpa 4-8 MPa 2-4 Mpa 1-2 MPa de compressão
Puntiforme
simples

Resistência Resistência
10-25 MPa
1 da rocha à 50-100
> 200 MPa 100-200 MPa 25-50 MPa 3-10 MPa
Intacta Compressão Mpa
1-3 MPa
Simples
2
Peso 15 12 7 4 1
Relativo 0
R.Q.D.% 90-100 75-90 50-75 25-50 < 25
2
Peso Relativo 20 17 13 8 3
Espaçamento de Fraturas >3m 1-3m 0,3 – 1 m 50-300 mm < 50 mm
3
Peso Relativo 30 25 20 10 5
Superfícies
Superfícies Superfícies
muito Superfícies
pouco estriadas ou Preenchimento
rugosas. pouco
rugosas. preenchiment mole >5 mm ou
Não rugosas.
4 Condições das Fraturas Separação o <5 mm ou abertura >5 mm.
contínuas. Separação <1
>1 mm. abertura 1-5 Fraturas
Fechadas. mm. Paredes
Paredes mm. Fraturas contínuas
Paredes duras.
moles. contínuas.
duras.
Peso Relativo 25 20 12 6 0

A Tabela 3.14 apresenta as diferentes classes de maciços estabelecidas pela classificação


de Bieniawski (1974). Como esta classificação não engloba os solos estruturados rijos e
rochas extremamente alteradas brandas e moles, como os saprolitos, estas unidades foram
agrupadas numa classe designada como VI. A Tabela 3.15 apresenta uma descrição das
zonas de ocorrência versus a classe do maciço presente na mina de Gongo Soco.

Tabela 3.14 - Classes de maciços e seus respectivos RMR adotados na mina de Gongo Soco (modificado de
Bieniawski, 1974).
CLASSE I II III IV V VI

RMR 100 - 80 80 – 60 60 – 40 40 – 20 20 – 0 -

Qualidade Muito Solo


Bom Regular Pobre Muito pobre
do Maciço bom coesivo

121
Tabela 3.15 - Distribuição e zonas de ocorrência de classes de maciço na mina de Gongo Soco.
Classe de Zonas de ocorrência na área da mina de Gongo Soco
Maciço
♦ Todo o pacote de paleocolúvio laterizado;
♦ Horizonte superficial afetado por ações intempéricas em todos os litotipos da mina;
♦ Grande parte da porção central da formação ferrífera até as profundidades previstas
para a lavra;
♦ Níveis profundos (mais de 100 m) nos pacotes de filito da Formação Batatal e da
Classe VI Unidade transicional e nos dolomitos Gandarela;
♦ Ao longo de falhas com superfícies estriadas e espelhadas e a maioria dos contatos
geológicos entre litotipos;
♦ Horizontes centimétricos e decimétricos, controlados, principalmente, pela foliação;
no interior dos maciços Classes II, III, IV e V em todas as unidades tecto-
estratigráficas.
♦ Horizontes adjacentes aos maciços Classes III e IV, junto dos pontões rochosos
principais da mina;
Classe V ♦ Níveis isolados dentro dos maciços de solo residual (Classe VI);
♦ Horizontes decimétricos a métricos controlados principalmente pela foliação, no
interior dos maciços Classes II, III e IV, em todas as unidades tecto-estratigráficas.
♦ Horizontes controlados pela foliação na formação ferrífera;
♦ Pontões isolados no interior de todo o empilhamento tecto-estratigráfico,
Classe IV
principalmente nas Formações Batatal, Unidade transicional e Gandarela;
♦ Zonas transicionais nas bordas dos maciços Classes III e II.
♦ Horizontes controlados pela foliação na formação ferrífera, notadamente aqueles
mais ricos em hematita;
Classe III
♦ Pontões no Grupo Caraça e raramente na Formação Gandarela;
♦ Zonas transicionais nas bordas dos maciços Classe II.
♦ Níveis profundos do Grupo Nova Lima, das Formações Moeda e Batatal e da
Classe II Unidade Transicional;
♦ Níveis profundos na formação ferrífera dados por hematitas compactas e itabiritos.
Fonte: VALE e Innocentini, 2003.

3.13.2.CRITÉRIOS GEOMECÂNICOS APLICADOS AOS TALUDES DA CAVA


De acordo com Innocentini (2003) e com base em uma avaliação global dos estudos
existentes, dentre os quais se destaca a modelação geológica da mina, a investigação
geotécnica, estudos hidrogeológicos e a caracterização geomecânica dos maciços rochosos
da cava, tornou-se possível explicitar, em termos preliminares, uma visão contextualizada
do potencial do comportamento geotécnico dos taludes da mina de Gongo Soco.

Em relação ao talude norte, a identificação criteriosa do corpo de talco na formação


ferrífera, dos corpos de filitos (sericíticos e grafitosos) do Grupo Caraça e das lentes de
quartzo xisto e metachert do Grupo Nova Lima foi fundamental para a elaboração do
modelo geomecânico do maciço. O corpo de talco ocorre no contato de base do corpo de
hematita com o itabirito silicoso, mostrando-se sempre alterado. Por possuir baixa
característica de resistência, seu posicionamento espacial pode condicionar rupturas de
taludes.

122
Os filitos normalmente encontram-se bastante decompostos até várias dezenas de metros, e
também possuem baixas características de resistência, sendo um dos componentes que
certamente influenciam no comportamento geotécnico dos taludes. São também
importantes para a compreensão do comportamento do maciço, outras formações
litológicas, como a Unidade Transicional e as rochas básicas, que ocorrem em forma de
diques.

O talude norte, constituído por xistos, quartzitos, filitos e formação ferrífera possui
foliação subparalela à direção geral dos taludes, com mergulho entre 55o e 60o para o
interior da cava, portanto em posição desfavorável à estabilidade.

O talude sul apresenta foliação com mergulho para dentro do maciço, em torno de 60°,
portanto em situação aparentemente favorável. Ressalta-se que mesmo tendo mergulho
favorável, rupturas condicionadas por tombamento de blocos já foram observadas quando
da setorização da cava.

Com efeito, a obtenção de ângulos de taludes mais favoráveis para a relação


custo/benefício analisou-se a possibilidade de se conseguir soluções viáveis para a
diminuição da pressão de água aprisionada nos quartzo-xistos/metacherts do Grupo Nova
Lima e nos quartzitos do Grupo Caraça. No talude sul, onde ocorre a Formação Gandarela,
poderão ocorrer processos de subsidência, devido ao rebaixamento que vem sendo
executado para a operação de lavra. Estas subsidências poderão acarretar instabilidades
localizadas de taludes, fato que deverá ser analisado durante o desenvolvimento dos
estudos (Innocentini, 2003).

De acordo com Innocentini (2003), a Unidade Transicional, o filito e o itabirito silicoso são
as litologias de maior heterogeneidade, tanto em superfície quanto em profundidade (fato
constatado através de testemunhos de sondagem, que mostraram uma compartimentação
do maciço em duas áreas, uma situada a oeste da mina, onde há predomínio de material de
aspecto de solo, enquanto que, a leste, há certa influência de material mais resistente). As
outras unidades (xisto e quartzito) apresentam apenas dois comportamentos distintos, um
nível superficial mais alterado (domínio de solo) e outro mais são (rocha) em
profundidade. Instabilidades locais foram detectadas na região norte da cava devido ao

123
intenso intemperismo dos materiais, associadas às condições críticas do nível d’água local
(elevado grau de saturação e surgências de água).

3.13.3.ESTUDOS GEOTÉCNICOS APLICADOS AOS TALUDES DA MINA DE


GONGO SOCO
Os estudos de estabilidade realizados nos taludes norte, sul, oeste e leste da cava da mina
de Gongo Soco foram elaborados/revisados pelas Gerências de Projetos de Longo Prazo –
GALPS e de Geotecnia e Hidrogeologia – GAGHS em 2006.

A Figura 3.27 mostra em planta a configuração projetada para a cava 2013 que passou a
ser definida posteriormente pela Vale como cava de 2014. Tal figura ilustra também a
indicação das seções analisadas que subsidiaram as análises de estabilidade.

Figura 3.27 - Planta da cava de 2014 com indicação das seções analisadas.
Fonte: GAGHS/GALPS-VALE/2006.

De acordo com o relatório de estabilidade (Vale, 2006) o modelo geomecânico da mina de


Gongo Soco foi baseado no levantamento elaborado pela Golder no ano de 2003. A partir
do nível de investigação de subsuperfície disponíveis em furos de sonda até aquela data e o
mapeamento de superfície, o entendimento do arcabouço geoestrutural e o comportamento
geomecânico do maciço são bem conhecidos. As seguintes conclusões foram formuladas a

124
partir do modelo geomecânico:
a. O conjunto do Supergrupo Minas é portador de várias formações no domínio da cava,
das quais se destacam a Moeda, Batatal, Unidade Transicional, Cauê e a Gandarela. O
conjunto de litotipos é bastante foliado, onde esta estrutura é uma feição onipresente e
persistente na mina, com mergulho preferencialmente moderado (40° a 60°) para sul e
direção E-W a ENE-WSW, em geral concordante com a distribuição litológica;
b. O empacotamento do Supergrupo Minas na área da mina encontra-se, em geral, na
posição normal e a partir do limite norte da cava, é constituído, da base para o topo,
pelas seguintes formações:
 Formação Moeda – Quartzitos e quartzitos microconglomeráticos;
 Formação Batatal – Filitos grafitosos e raros quartzitos;
 Unidade transicional – Filitos dolomíticos predominantes, filitos sericíticos e metacherts
ferríferos;
 Formação Cauê – Hematitas, por vezes com talco, e itabiritos silicosos ou carbonáticos;
 Formação Gandarela – Dolomitos ferruginosos ou não, itabiritos carbonáticos, filitos
dolomíticos e filitos manganesíferos.
c. O Grupo Nova Lima ocorre de forma sotoposta ao Supergrupo Minas e é constituído
por duas seqüências básicas: quartzo-clorita-xistos com níveis de formações ferríferas
bandadas e um pacote de sericita-xistos grafitosos com lentes de quartzito e quartzo-
xisto;
d. Ocorrem dois níveis principais de rochas metamáficas intrusivas posicionadas
subconcordantemente às seqüências do talude norte, causando deslocamentos tectônicos
no empacotamento normal do Supergrupo Minas;
e. As Formações Moeda, Batatal, Unidade transicional e Cauê, além do Grupo Nova
Lima, formam o principal talude da cava (norte – altura máxima de aproximadamente
500 m para esta cava) e contém o maior potencial para problemas geotécnicos passíveis
de ocorrência, principalmente pela presença de litotipos extremamente alterados e
saturados, apresentando baixa resistência ao cisalhamento, como é o caso do filito
Batatal e da Unidade Transicional. A Formação Gandarela formará a maior parte do
talude sul da cava, de menor altura do que o norte, com aproximadamente 200 m de
altura máxima;
f. Em decorrência da variação da resistência aos agentes intempéricos, o perfil de
alteração apresenta um padrão serrilhado, onde as unidades mais resistentes,

125
constituídas por rocha pouco alterada, ocorrem na forma de pontões, delineados pela
foliação;
g. A distribuição dos pontões de rocha pouco alterada governa a setorização geomecânica
do maciço, pois tem grande influência no dimensionamento dos taludes, podendo
resultar em ângulos mais íngremes;
h. Fora das zonas de ocorrência dos pontões resistentes, o maciço se apresenta bastante
alterado, com resistência similar a de um solo residual, ou saprolito, podendo gerar
rupturas controladas pelo mecanismo do tipo circular e plano circular.

3.13.4.ANÁLISE DE ESTABILIDADE DA CAVA DE GONGO SOCO


As análises de estabilidade foram realizadas com o auxílio do programa computacional
Slide, versão 5.01, com superfície de ruptura circular, empregando o método do equilíbrio
limite. Foi considerada nas análises de estabilidade a anisotropia dos parâmetros de
resistência em relação às superfícies de ruptura.

Para o talude norte foram adotados parâmetros oblíquos à foliação quando as superfícies de
ruptura interceptam o maciço com ângulos menores do que 35° e maiores que 65°. Quando
as superfícies de ruptura interceptam o maciço com ângulos variando entre 35° e 65° foram
adotados parâmetros paralelos à foliação. Estes ângulos foram adotados
conservadoramente diferentes das medidas obtidas da foliação no talude norte, que se
apresenta entre 40° e 60°. Para o talude sul da cava de Gongo Soco, os parâmetros de
resistência foram adotados sempre oblíquos à foliação.

A posição do nível de água no maciço foi adotada com base na posição atual do nível de
água, obtido através das leituras dos piezômetros existentes na mina, considerando a
continuidade do rebaixamento ao longo do tempo através dos poços de bombeamento e
drenos subhorizontais, adotando como premissa o afastamento do nível de água da face do
maciço em torno de 25 m e o rebaixamento na formação ferrífera em pelo menos um banco
(13 m).

De acordo com a Figura 3.28, observa-se o gráfico comparativo do volume de água


bombeado dos poços de rebaixamento do N.A, onde a capacidade instalada atual é de 520
m3/h. Bombeia-se atualmente um volume de 370 m3/h (março/2008).

126
O monitoramento do nível da água da mina de Gongo Soco é feito por 44 piezômetros
distribuídos da seguinte maneira: 11 piezômetros na Formação Ferrífera (Formação Cauê),
11 na Unidade Transicional, 06 na Formação Batatal (filito Batatal), 07 na Formação
Moeda (quartzito Moeda) e 09 no Grupo Nova Lima (xisto Nova Lima), ver localização
desta instrumentação na Figura 3.29.

GRÁFICO COMPARATIVO DE VOLUMES 2001 - FEV/2007 (m3/h)


MINA GONGO SOCO

600
PGS09 E 11 PGS18
550 PGS19
PGS10
PGS14
500

450 PGS08
PGS06 e 07
400

350 PGS13
300
PGS20
PGS01 PGS05 PGS12 PGS15, 16 E 17
250
PGS21
CAPACIDADE INSTALADA
200

CAPACIDADE OPERACIONAL
150

VOLUME BOMBEADO
100

50 PGS04
PGS03
0
PGS02
out/01 fev/02 jun/02 out/02 fev/03 jun/03 out/03 fev/04 jun/04 out/04 fev/05 jun/05 out/05 fev/06 jun/06 out/06 fev/07

Figura 3.28 - Volume bombeado dos poços de rebaixamento (Outubro de 2001 a Fevereiro de 2007).
Fonte: VALE, abril/2007.

3.13.4.1.PRINCIPAIS CONDICIONANTES DA ESTABILIDADE DOS TALUDES


As principais condicionantes da estabilidade dos taludes da cava de Gongo Soco são:
 Parâmetros de resistência ao cisalhamento, coesão e ângulo de atrito dos materiais
constituintes dos taludes;
 Posição do nível de água no maciço;
 Foliação, principal estrutura condicionadora da estabilidade do talude, que se
apresenta na porção norte da cava, paralela e subparalela à face do talude com
ângulo variando entre 40° e 50°.

