Duartesobre Arthur Ramos
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ANAIS da
BIBLIOTECA
NACIONAL
Vol. 119 • 1999
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:26 PM Page 2
Coordenação Editorial
Lúcia Garcia
Verônica Lessa
S U M A R I O
APRESENTA²AO ................................................................................................5
PRECIOSIDADES DO ACERVO
As xilogravuras do artista alemão Albert Dürer ..........................................309
Sandra Daige Antunes Corrêa Hitner
Anais da Biblioteca Nacional – Vol. 119 (1999) – Rio de Janeiro: A Biblioteca, 2004.
ISSN 0100-1922
CDD 027.581
A P R E S E N TA ² A O
A
brem este volume dos Anais da Biblioteca Nacional as palestras do semi-
nário Diários do Campo. Arthur Ramos, os Antropólogos e as Antro-
pologias, realizado em outubro de 1999 com tríplice objetivo: celebrar
os 50 anos da morte de um notável explicador do Brasil, os 60 anos da Faculdade
Nacional de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (casa de Arthur
Ramos e co-promotora do seminário, por iniciativa do Departamento de Antro-
pologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) e apresentar aos pesquisadores
o inventário do arquivo de Arthur Ramos, que então acabava de ser concluído
pela Divisão de Manuscritos.
Além de atualizarem o significado da obra e da atuação de Arthur Ramos,
matéria que os participantes mostraram ser imprescindível à história do pensa-
mento social brasileiro, essas palestras remetem ao momento de afirmação no
país da pesquisa em ciências sociais e por isso muito fecundo e polêmico. Em
“Antropologia e psicanálise no Brasil”, Luiz Fernando Duarte destaca o papel
pioneiro de Arthur Ramos, um dos primeiros estudiosos no país das teorias freu-
dianas, na “psicologização” do campo intelectual brasileiro. Seus estudos avançados
sobre infância, educação e “culturas” – investigando o carnaval, a loucura, a sexua-
lidade desviante, o consumo de drogas e a cultura afro-brasileira – teriam sido
decisivos para que viesse a assumir funções importantes, como a de diretor do
Departamento de Ciências Sociais da Unesco. Marcos Chor, em “Arthur Ramos
e a militância na Unesco”, observa que foi, em parte, sob a influência de Arthur
Ramos, que em 1950, cinco anos depois do término da Segunda Grande Guerra
e um ano depois de sua morte, a Unesco divulgou a Primeira Declaração sobre
Raça, uma dura crítica ao determinismo biológico. Contemporâneo de Gilberto
Freyre, Arthur Ramos acreditava que o Brasil oferecia um modelo de sociedade
xgfhgghgh
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:26 PM Page 9
A RT H U R R A M O S , A N T RO P O LO G I A
E PSICANALISE NO BRASIL
E
ntre as muitas facetas da atividade de Arthur Ramos na vida pública
brasileira do entreguerras, avulta o modo muito peculiar como combi-
nou os saberes da antropologia e da psicanálise no desenvolvimento de
sua obra. Esses saberes, então ainda completamente incipientes no meio nacional,
aparecem aí – como não poderia deixar de ser – fortemente condicionados por
um ambiente intelectual marcado pelos debates a propósito da “civilização” do
Brasil e dos desafios representados pela “raça” e pela “educação”.
O interesse precoce de Arthur Ramos pela obra de Freud o colocou desde
cedo em interlocução com os psiquiatras precursores da divulgação e interesse
pela psicanálise no Brasil (cf. Perestrello, 1988, e Russo, 2000). Ao mesmo tempo,
a vinda para o Rio permitiu que seu já grande interesse pelas questões da “in-
fância” se transformasse em investimentos concretos na “educação”, ao assumir
– por indicação de Anísio Teixeira – a Seção Técnica de Ortofrenia e Higiene
Mental do Departamento de Educação da Secretaria Geral de Educação e Cultura
do então Distrito Federal (1934), onde desenvolveu uma intensa atividade. Logo
depois, acompanharia Anísio Teixeira na organização da Universidade do Distrito
Federal, como encarregado da cadeira de Psicologia Social (enquanto Gilberto
Freyre ocupava a de Antropologia Social e Cultural). Na Faculdade Nacional de
Filosofia – em seguida –, viria a ocupar a cadeira de Antropologia Física e Cultural
(1939), até sua indicação para a recém-criada Diretoria de Ciências Sociais da
Unesco (1949).
A antropologia de Arthur Ramos desenvolveu-se com forte inspiração das
teses de Lévy-Bruhl sobre o “pensamento pré-lógico”, supostamente característi-
co da psicologia dos “primitivos”. Arthur Ramos acrescentou à combinação de
Freud e Lévy-Bruhl muitos outros autores – todos caracteristicamente compro-
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Cartão de Sigmund Freud a Arthur Ramos, agradecendo o envio da tese Primitivo e Loucura
e pedindo desculpas por não dominar a língua portuguesa. Viena, 20 de maio de 1927.
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Carta de Roger Bastide a Arthur Ramos, elogiando-o pela segunda edição de O negro brasileiro
e informando ter escrito um artigo sobre rituais afro-brasileiros em São Paulo. São Paulo, 5
de setembro de 1940.
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Meu interesse por Arthur Ramos cresceu no contexto de uma pesquisa sobre
a “psicologização” no Brasil, ou seja, a difusão de uma visão de mundo baseada
no pressuposto da existência (e relevância) de uma instância específica dos sujei-
tos humanos, interna a cada um deles (o “psiquismo” ou “vida psicológica”), e
dotada de propriedades e dinamismo próprios, passíveis de intervenções propicia-
tórias (cf. Duarte, 2001). O desenvolvimento e difusão da psicanálise na primeira
metade do século XX é uma das manifestações mais sistemáticas, explícitas e in-
fluentes desse processo. A. Ramos é um dos personagens eminentes da “psicologi-
zação” do campo intelectual brasileiro, pioneiro na transposição desse processo
para o plano das interpretações da vida coletiva nacional.
Para compreender melhor a posição específica de nosso autor nesse campo,
pode ser útil apresentar uma chave mais abrangente de interpretação do período
e de suas forças características. As relações acadêmicas intensas e sistemáticas da
antropologia com a psicanálise se deram em dois diferentes momentos da história
das ciências humanas no Brasil: o período “heróico” que vai – grosso modo –
dos anos 1920 ao final dos 40 (o “entreguerras”) e o período “crítico”, aberto nos
anos 1970 deste século (cf. Duarte, 2000). O primeiro período é caracterizado
basicamente pela produção de dois autores – Arthur Ramos e Roger Bastide –,
ambos considerados “antropólogos”16 e igualmente influenciados pela freqüen-
tação da literatura psicanalítica – cujas problemáticas invocam explicitamente em
suas obras. Os próprios contrastes entre os dois autores – muito grandes sob di-
versos aspectos – permitem precisar o foco de análise sobre o “regime” em que
se processa sua articulação entre os dois saberes.
O segundo período é, por sua vez, caracterizado basicamente pela produção
de dois outros autores – Gilberto Velho e Sérvulo Figueira –, ao longo dos anos
1970 e 1980 no Rio de Janeiro. Nesse caso, chegou a haver interação produtiva
imediata entre os dois autores, ensejando a articulação de uma rede mais especia-
lizada do que a do período “heróico”, em função de uma série de características
diferenciais do campo acadêmico nos dois momentos. O primeiro autor é conhe-
cido como antropólogo e o segundo como psicanalista, embora tenha produzi-
do nesse período uma obra que era considerada (e que ele próprio considerava)
de cunho antropológico. A psicanálise aparece como tema avantajado das duas
obras, mas de uma forma muito diferente da do outro “regime”.
No primeiro regime,17 que se caracteriza – no nível da análise “interna” – pela
disposição de incorporação dos recursos de interpretação psicanalítica à análise
dos fenômenos “culturais”, prevalece a continuada referência à “cultura negra”
ou “cultura dos negros” no Brasil e, particularmente, aos fenômenos religiosos
ligados à “raça” ou à “herança africana”. A questão do “transe” nos cultos atra-
18
vessa crucialmente toda a produção desse “regime”, que nisso revela seu foco
abrangente: trata-se de compreender como se organiza culturalmente o “pensamen-
to” das camadas subalternas da sociedade brasileira a partir de uma característi-
ca vista como tipicamente “arcaica” ou “primitiva” (mesmo que se relativize até
um certo ponto as implicações “evolucionistas” lineares dessa caracterização).
Essa preocupação se constrói no interior da problemática relativa à “civiliza-
ção” da “nação” brasileira, cuja fraqueza ou atraso se atribui de algum modo ao
peso daquela “raça” ou “herança”. Contra as interpretações “pessimistas” oriundas
dos saberes metropolitanos, produzem-se interpretações que enfatizam a capaci-
dade de “redenção” cultural através de um processo de “educação” generalizada,
o que não pode deixar de envolver nesse período altas expectativas de regulamen-
tação e intervenção do Estado. Essa foi a principal condição ou modo de entra-
da das idéias psicanalíticas no campo intelectual brasileiro (e na sua apropriação
pela antropologia).18
A interpretação que fez Mariza Corrêa da antropologia brasileira do entreguer-
ras, à luz da teoria foucaultiana das disciplinas, é aqui extremamente pertinente.
Esse horizonte “educativo” compartilhado pela antropologia e pela psicanálise
corresponde diretamente ao que ela chama de “fiscalização” ou “repressão bran-
da”, lembrando expressões de Arthur Ramos e Gilberto Freyre (cf. Corrêa, 1982,
pp. 219 e 260) – por oposição aos defensores contemporâneos de uma repressão
de tipo “policial” (ibidem, p. 242).
No segundo regime, a imagem da psicanálise passa de instrumento de “civi-
lização” e “educação” para sintoma de uma “civilização” de algum modo já ocor-
rida (sob a etiqueta da “modernização”). O tema antropológico privilegiado será
não mais o da “raça” ou das “heranças culturais” em geral, mas o da “vida urbana”,
com os seus fenômenos considerados próprios de “desvio” ou “desmapeamento”
cultural. O interesse em questões etnográficas como a “loucura”, as “drogas” ou
a “sexualidade desviante” aproxima os antropólogos examinados do mundo
dos saberes psicológicos (já agora organizado em um campo institucionalmente
complexo) e os torna interlocutores freqüentes, inclusive em torno de questões
de regulação moral (a compreensão do consumo social das terapias psicanalíti-
cas, por exemplo) ou mesmo de regulamentação pública importante (como a “re-
forma psiquiátrica” ou a “descriminalização” de drogas ilícitas) – em nome dos
valores da “liberdade” e da “tolerância”. A chave de compreensão da problemática
do regime será nesse caso – em vez da “educação” – a da “coerência” e “reflexivi-
dade” desses sujeitos (e “cidadãos”).
As expectativas em relação ao Estado nesse último período são, sobretudo, ne-
gativas ou críticas (em relação a diversos tipos de regulamentação pública em cur-
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com Roger Bastide, quando este chegou, em 1938, a São Paulo, para compor a
leva dos primeiros professores estrangeiros da recém-criada Universidade de São
Paulo. Bastide já conhecia a obra de Freud, mas foi apenas no Brasil que começou
a aplicar conceitos psicanalíticos à interpretação cultural (cf. Duarte, no prelo).
O mais notável, no caso desse processo de abertura de Arthur Ramos para a psi-
canálise, é o fato de que ele provinha, como boa parte dos produtores intelectuais
brasileiros nos anos 1920, de uma formação quase exclusivamente médica. É claro
que não eram apenas os médicos que estavam expostos às representações reducionistas
fisicalistas, na medida em que o sistema de interpretação de mundo ligado à teoria
da degenerescência atravessava fortemente todos os espaços intelectuais interna-
cionais, inclusive brasileiros, nesse período. Mas, certamente, com muito mais razão,
esse era um horizonte inescapável para quem vinha de uma formação médica típi-
ca, como a que teve, com excelente desempenho, na Faculdade da Bahia.
A psicanálise podia ser atraente para os intelectuais do começo do século XX por
diferentes motivos. No caso do Brasil (mas não apenas nele), prevaleceu inicialmente
uma leitura feita por médicos e psiquiatras sequiosos de encontrar uma saída para
os determinismos fisicalistas que apontavam para a danação de um país “racialmente”
miscigenado. Foi também esse, sem dúvida, o gancho inicial do interesse de Arthur
Ramos. Mas ele avançou mais do que muitos de seus contemporâneos na direção
da citada interpretação “pedagógica” da teoria freudiana. Era, para tanto, funda-
mental a guinada psicologizante que caracterizou o melhor de sua obra. O interesse
pelo pensamento afro-brasileiro (como, mais tarde, o de Bastide) decorria desse pres-
suposto de uma ordem de causalidade própria do psiquismo:
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22
1954 e 1956). Fernandes, ao retomar dois temas que eram absolutamente cruciais
para o pensamento de Ramos – e sem mencionar Arthur Ramos –, engendra
uma desautorização quase completa da sua obra, chamando atenção para o fato
de que a importância possível, tanto da psicanálise quanto de Lévy-Bruhl, era
exclusivamente metodológica. Ou seja, eles poderiam ser úteis para ensinar a pen-
sar, mas certamente não seriam úteis – isso está razoavelmente claro na mensa-
gem de Florestan Fernandes – para explorar diretamente, como instrumentos
imediatos, os fenômenos sociais e culturais. Na verdade, o que estava em jogo
era um julgamento mais abrangente contra o culturalismo, contra os matizes
românticos das interpretações prevalecentes no entreguerras. O mesmo anátema
da sociologia paulista incidiu sobre a obra de Gilberto Freyre, companheiro de Arthur
Ramos no culturalismo (embora com matrizes diversas) e no processo de entro-
nização da cultura de origem africana no panteão da identidade nacional.20
Não se pode atribuir o silenciamento das relações entre a psicanálise e as ciên-
cias sociais totalmente a essa intervenção de Florestan Fernandes no começo dos
anos 1950, mas é certo que ela era emblemática de uma transformação muito mais
ampla do horizonte intelectual brasileiro: a entrada em cena da sociologia e da econo-
mia – como saberes universalizantes, objetivistas – que se tornam muito mais em-
páticas com o modo pelo qual se passa a representar a nação. Inaugura-se a era
do desenvolvimentismo, da análise baseada nas classes, com o desprezo sistemáti-
co do culturalismo como possibilidade de interpretação do Brasil. E nisso, também,
o desprezo da psicanálise como recurso para a compreensão da cultura brasileira.
A própria presença pública da psicanálise e da antropologia se retraiu consi-
deravelmente. Sem as grandes ambições de interpretação da nação e de propicia-
mento da civilização que tinham marcado o primeiro regime, as duas disciplinas
se voltaram para sua organização e fortalecimento institucional. As sociedades cria-
das nos anos 1950, tanto de psicanálise quanto de antropologia, são as que vão per-
durar e prevalecer no âmbito nacional – diferentemente de suas predecessoras dos
anos 1930 (inclusive aquela criada por Arthur Ramos). E é só nos anos 1970 que,
dando as costas a essa longa latência das relações entre a psicanálise e a antropolo-
gia, se vai configurar o mencionado segundo regime de suas relações, juntamente
com uma renovada influência acadêmica e ressonância pública dessas disciplinas.
É preciso sublinhar, porém, que, nesse processo posterior – que é o de recons-
tituição da possibilidade de interlocução entre os saberes psicológicos e os saberes
sociais (particularmente a antropologia) –, não se fez referência praticamente ne-
nhuma a Arthur Ramos. Fez-se alguma a Roger Bastide pela via dos estudos de
religião, especificamente, como até hoje se faz, com justiça. Mas não se fez quase
nenhuma ao modo pelo qual o próprio Bastide tinha feito uso da psicanálise como
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BIBLIOGRAFIA
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História da Constituição do Controle e Vigilância Oficiais sobre Substâncias Psico-
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N OTA S :
1 – Arthur Ramos evoca Afrânio Peixoto se referindo a Piaget como “o Lévy-Bruhl dos
meninos” (Ramos, 1934, p. 11).
Ver bibliografia, pp. 22 - 3.
2 – Mariza Corrêa é particularmente esclarecedora sobre a articulação entre o problema
da “civilização” e a “questão racial” nesse período (1982, pp. 26 e 34).
3 – Dante Moreira Leite já fazia, em 1954, essa associação histórica – depois muito re-
tomada (cf. Moreira-Leite, 1976).
4 – Veja-se, além das já citadas obras de Carrara e Serpa Jr. Russo, 1997, e Venâncio,
1997 (para aspectos mais gerais dessa questão), como também Rohden, 1997, e Teixeira,
1997 (para aspectos mais pontuais).
5 – Mariza. Corrêa evoca a significativa expressão de Afrânio Peixoto para se referir à
questão: “o eclipse negro” (1982, p. 349).
6 – Girolda. Seyferth nos lembra que “(...) mesmo autores como Bomfim, que viam na
mistura de raças um caráter renovador, não escaparam do ideário do progresso, com seu
significado evolucionista. Mesmo sem usar argumentos raciais, a inferioridade do negro
e do índio, e até certo ponto também dos mestiços, está implícita na noção de civiliza-
ção. Daí a ênfase tão grande na necessidade da educação – como aparece, por exemplo,
em Roquette-Pinto. Educar significa tirar do atraso –- civilizar” (1989, p. 20). Sobre esse
ponto, ver ainda Schreiner, 1997.
7 – Alexandre Schreiner lembra a esse respeito a expressão tão citada de Miguel Couto,
de 1927: “Vitalizar pela educação e pela higiene” (Schreiner, 1996, p. 103).
8- Arthur Ramos, que passou a cooperar com seu conterrâneo baiano Anísio Teixeira em
1934, usou regularmente em sua obra posterior de uma retórica “escola-novista”. Ver
particularmente o capítulo intitulado A Escola Nova e a Psicanálise, em Ramos, 1934.
9 – Ver Ropa, 1983; particularmente sobre Porto Carrero e Antônio Austregésilo – con-
siderados como os mais importantes pioneiros da psicanálise no Rio de Janeiro. Encon-
tramos aí a seguinte transcrição de Austregésilo, em seu Viagem interior, de 1934:
“Penetremos cada dia dentro de nós mesmos e reconheçamos as nossas faltas e exalte-
mos os nossos deveres, façamos viagens diárias ao íntimo de nossa personalidade (...)
saibamos vencer-nos, saibamos educar-nos, elevar-nos dentro de nós mesmos, porque só
assim com a nossa melhoria individual o mundo melhora automaticamente” (Ropa,
1983, p. 28).
10 – É o próprio autor quem nos diz: “No Brasil, não têm passado despercebidos os as-
pectos pedagógicos da psicanálise. Desde 1926, por iniciativa deste incansável trabalha-
dor que é o professor Ernâni Lopes, foi instalado na Liga Brasileira de Higiene Mental,
por ele tão sabiamente dirigida, um serviço de psicanálise. Porto Carrero, o nosso grande
estudioso desses assuntos, iniciou a propaganda daquele serviço em entrevistas de impren-
sa e irradiou uma conferência sobre psicanálise e educação, seguida depois de outros en-
saios sobre o mesmo tema, e hoje reunidos em seus livros sobre psicanálise (...)” (Ramos,
1934, p. 24).
11 – “Mas a sublimação mais perfeita deve ser para um trabalho de rendimento à co-
munidade. A tarefa do educador é de adivinhar logo cedo as sublimações para que ten-
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dem as forças instintivas de cada criança, qual será esse trabalho social que deve ser es-
colhido não como uma tarefa pesada e desagradável, mas com alegria, com participação
de toda a personalidade, pois que ele tem raízes instintivas, tendências elementares que
se transformaram por via da sublimação. É todo um capítulo novo de orientação profis-
sional” (Ramos, 1934, p. 157).
12 – Veja-se Peirano, 1981, sobre o mandamento de “explicar o Brasil” entre os cientis-
tas sociais brasileiros.
13 – Veja-se que as primeiras sociedades psicanalíticas fundadas em São Paulo e no Rio
de Janeiro no final dos anos 1920, assim como as primeiras associações de antropologia
(a Sociedade de Etnografia e Folclore, criada em São Paulo em 1937, e a Sociedade
Brasileira de Antropologia e Etnologia fundada por Ramos no início da década de 1940),
não só tiveram vida curta como não foram simbolicamente recuperadas por suas con-
gêneres bem-sucedidas dos anos 1950.
14 – A medicina foi uma das primeiras disciplinas (junto com o direito) a se institucionalizar
no Brasil. As duas faculdades iniciais (da Bahia e do Rio de Janeiro) foram criadas em 1830,
substituindo os antigos colégios médico-cirúrgicos. A Academia Nacional de Medicina (ini-
cialmente Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro) foi fundada em 1829. A Gazeta Médica
da Bahia surgiu em 1866 e o Brazil-Médico em 1887 (cf. Brito, 1996). A psiquiatria par-
ticipou dessa implantação desde a criação do Hospício Pedro II, em 1841, que só começou,
no entanto, a funcionar em 1852 e a ter uma administração plenamente médica com Teixeira
Brandão em 1886 (cf. Teixeira, 1997). A primeira cátedra de psiquiatria foi instituída em
1881 e os Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins começaram a circu-
lar em 1905. A Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal foi criada
em 1907. Para uma revisão dos compromissos de regulação moral da medicina no Brasil no
século XIX, ver Freire-Costa, 1979 e 1981, e Machado et al., 1978. No período em que se
centra minha análise, assiste-se a uma intensa reconversão dos horizontes profissionais da
medicina, com o notável crescimento das funções reguladoras do Estado. O Congresso Na-
cional dos Práticos, realizado em 1922, parece ter-se voltado sobretudo para a reflexão so-
bre essas novas condições da carreira (cf. Pereira Neto, 1997).
15 – Mariza. Corrêa dá importantes pistas sobre isso (Corrêa, 1982, p. 354 e segs.) e o
trabalho de Nunes (1994) apresenta alguma informação interessante. Seria necessário
verificar particularmente o papel do Instituto de Pesquisas Educacionais aí sediado –
como precursor da institucionalização específica da psicologia e de um atendimento psi-
canalítico oferecido nos órgãos de Estado – durante os anos 1950.
16 – Roger. Bastide, na verdade, era um “sociólogo”, dentro do sistema classificatório
francês de que provinha. No Brasil, porém, seus interesses na “cultura” tornavam-no clas-
sificável como “antropólogo”.
17 – Chamo de “regime” ao estilo de produção acadêmica de um “período”, com articu-
lações temáticas e horizontes analíticos comuns, sem constituir, porém, necessariamente
um “grupo” ou uma “escola” – ou seja, sem um projeto sistemático (mesmo que incons-
ciente) de reprodução institucional.
18 – Mariza Peirano explora bem essa ênfase sobre a “educação” como chave de com-
preensão e transformação da nação, considerando-a como uma característica do pensa-
mento social da década de 1930 (Peirano, 1981, p. 28 ou 39).
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A RT H U R R A M O S E A
M I L I TA N C I A N A U N E S C O
E
m meados de outubro de 1949, dois meses depois de assumir a direção
do Departamento de Ciências Sociais da Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Arthur Ramos (1903-1949)
concluiu o delineamento de um plano de trabalho no qual estavam previstos es-
tudos sociológicos e antropológicos no Brasil.1 Em sintonia com as crescentes
preocupações da agência internacional devido à persistência do racismo no pós-
II Guerra Mundial e aos problemas socioeconômicos vividos pelos países sub-
desenvolvidos, Ramos considerava premente a incorporação de determinados es-
tratos sociais marginalizados – representados no plano étnico-racial por negros e
índios – à modernidade.2
No curto espaço de tempo que trabalhou na Unesco, Arthur Ramos organi-
zou um fórum para debater o estatuto científico do conceito de raça. Dentro
da programação de combate à discriminação racial aprovada pela quarta sessão da
Conferência Geral da Unesco, em setembro de 1949, o antropólogo informava
aos futuros participantes do encontro que seu objetivo era “reunir um comitê de
especialistas em antropologia física, em sociologia, em psicologia social e em etno-
logia para formular uma definição preliminar das raças do ponto de vista inter-
disciplinar. Este será o ponto de partida indispensável para uma futura ação da
Unesco em 1950 (…)”.3
Em junho de 1950, a Unesco divulgou a Primeira Declaração sobre Raça, a
qual continha a seguinte afirmação: “Raça é menos um fato biológico do que um
mito social e, como mito, causou severas perdas de vidas humanas e muito sofri-
mento em anos recentes.”4 Na mesma ocasião, a quinta sessão da Conferência
Geral da Unesco, acontecida em Florença, aprovou a realização de uma pesquisa
sobre as relações raciais no Brasil.5
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“Na verdade, está o comitê convencido de que ‘as desigualdades raciais e inferio-
ridade biológica da mestiçagem, quando existam, são contingências ligadas a causas
deficitárias do meio social e cultural’, como, aliás, estudos de antropólogos e sociólo-
gos brasileiros sobejamente o têm demonstrado à base de dados objetivos; e de
que, por isso mesmo, em um programa de reconstrução cultural e educacional,
no pós-guerra, tal conclusão deverá inspirar as normas e processos de ação geral,
no movimento que a projetada organização tem em vista empreender.”6
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Em sua perspectiva, “só depois de realizadas séries inteiras de pesquisas desta or-
dem, poderemos nos aventurar a propor ‘interpretações’ do Brasil, ensaios de conjun-
to ou planos normativos de ação, até agora reservados aos estudos impressionistas
que podem ser muito interessantes, mas conduzem a generalizações apressadas e
perigosas. (...) Do ponto de vista antropológico, não há uma ‘cultura’ brasileira, mas
‘culturas’ que só agora começam a ser estudadas e compreendidas. Ainda é cedo,
portanto, para indagarmos do ‘caráter nacional’ do seu ethos, em visões generaliza-
doras que lancem mão do critério histórico ou social”.12
No final dos anos 1940, Arthur Ramos já colocava em questão a ensaística
das consagradas chaves explicativas sobre o Brasil elaboradas nos anos 1920 e
1930. Assim, Arthur Ramos indagava-se a respeito da existência de uma visão
uníssona sobre o Brasil e, por conseguinte, questionava sua própria interpretação
anterior sobre o “laboratório de civilização”, isto é, “a solução mais científica e
mais humana para o problema, tão agudo entre outros povos, da mistura de raças
e culturas”.13
Sem dúvida, uma das razões que motivou Arthur Ramos a aceitar o convite
para assumir a direção do Departamento de Ciências Sociais da Unesco foi a pos-
sibilidade de fortalecer institucionalmente o Departamento de Ciências Sociais
da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), especialmente no campo da pesquisa.
Na fase de elaboração do programa de 1951 do Departamento de Ciências Sociais
da Unesco, a ser aprovado na Conferência de Florença, em 1950, afirmava em
carta ao então reitor da Universidade do Brasil (atual UFRJ), Pedro Calmon, que
“a nossa maior oportunidade virá com a apresentação dos nossos programas à
Conferência de Florença, em maio do ano próximo. Tenho grandes planos que
já fiz ver ao nosso eminente amigo, ministro (Clemente) Mariani, para o estudo
dos grupos não mecanizados e os problemas conseguintes da assimilação e acul-
turação que eles apresentam para a sua integração ao mundo moderno. Se este
plano for aprovado, teremos uma possibilidade enorme de estudar nossos gru-
pos negro e indígena em seus contatos com as culturas dominantes, dentro dos
pontos de vista que tantas vezes tenho defendido em meus cursos e meus tra-
balhos escritos”.14
Em tempos de frágil institucionalização das ciências sociais no Rio de Janeiro,
Arthur Ramos, indo além, como intelectual convencido da importância do com-
promisso social das ciências sociais, concebia sua inserção na Unesco como a pos-
sibilidade de aproximação de uma coletividade de cientistas sociais das demandas
das classes subalternas na sociedade brasileira. A Unesco seria um agente catalisa-
dor. A “antropologia de intervenção”, preconizada por Ramos, utilizou conceitos
atualmente discutíveis, como “assimilação”, “aculturação” e “integração”. Parece
34
que esse era o preço a ser pago por um membro da intelligentsia ao procurar exer-
cer um papel missionário, condição característica do intelectual, pelo menos até
os anos 1960, em países de capitalismo retardatário, como o Brasil, sob o signo
das grandes desigualdades sociais.
N OTA S :
1 – RAMOS, Arthur. Sciences Sociales, Programme pour 1951: Plan de Travail (Paris,
1949), Coleção Arthur Ramos, I: 36, 29, 13, Seção de Manuscritos, Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro.
2 – Carta de Arthur Ramos a Clemente Mariani (14 out. 1949). Coleção Arthur Ramos,
I: 35, 17, 24 8a, Seção de Manuscritos, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
3 – Carta convite de Arthur Ramos a Costa Pinto, 14 out. 1949, p. 1. In Reg. File 323.12
A 102. Part I (Box Reg. 146), Arquivos da Unesco.
4 – Unesco Launches Major World Campaign against Racial Discrimination. Paris: Unesco,
19 jul. 1950, p. 1. In Reg. File 323.12 A 102. Part I (Box Reg. 146), Arquivos da Unesco.
5 – As pesquisas foram realizadas no Norte, Nordeste e Sudeste e contaram com a par-
ticipação de cientistas sociais brasileiros, franceses e norte-americanos. Sobre o Projeto
Unesco, ver Os resultados das pesquisas do projeto Unesco, publicado em WAGLEY et alii
(1952); AZEVEDO (1953); PINTO, L. E. C. (1953); BASTIDE, Roger, e FERNAN-
DES, Florestan (1955); NOGUEIRA (1955); RIBEIRO (1956). Sobre a história do
Projeto Unesco de relações raciais, ver MAIO, Marcos Chor, A História do Projeto Unes-
co – Estudos Raciais e Ciências Sociais no Brasil, tese de doutorado, Iuperj, 1997.
6 – Correio do IBECC, 1997 (1944), p. 107.
7 – RAMOS, Arthur. (1938), O Espírito Associativo do Negro Brasileiro, Revista do
Arquivo Municipal, XLVII: 105-126.
__________. (1939), The Negro in Brazil. Washington: The Associated Publishers, Inc.
__________. (1942), A aculturação negra no Brasil. São Paulo: Companhia Editora
Nacional.
__________. (1947), Social Pioneering. In HILL, L. (org.), Brazil. California: University
of California Press.
RAMOS, Arthur. (1951), The Negro. In Brazil. In SMITH, T. L. e MARCHANT, A.
(orgs.), Brazil: Portrait of Half a Continent. Nova York: The Dryden Press.
