Fisiologia Do Estresse e Sua Influencia
Fisiologia Do Estresse e Sua Influencia
Fisiologia Do Estresse e Sua Influencia
Introdução
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sistemas sensoriais, através de estímulos interoceptivos, como os produzidos, por
exemplo, por mudanças no volume ou osmolaridade do sangue, ou por estímulos
exteroceptivos, tais como o cheiro de um predador, desencadeando uma cadeia de
respostas que objetivam minimizar os danos para o organismo3.
Fisiologia do estresse
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eminência média da hipófise, mas podendo, também, exercer seus efeitos em várias
áreas cerebrais, como amígdala, hipocampo e locus ceruleous. Esse hormônio vai agir
na hipófise anterior promovendo a liberação do hormônio adrenocorticotrófico
(adrenocorticotropic hormone - ACTH), que por sua vez vai atuar no córtex da glândula
adrenal iniciando a síntese e liberação de glicocorticóides, como, por exemplo, do
cortisol em humanos (Figura 1). O pico dos níveis plasmáticos de glicocorticóides
ocorre dezenas de minutos após o início do stress. O mecanismo, com vários níveis de
secreção hormonal do eixo HHA, é lento em relação à latência dos mecanismos de
transmissão sináptica que ocorrem no SNA3. Os glicocorticóides são secretados de uma
forma pulsátil, seguindo um ritmo circadiano, sobre o qual se sobrepõe uma explosão
secretória por ocasião do estresse. Esses hormônios atuam primariamente em dois
tipos de receptores: mineralocorticóides (ReMC) e glicocorticóides (ReGC). Os
primeiros têm grande afinidade pelos corticosteróides, sendo ocupados mesmo
quando os níveis são baixos e os segundos, com uma afinidade dez vezes menor, que
são ocupados em situações de grande aumento, por exemplo, durante o estresse. A
ligação dos corticosteróides com seu receptor promove seu transporte para o núcleo
das células, onde atuam na transcrição gênica. Assim, influenciam a taxa de secreção
de proteínas específicas, que diferem dependendo do tipo de célula5, 6. Os
glicocorticóides circulantes promovem a mobilização da energia armazenada e
potencializam numerosos efeitos mediados pelo simpático. Desempenham, também,
um papel chave no controle da atividade do eixo HHA e na finalização da resposta ao
estresse, através de uma realimentação inibitória em áreas cerebrais extra-
hipotalâmicas, hipotálamo e hipófise6.
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A resposta ao estresse desenvolve-se numa escala temporal que vai de
milissegundos a dias. Como visto anteriormente, os diferentes moduladores agem com
perfis temporais diversos. A primeira onda de efeitos deve-se à liberação de
monoaminas, pelo SNA e pelos peptídeos (CRH), começando alguns segundos após o
estressor. A segunda onda compreende efeitos moleculares, principalmente pela
secreção de glicocorticóides, que ativam os fatores de transcrição, produzindo efeitos
genômicos e estruturais. Essa onda começa entre uma e duas horas após o início do
estresse. Sabe-se hoje que essa é uma representação esquemática que está
relacionada com os efeitos principais dos mediadores, porém eles podem,
simultaneamente, produzir outros efeitos com perfis temporais diversos. Por exemplo,
os corticosteróides (classicamente considerados de ação lenta) também podem mudar
rapidamente o funcionamento cerebral, através de vias não genômicas, como a
ativação de receptores ReMR no hipotálamo e hipocampo, aumentando a
excitabilidade neuronal, pelo aumento da liberação de glutamato5. A sinalização não
genômica dos glicocorticóides é responsável, também, pela rápida retroalimentação
inibitória do eixo HHA, que ocorre em minutos após seu aumento na circulação3.
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Influência do estresse na saúde
A intensidade da resposta aguda ao estresse deve ser proporcional à ameaça do
estressor, tanto em intensidade como em duração. Assim a mobilização de energia
induzida pelo estresse deve se adequar às necessidades para a restauração do
equilíbrio orgânico e deve persistir por um tempo limitado, que não comprometa o
organismo, em razão, por exemplo, de seus efeitos inibitórios sobre a digestão,
crescimento, reprodução e resposta imune.
Sistema Cardiovascular
Uma das respostas mais rápidas do estresse é a do SNA, que pela inervação
simpática vai liberar noradrenalina em seus terminais e ativar a medula da glândula
supra-renal, liberando adrenalina na circulação. Essas ações sobre o coração vão
produzir um aumento na freqüência, contratilidade e velocidade de condução. Sobre
os vasos, essas ações vão produzir uma redistribuição no fluxo sanguíneo. A
estimulação α adrenérgica pelas fibras simpáticas, predominante no sistema digestivo
e pele, vai produzir uma vasoconstricção nesse território. Por outro lado, a estimulação
β adrenérgica, predominante nos músculos, vai produzir uma vasodilatação. Dessa
forma o fluxo vai ser direcionado para os músculos.
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Essas respostas são adaptativas numa situação de estresse agudo, uma vez que
aumenta a disponibilidade de energia nos territórios necessários para a luta ou fuga. A
persistência do estresse, no entanto, propicia alterações no funcionamento do sistema
cardiovascular, gerando doenças.
A hipertensão arterial, ainda que não tenha causa única, resultando da interação
de inúmeros fatores, tem entre eles o estresse crônico. Num estudo longitudinal
pessoas com níveis normais de pressão arterial foram avaliadas quanto a sua
propensão à ansiedade e seguidas por 18 a 20 anos, observando-se que aquelas com
alto nível de ansiedade tiveram um risco duas vezes maior de desenvolverem
hipertensão arterial8. A hipertensão arterial pode favorecer a hipertrofia do ventrículo
esquerdo, além de facilitar a ocorrência de fissuras nas paredes internas das artérias,
especialmente em suas bifurcações, contribuindo para a ocorrência de outros
processos patológicos.