127
3.13.4.2.PARÂMETROS GEOTÉCNICOS ADOTADOS
Os parâmetros de resistência ao cisalhamento, coesão (c’) e ângulo de atrito (φ‘), e os
pesos específicos dos materiais utilizados nas análises de estabilidade, foram obtidos a
partir de resultados de ensaios laboratoriais realizados nos litotipos presentes na mina
durante a elaboração dos estudos realizados pela RDIZ (2001) e Geoestrutural (2002b). A
Tabela 3.16 mostra os parâmetros de resistência adotados.

Tabela 3.16 - Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento Adotados – Mina de Gongo Soco.


PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA AO
CISALHAMENTO
CLASSES Coesão Ângulo de Atrito
Peso
DO (kPa) (graus)
LITOLOGIAS Específico
MACIÇO
γ (KN/m³) ⁄⁄ ∠ ⁄⁄ ∠
V / VI 17 35 60 25 30
IV 20 - 100 - 30
Xisto Nova Lima
II 29 - 1000 - 36
V / VI 25 20 40 32 36
Quartzito II 26 - 500 - 46
VI 18 20 40 25 28
Filito Batatal IV 22 - 100 - 30
VI 20 20 40 26 30
Unidade Transicional VI 20 20 40 36 36
IV 22 - 80 - 36
Itabirito Carbonático III 24 - 200 - 38
VI 24 30 50 32 34
V 24 - 60 - 37
Itabirito
IV 26 - 100 - 38
Itabirito Talcoso VI 20 - 0 - 25
Hematita VI 30 60 90 32 40
Hematita Talcosa VI 20 - 0 - 20
Dolomito VI / V 20 - 20 - 32
Filito Dolomítico VI / V 20 - 20 - 28
Depósito Terciário VI / V 20 - 20 - 30
Intrusiva VI / V 20 - 20 - 25
Obs.: // paralelo à foliação
∠ oblíquo à foliação

Os fatores de segurança mínimos admissíveis adotados como premissa, foram FS = 1,20


para taludes operacionais, e de 1,30 para os taludes finais. Os resultados obtidos
apresentaram fatores de segurança maiores do que 1,30 em praticamente todas as seções.
As exceções foram na seção 647056 no talude Sul, com FS igual a 1,116, obtido para uma
superfície de ruptura superficial localizada na região da hematita talcosa, não
comprometendo a segurança global do talude; a seção 1 esconsa ao talude norte em que o
FS obtido foi de 1,227, próximo ao mínimo admissível; e a seção 5 no talude norte/oeste
com FS de 1,129.

129
Para o caso da seção 5, em que o FS obtido ficou em torno de 15% abaixo do fator de
segurança mínimo admissível de 1,3. Foi proposto, pela geotecnia, uma mudança na
geometria da cava na região do entorno da seção 5. Essa mudança prevê o alargamento do
banco na elevação EL.1084 m para 33 m e a alteração do ângulo geral entre as elevações
940 m e 1084 m para 29°, e acima da elevação 1084 m para 31°, removendo o filito e a
Unidade Transicional alterados da face do talude. Estas alterações permitiram o acréscimo
do FS para 1,307 neste setor da mina. Deve-se reiterar também a importância na
manutenção do rebaixamento do nível de água tanto na formação ferrífera quanto nas
litologias condicionantes da estabilidade dos taludes, unidade transicional (UT), filitos
(FL) e dolomitos (DOL).

Tabela 3.17 - Resultados das Análises de Estabilidade - Cava Projetada 2014.


Taludes Superfície Fatores de
da de Segurança
Seção Figuras Observações
Cava Ruptura Obtidos
Superfície de Ruptura entre as elevações 844
Norte Global 1,375 Figura 3.30
e 940 m.
646506
Superfície de Ruptura entre as elevações 928
Sul Global 1,434 Figura 3.31
e 1012 m.
Superfície de Ruptura entre as elevações 905
646706 Sul Global 1,460 Figura 3.32
e 1005 m.
Superfície de Ruptura entre as elevações 835
646806 Norte Global 1,419 Figura 3.33
e 936 m.
Superfície de Ruptura entre as elevações 850
Sul Localizada 1,116 Figura 3.34
e 868 m na hematita talcosa
647056
Superfície de Ruptura entre as elevações 893
Sul Global 1,356 Figura 3.34
e 1024 m.
Superfície de Ruptura entre as elevações 867
1 Norte Global 1,227 Figura 3.35
e 1087 m.
Superfície de Ruptura entre as elevações 840
2 Norte Global 1,301 Figura 3.36
e 1047 m.
Superfície de Ruptura entre as elevações 870
3 Norte lobal 1,454 Figura 3.37
e 940 m.
Superfície de Ruptura entre as elevações 898
Sul Global 1,393 Figura 3.38
e 1106 m.
4
Superfície de Ruptura entre as elevações 967
Sul Localizada 1,355 Figura 3.38
e 1027 m no Dolomito
Superfície de Ruptura entre as elevações 946
1,129 Figura 3.39
Norte/ e 1120 m
5 Global
Oeste Superfície de Ruptura entre as elevações
1,307 Figura 3.40
1084 e 1203 m
Fonte: VALE/GAGHS – Janeiro/2006.

130
Figura 3.30 - Seção 646506 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,375).

Figura 3.31 - Seção 646506 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,434).

Figura 3.32 - Seção 646706 Talude Sul – Superfície de Ruptura Global (FS=1,460).

131
Figura 3.33 - Seção 646806 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,419).

Figura 3.34 - Seção 647056 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,356). Ruptura de Face - Hematita Talcosa
(FS=1,116).

Figura 3.35 - Seção 1 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,227).

132
Figura 3.36 - Seção 2 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,301).

Figura 3.37 - Seção 3 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,454).

Figura 3.38 - Seção 4 Talude Sul – Ruptura Global (FS=1,393) e Localizada (FS=1,355).

133
Figura 3.39 - Seção 5 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,129).

Figura 3.40 – Seção 5 Talude Norte – Superfície de Ruptura Global (FS=1,307).

As análises de estabilidade realizadas mostram algumas informações importantes:


 Os fatores de segurança adotados são mais arrojados que os usualmente adotados
tanto para taludes finais;
 Ao analisar as Figuras 3.31, 3.32, 3.34, 3.38, 3.39 e 3.40 observa-se que os fatores
de segurança (FS) não estão inseridos no interior de uma mesma faixa de FS, ou
seja, não é possível garantir que os FS são mesmos os de menor valor;
 Não foram realizadas análises de estabilidade sem o rebaixamento do NA nos
taludes (situação não drenada), principalmente do talude norte.

134
CAPÍTULO IV
4.DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE GONGO SOCO
Parte dos textos apresentados neste capítulo foram extraídos de estudos ambientais da
Nicho (2003) e Lume (2006). Cabe ressaltar que o autor desta dissertação foi coordenador
técnico destes estudos.

4.1.MEIO FÍSICO

4.1.1.GEOLOGIA REGIONAL
Inserido na porção meridional do Cráton do São Francisco, o Quadrilátero Ferrífero é uma
das regiões de geologia mais atraentes e estudadas do país, devido ao fato de abrigar em
seus domínios importantes jazidas de ferro, ouro e outros recursos minerais. Ocupando
uma superfície de 7.000 km2, o Quadrilátero Ferrífero engloba unidades litoestratigráficas
cujas idades estendem-se do Arqueano ao Proterozóico Superior. Gongo Soco situa-se no
Quadrilátero Ferrífero, importante província mineral brasileira, representada por quatro
macro-unidades lito-estratigráficas:
 Complexo gnáissico-migmatítico, constituído de rochas arqueanas,
predominantemente gnaisses tonalíticos a granodioríticos, migmatizados ou não.
Este complexo recebe diferentes denominações, conforme suas características
locais: do Bação (porção central do Quadrilátero Ferrífero), Caeté (a norte), Belo
Horizonte (a noroeste), Bonfim (a oeste), Congonhas (a sudoeste), Santa Rita (a
sudeste).
 Seqüência metavulcano-sedimentar arqueana do Supergrupo Rio das Velhas, do
tipo Greenstone Belt, composta por um espesso pacote de rochas metavulcânicas e
metassedimentares de idade arqueana. O Supergrupo Rio das Velhas é subdividido
em três grupos: Quebra-Osso (inferior), Nova Lima e Maquiné (superior). O Grupo
Quebra-Osso compreende a unidade basal, composta por komatiitos e basaltos,
rochas vulcanoclásticas e lavas riolíticas. O Grupo Nova Lima é a unidade de maior
distribuição geográfica, representado por rochas metavulcânicas e metassedimentos
clásticos e químicos. No Grupo Maquiné, unidade superior, predomina xistos,
filitos quartzo-filitos e quartzitos.
 Seqüência metassedimentar paleoproterozóica do Supergrupo Minas subdivido em
quatro Grupos: Caraça, Itabira, Piracicaba e Sabará. O Grupo Caraça constitui a

135
base do Supergrupo Minas, sobreposto tectonicamente ou por discordância angular
ao Supergrupo Rio das Velhas. Inclui metaconglomerados, quartzitos e filitos da
Formação Moeda e filitos sericíticos e carbonosos da Formação Batatal. O Grupo
Itabira compreende metassedimentos de origem química representados por
itabiritos (Formação Cauê) e dolomitos (Formação Gandarela). Entre estes
extremos ocorrem todas as gradações composicionais, além de freqüentes
intercalações de filito. O Grupo Piracicaba é subdividido em quatro Formações –
Cercadinho (base), Fecho do Funil, Tabõoes e Barreiro (topo) - as quais incluem
diferentes tipos de quartzitos e filitos, intercalado com lentes de dolomito. O Grupo
Sabará é representado por uma seqüência de xistos e filitos, com metagrauvacas e
metavulcânicas em menor proporção, pertencentes ao topo do Supergrupo Minas.
 Metassedimentos terrígenos do Grupo Itacolomi: é constituído de quartzitos e, em
menor proporção, metaconglomerados e filitos, que recobrem em discordância o
Supergrupo Minas. O metaconglomerado contém seixos de litologias mais antigas,
sendo comuns os de itabirito da Formação Cauê. Ter-se-ia formado a partir da
erosão das unidades do Supergrupo Minas em ambiente continental e transicional.

4.1.2.GEOMORFOLOGIA
O relevo da região da mina de Gongo Soco, como em todo Quadrilátero Ferrífero é
bastante acidentado e montanhoso, marcado, por porções elevadas e baixas que apresentam
notáveis trechos longos e retilíneos com encostas assimétricas. Estas feições são evidências
de movimentos tectônicos, envolvendo movimentação ao longo de falhas e basculamentos.

As porções mais baixas, com cotas em torno de 800 m, onde se localiza o leito do rio
Socorro, desenvolvem-se notadamente em domínio de rochas filíticas e dolomíticas.

Os vales da região são em geral bem sulcados, com perfil em “V”, que se associam
drenagem com elevados gradientes, condicionadas pela razoável compartimentação
estrutural. Gongo Soco esta situada no setor norte da unidade geomorfológica composta
pelo Quadrilátero Ferrífero. Esta unidade individualiza-se, em nível regional, por constituir
domínio morfoestrutural destacado topograficamente na paisagem em virtude das altitudes
elevadas em relação às áreas circundantes.

136
Destacam-se na paisagem as formas evoluídas sobre as rochas do Supergrupo Minas que
compõem cumeadas de serras, cristas e picos de expressão topográfica notável, marcando a
morfologia do relevo regional. Entre as formas de relevo mais expressivas, deve-se
mencionar a serra do Caraça e a serra da Piedade, respectivamente situadas ao sul e ao
norte do espigão da serra do Espinhaço, que na região da área de concessão da mina de
Gongo Soco recebe o nome de serra da Paula.

Este conjunto das formas de relevo que compõem a borda leste do Quadrilátero Ferrífero
caracteriza-se pela presença desses alinhamentos de serras marcadas por estruturas
dobradas e erodidas do tipo anticlinais esvaziadas e sinclinais suspensas.

A serra do Caraça, constituída por quartzitos e filitos do Grupo Caraça, unidade basal do
Supergrupo Minas, apresenta-se como um maciço rochoso intensamente fraturado,
formado por um conjunto de falhas de empurrão. Nesta serra estão as superfícies de erosão
mais antigas e mais elevadas (1879-1886 m) do Quadrilátero Ferrífero. Além disso, a serra
do Caraça guarda os níveis altimétricos mais elevados desta unidade geomorfológica com
altitudes superiores a 2.000 m (Figura 4.1).

Figura 4.1 - Detalhe da serra do Caraça.


Fonte: Foto Neto, S.E. – Agosto/2007.

A serra da Piedade é constituída por itabiritos do Grupo Itabira, localmente recobertos por
superfícies concrecionárias limoníticas. Com altitude de 1.736 metros no ponto mais

137
elevado, a serra é um monumento do relevo, consistindo num marco referencial de
percepção coletiva, histórica, integrante da paisagem de uma ampla região, relatada por
antigos viajantes por seu valor intrínseco como expressão fisiográfica notável.

Entre esses dois destaques do relevo estendem-se na direção SW-NE a serra do Espinhaço.
Este alinhamento de crista, na região, é composto por rochas do Supergrupo Rio das
Velhas, Grupo Nova Lima e Supergrupo Minas, Grupos Itabira e Piracicaba.

De modo geral, a altimetria da região corresponde às características litológicas e


estruturais, relacionando as maiores elevações aos terrenos sustentados por rochas do
Supergrupo Minas que resistiram ao trabalho erosivo diferencial. No interior do
Quadrilátero Ferrífero, correspondendo aos relevos elaborados sobre rochas do Supergrupo
Rio das Velhas, a topografia apresenta-se mais rebaixada, com cotas variando entre 800-
900 metros.

Com relação ao arranjo morfológico do relevo, desenvolvido sobre as condicionantes


litoestruturais, o Quadrilátero Ferrífero configura-se como um conjunto elevado, no qual
sobressaem os alinhamentos de cristas e escarpas de falhas que envolvem níveis rebaixados
de relevo intensamente dissecado, predominando cristas com vales encaixados e vertentes
ravinadas e trechos de colinas.

O arcabouço morfoestrutural da região do empreendimento é aquele conformado por


grandes dobras representadas pelo anticlinal escavado da Conceição e pelo sinclinal
Gandarela e por uma sucessão de falhas produzidas por uma tectônica de falhamentos de
empurrão, que estabeleceu os contatos entre as diferentes litologias ocorrentes na região.