8 – __________. (1945), prefácio. In BENEDICT R. & WELTFISH, G., As raças da
humanidade. Tradução de Édison Carneiro. Rio de Janeiro: Horizontes, pp. 5-6.
9 – RAMOS, Arthur. (1948), Os Grandes Problemas da Antropologia Brasileira. Socio-
logia, X, 4: 213.
10 – Idem, pp. 214-19.
11 – Idem, p. 223.
12 – Idem, p. 224.
13 – RAMOS, Arthur. (1943), Guerra e relações de raça. Rio de Janeiro: Departamento
Editorial da União Nacional dos Estudantes, p. 179.
14 – Carta de Arthur Ramos a Pedro Calmon, 13 out. 1949. In Coleção Arthur Ramos,
Seção de Manuscritos, Biblioteca Nacional.
C A RTA S M A RC A D A S : A RT H U R R A M O S
E O C A M P O D A S R E L A ² O E S R AC I A I S
NO FINAL DOS ANOS 1930
Mariza Corrêa
Professora do Departamento de Antropologia, IFCH/Unicamp
e pesquisadora do Pagu/Núcleo de Estudos de Gênero
P RO LO G O
N
a década de 30 um número significativo de intelectuais baianos mi-
grou para a capital do país, então a cidade do Rio de Janeiro, e lá insta-
lou seu quartel-general para a divulgação do grupo que Arthur Ramos
batizaria de “escola Nina Rodrigues”.1 Resumidamente, a estratégia que pode ser
lida ex post facto, mas que era também uma atuação refletida à época dos even-
tos (ver RAMOS, A. 1937), se expressou na edição ou reedição dos trabalhos
de Nina Rodrigues; na divulgação dos trabalhos de intelectuais do grupo, através da
Biblioteca de Divulgação Científica, da Editora Civilização Brasileira, dirigida
por Ramos – o mesmo nome tivera, aliás, a coleção coordenada por Afrânio Pei-
xoto, na antiga Editora Guanabara – e na ocupação de postos importantes no
aparelho de estado.
Alguns desses intelectuais não eram nascidos na Bahia, como o próprio Nina
Rodrigues (1862-1906) e seu autoproclamado discípulo, Arthur Ramos, mas to-
dos tinham feito carreira, ou parte dela, lá. Podemos identificar três gerações de
baianos no cenário carioca: Afrânio Peixoto (1876-47), o mais antigo e mais
famoso integrante do grupo, foi professor das faculdades de Medicina e de Direito,
membro da Academia Brasileira de Letras, reitor da Universidade do Distrito
Federal e criador e organizador do Instituto Médico-Legal que depois levaria seu
nome. O educador Anísio Teixeira (1900-1971), não reclamado como parte do
grupo, era, no entanto, amigo de todos os outros e ocupou o cargo equivalente
ao de secretário da Educação no município, ocupado antes por Afrânio, além de
ter sido conselheiro da Unesco e criador e secretário-geral da Capes.
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37
38
“Receio muito que vá ter todos os defeitos das coisas improvisadas. Deveria ser muito
maior o prazo para os estudos, para as contribuições dos verdadeiros estudiosos. Os
verdadeiros estudiosos trabalham devagar. A não ser que os organizadores do atual
congresso só estejam preocupados com o lado mais pitoresco e mais artístico do as-
sunto: as ‘rodas’ de capoeira e de samba, os toques de ‘candomblé’, etc. (..) Creio
que o fato de o Congresso Afro-Brasileiro do Recife ter encarado o negro e o mestiço
do negro, não como um problema de patologia biológica, a exemplo do que fez o
próprio Nina Rodrigues – que era um convencido da absoluta inferioridade do ne-
gro e do mulato – mas como um problema principalmente de desajustamento
social, representa uma conquista notável para os estudos sociais brasileiros e de pro-
funda repercussão política. Mas não me parece que os congressos afro-brasileiros
devam resvalar para a apologia política ou demagógica da gente de cor.” 4
A resposta de Édison Carneiro a esta crítica ficaria inédita por mais de vinte
anos, ainda que estivesse implícita na apresentação do volume que reuniu os tra-
balhos apresentados ao II Congresso Afro-Brasileiro:
“Esta ligação imediata com o povo negro, que foi a glória maior do Congresso
da Bahia, deu ao certame ‘um colorido único’, como já previra Gilberto Freyre.
Arthur Ramos, em carta que me escreveu sobre a entrevista ao Diário de Pernam-
buco, dizia: ‘O material daí, que [Gilberto Freyre] julga apenas pitoresco, constitui-
rá justamente a parte de maior interesse científico.’ O Congresso do Recife, levan-
do os babalorixás, com a sua música, para o palco do [teatro] Santa Isabel, pôs em
cheque a pureza dos ritos africanos. O Congresso da Bahia não caiu nesse erro.
Todas as ocasiões em que os congressistas tomaram contato com as coisas do ne-
gro foi no seu próprio meio de origem, nos candomblés, nas ‘rodas’ de samba e
de capoeira. (..) O Congresso prestou a homenagem que devia a Nina Rodrigues –
inexplicavelmente negligenciado pelo Congresso do Recife – proclamando-o o pionei-
ro incontestável dos estudos sobre o negro no Brasil.” (CARNEIRO, 1964:101) 5
39
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41
“O resultado desses comentários críticos que enviei ao dr. Guy foi a rejeição, pela
Comissão da Carnegie, do trabalho encomendado à dra.Landes. ‘Suas observações
– escreveu-me poucos meses depois o dr. Johnson – vieram confirmar as minhas
desconfianças relativamente à exatidão das observações feitas pela dra. Landes.
No que concerne a parte do nosso estudo sobre o negro na América, estamos
grandemente desapontados com o manuscrito da dra. Landes, e não temos a inten-
ção de aproveitá-lo.’ Na mesma carta, previne-me o dr. Johnson sobre a possibili-
dade da A. publicar um ou mais artigos baseados em suas pesquisas no Brasil.
‘Quando ela o fizer – recomendou-me em conclusão –, espero que o sr. ou ou-
tros estudiosos brasileiros surjam com críticas num esforço para corrigir as inexa-
tidões e negligências das suas observações’.”15
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de Ruth Landes tendo sido uma exceção. Por outro lado, a maioria das pesquisas
ligadas à cadeira de Arthur Ramos eram pesquisas a respeito da situação do ne-
gro no país.25 O fato de que cada um deles tenha tentado a sorte no terreno do
outro parece mostrar que ambos concordavam em que esses eram os dois aspec-
tos mais importantes da antropologia no país, na época – os estudos indígenas e
os estudos sobre o negro. 26
Grupo de “noviches” ao lado da “nochê” Andreza Maria. Festa de pagamento (culto mina-
gêge). São Luís (MA), s.d.
O campo estava, assim, disposto para o conflito entre Ruth Landes e Arthur
Ramos: o que Édison Carneiro chamou de “orgulho e vaidade” de Ramos era,
de fato, uma ferrenha defesa dos limites de fronteiras sociais, disciplinares e, nela,
de um campo de estudos específico.27
Quanto a Melville Herskovits (1895-1963), ele representava, no campo norte-
americano, o que Arthur Ramos representava no campo brasileiro dos estudos
raciais e, como vimos, estava pessoalmente interessado na orientação da pesquisa
coordenada por Gunnar Myrdal. 28 A oposição de Landes à posição de Herskovits
é paradigmática – ao passo que ele lutava para impor sua visão da influência de
sobrevivências africanas nas comunidades de negros americanos, Landes mostra-
va em seu livro que as relações sociais baianas eram uma adaptação local de tais
tradições, ponto defendido também por Donald Pierson, primeiro pesquisador
dessa leva de estudiosos norte-americanos sobre a questão racial.29 Seu debate
46
com Frazier, aliás o único pesquisador norte-americano negro a ter feito parte do
grupo que veio ao Brasil na época (e, não por acaso, o único dos pesquisadores
sobre a situação do negro brasileiro que não se tornou ogã de nenhum terreiro
na Bahia), já sugeria essa separação de perspectivas. Sugeria também que a dis-
puta em andamento no cenário norte-americano estendia-se ao Brasil: ao escre-
ver The Negro Family in Bahia, Brazil, Frazier citava os estudiosos brasileiros
“canônicos” (Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Gilberto Freyre, Édison Carneiro),
mas dizia que apenas dois norte-americanos haviam contribuído para esses estu-
dos: Donald Pierson e Ruth Landes. Recolocando o ponto principal da pesquisa
de Landes [“A vasta maioria das sacerdotisas nagô são mulheres porque, conforme
a tradição, apenas elas são elegíveis para aprestar serviço às divindades africanas.”],
ele reforça também outro ponto da pesquisa dela: “O candomblé, no entanto, não
é apenas um centro de culto e de festas religiosas; é também o centro da vida social
da vizinhança na qual está localizado.”30 Infelizmente, esta linha de análise não foi
desenvolvida por nenhum dos pesquisadores posteriores, que preferiram deter-se na
influência ou não de “traços” africanos na cultura familiar dos negros brasileiros.31
Em seu comentário, publicado no número seguinte da revista, Herskovits não
apenas discorda da posição geral de Frazier – num tom, aliás, em tudo semelhan-
te ao da resenha do livro de Landes, também aí enfatizando as falhas “metodoló-
gicas”, isto é, a ausência de conhecimento sobre as origens africanas da pesquisa
– como explicita que estivera na Bahia no ano anterior e pôde assim identificar
uma das personagens mencionada por Frazier, uma moça órfã que vivia com pri-
mos. O exemplo escolhido torna-se, então, o “caso” do debate. Diz Herskovits:
47
às minhas notas, descobri que ele não identificara a moça, embora eu tenha re-
gistro da moça que ele menciona.”
“Visitei essa família quase todos os dias e vim a conhecer seus integrantes muito
bem. Sabia a respeito dos altares que ‘eram cuidadosamente escondidos dos visi-
tantes’. Sabia também que a ‘esposa’, que tem sangue misto, foi originalmente
possuída por um deus indígena e que as pessoas diziam que ela era louca; mas
que seu ‘marido’, quando a convidou a viver ‘maritalmente’ com ele, a convenceu
de que havia sido um deus africano [que a possuíra]. Além disso, seu marido, que
é negro e nada sabe sobre seus pais, não recebeu seu conhecimento sobre a tradição
e as habilidades africanas dos pais. Esses e outros fatos que citei foram conferidos
com os dados da dra. Ruth Landes, que passou mais de um ano no Brasil e que
tinha um íntimo conhecimento dessa família.”
Citei longamente esse exemplo porque creio que, além de evidenciar a dispu-
ta em torno de objetos de pesquisa – a julgar pela historieta, eram poucos e bem
conhecidos –, ele mostra não só como o “caso” brasileiro começava a ser crucial
para a disputa de orientações teóricas que se travava no campo norte-americano,
mas também quais eram as afinidades de Landes nesse campo. Creio que essas
afinidades, explicitadas também por seus casos de amor com negros, primeiro na
Universidade de Fisk, depois na Bahia, merecem mais atenção como parte da ex-
plicação de seu longo período de desemprego do que o ataque por parte de Ramos
e de Herskovists. Isto é, que Landes foi “racializada”, como dizia Fanon (1974),
no contexto da antropologia americana da época, e que sua trajetória se aproxi-
ma, assim, muito mais da de Zora Neale Hurston do que da de suas outras cole-
gas, brancas, herdeiras da tradição boasiana.33 Que os ataques, velados ou não,
de Ramos e Herskovits contribuíram para isso, não resta dúvida – e Landes era
agudamente consciente disso, mas o contexto norte-americano dessa história não
pode ser minimizado.34
A posição de Herskovits no campo de estudos afro-americanos, apesar de in-
fluente, não era dominante: a Carnegie Corporation chegou a considerar seu
nome para fazer a pesquisa que redundaria em The American Dilemma, mas, com
a escolha de Myrdal para chefiar a equipe, a ele foi destinada a tarefa de escrever
um relatório a respeito da influência africana sobre os negros americanos – o que
redundou no The Myth of the Negro Past (1941). Ao fazer a resenha deste livro,
48
49
A partir daí, o campo de estudos constituído naquela época porá sua ênfase
sobre relações raciais, como queria Gilberto Freyre, e se (re)constituirá de maneira
independente, ainda que referido a ele, o campo de lutas pelos direitos dos ne-
gros, e ambos os campos manterão, desde então, uma relação tensa e ambígua.
Tal relação parece ter-se expressado, exemplarmente, na disputa em que Arthur
Ramos e Ruth Landes se envolveram, em 1940, e no amplo espectro de atores
presentes na constituição desse campo que ela permite evocar, mas, ironicamente,
visto de hoje, o trabalho de ambos parece mais próximo do que deixaria supor
aquela disputa.
50
BIBLIOGRAFIA
51
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Malinowski, Rivers, Benedict and Others – Essays on Culture and Personality, George
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TAUSSIG, Michael. Mimesis and Alterity: a Particular History of the Senses, New York:
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52
N OTA S :
1 – Outros intelectuais baianos, não ligados à ‘escola’, mas vinculados ao grupo por laços
de amizade, também para lá se transferiram nessa década: Péricles Madureira de Pinho,
Álvaro Dória e Armando de Campos, médicos e jornalistas que também ocuparam pos-
tos importantes nas instituições da capital.
Sobre o grupo, pode-se ler mais em CORRÊA, M., 1998.
2 – Lembro, sem pretensão de esgotar a lista: Os africanos no Brasil, de Nina Rodrigues
(1932); Casa-grande senzala, de Gilberto Freyre (1933); O alienado no direito civil brasileiro,
de Nina Rodrigues (1933); O negro brasileiro, de Arthur Ramos (1934); O animismo
fetichista dos negros baianos, de Nina Rodrigues (1935); O folclore negro do Brasil, de Ar-
thur Ramos (1935); Religiões negras , de Édison Carneiro (1936); As culturas negras no
novo mundo, de Arthur Ramos (1937); Negros bantos, de Édison Carneiro (1937); Costumes
africanos no Brasil, de Manuel Querino, organizado por A.Ramos (1938); The Negro in
Brazil, de A. Ramos (1939); Coletividades anormais, de Nina Rodrigues, organizado por
A. Ramos (1939); além dos três volumes sobre os primeiros Congressos afro-brasileiros,
dois volumes sobre o Congresso de Pernambuco, em 1935 e 1937 e, em 1940, um volu-
me sobre o Congresso na Bahia. Todos esses livros – e a lista tem muitas lacunas – foram
publicados pelas coleções dirigidas por Afrânio Peixoto ou por Arthur Ramos, com exce-
ção de Casa-grande senzala. Vale lembrar que, na mesma década, Gilberto Freyre dirigia
a Coleção Documentos Brasileiros (1936-1939), da Editora José Olympio, lá tendo pu-
blicado três de seus livros até o final da década – e mais dez até 1960.
3 – Ver a análise de GOMES, Tiago de Melo, 1998 – especialmente o capítulo 2 – sobre a
forte presença de mulatos e portugueses na cena brasileira, no teatro de revista carioca
no início do século, em encenações que prefiguravam as análises de Freyre.
4 – Entrevista transcrita em OLIVEIRA, Waldir Freitas e LIMA, Vivaldo da C. (orgs).,
1987.
5 – Essa coletânea reúne artigos publicados em jornais, ou apresentados em conferências,
e inéditos: este texto traz a data de 1940 e a anotação “inédito”. Chama a atenção que a
data é a mesma da publicação da coletânea com os trabalhos apresentados ao II Congresso.
Em 1953, na I Reunião Brasileira de Antropologia, Édison Carneiro dizia que os Congressos
inauguraram “a estação de espetáculos do negro” ao apresentá-lo, ele que já era “um velho
cidadão brasileiro”, como “um estrangeiro” e, considerando esta fase como definitivamente
encerrada, insistia numa linha de pesquisa que levasse em conta os processos atuais (ênfase
do autor) das relações raciais .(Cit., p. 115; texto também inédito.)
53
54
a história completa ver HEALEY, M., 1996. É interessante observar, no entanto, que
embora a primeira análise de sua pesquisa sob esta ótica tenha partido da própria Ruth
Landes (em GOLDE, P., 1970), esta passou quase despercebida até sua ‘recuperação’,
no final dos anos 80 pelas antropólogas feministas. Aqui, estou menos interessada na
possibilidade de recuperar a relação entre raça e gênero na Bahia dos anos trinta e mais
interessada em entender como essa relação foi importante na história da antropologia
brasileira.
11 – No mundo mais sofisticado de New York, essa primeira razão podia parecer ridícula:
Landes relembra que G. Myrdal mostrou-lhe, no final de 1939, uma ‘volumosa’ carta
que A.Ramos e M. Herskovits lhe haviam escrito sobre ela, “ridicularizando sua obsessão
a respeito de meu alegado erotismo e incompetência profissional”. Mas ela mesma resu-
miria a sua situação, quase 30 anos depois, na frase que seu marido latino-americano
ouvira anos antes de conhecê-la: “uma mulher se metendo em assuntos de homens” (Lan-
des em GOLDE: 129;124). No Brasil, no entanto, tais comentários pareciam ter outro
peso: Édison Carneiro registrou num artigo que, ao avisar Arthur Ramos de que ia criticar
suas observações negativas a respeito do trabalho de Landes, na resenha que preparava
sobre A aculturação negra no Brasil (1942), este respondeu: “Não o faça, senão eu publi-
co coisa muito pior.” Carneiro só viria a publicar suas críticas a Ramos 15 anos após a
morte dele (CARNEIRO, 1964:227). O silêncio de Carneiro durante todos esses anos
corrobora a avaliação de Cole de que vários níveis de assimetria estavam em jogo nesta
história: aqui é a deferência do jornalista, mulato e mais jovem, pelo especialista bran-
co e mais velho que parece ter preponderado.
12 – É curioso que o próprio Arthur. Ramos chamara a atenção para o fenômeno da ho-
mossexualidade nos candomblés de caboclo, num livro que Landes pode ter lido. Em
1934, ele citava várias reportagens dos jornais da Bahia para mostrar que desde o final
dos anos 20 aí se estava dando um sincretismo entre o fetichismo e o ‘baixo-espiritismo’.
Numa dessas matérias, por ele transcrita, diz o repórter: “O tenente Vergne foi ao seu
encontro. E com espanto notou que era um homem vestido de mulher! O ‘pai’ Quinquim
havia se transformado...” (p. 110) No mesmo livro há inúmeras citações sobre a impor-
tância das mães-de-santo na Bahia.
Para uma revisão da literatura que trata dessa presença, e uma análise de caso, ver
Homossexualidade masculina e cultos afro-brasileiros em FRY, Peter, 1982.
13 – São A Cult Matriarchate and Male Homosexuality, The Journal of Abnormal and
Social Psychology 35 (3), julho de 1940 e Fetish Worship in Brazil, The Journal of American
Folklore 53 (210), outubro/dezembro de 1940. Neste mesmo número, foi também publi-
cado um artigo de Édison Carneiro The Structure of African Cults in Brazil, traduzido
por R.Landes.
14 – Já tinha escrito esta frase genérica quando recebi o trabalho de BARROS, Luitgarde
Oliveira Cavalcanti (1999) sobre Arthur Ramos no qual são citados os documentos que
comento a seguir. Ela merece um agradecimento especial por ter tornado disponíveis es-
ses dados de sua pesquisa de pós-doutoramento. Merece agradecimento também o profes-
sor Kevin Yelvington que me enviou cópia da correspondência entre Ramos e Herskovits,
depositada na Northwestern University, em Evanston, Illinois, na Melville J. Herskovits
Library of African Studies: são 50 cartas trocadas entre 1935 e 1941 nas quais fica clara
55
a atenção que Herskovits dispensou a Ramos quando de sua viagem aos Estados Unidos.
Cópia da avaliação de Ramos sobre o trabalho de Landes está em anexo à carta de 14 de
março de 1940, mas a questão não merece quase discussão de nenhum dos dois.
15 – Ver a íntegra de seu comentário que, com exceção dos trechos específicos sobre o
relatório, é o mesmo publicado em 1942, em BARROS, 1999: 139-150. O texto tem a
data de 30 de junho de 1941, encimado pela referência à Sociedade Brasileira de Antro-
pologia e Etnologia. A sociedade foi fundada em 7 de junho de 1941 e na cuidadosa re-
cuperação feita por Azeredo dos trabalhos lá apresentados não há nenhum que se asseme-
lhe a este. A carta resposta que Ramos cita é de maio de 1940.
16 – COLE, Sally (1995:184) observa que não encontrou a tal carta, o que me leva a
supor que Ruth Landes se referia, de fato, aos pareceres de Ramos e Herskovits sobre
seu relatório. Mark Healey consultou o relatório de Landes e o cita, pelo título, como
um Research Memorandum, Columbia University, 1940.
17 – Transcrita em BARROS, 1999:108-109. Em setembro de 1941, Herskovits fez uma
conferência na Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, intitulada O Negro no
Novo Mundo como um Tema para Pesquisa Científica, transcrita, segundo AZEREDO
(1986:131) na Revista do Brasil (41), novembro de 1941. No mesmo dia, Ramos dis-
correu sobre O Problema da Raça no Mundo Moderno, também publicada na Revista
do Brasil 40, outubro de 1941. Tanto quanto sei, o conteúdo dessas e de outras conferên-
cias feitas na SBAE, e publicadas em jornais e revistas cariocas, ainda não foi analisado.
18 – Oito anos depois, o artigo de Carneiro traduzido por Landes aparece, em inglês,
como apêndice da primeira edição de Candomblés da Bahia (1948), com a observação
de que fora “ligeiramente alterado e com supressão de alguns trechos, na maior parte para
atualizá-lo”. Nesta edição, o número total dos candomblés permanece o mesmo (67), mas
a sua distribuição muda. Apesar de enfatizar a “importância superior das mulheres no
candomblé”, Carneiro observa que havia 37 pais e 30 mães no universo estudado, con-
cluindo que “hoje o número de pais e mães é igual.” O artigo deixou de ser incluído nas
edições subseqüentes do livro.
19 – Não vem ao caso aqui discutir a fundamentação empírica de Ruth Landes, trilha
que outros analistas já percorreram (ver, por exemplo, COLE, 1995). Mas parece interes-
sante observar que desde a época de Nina Rodrigues as mães-de-santo tinham prepon-
derância nos textos sobre os cultos. Numa passagem de sua descrição deles, Nina Rodrigues
começa por referir-se “aos negros” e continua, até o fim do parágrafo, falando “nelas”,
sem transição (1935: 110, citado na íntegra em CORRÊA, 1998:149). O mesmo parece
poder aplicar-se a vários trechos da análise de Roger Bastide (1971) que, não obstante
seu elogio ambíguo ao trabalho de Ruth Landes, prefere manter distância do debate so-
bre a predominância de homens ou mulheres nos cultos baianos. No início de seu traba-
lho, no entanto, ao explorar as origens africanas desses cultos, ele diz claramente que:
“Nessas condições [número menor de escravas do que de escravos; ignorância da paterni-
dade devido à falta de uniões estáveis], mesmo depois da obrigatoriedade do casamento, a
ligação orixá-linhagem masculina estava definitivamente rompida.”(1971:89)
20 – A desqualificação baseava-se tanto na afirmação de que Landes viera ao Brasil à
procura de “tribos negras”, conforme noticiado por um jornal carioca quando de sua
chegada, quanto em insinuações sobre seu comportamento no campo: “E eram as mais
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estapafúrdias as suas idéias sobre o ‘método’ de estudo da vida sexual dos negros. Esse
‘método’ era tão pouco científico que não me será possível dizer aqui em que consis-
tia.”(1942:184)
21 – RAMOS, A. 1942:189;192.
22 – M. Taussig define a faculdade mimética como “a natureza que a cultura usa para
criar uma segunda natureza, a faculdade de copiar, imitar, fazer modelos, explorar a dife-
rença, ceder ao e tornar-se Outro”.(1993: XIII) Analisando o contato colonial e várias
situações pós-coloniais, ele mostra como o dominado, definido como Outro – negros,
mestiços, mulheres – mimetiza o dominante, que antes o mimetizava, pondo assim em
xeque tanto a dominação como a noção de alteridade. Em todos os exemplos, o negro
“é o grau zero da alteridade”. Falando sobre os cuna, com suas figurinhas mágicas que
representavam brancos, mas cuja substância interior era nativa, Taussig pergunta porque
“era necessário esculpir formas exteriormente européias, ou não-índias?” Uma dessas fi-
guras era assimilada ao general MacArthur. Comparar com a assimilação feita entre Xangô
e Roosevelt ou Mussolini (LANDES, 1967:226). Ver também a menção à boneca bran-
ca feita por Luzia e às de mãe Flaviana (pp. 76;217). Se a mimetização dos dominados
pelos dominantes tinha sido o escândalo da obra de Nina Rodrigues (“Na Bahia, todas
as classes estão aptas a se tornarem negras.”), sua inversão, na análise de Ruth Landes,
passará quase despercebida.
23 – Diz Landes numa carta de abril de 1986: “ A ‘razão’ genérica dele ( Ramos), que
d. Heloísa e Édison Carneiro me repetiram, era que ele, Ramos, nunca ia ao campo para
observar ou conversar, mas chamava os informantes em seu consultório. Como Édison
escreveu, e todo mundo – inclusive a polícia! – sabia, eu estava sempre em campo, uma
jovem mulher de menos de 30 anos e conspicuamente loura.”
Ramos observava, em 1934, que ele e Hosanah de Oliveira, professor da faculdade de
Medicina, se “submeteram”, “para fins de pesquisa científica”, às “cerimônias de inicia-
ção dos ogans no terreiro do Gantois”, cerimônia conduzida pela mãe-de-santo (p. 51).
24 – Ver OLIVEIRA, W.F e LIMA, V. da C., 1987., p.31; AZEREDO, p.219. A rese-
nha está transcrita, na íntegra, em BARROS (1999: 132-135) e nela Ramos afirma ter
a autorização de amigos e parentes de Souza Carneiro para “denunciar aos intelectuais,
e especialmente aos estudiosos dos problemas folclóricos, ameríndios e negro-brasileiros,
o verdadeiro valor de um livro, que é uma criação mitológica individual”. Ao citar os
que “honesta e pacientemente” vinham estudando o “problema negro”, Ramos inclui o
nome de Édison Carneiro. Apesar disso, talvez a classificação do pai como um “mitoma-
níaco”, numa resenha publicada, fosse mais uma razão para Carneiro mencionar o “orgu-
lho e vaidade” de Ramos mais tarde – sua viúva contou a Oliveira e a Lima que a rese-
nha quase levou ao rompimento das relações entre ambos, na época.
25 – Ver a lista de pesquisas orientadas por Ramos em BARROS (1999: 61) e seguintes,
onde são citadas pelo menos duas pesquisas sobre “populações primitivas” – que, no con-
texto, tanto poderiam referir-se a grupos indígenas quanto a grupos negros.
26 – A tese que Heloísa Alberto Torres preparou – e que, afinal, não foi apresentada –
para o concurso da cadeira que tinha sido de Arthur Ramos, em 1950, versava sobre:
Alguns Aspectos da Indumentária da Crioula Baiana. A tese de Arthur Ramos, escrita para
a obtenção do título de doutor e habilitação para a cátedra de antropologia e etnologia,
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em 1946, tinha por título: A Organização Dual entre os Índios Brasileiros. D. Heloísa
fazia parte da banca que considerou “modesta” a sua contribuição (AZEREDO:82;219).
27 – Essa disputa fica nítida na correspondência trocada entre Heloísa e Ramos, antes
da viagem deste a Paris, numa carta na qual ele deixa claro que a sua definição de an-
tropologia era diferente da definição que atribuía a Heloísa. (Ver AZEREDO, 1989).
28 – As disputas das quais Herskovits participou no cenário americano mostram sua inten-
ção de alijar do campo os adversários de suas teorias: W.E.B. Du Bois, Franklin Frazier, Robert
Park e Lloyd Warner. Ver JACKSON, Walter, 1986, que, no entanto, não menciona Ruth
Landes. No contexto da crítica de Herskovits ao livro de Landes, é interessante observar que
o casal Herskovits tinha feito um popular account sobre sua experiência no Suriname – Rebel
Destiny (1934) – muito semelhante ao relato de A cidade das mulheres, aspecto que ele lou-
va em sua resenha
29 – Na sua correspondência com Arthur Ramos, Donald Pierson é freqüentemente
crítico do ponto de vista de Herskovits e favorável ao de Frazier. Numa carta de 24 de
novembro de 1937, por exemplo, comentando o livro de Ramos As culturas negras no
Novo Mundo, observa a diferença entre a Bahia, “onde o ritual de candomblé segue uma
forma definida, fixa, cuja origem é sem dúvida africana” e o sul dos Estados Unidos,
onde “o escravo negro das plantations tinha previamente perdido todas as formas cultu-
rais que tivera na África”, acrescenta: “ Não desconheço o fato de que um antropólogo
muito capaz, o dr. Herskovits, tem outra posição. Mas minha posição é baseada na pesqui-
sa de primeira mão e detalhada, do sul, feita por observadores tão sagazes desse proble-
ma como o dr. Robert E. Park.” Em outra carta, de 10 de agosto de 1940, inclui trechos
do livro de Frazier (The Negro Family in the United States), que mandara copiar para
Ramos “com a confiante expectativa de que esses dados, especialmente as notas, seriam
de muito interesse”. Há todo um parágrafo dedicado a elogiar o livro e sua metodolo-
gia. Nesta carta, Pierson também anuncia a vinda de Frazier ao Brasil, no mesmo perío-
do em que Ramos estaria nos Estados Unidos. Pierson lembrará, em outras cartas, no-
mes de pessoas e instituições que Ramos deveria visitar e certamente não terá gostado
da carta em que Ramos anuncia que estava indo para a Northwestern University, a con-
vite de Herskovits – a quem alude mais uma vez nessa correspondência, lamentando que
Ramos não estivesse no Brasil quando da visita de Frazier, já que o interesse dele, e de
outros pesquisadores que recomenda, “não está limitado, como no caso de outros de nos-
sos conterrâneos, a uma mera catalogação de sobrevivências culturais africanas e à procu-
ra de sua origem e difusão” (carta de 11 de setembro de 1940). Na correspondência,
mantida entre 1935 e1949, nenhum dos dos missivistas comenta a opinião do outro so-
bre Herskovits ou Frazier.
30 – FRAZIER, Franklin, The Negro Family in Bahia, Brazil, American Sociological Review
VII, 1942, p. 472.
31 – Não posso acompanhar aqui todo o debate sobre a “família negra”, suscitado por
essa discussão entre Frazier e Herskovits: para uma visão mais completa, ver SLENES,
Robert, 1999.
