Gestão Escolar Na Perspectiva Da Educação Inclusiva: Rosângela Maria Nunes Da Luz Jerônimo Sartori
Gestão Escolar Na Perspectiva Da Educação Inclusiva: Rosângela Maria Nunes Da Luz Jerônimo Sartori
Gestão Escolar Na Perspectiva Da Educação Inclusiva: Rosângela Maria Nunes Da Luz Jerônimo Sartori
Resumo
Introdução
A educação inclusiva tem sido objeto de muita polêmica no meio educacional. Nesse
sentido, o estudo problematiza o entendimento dos conceitos de integração e de inclusão no
ambiente escolar e os limites e o papel do gestor na educação inclusiva, a partir da literatura
acadêmica. Considera-se imprescindível a clareza e o discernimento de tais concepções para
que se possam desenvolver práticas inclusivas, envolvendo todas as pessoas,
independentemente das suas especificidades.
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Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo - RS (UPF), licenciada em Letras – Habilitação em
Língua Portuguesa e Literaturas pela UPF, especialista em Gestão Escolar, especialista em Administração
Estratégica em Serviços pela Universidade Caxias do Sul (UCS) e especialista em Educação Profissional pelo
SENAC. Professora de Língua Portuguesa na rede [email protected]
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Professor orientador. Professor Dr. em Educação PPG/Edu – Faced- UFRGS. Docente do Campus Erechim –
UFFS. E-mail: [email protected].
A escolarização regular de crianças e jovens com deficiência têm gerado fortes
inquietações acerca dos modos de desenvolver o processo inclusivo. Em muitos casos, se
percebe que certo tipo de inclusão acontece por imposição das políticas públicas, no esforço
de cumprir a lei, ou de tentar cumpri-la. É preciso compreender que as mudanças no sistema
educacional, para atender à Educação Inclusiva, dependem de diversos fatores que envolvem
o contexto político, social, econômico e cultural em que se insere a escola, as concepções e
representações sociais relativas à deficiência e os recursos materiais disponíveis à escola
(MENDES, 2002).
Diante deste contexto, faz-se necessário refletir sobre o entendimento do que são
integração e inclusão, o papel do gestor escolar na escola inclusiva no contexto educativo, de
modo que através desse entendimento se tenha condições de oferecer aos educandos um
ambiente escolar acolhedor com uma educação de qualidade para todos. Nessa abordagem
Sassaki (2010, p. 27), afirma “que os conceitos inclusivistas foram lapidados a partir de 1981
por todos quantos participaram, nos setores sociais”.
Assim, o entendimento das concepções inclusivas é necessário para que as escolas se
transformem em espaços inclusivos e de qualidade, que valorizem as diferenças sociais,
culturais, físicas e emocionais, atendendo as deficiências de cada aluno.
Percebe-se diariamente que alguns alunos estão integrados na escola, mas não estão
inclusos, como preconiza a Lei nº 9.394/1996 em seu artigo 583. Tal percepção baseia-se no
fato de que os alunos “incluídos” têm dificuldades em realizar as atividades propostas e
também em estabelecer uma convivência harmoniosa e produtiva com os colegas. Sabe-se que
muitos desses alunos permanecem excluídos dentro do sistema escolar, não obstante a sua
presença física nos espaços convencionais de estudo. Diante desse cenário me pergunto: que
inclusão é essa que se está disseminando nas instituições escolares? Quais os principais
obstáculos para a realização de práticas efetivamente inclusivas? Mediante quais condições
humanas, pedagógicas e materiais se está atuando, para dar conta dessas prerrogativas legais
em relação à Educação Inclusiva?
A aproximação de respostas a essas interrogações não pode se dar desvinculadamente
da perspectiva de que a educação é o alicerce de cada sujeito. De outra forma, é pela educação
que o sujeito transforma e amplia saberes que lhe ajudarão na construção de uma sociedade
melhor para todos. Concretamente, esse construir requer certo grau de articulação entre o
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“Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtorno globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação” (BRASIL, 1996, p. 43).
sistema educacional e toda a comunidade escolar, incluindo-se alunos, professores, direção e
funcionários da escola e, também, as famílias.