A borda NW do sinclinal Garandela, topograficamente elevada, conforma um segmento do


alinhamento de crista da serra do Espinhaço, com denominações locais de serra do Piacó,
serra do Marembá e serra do Gongo, com altitudes máximas variando entre 1482, 1424 e
1165 metros, respectivamente.

O conjunto do relevo é dominado por formas de dissecação fluvial, cujos processos


morfogenéticos são responsáveis pela elaboração de cristas de topos aguçados com

138
vertentes retilíneas ravinadas e vales encaixados. Esta associação de elementos
morfológicos ocupa grandes extensões do espaço, dominando amplamente a paisagem
regional.

Outro conjunto de formas de relevo que ocorre na região, desenvolvidas sobre rochas
graníticas do complexo basal, caracteriza-se por formas colinosas de topos abaulados com
vertentes convexas e vales côncavos e encaixados.

A rede de drenagem regional é fortemente condicionada pela estrutura dobrada e falhada,


comandada na região pelo rio Socorro, que ocupa o vale sinclinal. Este curso d'água é um
dos formadores do rio Santa Bárbara, afluente do rio Piracicaba.

Nas abas do sinclinal Gandarela as drenagens de primeira e segunda ordem compõe uma
densa rede hidrográfica a partir de numerosas nascentes, organizadas em padrão dendrítico,
para formar os muitos cursos d' água que drenam a vertente SE da serra do Espinhaço
dispostos em padrão retangular em relação ao nível de base local no rio Socorro.

O perfil longitudinal dos córregos que descem a encosta SE da serra é bastante acentuado,
marcado por várias cachoeiras formadas em rupturas abruptas de declive, associadas aos
falhamentos de empurrão que definem os contatos litológicos entre as rochas do Grupo
Nova Lima na região.

A profundidade dos vales principais, no caso do rio Socorro, em relação aos topos das
vertentes que os confinam é uma evidência da energia desses relevos. A profundidade é
bastante acentuada entre as bordas do sinclinal Gandarela e o fundo do vale em torno de
300-350 m.

A ação erosiva das drenagens tributárias desses rios agiu profundamente sobre as encostas
dos vales, imprimindo as feições morfológicas de dissecação e obliterando níveis de
aplainamento de antigos ciclos erosivos dos quais restam apenas pequenas superfícies
remanescentes. Os níveis recobertos por crostas ferruginosas mantiveram-se melhor
conservados, enquanto as formações superficiais eluvionares e coluvionares e a própria
rocha intemperizada sofreram excessivo desgaste.

139
As coberturas eluvionares e coluvionares dominam a superfície do relevo, com
profundidades variáveis conforme as declividades e a atuação dos processos de
meteorização das rochas. As formações aluvionares nas áreas de maior energia do relevo
são escassas, devido à competência de transporte de sedimentos dos cursos d'água que
exibem acentuado perfil longitudinal.

O padrão de dissecação considerado forte corresponde a ambientes geomorfológicos de


morfodinâmica atual instável, caracterizados pela predominância dos processos
morfogenéticos sobre os pedogenéticos. A instabilidade desses geossistemas tem seu grau
de desequilíbrio associado às condições ambientais, incluindo as intervenções humanas
impostas ao meio, sendo tão mais acentuada quanto forem intensivas as atividades de
desmatamento, agropecuária, abertura de estradas e mineração, entre as mais
comprometedoras.

A morfodinâmica atual dos ambientes de forte dissecação, como os da região, é


caracterizada pelos efeitos da erosão diferencial sobre as formações superficiais e rochas
de resistências distintas à ação erosiva, submetida a processos morfogenéticos intensos de
escoamento difuso e concentrado. Os movimentos de massa na região referem-se
principalmente a processos de rastejamento, generalizados em toda a região e nítidos nas
áreas de maior declividade mesmo sob cobertura florestal.

Os terrenos onde ocorre a explotação do minério de ferro são compostos por segmentos de
colinas, cujo padrão morfológico geral são vertentes convexo/côncavas elaboradas por
processos de dissecação fluvial imposta por uma rede de drenagem afluente a dois cursos
d'água de segunda ordem, os córregos Capim Gordura e Congo Velho.

O conjunto dos terrenos compõe assim uma fração da superfície de micro bacias
hidrográficas na região das cabeceiras de drenagem de cursos de primeira ordem mais
fechados em “V”, ocupadas por matas, que conformam ravinas ao longo das quais as
declividades se acentuam dando movimento ondulado ao relevo. O sentido geral da
drenagem é norte-sul e oeste-leste.

140
4.1.3.PEDOLOGIA E USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
As informações de classificação e o mapeamento da cobertura pedológica da região do
Quadrilátero Ferrífero foram executadas no âmbito de alguns projetos de caráter regional,
em nível de levantamentos exploratórios ou de reconhecimento, empregando, portanto,
escalas pequenas que abrangem, numa mesma unidade pedológica, associações ou
complexos de solos em categorias taxonômicas elevadas.

A condição natural dos geossistemas na região do Quadrilátero Ferrífero provavelmente


constitui a razão pela qual não tenham sido realizados levantamentos pedológicos com
maior nível de detalhe, uma vez que a região apresenta baixa aptidão ao uso agropecuário,
motivo que prevalece para a realização de levantamentos pedológicos mais detalhados.

Os solos da região do Quadrilátero Ferrífero são em geral incipientes e sua origem está
normalmente associada ao substrato de rochas ferríferas. O caráter incipiente se deve a
pelo menos dois fatores: à condição do relevo da região e à constituição litológica do
substrato.

O movimentado relevo regional composto principalmente por formas de dissecação fluvial


é constituído por uma morfologia predominante de cristas com vertentes ravinadas e vales
encaixados, onde as fortes declividades atribuem aos geossistemas condições
morfodinâmicas instáveis, nos quais prevalecem os processos morfogenéticos sobre os
pedogenéticos. Os ambientes de geodinâmica instável caracterizam-se por uma velocidade
de evolução de processos morfogenéticos, que impede a evolução de processos
pedogenéticos no sentido da formação de solos bem desenvolvidos, não obstante o
adiantado estado de intemperismo de alguns tipos de rochas.

A rapidez com que os materiais detríticos trabalhados pela pedogênese são removidos por
processos denudacionais, tais como os movimentos coletivos do solo e escoamento
superficial difuso e concentrado, notadamente onde a interferência antrópica é mais
intensa, no que diz respeito à remoção da cobertura vegetal e ao manejo do solo,
condiciona a formação de solos minerais, pouco desenvolvidos, predominantes na região
do Quadrilátero Ferrífero como os das classes dos Cambissolos e Litólicos, além dos
afloramentos de rochas.

141
A classe dos Cambissolos tem forte predominância em termos de extensão espacial na
região, associando-se aos solos Litólicos e a afloramentos de rochas nas áreas serranas e
montanhosas, normalmente representadas por grupos de solos originados em substratos de
rochas ferríferas.

A classe dos Latossolos é representada na região por grupos de Latossolo Ferrífero e


Latossolo Vermelho-Escuro, sendo este último de ocorrência mais restrita, aparecendo
como componente minoritário de associações complexas, onde predomina Cambissolos
fase substrato de rochas ferríferas.

O Latossolo Ferrífero é originado a partir da meteorização das rochas metamórficas do


Supergrupo Minas, compreendendo filitos e quartzitos ferruginosos e materiais correlatos
do Grupo Piracicaba. Este tipo de solo, proposto pelo Serviço Nacional de Levantamento e
Conservação do Solo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA
ocorre ao longo do vale do rio Socorro em associação com Cambissolos fase substrato de
rochas ferríferas. As correlações entre os solos, a litologia e as feições geomórficas do
relevo são bastante evidentes na região e, em grande medida, orientaram os mapeamentos
pedológicos regionais realizados em nível de reconhecimento.

Os Latossolos Ferríferos que ocupam basicamente o vale do rio Socorro conhecido


também como Barão de Cocais, coincidentes ao substrato formado por rochas do Grupo
Piracicaba e materiais correlativos provenientes das áreas ocupadas por itabiritos e
concreções ferruginosas do Grupo Itabira, topograficamente mais elevadas, limitam-se
com uma faixa de solos Litólicos, fase substrato de rochas ferríferas, derivados das rochas
dos Grupos Itabira e Caraça que constituem a borda NW do sinclinal Gandarela, encosta
superior e cumeada da serra do Espinhaço.

A Figura 4.2 ilustra a área de propriedade de Gongo Soco, as intervenções minerárias e os


remanescentes florestais no ano de 2007. Cabe destacar que a área total da propriedade da
Vale em Gongo Soco é de 1.443,92 ha. A base georeferenciada para elaboração das figuras
foi um aerolevantamento a laser/ortofotocarta, cena registrada em março de 2007, projeção
– UTM – SAD69 Zona 23S e imagem Ikonos – cena registrada em 19/07/2006. Com base
na Figura 4.2, foi possível elaborar o mapa de uso do solo e cobertura vegetal da

142
propriedade de Gongo Soco (Figura 4.3). A distribuição da área de uso e ocupação do solo
na propriedade de Gongo Soco em 2007 é apresenta na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 - Distribuição da área - uso e ocupação do solo em Gongo Soco – 2007.
Tipologias Áreas (ha)
Barragem de rejeito 37,15
Vegetação de áreas alteradas 109,30
Áreas antropizadas 431,09
Floresta estacional semidecidual em estágio avançado de regeneração 172,70
Floresta estacional semidecidual em estágio inicial de regeneração 367,14
Pasto limpo 99,05
Plantio de eucaliptos 77,59
Floresta estacional semidecidual em estágio médio a avançado de
149,90
regeneração (RL da Vale – área não contígua à propriedade)
Total 1.443,92
Fonte: Elaborado por Neto, S.E (2008).

4.1.4.CLIMA
Gongo Soco está inserido em um local onde predomina clima tropical semi-úmido,
apresenta pluviometria média anual da ordem 1500 mm com um período seco que
compreende aos meses de abril a agosto, com precipitação média inferior a 30 mm/mês, e
um segundo período com precipitação média da ordem de 100 a 200 mm/mês, que
compreende os meses de setembro, outubro e março. O período entre os meses de
novembro a fevereiro possui a maior pluviometria, com valores mensais da ordem de 200 a
500 mm/mês. A temperatura máxima anual varia em torno de 30ºC e a mínima de 8ºC; a
média anual oscila por volta de 22ºC.

A distribuição das precipitações e temperaturas mostra a sazonalidade climática da região,


com a existência de duas estações bem marcadas com verões quentes e úmidos e invernos
secos e temperados. Esse fato é de fundamental importância no regime hidrológico da área.

143
4.1.5.RECURSOS HÍDRICOS

4.1.5.1.HIDROLOGIA SUPERFICIAL
A rede de drenagem da região da mina de Gongo Soco é limitada pelo divisor de águas ao
norte da mina, compõe a sub-bacia do rio Socorro, tributário do rio Santa Bárbara, que por
sua vez é tributário do rio Piracicaba, pertencentes à Bacia do rio Doce.

O rio Socorro comanda a drenagem local, na encosta voltada para o rio Doce, com o seu
curso marcado por uma série de rápidas corredeiras orientado no sentido SW-NE, adaptado
ao eixo do sinclinal Gandarela.

Na região da cava de Gongo Soco, a sub-bacia do rio Socorro tem como principais
tributários os córregos Capim Gordura, Vieira, Canta Galo e Congo Velho. Os traçados dos
cursos d’água na região apresentam padrões básicos dos tipos em treliça, paralelo e
retangular mostrando direções preferenciais ENE-WSW, N-S e NW-SE. Tais padrões
revelam controles por contatos geológicos, traços de foliação e descontinuidades.

As sub-bacias dos córregos do Vieira, Capim Gordura e Congo Velho têm suas cabeceiras
de drenagem situadas na encosta sul do segmento da serra do Espinhaço, conhecido como
serra da Paula, em elevações superiores a 1400 metros de altitude. Estas encostas são
densamente drenadas por uma infinidade de pequenos canais de primeira ordem que só
muito raramente ultrapassam os 1.000 metros de extensão, formando antes confluências e
grupos hierárquicos de segunda ordem.

As vertentes de origem dessas drenagens são abruptas, em geral apresentando declividades


superiores a 45°. Os talvegues descrevem na descida da serra cursos rápidos em vales
fechados e encachoeirados onde a energia aplicada ao movimento das águas não permite a
acumulação de sedimentos aluvionares, somente encontrados no vale do rio Socorro.

O equilíbrio alcançado entre os perfis longitudinais dos cursos d' água, a declividade das
encostas e a estabilidade geomecânica dos solos e do substrato, além da intercepção da
cobertura vegetal, têm assegurado condições de escoamento superficial sem
desenvolvimento de processos de erosão acelerada que poderiam comprometer a

146
quantidade e a qualidade dos recursos hídricos.

Os principais afluentes do rio Socorro à montante da confluência com o rio Conceição, são
pela margem direita, os córregos da Lagoa Funda, Campestre, do Brás, Olho D’água,
Lapinha, Pedra Vermelha, córrego da Onça, Coqueiro, Olaria, Andorinha, e Capim
Cheiroso; pela esquerda, córregos do Mato Grosso, Ponte Funda, Maria Casimira, Santa
Cruz, do Vieira, Congo Velho, do Congo, Trindade, Cabral, Três Moinhos e São Miguel.

A bacia do rio Socorro drena uma área basicamente rural, uma vez que, à exceção de Barão
de Cocais, estão localizados na região apenas alguns distritos, como Socorro e Gongo
Soco. Grandes áreas da bacia são ocupadas por campos e pastagens e algumas encostas
foram utilizadas para reflorestamento com eucaliptos, verificando-se ainda a ocorrência de
matas nativas, principalmente junto às cabeceiras de drenagens (Figura 4.4).

Os excedentes hídricos são verificados entre os meses de novembro e março,


principalmente, com uma concentração dos volumes nos meses de dezembro e janeiro
superior a 65%. A ocorrência dos excedentes coincide com o período em que as
precipitações superam a evapotranspiração, mais reduzida também em função da maior
nebulosidade e menor tempo de insolação ocorrente nesta época do ano, quando as
interações entre as águas superficiais e subterrâneas ocorrem no sentido da influência dos
cursos d' água sobre os aquíferos.

O balanço hídrico regional indica o período de ocorrência dos valores extremos de


contribuição, de acordo com as maiores chuvas registradas nas estações climatológicas de
João Monlevade e Santa Bárbara que acusam o mês de janeiro como o mais pluvioso,
quando ocorrem os maiores excedentes hídricos. Os valores mínimos de contribuição
ocorrem nos meses de junho e julho em Santa Bárbara e julho e agosto em João
Monlevade, quando a deficiência hídrica é maior, restringindo eventuais contribuições às
águas afluentes dos lençóis freáticos. O comportamento hidrológico da rede hidrográfica
regional é caracterizado por um regime tipicamente tropical, com períodos de cheia e de
estiagem bem distintos.