32 – HERSKOVITS, Melville The Negro in Bahia, Brazil: a Problem in Method, American
Sociological Review VIII, 1943, p. 401. O rejoinder de Frazier saiu neste mesmo número
e nele ele volta a citar os artigos de Landes e Carneiro, que haviam saído em 1940.
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33 – Sobre Hurston, ver HERNÁNDEZ, Graciela, 1995. Nesse contexto é interessante lem-
brar que Hurston, uma aluna negra de Boas, que depois se tornou novelista, foi assistente de
pesquisa de Herskovits, que dizia sobre ela numa carta de 1927, depois de vê-la cantando
spirituals: “(sua) maneira de falar, suas expressões – em suma, seu comportamento motor –
(eram) o que se poderia chamar tipicamente negros. (Esses movimentos tinham se) manti-
do como um padrão de comportamento aprendido através da imitação e do exemplo com
os escravos africanos originalmente trazidos para cá.”(citado em JACKSON, p.107)
34 – Numa carta que me escreveu, quase cinqüenta anos depois de sua pesquisa no Brasil,
Landes assume com clareza o papel simbólico da negra dizendo sobre esse ataque: “Their
calumnies were symbolic rape on me”(carta de 6 de abril de 1986). Sobre o contexto
hostil em torno da discussão da questão racial pela Unesco, logo após a Segunda Guerra,
ver STOLCKE, 1995. Vale lembrar que Alva Myrdal, esposa de Gunnar Myrdal e de-
pois chefe da Divisão de Ciências Sociais da Unesco, teve seu visto de entrada nos Estado
Unidos negado em 1953, no auge daquela discussão (MÉTRAUX, 1978:497).
35 – Sobre as pesquisas financiadas pela Unesco no Brasil, ver STOLCKE, Verena (1995)
e MAIO, Marcos Chor (1997): a análise de ambos mostra que, mais do que estabelecer
o roteiro dessas pesquisas, o legado de Arthur Ramos foi pôr em marcha a célebre dis-
cussão que redundou nas disputadas declarações da Unesco sobre raça (Unesco, 1973).
Verena Stolcke segue passo a passo os interesses em disputa no grupo de cientistas
encarregados da missão de definir “o racismo frente à ciência”, título da declaração
final, e os diários de A.Métraux (1978) mostram as atribulações do encarregado de
levá-la a cabo.
36 – O livro de NASCIMENTO, Abdias do (1982) parece ser o melhor indicador dis-
so: ver suas críticas a Carneiro e Costa Pinto que se teriam insurgido contra o conceito
de negritude (p.99) e sua acusação de que Édison Carneiro estava perdendo a cor... Sobre
a importância da Sociedade Africana de Cultura, cujo primeiro congresso internacional
ocorreu em Paris em 1956, e sua proposta de tornar-se uma “sociedade cultural do mun-
do negro”, ver FANON, 1974.
MINHA A D O R AV E L L AVA D E I R A :
UMA ETNOGRAFIA MINIMA EM
TO R N O D O E D I F I C I O T U PI
“(...) fiquei alimentando a idéia de ter um encontro com o sargento Padre Nosso,
um que foi preso há pouco tempo. Falando aqui em casa, Sinhá Maria disse que
o conhecia e se prontificou a ir chamá-lo (...) em pouco já o tinha junto de mim.
É um preto alto, não muito preto. Entrei de ‘rijo’ no assunto. Mostrei seus retra-
tos, os jornaes que deram as suas entrevistas, falei no Valdevino, na ‘louvação’ que
fez na Perseverança, mostrei um trabalho seu publicado na Revista Contemporânea
(...) e a proporção que eu ia lendo o preto ia se enthusiasmando, chegando as ve-
zes a se levantar e a me dar a mão. Dahi para frente foi aquella garapa.”1
M
anhã de sol, porta dos fundos de um apartamento amplo e claro na
Zona Sul carioca. Uma moça escura cruza assustada a cozinha em di-
reção ao quarto de empregada. Troca-se. Na cozinha, parece mais
clara, quase da cor do seu avental. Branca. Bebe um copo d’água enquanto ajei-
ta o coque envolvido numa rede. Seu nome é Eulina. Enquanto se dirige ao tanque,
a cozinheira Guilhermina percebe sua afobação. Dr. Arthur é chamado e ao chegar
pede que Eulina lhe conte o que ocorreu. Dr. Arthur ouve atento o que Eulina tem
a dizer. Guilhermina se benze e balança a cabeça. Meia hora depois, dr. Arthur vai
à biblioteca e anota numa folha de papel o que ouvira de Eulina. A partir daqui,
minha imaginação cede a vez para as notas do dr. Arthur Ramos.
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É possível que Arthur Ramos tenha lançado mão de suas técnicas psicanalíticas
para testar a veracidade do temor que sua lavadeira Eulina dizia sentir, ao ver ce-
nas como aquelas num bonde carioca. Na interpretação de alguns dos autores que
o haviam influenciado em sua formação em psiquiatria e medicina legal durante
os anos 20 e 30, a queda do santo ou a possessão era um fenômeno explicável
através das noções de sugestão e imitação. Talvez por isso, um estilo anamnésico
perpassa grande parte dessas notas. Não há qualquer mediação – sob a forma de
dúvida, hesitação ou perplexidade – entre o antropólogo e sua informante-
lavadeira Eulina: é o primeiro que observa, indaga e transcreve o que lhe foi rela-
tado, lembrado e sugerido. Em outras notas, seu tom reticente sugere poucas
certezas. Suas anotações sobre a cozinheira Guilhermina, por exemplo, estão
povoadas de dúvidas. Nelas, as interpretações oferecidas para o que o próprio
Ramos denominara sincretismo afro-brasileiro, parecem desestabilizar quadros
anteriores, alimentados com informações semelhantes às que aparecem na epí-
grafe. A amedrontada Guilhermina também andava freqüentando a casa de uma
vidente nada ortodoxa: d. Zilá. Nas notas de Ramos, percebe-se seu interesse em
perscrutar um campo de significados situado além das fronteiras dos cultos afro-
brasileiros.3
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Tem um tio muito velho que mora em casa própria e que se casou com a mulher
quando já tinham netos. As moças da família são todas casadas e com funcionários
do governo: Lloyd, Central etc. Que na casa da viúva de um que foi taifeiro do
Lloyd há um armário cheio de jarros e bandejas de alumínio que ele carregava
para casa. Era muito bom para os filhos e a mulher.”4
Essas notas sugerem que, por volta de 1948, cerca de um ano antes de sua
morte precoce, Ramos fazia uso de outras idéias para explicar o universo religioso
no qual transitavam Eulina e Guilhermina. Todavia, as mudanças de enfoque
não anulam o que chamei estilo anamnésico. Certamente não foi essa a primeira
vez que Ramos registrou informações dessa natureza em pedaços de papel, pe-
quenas notas e diários. E em grande parte desses escritos podemos perceber a
combinação de procedimentos caros à relação médico-paciente se misturando a uma
forma singular de lembrar, fustigar a memória e construir, verbalmente ou através
da escrita, algum tipo de reminiscência. Uma forma de instaurar/produzir uma
memória e um tipo particular de “relato” comumente feito pelo “paciente” graças
à “cordialidade inquiridora do médico”.5 Nos escritos de Ramos, a intimidade en-
tre as imagens do paciente/informante e do médico/antropólogo não constitui uma
metáfora. A continuidade estilística ganha relevância se observarmos essas trans-
formações de enfoque que vão caracterizar essas notas, a partir de um olhar pros-
pectivo. Em seus relatórios sobre os internos no Hospital São João de Deus, em
Salvador, no final da década de 1920, em visitas a parentes em sua cidade natal,
Pilar, e em sua clínica no centro do Rio de Janeiro, o dr. Ramos já experimen-
tara situações semelhantes.
Com essa observação, não quero dizer que as experiências de Ramos que en-
volveram a coleta e aquisição de conhecimentos dessa natureza tenham estado
unicamente marcadas por relações de distância, autoridade e hierarquia – seme-
lhantes às que opõem médicos e pacientes. Os atores que Ramos transformou
em objetos de um olhar científico e distanciado – trabalhadores rurais, porteiros,
faxineiras e pacientes de instituições médico-judiciárias – não foram personagens
passivos e silenciosos. As relações estabelecidas nesses contatos – mesmo aqueles
mediados por assistentes como Otinha – certamente foram muito mais comple-
xas e, portanto, estão sujeitas, unicamente, às conjecturas. Domesticidade, inti-
midade e cumplicidade perpassam as formas de contato e comunicação entre o
antropólogo e as personagens que povoaram os diferentes cenários nos quais
Ramos atuou. Essas relações se desenvolveram ao longo de um processo de transfor-
mação na própria carreira profissional de Ramos. Ao mesmo tempo em que Ra-
mos se convertia de médico em antropólogo, seus pacientes passaram à condição
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C A RTO G R A F I A S E V I A J A N T E S M O D E R N O S
Como salientou Mary Louise Pratt, parte substancial das narrativas de viagem
descreve encontros e, inevitavelmente, põe em evidência zonas de contato, nas
quais os viajantes que observam – culturas, povos e histórias – têm sua subjeti-
vidade em relevo cada vez que definem, traduzem e classificam o outro (1992:
7). É recente a literatura que tematiza diferentes modalidades de narrativas de
viagem experimentadas por exploradores, aventureiros, administradores, jorna-
listas e escritores ao longo do século XX, quando a figura do antropólogo repre-
sentando uma categoria especial de viajante ganhou um lugar de proeminência.
Ainda assim, como muitos autores têm chamado atenção, as etnografias conti-
nuam a manter uma forte afinidade e semelhança estilística com as narrativas de
viagem (Fabian, 1983; Scott, 1989; Clifford, 1989; 1992; Pratt, 1992). Muitas
experiências etnográficas produzidas nas primeiras décadas do século XX es-
tiveram marcadas pela presunção de que tais viajantes – os antropólogos – eram
dotados de dons especiais que os tornavam capazes de transpor fronteiras tem-
porais e espaciais, bem como conhecer, descrever e interpretar aquilo que o olhar
não iniciado enxergaria apenas como exótico e diverso (Rosaldo, 1986; Clifford
& Marcus, 1986). As atividades desempenhadas pelos antropólogos, todavia, têm
implicações que ultrapassam formas de deslocamento simplesmente espaciais. A
etnografia – gênero particular de relato e escrita destinado a documentar formas
de conhecimento resultantes de distintas experiências envolvendo encontros, con-
tatos e formas de observação – não consistiu em virtude de um viajante oniscien-
te, ou mesmo, nas palavras de Sérgio Cardoso, não se resumiu a uma suposta
“ingenuidade do vidente” (1988: 349). Ao tratar a viagem – e sobretudo aque-
las de caráter etnográfico – como sendo uma forma singular de “deslocamento”,
Lévi-Strauss imaginou um percurso entrecortado por diferentes tipos de relações,
vínculos e formas de comprometimento. “Em geral”, argumenta, “conhecemos
as viagens como um deslocamento no espaço. É pouco. Uma viagem inscreve-se
simultaneamente no espaço, no tempo e na hierarquia social. Cada impressão só
é definível se a relacionarmos de modo solidário com esses três eixos, e, como o
espaço possui sozinho três dimensões, precisaríamos de pelo menos cinco para
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Vários estudos recentes têm focalizado seja o caráter transnacional, seja a comple-
xidade política das intenções e projetos que orientaram um grupo de intelectuais
em direção à formulação de um objeto de atenção cujas fronteiras, simultanea-
mente, ultrapassam e se misturam àquelas comumente erigidas na representação
da nação (Trouillot, 1992; Yelvington, 1999, 2001; Palmié, 1998, 2002; Cunha,
2002). Na formulação de uma antropologia do “Negro no Novo Mundo” (New
World Negro), projetos disciplinares e políticos estiveram em diálogo. Embora as
instigantes análises de Walter Jackson (1986) e David Scott (1991) tenham limi-
tado o estudo dessa imbricação ao contexto norte-americano nos anos 1920 e
30, há muito que se investigar acerca de processos anteriores já em curso em alguns
países latino-americanos, nos quais a influência da escola boasiana é mínima
(como são o caso de Cuba e o Haiti), ou relevante somente a partir da segunda
metade da década de 30 (Brasil). São diversos os embates políticos e os dilemas
disciplinares transformam o “negro” em objeto de atenção no Brasil, em Cuba e no
Haiti. Devemos nos perguntar sobre as operações e discursos que subordinaram
essa pluralidade de abordagens em torno de um objeto que envolvia problemas
de ordem política e social de um lado, e teórica de outro, a um único e inexorá-
vel processo de expansão da antropologia norte-americana no Caribe e na América
Latina. Nesse sentido, a combinação de um certo humanismo nas práticas e nas
idéias com um engajamento político dos alunos de Franz Boas em torno das no-
ções de “raça” e “cultura” deve ser confrontado com outras trajetórias intelectuais
similares em contextos pós-coloniais, enfocadas, quase sempre, por seus vínculos
com projetos de reforma social e nacionalismo. Por esse caminho é possível refle-
tirmos sobre os significados de viagens que visaram ampliar os horizontes do de-
bate sobre o afro-americano a partir de uma perspectiva transnacional.
As viagens de Fernando Ortiz à Europa, entre 1899 e 1903, e aos Estados Uni-
dos em 1931-1933, por exemplo, fornecem balizadores fundamentais para com-
preendermos sua trajetória intelectual e sua leitura racializada de Cuba, repre-
sentada através da metáfora do ajiaco. Da mesma forma, a compreensão acerca
das primeiras pesquisas de Melville Herskovits no Suriname, em 1928, é funda-
mental na observação de como suas leituras de noções como cultura e história
permitiram a confecção de uma inusitada cartografia afro-americana (Ortiz, 1944;
Coronil, 1995; Palmié, 1998).17 Os exemplos de Ortiz e Herskovits, todavia,
visam representar movimentos paradigmáticos e quase simétricos. De um lado,
o intelectual cubano que se nutre de idéias, teorias, métodos e perspectivas cientí-
ficas na Europa e nos Estados Unidos e, a partir dessas viagens, é capaz de repensar
sua própria forma de conceber um objeto diante do qual se posiciona demasia-
damente próximo: a nação. Nesse caso, a viagem parece ter produzido uma expe-
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M E M O R A B I L I A : A V I AG E M L E M B R A D A
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“(...) o espírito etnográfico ainda me era tão alheio que eu não pensava em aproveitar
essas ocasiões. Desde então, aprendi o quanto esses breves relances de uma cidade,
de uma região ou de uma cultura exercitam utilmente a atenção e, por vezes, per-
mitem inclusive – devido à intensa concentração que se faz necessária pelo ins-
tante tão curto de que dispomos – apreender certas propriedades do objeto que
poderiam, em outras circunstâncias, manter-se escondidas por muito tempo.
Outros espetáculos me atraíam mais e, com a ingenuidade de um novato, eu ob-
servava apaixonado, no convés deserto, esses cataclismos sobrenaturais (...) se en-
contrasse uma linguagem para fixar essas aparências a um só tempo instáveis e re-
beldes a qualquer esforço de descrição, se me fosse dado comunicar a outro as
fases e as articulações de um acontecimento no entanto único e que jamais se re-
produziria nos mesmos termos, então, parecia-me, eu teria de uma só vez atingi-
do os arcanos da minha profissão: não haveria experiência estranha ou peculiar a
que a pesquisa etnográfica me expusesse e cujo sentido e alcance eu não pudesse
um dia fazer com que todos captassem” (1996 (155): 60).
Ramos e sua esposa, Luísa, deixaram pistas de uma certa presunção quanto a
um poder ilimitado de descrição. As marcas da viagem – delicadamente docu-
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mentada na constante atenção às suas marcas mais indeléveis – estão por toda
parte. É que a viagem à América – sob a forma de um projeto em constante ela-
boração – começara antes. Nas cartas enviadas, nas referências comparativas de
seus artigos a temas como “escravidão” e “raça” nos Estados Unidos e no Brasil,
e na sua atitude favorável a uma política de “intercâmbio cultural” que projeta-
va o império para as bordas de seus velhos, mas reconsiderados, súditos, desde
meados dos anos 1930. A viagem, chegada, recepção, e passagem de Ramos por
várias cidades norte-americanas foram singularmente descritas. Do porto do Rio
de Janeiro, o navio que levara Ramos e d. Luísa aos Estados Unidos chegaria a
New Orleans no final do ano de 1940. A partir de então, Ramos parece ter vesti-
do a “ jaqueta de antropólogo” (McClintock, 1995), passando a observar e a escre-
ver sobre o que via. Ramos inicia as primeiras observações e descrições sobre sua
viagem. Mas, ao contrário de Lévi-Strauss, que em Tristes trópicos (1955; 1996),
retomara suas notas de bordo para explicar e dar sentido ao seu sentimento de
exílio, decepção e fadiga da civilização, Ramos deixou marcas, sinais triunfais
dessa transposição de fronteiras políticas e culturais tão importantes para a ativi-
dade que desempenhava num mundo ameaçado pela guerra. Ao contrário do
antropólogo francês, para o qual a alusão ao “Velho Mundo” pode ser vista como
um recurso estilístico de forma a produzir uma mediação e preparação do leitor
para um cenário cultural radicalmente diverso, as menções que Ramos faria ao
que ficou para trás – o Brasil e os brasileiros – acompanhariam todas as referên-
cias e observações que fez, sob a forma de notas e cartas, de sua viagem.
A partir de agosto de 1940, a coluna Movimento Cultural, escrita por Ramos
para o jornal Diretrizes –, editado pelo jornalista Samuel Wainer –, passa a ser o
espaço de divulgação de sua “correspondência” – nas palavras dos editores, “uma
correspondência especial sobre assuntos culturais e sobre aspectos sociais da vida
norte-americana”.28 Mas as primeiras impressões sobre a viagem, Ramos as escre-
ve do Delmondo, que compara a uma “universidade em trânsito”: cheio de white
middle class, estudantes dos colleges americanos e professoras de high schools que
o enchem de perguntas sobre o Brasil. Ramos parece exultar de sua condição ím-
par: um professor brasileiro rumo à civilização. O último dia no Brasil, a convi-
te de Diégues Júnior, é na pacata Vitória de 1940. De forma nostálgica avista
“gente metida em roupa branca de linho engomado”, namoro de portão, conver-
sa na farmácia, procissão, bilhares cheios e matinês de cinema. De volta ao navio,
apelidado de “antecâmara da América”, personagens mais cosmopolitas invertem
a cena. A figura de um missionário que conhece toda a literatura cristã que vai
de “Maritain a Tristão de Ataíde” o instiga a iniciar de pronto suas observações
sobre a gente de uma terra na qual ainda não aportara. Longe do Brasil e perto
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“(...) temos que ensinar também. Ensinar uma técnica de vida que é caracteristi-
camente nossa. A técnica das relações humanas. A técnica da conduta social. A
técnica da real democracia que transcende as injunções deste ou daquele período
histórico (…) O estudo direto do negro no Deep South me proporcionará ele-
mentos de cotejo com idênticos problemas no Brasil – em seus aspectos antropológi-
co, sociológico, psicológico etc. Direi lá o resultado da nossa experiência – que
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“Você vai gostar da Louisiana, onde encontrará muitas coisas que lhe irão interes-
sar tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Espero que tenha oportuni-
dade de fazer algum trabalho sobre os negros da região; com a preparação que
você tem, estes estudos certamente alcançarão excelente resultado.”34
Certamente Ramos não via tudo o que observava. Ou talvez não quisesse
transformar em observação tudo que os outros queriam que ele não só visse,
mas comparasse. De todo modo, em uma de suas primeiras “cartas” publi-
cadas em Diretrizes, Ramos tornou público seu desejo de transformar a região
em objeto de pesquisa comparativa: “Meu campo de atuação é o Vale do
Mississípi (…) me proporcionará elementos de cotejo com idênticos proble-
mas no Brasil.”
Em carta a Herskovits, escrita um mês após sua chegada a Baton Rouge, de-
clarava estar gostando “imenso da LSU”: “Não só os estudantes como (os) pro-
fessores estão muito interessados por tudo quanto tenho dito sobre os problemas
de raças e de culturas no Brasil. Tenho aproveitado as horas vagas para estudar e
observar a vida do negro nas plantações da Louisiana e em outros atos da sua
vida social, do ponto de vista antropológico e sociológico, e será excelente tro-
carmos depois nossas impressões.”35 Mas, apesar de ter escrito alguns artigos so-
bre a sua presença no sul, era o Brasil e os brasileiros que pareciam ser objeto da
visão, e não da observação, de Ramos. Mas será que os antropólogos – na posição
80
“Acredito que a ativa participação do Brasil na guerra, algo que foi cordialmente
bem recebido neste país, não faça muita diferença no seu planejamento para o
Departamento. De qualquer forma, é confortante saber que os nossos governos
estão utilizando toda a capacidade profissional dos antropólogos nesse momento
(…).”36
81
“Agora que me encontro no tempo e no espaço das discussões em que tomei parte,
verifico como é possível extirpar aquele defeito de atitude que os antropólo-
gos chamam de ‘etnocentrismo’, como é difícil deixar de querer impor aos ou-
tros os conceitos que nos acostumamos a julgar como sendo os melhores. Não
podemos discutir os problemas da futura paz, sem antes destruir o que estava erra-
do neste velho mundo, sem destruir as coisas más que levam os homens à guerra,
sem entrar na guerra para destruir a guerra” (Ramos apud Gusmão 1974: 55).
T E R R A E S T R A N G E I R A : V I AG E M E N O S TA LG I A
82
“Não é a poesia do rio que nos espera: é a bárbara e monumental sinfonia do óleo
que nos penetra os sentidos, quando entramos pelo backyard da América (…) a
mecanização agrícola está destruindo aos poucos a tradição do rio. O trem de fer-
ro matou o steamboat (…) entrei numa dessas excursões e nada vi, além de um
conjunto de swing, uísque com Coca-Cola e Seven Up (…) não ouvi as risadas
de Huckberry Finn nem o barulho da banda de Giddeon. Old Man River! Onde
estão os teus negros cantando nas plantações de Louisiana? (…) O velho negro
Carey das plantações de St. Francisville e outros negros das old plantations ao
norte de Baton Rouge – de Oakley a Live Oak me contam no seu quase inin-
teligível gumbo, a história das migrações que despovoaram o Mississípi. Perseguidos
e maltratados, os negros vivem a vagar de um ponto a outro, à busca de melhores
pousos. Eu vi as suas casinhas de madeira, desde a foz do rio, desde os pequenos
aglomerados de pescadores até as little towns dos bayous da Louisiana. Nunca
uma família está completa. Há sempre o rapaz que foi embora, a procura de
melhores dias, longe, muito longe do velho mar.”37
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Esposa e irmãs de Arthur Ramos no litoral de Alagoas: em 1930, o antropólogo visitou a lo-
calidade de Mocambo em busca de informações sobre xangôs alagoanos.
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“Na sexta-feira P. N. (sargento Padre Nosso) esteve aqui e me disse que quando
fosse lá não deixasse de levar O negro brasileiro porque este livro serviria de bilhe-
te de entrada. Disse mais, que, quando veio aqui pela primeira vez, se eu não
tivesse lido aqueles trabalhos seus, não teria arranjado coisa alguma. Falando so-
bre o preto de que lhe mandei o retrato, disse que ele entende da presente coisa,
mas não está com as faculdades mentais perfeitas (...) tenho notado que eles
querem se aproveitar de mim, querem que eu consiga licença para a seita fun-
cionar sem interrupção (...) perguntei a Padre Nosso se tinham algum livro que en-
sinasse todas as palavras de nossa língua para o africano. Disse que não e que o
velho babalorixá é que ensina muita coisa. Quero ver se consigo agradar o velho
e apanhar um bocado de coisas. Se você tem alguma coisa que deseja saber, será
bom dizer, porque assim será mais fácil para mim. Ou melhor, escreva, dizendo
o que deseja que eu consiga do velho babalorixá.”39
Mas o caso é que a obstinada Otinha se via açodada por outras forças muito
mais poderosas, com as quais aprendera a lidar. Num tom de denúncia, relatava
atos criminosos de policiais locais e tráfico de influência. Em vez de mantidos
no Instituto Médico-Legal do Estado, os objetos de culto apreendidos nos ter-
reiros alagoanos eram vendidos e enviados para “instituições e pessoas de outros
estados”. Mesmo assim, Otinha não se descuidava de suas obrigações, ao contar
a Ramos como atendera aos assédios dos praticantes da seita e como convencera
o delegado local a relaxar suas incursões policiais aos terreiros nos dias em que
lá estava a observar e colher informações para Ramos.40 As informações conce-
didas por Padre Nosso, um ou outro objeto salvo do desterro e as cartas de Otinha
– evidentemente destituídas de referências à economia doméstica que orientou
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Dessa primeira fase de sua carreira para o conjunto de notas de campo sobre
as “macumbas cariocas” – material que Ramos não teve tempo de analisar e publi-
car –, algo mudou. Essa alteração, por sua vez, não se limita à percepção que o
próprio Ramos obstinadamente intentou imprimir de sua própria trajetória inte-
lectual.43 Desde o início dos anos 40, Ramos parecia vestir o uniforme da discipli-
na e produzir deslocamentos teóricos relevantes em suas análises sobre o que
chamava “culturas afro-brasileiras”. Do seu Notas de ethnologia (1932) à Introdução
à antropologia brasileira (1943) e Poblaciones del Brasil (1945), reflexões inspira-
das em Freud e Lévy-Bruhl deram lugar a proposições em torno das relações en-
tre “raça” e “cultura”, baseadas em Franz Boas e Melville Herskovits. Em obituários
e notas biográficas, vários são os autores contemporâneos de Ramos que reconhe-
cem e identificam os sinais de alguma forma de transformação – seja no foco de
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“É quase impossível transmitir uma visão de conjunto sobre os Estados Unidos, prin-
cipalmente para quem viveu, como eu, em zonas muito diversas. Há o Sul agrário,
cheio de tradições e preconceitos; e este, por sua vez, se subdivide em várias zonas...”46
Por fim, o leitor pode observar que estes textos não são estritamente etno-
gráficos e pretenderam, tão-somente, reportar a viagem, as descobertas e os per-
calços de um professor brasileiro na América. Entretanto, se compararmos seus
propósitos com os de outros textos nos quais uma espécie de antropologia aplica-
da ao combate anti-racista é entremeada às discussões teóricas, material etno-
gráfico e discurso nacionalista, vamos perceber que os canais de veiculação pouco
interferem no estilo e teor daqueles publicados em jornais. Esse trânsito ou, como
diz Micaela di Leonardo, essa “simbiose” entre um público especializado e ou-
tro, não iniciado, também caracterizou a produção, circulação e popularização
da antropologia norte-americana no mesmo período (1993: 148). Como para
outros autores de sua geração, a antropologia para Ramos era um artifício retóri-
co e um instrumento científico de reforma social.
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M E M E N TO : A A N T RO P O LO G I A M I N I M A D O D R . R A M O S ( E
MISS SUE)
“Somente agora soube que uma preta que esteve aqui empregada uma porção de
tempo é da religião africana – sendo ‘filha do velho’, como diz o Preto Pinheiro,
filha de Oxalufan”47
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ponto, Arthur Ramos compartilha com outros autores que trabalharam com os
temas afro-americanos, nos anos 1930 e 1940, um mesmo olhar sensivelmente
direcionado à detecção da diferença cultural, cujos contornos são fortemente mar-
cados por representações de “raça”e gênero. Essa sinalização é, por exemplo,
ressaltada na pesquisa de Donald Pierson, na Bahia, entre 1934 e 1937 (1942).
Ruth Landes, embora operando com pressupostos distintos, realça as fronteiras
desses dois domínios e os lugares que ocupam na vida cotidiana dos terreiros de
candomblé (1947 (2002); Cole, 1994, 1995; Corrêa, 2000). Edward Franklin
Frazier, por sua vez, entrevista mulheres jovens, moradoras dos arredores do
Gantois entre 1940 e 1941. Nas suas notas de campo, é o contato com as mulhe-
res e as suas interpretações sobre experiências conjugais e familiares que lhe for-
necem subsídios para o seu tenso diálogo com Melville Herskovits (1943).
No caminho de volta ao Brasil, Ramos ensaiou um diário de bordo. Tentava
lembrar-se do que chamava misunderstandings on Brazil: sua localização impreci-
sa, o fato da sua capital situar-se em Buenos Aires e dos brasileiros falarem espa-
nhol. Também rascunhou pequenas notas sobre personagens e lugares sulinos:
Mr. Ducan, Sue, Baton Rouge e suas visões sobre um rio parecido com o São Fran-
cisco – o Mississípi. Estranho mapa, dr. Ramos. No mesmo ano publicaria um tex-
to gestado e maturado em terra estrangeira: The Scientific Basis of Pan Americanism
(1941). Ramos acreditava ser necessário investir em explicações e fundamentos
científicos, no que então imaginava explícito unicamente através de um “senti-
mento” ou de “laços políticos”: o pan-americanismo. Por vezes aludido como
sinônimo de “culturas americanas”, o pan-americanismo seria mais do que uma
ideologia e teria, a seu ver, uma interpretação histórica e cultural a ser investigada.
“Existe uma cultura do Novo Mundo, existe um ‘americanismo’ que vai além do
significado político.” Similares, “configuração física”, “pré-história”, “história” e
“sombra negra” (shadow of negro, p. 31) perpassariam as três Américas, caracterizan-
do-as como uma única área cultural. Por essa via seria possível entender as proximi-
dades que ele encontrara entre o Mississípi e (o São Francisco) o rio Paraíba:
“O negro foi trazido para as Américas para suprir a força de trabalho escravo nos
campos e minas. A presença dele constitui um daqueles denominadores comuns
que dá uniformidade às culturas americanas. O escravo negro no vale do Mississípi
é o mesmo negro escravo do vale do rio Paraíba. A mesma voz, as mesmas canções,
a mesma fisionomia e a mesma história” (1941b: 31).
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“Onde está aquele grupo de abnegados que queria iniciar no Brasil, os ‘trabalhos de
campo’, promover viagens culturais de pesquisa e outras coisas sem importância?
Mestre Afrânio Peixoto, do alto da sua serenidade, não se conteve e lançou há dias
um brado angustioso, por todos nós que temos frio, que estamos no escuro, que
queremos fazer alguma coisa pela cultura do Brasil, e apenas tateamos nas trevas.”