Diante das inquietações acerca do conjunto de restrições que os alunos com deficiência
enfrentam para socializarem-se no ambiente escolar e, também em desenvolver as suas
habilidades com o propósito de uma aprendizagem que os ajude a defender-se com dignidade
na sociedade, se estabelece como objetivo geral deste estudo: investigar e compreender o
papel do gestor escolar que norteiam a gestão das escolas inclusivas, do ponto de vista dos
gestores. Como objetivos específicos se propõem: a) compreender a função do gestor escolar
diante da educação inclusiva; b) entender os conceitos que envolvem a educação inclusiva,
refletindo sobre o entendimento do que são integração e inclusão no contexto educativo.
Assim compreendendo, no delineamento deste estudo optou-se por uma pesquisa de
caráter bibliográfico. Gil (2010) ajuda a entender que a pesquisa bibliográfica é desenvolvida
com base em material já elaborado, composto de livros e artigos científicos. Salienta também
o cuidado que os pesquisadores têm ao analisar cada informação para evitar incoerências.
Medeiros (2010), por sua vez, diz que a pesquisa bibliográfica significa o levantamento da
literatura alusiva ao assunto que se deseja estudar. A pesquisa bibliográfica apresenta quatro
etapas, assim caracterizadas:
Outra informação relevante, diz respeito à sociedade civil que a partir de 1930, começa
a organizar-se em associações de pessoas preocupadas com o problema da deficiência, com
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Amblíopes quer dizer pessoa que sofre de ambliopia, isto é, com sensibilidade visual, sem lesões aparentes do
olho, cujas causas são variadas: mal formação da retina, albinismo, abuso de tóxicos. (Dicionário de Língua
Portuguesa com Acordo Ortográfico Infopédia).
isso o governo desencadeia ações visando à particularidade do alunado, criando escolas e
hospitais. Nessa época os educadores envolvidos com a educação de deficientes empregam a
expressão ensino emendativo5.
Nessa abordagem, Jannuzzi (2012) conta que a década de 1970 foi um dos marcos na
educação do deficiente, pois nela ocorrem acontecimentos que colocam a área em destaque.
Nessa década criou-se um órgão, o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP, o qual
responsável por fatores conjunturais externos e internos. Este órgão mudou de nome várias
vezes de acordo com o governo, consolidando-se em 1990. Prosseguindo, em 1985 ocorreu a
criação da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora da Deficiência –
CORDE, e em 1999, Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência –
CONADE, que tem como objetivo coordenar as ações dos ministérios e a política de
integração das pessoas com deficiência. Junto a essas movimentações é elaborado um
conjunto de leis e decretos, alguns dos quais são mencionados a seguir:
Diante da historicidade da educação especial, pode-se dizer que muitas batalhas foram
vencidas, mas há muitas outras a serem conquistadas com o propósito de verdadeiramente
fazer acontecer a educação inclusiva nas escolas. Nesse sentido, os órgãos governamentais, os
educadores, gestores e a família necessitam aderir a esse processo com comprometimento,
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A expressão ensino emendativo, de emendare (latim), significa corrigir falta, tirar defeito, traduziu o sentido
diretor desse trabalho educativo em muitas das providências da época. Armando Lacerda, no livro. A pedagogia
emendativa do surdo-mudo: considerações gerais, colocou que a finalidade dessa educação era suprir falhas
decorrentes de anormalidades, buscando adaptar o educando ao nível social dos normais (JANNUZZI, 2012, p.
59).
responsabilidade, colaboração, dialogicidade, amor, flexibilidade, compreensão, solidariedade
a fim de a socialização ocorrer.
Diante do estudo realizado, percebe-se que ao longo dos séculos, as sociedades foram
sofrendo transformações quanto às atitudes dispensadas às pessoas com deficiências, neste
momento nos detemos a entender o conceito de integração. No sentido etimológico,
integração vem do verbo integrar, que significa formar, coordenar ou combinar num todo
unificado. Nessa abordagem,
A ideia de integração surgiu para derrubar a prática da exclusão social a que foram
submetidas as pessoas com deficiência por vários séculos. A exclusão ocorria em
seu sentido total, ou seja, as pessoas com deficiência eram excluídas da sociedade
para qualquer atividade porque antigamente elas eram consideradas inválidas, sem
utilidade para a sociedade e incapazes para trabalhar, características essas atribuídas
indistintamente a todas as pessoas que tivessem alguma deficiência (SASSAKI,
2010, p. 30).
Há atitudes discriminatórias.
As diferenças culturais são ignoradas.
A diferença é vista como empecilho para a aceitação social.
Os professores afirmam que não estão preparados para a educação inclusiva.
Há um modelo fixo de ensino e de avaliação, que é repetido ano após ano.
[...] (LOURENÇO, 2010, p. 34).