147
4.2.MEIO BIÓTICO – FLORA
Gongo Soco localiza-se dentro do bioma Mata Atlântica. A Mata Atlântica encontra-se,
hoje, reduzida a fragmentos florestais, na sua maioria descontínua. Chegou a representar
15% do território nacional, mas atualmente seus remanescentes perfazem apenas 6,8%, ver
Figura 4.5.

.
Figura 4.5 Remanescentes florestais da Mata Atlântica.
Fonte: Ciência Hoje On-line. Juliana Tinoco, 2006.
Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/64022

A Figura 4.5 mostra os remanescentes florestais da Mata Atlântica (em verde) e a área total
da cobertura original da floresta (mancha amarela).

Atualmente, as florestas remanescentes da região do Quadrilátero Ferrífero encontram-se


completamente fragmentadas, com diferentes estágios sucessionais em distintos graus de
preservação. O que se observa é o resultado de diferentes intervenções antrópicas,
principalmente ligadas à atividade minerária e reflorestamento com eucalipto (Nicho,
2003).

De acordo com Câmara & Murta (2007) o Brasil é o quinto maior país do mundo e
contribui com aproximadamente 14% da biota mundial. A flora brasileira possui cerca de
56.000 espécies de plantas catalogadas, representando 19% dos vegetais da terra. O
domínio Mata Atlântica é dividido em diferentes formações definidas pelo CONAMA em

149
1992, tais como Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Estacional
Decidual, Floresta Estacional Semidecidual, Mangues e Restingas, entre outros.

4.2.1.CARACTERIZAÇÃO REGIONAL DA COBERTURA VEGETAL


Gongo Soco situa-se em zona de transição entre dois importantes biomas do Brasil, o da
Mata Atlântica e do Cerrado, bem delimitados em Minas Gerais pela serra do Espinhaço
que corta o centro do Estado no sentido norte/sul. O primeiro é encontrado na sua porção
oriental, até o litoral Atlântico, enquanto que o segundo ocupa a porção ocidental, interior
adentro.

A Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do Brasil. Situa-se ao longo do litoral


brasileiro, de acesso da colonização e onde se desenvolveram os grandes centros urbanos,
originando a região mais ocupada do País, que vem sofrendo intervenções desde o tempo
da “descoberta”. Seus remanescentes são protegidos em Unidades de Conservação e por
legislação específica, especialmente a Lei n.o 11.428, de 22 de dezembro de 2006 (Lei da
Mata Atlântica), que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma
Mata Atlântica, que impõe limitações e procedimentos para uso.

A presença no Quadrilátero Ferrífero e sua litologia e morfologias próprias acentuam a


diversidade ambiental encontrada nessa região central do Estado, que apresenta um
mosaico de tipologias de uso formado por florestas naturais em diferentes estágios de
regeneração, cerrados, florestas plantadas, campos antrópicos e, em especial, os campos
rupestres ferríferos e quartzíticos, que ocorrem nas cristas serranas.

As florestas remanescentes da região encontram-se fragmentadas, em diversos estágios


sucessionais, sendo que extensos trechos foram substituídos pela monocultura de eucalipto
para fomento às indústrias siderúrgicas.

Pontualmente, a atividade de mineração, que detém extensões consideráveis de terras


delimitadas em poligonais de direitos minerários concedidas pelo governo federal, remove
a vegetação para se instalar e desenvolver sua atividade, mas geralmente não ocupa
totalmente os terrenos delimitados, que são de sua responsabilidade, acabando por
conservar ambientes naturais em grandes áreas em torno da mina.

150
4.2.2.COBERTURA VEGETAL LOCAL
A vegetação remanescente em Gongo Soco enquadra-se na fitofisionomia da Mata
Estacional Semidecidual. Sua vegetação está condicionada a uma dupla estacionalidade
climática, uma tropical com época de intensas chuvas de verão seguida por estiagem
acentuada, e outra subtropical sem período seco, mas com seca fisiológica. Durante a
estação seca cerca de 20 a 50% dos indivíduos perdem folhas (Veloso et al., 1991).

A Figura 4.3 mostra a delimitação da propriedade de Gongo Soco, a ocupação minerária e


seus remanescentes florestais. Os remanescentes florestais encontram-se em estágio inicial
a avançado de regeneração natural. As áreas com vegetação em estágio inicial de
regeneração ocupam a porção sul da propriedade. As áreas em estágio avançado ocupam
principalmente as encostas dos morros (porção norte) e as linhas de drenagem. As áreas
alteradas se encontram em fragmentos menores, mais próximos às áreas antropizadas
(cava, PDE’s, ITM’s e estradas).

As porções norte, leste e oeste da cava são as que apresentam as formações vegetais mais
bem preservadas na propriedade possuindo remanescentes vegetais em estágio médio a
avançado de regeneração. O estágio médio a avançado de regeneração possui fisionomia
arbórea e/ou arbustiva predominando sobre a herbácea, constituindo estratos diferenciados,
com altura média variando de 5 m (cinco metros) a 12 m (doze metros). A cobertura
vegetal varia de fechada a aberta, com ocorrência eventual de indivíduos emergentes. A
distribuição diamétrica apresenta amplitude moderada, DAP (diâmetro à altura do peito)
médio, com predominância dos pequenos diâmetros variando de 10 cm (dez centímetros) a
20 cm (vinte centímetros).

De acordo com os levantamentos realizados pela Lume (2007) observou-se nestas porções,
indivíduos dispersos das espécies Cabralea canjerana e Cedrela fissilis, que são
característicos de remanescentes em estágio avançado de regeneração natural, porém
predominam as espécies secundárias inicias e tardias na sucessão natural.

O estágio avançado de regeneração se caracteriza por ser uma formação florestal


secundária que apresenta fisionomia arbórea dominante sobre as demais, formando um
dossel fechado e relativamente uniforme no porte, com altura média superior a 12 m (doze

151
metros), podendo apresentar árvores emergentes ocorrendo com diferentes graus de
intensidade; copas superiores horizontalmente amplas; distribuição diamétrica de grande
amplitude com DAP médio superior a 18 cm (dezoito centímetros).

Encontra-se na área espécies que, segundo a Deliberação Normativa COPAM n.° 73/2004,
pertencem ao estágio avançado de regeneração natural, como as espécies: Apuleia
leiocarpa (Garapa), Aspidosperma parvifolium (Guatambu), Aspidosperma sp. 2 (Tambú
branco), Cariniana estrellensis (Jequitibá rosa), Cedrela fissilis (Cedro), Copaifera
langsdorffii (Copaíba), Ficus sp. (Gameleira), Ocotea laxa (Canela-prego), Ocotea
odorifera (Canela sassafrás) e Ocotea sp. (Canela com cheiro).

A ocorrência da Floresta Estacional Semidecidual em estágio mais avançado de


regeneração é observada principalmente nos fundos das grotas, o que se atribui ao acúmulo
de nutriente e maior umidade. Esta vegetação localiza-se, principalmente, a noroeste da
cava, mas com considerável área localizada a sudoeste da mesma. Ocorre também na
porção nordeste, porém encontra-se bem mais fragmentada e grande parte de sua extensão
já vem sofrendo intervenção pela atividade minerária (PDE Nordeste). Na porção sul da
cava, onde se encontra a área construída da empresa, a vegetação em estado mais avançado
de regeneração é praticamente inexistente e sem conexão clara entre os fragmentos
existentes.

Observa-se também na área de propriedade de Gongo Soco a presença de vegetação de


áreas alteradas, onde houve nítida mudança fisionômica na vegetação. Embora haja baixa
diversidade de espécies nestas áreas, devido à intensa regeneração e à aparente condição
propícia do solo, acredita-se que estas possuem considerável condição de restabelecimento
a médio e longo prazo. Estas áreas localizam-se nas porções sul e sudeste da cava.

4.3.MEIO BIÓTICO – FAUNA


Minas Gerais abriga 178 espécies de mamíferos terrestres, dos quais 55% vivem em
Unidades de Conservação inseridas no Quadrilátero Ferrífero, compostos por dois dos mais
expressivos biomas do Brasil, o Cerrado e a Mata Atlântica. Ambos são considerados
hotspots ou áreas prioritárias para a conservação da natureza mundial, devido a sua riqueza

152
natural e condição atual de preservação. Das 34 áreas indicadas no mundo, a Mata
Atlântica e o Cerrado são as únicas no território nacional (Câmara & Murta, 2007).

Em relação à fauna terrestre, a revisão da lista de mamíferos realizada pelo Instituto


Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA mostrou que,
nos últimos dez anos, essa classe de animais, hoje representada por 652 espécies. Do total
das 652 espécies de mamíferos registradas no Brasil, 69 figuram na lista das espécies
ameaçadas de extinção. A Mata Atlântica possui 250 espécies, das quais 55 endêmicas.

O Brasil abriga uma das maiores faunas de aves do mundo, com um total de 1731 espécies.
Cerca de 10% são endêmicas e 193 estão sob ameaça de extinção. A Mata Atlântica conta
com 1020 espécies das quais 188 endêmicas.

O grupo dos anfíbios conta com 765 espécies, das quais 737 são anuros (sapos, rãs e
pererecas), 27 cobras-cegas e uma salamandra. A Mata Atlântica é o bioma com a maior
quantidade de espécies 340 devido ao alto índice pluviométrico, à grande disponibilidade
de ambientes úmidos e à diversidade estrutural arbórea. Em Minas Gerais ocorrem
espécies restritas aos complexos da Mantiqueira, ao Espinhaço e ao vale do Jequitinhonha.
A lista de espécies ameaçadas de extinção do país registra 16 espécies.

4.3.1.CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA REGIONAL E LOCAL


A mina de Gongo Soco encontra-se inserida no domínio Zoogeográfico da Mata Atlântica
na porção que se estende a oeste da cadeia do Espinhaço conhecida como “mares de
morros”. Esta região, de relevo ondulado, era originalmente dominada por matas densas
que ocupavam vales e encostas e que cediam lugar a capoeiras e campos apenas sobre
afloramentos rochosos.

O longo histórico de ocupação humana da região remonta ao século XVIII quando do


início das atividades mineradoras em busca de ouro e outros minerais preciosos.
A redução destas florestas e o isolamento dos remanescentes colocam em risco a
manutenção da fauna de aves e mamíferos que, originalmente possuíam riqueza e
diversidade extremamente elevadas. Grande parte das espécies animais, que compunham

153
as comunidades faunísticas primitivas e que antes apresentavam ampla distribuição se
encontram hoje localmente sob risco.

A fragmentação e descaracterização aumentam proporcionalmente a importância dos


fragmentos remanescentes, como os existentes em Gongo Soco, para a manutenção da
biodiversidade num nível regional. Desta forma, a despeito da intensidade das ações
antrópicas na região, a área de entorno da mina de Gongo Soco ainda encontra-se em
grande parte coberta por vegetação nativa. As formações mais bem conservadas se
concentram nas encostas mais íngremes e de acesso mais difícil.

A fauna de vertebrados terrestres que habita as matas remanescentes em Gongo Soco e


matas do entorno do empreendimento vem se mostrando bastante rica e diversa como
comprovam trabalhos realizados pela Nicho (2003) quando foram constatadas 86 espécies
de aves. Em estudo ambiental recente elaborado pela Lume (2007) foram observadas 47
espécies (Tabela 4.2) de aves e 8 mamíferos.

Tabela 4.2 - Listagem das espécies de aves observadas na ADA pela ampliação da cava de Gongo Soco.
FAMÍLIA Densidade
Nome científico mínima
Nome popular (ind./ha)
CATHARTIDAE
Coragyps atratus inferior a 0,2
Urubu
Cathartes aura 0,2
Urubu caçador
FALCONIDAE
Milvago chimachima inferior a 0,1
Pinhé
CRACIDAE
Penelope superciliaris inferior a 0,1
Jacuaçu
COLUMBIDAE
Columba plumbea 0,3
Pomba amargosa
TROCHILIDAE
Phaethornis pretrei 0,2
Beija flor da mata
Phaethornis eurynome 0,2
Beija flor da mata
Thalurania glaucopis 0,5
Beija flor tesoura verde
Amazilia lactea 0,2
Beija flor de barriga azul
Chlorostilbon aureoventris 0,3
Besourinho verde

154
FAMÍLIA Densidade
Nome científico mínima
Nome popular (ind./ha)
TROGONIDAE
Trogon surrucura 0,2
Surucuá
PICIDAE
Picumnus cirratus 0,3
Pica-pau anão
Verniliornis passerinus 0,2
Picapauzinho
Verniliornis maculifrons 0,2
Picapauzinho
DENDROCOLAPTIDAE
Xiphocolaptes albicollis 0,3
Arapaçu
FURNARIIDAE
Synallaxis frontalis 0,3
Zucli
Lochmias nematura 0,6
Capitão da porcaria
THAMNOPHILIDAE
Thamnophilus caerulescens 0,9
Choca cinzenta
Drymophila ferruginea 0,6
Trovoada
Drymophila ocropiga 0,9
Choquimha
Pyriglena leucoptera 0,6
Papa taoca
TYRANNIDAE
Chiroxiphia caudata 0,2
Tangará dançarino
Colonia colonus 0,2
Viuva
Megarhynchus pitangua 0,2
Nei nei
Phylloscartes dificilis 0,3
Cebinho
Phylloscartes oustaleti 0,9
Cebinho
Myiobius atricaudus 0,3
Assanhadinho
Muscipipra vetula 0,2
Tesoura cinzenta
Tolmomyias sulphurescens 0,6
Bico chato de orelha
Todirostrum poliocephalum 0,4
Ferreirinho
Todirostrum plumbeiceps 1,5
Ferreirinho canela
Camptostoma obsoletum 0,2
Risadinha
TURDIDAE
Turdus amaurochalinus 0,2
Sabiá poca

155
FAMÍLIA Densidade
Nome científico mínima
Nome popular (ind./ha)
VIREONIDAE
Cyclarhis gujanensis 0,6
Gente de fora vem
Hylophilus poicilotis 02
Verdinho coroado
EMBEREZIDAE
Basileuterus flaveolus 0,2
Canário da mata
Basileuterus hypoleucus 1,3
Pichito
Coereba flaveola 0,6
Caga sebo
Dacnis cayana inferior a 0,1
Sai azul
Tangara cyanoventris 0,6
Saíra de cabeça amarela
Tangara cayana 0,7
Saíra amarela
Hemithraupis ruficapilla 0,4
Saíra de cabeça vermelha
Cissopis leveriana 0,3
Tietinga
Saltator similis 0,4
Trinca ferro
Sporophila nigricollis 0,2

Zonotrichia capensis 1,2


Tico tico
Haplospiza unicolor 15,0
Cigarra bambu
Total de espécies registradas: 47
Densidade mínima total: 32,9
Fonte: Lume, 2007

Em trabalho recente de monitoramento (avifauna e mastofauna) foi elaborado pela Nicho


(2007) nas áreas de influência de Gongo Soco (ADA, AID e AII). Foi observado um total
de 49 espécies de aves pertencentes a 16 famílias. As famílias com maior diversidade são
Tyrannidae e Emberizidae com 14 e 10 espécies, respectivamente. Entre as aves não
Passeriformes destacou-se a família Trochilidae (beija-flores), com 4 espécies.