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De volta ao Rio de Janeiro, Ramos pôs em ação o olhar de viajante e sua su-
posta capacidade ilimitada de observação. Mas as distâncias já não eram as mes-
mas. A guerra e seus impactos no Brasil e no mundo arrefeceram-lhe o desejo de
regular moral e culturalmente a nação. Ainda assim, das primeiras experiências,
restaram vestígios. Os sujeitos e os objetos que povoaram as cartas de Otinha entre
1937 e 1939, os dossiês médicos e criminais, os laudos clínicos reapareceriam
travestidos e transformados. Os focos de sua atenção encontravam-se inusitada-
mente próximos. As viagens agora indicavam movimentos locais. Não implica-
vam a descoberta de sinais de alteridade radicalmente diversos e sua etnografia
prescindia de um deslocamento espacial significativo. Eram os brasileiros, e não
somente os negros, que protagonizavam, sedutores, a cena nacional. Era esse o
cenário que clamava pela observação especializada. Brasileiros diversos cultural-
mente. Ainda assim, o tropo viagem-distância parece persistir. Esses gestos míni-
mos, naturalizados e produtores de fronteiras culturais reificadas, não fariam da
antropologia à brasileira algo menor. Sérgio Cardoso nos chama atenção para as
implicações da valorização da noção de distância como um perigoso pressupos-
to. “Ao indicar a distância com sua marca distintiva, nos confina em um terreno
em que os litígios parecem insolúveis, e qualquer acordo, impossível (...) ora,
próximo, diríamos, é o que está perto, nas cercanias; sua acepção coerente indi-
ca vizinhança e imediação. Assim, podemos observar que a palavra (proximidade)
sugere um certo horizonte de inclusão e envolvimeno, que confina cada elemento
assinalado e os que lhe estão próximos, no interior de um mesmo campo, nos
limites de um certo espaço que contorna entre eles alguma comunicação e passa-
gem, e demarca os “arredores” de cada um. Ou seja: esse atributo remete à confi-
guração de um todo – ou, ao menos, ao contorno de um certo horizonte – que
compreende os pontos envolvidos e possibilita sua apreensão simultânea, sem a
qual parece impossível tal predicação” (1988: 352-3).
Mariza Peirano explorou as implicações dessa insistente domesticidade que
marca o processo de institucionalização da antropologia no Brasil (1981, 1998).
Podemos imaginar como, na trajetória de Ramos, a viagem fora concebida como
um rito de iniciação. Além de dotar de prestígio a sua carreira, o transformara
de fato num antropólogo. No mesmo período em que Edward Franklin Frazier,
Lorenzo D. Turner e Melville Herskovits seguiam para a Bahia em busca dos
vestígios da África no Brasil, Ramos iniciava uma espécie de antropologia míni-
ma em torno do edifício onde morava. Buscava os vestígios do que um dia chamou
“sincretismo”, na festa da Penha, na Alvorada de São Jorge, no centro espírita
kardecista e nas sessões ecléticas na casa da d. Zilá. Notas sucintas, informações
biográficas e dados etnográficos misturam-se a recortes de jornais sobre espiritismo
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e umbanda nos subúrbios do Rio. A assustada Eulina era de Penafiel, Sta. Clara
do Torrão.
“Não conhece por lá N. S. da Penha e nunca foi à Penha. Seu Albino, porteiro
do Edifício Tupi, é de Espozenda, no Minho. A mulher do seu Albino é do Porto.
Seu Francisco, pai de Irene, era de Minas (...) D. Conceição, dona da casa onde
mora Eulina, nossa lavadeira, é de Barcelos, Portugal. Não muito longe de Vila
do Conde. Barcelos, vila de Braga, província do Minho (…).”53
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D O C U M E N TO S M A N U S C R I TO S
BIBLIOGRAFIA
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27 – Ver, respectivamente, CAR/BN (I-35, 16, 235), (I-35, 16, 212) e NU/MHP. Carta
de Arthur Ramos para M. Herskovits, 20 jun. 1939.
28 – Um sábio brasileiro nas universidades americanas. Diretrizes, III (28): 29, 1940.
29 – Idem. Ramos data essa referência ao missionário como tendo sido finalizada em 12
set. 1940.
30 – Carta dos Estados Unidos – Antecâmara da América. Diretrizes, III (30): 10-12,
1940. Ver também Lições da Vida Americana (depoimento de Érico Veríssimo) e Carta
dos Estados Unidos – América Portuguesa. Diretrizes, IV (40): 10.
31 – Em outro texto comparo e detalho a viagem de Ramos aos Estados Unidos à via-
gem do cubano Lachatañéré (Cunha, 2002).
32 – Idem. NU/MHP, ver correspondência entre A. Ramos e M. Herskovits, enviada
entre setembro e novembro de 1940.
33 – Ver Um Sábio Brasileiro nas Universidades Americanas, Diretrizes, III (28): 30,
1940. Ver, também, carta de A. Ramos a M. Herskovits, 10 jan. 1941, NU/MHP. O tex-
to foi publicado em periódico dos intelectuais negros norte-americanos, o Journal of
Negro History (ver RAMOS, 1941).
34 – Tradução minha. NU/MHP, carta de Herskovits a Ramos, 8 set. 1940.
35 – NU/MHP, carta de A. Ramos para M. Herskovits, 12 out. 1940.
36 – MHP/NWU, carta de Melville Herskovits para Arthur Ramos, 30 set. 1942.
37 – Carta dos Estados Unidos – Old Man River. Diretrizes, (31): 49-51, nov., 1940,
pp. 49-50.
38 – Essa expressão foi utilizada pelo próprio Ramos no prefácio de As culturas negras
no Novo Mundo ((1937) 1979: xxi).
39 – Cartas de Otinha para A. Ramos, respectivamente, 12 mar. 1937 e 1 abr. 1937.
CAR/BN (5, 36, 2018c).
40 – Sobre as práticas policiais na repressão aos cultos ver, por exemplo, a carta que Oti-
nha envia a Ramos e esposa em 14 fev. 1937, CAR/BN (I-36, 9, 106). O termo seita é
utilizado pela missivista. Ver cartas de Otinha para Ramos entre 1937 e 1938.
41 – O material reunido por Ramos e a esposa em sua coleção, em viagens pelo interior de
Alagoas, e os documentos/artefatos enviados por amigos e admiradores caracterizam uma
prática muito corriqueira utilizada pelos antropólogos brasileiros de sua geração. Entretanto,
a lógica de inserção e indexação de parte substancial desse material sugere que se prestaram
a validar e diferenciar as atividades do médico daquelas desempenhadas pelo antropólogo.
Em Alagoas, seus familiares e amigos foram responsáveis pela alimentação constante do acer-
vo. Numa pasta intitulada Etnografia Religiosa do Negro Brasileiro, que contém parte re-
levante do material utilizado na confecção de O negro brasileiro (1934), encontra-se parte
do material colhido por Ramos e sua esposa em uma viagem de caráter familiar a Pilar (AL),
cadernetas e anotações recolhidas por Manuel Ramos e por quem identificou apenas como
“velha Gervásia”. CAR/BN, (I-36, 20). O próprio Ramos referiu-se a esse período de cole-
ta como simultâneo ao da “conversão”: “Quando, há mais de um decênio, comecei a reu-
nir na Bahia material de estudo sobre o negro (...) as pesquisas encetadas no recesso dos can-
domblés, a que me arrastou a profissão de médico-legista do Instituto Nina Rodrigues, não
encontraram eco imediato.” Em nota correspondente ao trecho citado, Ramos observa: “Esse
material deu origem aos seguintes trabalhos: Os horizontes míticos do negro na Bahia (1932);
A possessão fetichista na Bahia (1932); O mito de Yemanjá (1932) (...) e a obra cíclica O ne-
gro brasileiro, com três volumes já publicados” (1979: xix).
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BRASIL: U M A N A ² AO V I S TA
AT R AV E S D A V I D R A ² A D A R A ² A *
Verena Stolcke
Professora de Antropologia Social da
Universidade Autônoma de Barcelona.
“Nós brasileiros – e o mesmo pode ser dito para outros povos americanos – per-
tencemos à América meramente em um nível novo e oscilante de nossa mente,
enquanto pertencemos à Europa em todos os níveis estratificados. Tão logo adqui-
rimos um mínimo de cultura, esta última domina sobre a primeira. Nossa imagi-
nação não pode deixar de ser européia, ou seja, de ser humana...”( Nabuco,
Joaquim. Minha formação, 1957, 1ª ed., 1890, pp. 46-7.)
“A busca da África (nos estudos sobre o Negro no Brasil) resultou, a longo pra-
zo, em algo muito pernicioso e preju-dicial para esses estudos. Como não pode-
ria deixar de ser, pois partiram da premissa de que o Negro era um estrangeiro.”
(Carneiro, Édison. Ladinos e crioulos, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964,
pp. 103-18.)
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era agora duramente crítico não apenas da escravidão – “que havia completa-
mente alterado o comportamento social do negro. A escravidão esmagou os escra-
vos no mesmo moinho da opressão branca”33 –, mas também do colonialismo
europeu. Enquanto o luso-tropicalismo de Freyre celebrava a adaptabilidade climá-
tica e o erótico cosmopolitismo dos colonizadores portugueses, Ramos denunci-
ava o colonialismo europeu por ter, em primeiro lugar, originado o racismo, mas
não abandonou a tese da harmonia racial.34 Sua longa visita aos Estados Unidos
em 1940 confirmou o caráter especialmente grave da questão do negro naquele
país. Antecipando a interpretação revisionista das relações raciais brasileiras, que
emergiria do projeto piloto da Unesco, ele pensava, no entanto, que no Brasil,
ao contrário dos EUA, a “linha da cor” era mínima e praticamente inexistente,
tendendo a constituir-se um problema de classe em vez de casta.35
Seu nacionalismo cultural, alimentado pelo espectro da ciência racial nazista,
não apenas distanciou Ramos de Freyre politicamente, mas o trouxe mais próxi-
mo aos intelectuais progressistas de São Paulo. Quando Freyre passou a ser um
ideólogo do regime ditatorial de Salazar e um apologista da política colonial por-
tuguesa também na África, a oposição intelectual e política às suas posições con-
servadoras tornou-se explícita. Em 1941, Paulo Duarte, o advogado e jornalista
que mais tarde deu valioso apoio ao projeto de pesquisa da Unesco em São Paulo,
respondia a uma carta de seu próximo amigo Mário de Andrade, em que este
denunciava a “desonestidade intelectual” de Freyre, com uma detalhada e mor-
daz crítica de O mundo que o português criou.36 E, em 1944, Antonio Candido
lançou uma igualmente dura crítica, com tons nacionalistas oblíquos. Uma das
mais perigosas modas intelectuais contemporâneas, escreveu Candido, era a “so-
ciologia cultural”, que, especialmente na forma praticada por pesquisadores bra-
sileiros, constituía um “abuso, uma deformação. Observe-se apenas o nosso mestre
Gilberto Freyre e os extremos a que está levando seu culturalismo. Seus últimos
escritos têm-se degenerado em conservadorismo e tradicionalismo. Apaixonado
por seu ciclo cultural luso-brasileiro, ele foi levado a construir um mundo só seu
no qual o progresso combina com a preservação dos traços característicos ante-
riores. Tudo parece justificado desde que leve a marca do mundo que o português
criou, que estamos desenvolvendo e man-tendo vivo, sim senhor, com a ajuda
de Deus e de Todos os Santos”.37
Entre os intelectuais progressistas de São Paulo, o nacionalismo cultural de
Ramos despertava, ao contrário, um inegável interesse, em razão de sua afinidade
com a busca do movimento modernista por uma autêntica cultura brasileira.
Mário de Andrade, seu “eminente amigo”, cujos escritos sobre a identidade nacio-
nal brasileira eram emblemáticos do movimento modernista, havia convidado
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Ramos não viveu para tomar parte no primeiro encontro de especialistas sobre
raças promovido pela Unesco, ao qual ele tanto se dedicou, nem viu a Unesco
aprovar o projeto de pesquisa sobre o Brasil no ano seguinte. Conseqüentemente,
ele não testemunhou a inesperadamente renovada controvérsia sobre a realidade
ontológica da raça na qual a declaração radicalmente humanista dos especialistas
defendia que raça era um mito, e não um fato biológico entre biólogos e geneticistas.
Essa imprevisível reação negativa não apenas obrigou a Unesco a convocar uma
segunda reunião de especialistas, formada apenas por pesquisadores de ciências
naturais, para redigir um novo Pronunciamento sobre a Natureza da Raça, que,
afinal, depois de muita controvérsia, voltou a definir raça como uma categoria cien-
tífica,43 como também convenceu a organização a patrocinar o Projeto Brasil com
a esperança de que o Brasil pudesse fornecer prova empírica de que seres hu-
manos eram capazes de solidariedade e irmandade independentemente de raça.
São bem conhecidos os achados desapontadores do estudo piloto da Unesco,
que se tornou um divisor de águas no estudo das relações raciais do país por
mostrar que a imagem idílica de “democracia racial” não passava do que aparente-
mente era, um mito.44 A partir de então, se tem aceito a existência do preconcei-
to racial no Brasil, embora na forma peculiar de discriminação de cor/classe. As
feridas, especiais e duradouras, que o “mito” da harmonia racial infligiu nos “dife-
rentes” povos do Brasil, permanecem, ainda, incertas. A esse respeito, deve merecer
alguma reflexão o apelo que o jovem escritor negro sul-africano Lesego Rampolokeng
fez recentemente: “Por favor, deixem-me sair. Estou preso em suas mentes.”45
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na corte do imperador Pedro II, em 1869-70, havia escrito que a mistura generalizada
de raças tinha resultado em “uma população inteiramente mulata, viciada no sangue, vi-
ciada no espírito, terrivelmente feia”. Citação de Georges Readers, Le Compte de Gobineau
au Brésil. Paris: Nouvelles Editions Latines, 1934, p. 51.
5 – MÉTRAUX, A. An Inquiry into Race Relations in Brazil, op. cit., p. 6; Brazil, Land
of Harmony for all Races?, op. cit., p. 3.
6 – MÉTRAUX, A. Unesco and the Racial Problem. International Social Science Bulletin,
vol. II (3), outono de 1950, p. 384.
7 – UNESCO. Unesco 1945-1992: Faits et Chiffres, Paris, 1992 (Arc. 92/WS/10, p. 1).
8 – HUXLEY, J. Memories II, George Allen & Unwin, Londres, 1970, p. 35.
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11 – Telegrama de Torres Bodet a Arthur Ramos, datado de 15 de junho de 1949. Arquivo
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12 – RAMOS, A. Introdução à antropologia brasileira. Coleção de Estudos Brasileiros da
Casa do Estudante do Brasil, Rio de Janeiro, 1943 e 1947; RAMOS, A. Curriculum vitae,
1903-45, Rio de Janeiro, 1945, p. 91 segs. para uma coleção de comentários entusiásti-
cos de intelectuais importantes como Afrânio Peixoto, Caio Prado Jr., Emilio Willems,
Pierre Mombeig, Roquette-Pinto, Donald Pierson, Fernando de Azevedo, Mário de An-
drade, Édison Carneiro, Herbert Baldus, Egon Schaden, Roger Bastide, Robert Redfeld,
Melville J. Herskovits e Lewis Hanke.
13 – Carta de Jaime Torres Bodet a Arthur Ramos, datada de 20 de junho de 1949,
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Coleção Arthur Ramos, Manuscritos.
14 – PINTO, L. Aguiar da Costa. O negro no Rio de Janeiro. Relações de raça numa so-
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Relations 191, 1959, pp. 10-1.
23 – RAMOS, A. A aculturação negra no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1942. Essa mudança de perspectiva pode ser detectada já em 1937. RAMOS, A. Culturas
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M E S A -R E D O N D A
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se Arthur Ramos foi contemporâneo de Gilberto Freyre, por que Freyre tinha
tanto prestígio e ele nenhum?
Tenho uma idéia a respeito disso, é uma posição pessoal. Não sei como as
pessoas vão encarar, mas, para começar, cito a diferença principal entre Arthur
Ramos e Gilberto Freyre. Gilberto Freyre é o primeiro brasileiro a freqüentar um
curso de ciências sociais e institucionalizadamente; é o primeiro cientista social
formado em universidade estrangeira como mestre e doutor em antropologia e
sociologia. Já o caminho de Arthur Ramos é absolutamente atípico, se pensado
nas condições de hoje, mas típico do mundo em que ele viveu. Arthur Ramos é
um cientista que se fez na área médica, institucionalmente, e, como autodidata,
se fez antropólogo. O trabalho que ele desenvolve começa, para muitos estudio-
sos, aqui no Rio de Janeiro, mas eu trouxe o meu trabalho de pós-doutorado,
que se chama Arthur Ramos e as Dinâmicas Sociais de seu Tempo, e que tem
uma outra interpretação.
Começo na pequena cidade de Alagoas, a cidade de Pilar de Manguaba, lu-
gar de seu nascimento – na época, uma rica cidade, principal porto lacustre de
Alagoas – em uma família de intelectuais. Seu pai, dr. Manuel Ramos, era o mé-
dico da cidade e tinha uma excelente biblioteca. Ia gente de Maceió pesquisar
nesta biblioteca. Aqui, no material de Arthur Ramos, encontra-se também o ar-
quivo que ele herdou do pai. O dr. Manuel Ramos já fazia uma série de pesquisas
e guardou muitos registros sobre seu trabalho. Arthur Ramos, por outro lado,
em Pilar de Manguaba, já tinha um trabalho específico desde os 19 anos de idade.
Ele não se fez apenas a partir da decisão de passar de médico psiquiatra a antropólo-
go. Em 1922, com 19 anos, já publica em Alagoas um registro das tradições afro-
brasileiras.
Em Pilar de Manguaba, sua família era voltada para o congraçamento de um
mundo intelectual muito interessante, constituindo o principal grupo musical
da cidade, no qual cada integrante tocava um instrumento. E o coronel Paulo
Ramos, que era garoto nesse período, adolescente, ficava na casa do avô assistindo
à apresentação dos tios, que tocavam flauta, violoncelo, violino. Arthur Ramos
tocava piano. Esse irmão que tocava flauta, Nilo Ramos, é responsável pela inser-
ção de Arthur Ramos no mundo da escrita jornalística. É por sugestão, por in-
fluência, de Nilo Ramos, que era jornalista, que ele participa de pequenos jornais
de província e, depois, escreve em jornais de Alagoas. Nilo Ramos é a presença
mais importante na vida de Arthur Ramos, entre todos de sua família. É a ele
que Arthur Ramos se refere com mais carinho e a quem credita a sua iniciação
no mundo das letras. Outro irmão que também se torna famoso é Raul Ramos,
violoncelista, um dos principais compositores de valsas na sua época na provín-
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cia. O coronel Paulo Ramos fez a gentileza de me dar duas partituras, que copiei
e devolvi, porque, creio, são tesouros que a família vai deixar de herança, já que
não existem mais em Maceió.
Para mostrar o clima cultural de Maceió, nessa época: havia não só editoras de
livros comuns, como editoras de partituras musicais. As famílias estavam realmente
envolvidas com a vida musical e tinham exemplares daquelas partituras em sextas,
sétimas, oitavas edições. Havia um movimento cultural, um envolvimento intelec-
tual, e a família Ramos estava no bojo desse movimento, com seus filhos, todos in-
telectualizados, e que, posteriormente, deixam Pilar de Manguaba. A cidade entra
em profunda decadência, quando se constrói uma estrada de rodagem fora da cidade.
O trem e a cidade perdem a importância. Pilar de Manguaba deixa de ser um por-
to lacustre de relevo. A família Ramos se divide: Arthur Ramos vai inicialmente para
a Bahia, embora volte depois de formado, e é no período de adolescência que ele
registra as manifestações culturais, as manifestações folclóricas de sua terra.
Por sua própria conta, Arthur Ramos registra a cultura popular de Pilar de
Manguaba. E isto se dá com O culto da lua e Tradições afro-brasileiras, em 1922;
A decadência de Olorum, O culto da tradição oral e Cavalhadas, em 1923; Autos
do Natal, em 1924. Ele está com 21 anos e ainda não é formado em medicina.
Folclore e sociologia, em 1924, já aluno de medicina, e Domingo de Ramos, em
1925. Então, ele foi bastante precoce na preocupação com o registro da cultura,
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Arthur Ramos faz palestra sobre problemas raciais no Brasil, no auditório do Centro Bancário
de Cultura Social. [S.l.,s.d.]
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Esse foi um dos preços que Ramos pagou pelo papel pioneiro de institucio-
nalização das ciências sociais, de adesão total e irrestrita à luta contra o nazismo,
à luta de libertação negra nesse país. E há outros aspectos do que sofreu. Quando
Ramos foi convidado para integrar um dos quadros da Unesco, a universidade
não lhe deu licença. A última carta dele para d. Marina São Paulo de Vasconcellos
é um verdadeiro brado de desespero. Pouco antes de viajar, ele recebe uma car-
ta, cujo original o coronel Paulo Ramos me deu, na qual o então reitor Pedro
Calmon dizia que o ministro da Educação soubera que ele se ia juntar a Juliot
Curie nesse Congresso da Paz e pedia que ele não pusesse seu prestígio a serviço
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Carta de Caio Prado: informa sobre a revista Fundamentos, criada por Monteiro Lobato e di-
rigida pelo historiador, pede a colaboração de Arthur Ramos e o convida a integrar a Comissão
de Redação. São Paulo, 19 jan 1949.
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Estou trazendo hoje este material para dar de presente a minha amiga Adélia,
que está fazendo um belíssimo trabalho sobre d. Marina, assistente dele. São duas
coisas: as cartas dele para ela e as cartas dela para ele, em agradecimento pela boa
vontade de procurar a bibliografia comigo, quando eu fazia meu trabalho. Quero
lembrar, também, que Arthur Ramos foi tão vítima da repressão, a Guerra Fria
o colocou de tal maneira no índex, que, quando a Universidade de Vanderbilt o
convida a ir aos Estados Unidos em 1948, o governo americano lhe nega autori-
zação para entrar no país, porque ele já tinha declarado suas posições contra o
domínio norte-americano. A partir de então, ele é vítima de uma conspiração de
silêncio, sua obra não sendo mais editada nem integrada à bibliografia de cursos
de pós-graduação financiados por agências americanas.
Só na década de 70, quando a família Ramos quer vender o apartamento do
Edifício Tupi, para criar uma fundação, e procura a Casa do Estudante do Brasil,
o diretor da editora, para assinalar os 25 anos de morte de Arthur Ramos, vai
cogitar da reedição da Introdução à antropologia brasileira. E me deu uma honra
muito grande: em 1972, fiz o prefácio deste livro, no volume sobre Culturas euro-
péias. Mas, em seguida, o editor da Casa do Estudante foi expulso, e, como era
o editor fundador, o livro foi tirado de circulação. Com o dinheiro com que se
faria um seminário em homenagem a Arthur Ramos, em 1974, é editado outro
livro, sem o meu prefácio. Procurei o então vice-presidente da Casa do Estudante,
Pascoal Carlos Magno, e ele pediu que eu “esfriasse” porque o diretor da Casa do
Estudante, Luís Mesquita, era do Cenimar (Centro de Informações da Marinha)
e já tinha feito uma “bela” ficha minha. Disse ainda que eu só não entrei “em
cana” porque o coronel Paulo Ramos, que então dirigia a Sociedade de Ex-Com-
batentes – e está aqui um representante dele –, tinha ido lá e retirado minha ficha.
Senão, eu teria sido presa por querer fazer um seminário sobre Arthur Ramos.
Anos depois, consegui escrever um artigo sobre ele e publicar na revista A
Ordem, do Centro Católico de Estudos Dom Vital, o único que não cairia nas
mãos da polícia. Até esse período Arthur Ramos é perseguido pela ideologia da
Guerra Fria, pelo fechamento aos intelectuais que estiveram presos, como Nise
da Silveira, Jorge Amado, Orígenes Lessa. Ramos integrou a reação brasileira à
Guerra Fria e houve contra-reação governamental e intelectual. Por isso, enten-
do que tenha ficado menos famoso do que Gilberto Freyre, que não fez essa luta,
não foi para o índex da Guerra Fria. Gilberto Freyre teve condições de continuar
seu trabalho, enquanto Arthur Ramos foi silenciado, como já tinham sido Manuel
Bomfim, Guerreiro Ramos, e todos os intelectuais que tentaram fazer ciências
sociais combativamente em defesa desse país.
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Orlando Valverde
Geógrafo, membro do Conselho Nacional de Geografia e autor de Geografia agrária do
Brasil (1964)
É
uma coisa muito difícil, para mim, falar sobre Arthur Ramos depois da pro-
fessora Luitgarde. Ela sabe tudo! Eu tenho, apenas, como contribuição, a cir-
cunstância, extremamente feliz, de ter sido estudante de geografia na extin-
ta Universidade do Distrito Federal, a UDF, no período de 1936 a 1939. Quero,
então, contar um pouco da minha história que é, também, digamos, agredida pelas
situações difíceis passadas no mundo, nessa década de 30, que, por outro lado, foi
riquíssima em experiências. Arthur Ramos foi um exemplo extraordinário dessa fase.
Poderia dizer que, no presente, estou a uma distância de 49 anos de separação
daquela figura de professor. Eu era um rapaz de 19 anos, expulso da Escola Naval,
junto com outros 10 por professar idéias extremistas, sem que houvesse nenhuma
prova material para condenar qualquer dos 11. Engraçado, foi o primeiro “grupo
dos 11” que se formou extra-oficialmente, pois fomos expulsos pelo simples fato de
que éramos contra o integralismo. Nós sentíamos nesse movimento uma cópia cari-
cata do nazismo e fomos submetidos a um inquérito policial-militar, dirigido por
um capitão-de-mar-e-guerra que era chefe de um núcleo integralista. É claro, era
lógico, que, nessas circunstâncias, seríamos desligados. Depois que nos mandaram
embora, as famílias foram, preocupadas, falar com o diretor da escola, o contra-almi-
rante Castro e Silva. (Mais tarde, fiquei admirado, sabendo que ele era amigo de d.
Branca Fialho. Como é que uma criatura tão culta podia... Bom, enfim, foi assim.
A amizade não custa dinheiro. Mas creio que ela jamais aprovaria uma atitude dessas).
Quando os familiares iam ao almirante perguntar por que fulano, filho dele,
ou sobrinho, o que fosse, tinha sido expulso, ele botava culpa num outro: “Ah,
não, a asa negra do negócio é o sicrano.” Jogava a culpa em um ausente e, assim,
escapava de responder de frente. Essa resposta de frente realmente desapareceu:
foi o processo.
Durante 25 anos, de vez em quando, eu ia ao Ministério da Marinha para
pedir vistas ao processo. Eu, algum dos acusados, um advogado, qualquer pes-
soa interessada. Nada se conseguia. Os advogados não puderam funcionar porque
não havia causa, denúncia formulada na Justiça. E, naquele tempo, não havia
computador, não é? Mas 25 anos depois, um dos nossos colegas foi ao Arquivo
Nacional, que ficava num prédio do século passado na Praça da República. Havia
lá um velhinho que tinha um computador aqui, na cabeça. Era um homem muito
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nou-se pelo país, veio para o Rio de Janeiro, enquanto na capital paulista ficou
um jovem professor assistente, mas não dele, de Paris, e que se tornou depois um
grande amigo meu, Pierre Monbeig. Era um geógrafo extraordinário. O professor
de Fontaine era da escola de Vidal de La Blanche e Jean Brunhes, naturalmente.
Diga-se de passagem, na minha família houve um trauma com o caso da expul-
são. Era uma família de imigrantes espanhóis, meu pai tinha, talvez, o mais antigo
ateliê fotográfico, lá no começo da Rua Miguel Couto, onde nasci. Eu era filho caçu-
la de uma família de quatro irmãos. Sobrevivi à gripe espanhola e, como sempre, o
caçula é muito controlado pelos outros irmãos. Imagine quando eu estava lá na
Marinha, já no penúltimo ano para minha graduação como guarda-marinha, ser ex-
pulso assim sem mais nem menos, sem nem fichamento policial. Foi um trauma
terrível e minha família não tratou de examinar quem era, de onde vinha a informa-
ção. Caçula, fiquei sendo de repente a ovelha negra. Aquilo me deu uma desilusão
muito grande. Meu relacionamento com a família ficou seriamente abalado porque
os irmãos mais velhos – com exceção da minha irmã mais velha, que era de extrema
doçura – de vez em quando me jo-
gavam isso na cara: “Você é um ateu
comunista!” E vai por aí, e outras coi-
sas... Eu aceitava tudo calado porque
não adiantava protestar. Mas a minha
vida se apartou um pouco da família.
Apesar de ter apenas 18 anos, eu ti-
nha uma maturidade bastante avança-
da e aquilo me amargou bastante.
Imaginem qual foi a minha decep-
ção quando vi tudo se desencadear, os
integralistas desfilando em homena-
gem ao Getúlio, com o Plínio Salgado
ao lado, numa demonstração de força.
Cheguei a pensar, realmente, com dois
colegas, em fugirmos para o México.
O México era um bastião da liberdade
com, depois vim a confirmar, um povo
extraordinário, embora o velho dita-
Programa da disciplina Etnografia do Brasil elabo-
dor Porfírio Diaz tivesse dito: “Pobre
rado por Arthur Ramos para o terceiro ano dos
México, tan lejos de Dios tan cerca cursos de Geografia e História da Faculdade Na-
de los americanos.” É, realmente, mas cional de Filosofia, Ciências e Letras, da antiga
é um povo lutador, bravo. Sinto, até, Universidade do Brasil.
142
uma certa inveja de que o povo brasileiro não tenha aquele amor profundo pela sua
pátria, pela sua terra, como tem o mexicano. O mexicano é o único povo que tem
orgulho do seu sangue indígena. E os próprios espanhóis, que lá foram os colo-
nizadores, eles tratam muito bem. Mas, quando convidaram agora o México, assim
como Cuba, para a comemoração dos 500 anos, eles recusaram, terminantemente:
há 500 anos se iniciou o saque do país pelas potências imperialistas, de forma que
não temos motivo algum para comemorar, disseram.