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catecolaminas, influindo em sua síntese e degradação, bem como facilitando o dano
do miocárdio favorecendo a contratilidade e a apoptose (morte) celular10.
Metabolismo
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uma forma de recompor as reservas de energia. Assim, novamente as alterações
geradas pelo estresse agudo mostram seu papel adaptativo.
- obesidade abdominal;
- hiperglicemia;
- dislipidemia (níveis elevados de triglicérides, níveis elevados de LDL colesterol e
baixos de HDL colesterol);
- hipertensão arterial.
Sistema Gastrointestinal
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aumento de motilidade no cólon decorre, também, de uma estimulação do sistema
parassimpático sacral6. As respostas gastrointestinais ao estresse agudo são
consideradas adaptativas, uma vez que economizam a energia dos processos
digestivos para serem utilizados nas reações de defesa e aumentam a eliminação de
resíduos desnecessários ao organismo, diminuindo seu peso4.
Sistema Imunológico
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A persistência do estresse mantém os níveis de glicocorticóides elevados,
resultando em imunossupressão, que facilita a ocorrência de doenças infecciosas,
podendo contribuir, também, para o surgimento e disseminação do câncer, pela
redução da destruição de células tumorais. Um dos modelos de estresse crônico utiliza
as pessoas responsáveis pelos cuidados de cônjuges portadores de doença de
Alzheimer (caregivers). Verificou-se que os caregivers apresentam níveis elevados de
estresse e de cortisol, acompanhados de uma diminuição na proliferação de linfócitos,
associada a uma redução na produção de interleucina 2 (IL-2)18. Nessa mesma
população verificou-se uma baixa resposta na produção de anticorpos (IgG) contra a
vacinação para a influenza19.
A interação entre o estresse e a resposta imunológica, no entanto, é muito mais
complexa, não se limitando à imunossupressão. É bem conhecida a associação entre o
estresse e doenças alérgicas e auto-imunes. Esses efeitos aparentemente
contraditórios começam a ser mais bem entendidos com o avanço no conhecimento
dessa interação.
As respostas imunes são reguladas por componentes da imunidade inata
(monócitos/macrófagos e outros fagócitos) e por componentes da imunidade
adquirida (entre eles os linfócitos T helper, com suas subclasses Th1 e Th2). Essas duas
subclasses de T helper, têm uma origem comum e a diferenciação ocorre
principalmente pela ação de citocinas (grupo extenso de moléculas envolvidas na
emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento de respostas imunes).
Uma dessas citocinas, a interleucina 12 (IL-12), produzida pela ativação de
monócitos/macrófagos é a principal indutora da diferenciação no sentido dos linfócitos
Th1. Os linfócitos Th1 secretam o interferon-γ (IFN- γ), que em conjunto com outras
citocinas chamadas do tipo Th1 (IL-12, IL-2 e fator de necrose tumoral [TNF-α])
estimulam a atividade funcional das células citotóxicas (Tc), NK e macrófagos,
principais componentes da imunidade celular. As respostas Th1 e Th2 são mutuamente
inibitórias. Assim, a IL-12 e o IFN- γ inibem a diferenciação no sentido do Th2. Os
linfócitos Th2 liberam citocinas (IL-4, IL-10, IL-13), que estimulam a atividade imune
humoral, estimulando os mastócitos, eusinófilos e imunoglobulinas IgE20.
Durante o estresse, tanto pela ação dos glicocorticóides como das
catecolaminas, ocorre uma inibição na produção de IL-12, desencadeando uma cascata
de conseqüências, que resultam numa mudança do equilíbrio entre respostas Th 1/Th2,
com a diminuição das atividades Th1 e conseqüente aumento das Th2. A resultante
desse desequilíbrio é uma diminuição da imunidade celular e um aumento da
imunidade humoral. Uma síntese esquemática dessas reações é apresentada na Figura
2.
O aumento na susceptibilidade às infecções ou agravamento no curso das
mesmas, pelo estresse, pode ser entendido pela diminuição da imunidade celular,
decorrente da diminuição das atividades Th1. Já a associação do estresse com as
doenças auto-imunes é mais complexa. Em algumas doenças auto-imunes, como o
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lúpus eritematoso sistêmico, o aumento da imunidade humoral, resultante do
predomínio das atividades Th2 induzidas pelo estresse, participa da fisiopatologia da
doença. O mesmo não ocorre com outras doenças auto-imunes, como a artrite
reumatóide, que cursam com excesso de IL-12 e TNF-α, mostrando a importância da
imunidade celular nessas patologias. A associação entre o estresse e a progressão de
tumores e o aumento de mortes relacionadas ao câncer, pode ser explicado pela
diminuição da atividade de células NK e Tc, componentes da imunidade celular, em
razão da diminuição das funções Th120.
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Outros Sistemas
A ativação do SNA e do eixo HHA, pelo stress, interfere numa série de outros
sistemas com repercussões sobre a reprodução, crescimento, memória, sono,
envelhecimento, osteoporose e outros4, 6. O detalhamento dessas interações foge ao
escopo dessa revisão, que focalizou apenas a interação entre o estresse e alguns
sistemas, com o objetivo de exemplificar como aspectos do contexto de vida, que
resultam numa resposta de estresse, podem interferir no funcionamento orgânico
tanto como um fator de adaptação quanto como facilitador de distúrbios.
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