Nesta mesma campanha de monitoramento (Nicho, 2007) foram registradas 15 espécies de


mamíferos, sendo três por captura, duas por evidências diretas e nove por evidências
indiretas (Tabela 4.3).

156
Tabela 4.3 - Espécies de mamíferos registradas na mina de Gongo Soco durante campanha de julho de 2007.
ORDEM TIPO DE LOCAL DO
FAMÍLIA NOME COMUM REGISTRO REGISTRO
ESPÉCIE
Didelphimorphia
Didelphidae Cuíca-quatro-olhos Captura
Philander frenatus
Rodentia
Muridae Rato-do-chão Captura
Akodon sp Rato Captura
Oligoryzomys eliurus
Carnivora
Mustelidae Jaratataca Pegadas, cheiro 23k 0648422 UTM 7793843
Conepatus semistriatus 23k 0653730 UTM 7790616
Carnivora
Procionidae 23k 0645662 UTM
Procyon cancrivorus Mão-pelada Pegadas 7791090
Carnivora
Felidae Onça-pintada Pegadas 23k 0648422 UTM 7793843
Panthera onca * #
Carnivora
Canidae Cachorro-do-mato Pegadas 23k 0648050 UTM 7793810
Cerdocyon thous 23k 0648422 UTM 7793843
Carnivora
Canidae Lobo-guará Pegadas, fezes 23k 0653730 UTM 7790616
Chrysocyon brachyurus *# 23k 0648305 UTM
7793810
Carnivora
Mustelidae Irara Pegada 23k 064805 UTM 7793810
Eira barbara
Pilosa
Mymercophagidae Tamanduá-mirim Entrevista
Tamanduá tetradactyla #
Primates
Callitrichidae Mico-estrela Vocalização, 23k 0648408/779312
Callithrix penicilatta Visualização 23k 0648392/7793850
Primates
Cebidae Guigó Vocalização 23k 0648305/7793810
Callicebus nigrifrons 23k 0648408/779312
Artiodactyla
Cervidae Veado Pegadas 23k 0645662/7791090
Mazama sp 23k 064805/7793810
Rodentia
Cuniculidae Paca Pegadas 23k 0645662/7791090
Cuniculus paca
Rodentia
Hydrochoeridae Capivara Pegadas
Hydrochoerus hydrochaeris 23k 0645662/7791090
Legenda: # Mamíferos ameaçados de extinção em Minas Gerais (Machado et al., 1998);
* Mamíferos ameaçados de extinção no Brasil (Machado et al., 2005).
Fonte: Nicho, 2007.

As presenças de algumas outras espécies de animais servem como indicações da boa


capacidade de suporte para a fauna de vertebrados terrestres observado na área de
propriedade de Gongo Soco. Dentre elas se destacam a Irara (Eira barbara) e o Guigó

157
(Callicebus personatus), que apesar de serem relativamente comuns nesta região do Estado
estão normalmente associados a manchas de mata mais extensas e bem conservadas. Desta
forma é lícito concluir que as matas e capoeiras que se encontram no interior e no entorno
da propriedade de Gongo Soco apresentam uma boa capacidade de suporte para a fauna de
aves e de vertebrados terrestres e, ainda que não seja suficiente para a manutenção de
muitas espécies que habitavam a região antes do início das atividades antrópicas,
desempenha papel relevante na manutenção da diversidade faunística local e regional.

4.4.MEIO ANTRÓPICO
A economia dos municípios detentores de atividades minerárias sofrem grandes alterações
quando surgem novos empreendimentos no território dos mesmos, ou quando os que já
existem são ampliados. Sendo assim, o município de Barão de Cocais, assim como todos
os municípios brasileiros que são detentores destas atividades, têm o direito à parte do
lucro com a venda do produto final assegurado por lei. Sendo esse montante distribuído na
seguinte proporção:
• 12% para a União (DNPM, IBAMA e MCT1);
• 23% para o Estado onde for extraída a substância mineral;
• 65% para o Município produtor.

Direito esse amparado pela Constituição Federal de 1988 que, em seu Art. 20, § 1º, cita:
“A Compensação Financeira pela Exploração Mineral - CFEM é devida
aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da
administração da União, como contraprestação pela utilização
econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios.”

A CFEM ainda é regulamentada pelas Leis n.°s 7.990/89, 8.001/90 e 9.993/00, bem como
pelo Decreto n.º 1/91. Sendo de responsabilidade do DNPM, a administração,
normatização e fiscalização sobre a arrecadação da CFEM (Lei n° 8.876/94, art. 3° - inciso
IX).

A CFEM é gerada a partir do cálculo sobre o valor do faturamento líquido das empresas
minerárias, concebido na venda do produto mineral originário das áreas da jazida, mina,

1
Ministério da Ciência e Tecnologia.

158
salina ou outros depósitos minerais. Deste valor são deduzidos os tributos (ICMS1 , PIS2 e
COFINS3), que são incidentes na comercialização, assim como as despesas com transporte
e seguro. Na ocasião onde o produto mineral é consumido, transformado ou utilizado pelo
próprio minerador, então se considera como valor, para efeito de base do cálculo da
CFEM, o somatório das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da utilização
do produto mineral. Em Gongo Soco, a jazida explotada é constituída de hematitas que é
detentora de altos teores de ferro. O DNPM aplica alíquotas específicas sobre o
faturamento líquido para a obtenção da CFEM, variando-se de acordo com a substância
mineral da seguinte maneira:
 Aplica-se a alíquota de 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e
potássio;
 2% para: ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias;
 0,2% para: pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais
nobres;
 1% para: ouro.

O pagamento da CFEM é realizado mensalmente, até o último dia útil do segundo mês
subseqüente ao fato gerador, ou seja, a venda do produto mineral. Sendo a efetuação do
mesmo feito por meio de boleto bancário, emitido no site do DNPM (Guia de
Recolhimento da União – GRU disponível em www.dnpm.gov.br) na internet, em qualquer
agência bancária até a data do vencimento. Já o recebimento do beneficio, é creditado para
o Estado de Minas Gerais e conseqüentemente para o município de Barão de Cocais no
sexto dia útil que sucede ao recolhimento por parte das empresas de mineração. Segundo o
DNPM, “o município produtor é aquele onde ocorre a extração da substância mineral”. O
mesmo Departamento discrimina quando da existência de substâncias em limites
municipais e orienta que caso isso ocorra, deverá ser preenchida uma GUIA/CFEM para
cada município, guardadas as proporções de produção de cada um deles. Como a CFEM,
juridicamente não é considerada um imposto, e sim uma contraprestação econômica pela
exploração mineral em seus respectivos territórios, os recursos originários da arrecadação
da mesma não poderão ser aplicados de forma genérica. Ou seja, em pagamento de dívidas

1
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços.
2
PIS - Programa de Integração Social.
3
COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.

159
ou no quadro permanente de pessoal da União, dos Estados, do Distrito Federal e
Municípios. O investimento deverá ser direcionado para projetos que, direta ou
indiretamente, revertam em prol da comunidade local na forma de melhoria da infra-
estrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação.

O município de Barão de Cocais será beneficiado até 2014 na arrecadação de CFEM


proveniente da mina de Gongo Soco. Cabe destacar que a tendência será decrescente de
acordo com a redução da produção de ROM. O município de Barão de Cocais tenderá a
arrecadar anualmente da CFEM de 2006 a 2008 um montate de R$ 4.250.000. De 2008 a
2010 haverá decréscimo gradativo na arrecadação. De 2010 a 2012 permanecerá estável na
ordem de R$ 3.000.000. Deste período até 2014 a tendência é uma queda brusca na
arrecadação, ver Figura 4.6. Da Figura 4.6 a Figura 4.7 visualiza-se um paralelo do
impacto para a economia municipal caso a Vale não tivesse investido na ampliação da cava
até 2014. Isso revela uma dependência econômica latente do município para com a Vale e,
esse pode ser um dado preocupante, caso novas alternativas não sejam criadas para dar
sustentação econômica com o fim da atividade em Gongo Soco. Não só a CFEM, como o
ICMS e o ISSQN (que são gerados principalmente pela atuação das prestadoras de serviço)
mostram uma queda significativa.

PROJETO GONGO SOCO


EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO DO CFEM
BARÃO DE COCAIS

4.500.000
4.000.000
VALORES EM R$ 1,00

3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
2006 2007
2008 2009
2010 2011
2012 2013
ANOS

CFEM S/ EXPANSÃO CFEM C/ EXPANSÃO

Figura 4.6 - Evolução da arrecadação da CFEM – Barão de Cocais.


Fonte: Haddad, P.R - PHORUM Consultoria (2006).

160
200

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

ANOS

S/EXPANSÃO C/ EXPANSÃO

Figura 4.7 - Projeto Gongo Soco: Arrecadação do ISSQN – Barão de Cocais.


Fonte: Haddad, P.R - PHORUM Consultoria (2006).

4.4.1.POTENCIALIDADE TURÍSTICA
Sabendo da temporalidade do recurso mineral que se esvai durante o tempo, Barão de
Cocais passará por dificuldades econômicas no futuro. Apesar de deter outras jazidas
sendo exploradas em seu território, o município, através de seu poder público e com a
participação da sociedade organizada, deve pensar desde já em alternativas na geração de
emprego e renda. Essa preocupação é fundamental para a sobrevivência de sua economia e
manutenção/melhoria da qualidade de vida dos municípios.

Analisando a Figura 4.8, na linha do tempo da mina de Gongo Soco, a mesma encontra-se
em seu auge com expansão. Este fato corrobora a necessidade que o município tem de se
planejar para a busca de novas formas de utilização do seu território como modelo
econômico.

Diante disso e do fato que Barão de Cocais também conserva sua origem no ciclo do ouro
(que faz parte do circuito da Estrada Real), preservando o importante sítio arqueológico de
Gongo Soco, vislumbra-se que o turismo pode ser um dos pontos fortes para a geração de
emprego e renda para a população.

161
Taxas de
expansão II. Expansão III. Estabilidade com
em ritmo taxa de expansão
decrescente próxima de zero
IV. Declínio com taxas
negativas de expansão

I. Expansão em ritmo
crescente

ASCENSÃO AUGE MATURIDADE EXAUSTÃO

tempo
Figura 4.8 - O Ciclo de Expansão da Atividade Mineradora.
Fonte: Haddad, P.R - PHORUM Consultoria (2006).

A localidade, comprada pelos ingleses no século XIX, se transformou em uma vila


britânica, com hospital, capela e cemitério particular. O conjunto das ruínas de Gongo
Soco (Figura 4.9) é tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico –
IEPHA, desde 1995. Algumas construções históricas que resistiram ao tempo foram a
igreja Matriz de São João Batista e as capelas de Nossa Senhora de Santana e a de Nossa
Senhora do Rosário.

Figura 4.9 - Foto das ruínas de Gongo Soco tombadas pelo IEPHA.
Fonte: Foto Neto, S.E. – Nicho, 2003.

162
A 3 km do distrito de Cocais, localiza-se o sítio arqueológico Pedra Pintada de Cocais,
onde pinturas rupestres ainda podem ser apreciadas. Além destes fatores, Barão de Cocais
está muito próximo do Parque Natural e Reserva do Caraça, propriedade particular com
mais de 11 mil hectares de extensão de mata atlântica, cerrado e montanhas.

Bem sinalizado, o parque oferece boa estrutura ao turismo, com áreas destinadas ao lazer,
além de monitores para acompanhamento dos passeios por suas trilhas e exuberantes
cachoeiras. Há também cavernas como a do Centenário, a mais profunda (485 metros) e
mais extensa (4.700 metros) cavidade natural em quartzito do mundo.

4.5.MONITORAMENTOS AMBIENTAIS
A Vale adota uma série de monitoramentos, dentre as quais se destacam:
• Programa de monitoramento hídrico (qualidade da água) superficial e subterrâneo;
• Programa de controle e monitoramento geotécnico;
• Programa de controle da qualidade do ar;
• Programa de monitoramento de ruídos e vibrações; e
• Programa de monitoramento da fauna.

O monitoramento consiste em realizar medições e observações específicas dirigidas a


alguns indicadores e parâmetros, com o objetivo de identificar e avaliar impactos
ambientais e/ou a efetividade das medidas de controle adotadas pela empresa.

4.5.1. PROGRAMA DE MONITORAMENTO HÍDRICO SUPERFICIAL E


SUBTERRÂNEO

4.5.1.1.MONITORAMENTO HÍDRICO SUPERFICIAL


O monitoramento da qualidade da água tem a finalidade de identificar as condições do
meio aquático amostrado e verificar a sua conformidade com os padrões estabelecidos na
Deliberação Normativa COPAM No. 010/86 e Resolução CONAMA 357/05. Permite,
ainda, aferir a efetividade das medidas de controle ambiental adotadas, sugerindo a
necessidade ou não de ações complementares.

Anualmente, semestralmente e mensalmente os resultados obtidos pela monitoração são

163
consolidados e analisados, sugerindo ou não alterações tanto no que tange à localização
dos pontos de coleta de amostras quanto às freqüências e listagem de parâmetros
amostrados.

4.5.1.2.MONITORAMENTO HÍDRICO SUBTERRÂNEO


Gongo Soco tem cadastrado na área de propriedade e seu entorno 75 pontos de
monitoramento. Todas essas surgências são monitoradas desde 2001. Diariamente suas
vazões são determinadas através de vertedouros visando avaliar possíveis impactos do
rebaixamento do nível d´água na cava.

4.5.2.MONITORAMENTO GEOTÉCNICO
Tem como objetivo garantir o desenvolvimento da atividade minerária segura
considerando-se os aspectos hidrológicos, hidrogeológicos e geotécnicos. Visa à
estabilidade física da cava, da barragem de rejeitos e das pilhas de disposição de estéril. O
programa de controle e monitoramento é composto de:
 Inspeções periódicas de campo onde são avaliadas as condições de estabilidade ao
escorregamento dos taludes, presença de processos erosivos superficiais, condições
dos dispositivos de drenagem e condições da revegetação instalada;
 Análises das leituras dos instrumentos de monitoramento hídrico (piezômetros,
medidores de nível d´água, poços de rebaixamento do NA); e
 Acompanhamento sistemático com retroanálise da estabilidade global dos taludes
da cava, da barragem e das pilhas.