Os fatos levaram a isso e, pela primeira vez, eu pegava uma aula com dados
antropométricos das raças. Os brancos, com aqueles grandes tipos como os esco-
ceses de Gallaway, e os ainos, que são pobres brancos inferiorizados lá do extremo
norte do Japão, e outros. E, curiosamente, o professor Ramos chamou a atenção,
naquela época, para o fato de os soldados americanos chamados para a guerra,
descendentes de alemães, já terem uma estatura média 10 centímetros acima dos
orgulhosos alemães, aqueles dolicocéfalos louros, que vinham para dominar o
mundo. Essas eram críticas terríveis. Ramos abordava na antropologia física aspec-
tos característicos dos diversos povos, como a dobra mongólica, uma coisa que
realmente chama atenção, os zigomas, com dados de dimensões antropométri-
cas, o busto da mulher amarela, os órgãos genitais, os pêlos, os cabelos, o tipo
dos cabelos e, também, dos negros. Pela primeira vez eu ouvia isso em classe. Antes,
era considerada uma coisa muito feia comentar esses aspectos em classe.
Dos negros, como maior africanista do Brasil, ele chamou atenção para a estatura
dos sudaneses, negros imensos que empatavam em altura com os escoceses de
Gallaway. A cultura avançada dos iorubas, o que explica por que, na Bahia, as in-
surreições dos negros foram mais graves do que as daqui do sul: eram mais cultos e
alguns antigos nobres das tribos africanas estavam reduzidos a escravos, como os
outros, o que eles não podiam admitir. Eles eram respeitados nas suas reuniões secre-
tas. São fatos que mostram que há diferenças notáveis dentro de uma mesma raça.
A estetopigia dos bantus era uma coisa que chamava atenção, a grande envergadu-
ra dos braços dos negros sudaneses, e uma coisa que pouca gente tinha observado:
a importância do tônus muscular. Os amarelos são extremamente ágeis; vê-se, por
exemplo, nesses campeonatos de tênis de mesa, que a gente mal pode acompanhar
porque eles são leves e extremamente ágeis, ao passo que o tônus muscular dos ne-
gros sudaneses, que são imensos, fortes, dá a eles, hoje a gente sabe, uma grande
possibilidade de vitórias significativas nas provas de atletismo nas Olimpíadas.
Justamente, naquela época, as teses de Arthur Ramos ficaram evidentes. Hitler
promoveu uma Olimpíada, em 1936, quando chegou ao poder. Colocou a Ale-
manha em uma porção de provas em que outros não competiam, para dar a ela
a vitória mundial. Porém, na hora da corrida, um negro americano, chamado
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em dia, não consegue evitar que haja essa assimilação e agora está adotando uma
atitude mais compreensiva quanto ao sincretismo. Hoje, ela não abençoaria mais
os que iam matar os etíopes na África, de forma nenhuma. Essas idéias novas,
certamente, influenciaram no Concílio Vaticano II e, daí para frente, as “ove-
lhas” deixaram de ser só aquelas privilegiadas, para ser o próprio povo.
Nas aulas de Arthur Ramos, tive discussões com ele porque eu estava orientado
por uma escola que era muito mais antropológica do que geográfica. Era, justa-
mente, a escola de Pierre de Fontaine, que falava do programa assim: “O homem e
a montanha”, “O homem e a floresta”, “O homem e o mar”, “O homem e o frio”,
e vai por aí. Até que um colega, um jornalista muito sarcástico, disse que só estava
faltando “O homem e a mulher”, e “aí ele passa a ser um elemento fraco”.
Tivemos discussões em classe com trabalhos que eram verdadeiras bombas. Casa
grande e senzala, quando estourou, na década de 1930, todo mundo falava de Gilberto
Freyre. Na minha opinião, Gilberto Freyre não foi tão amaldiçoado pelas classes
dominantes porque se tornou um homem extremamente conservador, enquanto
Arthur Ramos continuou fiel às suas idéias de liberdade. Ele chegou ao extremo de
debater temas como a crítica à psicanálise da alma coletiva, em Totem e tabu. Fez,
enfim, críticas nas quais Arthur Ramos, até hoje, é atual. Porque ele criticou, em
classe, esse problema da herança dos caracteres adquiridos, mostrando, com exem-
plos recentes, daquela época, que se conseguia produzir características novas, mas
sempre no sentido de destruição, bombardeando com raios-gama os gens de ratos.
E, depois, não aconteceu aquela vergonha, que derrubou a genética russa, quando
eles deixaram de seguir a linha, que se estudava até nos Estados Unidos, de Mendel.
E chega um farsante, um mentiroso, como Lissenko, que falsificou dados, e um
homem todo-poderoso como Stalin adotou essa nova linha. Na escola de agricultu-
ra dos Estados Unidos, eu tinha apostilas americanas de obras dos geneticistas rus-
sos que, naquela época, eram mais avançados. Mas depois de Lissenko tudo ficou
desmoralizado. Olha o efeito do poder concentrado na mão de um governante só!
O rolo compressor da ditadura militar maltratou terrivelmente, não só
Arthur Ramos, mas também os seus mais distintos e fiéis seguidores. A mi-
nha querida ex-colega Marina São Paulo de Vasconcellos foi uma vítima dis-
so. Ela se deixou morrer de desgosto. O meu colega historiador, o então jovem
Manuel Maurício de Albuquerque, que foi submetido duas vezes a torturas
no pau-de-arara. Artur Bernardes Vaz, jovem professor de geografia, que, ao
receber em um cursinho aqui da Presidente Wilson, onde estava dando aula,
voz de prisão, teve um problema circulatório e morreu ali mesmo. Então, nós
tivemos uma geração perseguida. Mas as pessoas morrem, e as idéias verdadeiras
prevalecem. De maneira que, hoje, as idéias de Arthur Ramos sobrevivem.
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Waldir da Cunha
Funcionário aposentado da Fundação Biblioteca Nacional
Ex-chefe da Divisão de Manuscritos
F
ui aluno do professor Arthur Ramos entre 1945 e 1948. Eu fazia o curso
de geografia e história. Não fui para a faculdade em virtude das ciências
sociais, não fui buscar os conhecimentos sociais. Fui mais atraído pela
história e pela geografia. Mas, ao me defrontar com o curso, pude observar que
a Faculdade Nacional de Filosofia era formada por mestres do mais alto gaba-
146
rito. Eu, que tinha saído da zona suburbana, na faculdade não podia entrar de
camisa, tinha que vestir terno e gravata. Naquele tempo, a gente usava terno e
gravata para assistir às aulas; e estava lá o professor Arthur Ramos. Só assisti aulas
dele durante o primeiro ano; o segundo e terceiro foram dados já pela assistente,
aulas de etnologia e etnografia. Ramos dava antropologia física e cultural, e eram
duas horas de aula direto.
A juventude da época estava voltada mais para a Faculdade Nacional de Filo-
sofia, depois da antiga UDF. A diferença é que a UDF formava professores do
Estado. Eu não fui para o Estado porque já era da Nacional, então, quando saí, fui
trabalhar em outros colégios. Naquela época, depois de Santiago Dantas, já havia
uma política de o aluno poder entrar na faculdade sem o vestibular. Entrava como
ouvinte e fazia vestibular depois de três, quatro anos. Eu não, fiz vestibular, passei
pela banca examinadora, inclusive o Celso Cunha me examinou em português,
passei por essa fase. Já peguei um período em que, na faculdade, a minha turma
era pequena, a turma anterior era maior. A procura já diminuía um pouco. E o que
aprendi durante as aulas do professor Arthur Ramos? Que ele adotava uma biblio-
grafia vastíssima. Antes de começar, ele lançava aquela bibliografia do exterior.
Na época, não se dizia sociólogo, era sociologista ou, então, antropologista.
O camarada era sociologista ou antropologista. Observei também que entre o
grupo de professores havia uma competição muito grande, eles realmente compe-
tiam. Josué de Castro, que era professor de geografia, competia com antropolo-
gia, achava que não estava direito aquela relação entre geografia humana e
antropologia. Eu me lembro muito bem que, em um dos trabalhos que fiz para
o Josué de Castro, coloquei uma introdução do sociólogo de Pernambuco, Gilberto
Freyre. Ele não gostou, me deu até nota baixa. Aí está uma lembrança da facul-
dade: havia essa competição entre os professores.
Na minha época, fui aluno de quem? Delgado de Carvalho em geografia, que
vinha da Europa, grande conhecedor. Fui aluno dos franceses que vieram no pós-
guerra, fui aluno do Rolland, conheci Pierre Monbeig, em São Paulo. Pierre
Monbeig disse até uma coisa que nunca esqueci: que São Paulo crescia para cima
e o Rio de Janeiro para baixo, por causa dos viadutos e dos túneis. Isso é idéia
do Pierre Monbeig, lá em São Paulo.
Assim que entrei, Artur Ramos me deu logo uma noção interessante: ele não
admitia que se falasse em raça, tinha que ser etnia. O termo era étnico. Raça bran-
ca, não. Tinha que ser etnia. E, também, uma coisa interessante que aprendi, ape-
sar de não ter nada para ser associado, é que ele batia muito na questão de patrimônio
cultural. Ele achava que a cor não influenciava. Era o patrimônio cultural de uma
civilização que influenciava. Nisso ele insistia muito, isso ele me passou bem.
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Arthur Ramos durante uma aula no curso de Antropologia da Faculdade Nacional de Filosofia,
Ciências e Letras. Entre os alunos (o primeiro à direita), Waldir da Cunha. Rio de Janeiro, 1945.
148
D E B AT E
Luitgarde Cavalcanti
Antes de saber se alguém tem alguma pergunta, ou se o professor Peter Fry quer
fazer um balanço do que foi dito aqui, desejo esclarecer que essa pessoa que man-
dava documentos para Arthur Ramos era Bonifácio Magalhães da Silveira, tio da
dr.ª Nise da Silveira. Quando foi fundada a Sociedade Brasileira de Antropologia,
só dois alagoanos fizeram parte dela: Bonifácio Magalhães da Silveira e Teotônio
Vilela Brandão, o famoso Teo Brandão de quem falamos. Agora, então, está aber-
ta a rodada para perguntas.
149
Peter Fry
Orlando Valverde
A democracia era de tal ordem que ele respondia, com precisão, à pergunta de
alunos que estavam lá para fazer crítica aos professores incompetentes. Ele res-
pondia e nos colocava certinhos no nosso lugar. Mas ele também fez críticas a
nomes como Rui Barbosa. Uma interpretação de Rui Barbosa sobre um prato da
culinária baiana chamado arroz-de-hauçá ele interpretou como arroz de água e
sal. Criticou, também, Rui Barbosa por ter mandado destruir, quando ministro
da Fazenda, todos os documentos relativos à entrada de negros no Brasil. Rui
mandou queimar. Olha, eu fui aluno de Arthur Ramos e também de um profes-
sor alemão que foi maldito durante o regime nazista. Chamava-se Leo Waibel e
o último livro que ele produziu na Alemanha foi queimado, em 1933, nas fogueiras
nazistas, numa cidade que hoje é parte da Polônia, Breslaw.
E o livro Problems of Geography, eu e o Walter Hegler traduzimos: Walter tra-
duziu a parte que estava em alemão, e todos os originais em inglês fui eu que tive
a honra de traduzir. Mas, no final da vida, Waibel conseguiu recuperar todos os
direitos dele na Alemanha, inclusive indenização e montepio para a viúva, que
era judia e não podia realmente permanecer lá. Então, fui aluno de dois profes-
sores perseguidos, pelos quais, até hoje, tenho especial consideração. Porque quem
luta pelos seus ideais, e tem certeza de que está correto, é superior a essas coisas
150
todas. Arthur Ramos e Leo Waibel estão no mesmo panteão, um como antropólo-
go e outro como geógrafo.
Luitgarde Cavalcanti
O professor Orlando, na entrevista que deu para mim, contou uma coisa que
responde à pergunta, mas que, agora, ele não repetiu. O seguinte: Arthur Ramos
estava dando aula, adoeceu e ficou muito preocupado porque tinha levado um
homem para consertar o piano da casa dele, e os alunos ficaram sabendo desse
seu gosto pelo piano. Ele falou, em sala de aula, que, mais do que doente, ele es-
tava preocupado com o piano quebrado. E o professor Valverde contou isso como
característica humana de Ramos.
Waldir da Cunha
Na fase em que estudei, realmente, havia umas perguntas que nós não fazíamos
aos professores, porque eles não davam espaço para discussão. Nenhum deles.
Eles davam a aula de duas horas diretas, aquelas aulas profundas, mas a turma,
no meu tempo, achava que o professor Arthur Ramos não era muito didático.
O conhecimento dele era tão grande que não dava para ele seguir a didática da
época. Atualmente, as pessoas seguem uma didática diferente e levam fichas para
a sala, não é? Naquela época, não se levava fichamento, não. Era proibido dar aula
com ficha. Eu mesmo, quando fui ensinar no ginásio, no científico, não levava
ficha, tinha que decorar antes, para dar aula. Os alunos achavam que o profes-
sor que dava aula com ficha não sabia nada. Eles achavam que não era didático.
O professor Arthur Ramos era gordo, muito gordo mesmo, na época. Não
sei se, depois, ele emagreceu, mas quando ensinava lá, ele, médico, poderia cuidar
melhor da sua estrutura, eu pensava. Com o tempo, eu ficava refletindo: “Poxa,
o professor Arthur Ramos, médico, mas nunca se interessou pela própria saúde
física.” É esse o aspecto da época. Ninguém escreveu nada, ainda, sobre a Faculdade
Nacional de Filosofia que foi, realmente, uma universidade. Quando a gente fazia
excursões, o interiorano perguntava: “O que tem filosofia com geografia?” Os es-
tudantes não tinham uma noção exata. Fui do tempo de Carneiro Leão, o grande
administrador lá da área, e é até esse ponto mais ou menos que posso responder
a sua pergunta. Obrigado.
151
Verena Stolcke
Luitgarde Cavalcanti
Como tenho dito, a aliança mundial daquele momento era contra o nazismo.
Tanto que os Estados Unidos estavam aliados a Stalin nessa luta. Então, não havia
um boicote. O boicote a Arthur Ramos só vai acontecer posteriormente. Por isso,
fiz a divisão: ele estava muito mal aqui, internamente, com o DIP, Getúlio e
Filinto Müller, mas estava bem lá fora, porque fazia parte da extensa aliança libe-
ral antinazista que congregava os vários países do mundo, com os “maquis”, co-
munistas ou não, com os partisans, comunistas ou não. Eram todos “os aliados”.
E os Estados Unidos deixam suas portas abertas para esses aliados, inclusive Stalin.
Agora, a partir da Guerra Fria, quando se divide o mundo, quem fica do lado de
cá, na América Latina, vai sofrer duas pressões: a pressão que já existia internamen-
te e a nova que os Estados Unidos vão impor, no seu papel de policial do mun-
do, que começa ali. Começa com o macartismo. Os Estados Unidos vão enfrentar
problemas internos, também, e problemas externos. Por isso, Arthur Ramos, que
tinha sido tão bem recebido em 1940, já é recusado em 1948, porque, em 1945,
já tinha tomado posição contra a presença norte-americana armada na América
Latina, denunciando o armamentismo como ameaça à sobrevivência do mundo.
Grande defensor da paz, via na Guerra Fria a preparação de futuras guerras.
152
Verena Stolcke
Acho que tem um detalhe importante adicional. Torres Bodet não era um homem
de esquerda. Ele foi o segundo secretário da Unesco e quem convidou de fato Ar-
thur Ramos. Bodet tinha sido aceito pelos Estados Unidos, supondo-se que iria
dançar ao apito dos Estados Unidos, o que não fez. Ele criou um grupo de pressão
da América Latina, mas com uma certa discrição. E foi ele quem convidou Arthur
Ramos. Parece que não houve essa interferência, não com esse convite.
Luitgarde Cavalcanti
Ainda era um momento em que uma força intelectual muito grande do mundo
apostava na paz. Ainda não se tinha rompido o equilíbrio de paz. Ainda não havia
nenhum país com papel dominante, hegemônico, dentro do contexto total. Arthur
Ramos não é recusado, porque o grupo de apoio dentro da Unesco era todo de
esquerda. Estavam lá, apoiando Ramos, todos eles. Travavam uma grande luta
para que a Carta dos Direitos Humanos fosse adotada pela nova ordem interna-
cional, o que seria a anti-Guerra Fria. Dentro da França, e nos países europeus
todos, se pensava que se atingiria isso por meio da ciência, da alfabetização, do
combate ao racismo etc. Os Estados Unidos não iriam negar o visto, naquele mo-
mento, porque eles ainda não tinham aberto o jogo da Guerra Fria, ela só apare-
cia internamente, em alguns países.
O México, naquele momento, tinha vários intelectuais de destaque. Torres
Bodet já fazia equipe com Arthur Ramos, e já havia uma extensa correspondên-
cia entre eles. No meu trabalho, botei o discurso de Torres Bodet na abertura do
I Congresso Americano de Universidades. Ele fez um discurso que era, exatamen-
te, toda a ideologia de Arthur Ramos. Fala precisamente de ciência aplicada e do
papel da universidade no mundo contemporâneo, no mundo do futuro: não ape-
nas preparar profissionais, mas preparar homens capazes de impedir uma nova
hecatombe. Esse é o papel do intelectual daquele momento, que a Guerra Fria
vai amortecendo até acabar. Primeiro, com perseguições; depois, com doações e,
em seguida, a geléia geral. Mas, naquele momento, estava bem colocado o grupo
intelectual que acreditava na paz. E foi a universidade que possibilitou a criação
desse grupo, espalhado em todos os países.
Ontem, foi vista aqui a idéia de missão. Não era a idéia de missão propriamen-
te, era a idéia de uma associação política entre o conhecimento e a práxis. Quando
153
Arthur Ramos trabalha com a idéia de antropologia aplicada, é porque ele traba-
lha com teoria e práxis em toda a sua vida, em toda a sua construção intelectual.
Quando faz pesquisa, por exemplo, em Alagoas, muita gente daquele tempo me
informou: ele fazia pesquisa no Xangô, freqüentava o Xangô, e atendia de graça
todos os macumbeiros da cidade. Como, depois, Teo Brandão, quando vai coor-
denar o folclore de Alagoas, e arranja emprego e atendimento médico em hospital
para todos os agentes de cultura popular. Então, é claro que Arthur Ramos seria
muito bem recebido nos Estados Unidos, no momento do congraçamento ge-
ral, e seria, paulatinamente, afastado, na medida em que a Guerra Fria crescia e
que a Unesco começava a perder o poder, a posição para fazer valer a Carta dos
Direitos Humanos.
Hoje, não é mais a Unesco quem fala em Direitos Humanos, são os governos
altamente armados. É um verdadeiro paradoxo com a concepção da Unesco, que
foi criada para defender a paz e construir um mundo de conhecimento e ciên-
cia; e hoje, quem “defende” os Direitos Humanos manda, por exemplo, bom-
bardear um outro país, em nome dos Direitos Humanos. Com isso, tem havido
a desmoralização da Unesco, para a qual quase nenhum país hoje dá dinheiro.
Quando eu estava pesquisando lá, o presidente da Unesco me disse que eles re-
cebiam dinheiro do Japão, dos Emirados Árabes, mas as grandes potências não
pagavam a taxa exatamente para a Unesco não ter nenhum poder. E Arthur Ramos
foi da época em que a Unesco era o sonho de confiscar dos estados armados o
direito de reger o mundo, e poder reger o mundo com harmonia, com o anti-
racismo.
O primeiro projeto, organizado na década de 1950, é o estudo do racismo.
Numa carta de Arthur Ramos para Costa Pinto, ele descreve até as pessoas que
vai convocar em primeira mão, como Lévi-Strauss. Ele vai dando a relação dos
intelectuais que quer convidar para estudar racismo e em seu último trabalho,
que é publicado no dia seguinte à morte dele, afirma que a destruição do racis-
mo seria a aurora de paz, seria o prenúncio de paz para o mundo. Daí ele ter tra-
balhado tanto em cima de racismo. Porque todos eles estavam pensando não no
problema econômico que ocasionou a guerra, mas no problema ideológico que
a conduziu, porque o fator dominante da imprensa e de tudo era o racismo.
Tanto que hoje – até escrevi um artigo falando disso – estamos tão preocupados
com análises econômicas que esquecemos as análises ideológicas. Esquecemos
que há 50, 60 anos, Hitler matava em nome da ideologia racista. Hoje, o mun-
do mata em nome da ideologia economicista. Antigamente, morria quem era
considerado de raça inferior; hoje morre quem tem baixo poder aquisitivo. Então,
antes, era a cor da pele, a raça; hoje, o cifrão. O nazismo está aí.
154
Conjunto de esculturas e objetos rituais da cultura afro-brasileira usados para ilustrar o livro
Arte negra no Brasil. [S.l., s.d.]
155
O
objetivo deste estudo é apresentar todo o processo de restauração, da
encadernação e do suporte da informação impressa no incunábulo
Corpus Juris Civilis, pertencente à Divisão de Obras Raras da Fundação
Biblioteca Nacional, de acordo com políticas de preservação consagradas na lite-
ratura técnica e científica.
O processo de restauração eleito foi fundamentado na historicidade da obra;
isto é, na análise do item sob os pontos de vista da sua raridade e da sua materia-
lidade, tendo como valor de referência a sua superfície, a síntese das informações
explicitadas por suas condições físicas.
A superfície da obra – sua extensão e dimensões, envolve materiais e aspectos
físicos de caráter múltiplo, relativos à parte escrita (disposição do texto, tinta, co-
res, papéis, marcas d’água), ao envoltório (pranchas, couros, ornamentos, costuras,
cordas), e a aspectos peculiares, tais como: marcas de propriedade, anotações
manuscritas, marcas de uso e de leitura.
Em face do valor histórico e documental da obra, a restauração impôs-se como
o meio de ampliar a longevidade da informação registrada, salvaguardando o su-
porte original.
H I S TO R I C O
A obra Corpus Juris Civilis foi impressa em Basiléia, Suíça, por Michael Wenssler,
em 31 de julho de 1478.
A expressão corpus Juris significa corpo do Direito, isto é, todo o conjunto de
reformas legislativas feitas no tempo do imperador Justiniano (c. 483-565).
160
161
S O B R E A R E S TAU R A ² AO D A E N C A D E R N A ² AO
162
1) limpeza a seco das capas de madeira com trincha, para remoção de poeira
e outras sujidades;
2) hidratação com produto Leather Dressing, em face do péssimo estado de
conservação do couro;
3) retoques com tinta Enigma, cor marrom, para amenizar arranhões e outras
abrasões;
4) enxerto com couro de cabra, tingido, nas áreas faltantes;
5) remoção das folhas de guarda e de películas de pergaminho coladas sobre
a madeira, utilizadas para o nivelamento das capas. Devido ao adiantado estado
de degradação destes materiais, não foi possível o seu reaproveitamento. A re-
moção das folhas de guarda foi realizada com água, álcool e cola Metilan. As guar-
das originais foram substituídas por guardas em papel artesanal, moderno;
6) retirada dos nervos de cânhamo originais (Figura 4). O estado de deterio-
ração do material justificou a sua retirada. Na ocasião, verificou-se que os ner-
vos eram fixados por uma cavilha de madeira e nivelados com gesso (Figura 5);
7) costura, do miolo à encadernação, com novos nervos;
163
D A R E S TAU R A ² AO D O PA PE L
164
do século XIII, e desde esta época os papéis sem marca d’água são muito raros.
As marcas d’água diferem, entre si, e cada uma delas tem sua história.
Na obra em análise, ocorre uma das mais significativas marcas d’água do perío-
do: a cabeça de touro (Figura 6).
A cabeça de touro, uma das primeiras marcas d’água de animal, começou a
aparecer em 1310 e foi o emblema favorito dos fabricantes de papel por 200 anos.
Algumas vezes, foi usada sem acessórios, mas, de modo geral, é encontrada so-
breposta por uma cruz latina, pela rosa de bliss, isto é, a rosa da felicidade, de
bem-aventurança; por uma meia-lua; uma coroa; ou outros símbolos.
A figura da cabeça do touro cheia de adereços não era tão comum quanto a
cabeça representada sozinha. O touro designa paciência e força e, em alguns es-
critos antigos, é interpretado como símbolo do sacrifício de Cristo, bem como
de profetas, apóstolos e santos; era, também, a representação de todos aqueles
que, pacientemente, trabalhavam em silêncio para o bem dos outros.
Para a restauração do papel utilizado no incunábulo, foi adotada a seguinte
rotina:
165
C O N C LU S AO
166
167
BIBLIOGRAFIA
168
E S PE C I A L I S TA S C O N S U LTA D O S
Inventário analítico do
Arquivo Darci Damasceno
S U PE RV I S AO
Ana Lúcia Merege Correia
Identificação e descrição
Magaly da Silva Lopes
F OTO G R A F I A S
Supervisão
Mônica Carneiro Alves
Identificação e descrição
Cristiane Zumpichiatti dos Santos
Magaly da Silva Lopes
P R E -I N V E N TA R I O
Ana Regina de Castro
Cíntia Cecília Barreto
Clara Maria Ferreira Santos
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 170
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 171
UM BRILHANTE BARNABE*
D
arci Damasceno era um estudioso apaixonado. Autor de diversas obras
dedicadas à literatura, foi também chefe da Divisão de Manuscritos –
então Seção de Manuscritos – durante 30 anos. Foi meu chefe e o res-
ponsável por minha entrada no serviço público, então como estagiária selecionada
pelo coordenador que decidira incluir na equipe um estudante de Ciências Sociais.
Foi ele que me mostrou pela primeira vez um Livro de Horas, e que me fez
chegar à faculdade naquele dia encantada e lisonjeada por merecer tamanha hon-
ra de manusear um livro do cofre. E foi ele também que me ensinou – não com
palavras, mas com atos – a tratar estagiários como futuros profissionais, que de-
senvolvem um trabalho importante e cujas ponderações e considerações técnicas
merecem todo respeito e atenção.
Não entregava nada pronto, não dava ordens a serem executadas, mas orien-
tava sobre a melhor maneira de obter os resultados esperados. Fazia isso a partir
de “inspeções periódicas” ao serviço, durante as quais se sentava a meu lado e
analisava as “fichas” produzidas e respondia às minhas perguntas com indicações
das obras de referência onde poderia encontrar as respostas. Nunca me deu o
peixe, mas me ensinou a pescar.
Conhecia o acervo sob sua guarda como poucos. Muitos anos depois, ao as-
sumir a chefia da Divisão e começar a mapear o acervo para construir o Guia de
Coleções, pude perceber que em quase todas as pastas de documentos que integram
172
Imagens do Arquivo
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 174
Sarasvati! Publicado na revista Fon-Fon, em julho de 1926, este poema pertence à fase orien-
tal de Cecília Meireles, de cuja obra Darci Damasceno foi um dos maiores estudiosos.
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 176
Cópia do poema À minha mãe, de Álvares de Azevedo, ilustrado pelo autor (o original
também está na Divisão de Manuscritos). Arquivo Darci Damasceno.
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 177
Folha de rosto da primeira edição de Memórias de um sargento de milícias, uma das obras da
literatura brasileira estudada por Darci Damasceno. O autor, Manuel Antônio de Almeida,
preferiu o anonimato, apresentando-se como “um brasileiro”. Arquivo Darci Damasceno.
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 179
Plantas fluminenses, obra organizada por Darci Damasceno e publicada em 1976 pela Biblioteca
Nacional: estudos feitos no século XVIII pelo naturalista brasileiro frei José Mariano da
Conceição Veloso, com desenhos de João Francisco Muzzi.
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 180
Prensa para espremer o anil: estampa de Jerônimo Vieira de Abreu, integra o projeto de uma
fábrica de anil na praia de Santa Luzia, no Rio de Janeiro (século XVIII). Darci Damasceno
fez a transcrição do códice onde está o projeto.
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 173
173
A P R E S E N TA ² AO
174
D I V I S AO D E M A N U S C R I TO S
GUIA DE COLE²OES 3/4 FICHA TECNICA
Datas-limite: 1846-1987
Localização: armário 26
Acesso: reprodução condicionada aos termos da Lei nº 9.610, de 19/2/1998
(“Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras pro-
vidências”).
175
CORRESPONDÊNCIA
Datas-limite: 1960-1987
Quantificação: 36 documentos
176
10. GRILLO, Heitor. Carta a Darci Damasceno avisando-lhe que o poema “Vôo”,
de Cecília Meireles, dedicado a ele, sairá na segunda edição da Obra poética. Em
anexo o poema. [S. l.], 15/5/1967. 2 f. Original. Datilografado. Manuscrito a
tinta de Heitor Grillo. Sem envelope.
26,1,10
11. GRILLO, Heitor. Carta a Darci Damasceno desculpando-se por não poder es-
perar, pois teria que ir ao cais do porto aguardar a chegada de Gisele Slezinger, a
tradutora para o francês dos poemas de Cecília Meireles, avisando que deixa vários
cadernos de poemas. Rio de Janeiro, 24/5/1967. 1 f. Original. Datilografado.
26,1,11
177
16. GRILLO, Heitor. Carta a Darci Damasceno oferecendo uma cópia do poe-
ma “Morena, pena de amor” e perguntando se o poema que parece ter sido omi-
tido na pasta de Poemas Infantis deve ser incluído no texto definitivo. Rio de
Janeiro, 10/10/1969. 1 f. Original. Datilografado. Junto à carta original, cópia
do poema citado. Sem envelope. Anotações de Darci Damasceno.
26,1,16
17. GRILLO, Heitor. Carta a Darci Damasceno dizendo ter mandado o origi-
nal e duas cópias de “Morena, pena de amor”, de Cecília Meireles, e que aguar-
da opinião sobre o local de inclusão do poema no texto. [S. l.], 28/1/1970. 1 f.
Original. Datilografado. Sem envelope.
26,1,17
19. DAMASCENO, Darci. Carta a Heitor Grillo fazendo sugestões sobre edição
de poesias inéditas de Cecília Meireles e questionando o fato de a imprensa atribuir
a Carlos Drummond de Andrade, revisor da obra, importância semelhante à de
178
25. REIS, Floriano. Carta a Darci Damasceno com cumprimento por seu de-
sempenho como chefe da DMSS-BN. Rio de Janeiro, 31/5/1980. 1 f. Original.
Manuscrito.
26,1,25
179
180
I M P R E S S O S – A RT I G O S , PE R I Ó D I C O S E F R AG M E N TO S
Datas-limite: 1846-1987
181
[S. l.], [s. d.]. 12 p. Outros. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno
texto da Revista do Livro, ano 1, nos 3-4, dezembro de 1956.
26,1,37
182
45. LOPES, Antônio. Gregório de Matos. [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. 3 f. Original.
Impresso. pp. 110-14.
26,1,46
46. ARTIGO sobre a declaração de princípios dos escritores democratas que com-
pareceram ao IV Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em Porto Alegre.