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Normalizar não significa tornar o excepcional normal, mas que a ele sejam oferecidas condições de vida
idênticas às que outras pessoas recebem. Devem ser aceitos com suas deficiências, pois é normal que toda e
qualquer sociedade tenha pessoas com deficiências diversas. Ao mesmo tempo é preciso ensinar ao deficiente a
conviver com a sua deficiência. Ensiná-lo a levar uma vida tão normal quanto possível, beneficiando-se das
ofertas e das oportunidades existentes na sociedade em que vive (JANNUZZI, 2012, p. 153).
das pessoas, para eliminar as barreiras que as excluíam e as mantinham afastadas as
atividades e instituições sociais. No âmbito educacional, as escolas começaram a ser
reestruturadas, de modo que não apenas pudessem receber em seu espaço físico
pessoas com deficiências físicas, com deficiências mentais e com características
atípicas, mas que também pudessem promover sua aprendizagem (LOURENÇO,
2010, p. 32).
Nessa ideia, se diz que as escolas vivem um momento de transição, em que estão
pautadas em um modelo de integração para um modelo de inclusão. Essa mudança não é
tarefa fácil. Ela exige reelaboração do sistema educacional. Requer de toda comunidade
escolar novas concepções, que envolvem as práticas pedagógicas, relação de professor e
aluno, organização do espaço escolar, de tudo aquilo que é necessário para a socialização dos
educandos.
Outro conceito relevante sobre inclusão diz que,
A inclusão impõe um olhar para cada um como ser em desenvolvimento, que precisa
de caminhos para desenvolver seu potencial. [...] a inclusão é um movimento que
pretende aproximar a todos, sem que ninguém fique de fora. Todos nós a queremos e
temos uma responsabilidade muito grande, por que ela depende de cada um de nós
para existir (ABENHAIM, 2005 apud LOURENÇO, 2010, p. 38).
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Nesse contexto elementos se refere a: sistema educacional, diretores e funcionários da escola, os professores e a
família.
paradigmas, sujeitos com capacidade de entender as diversidades de cada pessoa. Assim, a
aprendizagem acontecerá no âmbito social, cognitivo e cultural. Nesse contexto Sassaki
afirma que já é realidade a prática da inclusão e comenta,
O processo de inclusão vem sendo aplicado em cada sistema social. Assim existe a
inclusão na educação, no lazer, no transporte, etc. Quando isso acontece, podemos
falar, respectivamente, em educação inclusiva, no lazer inclusivo, no transporte
inclusivo e assim por diante. Outra forma de referência consiste em dizermos, por
exemplo, educação para todos, lazer para todos, transporte para todos (SASSAKI,
2010, p. 40).
Nas escolas inclusivas se configura a inclusão, pois diante das diversidades dos alunos
se percebe características dessas escolas como: a diversidade é aceita e valorizada por todos; o
respeito mútuo é incentivado; existe colaboração entre pais, professores e alunos; as
dificuldades dos alunos são identificadas e sanadas; as práticas inclusivas são oferecidas a
todos os alunos; há flexibilidade no currículo escolar e outras de cunho inclusivo.
Dessa forma, se entende que a inclusão somente acontecerá se houver transformação e
evolução dos órgãos governamentais, professores, pais e alunos, formando novas concepções
e novos paradigmas, que nos submete a agir de maneira solidária, responsável, organizada,
criativa e principalmente acolhedora.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
AGUIAR, J.S. Educação Inclusiva: Jogos para o Ensino de Conceitos. 3. ed. Campinas:
Papirus, 2007.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 201
LOURENÇO, E. Conceitos e práticas para refletir sobre a educação inclusiva. Ouro Preto:
Autêntica, 2010.
MANTOAN, M. T. E.: Igualdade e diferenças na escola: como andar no fio da navalha. In:
ARANTES, V. A. (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus,
2006.
MANTOAN, M. T. E. Ser ou estar, eis a questão: Explicando o Déficit Intelectual. 2. ed. Rio
de Janeiro: WVA, 2000.
MEDEIROS, João B. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 11. ed.
São Paulo: Atlas, 2010.
SAGE, D.D. Estratégias inclusivas para o ensino inclusivo. Porto Alegre: Artes Médicas,
1999.
SASSAKI, R.K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. 8. ed. Rio de Janeiro:
WVA, 2010.
SILVA, C. L da. Escola democrática, escola inclusiva. Diversa educação inclusiva na prática.
Set. 2015.