4.5.2.1.MONITORAMENTO DA CAVA
As avaliações são realizadas pela equipe de geotecnia da Vale e por consultores externos.
O monitoramento geotécnico engloba observações visuais e acompanhamento dos
monitoramentos hidrogeológicos (leituras/interpretação dos piezômetros instalados nas
diversas formações geológicas e controle das vazões dos poços de bombeamento). A
interpretação dos resultados é acompanhada pela equipe de hidrogeologia, geotecnia e de
lavra (curto e longo prazo) e por consultores externos.

164
4.5.2.2.MONITORAMENTO DA BARRAGEM
A auscultação de uma barragem é o conjunto de processos que visam a observação,
detecção e caracterização de eventuais deteriorações que constituem risco potencial às
condições de sua segurança global (Gomes, 2005). A auscultação pode ser feita por:
• Inspeções visuais: é o processo da auscultação qualitativa, através de vistorias
periódicas de campo;
• Instrumentação: é o processo de aquisição, registro e processamento sistemático
dos dados obtidos a partir dos instrumentos de medida instalados no aterro e na
fundação da barragem.

De acordo com Gomes (2005), estes processos devem ser realizados em conjunto durante
toda a vida útil da barragem, de forma a fornecer subsídios necessários para uma eventual
revisão ou adaptação dos procedimentos adotados na construção, operação ou manutenção
da barragem, definindo a etapa de controle do empreendimento, permitindo ainda verificar
se uma dada condição de risco está se desenvolvendo ou se é potencialmente viável de
ocorrer.

No contexto geral das barragens, o processo de auscultação deve incorporar um plano de


monitoramento que compreenda toda a vida útil da estrutura. No caso particular de
barragens de contenção de rejeitos, a instrumentação a ser instalada no corpo e na fundação
da barragem deve atender a requisitos de segurança tanto estrutural (estabilidade do
conjunto maciço-fundação e o comportamento geral do reservatório de rejeitos) como
ambiental (monitoramento das características físicas e químicas das águas superficiais e/ou
subterrâneas). Os procedimentos de controle são periódicos e realizados por uma equipe
técnica qualificada. Deve ser destacado que os mesmos deverão ser extendidos inclusive à
fase de desativação do empreendimento.

No caso da barragem de rejeitos de Gongo Soco monitora-se o corpo da barragem (maciço)


através de 08 (oito) piezômetros e 01 piezômetro instalado na fundação (Tabela 4.4).
Foram instalados mais 06 (seis) piezômetros quando do último alteamento (cota 960 m) e
mais 03 (três) marcos superficiais de recalque.

165
Tabela 4.4 - Instrumentação da Barragem Sul.
Topo
Cod. Data Cota Cota Cota do Nível Nível
Localização Profundidade da
Instrumento Instalação Topo Fundo Terreno Atenção Emergência
Célula
MACIÇO PZ 04 01/01/2002 885.000 865.000 20.000 871.000 884.90 .000 .000
MACIÇO PZBSS 02 M 01/10/2001 930.647 903.14 27.500 905.147 930.147 924.860 927.420
MACIÇO PZBSS 03 M 30/09/2004 910.906 885.316 25.589 886.316 910.316 904.430 908.140
FUNDAÇÃO PZBSS 09 F 21/04/2002 900.210 870.210 30.000 871.210 900.210 895.210 897.470
MACIÇO PZBSS 09 M 21/04/2002 900.210 885.210 15.000 886.210 900.210 895.210 897.470
MACIÇO PZBSS 10 M 30/09/2004 910.764 887.16 23.600 888.164 910.164 904.43 908.140
MACIÇO PZBSS 12 M 30/09/2004 920.711 899.001 21.710 900.001 920.001 913.98 916.550
MACIÇO PZBSS 13 M 30/09/2004 921.306 899.616 21.690 900.616 920.616 913.980 916.550
MACIÇO PZBSS 5B 01/12/2006 949.816 938.306 11.510 936.306 949.710 945.220 947.630
Fonte: VALE/2007.

A equipe de Geotecnia da Vale faz inspeções periódicas na barragem, avaliando a sua


“performance” através da verificação de itens constantes de um “check list” específico de
barragens, inspeções de campo, análise e interpretação dos resultados do monitoramento. A
estrutura é submetida periodicamente à auditoria interna e externa. Além destes
monitoramentos já executados em Gongo Soco, deve-se destacar que o corpo técnico da
Vale adota procedimentos emergenciais (níveis de atenção, alerta e emergência) – níveis
de segurança da instrumentação (carta de risco) e manual de operação da barragem.

4.5.2.3.MONITORAMENTO DAS PILHAS DE DISPOSIÇÃO DE ESTÉRIL


O monitoramento geotécnico das pilhas engloba observações visuais e acompanhamento e
leituras da instrumentação instalada. Todas as pilhas de disposição de estéril são
instrumentadas com piezômetros, medidores de nível d´água, marcos superficiais e
medidores de vazões instalados a jusante dos diques de contenção de finos.

4.5.3.PROGRAMA DE CONTROLE DA QUALIDADE DO AR


A Vale realiza para a mina de Gongo Soco monitoramento de Partículas Totais em
Suspensão – PTS com auxílio de aparelho Hi-Vol instalado na estação localizada no
Distrito do André. Os monitoramentos são mensais. Os dados são processados
considerando-se o Índice de Qualidade do Ar - IQA. O IQA foi criado pela Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos – EPA, e possui o objetivo de simplificar e
padronizar a divulgação dos resultados de monitoramento da qualidade do ar pelos meios
de comunicação. Depois de calculado o valor do índice, o ar recebe uma classificação
conforme a escala apresentada na Tabela 4.5.

166
Tabela 4.5 - Estrutura do Índice de Qualidade do Ar.
IQA – Índice
PTS PM10 Qualidade do Cor de Resolução
3 3 de Qualidade
(µg/m ) (µg/m ) Ar Referência CONAMA 03/90
do Ar
0 – 80 0 - 50 0 - 50 BOA ATENDE AO
81 – 240 51 - 150 51 - 100 REGULAR PADRÃO
241 – 375 151 - 250 101 - 199 INADEQUADA
376 – 625 251 - 420 200 - 299 MÁ NÃO ATENDE
626 – 875 421 - 500 300 - 399 PÉSSIMA AO PADRÃO
876 – 1000 501 - 600 ≥ 400 CRÍTICA
Fonte: VALE – Julho-2006

As médias geométricas de Partículas Totais em Suspensão – PTS (Figura 4.10) para o


período de 2004 a julho de 2006 estão abaixo do limite estabelecido pelo CONAMA para o
padrão primário, que é de 80µg/m3.

100

limite média geométrica anual


80

60
µg/m3

39,36 40,64
40 34,77 36,75
33,55 34,47
31,70 30,23

20

0
2004 2005 M A R/05 a A BR/05 a M A I/05 a JUN/05 a JUL/05 a AGO/05 a
FEV/06 M AR/06 AB R/06 M AI/06 JUN/06 JUL/06

Figura 4.10 - Médias geométricas anuais de PTS – Distrito do André.


Fonte: VALE – 2004/2005 a Julho-2006.

4.5.4. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE VIBRAÇÕES


O nível das vibrações do terreno e da pressão acústica, gerados por desmonte a fogo na
mina de Gongo Soco, é monitorado com auxílio de sismógrafos e cumpre as normas
técnicas brasileiras (NBR 9653/2005). A pressão acústica, medida, além da área de
operação não pode ultrapassar o valor de 100Pa, o que corresponde a uma pressão acústica
de 134 dBL de pico. Para a análise e apresentação dos sismogramas utiliza-se o software
Blastware série III. De acordo com os relatórios analisados, os níveis das vibrações do
terreno estão de acordo com os limites estabelecidos pela NBR 9653/2005.

167
CAPÍTULO V
5. PROPOSIÇÕES DE DESCOMISSIONAMENTO DA MINA DE
GONGO SOCO

O processo de fechamento de uma mina engloba uma série de quesitos de ordem técnica,
econômica, ambiental, social e educacional, de análise de ameaças, oportunidades e
exigências que precisam ser abordados, bem como o calendário para que essa atividade
ocorra.

A legislação minerária aborda esta questão, no Código de Mineração, através da Norma


Reguladora de Mineração – NRM 20 (Portaria 237, de 18/10/2001) que obriga a
apresentação do Plano de Fechamento de Mina no PAE – Plano de Aproveitamento
Econômico que instrui a concessão do direito minerário, ou seja, no início do processo de
regularização da atividade de mineração. Apesar disso, para a mina de Gongo Soco, não
foi elaborado Plano de Fechamento. Sua concessão de lavra é anterior a tal portaria e a
empresa concessionária ainda não o elaborou, fato grave, frente aos sete anos previstos
para encerramento das suas atividades. No Brasil, operacionalmente, ainda é fato recente o
tema e surgiu a partir da paralização e/ou abandono de minas, seja por exaustão ou por
questões econômicas.

Um caso recente no Quadrilátero Ferrífero, exemplifica como o plano de fechamento é


importante no processo minerário. No município de Nova Lima - MG, após exaustão da
mina de Águas Claras (minério de ferro) área de propriedade da MBR – Minerações
Brasileiras Reunidas, recentemente incorporada pela Vale. A proposta de uso futuro é
transformar 194 hectares em um complexo comercial e habitacional, onde se prevê a
construção de apartamentos, áreas comerciais e de serviços, instalações de lazer e parque
urbano, área reservada para instalação de instituições de ensino e pesquisa, hotéis,
shopping a céu aberto e espaço cultural. A infraestrutura terá como âncora a instalação do
centro administrativo da Vale no Estado de Minas Gerais.

O empreendimento esta sendo planejado para ser desenvolvido ao longo de 20 anos,


gerando aproximadamente 20 mil novos postos de trabalho, incrementando em 20% o

168
Produto Interno Bruto (PIB) de Nova Lima, além de proporcionar um aumento de 150% na
arrecadação do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e de 50% no
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

O projeto do centro urbano da mina de Águas Claras ainda depende do licenciamento


ambiental para começar a ser executado. O uso futuro da área, que faz divisa com a Mata
do Jambreiro, RPPN localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, inclui a
formação de um lago na antiga cava com 200 metros de profundidade.

Considerando que as condições originais de Gongo Soco não serão restabelecidas na área
em estudo, as proposições apresentadas nesta dissertação têm como objetivo simular
situações possíveis de uso futuro, seguindo a legislação vigente, minerária e ambiental, na
busca da estabilidade e integridade do sistema a ser formado no contexto local.

A partir da caracterização e diagnóstico da mina de Gongo Soco foi possível contextualizar


o sítio analisado norteando aptidões (alternativas) e ações de uso futuro. A Figura 5.1,
mostra o sistema de funcionamento da mina de Gongo Soco.

O resultado de muitos anos de explotação de minério de ferro em Gongo Soco será uma
cava com 500 metros de profundidade e 190,26 ha de área de intervenção, com presença de
declividades acentuadas e áreas de risco de movimento de massa; quatro pilhas de
disposição de estéril; três instalações de tratamento de minério; duas barragens de rejeitos;
uma via férrea; um pátio de embarque de minério; sub-estação e rede de distribuição de
energia; oficinas; prédios administrativos e operacionais. Todas essas estruturas
apresentam especificidades ligadas a potencial de risco de erosão, movimentos de massa e
potencial contaminante, que exigem regras de tratamento que as torne compatíveis com a
situação de novo uso.

A recuperação de áreas degradadas se tornou um tema complexo. Hoje, a perspectiva de


melhorias ambientais e adoções de práticas conservacionistas, ações de recuperação a
serem descritas neste trabalho, toma proporção de elevada importância uma vez que a sua
aplicação gera não somente um compromisso favorável de âmbito ecológico, mas também
de cunho social (Responsabilidade Social).

169
Figura 5.1 - Fluxograma esquemático do sistema de funcionamento da mina de Gongo Soco.
Fonte: Elaborado por Neto, S.E, 2008.

170
Não há regras, no entanto, para determinação de um novo uso, nem procedimentos
específicos a serem adotados, visto que cada mina tem suas particularidades, regiões de
inserção com características distintas, que devem ser consideradas. Porém, o uso
sustentável de áreas mineradas – ecológicas inclusive, consolida-se como uma alternativa
para diminuir os impactos sociais e fomentar futuros empreendimentos que promovam a
geração de empregos e renda, perdidos com a exaustão da atividade.

A situação de fechamento, após realização de todos os procedimentos legais indicados para


esta fase, caminha para as seguintes possibilidades de uso:

 Uso exclusivo para conservação fomentando a recomposição dos ambientes


remanescentes com os ecossistemas originais, criação de unidade de conservação
com vistas à implantação de estrutura de pesquisa, divulgação, visitação e
educação. Para essa alternativa haverá necessidade de desmobilização das
instalações de tratamento de minérios e formação de um lago na cava até a cota 965
metros.

 Uso misto para outra atividade minerária aproveitando as instalações de tratamento


de minérios (ITM’s), a cava como bacia de contenção de rejeitos e o ramal
ferroviário para escoamento da produção de produto final, recebendo minérios de
outras minas próximas e fomentando áreas não mais utilizadas, medidas de
recomposição ambiental criando na propriedade (áreas remanescentes) unidade de
conservação, adoção de um ambiente de educação e pesquisa com apoio da Vale,
Prefeitura Municipal de Barão de Cocais, Centro Federal de Educação Tecnológica
de Ouro Preto – CEFET – OP, Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e
oportunizando planos de visitação de caráter técnico e educativo;

Para a primeira alternativa seria formado um lago na cava até a cota 965 metros,
desmobilização das ITM’s, transformando este local e as áreas remanescentes em unidade
de conservação na categoria de RPPN e implantação de centro de educação e pesquisa.

No segundo caso, de uso misto pela mineração, saliente-se a dificuldade de licenciamento


de barragens de rejeito e disponibilidade de uma área como a cava de Gongo Soco para

171
receber grande volume de tal material. Ressalte-se que esta opção favorece o
restabelecimento de parte do equilíbrio hidrogeológico, visto que devolve na cava material
permeável similar ao removido pela extração de minério e estéril. Ao redor da mina de
Gongo Soco existem concessões de lavra da Vale, como Gongo Velho, Baú, Piacó e
Maquiné que poderão vir a utilizar tal estrutura gerando ganho para o meio ambiente, por
se evitar a formação de novas barragens de rejeito. Ressalta-se que as áreas remanescentes
serão também recuperadas e incorporadas a uma unidade de conservação.

Para discussão de implementação destas transformações deve-se considerar:

 Paralisação das atividades minerárias em 2014.