[S. l.], 1951. 1 f. Província de São Pedro, dezembro de 1951.
26,1,47
50. ÍNDIA: Roteiro Poético com Camões e Cecília. [Rio de Janeiro], 1968. 1 f.
Impresso. Artigo do jornal O Globo, Rio de Janeiro, 23/9/1968.
26,1,52
51. MERQUIOR, José Guilherme. Metal Rosicler: Artigo sobre o livro de Cecília
Meireles. [Rio de Janeiro], 1960. 1 f. Original. Impresso. Artigo do Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, setembro de 1960. Suplemento dominical.
26,1,53
52. CECÍLIA Meireles: A Poesia não Morre Jamais. Rio de Janeiro, 1969. 1 f.
Original. Impresso. Artigo do Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiro, no-
vembro de 1969.
26,1,54
183
54. DANTAS, Ondina. Cecília Meireles. [S. l.], [1964]. 1 f. Original. Impresso.
Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo do jornal Diário de Notícias,
12/11/1964.
26,1,56
55. OLIVEIRA, Marly de. Sobre Cecília Meireles. Rio de Janeiro, 1964. 1 f.
Original. Impresso. Artigo do jornal Correio da Manhã, 16/5/1964, Segundo
Caderno.
26,1,57
56. ANDRADE, Carlos Drummond de. Solombra: artigo de jornal. [S. l.],
[1964].1 f. Original. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo
do jornal Correio da Manhã, 1/3/1964.
26,1,58
57. CHAMIE, Mário. Poesia de Estribilho. [S. l.], [1961]. 1 f. Original. Impresso.
Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo do jornal A Noite, 29/4/1961.
26,1,59
58. UMA Voz do Brasil (Cecília Meireles), por Amélia Vilar: Resenha publica-
da em jornal. [S. l.], [1965]. 1 f. Original. Impresso. Segundo anotações de Darci
Damasceno, artigo de 27/5/1965.
26,1,60
184
61. PÉREZ, Renard. Cecília Meireles, Poeta Maior. Rio de Janeiro: José Álvaro,
1964. 6 p. Original. Impresso. Artigo da revista Leitura, Economia e Política. Rio
de Janeiro, ano 22, nos 83/84, pp. 13-18, jun./ jul./ 1964.
26,1,63
63. ANDRADE, Carlos Drummond de. Cecília: Imagens para Sempre. [S. l.],
[1964]. Original. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo do
jornal Correio da Manhã, 11/11/1964.
26,1,65
64. AYALA, Walmir. Cecília Meireles, Perfil da Morte, Severo e Obstinado. Rio
de Janeiro, 1964. 1 f. Original. Impresso. Artigo do jornal Correio da Manhã,
Rio de Janeiro, 14/11/1964. Literatura.
26,1,66
65. AYALA, Walmir. Um Livro Inédito de Cecília Meireles. Rio de Janeiro, 1965.
1 f. Original. Impresso. Artigo do jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8/5/1965.
26,1,67
185
71. CAPA do livro O mundo contemplado. [S. l.], [1967]. 1 f. Original. Impresso.
Segundo anotações de Darci Damasceno, original usado para clichê destinado à
capa do livro de Darci Damasceno sobre Cecília Meireles (1967).
26,1,73
72. NOTÍCIAS DA ÍNDIA. Boletim com artigos sobre numismática, arte, tecno-
logia, política etc... e dois poemas de Cecília Meireles. Rio de Janeiro, Departa-
mento Cultural da Embaixada da Índia, 1966. 4 f. Nº 265, novembro de 1966.
Em anexo papéis contendo anotações de Darci Damasceno.
26,1,74
74. MEIRELES, Cecília. “Mar absoluto” e outros poemas: página de rosto. Porto
Alegre, Livraria do Globo, 1945. 1 f. Original. Impresso. Dedicatória de Cecília
Meireles no verso da folha de rosto a uma pessoa cujo nome foi apagado. Exemplar
nº 61. Em anexo folhas com anotações de Darci Damasceno.
26,1,76
75. RECORTE de jornal com fotografia de Cecília Meireles e suas auxiliares nos
trabalhos de instalação da Biblioteca Infantil no Pavilhão Mourisco. [S. l], [1934].
1 f. Original. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo do jor-
nal A Noite, maio de 1934.
26,1,77
186
76. SZENES, Arpad. Desenhos do rosto de Cecília Meireles. [S. l.], [s. d]. 5 f.
Original. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, estudos de Arpad
Szenes de 1942. Em anexo folhas com anotações.
26,1,78
77. CARTÕES com desenho do rosto de Cecília Meireles. [S. l.], [1942]. 17 f.
Original. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno em folha anexa,
cópias do retrato de Cecília Meireles por Arpad Szenes, em 1942.
26,1,79
80. LEMME, Pascoal. Carta ao jornal sobre educação e o manifesto dos Pioneiros
da Escola Nova. [S. l.], 1982. 1 f. Original. Datilografado. Coluna “Cartas” [do
Jornal do Brasil], 9/3/1982. Anotações de Darci Damasceno.
26,1,82
81. GUIA turístico de São João del-Rei com dados históricos. São João del-Rei,
1979. 1 f. Original. Impresso. Anotações de Darci Damasceno e dedicatória de
Cecília Meireles ao dr. Basílio de Magalhães.
26,1,83
82. BARBOSA, Francisco de Assis. A vida de Lima Barreto: folha de rosto e frag-
mentos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 2 f. Original. Impresso.
Contém folha de rosto e pp. 275-276.
26,1,84
83. MURICY, Andrade. “Luar de inverno” e outros poemas: [fragmentos]. [S. l.],
[1968]. 1 f. Original. Impresso. Revista MEC, nº 41, pp. 15-16, fev./mar. de 1968.
26,1,85
187
84. MEYER, Augusto. Plenitude: crônica. [Porto Alegre], [s. d.]. 1 f. Original.
Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo de jornal do Diário
de Notícias, Porto Alegre, anos 1920-1930.
26,1,86
87. CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Educação em 30 e 60. [S. l], [s. d.]. 1 f. Original.
Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, Educação Anos 30.
26,1,89
89. ARTIGO sobre o poeta Mário Quintana. Minas Gerais, 1975. 1 f. Original.
Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, “Modernismo, simbolismo”
(de A Forma Secreta, 1965).
26,1,91
188
de Darci Damasceno, Folha Acadêmica, 1929. Dir. prof. Bruno Lobc. Texto lido
na sessão de 2 de outubro de 1978. CFC-Boletim.
26,1,93
92. BRANDÃO, José da Silva. Por que Orientalismo: artigo sobre a distinção
básica entre Oriente e Ocidente. Minas Gerais, 1 f. Original. Impresso. Artigo do
jornal Minas Gerais, 13/5/1976. Suplemento Literário. Segundo anotações de
Darci Damasceno, Oriente, primeira fase (da poesia de Cecília Meireles).
26,1,94
93. OLIVEIRA, Marly de. Lembrança de Cecília. Rio de Janeiro, 1980. 1 f. Ori-
ginal. Impresso. Artigo do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11/11/1980. p. 4,
Caderno B.
26,1,95
96. VILLAÇA, Antônio Carlos. Da Costa e Silva. Artigo sobre a morte e a obra
do poeta. Rio de Janeiro, 1975. 1 f. Original. Impresso. Artigo do Jornal do Brasil,
Rio de Janeiro, 28/6/1975, p. 5, Caderno B.
26,1,98
97. MARTINS, Wilson. Tel qu’en lui-même...: artigo sobre Manuel Bandeira.
[Rio de Janeiro, [1982]. 1 f. Original. Impresso. Segundo anotações de Darci
Damasceno, artigo do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17/10/1982.
26,1,99
189
100. LEMOS, Tite de. Cecília Meireles: Solidão e Silêncio, Área Mágica da Poesia.
Artigo com entrevista a suas filhas nos 10 anos de sua morte. [Rio de Janeiro],
1974. 1 f. Original. Impresso. Artigo do jornal O Globo, 7/11/1974, p. 27.
26,1,102
105. DATAS de uma vida breve e obscura. Dados biográficos de Fernando Pessoa.
[S. l.], [s. d.]. 1 f. Original. Impresso.
26,1,107
190
106. CRONOLOGIA e notas: poemas italianos. [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. 4
f. Original. Impresso. Anotações de Darci Damasceno, pp. 151-157.
26,1,108
108. PENA, Martins. O juiz de paz da roça: comédia. [fragmentos]. [S. l.], [s. d.].
30 f. Original. Impresso. Anotações de Darci Damasceno, pp. 29-56.
26,1,110
110. MONTELLO, Josué. Retorno a Martins Pena. Artigo sobre a obra de Mar-
tins Pena no contexto da cultura brasileira. [Rio de Janeiro], 1979. 1 f. Original.
Impresso. Anotações de Darci Damasceno do Jornal do Brasil, 5/6/1979.
26,1,112
113. RETRATO de A. de Pinho. [S. l.], [s. d.]. 1 f. Original. Impresso. Carimbo
da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
26,1,115
191
114. FOLHAS de rosto da obra Norma: vaudeville jocoso. Rio de Janeiro: Cre-
mière, 1849. 1 f. Original. Impresso. No verso da página de rosto desenho de
Theremin do Teatro de São Paulo de Alcântara em 1838.
26,1,116
115. BROCA, Brito. Martins Pena. Artigo sobre a obra Teatro de Martins Pena,
edição crítica de Darci Damasceno. [S. l.], [1957]. 1 f. Original. Impresso. Segundo
anotações de Darci Damasceno, artigo do jornal Correio da Manhã, 9/3/1957.
26,1,117
192
121. MELO, Veríssimo de. O conto folclórico no Brasil. Rio de Janeiro: MEC,
1976. N. p. Original. Impresso. (Cadernos de Folclore, 11).
26,1,123
193
132. CARTAS de Araújo Porto-Alegre a Gonçalves Dias [fragmentos]. [S. l.], [s.
d.]. 3 f. Original. Impresso. Revista IHGB. Anotações de Darci Damasceno.
26,1,134
194
138. SIQUEIRA, Sônia Aparecida. Texto sobre o Santo Ofício que atuou no
Brasil-Colônia [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. 4 f. Original. Impresso. Junto ao texto
principal outro intitulado A Conjuntura Brasileira no Final do Século XVII.
26,1,144
139. HOPSMAN, João. [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. 4 f. Original. Impresso.
Folhas rasgadas.
26,1,145
195
145. MELLO FILHO, Luís Emídio de. Sobre Zollernia mocitayba. Rio de Janeiro,
1959. 6 f. Original. Impresso. Artigo do Boletim do Museu Nacional, Rio de
Janeiro, 30/5/1959. Nova série (Botânica 22). Il. Fac-símiles.
26,1,151
147. LAMEGO, Adinalzir Pereira. A Casa de Freire Alemão. [S. l.], 1986. 1 f.
Original. Impresso. Artigo do NOPH-31, agosto de 1986, p. 15. II. Desenho.
26,1,153
196
152. CARAUTA, Jorge Pedro Pereira. The text of Vellozo’s flora fluminensis and
its effective date of publication. [S. l.], 1973. 2 p. Original. Impresso. Texto na
revista Tascon, vols. 2/3, pp. 281-284, maio de 1973.
26,1,158
153. MARTINS e os dois Vellozos [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. Original. Impresso.
Segundo anotações de Darci Damasceno, texto de Carlos Stemfeld, 1948, pp. 1-
42. Faltam as páginas 21 a 30. Em anexo capa com anotações de Darci Damasceno.
26,1,159
ORIGINAIS
Datas-limite: 1960-1987
Quantificação: 47 documentos
155. DAMASCENO, Darci. Códice Camilo: caderno com anotações sobre sone-
tos e trechos de sonetos retirados de A. P. [S. l.], [s. d.]. 44 f. Original. Manuscrito.
26,1,162
156. DAMASCENO, Darci. Análise de poemas de Tomás Pinto Brandão e ou-
tros autores, retirados de códice com obras várias da Divisão de Manuscritos
da Biblioteca Nacional. [S. l.], [s. d.]. 21 f. Original. Manuscrito. Segundo
anotações de Darci Damasceno, foram copiados os poemas das folhas 469 (fi-
nal) a 473.
26,1,163
197
162. DAMASCENO, Darci. Antônio da Rocha Pita, notas e pesquisa. [S. l.], [s.
d.]. 3 f. Original. Manuscrito.
26,1,169
198
199
175. DAMASCENO, Darci. Texto para segunda edição revista e aumentada so-
bre a obra de Cecília Meireles. [S. l.], [s. d.]. 24 f. Original. Datilografado.
26,1,182
200
187. DAMASCENO, Darci. Notas críticas acerca de teatro. Rio de Janeiro: [S.
n°], [s. d.]. Pag. var. Original. Manuscrito. Em anexo roteiro para pesquisas em
periódicos na Biblioteca Nacional.
26,1,194
201
191. CARTA ao dr. Jaguaribe sobre primeira edição, em 1865, de Iracema. Rio de
Janeiro, [s. d.]. 7 f. Cópia. Datilografado. Em anexo papéis sobre o mesmo assunto.
26,1,198
195. DAMASCENO, Darci. Óbito e testamento nos séculos XVIII e XIX: levan-
tamento para estudo socioeconômico. Rio de Janeiro: [S. n°], [s. d.]. 7 p. Original.
Manuscrito. Darci Damasceno afirma que a pesquisa foi feita no arcaz I-32 da
DMSS-BN.
26,1,202
202
197. DAMASCENO, Darci. Estudos sobre o anil: caderno, bloco e papéis diver-
sos com fragmentos de documentos, relação de fabricantes e negociantes e históri-
co da produção. Rio de Janeiro, [s. d.]. Pag. var. Original. Manuscrito. Datilografado.
26,1,204
198. FERREIRA, José Henrique. Instrução do modo com que se deve apanhar
a cochonilha...: transcrição do Código do Lavradio. [S. l.], [s. n°], [s. d.]. 5 f.
Cópia. Datilografado. Data do documento original: 1778.
26,1,205
199. COSTA, Maurício da. Ofício acerca da cochonilha: transcrição. [S. l.], [s.
n°], [s. d.]. 6 f. Cópia. Datilografado. Ofício a destinatário ignorado. A data
original é 1785.
26,1,206
200. CABRAL, Vicente Jorge Dias. Coleção das observações dos produtos natu-
rais do Piauí: tomo 1: transcrição anotada da obra original de 1800 e 1801. Rio
de Janeiro: [s. n°], 1976. 181 f. Original. Manuscrito. Datilografado. Em anexo
papéis de Darci Damasceno com observações sobre a obra.
26,1,207
RASCUNHOS
Datas-limite: 1960-1987
203
204
216. DAMASCENO, Darci. Índice dos códices avulsos para resumo de con-
teúdo: notas várias. Rio de Janeiro, [s. d.]. 90 f. Original. Manuscrito.
26,2,1
205
206
234. DAMASCENO, Darci. Tomás Pinto Brandão: bibliografia: notas várias. Rio
de Janeiro, [s. d.]. 120 f. Original. Manuscrito. Ocorrem notas com referência a
manuscritos de poesias e inéditos encontrados nos códices da Biblioteca Nacional.
26,2,19
207
242. BAENA. Índice heráldico: verbete sobre a família Salema. Rio de Janeiro,
[s. d.]. 2 f. Original. Manuscrito.
26,2,27
243. DAMASCENO, Darci. Bahia: papéis vários. Rio de Janeiro, [s. d.]. 17 f.
Original. Manuscrito. Cartão de Lígia da Fonseca Fernandes da Cunha de
25/4/1987.
26,2,28
208
246. DAMASCENO, Darci. Lista de autores dos séculos XVI e XVII e indica-
ções bibliográficas: notas várias. Rio de Janeiro, [s. d.]. 40 f. Original. Manuscrito.
26,2,31
209
de Janeiro, [s. d.]. N. p. Inclui cópia do conto O Vendedor de Pássaros, que teria
sido publicado em O Mundo Literário a 1/5/1922.
26,2,37
253. DAMASCENO, Darci. Sobre o livro Espectros: notas várias. Rio de Janeiro,
[s. d.]. N. p. Original. Manuscrito. Ocorrem anotações sobre sonetos inéditos,
segundo Darci Damasceno.
26,2,38
255. ARTIGOS críticos sobre Cecília Meireles: notas várias. [S. l.], [s. d.]. Original.
Manuscrito.
26,2,40
210
268. DAMASCENO, Darci. Bibliografia sobre Cecília Meireles: fichas com ano-
tações. Rio de Janeiro, [s. no], [s. d.]. N. p. Original. Manuscrito.
26,2,53
211
212
283. DAMASCENO, Darci. Índice e fichas com versos de Cecília Meireles. [Rio
de Janeiro], [s. d.]. N. p. Original. Manuscrito.
26,2,68
213
288. DAMASCENO, Darci. Fichas contendo estrofes, versos com anotações so-
bre estudo semântico dos poemas de Cecília Meireles: notas várias. Rio de Janeiro,
[s. d.]. 258 f. Original. Manuscrito. Datilografado. Os estudos se referem aos
livros: Vaga música, Retrato natural, Mar absoluto, Viagem e outros.
26,2,73
214
298. DAMASCENO, Darci. Estudos sobre a peça O juiz de paz da roça: notas
várias. Rio de Janeiro, [s. d.]. 3 f. Original. Manuscrito.
26,2,83
215
216
314. DAMASCENO, Darci. Crítica teatral: notas várias. Rio de Janeiro, [s. d.].
18 f. Original. Manuscrito. Primeiras críticas em periódicos: Jornal do Commercio,
20/1/1837; revista teatral O Brasil, 15/6/1841.
26,2,99
315. DAMASCENO, Darci. Folhetins: crítica teatral. Rio de Janeiro, [s. d.]. 8
f. Original. Manuscrito. Situação do teatro in O Brasil, revista teatral, 1841. Reg.
254/1990 DMSS-BN.
26,2,100
217
322. DAMASCENO, Darci. Notas sobre Martins Pena e a Escola antiga, contendo
repertório, censura e linguagem. Rio de Janeiro, [s. d.]. Original. Manuscrito.
26,2,107
218
327. DAMASCENO, Darci. Teatro: notas bibliográficas. Rio de Janeiro, [s. d.].
Original. Manuscrito. Impresso.
26,2,112
333. DAMASCENO, Darci. Vaudeville: ópera cômica: notas. Rio de Janeiro, [s.
d.]. 1 f. Original. Manuscrito.
26,2,118
219
336. DAMASCENO, Darci. Notas sobre peças de Martins Pena. Rio de Janeiro,
[s. d.]. 2 f. Original. Manuscrito.
26,2,121
338. DAMASCENO, Darci. Teatro brasileiro do século XIX: notas várias. Rio
de Janeiro, [s. d.]. 11 f. Manuscrito. Original.
26,2,123
339. DAMASCENO, Darci. Teatro e censura: notas. Rio de Janeiro, [s. d.]. 2 f.
Original. Manuscrito.
26,2,124
340. DAMASCENO, Darci. Anotações várias sobre Martins Pena. Rio de Janeiro,
[s. d ]. 6 f. Original. Manuscrito.
26,2,125
220
no romance e genealogia do autor: notas várias. Rio de Janeiro, [s. d.]. 29 f. Ori-
ginal. Manuscrito.
26,2,128
346. DAMASCENO, Darci. Teatro do século XIX: anúncio de peças (inclusive dra-
mas): Martins Pena: 1839: notas várias. Rio de Janeiro, [s. d.]. Original. Manuscrito.
26,3,1
221
222
364. POMPÉIA, Raul. Carta a Alfredo Pujol, em 1886, falando das canções sem
metro: cópia e comentário. Rio de Janeiro, [s. d.]. 4 f. Original. Manuscrito.
Cópia manuscrita com anotações de Darci Damasceno. A carta se encontra na
DMSS-BN.
26,3,19
223
369. ANIL e outras culturas agrícolas no Brasil: notas várias. [Rio de Janeiro],
[s. no], [s. d.]. N. p. Original. Manuscrito.
26,3,24
374. DAMASCENO, Darci. Rio de Janeiro e Freire Alemão: notas várias. Rio
de Janeiro, [s. d.]. 28 f. Original. Manuscrito.
26,3,29
224
375. DAMASCENO, Darci. Viagem à Pedra, diário (72-77), e outras notas sobre
o botânico Freire Alemão. [Rio de Janeiro], [s. no], [s. d.]. 16 f. Original. Manuscrito.
26,3,30
225
F OTO C Ó PI A S
Datas-limite: 1649-1977
Conteúdo: fotocópias de trabalhos dos mais diversos autores, que servem como
base para anotações de Darci Damasceno. Os assuntos são variados, sendo os
principais: poemas de Cecília Meireles, estudos e artigos sobre a mesma autora,
códices atribuídos a Gregório de Matos, rascunhos de peças de Martins Pena,
trabalhos acerca do comércio, da indústria e da economia no Brasil-colônia e es-
tudos sobre frei Veloso e Freire Alemão.
394. VIDA e morte de Gregório de Mattos Guerra. Tomo I de obras sacras e di-
vididas: I e II part. [S. l.], [s. d.]. 34 f. Fotocópias. Manuscrito. Fotocópia tira-
da de documentos da DMSS-BN. Anotações em folhas anexas.
26,3,49
395. VIDA e morte do Doutor Gregório de Matos Guerra. [S. l.], [1929]. 28 f.
Fotocópias. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno, Obras de Gregório de
Matos Guerra – V. I-Sacra (Ed. A. P.), 1929. Outras notas em anexo.
26,3,50
226
396. RABELO, Manuel Pereira. Vida do excelente poeta lírico, o Doutor Gregório
de Matos Guerra. [S. l.], [s. d.]. 17 f. Fotocópia. Impresso. Anotações de Darci
Damasceno em anexo. Anotações do texto Versão do Códice Celso Cunha.
26,3,51
397. VIDA do Doutor Gregório de Mattos Guerra. [S. l.], [s. d.]. 18 f. Fotocópias.
Impresso. Anotações de Darci Damasceno, texto em anexo. Anotações do texto
tirado do Códice Carvalho.
26,3,52
400. A VIDA espantosa de Gregório de Matos: retrato histórico. [S. l.], [s. d.].
19 f. Fotocópia. Impresso. Obras de Gregório de Matos: VI-última.
26,3,55
227
407. CÓDICES Camilo: Amostra de letras diferentes do códice. [S. l.], [s. d.].
26 f. Fotocópias. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno.
26,3,62
228
410. ÉDITOS e inéditos de Gregório de Mattos. [fragmentos]. [S. l.], [s. no],
1929. 13 f. Fotocópias. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, tex-
to de Obras de Gregório de Matos, V. I, sacra. Id. Afrânio Peixoto, 1929.
26,3,65
412. MATOS, Eusébio de. Retrato de uma dama: [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. 4
f. Fotocópia. Impresso. Anotações de Darci Damasceno, anexo fotocópia.
26,3,67
415. Obras de Gregório de Mattos: Gracioza [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. 152 f.
Fotocópia. Impresso. V. III pp. 29-333. Anotações de Darci Damasceno atribuin-
do a edição a Afrânio Peixoto. Fotocópia tirada de documento da Biblioteca
Nacional.
26,3,70
229
417. MATOS, Gregório de. Obras de Gregório de Mattos: satírica II: [fragmen-
tos]. [S. l.], [s. d.]. 180 f. Fotocópias. Manuscrito. IV., T. II, pp. 9-369. Anota-
ções de Darci Damasceno atribuindo a edição a Afrânio Peixoto.
26,3,72
421. DOCUMENTO de arquivo: reprodução de uma página. [S. l.], [s. d.]. 1
f. Reprodução fotográfica. Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de
Microfilme. Não foi possível identificar o documento.
26,3,76
422. A PERSPECTIVE view of the city of St. Sebastian at Rio de Janeiro. [S.
l.], [s. d.]. Reprodução fotográfica. Carimbo da Biblioteca Nacional: Divisão de
Microfilme. Segundo anotação de Darci Damasceno, século XVIII.
26,3,77
230
428. MATOS, Gregório de. Várias poezias compostas pello Famozo Doutor, e
insigne Poeta do nosso século...: [extratos]. [S. l.], N. p. Fotocópia. Manuscrito.
Fotocópia de alguns trechos do códice da Library of Congress e do códice iden-
tificado como Camilo por Darci Damasceno. Contém anotações de Darci Damas-
ceno explicando que se trata de amostras de mudanças de textos.
26,3,83
231
432. ANDRADE, Carlos Drummond de. Carta a Heitor Grillo com o parecer
da revisão da obra inédita de Cecília Meireles já organizada por Darci Damasceno.
Rio de Janeiro, 28/5/1969. 3 f. Cópia. Datilografado. Anotações de Darci Da-
masceno.
26,3,87
435. BRANDÃO, Tomás Pinto. Estrofes de décimas e outros textos de 1713. [S.
l.], [s. d.]. 11 f./8 f. Fotocópia. Manuscrito. Fotocópias tiradas de documento da
DMSS-BN. Segundo anotações de Darci Damasceno in obras várias. Tomás Pinto
Brandão I-14,1,25. Pelo sistema de pontuação, vê-se que é mais moderno que
outros.
26,3,90
437. MATOS, Gregório de. Gregório de Mattos: seu primeiro casamento. Petição
manuscrita (Biblioteca Nacional de Lisboa – Sumários matrimoniais) com autó-
grafo do poeta no canto direito. [S. l.], [s. d.]. 1 f. Fotocópia. Manuscrito. 2 fo-
tocópias do documento.
26,3,92
438. CRONOLOGIA do poeta Gregório de Mattos Guerra. [S. l.], [s. d.]. 1 f.
Fotocópia. Impresso. 2 fotocópias do documento.
26,3,93
232
441. MATOS, Gregório de. Poemas vários: crítica de transmissão textual. [S. l.],
[s. d.]. N. p. Fotocópias. Fotocópias de transcrição, datilografada, de poemas,
comparados com o do Códice Rústico e do códice existente na Library of Congress.
Contém anotações manuscritas de Darci Damasceno.
26,3,96
444. POEMA inédito: texto sobre um poema de Cecília Meireles. Rio de Janeiro,
1934. 1 f. Fotocópia. Datilografado. Segundo anotações de Darci Damasceno,
artigo do jornal A Nação, de 9/9/1934.
26,3,99
445. MEIRELES, Cecília. Cântico entre uma Noite e um Dia. [Minas Gerais],
1934. Fotocópias. Manuscrito. Fotocópia retirada de um artigo do jornal O
Liberal, de 22/7/1934. Anotações de Darci Damasceno.
26,3,100
446. MEIRELES, Cecília. Sarasvati. [S. l.], 1926. 1 f. Fotocópias. Fotocópia re-
tirada da revista Fon-Fon nº 38, 3/7/1926.
26,3,101
233
451. NIST, John. The poetry of Cecília Meireles. [S. l.], 1963. 4 f. Fotocópia.
Impresso. Reprint from Hispania, v. 46, nº 2, 1963, pp. 252-258.
26,3,106
453. SCHMIDT, Augusto Frederico. Cecília Meireles. [S. l.], 1963. 1 f. Foto-
cópias. Impresso. O Globo, 17/12/1963, p. 2.
26,3,108
454. BOSI, Alfredo. Cecília Meireles: A Música Ausente. [S. l.], 2 f. Fotocópia.
Manuscrito. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo de O Estado de S.
Paulo, 20/2/1965, Suplemento Literário.
26,3,109
234
455. SENA, Jorge de. Cecília Meireles ou os Puros Espíritos. [S. l.], [s. d.]. 2 f.
Fotocópias. Manuscrito. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo de O
Estado de S. Paulo, 20/2/1965.
26,23,110
456. ALMEIDA, Lúcia Machado de. Esse Instante Emprestado. São Paulo, 1965.
4 f. Fotocópias. Impresso. Artigo publicado junto ao de Rui Affonso: Cecília
Meireles, Amiga.
26,3,111
458. OLIVEIRA, Marly de. Da Fineza do Amor em Cecília Meireles. [S. l.], [s.
d.]. 2 f. Fotocópias. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo
do Correio da Manhã, 8/8/1964, Livros na Mesa.
26,3,112
461. GARBUGLIO, José C. Cecília Meireles: o Trânsito e o Eterno. [S. l.], [s.
d.]. 2 f. Fotocópia. Impresso. Segundo anotações de Darci Damasceno, artigo do
jornal O Estado de S. Paulo, ano 9, nº 418, 20/2/1965.
26,3,115
235
467. MEIRELES, Cecília. “Copo da puma de prata”: poema. [S. l.], [s. d.]. 1 f.
Cópia. Manuscrito.
26,3,121
236
469. MEIRELES, Cecília. Carta a Diogo de Macedo sobre Correia Dias e Maria
Fernanda. Rio de Janeiro, 21/7/1952. 2 f. Fotocópia. Datilografado. Constam
no caderno de originais 26,1,181 anotações de Darci Damasceno sobre a carta.
Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,3,123
470. MEIRELES, Cecília. Carta a Fernanda de Castro sobre os versos que são
parte de um livro que concorre ao prêmio da Academia Brasileira de Letras. Rio
de Janeiro, 11/12/1938. 2 f. Fotocópia. Datilografado. Constam no caderno de
originais 26,1,181 anotações de Darci Damasceno sobre a carta. Reg. 250/1990
DMSS-BN.
26,3,124
471. MEIRELES, Cecília. Carta a Maria Dulce Lupi Coelho sobre sua formação
religiosa, o budismo e experiências místicas. Rio de Janeiro, 24/4/1938. 2 f. Foto-
cópia. Datilografado. Constam no caderno de originais 26,1,181 anotações de
Darci Damasceno sobre a carta. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,3,125
472. MEIRELES, Cecília. Carta a Diogo de Macedo sobre seu estado de espíri-
to e impressões de Paris, Calcutá, Itália, Holanda. Rio de Janeiro, 7/9/1953. 2 f.
Fotocópia. Datilografado. Constam no caderno de originais 26,1,181 anotações
de Darci Damasceno sobre a carta. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,3,126
474. MEIRELES, Cecília. “Olhinhos de gato”. [S. l.], [s. d.]. [61 f.]. Fotocópias.
Impresso. Fotocópia de “Olhinhos de gato”, publicado em trechos pelo periódi-
co Ocidente, em 1937-1938. Segundo anotações de Darci Damasceno, faltam 8
p. Contém nota introdutória, retirada do arquivo de Cecília Meireles, e anotações
de Darci Damasceno.
26,3,128
237
477. MEIRELES, Cecília. Poema a Heitor Grillo “Cantar de vero amor”. São
Paulo, 1964. 2 f. Cópia. Fotocópia. Manuscrito.
26,4,1
478. MEIRELES, Cecília. Nunca mais... e Poema dos poemas. Rio de Janeiro:
Livraria Leite Ribeiro, 1923. 71 f. Fotocópias. Manuscrito.
26,4,2
479. MEYER, Augusto. Carta a Cecília Meireles dizendo que enviará Coração
verde por intermédio dela ao sr. Gregório Reynolds. Porto Alegre, 26/11/1927.
2 f. Fotocópia. Manuscrito. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,3
480. MEYER, Augusto. Carta a Cecília Meireles dizendo que a Livraria do Globo
resolveu tirar uma segunda edição de Coração verde e assim terá oportunidade de
enviar um exemplar ao sr. Reynolds. Porto Alegre, 21/4/1928. 1 f. Fotocópia.
Manuscrito. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,4
238
483. MEIRELES, Cecília. Poema “Nas ruínas do torreão”. [S. l.], [s. d.]. 1 f.
Cópia. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,7
484. MAGALHÃES, Augusto. Carta a Maciel Pinheiro sobre três sonetos encon-
trados, assinados por Cecília Meireles, que poderiam ser entregues pelo destina-
tário à filha da poetisa. Rio de Janeiro, 25/3/1971. 1 f. Cópia. Datilografado.
Anotações de Darci Damasceno. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,8
485. MEIRELES, Cecília. Poema “Bilha”. [S. l.], [s. d.]. 1 f. Cópia. Manuscrito.
Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,9
486. MEYER, Augusto. Carta a Cecília Meireles pedindo-lhe que envie mais so-
bre sua vida interior. [S. l.], [s. d.]. 1 f. Cópia. Manuscrito. Anexo poema “Louva-
ção”, de Augusto Meyer, dedicado a Cecília Meireles. Reg. 250/1990 DMSS-
BN.
26,4,10
488. MEYER, Augusto. Plenitude: artigo para o Diário de Notícias. [S. l.], [s.
d.]. 1 f. Cópia. Impresso. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,12
239
492. AZEVEDO, Fernando de. Carta a Cecília Meireles sobre a reforma educa-
cional e a Biblioteca Pedagógica Brasileira. São Paulo, 6/8/1931. 1 f. Cópia. Ma-
nuscrito. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,16
493. VERGARA, Telmo. Carta a Cecília Meireles sobre a tradução das “Canções
de berço compatrícias”. Porto Alegre, 10/12/1933. 1 f. Cópia. Datilografado.
Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,17
494. BERRIEN, William. Carta a Cecília Meireles pedindo que lhe envie livros
de literatura brasileira para ajudá-lo nas suas aulas da University of California.
Rio de Janeiro, 15/4/1938. 4 f. Fotocópia. Datilografado. Em anexo página de
carta de março do mesmo ano, agradecendo e pedindo novas listas de livros. Reg.
250/1990 DMSS-BN.
26,4,18
495. QUEIROZ, Carlos. Carta a Cecília Meireles sobre assuntos pessoais. Lisboa,
31/5/1937. 3 f. Fotocópia. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno. Reg.
250/1990 DMSS-BN.
26,4,19
240
500. CARTA a Cecília Meireles sobre sua viagem e o estado de espírito na Europa
diante da guerra. Cascais, 5/10/1939. 1 f. Cópia. Manuscrito. A autora se assi-
na M. Fernanda; pode tratar-se de Fernanda de Castro. Reg. 250/1990 DMSS-
BN.
26,4,24
502. REYES, Alfonso. Cartas a Cecília Meireles elogiando o livro Nunca mais...
e Poema dos poemas. Rio de Janeiro, 19 e 20/8/1931. 1 f. Cópia. Manuscrito.
Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,26
503. OLIVEIRA, José de Osório de. Carta a Cecília Meireles sobre artigos de
jornal, política e o livro Psicologia de Portugal e outros ensaios. Lisboa, 26/4/1934.
1 f. Cópia. Manuscrito. Reg. 250/1990 DMSS-BN.
26,4,27
505. DUARTE, Afonso. Carta a Cecília Meireles sobre política e censura à obra
241
506. MACEDO, Diogo de. Carta a Cecília Meireles lamentando a morte de seu
marido Fernando Correia Dias. Lisboa, 20/12/1935. 1 f. Cópia. Manuscrito.
26,4,30
507. MACEDO, Diogo de. Carta a Cecília Meireles sobre a sua obra Viagem
[Lisboa], [18/9/1939]. 2 f. Cópia. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno
manuscritas a tinta. Falta o início da carta.
26,4,31
508. SERPA, Alberto de. Carta a Cecília Meireles sobre publicação na Revista de
Inéditos de sua obra. Porto, 10/7/1938. 1 f. Cópia. Manuscrito.
26,4,32
509. SERPA, Alberto de. Carta a Cecília Meireles informando que os seus ver-
sos não saíram na Revista de Portugal e sim na Presença. Porto, 19/8/1938. 1 f.
Cópia. Manuscrito.
26,4,33
510. SERPA, Alberto de. Carta a Cecília Meireles sobre projetos de bolsa de es-
tudo nos Estados Unidos, Europa e pedidos de artigos e versos para serem pu-
blicados em Ocidente. Porto, 15/11/1938. 1 f. Cópia. Manuscrito.
26,4,34
511. SERPA, Alberto de. Carta a Cecília Meireles sobre a vontade de conhecer
o Brasil e seus poemas publicados em Portugal. Porto, 27/3/1939. 1 f. Cópia.
Manuscrito.
26,4,35
512. SERPA, Alberto de. Carta a Cecília Meireles sobre a admiração por seus
versos e o prêmio que a academia concedeu a Viagem. Porto, 26/7/1939 . 2 f.
Cópia. Manuscrito.
26,4,36
242
rido por ocasião de sua indicação como oradora na entrega dos prêmios da
Academia Brasileira de Letras. Santos, 23/7/1939. 1 f. Cópia. Datilografado.
26,4,37
514. PEIXOTO, Afrânio. Carta a Cecília Meireles sobre o seu livro Viagem. [S.
l.], 18/9/1939. 1 f. Cópia. Manuscrito.
26,4,38
517. PENA, Martins. Os Irmãos das Almas: [fragmentos de três versões manus-
critas e uma impressa]. [S. l.], [s. d.]. N. p. Fotocópia. Impresso.
26,4,41
520. PENA, Martins. Carta bilhete a Bivar sobre a censura a A graça de Deus.
Segue-se a resposta de Bivar, no mesmo documento. [S. l.], 2 f. Cópia. Manuscrito.
Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos. Anotações de Darci
Damasceno. Original na Divisão de Manuscritos, I-6,7,14 nº 2.
26,4,44
243
521. PENA, Martins. Plano da comédia As manias de dous velhos. [S. l.], [s. d.].
2 f. Cópia. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno. Carimbo da Biblioteca
Nacional, Divisão de Manuscritos.
26,4,45
522. PENA, Martins. Plano da obra A noite de São João [fragmentos]. [S. l.], [s.
d.]. Cópia. Manuscrito de Darci Damasceno. Carimbo da Biblioteca Nacional,
Divisão de Manuscritos.
26,4,46
523. PENA, Martins. Fragmento de obra em verso. [S. l.], [s. d.]. Cópia. Manus-
crito. Anotações de Darci Damasceno.
26,4,47
524. PENA, Martins. A barriga de meu tio: plano da obra. [S. l.], [s. d.]. 2 f. Có-
pia. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno.
26,4,48
525. PENA, Martins. O caixeiro da taverna, Quem casa quer casa, O diletante:
[fragmentos de versões manuscritas e impressas]. [S. l.], [s. d.]. Fotocópias.
Impresso.
26,4,49
527. PENA, Martins. O cigano: [fotocópias do original manuscrito]. [S. l.], [s.
d.]. 98 f. Fotocópias. Impresso. Original na Divisão de Manuscritos da Biblioteca
Nacional.
26,4,51
244
532. AMORA, Antônio Soares. Martins Pena ante as fontes de seu teatro: [arti-
go publicado no periódico Dionysos, ano X, nº 13]. [S. l.], [1966]. 9 p. Fotocópia.
Impresso.
26,4,56
535. PENA, Martins. Quem Porfia Mata Caça. Folha de rosto do texto. Rio de
Janeiro: Casa Imperial, 1852. 1 p. Reprodução fotográfica. Impresso. Carimbo
no verso da Biblioteca Nacional, Divisão de Microfilmes. Série Teatro Brasileiro.
26,4,59
536. LEAL, José da Silva Mendes. Quem Porfia Mata Caça: folha de rosto e
primeira página do texto. Rio de Janeiro: Francisco de Paula Brito, 1850. 2 f.
Reprodução fotográfica. Impresso. Carimbo no verso da Biblioteca Nacional,
Divisão de Microfilmes.
26,4,60
245
538. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Carta a Francisco Ramos Paz tratando de
assunto particular. Nova Friburgo, 17/11/[1860]. 4 p. Fotocópia. Manuscrito.
Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos. Anotação no verso.
Original na Divisão de Manuscritos, I-4,4,56, 2 cópias da página.
26,4,62
539. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Carta a José Martiniano de Alencar pedin-
do-lhe (para) trabalhar, no orçamento no Senado, pela publicação do Brasil
Pitoresco. Nova Friburgo, 13/6/1861. 9 f. Fotocópia. Manuscrito. Duas cópias
da primeira página da carta. Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manus-
critos. Anotações no verso. Original na Divisão de Manuscritos, I-4,7,74.
26,4,63
540. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Carta a Francisco Ramos Paz tratando de
assunto particular. Nova Friburgo, 11/11/1860. 3 f. Fotocópia. Manuscrito. Ca-
rimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos. Anotações no verso da
carta. 2 cópias da primeira página da carta. Original na Divisão de Manuscritos,
I-4,4,59.
26,4,64
541. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Carta a Francisco Ramos Paz tratando de
assunto particular. Friburgo, 30/[11/1860]. 3 f. Fotocópia. Impresso. Carimbo
da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos. Duas cópias da primeira pági-
na da carta. Anotações no verso. Original na Divisão de Manuscritos, I,4,4,58.
26,4,65
542. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Carta a Francisco Ramos Paz tratando de
suas traduções em Nova Friburgo. Friburgo, 25/11/1860. 4 f. Fotocópia.
Manuscrito. Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos. 2 cópias
da primeira página da carta. Original na Divisão de Manuscritos, I-4,4,57.
26,4,66
543. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Carta a Francisco Ramos Paz sobre im-
pressões de Friburgo. [S. l.], [s. d.]. 11 f. Fotocópias. Manuscritos. Material anexo:
três páginas datilografadas e uma manuscrita a tinta com anotações de Darci
246
544. ALMEIDA, Josefina Maria de. Carta a sua Majestade Imperial solicitando
admissão de seus filhos Antônio Marianno de Almeida e Manuel Antônio de
Almeida à classe de alunos pobres e internos do Colégio D. Pedro II. Rio de Ja-
neiro, 26/1/1841. 2 f. Fotocópia. Manuscrito. Duas cópias da carta. Carimbo da
Divisão de Microfilme da Biblioteca Nacional.
26,4,68
549. SONHOS d’ouro: prefácio à edição de 1872. [S. l.], 1872. 9 f. Fotocópia.
Impresso. Prefácio assinado por Sênio. Fotocópia de original na Biblioteca
Nacional.
26,4,73
247
550. ALENCAR, José de. Diva: pós-escrito à 2ª edição do romance. [S. l.], [s.
d.]. 11 p. Fotocópia. Impresso.
26,4,74
552. MELLO, José Antônio Gonçalves de. Dom Antônio Felipe Camarão, capi-
tão-mor dos índios da costa do Nordeste do Brasil. Recife: Universidade do Recife,
1954. 31 f. Fotocópia. Impresso. Carimbo da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres
dos Montes Guararapes.
26,4,76
555. DEBRET, Jean Baptiste. Carta a Araújo Porto-Alegre sobre a relação de tra-
balhos feitos no Brasil, pelos quais nada receberá. Paris, 11/10/1844. 2 f. Cópia.
Manuscrito. Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos. Anotações
de Darci Damasceno.
26,4,79
248
558. BREVE notícia sobre Antônio José da Silva: [fragmentos]. [S. l.], [s. d.]. 6
f. Fotocópias. Manuscrito. Fotocópia de original existente na Biblioteca Nacional.
Ocorre a seguinte anotação de Darci Damasceno: “Ato 3º cena 2 e não ato 1º,
a emenda é do censor (H. 36).”
26,4,82
563. DIPLOMATIC archives of South America: [fragmento]. [S. l.], [s. d.]. 136-
143 p. Fotocópia. Impresso. Publicado em Latin-American Research Review.
249
568. SONHO poético. [S. l.], [s. d.]. 10 f. Fotocópias. Impresso. Anexas anotações
de Darci Damasceno. Cópia do documento da DMSS-BN da Biblioteca Nacional.
26,4,92
569. PÁGINAS de Gregório de Matos: [reproduções fotográficas]. [S. l.], [s. d.].
6 f. Cópia. Impresso.
26,4,93
250
571. ROSÁRIO, José Manuel do. Saudosas lágrimas de José Manuel do Rosário,
membro titular da Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro, pela sen-
tida morte do cirurgião João Álvares Carneiro, em 18/11/1837: [página de ros-
to]. Rio de Janeiro, 1837. 1 f. Fotocópia. Impresso. Cópia retirada de documento
da Biblioteca Nacional, trazendo a seguinte anotação de Darci Damasceno: III-
294,2,21 nº 7.
26,4,95
572. HYMNO para ser cantado na noite de Reis. Rio de Janeiro: Typ Imparcial
de Brito, [s. d.]. 1 f. Fotocópia. Impresso. Fotocópia retirada de documento da
Biblioteca Nacional. Anotação de Darci Damasceno, III-294,2,27 nº 11.
26,4,96
573. ORAÇÃO ao glorioso S. Antônio no seu santo dia para que nos livre dos
males que os abusos da terra nos ameaça. Rio de Janeiro, 1853. 1 f. Fotocópia
retirada de um documento da Biblioteca Nacional, traz anotações de Darci
Damasceno dizendo: III-294,2,21 nº 14.
26,4,97
574. CARDOSO NETTO, José. Boas festas que José Cardoso Netto dedica aos
dignissimos assignantes do Periódico dos Pobres. [S. l.], [Rio de Janeiro]: Typ de
A. M. Morando, [s. d.]. 1 f. Fotocópia. Impresso. Fotocópia retirada de um docu-
mento da Biblioteca Nacional. Notas de Darci Damasceno dizendo: III-294,2,21
nº 16. Era o entregador do jornal aos assinantes. Bem tipico, o vol, de certa for-
ma de pedido de festas.
26,4,98
251
anexo folha com a seguinte anotação: “Falta o texto: copiá-lo. Mas não é parali-
teratura, só pela edição (folheto). Traz a primeira e a última página do folheto;
a elegia termina com o soneto.”
26,4,100
577. COSTA, José Daniel Rodrigues da. Papéis contra papéis, ou Queixas de
Apollo para açoute de máos poetas. Lisboa: Simão Thaddeo Ferreira, 1820. 2 f.
Fotocópia. Impresso. Fotocópia retirada de um documento da Biblioteca Nacio-
nal, com as seguintes anotações de Darci Damasceno: “III-294,2,21 nº 4 é a úl-
tima folha de rosto e última página, falta o texto.” Em anexo folha com notas.
26,4,101
581. ALDEN, Dauril. Royal Government in Colonial Brazil: with special referen-
ce to the administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779: [tre-
cho relativo ao fabrico do anil]. Berkeley: Univ. of California Press, 1968. 9 f.
Fotocópia. Impresso. Fotocópia de páginas avulsas da obra.
26,4,105
582. BREU, Jerônimo Vieira de. Brevissima instrução para uso dos fabricantes
de anil nas colonias de Sua Magestade Fidelissima. [S. l.], 1785. 41,2,6 f. Repro-
dução fotográfica. Impresso. Reprodução de originais existentes na Biblioteca
Nacional. Consta de 41 pranchas, sendo 18 de estampas. Em anexo duas fo-
252
583. FEIJÓ, J. da Silva. Memória sobre a fábrica real do anil da Ilha de Santo
Antão: [fragmentos]. [Lisboa], [s. no], 1789. 8 f. Fotocópia. Impresso. Fotocópia
de trecho das Memórias Econômicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa.
T. I, 1789. Contém anotações de Darci Damasceno, dizendo que o texto foi es-
crito em data próxima a 1789.
26,4,107
584. [L’ARTE di Fare l’ anil]. [S. l.][s. no], 17..? 4 p. Fotocópia. Impresso. Em
italiano.
26,4,108
253
591. ALDEN, Dauril. The growth and decline of indigo production in colonial
Brazil: A study in comparative economic history. The Journal of Economic History,
nº 25, mar. 1965, pp. 35-60. [S. l.], 1965. 26 f. Fotocópia. Impresso. Anotações
de Darci Damasceno. Em anexo um envelope.
26,4,115
594. MELLO, Francisco. Mapa da expedição botânica que por ordem do Il.mo
Ex.mo senhor Vice Rey, se achão empregados em serviço de S. Magestade: das
praças que existem... [1788]. 2 f. Fotocópia. Manuscrito. Fotocópia retirada do
documento I-32,12,13 existente na DMSS-BN.
26,4,118
595. ELOGIO recitado pela atriz Ludovina Soares da Costa no dia do seu bene-
fício no Teatro da Praia de D. Manuel, aos 22/9/1835: [fotocópia de manuscrito].
[S. l.], [s. d.]. 4 p. Fotocópia. Impresso. Original da Coleção Carvalho. Contém
anotação de Darci Damasceno dizendo existir outra cópia da Biblioteca Nacional.
26,4,119
254
598. ELOGIO a sua Alteza Real, o Príncipe Regente Nosso Senhor: recitado no
Teatro do Rio de Janeiro. [S. l.], [s. d.]. Fotocópia. Impresso. Fotocópia de manus-
crito de 1813 existente na Biblioteca Nacional.
26,4,121
599. LIMA, José Joaquim Lopes de. Os corcundas do Porto: farça em verso com
o himno anti-corcundal. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1821. 12 p. Foto-
cópia. Impresso. Fotocópia de original existente na Biblioteca Nacional.
26,4,122
600. O VOVÔ Coió ou A Roça dos doidos: farça interessante: por hum curio-
zo. Rio de Janeiro: Na Typographia Imparcial de Brito, 1836. 12 f. Fotocópia.
Impresso. Fotocópia de original existente na Biblioteca Nacional.
26,4,123
255
605. MAIA, Manuel Rodrigues. Manuel Mendes: farça. Rio de Janeiro: Emp.
Typ. Dous de Dezembro, 1856. 26 f. Fotocópia. Impresso. Fotocópia de origi-
nal na Biblioteca Nacional.
26,4,128
256
sentado pela inauguração do Hospital de São Lázaro, a 21/8/1787]. [S. l.], [1787].
36 f. Fotocópia. Impresso. Em francês/italiano. O manuscrito contém também
poemas sob os títulos: “Sonetti in versi italiani al mesmo objetto” e “Ode en vers
françois au même sujet”.
26,4,133
611. [COMÉDIA em 4 atos]. [S. l.], [s. d.]. 71 f. Fotocópia. Impresso. Ocorrem
anotações de Darci Damasceno, dizendo que a comédia está incompleta. Faltam
as folhas de título, a do Ato 1, a do começo da 1ª cena, a do final da cena 10 e
várias do final da peça.
26,4,134
612. SAMPAIO, Albino Forjaz de. Teatro de cordel: catálogo da coleção do au-
tor: [trecho]. Lisboa. [S. no], 1920. 6 f. Fotocópia. Impresso. Ocorrem anotações
de Darci Damasceno: “Falta a cópia do repertório, que é quase todo o livro.”
26,4,135
257
618. BOOK of Hours: latin and french. [S. l.], [s. d.]. 12 p. Fotocópias. Impresso.
Em inglês.
26,4,141
620. MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Para uma história social seriada da cidade
do Salvador no século XIX: os testamentos e inventário com fontes de estudos
da estrutura e de mentalidades. Bahia, [1990-81?]. 17 f. Fotocópia. Impresso.
Contém anotações manuscritas de Darci Damasceno, estabelecendo a data prová-
vel do artigo e afirmando que a fonte é uma publicação oficial do Arquivo da
Bahia.
26,4,143
622. LAVRADIO, Luís de Almeida Soares Portugal Alarcão Eça Melo Silva e
Mascarenhas, marquês do. Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Rio de
Janeiro, entregando o governo a Luís de Vasconcellos e Souza, que o sucedeu no
vice-reinado. Rio de Janeiro, 1843. 4 f. Fotocópia. Impresso. O relatório foi escri-
to em 19/6/1779. Artigo publicado na Revista Trimensal de História e Geografia
ou Jornal do IHGB, nº 16, janeiro de 1843. Nota de Darci Damasceno: RIHGB,
Tomo IV.
26,4,145
258
625. RELAÇÃO das sesmarias da Capitania do Rio de Janeiro, extraída dos livros
de sesmarias e registros do cartório do tabelião Antônio Teixeira de Carvalho. De
1565 a 1796. [Rio de Janeiro], [s. d.]. 31 f. Fotocópia. Impresso. Fotocópia de
trecho de uma revista trimestral do Instituto Histórico.
26,4,148
626. VELOSO, José Marianno da Conceição, frei. Flora alographica das hervas
contheúdas nesta obra e de outras do Brazil, cuja incineração póde dar huma
maior abundancia do Alkali fixo vegetal, ou Potassa: enriquecida com estampas:
debaixo dos auspicios e de ordem de sua Alteza Real o Principe do Brazil Nosso
Senhor. [S. l.], [s. no], [s. d.]. 44 f. Fotocópia. Impresso.
26,4,149
259
630. ÍNDICE Geral alphabetico dos vinte primeiros volumes dos Annaes da
Bibliotheca Nacional. [S. l.], [s. d.]. 11 f. Fotocópia. Impresso.
26,4,153
631. ÍNDICE dos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: [vols. 1-60].
[S. l.], [s. d.]. Fotocópia. Impresso.
26,4,154
633. CATÁLOGO dos livros que comprei à Preta Joaquina, herdeira e testa-
menteira do falecido dr. Manuel Ignácio da Silva Alvarenga (...). [S. l.], [s. d.].
25 f. Fotocópia. Impresso. Xerox retirada de documentos do Arquivo Público
Nacional. Contém anotações de Darci Damasceno “Por letra de Manuel Joaquim
da Silva Porto”; “(M. Inácio da S. Alvarenga) morreu em novembro de 1814”.
26,4,156
634. ABREU, Casimiro de. Carta a Manuel Antônio Rodrigues Machado sobre
a desavença entre o destinatário e o pai do autor: cópia. [S. l.], 23/4/1860. 2 f.
Cópia. Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno. Carimbo da Biblioteca
Nacional, Divisão de Manuscritos.
26,4,157
260
637. ABREU, Casimiro de. Carta a destinatário tratado pelo missivista como
“My dear”, referente a assuntos pessoais. Rio de Janeiro, 25/7/1859. 1 f. Cópia.
Manuscrito. Anotações de Darci Damasceno. Carimbo da Biblioteca Nacional,
Divisão de Manuscritos. Documento original na Divisão de Manuscritos. Corres-
pondência avulsa – A.
26,4,160
638. ABREU, Casimiro de. Carta que acompanha o envio de obras do autor a
destinatário desconhecido: cópia. Rio de Janeiro, [27/10/1859]. 2 f. Cópia. Ma-
nuscrito. Anotações de Darci Damasceno. Carimbo da Biblioteca Nacional, Di-
visão de Manuscritos. Original na Divisão de Manuscritos. Correspondência
avulsa – A.
26,4,161
639. ABREU, Casimiro de. Carta a sua irmã tratando de assuntos pessoais. Rio
de Janeiro, 6/2/1859. 2 f. Cópia. Manuscritos. Carimbo da Biblioteca Nacional.
Anotações de Darci Damasceno. Original na Divisão de Manuscritos. Corres-
pondência avulsa – A.
26,4,162
640. ABREU, Casimiro de. Poema autógrafo de Casimiro de Abreu: cópia. [S.
l.], [s. d.]. 3 f. Cópia. Manuscrito. Carimbo da Biblioteca Nacional. Anotações
de Darci Damasceno. 2 cópias, sendo que uma incompleta.
26,4,163
641. ABREU, Casimiro de. Carta a Antônio Fernandes Camacho pedindo que
lhe envie roupas e material de escrita: cópia. [S. l.], 27/4/1860. 2 f. Cópia.
Manuscrito. Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos. Original
in I-4,7,57.
26,4,164
261
643. BARBOSA, Domingos Caldas. Versos ao conde de Oeiras: cópia. [S. l.], [s.
d.]. 1 f. Cópia. Manuscrito. Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manus-
critos. Anotações de Darci Damasceno.
26,4,166
644. AZEVEDO, Álvares de. Carta a sua mãe com um poema autógrafo “A mi-
nha mãe”: cópia. São Paulo, 6/6/s. a. 3 f. Cópia. Manuscrito. Carimbo da Biblioteca
Nacional. Anotações de Darci Damasceno. Original na Divisão de Manuscritos,
I-9,5,66.
26,4,167
646. COSTA, Cláudio Manuel da. Carta a Luís Antônio de Sousa informando
sobre o envio de um volume de suas obras e um exemplar da oração escrita pelo
seu irmão José Antônio de Alvarenga: cópia. Vila Rica, 21/5/1771. 2 f. Fotocópia.
Manuscrito. Cópia do original da Coleção Morgado de Mateus, localizado em
I-30,10,29. Com anotações de Darci Damasceno. Duas cópias.
26,4,169
647. AZEVEDO, Álvares de. Carta a sua mãe sobre a vida cotidiana e seu esta-
do de espírito: cópia. São Paulo, 3/5/1851. 2 f. Cópia. Manuscrito. Carimbo da
Biblioteca Nacional. Anotações de Darci Damasceno. Original na Divisão de
Manuscritos, I- 9,5,65.
26,4,170
648. ABREU, Casimiro de. Carta a Cristóvão Corrêa e Castro sobre sua obra e
da saudade dos amigos: cópia. Rio de Janeiro, 1/4/1859. 3 f. Cópia. Manuscrito.
Anotações de Darci Damasceno. Carimbo da Biblioteca Nacional. Original na
Divisão de Manuscritos, I,9,5,4.
26,4,171
262
655. ARCOS, conde dos. Ofício para o conde da Barca sobre a necessidade de
recolher todos os exemplares da obra O preto e o bugio no mato, considerada anti-
política. Bahia, 3/3/1814. 1 f. Cópia. Manuscrito. Anotações de Darci Damas-
ceno. Carimbo da Biblioteca Nacional, Divisão de Manuscritos.
26,4,178
263
656. MONANCHIA Monogynia – Cana: Pacó seróca. [S. l.], [s. d.]. 1 f.
Reprodução fotográfica. Impresso.
F OTO G R A F I A S
Datas-limite: 1917-1964
Quantificação: 22 documentos
658. CECÍLIA Meireles chegando ao aeroporto de Nova Déli. Nova Déli, [1953].
12x18cm. Foto. Registro patrimonial: 940.152-26/12/1997-D. 1 foto: gelatina,
p&b.
1,1,16 nº 2
659. CECÍLIA Meireles entre as décadas de 10 e 20: individuais. [S. l.], [1918-
192-]. 17x12cm a 25x18cm. Registro patrimonial: 940.153/156-26/12/1997-
D. 4 fotos: gelatina, p&b.
1,1,16 nos 3-6
660. CECÍLIA Meireles na década de 30: individuais. [S. l.], [193..]. 17x12cm
a 23x17cm. Registro patrimonial: 940.157/159-26/12/1997-D. 3 fotos: gelati-
na, p&b.
1,1,16 nºs 7-9
661. CECÍLIA Meireles entre as décadas de 40 e 50: individuais. [S. l.], [194- a
195-]. 9x13cm a 31x22cm. Fotos. Registro patrimonial: 940.160/166-
26/12/1997-D. 7 fotos: gelatina, p&b.
1,1,16 nos 10-16
264
662. CECÍLIA Meireles na década de 60: individual. [S. l.], [196-]. 11x8cm a
21x14cm. Fotos. Registro patrimonial: 940.167/174-26/12/1997-D. 8 fotos:
gelatina, p&b.
1,1,16 nºs 17-24
663. PÔSTER de Cecília Meireles: adulta, rosto de perfil. [S. l.], [195-]. 30x23cm.
1,1,16 nº 25
664. CASA onde nasceu Cecília Meireles na Tijuca: fachada da casa de frente e
lado, de lado e fundos. Sobrado sobre um açougue na antiga Rua São Luís, esqui-
na da Rua Colina, perto da Haddock Lobo. [Rio de Janeiro], [19–]. 9x9cm.
Fotos. Registro patrimonial: 940.176/179-26/12/1997-D. 4 fotos: gelatina, p&b.
1,1,17 nos 1-4
665. CECÍLIA Meireles com o primeiro marido Fernando Correia Dias. [S. l.],
[1931]. 9x6cm. Foto. Registro patrimonial: 940.180-26/12/1997-D. 1 foto:
gelatina, p&b.
1,1,17 nº 5
666. CECÍLIA Meireles e sua filha Maria Elvira, ainda de colo, no jardim da
casa de Fernando Correia Dias. [Rio de Janeiro], [192-]. 12x9cm a 18x13cm.
Fotos. Registro patrimonial: 940.181/184-26/12/1997-D. 4 fotos: gelatina, p&b.
1,1,17 nºs 6-9
667. CECÍLIA Meireles e sua filha Maria Fernanda, sentadas em um jardim. [S.
l.], [196-]. 13x18cm. Foto. Registro patrimonial: 940.185-26/12/1997-D. 1 foto:
gelatina, p&b.
1,1,17 nº 10
668. CECÍLIA Meireles com o segundo marido, Heitor Grillo, em viagem aos
Estados Unidos. Estados Unidos, [1940]. 18x13cm. Foto. Registro patrimonial:
940.186-26/12/1997-D. 1 foto: gelatina, p&b.
1,1,17 nº 11
669. CASA de Cecília Meireles: fachada da casa no Cosme Velho, residência após
o segundo casamento até sua morte. [194- e 1964]. 14x18cm. Foto. Registro
patrimonial: 940.187-26/12/1997-D. 1 foto: gelatina, p&b.
1,1,17 nº 12
265
674. MANUEL Antônio de Almeida. [S. l.], [18–]. 13x9cm. Foto. Registro patri-
monial: 940.195-26/12/1997-D. 1 foto: gelatina, p&b.