 Alternativa 1: descomissionamento (pós-fechamento – uso exclusivo para
conservação) – desmobilização das instalações de tratamento de minério, formação
do lago na cava, recuperação florestal com vegetação nativa das estruturas minerárias
remanescentes, criação de unidade de conservação, implantação de um ambiente para
o desenvolvimento em educação e pesquisa e programa de monitoramento.
 Alternativa 2: descomissionamento (pós-fechamento – uso misto) – utilização das
instalações de tratamento de minérios (ITM’s) beneficiando minério de minerações
próximas, recuperação da cava com rejeito e/ou estéril de outras minas,
reaproveitamento de estruturas de apoio para implantação do centro de educação e
pesquisa, recuperação florestal das estruturas minerárias remanescentes (pilhas de
disposição de estéril) com vegetação nativa, criação de unidade de conservação e
programa de monitoramento.

5.1. PARALISAÇÃO DAS ATIVIDADES MINERÁRIAS


No final de 2014 serão finalizadas as atividades minerárias. O cessar de uma atividade
minerária é definido como sendo a fase de fechamento representado pelo fim da operação
da mina.

A situação projetada em 2014 do empreendimento minerário de Gongo Soco pode ser


observada na Figura 5.2. De acordo com esta figura observa-se que a área de propriedade é
de 1450,96 hectares. Neste total já estão incluídas as duas reservas legais localizadas na

172
porção norte e nordeste, ver pontos 9 e 10.

A Figura 5.2 mostra as intervenções minerárias prevista em 2014. A configuração final


prevista da PDE Nordeste irá intervir numa área de 149,54 ha (ponto 7). Uma pequena área
(porção norte) desta pilha ultrapassa a área de propriedade (7,04 ha), devendo esta porção
ser incorporada na propriedade.

A Tabela 5.1 mostra as intervenções minerárias previstas quando da cessação das


atividades minerárias da mina de Gongo Soco. A Tabela 5.2 mostra o uso e ocupação do
solo em 2014. Já a Figura 5.3 ilustra as intervenções minerárias e os remanescentes
florestais em 2014.

Tabela 5.1 - Intervenções minerárias projetadas para 2014.


Intervenções Minerárias Área (ha) Figura 5.1
Barragem de Rejeito Sudoeste 96,19 Ponto 1
Barragem de Rejeito Sul Superior 31,01 Ponto 2
PDE Sudoeste 44,82 Ponto 3
PDE Sudeste 73,04 Ponto 4
PDE Correia 2,52 Ponto 5
Cava de Gongo Soco 190,26 Ponto 6
PDE Nordeste 149,54 Ponto 7
Estrada de Acesso entre a Cava e a PDE Nordeste 7,39 Ponto 11
Instalações de Tratamento de Minérios e Embarque 26,57 Ponto 12
Total 621,34
Fonte: Elaborado por Neto, S.E, 2008.

Tabela 5.2 - Uso e ocupação do solo em Gongo Soco – projeção 2014.


Uso e Ocupação do Solo Área (ha) % Ocupação
Área total 1.450,96 100
Intervenções minerárias 621,34 42,82
Áreas sem intervenções minerárias 829,62 57,18
Fonte: Elaborado por Neto, S.E, 2008.

Conforme Tabela 5.2 observa-se que 621,35 hectares correspondem a intervenções


minerárais (42,82 % do total da área de propriedade) e 829,62 hectares de área não
impactada (57,18% do total da área de propriedadede), ver Figura 5.3.

173
No momento do descomissionamento Gongo Soco comporá as seguintes formações
listadas na Tabela 5.3 e ilustradas na Figura 5.4.

Tabela 5.3 - Áreas de uso e ocupação do solo em 2014 em Gongo Soco.


Tipologias Área (ha)
Barragens de rejeitos 127,23
Vegetação de áreas alteradas 68,39
Áreas antropizadas (inclui cava, pilhas de estéril + estradas de acesso, cortes,
534,82
ITM’s, ferrovia e linha férrea)
Vegetação do tipo Floresta Estacional Semidecidual em estágio avançado de
130,65
regeneração
Vegetação do tipo Floresta Estacional Semidecidual em estágio incial de
313,25
regeneração
Pasto limpo 62,13
Plantio de eucaliptos 64,59
Reserva Legal não contigua 149,90
Total 1.450,96
Fonte: Elaborado por Neto, S.E, 2008.

Sendo assim, em 2014 a proposta é transformar 829,62 hectares em reserva florestal, ou


seja, em Unidade de Conservação na categoria de RPPN. O restante da área composta pela
cava (190,26 ha) e pelas barragens de rejeitos (127,23 ha) seria classificado como áreas
com restrições geotécnicas totalizando 317,49 ha. As pilhas de disposição de estéril e as
ITM’s (após desmobilização) poderão também ser incorporadas à RPPN, totalizando,
portanto, uma RPPN de 1.133,47 ha.

176
5.2.ALTERNATIVA 1 – PÓS-FECHAMENTO – USO EXCLUSIVO PARA
CONSERVAÇÃO
Conforme já mencionado o pós-fechamento ou descomissionamento de um
empreendimento minerário é uma etapa posterior à recuperação. Seria o uso futuro
proposto para a área.

5.2.1.DESMOBILIZAÇÃO DAS INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS E DE APOIO


Praticamente todas as estruturas industriais e de apoio deverão ser desmontadas. No caso
das instalações de tratamento de minérios (estruturas metálicas) a Vale poderá utilizá-las
em outras minas ou mesmo comercializá-las. Quanto às edificações (alvenaria), propõe-se
demoli-las o máximo possível devendo entulhos de construção ser reutilizado ou mesmo
comercializado. No caso de material inerte e não reutilizável os mesmos deverão ser
encaminhados para serem dispostos na PDE Nordeste.

Quanto às estruturas remanejadas (2007) no platô da PDE Sudeste, propõe-se a


desmobilização das áreas de abastecimento de veículos, borracharia e oficina mecânica.
Algumas edificações poderão ser preservadas para serem utilizadas como áreas de apoio
educacional.

5.2.2.FORMAÇÃO DO LAGO NA CAVA


O processo de rebaixamento do nível de água subterrânea na cava de Gongo Soco deve ser
entendido como um processo intrínseco ao desenvolvimento da lavra. Verificou-se nos
estudos hidrogeológicos que o rebaixamento do nível d´água poderá interferir nas vazões
naturais situadas no entorno da mina e afeta os córregos Capim Gordura e Congo Velho.

Na paralisação da mina, com o término do bombeamento, será iniciada a formação de um


lago, fazendo com que o nível d´água retorne à sua posição de origem, em que espera-se
que se restabeleçam os fluxos originais de água subterrânea, finalizando os impactos
hidrológicos.

A cava exaurida terá como novo uso da área minerada um lago até a elevação 965 metros,
com desnível variável de, no máximo, 133 metros de profundidade. O lago que se formará

178
na cava promoverá a recuperação das vazões naturais impactadas e consistirá num grande
reservatório de água. Esse reservatório poderá ser integrado ao sistema de abastecimento
público de água da cidade de Barão de Cocais, distante 18 km do centro da cidade. A
acumulação de água no interior da cava funcionará também como área de recarga dos
aqüíferos. Além deste fato o lago promoverá a regularização das vazões, acumulando água
nos períodos chuvosos e funcionando como reserva nos períodos de estiagem (Bertachini,
1994).

A Figura 5.5 ilustra a alternativa 1 de uso futuro proposto para área. Todas as pilhas de
disposição de estéril remanescentes deverão ser incorporadas como Unidade de
Conservação. Exceção feita quanto aos taludes superiores da cava (acima da cota 965 m) e
as barragens de rejeitos, que deverão ser permanentemente monitoradas, sendo
classificadas como áreas de restrição geotécnica.

As porções superiores da cava acima da cota 965 m, que atingem os taludes e as bermas
finais, serão revegetadas. Além desta medida a Vale já adota de forma controlada o
direcionamento das águas pluviais para o interior da cava. Desta forma, a empresa deverá
intensificar os trabalhos de drenagem superficial com caimentos longitudinais (1%) e
transversais (3%) distribuindo os fluxos pluviais de forma a evitar processos erosivos,
gatilhos para a instabilidade de taludes. O direcionamento do fluxo pluvial deverá ser
encaminhado para caixas de passagem e descidas d´água previamente dimensionadas para
períodos de recorrência superiores a 100 anos.

179
5.2.3.RECUPERAÇÃO FLORESTAL COM VEGETAÇÃO NATIVA DAS
ESTRUTURAS MINERÁRIAS REMANESCENTES
O programa de reabilitação terá como objetivo principal a recomposição da vegetação
nativa dos taludes da cava (acima da cota 965 m), das bermas e taludes das PDE’s e da
área das ITM’s, visando à recuperação da flora local, aumentando o habitats para a fauna
além de minimizar o impacto visual.

A prática observada hoje nas minerações a céu aberto consiste na revegetação de áreas que
não sofreram mais intervenção a partir da aplicação de biomantas e semeadura de
gramíneas e leguminosas.

Raras são as situações onde observa-se reflorestamento. Esta prática deve mudar, visto que
a mina se insere no bioma da Mata Atlântica, protegido por Lei Federal e abrange áreas de
preservação permanente (APP), que, legalmente, devem ser reflorestadas com espécies dos
ecossistemas originais.

O reflorestamento tem como premissa a coleta de sementes e plântulas, cultivo de mudas


em viveiro e plantio nos locais definitivos. Ele é feito com um misto de espécies, pioneiras
e secundárias, como mostra a literatura específica. As primeiras são de rápido crescimento
e adaptadas à luminosidade, enquanto que as outras têm crescimento lento e não se
desenvolvem bem ao sol. Como exemplos de espécies pioneiras pode-se citar o angico
jacaré (Piptadenia gonoacantha); o angico branco (Anadenanthera peregrina); jatobá
(Hymenaea stilbocarpa); ingá (Inga spp); açoita cavalo (Luehea divaricata); cássia
fedegoso (Senna sp.); cafezinho-do-mato (Psicotria spp); capitão-do-campo (Terminalea
argentea); etc. Entre as secundárias, ocorrem espécies como as canelas (Nectandra e
Ocotea); os araticuns (Annona spp); braúna (melanoxylum brauna); jacarandá
(Machaerium sp e Dalbergia nigra); cedro (Cedrella fissilis); entre outras.

A cobertura vegetal nativa é expressiva em Gongo Soco, com presença de várias espécies
ameaçadas de extinção que compõem a expressiva floresta observada.

Por isso, o reflorestamento é o mais indicado, inclusive porque será cobrado pelas
instituições públicas, em relação a condicionantes impostas no licenciamento pretérito do

181
empreendimento.

Não existe, no entanto, nenhuma estrutura para a produção de mudas na unidade minerária,
o que deverá consistir numa preocupação para a empresa, nos anos que antecedem o
fechamento da mina.

Nas áreas que não sofreram intervenções minerárias, não serão necessárias medidas de
recuperação ambiental, uma vez que já se encontram com vegetação em diferentes estágios
de regeneração natural. Os remanescentes atuais e esses últimos são fontes de propágulos
para o reflorestamento necessário.

5.2.4.CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO


Nas áreas remanescentes e reabilitadas da mineração, a proposta é regulamentar, através da
Lei SNUC (Lei 9.985, de 18/07/2000), uma Unidade de Conservação na categoria de
Reserva Particular de Patrimônio Natural – RPPN. Tal medida, se concretizada, beneficiará
ao meio ambiente contribuindo para a preservação de remanescentes florestais da Mata
Atlântica, que são consideradas hotspots, área prioritária para a conservação da natureza
mundial.

Nas estruturas minerárias remanescentes (PDE’s), após as áreas serem recuperadas com
vegetação nativa e garantidas sua estabilidade física, serão incorporadas à Unidade de
Conservação.

A maioria dos planos de fechamento de mina propõe para uso futuro, a criação de áreas
agrícolas e comerciais (condomínios residenciais). No caso de Gongo Soco, fica evidente
que tais usos não são compatíveis, visto as condições geotécnicas não apropriadas ao uso
humano intensivo, com edificações, residências e trânsito. A mina remonta desde o século
XIX e situa-se na zona de transição entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado.
Observa-se um sítio arqueológico (vila britânica do século XIX), tombada pelo IEPHA em
1995, constituindo o conjunto das ruínas de Gongo Soco, que são as características mais
marcantes que devem ser potencializadas pela conservação, divulgação e pesquisa.

182
A Unidade de Conservação proposta para a área seria uma maneira de reverter a paisagem
local visto que é intensa a exploração dos recursos naturais que datam desde o século XIX.
Cabe ressaltar que além deste uso futuro deverá ser dada ênfase na educação ambiental e
uso sustentável na região, explorando o conjunto das ruínas de Gongo Soco.

Contabilizando as áreas citadas, haverá em torno de 1.133,47 hectares de preservação


ambiental e o favorecimento da biodiversidade (ver Figura 5.5).

5.2.5.IMPLANTAÇÃO DE UM AMBIENTE PARA O DESENVOLVIMENTO EM


EDUCAÇÃO E PESQUISA
Sobre estes aspectos, a proposta de implantação de um centro de educação e pesquisa irá
contribuir para a construção de uma comunidade com valores éticos, sociais e atitudes, no
município de Barão de Cocais.

São relevantes as análises referidas por Grossi (1981), Volpato (1984) e Minayo (1986),
que visam o resgate do passado e a apropriação da história local pelas antigas e atuais
comunidades mineiras. Tais proposições poderiam contribuir para o desenvolvimento
local, através de projetos de conservação, restauro e uso turístico e educativo de antigas
minas e demais elementos do patrimônio mineiro, a exemplo do que ocorre em muitas
regiões mineiras de diversos países.

Portanto, propõe-se a criação de cursos de curta duração voltados para a área das ciências
da natureza, oportunizando aos jovens da região conhecimentos na área ambiental e de
conservação do patrimônio. Poderiam ser criados ainda programas educativos, cursos
técnicos para a comunidade local e regional e para funcionários da Vale.

Os cursos dariam ênfase em recuperação de áreas degradadas, resgate de plantas, técnicas


de plantio e de monitoramento.

Para que esta proposta possa ser implantada, a Vale deverá criar parcerias com a Prefeitura
Municipal de Barão de Cocais, IEPHA, Centro Federal de Ensino Tecnológico de Ouro
Preto – CEFET-OP e Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP.

183
Além dos cursos já propostos, este centro de educação também poderia oferecer para as
comunidades locais e regionais visitas monitoradas. Com isso, adolescentes, jovens e
adultos poderiam ter a oportunidade de adquirir conhecimento sobre meio ambiente em um
local anteriormente explotado e que passaria a apresentar um cenário de
recuperação/conservação da biodiversidade.

Algumas edificações poderiam ser reaproveitadas ou mesmo readaptadas tais como:


prédios da administração, da operação da mina, restaurante, caixa d´água, estação de
tratamento de água (ETA), torre de telecomunicações, dentre outras. As outras edificações
que seriam desmobilizadas poderiam dar lugar a novas instalações de apoio ao centro de
educação (biblioteca, laboratório de computação, viveiro de mudas, dentre outros).

5.2.6.PROGRAMA DE MONITORAMENTO
Corresponde ao período destinado ao acompanhamento dos programas de reabilitação
propostos, visando demonstrar e garantir o sucesso do descomissionamento da mina de
Gongo Soco.

Consiste em realizar medições e observações específicas dirigidas a alguns indicadores e


parâmetros ambientais, com o objetivo de identificar possíveis alterações na qualidade das
águas, do ar, estabilidade dos taludes da cava durante o enchimento (formação do lago e/ou
durante o preenchimento da cava com rejeito), estabilidade do maciço e da fundação das
barragens de rejeitos e funcionamento dos dispositivos de drenagem superficiais e
periféricos destas estruturas.

Em relação às barragens de rejeitos e pilhas de disposição de estéril os maiores riscos ao


longo do tempo são referentes às ações erosivas (drenagem superficial), percolação d´água
e às forças atuantes nos maciços e fundações. Portanto, os dispositivos de drenagem
superficiais e periféricos devem ter controle permantente no período chuvoso. Deverá ser
implantado rigoroso programa de manutenção destas estruturas e continuidade da leitura e
interpretação da instrumentação já instalada. O mesmo deve ser feito com as pilhas de
disposição de estéril.

184
Cabe destacar que não há uma regra específica que defina o momento/período de
monitoramento de estruturas minerárias pós-fechamento. Somente após uma análise
preliminar de risco, ou seja, anterior ao fechamento irá nortear diretrizes necessárias de
monitoramento contínuo, permanente ou mesmo esporático.

5.3.ALTERNATIVA 2 – PÓS-FECHAMENTO – USO MISTO

5.3.1.UTILIZAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DE TRATAMENTO DE MINÉRIO E


RECUPERAÇÃO DA CAVA COM REJEITO E/OU ESTÉRIL
Outra alternativa de uso futuro é não desmobilizar as instalações de tratamento de minérios
– ITM’s utilizando-as para beneficiar minério de ferro proveniente de concessões de lavra
da Vale (Figura 5.6). A empresa estuda abrir novas minas nas proximidades de Gongo
Soco destacando-se Gongo Velho, Baú, Piacó e Maquiné, dentre outras.

O minério proveniente destas futuras lavras poderia ser conduzido por transportadores de
correia, sendo processado nas ITM’s de Gongo Soco.

O rejeito produzido seria bombeado para o interior da cava já exaurida, preenchendo-a.


Essa medida proporcionaria a recuperação de uma área lavrada, não demandando a
formação de mais uma barragem de rejeitos na região do Quadrilátero Ferrífero,
preservando áreas de proteção ambiental (APP’s), que por sua vez são normalmente
compostas por vegetação nativa do bioma da Mata Atlântica. Está medida reduziria o
impacto ambiental da atividade mineradora na região de Barão de Cocais.

Além do minério transportado para as ITM’s de Gongo Soco, a Vale pode analisar também
a viabilidade em transportar estéril proveniente das minas citadas, conduzido via correia
transportadora e dispondo-o no interior da cava exaurida. Estas propostas merecem uma
análise criteriosa quanto aos aspectos técnicos, operacionais e financeiros, mas são
recomendados frente às limitações legais impostas, especialmente às de proteção ao meio
natural.

Esta alternativa pode ser adotada mantendo as outras propostas de uso futuro apresentadas
na alternativa 1. A única diferença seria uma pequena redução de 26,57 ha na RPPN, pois

185
as instalações de tratamento de minério e embarque iriam funcionar. Sendo assim, a
altenativa 2 (uso misto) teria 317,49 ha (cava e barragens – restrição geotécnica), 26,57 ha
(área das ITM’s) e 1106,90 ha de RPPN (Figura 5.6)

5.4. VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS ALTERNATIVAS DE USO


FUTURO
A Tabela 5.4 apresenta resumidamente as vantagens e desvantagens do ponto de vista
qualitativo das duas alternativas de uso futuro propostas para Gongo Soco. Pode-se
observar que a alternativa 2 (uso misto) foi a que mostrou aspectos ambientais mais
vantajosos para todos os elementos do meio (físico, biótico e antrópico)..

Tabela 5.4 - Vantagens e Desvantagens das Alternativas de Uso Futuro para a Mina de Gongo Soco.
FATORES ALTERNATIVA 1 ALTERNATIVA 2
QUALITATIVOS VANTAGEM DESVANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM
MEIO FÍSICO
Disposição de Utilização de área
rejeitos e/ou estéril impactada para
proveniente de disposição de rejeito e/ou
minas próximas a estéril no interior da cava
Gongo Soco exaurida
Controle sistemático
Controle geotécnico dos
(intenso) da
taludes finais – problema
estabilidade dos
Estabilidade menos intenso
taludes com a
Geotécnica da (confinamento com o
recuperação do
Cava Final rejeito e/ou estéril
aqüífero (situação
proveniente de outras
dos taludes não
minas).
drenados)
Reservatório de
água podendo
integrá-lo ao
Formação do Lago sistema de
na Cava abastecimento
público de
Barão de
Cocais.
Aumento da
Diminuição da
manutenção de
manutenção de
poços verticais
poços de
(garantir a vazão
Bombeamento bombeamento
de cursos d´água
D´água d´água para
impactados com
manutenção de
provável
vazões dos
diminuição da
cursos d´água.
vazão)
MEIO BIÓTICO
Preservação de É previsto pela Vale Diminuição dos impactos
Vegetação Nativa a abertura de novos ambientais quanto à
na Região (QF) empreendimentos supressão de

186
minerários na remanescentes florestais
região. Haverá de mata Atlântica.
necessidade de Aumento da
implantação de biodiversidade da região
novas plantas de devido a não supressão
tratamento de de vegetação nativa.
minério, (aumento do habitat para
implantação de a fauna)
novas PDEs e de
Barragens de rejeito
(impacto ambiental
significativo de
novas áreas no QF).
Implantação de
Unidade de Ambas alternativas são positivas para o meio ambiente
Conservação (UC)
MEIO ANTRÓPICO
Funcionamento das
ITMs processando
minério de ferro
proveniente de minas
próximas a Gongo Soco.

Funcionamento do
Manutenção de
Carregamento/Transporte
Postos de Trabalho
e Comercialização de
produtos finais (sinter-
feed, pellet-feed e
granulado) com a
manutenção do pátio de
produtos (pêra
ferroviária)

Implantação do
Centro de
Ambas alternativas são positivas para o meio ambiente
Educação e
Pesquisa
Fonte: Elaborado por Neto, S.E, 2008.

187
CAPÍTULO VI

6. CONCLUSÃO

A análise dos dados apresentados nesta dissertação, mostra que o descomissionamento de


minas é obrigatório, conforme determina a NRM 20, e fundamentado num Plano de
Fechamento de Mina que deve ser elaborado pela empresa no momento que esta apresenta
o Plano de Aproveitamento Econômico no DNPM, ou seja, no início do processo, quando
a Federação lhe confere o direito mineral (Concessão de Lavra). Apesar disso, a jazida de
ferro de Gongo Soco é explotada desde 1989 (Concessão de Lavra concedida em
14/03/1969) e não possui um Plano de Fechamento.

Esta dissertação enfocou este sujeito, mas se ateve sobre a definição do uso futuro da área,
considerando que as questões técnicas pertinentes à estabilidade da cava, pilhas de
disposição de estéril, barragens deverão ser reavaliadas, principalmente para o caso da
cava, ou seja, considerar as análises de estabilidade para o caso não drenado (recuperação
do aqüífero).

A inegável importância da mineração no contexto sócio-econômico regional a torna viável,


mas somente se impactos forem controlados, medidas mitigadoras e compensatórias
aplicadas, evitando a degradação do meio ambiente e dos ecossistemas naturais, muito
valorizados na região em questão.

A legislação protege as florestas, as águas e obriga constitucionalmente a recuperação das


áreas mineradas. O plano de descomissionamento orienta o processo de desenvolvimento
até o fechamento facilitando a etapa subseqüente, que é dar um novo uso ao local.

A mina de Gongo Soco resultará numa cava de 500 metros de profundidade, cercada de
taludes íngremes, que será preenchida parcialmente por água até a cota 965 metros,
deixando 367 metros de taludes na porção norte e 90 metros na porção sul da cava, caso a
atividade principal seja paralisada. Caso ela continue, a cava provavelmente será

189
preenchida com rejeitos até a cota 965 metros, com possibilidade de disposição de estéril
acima desta cota.

Duas barragens de rejeito com 127,20 hectares de área e quatro pilhas de estéril deverão
permanecer no local, totalizando 269,92 ha, todas de grandes dimensões, com alturas entre
90 e 210 metros, com exceção da PDE Correia. As instalações de tratamento de minério,
pátio de estocagem, pátio de embarque, ferrovia, subestação, sucatas e resíduos estarão
paralisados para desmonte ou reutilização.

No momento da paralisação das atividades minerárias, cessará o bombeamento dos poços


de rebaixamento do nível d´água, iniciando a formação do lago. Bordas da cava acima da
cota 965 m serão revegetadas com espécies nativas. As pilhas de disposição de estéril
também serão reflorestadas com espécies nativas, constituindo reserva florestal. Desta
forma, as áreas remanescentes que não sofreram intervenções serão agregadas às áreas
reflorestadas, resultando em 1.133,47 hectares de ambiente florestal (alternativa 1) ou
1.106,90 hectares (alternativa 2).

Frente ao exposto, duas alternativas foram planejadas para que, no momento do


fechamento, sejam executadas, a fim de dar novo uso à área minerada. A primeira prevê o
encerramento da atividade minerária e a destinação da área a uma unidade de conservação.
A segunda prevê o uso misto, ou seja, atividade minerária e unidade de conservação. Como
observado no capítulo 5, o uso misto se configura como a alternativa regional considerada
mais viável frente à inserção do empreendimento que se insere nas proximidades de futuras
minas de minério de ferro de concessão da Vale onde o minério poderá ser encaminhado
para ser processado nas ITM’s de Gongo Soco bombeando o rejeito para o interior da cava
exaurida. O mesmo poderá ser feito com o estéril proveniente destas futuras minas, ou seja,
ser transportado para ser disposto também no interior da cava exaurida de Gongo Soco.

O plano de descomissionamento de uma mina não envolve apenas a questão da reabilitação


ambiental, mas também as questões econômicas e sociais. Sendo este um tema abrangente
torna-se, portanto, necessário que a multidisciplinaridade seja fator preponderante na
concepção executiva das ações propostas neste trabalho. Isso, também, não implica na
omissão de opinião da comunidade.

190
Outra questão que não foi tratada neste estudo, mas que é de suma importância no contexto
sócio-econômico regional, é a reposição do emprego e perda de arrecadação do município
de Barão de Cocais. Espera-se que funcionários locados em Gongo Soco sejam
encaminhados para outros empreendimentos, enquanto que, com a implantação de novos
empreendimentos minerários em Barão de Cocais, a arrecadação seja gradativamente
recuperada.

Com a proposta de uso misto para Gongo Soco, vários empregos deverão ser mantidos,
pois as ITM’s irão funcionar processando minério de minas próximas. Além destas
estruturas, o carregamento de produtos (pêra ferroviária) e a manutenção de sistema de
bombeamento de rejeitos para o interior da cava irão também fomentar diversos empregos
diretos.

Apesar da Vale ainda não possuir um plano de fechamento para a mina de Gongo Soco, a
dissertação ora apresentada visa contribuir para a discussão sobre o tema. Deve-se ressaltar
que as duas alternativas de uso futuro são exeqüíveis e embasadas na caracterização e
diagnóstico do empreendimento e pela experiência técnica do autor em estudos
geoambientais. Os cenários apresentados buscam assegurar a sustentabilidade ambiental da
região contribuindo para a preservação da biodiversidade, pois a mesma se insere no bioma
da Mata Atlântica, protegido pela Lei 11.428.

Com intuito de preservação, não se pode desvincular a questão da educação para sustentar
tais propostas. Para isso, um centro educacional foi sugerido para que gerações atuais e
futuras tenham oportunidade de adquirir conhecimento em meio ambiente, recuperação de
áreas degradadas e afins, perpetuando na região o entendimento sobre o uso sustentável de
recursos naturais.

Cabe ressaltar que as propostas apresentadas são exclusivas do autor da dissertação não
tendo sido discutidas com a Vale e tampouco com a população de Barão de Cocais. Nesse
contexto considera-se que tais proposições sejam instrumentos iniciais para subsidiar
futuras discussões quando a Vale apresentar seu plano de fechamento ao órgão ambiental
estadual (FEAM) e abrir as discussões com a comunidade.

191
CAPÍTULO VII
7.SUGESTÕES

Propõe-se para futuros estudos uma série de medidas que fundamentem mais detalhamente
este plano de fechamento, tais como: uma análise ou uma comparação do planejamento
estratégico e tático, contemplando a elaboração de análise de risco ambiental, geotécnico,
hidrogeoquímico; verificação da necessidade de selamento superficial das barragens de
rejeitos; manutenção de brigada de incêndios florestais; realização de um inventário
detalhado sobre as atividades da mineração antes do fechamento; continuidade dos
monitoramentos geotécnicos, hidrogeológicos das estruturas minerárias e manutenção do
monitoramento das vazões dos cursos d´água cadastrados no entorno de Gongo Soco (pós-
fechamento).

É necessário verificar a partir da modelagem hidrogeológica existente, o volume de


armazenamento de água e a estimativa real de enchimento do lago versus tempo. Outro
trabalho proposto seria refazer as análises de estabilidades da cava projetada para 2014,
pois conforme diagnóstico apresentado nesta dissertação os fatores de segurança adotados
são mais arrojados que os usualmente adotados pelo setor mineral. Além disto, propõe-se
analisar o comportamento geotécnico dos taludes com a recuperação do nível d´água,
avaliando sua estabilidade durante o enchimento do lago (término do bombeamento do
nível d´água), ou seja, considerando-se um cenário não drenado, ou seja, verificando o
comportamento do maciço em relação ao tempo (preenchimento d´água gradativo da cava).
Estes temas propostos comportam futuros estudos técnicos (dissertações de mestrado e de
doutorado).

Outra questão relevante é o monitoramento durante a formação do lago da qualidade da


água, através de parâmetros de natureza físico-química e hidrobiológica, de acordo com a
Resolução CONAMA 357/05. Deve-se promover também antes e durante o período
chuvoso a manutenção permanente dos dispositivos de drenagem superficial e periférica
das estruturas minerárias, fiscalização/segurança/vigilância da área da propriedade,
programa de monitoramento do desenvolvimento florestal e
monitoramento/acompanhamento do retorno da fauna aos novos habitats.

192
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