1,1,17 nº 20
676. ENCADERNAÇÃO da peça Quem porfia mata caça, Teatro Martins Pena.
[Rio de Janeiro], [19–]. 18x24cm. Fotos. Registro patrimonial: 940.197/198-
26/12/1997-D. 2 fotos: gelatina, p&b.
1,1,17 nºs 22-23
266
I M P R E S S O S – L I V RO S
Datas-limite: 1961-1973
Quantificação: 7 documentos
267
ÍNDICE ONOMASTICO
ABREU, Casimiro de
634, 637, 638, 639, 640, 641, 648
AFFONSO, Rui
457
ALDEN, Dauril
581, 590, 591
ALENCAR, José de
550
268
AYALA, Walmir
64, 65
AZEVEDO, Álvares de
644, 647
AZEVEDO, Fernando de
491, 492
AZEVEDO, J. V. R. de
602, 603
BAENA
242
BARATA, Mário
130
269
BÁRBARA HELIODORA
116, 533
BARBOSA, J. da C.
390
BARROSO, Gustavo
636
BATAILLON, Marcel
425
BERRIEN, William
494
BONFIM, Beatriz
111
BOSI, Alfredo
454
BOWERS, Fredson
427
BRAGA, Teófilo
614
270
BROCA, Brito
115
CAMBARA, Isa
85
CANDIDO, Antonio
546
CHAMIE, Mário
57
271
CONCEIÇÃO, F. C. da
604
COSTA, Maurício da
199
CUNHA, Waldir da
143
DAMASCENO, Darci
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24,
25, 26, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 123, 124, 125, 143, 144, 149, 154,
155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169,
170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184,
185, 186, 187, 188, 190, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 200, 201, 203, 204,
205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 213, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 220,
221, 222, 223, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 230, 231, 232, 233, 234, 235,
236, 237, 238, 239, 240, 241, 243, 244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251,
252, 253, 254, 256, 257, 258, 259, 260, 261, 262, 263, 264, 265, 266, 267,
268, 269, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278, 279, 280, 281, 282,
283, 284, 285, 286, 287, 288, 289, 290, 291, 292, 293, 294, 295, 296, 297,
298, 299, 300, 301, 302, 303, 304, 305, 306, 307, 308, 309, 310, 311, 312,
313, 314, 315, 316, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324, 325, 326, 327,
272
328, 329, 330, 331, 332, 333, 334, 335, 336, 337, 338, 339, 340, 341, 342,
343, 344, 345, 346, 347, 348, 349, 350, 351, 352, 353, 354, 355, 356, 357,
358, 359, 360, 361, 362, 363, 365, 366, 367, 368, 370, 371, 373, 374, 375,
376, 377, 378, 379, 380, 381, 382, 383, 384, 385, 408, 466, 547, 548, 681
DANTAS, Ondina
54
DIAS, Roberto
31
DIFFIE, Bailey W.
627
DIMAS, Antônio
29, 30
DONATO, Ernesto
561
DUARTE, Afonso
505
FEIJÓ, J. da Silva
583
273
FERREIRA, Múcio P.
452
FUNARTE
26
GARBUGLIO, José C.
461
GÓIS, Damião de
426
GRILLO, Heitor
2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21
GROPPER, Symona
38
GUINSBURG, J.
462
IGEL, Regina
103
JAKOBSON, Roman
447
274
LA VALE, Meireles
66
LAVRADIO, Luís de Almeida Soares Portugal Alarcão Eça Melo Silva e Mas-
carenhas, marquês do
622
LEMME, Pascoal
80
LEMOS, Tite de
100
LOPES, Antônio
45
LOPES, Roberto
680
MACEDO, Diogo de
506, 507
275
MACHMAN, Flora
59
MACKSEN, Luís
109
MAGALHÃES JÚNIOR, R.
127
MAGALHÃES, Augusto
484
MALFATTI, Anita
501
MARIA FERNANDA
36
MARTINS, Wilson
39, 42, 43, 88, 97, 98, 99
MATOS, Eusébio de
412
MATOS, Gregório de
386, 387, 388, 389, 413, 414, 416, 417, 418, 428, 429, 437, 441, 442
MEIRELES, Cecília
53, 74, 79, 95, 443, 445, 446, 448, 449, 463, 464, 465, 467, 468, 469, 470,
471, 472, 473, 474, 475, 477, 478, 482, 483, 485, 567, 684
276
MELLO, Francisco
594
MELO, Veríssimo de
121
MENEZES, Djacir
91
MENEZES, Fagundes de
102
MEYER, Augusto
84, 479, 480, 481, 486, 487, 488
MICHAILOWSKY, P.
489
MONTE-MOR, Janice de Mello
23
MONTELLO, Josué
110, 112
MURICY, Andrade
83
NAVARRO, E.
86
277
NIST, John
451
NUNES, Cassiano
117
OLIVEIRA, Marly de
55, 93, 458
PACHECO, Félix
635
PALMA-FERREIRA, João
679
PARKER, John M.
120
PENA, Martins
108, 516, 517, 518, 519, 520, 521, 522, 523, 524, 525, 526, 527, 528, 529,
530, 531, 535
278
PÉREZ, Renard
61
PIMENTEL, Osmar
460
POMPÉIA, Raul
364
PONTES, Cruz
136
QUEIROZ, Carlos
495
REIS, Floriano
25
REYES, Alfonso
502
RICARDO, Cassiano
476
279
RODRIGUEZ-MOÑINO, Antônio
425
RÓNAI, Paulo
37
SANTIAGO, Silviano
551
SENA, Jorge de
455
SERPA, Alberto de
508, 509, 510, 511, 512
280
SILVEIRA, Miroel
513
SZENES, Arpad
76
TORRE, Guillermo de
122
TRIGO, Luciano
48
ÚRSULA C.
22
VERGARA, Telmo
493
281
WEHLING, Arno
371
Í N D I C E T E M AT I C O
282
283
284
Autógrafos brasileiros
74, 358
Autoria
272, 330
Bahia – Bibliografia
243
285
Botânica – Brasil
145, 146
Botânica – Estampas
656
286
Bragança (Família)
201
Brasil – Botânica
143, 145
Brasil – Flora
143, 626
Brasil – História
322
287
Cana-de-açúcar – Estampas
656
Censura – Brasil
179
288
Comédia – História
333
Crítica textual
230
289
Crônicas brasileiras
53, 84, 445, 448, 449, 463, 464
Educação – Brasil
80, 87
290
Ficção brasileira
474, 616
Flora fluminense
143, 150, 151, 152, 153, 626
Flora – Brasil
143, 145, 146, 150, 151, 152, 153, 626
Genealogia – Bibliografia
163
Genealogia – Portugal
201
Gravuras
135
291
Heráldica – Portugal
201
Ilustração de livros
71, 73, 114
Imprensa – História
185
Índia na literatura
50
Índia – Periódicos
72
292
Leilões de livros
632
Literatura brasileira
59, 412, 443
293
Literatura – Bibliografia
161, 215
294
Livreiros – Catálogos
104, 118, 580
Livros de horas
618
Manuscritos medievais
618, 619
Manuscritos – Catálogos
564
295
296
297
Michailowsky, P. – Correspondência
489
298
Orientalismo na literatura
92
299
Pinho, A. de – Retratos
113
300
Poesia brasileira
79, 154, 156, 157, 158, 386, 387, 388, 389, 405, 406, 413, 414, 415, 416, 417,
418, 419, 423, 433, 434, 435, 439, 442, 443, 444, 446, 450, 451, 465, 467,
468, 475, 477, 478, 483, 485, 568, 570, 572, 578, 610, 640, 645, 683, 684
Poesia italiana
106
Poesia portuguesa
685
301
Poesia religiosa
573, 576
302
303
Romantismo (Literatura)
353
304
Romantismo – História
354
Santos, Noronha
133
305
Teatro brasileiro
181
Teatro – Bibliografia
178, 184
306
Teatro – História
182, 183, 187, 324, 332, 333
307
Preciosidades do Acervo
As xilogravuras do artista alemão Albrecht Dürer
A
Fundação Biblioteca Nacional tem em seu acervo iconográfico uma
preciosa coleção de mais de meia centena de xilogravuras do renas-
centista alemão Albrecht Dürer (1471-1528). Nos últimos anos, rea-
lizou-se meticulosa pesquisa sobre cada uma das peças dessa coleção com o
objetivo de estabelecer suas respectivas autenticidade e ancianidade, o que tor-
na possível incluir a coleção na catalogação internacional. Em razão do seu
ineditismo no Brasil e, sobretudo, pela dependência de comparação com peças
autênticas que estão disponíveis somente no exterior, o trabalho durou qua-
tro anos, sendo finalizado em 2002, rendendo à autora o grau de doutoramen-
to na matéria.
A grande maioria das xilogravuras de Albrecht Dürer que integram o acervo
da Biblioteca Nacional origina-se das séries formadoras dos “três grandes livros”
de Dürer: O Apocalipse de São João, A Grande Paixão e A Vida da Virgem; e da
série formadora de um pequeno livro, denominada A Pequena Paixão. A investiga-
ção deteve-se primeiramente na qualidade de impressão de cada peça, a que se
seguiu minucioso exame da qualidade do papel e respectiva marca d’água. A aná-
lise propriamente dita examina as xilogravuras com lentes microscópicas, lâmpa-
da ultravioleta e, logo após, as fotografa sob infravermelho, a fim de comprovar
cientificamente cada passo do exame técnico.
Nascida das miniaturas flamengas, a xilografia na Alemanha foi formadora de
uma exclusividade artística que desencadeou a evolução das formas compositi-
vas de uma maneira muito ampla, clara e precisa, sendo a que primeiro alcançou
progresso artístico no século XV alemão. Textos medievais como Ars Moriendi,
Speculum humanae salvationis, entre outros, puderam ser complementados por
imagens, graças ao advento da impressão por Gutemberg em 1455.
312
313
314
315
vuras em madeira que levam seu nome, tanto mais que a gravura em madeira é
um trabalho extremamente lento e puramente mecânico e, por conseqüência, in-
compatível com a impetuosidade do gênio e as ocupações nobres de um mestre
como Albrecht Dürer.
Bartsch diz que é possível es-
clarecer esta dúvida, pois, para ele,
Dürer definitivamente não prati-
cava a xilografia. O principal ar-
gumento do estudioso é o fato do
nome de Dürer aparecer sempre
com o epíteto de “pintor”, “dese-
nhista”, “editor de gravuras em
madeira”; nunca como “gravador”.
Ainda segundo Bartsch2, Jean
Neudorffer, que publicou em 1547
uma curta biografia de Dürer, disse
expressamente que Hieronymus
Resch foi quem escavou a maior
parte dos desenhos de Dürer nas
madeiras. Portanto, conclui-se que
peças que se distinguem por uma
bela execução pertencem a este
gravador de madeira e que as ou-
tras, às vezes nem sempre tão ela-
boradas, provêm de diferentes
gravadores.
Panofsky3 conta que enquanto
Dürer trabalhava na oficina de edi-
DÜRER, Albrecht. Reverso da estampa O anjo que
tores, nos primeiros anos de car-
tem a chave do abismo. O exemplar da Biblioteca Na-
reira, não talhava pessoalmente seus cional apresenta no reverso uma crucificação impressa
desenhos, já que esta tarefa fazia a sangüínea e uma madona orando, desenhada a lápis.
parte de um esquema divisor de tra-
balhos. No entanto, muitas vezes o fez, para se familiarizar com o processo técnico
e, sobretudo, a fim de demonstrar a força de suas intenções para os talhadores profis-
sionais, muito embora não lhe coubesse tal obrigação. Com o tempo, formou sua
própria equipe de talhadores que contava com uma nova geração de artesãos, como
era o caso de Hieronymus Andreae, chamado de “Formschneyder”, que talhou a
maior parte das xilogravuras de Dürer em meados de 1515.
316
À ESQUERDA: DÜRER, Albrecht. Cristo carrega a cruz. Xilogravura. Sexta imagem da série
A Grande Paixão. Texto em latim no reverso.
À DIREITA: DÜRER, Albrecht. Reverso da estampa Cristo carrega a cruz. Texto em latim im-
presso em folha contendo arabescos incógnitos, acumulados sobretudo no rodapé, em bistre.
317
***
318
319
Para definir uma filigrana, é necessário fazer uma comparação entre as dispo-
níveis, pois, em muitos papéis, a marca é indistinta, mal vista, e às vezes um
pouco apagada, conforme a maneira que se encontra estampada.
Não se conhece o motivo que levou ao emprego das filigranas. É possível que a
mesma marca tenha sido usada simultaneamente por muitas oficinas, tanto que
era comum o aparecimento de contrafações das marcas mais em voga na época.
Mas as contrafações, a julgar pelos casos conhecidos, não tinham uma identida-
de absoluta com o modelo padrão dos desenhos e não passavam de simples imi-
tações, por vezes assaz grosseiras. E ainda, quando uma marca era muitas vezes
contrafeita, e acabava por se tornar banal, cada papeleiro a reforçava de uma
maneira particular ou a fazia acompanhar de um signo distintivo que permitia a
ele reconhecer seus próprios produtos.
Quanto à qualidade das impressões, de maneira geral, as matrizes de madeira
de Dürer foram expostas a todo tipo de danos em conseqüência da utilização de-
masiada, e da má conservação, tanto que hoje em dia pouquíssimas conseguiram
atravessar a história. A irregularidade das impressões, resultantes de fendas, la-
cunas e da dilapidação causadas por carunchos, fez com que algumas matrizes
fossem corrigidas ao longo do tempo de maneira habilidosa, mas outras nem tan-
to. Naturalmente estes danos tornaram-se visíveis e reconhecíveis. Casos de li-
nhas duplicadas podem ser explicados pelo deslocamento do papel durante o
processo da impressão. Estas duplicações podem ter sido efeito da tensão excessi-
va da prensa, que tonalizou somente algumas partes, deixando a impressão desigual.
Ao serem duplicadas, as linhas que seriam difíceis de enxergar dão a falsa impres-
são de serem fortes. Estampas excessivamente claras são causadas pela exaustão
da tiragem. Em outros casos, são resultantes de uma limpeza não homogênea, de
modo que algumas partes deixam de ser atingidas pela impressão, tais como as
áreas de finas camadas de tinta ou mesmo as áreas vazias.
Outro dano comum às impressões foi causado pela tesoura, usada com o obje-
tivo de eliminar completamente manchas de sujeira ou rasgões. Este procedimen-
to ocorreu também no caso de blocos com molduras largas, cujo entintamento
de forma descuidada produzia linhas de borda borradas que tinham de ser endirei-
tadas e, portanto, acabavam por tornarem-se “estreitas”.
As estampas do acervo da Biblioteca Nacional foram rigorosamente obser-
vadas, sendo permanentemente re-conferidas em seus detalhes diante do próprio
livro fac-símile9 da primeira edição de 1511 dos “três grandes livros” de Dürer
(O Apocalipse, A Grande Paixão e A Vida da Virgem), que serviram de modelo
de impressão; foram também importantíssimos os vários estágios feitos no exte-
rior, onde foi possível lidar com as peças originais das coleções européias, e, prin-
320
N OTA S :
1 – BARTSCH, Adam von. Le peintre graveur, les vieux maitres allemands, vol. VII,
2nd partie, A. Dürer, Leipzig, Imprimerie de C.W. Vollrath, 1866, p. 7.
2 – BARTSCH, Adam von. Op. Cit. ps. 8,9,10.
3 – PANOFSKY, Erwin: Albrecht Dürer, vol. I, Princeton, 1945, p.46.
4 – BARTSCH. Adam vonBartsch, idem, p. 12.
5 – BARTSCH, Adam von. Op. Cit., vol . VII, nota 9, p. 26.
6 – Apud (catálogo) Albrecht Dürer : Woodcuts and Woodblocks, Edited by Walter
Strauss, Abaris Books, New York, 1980, p. 620.
7 – Bistre: mistura de fuligem e goma, empregada em desenho e pintura.
8 – Publicado sob a direção de João Saldanha da Gama, Rio de Janeiro, G. Leuzinger e
Filhos, 1885, p.578 a 678.
9 – Fax simile der Originalausgaben – Nürnberg 1511 Die Drei Grossen Bücher:
Marien Leben; Grosse Passion; Apokalypse, Herausgegeben und Kommentiert
von Matthias Mende Anna Scherbaum, Rainer Schoch, Verlag Dr. Alfons Ühl,
Nördlingen, 2001.
Relatório da Presidência
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 322
miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm 3/22/07 3:27 PM Page 323
I - P L A N E J A M E N TO E A D M I N I S T R A ² AO
1. Orçamento
A
Fundação Biblioteca Nacional contou, no exercício de 1999, com orça-
mento de R$ 24.603.613,00 (vinte e quatro milhões, seiscentos e três
mil, seiscentos e treze reais), dos quais R$ 16.693.207,00 (dezesseis mi-
lhões, seiscentos e noventa e três mil, duzentos e sete reais) foram destinados às
despesas com Pessoal e Encargos Sociais e R$ 7.910.406,00 (sete milhões, nove-
centos e dez mil, quatrocentos e seis reais) para gastos com Outras Despesas
Correntes e Capital.
Desenvolvemos projetos em parceria com outras instituições, dentre os quais des-
tacamos: Formação de Núcleos Promotores de Ações na Área da Leitura, com o
Ministério da Educação e Cultura/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa-
ção, no valor de R$ 300 mil (trezentos mil reais); Programa de Bolsas de Apoio à
Tradução de Obras de Autores Brasileiros em outros Idiomas; Revitalização de Acervos
da FBN; Implantação da Biblioteca Virtual e Análise Técnica de Projetos Culturais,
com o Ministério da Cultura, no valor de R$ 292.213,00 (duzentos e noventa e
dois mil duzentos e treze reais); e IV Concurso Os Melhores Programas de Incentivo
à Leitura junto a Crianças e Jovens de Todo o Brasil e Dicionário Cravo Albin, com
o Ministério da Cultura, no valor de R$ 140 mil (cento e quarenta mil reais).
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T O T A L ................................................................................R$ 25.335.826
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2. Arquitetura
I I A B I B L I OT E C A
A) REFERÊNCIA E DIFUSÃO
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1º Andar de Obras Gerais, com mais de 120 mil peças levantadas, beneficiou o
atendimento, reduzindo o tempo de espera do leitor. Considerado o mais com-
plexo inventário do acervo, pois nesse andar as obras eram arquivadas de acordo
com o número de classificação, o projeto permitiu transformar a localização pro-
visória em localização fixa, readequar as “coleções incompletas”, identificar as
obras raras, transferindo-as para o setor adequado e, também, as obras estrangeiras
para as áreas devidas.
Embora seja reconhecida a melhoria dos serviços prestados ao público, ainda
é necessária a qualificação das áreas de pesquisas, mediante investimentos em tec-
nologias de transferência da informação e criação de novos suportes da informa-
ção que contribuam para a preservação dos originais e agilidade das pesquisas.
Para divulgar o acervo, o Departamento de Referência e Difusão desenvolveu
importantes projetos de resgate e divulgação de acervos históricos, por meio de
edições especiais ou de exposições. O projeto O Brasil e os Holandeses, com o
apoio financeiro do Banco Real, possibilitou a restauração da obra de Gaspar Barléus,
que registra a invasão holandesa no Brasil durante o governo de Maurício de Nassau.
O projeto editou também o livro de arte O Brasil e os holandeses e o CD-Rom inte-
rativo com a edição fac-similar do livro de Gaspar Barléus, além de apresentar as
metodologias de restauração da obra. Vale registar que o livro O Brasil e os holande-
ses, publicado em português, inglês e holandês, foi considerado, pelos jornais O
Globo e Jornal do Brasil, uma das melhores publicações destinadas a comemorar os
500 anos do descobrimento do Brasil. A obra de Barléus, incluindo-se 55 pran-
chas de Frans Post, foi exposta na sede do Banco Real, em São Paulo e Belo Horizonte,
e no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Em outra importante parceria, esta com a Prefeitura da Cidade do Rio de Ja-
neiro, a Biblioteca Nacional, por meio do Departamento de Referência e Difusão,
emprestou gravuras do seu acervo das coleções Albrecht Dürer (1471-1528),
Oswaldo Goeldi (1895 e Giovanni Piranesi (1720-1778) para a Mostra Rio Gra-
vura, promovida pela Rio Arte. Com esta parceria, a Biblioteca Nacional recebeu o
apoio financeiro necessário para restauração da coleção Piranesi e a doação de
uma máquina obturadora de papel, que foi instalada no Laboratório de Restau-
ração. Ainda em parceria com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, realizamos,
em agosto e setembro, a exposição Cordel: o Imaginário Popular, integrada ao
roteiro do evento Mês da Gravura.
Merecem destaque também as atividades programadas em conjunto com o
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro
e destinadas a celebrar os 50 anos da morte de Artur Ramos, um dos mais im-
portantes antropólogos brasileiros. Em dezembro, realizou-se o seminário Diário
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2 - Intercâmbio Técnico
3 - Cursos e Seminários
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4.4 Obras Raras: localização e identificação dos títulos de periódicos que com-
põem o acervo de obras raras, como também intercâmbio de informações sobre
esses periódicos entre diversas instituições, com 9.316 documentos processados
e 6.006 registros já automatizados; identificação e transferência de duplicatas dos
periódicos para o anexo, a fim de abrir espaço para as coleções principais; trans-
ferência de obras do século XVII, do armazém de Obras Gerais para a Diora e
334
4.5 Acervo Geral: esta área, por sua vez, incorporou 79.327 peças, assim distri-
buídas: 61.073 publicações seriadas, 17.955 livros e 299 obras de referência.
B ) P RO C E S S A M E N TO T É C N I C O
2 Serviços Bibliográficos
Em 1999 foram captadas 123.261 peças: 108.785 por meio da Lei do Depósito
Legal e 14.191 por doação e permuta, número que representou um aumento de
80% de títulos novos. O aumento resultou de cobrança sistemática junto às edi-
toras nacionais, boa parte das quais ainda não cumpre a lei. A mesma políti-
ca de cobrança foi adotada para o acervo de periódicos, o que ocasionou a ele-
vação de 40% de captação.
Também aumentou o recebimento de obras por doação ou permuta. A Funda-
ção Biblioteca Nacional mantém programa de permuta com 34 bibliotecas nacionais
de diversos países e 14 organismos internacionais. Obras editadas ou coeditadas pela
Fundação Biblioteca Nacional e duplicatas do acervo são enviadas a diversas insti-
tuições por este programa e, em contrapartida, recebidas inúmeras outras.
As principais doações foram feitas pela Livraria Francisco Alves Editora, e pe-
los responsáveis pelas coleções Eremildo Viana, marechal Rondon, Roland Cor-
busier, Assembléia Legislativa/RJ, Instituto Camões.
335
*Acervo recebido por meio de depósito legal, direitos autorais, compra, doação e permuta.
A Fundação Biblioteca Nacional adquiriu, por compra, 285 títulos, ação destina-
da a atualizar o acervo da Biblioteca Nacional com obras relevantes e não recebi-
das pelos meios descritos anteriormente. Com isso, procura-se garantir uma das
funções-fim desta Instituição, a de centro referencial nacional de informações
bibliográficas.
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Para resgatar a parte do acervo especializado ainda não disponível para os usuários,
implantou-se um programa de incorporação nas bases de dados da FBN. Para
tanto, foram processados tecnicamente acervos de inigualável importância históri-
ca para o país, tais como: periódicos raros do século XIX, livros iconográficos do
século XVI ao XIX, mapas antigos e raros e obras raras. A maior parte desse acer-
vo pertence à Real Biblioteca, que deu origem, no Brasil, à atual Biblioteca
Nacional.
Foi também ministrado curso de treinamento em Marc e Ortodocs visando
à implantação do processo técnico automatizado nas áreas de acervo especializa-
do: Música, Iconografia, Obras Raras e Material Cartográfico.
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Títulos processados:19.387
DESCRIÇÃO DAS BASES DE DADOS Total no ano 1999 Total de registros na base
Catálogo de Monografias 19.387 263.685
Catálogo de Editores 144 3.661
Autoridades Assuntos 5.060 15.273
Kardex de Periódicos 1.117 22.532*
Autoridades Nomes 33.956 48.929
* Os títulos já existentes na Base de Publicações Seriadas da FBN estão sendo eliminados da Base
Kardex de Periódicos. A base ficará apenas com títulos novos, seções especializadas e jornais.
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2 - Preservação
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Ampliações Fotográficas
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PROCESSAMENTO DE NEGATIVOS
Especificação Quantidade
120 241
135 26
Total 267
ACONDICIONAMENTO DE NEGATIVOS
Especificação Quantidade
120 2120
135 1537
120/cor 31
135/cor 630
120/cromo 20
135/cromo 48
Total 9.876
REPRODU²AO
Especificação Quantidade
120 199
135 06
120/cor 02
135/cor 03
120/cromo 04
135/cromo 01
Total 284
Obs: estes 284 filmes reproduzidos geraram 2.840 imagens do acervo em negativos de segunda geração.
344
vos sobre Papel, representante desta coordenadoria ministrou aula sobre Conser-
vação-Restauração, no Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais
Móveis, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Com apresentação de trabalho sobre acondicionamento de documento manus-
crito com selo pendente, um funcionário desta coordenadoria participou do
Encontro Internacional sobre Conservação do Patrimônio Histórico Espanhol,
em Santa Cruz de La Palma, Ilhas Canárias, Espanha. Técnicos do Centro de
Conservação & Encadernação e do Laboratório de Restauração integraram, na
Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio, workshop sobre encadernação e restaura-
ção de época, ministrado pelo professor Bernard Middleton, da Inglaterra. Houve
participação ainda destes técnicos em palestra e workshop dos conservadores/res-
tauradores espanhóis Pedro Barbachano e Ana Beny, na Associação Brasileira de
Encadernadores e Restauradores, em São Paulo.
E ainda: representante da Divisão de Conservação e Restauração proferiu palestra
sobre Encadernações Comerciais e de Época adotadas para os acervos de obras gerais
e raras da Biblioteca Nacional, na Universidade Federal de Minas Gerais. Aula so-
bre processos de microfilmagem foi ministrada por representante da Divisão de Mi-
crorreprodução, na Universidade Federal Fluminense. Técnicos da mesma divisão
participaram, em outubro, da XXII Exposição Internacional de Gerenciamento Ele-
trônico de Documentos, realizada em São Paulo, durante a Infoimagem/99.
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I I I - O L I V RO
1 - Promoção do Livro
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mance): Ana Maria Machado, com A audácia dessa mulher, Nova Fronteira. Júri:
Beatriz Resende, Domício Proença Filho e Flávio Loureiro.
Prêmio Mário de Andrade, para ensaio literário: Márcio Seligmann-Silva, com
Ler o livro do mundo, Walter Benjamin: Romantismo e crítica literária, Iluminuras.
Júri: Leyla Perrone-Moisés, Luiz Costa Lima e Paulo Roberto Pereira.
Prêmio Sérgio Buarque de Holanda, para ensaio social: Marilena Chaui, com
Nervura do real, Companhia das Letras. Júri: Maria Alice Rezende, Leandro
Konder e Renato Janine Ribeiro.
Prêmio Paulo Rónai, para tradução: tradutor Geraldo Holanda Cavalcanti,
com Poesias de Salvatore Quasimodo, Record. Júri: Alberto da Costa Silva, Autran
Dourado e Leonardo Visconti.
Prêmio Aloísio Magalhães, para projeto gráfico: designer Evelyn Grumach,
pelo conjunto de projetos gráficos realizados para a editora Civilização Brasileira.
Júri: Leonardo Visconti, Joaquim Redig e Geraldo Edson de Andrade.
2.2 - Co-edições
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2.5 Bolsas
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1999 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Editores 48 58 93 71 85 72 89 99 105 90 85 47 942
ISBN 46 128 442 637 529 565 1.406 3.591 4.864 6.617 5.351 5.593 21.972
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Evolução do ISBN
1978/1999
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V- Outras Atividades
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IV A LEITURA
1 Encontros e Cursos
Por meio dessas parcerias e também de convênio especial com o Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação do Ministério da Educação, o Proler realizou
encontros estaduais, cursos e um encontro nacional.
Encontros Estaduais
Cursos
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Curso à Distância
Encontro Nacional
Assessorias
2 - Outras Ações
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Hors-Concours
Programa Infanto-Juvenil
Serviço Social do Comércio (SESC)
Administração Regional do Rio Grande do Sul
Porto Alegre(RS)
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Por meio da Casa da Leitura, situada no Rio de Janeiro, o Proler teve também
intensa atuação visando à formação continuada dos promotores de leitura e à
ampliação do uso das bibliotecas escolares e das bibliotecas públicas. Essas ativi-
dades permitiram à Casa da Leitura consolidar o seu perfil institucional, relacio-
nado à valorização da leitura de textos de qualidade, da produção oral e escrita
e do objeto livro, principalmente junto à parcela da população mais carente.
Uma das principais atividades foi a programação de eventos em torno do livro
e da leitura, buscando contribuir para formação continuada de professores e
leitores. O quadro abaixo resume o que foi realizado.
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Sergipe PUC-RJ 3
Dois Riachos
e Jaramataia (AL) Unigranrio 25
Jaicós e Padre Marcos (PI),
Amontada e Itapipoca (CE) Universo 102
Paulistana, Bethania
e Acauã (PI) UFF 55
Lagoa da Canoa e
Olho D’água Grande (AL),
Inajá (PE) e Petrópolis (RJ) Unirio 7
Lagoa da Canoa e
Olho D’água Grande (AL),
Inajá (PE) e Vassouras (RJ) Unirio 12
Niterói, Tanguá, Maricá,
Itaboraí e Três Rios (RJ) Universo 28
Jaicós e Padre Marcos (PI),
Amontada e Itapipoca (CE)
e Guapimirim (RJ) Universo 63
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V O U T R A S AT I V I D A D E S
360
Em atividade 3.378
Paralisadas 76
Total de bibliotecas 3.454
361
362
363
364
2.1 Atendimento
Nesse ano, houve 28.961 consultas ao acervo, l.650 novas inscrições e associa-
dos e 7.639 empréstimos.
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INSCRiÇÃO/ USUÁRIOS
CONSULTA /ACERVO
EMPRÉSTIMO/ ACERVO
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ACESSO À INTERNET
USUARIO / ACERVO TOTAL
NÚMEROS DE INSCRIÇÕES 530
DISQUETES USADOS S67
IMPRESSÃO 50
2.2 Acervo
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